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APG 20 - CHUVAS DE VERÃO

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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Objetivos 
1- Debater sobre a epidemiologia, etiologia e 
fatores de risco da dengue (sazonalidade); 
2- Discutir acerca da fisiopatologia, manifestações 
clínicas, diagnóstico e tratamento da dengue; 
3- Explicar como é feita a prevenção da dengue; 
4- Explorar sobre o mecanismo de ação e 
complicações do AAS no quadro da dengue 
(AINEs). 
Dengue 
↠ A dengue é doença infecciosa causada por qualquer 
um dos vírus dengue transmitidos a indivíduos suscetíveis 
por meio da picada de fêmeas infectadas de mosquitos 
do gênero Aedes (SALOMÃO, 2017). 
↠ A dengue é uma doença causada por qualquer um 
dos sorotipos dos vírus da dengue, que pertencem à 
família Flaviviridae, e são transmitidos ao homem pela 
picada de fêmeas de mosquitos do gênero Aedes 
(FOCACCIA et. al., 2015). 
Epidemiologia 
↠ É problema global de saúde pública, uma vez que 
aproximadamente dois terços da população mundial 
vivem em zonas infestadas por mosquitos transmissores 
da virose. À exceção da Europa continental, a dengue 
clássica ocorre de forma endêmica em todos os 
continentes, sendo sua maior incidência, na atualidade, em 
países asiáticos e nas Américas (BOGLIOGO, 10ª ed.). 
OBS.: A origem do nome dengue seria do árabe arcaico, significando 
fraqueza (astenia) (FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ Em todos os últimos 10 anos, têm ocorrido surtos 
epidêmicos de dengue no Brasil, por vezes de larga 
proporção, particularmente nos meses chuvosos, quando 
aumenta a densidade dos vetores transmissores. Em 2019, 
mais de um milhão e meio de casos da doença ocorreu 
no Brasil, predominando a circulação do sorotipo 2, 
principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e 
Espírito Santo (BOGLIOGO, 10ª ed.). 
↠ Até a SE 18 (até maio de 2022), ocorreram 757.068 
casos prováveis de dengue (taxa de incidência de 354,9 
casos por 100 mil hab.) no Brasil. Em comparação com o 
ano de 2021, houve um aumento de 151,4% de casos 
registrados para o mesmo período analisado (MS, 2022). 
↠ A Região Centro-Oeste apresentou a maior taxa de 
incidência de dengue, com 1.171 casos/100 mil hab., seguida 
das Regiões: Sul (635,6 casos/100 mil hab.), Sudeste (277,7 
casos/100 mil hab.), Norte (176,1 casos/100 mil hab.) e 
Nordeste (149,1 casos/100 mil hab.) (MS, 2022). 
↠ Até o momento, foram confirmados 265 óbitos por 
dengue, sendo 241 por critério laboratorial e 24 por 
critério clínico epidemiológico. Os estados que 
apresentaram o maior número de óbitos foram: São 
Paulo (99), Santa Catarina (28), Goiás (28) e Bahia (22) 
(MS, 2022). 
Etiologia 
↠ Os vírus dengue (DENV) são transmitidos por 
mosquitos do gênero Aedes (principalmente o Aedes 
aegypti e o Aedes albopictus), sorologicamente 
classificados, com base em ensaios de neutralização, em 
quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 
MOSQUITO DO GÊNERO AEDES 
↠ O principal vetor responsável pela transmissão viral são 
mosquitos do gênero Aedes, encontrados em ambientes 
urbanos e peridomiciliares. Até o momento, o Aedes 
aegypti é o principal transmissor do vírus dengue nas 
Américas – embora introduzido nas Américas, o Aedes 
albopictus, por motivos desconhecidos, mantém sua 
importância epidemiológica como transmissor da dengue 
restrita ao continente asiático (SALOMÃO, 2017). 
OBS.: O Aedes aegypti é hoje considerado cosmopolita, ocorrendo 
principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, tendo resistência 
limitada a baixas temperaturas e altitudes elevadas. É um mosquito 
urbano, facilmente encontrada em domicílios e áreas peridomiciliares, 
enquanto o Aedes albopictus se dispersa com facilidade nos ambientes 
rural, semissilvestre e silvestre, não dependendo dos locais de grande 
concentração humana (FOCACCIA et. al., 2015). 
 
↠ Vale salientar que esses vetores adultos, ao longo de 
suas vidas, são incapazes de voar grandes distâncias. 
Portanto, a dispersão geográfica da doença e o aumento 
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da cocirculação dos quatro sorotipos do dengue têm sido 
relacionados ao aumento da frequência dos 
deslocamentos humanos (SALOMÃO, 2017). 
↠ A transmissão dá-se por fêmeas que, ao se 
alimentarem de sangue para suprir necessidades 
proteicas da oviposição, infectam-se picando indivíduos 
virêmicos. Os vírus da dengue multiplicam-se no aparelho 
digestivo do mosquito, disseminando-se por diferentes 
tecidos do inseto. A chegada do vírus às glândulas 
salivares, após um período de incubação, dito extrínseco, 
com duração média de 7 a 11 dias, determina o início da 
transmissão viral pelo mosquito, que passa a transmiti-lo 
por toda a vida (SALOMÃO, 2017). 
 
IMPORTANTE: Outra forma importante de transmissão que ocorre entre 
os mosquitos é a transovariana. Os Aedes spp. podem transmitir os 
vírus da dengue de forma transovariana, diretamente para a prole, 
dispensando o homem no ciclo mantenedor. A transmissão 
transovariana, mesmo em baixos níveis, poderia manter os vírus 
durante estações secas ou frias, quando não existem mosquitos 
adultos ou reservatórios. Isso se deve ao fato de os ovos de Aedes 
podem se manter viáveis na natureza por até um ano e meio e, após 
contato com a água, eles iniciam seu ciclo que pode variar de 12 a 15 
dias (FOCACCIA et. al., 2015). 
VÍRUS DA DENGUE E SOROTIPOS 
↠ Os sorotipos são antigenicamente distintos, mas 
apresentam a mesma epidemiologia e causam doenças 
similares, não havendo imunidade protetora cruzada 
permanente entre eles, ainda que evidências indiquem 
que, imediatamente após a infecção por um dos 
sorotipos, o indivíduo estará imune à infecção pelos 
outros sorotipos por período variável (3 a 6 meses). 
Assim, indivíduos que vivem em áreas consideradas 
endêmicas, com a cocirculação dos quatro sorotipos, 
podem, teoricamente, adquirir a infecção pelos quatro 
sorotipos virais ao longo de sua vida (SALOMÃO, 2017). 
↠ Os DENV pertencem à família Flaviviridae e ao gênero 
Flavivirus, e a maioria deles é transmitida por mosquitos e 
carrapatos, embora não se saiba o mecanismo de 
transmissão de alguns deles. Assim, a maioria dos 
membros desse gênero são arbovírus (arthropod-borne 
virus), vírus que necessitam de artrópodes hematófagos 
para completar o seu ciclo biológico de transmissão. Os 
vírus pertencentes a esse gênero causam ampla 
variedade de doenças, incluindo febres, encefalites e 
febres hemorrágicas (SALOMÃO, 2017). 
↠ No Brasil, hoje circulam os quatro sorotipos, 
predominando o sorotipo 2. O DEN4 entrou no país em 
1982, foi identificado em Manaus e hoje circula 
praticamente em todo o território nacional (BOGLIOGO, 
10ª ed.). 
CARACTERÍSTICAS DO VÍRUS 
↠ Os vírus pertencentes à família Flaviviridae são 
compostos por uma bicamada lipídica derivada da 
membrana do retículo endoplasmático da célula 
hospedeira (SALOMÃO, 2017). 
↠ A superfície da partícula viral contém duas proteínas: 
(SALOMÃO, 2017). 
➢ a glicoproteína E: em geral glicosilada, 
representa o principal determinante antigênico 
do vírus e é responsável pela ligação e fusão à 
membrana plasmática da célula durante a 
infecção viral. 
➢ a proteína M: não glicosilada, é fragmento 
proteolítico constituído a partir de uma proteína 
precursora (prM) durante a maturação das 
progênies virais. Internamente, é constituído pelo 
nucleocapsídeo de simetria icosaédrica, 
composto pelas proteínas do core (C) que 
envolvem o genoma viral. 
↠ Dentre as proteínas estruturais, a glicoproteína E do 
envelope desempenha papel central na produção de 
anticorpos neutralizantes e indução da resposta imune do 
hospedeiro. A proteína E também é responsável por 
mediar a fase inicial da infecção, caracterizada pela ligação 
ao receptor ou moléculas de superfície da célula 
hospedeira, assim como a fusão com a membrana celular. 
A proteína C, devido ao seu caráter altamente básico, 
interage com o RNA viral para formar o nucleocapsídeo 
(SALOMÃO,2017). 
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↠ A glicoproteína prM é encontrada nas partículas virais 
imaturas e, após sofrer clivagem proteolítica em sua 
porção N-terminal, dá origem à proteína M, encontrada 
somente nos vírus maduros. Além disso, evidências 
sugerem que a proteína prM também leve à produção 
de anticorpos neutralizantes (SALOMÃO, 2017). 
 
↠ Dentre as sete proteínas não estruturais (NS1 a NS5), 
alguns papéis já se encontram bem definidos. A NS1 tem 
sido a mais extensamente estudada, sabendo-se até o 
momento que participa do processo de maturação viral 
e pode ser encontrada: residindo no retículo 
endoplasmático (RE), colocalizando com o complexo de 
replicação viral; ancorada na superfície da célula 
hospedeira e no meio extracelular (sNS1), após sua 
secreção (SALOMÃO, 2017). 
As infecções por DENV induzem anticorpos anti-NS1 fixadores do 
complemento contra epítopos tipo-específicos e grupo-específicos, 
alguns dos quais têm atividade protetora. A proteção parece ocorrer 
pela lise das células infectadas, que expressam NS1 na superfície via lise 
mediada pelo complemento dependente de anticorpo. Sendo assim, 
acredita-se que a proteína NS1, assim como a proteína E, seja alvo 
importante durante a indução da imunidade humoral, podendo 
desempenhar papel significativo na patogênese da doença. Níveis 
elevados dessa proteína detectados no início da doença têm sido 
associados ao desenvolvimento das formas graves da doença com a 
febre hemorrágica da dengue (FHD). Pela sua secreção no meio 
extracelular, esta proteína tem sido pesquisada recentemente no 
diagnóstico da dengue durante a fase aguda da doença (SALOMÃO, 
2017). 
↠ A proteína NS2 é dividida nas porções NS2a e NS2b, 
esta última portadora da atividade proteolítica. As 
proteínas NS3 e NS5 têm sido associadas aos processos 
de replicação e transcrição do RNA viral. Atividades de 
protease e trifosfatase/helicase foram atribuídas à 
proteína NS3, e a atividade de RNA polimerase 
dependente de RNA à NS5, descrita como uma das 
proteínas mais conservadas dos flavivírus (SALOMÃO, 
2017). 
↠ A proteína NS4 é clivada nas proteínas NS4a e NS4b, 
e ambas, juntamente com a NS2a e a NS2b, associam-
se à membrana da célula infectada durante o processo 
de maturação viral. Sabe-se também que, juntas, as 
proteínas NS4a, NS4b e NS2a executam diferentes 
ações: bloqueio da via da interferona (IFN); auxílio no 
correto ancoramento de proteínas virais e, 
principalmente, da replicase viral nas membranas celulares, 
resultando no auxílio à montagem do vírion etc 
(SALOMÃO, 2017). 
OBS.: O conhecimento das proteínas que constituem a estrutura viral 
e seus genes codificadores é importante para a compreensão da 
fisiopatologia das formas graves da dengue e das estratégias de 
diagnóstico, seja pela detecção da proteína NS1, seja pela detecção do 
material genético viral (SALOMÃO, 2017). 
Fatores de risco 
↠ Os fatores de ordem social e climática influem para o 
surgimento dos surtos de dengue. O vírus, quando 
introduzido em comunidade humana suscetível, com alta 
densidade populacional e com moradias infestadas pelo 
mosquito vetor, sob condições de temperatura e umidade 
elevadas, idealmente obtém as condições adequadas para 
o início de uma epidemia (FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ No calor úmido, como o que ocorre na maior parte 
do Brasil, especialmente durante o verão, ocorre a 
oviposição acelerada e o aumento da voracidade do 
mosquito, que necessita sugar vários seres humanos em 
curto espaço de tempo, facilitando a transmissão viral 
(FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ No caso da enfermidade estudada, se faz relevante o 
conhecimento a respeito da ecologia do vetor: a 
sazonalidade e sua relação quanto à viabilidade da 
população de mosquitos; a adaptação dos vetores no 
ambiente urbano e os habitats preferencias de criadouros; 
bem como a competição entre as espécies de vetores 
(YOKOO, 2017). 
No caso da sazonalidade, algumas variáveis podem interferir quanto a 
viabilidade da população de mosquitos, como as estações do ano, 
elementos meteorológicos, tais como, a pluviosidade, as temperaturas, 
a umidade e os ventos (YOKOO, 2017). 
No caso da temperatura, a mesma condiciona a duração do ciclo 
biológico, a alimentação e a ovoposição dos mosquitos. No verão as 
temperaturas são mais elevadas, estação em que os mosquitos se 
adaptam melhor, no entanto, é na estação de outono que os mesmos 
ampliam sua capacidade infectante (YOKOO, 2017). 
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Relativo à pluviosidade, há aumento espontâneo de mosquitos, no final 
da estação chuvosa. No entanto, chuvas fortes podem transbordar 
levando consigo larvas em atividades, já estações mais secas 
aumentam o número de criadouros (YOKOO, 2017). 
Fisiopatologia 
OBS.: Acredita-se que a resposta imune do hospedeiro à infecção pelos 
vírus da dengue possa atuar de duas maneiras diferentes. A primeira 
previne a infecção e propicia a recuperação nas infecções, 
envolvendo inicialmente a resposta imune inata e sequencialmente, a 
resposta imune celular e humoral. A segunda relaciona-se à 
imunopatologia da manifestação hemorrágica da dengue (FOCACCIA 
et. al., 2015). 
↠ Após a inoculação dos vírus da dengue, por meio da 
picada do mosquito, eles são fagocitados pelas células 
dendríticas (células de Langherhans) residentes no local, 
transportados aos linfonodos regionais, onde realizam a 
sua primeira replicação (FOCACCIA et. al., 2015). 
Ocorre a introdução do vírus em células localizadas na epiderme e 
derme, por endocitose mediada por clatrina, via interação entre 
glicoproteína de superfície viral e receptores específicos de superfície 
celular. Estudos recentes demonstram que as células dendríticas (CD) 
imaturas e as células de Langerhans, as quais normalmente residem 
na epiderme, apresentam moléculas de superfície celular que são 
reconhecidas pelo vírus do Dengue, tal como, a molécula C-type lectin 
ICAM3-grabbing non-integrin (DC-SING), e constituem alvos potências 
para a infecção inicial do vírus no hospedeiro humano (NUNES, 2011). 
↠ Essa multiplicação inicial resulta em uma viremia que 
dissemina esse patógeno por todo o organismo, livre no 
plasma ou no interior de monócitos. Os vírus da dengue 
têm tropismo por células fagocitárias, as quais são 
reconhecidas como importantes sítios para sua replicação 
(FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ O primeiro passo no processo de infecção viral é a 
ligação a um receptor na superfície celular. O vírus aborda 
a célula ao ligar-se a receptores de superfície, como o 
sulfato de heparina, CD209 ou DC-SIGN e o receptor para 
a porção constante dos anticorpos (Fc) de 
imunoglobulina, entre outros. Esta etapa é mediada pela 
proteína do envelope E (identificada como uma proteína 
de ligação para o DENV) que permite a penetração por 
endocitose na célula hospedeira (NUNES, 2011). 
↠ As membranas celulares e virais fundem-se, e uma 
vez dentro da vesícula endocítica, ocorre uma redução 
do pH (acidificação) do endossoma, fazendo com que a 
proteína do envelope viral sofra uma mudança 
conformacional irreversível e a partir de um dímero 
forme um trímero. Esta mudança facilita a libertação do 
ARN viral no citoplasma das células infectadas, onde 
ocorre a tradução e replicação do ARN viral (NUNES, 2011). 
↠ O ARN do vírus do Dengue é traduzido em associação 
com membranas do retículo endoplasmático rugoso 
(RER). Como ocorre com outros vírus ARN de polaridade 
positiva, o genoma do vírus atua como ARN mensageiro 
(ARNm) e utiliza fatores, ainda desconhecidos, da célula 
hospedeira para traduzir a poliproteína viral. Após o início 
da tradução do genoma viral ocorre a troca para a síntese 
de um genoma de sentido negativo (3’-5’) intermediário, 
o qual irá servir como molde para a síntese de múltiplas 
cópias do ARN viral de sentido positivo (5’-3’) (NUNES, 
2011). 
↠ Ciclos sucessivosde tradução produzem múltiplas 
cópias das 3 proteínas estruturais e das 7 não-estruturais, 
as quais juntamente com o ARN viral irão participar da 
formação, maturação e secreção da partícula viral, que 
ocorre no complexo de Golgi. As partículas virais imaturas 
são então clivadas por proteases do tipo furina (celulares 
e virais), resultando na formação de partículas virais 
maduras, as quais são infecciosas. Partícula subvirais 
incompletas também são clivadas pelas furinas celulares e 
virais. A liberação das partículas virais maduras completas 
ou subvirais ocorre por exocitose (NUNES, 2011). 
 
A replicação viral estimula os monócitos e, indiretamente, linfócitos a 
produzirem citocinas. Algumas dessas vão ter efeito pró-inflamatório e 
vão ser responsáveis pelo aparecimento de sintomas como a febre. 
Outras estimulam a produção de anticorpos, que se ligam aos 
antígenos virais, formando imunocomplexos (VARGAS et. al., 2020). 
↠ A infecção primária (primoinfecção) pelos vírus da 
dengue é controlada inicialmente pela resposta imune 
inata e celular (FOCACCIA et. al., 2015). 
Esses vírus estimulam a produção de anticorpos IgM que se tornam 
detectáveis, em média, a partir do quarto dia após o início dos 
sintomas, atingindo os níveis mais elevados por volta do sétimo ou 
oitavo dias e declinando lentamente, a ponto de não serem mais 
detectáveis após alguns meses . Os anticorpos da classe IgG, que são 
observados em níveis baixos a partir da primeira semana do início dos 
sintomas elevam-se gradualmente atingindo altos valores em duas a 
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três semanas e mantêm-se detectáveis por vários anos, conferindo 
imunidade contra o sorotipo infectante, provavelmente por toda a vida 
(FOCACCIA et. al., 2015). 
IMPORTANTE: Durante a convalescência, os anticorpos induzidos, 
durante infecção aguda por um tipo de dengue, também protegem 
da infecção por outros tipos virais. Entretanto, essa imunidade é mais 
curta, com duração de poucos meses. As infecções por dengue, em 
indivíduos que já tiveram contato com outros sorotipos do vírus, ou 
mesmo outros flavivírus (como os vacinados contra a febre amarela), 
podem alterar o perfil da resposta imune, que passa a ser do tipo 
anamnéstico ou de infecção secundária (reinfecção), com baixa 
produção de IgM, e resposta precoce intensa de IgG (FOCACCIA et. 
al., 2015). 
↠ A resposta imune humoral é fundamental para a 
prevenção e a cura das infecções pelos vírus da dengue. 
A proteína E, parte do envelope viral, é o alvo dominante 
dos anticorpos protetores contra a dengue. Esses 
anticorpos podem promover a lise de células infectadas 
ou inibir a ligação dos vírus aos receptores celulares com 
consequente neutralização viral. Embora não seja 
constituinte da partícula viral, a proteína NS1 também é 
um importante alvo de anticorpos antidengue. Essa 
proteína é expressa na superfície das células infectadas e 
também é secretada na circulação (FOCACCIA et. al., 
2015). 
↠ Anticorpos contra a NS1 promovem a lise das células 
infectadas fixando o complemento e, além disso, atuam 
como mediadores de fenômenos de citotoxidade celular 
mediada por linfócitos CD8+ (FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ A resposta imune celular contra o vírus é direcionada 
para múltiplas proteínas virais, entre elas, C, prM, E, NS1, 
NS3, NS4B e NS5, porém a proteína NS3 parece ser a 
mais imunogênica, em relação à imunidade celular, com 
uma maior preponderância de epítopos de células T 
identificados. As células T CD4+ e CD8+ reativas ao vírus 
da dengue produzem predominantemente altos níveis de 
IFN-., TNF-a, TNF-ß e quimiocinas, incluindo MIP-1ß, após 
interação com células apresentadoras de antígenos 
infectadas com o vírus, e também são eficientes na lise 
das células infectadas in vitro (FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ Portanto, as células T participam ativamente na 
resposta imune reduzindo o número de células infectadas 
com o vírus (FOCACCIA et. al., 2015). 
OBS.: Nos quadros de dengue, os sintomas gerais de febre e mal-estar 
relacionam-se à presença, em níveis elevados, de citocinas séricas, 
como TNF-a, IL-6, IFN-. etc. As mialgias relacionam-se, em parte, à 
multiplicação viral no próprio tecido muscular, inclusive o tecido 
oculomotor é acometido, produzindo cefaleia retrorbitária (FOCACCIA 
et. al., 2015). 
FISIOPATOLOGIA DA DENGUE HEMORRÁGICA 
A patogênese da DHF tem sido explicada por teorias centradas nos 
efeitos dos fatores virais e dos hospedeiros, a virulência da cepa viral 
e a imunopatogênese da doença (FOCACCIA et. al., 2015). 
TEORIA DA FACILITAÇÃO DEPENDENTE DE ANTICORPOS 
↠ A hipótese de maior aceitação se refere a fenômeno 
denominado aumento da infecção mediado pelos 
anticorpos (antibody-dependent enhancement of infection 
– ADE), que preconiza a associação entre infecções 
secundárias e o aparecimento de febre hemorrágica da 
dengue (FHD) (SALOMÃO, 2017). 
↠ O fato de as infecções secundárias levarem ao 
aumento da viremia e a maior risco de doença grave, em 
comparação com as infecções primárias, sugere que a 
imunidade preexistente ao DENV é fator de risco para 
FHD. Evidências dessa teoria vieram primeiramente de estudos 
epidemiológicos realizados na Tailândia, entre os anos de 1960 e 1970, 
que demonstraram que a maioria das crianças com FHD havia tido 
infecção secundária por sorotipo diferente daquele responsável pela 
primeira infecção. Adicionalmente, observou-se que bebês 
que haviam adquirido anticorpos passivamente das mães 
apresentaram infecção mais grave de dengue por volta 
dos 6 meses de idade, quando a concentração de 
anticorpos adquiridos da mãe se tornava subneutralizante 
(SALOMÃO, 2017). 
↠ Segundo essa hipótese, anticorpos resultantes de 
infecção prévia por determinado sorotipo do vírus não 
seriam neutralizantes ou teriam títulos muito baixos para 
neutralizar um sorotipo diferente, responsável pela 
infecção secundária. Assim, esses anticorpos se ligariam 
ao sorotipo responsável pela infecção secundária, mas 
não o neutralizariam, formando complexos vírus-
anticorpo que, ao serem reconhecidos e internalizados 
por fagócitos mononucleares, através dos receptores 
dirigidos à porção Fc das imunoglobulinas, facilitariam a 
penetração do vírus em células monocitárias, o que 
resultaria em maior carga viral e maior intensidade da 
resposta imune, com maior liberação de citocinas e 
mediadores inflamatórios, o que poderia levar a doença 
mais grave (SALOMÃO, 2017). 
TEORIA DA VIRULÊNCIA VIRAL 
Apesar da grande aceitação da associação de uma infecção 
secundária com a forma mais grave da dengue, ela não explica 
adequadamente todas as observações clínicas e epidemiológicas que 
ocorrem durante a FHD/SCD e complicações. Parece existir uma 
relação complexa entre as variantes genéticas do DENV e a resposta 
imune do hospedeiro, que determinaria o destino das infecções 
primárias e secundárias (SALOMÃO, 2017). 
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↠ As extensas variações genéticas observadas dentro 
do mesmo sorotipo de DENV possibilitaram a classificação 
em grupos, denominados genótipos. A evidência de diferentes 
virulências entre os genótipos foi observada no Peru, com a entrada 
do DENV-2 em 1995, depois de vários anos de circulação de DENV-1. 
Com a detecção da epidemia por DENV-2, estimou-se a 
ocorrência de altos níveis de FHD, uma vez que, em 
Cuba, a mesma sequência de infecção havia resultado em 
explosão de casos de FHD (SALOMÃO, 2017). 
↠ Porém, não foram observados casos de FHD na 
população peruana. Durante a avaliação dos motivos da 
ausência de FHD, foram encontradas diferenças 
estruturais entre as cepas que circularam no Peru e em 
Cuba. O genótipo americano de DENV-2 que circulou no 
Peru apresentava habilidade reduzida de replicação em 
mosquitos e células humanas, se comparado ao outro 
genótipo, o asiático. Contudo, nem todos os dados são 
consistentes com ahipótese da virulência do vírus, pois 
outros estudos não conseguiram correlacionar a 
patogenicidade aos genótipos circulantes de DENV-2 ou 
dos outros sorotipos (SALOMÃO, 2017). 
OBS.: Independentemente do mecanismo fisiopatológico responsável 
pelas formas mais graves da dengue, existem evidências de que há 
profundo desarranjo na homeostase das citocinas que governam a 
resposta imune induzida pela infecção pelos vírus dengue (SALOMÃO, 
2017). 
 
↠ A presença de antígenos de dengue, expressos na 
membrana macrofágica, induz fenômenos de eliminação 
imune por linfócitos T CD4+ e CD8+ citotóxicos. Os 
macrófagos, ativados pelos linfócitos e agredidos ou 
lisados pelas células citotóxicas, liberam tromboplastina, 
que inicia os fenômenos da coagulação e, também, 
liberam proteases ativadoras do complemento, 
causadoras da lise celular e do choque (FOCACCIA et. al., 
2015). 
↠ O fator de necrose tumoral a (TNF-a), de origem 
macrofágica e linfocitária, foi observado em níveis 
elevados, em casos graves de DHF/DSS. O TNF-a afeta 
células inflamatórias e endoteliais, podendo contribuir para 
a trombocitopenia e induz a IL-8, estimulando a liberação 
de histamina pelos basófilos e aumentando a 
permeabilidade vascular. A IL-6 foi observada em níveis 
elevados, em alguns casos graves de DHF/DSS, e foi 
relacionada com a hipertermia apresentada pelos 
pacientes (FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ Anafilotoxinas como C3a e C5a, leucotrienos, histamina 
e o fator inibidor do ativador do plasminogênio (que 
impede a fibrinólise e leva à deposição de fibrina 
intravascular) encontram-se presentes por curto tempo 
na DHF/DSS (FOCACCIA et. al., 2015). 
IMPORTANTE: Portanto, a DHF/DSS tem como base fisiopatológica um 
aumento da carga viral resultante de uma cepa virulenta ou a facilitação 
da infecção mediada por anticorpos, levando a uma resposta imune 
exacerbada, envolvendo células do sistema imune, citocinas e 
imunocomplexos, causando aumento da permeabilidade por má 
função vascular endotelial, sem destruição do endotélio, causando 
queda da pressão arterial e manifestações hemorrágicas, associadas a 
trombocitopenia (FOCACCIA et. al., 2015). 
OBS.: A base fisiopatológica da DHF seria, então, uma resposta imune 
anômala (FOCACCIA et. al., 2015). 
Manifestações clínicas 
↠ As manifestações clínicas observadas durante a 
infecção pelos vírus da dengue ocorrem após um 
período de incubação de 2 a 8 dias e são muito variáveis, 
podendo ser didaticamente classificadas em quatro 
grupos: (FOCACCIA et. al., 2015). 
➢ as infecções assintomáticas; 
➢ a febre da dengue, subdividida em quadros de 
febre indiferenciada (síndrome viral) e as 
manifestações clássicas da dengue (dengue 
clássica); 
➢ a febre hemorrágica da dengue e síndrome de 
choque da dengue (DHF/DSS); 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
➢ aqueles quadros menos frequentes, e 
manifestações clínicas menos usuais, como a 
hepatite e acometimento cardíaco, e do sistema 
nervoso central. 
DENGUE CLÁSSICA 
↠ A doença causada pelos vírus da dengue, na maioria 
dos casos, costuma ser benigna, manifestando-se de 
forma variável quanto ao tipo e à intensidade dos 
sintomas, segundo características do vírus e da população 
acometida (FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ A dengue clássica apresenta-se com início abrupto. 
Em temperaturas de 39 a 40°C, acompanham-se de 
cefaleia intensa, dor retro-ocular, mialgias, artralgias e 
manifestações gastrintestinais, como vômitos e anorexia 
(FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ Um exantema pode surgir no terceiro ou quarto dia 
de doença e é caracterizado por um exantema intenso 
em que se salientam pequenas áreas de pele sã, sendo 
que alguns autores o caracterizam por “ilhas brancas em 
um mar vermelho” (FOCACCIA et. al., 2015). 
 
↠ O prurido geralmente acompanha o aparecimento do 
exantema, sendo muitas vezes de difícil controle. Além 
disso, em alguns casos, fenômenos hemorrágicos 
discretos (epistaxe, petéquias, gengivorragias) podem 
ocorrer e não caracterizam um caso de dengue 
hemorrágica (FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ A febre costuma ceder em até seis dias, iniciando-se 
a convalescença, que pode durar semanas, com astenia 
e depressão (FOCACCIA et. al., 2015). 
OBS.: Os vírus da dengue podem infectar células hematopoéticas na 
medula óssea, sem efeito citopático sobre tais células, embora a 
proliferação das mesmas na medula se torne bastante lenta, o que 
poderia explicar a leucopenia e a plaquetopenia observadas na doença. 
Outros estudos sugerem que pode haver destruição celular induzida 
pelo vírus na medula óssea ou inibição de células progenitoras 
mieloides (BOGLIOGO, 10ª ed.). 
↠ Nas crianças, a dengue pode ser assintomática ou 
manifestar-se como febre indiferenciada, comumente 
acompanhada de exantema maculopapular (FOCACCIA 
et. al., 2015). 
IMPORTANTE: Na avaliação dos pacientes com DC, é importante 
procurar sinais de alarme que apontem para quadro mais grave; 
pacientes apresentando tais sinais devem ser internados e avaliados 
frequentemente. Os sinais de alerta/alarme mais frequentemente 
observados na dengue são: dor abdominal, vômitos persistentes, 
evidência clínica de acúmulo de fluidos (p. ex., derrame pleural), 
letargia/irritabilidade, sangramento de mucosas, hepatomegalia maior 
do que 2 cm e aumento do hematócrito associado a trombocitopenia 
(SALOMÃO, 2017). 
DENGUE GRAVE 
↠ O quadro costuma iniciar-se de forma abrupta, similar 
à forma clássica da dengue, com febre alta, náuseas e 
vômitos, mialgias e artralgias (FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ Os fenômenos hemorrágicos surgem no segundo ou 
terceiro dia de doença, com petéquias na face, véu 
palatino, axilas e extremidades (FOCACCIA et. al., 2015). 
Pode-se realizar o teste do torniquete ou prova do laço, que consiste na 
insuflação de um esfigmomanômetro até a média aritmética entre as pressões 
arterial sistólica e diastólica, mantendo-se essa pressão por cinco minutos e 
buscando-se a presença de petéquias, sob o torniquete ou abaixo – o teste é 
considerado positivo quando se encontram 20 petéquias ou mais, em área de 
uma polegada quadrada, isto é, em um quadrado cujos lados tenham 
aproximadamente 2,5 cm. Quando positivo pode preceder o surgimento 
espontâneo das sufusões hemorrágicas, mas deve-se ter em mente que esse 
teste pode ser positivo em outras doenças, cursando fragilidade capilar ou 
trombocitopenia (FOCACCIA et. al., 2015). 
 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ Podem ocorrer púrpuras e grandes equimoses na 
pele, epistaxes, gengivorragias, metrorragias e 
hemorragias digestivas moderadas (FOCACCIA et. al., 
2015). 
↠ A presença de hepatomegalia, hematêmese e dor 
abdominal indica mau prognóstico, com provável 
evolução para o choque (FOCACCIA et. al., 2015). 
IMPORTANTE: A síndrome de choque da dengue costuma surgir entre 
o terceiro e o sétimo dias de doença, mantendo-se esse estado crítico 
por 12 a 24 horas. Os pacientes mostram-se agitados e em alguns 
casos referem dor abdominal. Posteriormente, tornam-se letárgicos, 
afebris e com sinais de insuficiência circulatória: pele fria e pegajosa, 
cianose perioral, pulso rápido e sudorese fria. A pressão arterial 
mostra-se convergente, baixa ou imensurável. Instala-se acidose 
metabólica e coagulação intravascular disseminada (CIVD). Com a 
ausência de tratamento, o óbito costuma ocorrer em 4 a 6 horas. 
Entretanto, após a recuperação, o doente geralmente não apresenta 
sequelas (FOCACCIA et. al., 2015). 
CLASSIFICAÇÃO DA DHF 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a DHF/DSS em 
quatro graus de gravidade, localizando nos dois primeiros, as formas 
mais benignas, apenas com febre hemorrágica; e nos dois últimos os 
quadros graves, com falência circulatória, a síndrome do choque da 
dengue. É importante ressaltar que a hemoconcentração está 
presente em todos os níveis e que todos os sintomas presentes na 
doença menos grave estarão presentesnos quadros mais graves. A 
classificação preconizada pela OMS é a seguinte: (FOCACCIA et. al., 
2015). 
➢ Grau I: febre e sintomas inespecíficos tendo como 
principais achados a plaquetopenia, manifestações 
hemorrágicas de pequena monta e a prova do laço positiva. 
➢ Grau II: sintomas contidos no Grau I e presença de 
fenômenos hemorrágicos espontâneos. 
➢ Grau III: características do Grau II associado à insuficiência 
circulatória caracterizada por pulso fraco e rápido, redução 
da pressão de pulso a 20 mmHg, hipotensão, pele pegajosa 
e fria, agitação. 
➢ Grau IV: choque profundo caracterizado por ausência de 
pulso e pressão arterial após o aparecimento dos sintomas 
dos graus anteriores. 
Os graus III e IV são classificados como síndrome do choque da dengue, 
ao passo que todos os quatro graus são classificados como febre 
hemorrágica da dengue (FOCACCIA et. al., 2015). 
FORMAS CLÍNICAS MENOS FREQUENTES 
↠ Incluem quadros que acometem o sistema nervoso, 
como encefalites e polineuropatias (por exemplo, Guillain-
Barré). Esses quadros podem surgir no decorrer da 
doença ou na convalescença. Quadros de hepatite com 
icterícia e importante elevação de transaminases séricas 
tem sido descritos, inclusive com raros quadros de 
hepatite fulminante (FOCACCIA et. al., 2015). 
↠ Outro acometimento que cada vez mais tem sido 
descrito, é o acometimento miocárdico na dengue, 
podendo resultar em miocardite viral, pericardite e 
choque cardiogênico, levando ao óbito, se não houver 
pronta intervenção. Estudos com mães que tiveram dengue 
durante a gravidez e seus filhos não mostraram casos de infecção 
congênita, mas podem influenciar no desenvolvimento da criança, 
resultando em recém-nascidos de baixo peso e também pode 
desencadear partos prematuros (FOCACCIA et. al., 2015). 
 
Diagnóstico 
ANAMNESE E EXAME FÍSICO 
↠ A história clínica deve ser a mais detalhada possível e 
os itens a seguir devem constar em prontuário (MS, 
2007). 
História da doença atual: 
➢ cronologia dos sinais e sintomas. 
➢ caracterização da curva febril (estabelecer a data de início 
da febre). 
➢ pesquisa de sinais de alarme. 
➢ pesquisa de manifestações hemorrágicas: hematêmese 
(vômitos com raias de sangue ou tipo “borra-de-café”), 
melena (fezes escuras). Na criança podem passar 
despercebidas. 
Epidemiologia 
➢ Perguntar sobre presença de casos semelhantes no local 
de moradia ou de trabalho. 
➢ História de deslocamento nos últimos 15 dias para área de 
transmissão de dengue. 
História patológica pregressa 
➢ Doenças crônicas associadas: hipertensão arterial, diabetes 
mellitus, DPOC, doenças hematológicas crônicas 
(principalmente anemia falciforme), doença renal crônica, 
doença grave do sistema cardiovascular, doença 
acidopéptica e doenças auto-imunes. 
➢ Investigar o uso de medicamentos, sobretudo 
antiagregantes plaquetários, anticoagulantes, 
antiinflamatórios e imunossupressores. Pesquisar sobre o 
uso de salicilatos para controle da febre reumática e 
doença de Kawasaki. 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
➢ Na criança, além das doenças de base já citadas, valorizar 
as manifestações alérgicas como: asma brônquica, 
dermatite atópica. 
↠ Ao exame físico observa-se fígado palpável e 
doloroso, 2 a 4 cm abaixo do rebordo costal. 
Esplenomegalia é observada em alguns casos 
(FOCACCIA et. al., 2015). 
➢ Ectoscopia: destacar a pesquisa de edema subcutâneo 
(palpebral, de parede abdominal e de membros), assim 
como manifestações hemorrágicas na pele, mucosas e 
esclera. Avaliar o estado de hidratação. 
➢ Verificar a pressão arterial em duas posições, pulso, 
enchimento capilar, freqüência respiratória, temperatura e 
peso. 
➢ Segmento torácico: pesquisar sinais de desconforto 
respiratório e de derrame pleural e pericárdico. 
➢ Segmento abdominal: pesquisar hepatomegalia, dor e 
ascite. 
➢ Sistema nervoso: pesquisar sinais de irritação meníngea, 
nível de consciência, sensibilidade e força muscular. 
IMPORTANTE: Diferentemente do que ocorre em outras doenças que 
levam ao choque, na dengue, antes de haver uma queda substancial 
na pressão arterial sistólica (menor que 90mmHg, em adultos), poderá 
haver um fenômeno de pinçamento da pressão arterial, ou seja, a 
diferença entre a pressão arterial sistólica e a diastólica será menor ou 
igual a 20mmHg, caracterizando a pressão arterial convergente. A 
verificação do tempo do enchimento capilar é mandatório em todos 
os casos atendidos como suspeitos de dengue (MS, 2007). 
IMPORTANTE: O enchimento capilar se faz normalmente em um tempo 
de até dois segundos. Para sua verificação pode se comparar o tempo 
de enchimento do paciente com o do examinador (MS, 2007). 
 
DIAGNÓSTICO VIROLÓGICO E SOROLÓGICO 
↠ O diagnóstico laboratorial de dengue pode ser 
realizado por meio de métodos virológicos e sorológicos. 
O diagnóstico laboratorial é importante para o adequado 
manejo dos quadros de dengue e, se possível, por 
motivos epidemiológicos, deve-se realizar a identificação 
sorotípica dos vírus isolados (SALOMÃO, 2017). 
DIAGNÓSTICO VIROLÓGICO 
↠ Os métodos virológicos compreendem: o isolamento 
viral por inoculação em culturas celulares, animais e 
mosquitos; a detecção de antígenos virais por meio de 
testes imunoenzimáticos e imunocromatografia; a 
detecção do genoma viral por transcrição reversa do seu 
RNA em DNA complementar, seguida de amplificação em 
cadeia pela polimerase (RT-PCR); ou a hibridização com 
sondas moleculares marcadas (SALOMÃO, 2017). 
↠ O diagnóstico virológico pode ser efetuado a partir do 
sangue ou de outros fluidos orgânicos, fragmentos de 
órgãos e, também, macerados de mosquitos. A técnica 
virológica mais comumente utilizada no Brasil é a tentativa 
de isolamento viral por inoculação em culturas celulares, 
particularmente a linhagem C6/36 oriunda do mosquito 
Aedes albopictus (SALOMÃO, 2017). 
↠ A confirmação do isolamento viral na cultura celular 
costuma ser feita de 6 a 10 dias após a inoculação, 
utilizando-se anticorpos monoclonais tipo-específicos em 
teste de imunofluorescência indireto. Para se obter um 
diagnóstico mais rápido, pode-se utilizar a RT-PCR em 
culturas de células inoculadas com material suspeito 
(SALOMÃO, 2017). 
↠ Outra técnica que vem se tornando cada vez mais 
frequente é a transcrição reversa do RNA viral, seguida 
da amplificação específica dos genomas dos vírus dengue 
(RT-PCR). Contudo, existem dificuldades técnicas e 
comerciais, e o método ainda não é viável para uso 
rotineiro, tendo sido usado mais comumente em pesquisa 
e para vigilância virológica (SALOMÃO, 2017). 
↠ Recentemente, foi desenvolvida técnica de detecção 
da proteína NS1 dos vírus dengue por teste 
imunoenzimático e por imunocromatografia, com a 
vantagem de fazer o diagnóstico da dengue na fase 
aguda da doença, já que detecta uma proteína estrutural 
do vírus encontrada somente durante a replicação viral. 
O teste imunoenzimático tem sensibilidade e 
especificidade altas, comparáveis, em alguns estudos até 
superiores, àquelas observadas à RT-PCR. Ainda como 
vantagem, essa técnica é rápida e adequada ao uso em 
situações epidêmicas (SALOMÃO, 2017). 
O teste rápido de diagnóstico da dengue, com base em 
imunocromatografia, consiste em uma fita na qual deve ser colocado 
10 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
o soro do paciente e incubado à temperatura ambiente por apenas 15 
min. A sensibilidade e a especificidade são comparáveis às do NS1 
ELISA. Deve-se salientar que esse teste apresenta sensibilidade 
diferenciada aos diversos sorotipos, tendo recentemente apresentado 
sensibilidade diminuída aos vírus dengue 2 e 4 (SALOMÃO, 2017). 
Deve-se realizar o diagnóstico virológico da dengue na fase aguda das 
infecções, enquanto ocorre viremia, embora a RT-PCR possa ser usada 
até o início da fase de convalescença. O período virêmico costuma 
durar até o sexto dia após o aparecimento dos sintomas, comos 
maiores títulos virais sendo encontrados no início da doença e 
decaindo à medida que se aproxima a defervescência. A partir desse 
período, os testes sorológicos devem ter preferência aos virológicos 
na rotina diagnóstica. As amostras de sangue devem ser coletadas em 
frasco estéril, sem anticoagulante, e mantidas a 4°C por período de, 
no máximo, 24 h, quando devem ser processadas ou armazenadas à 
temperatura de –70ºC ou menos (SALOMÃO, 2017). 
DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO 
↠ Os métodos sorológicos indiretos se baseiam na 
pesquisa de anticorpos específicos contra o vírus dengue 
infectante (SALOMÃO, 2017). 
↠ Os testes mais utilizados são os imunoenzimáticos, 
principalmente o de captura de IgM (MAC-ELISA). Deve-
se considerar o fato de que essa técnica permite o 
diagnóstico da dengue apenas na fase de convalescença, 
pois esses testes devem ser realizados após o sexto dia 
de doença, para assegurar a certeza do resultado. 
Portanto, na maioria das vezes, quando o resultado do 
teste é liberado, o paciente já se recuperou da doença 
(SALOMÃO, 2017). 
OUTROS EXAMES 
↠ Hematócrito, contagem de plaquetas e dosagem de 
albumina são os mais importantes para o diagnóstico e 
acompanhamento dos pacientes com dengue, 
especialmente os que apresentarem sinais de alarme, 
sangramento, e para pacientes em situações especiais 
(MS) 
↠ O acometimento hepático é bastante comum, mesmo 
em quadros menos graves, com aminotransferases 
aumentadas, geralmente entre duas e cinco vezes o limite 
superior da normalidade, e a aspartato aminotransferase 
(AST) em níveis mais elevados do que a alanina 
aminotransferase (ALT) (SALOMÃO, 2017). 
IMPORTANTE: a prova do laço pode ser realizada, conforme página 7 
do resumo. 
OBS.: Portanto, o diagnóstico de DHF/DSS deve ser lembrado sempre 
que houver um paciente que apresentou um quadro clínico compatível 
com dengue clássica e que apresente, após 3 a 5 dias do início do 
quadro, prova do laço positiva, equimoses, petéquias ou púrpuras, 
sangramento de mucosas, hematêmese ou melena, plaquetopenia 
(plaquetas < 100.000/mm3), alteração do hematócrito > 20% ou sinais 
de perda plasmática, tais como derrame pleural, ascite ou 
hipoproteinemia. Outro achado de importância na avaliação laboratorial 
desses pacientes é o edema da parede da vesícula biliar ao exame 
ultrassonográfico (FOCACCIA et. al., 2015). 
Tratamento 
↠ O tratamento da dengue consiste na hidratação 
precoce, da maneira mais agressiva possível, sempre 
levando em consideração a existência de cardiopatias e 
da capacidade dos pacientes de suportar a administração 
de grandes volumes de líquido. Como o aumento da 
permeabilidade capilar, com consequente extravasamento 
de plasma para o interstício e as cavidades, é o principal 
evento fisiopatológico da dengue, a hidratação é o único 
tratamento disponível, pois até o momento não há 
fármacos antivirais que tenham ação específica e efetiva 
contra os vírus dengue (SALOMÃO, 2017). 
↠ O tratamento baseia-se principalmente em hidratação 
adequada, levando em consideração o estadiamento 
(Grupo A, B, C e D) da doença, segundo os sinais e 
sintomas apresentados pelo paciente, para decidir 
condutas, bem como o reconhecimento precoce dos 
sinais de alarme. É importante reconhecer precocemente 
os sinais de extravasamento plasmático para correção 
rápida com infusão de fluidos. Quanto ao tipo de unidade de 
saúde para o atendimento dos pacientes de dengue, deve-se levar 
em consideração o estadiamento da doença, seguindo as indicações a 
seguir: (MS). 
➢ tratamento ambulatorial para os pacientes que 
se consultam durante as primeiras 48 horas e 
que NÃO apresentam sangramento e NEM sinal 
de alarme. Esses pacientes pertencem ao Grupo 
A; 
➢ tratamento em unidade de saúde com leitos de 
observação para os pacientes que apresentam 
algum tipo de sangramento (espontâneo ou 
induzido). Esses pertencem ao Grupo B. 
➢ tratamento em unidade hospitalar com leitos de 
internação para os pacientes que apresentam 
SINAIS DE ALARME. Esses pertencem ao Grupo 
C; 
➢ tratamento em unidade hospitalar com leitos de 
UTI para pacientes que apresentem SINAIS DE 
CHOQUE. Esses pertencem ao Grupo D. 
IMPORTANTE: O uso de salicilatos deve ser evitado, pois esses fármacos 
podem causar hemorragias digestivas altas e acidose, além de atuarem 
sobre a agregação plaquetária, podendo agravar ainda mais os quadros 
graves da dengue. Prefere-se utilizar o paracetamol ou a dipirona, 
tomando-se o cuidado com doses elevadas de paracetamol (acima de 
11 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
4 g/dia, no adulto), já que é hepatotóxico – devido à dor apresentada 
pelos pacientes com dengue, pode haver excesso na dose ingerida, 
podendo-se chegar a níveis tóxicos de concentração. A OMS também 
recomenda evitar o uso dos anti-inflamatórios não hormonais (AINH), 
especialmente o ibuprofeno (SALOMÃO, 2017). 
Prevenção 
↠ Atualmente, as melhores ferramentas de prevenção 
e controle contra os DENV são as políticas públicas, que 
viabilizam o combate ao principal vetor das áreas urbanas, 
o Aedes aegypti. Em 2002, foi criado o Programa Nacional 
de Controle da Dengue, que envolve não apenas medidas 
efetivas de controle vetorial, mas também a reformulação 
de planos anteriormente criados e a participação da 
sociedade, através de campanhas de conscientização 
ambiental (SALOMÃO, 2017). 
 
OBS.: A vacinação contra a dengue é, sem sombra de dúvida, a forma 
ideal para se controlar essa doença. Entretanto, o desenvolvimento de 
vacinas para a dengue tem frustrado a comunidade científica mundial, 
pois tem sido retardado, em razão das próprias características dos 
vírus. Um dos problemas é que, por causa da hipótese do “aumento 
da infecção mediado pelo sistema imune”, a vacina para a dengue 
necessita ser uma vacina tetravalente (FOCACCIA et. al., 2015). 
IMPORTANTE: Por ser uma doença de notificação compulsória, todo 
caso suspeito e/ou confirmado, deve ser comunicado ao Serviço de 
Vigilância Epidemiológica, o mais rapidamente possível. Esse serviço 
deverá informar, imediatamente, o fato à equipe de controle vetorial 
local para a adoção das medidas necessárias ao combate do vetor. Os 
casos graves devem ser notificados e investigados imediatamente, 
preferencialmente, durante o período de internação (MS). 
 
 
 
 
Antiflamatórios não esteroidais (AINEs) 
↠ Os AINEs são um grupo de fármacos quimicamente 
heterogêneos que se diferenciam na sua atividade 
antipirética, analgésica e anti-inflamatória (WHALEN, 6ª ed.). 
↠ Eles atuam, principalmente, inibindo as enzimas 
cicloxigenase que catalisam o primeiro estágio da 
biossíntese de prostanoides. Isso leva à redução da 
síntese de PGs, com efeitos desejados e indesejados 
(WHALEN, 6ª ed.). 
Nota: Diferenças na segurança e na eficácia dos AINEs podem ser 
explicadas pela seletividade relativa das enzimas COX-1 ou COX-2. A 
inibição da COX-2 parece levar aos efeitos anti-inflamatório e 
analgésico dos AINEs, ao passo que a inibição da COX-1 é responsável 
pela prevenção dos eventos cardiovasculares e pela maioria dos 
eventos adversos.) (WHALEN, 6ª ed.). 
MECANISMO DE AÇÃO: O AAS é um ácido orgânico fraco 
que acetila irreversivelmente e, assim, inativa a 
cicloxigenase. Todos os outros AINEs são inibidores 
reversíveis da cicloxigenase. Os AINEs, inclusive o AAS, 
realizam três ações terapêuticas principais: reduzem a 
inflamação (afeito anti-inflamatório), a dor (efeito 
analgésico) e a febre (efeito antipirético). Entretanto, nem 
todos os AINEs são igualmente potentes em cada uma dessas ações 
(WHALEN, 6ª ed.). 
 
IMPORTANTE: Aumento do risco de sangramentos (efeito 
antiplaquetário): O TXA2 aumenta a aglutinação das plaquetas, ao 
passo que a PGI2 a reduz. O AAS inibe irreversivelmente a formação 
de TXA2 mediada por COX-1, e outros AINEs a inibem 
reversivelmente. Como as plaquetas não possuem núcleo, elas não 
podem sintetizar novasenzimas quando inibidas pelo AAS, e a falta de 
tromboxano persiste durante toda a vida da plaqueta (3-7 dias). Como 
resultado da diminuição de TXA2, a aglutinação plaquetária (o primeiro 
estágio da formação do trombo) é reduzida, produzindo efeito 
antiplaquetário com aumento do tempo de sangramento. Por esse 
12 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
motivo, o uso do AAS é suspenso ou não é administrado por pelo 
menos uma semana (WHALEN, 6ª ed.). 
ATENÇÃO: Medicamentos que contêm ácido acetilsalicílico (AAS), 
ibuprofeno e outros anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) devem 
ser evitados, pois inibem elementos essenciais para a coagulação 
sanguínea, que já é prejudicada pela redução de plaquetas causada 
por esses vírus, favorecendo e agravando a ocorrência de 
hemorragias. 
↠ Já o paracetamol inibe a síntese das PGs no SNC. Isso 
explica suas propriedades antipiréticas e analgésicas. O 
paracetamol exerce menor efeito sobre as cicloxigenases 
nos tecidos periféricos devido à inativação periférica, o 
que contribui para a sua fraca atividade anti-inflamatória. 
Esse fármaco não afeta a função plaquetária nem 
aumenta o tempo de sangramento. O paracetamol não é 
considerado um AINE (WHALEN, 6ª ed.). 
↠ Segundo a Anvisa, “o paracetamol é contraindicado 
para portadores de doenças hepáticas, 
imunossupressoras e AIDS. O vírus da dengue, 
especialmente a forma hemorrágica da doença, provoca 
necrose hepática podendo evoluir para falência do órgão.” 
IMPORTANTE: Os medicamentos contraindicados em caso de suspeita 
de dengue são: salicitados (ácido acetilsalicílico), outros anti-inflamatórios 
não-esteroidais (naproxeno, cetoprofeno, ibuprofeno) e corticoides. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências 
FILHO, Geraldo B. Bogliolo - Patologia. Grupo GEN, 2021. 
SALOMÃO, Reinaldo. Infectologia - Bases Clínicas e 
Tratamento. Grupo GEN, 2017. 
FOCACCIA et. al. Tratado de Infectologia, 5ª edição. São 
Paulo: Editora Atheneu, 2015. 
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em 
Saúde. Boletim Epidemiológico, v. 53, 2022. 
YOKOO, S. C. A sazonalidade da ocorrência de dengue no 
município de Campo Mourão – PR, 2017. 
NUNES, J. S. Dengue: etiologia, patogênese e suas 
implicações a nível global. Dissertação para obtenção do 
Grau de Mestrado, 2011. 
VARGAS et. al. O Aedes Aegypti e a Dengue: Aspectos 
Gerais e Panorama da Dengue no Brasil e no Mundo. 
UNICIÊNCIAS, 2020. 
WHALEN et. al. Farmacologia Ilustrada, 6ª edição. Porto 
Alegre: Artmed, 2016. 
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Dengue: diagnóstico e 
manejo clínico – Adulto e Criança, 3ª edição, 2007.

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