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Patogenia da Dengue Etiologia da Dengue O que é dengue? - Dengue é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e que ocorre em áreas tropicais e subtropicais. Pessoas infectadas com o vírus pela segunda vez têm um risco significativamente maior de desenvolver doença grave. - Os sintomas são febre alta, erupções cutâneas e dores musculares e articulares. Em casos graves, há hemorragia intensa e choque hemorrágico (quando uma pessoa perde mais de 20% do sangue ou fluido corporal), o que pode ser fatal. - O tratamento inclui ingestão de líquidos e analgésicos. Os casos graves exigem cuidados hospitalares. - Essa doença não é importante só no Brasil, é acometida no mundo inteiro principalmente em países tropicais. Justificativa de estudarmos a dengue - A dengue é a mais importante virose transmitida por atrópodes que acomete o homem em termos de morbidade e mortalidade, sendo classificada como uma arbovirose; Arbovirose - Arboviroses são as doenças causadas pelos chamados arbovírus, que incluem o vírus da dengue, Zika vírus, febre chikungunya e febre amarela. A classificação "arbovírus" engloba todos aqueles transmitidos por artrópodes, ou seja, insetos e aracnídeos (como aranhas e carrapatos). - Existem 545 espécies de arbovírus, sendo que 150 delas causam doenças em seres humanos. Classificação: - ssRNA + (RNA fita simples positivo) envelopado; · Família: Flaviridae · Gênero: Flavivirus · Grupo: Dengue, 5 sorotipos Sorotipos - Encontramos cinco sorotipos, destes quatro são encontrados no Brasil: · Dengue Tipo 1: Chegou ao BR em 1986; · Dengue Tipo 2: Chegou ao BR em 1990; · Dengue Tipo 3: Chegou ao BR em 2000; · Dengue Tipo 4: Chegou ao BR em 2010 > é o sorotipo mais raro; · Dengue Tipo 5: Surgiu na Ásia em 2013; - A pessoa pega dengue novamente SIM, mas por OUTRO sorotipo, afinal criamos imunidade contra o sorotipo que pegamos. Pode acontecer de a segunda infecção ser mais forte. Genoma do vírus da Dengue - Genoma composto por vírus de RNA fita simples positiva (ssRNA+) envelopados; - Genoma composto por 10 genes, que irão codificar proteínas; - São traduzidas em 10 proteínas: · 03 proteínas estruturais > importantes para constituição do capsídeo viral; · 07 proteínas não estruturais > enzimas que vão auxiliar no domínio celular e participar da síntese de proteínas estruturais; - É por isso que os vírus dependem de outra célula: são tão simples que se tornam parasitas obrigatórios, dominando a maquinaria celular e a usando para se multiplicar. - Vírus demonstram o que é ser sucinto: só tem o essencial. Proteínas Estruturais - Proteínas importantes para a constituição do capsídeo viral: Ptn E relacionada ao envelope, estão dispostas em dímeros na membrana plasmática (que ajuda a proteger contra o ataque do SI > complemento); - Ptn C proteína do nucleocapsídeo; - Ptn M proteína associada à membrana; Proteínas não estruturais Proteína NS-1: 1ª proteína não estrutural; Replicação do vírus da Dengue - Vírus de RNA fita simples (ssRNA+) com genoma de fita simpels são capazes de sintetizar proteínas diretamente de sua fita positiva; - Uma vez que ocorra adsorção e desnudamento, o material genético está pronto para ser anexado aos ribossomos, que traduzem as proteínas virais importantes para multiplicar material e sintetizar capsômeros; 1. Adsorção 2. Penetração + desnudamento 3. O desnudamento libera o RNA e as proteínas virais 4. Replicação do RNA pela RNA polimerase dependente de RNA viral > fita negativa é transcrita a partir do genoma viral positivo 5. Tradução e síntese das proteínas virais 6. Maturação e liberação - Células infectadas: MO, NO, CD, LINF B, hepatócitos, MM esquelético liso e células endoteliais. - Alguns vírus conseguem entrar com o capsídeo no citoplasma, mas não é comum. - Como se trata de um vírus RNA fita simples positiva, já está pronto para que os ribossomos o traduza. - Libera-se a partir do sequestro de membrana plasmática: envelope. Dímero da proteína E: para que ocorra desnudamento do material, sofre uma alteração de conformação, sofre abertura para que possa passar o material genético. Epidemiologia - Ao longo dos anos os sorotipos prevalentes vão mudando; - Nos anos 90, tínhamos somente o sorotipo 1. A partir dos anos 90 foi introduzido sorotipo 2, por volta de 2000/2005 foi introduzido sorotipo 3 e partir de 2010 sorotipo 4 que ainda é o mais raro. Diferenças - Endemia = A endemia não está relacionada a uma questão quantitativa. É uma doença que se manifesta com frequência e somente em determinada região, de causa local. A Febre Amarela, por exemplo, é considerada uma doença endêmica da região norte do Brasil. Surtado: Doença que sempre tem uma incidência dentro de uma faixa considerada normal, dentro do desvio padrão para + ou para -. Endemia não tem a ver com território e sim com desvio padrão. Quando estiver dentro do desvio padrão / média, é uma doença endêmica. - Surto = Acontece quando há um aumento inesperado do número de casos de determinada doença em uma região específica. Em algumas cidades, a dengue, por exemplo, é tratada como um surto e não como uma epidemia, pois acontece em regiões específicas como um bairro. - Epidemia = Uma epidemia irá acontecer quando existir a ocorrência de surtos em várias regiões. A epidemia a nível municipal é aquela que ocorre quando diversos bairros apresentam certa doença, a nível estadual ocorre quando diversas cidades registram casos e a nível nacional, quando a doença ocorre em diferentes regiões do país. Surtado: epidemia superou o desvio padrão / média de X doença. - Pandemia = A pandemia, em uma escala de gravidade, é o pior dos cenários. Ela acontece quando uma epidemia se estende a níveis mundiais, ou seja, se espalha por diversas regiões do planeta. Incidências Os sorotipos predominam de acordo com a região do país. - Em GO e MG ocorre predomínio de sorotipo 1; - RJ tem incidência de tipo 4 (único estado com essa prevalência); - A dengue também tem maior incidência nas estações chuvosas como dezembro, janeiro e maio. É um padrão que se repete ao longo dos anos. Vetor - O que está atribuído a incidência aos países tropicais? Deve-se ao vetor da dengue: Aedes aegypti. - É uma arbovirose: vírus nascido do artrópode · Gênero: Aedes · Espécie: Aedes aegypti + Aedes Albopictus · Fêmea hematófaga: repasto sanguíneo - O albopictus tem um traço longitudinal ao passo que o aegypti tem várias linhas em liras. - O aegypti é mais urbano e tem mais hábitos diurnos. - Esses mosquitos gostam de clima quente e úmido, seja em ambiente de mato ou em ambiente urbano. Ciclo de vida do vetor 1. A mosquita fêmea prenha infecta individuo doente, através da picada (por isso ela é hematófaga); 2. Bota os ovos que emergem larvas em ambientes úmidos; 3. Estágios larvais: do primeiro ao quarto; 4. Torna-se uma pupa em cinco dias; 5. Torna-se adulto através de maturação e eclosão em sete dias; 6. No oitavo dia já pode acasalar (24h após tornar-se adulto). 7. A mosquita prenha torna-se hematofága, dando continuidade ao ciclo de vida do vetor e do vírus. - A mosquita ovipõe em locais úmidos, mesmo que fique seco os ovos conseguem sobreviver. - Além disso, ela também pode transmitir o vírus para os ovos. Fisiopatogênese da dengue no hospedeiro 1. Durante o dia, transmissão pela saliva da mosquita 2. Vírus replica nos tecidos e linfonodos próximos da inoculação 3. Novos vírus disseminam-se hematogenicamente e infectam novas células 4. Mosquitos se infectam a partir dos vírus na circulação 5. O hospedeiro desenvolve febre enquanto do sistema imune destrói células infectadas - O vírus da dengue tem capacidade de infectar várias células em vários tecidos, não tem uma predileção. - Pode parasitar MO, hepatócitos, células endoteliais, musculares... - O pico de maior viremia é no 3º dia após o inicio dos sintomas. - Disseminação hematogênica Resposta Imune Eficaz - O melhor programa de combate é de citocinas TH1: - TH1 provoca ativação clássica de MO > TNF alfa e IL1 > manifestações agudas sistêmicas- Muitas vezes o mal estar e sinais clínicos mais evidentes são produzidos pela reação do SI (repercussão clinico patológico) D E N G U E C L Á S S I C A Quadro Clínico da Dengue Clássica - Se a pessoa já tem imunidade contra X sorotipo, se ‘’pega’’ novamente, sente um pequeno mal estar mas logo já retorna visto que o SI já reconhece o sorotipo; · Quadro clínico com duração de 2 a 7 dias; · Febre alta de inicio abrupto, 39 a 40ºC; · Cefaleia; · Adinamia; · Mialgia; · Artralgia; · Dor retro ocular; · Anorexia; · Nauseas; · Vômitos; · Diarreia; · Exantema maculo-papilar (RASH) no 3º ao 4º dia > ocorre em 50% dos casos e atinge face, tronco e membros > cede a digito-pressão · Convalescença: astenia e depressão > pode pendurar por semanas - Além desses sintomas pode ainda ocorrer: · Manifesações hemorrágicas discretas: epixstase, gengivorragia, petéquias, metrorragias espontâneas > cursa com prova do laço positiva. - Exantemas podem ser mobiliforme ou escalatiniforme. O exantema do tipo mobiliforme da dengue ocorre devido à uma vasculite sem extravasamento de sangue, há um papel do SI sob esse fenômeno. - Se o exantema cede a digito-pressão não houve extravasamento de sangue para o interstício. - Esses sintomas variam de pessoa para pessoa, vai do organismos. Como o RASH, aparece em 50% dos casos > podemos falar que os sintomas gerais são causados basicamente pelo nosso próprio sistema imunológico. Por isso cada um pode manifestar sinais diferentes Exames Solicitados Hemograma · Leucopenia (pode ocorrer) > o vírus dengue pode ter certa predileção por células de medula óssea; · Plaquetopenia (pode ocorrer) > é provável que o vírus também tenha predileção por megacarócitos que produzem as plaquetas; · Linfócitos atípicos (pode ocorrer) > fortes indícios de doença viral; · Linfocitose (pode ocorrer); · Hematócrito esperado é até 45% | hemoconcentração; - Doenças bacterianas não produzem linfócitos atípicos, é comum que tenha linfocitose com desvio a esquerda, diferente dos vírus que é mais comum encontramos leucopenia. Transaminases · Elevação de transaminases (AST - TGO | ALT - TGP) S/O > o vírus da dengue também pode favoritar os hepatócitos, inflamam o fígado que ultrapassa o rebordo costal (limite da borda costal) = hepatomegalia; · TGO e TGP aumentam de 2 a 5x seu valor; Prova do Laço - É um teste que se faz para ‘’verificação’’; - Desenha-se um quadrado de 2,5 por 2,5 no braço da pessoa; - Calcular média da PA > somar PAS + PAD / 2; - Comprimir o manguito nessa média por 5 minutos em adultos. Contar quantas petéquias formaram-se no quadrado; · Negativo: de 0 a 5 petéquias; · Suspeito: de 5 a 20 petéquias; · Positivo: 20 ou mais petéquias; - Em crianças o manguito deve permanecer comprimido por 3 minutos e a dengue é confirmada com 10 petéquias. D E N G U E G R A V E - Não se sabe exatamente o por que algumas pessoas tem dengue clássica e outras tem dengue grave, existem teorias para tentar explicar: Teorias sobre a patogênese da dengue grave - Teoria da facilitação dependente de Anticorpos: - Teoria mais aceita e mais defendida; - Diferenças na virulência entre cepas; - Presença de AC não neutralizantes para uma segunda infecção; · Explica a dengue como consequência de infecções prévias de outros sorotipos de dengue, ou seja, é provável que o ser desenvolva dengue grave por já ter tido dengue por outro sorotipo, já desenvolveu imunidade duradoura (memoria imunológica); · Num segundo instante é contaminado por um segundo sorotipo; · A resposta prévia contra o outro sorotipo é ativada e aqueles AC prévios ao invés de combater esse segundo sorotipo, não combate de maneira eficaz = não consegue neutralizar o vírus = vem a ação dos MO; · Quando os MO vão lá fagocitar achando que o vírus está bloqueado pelos AC, o vírus infecta e domina o MO daí. · MO parasitados liberam MUITAS citocinas = processo inflamatório SUPER AGUDO = queda de plaquetas, rash, lise celular = hemorragia. - Explica a febre hemorrágica. - MO ativados liberam: · Tromboplastina = coagulação e plaquetopenia; · Proteases ativadas = lise celular - Teoria da virulência viral: - Teoria menos aceita; · O desenvolvimento da dengue grave se deve ao fato de que existem cepas virais na população que são mais virulentas que as virais, então quando o individuo contrai tal cepa viral super patogênica desenvolve dengue grave. - Resposta imune e ‘’tempestade de citocinas’’ · Tenta atribuir a evolução da dengue como uma consequência pertinente de particularidades imunológicas de cada pessoa; · Na presença desse vírus o SI responde de uma maneira tão grave que se torna fatal; · Super ativação de MO > citocinas > quadro clinico grave. Quadro Clínico da Dengue Hemorrágica - Defervecência da febre: do 3º ao 7º dia. - Atenção após o 3º dia, ele piora com os sinais de alarme: Sinais de alarme: · Febre não cessa; · Dor abdominal intensa e continua > associada a hepatomegalia; · Vômitos persistentes; · Derrames cavitários; · Sangramento de mucosas; · Letargia; · Irritabilidade; · Hepatomegalia (>2cm a mais do rebordo costal); · Aumento de hematócrito; · Queda de plaquetas; - Piora do quadro apresenta sinais de choque como: · PA convergente > a PAS reduz e se aproxima da PAD, com diferença de 20mmmHg; · Hipotensão arterial · Hipotensão postural; · Extremidades frias; · Cianose; · Pulsos rápidos e finos; · Perfusão periférica lenta (TEC > 2seg); Hemorragias graves - Volume critico de plasma é perdido através do extravasamento; - Vulnerável a sofrer hemorragias (plaquetopenia e hemoconcentrado) - Ulcera péptica ou gastrites; - Hematócrito alto; SUSPENDER USO! · Ingestão de ácido acetil salicílico (AAS); · Anti-inflamatórios não esteroides (AINES); · Anticoagulantes; - AINES bloqueiam COX-1 e consequentemente tromboxanos, super importantes para a coagulação sanguínea; - Não suspender irá vulnerabilizar ainda mais as hemorragias; - Os AAS atuam como corticoides não esteroidais, bloqueiam COX-1; Síndrome de Reye - Complicação grave ocasional que ocorre em pacientes com infecção viral em uso de AAS e AINE (que bloqueiam COX-1); - NÃO É EXCLUSIVA DA DENGUE, mas infecções virais onde o paciente está em uso de AAS e AINE, no caso da dengue ainda é pior pois ainda favorece processos hemorrágicos; - Dias após a infecção inicial ter retrocedido; - Hepatite grave e edema cerebral (dor, ECG rebaixada); - Vômito persistente; - Exibe sinais de disfunção cerebral como: · Sonolência extrema · Comportamento combativo > - Coma e morte; Disfunções graves de órgãos Fígado: · AST / ALT aumentados; · Aumento do tempo de protrombina (TP) > disfunção hepática importante; SNC: · Convulsões; · Irritabilidade; · Polineuropatias; · Meningites; Coração: · Arritmias; · Inversão de onda T; · Disfunções ventriculares; Estradiamento clínico e conduta Os pacientes suspeitos de dengue podem ser classificados em quatro grupos: · Grupo A: não apresentam sinais de alarme, jovem, sem comorbidades ou doenças prévias > mandar para casa para hidratar e repousar, acompanhamento ambulatorial; · Grupo B: não apresentam sinais de alarme, porem já tem uma doença de base (cardiopata, pneumopata), bebê, gestante > precisa de mais atenção, faz um acompanhamento através de um leito de observação para ver como vai ser a avaliação clinica do paciente; · Grupo C: sinais de alarme + doença de base > leito de internação | enfermaria até que estabilize; · Grupo D: sinais de alerta culminando em dengue grave > leito de emergência | UTI. J U N Ç Ã O Recuperação - Reabsorção do conteúdo extravasado; - Normalização do débito urinário; - RASH desaparece; Confirmação Laboratorial - Exames positivos: confirmam - Exames negativos: repetir coleta e exame Teste Rápido - Deve ser feito até no máximo 5º dia, após isso resultado inconclusivo > aproveitar pico de hiperemia (do 2º ao 4º dia); · Detecção de AG virais: NS1; · Pesquisa conjunta de IgM, IgG e NS1; Método ELISA - Após 6º dia; - Laboratorial; · IgM Isolamento Viral - Até 5º dia; - Amplificar o material genético viral, visualiza suapresença e comprova o diagnostico para dengue; · RT | PCR (reação em cadeia de polimerase) Imunohistoquímica - Presença de AC e o vírus propriamente dito no sangue do paciente. Evolução Clínica e Laboratorial da Dengue OBSERVAÇÕES: - A dipirona não é considerada um AINE, o efeito dela é anti térmico. Acredita-se que tenha grande afinidade por COX-3. - Dipirona 6/6h. - Prefere-se prescrever dipirona, pois o paracetamol pode ser hepatotóxico;
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