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1 APOSTILA CERTIFICAÇÃO RPPS 2 MÓDULO I – GESTÃO DO PASSIVO PREVIDENCIÁRIO 1. CONCEITOS PREVIDENCIÁRIOS FUNDAMENTAIS.................................................. 3 1.1. Receitas e Despesas Previdenciárias .............................................................. .......3 1.2. Certificado de Regularidade Previdenciária ............................................................ 6 1.3. Avaliação Atuarial.................................................................................................. 12 2. REGIME DE REPARTIÇÃO E DE CAPITALIZAÇÃO ................................................. 14 2.1 Constituição de Fundos Previdenciários ................................................................ 14 2.2. O Risco do Regime de Repartição Simples .......................................................... 15 2.3. Desafios e Vantagens do Regime de Capitalização.............................................. 17 2.4. Estratégias para a Capitalização do Novo Regime ............................................... 18 2.5. A Importância do Equilíbrio Financeiro e Atuarial do Sistema............................... 19 3. BENEFÍCIO DEFINIDO E CONTRIBUIÇÃO DEFINIDA.............................................. 20 4. ATIVO, PASSIVO E RESULTADO PREVIDENCIÁRIO .............................................. 23 5. BENEFÍCIOS CONCEDIDOS E BENEFÍCIOS A CONCEDER................................... 28 6. PLANO DE CUSTEIO ................................................................................................. 31 7. INTERPRETAÇÃO DO CÁLCULO ATUARIAL ........................................................... 33 7.1. Resultado Atuarial ................................................................................................. 33 7.2. Projeção Atuarial ................................................................................................... 34 7.3. Premissas Atuariais............................................................................................... 36 7.3.1. Taxa de Juros (Meta Atuarial) ......................................................................... 37 7.3.2. Tábuas Biométricas......................................................................................... 38 7.3.3. Crescimento Salarial ....................................................................................... 39 7.3.4. Fator de Capacidade ....................................................................................... 39 7.3.5. Composição Familiar....................................................................................... 39 7.3.6. Novos Entrantes e Rotatividade ...................................................................... 40 7.4. Variações do Resultado Atuarial ........................................................................... 42 8. GERENCIAMENTO DE ATIVO E PASSIVO – ASSET LIABILITY MANAGEMENT (ALM) 9. ADMINISTRAÇÃO DO CADASTRO ........................................................................... 47 3 1. CONCEITOS PREVIDENCIÁRIOS FUNDAMENTAIS 1.1. Receitas e Despesas Previdenciárias Os entes da federação (municípios, estados, DF e união) possuem competência para tratar da seguridade social, sendo dividida em: assistência, previdência e saúde. A previdência social deve sempre ser gerenciada à parte da assistência e saúde devido às suas peculiaridades. O aspecto financeiro diferenciador mais importante é quanto ao comportamento das despesas ao longo do tempo, pois se sabe que essas despesas apresentam crescimento rápido, refletindo o aumento do volume de benefícios previdenciários em relação às receitas de contribuições previdenciárias. Esse fato é normalmente evidenciado pela divulgação de um indicador correspondente à relação entre o número de beneficiários (aposentados e pensionistas) e o de contribuintes, valor este que tende a crescer no médio prazo e a se estabilizar no longo prazo em um número maior que um, significando que o regime possui mais beneficiários do que contribuintes ativos. A previdência tem como objetivo proteger o servidor da perda permanente da capacidade laborativa por ocasião de morte, invalidez ou idade avançada, além da perda temporária da capacidade em função de doença, acidente, maternidade e reclusão. Sendo assim, os benefícios previdenciários se dividem em benefícios de prestação continuada e auxílios, respectivamente. Os benefícios de prestação continuada são: aposentadoria por invalidez, aposentadoria programada (por idade ou tempo de contribuição) e pensão. Já os auxílios são: auxílio-doença, auxílio-reclusão, salário- família e salário-maternidade. As despesas previdenciárias de um regime próprio devem corresponder somente àquelas previstas pela Constituição Federal e legislação em geral. O regime próprio deverá no mínimo conceder os benefícios de aposentadoria e pensão. No máximo, além 4 dos benefícios de aposentadoria e pensão, poderá oferecer aos segurados e dependentes o auxílio-doença, auxílio-reclusão, salário-família e salário-maternidade. Os benefícios de salário-família e auxílio-reclusão só serão devidos aos dependentes dos segurados de baixa renda, com remuneração, provento ou pensão brutos inferiores ao limite determinado e corrigido anualmente pelo Ministério da Previdência social. Uma despesa adicional, que não é usufruída diretamente pelos segurados do regime é a despesa com a taxa de administração, que corresponde ao valor máximo de 2% do valor total das remunerações, proventos e pensões dos segurados vinculados ao regime próprio de previdência, relativamente ao exercício financeiro anterior. Cada regime pode, portanto, estipular um percentual diferente, de acordo com a necessidade que surge em relação às despesas de caráter administrativo envolvendo remuneração de pessoal, materiais de expediente, energia, água e esgoto, comunicações, vigilância, locações, manutenção, limpeza e conservação dos bens móveis e imóveis, consultoria, assessoria técnica, honorários, entre outros. Desde que haja aprovação dos conselheiros, o regime próprio pode constituir reservas com eventuais sobras do custeio administrativo, cujos recursos somente serão utilizados para os fins destinados pela taxa de administração, sendo que o montante não poderá ultrapassar a totalidade das efetivas despesas administrativas do exercício anterior. De acordo com a legislação geral (federal), para as despesas previdenciárias serem custeadas suficientemente, devem obrigatoriamente haver no mínimo as receitas de contribuição do servidor e de contribuição do ente (patronal). A contribuição do servidor deve ser de no mínimo 11% e a contribuição do ente no mínimo uma vez e no máximo duas vezes a contribuição do servidor. Em se tratando de um regime capitalizado, ou seja, aquele no qual existe um fundo previdenciário, haverá também uma receita patrimonial de juros que será fundamental para a manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial no longo prazo. Para auxiliar o gerenciamento eficiente das aplicações financeiras do fundo previdenciário e os juros correspondentes surge a necessidade da existência da certificação do gestor responsável pelos investimentos dos regimes 5 próprios. A legislação local pode prever ainda outras fontes de receita, como royalties do petróleo, que são uma compensação financeira devida ao ente, incidente sobre a produção mensal das empresas concessionárias de petróleo e gás natural. O ente pode então, desde que previsto em lei, deslocar parte ou toda essa receita para o fundo previdenciário. Assim como para os royalties do petróleo, pode o ente legalmente atribuir outros créditos para o fundo, de acordo com a necessidade do regime. Um aspecto importante que diferencia os regime próprios dos outros regimes previdenciários brasileiros (entidades abertas e fechadasde previdência complementar) é a existência da Compensação Previdenciária. Essa compensação surge na medida em que um servidor público, ao se aposentar, pode averbar tempo de contribuição anterior aportado ao regime geral (INSS). Sendo assim, mediante o processo administrativo formalizado, este servidor irá provocar uma receita de compensação previdenciária para o regime instituidor do benefício programado (regime próprio), sendo repassada mensalmente pelo regime de origem (INSS). Analogamente, na situação contrária, a qual o servidor se desliga de um regime próprio e passa a contribuir para o INSS, quando posteriormente se aposenta, será gerada uma despesa de compensação previdenciária para o regime de origem (regime próprio) que irá arcar com a parte que lhe cabe em relação ao pagamento mensal do benefício concedido pelo regime instituidor (INSS). Trata-se na prática de uma espécie de rateio proporcional das despesas com relação aos benefícios programados. Atualmente só existe regulamentação quanto à compensação entre os regimes próprios e o regime geral. A compensação previdenciária de um regime próprio para outro regime próprio ainda será implantada, dependendo de regulamentação federal. 6 1.2. Certificado de Regularidade Previdenciária O Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP) é o documento emitido pela União através da Secretaria de Políticas de Previdência Social (SPS), com validade de 90 dias, e que atesta a regularidade do ente público, envolvendo aspectos do ente e do regime próprio de previdência social dos servidores. Para tal, deve o ente possuir legislação que respeite as normas gerais, bem como serem elaborados e enviados o Demonstrativo Previdenciário, o Demonstrativo de Investimentos e Disponibilidade Financeira (Demonstrativo Financeiro), o Demonstrativo de Resultado da Avaliação Atuarial (DRAA), o Comprovante de Repasse e Recolhimento ao RPPS, os Demonstrativos Contábeis e o Demonstrativo da Política de Investimentos. O CRP será exigido do ente público nas situações elencadas a seguir que envolvem transações financeiras com o governo federal, exceto quanto às transferências voluntárias relativas às ações de educação, saúde e assistência social. - Realização de transferências voluntárias de recursos pela União; - Celebração de acordos, contratos, convênios ou ajustes com órgãos ou entidades da Administração Direta e Indireta da União; - Concessão de empréstimos, financiamentos, avais e subvenções em geral de órgãos ou entidades da Administração Direta e Indireta da União; - Liberação de recursos de empréstimos e financiamentos por instituições financeiras federais; - Pagamento dos valores devidos pelo Regime Geral em razão da compensação previdenciária. 7 O Demonstrativo Previdenciário será elaborado com base nas informações contábeis do regime próprio e do ente, incluindo valores mensais de contribuição previdenciária, compensação previdenciária, receita patrimonial de aplicação de recursos, despesas com aposentadorias e pensões, despesas administrativas, remuneração dos servidores ativos, e saldo financeiro do fundo previdenciário. O Demonstrativo de Investimentos e Disponibilidade Financeira (Demonstrativo Financeiro) será elaborado com base nas negociações em mercado financeiro referentes ao fundo previdenciário, incluído informações sobre: preço/quantidade e valor da operação, emissor, data da emissão, data e valor de resgate, indexador, taxa de juros, agente custodiante, contraparte, nível de risco e agência de risco. O Comprovante de Repasse e Recolhimento ao RPPS é um documento de comprovação do repasse do ente e recolhimento ao regime próprio das contribuições a seu cargo, dos valores retidos dos segurados, dos aportes de recursos e débitos de parcelamento, correspondentes às alíquotas fixadas em lei. Ele deve ser devidamente confirmado (assinado) pelo dirigente da unidade gestora do regime próprio e pelo representante do ente (chefe do executivo). O DRAA é elaborado anualmente e deve ser enviado até 31 de março após o encerramento do exercício financeiro, tendo como base os valores das projeções e resultados apurados na avaliação atuarial. O Demonstrativo da Política de Investimentos também é anual e deve ser encaminhado até 31 de dezembro, referindo-se à política do exercício seguinte. Os Demonstrativos Contábeis são elaborados semestralmente e devem ser enviados até 30 de setembro (encerramento do 1º semestre) e 31 de março (encerramento do exercício anterior). 8 Os Demonstrativos Previdenciários, de Investimentos e Disponibilidade Financeira e o Comprovante de Repasse e Recolhimento devem ser enviados eletronicamente até o último dia do mês seguinte ao encerramento de cada bimestre do ano civil. Ademais, as normas previdenciárias locais e o ente devem respeitar os seguintes critérios, elencados e explicados resumidamente a seguir: - Unidade gestora e regime próprio únicos: existência de apenas um regime próprio de previdência social e uma unidade gestora do respectivo regime dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entendendo-se como unidade gestora aquela com a finalidade de gerenciamento e operacionalização do respectivo regime; - Participação dos segurados, ativos e inativos, nos colegiados: os regimes próprios deverão contar com a participação de representantes dos segurados nos conselhos e instâncias de decisão em que os seus interesses sejam objetos de discussão e deliberação; - Cobertura exclusiva a servidores efetivos: cobertura exclusiva a servidores públicos titulares de cargos efetivos e a militares, isto é, todos os que prestaram concurso e seus dependentes, não podendo amparar aqueles servidores que ocupam, exclusivamente, os cargos em comissão, também chamados de cargos de confiança, e os servidores temporários. Nesta última categoria excluída, estão aqueles que exercem os mandatos eletivos e, ainda, os contratados por tempo determinado em razão de excepcional interesse público; - Caráter contributivo: esse critério determina a necessidade de previsão expressa, em lei, das alíquotas de contribuição dos entes federativos e de seus segurados, bem como o repasse integral das respectivas contribuições ao órgão ou entidade gestora do regime próprio de previdência social; 9 - Observância dos limites legais das alíquotas de contribuição: a alíquota dos servidores não poderá ser inferior daquela cobrada dos servidores titulares de cargo efetivo da União. Além disso, a alíquota do ente não poderá ser inferior a do seu servidor ou superior ao dobro, salvo em caso de necessidade de cobertura de eventuais insuficiências financeiras do respectivo regime próprio decorrentes do pagamento de benefícios previdenciários; - Base de incidência das alíquotas de contribuição: A contribuição dos servidores ativos incidirá sobre a totalidade da base para a contribuição, enquanto que a contribuição sobre os proventos dos inativos e sobre as pensões incidirá somente sobre a parcela que ultrapassar o limite máximo estabelecido para os benefícios do RGPS ou que ultrapassar o dobro desse limite quando o beneficiário for portador de doença incapacitante, nas mesmas alíquotas aplicadas às remunerações dos servidores ativos. - Utilização de recursos previdenciários: utilização dos recursos vinculados ao regime próprio de previdência social apenas para o pagamento de benefícios previdenciários, com exceção às despesas administrativas. Os recursos não podem ser utilizados para conceder assistência à saúde e auxílio financeiro de qualquer espécie; - Conta distinta para os recursos previdenciários: a conta bancária do regime próprio de previdência social deve ser distinta da conta tesouro do ente federativo, possibilitando a comprovação da utilizaçãoadequada dos recursos previdenciários; - Aplicações financeiras de acordo com o Conselho Monetário Nacional (CMN): os recursos do regime próprio devem ser aplicados conforme as regras fixadas pelo CMN, sendo vedada a concessão de empréstimos ou assistência financeira de qualquer espécie à administração direta ou indireta, bem como aos servidores e dependentes; - Equilíbrio financeiro e equilíbrio atuarial: com base na avaliação atuarial e no DRAA, deve ser garantido o equilíbrio financeiro e atuarial do regime, observadas as alíquotas de contribuição de equilíbrio necessárias para a cobertura do plano, bem como, se 10 necessário, o plano de amortização e a segregação de massas para o equacionamento do déficit atuarial; - Não existência de convênio ou consórcio para pagamento de benefícios: o pagamento de benefícios não pode ser feito por meio de convênios, consórcios ou outra forma de associação entre estados, entre estados e municípios e entre municípios, ou seja, os benefícios devem ser concedidos diretamente pelo regime próprio que o instituiu; - Concessão de benefícios não distintos do RGPS: Os benefícios concedidos pelo ente e regime próprio não podem ser distintos daqueles concedidos pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS: aposentadoria por invalidez, aposentadoria programada, auxílio-doença, salário-família, salário-maternidade, pensão e auxílio-reclusão; - Regras de concessão, cálculo e reajustamento de benefícios: a previsão de requisitos e critérios de concessão de benefícios, bem como a definição de dependente (cônjuge, companheiro(a), filho(a), pais e irmãos) não podem ser diferentes daqueles previstos na Constituição Federal e utilizados pelo RGPS; - Não-inclusão de parcelas remuneratórias temporárias nos benefícios: para o cálculo do valor dos benefícios, bem como sua percepção, não é permitida a inclusão de parcelas remuneratórias temporárias, como aquelas pagas em decorrência de função de confiança, de cargo em comissão ou do local de trabalho, bem como do abono de permanência; - Demonstrações contábeis: deverão ser elaborados o balanço orçamentário, o balanço financeiro, a demonstração das variações patrimoniais, o balanço patrimonial e as notas explicativas; - Escrituração de acordo com o plano de contas definido por norma específica do MPS: a escrituração será feita de forma autônoma em relação às contas do ente público, identificando e consolidando demonstrativos financeiros e orçamentários das receitas e 11 despesas previdenciárias que expressem com clareza a situação do patrimônio do respectivo regime e as variações ocorridas no exercício; - Registro individualizado: devem ser disponibilizados aos segurados extratos anuais dos registros individualizados das contribuições do segurado e do ente federativo, incluindo matrícula, remuneração, valores mensais e acumulados da contribuição do servidor e do ente; - Acesso dos segurados às informações do regime: garantia de pleno acesso dos segurados às informações relativas à gestão do regime próprio de previdência social, permitindo livre acesso às unidades gestoras ou fundos previdenciários, podendo inspecionar livros, notas técnicas e documentos, e estando sujeito o infrator às penas previstas pela lei por qualquer dificuldade oposta à consecução desse objetivo; - Encaminhamento de documentos: envio periódico à Secretaria de Previdência Social dos seguintes documentos: legislação completa referente ao regime de previdência social; avaliação atuarial inicial do regime próprio; Demonstrativo de Resultado da Avaliação Atuarial – DRAA; Demonstrativo das Receitas e Despesas do Regime Próprio; Demonstrativo Financeiro do Regime Próprio; e Comprovante do Repasse das contribuições a cargo do ente da federação e dos valores descontados dos segurados e dos pensionistas; - Atendimento de solicitação do MPS: as solicitações de documentos ou informações em auditoria indireta pelo Ministério da Previdência Social ou pelo Auditor Fiscal em auditoria direta devem ser atendidas do prazo estipulado. Incumbe ao Ministério da Previdência Social a fiscalização dos regimes próprios de previdência. O CRP terá a sua emissão suspensa ou cancelada quando da verificação pela Secretaria de Previdência Social (SPS) de infração dos critérios e exigências previstos, mediante Processo Administrativo Previdenciário que assegure o contraditório e a ampla defesa. 12 Assim, pode ser instaurado processo administrativo de duas formas: quando da elaboração da notificação de auditoria fiscal por parte do auditor fiscal, no caso de auditoria ordinária in loco; ou quando da emissão de parecer pelo Departamento dos Regimes de Previdência no Serviço Público, no caso de constatação de irregularidades mediante expedição de Notificação de Irregularidade através da análise dos demonstrativos e demais documentos exigidos para fins de emissão do Certificado de Regularidade Previdenciária. 1.3. Avaliação Atuarial O objetivo da avaliação atuarial é apurar e quantificar o preceito constitucional do equilíbrio financeiro e atuarial através da elaboração de projeções e conseqüente determinação do superávit/déficit técnico do plano. Para isso, toda a legislação geral (federal) e local, do ente, é considerada. Sua elaboração deve ser feita com periodicidade mínima anual, sendo que os resultados dela servirão de base para o preenchimento do DRAA que deve ser enviado até 31 de março de cada exercício financeiro. É importante destacar que o parecer atuarial deve ser assinado por profissional atuário devidamente registrado no Instituto Brasileiro de Atuária (IBA). Uma avaliação atuarial deve possuir pelo menos os seguintes itens: - Fundamentação legal: apontamento da legislação geral e local que embasou os cálculos; - Plano de benefícios: descrição das coberturas existentes e das condições gerais de concessão dos benefícios do plano previdenciário; - Plano de custeio: definição das fontes de recursos do regime, as receitas previdenciárias e créditos atribuídos ao plano; 13 - Estatísticas: estatísticas por sexo, idade, tempo de contribuição, remuneração de atividade e proventos de inatividade, da massa de servidores ativos e inativos e, se disponível, estatísticas por sexo e idade dos dependentes beneficiários com direito à pensão por morte; - Fundo previdenciário: comparativo dos últimos três anos entre a taxa de juros atuarial (meta atuarial) e a rentabilidade dos fundos; - Premissas atuariais: regimes de financiamento dos diversos benefícios oferecidos, hipóteses atuariais e formulações básicas utilizadas, segregadas por tipo de benefício; - Resultado atuarial: descrição e valor das provisões matemáticas suficientes para garantir o pagamento dos benefícios estipulados no plano previdenciário, bem como ocasionais mudanças de premissas atuariais ou métodos, justificando tal procedimento; - Plano de custeio de equilíbrio atuarial: definição das alíquotas e formas de obtenção do equilíbrio atuarial; - Projeção atuarial: fluxo anual projetado de receitas e despesas do fundo para um período mínimo de 75 anos; - Parecer sobre o banco de dados: qualidade do cadastro fornecido pela entidade, que serviu de base para a realização da avaliação atuarial; - Parecer atuarial: parecer conclusivo do atuário responsável pela avaliação atuarial contendo as causas do superávit/déficit técnico atuarial. Em se tratando de déficit atuarial, as possíveis soluções para o equacionamento, e de superávit, a sua destinação; - Análise comparativa: comparação entre os resultados das três últimas avaliações 14 anuais, indicando a margem de erro das suposições formuladas em relação ao observado; - Nota técnica atuarial: definição matemática de como foram elaborados os cálculose projeções atuariais. As próximas seções apresentarão os conhecimentos mínimos que servem de base para o entendimento e interpretação da avaliação atuarial de um regime próprio de previdência social, além de sua utilização como instrumento gerencial de tomada de decisões estratégicas. 2. REGIME DE REPARTIÇÃO E DE CAPITALIZAÇÃO 2.1 Constituição de Fundos Previdenciários Na vigência da atual Constituição, o regime de previdência social sofreu duas grandes alterações estruturais. A primeira reforma veio com a Emenda Constitucional 20/98, trazendo o conceito de equilíbrio atuarial e o caráter contributivo ao se mudar o critério de tempo de serviço para tempo de contribuição. A segunda foi consolidada em duas partes, com as Emendas Constitucionais 41/03 e 47/05, inovando no conceito de solidariedade que viria a justificar a contribuição previdenciária de inativos e pensionistas, além de impor regras de concessão de benefício ainda mais rígidas. Os regimes próprios de previdência social possuem, desde a Emenda Constitucional 20/98, a faculdade de constituírem fundos integrados, mas desde que sejam estruturados de forma a preservar o equilíbrio financeiro e atuarial previsto na própria Lei Maior. Esta mudança foi um marco histórico na previdência pública e procurou trazer segurança ao sistema, amparado ainda pela rígida Lei de Responsabilidade Fiscal. Na Ciência Atuarial, essa constituição de fundo representa a prudente transição do 15 regime financeiro de repartição simples para o regime financeiro capitalizado. A faculdade de se constituir um fundo deve ser vista como uma obrigação para o bom administrador, visto que um sistema previdenciário custeado pelo regime de repartição certamente entrará em colapso a médio prazo. 2.2. O Risco do Regime de Repartição Simples Imagina-se, então, um regime cujos benefícios previdenciários são custeados sob o regime de repartição e que, conseqüentemente, se utiliza da receita previdenciária do atual exercício financeiro para fazer frente ao pagamento dos atuais aposentados e pensionistas. Certamente, as despesas previdenciárias, mesmo inicialmente insignificantes em volume financeiro, aumentarão num ritmo bem mais rápido que o das contribuições. Inevitavelmente haverá uma preocupação constante com a relação entre o número de servidores ativos e o de aposentadorias e pensões. A lógica é bastante simples: caso exista a contribuição do servidor na alíquota de 11% e a do ente na de 22%, é necessário que pelo menos 3 servidores ativos “se juntem” para que cada um dos seus 33% consiga pagar integralmente um benefício apenas, seja este uma aposentadoria ou pensão. Essa realidade se ameniza um pouco no caso da instituição da contribuição de inativos e pensionistas, prevista pela Emenda Constitucional 41/03, mas se agrava ao ser projetado o crescimento salarial real do servidor ao longo de sua carreira, mesmo na posterior ausência de integralidade e paridade. Na existência desse hipotético sistema, verifica-se intuitivamente que a “meta financeira” de 3 ativos para cada beneficiário é facilmente atingida nos primeiros anos do sistema, pois existe um lapso temporal considerável até que o servidor adquira o direito à aposentadoria. No gráfico apresentado, pode-se observar a evolução das despesas com aposentadorias e pensões frente à folha salarial tomada como base da contribuição previdenciária. Nota-se que o percentual cresce até que o grupo atinja a maturidade, ou seja, quando o número de ativos, inativos e pensionistas permanece em uma proporção praticamente estável. Também se pode observar que durante a segunda década de vida 16 do sistema as despesas já ultrapassam 50%, quando a partir de então, as contribuições previdenciárias de 33% não são suficientes para o devido custeio. Essa evolução é absolutamente natural e também previsível em qualquer sistema previdenciário, seja público ou privado. No regime de repartição simples é certo que as contribuições do servidor e do ente não serão suficientes para custear os benefícios de aposentadoria e pensão. Evolução do Percentual da Relação: Despesas Previdenciárias / Folha Base de Contribuição 0% 25% 50% 75% 100% 125% 150% 175% 200% 225% 0 5 10 15 20 25 30 35 Anos decorridos Quando as contribuições previdenciárias são insuficientes, surgem os déficits financeiros que obviamente deverão possuir alguma origem para cobri-los. Na tabela exposta, observam-se os números do regime próprio da União e os dos regimes próprios estaduais consolidados. O déficit financeiro é denominado necessidade de financiamento. Nota-se que se o regime próprio estiver estruturado no regime de repartição simples, o tesouro do ente será responsável por arcar com esse custo, pois é subsidiariamente responsável pela cobertura de eventuais insuficiências financeiras do regime próprio decorrentes do pagamento de benefícios previdenciários, de acordo com a legislação federal. Necessidade de financiamento dos regimes próprios da união e estados (consolidados), considerando a contribuição patronal em dobro (duas vezes a contribuição do servidor). 17 UNIÃO (R$ bilhões) 2001 2002 2003 2004 2005 Contribuições do Servidor e Patronal 7,0 9,4 9,2 10,8 13,8 Despesas com Aposentadorias e Pensões 28,1 31,7 36,2 39,8 42,4 Necessidade de Financiamento 21,1 22,2 27,1 29,0 28,6 ESTADOS (R$ bilhões) 2001 2002 2003 2004 2005 Contribuição do Servidor 11,0 12,6 4,5 6,0 6,6 Contribuição Patronal 11,0 12,6 12,6 18,0 7,6 Despesas com Aposentadorias e Pensões 24,6 30,4 31,2 34,2 37,1 Necessidade de Financiamento 13,7 17,9 19,0 17,7 22,9 Fonte: Ministério da Previdência Social http://www.mpas.gov.br/pg_secundarias/previdencia_servidor_04_01.asp Mas então, o que fazer se o futuro certamente revelará uma impiedosa realidade onde as contribuições do servidor e do ente não serão suficientes para cobrir as despesas previdenciárias? Como agir para não se chegar à situação na qual sejam necessários aportes por parte do tesouro para cobrir a certeza de futuros déficits financeiros? Existe outra fonte para financiar o sistema, além das contribuições previdenciárias, que caracterizam um regime de capitalização. 2.3. Desafios e Vantagens do Regime de Capitalização A solução do problema apresentado é constituir, o quanto antes, um fundo capitalizado, e de preferência enquanto o volume de contribuições supera o de pagamento de benefícios. Os juros ganhos pelo fundo são a fonte alternativa de financiamento, e se demonstrarão no médio e longo prazo ainda mais importantes que a fonte de contribuições. Mas o que acontece quando um regime possuidor dessa boa visão gerencial decide migrar do regime de repartição (orçamentário), sem constituição de fundo, para o regime de capitalização? A princípio, o sistema sofreria encargos em dobro, visto que teria que 18 arcar com os custos de pagamento dos atuais benefícios somados aos custos de constituição do próprio fundo. De fato, esse duplo encargo inevitavelmente terá que ser enfrentado, pagando-se literalmente pela ineficiência gerencial das administrações anteriores. A proposta, porém, não é despejar toda a responsabilidade na administração atual, e sim, amortizá-la ao longo das futuras administrações a partir da mudança. Para contornar este problema aparentemente insolúvel, é possível se definir um planejamento, desde que previsto em lei local, que preveja a transição gradual de um regime para o outro, sem grandes impactos sobre o orçamento do ente. O sistema capitalizado não será então mais dependente daquela relação número de contribuintes por número de beneficiários e não apresentará déficits financeiros crescentes incontroláveis por parte do tesouro municipal. Revela-se uma realidade bem mais segura, onde as contribuições são niveladas a um percentual fixo,possibilitando o poder público administrar melhor o erário e destinar no médio e longo prazo maior parcela de recursos para o bem-estar da população. 2.4. Estratégias para a Capitalização do Novo Regime Basicamente, existem duas estratégias básicas de transição para o regime capitalizado, diferindo-se na definição da forma na qual se divide a parte sob responsabilidade do regime de repartição, financiado pelo tesouro, frente ao novo regime capitalizado, sob responsabilidade do fundo previdenciário. Em ambas as estratégias, se acumulam os superávits de cada exercício financeiro no fundo previdenciário que renderá juros e correção monetária. Adicionalmente, principalmente se o sistema já não demonstra mais superávits financeiros, pode ou deve ser efetuado um aporte inicial de constituição do fundo, custeado pelo ente. Esse aporte também estará previsto em lei, mas não precisa necessariamente ser um ativo financeiro de alta liquidez ou um imóvel. O aporte de direitos pode ser uma boa opção, desde que haja baixo risco de crédito e regularidade no fluxo de caixa, como em créditos a receber de divida ativa ou royalties. 19 Como o regime proposto é de transição de repartição para capitalização, inicialmente o fundo não arcará com a responsabilidade do pagamento de todas as aposentadorias e pensões, tendo folga inicial para crescer sob o efeito do fenômeno dos juros compostos. É justamente na forma de divisão da responsabilidade de pagamento dos benefícios atuais e futuros que podem ser definidas duas das principais estratégias. A primeira estabelece uma idade de corte para os contribuintes em atividade: os servidores ativos atuais e futuros. Aqueles servidores com idade inferior ao corte serão financiados pelo fundo, sob o regime de capitalização. Exemplificando, os servidores a serem assegurados pelo regime capitalizado poderiam corresponder aos atuais e futuros ativos com idade inferior a 45 anos, deduzidos 5 anos caso seja do sexo feminino e mais 5 anos caso professor(a), na data de vigência da lei local. A segunda estratégia estabelece o corte na ocasião da data de aquisição do direito ao benefício. Os benefícios de aposentadoria arcados pelo regime capitalizado poderão ser os que forem sendo adquiridos a partir de uma determinada data, coincidindo com a de vigência da lei ou sendo postergada por alguns anos. As pensões seguem a mesma lógica e serão financiadas pelo novo regime quando concedidas a partir de uma determinada data, não necessariamente igual à de corte para aposentadoria, podendo também ser postergada por alguns anos. 2.5. A Importância do Equilíbrio Financeiro e Atuarial do Sistema Seja qual for a modalidade de transição escolhida, é certo que cabe ampla discussão a respeito de qual estratégia se adapta melhor a realidade do instituto levando a uma implementação operacional mais eficiente. Torna-se, então, essencial a elaboração prévia de diversos cenários de avaliação atuarial, a fim de se projetarem os fluxos de caixa futuros do regime capitalizado e do regime de repartição. Com uma dessas medidas estratégicas implementadas, a responsabilidade do tesouro frente ao regime de repartição é majorada inicialmente, mas com o passar do tempo, e 20 imediatamente, ela decresce até que dentro de poucas décadas se extingue, reduzindo- se apenas ao compromisso da contribuição previdenciária do ente. Os gestores do instituto, em conjunto com o chefe do executivo e o poder legislativo, optarão pela melhor forma de implementação do regime capitalizado, porém deve ser tarefa de responsabilidade do atuário a definição dos critérios de corte que irão delimitar os compromissos dos dois regimes, preservando então o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema. Ainda assim, nos exercícios financeiros subseqüentes torna-se relevante o acompanhamento dos resultados futuros a fim de serem controladas as realizações frente às projeções elaboradas nas reavaliações atuariais. O novo desafio apresentado pelo sistema capitalizado é de o regime possuir um corpo técnico qualificado que garanta a eficiente gestão dos recursos financeiros do fundo, administrando os riscos financeiros e atuariais em conjunto, conforme será abordado posteriormente no item de Gerenciamento de Ativo e Passivo (ALM). 3. BENEFÍCIO DEFINIDO E CONTRIBUIÇÃO DEFINIDA Existem diferentes formas de se calcular o valor do benefício em um plano previdenciário que caracterizam as modalidades de benefício definido e de contribuição definida. Na modalidade de contribuição definida, o benefício é calculado em função de todas as contribuições individuais do segurado que integram um fundo que montará um valor futuro, acumulando-se juros. A esse valor acumulado no futuro, aplica-se um cálculo atuarial que levará em consideração: taxa de juros atuarial, idade e sexo do segurado (expectativa de sobrevida do segurado), taxas de administração e idade e sexo dos dependentes. A alta expectativa de sobrevida e as taxas de administração contribuem para a diminuição relativa do valor do benefício. Já a taxa de juros contribui para o aumento do valor do benefício. Assim, o valor do benefício será tão maior quanto à boa eficiência dos gestores do fundo 21 previdenciário. Sob o ponto de vista do gestor, essa é a modalidade que oferece menor risco, visto que se o fundo não oferecer rentabilidade satisfatória, esse mau desempenho simplesmente será repassado para o segurado, ocasionando uma redução no valor do benefício esperado. Já sob o ponto de vista do segurado, a característica principal dessa modalidade é que o segurado não pode saber de antemão quanto receberá a título de benefício previdenciário. É mais vantajosa aos segurados que contribuem por períodos maiores, ou seja, aqueles que aderem cedo (contribuem por mais tempo e acumulam um fundo maior) e que se aposentam tarde no plano (possuem menor expectativa de sobrevida na data da concessão do benefício programado). Nenhum regime próprio utiliza ainda essa modalidade, visto que a Constituição Federal obriga que a forma de cálculo dos benefícios seja feita na forma por ela definida, envolvendo um cálculo financeiro que leva em consideração o tempo e idade mínimos de contribuição, média dos salários-de-contribuição e conceitos de integralidade e paridade. Porém, quando do surgimento do regime de previdência complementar dos servidores públicos, este será obrigatoriamente regido sob a modalidade de contribuição definida, envolvendo então cálculos atuariais para a obtenção do valor do benefício. Essa modalidade atualmente só é utilizada nos regimes de previdência complementar aberta (seguradoras) e fechada (fundos de pensão). Já a modalidade de benefício definido é aquela em que o valor do benefício independe da boa ou má gestão dos recursos do fundo previdenciário. Existem na prática duas sub- modalidades: o benefício definido legalmente o benefício definido atuarialmente. Na modalidade de benefício definido atuarialmente, o cálculo é semelhante ao de contribuição definida, mas existe a garantia de uma rentabilidade atuarial fixa do fundo previdenciário, como 3% ao ano. O gestor arcará então com um maior risco de gestão do fundo, visto que terá que obter rentabilidade maior que a garantida em contrato para não haver desequilíbrio atuarial e insolvência do plano. Pelo lado do segurado, este é o plano que mais vai ao encontro dos anseios previdenciários dos indivíduos, visto que ele 22 sabe assim que entra no plano, com razoável precisão, o valor de seu benefício futuro e pode programar melhor o seu padrão de vida. A modalidade de benefício definido atuarialmente também só é utilizada nos regimes de previdência complementar aberta (seguradoras) e fechada (fundos de pensão). Por fim, a modalidade de benefício definido legalmente é aquela utilizada atualmentepelos regimes próprios. O valor do benefício depende das regras constitucionais vigentes no futuro, à época da aquisição do direito ao benefício. De acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, durante a fase de contribuição em atividade o servidor possui somente uma expectativa de direito, o que na prática significa que mudanças de regras podem ocorrer durante a vida laboral do mesmo e irão impactar a forma de concessão dos benefícios previdenciários. Essa modalidade difere das modalidades de contribuição definida e benefício definido atuarialmente, que possuem regras definidas no momento de entrada do empregado ao regime, fixando-as contratualmente no regulamento e nota técnica atuarial. Como na modalidade de benefício definido legalmente o valor do benefício não depende do fundo acumulado, não existe a possibilidade de resgate (transferência dos recursos para o segurado) ou portabilidade (transferência dos recursos para outro regime). No entanto, existe a compensação previdenciária, tratando dos casos em que o segurado contribuiu para mais de um regime previdenciário. Sendo assim, de acordo com o resumo abaixo é possível comparar as modalidades estruturais de cálculo do benefício previdenciário e suas principais características. Contribuição Definida (atuarialmente) - valor do benefício calculado atuarialmente, de acordo com o regulamento e nota técnica atuarial; - regras definidas na adesão ao sistema; - rentabilidade do fundo afeta o valor do benefício; - oferece direito a resgate e portabilidade; - fundo gera herança, em caso de óbito do segurado. 23 Benefício Definido Atuarialmente - valor do benefício calculado atuarialmente, de acordo com o regulamento e nota técnica atuarial; - regras definidas na adesão ao sistema; - rentabilidade do fundo é fixa (até 6% a.a. reais) para fins de cálculo do valor do benefício; - oferece direito a resgate e portabilidade; - fundo não gera herança, em caso de óbito do segurado. Benefício Definido Legalmente - valor do benefício definido pela Constituição e leis; - regras definidas somente quando da aquisição do direito ao benefício; - rentabilidade do fundo não afeta o valor do benefício; - não oferece direito a resgate ou portabilidade; - fundo não gera herança, em caso de óbito do segurado. Com base nessas definições, existem os planos de contribuição definida, benefício definido e de contribuição variável. Os planos de contribuição definida só possuem benefícios calculados na forma de contribuição definida e, analogamente, os planos de benefício definido só possuem benefícios calculados na forma de benefício definido. Já os planos de contribuição variável possuem benefícios de contribuição definida (geralmente os benefícios programados) e de benefício definido (geralmente os benefícios não-programados, aleatórios). 4. ATIVO, PASSIVO E RESULTADO PREVIDENCIÁRIO O fundo previdenciário pode também ser denominado saldo patrimonial, ativo líquido, ativo previdenciário, investimentos ou simplesmente ativo(s). Ele representa todos os ativos financeiros, de renda fixa ou renda variável, públicos ou privados, de 24 baixa ou alta liquidez, incluindo imóveis e créditos a receber que foram adquiridos com o resultado dos acumulados superávits financeiros do passado ou aportes adicionais. Na prática, é qualquer ativo contábil, representante de bens e direitos, desde que adquiridos com as contribuições previdenciárias ou qualquer outra fonte de receita vinculada para o fim previdenciário e destinada ao pagamento futuro dos benefícios. Em linguagem simples, é a sobra de recursos que foi acumulada no passado e prudentemente guardada e investida no mercado financeiro. Esse ativo líquido servirá para manter o plano solvente no futuro, quando as despesas previdenciárias superarem as receitas previdenciárias, servindo então para cobrir os déficits financeiros futuros. Num regime sob equilíbrio atuarial, o ativo líquido deverá corresponder ao mesmo valor monetário das provisões matemáticas, que são contas pertencentes ao passivo exigível a longo prazo, pois representam uma dívida do plano do regime próprio em relação aos segurados. As provisões matemáticas são definidas como sendo os benefícios previdenciários futuros menos as contribuições previdenciárias futuras, correspondendo então às obrigações líquidas do plano em relação aos segurados. Conseqüentemente, o ativo líquido menos as provisões matemáticas corresponde ao resultado atuarial do plano. Se o resultado atuarial for positivo, há superávit atuarial, representando que há excesso de valores no fundo previdenciário. Se o resultado atuarial for negativo há déficit atuarial indicando insuficiência no ativo líquido do plano. O déficit atuarial é por vezes chamado de passivo atuarial, no sentido que representa um passivo (dívida) do plano em relação ao regime próprio. A nomenclatura de passivo atuarial como sinônimo de déficit atuarial, apesar de não estar incorreta, deve ser evitada, pois as contas a serem registradas são aquelas do plano de contas do regime próprio, representando, por conseguinte, o ponto de vista do mesmo, e não o ponto de vista do plano. É importante também se destacar que um plano desequilibrado atuarialmente não necessariamente apresenta déficit atuarial, podendo indicar também um desequilibro da 25 ordem superavitária. O desequilíbrio, portanto, representa não só a insuficiência de ativo líquido, mas também o seu excesso, conforme os exemplos 1 e 2 apresentados posteriormente. Em tese, um plano que possui superávit atuarial poderá ter suas contribuições previdenciárias reduzidas ou benefícios previdenciários aumentados, com o objetivo de se restabelecer o equilíbrio. Porém, na prática os regimes próprios só podem reduzir as contribuições previdenciárias, visto que os benefícios são definidos legalmente pela Constituição Federal. Analogamente, um plano que possui déficit atuarial poderá ter suas contribuições previdenciárias majoradas ou benefícios previdenciários postergados ou diminuídos. Na prática dos regimes próprios, o poder legislativo local pode aumentar a contribuição previdenciária do servidor e do ente e, por parte do legislador federal, o poder constituinte derivado poderá postergar ou diminuir os benefícios previdenciários. Existem também diversas formas de o ente amortizar o déficit atuarial, devendo obrigatoriamente realizá-la em no máximo 35 anos, de acordo com a legislação federal. Caso nenhuma medida seja tomada para eliminar o desequilíbrio atuarial deficitário, a projeção atuarial indicará que no médio ou longo prazo o fundo previdenciário terá seu patrimônio zerado, atingindo-se a insolvência. A partir desta situação, o ente será responsável por cobrir a parte antes custeada pelo fundo, pois possui responsabilidade subsidiária em relação ao pagamento de benefícios previdenciários. Esse fato certamente acaba por prejudicar as administrações futuras, visto que terão que ser deslocado, para pagamentos previdenciários, recursos que poderiam estar sendo utilizados na área de saúde, educação, segurança, etc. De fato, a fonte de receita gerada pelo fundo previdenciário é relevante para o equilíbrio do plano, e observa-se que planos não capitalizados acabam por onerar as finanças públicas do ente e comprometendo a boa gestão do poder executivo. Sendo assim, pode-se elaborar um balanço atuarial evidenciando os valores do 26 ativo líquido, provisões matemáticas e, conseqüentemente, do resultado atuarial. Dois exemplos podem ser visualizados a seguir. Exemplo 1: Balanço Atuarial de regime deficitário: Provisões Matemáticas Previdenciárias 213.468.164,46 Ativo Líquido: 159.767.312,13 Déficit Atuarial (53.700.852,33) Ativo Total: 159.767.312,13 Passivo Total: 159.767.312,13Exemplo 2: Balanço Atuarial de regime superavitário: Provisões Matemáticas Previdenciárias 572.581.353,25 Ativo Líquido: 648.462.415,94 Superávit Atuarial 75.881.062,69 Ativo Total 648.462.415,94 Passivo Total 648.462.415,94 Essas contas estão contidas no balanço patrimonial do regime próprio, pois é a pessoa jurídica responsável pela gestão do fluo de receitas e despesas. O valor do resultado atuarial é recalculado mês a mês, de modo que o ativo total seja equivalente ao passivo total do regime próprio. O ideal é que as provisões matemáticas sejam recalculadas mensalmente, de modo que o resultado atuarial reflita exatamente a evolução dos valores. Porém, na prática usual, como a legislação exige que a periodicidade mínima da avaliação atuarial seja anual, os regimes próprios só atualizam os valores das provisões anualmente, enquanto que o ativo líquido é atualizado mensalmente, ocasionando um descasamento na periodicidade de registro. Algumas considerações adicionais devem ser observadas. Ao compararmos a 27 evolução do fundo previdenciário, o seu comportamento crescente não implica a solvência do sistema. Não é porque o fundo previdenciário cresceu de um ano para o outro em uma taxa acima da meta atuarial que o plano está equilibrado. Esse fenômeno de crescimento na maioria das vezes traduz simplesmente a maturidade do plano que ainda não foi atingida. Para avaliar a capacidade de solvência, o número a ser observado é o resultado atuarial que é o valor do fundo previdenciário subtraído das provisões matemáticas previdenciárias. Para os planos em que existe a segregação entre as massas sob responsabilidade do tesouro (regime de repartição) e sob responsabilidade do fundo previdenciário (regime de capitalização), as provisões matemáticas são calculadas em função dos benefícios sob o regime de capitalização, dentro da responsabilidade do fundo previdenciário. Um estudo adicional pode ser feito para a mensuração do impacto atuarial que o tesouro sofre arcando com os benefícios em repartição, mas a avaliação atuarial, a princípio, mensura somente o equilíbrio do plano capitalizado. Outra observação adicional e de grande importância deve ser feita. Caso o fundo previdenciário se torne insolvente, ou seja, caso seus valores sejam inteiramente consumidos, os benefícios previdenciários serão custeados pelo ente, pois ele possui responsabilidade subsidiaria ao fundo em relação aos benefícios previdenciários. Mas essa regra vale apenas para os planos sob benefício definido legalmente. Quanto aos futuros planos de previdência complementar do servidor, sob a modalidade de contribuição definida, essa responsabilidade subsidiária não existirá, a exemplo do que ocorre com as patrocinadoras em relação às entidades abertas e fechadas de previdência complementar. 28 5. BENEFÍCIOS CONCEDIDOS E BENEFÍCIOS A CONCEDER Os benefícios a serem pagos no futuro pelo plano podem ser divididos em duas categorias, surgindo os conceitos de benefícios concedidos e benefícios a conceder. Os conceitos são simples e se referem ao fato de se caracterizar se o benefício já teve ou não seu pagamento iniciado. Como uma avaliação atuarial projeta os valores de benefício para o futuro, é certo que nessa projeção constarão os benefícios daqueles que já vinham recebendo (benefícios concedidos) e também os benefícios daqueles segurados que atualmente se encontram em atividade, mas que provocarão recebimento de valores no futuro (benefícios a conceder). Essa divisão é de grande valia sob o ponto de vista interpretativo, visto que os planos em fase inicial de implantação terão valores de benefícios a conceder muito superiores aos valores de benefícios concedidos, devido ao fato que inicialmente há poucos aposentados e pensionistas no plano. Já em planos maduros, as despesas com aposentadorias e pensões evoluem num ritmo alto e praticamente constante, o que implicará que as provisões matemáticas de benefícios concedidos serão superiores às de benefícios a conceder. Sendo assim, podem-se exemplificar a seguir dois balanços de regimes próprios, sendo o primeiro de um plano recentemente criado (não maduro) e o segundo de um plano perto de atingir a maturidade. As contas exibidas correspondem somente às de aspecto atuarial, cujos valores foram obtidos da avaliação atuarial. Não cabe aqui expor o plano de contas completo do balanço patrimonial do regime próprio, visto que englobaria centenas de contas. 29 Exemplo 3: Contas do Balanço Previdenciário de um plano criado recentemente 2.2.2.5.0.00.00 2.2.2.5.1.00.00 2.2.2.5.1.01.00 2.2.2.5.1.02.00 2.2.2.5.1.03.00 2.2.2.5.1.03.01 2.2.2.5.1.03.02 2.2.2.5.1.00.00 2.2.2.5.2.00.00 2.2.2.5.2.01.00 2.2.2.5.2.02.00 2.2.2.5.2.03.00 2.2.2.5.2.03.01 2.2.2.5.2.03.02 2.2.2.5.2.04.00 2.2.2.5.2.05.00 2.2.2.5.2.06.00 2.2.2.5.2.07.00 2.2.2.5.2.07.01 2.2.2.5.2.07.02 2.2.2.5.2.08.00 2.2.2.5.3.00.00 2.2.2.5.3.01.00 2.2.2.5.3.02.00 2.2.2.5.9.00.00 2.2.2.5.9.01.00 2.2.2.5.9.02.00 2.2.2.5.9.03.00 2.2.2.5.9.04.00 2.2.2.5.9.05.00 Provisões Matemáticas Previdenciárias Provisões para Benefícios Concedidos Aposentadorias/Pensões/Outros Benefícios do Plano Contribuições do Ente Contribuições dos Servidores Ativos Inativos Contribuições dos Pensionistas Provisões para Benefícios a Conceder Aposentadorias/Pensões/Outros Benefícios do Plano para Geração Atual Contribuições do Ente para Geração Atual Contribuições dos Servidores para Geração Atual Ativos Inativos Contribuições dos Pensionistas para Geração Atual Aposentadorias/Pensões/Outros Benefícios do Plano para Geração Futura Contribuições do Ente para Geração Futura Contribuições dos Servidores para Geração Futura Ativos Inativos Contribuições dos Pensionistas para Geração Futura Provisões Amortizadas Serviço Passado Déficit Equacionado Provisões Atuariais para Ajustes do Plano Provisão Atuarial para Riscos não Expirados Provisão Atuarial para Oscilação de Riscos Provisão Atuarial para Benefícios a Regularizar Provisão Atuarial para Contingências de Benefícios Outras Provisões Atuariais para Ajustes do Plano 24.708.494,76 9.277.847,55 9.370.215,65 -53.289,29 -39.078,81 0,00 -39.078,81 0,00 21.284.381,55 31.239.375,61 -5.743.265,80 -4.211.728,26 -4.211.728,26 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 -5.853.734,34 -3.366.482,11 -2.487.252,23 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 30 Exemplo 4: Contas do Balanço Previdenciário de um plano maduro 2.2.2.5.0.00.00 2.2.2.5.1.00.00 2.2.2.5.1.01.00 2.2.2.5.1.02.00 2.2.2.5.1.03.00 2.2.2.5.1.03.01 2.2.2.5.1.03.02 2.2.2.5.1.00.00 2.2.2.5.2.00.00 2.2.2.5.2.01.00 2.2.2.5.2.02.00 2.2.2.5.2.03.00 2.2.2.5.2.03.01 2.2.2.5.2.03.02 2.2.2.5.2.04.00 2.2.2.5.2.05.00 2.2.2.5.2.06.00 2.2.2.5.2.07.00 2.2.2.5.2.07.01 2.2.2.5.2.07.02 2.2.2.5.2.08.00 2.2.2.5.3.00.00 2.2.2.5.3.01.00 2.2.2.5.3.02.00 2.2.2.5.9.00.00 2.2.2.5.9.01.00 2.2.2.5.9.02.00 2.2.2.5.9.03.00 2.2.2.5.9.04.00 2.2.2.5.9.05.00Provisões Matemáticas Previdenciárias Provisões para Benefícios Concedidos Aposentadorias/Pensões/Outros Benefícios do Plano Contribuições do Ente Contribuições dos Servidores Ativos Inativos Contribuições dos Pensionistas Provisões para Benefícios a Conceder Aposentadorias/Pensões/Outros Benefícios do Plano para Geração Atual Contribuições do Ente para Geração Atual Contribuições dos Servidores para Geração Atual Ativos Inativos Contribuições dos Pensionistas para Geração Atual Aposentadorias/Pensões/Outros Benefícios do Plano para Geração Futura Contribuições do Ente para Geração Futura Contribuições dos Servidores para Geração Futura Ativos Inativos Contribuições dos Pensionistas para Geração Futura Provisões Amortizadas Serviço Passado Déficit Equacionado Provisões Atuariais para Ajustes do Plano Provisão Atuarial para Riscos não Expirados Provisão Atuarial para Oscilação de Riscos Provisão Atuarial para Benefícios a Regularizar Provisão Atuarial para Contingências de Benefícios Outras Provisões Atuariais para Ajustes do Plano 233.088.719,55 172.410.818,57 174.632.684,90 -1.481.250,22 -657.465,77 0,00 -657.465,77 -83.159,34 77.412.391,54 135.505.842,46 -38.728.967,28 -19.364.483,64 -19.364.483,64 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 -16.734.490,56 -8.862.926,55 -7.871.564,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 As provisões matemáticas correspondem às despesas previdenciárias futuras menos as contribuições previdenciárias. O balanço patrimonial do plano exposto no exemplo 3 demonstra que as provisões para benefícios concedidos correspondem a menos da metade das provisões para benefícios a conceder. Assim, fica claro que se trata de um plano com pouco tempo de vida. Já quanto ao exemplo 4, as provisões para benefícios concedidos correspondem a mais do dobro das provisões para benefícios a conceder, evidenciando a existência de um plano mais maduro. Nota-se também que ambos os planos estão deficitários, conforme os valores negativos de Déficit Equacionado apresentados nas contas 2.2.2.5.3.02. O plano do exemplo 4 possui maior déficit em valores absolutos, porém menor valor de proporção comparado à soma das provisões matemáticas, indicando que possui melhor situação de solvência que o plano do exemplo 3. 31 6. PLANO DE CUSTEIO O primeiro ponto que se deve destacar é que existem dois planos de custeio: o plano de custeio definido em lei pelo ente e os planos de custeio calculados e definidos a cada elaboração da avaliação atuarial. O plano de custeio legal é normalmente definido em uma alíquota fixa de contribuição do servidor e uma de contribuição do ente, sendo que, de acordo com a legislação federal, a do servidor deve ser de no mínimo 11% e a do ente de no mínimo uma e no máximo duas vezes àquela definida como a alíquota do servidor. Conseqüentemente, o custeio legal total mínimo para os regimes próprios é de 22%, correspondendo a 11% do servidor mais 11% do ente. Apesar de menos usual, o legislador pode também definir alíquotas de contribuição variável em função da remuneração do servidor, a exemplo do que é praticado pelo regime geral (INSS). Por possuir maior capacidade econômica e gerar despesas previdenciárias em valores relativos maiores, a prática é de se estabelecer alíquotas progressivas em função da remuneração. O plano de custeio definido pela avaliação atuarial é aquele estabelecido para se atingir o equilíbrio atuarial do plano. O plano de custeio que está sendo posto em prática, o plano de custeio legal, geralmente não possui equilíbrio atuarial, podendo levar à insolvência futura do fundo previdenciário. Esse desequilíbrio geralmente é conseqüência da não acumulação suficiente de fundo previdenciário no passado, principalmente antes do marco regulatório legislativo dos regimes próprios que se deu somente em 1998. Feitas essas observações, tem-se que um dos produtos gerados pela avaliação atuarial é justamente a criação de um plano de custeio que restabeleça o equilíbrio do plano. O atuário pode construir esse plano de custeio denominado plano de custeio atuarial, ou plano de equilíbrio, com base em diferentes métodos de capitalização. Os métodos de capitalização diferem pela velocidade em que o desequilíbrio será saneado e a forma de segregação de responsabilidades, entre o servidor e o ente. Os métodos de 32 capitalização permitidos para os regimes próprios mais utilizados são: repartição de capitais de cobertura, crédito unitário projetado, prêmio nivelado individual, idade de entrada normal e agregado. A explicação detalhada de como cada método funciona demanda conhecimentos avançados da ciência atuarial, mas alguns aspectos são importantes e devem ser destacados. Primeiramente, cabe ressaltar que o método que mais se assemelha com o aplicado pelas leis vigentes é o método agregado, onde se supõe que uma alíquota nivelada em função da remuneração será cobrada sobre os ingressos remuneratórios sob incidência de contribuição previdenciária, a exemplo de um regime próprio que adota as alíquotas de 11% do servidor e de 22% do ente. Segundo os outros métodos, além do agregado, caso o cálculo atuarial preveja um grupo fechado de ativos (onde não se considera o fluxo futuro de entradas e saídas voluntárias dos servidores no regime), observa-se que a alíquota de custeio de equilíbrio atuarial tende a aumentar a cada reavaliação atuarial. Quanto menor é a velocidade de financiamento, maior é o aumento dessa alíquota com o passar do tempo, para um grupo fechado. O método de repartição de capitais de cobertura é aquele com a menor velocidade de financiamento, e sua utilização só é permitida para financiar os benefícios de risco, ou seja, aqueles não programáveis, como a pensão por morte de servidor ativo e a aposentadoria por invalidez. Já os outros métodos possuem maior velocidade de capitalização e podem ser utilizados para financiar quaisquer benefícios. Em resumo, para a análise de um grupo fechado, a utilização de métodos com velocidade menor de capitalização irá gerar alíquotas totais (servidor mais ente) menores inicialmente. No entanto, conforme a maturidade do plano é atingida as alíquotas se tornarão maiores. Ao se utilizarem métodos de capitalização com menor velocidade, observa-se na prática uma subestimação do déficit atuarial para as situações em que a maturidade do plano não foi atingida, numa análise de grupo fechado. Para este tipo de análise, caso a legislação de custeio preveja contribuições niveladas, o método mais prudente a ser utilizado é o agregado de capitalização. 33 Já se o cálculo considera um grupo aberto (onde se considera o fluxo futuro de entradas e saídas voluntárias dos servidores no regime), não há grandes diferenças entre o método de capitalização adotado, dependendo as alíquotas levemente do grau de estacionariedade projetada, ou seja, do comportamento crescente ou decrescente da população de ativos. 7. INTERPRETAÇÃO DO CÁLCULO ATUARIAL 7.1. Resultado Atuarial Existem basicamente dois produtos derivados da avaliação atuarial: o resultado atuarial e a projeção atuarial. Conforme abordado anteriormente nas seções 4 e 5, o resultado atuarial é composto do valor do ativo líquido subtraído das provisões matemáticas. Já as provisõesmatemáticas representam o valor presente das despesas previdenciárias futuras menos as receitas de contribuição do plano. O valor do resultado atuarial pode ser um superávit (positivo) ou déficit (negativo). Esse resultado, dependendo de sua magnitude, pode representar um superávit (déficit) conjuntural ou estrutural. Se o resultado se situa próximo de zero, esse resultado é conjuntural e não compromete na prática a solvência do plano, refletindo apenas flutuações normais do resultado devido a variações reversíveis das condições macroeconômicas ou demográficas da população. Já se o resultado possui grande magnitude, representa um superávit ou déficit estrutural, sendo necessária a revisão do plano de custeio ou do plano de benefícios. Esse julgamento é feito pelo atuário responsável técnico e envolve certamente a comparação do resultado da avaliação atuarial atual com os resultados anteriores, analisando sua tendência ao longo do tempo. É importante frisar que o termo “rombo” não é uma terminologia correta, sendo 34 freqüentemente utilizada pela mídia, ora significando déficit atuarial, ora o déficit financeiro. Com relação ao regime geral, o termo geralmente é utilizado como sinônimo de déficit financeiro do exercício, já que o déficit atuarial nem ao menos é divulgado publicamente. Já com relação aos regimes próprios, o termo “rombo” geralmente é utilizado como conceito de déficit atuarial, provocando comparações equivocadas entre o regime geral e os regimes próprios. Além de não haver definição técnica para a palavra “rombo”, sua utilização é por muitas vezes também colocada com a conotação de desvio ilícito de recursos, o que obviamente deve ser apurado antes de ser afirmado. 7.2. Projeção Atuarial A projeção atuarial demonstra a evolução do ativo líquido, sendo somado ano a ano das receitas e diminuído das despesas. Num plano em déficit atuarial, a projeção atuarial apresentará valores negativos de ativo líquido no futuro, refletindo a insuficiência de recursos acumulados até então. Já em um plano sob equilíbrio ou superávit, a projeção do ativo líquido não levará a valores negativos. Nota-se que no exemplo 5 as despesas previdenciárias apresentam valores decrescentes no longo prazo, diferente do comportamento esperado no futuro para qualquer regime próprio. Esse fenômeno é reflexo de um estudo atuarial realizado com base na premissa de existência de uma população fechada, sem previsão de futuros entrantes (novos concursados) ou desligamentos (exonerações). Assim, a tendência é que essa população seja extinta aos poucos à medida que ocorrem os falecimentos. Já no exemplo 6, foi elaborada uma projeção atuarial utilizando premissas de novos entrantes e de desligamentos futuros. Em decorrência, as despesas crescem com o tempo, visto que se trata de um plano recentemente criado, ainda não tendo atingido a maturidade. 35 Exemplo 5: Projeção Atuarial de um plano deficitário (somente os primeiros 35 anos) Receitas Despesas Ativo Líquido 2008 44.456.491,38 34.023.905,08 94.981.960,54 2009 44.432.984,89 35.139.000,46 104.275.944,97 2010 44.329.546,16 36.324.097,45 112.281.393,68 2011 44.121.679,67 37.494.465,16 118.908.608,19 2012 43.910.851,19 38.838.858,32 123.980.601,06 2013 43.641.478,68 40.237.711,09 127.384.368,65 2014 43.227.617,14 41.463.166,31 129.148.819,48 2015 42.908.073,06 42.707.284,75 129.349.607,79 2016 42.780.432,77 44.034.023,54 128.096.017,02 2017 42.595.897,91 45.125.284,43 125.566.630,50 2018 42.412.365,14 46.083.298,85 121.895.696,79 2019 41.801.347,38 47.417.672,32 116.279.371,85 2020 40.700.381,95 48.933.123,67 108.046.630,13 2021 39.654.501,08 49.858.877,71 97.842.253,50 2022 38.663.673,78 50.259.611,43 86.246.315,85 2023 37.699.322,61 50.474.754,13 73.470.884,33 2024 36.676.627,55 50.472.703,53 59.674.808,35 2025 35.581.738,51 50.303.166,54 44.953.380,32 2026 34.429.723,11 49.985.034,89 29.398.068,54 2027 33.201.813,81 49.534.209,38 13.065.672,97 2028 31.872.994,63 48.980.047,14 (4.041.379,54) 2029 30.517.713,71 48.297.274,26 (21.820.940,09) 2030 29.154.832,21 47.479.042,21 (40.145.150,09) 2031 27.764.767,57 46.540.028,27 (58.920.410,79) 2032 26.433.823,58 45.439.063,67 (77.925.650,88) 2033 25.185.940,63 44.201.315,34 (96.941.025,59) 2034 24.018.537,91 42.838.268,54 (115.760.756,22) 2035 22.909.523,57 41.367.887,68 (134.219.120,33) 2036 21.822.793,74 39.827.153,21 (152.223.479,80) 2037 20.781.231,15 38.213.080,39 (169.655.329,04) 2038 19.791.586,41 36.533.950,02 (186.397.692,65) 2039 18.818.195,68 34.820.174,48 (202.399.671,45) 2040 17.844.901,83 33.088.603,69 (217.643.373,31) 2041 16.881.774,07 31.343.812,56 (232.105.411,80) 2042 15.937.299,40 29.592.548,40 (245.760.660,80) 36 Exemplo 6: Projeção Atuarial de um plano superavitário (somente os primeiros 35 anos) Receitas Despesas Ativo Líquido 2008 21.149.316,90 19.916.056,77 348.479.246,37 2009 22.973.551,44 19.977.687,15 351.475.110,65 2010 23.819.818,27 20.428.813,98 354.866.114,94 2011 25.088.208,64 20.790.310,73 359.164.012,85 2012 26.372.454,25 21.190.075,56 364.346.391,54 2013 27.307.368,83 21.582.329,06 370.071.431,31 2014 28.226.480,24 21.967.726,11 376.330.185,43 2015 28.999.679,31 22.355.327,72 382.974.537,03 2016 29.706.259,22 22.735.563,13 389.945.233,11 2017 30.470.661,15 23.116.401,17 397.299.493,09 2018 31.269.631,83 23.516.305,36 405.052.819,56 2019 32.109.182,34 23.900.493,06 413.261.508,84 2020 32.963.934,34 24.282.015,49 421.943.427,69 2021 33.755.985,25 24.630.731,34 431.068.681,59 2022 34.502.221,36 24.952.759,52 440.618.143,44 2023 35.166.120,72 25.274.892,46 450.509.371,71 2024 35.749.080,95 25.594.202,59 460.664.250,06 2025 36.275.962,94 25.914.145,49 471.026.067,52 2026 36.675.478,06 26.246.134,75 481.455.410,83 2027 36.959.832,71 26.582.890,95 491.832.352,58 2028 37.230.120,95 26.930.317,05 502.132.156,49 2029 37.461.571,72 27.284.936,59 512.308.791,62 2030 37.650.782,70 27.652.299,93 522.307.274,39 2031 37.811.307,98 28.030.258,75 532.088.323,62 2032 37.960.486,13 28.419.675,75 541.629.134,00 2033 38.083.435,80 28.828.690,69 550.883.879,11 2034 38.187.181,87 29.258.660,16 559.812.400,82 2035 38.290.883,13 29.711.969,18 568.391.314,77 2036 38.362.031,40 30.198.121,74 576.555.224,43 2037 38.437.056,49 30.713.853,44 584.278.427,48 2038 38.472.780,13 31.280.450,80 591.470.756,80 2039 38.465.990,09 31.893.682,75 598.043.064,14 2040 38.429.331,39 32.559.151,68 603.913.243,85 2041 38.359.642,98 33.284.925,22 608.987.961,61 2042 38.271.963,99 34.072.258,64 613.187.666,96 7.3. Premissas Atuariais O resultado atuarial e as projeções são calculados a partir de duas fontes: o banco de dados, a ser abordado em item posterior, e as premissas atuariais ou também denominadas hipóteses atuariais. Além do banco de dados, que representa a fotografia atual do perfil populacional a ser analisado, os cálculos atuariais dependem fortemente 37 das premissas definidas pelo atuário. Essas premissas atuariais mensuram o comportamento futuro dos fatores internos e eternos que atingem o plano, representando as estimativas do atuário com relação aos eventos previstos. Portanto, o atuário deve estipular as premissas que reflitam o que irá ocorrer, com relação a aspectos econômicos, administrativos e demográficos no curto, médio e longo prazos. As premissas econômicas são o índice de atualização monetária e a taxa real de juros. As administrativas são a taxa de crescimento salarial e a taxa de administração. Já as demográficas são: tábuas biométricas, composição familiar, novos entrantes e rotatividade (desligamentos). O atuário deve definir as premissas atuariais sempre com consistência retrospectiva e prospectiva, ou seja, avaliando o comportamento passado e projetando-o corretamente para o futuro. Quando não há informações suficientes, o atuário deverávaler de sua experiência, procurando utilizar parâmetros iguais para regimes previdenciários semelhantes e, ainda assim, respeitar os limites impostos pelo órgão legislador. Com o passar do tempo, deve sempre comparar as premissas definidas no passado com as observadas no futuro, a fim de reajustá-las quando necessário. 7.3.1. Taxa de Juros (Meta Atuarial) Tanto na projeção quanto no resultado atuarial, considera-se que o ativo líquido rende juros que são denominados meta atuarial. Geralmente estipula-se uma meta atuarial real de 6% ao ano, ou seja, 6% acima da inflação. Assim, todos os números da avaliação pressupõem que o gestor do fundo obterá, em média, rentabilidade igual à meta atuarial. Ocorre então que se o gestor conseguir consistentemente rentabilidades acima da meta atuarial, a tendência é que o resultado atuarial melhore ano após ano, a cada reavaliação atuarial, mesmo que o plano de custeio ou o plano de benefícios permaneça inalterado. A taxa de juros (meta atuarial) é a variável mais impactante no resultado. O atuário pode definir qualquer percentual não superior a 6% ao ano acima da inflação, devendo atentar 38 para aspectos macroeconômicos e para a composição da carteira do fundo previdenciário. Ao se confirmar a tendência de queda da taxa de juros doméstica brasileira, definida pela Selic, as metas atuariais deverão prudentemente ser revistas para valores inferiores a 6% a.a. Logicamente, com a diminuição da meta atuarial, os resultados atuariais serão menores, aumentanto-se os déficits e reduzindo-se os superávits, visto que a receita patrimonial de juros prevista para o fundo previdenciário terá seu valor projetado diminuído. 7.3.2. Tábuas Biométricas Outra variável importante dentre as premissas atuariais é a escolha das tábuas biométricas. Existem basicamente 3 tipos de tábuas biométricas, geralmente segregando-se quanto ao sexo do segurado. As tábuas de sobrevivência de válidos definem a expectativa de vida de um segurado que não seja inválido, em função de sua idade e sexo. As tábuas de sobrevivência de inválidos definem a expectativa de vida dos aposentados inválidos. E as tábuas de entrada em invalidez mensuram a probabilidade de um segurado ativo se invalidar, iniciando-se o benefício de aposentadoria por invalidez. Como os benefícios de aposentadoria e pensão são pagos de forma mensal e contínua, as tábuas biométricas que prevêem maior expectativa de vida ou maior probabilidade de entrada em invalidez irão diminuir o resultado atuarial. Na ausência de informações quanto ao histórico de registro de óbito ou invalidez, o atuário definirá as tábuas biométricas de acordo com sua experiência profissional, utilizando-se da comparação com outros regimes. Porém, essa escolha é limitada a patamares mínimos e máximos definidos pelo órgão regulamentador. Se houver dados suficientes, deverá o atuário fazer testes estatísticos de aderência, a fim de estimar qual tábua reflete com mais precisão o comportamento da população de segurados. Porém, o ideal é construir tábuas biométricas com base no histórico da própria população. É verdade que, no entanto, esse trabalho envolve um estudo complexo e também dependente de um banco 39 de dados satisfatório, consistindo em um trabalho a parte, fora do escopo de uma avaliação atuarial. Trata-se de um extenso estudo demográfico. 7.3.3. Crescimento Salarial Outra variável merecedora de destaque é o crescimento salarial da população, apesar de ser menos impactante no resultado que a taxa de juros e as tábuas biométricas. A legislação define que uma taxa de crescimento real mínima de 1% ao ano deve ser fixada. Para se estimar a taxa de crescimento necessita-se acompanhar individualmente a evolução salarial, bem como o plano de cargos das categorias mais representativas, em volume financeiro, da folha salarial. Para isso, o crescimento salarial por mérito e por produtividade podem ser avaliados em separado ou conjuntamente. 7.3.4. Fator de Capacidade O fator de capacidade salarial reflete a influência da taxa de inflação de longo prazo na remuneração e benefícios futuros. Os valores recebidos sofrem depreciação mensal, visto que os fluxos financeiros são mensais, mas a correção monetária apenas se dará anualmente. O cálculo consiste em converter as remunerações ou benefícios em uma moeda constante, anulando-se o efeito mensal da inflação. Na prática, consiste em se calcular a média ponderada dos salários reais, depreciados pela inflação. Conseqüentemente, o fator de capacidade terá valor sempre ligeiramente inferior ao valor unitário. 7.3.5. Composição Familiar Existe também a definição da composição familiar, que impacta diretamente no cálculo do valor das pensões. Essa premissa pode ser definida de acordo com a realidade dos segurados, em função de um banco de dados de dependentes, caso 40 esteja disponível e possua qualidade satisfatória. Caso contrário, pode-se utilizar uma composição familiar teórica padronizada em função da idade e sexo, definida e aplicada através de uma tábua biométrica intitulada Hx. 7.3.6. Novos Entrantes e Rotatividade Por fim, temos as premissas de novos entrantes, que projetam o número e perfil dos futuros servidores concursados a aderirem ao regime próprio. A forma de modelagem dessa premissa pode se dar através de diversas maneiras, preferencialmente devendo ser observado o comportamento passado e a expectativa futura. Já a premissa de rotatividade quantifica o padrão de comportamento de desligamentos do plano, ou seja, das exonerações. Normalmente é modelada através de uma taxa percentual de desligamentos em função da idade e tempo de adesão ou, simplificadamente, uma taxa uniforme para qualquer situação. Uma avaliação atuarial pode assumir duas variantes em relação às premissas de novos entrantes e de rotatividade da população: um estudo de grupo fechado e um estudo de grupo aberto. Na avaliação considerando um grupo aberto, definem-se as premissas de novos entrantes e de rotatividade do plano, quantificando esse dinamismo de entradas e saídas voluntárias do plano. No entanto, como a avaliação atuarial consiste em um estudo do impacto financeiro projetado em longo prazo, por aproximadamente 100 anos, ocorre que se forem definidos padrões esperados de novos entrantes e de rotatividade por um período tão longo, o resultado atuarial irá refletir com maior peso esse próprio padrão futuro projetado do que as características da população atual. Exemplificando: suponha que o atuário tenha definido pela premissa de novos entrantes que a cada desligamento (exoneração), óbito ou aposentadoria, seja prevista a entrada imediata de um servidor no cargo equivalente, com a idade de 18 anos. Essa premissa, muito provavelmente não refletirá o fenômeno ocorrido no futuro, e fará com que o 41 resultado atuarial esteja superestimado, refletindo muito mais esses futuros servidores hipotéticos do que o quadro atual de segurados do plano. Suponha agora que o atuário defina para premissa de novos entrantes que a cada mês, o numero e perfil de servidores entrantes refletirá a média do ocorrido nos últimos 4, 8 ou 12 anos. Essa hipótese parece ser bem mais verossímil, porém também será falha caso as inovações tecnológicas façam com que cada vez mais o trabalho seja automatizado e, conseqüentemente, cada vez menos servidores sejam concursados. Dessa forma, considera-se que para estudos de longo prazo, como numa avaliação atuarial ou projeção atuarial de mais de 50 anos, a utilização de premissas de novos entrantes e, conseqüentemente, de rotatividade (grupo aberto), não é vista atualmente como boa prática atuarial, justamente por poder distorcer em muito a realidade futura, ao assumir decisões administrativas praticamente impossíveis de se prever. Sendo assim,
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