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Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Anemia Megaloblástica Conceitos gerais Desordem causada por defeito na síntese do DNA e uma diminuição nas divisões celulares → núcleo imaturo e grande com cromatina frouxa e citoplasma normalmente amadurecido (assincronia núcleo/citoplasma). As células da medula óssea são as mais prejudicadas por conta do seu rápido turnover, os progenitores eritroides megaloblásticos tendem a ser destruídos dentro da medula ("eritropoese ineficaz") Etiologia São anemias causadas pelo déficit de Cobalamina (vitamina B12) ou de ácido fólico (vitamina B9). Esse déficit compromete a síntese de DNA, o que lentifica a divisão celular, mas o desenvolvimento citoplasmático progride normalmente, resultando na geração de células com tamanho aumentado. Fisiopatologia Deficiência de cobalamina (vit B12) A Cobalamina é uma vitamina avermelhada, não produzida pelos seres humanos, sendo encontrada em carne, peixe, ovos e leite • Necessita do fator intrínseco para ser absorvida no íleo terminal o Produzido pelas células parietais do estômago • No estômago, a digestão peptídica em pH baixo é pré-requisito para liberação da cobalamina da proteína alimentar. o Em pH>12 e/ou com grande concentração de ácido ascórbico há inativação da B12. • A atrofia das células parietais gástricas está associada à secreção insuficiente de ácido clorídrico e de fator intrínseco. Isso pode ser decorrente de: o Gastrectomia total ou parcial ▪ A gastrectomia total invariavelmente leva à deficiência de cobalamina em 2-10 anos, sendo necessário sua reposição. A gastrectomia parcial causa, em mais de um terço dos pacientes, deficiência de cobalamina multifatorial pela diminuição da secreção de fator intrínseco, Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ hipocloridria ou supercrescimento de bactérias intestinais consumidoras de cobalamina o Destruição autoimune (gastrite atrófica crônica) que é o caso da anemia perniciosa o Destruição da mucosa gástrica pela ingestão de substâncias de substâncias cáusticas. • A deficiência de cobalamina leva de 5-10 anos para se manifestar. • Causas de deficiência de cobalamina: As principais causas de defeciciencia de vitamina de B12 se relacionam com má absorção e não com baixa ingestão. o Deficiência nutricional, cirurgia bariátrica o Gastrite atrófica, hipocloridria, inibidores da bomba de prótons, bloqueadores H2. o Atrofia da mucosa gástrica oxíntica com atrofia das células parietais, causando secreção insuficiente de HCl e de fator intrínseco: gastrectomia total ou parcial, anemia perniciosa, destruição cáustica. o Eventos anormais no lúmen do intestino delgado: ▪ Protease pancreática inadequada: • Pode ser por insuficiência pancreática com deficiência de protease pancreática, causando uma deficiência na quebra das proteínas R, o que impede a transferência da cobalamina para o fator intrínseco. • Ou por inativação da protease pancreática (Síndrome de Zollinger Ellison – a protease pancreática endócrina é inativada pela maciça hipersecreção gástrica devido a um gastrinoma). ▪ Usurpação da cobalamina luminal: • Ligação inadequada da cobalamina ao fator intrínseco: pode ser por bactérias (síndrome de estase – alças cegas, bolsas de diverticulose, estenoses, fístulas, anastomoses) • Comprometimento da motilidade intestinal (esclerodermia) • Hipogamaglobulinemia • Diphyllobothrium latum - tênia do peixe – impede a correta absorção de B12 (sushi). Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ o Distúrbios da mucosa ileal/receptores de fator intrínseco – cobalamina ou também chamado de receptor de Cubam: fármacos como metformina, colchicina, neomicina, colestiramina podem atuar sobre esses receptores. o Distúrbios do transporte plasmático de cobalamina o Distúrbios metabólicos (cobalamina não utilizada pelas células): erros enzimáticos inatos Anemia perniciosa Anemia por deficiência na absorção de B12 que ocorre devido à destruição autoimune e à atrofia das células da mucosa parietal gástrica, causando ausência de fator intrínseco e de ácido clorídrico. Esse processo acarreta má absorção e deficiência de cobalamina B12. A anemia perniciosa pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais frequente a partir dos 60 anos. 30% dos doentes tem história familiar positiva para anemia perniciosa A anemia perniciosa caracteriza-se pela presença do Anticorpo anti-fator intrínseco e Anticorpo anti células parietais. Pode haver a presença de um ou outro, ou os dois, sendo o anti célula parietal o mais frequente (PROVA!) A anemia perniciosa está associada com outras doenças autoimunes como: doença da Graves, Hashimoto, vitiligo, doença de Addison, hipoparatireoidismo idiopático, miastenia grave, DM 1, hipogamaglobulinemia do adulto e adenocarcinoma gástrico. Pacientes com anemia perniciosa tem risco aumentado de desenvolver anemia ferropriva, osteoporose, fratura na porção proximal do fêmur, câncer gástrico, câncer de cavidade bucal e da faringe. Deficiência de folato (vit B9) Vitamina absorvida no intestino delgado e encontrado em espinafre, alface, feijão, banana, limão, melão. • A deficiência de folato leva em torno de 4-5 meses para se manifestar o Com a redução abrupta do consumo do folato, os estoques orgânicos da vitamina ainda são adequados por 4-5 meses, quando o paciente vai começar a ter sintomas • As principais causas de deficiência de folato são: o Ingestão dietética diminuída: Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ ▪ Principal mecanismo da deficiência de ácido fólico é a diminuição da ingesta. o Aumento da necessidade: fisiológica (gravidez, lactação, infância), patológica (psoríase, doenças hematológicas que e o nvolvem hemólise com eritropoiese compensatória, hematopoese anormal ou infiltração da medula por doença maligna). o Má absorção de folato: fármacos (sulfassalazina, pirimetamina, inibidor da bomba de prótons), má absorção hereditária do folato. o Pacientes que realizam diálise não conseguem absorver folato adequadamente. A anemia do paciente com DRC é pela diminuição de eritropoietina e pela menor absorção de folato. o Anormalidade da mucosa: enterite regional, espru tropical ou não tropical (doença inflamatória do intestinobdelgado associada a um supercrescimento de bactérias coliformes). o Transporte defeituoso do folato no LCR: deficiência de folato cerebral. Auto Ac para receptores de folato o Utilização celular inadequada: antagonista de folato (metotrexato), deficiência enzimática hereditária, fármacos (sulfassalazina, pirimetamina, sulfametoxazol – trimetoprim, fenitoína, ACO). o Outras anemias megaloblásticas não causadas por deficiência de cobalamina ou folato: distúrbios congênitos da síntese de DNA ou distúrbio adquirido da síntese de DNA. o Etilismo OBS! a deficiência de folato cerebral pode ser causada por uma mutação nos receptores de folato, prejudicando o transporte de folato para dentro do LCR, causando retardo no desenvolvimento no início da infância, distúrbios do movimento, epilepsia e leucodistrofia Manifestações clínicas • Macrocitose (VCM aumentado), pancitopenia. • Glossite, queilite angular, língua com vermelhidão e despapilada, pode haver ulcerações na superfície lateral da cavidade oral e da língua. • Pode haver icterícia, devido à destruição intramedular, denominada eritropoiese ineficaz (PROVA!) • Diarreia Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ • Manifestação cardiopulmonar secundária à anemia: palpitações, taquicardia. • Hiperpigmentação da pele, sangramento de mucosas.• Osteomalácia, icterícia. • Aparecimento precoce de cabelos grisalhos, infertilidade. • Manifestações neurológicas: exclusivas da deficiência de B12 o Acomete o cordão posterior e lateral da medula espinhal o Parestesia de extremidades, desequilíbrio, marcha atáxica, síndrome piramidal (sinal de Babinski, hiperreflexia patelar), demência (loucura megaloblástica – simula esquizofrenia paranoide), diminuição da sensibilidade vibratória e propriocepção das extremidades inferiores (envolvimento neuropático das pernas precede o envolvimento dos braços), envolvimento de nervos cranianos. o “Mesmo normalizando a anemia, a lesão neurológica não regride”. o Esses sintomas surgem tanto no início quanto tardiamente no contexto da deficiência de cobalamina, e na presença ou ausência de manifestações hematológicas. OBS! Tríade do déficit de B12: fraqueza, ardência na língua, desequilíbrio Diagnóstico Paciente anêmico sempre deve ser solicitado contagem de reticulócitos, HMG completo e esfregaço de sangue periférico. Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Em geral, o paciente com anemia megaloblástica apresentará: • VCM aumentado (geralmente VCM > 110 Fl), RDW aumentado, CHCM normal. • Esfregaço de sangue periférico: poiquilocitose, anisocitose, macro ovulócitos, área de palidez central reduzida no macro ovalócito, neutrófilos hipersegmentados o A presença de neutrófilos hipersegmentados e plaquetas gigantes caracterizam o esfregaço de um paciente com anemia megaloblástica (PROVA) ▪ neutrófilos hipersegmentados: 1 neutrófilo com 6 lobos ou mais ou pelo menos 55% de neutrófilos com 5 lobos), eritrócitos em forma de gota, plaqueta aumentada de tamanho • Megaloblastose pode ser acompanhada por pancitopenia: o Hb <5g/Dl, leucopenia e trombocitopenia. o Neutropenia e trombocitopenia ocorrem menos comumente que a anemia. • LDH aumentada, bilirrubina indireta aumentada (devido a destruição intramedular). • Anemia megaloblástica pode ser mascarada quando há doença concomitante que neutraliza a tendência de geração de células grandes como a deficiência de ferro ou talassemia. o Nessa situação, se houver mielócitos ou metamieolócitos gigantes na medula óssea e neutrófilos hipersegmentados na medula óssea e no sangue periférico são indicativos de megaloblastose oculta. • Ac anti célula parietal e/ou anti fator intrínseco. o Na anemia perniciosa geralmente serão positivos. • Dosagem de cobalamina < 200 pg/ml: indicativo de deficiência de cobalamina. o Níveis >300 pg/ml sugerem deficiência de folato ou outra causa de macrocitose ou doença neurológica. o VR: 200 - 900. ▪ >300: dx improvável ▪ <200: confirma ▪ 200-300: duvidoso • Dosagem de folato: deficiência nutricional leva a nível abaixo do normal <2ng/ml em cerca de 3 semanas. o VR:2,5 - 20. ▪ <2: confirma ▪ >4: exclui Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ ▪ 2-4: duvidoso • Níveis séricos de homocisteína e de ácido metilmalônico (MMA) aumentam proporcionalmente à gravidade da deficiência. o MMA estará elevado na deficiência de cobalamina (VR 70-270 nmol/ L) o Homocisteína (VR 5-14 nmol/L) estará elevada na deficiência de cobalamina e folato. o Essas dosagens devem ser realizadas quando cobalamina os valores de cobalamina ou folato estiverem duvidosos • Aspirado de medula óssea se necessário para confirmar megaloblastose: hipercelular, assincronia núcleo citoplasma. Tratamento A base do tratamento é a terapia de reposição. Se o paciente estiver descompensado, é realizado uma unidade de concentrado de hemácias. No entanto, caso o paciente estiver com sintomas moderados, deve-se evitar a transfusão, pois é provável que 2-3 dias após a reposição de vitaminas, ocorra uma melhora considerável. São administrados diuréticos e iniciado cobalamina e folato em dose completa. • Reposição de Cobalamina: 1 mg/dia IV. o Caso seja necessária uma reposição rápida: administrar cianocobalamina IM ou SC 1mg/dia na primeira semana depois 1mg 2x/semana na segunda semana e 1 mg/semana durante 4 semanas e então 1 mg/mês por toda a vida. ▪ Hipocalemia e retenção de sódio podem surgir como complicações do tratamento. o As injeções mensais podem ser substituídas por 2 mg/dia VO. • Reposição de Folato (ácido fólico): 1-5 mg/dia VO até recuperação hematológica, sua duração subsequente vai depender da causa base.
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