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1 Doação de órgãos e tecidos O Brasil é referência mundial na área de transplantes, tendo o maior sistema público de transplantes do mundo – sendo o maior transplantador do mundo, atrás apenas do EUA. Os pacientes recebem assistência gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante. De acordo com a lei 9.434, para entrar numa rede de captação de órgãos e tecidos o doador precisa, necessariamente, estar em morte encefálica – exceto órgãos pares ou tecidos que, se removidos, não provoquem danos e comprometimentos ao paciente em vida e que sejam indispensáveis para o receptor. A morte encefálica é a perda completa e irreversível das funções encefálicas, sendo definida como a cessação das funções motoras corticais e de tronco encefálico. De acordo com o artigo 1º tem-se a disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humano em vida ou no post mortem, para fins de transplante e tratamento, a lei só não regulamenta sangue, esperma e óvulo. Os transplantes ou enxertos só podem ser realizados por equipes e estabelecimentos autorizados pelo órgão de gestão nacional do SUS. No doador, devem ser realizados testes de triagem para infecções e infestações de acordo com as normas do Ministério da Saúde. Os prontuários médicos com os resultados e exames referentes aos diagnósticos de morte encefálica, assim como o detalhamento dos procedimentos realizados, devem ser arquivados por no mínimo cinco anos. As instituições devem enviar anualmente um relatório contendo o nome dos pacientes receptores ao órgão gestor estadual do SUS. Poderá ser admitida a presença de médico de confiança da família do falecido no ato de comprovação da morte encefálica. De acordo com o artigo 4º, a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte. A remoção post mortem em pessoas juridicamente incapazes poderá ser feito desde que permitida expressamente por ambos os pais, ou por seus responsáveis legais. Todavia, é vedada a remoção em pessoas não identificadas, de acordo com o artigo 6º. Quando em vida, o doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e diante de testemunhas, especificamente o tecido, órgão ou parte do corpo objeto da retirada, de modo que a doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer momento antes de sua concretização. O indivíduo juridicamente incapaz, mas com compatibilidade comprovada, poderá fazer a doação nos casos de transplante de medula óssea, desde que haja consentimento de ambos os pais ou responsáveis legais, além de ter autorização judicial e não oferecer risco para saúde. É vedada a doação por gestantes, exceto de tecidos utilizados em transplantes de medula óssea e procedimentos que não ofereçam risco à saúde materna ou fetal. O autotransplante depende apenas do consentimento do próprio indivíduo, registrado em seu prontuário médico ou, se ele for juridicamente incapaz, de um de seus pais ou responsáveis legais. É garantido a toda mulher o acesso a informações sobre as possibilidades e os benefícios da doação voluntária de sangue do cordão umbilical e placentário durante o período de consultas pré-natais e no momento da realização do parto. O transplante só ocorrerá com o consentimento expresso do receptor, esse que estará inscrito em lista única de espera, após aconselhamento sobre os riscos do procedimento. Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida da sua vontade, o consentimento de que trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais. A inscrição em lista única de espera não confere ao pretenso receptor ou à sua família direito subjetivo a indenização, se o transplante não se realizar em decorrência de alteração do estado de órgãos, tecidos e partes, que lhe seriam destinados, provocado por acidente ou incidente em seu transporte. A resolução CFM nº 2.173/17 estabelece que os procedimentos para a determinação da morte encefálica devem ser iniciados em todos os pacientes que apresentem coma não perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal e apneia persistente. O quadro clínico do paciente também deve apresentar TODOS os seguintes pré-requisitos: Doação de órgãos e tecidos Doação de órgãos e tecidos 2 → Lesão encefálica de causa conhecida e irreversível; → Ausência de fatores tratáveis que confundiriam o diagnóstico – como distúrbio hidroeletrolítico, endócrino ou ácido-básico, intoxicação exógena, hipotermia, uso de fármacos com ação depressora, entre outros; → Tratamento e observação no hospital pelo período mínimo de 6h – 24h se encefalopatia hipóxico- isquêmica e um período maior em crianças; → Temperatura corporal superior a 35ºC; → Saturação arterial acima de 94% e PAM > ou igual 65 mmHg. O paciente com morte encefálica é um desafio ao corpo clínico do hospital, de modo que a equipe multidisciplinar deve ter uma boa compreensão sobre os eventos fisiopatológicos que surgem após a lesão cerebral grave, levando o paciente ao coma não reativo e com ausência dos reflexos do tronco cerebral. Surgem distúrbios endócrinos, pulmonares e cardiovasculares que podem comprometer a perfusão e boa oxigenação, principalmente de órgãos como intestinos, pâncreas e rins, podendo comprometer a função do órgão com viabilidade para ser doado. De acordo com estudos, cerca de 88% dos pacientes com morte encefálica apresentam parada cardiorrespiratória em até 24h após o diagnóstico. Desse modo, o diagnóstico deve ser o mais rápido possível, sendo realizado por dois médicos que não façam parte da equipe de remoção e transplante. Além do exame clínico com um intervalo de no mínimo uma hora entre a avaliação dos profissionais, o paciente deve ser submetido a um teste de apneia e a exames complementares para confirmar ausência de atividade encefálica – angiografia cerebral, eletroencefalograma, doppler transcraniano e cintilografia. O laudo deve ser assinado por profissional com comprovada experiência e capacitação para realização desse tipo de exame. O teste de apneia estimula o centro respiratório de forma máxima, podendo confirmar a ausência de movimentos respiratórios por PaCO2 > 55mmHg. Ele deverá ser realizado uma única vez por um dos médicos responsáveis pelo exame clínico. Após parada cardiorrespiratória, em que os tecidos entram em hipóxia rapidamente, pode-se doar apenas pele, córnea e tecido musculoesquelético. De acordo com o artigo nº 11 da Lei 9434/97, é proibida a veiculação, através de qualquer meio de comunicação social de anúncio que configure: 1) publicidade de estabelecimentos autorizados a realizar transplantes e enxertos, 2) apelo público no sentido da doação de tecido, órgão ou parte do corpo humano para pessoa determinada identificada ou não ou 3) apelo público para a arrecadação de fundos para o financiamento de transplante ou enxerto em benefício de particulares. Os órgãos de gestão nacional, regional e local do SUS realizarão, periodicamente, campanhas de esclarecimento público dos benefícios esperados a partir da vigência desta Lei e de estímulo à doação de órgãos. É obrigatório, para todos os estabelecimentos de saúde notificar o diagnóstico de morte encefálica feito em pacientes por eles atendidos. Após a notificação, os estabelecimentos de saúde não autorizados deverão permitir a imediata remoção do paciente ou franquear suas instalações e fornecer o apoio operacional necessário às equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante, hipótese em que serão ressarcidos na forma da lei. Diagnóstico de morte encefálica Presença de todosos pré- requisitos Dois exames clínicos Teste de apneia Exames complementares
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