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92 Unidade III Unidade III 5 REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS Pessoa jurídica para Sidou (2016) é o ente criado pela técnica jurídica, como unidade orgânica e estável de pessoas para fins de natureza pública ou privada, completamente distinta dos indivíduos que a compõem e dotada de personalidade jurídica idêntica à da pessoa natural para efeito de ter direitos e contrair obrigações. Historicamente foi criada a pessoa jurídica para expor a riscos o patrimônio da empresa e não o patrimônio pessoal dos sócios, ou seja, para deixar exposto apenas o patrimônio empresarial suscetível de ganhos e perdas, preservando o patrimônio pessoal e, por consequência, o familiar. Saiba que, conforme o direito, existem diversas formas de constituição de pessoas jurídicas passíveis de direitos e obrigações. Assim, podemos citar as pessoas jurídicas de direito público e as pessoas jurídicas de direito privado. Para uma melhor compreensão, observe a figura a seguir, que trata da pessoa jurídica de direito público. Externo Interno De direito público União Estados Municípios Distrito Federal Estados estrangeiros Pessoas regidas pelo direito internacional Figura 20 – Pessoas jurídicas de direito público De outro lado, o direito designa a pessoa jurídica de direito privado que o CC brasileiro distingue das pessoas naturais (pessoas físicas). Como pessoa jurídica, tem-se uma organização composta por pessoas físicas (sócios) constituída por um patrimônio distinto do patrimônio das pessoas naturais que a compõem. A pessoa jurídica é constituídas para o alcance de um fim determinado. Esse fim deve ser um objeto lícito, ou seja, não proibido por lei. Nesse sentido, observe a figura a seguir, que contempla as hipóteses de pessoa jurídica de direito privado no ordenamento jurídico brasileiro. 93 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS De direito privado Associações Sociedades Fundações Organizações religiosas Partidos políticos Empresas individuais de responsabilidade limitada Figura 21 – Pessoas jurídicas de direito privado Após diferenciarmos as duas modalidades de pessoa jurídica trazidas pelo direito, passamos a estudar a existência da pessoa e o surgimento da personalidade jurídica. O direito civil dispõe que a personalidade da pessoa natural começa com o nascimento com vida, ao passo que a personalidade jurídica se inicia de acordo com a determinação do artigo 45 do CC, conforme veremos a seguir: Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo (BRASIL, 2002a). Já estudamos que, para a existência legal da pessoa natural, é imprescindível o registro de nascimento. Da mesma forma, para a existência da pessoa jurídica, é necessário o registro dos seus atos constitutivos. A própria LRP, no artigo 120, dispõe que a existência legal das pessoas jurídicas só se inicia a partir do registro de seus atos constitutivos (BRASIL, 1973b). Contudo, em razão da variedade de pessoas jurídicas de direito privado existentes, a pergunta é: onde são feitos os assentamentos? O CC, no artigo 1.150, traz a resposta: Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária (BRASIL, 2002a). Assim, o objeto de estudo nesse momento serão os registros civis de pessoas jurídicas. 94 Unidade III 5.1 Conceito, objetivos e princípios Historicamente, conforme os ensinamentos de Paiva e Alvares (2017), o Decreto nº 4.775/1903, de 16 de fevereiro de 1903, que regulamentou a Lei nº 973/1903, foi também a norma que atribuiu a denominação “Ofício do Registro Especial” ao ofício incumbido do registro de títulos e documentos e de pessoas jurídicas “civis”. Essa expressão se tornou tão tradicional que prosseguiu sendo utilizada na vigência da LRP para designação, sob uma só expressão, da dupla atribuição registral que lhe era cometida. Alvim Neto, Clápis e Cambler (2014) ensinam que um aprofundamento sobre a evolução da personalidade jurídica exigiria uma análise do desenvolvimento inicial das fundações, associações e sociedades (subdividida, perante o CC, em civil (rectius, simples) e empresarial, com regime diferenciado em função da atividade desenvolvida pelos sócios (BRASIL, 2002a). Assim, as sociedades empresárias se sujeitam ao registro mercantil. Em não sendo registrada, ou seja, não submetendo os atos constitutivos (contrato social ou estatuto social) ao órgão de registro competente, estaremos diante de uma sociedade de fato ou irregular. Observação Sociedade de fato é aquela que de fato existe, sem que tenha havido o registro dela nos órgãos competentes. Os sócios respondem pessoalmente por suas transações. As pessoas jurídicas, conforme o CC brasileiro (BRASIL, 2002a), se submetem à escrituração do artigo 114 e incisos da LRP (BRASIL, 1973b). Assim dispõem Alvim Neto, Clápis e Cambler (2014, p. 142): A LRP está voltada para o registro das pessoas jurídicas que não exercem atividade empresarial. Estão inseridas, nessa classificação, as sociedades simples, as associações e fundações. O novo CC inclui as organizações religiosas e os partidos políticos em inciso específico (art. 44, IV e V, respectivamente). Todas elas estão devidamente inseridas na previsão de escrituração do art. 114, I, II e III, da LRP. Antes de discorrermos sobre a incidência da LRP às pessoas jurídicas de direito, vamos estudar a Lei Civil no que tange aos empresários como pessoa jurídica. Segundo o CC (BRASIL, 2002a), quem exerce atividade econômica organizada, nos termos do artigo 966, conforme o artigo 981 do CC, será considerado sociedade empresária. Leia o dispositivo legal: Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa (BRASIL, 2002a). 95 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS Alvim Neto, Clápis e Cambler (2014, p. 149) ressalvam que a sociedade simples pode adotar o modelo societário da sociedade empresária, com exceção da sociedade por ações, sem que isso mude a natureza do seu ato constitutivo e seu regime de registro civil, artigo 983 do CC (BRASIL, 2002a), cotejado com o artigo 114, inciso II, da LRP (BRASIL, 1973b). Para eles: “O registro das pessoas jurídicas no registro civil subordina-se aos termos dos artigos 114 e 121 do CC, em vista do princípio da tipicidade”. Observação O princípio da tipicidade orienta que todos os atos registrais devem estar indicados na legislação. O artigo 5º da Constituição Federal (BRASIL, 1988a), incisos XVII a XXI, consagra o direito de associação, e o artigo 170 dispõe sobre a livre-iniciativa como fundamento da ordem econômica. A sociedade empresária é uma associação e pode desenvolver suas atividades nos termos da lei. A personalidade jurídica é matéria estatuída no CC (BRASIL, 2002a), no artigo 40 e seguintes, segundo o qual, com exceção de eventual disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas do Código, são as seguintes: • As sociedades. • As fundações. • As organizações religiosas. • Os partidos políticos. • As empresas individuais de responsabilidadelimitada. A existência legal das pessoas jurídicas de direito privado, como já aprendido, inicia-se com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. A lei também estatui que decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro. Lembrete Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. 96 Unidade III Note-se que incumbe ao CC elencar as modalidades de pessoas jurídicas privadas e públicas, dispondo do artigo 40 ao artigo 44 as especificidades sobre elas (recorde-se que o CC de 2002 unificou, sob a égide do direito privado, a antiga distinção entre direito privado e direito comercial). O registro de qualquer pessoa jurídica de direito privado, artigo 46 do CC de 2002, deve ser cotejado com os incisos do artigo 120 da LRP. O fundo social, referido no artigo 46 do CC de 2002, compreende a importância em dinheiro destinada às atividades da pessoa jurídica, trata-se, no caso, das sociedades empresárias, do capital social. 5.1.1 Princípios do registro civil de pessoas jurídicas Paiva e Alvares (2017) destacam que registros públicos é matéria de direito público, conquanto a função ou atividade registral seja executada privativamente, de acordo com o artigo 236, da Constituição Federal (BRASIL, 1988a) por delegação. Como já estudado, os delegatários de serviços públicos notariais e registrais são particulares (pessoas naturais) aos quais o Poder Público, mediante prévio concurso de provas e títulos, delega a função notarial e de registro. Não é demais lembrar que a lei outorgou fé pública aos notários e oficiais de registro para, como profissionais do direito, organizarem tecnicamente a atividade e conferirem autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos, na forma preconizada pela lei civil. Assim, a legalidade seria o primeiro princípio regente da atividade registral, do qual decorre o princípio da fé pública (atribuição de certeza e veracidade aos atos registrais), que será feito por meio de certidões com efeito de autenticidade, segurança e eficácia jurídica. Vige, também, o princípio da instância ou princípio da rogação, segundo o qual, o registrador apenas atua mediante provocação (rogo) do interessado ou de outro legitimado em lei. O artigo 115 da LRP trata da negativa de realização de um ato registral pretendido, que pode implicar procedimento de suscitação de dúvida pelo registrador, a pedido do interessado, perante a autoridade judicial – artigo 296 da LRP. O princípio da publicidade, que incide sobre a eficácia (capacidade de produzir efeito erga omnes, oponível), para o registro de uma pessoa jurídica, é constitutiva de direito, implica aquisição de sua personalidade jurídica, que permite (torna capaz) o exercício de direitos, deveres e obrigações. Recorde-se que o registro de ato constitutivo, tal qual o era a aprovação e o registro dos compromissos, é a forma integrativa, isto é, forma de instituição ou criação da pessoa jurídica (PONTES DE MIRANDA, 1977). “O registro é a formalidade integrativa, para a eficácia erga omnes e para a personificação” (PONTES DE MIRANDA, 1977, p. 427). Assim, o registro civil é forma modelar de tornar conhecida a existência de pessoa (BEVILÁQUA, 1976). O atual CC brasileiro conserva a forma de instituição de pessoa jurídica por meio do registro de seu ato constitutivo consoante já estudado no artigo 45 (BRASIL, 2002a). Paiva e Alvares (2017) destacam, ainda, o princípio da qualificação, segundo o qual o registrador é independente para realizar a qualificação (jurídica) dos documentos e dos atos que lhe foram submetidos pelos interessados (princípio da instância ou rogação). 97 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS Somente para recordar, o artigo 115 da LRP (BRASIL, 1973b) trata da negativa de realização de um ato registral pretendido, que pode implicar em procedimento de suscitação de dúvida pelo registrador, a pedido do interessado, perante a autoridade judicial – art. 296 da LRP. Insta salientar que, no tocante ao registro de pessoas jurídicas, o princípio da qualificação tem previsão legal expressa no artigo 198, combinado com o artigo 296 da mesma lei. Observe a figura a seguir, segundo os ensinamentos de Paiva e Alvares (2017), a respeito dos princípios regentes de toda matéria registral, e, pois, do registro civil de pessoa jurídica, ínsitos ao artigo 5º e artigo 37 da Constituição Federal e da LRP: Quadro 13 – Princípios do registro civil de pessoas jurídicas Legalidade Toda matéria registral é eminentemente de direito público e regida pelo artigo 5º e artigo 37 da Constituição Federal e LRP Fé pública Atribuição de certeza e veracidade aos atos registrais, por meio de certidões com efeito de autenticidade, segurança e a eficácia jurídica Rogação (ou instância) O registrador apenas atua mediante provocação (rogo) do interessado ou de outro legitimado em lei, ao passo que o artigo 115 da LRP trata da negativa de realização de um ato registral pretendido, que pode implicar procedimento de suscitação de dúvida pelo registrador, a pedido do interessado, perante a autoridade judicial (artigo 296 da LRP) Publicidade Incide sobre a eficácia (capacidade de produzir efeito erga omnes, oponível) Qualificação Ao registrador incumbe valorar e qualificar quanto à legalidade e à legitimidade dos documentos (e, pois, os atos) que lhe são apresentados (aplicável o procedimento de suscitação de dúvida) Continuidade Todas as alterações do ato constitutivo da pessoa jurídica devem, desde seu registro, observar ordem sucessiva, por meio de averbação de atos Concentração Corolário do princípio da continuidade: todas alterações do ato constitutivo da pessoa jurídica, bem como todas alterações que digam respeito à responsabilidade por sua direção e gestão devem ser averbadas junto ao registro do ato constitutivo, que confere personalidade jurídica e que torna capaz de contrair direitos e obrigações Presunção de validade O registro da pessoa jurídica de direito privado adquire eficácia jurídica e validade perante terceiros, com presunção absoluta de verdade (juris et de jure) Adaptado de: Paiva e Alvares (2017, p. 31). 98 Unidade III 6 ENTIDADES SUJEITAS AO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS Tão importante quanto os princípios, é saber quais são as sociedades ou entidades sujeitas ao registro civil de pessoas jurídicas. Acompanhe no quadro a seguir: Quadro 14 Entidades sujeitas ao registro civil de pessoas jurídicas Consórcios públicos de direito privado Fundações públicas de direito privado federal Fundações públicas de direito privado estadual Fundações públicas de direito privado do Distrito Federal Fundações públicas de direito privado municipais Organizações sociais Associações privadas Sociedades simples puras Sociedades simples limitadas Sociedades simples constituídas em nome coletivo Sociedades simples em comandita simples Empresa individual de responsabilidade limitada (de natureza simples) Fundações privadas Serviço social autônomo Entidade de mediação e arbitragem Entidade sindical Estabelecimento, no Brasil, de fundação ou associação estrangeiras Organização religiosa Fundos privados Órgãos de direção nacional, regional e local de partido político A seguir, dada a relevância da matéria, estudaremos as entidades de consórcio público de direito privado, a fundação pública de direito privado, as sociedades simples, a fundação privada, entre outros. LembreteA LRP está voltada para o registro das pessoas jurídicas que não exercem atividade empresarial. Estão inseridas, nessa classificação, as sociedades simples, as associações, fundações, organizações religiosas e os partidos políticos. 6.1 Consórcio público de direito privado Os consórcios públicos são parcerias sem fins lucrativos, firmadas entre dois ou mais entes da Federação (estados ou municípios) e concretizadas por meio da criação de uma pessoa jurídica de direito público ou privado. O objetivo é prestar serviços e desenvolver ações de interesse coletivo que beneficiarão a população de dois ou mais Estados ou de duas ou mais cidades. Neste sentido, vejamos o que determina a Constituição Federal: Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos (BRASIL, 1988a). 99 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS Veja que a lei constitucional possibilita a formação de consórcios públicos e convênios desde que estejam regulamentados em lei. Dessa forma, a Lei nº 11.107/2005 (BRASIL, 2005) regulamentou o artigo 241 da Constituição Federal (BRASIL, 1988a), dispondo sobre normas gerais de consórcios públicos para a União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Ademais, a Lei Maior estabeleceu a competência da União em editar as normas gerais de contabilidade pública que serão observadas pelos consórcios públicos para que sua gestão financeira e orçamentária se realize na conformidade dos pressupostos da responsabilidade fiscal. Saiba mais No Estado de Minas Gerais, a Conferência de Controle Externo é o evento de capacitação do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCEMG) voltado a servidores de toda Minas Gerais sobre temas relacionados ao controle externo e aos desafios da governança. Em seus arquivos, destaca-se, sobre o assunto de consórcios, a apresentação de Gustavo Gomes Machado, intitulada “Desafios dos Consórcios Públicos”, que pode ser acessada no link a seguir: MACHADO, G. G. Desafios dos consórcios públicos. In: CONFERÊNCIA DE CONTROLE EXTERNO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS, 2., 2014, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Associação Mineira de Municípios (AMM), 2014. p. 1-17. Disponível em: <http://portal.tcu.gov. br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A24E990B11014EB5E2 0AF96897>. Acesso em: 28 jun. 2019. 6.2 Fundação pública de direito privado As orientações aqui cotejadas servem para as fundações públicas de direito privado municipais, estaduais, distritais ou federais. Fundações públicas são as fundações instituídas por lei, mesmo que com personalidade jurídica de direito privado, são integrantes da administração indireta, consoante o artigo 37, inciso XIX, da Constituição Federal (BRASIL, 1988a), regulamentado pelo artigo 41 do CC (BRASIL, 2002a). Assim, essas fundações, instituídas por lei, com personalidade jurídica de direito privado, se submetem ao chamado regime administrativo mínimo: sua autonomia privada sofre derrogações de direito público (para certos atos, em geral, de atividade-meio, aplica-se o regime de direito público). Camargos (2008) leciona que a fundação governamental privada, assim como as sociedades de economia mista e as empresas públicas, tem personalidade jurídica de direito privado e constitui-se num instrumento de ação do Estado para a consecução de seus fins. Submete-se ao controle estatal para que a vontade do ente público que a instituiu seja cumprida e não se desliga do Poder Público para ganhar vida inteiramente própria, muito embora goze de autonomia parcial nos termos outorgados pela respectiva lei instituidora. 100 Unidade III Veja-se, ainda, as lições de Di Pietro (2004, p. 372-373): Quando o Estado institui pessoa jurídica sob a forma de fundação, ele pode atribuir a ela regime jurídico administrativo, com todas as prerrogativas e sujeições que lhe são próprias, ou subordiná-la ao Código Civil, neste último caso, com derrogações por normas de direito público. Em um ou outro caso se enquadram na noção categorial do instituto fundação, como patrimônio personalizado para a consecução de fins que ultrapassam o âmbito da própria entidade. Será que todas as fundações instituídas pelo Poder Público são fundações de direito privado? Acerca desse assunto, o STF já decidiu no julgamento do Recurso Especial nº 101.126/1984 (BRASIL, 1985) cujo relator foi o ministro Moreira Alves. Na ocasião, o ministro afirmou que nem toda fundação instituída pelo Poder Público é fundação de direito privado. As fundações, instituídas pelo Poder Público, que assumem a gestão de serviço estatal e se submetem a regime administrativo previsto nos Estados-membros, por leis estaduais, são fundações de direito público, e, portanto, pessoas jurídicas de direito público. 6.3 Sociedades simples Sabe-se que as sociedades empresárias possuem grande importância na economia mundial, seja pelo número de empregos gerados, seja pelo volume de seus recursos que envolve todo o mundo, especialmente após o fenômeno da globalização. O CC adota a teoria contratualista para a averiguação da intelecção sobre sociedade, dispondo no artigo 981 do CC (BRASIL, 2002a), que celebra contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício da atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Afirma Beraldo (2007) que, no decorrer dos anos, as sociedades tornaram-se entidades cada vez mais separadas de seus sócios: a propriedade societária, especialmente das sociedades limitadas, muda de mãos com uma facilidade maior em nossos dias, se comparada à alienação societária de décadas passadas, demonstrando, de forma inconteste, que a sociedade e os sócios são, enfim, duas pessoas completamente separadas. Para melhor compreensão, remete-se ao CC para buscar a definição do que é sociedade simples e do que é sociedade empresária: Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa (BRASIL, 2002a). 101 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS Assim, resta evidenciada a remissão da lei ao conceito de empresário, como no disposto do artigo 966 do CC, segundo o qual é considerado empresário “quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviço” (BRASIL, 2002a). Merece destaque o parágrafo único do referido artigo, que aduz: “Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, exceto se o exercício da profissão constituir elemento de empresa” (BRASIL, 2002a). O professor Fábio Ulhoa Coelho, em seu livro Manual de Direito Comercial, define na prática como é que se caracteriza o elemento de empresa em uma sociedade empresária, esclarecendo, com exemplo clássico da doutrina jurídica, a constituição de elemento de empresa, conforme poderá ser conferido nas palavras do professor: Direito comercial Para compreender o conceito legal, convém partir de um exemplo. Imagine o médico pediatra recém-formado, atendendo seus primeiros clientes no consultório. Já contrata pelo menos uma secretária, mas se encontra na condição geral dos profissionais intelectuais: não é empresário, mesmo que conte com o auxílio de colaboradores. Nesta fase, os pais buscam seus serviços em razão, basicamente, de sua competência como médico. Imagine, porém,que, passando o tempo, este profissional amplie seu consultório, contratando, além de mais pessoal de apoio (secretária, atendente, copeira etc.), também enfermeiros e outros médicos. Não chama mais o local de atendimento de consultório, mas de clínica. Nesta fase de transição, os clientes ainda procuram aqueles serviços de medicina pediátrica, em razão da confiança que depositam no trabalho daquele médico, titular da clínica. Mas a clientela se amplia e já há, entre os pacientes, quem nunca foi atendido diretamente pelo titular, nem o conhece. Numa fase seguinte, cresce mais ainda aquela unidade de serviços. Não se chama mais clínica, e sim hospital pediátrico. Entre os muitos funcionários, além dos médicos, enfermeiros e atendentes, há contador, advogado, nutricionista, administrador hospitalar, seguranças, motoristas e outros. Ninguém mais procura os serviços ali oferecidos em razão do trabalho pessoal do médico que os organiza. Sua individualidade se perdeu na organização empresarial. Neste momento, aquele profissional intelectual tornou-se elemento de empresa. Mesmo que continue clinicando, sua maior contribuição para a prestação dos serviços naquele hospital pediátrico é a de organizador dos fatores de produção. Foge, então, da condição geral dos profissionais intelectuais e deve ser considerado, juridicamente, empresário. Fonte: Coelho (2014, p. 37-38). 102 Unidade III O artigo 983 do CC (BRASIL, 2002a) recepciona os tipos de sociedade empresária. Estas estão reguladas nos artigos 1.039 a 1.092. Nesse sentido, a sociedade simples pode se constituir das seguintes formas: • Sociedade simples pura. • Sociedade simples limitada. • Sociedade simples em nome coletivo. • Sociedade simples em comandita simples. • Empresa individual de responsabilidade limitada (de natureza simples). Finalizando as características desse tipo de sociedade, ressalte-se que a sociedade simples deve ser constituída, alterada e extinta junto ao cartório de registro civil de pessoas jurídicas. 6.4 Fundação privada Nas palavras de Maria Helena Diniz (2004), fundação é um acervo de bens livres de ônus ou encargos legalmente disponíveis que recebe da lei a capacidade jurídica para realizar as finalidades pretendidas pelo seu instituidor, em atenção aos seus estatutos. Pelo conceito dado pela autora, o acervo é o conjunto de bens e direitos colocados à disposição sem qualquer embaraço e com eles deve ser realizada a vontade do instituidor, com as regras estabelecidas pelo estatuto. Lembrete Estatuto é a lei ou conjunto de leis que disciplina as relações jurídicas que possam incidir sobre as pessoas ou coisas. As fundações são referidas no artigo 62 e seguintes do CC (BRASIL, 2002a). Não se confundem com as fundações privadas que integram a administração indireta – parágrafo único do artigo 41 do CC. A fundação privada, instituída na forma do artigo 62 do CC, se sujeita à fiscalização do Ministério Público, consoante estabelece o artigo 66 do CC. Transcreve-se nesse momento o artigo para melhor compreensão: “Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la (BRASIL, 2002a)”. A dotação de bens livres, ou seja, os recursos em dinheiro ou bens colocados à disposição da fundação, tem o nome de fundo social. Para melhor compreender, pode-se comparar o fundo social ao capital social das sociedades empresárias. Nas palavras de Paiva e Alvares (2017), o fundo social é a importância em dinheiro destinada a dar o impulso inicial às atividades da pessoa jurídica, a qual também pode ser designada como capital social (especialmente nas sociedades de fins econômico-lucrativos). 103 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS Muitas vezes, esse fundo é representado por um conjunto de bens patrimoniais, avaliável em dinheiro, destinado a propiciar a realização do objeto pelo qual a pessoa jurídica foi criada – característica própria das fundações. Para ilustrar, o Ministério Público do Estado do Mato Grosso disponibilizou um modelo de escritura pública de constituição de fundação. ESCRITURA PÚBLICA DE CONSTITUIÇÃO DA FUNDAÇÃO (nome da fundação) NA FORMA ABAIXO: Saibam quantos esta virem que aos___ dias do mês de___________ do ano de dois mil e ___, nesta cidade de ______________, ________________ , neste serviço notarial, perante mim, Tabelião, compareceram como outorgantes instituidores: (discriminar instituidores por nome, nacionalidade, profissão, estado civil, no RG e CPF, residência e domicílio). Todos reconhecidos e identificados por mim, Tabelião, como os próprios, de cuja capacidade jurídica dou fé. E, pelas partes; doravante denominadas instituidores, foi-me dito que: PRIMEIRO – As finalidades principais desta Fundação são: (discriminar finalidades estatutárias). SEGUNDO – A entidade denomina-se FUNDAÇÃO (nome da fundação) e não terá finalidades lucrativas. Os saldos verificados em seu balanço serão destinados pelo (escrever nome do órgão de deliberação) para as finalidades a que se destina a Fundação. TERCEIRO – A dotação inicial a que se refere o art. 62 do Código Civil Brasileiro, necessária à constituição da fundação, é de (discriminar valor da dotação inicial), suficientes para a sua manutenção no primeiro ano de funcionamento, integralmente realizada pela doação dos instituidores acima nominados. (identificar o(s) doador(es) e o(s) bens doados). QUARTO – A estrutura interna da Fundação compreenderá (identificar os órgãos de administração). QUINTO – Os recursos financeiros necessários ao funcionamento da Fundação serão provenientes de (identificar as fontes de receitas). SEXTO – Em caso de extinção, os bens remanescentes serão destinados a outra entidade que se proponha a fins iguais ou semelhantes. SÉTIMO – Os instituidores designam, neste ato, como responsável pela elaboração do estatuto, o nome de (nome do responsável, nacionalidade, profissão, estado civil, no RG e CPF), que terá um prazo de ____ dias para apresentação da minuta do estatuto à Promotoria de Justiça de Fundações. OITAVO – Os instituidores indicam para a constituição do primeiro (nome do órgão de deliberação), com mandato de ___ anos, a contar desta data: (nome dos membros do órgão). NONO – Também são indicados para o (nome do órgão de fiscalização) os seguintes membros: (nome dos membros do órgão). DÉCIMO – A (nome do órgão administrativo) será constituída pelos seguintes membros, para ocupação do primeiro mandato: (nome dos membros do órgão). Comparece neste ato, na qualidade de interveniente anuente, o Ministério Público do______________ , representado pelo Promotor de Justiça (nome do Promotor de Justiça, brasileiro, residente e domiciliado nesta capital, no exercício da Promotoria de Justiça, o qual declara concordar com a presente, pois esta obedece em tudo o que determina o art. 66 do Código Civil Brasileiro, os arts. 1.200 e 1.204 do Código de Processo Civil, o parágrafo único do art. 119 da Lei n° 6.015/73 e o art. 20, incisos X e XIII, da Lei n° 3.434/58. Tendo sido recolhidos os emolumentos no valor de R$ ______ , pela guia n° E, de como assim o disseram, pediu(ram)-me e lhe(s) lavrei a presente, que feita e achada conforme faculta a Lei n° 6.952, de 6.11.81. Eu, ______________________________________, escrevente, mandei lavrar, conferi, li e encerro o presente ato colhendo a(s) assinatura(s). Eu, _____________________________________ , tabelião, a subscrevo, dou fé e assino. Figura 22 Quanto às finalidades das fundações, extrai-se do parágrafo único do artigo 62 do CC o elenco de atividades a seguir sintetizado: 104 Unidade III Quadro 15 Finalidades das fundações de direito privado Assistência social Cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico Educação Saúde Segurança alimentar e nutricional Defesa, preservaçãoe conservação do meio ambiente Pesquisa científica Ética, democracia e direitos humanos Atividades religiosas Adaptado de: Brasil (2002). É importante deixar claro que se os bens que forem destinados para a constituição da fundação não forem suficientes para fazê-lo, e o instituidor não determinar o que fazer nessa situação, os bens serão incorporados em outra fundação que se proponha a ter finalidade igual ou semelhante ao desejo do instituidor. Por exemplo, Maria deixa seus bens para criar uma fundação de apoio aos direitos humanos, mas o valor desses bens é insuficiente para tal fim, e Maria não esclarece o que deve ser feito com eles, estes serão destinados a outra fundação que apoie os direitos humanos. Outra ressalva importante é que se a fundação for mesmo instituída, o instituidor precisa, de fato, transferir a propriedade sobre os bens, diferente do que ocorre com as sociedades empresárias, nas quais existe a figura da subscrição de capital e de integralização do capital social. A subscrição é a promessa, vínculo do subscritor em entregar para a sociedade bens ou direitos. A integralização, por sua vez, representa o efetivo ingresso desses bens ou direitos subscritos no patrimônio da sociedade empresária. Na hipótese de o instituidor não entregar os bens para a fundação, ele será impelido a fazê-lo por determinação do Ministério Público. Observação O Ministério Público – federal e estaduais – é quem velará, permanecerá de vigia, de sentinela, e quem guardará pelas fundações no direito brasileiro. A constituição de uma fundação se aperfeiçoa por intermédio de um estatuto social. Embora as mudanças sejam parte do curso natural da vida, toda mudança, no âmbito da pessoa jurídica, acarreta a alteração no estatuto social da fundação, de modo a possibilitar a adequação entre o que está escrito no estatuto e o que é efetivamente realizado por ela. Para que se possa alterar o estatuto da fundação, o artigo 67 do CC (BRASIL, 2002a) impõe alguns requisitos para a reforma: • ser deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; 105 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS • não contrariar ou desvirtuar o fim da fundação; • ser aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. • quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser, em 10 (dez dias). Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. É importante não confundir a ausência de finalidades lucrativas com o exercício de atividade econômica. Fundações privadas podem e devem exercer atividade econômica, inclusive para gerar receita a ser reinvestida em sua finalidade estatutária. Nesse sentido, Gustavo Saad Diniz (2007, p. 126) ensina: Por isso, as fundações privadas produzem resultados econômicos através do patrimônio dotado ou, em outros termos, a capacidade de produção de rendas (Ertragefahigkeit) como componente do patrimônio. Fundamentalmente, os rendimentos se produzem por (a) doações; (b) venda de patrimônio; (c) frutos naturais e civis percebidos pela fundação; (d) superávit decorrentes de redito da atividade-meio da fundação; (e) prestação de serviços especializados pela própria fundação. Veja os ensinamentos de Bittar e Morato (2003), segundo os quais não se deve confundir o lucro com a necessidade de captação de fundos necessários à manutenção da fundação; isso porque, em regra, o patrimônio destinado a constituir a fundação revela-se, quase sempre, insuficiente à manutenção de uma instituição de ensino em longo prazo, por exemplo. 6.5 Serviço social autônomo Os serviços sociais autônomos são entidades privadas que se assemelham aos entes públicos. Desempenham atividades de utilidade pública, geralmente no aprendizado profissionalizante e na assistência social. De Plácido e Silva (2003, p. 1287) conceitua serviço autônomo como uma expressão usada para designar uma instituição em que se executam serviços, obras, ou qualquer espécie de trabalho, de interesse público, ou privado, sem subordinação de qualquer outra instituição. Alerta o autor que é autônomo “num ou noutro caso”, porque não depende de patrão, nem está subordinado a qualquer outra organização. 106 Unidade III Os serviços sociais autônomos, por sua natureza, têm o dever de licitar. Confira-se o julgado do STF: Os serviços sociais autônomos integrantes do denominado Sistema “S”, vinculados a entidades patronais de grau superior e patrocinados basicamente por recursos recolhidos do próprio setor produtivo beneficiado, ostentam natureza de pessoa jurídica de direito privado e não integram a Administração Pública, embora colaborem com ela na execução de atividades de relevante significado social. Tanto a Constituição Federal de 1988, como a correspondente legislação de regência (como a Lei nº 8.706/1993, que criou o Serviço Social do Trabalho – Sest) asseguram autonomia administrativa a essas entidades, sujeitas, formalmente, apenas ao controle finalístico, pelo Tribunal de Contas, da aplicação dos recursos recebidos (STF, RE 789.874, Rel. Min. Teori Zavaski, j. 17-9-2014, DJe, 18-11-2014). Os serviços sociais autônomos são entidades paraestatais do terceiro setor, ou seja, setor da sociedade civil organizada em entidades privadas prestadoras de serviços públicos sem fins lucrativos. São exemplos de serviços sociais autônomos: • Serviço Social do Comércio (Sesc). • Serviço Social da Indústria (Sesi). • Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). • Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). • Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) • Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). • Serviço Social do Transporte (Sest). • Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). • Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) • Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex-Brasil) – autorização pela Lei nº 10.668/2003 e instituição pelo Decreto nº 4.584/2003. • Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) – autorização pela Lei nº 11.080/2004 e instituição pelo Decreto nº 5.352/2005. Os serviços sociais são considerados entidades paraestatais que trabalham em paralelo com o Poder Público desempenhando serviços nas áreas de ensino e de assistência social e podem receber dotações orçamentárias para melhor gerir suas atividades. 107 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS 6.6 Entidade sindical Lecionam Chohfi e Chohfi (2011) que o direito do trabalho é um ramo específico da área jurídica que abarca o estudo das relações entre o capital e o trabalho. Sua autonomia em relação aos demais ramos do direito se deu por causa de princípios e características próprias, visando à proteção do trabalhador, presumidamente hipossuficiente nas negociações que tenham por objeto a venda de sua força de trabalho para terceiros. Os mesmos autores afirmam que o estudo do direito do trabalho, didaticamente, divide-se em dois grandes grupos: um relativo às relações individuais e outro relativo às relações coletivas; este último abrange o estudo dos sindicatos e entidades sindicais, objeto de registro no registro civil de pessoas jurídicas. Os sindicatos se organizam com regras estatutárias bem definidas, contendo os regulamentos de assembleias, eleição de diretorias,representação, filiação dos sindicalizados, manutenção de seu patrimônio, entre outros assuntos de relevância para os sindicalizados. Os atos de maior relevância, como, por exemplo, os atos de representação da entidade, para ter validade jurídica, devem ser registrados junto ao registro civil de pessoas jurídicas. Chohfi e Chohfi (2011) ensinam que todo sindicato é uma associação, mas nem toda associação é um sindicato. A personalidade jurídica sindical tem origem num registro especial, que somente o Ministério do Trabalho, que é um órgão do Poder Executivo da União, pode conceder, além da obrigação de registro junto ao registro civil de pessoas jurídicas. Vale destacar que a estrutura sindical engloba três níveis de organização: os sindicatos de base (1º grau de representação), as federações (2º grau de representação) e as confederações (3º grau de representação). Tais entidades formam o que se chama de sistema sindical confederativo regulado pela Constituição Federal e sujeitam-se ao registro público. 6.7 Organização religiosa O artigo 44 do CC (BRASIL, 2002a) determina que as sociedades devem aplicar subsidiariamente as disposições concernentes às associações. Como já vimos, o artigo em comento dispõe no inciso IV sobre as organizações religiosas. De acordo com os ensinamentos de Oliveira (2014), as organizações religiosas são livres para definir sua organização, sua estruturação interna e o seu funcionamento; isso quer dizer que elas têm o direito de se autorregulamentarem, passando a estabelecer a forma de se organizarem, de se estruturarem e também a sua forma funcional. O Decreto n° 7.107, de 11 de fevereiro 2010, instituiu acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, firmado na cidade do Vaticano, em 13 de novembro de 2008 (BRASIL, 2010a). O decreto contém, no seu artigo 3º, a reafirmação da personalidade jurídica da Igreja Católica e de todas as Instituições Eclesiásticas que 108 Unidade III possuem tal personalidade em conformidade com o direito canônico, desde que não contrariem o sistema constitucional e as leis brasileiras. São instituições eclesiásticas da Igreja Católica as seguintes: • Conferência episcopal. • Províncias eclesiásticas. • Arquidioceses. • Dioceses. • Prelazias territoriais ou pessoais. • Vicariatos e prefeituras apostólicas. • Administrações apostólicas. • Administrações apostólicas pessoais. • Missões sui iuris. • Ordinariado militar e ordinariados para os fiéis de outros ritos. • Paróquias. • Institutos de vida consagrada. • Sociedades de vida apostólica. Assim, a Igreja Católica pode livremente criar, modificar ou extinguir todas as instituições eclesiásticas mencionadas, conforme seu interesse. A personalidade jurídica das instituições eclesiásticas será reconhecida pela República Federativa do Brasil mediante a inscrição no respectivo registro do ato de criação, nos termos da legislação brasileira, impondo-se ao Poder Público o reconhecimento ou registro do ato de criação, devendo também ser averbadas todas as alterações por que passar o ato. 6.8 Partidos políticos A Lei nº 9.096/1995 (BRASIL, 1995) dispõe sobre partidos políticos, regulamentando os artigos 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal (BRASIL, 1988a). A definição de partido político consta do artigo 1º da lei: “[...] pessoa jurídica de direito privado, que se destina a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal” (BRASIL, 1995). 109 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS Partido político, portanto, é uma associação voluntária que busca exercer o poder em dada coletividade política por meio da ocupação de cargos governamentais que se organizam hierarquicamente em torno de um programa que mobilize determinada base social. Roeder e Braga (2017) definem partidos políticos como um produto da história moderna, especialmente de uma demanda da sociedade por uma participação mais institucionalizada no processo decisório de elaboração de políticas públicas gerais. O procedimento para registrar um partido político está descrito na Lei n° 9.096/1995 (BRASIL, 1995). O requerimento do registro de partido político, dirigido ao cartório competente do registro civil das pessoas jurídicas, da Capital Federal, deve ser subscrito pelos seus fundadores, em número nunca inferior a 101, com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos Estados, e será acompanhado de: • Cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido. • Exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu inteiro teor, o programa e o estatuto. • Relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade, número do título eleitoral com a Zona, Seção, Município e Estado, profissão e endereço da residência. O requerimento indicará o nome e a função dos dirigentes provisórios e o endereço da sede do partido na Capital Federal. Satisfeitas as exigências desse artigo, o oficial do registro civil efetua o registro no livro correspondente, expedindo certidão de inteiro teor. Adquirida a personalidade jurídica na forma desse artigo, o partido promove a obtenção do apoiamento mínimo de eleitores a que se refere o § 1º do artigo 7º da Lei nº 9.096/2005 (BRASIL, 1995) e realiza os atos necessários para a constituição definitiva de seus órgãos e designação dos dirigentes, na forma do seu estatuto. A organização partidária compete a cada um dos partidos, que podem se organizar por meio de seus órgãos diretivos, sendo certo que, nos termos do artigo 26, inciso II, da Resolução n° 23.571/2018 (BRASIL, 2018d) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o órgão de direção nacional de partido político deve ser realizado junto ao registro civil das pessoas jurídicas da Capital Federal. 6.9 Organização social Azevedo (s.d.) conceitua a organização social como uma qualificação, um título, que a Administração outorga a uma entidade privada, sem fins lucrativos, para que ela possa receber determinados benefícios do Poder Público (dotações orçamentárias, isenções fiscais etc.) e para a realização de seus fins, que devem ser necessariamente de interesse da comunidade. 110 Unidade III Conforme expôs Paulo Modesto (então Assessor Especial do Ministério de Administração e Reforma do Estado), no XII Congresso de Direito Administrativo, em agosto de 1998, na impossibilidade política de revogar a Lei n. 91, de 1935, que regulava a aprovação do benefício “de utilidade pública”, o Governo resolveu aprovar outra lei, criando a nova qualificação. Nos termos [do artigo 1º] da Lei Federal nº 9.637, de 18.5.1998, o Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sociais sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos os requisitos previstos nesse mesmo diploma (AZEVEDO, [s.d.]). O artigo 2º dessa lei traz os requisitos específicos para a habilitação à qualificação de entidades como organização social mediante registro de ato constitutivo (BRASIL, 1998). Essas entidades desempenham atividades sociais mediante contrato de gestão com o Poder Público, podendo ser desqualificado caso descumpra os dispositivos contidos no referido contrato. 6.10 Associação privada O termo associação deriva do latim associare, que significa reunir, ajuntar. Associação designa, para De Plácido e Silva (2003), toda a agremiação ou união de pessoas promovida com um fim determinado, seja de ordem beneficente, literária, científica, artística, recreativa, desportiva ou política. No mesmo sentido, vai o artigo 53 do CC, segundo o qual constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos (BRASIL, 2002a). Segundo o ServiçoBrasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os tipos mais comuns de associação são os seguintes: • Associação filantrópica: reúne voluntários que prestam assistência social a crianças, idosos, pessoas carentes. Seu caráter é basicamente o da assistência social. • Associação de pais e mestres: representa a organização da comunidade escolar para obter melhores condições de ensino e de integração da escola com a comunidade. • Associação em defesa da vida: normalmente é organizada para defender pessoas em condições marginais na sociedade ou que não estão em condições de superar as próprias limitações. • Associação de consumidores: organização voltada para o fortalecimento dos consumidores frente aos comerciantes, à indústria e ao governo. 111 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS • Associação de classe: representa os interesses de determinada classe profissional e/ou empresarial. • Associação de produtores: inclui produtores, pequenos proprietários rurais e artesãos que se organizam para realizar atividades produtivas e ou defesa de interesses comuns e representação política. • Associações culturais, desportivas e sociais: organizadas por pessoas ligadas ao meio artístico, têm objetivos educacionais e de promoção de temas relacionados às artes e a questões polêmicas da sociedade. Fazem parte desse grupo ainda os clubes esportivos e sociais (SEBRAE, 2019). Tanto a fundação eminentemente privada, artigo 62 do CC, quanto a associação civil pressupõem finalidade estatutária de interesse coletivo. Comumente, diz-se que a fundação privada teria tônica na destinação de patrimônio para atendimento de sua finalidade, daí se falar em patrimônio personificado (universitas bonorum), ao passo em que a associação civil teria tônica na organização do trabalho dos associados (universitas personarum). Essa distinção é tanto quanto inexata, apesar de comum e corrente. A fim de se apropriar melhor dos termos jurídicos que classificam as pessoas jurídicas com relação à sua estrutura interna, observe a figura a seguir: Universitas Personarum Associação de pessoas, atenderem aos fins e interesses dos sócios Fins mutáveis Universitas Bonorum Constituídas por um patrimônio e atenderem aos fins e interesses do fundador Fins imutáveis Figura 23 – Estrutura interna de sociedades Pontes de Miranda (1977) já lecionava que tanto a fundação privada quanto a associação implicam organização da força de trabalho para finalidade de interesse coletivo, além de que a destinação patrimonial da fundação não deveria ser vista como elemento essencial. Importa mais notar que a finalidade de interesse coletivo de uma associação pode estar adstrita a um número determinado e restrito de pessoas (como uma agremiação esportiva, por exemplo), sem que haja necessidade de finalidade estatutária voltada a público indeterminado, como no caso de fundação privada. A destinação de um patrimônio para a consecução de determinada finalidade estatutária, a tal personificação de patrimônio, universitas bonorum, não seria traço precípuo das fundações que lhes distinguissem de associações, ambas categorias de pessoas jurídicas sem fins lucrativos (PONTES DE MIRANDA, 1977). 112 Unidade III Para elaborar um estatuto de uma associação privada, é necessário que este contenha os seguintes itens: • A denominação, os fins e a sede da associação. • Os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados. • Os direitos e deveres dos associados. • As fontes de recursos para sua manutenção. • O modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos. • As condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução. • A forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. É importante salientar que os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais. Para efetuar o registro de uma associação, são necessários a ata de fundação, duas vias do estatuto, relação dos associados fundadores e dos membros da diretoria eleita e ofício encaminhado ao cartório A seguir, um modelo do ofício de encaminhamento ao cartório para que se processe o registro da associação. Ilustríssimo Senhor Oficial do Registro Civil de Pessoas Jurídicas da Comarca de ______________ Nome completo, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, residente e domiciliado na rua (endereço completo), representante legal da (nome da associação), CNPJ: (caso já tenha), com sede na rua: (endereço completo), vem requerer a V. Sa. que sejam registrados os atos constitutivos datados de __/__/____. Local e data. _______________________________ Assinatura do representante legal Figura 24 Paiva e Alvares (2016) lecionam que a certidão dos atos registrados, artigos 16 a 21 da LRP e artigo 1º da Lei nº 8.935/1994, opera publicização da personificação, gerando eficácia ao ato. Note-se que o registro civil de pessoas jurídicas não abrange a totalidade dos registros de pessoas jurídicas de direito privado, porque o registro das sociedades empresárias, no país, é realizado pelo registro público de empresas mercantis, a cargo das juntas comerciais, nos termos do Decreto nº 8.934/1994. 113 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS Observação Junta comercial é o órgão responsável pelo registro, fé pública e publicidade dos documentos arquivados pelos empresários, sociedades empresárias e sociedades cooperativas no Estado. Paiva e Alvares (2017) ensinam que a personalidade jurídica, assim como a personalidade civil da pessoa natural, consiste numa aptidão (capacidade) conferida pela lei às pessoas para que possam ser titulares de direitos e deveres e que o traço característico da personificação das pessoas jurídicas de direito privado, em comparação às pessoas jurídicas de direito público (interno ou externo), é exatamente a necessidade de que pessoas jurídicas de direito privado sejam constituídas por meio de um registro, junto ao órgão registral competente. 6.11 Atos registráveis e averbáveis Os atos registráveis, que serão inscritos no registro civil de pessoas jurídicas, estão elencados no artigo 114 da LRP (BRASIL, 1973b) e são os seguintes: I – os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, bem como o das fundações e das associações de utilidade pública; II – as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, salvo as anônimas; III – Os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos (BRASIL, 1973b). Decorre do artigo 45 do CC ser também atribuição do registro civil de pessoas jurídicas as averbações de todas as alterações por que passar o ato constitutivo da pessoa jurídica de direito privado já inscrita (BRASIL, 2002a), bem como as averbações relativas às alterações ocorridas nas declarações ou documentos apresentados às matrículas referidas nos artigos 122 e seguintes da LRP – hipótese do parágrafo único do artigo 114 (BRASIL, 1973b). Paiva e Alvares (2017) advertem que a hipótese do artigo 122 e seus incisos da LRP não dizem respeito a ato constitutivo de pessoa jurídica, afirmando que também são realizadas no registro civil de pessoas jurídicas as matrículas de veículos de imprensa, de radiodifusão e de divulgação noticiosa, matriculação essa que, apesar de ser realizada à semelhança da inscrição de pessoas jurídicas, artigo 126 da LRP (BRASIL, 1973b), tem a natureza de registro administrativo destinada a promover o controle da regularidade dessas organizações e da responsabilidade dos profissionais que nelas atuam, o qual é desprovido do efeito constitutivo da personalidade jurídica, tal como ocorre nas demais hipóteses registrais previstas pelo artigo 114 da LRP. 114 Unidade III Figura 25 Conforme Alvim Neto, Clápis e Cambler (2014), a hipótese do artigo 122 e seus incisos da LRPconcernentes ao registro de jornais, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e agências de notícias dizem respeito à vedação de anonimato. O registro indicado pelo artigo 122 tem como fim vedar o anonimato e possibilitar a escorreita identificação dos responsáveis pela circulação das notícias e propagandas. Nesse sentido, a Constituição Federal garante a todos o direito à livre manifestação, vedado o anonimato – artigo 5º, inciso IV (BRASIL, 1988a). Dentro dessa ótica, é compreensível a exigência do registro, nos termos do artigo 122 da LRP. A responsabilidade pela publicação de notícia ou reportagem sem a indicação da autoria gera o dever de indenização. Paiva e Alvares (2017) lecionam que realizar a inscrição e o registro consiste no mesmo ato de extrair e transpor, para os respectivos livros, artigo 116 da LRP, todos os dados de interesse, artigo 120 da LRP, constantes dos instrumentos de constituição da pessoa jurídica de direito privado, apresentados a registro pelo interessado – artigo 121 da LRP (BRASIL, 1973b). Como já visto, o artigo 44 do CC trata das sociedades como categoria de pessoas jurídicas de direito privado, ao passo em que artigo 982 e seguintes do mesmo Código distinguem sociedade simples e sociedade empresária, cujo conceito consta dos artigos 966 e seguintes (BRASIL, 2002a). 115 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS Saiba mais Sobre a sociedade empresária, verifique os artigos. 1.088 a 1.092 do CC de 2002 e a Lei nº 6.404/1976: BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, 2002a. Disponível: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ L10406compilada.htm>. Acesso em: 14 jun. 2019. BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Brasília, 1976. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/l6404compilada.htm>. Acesso em: 25 jun. 2019. Já vimos que o registro de sociedade simples incumbe ao registro civil de pessoas jurídicas, ao passo que o registro de sociedade empresária é atribuição do registro público de empresas mercantis (matéria das juntas comerciais, conforme a Lei nº 8.934/1994. Note-se, para finalizar este item, que o registro das sociedades de advogados é excetuado da atribuição registral do registro civil de pessoas jurídicas, ao passo que o registro incumbe aos conselhos seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil, incumbidos do registro das sociedades de advogados, tanto a sociedade simples de prestação de serviços de advocacia quanto a sociedade unipessoal de advocacia. 6.12 Livros e retificações Em relação aos livros, o artigo 116 da LRP estabelece o Livro “A” para os fins indicados nos incisos I e II do artigo 114, com 300 folhas; e o Livro “B” para matrícula das oficinas impressoras, jornais, periódicos, empresas de radiofusão e agências de notícias, com 150 folhas. Nesse sentido, tem-se: • Livro de Protocolo para documentos que ingressam no Registro Civil das Pessoas Jurídicas da Cidade do Rio de Janeiro (RCPJ-RJ) (apontamento de todos os títulos, documentos e papéis apresentados, diariamente, para registro ou averbação). Geralmente, é usado o Livro “A” do registro de títulos e documentos para apontamento cumulado dos documentos que ingressam no RCPJ. • Livro “A” para o registro ou inscrição dos atos constitutivos de pessoas jurídicas de direito privado e para averbações de suas alterações posteriores. • Livro “B” para matrícula das oficinas impressoras, jornais, periódicos, empresas de radiodifusão e agências de notícias, bem como para averbação de suas alterações posteriores. Segundo Paiva e Alvares (2017), o Livro “A” é destinado à realização do registro (ou da inscrição) dos atos constitutivos, compromissos ou estatutos das associações, organizações religiosas, sindicatos, 116 Unidade III partidos políticos (estes somente nos RCPJ do Distrito Federal) e fundações, bem como dos contratos das sociedades simples e cooperativas. Também dele deverão constar as averbações dos atos posteriores que de alguma forma alterarem o registro ou inscrição. Recordam Paiva e Alvares (2017) ainda que as alterações que digam respeito à atualização do exercício da direção da pessoa jurídica (alterações de diretoria e conselhos), aprovação de regimento interno e outros atos, como atos de gestão, projetos, relatórios de atividades, prestações de contas, tem as respectivas atas registradas, por transcrição, em seu inteiro teor, no registro de títulos e documentos para posterior averbação no Livro “A” do registro de pessoas jurídicas. O arquivamento dos exemplares de contratos, atos, estatutos e publicações que tenham sido objeto de registro no RCPJ, artigo 117 da LRP, é tradicionalmente realizado por microfilmagem e, contemporaneamente, também por digitalização e gravação em mídias eletrônicas. O artigo 36 da LRP aponta retificação em livro, cujo procedimento é previsto no artigo 110 ao 114 da LRP. O artigo 110 exige o processamento do feito pela via judicial (sendo obrigatória a participação do Ministério Público) (BRASIL, 1973b). Para uma melhor compreensão dessa matéria, transcreve-se a seguir o artigo em comento: “Art. 36. Os livros de registro serão divididos em três partes, sendo na da esquerda lançado o número de ordem e na central o assento, ficando na da direita espaço para as notas, averbações e retificações” (BRASIL, 1973b). Ainda quanto às retificações, o artigo 40 da LRP determina: “[...] Fora da retificação feita no ato, qualquer outra só poderá ser efetuada nos termos dos arts. 110 a 113 desta Lei” (BRASIL, 1973b). Essa retificação do artigo 40 da LRP é aquela prevista no artigo 39, executada antes do início da lavratura de um novo registro. “Art. 39. Tendo havido omissão ou erro, de modo que seja necessário fazer adição ou emenda, estas serão feitas antes da assinatura ou ainda em seguida, mas antes de outro assento, sendo a ressalva novamente por todos assinada” (BRASIL, 1973b). Não é demais destacar o artigo 120 da LRP no que tange ao registro das sociedades e fundações, que dispõe sobre declaração realizada pelo oficial do registro, devendo ser feita em livro do número de ordem, da data da apresentação e da espécie do ato constitutivo, com as indicações relacionadas nos incisos de I a VI desse artigo (BRASIL, 1973b). Saiba mais Confira os incisos mencionados no artigo 120 da LRP para entender melhor as indicações exigidas pela lei: BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras providências. Brasília, 1973b. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6015compilada.htm>. Acesso em: 14 jun. 2019. 117 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS Exemplo de aplicação Leia o seguinte texto: “A Lei n. 6.015/73, desde sua concepção original, tratou da disciplina dos registros públicos a que se refere a legislação civil, deixando à margem de suas disposições a disciplina dos registros comerciais. O advento do novo Código Civil, em 2002, entretanto, baseado no projeto supervisionado por Miguel Reale e encaminhado originalmente ao Congresso Nacional em 1975, não alterou substancialmente essa situação, nele tendo sido mantida, como já observara Campos Batalha, ao comentar o projeto, ‘a dicotomia registrária, não mais entre Registros Públicos disciplinados pelo Código Civil e Registro do Comércio, mas entre o Registro das Empresas e os demais registros civis’” (PAIVA; ALVARES, 2017). Sobre as entidades sujeitas a registro no registro civil de pessoas jurídicas, julgue os itens a seguir, assinalando V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas. ( ) I – Fundações públicas são as instituídas por lei, ainda que se dê personalidade jurídica de direito privado, de modo que integram a administração indireta, e as fundações privadas são aquelas que, no exercício de suas atividades, constituem elemento de empresa. ( ) II – Os consórcios públicossão parcerias sem fins lucrativos firmadas entre dois ou mais entes da Federação (estados ou municípios) e concretizadas por meio da criação de uma pessoa jurídica de direito público ou privado. ( ) III – As sociedades simples são registráveis perante o registro civil de pessoas jurídicas e não perante a junta comercial. ( ) IV – As cooperativas não atendem os requisitos legais que caracterizam a atividade empresarial, o que impede, em regra, o ingresso de seus atos constitutivos no registro civil de pessoas jurídicas. A sequência correta é apresentada em: A) V, V, V e V. B) F, F, F e F. C) F, F, V e V. D) F, V, V e F. E) V, F, F e V. Resposta correta: alternativa D. 118 Unidade III Resolução I – Afirmativa falsa. Justificativa: fundações públicas são sim instituídas por lei e sujeitas a registro junto ao registro civil de pessoas jurídicas. No entanto, o que invalida a afirmativa é que ela insere como característica da fundação privada a exceção da sociedade simples, que é o elemento de empresa. Fundações públicas são as instituídas por lei, ainda que se dê personalidade jurídica de direito privado, de modo que integram a administração indireta, consoante o artigo 37, inciso XIX, da Constituição Federal (BRASIL, 1988a), regulamentado pelo artigo 41 do CC (BRASIL, 2002a). Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, exceto se o exercício da profissão constituir elemento de empresa, sendo estas profissões as sociedades simples, sujeitas ao registro civil de pessoas jurídicas. II – Afirmativa verdadeira. Justificativa: os consórcios públicos são parcerias sem fins lucrativos, firmadas entre dois ou mais entes da Federação (estados ou municípios) e concretizadas por meio da criação de uma pessoa jurídica de direito público ou privado. O objetivo é prestar serviços e desenvolver ações de interesse coletivo que beneficiarão a população de dois ou mais estados ou de duas ou mais cidades. III – Afirmativa verdadeira. Justificativa: conforme o artigo 1.150 do Código Civil, o empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao registro público de empresas mercantis a cargo das juntas comerciais, e a sociedade simples, ao registro civil das pessoas jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária (BRASIL, 2002a). IV – Afirmativa falsa. Justificativa: apesar de serem equiparadas às sociedades simples pelo Código Civil de 2002, as cooperativas devem registrar seus atos na junta comercial e não no cartório de registro civil de pessoas jurídicas. Resumo A legislação pátria distingue as pessoas naturais, também chamadas de pessoas físicas, das pessoas jurídicas. A pessoa jurídica é a organização de pessoas físicas ou de um patrimônio para o alcance de um fim determinado. Esse fim deve ser algo que não contrarie a lei, ou seja, lícito. 119 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS As pessoas jurídicas se dividem em duas classes: pessoas jurídicas de direito público e de direito privado. As de direito público subdividem-se em de direito interno, que englobam a União Federal, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal. Já as pessoas jurídicas de direito externo são os Estados estrangeiros e as pessoas jurídicas de direito internacional. Por seu turno, as pessoas jurídicas de direito privado são as associações, as sociedades, as fundações, as organizações religiosas, os partidos políticos e as empresas individuais de responsabilidade limitada. A Lei de Registros Públicos (LRP) está voltada para o registro das pessoas jurídicas que não exercem atividade empresarial. Estão inseridas, nessa classificação, as sociedades simples, associações e fundações. O Código Civil (CC) de 2002 inclui as organizações religiosas e os partidos políticos – artigo 44, incisos IV e V, respectivamente. Todos eles estão devidamente inseridos na previsão de escrituração do artigo 114, incisos I, II e III, da LRP. Vimos que o início da existência legal das pessoas jurídicas de direito privado ocorre com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. O registro civil de pessoas jurídicas submete-se aos princípios da legalidade, segundo o qual o registrador deve realizar apenas e tão somente as determinações da lei, da fé pública, que confere a veracidade dos atos, da rogação, sendo vedado ao registrador a prática de atos sem provocação de outrem e que dispõe sobre a publicidade dos atos. É com a publicidade dos atos a incidir sobre a eficácia deste que o torna oponível a terceiros. Com a qualificação, se verifica se os atos trazidos a registro são legítimos. Estudou-se sobre a continuidade na sucessão de registros e a concentração para unir todos os atos dignos de registro, trazendo celeridade e economicidade à gestão pública. Por fim, vimos o princípio da validade, segundo o qual os atos registrados possuem validade absoluta (jure et de jure). Estudou-se a fundação como um acervo de bens livres de ônus ou encargos e legalmente disponíveis, que recebe da lei a capacidade jurídica para realizar as finalidades pretendidas pelo seu instituidor, em atenção aos seus estatutos. Viu-se que os serviços sociais autônomos são entidades privadas que se assemelham aos entes públicos. Tratam-se de entidades privadas que desempenham atividades de utilidade pública, geralmente aprendizado profissionalizante e assistência social. 120 Unidade III Verificou-se que os sindicatos se organizam com regras estatutárias bem definidas, contendo os regulamentos de assembleias, eleição de diretorias, representação, filiação dos sindicalizados, manutenção de seu patrimônio, entre outros assuntos de relevância para os sindicalizados. Os atos de maior relevância como, por exemplo, os atos de representação da entidade, para ter validade jurídica, devem ser registrados junto ao registro civil de pessoas jurídicas. As organizações sociais foram analisadas e definidas como pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sociais sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e à preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde. Estudou-se também que as associações privadas, assim como as demais associações, não têm a finalidade lucrativa, mas defendem os interesses de um grupo de pessoas que encontrou na união de esforços a melhor solução para determinados problemas. Sendo as mais comuns as associações filantrópicas, as de pais e mestres, em defesa da vida, de consumidores, associações de classe e de produtores, e culturais, desportivas e sociais. De acordo com o artigo 120 da LRP, são atos registráveis no registro civil de pessoas jurídicas os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, bem como o contrato das fundações e das associações de utilidade pública, as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, com exceção das sociedades anônimas e os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos (BRASIL, 1973b). Além desses, compete ao registro civil de pessoas jurídicas os jornais e demais publicações periódicas; as oficinas, impressoras de quaisquer naturezas, pertencentes a pessoas naturais ou jurídicas; as empresas de radiodifusão que mantenham serviços de notícias, reportagens, comentários, debates e entrevistas; e, por fim, as empresas que tenham por objeto o agenciamento de notícias. Estudamos que os livros do registro civil de pessoas jurídicas, como o Livro de Protocolo, conterão informações sobre os documentos que ingressamno RCPJ. O Livro “A” contém os registros ou inscrições dos atos constitutivos de pessoas jurídicas de direito privado; e o Livro “B” é reservado para a matrícula das oficinas impressoras, jornais, periódicos, empresas de radiodifusão e agências de notícias, além de suas alterações. 121 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS Exercícios Questão 1. A fundação Abrinq pelos direitos da criança e do adolescente é uma entidade bastante conhecida no Brasil. Figura 26 Você certamente já viu esse selo em muitas embalagens como um certificado de que aquelas empresas não utilizam trabalho infantil na sua produção e não admitem que seus fornecedores o utilizem. Vale a pena conhecer o trabalho dessa entidade privada, sem fins lucrativos e que se constitui na forma jurídica de fundação (<www.fadc.org.br>). A Abrinq é considerada uma fundação: A) Porque seu instituidor determinou os fins que ela deveria atingir e quais as pessoas que deveriam colaborar com recursos econômicos para sua constituição. B) Porque foi organizada por pessoas físicas. C) Porque seu instituidor determinou os fins que a fundação deveria atingir. D) Porque o instituidor determinou os fins que a fundação deveria atingir e realizou a dotação de bens livres de ônus para realizar as finalidades pretendidas. E) Porque se dedica a atividades com crianças e adolescentes. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a característica fundamental da fundação é a dotação de bens livres de ônus para que as finalidades pretendidas pelo instituidor, ou instituidores, sejam atingidas. O instituidor, ou instituidores, 122 Unidade III não designa pessoas que deverão contribuir com recursos econômicos, porque isso já foi feito com a dotação de bens. B) Alternativa incorreta. Justificativa: ser organizada por pessoas físicas ou jurídicas não é o que caracteriza fundamentalmente as fundações. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a determinação dos fins que a fundação deverá atingir é uma prerrogativa do instituidor, ou instituidores, porém não é a principal característica de uma fundação, que tem na dotação de bens seu traço mais relevante. D) Alternativa correta. Justificativa: de acordo com a lei, para criar uma fundação, seu instituidor, ou instituidores, fará por escritura pública ou testamento dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a finalidade de uma instituição pode ser variada, porém sempre será destinada a contribuir para o bem comum, como, por exemplo, assistência social, saúde, pesquisa científica, segurança alimentar e nutricional, atividades religiosas, proteção e defesa dos direitos humanos, cidadania, entre outros. Questão 2. A cidade em que você mora tem uma grande quantidade de crianças, porém o município não tem recursos para investir em áreas de lazer para elas. Você e seus amigos resolvem, então, criar uma entidade para oferecer opções de lazer, cultura e entretenimento para crianças. Vocês conseguem um barracão antigo emprestado pelo tio de um dos participantes para estabelecer a sede e algumas doações para fazer a reforma do local. Em pouco tempo, já estão em condições de oferecer atividades como jogos de tabuleiro, exibição de filmes e documentários educativos, reforço escolar, aulas de pintura, desenho e música. Um dos participantes da iniciativa defende que vocês devem regularizar essa atividade e, para isso, precisam se organizar. Você é de opinião que: A) Não é preciso regularizar a atividade porque ela não tem fins lucrativos. B) Não é preciso regularizar a atividade porque ninguém sabe dizer ao certo quanto tempo ela vai durar. C) É preciso regularizar a atividade para pagar corretamente os tributos que incidem sobre ela. 123 REGISTRO DE PESSOAS NATURAIS, JURÍDICAS E DE TÍTULOS E DOCUMENTOS D) É preciso fundar uma associação social, sem fins lucrativos, e registrar no registro de pessoas jurídicas da comarca em que vocês se situam. E) É preciso organizar uma fundação, sem fins lucrativos, e registrar no registro de pessoas jurídicas da comarca em que vocês se situam. Resolução desta questão na plataforma.