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S U M Á R I O Tabela de Ícones 7 Informações gerais sobre a disciplina 9 Apresentação 10 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO EMPRESARIAL 11 EMPRESÁRIO 28 ESTABELECIMENTO 39 SOCIEDADES – PARTE I – DISPOSIÇÕES GERAIS 51 SOCIEDADES – PARTE II – SOCIEDADE LIMITADA 59 SOCIEDADES – PARTE III – SOCIEDADE ANÔNIMA 65 SOCIEDADES – PARTE IV – DISSOLUÇÃO 75 CONTRATOS EMPRESARIAIS 85 TEMAS IMPORTANTES – PARTE I – REGIME JURÍDICO DA CONCORRÊNCIA – CONCORRÊNCIA DESLEAL E INFRAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA 99 TEMAS IMPORTANTES – PARTE II – LICITAÇÕES 109 TEMAS IMPORTANTES – PARTE III – NOÇÕES BÁSICAS SOBRE DIREITO CIVIL, CONSTITUCIONAL, COMERCIAL E TRABALHISTA, LEGISLAÇÃO- - ENGENHARIA, SEGURANÇA DO TRABALHO, PERÍCIAS E LAUDOS 119 TEMAS IMPORTANTES – PARTE IV – PROPRIEDADE INDUSTRIAL E DIREITO AUTORAL 131 ATIVIDADE OBRIGATÓRIA Indica as orientações da Atividade Avaliativa da Unidade de Estudo. BIBLIOTECA DIGITAL Indica que o material está disponível na Biblioteca Digital. CALCULADORA FINANCEIRA Indica a utilização da calculadora HP 12C para resoluções mais precisas. CHECKLIST Indica um conjunto de ações para fins de verificação de uma rotina ou um procedimento (passo a passo) para a realização de uma tarefa. EXEMPLO Será utilizado sempre que houver necessidade de exemplificar um caso, uma situação ou conceito que está sendo descrito ou ensinado. GLOSSÁRIO Utilizado sempre que houver necessidade de entender o significado de uma palavra ou termo desconhecidos. HIPERLINK Indica um link (ligação), seja ele para outra página do módulo impresso ou endereço de Internet. LEIS Indica a necessidade de aprofundamento da lei ou artigo referidos no texto. LEITURA OBRIGATÓRIA Indica os livros e textos de leitura obrigatória. PENSE Indica que você deve refletir sobre o assunto abordado para responder a um questionamento. PESQUISE Indica a exigência de pesquisa a ser realizada na busca por mais informação. PLANILHA Indica a necessidade de se obter resolução utilizando a planilha Excel, tor- nando o trabalho mais rápido. REALIZE Determina a existência de atividade: um exercício, uma tarefa ou prática a ser realizada. Fique atento a ele. REVEJA Indica a necessidade de rever conceitos estudados anteriormente. SAIBA MAIS Apresenta informações adicionais sobre o tema abordado, de forma a pos- sibilitar a obtenção de novas informações ao que já foi referenciado. SUGESTÃO DE LEITURA Indica textos de referência utilizados no curso e também faz sugestões para leitura complementar. VÍDEOS Indica vídeos que lhe ajudarão a aprofundar seus conhecimentos sobre o conteúdo estudado. Í C O N E S 13Direito Empresarial UNIDADE DE ESTUDO 1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO E DIREITO EMPRESARIAL: EMPRESÁRIO E ESTABELECIMENTO INTRODUÇÃO Prezados acadêmicos, iniciamos agora nossos estudos de Direito Empresarial. O tema é de grande relevância para suas atividades futuras, pois será comum você tratar de questões que se referem à atividade empresarial, que é regulada por esse ramo do Direito. 1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO EMPRESARIAL Nesta Unidade estudaremos como surgiu o Direito Empresarial, qual sua relação com o Direito Comercial e Civil e também qual é o seu objeto de estudo. Preparados? Então, vamos em frente! 1.1 CONCEITO DE DIREITO A história da civilização demonstra que o homem é um ser que necessita viver em sociedade e, conforme afirmava Aristóteles (1982), o homem é um ser social, de modo que precisa conviver em sociedade, o que é algo bastante complexo, pois devemos respeitar regras para não interferirmos na vida uns dos outros e para evitarmos o surgimento de desavenças. Para que tais desavenças não se agravassem e causassem maiores problemas, houve a necessidade da criação de mecanismos que as coibissem, ou seja, a criação de normas e regras de conduta para que haja disciplina da vida em sociedade. Entretanto, a vida em sociedade, por ser conflitante em virtude das diferenças individuais, fez que surgisse o Estado para impor limites à nossa forma de viver. Ao Estado coube a tarefa de tentar delimitar nossa atuação, com a criação de normas de conduta, para direcionamento de nosso comportamento, para que pudéssemos viver pacificamente em sociedade. Entretanto, a palavra direito, em nosso idioma, possui diversos significados e pode referir-se a um sistema de normas vigentes em um Estado ou a um conjunto de normas jurídicas de um determinado ramo do Direito, por exemplo. Conforme menciona Pinho (2000, p. 27), “Direito passou a ser sinônimo de regra, de norma que orienta o homem que vive em sociedade”. Ruggiero (1999, p. 30) nos ensina que “o direito é a norma das ações humanas na vida social, estabelecida por uma organização soberana e imposta coativamente à observância de todos”. A palavra direito etimologicamente é do latim directum, que significa aquilo que é reto. O termo direc- tum, por sua vez, vem do particípio passado do verbo dirigere – que significa dirigir, alinhar. 14 Daniella Boppré de Athayde Abram | Mayra Scremin Vicente Ráo (1991, p. 31) conceitua o Direito como um sistema de normas: É o direito um sistema de disciplina social fundado na natureza humana que, estabelecendo nas relações entre os homens uma proporção de reciprocidade nos poderes e deveres que lhes atribui, regula as condições existenciais dos indivíduos e dos grupos sociais e, em consequência, da sociedade, mediante normas coercitivamente impostas pelo poder público. Dower (2005, p. 4) menciona que: O Direito composto por um conjunto de normas jurídicas, equaciona a vida social, atribuindo aos indivíduos que a constituem, não só uma reciprocidade de poderes e faculdades, mas também de deveres e obrigações, visando resolver conflitos de interesses e assegurar a ordem de maneira imperativa. O Direito divide-se em Natural e Positivo: NATURAL É aquele que adquirimos ao nascer, ele não é criado pela sociedade e tampouco imposto pelo Estado. POSITIVO Embora baseado no Natural, apresenta-se como o conjunto de normas jurídicas escritas, estatuídas pelo Estado, pelas não escritas, que são aceitas pelas pessoas, baseadas em costumes e que se encontram vigentes em um determinado território. “Direito Positivo é o conjunto orgânico das condições de vida e desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, dependente da vontade humana e das garantias dadas pela força coercitiva do Estado (Pedro Lessa)” (MALUF 2003, p. 7). Com relação ao Direito Positivo, Dower (2005, p. 4) também menciona: A norma jurídica, que forma o Direito Positivo do país, é a ordem social obrigatória. É a regra vigente positiva para reger as relações humanas, imposta coercitivamente à obediência de todos, a fim de disciplinar a atividade dos homens, instituindo e mantendo a ordem social. Portanto, o Direito Positivo é o conjunto de todas as regras e leis que regem a vida em sociedade e as instituições em determinado local em um período determinado de tempo que foi imposta de forma coercitiva pelo Estado. 1.2 ESTRUTURA DO SISTEMA JURÍDICO E DOS PODERES DA REPÚBLICA 1.2.1 Estruturação do Sistema Jurídico Brasileiro O sistema jurídico brasileiro tem sua base fincada na tradição romano- germânica e tomou o modelo da civil law como base estruturante de seu sistema jurídico, o qual se fundamenta em outorgar a lei como sendo a fonte imediata do ordenamento jurídico. Tal estruturação faz com que os litígios judiciais sejam solucionados por meio da submissão do caso à norma constante da lei, eis que esta é a mais importante fonte do direito. 15DireitoEmpresarial Ensina-nos Vicente (2003, p. 88) que: O Direito Brasileiro tem como base as leis, sendo que este princípio é uma das vigas mestras do ordenamento jurídico, eis que, além de garantir o Estado Democrático, permite aos governantes apenas e tão somente pratiquem atos em conformidade com a Lei, jamais podendo agir com abuso ou em benefício seu em detrimento da sociedade. O sistema jurídico brasileiro é constituído por todo o conjunto de leis de um Estado, que reúne constituição, leis, emendas, decretos, resoluções, medidas provisórias etc. A Constituição Federal é a Lei Maior do país e caracteriza-se por ser rígida, escrita, codificada e sistematizada em um único documento. Ela dispõe sobre os instrumentos legais do nosso ordenamento jurídico, que se constituem por: emendas à Constituição, que consistem em mudanças em seu texto; por leis complementares, as quais a complementam detalhando uma questão sem, entretanto, interferir em seu texto; por leis ordinárias, que dispõem sobre todas as matérias, com exceção àquelas reservadas às leis complementares; por medidas provisórias, que são instrumentos com força de lei, adotados pelo Presidente da República, em casos de relevância e urgência e que produzem efeitos imediatos, mas dependem de aprovação do Congresso Nacional para transformação definitiva em lei. Esse conjunto de normas (leis ordinárias, complementares, emendas e medidas provisórias) é denominado de ordenamento jurídico brasileiro e, para que se possa operá-lo de maneira eficiente, o Estado brasileiro é organizado, conforme disposição constante da Constituição Federal de 1988, em três poderes, que são independentes e harmônicos entre si: o executivo, o legislativo e o judiciário. O Brasil, conforme dispõe a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º, é uma Republica Federativa, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constituindo um Estado Democrático de Direito. Pedro Lenza (2011, p. 377) afirma que “o Brasil adotou a forma republicana de governo, o sistema presidencialista de governo e a forma federativa de Estado”. Uma República Federativa é um Estado estruturado como República e como uma Federação, simultaneamente, ou seja, a República é uma forma de organização do Estado, que possui um sistema de governo pelo qual todo poder emana do povo, que escolhe seus representantes por meio de eleições, as quais são realizadas periodicamente, e a Federação é a composição do Estado pela união política de territórios autônomos, constituindo regiões com governo próprio, com determinada autonomia, mas subordinados à Federação. O Brasil, dessa forma, é constituído por 26 estados, por um distrito federal e por cerca de 5.570 Municípios. Cada estado brasileiro tem seus governantes e suas próprias leis, as quais não podem ultrapassar os limites fixados pela Constituição Federal. A República Federativa do Brasil possui três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, os quais atuam de forma independente e possuem funções específicas, apesar de existir relacionamento entre eles. Dezen Junior (2005, p. 343) afirma que “cada uma dessas funções é exercida com preponderância – mas não com exclusividade – por uma estrutura chamada de Poder” e complementa: A função legislativa é desempenhada predominantemente pelo Poder Legislativo, embora o Poder Executivo (elaborando leis delegadas, medidas provisórias e decretos) e o Poder Judiciário (elaborando seus regimentos internos, materialmente leis processuais) também legislem. A função administrativa é desempenhada principalmente pelo Poder Executivo, embora o Judiciário e o Legislativo também administrem quando regem seus servidores e serviços. E a função judiciária, ou judicante, é exercida primordialmente pelo Poder Judiciário, embora o Legislativo realize processos e julgamentos políticos (como no caso do Senado Federal, nas hipótese do art. 52, I e II) e o Executivo processe e julgue administrativamente seus servidores e a matéria tributária. 16 Daniella Boppré de Athayde Abram | Mayra Scremin 1.2.2 Estrutura dos Poderes da República No Brasil, são Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, conforme dispõe a Constituição Federal de 1988 nos artigos 2º e 60, § 4º, inciso III. Poder Legislativo O Poder Legislativo no Brasil é exercido em âmbito federal, estadual e municipal. No âmbito federal é composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. A Câmara é composta por 513 deputados que representam todos os Estados e o Distrito Federal, resultando em um Parlamento bem heterogêneo em suas ideias, que representa a população brasileira. O Senado Federal representa os Estados da Federação e é composto por 81 representantes dos Estados-membros e do Distrito Federal. Os Territórios Federais não têm representação, uma vez que eles não têm autonomia federativa. Os senadores, ao contrário dos Deputados Federais, são eleitos segundo o princípio majoritário, ou seja, elegem-se aqueles com o maior número de votos em cada Estado. Cada Estado e o Distrito Federal elegem 3 senadores, com 2 suplentes cada um, e o mandato é de 8 anos, correspondente a 2 legislaturas. A Câmara e o Senado Federal exercem três funções de extrema importância, que são as de representar o povo brasileiro por meio de seus componentes de cada região, legislar sobre assuntos de interesse nacional e fiscalizar a utilização e o fluxo de recursos públicos. À Câmara dos Deputados compete a criação de projetos de lei de interesse nacional de acordo com as necessidades da sociedade e da administração pública, votar e aprovar projetos de lei, julgar quando se fizer necessário os atos do Poder Executivo, enquanto o Senado tem por competência a votação de projetos de lei e, por competência privativa, as matérias relacionadas no art. 52 da Constituição, as quais independem de sanção presidencial e são materializadas por meio de resoluções. O Poder Legislativo, em âmbito Estadual e Municipal, é exercido, respectivamente, pelas Assembleias Legislativas, por meio de deputados eleitos em cada Estado e pela Câmara de Vereadores, por meio dos vereadores de cada Município. Compete ao Poder Legislativo fiscalizar o Poder Executivo, criar e votar leis, votar leis orçamentárias e, em determinadas situações, julgar pessoas, tais como governadores e prefeitos. Poder Executivo O Poder Executivo é exercido em âmbito federal pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado, conforme dispõe o art. 76 da Constituição Federal e no âmbito Estadual e Municipal, respectivamente, pelos governadores e prefeitos. No Brasil, que adota um sistema presidencialista de governo, o presidente da República exerce duas funções: a de chefe de Estado e a de chefe de Governo. O presidente é o representante principal da nação e possui diversas atribuições, tais como: ▪ representar o Brasil no exterior; ▪ sancionar as leis feitas e aprovadas pelo poder legislativo; ▪ administrar o governo; ▪ comandar as Forças Armadas; ▪ promover o bem geral da nação brasileira; 17Direito Empresarial ▪ sustentar a União, a integridade e a independência do País; ▪ nomear e afastar os ministros de Estado, assim como o procurador-geral da República, o presidente e os diretores do Banco Central, os ministros do Supremo Tribunal Federal e também dos Tribunais Superiores. As funções de governadores e prefeitos são semelhantes às do Presidente da República, competindo a eles administrar em colocar em prática as medidas e políticas de governo previstas na legislação e na Constituição Estadual. O presidente da República sempre que estiver impedido de exercer suas funções ou no caso de vacância do cargo será substituído pelo vice-presidente (art. 79, Constituição Federal de 1988). Os governadores de Estado são auxiliados pelos vice-governadores e pelos secretários de Estado, enquanto os prefeitos pelos vice-prefeitos e pelossecretários municipais. Poder Judiciário Segundo Moraes (2009, p. 500), “O Poder Judiciário é um dos três poderes clássicos previstos pela doutrina e consagrado como poder autônomo e independente de importância crescente no Estado de Direito”, é um dos órgãos que compõem a estrutura de poder no Brasil e sua função é a de fiscalizar a aplicação da lei ao caso concreto; mandar cumpri-las e punir a todos que transgridam a ordem social obrigatória. Estrutura do Poder Judiciário A Constituição Federal de 1988 apresenta o disciplinamento do Poder Judiciário nos artigos de 92 a 126 da Constituição de 1988, dividindo-o em federal e estadual. Os municípios, por sua vez, não possuem sistema jurídico próprio e, quando necessário, devem recorrer ao sistema jurídico federal ou estadual. Reis (2003, p. 58-59) menciona que “o Poder Judiciário existente nos Municípios, composto de juízes que julgam as questões da comunidade municipal, pertence à estrutura do Estado do qual o Município faz parte”. O sistema Judiciário brasileiro é composto por vários tribunais regulados pelo STF – Supremo Tribunal Federal. O STF é formado por onze ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de 35 anos e menos de 65 anos de idade, de notável saber jurídico e de reputação ilibada (art. 101, CF/88). Sua competência precípua é a guarda da Constituição, cabendo-lhe, conforme dispõe o artigo 102 da CF/88, entre tantas coisas: julgar leis federais ou estaduais inconstitucionais em face da Constituição Federal; decidir sobre litígio entre o Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território, ordenar a extradição solicitada por Estados estrangeiros etc. Dentro da estrutura do Poder Judiciário, abaixo do STF encontram-se os Tribunais Superiores (STJ – Superior Tribunal de Justiça; TST – Tribunal Superior do Trabalho; TSE – Tribunal Superior Eleitoral; e o TSM – Superior Tribunal Militar). O sistema Judiciário Federal é composto, ainda, pela Justiça Federal comum e pela especializada (Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral e Justiça Militar). A Justiça Federal comum é composta pelos tribunais regionais federais e pelos juízes federais e tem por competência julgar ações em que a União, as autarquias ou as empresas públicas federais façam parte ou tenham interesses. À Justiça do Trabalho compete julgar os conflitos individuais e coletivos existentes entre trabalhadores e patrões. É composta por juízes trabalhistas que atuam na primeira instância (Varas do Trabalho) e nos TRT – Tribunais Regionais do Trabalho, e por ministros que atuam no TST – Tribunal Superior do Trabalho. 18 Daniella Boppré de Athayde Abram | Mayra Scremin À Justiça Eleitoral compete regulamentar os procedimentos eleitorais, responsabilizando-se por organizar, monitorar e apurar as eleições, bem como por diplomar os candidatos eleitos, assim como determinar a perda de mandato eletivo federal e estadual e julgar irregularidades praticadas nas eleições. É composta pelos juízes, denominados juízes eleitorais, que atuam na primeira instância e nos TRE – Tribunais Regionais Eleitorais, e pelos ministros que atuam no junto ao TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Por fim, na área federal há a Justiça Militar, que tem por competência julgar os crimes militares, cuja composição é a seguinte: juízes militares, que atuam em primeira e segunda instância, e ministros, que atuam junto ao STM – Superior Tribunal Militar. Na esfera estadual, há a Justiça Estadual, a quem compete o julgamento das ações que não estão compreendidas na competência da Justiça Federal, comum ou especializada, além da Justiça Militar, a qual compete julgar os crimes próprios cometidos pelos policiais militares. 1.3 DIREITOS FUNDAMENTAIS A Constituição define os direitos fundamentais como os direitos humanos, os quais devem ser protegidos e garantidos pelo Estado. Preleciona Araújo e Nunes Júnior (2005, p. 109-110): Os direitos fundamentais podem ser conceituados como a categoria jurídica instituída com a finalidade de proteger a dignidade humana em todas as dimensões. Por isso, tal qual o ser humano, tem natureza polifacética, buscando resguardar o homem na sua liberdade (direitos individuais), nas suas necessidades (direitos sociais, econômicos e culturais) e na sua preservação (direitos relacionados à fraternidade e à solidariedade). Assim, a Constituição Federal de 1988 apresenta um conteúdo bastante explícito em seu Título II, Capítulo I, denominado Dos Direitos e Garantias Fundamentais (arts. 5º a 17), os direitos e deveres individuais e coletivos; os direitos sociais; os direitos relativos à nacionalidade, os relativos aos direitos políticos e os relativos aos dos partidos políticos. Quanto aos direitos e deveres individuais e coletivos são reconhecidos os direitos que dizem respeito ao conceito da pessoa humana e os relativos à sua personalidade, relativos à vida, à igualdade, à dignidade, à segurança, à honra, à liberdade e à propriedade. Os Direitos Sociais, afirma Nunes Júnior (2005, p. 123), “são aqueles cuja importância transcende a esfera individual do seu detentor” e esses direitos estão elencados no art. 6º da Constituição Federal, devendo o Estado garantir a todos os direitos relativos, primordialmente à infância, à educação, à previdência social, à assistência aqueles que se encontrem desamparados, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança, e à proteção à maternidade. Com relação aos Direitos de Nacionalidade, conceitua Lenza (2011, p. 993) que é “o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o povo daquele Estado e, por consequência, desfrute de direitos e submeta-se a obrigações”. No que diz respeito aos Direitos Políticos, estes se traduzem no conjunto de regras estatais que permitem aos cidadãos de um Estado intervir de certa maneira no governo de seu país de forma indireta ou direta, por meio do sufrágio universal ou pelo voto direto e secreto, conforme dispõe o art. 14 da Constituição Federal de 1988, manifestando-se em plebiscitos, referendos etc. No tocante aos Partidos Políticos, dispõe a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 17 que “é livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania 19Direito Empresarial nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa” desde que sejam observados diversos preceitos, tais como: o caráter nacional, a proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes, a prestação de contas à Justiça Eleitoral e ao funcionamento parlamentar de acordo com a lei. 1.4 PESSOAS E BENS O Código Civil Brasileiro vigente no Brasil, foi instituído pela Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 e apresenta um conjunto de normas legais e sistematizadas que regulam os direitos e deveres das pessoas naturais e jurídicas, dos bens e das suas relações em âmbito privado, com base nas normas trazidas pela Constituição Federal de 1988, conforme dispostas a seguir: 1.4.1 Pessoas – Sujeitos do Direito São sujeitos de Direito todos aqueles que participam ativa e passivamente de um ato, são todas as pessoas vinculadas a uma relação jurídica, são as pessoas naturais e as jurídicas (LONGANESE, 2007, p. 46). Pessoa natural O Código Civil vigente (arts. 1º e 2º) afirma que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil e que a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, porém a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. ▪ Pessoa natural – Capacidade Longanese (2007, p. 47) menciona que “há duas espécies de capacidade: a capacidade de direito e a capacidade de exercício. A capacidade de direito é aquela que uma pessoa física possui de gozar e exercer direitos, é a capacidade que se adquire com o nascimento”. Essa capacidade também é conhecida como capacidade jurídica,enquanto a capacidade de exercício é a capacidade de agir, de poder exercer direitos e assumir obrigações, a qual só se adquire quando se cumpre certos preceitos legais. ▪ Capacidade de exercício Para que se possa ter a capacidade de exercício, o Código Civil vigente impõe às pessoas certas condições. Essas condições acabam por dividir as pessoas, com relação à capacidade de exercício, em três tipos: as com capacidade absoluta ou plena, as com incapacidade relativa e as com incapacidade absoluta. Os com capacidade plena podem exercer pessoalmente todos os atos da vida civil, enquanto os com incapacidade absoluta ficam impedidos de exercer quaisquer atos da vida civil, necessitando de representantes. São eles: ▪ Os menores de 16 anos; ▪ Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; ▪ Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Entretanto, os com incapacidade relativa são impossibilitados parcialmente de realizar pessoalmente certos atos da vida civil, necessitando de alguém que o auxilie, tais como: ▪ os maiores de 16 anos e os menores de 18 anos; ▪ os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; 20 Daniella Boppré de Athayde Abram | Mayra Scremin ▪ os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; ▪ os pródigos. Assim, o Código Civil atual dispõe, com relação aos menores de 18 anos, que os menores de 16 são representados e os maiores de 16 e menores de 18 são assistidos pelos seus pais, tutores ou curadores e que os maiores de 18 (dezoito) anos têm capacidade plena, podendo praticar todos os atos da vida civil. Contudo, para os menores, a incapacidade cessará pela emancipação, que ocorrerá antes da idade prevista para aquisição da capacidade plena, nos seguintes casos: ▪ pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; ▪ pelo casamento; ▪ pelo exercício de emprego público efetivo; ▪ pela colação de grau em curso de ensino superior; ▪ pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. Pessoas jurídicas Pessoa jurídica é resultante de um agrupamento de pessoas ou bens, com capacidade para exercer direitos e contrair obrigações, com vida e patrimônio próprio, constituída na forma lei, podendo ser de direito público, interno ou externo, e de direito privado. Diniz (2010, p. 39) afirma que: [...] com o registro do estatuto ou contrato social (CC, art. 985) surge a personalidade jurídica e a sociedade passa a ser pessoa jurídica, suscetível de direitos e obrigações, tendo capacidade, inclusive, contratual, legitimidade processual ativa e passiva e responsabilidade civil (contratual ou extracontratual) e penal (Lei n. 9.605/98, art. 3º). Dispõe o Código Civil em seu artigo 44 que são pessoas jurídicas de direito privado: ▪ as associações; ▪ as sociedades; ▪ as fundações. As associações são constituídas pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos (art. 53, Código Civil), enquanto que as fundações são instituídas por ato de liberalidade, por escritura pública ou testamento, constituindo uma pessoa jurídica autônoma destinada a fins de utilidade pública ou de beneficência, com dotação especial de bens livres, especificando-se a finalidade que se destina e declarando-se, se quiser, a maneira de administrá-la (art. 62, Código Civil). Entretanto, as sociedades são constituídas por pessoas, que celebram contratos societários, obrigando-se, reciprocamente, a contribuir com bens ou serviços para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. A atividade poderá restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados (art. 981, parágrafo único, do Código Civil). 1.4.2 Bens As relações jurídicas são vínculos estabelecidos e regulados de maneira legal entre os homens, as quais sempre regulam determinados interesses que, na maioria das vezes, têm por objeto um bem, o qual pode ser material ou imaterial, mas passível de valorização econômica. 21Direito Empresarial Rodrigues (2002, p. 115) afirma que “para a economia política, bens são aquelas coisas que, sendo úteis aos homens, provocam a sua cupidez e, por conseguinte, são objetos de apropriação privada” e Reis (2003, p. 155) afirma que “os bens são as coisas materiais ou imateriais que têm valor econômico e que podem servir de objeto a uma relação jurídica”. De fato, bens são coisas corpóreas ou incorpóreas, que podem ser objeto de propriedade, quer pública ou privada, aquilo que é suscetível de utilização e que faz parte do patrimônio de alguém. Para Gonçalves (1998, p. 70), os bens: [...] são classificados segundo critérios de importância científica, pois a inclusão de um bem em determinada categoria implica a aplicação automática de regras próprias e específicas, posto que não se podem aplicar as mesmas regras a todos os bens. Enquanto o Código Civil classifica-os em: bens considerados em si mesmos, bens reciprocamente considerados e bens públicos. O Código Civil, nos artigos de 79 a 91, trata dos bens considerados em si mesmos e os classifica em bens imóveis, móveis, fungíveis e infungíveis, consumíveis e não consumíveis, divisíveis e indivisíveis e bens singulares e coletivos. São bens imóveis, conforme dispõem os artigos de 79 a 81 do Código Civil, o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente, considerando-se como imóveis para os efeitos legais, os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram e o direito à sucessão aberta, da mesma maneira, não perdem tal caráter as edificações que, embora separadas do solo, mas que conservem sua unidade, forem removidas para outro local, como também os materiais provisoriamente separados de um prédio, mas que nele serão reutilizados. Por outro lado, aqueles considerados móveis (artigos de 82 a 84 do Código Civil) são os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico- social, sendo considerados como tais: as energias que possuam valor econômico, os direitos reais sobre objetos móveis e ações correspondentes, os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações, assim como os materiais destinados a alguma construção, conservando sua qualidade de móvel, enquanto não empregados e readquirem essa qualidade aqueles originados da demolição de algum prédio. O Código Civil também trata dos bens fungíveis e consumíveis nos artigos de 85 a 86, afirmando que são fungíveis os móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade e consumíveis aqueles cujo uso importa em destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais aqueles destinados à alienação. Enquanto os infungíveis são os considerados em sua individualidade (ex.: uma obra de arte) e os não consumíveis podem ser utilizados sem que se implique em sua destruição imediata. Os bens divisíveis são tratados nos art. 87 e 88 do Código Civil e são aqueles que podem ser fracionados, sem que se altere sua substância, sem que haja diminuição considerável de seu valor, ou prejuízo do uso a que se destinam, podendo se tornar indivisíveis por determinação legal ou por vontade das partes. Uma outra classificação apresentada pelo Código Civil nos artigos de 89 a 91 são os bens singulares e os coletivos. Os singulares são aqueles que, embora reunidos, consideram-se de per si, independentemente dos demais, enquanto os coletivos são os considerados em sua universalidade, ou seja, em sua totalidade. Quanto aos bens classificados como “reciprocamente considerados”, constantes dos artigos de 92 a 97do Codex já mencionado, tem-se os principais e os acessórios. Principal é aquele que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal. 22 Daniella Boppré de Athayde Abram | Mayra Scremin Por fim, os bens são classificados em públicos e privados. Os primeiros são aqueles pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno, os demais são considerados particulares, independentemente da pessoa a qual pertencem (Código Civil, artigos de 98 a 103). 1.5 RESPONSABILIDADE CIVIL A expressão responsabilidade civil representa a obrigação imposta a uma pessoa de ressarcir os danos causados a alguém. Esse tipo de responsabilidade resulta da não observância de um preceito legal, acarretando ao transgressor a responsabilidade de reparar o dano, que por ventura tenha ocorrido. Segundo Stoco (2007, p. 114): A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém pelos seus atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo meio social regrado, através dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de justiça existente no grupo social estratificado. Revela-se, pois, como algo inarredável da natureza humana. A responsabilidade civil, como categoria jurídica que é, tem por escopo a análise da obrigação de alguém reparar o dano que causou a outrem, com fundamento em normas de Direito Civil. Dispõe o Código Civil em seus artigos de 186 a 188 o seguinte: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 188. Não constituem atos ilícitos: - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. O Código Civil apresenta, ainda, no parágrafo único do artigo 927, in verbis: Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 23Direito Empresarial Diniz (2010, p. 34), afirma que: A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ele mesmo praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. Assim, ao se verificar a existência de requisitos essenciais para a apuração da responsabilidade civil, como a ação ou omissão, a culpa ou dolo do agente causador do dano e o nexo de causalidade existente entre o ato praticado e o prejuízo dele decorrente, este deverá ser indenizado. Dessa maneira, para que ocorra a responsabilidade civil, basta que no momento da conduta de alguém, se houve intenção, em caso de dolo, ou se não houve a intenção, mas este agiu com imprudência, imperícia ou negligência, ocorre a culpa (stricto sensu), emergindo daí o dever de indenizar. 1.6 SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DO DIREITO EMPRESARIAL Para compreendermos como o Direito Empresarial surgiu e evoluiu até a forma que tem hoje é preciso traçar um breve histórico do seu surgimento e a evolução do Direito Comercial. O estudo do Direito Empresarial se inicia “na visão das relações primitivas de natureza econômica ou comercial. As civilizações primitivas somente depois de certo momento de sua evolução desenvolveram o comércio” (RIZZARDO, 2012, p. 3). Por isso é importante entender como surgiu e evoluiu o comércio para poder compreender como chegamos ao entendimento do que é o Direito Empresarial que temos hoje. Desde os primórdios da civilização os seres humanos realizavam trocas dos seus bens, desfazendo-se daqueles que lhes eram desnecessários ou excedentes, o que configura a chamada troca direta. Desta prática surgiu, de forma embrionária, o comércio. Porém as trocas indiretas eram muito limitadas, pois as partes precisavam encontram bens que se equivalessem em qualidade e quantidade para que as trocas fossem justas, o que nem sempre era possível. Como afirma Rizzardo, “obviamente algumas coisas eram mais raras, ou demoravam mais para serem produzidas, ou exigiam a confecção com mais esforço” (RIZZARDO, 2012, p. 3). Desta forma surgiu a moeda, que era um instrumento de troca e medida de valor e que ainda tinha a vantagem de ser facilmente transportável. Essa é a origem da economia de mercado e da figura do comerciante, que intermedia as atividades entre quem produz (produtor) e quem compra as mercadorias (consumidor), tendo por objetivo o lucro. Observe a evolução do comércio na FIG. 1. FIGURA 1 – Evolução do comércio Troca direta Atividade ComercialSurgimento da Moeda Surgimento da Economia de Mercado (Neste momento surge a figura do comerciante) Intermediação com objetivo de lucro FONTE: As autoras (2015) 24 Daniella Boppré de Athayde Abram | Mayra Scremin 1.7 CODIFICAÇÃO DO DIREITO COMERCIAL – AS TEORIAS DO ATO DE COMÉRCIO E TEORIA DA EMPRESA Tratando da codificação do Direito Comercial de uma forma bem simples, podemos dizer, com base nos ensinamentos de Rizzardo (2012, p. 6), que o “primeiro diploma de consolidação do Direito Comercial se materializou no Code de Commerce de 1807, elaborado por uma comissão constituída por Napoleão”. Essa legislação adotou a Teoria dos Atos do Comércio. Nesta teoria, “a identificação dos sujeitos das normas de Direito Comercial se dá em função da atividade por ele exercida”. (RIZZARDO, 2012, p. 7, grifo nosso). Porém, a grande maioria dos autores reconhece que a Teoria dos Atos do Comércio é insuficiente diante da diversidade de funções econômicas que a atividade econômica engloba fazendo, assim, surgir a Teoria da Empresa, formulada por Cesare Vivante. Essa teoria surgiu em 1942 com a edição do novo Código Civil italiano. Nessa teoria “Tem-se em conta a prática de uma atividade destinada à exploração econômica, com um fim lucrativo e de forma mercantil na organização das pessoas, seja através de uma sociedade ou da própria firma individual” (RIZZARDO, 2012, p. 8). E por que se adotou essa teoria em substituição à teoria dos atos de comércio? Porque, conforme Rizzardo (2012), a atividade econômica é mais ampla e não se limita apenas aos atos do comércio, principalmente diante de novas atividades que surgiram no início do século XX. A teoria da empresa é adotada pelo nosso direito, conforme se vê na leitura do art. 966 do Código Civil: Art. 966. Considera-se empresário aquele que exercer profissionalmente uma atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. Você compreendeu esta diferença? Para ser considerado empresário, e, portanto, sujeito às normas de direito empresarial, não importa a natureza da atividade (se é produção ou circulação de bens), mas sim a forma, ou seja: “como” a pessoa realiza esta atividade (de forma profissional, organizada e visando lucro). Veremos mais adiante que o Direito Empresarial atualmente tem como foco a figura do empresário, e por isso é muito importante entender bem esse conceito. 1.8 O DIREITO EMPRESARIAL NO BRASIL Agora que já estudamos como surgiu e evoluiu o Direito Empresarial, vamos estudá-lo no âmbito do Direito Brasileiro. 1.8.1 Unificação do Direito Privado no Código Civil de 2002O Direito Empresarial em nosso país passou por inúmeras mudanças, especialmente em 2002, com a publicação do Código Civil. Desde 2003, com a entrada em vigor do Código Civil (diploma legal vigente atualmente) houve, além da revogação do Código Civil de 1916, uma unificação do Direito de Empresa com o Direito Privado, por influência do direito italiano e da teoria da empresa, como estudamos anteriormente. Teoria da Empresa “A identificação do sujeito das normas de direito empresarial não se dá mais em razão da atividade por ele explorada, tal como era na vigência da teoria dos atos do comércio, mas sim em razão da forma como o sujeito explora sua atividade” (RIZZARDO, 2012, p. 8, grifo nosso). 25Direito Empresarial Além disso, houve, por força de expressa disposição de lei, a revogação da primeira parte do Código Comercial (Lei 556/1850), a qual regulamentava os atos de comércio. Como veremos mais adiante, hoje o Direito Empresarial foca na figura do Empresário. Sendo assim podemos, pois, afirmar que, com a entrada em vigor do Código Civil atual, o objeto de estudo do Direito Empresarial é o empresário e que as disposições relativas a este ramo do Direito – que passou a integrar o Direito Civil – encontram-se nesse diploma legal, mas também em outras leis, como a Lei das Sociedades Anônimas, por exemplo, que estudaremos mais adiante. 1.9 AUTONOMIA DO DIREITO EMPRESARIAL Tendo entendido que a existência de normas de Direito Comercial dentro do Código Civil é o resultado da unificação do direito privado, pergunto: O Direito Comercial é autônomo? Seria uma área à parte ou um assunto dentro do Direito Civil? Podemos dizer que o Direito Comercial (ou empresarial) é autônomo, sim. O fato de suas normas estarem no Código Civil não significa que o Direito Comercial é apenas um assunto dentro do Direito Civil, pois tem institutos jurídicos (por exemplo, a empresa e a sociedade) e princípios informadores próprios. Ramos (2013, p. 36) afirma que “o que define a autonomia de um direito, afinal, não é a existência de um diploma legislativo próprio que contemple suas regras jurídicas, mas a existência de institutos jurídicos e princípios informadores próprios”. 1.10 FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL O direito empresarial tem como fontes: Fontes primárias: o Código Comercial, o Código Civil – livro direito de empresa, leis extravagantes (Lei 6.404/76 – Lei das S.A; Lei 9279/96 – Lei de Propriedade Industrial; Lei 11.101/2005 – Lei de recuperação de empresas e falência etc.), tratados internacionais, regulamentos. Fontes secundárias: os usos e costumes, a jurisprudência, a analogia e os princípios gerais do direito, bem como o restante do Código Civil. IMPORTANTE Note que até 2002 o Direito Comercial era normatizado pelo Código Comercial e o Direito Civil pelo Código Civil. O novo Código Civil de 2002 modificou isso, pois em seu conteúdo traz, além da matéria de Direito Civil, o Direito Empresarial, no livro II, intitulado Direito de Empresa. CONCLUSÃO Nesta Unidade você compreendeu o conceito de Direito Empresarial e a importância dessa disciplina no seu dia a dia. Estudamos também que houve a unificação do direito privado no Código Civil de 2002, mas que mesmo assim este ramo do Direito continua a ser autônomo, pois ele tem legislação e princípios próprios. Vamos em frente? 26 Daniella Boppré de Athayde Abram | Mayra Scremin REFERÊNCIAS AGÊNCIA IBGE NOTÍCIAS. IBGE Divulga as estimativas populacionais dos municípios para 2017. 31 Ago. 2017. Disponível em: < https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia- de-noticias/releases/16131-ibge-divulga-as-estimativas-populacionais-dos-municipios-para-2017>. Acesso em: 6 set. 2018. ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e Prática dos títulos de crédito. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 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São Paulo: Quartier Latin, 2003. 31Direito Empresarial UNIDADE DE ESTUDO 2 EMPRESÁRIO INTRODUÇÃO Abordaremos nesta Unidade o conceito de Empresário, que é a figura central do Direito Empresarial. Compreender como se desenvolve esta atividade é de suma importância, pois você poderá se tornar empresário, ou precisará destes conhecimentos para sua atividade futura. 1 CONCEITO DE EMPRESÁRIO Ao contrário do que se imagina, nem todas as pessoas que exercem uma atividade comercial ou prestam serviços serão “empresários” aos olhos da lei. Para ser considerada empresária, é preciso que a pessoa se enquadre nos requisitos e, ao mesmo tempo, não se enquadre nos impedimentos previstos em lei. É isso o que veremos a seguir, ou seja, entenderemos quem pode ser empresário. Veja o que diz o Código Civil: Art. 966. Considera-se empresário, quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Observe na FIG. 1 as condições para ser empresário, contidas no caput do art. 966 do Código Civil. FIGURA 1 - Condições para ser empresário O resultado oriundo da atividade empresária, seja produto ou serviço, deve ser direcionado ao mercado. Não será empresária a atividade que não exponha seu produto ou serviço externamente para terceiros totalmente desvinculados da empresa. Marlon Tomazette (2008, p. 45) exemplifica nesse sentido: “Não é empresário o agricultor que cultive as lavouras para sua subsistência. Já o agricultor que cultiva suas lavouras para vender os produtos rurais a terceiros se caracterizaria como um empresário, porquanto sua atividade está dirigida para o mercado e não para a satisfação das suas próprias necessidades”.E xe rc íc io d e at iv id ad e ec on ôm ic a vo lt ad a p ar a o m er ca d o 32 Daniella Boppré de Athayde Abram - Mayra Scremin FIGURA 1 - Condições para ser empresário A atividade econômica organizada será aquela que, por meio da produção ou circulação de bens ou serviços, pretende-se auferir lucro. Assim, toda a atividade que é realizada com fim lucrativo, ainda que não seja efetivamente obtido, apenas buscado, é atividade econômica. O legislador especifica, no entanto, que essa atividade econômica deve ser organizada, ou seja, cada fator de produção deve ser adquirido e utilizado em função dos demais. Toda atividade econômica organizada assume riscos, haja vista a imprevisibilidade de circunstâncias que podem atingir o produto ou serviço. Crises econômicas locais ou globais, modificação da demanda, novas tecnologias, fortalecimento societário dos concorrentes, entre outras circunstâncias, podem influenciar o negócio e isso é característico da atividade empresária. Em uma panificadora são fatores de produção os elementos necessários para a fabricação do pão, como a farinha e as demais matérias-primas, o padeiro, o vendedor e o caixa, a cozinha e o forno, o balcão e demais bens móveis para o atendimento. Cada um desses elementos tem de ser compatível entre si. De nada adianta um forno imenso se não tenho farinha suficiente ou se esse forno não cabe na cozinha da panificadora. Quando há essa convergência entre os fatores de produção, a atividade econômica está organizada. A ti vi d ad e ec on ôm ic a or g an iz ad a Ao dizer profissionalmente, o legislador pretende apontar como requisito a habitualidade, não será empresária a atividade esporádica, eventual, descontínua. Bruno Mattos e Silva (2007) adverte, ainda, quanto aos casos de sazonalidade, os quais não perdem o caráter profissional. Aquele que tem imóveis no litoral e passa todo o verão locando os imóveis será empresário, não ficando descaracterizada a atividade pelo fato de ocorrer apenas no verão, visto que, nesse período, ela é habitual, frequente e constante.Pr ofi ss io na lis m o (H ab it ua lid ad e) FONTE: As autoras (2015) Pela leitura do texto legal podemos observar que sempre que alguém for explorar uma atividade econômica privada, para o habitual exercício de atividade econômica privada, o habitual exercício da produção ou de circulação de bens ou de serviços, será considerado um empresário. Todavia, há ainda o parágrafo único do art. 966 do Código Civil, que em início apresenta os casos excepcionais, pois, ainda que sejam preenchidos os requisitos do caput desse artigo, alguns profissionais não serão empresários, por exclusão legal, isto é, porque a lei diz que não são empresários. É o que ocorre com os profissionais intelectuais, de natureza artística, literária ou científica. Em regra, portanto, essas pessoas não são empresárias, mesmo que desenvolvam atividade econômica organizada de forma profissional para produção ou circulação de bens ou serviços. Há, contudo, mais uma hipótese, prevista na segunda parte do parágrafo único, previsto no com art. 966: Art. 966, § único do CC. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 33Direito Empresarial 1.1 ELEMENTO DE EMPRESA Alfredo Assis Gonçalves Neto explica que o termo elemento de empresa vem da ideia de elemento de atividade organizada em empresa, ou seja, é uma parcela dessa atividade, e não a atividade em si: Penso, por isso, que a única possibilidade de enquadrar a atividade intelectual no regime jurídico empresarial será considerando-a como parte de um todo mais amplo apto a se identificar como empresa – ou, mais precisamente, como um dos vários elementos em que se decompõe determinada empresa (GONÇALVES NETO, 2007, p. 70). Seriam exemplos, segundo Alfredo Assis Gonçalves Neto, “(i) o contabilista em uma atividade de consultoria, cujos contornos exigem auditoria, marketing etc., (ii) o médico que agrega à prática da medicina um SPA, onde seu paciente oferece repouso e refeições, (iii) o veterinário que, além do seu ofício, hospeda animais na viagem de seus donos, (iv) o engenheiro calculista que mantém um empreendimento de construção civil, (v) um técnico de informática que agrega a sua atividade intelectual a exploração comercial de softwares e assim por diante”. (GONÇALVES NETO, 2007, p. 70) Nesses casos, portanto, a atividade dessas pessoas é empresária, visto que compõe um dos elementos de empresa. 2 REQUISITOS PARA SER EMPRESÁRIO Além dos requisitos estudados anteriormente, que dizem respeito à forma pela qual a pessoa exerce sua atividade, existem outros que se referem à pessoa do empresário. Vimos que o empresário é pessoa física ou jurídica que realiza de forma profissional atos de produção de bens ou serviços, ou a comercialização de bens ou de serviços, sempre com o objetivo de lucro. IM PO RT A N TE O empresário é quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada, através do estabelecimento empresarial, para o efetivo exercício da produção ou circulação de bens ou de serviços, ou seja, é o titular da empresa, aquele que corre o risco inerente à atividade empresarial. Por isso, para iniciar a exploração de atividade empresarial, são necessários alguns requisitoslegais: a capacidade civil, a inexistência de impedimento e o registro no órgão competente, que serão detalhados a seguir: 2.1 CAPACIDADE CIVIL A capacidade civil da pessoa é condição essencial para que o negócio jurídico seja válido. Veja o que estabelece o art. 972 do Código Civil: Art. 972. Podem exercer atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos. 34 Daniella Boppré de Athayde Abram - Mayra Scremin Poderão ser empresárias todas as pessoas capazes e que não sejam legalmente impedidas. É preciso, portanto, que o empresário tenha capacidade civil plena, nos termos do art. 5° do Código Civil. O art. 5° do Código Civil também prevê as hipóteses de cessação da menoridade, ou emancipação. Nesses casos, dada a cessação da incapacidade, a pessoa terá o direito de estabelecer- se empresarialmente. Leia o seu Código Civil e relembre as hipóteses de incapacidade absoluta e relativa, previstas nos art. 3° e 4°, respectivamente. Nesses casos, a pessoa não poderá sozinha desenvolver sozinha atividade empresária. Leia também o art. 5º, do mesmo Código, em que estão previstas as causas de cessação desta incapacidade. Se não tiver em mãos um exemplar do Código Civil, busque o texto completo no link: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm Como visto acima, o menor não pode ser empresário individual, pois lhe falta a capacidade. Porém, o próprio Código Civil, em seu art. 974, permite a continuidade da empresa em casos específicos, observe: Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. § 1º Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros. § 2º Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar no alvará que conceder a autorização. § 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos: I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade; II – o capital social deve ser totalmente integralizado; III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais. (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011) Como explica Mamede (2013, p. 87), “permite-se ao incapaz que prossiga na exploração da empresa que (1) era por ele exercida antes de ser interditado ou (2) que recebeu em sucessão, fazendo-o por meio de representante ou devidamente assistido (art. 974 do Código Civil)”, ou seja, havendo incapacidade superveniente do empresário, nestas duas hipóteses poderá haver continuidade das atividades da empresa por meio de representante legal. 35Direito Empresarial A interdição do sócio ou a sucessão de quotas ou ações trarão efeitos específicos no caso de sociedade empresária de acordo com o tipo societário, conforme explica Gladston Mamede (2013, p. 87): Em se tratando de sociedade de pessoas (intuitu personae), cria-se uma instância preliminar: a manutenção da sociedade com a presença do sócio interditado ou do sucessor (incapaz ou não) exige deliberação favorável dos demais sócios. Se não aceitam, a quota ou quotas serão liquidadas, procedimento que obrigatoriamente terá a intervenção do Judiciário e a supervisão do Ministério Público, face ao interesse de incapaz. Já em se tratando de sociedade intuitu pecuniae (a exemplo das Sociedades Anônimas), a situação é diferente: Em se tratando de sociedade intuitu pecuniae, essa discussão deverá ser afastada. Em fato, se é possível aferir do contrato social ou mesmo da realidade societária que os sócios não são encarados por sua atuação pessoal, mas como investidores na sociedade, a pretensão de excluir o sócio interditado ou o sucessor incapaz constituirá um abuso de direito que deverá ser rechaçado pelo Judiciário, atendendo ao curador ou ao Ministério Público, preservando os interesses e os direitos do incapaz. (MAMEDE, 2013, p. 87). Peculiar também é a situação do casal. A princípio, o casal pode constituir sociedade, salvo se o regime de bens do casamento for separação obrigatória (veja o art. 1.641 do Código Civil) ou comunhão universal de bens, nos termos do art. 977 do Código Civil, nesses casos não poderão ser sócios. Por fim, convém notar a situação do empresário rural. Já dissemos que tanto o empresário individual como a sociedade tem a obrigação de se registrar no órgão competente. Excepcionalmente, o Código Civil dispõe, no art. 971, que o empresário rural não é obrigado a fazer o registro. Para ele é uma faculdade, ou seja, ele pode ou não fazer o registro. Todavia, se fizer, será equiparado ao empresário, com todos os efeitos daí decorrentes. 2.2 IMPEDIMENTO Além dos aspectos abordados, ou seja, a forma como a atividade empresarial é exercida e a capacidade civil da pessoa, para que esta possa exercer a atividade como empresária é necessário ainda que não haja impedimento. O impedido é aquele a quem a lei veda a atividade empresarial, como os funcionários públicos civis da União (Lei 8.112/1990), os servidores militares da União (Lei 6.880/80, art. 29), os policiais militares dos Estados*, funcionários públicos dos Estados e Municípios*, magistrados (LC 35/1979), membros do Ministério Público (LC 75/1993), leiloeiros (Decreto 21.981/1932), chefes do Poder Executivo*, falidos não reabilitados (Lei 11.101/2005), condenados por crime falimentar (Lei 11.101/2005), condenados por crimes que vedem o acesso a cargos públicos, enquanto perdurarem os efeitos da condenação*, interditados por decisão judicial (Código Civil, arts. 3º, II e 1.767), cônsules, nos seus distritos, salvo os não remunerados*, estrangeiros, sem visto permanente (Lei 6.815/1980, art. 99), estrangeiros naturais de países limítrofes, domiciliados em cidade contígua ao território nacional*. * Segundo o Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul. Manual de atos de registro do comércio. Instrução Normativa nº 97, de 23-12-03. Aprova o Manual de atos de registro de empresário. Rio Grande do Sul: Jucergs, 2009. p. 68-344. Disponível em: <http://www.jucergs.rs.gov.br/downloads/Manual%20do%20Registro%20do%20Com%C3%A9rcio%20-%20 2009.pdf>. Acesso em: 29 jun. 2015. 36 Daniella Boppré de Athayde Abram - Mayra Scremin 2.3 REGISTRO NO ÓRGÃO COMPETENTE Além da capacidade civil e da inexistência de impedimento para que a pessoa ou sociedade possa ser considerada empresária, é necessário o registro no órgão competente, ou seja, o Registro Público de Empresas Mercantis. Como explica Mamede (2013, p. 78): Ainda assim, para a caracterização jurídica (e não apenas de fato) da condição de empresário, é obrigatória a inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, antes do início das atividades negociais (art. 967 do Código Civil). [...] nesse ato há criação de outra pessoa: uma pessoa jurídica, distinta da pessoa dos sócios. IM PO RT A N TE É este registro que torna a sociedade personificada e lhe confere personalidade jurídica, como veremos mais adiante. 3 ESPÉCIES DE EMPRESÁRIO O Direito Empresarial brasileiro prevê duas formas de empresário, empresário individual e sociedades empresárias, exemplificadas no QUADRO 1: QUADRO 1 – Espécies de Empresário Pessoa física Uma pessoa física sozinha é considerada empresário individual. Quando for uma pessoa física, o empresário deverá ter plena capacidade civil e estar legalmentelivre para praticar atividades empresariais. Sociedade de pessoas Se houver pluralidade de pessoas, elas constituirão uma sociedade empresária. Quando se tratar de uma sociedade de pessoas, os atos empresariais serão praticados em nome da pessoa jurídica. FONTE: As autoras (2015) Vejamos cada um desses tipos separadamente. 3.1 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL Já estudamos que o empresário é a pessoa que organiza uma atividade econômica, a fim de produzir ou fazer circular bens ou serviços. Contudo, tal exercício realizado na pessoa física, de forma única e exclusiva, recebe o nome de individual. Ou seja, o empresário individual é a própria pessoa física que utiliza seu próprio nome no exercício da atividade empresarial. Veja o que diz o art. 1.156 do Código Civil: Art. 1.156. O empresário opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade. 37Direito Empresarial A firma é o nome que este empresário adota para ser conhecido na sua atividade empresarial. Em consequência, a firma individual utilizada pela pessoa física em seu estabelecimento empresarial, não pode ser diferente da forma de seu nome civil. Um empresário que se chama Marcos Peixoto poderá usar como firma: Marcos Peixoto ou M. Peixoto. Então, no nosso exemplo, podemos imaginar que a firma poderia ser: “Marcos Peixoto Marceneiro”. Assim: Empresário individual = → Pessoa física capaz. → Atua em seu próprio nome civil. → Explora com habitualidade atividade econômica organizada para a produção de bens ou serviços, tendo por objetivo o lucro. 3.2 SOCIEDADES EMPRESARIAIS No início desta Unidade vimos que as sociedades empresariais nascem do esforço de várias pessoas em nome de um objetivo comum, o lucro. O Código Civil, em seu art. 981, traz o conceito legal de sociedade: Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados. Da análise do artigo legal, podemos ver que são duas as principais características das sociedades empresariais: a reunião de pessoas e o objetivo de lucro. Estudaremos mais a fundo as sociedades na Unidade 4. IM PO RT A N TE Em ambos os casos (empresário individual e sociedades empresariais) deverá ser realizado o registro, feito de acordo com a Lei 8.934/94, “servindo mesmo como meio para externar o intuito de empresa ou intenção empresária” (grifo nosso). Com o registro mercantil, qualifica-se a atividade negocial como empresária e a ela se atribui o respectivo regime jurídico, com seus ônus e seus benefícios” (MAMEDE, 2013, p. 57). 38 Daniella Boppré de Athayde Abram - Mayra Scremin PRATICANDO CONCLUSÃO Pesquise um ato constitutivo de uma firma individual e aponte os principais pontos que devem constar neste documento. Vimos nesta Unidade que o que caracteriza a pessoa como empresária é a forma como ela exerce a atividade empresarial, e que para exercê-la é necessário ter capacidade civil e não estar impedido.
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