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Objetivo Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: • Compreender o estudo do Direito aplicado à Gestão com uma visão geral dos diversos ramos de Direito. Conteúdo Programático Esta unidade está dividida em: • Aula 1 - Introdução e fontes do Direito • Aula 2 - Os ramos do Direito e a Gestão • Aula 3 - O Estado Democrático de Direito no Brasil Rota de Aprendizagem A Rota de Aprendizagem apresenta as ações que devem ser realizadas nesta unidade. Utilize a Rota de Aprendizagem para planejar e gerir, com eficiência, as suas ações e o seu tempo de estudo. Isso facilitará a construção do seu conhecimento e aumentará a possibilidade de que você tenha um bom desempenho nas avaliações. Clique aqui para acessar a Rota de Aprendizagem. Antes de começarmos nossos estudos, observe o organograma das fontes do Direito para uma visão objetiva desta Unidade. https://ead.uva.br/graduacao/DISCIPLINAS/DEF/DAG/RA/G_DAG_RA_U1.htm Aula 1Introdução e fontes do Direito Nesta aula, iremos apresentar a classificação das fontes do Direito e seus mecanismos de composição. Uma visão introdutória do Direito O Direito é uma constante na vida humana. Desde que o homem vive em sociedade (o que é a sua condição natural), revela-se imprescindível a organização da vida social, já que os indivíduos, convivendo coletivamente, deixavam de poder exercer todos os atos inerentes à tutela de seus interesses, limitados que eram pelos interesses dos demais. Essa organização da vida social serviu originariamente para garantir a própria sobrevivência do grupo, com a defesa de seus integrantes de ameaças exteriores, evoluindo para o próprio regramento da extensão das prerrogativas e das obrigações de cada um deles, enquanto integrante de um núcleo, de uma coletividade definida. Assim, vemos em todas as sociedades a presença do Direito – talvez não como o concebemos em nosso tempo e em nossa sociedade, mas certamente jamais uma coletividade humana prescindiu de um conjunto de normas e de valores que determinassem o que era considerado aceitável e o que, pelo contrário, era considerado desviante – e aí temos o embrião do Direito. O Código de Hamurabi é a compilação de um código de leis escrito quando ainda prevalecia a tradição oral, ou seja, em época em que as leis eram transmitidas oralmente de geração em geração. Isso demonstra que o interesse pelo estudo do Direito não se limita – ou não deveria limitar-se – àqueles profissionais cuja formação demanda a vida forense, como os advogados, os magistrados, os membros do Ministério Público e demais operadores do Direito cujo trabalho podemos diariamente acompanhar até mesmo pela mídia; pelo contrário, o conhecimento do Direito se revela fundamental inclusive para o exercício da cidadania, já que todo cidadão precisa conhecer seus direitos e suas obrigações – e, para isso, precisa conhecer as fontes e a estrutura de nosso sistema jurídico. Tal conhecimento – e a habilidade para analisar o seu conteúdo – se revela ainda mais essencial ao gestor, porque ele será responsável pela condução não apenas de sua própria existência e de seu próprio patrimônio, mas também pela condução das economias, dos patrimônios, das carreiras de outras pessoas que confiam em sua capacidade e experiência – seja ele atuante em algum Governo ou em uma empresa pública, seja na esfera privada de uma empresa comercial ou empresarial, por exemplo. Agora que já apresentamos uma pequena introdução ao Direito e à necessidade de seu conhecimento pelo cidadão e pelo gestor, passemos à análise de suas fontes, seus ramos e sua estrutura. Fontes do Direito O Direito não nasce aleatoriamente em uma sociedade, tampouco surge de um fato isolado, que importe apenas a certo e restrito grupo de pessoas durante um tempo determinado. Ele é o resultado de séculos, às vezes milênios, de convivência social, e representa os anseios, os ideais, os valores de um determinado povo em seu atual estágio civilizatório; mas, para além disso, ele pode representar o substrato mínimo de valores comuns a todos os componentes do gênero humano, indicando o grau civilizatório a que chegamos enquanto Humanidade (quando terá natureza própria e supranacional). Mapa do império Romano por volta de 117. A lei romana, junto com a língua latina, foram os dois principais elementos de coesão cultural do império. Vê-se, portanto, que o Direito não se limita – ou não poderia limitar-se – à criação de uma lei ou à assinatura de um contrato. Da mesma forma, não é produto exclusivo da vontade de um legislador ou mesmo de uma coletividade em especial, nem mesmo do ato de uma autoridade de qualquer um dos Poderes constituídos. Ele é mais, muito mais do que isso. Representa as nossas aspirações e anseios, nosso senso moral e ético, nossos sentimentos e nossas expectativas enquanto sociedade e demonstra não apenas o amadurecimento de nossa democracia como o próprio grau civilizatório a que chegamos. Nasce, portanto, de fontes comuns a todos os povos, em qualquer de seus momentos históricos. São fontes do Direito: a lei, a jurisprudência e a doutrina (de caráter mais específico), mas também a analogia e a equidade, os usos e costumes do povo. Vamos, agora, analisar cada um deles. A Lei É talvez, atualmente, a fonte do Direito por definição e excelência (ao menos certamente será aquela mais visível, pela própria publicidade que lhe é inerente) em nossa sociedade e representa o resultado final do processo de elaboração legislativa. No sistema de tripartição dos Poderes em que vivemos – com os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário dotados de atribuições e competências diversas, todas elas definidas no texto constitucional – a tarefa da elaboração das leis toca exclusivamehte ao Poder Legislativo e, portanto, apenas a ele cabe legislar, vale dizer, votar e promulgar as leis. É certo que os projetos de lei podem partir dos demais Poderes ou mesmo da própria iniciativa popular, mas o seu trânsito pelo Poder Legislativo não pode ser suprimido, sob pena da violação de um dos fundamentos de nosso Estado e, assim, da nulidade ou inexistência do ato praticado. As leis obedecem a uma hierarquia, sendo a mais importante delas e a mais fundamental a Constituição Federal, na qual estão dispostos os fundamentos da Nação e seus elementos mais essenciais. A Constituição é fruto de um Poder específico, a que se denomina Poder Constituinte, e tem por finalidade apenas a sua elaboração, dissolvendo-se tão logo termine. Este Poder não tem qualquer restrição, em virtude da natureza do texto que lhe compete elaborar, no que se distingue dos demais Poderes, ditos Constituídos – justamente pela sua previsão no texto constitucional. Exemplificando, no Brasil temos três Poderes Constituídos, já anteriormente mencionados: Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – criados pela Constituição Federal de 1988, obra dos trabalhos do Poder Constituinte, eleito para tanto e inconfundível com aqueles Poderes que concebeu na Carta Constitucional. Além da Constituição Federal temos, resumidamente, leis federais, estaduais e municipais, conforme sejam promulgadas pelos respectivos Poderes Legislativos. A abrangência e o alcance destas leis correspondem à competência territorial de cada uma dessas partições da Federação, assim, por exemplo, uma lei federal terá vigência em todo o território nacional, uma lei estadual do Rio de Janeiro terá vigência em todo o território do estado, enquanto uma lei municipal de Niterói terá vigência nos limites territoriais deste município. Sessão final de trabalho da Assembleia Constituinte, em 2 de setembro de 1988, após o encerramento da votação, com aprovação do texto final da nova Constituição do país. Fonte: Agência Brasil Eficácia da leino tempo A lei – assim considerada a fonte do direito positivo e o resultado do processo de elaboração legislativa – não é uma constante imutável, eterna e perene, dissociada da realidade social e humana e presente em qualquer momento histórico ou político. Nisso reside uma das características mais essenciais e igualmente mais desconsideradas das leis como ora as concebemos: a sua limitação no tempo e no espaço, ou seja, a determinação temporal e espacial de sua aplicação e obrigatoriedade. Diferem, assim, fundamentalmente, das leis naturais – que não possuem a sua mesma natureza – porque estas são evidentemente imutáveis, não se submetendo a lei da gravidade a qualquer contexto social ou político da humanidade, por exemplo (contextualizando: independentemente do sistema ou regime de governo de um País, independentemente de sua maior ou menor atividade econômica, jamais um objeto atirado para cima deixará de cair: a lei natural, a lei da física, é imutável e embora se diga que o próprio tempo é relativo tal consideração não altera a composição das leis naturais, tampouco aproxima a sua natureza das leis do direito positivo). Temos que o momento inicial de validade e obrigatoriedade de uma lei, como anteriormente pudemos comentar, é o momento de sua promulgação, que se dá via de regra com a publicidade de sua divulgação pela imprensa oficial; vimos, ainda, que a lei pode passar a surtir seus efeitos após um prazo por ela própria estabelecido, denominado vacância da lei. Importa agora sabermos quando a lei deixa de surtir os seus efeitos. Ou seja, quando a lei deixa de ser oponível, quando deixa de integrar o sistema de Direito. Em regra, as leis possuem duração indeterminada. Pressupõe-se que deixarão de surtir seus efeitos apenas quando foram revogadas (o que pode se dar expressa ou tacitamente), e isso deriva da necessidade de estabilidade e segurança nas relações sociais, que não existiriam se as leis fossem sempre concebidas com prazos de validade previamente determinados. Esse fato demonstra a relevância do Poder Legislativo e a seriedade de sua função: as leis não podem ser criadas senão sob o pressuposto de corresponderem ao estágio civilizatório atingido pela sociedade cuja vida regulamentam, e este não é percebido por prazo determinado, nem tem data prefixada para modificação – e por isso mesmo a promulgação de leis casuísticas, que apenas atendam a interesses imediatos, principalmente quando de titularidade limitada a certos segmentos sociais, não é a melhor técnica de elaboração legislativa, já que a sociedade não evolui na velocidade dessas demandas, ainda quando legítimas. É claro que excepcionalmente a lei pode determinar um prazo ao cabo do qual cesará sua vigência, mas essa não é e nem poderia ser a regra. Essencialmente a lei é revogada quando uma lei posterior de mesma hierarquia a revogue ou disponha de forma diversa sobre a mesma matéria; por isso geralmente no último dispositivo ou artigo de qualquer texto legal encontramos uma determinação que atende a uma fórmula genérica, segundo a qual “esta lei revoga todas as disposições em contrário”, importando em que, na data de sua entrada em vigor, deixarão de surtir efeitos aquelas normas expressamente revogadas. Mas nem sempre há essa disposição literal, sendo também usual e de igualmente boa técnica legislativa a revogação tácita, que se dá nas hipóteses em que, mesmo não dispondo expressamente a revogação de leis anteriores, a lei nova regulamenta inteiramente a relação que era objeto também da lei anterior. Por exemplo: a nova lei de locação de imóveis, mesmo que não o afirme textualmente, revogará a lei anterior que trate desta mesma matéria, já que, evidentemente, não podem subsistir dois sistemas legais distintos e contraditórios regulamentando uma mesma hipótese social. A irretroatividade da lei – ou seja, o fato de uma lei não poder viger sobre atos ou negócios praticados antes de sua vigência – é a regra para a sua eficácia, admitindo-se excepcioná-la apenas quando isso se der em benefício do réu, como, por exemplo, na retroatividade da lei penal quando se deixa de considerar criminosa a conduta praticada – e isso se fundamenta no próprio interesse social, já que não teria qualquer finalidade manter encarcerado, por exemplo, aquele que tenha cometido um ato que deixe de ser considerado criminoso em momento posterior ao seu julgamento. Eficácia da lei no espaço Assim como é importante analisarmos a aplicação da lei no tempo, não menos importante será o conhecimento de sua validade em dimensão espacial. Vimos anteriormente que nosso Estado possui três esferas de administração pública – as esferas federal, estadual e municipal – representadas respectivamente pela União, pelos estados e municípios; vimos também que em todas essas esferas há Poderes Legislativos com competência determinada e exclusiva sobre as suas respectivas dimensões territoriais. Essa é a mais clara hipótese dessa nossa análise: a própria divisão administrativa do Estado brasileiro já sinaliza para a eficácia da lei no espaço quando determina existirem Legislativos nas esferas federal, estadual e municipal, o que pressupõe logicamente a possibilidade de existirem leis que vigorarão nos limites dos respectivos estados e municípios, ou que sejam aplicáveis em todo o território nacional, conforme sejam leis estaduais, municipais ou federais. Nosso País é uma República Federativa em que determinadas matérias, por sua relevância, são de competência legislativa apenas federal, ou da União, como, por exemplo, as normas penais; outras serão de competência dos estados e, finalmente, outras ainda serão de competência municipal, segundo dispõe o próprio texto da Constituição Federal – e são exemplos matérias tributárias, em que se determina que alguns tributos terão sua legislação definida e serão arrecadados pela União (como o imposto sobre a renda), outros pelos estados (como o imposto sobre a propriedade de veículos automotores, ou IPVA) e outros, ainda, pelos municípios (como o Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana, ou IPTU). Então, qual será o limite da abrangência espacial de uma lei? A resposta é simples: este limite será o limite de seu território, assim compreendido como o espaço localizado no interior de suas fronteiras. Em essência, temos que a lei federal adere a toda a superfície de nosso território, a lei estadual adere a toda a superfície do território do estado e a lei municipal à superfície territorial do município. Essa realidade nem sempre é isenta de conflitos, sendo comum se falar de “guerras fiscais” ou de “barreiras fiscais”, por exemplo, que nada mais representam senão o aspecto visível da aplicação das leis no espaço: quer entre países (como nos casos das lutas de alíquotas tributárias de exportação ou importação conforme determinado país proteja os interesses de seus produtores ou fabricantes, por exemplo), quer entre estados e municípios, como já pudemos observar em diversos momentos. Na verdade, a eficácia espacial da lei é de vital importância para qualquer administrador público, porque importa até mesmo no planejamento de políticas para determinados segmentos sociais ou para estratégias de crescimento. Como, por exemplo, as tarifas menores ou maiores de exportação ou importação de tecnologia ou de commodities segundo o mercado internacional no período, ou ainda as subvenções e incentivos públicos a certas atividades consideradas de interesse nacional, como, por exemplo, o estímulo à produção agrícola etc. Tamanha pode ser a relevância dessas disputas que não raro somos informados de disputas entre países em organizações multinacionais como a Organização Internacional do Comércio, sobre determinadas políticas que atingem os interesses de seus parceiros comerciais.A Jurisprudência Por jurisprudência entende-se o conjunto das decisões proferidas pelos Tribunais sobre determinados assuntos, e compõe as fontes clássicas do Direito, ao lado da lei e da doutrina, porém não sendo de menor importância dentro dos meios de sua formação. Sabemos que nosso Estado compõe- se de três Poderes Constituídos, que são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Pois bem, já vimos que ao Poder Legislativo toca legislar, ou seja, é o Poder competente para elaborar as leis; todavia, o Legislativo não as aplica. Essa aplicação cabe, com exclusividade, ao Poder Judiciário, que é composto, novamente, na forma determinada pela Constituição Federal (em nosso caso, a de 1988). Embora seja exclusivamente competente para julgar, vale dizer, para interpretar a lei e aplicá-la a um determinado caso concreto (por exemplo, determinar que o Código de Defesa do Consumidor deve ser aplicado na hipótese de defeito em determinado produto, impondo a sua troca ou a devolução do valor pago ao cliente), o Poder Judiciário não atua discricionariamente – suas decisões devem ser baseadas não apenas na lei mas, ainda, nos demais elementos componentes de nosso sistema de Direito, e que englobam todas as suas outras fontes. A reunião dos julgados dos Tribunais é que se chama de Jurisprudência e demonstra não apenas como o Direito é interpretado por seus aplicadores ao longo do tempo mas, também, demonstra o grau de complexidade a que chegou determinada sociedade. Assim como quanto às leis, há hierarquia na Jurisprudência, e essa hierarquia corresponde, igualmente, à competência dos Tribunais. A composição do nosso Poder Judiciário inclui, em brevíssima síntese não restritiva: • o Supremo Tribunal Federal (a quem cumpre a interpretação da Constituição Federal); • os Tribunais Superiores (Superior Tribunal de Justiça, Superior Tribunal Militar, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral); • os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais; • os Tribunais Regionais do Trabalho e os Juízes Trabalhistas; • os Tribunais Regionais Eleitorais; e • os Tribunais de Justiça dos Estados e os Juízes Estaduais, não havendo Poder Judiciário de competência municipal. Compõem ainda o Poder Judiciário os advogados e os Juízes de Paz. Os julgamentos são públicos e suas conclusões publicadas na imprensa oficial; essas conclusões, de fato, correspondem ao entendimento dos Tribunais sobre as matérias que foram objeto de seu julgamento, e compõem a Jurisprudência. A importância desta como fonte de Direito reside na necessidade da uniformização, tanto quanto possível, dos entendimentos dos Tribunais sobre os eventos da vida social, garantindo, assim, a maior segurança possível ao jurisdicionado (que é aquele subordinado ao Direito de um determinado Estado), que, a partir de seu conhecimento, pode determinar como a Justiça julgará a sua pretensão. A Doutrina Juntamente com a Lei e a Jurisprudência, temos a Doutrina como uma das fontes clássicas do Direito. Compõem a Doutrina os tratados, livros, artigos e demais obras intelectuais dos estudiosos do Direito, também chamados juristas, que representam as diversas visões científicas sobre as matérias que envolvam noções humanas, sociais e jurídicas. Sua importância reside no fato de ser o verdadeiro repositório dos estudos sobre as diversas áreas do Direito e seus aspectos técnicos, sociais, políticos e humanos, de tal forma que os advogados, julgadores, legisladores, analistas e demais operadores do Direito podem encontrar, em seu bojo, orientações fundamentadas tecnicamente sobre matérias que analisem. Vale destacar que, em sede doutrinária, o autor possui uma liberdade que via de regra não possuirá como advogado ou juiz, por exemplo, uma vez que não se encontra, como doutrinador, limitado pelos fatos de um processo. A doutrina é fonte fundamental do Direito justamente porque oxigena a sua teoria, proporcionando a seus estudiosos e operadores a análise de uma infinita variedade de visões sobre os seus institutos, auxiliando de maneira essencial a construção do pensamento jurídico e a sua elevação ao patamar civilizatório atingido pela sociedade cuja convivência se presta a regulamentar. Mecanismos Interpretativos A analogia A analogia se mostra uma fonte do Direito como um mecanismo de integração em que se aplica um exemplo para constituir um raciocínio, vale dizer, entende-se que a solução de determinado problema deve ser empregada para solucionar outro problema que lhe seja semelhante. Dessa forma, o processo analógico não representa senão um mecanismo para solução de um caso concreto para o qual não existe uma norma jurídica preexistente. Todavia, não se deve empregar o raciocínio analógico na hipótese em que a norma que se pretenda aplicar possua natureza eminentemente restritiva de direitos, como, por exemplo, a matéria da legislação criminal, em que o resultado poderá ser a restrição à liberdade, por exemplo. É evidente que a aplicação da analogia não poderá se dar indiscriminadamente, exigindo atenção à análise de elementos subjetivos que são a norma geral do Direito, o ramo do Direito ao qual pertence a norma em exame e as suas próprias características, sem o que a aplicação da analogia pode tornar-se despótica. https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-1.htm#more-info-3 https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-1.htm#more-info-4 https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-1.htm#more-info-4 A equidade Importa a equidade na adaptação de uma regra a uma situação em concreto, com a finalidade de melhor aplicar o Direito, vale dizer, empregando os critérios da justiça e da igualdade; tem por finalidade aproximar a norma jurídica da realidade da vida, uma vez que é impossível pretender impor a aproximação da vida humana à norma, abstratamente estabelecida. É justamente porque a vida humana e as relações sociais não derivam do conteúdo das normas de Direito que a equidade se revela um imprescindível instrumento de interpretação da lei e de aplicação da Justiça, pois vem a proporcionar mecanismos de aplicação adequada aos casos concretos, vivenciados no cotidiano das pessoas. Os usos e costumes Finalmente, os usos e costumes de um povo são fontes do Direito na medida em que demonstram o seu estado civilizatório, e os princípios considerados intrinsecamente relevantes para o exercício da vida em coletividade, mesmo quando não estejam previstos em qualquer norma legal ou código de conduta – talvez até mesmo pela desnecessidade dessa previsão formal, em razão do estabelecimento de seu uso. A reiteração de um ato, de um determinado comportamento, torna-se um hábito – isso em planos sociais ou mesmo individuais, embora nos ocupemos especificamente dos primeiros -, esse hábito pode vir a tornar-se um costume na medida em que a sua repetição se torne mandatória, ou seja, na medida em que os indivíduos entendam ser fundamental a continuidade de sua prática – hipótese em que o que era um simples hábito se torna revestido de consuetudo, tornando-se regra de conduta, norma de comportamento, mesmo quando não escrita. O Direito não se compõe unicamente pelas leis, resultantes do processo de elaboração legislativa. Outras fontes criam o Direito, regulamentando a convivência em sociedade. Essas fontes também geram Direito na medida em que criam normas de comportamento que passam a compor as regras de convivência em sociedade. Um exemplo são os usos e costumes do povo, que criam normas não escritas respeitadas socialmente como parte do SistemaJurídico, embora não estejam, necessariamente, elencadas no direito positivo ou nos textos legais. Assim, é certo que a vida social não se regerá unicamente pelas leis, decretos e demais normas escritas e codificadas, mas sim também por uma grande diversidade de fatores que se alteram na composição do corpo social. Para aprofundar o conhecimento dessa matéria estude os tópicos 11 a 15 do livro Introdução do Direito, de Clareci Mezzomo, constante da bibliografia de apoio. Vídeo da Unidade Para se aprofundar sobre os ramos do Direito e suas interseções na atividade empresarial, assista ao vídeo da unidade. Se preferir, faça o download do áudio (mp3 compactado) deste vídeo clicando aqui. https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-1.htm#more-info-5 https://player.vimeo.com/video/341571497 https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/audio/G_DAG_U1_mp3.zip Aula 2Os ramos do Direito e a Gestão Definição do Direito Como já vimos, o Direito – numa acepção restrita, considerado apenas como o conjunto de normas positivadas – tem origem nas leis, que são atos oficiais promulgados pelo Poder Legislativo – resultado da elaboração do processo legislativo – e que atendem a requisitos como a publicidade, a forma, a obediência ao texto constitucional, além de possuírem uma hierarquia, compondo um sistema estruturado sob certa composição prevista constitucionalmente. Também aprendemos que compõem o Direito, em sentido amplo, ou numa acepção mais inclusiva (e ampliando a visão para tratá-lo como um sistema), outras fontes que o constituem, juntamente com as leis, todavia sem sua rigidez e sem a necessidade de obediência às suas formalidades, ritos e normas procedimentais, que são a analogia, a equidade, os usos e costumes e, finalmente, são fontes de Direito, ainda, o conjunto das decisões dos Tribunais (a Jurisprudência) e os entendimentos expostos nas obras dos estudiosos, ou a doutrina. Nesta aula vamos analisar como se organiza e estrutura o Direito em seus planos positivos, ou seja, como se dividem, dentro do chamado Sistema Jurídico – que é o conjunto de todo o Direito de um determinado povo, seja oriundo de qualquer das suas fontes –, os diversos conjuntos de normas jurídicas que regem a vida dos cidadãos e os negócios das empresas. Seu conhecimento é fundamental porque, em primeiro lugar, o cidadão deve conhecer seus direitos e deveres e isso pressupõe o conhecimento das estruturas políticas e sociais do Estado em que vive, e isso pressupõe o domínio das estruturas judiciárias; e, depois, porque não se admite que uma empresa vá interagir negocialmente desconhecendo as estruturas de decisão nas diversas matérias de sua ação e abrangência empresariais. A mais importante das normas jurídicas de qualquer Estado é a Constituição. Como sua própria denominação sugere, é o texto fundamental do ordenamento jurídico, político, econômico e social de um País e, de todos os Diplomas Legais (ou textos legais) de qualquer ordenamento organizado, sempre será o primeiro e mais importante. Todos os demais derivam dele e todos devem respeitar a sua orientação e o sistema por ele seguido. A Constituição é promulgada por um Poder especialmente reunido para sua elaboração, um Poder diverso de todos os demais – ou seja, um Poder diverso dos Poderes já analisados, Executivo, Legislativo e Judiciário. O deputado Ulysses Guimarães mostra a Constituição brasileira, promulgada em 1988. Fonte: Agência Brasil O Poder Constituinte, por sua própria natureza – enquanto Poder reunido para a elaboração do texto fundamental de um Estado – não possui qualquer limitação, podendo, literalmente, dispor sobre a formação, a organização, as estruturas e os princípios não apenas do Direito de um país, mas, também, do próprio Estado em toda e qualquer uma de suas manifestações. Apenas para contextualizar, é na Constituição Federal que: • se encontram definidas a forma e o sistema de governo do Brasil – uma República Presidencialista; • se encontra a disposição acerca da própria existência dos três Poderes (por isso mesmo ditos Poderes Constituídos) e a sua divisão em Executivo, Legislativo e Judiciário; • estão delimitadas as suas estruturas e competências. Não existindo qualquer limite para o Poder Constituinte, ele poderia, por exemplo, ter determinado que o Brasil se tornaria uma Monarquia, ou ter adotado o regime parlamentarista; poderia ter criado um “quarto Poder” do Estado – na verdade a nossa primeira Constituição, a Constituição Imperial, de 1824, estabelecia um Poder além dos três hoje existentes, o Poder Moderador, exercido exclusivamente pelo Imperador (o Poder Moderador foi abolido de nossos textos constitucionais com o advento da República e consequentemente deixou de ser previsto em nossa segunda Constituição, de 1891), poderia, enfim, ter estabelecido que os estados se tornariam territórios – o inverso foi realizado, os antigos territórios tornaram-se estados. Como podemos perceber, sintomaticamente, as consecutivas alterações de regime e de sistema de governo que ao longo de nossa História sucederam foram seguidas pela promulgação de novas Constituições. Foi assim quando da proclamação da República; foi assim após a Revolução de 1930, que encerrou o ciclo político hoje denominado República Velha, por exemplo. Já vivemos sob a égide das seguintes Constituições: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2009-10-05/5-de-outubro-de-2009 1824 Constituição Imperial. 1891 Primeira Constituição Republicana. 1934 Promulgada após a Revolução de 30 e a Revolução constitucionalista de 1932. 1937 Que implantou o Estado Novo. 1946 Promulgada com a queda do Estado Novo, coincidentemente após o final da II Guerra Mundial e a derrota dos regimes totalitários na Europa. 1967 Buscou institucionalizar e legalizar o regime militar. 1988 Atual Constituição Federal, promulgada ao final do ciclo dos governos militares. Enfim, a Constituição Federal é, como já visto, um Diploma Jurídico de natureza ímpar, é a norma fundamental do Estado, dispõe sobre as estruturas sociais, econômicas, políticas e jurídicas e, portanto, também determina a natureza e a orientação de todos os demais textos legais. Assim, o Poder Constituinte não obedece a qualquer sistema jurídico ou a qualquer ordenamento; ele o faz. Todo e qualquer dispositivo de lei ou Diploma Legal que eventualmente contenha disposição contrária ao texto constitucional estará imediatamente revogado quando ela entrar em vigor, assim como todo e qualquer dispositivo ou Diploma Legal superveniente ao texto constitucional lhe deve obediência e, naturalmente, não poderá contrariá-lo. Portanto, quando tratamos de nosso Ordenamento Jurídico, de nosso Sistema de Direito, em primeiro lugar e com natureza especial, única e própria, teremos a Constituição Federal, a quem todos os demais se subordinam e de quem todos derivam. Todavia, estruturado pelo texto constitucional temos um arcabouço jurídico que contém blocos ou sistemas peculiares, que são assim definidos pela natureza das suas respectivas matérias ou pela natureza dos direitos que regulamentam. Classificação do Direito Antes mesmo da análise dos ramos do Direito brasileiro, importante destacar que dividimos o sistema jurídico em ampla análise em: • Direito Nacional Aquele composto pelo ordenamento jurídico brasileiro. • Direito Internacional Aquele composto pelos Tratados e Convenções internacionais de que o Brasil seja signatário – quer sejam bilaterais ou multilaterais. É relevante mencionarmos, ainda, que uma vez chancelados os Tratados, Convençõesou Acordos Internacionais, suas normas passam a viger no Brasil não somente quanto às relações entre os cidadãos de nosso Estado com estrangeiros em planos internacionais, mas, ainda, dependendo de sua natureza, tornam-se imperativas de conduta em nosso território, regendo relações entre cidadãos brasileiros. Como, por exemplo, aquelas normas que determinam a inserção de dispositivos de inspiração internacional em nossos Diplomas Legais, versando sobre temas de natureza específica. Em planos de Direito Internacional, teremos ainda a subdivisão abaixo: • Direito Internacional Público Regulamenta as relações entre indivíduos e países. Por exemplo, uma questão referente à imigração de um estrangeiro para nosso País. • Direito Internacional Privado Trata das relações entre os indivíduos em seus diversos sistemas jurídicos. Por exemplo, divórcio de indivíduos ora residentes no Brasil, mas que contraíram matrimônio no estrangeiro (partilha dos bens etc.) Dessa forma, o gestor de uma empresa dedicada ao comércio internacional, à exportação ou à importação deverá ter conhecimento de normas de Direito Internacional, além daquelas que regulamentem os negócios de sua expertise, já que diferentes países terão diferentes legislações e emprestarão tratamentos diversos às mesmas matérias, pelo que o administrador vai se defrontar com diferentes hipóteses de incidência e alíquotas tributárias, diferentes normas penais, diferentes normas trabalhistas, diferentes normas contratuais, de direito do consumidor ou de responsabilidade civil, por exemplo, na atuação internacional. Porém, ainda quando a sua atuação circunscreve-se ao nosso território, deixa de ser complexo o panorama a ser conhecido: em planos nacionais – ou na competência interna – também dividimos os sistemas de Direito em blocos, não apenas para facilitar a sua compreensão e análise, mas também para permitir a própria especialização de seus agentes e operadores. https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm A primeira das divisões distingue dois grandes blocos de estruturas jurídicas: os sistemas de Direito Público e de Direito Privado. Essa distinção se faz em virtude da natureza das relações que rege cada um desses sistemas e dos Diplomas Legais que os compõem. • Direito Público Matérias que digam respeito a direitos considerados indisponíveis, como, por exemplo, os direitos à vida e à liberdade (são direitos que, pela sua própria natureza, não podem sofrer limitação, ainda que voluntária e ainda que pretendida pelo seu titular). • Direito Privado Matérias que versem sobre direitos que possam ser objeto de transação pelos cidadãos, ou seja, direitos disponíveis, como por exemplo, e via de regra, as relações patrimoniais. Como exemplos temos o Direito Penal, como ramo do Direito Público – porque cuida de direitos absolutamente indisponíveis, como a liberdade, e o Direito Civil, em regra, como um ramo do Direito Privado, porque dispõe sobre direitos patrimoniais, essencialmente disponíveis (sem essa disponibilidade a própria circulação de riquezas na sociedade ficaria comprometida, com prejuízo das atividades comerciais e econômicas). Dissemos que o Direito Civil será um Direito Privado em regra porque atualmente o Direito Civil abrange várias matérias que se constituem em direitos indisponíveis, tais como os Direitos da Personalidade, e versam sobre a vida, a integridade física, a moral, o direito à intimidade e à vida privada, o direito ao nome, entre outros de idêntica natureza, claramente essenciais não apenas às pessoas, mas a toda a sociedade. Apenas para contextualizarmos, o direito civil versará sobre direitos essencialmente disponíveis, como aqueles referentes à compra e venda, em que qualquer das partes (comprador ou vendedor) pode, livremente, dispor de seu patrimônio e realizar o negócio na forma e pelo valor que bem entenda e também sobre direitos absolutamente indisponíveis, como, por exemplo, os direitos da personalidade, de onde podemos destacar o direito às partes do corpo, que encerra uma regra até mesmo lógica segundo a qual o cidadão não poderá dispor de seus órgãos ou membros, exceto nas hipóteses de doação post mortem de órgãos e tecidos, e, ainda assim, na forma determinada por legislação específica e sob o estrito controle do Poder Público (que é a garantia de que esse tipo de relação não se tornará negocial, porque seria abominável o estabelecimento de um comércio de órgãos). https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-2.htm Os ramos do Direito Público se caracterizam, em primeiro lugar, pela presença do Estado; em sua posição estática (como legislador, ou ordenador abstrato da sociedade, por exemplo), no Direito Constitucional positivo, ou em sua posição dinâmica (em sua função de administrador dos interesses e planejador social, em que efetivamente atua, regulamentando, gerindo e organizando a sociedade, por exemplo), no Direito Administrativo – que vincula a Administração Pública – ou no Direito Tributário – no qual o Estado age como balizador das relações econômicas, como distribuidor das riquezas em sociedade; como atua, ainda, na solução dos conflitos (em sua função de Estado – Juiz, por exemplo), no Direito Processual, ou em sua função de organização social, por exemplo, no Direito Penal. Como pudemos ver, no Direito Público, o interesse do Estado é imediato – ou seja, ele se posiciona como parte na própria relação jurídica com o cidadão (como, por exemplo, no Direito Tributário, em que, além de criar o tributo e determinar a sua alíquota, o Poder Público ainda realiza a arrecadação), ou como responsável pela aplicação das normas (como, por exemplo, quando o Estado administra a Justiça, funcionando como Estado – Juiz), na hipótese do Direito Processual de qualquer natureza (Penal, Civil, Administrativo ou Tributário), ou quando atua planejando as políticas públicas ou aplicando-as. Dizemos que o interesse do Estado, nos ramos do Direito Público, é imediato porque em nosso modelo civilizatório ele é a fonte e a garantia da administração das relações sociais, não sendo admissível aos cidadãos o exercício das próprias razões, pelo que a composição de conflitos de interesses deve passar pela apreciação do Poder Público, que detém o monopólio da aplicação da Justiça e, via de consequência, o monopólio da utilização da violência, lhe tocando – com exclusividade – o exercício do Poder de Polícia e a administração da Justiça. Sabemos que a violação de um contrato gera consequências patrimoniais para aquele que lhe deu causa, assim como sabemos que o inadimplemento gera o efeito da imposição de multa pela mora ou o próprio desfazimento do negócio com culpa de um dos contratantes – o que pode gerar a obrigação de indenizar; todavia, ainda que saibamos exatamente que tais condutas levam à constituição de direitos em favor de um dos contratantes, ele não poderá exercer esses direitos ou satisfazer essas pretensões por seus próprios meios, devendo requerer ao Estado – Juiz a tutela de suas pretensões, que é exatamente o que fazemos quando ingressamos com uma ação junto ao Poder Judiciário (que, como já vimos, é um dos Poderes Constituídos do Estado). O cidadão que compra um bem e não o recebe na data aprazada não se torna sujeito do direito de ir à loja do vendedor e apanhá-lo por força própria. O exercício das próprias razões pelos cidadãos levaria à anarquiae ao império da força, que representam a própria negação do Direito e do Estado em última análise. Atuação do Estado Posição Estática – Legislador, ordena a sociedade abstratamente – Direito Constitucional Posição Dinâmica – Executivo, administrador da sociedade, gestor – Direito Administrativo Posição Dinâmica – Executivo, organiza as finanças públicas – Direito Tributário Estado – Juiz – Composição dos litígios em sociedade – Direito Processual Estado organizador social – Prevenção da criminalidade – Direito Penal É evidente que esta divisão não esgota as possibilidades da matéria, muito menos é isenta de divergências. Por exemplo, a natureza do Direito do Trabalho é fonte de acalorados debates, havendo correntes que o inserem entre os Direitos Públicos (a que nos filiamos) e outras que o inserem entre os Direitos Privados. Nos posicionamos com os primeiros, entendendo tratar-se de um ramo do Direito Público, porque, em nosso sistema, as relações entre patrões e empregados, ou as relações laborais, não se revestem apenas de características privadas, já que a própria rescisão do contrato de trabalho pressupõe a interveniência do Estado ou de um sindicato, por exemplo. Mas nem sempre o Estado terá interesse imediato no resultado das relações entre os indivíduos, e é claro que nem sempre será uma das partes nessas relações. Os ramos do Direito em que os interesses se revestem dessa característica – não serem de interesse imediato ou objetivo do Estado – se denominam ramos de Direito Privado, sendo exemplos o Direito Civil e o Direito Empresarial. Para aprofundar o conhecimento dessa matéria estude os tópicos 8 a 10 do livro Introdução do Direito, de Clareci Mezzomo, constante da bibliografia de apoio. Barreiras alfandegárias são barreiras comerciais estabelecidas pelos governos com o objetivo de controlar o intercâmbio internacional de mercadorias. É a forma mais comum de proteger o mercado interno. Essas barreiras são medidas e instrumentos com finalidades políticas e comerciais, normalmente utilizadas para estimular setores econômicos específicos internos de cada país, que impedem o livre comércio. Podem ser praticadas na forma de tarifas, cotas e licenças de importação, incluindo qualquer lei, regulamento, política, medida ou prática governamental que imponha restrições ao comércio exterior. Fonte. http://pt.wikipedia.org/wiki/Barreira_alfandeg%C3%A1ria Aula 3 O Estado Democrático de Direito no Brasil Formação do Estado Já mencionamos que a condição natural do ser humano demanda a convivência social, impõe a vida em sociedade; ainda quando vivia em nomadismo – antes de sedentarizar- se –, o homem não vivia sozinho, e isso é um imperativo natural. A defesa contra eventos naturais, predadores e mesmo outros grupos concorrentes levou o homem a viver em coletividade. Inicialmente essa vida em coletividade se lastreava na necessidade de defesa do grupo, necessidade posteriormente ampliada pela divisão das tarefas, levando à criação (ou à percepção) de um ente abstrato, além dos indivíduos que o compõem, que todavia com eles não se confunde, que é a sociedade, formada pelo conjunto dos homens que vivem e interagem sob certa comunidade de desígnios. A percepção da existência de um interesse coletivo, inconfundível com todos os interesses individuais dos membros da coletividade, demonstrou que o ser humano, para sua inter-relação com os demais, criaria uma instituição abstrata chamada lato sensu de sociedade. E essa abstração dotada de interesses e finalidades próprias tornou-se verdadeiramente imprescindível à sobrevivência do ser humano em uma natureza onde, mesmo sendo o mais inteligente dos animais e talvez o mais adaptável ao meio ambiente, nem de longe era o mais forte, o mais resistente ou o mais feroz. Nunca prescindimos dessa entidade a que denominamos sociedade. Sempre nos organizamos sob essa premissa e consideramos essencial sua existência para o desenvolvimento de nossa própria humanidade (porque não prescindimos do contato e da interação social com nossos semelhantes, diferentemente de outras espécies de animais em que a convivência se limita à época do acasalamento e se estende apenas pelo período de proteção da cria). Para que existamos, formamos vínculos: vínculos com indivíduos que nos são próximos, ou afins; vínculos com grupos deles, previamente organizados; vínculos com o local onde nos encontramos, enfim, formamos uma rede de inter-relações que nos conectam uns aos outros, ao meio ambiente, à localização geográfica de nossa coletividade e até mesmo à memória coletiva por ela formada ao longo das sucessivas gerações, o que nos dá a sensação de pertencimento que nos une a uma determinada cultura, depois a uma mesma nacionalidade. Ocorre que sempre foi impossível a convivência dentro de qualquer grupamento social sem o prévio estabelecimento de normas de conduta, de limites para o comportamento dos seus integrantes – limites à vontade e à liberdade de atuação em sociedade, de limites que estabelecessem, de uma forma comum e coletivamente aceita, os direitos e deveres de cada um em face dos demais individualmente ou da própria coletividade em si, aí considerada como um ente específico. A esses grupamentos chamou-se posteriormente Estados e a esses conjuntos de normas de conduta dos seus membros chamou-se posteriormente Direito em sentido amplo. Vê-se, portanto, que o Estado é decorrência natural da organização buscada pelo ser humano e que o Direito é inerente à própria formação do Estado, já que fora dele teríamos apenas a liberdade essencial à selvageria, do uso da força como manifestação de vontade. A concordância tácita quanto às normas de conduta admitidas na coletividade reproduziam-se indeterminadamente, já que eram representações do estágio civilizatório por elas alcançado; ao indivíduo não mais se consultaria, não mais lhe seria pedida aquiescência para a normatização social a cada momento, porque já pré-sabidos os pontos em comum essenciais aos interesses de todos os seus membros. Assim foi que o nascimento sob certa coletividade passou a determinar um conjunto preestabelecido de normas que regulamentariam a interação social do indivíduo, assim vinculado, portanto, a esse sistema desde o nascimento ou, eventualmente, desde a sua inclusão em determinado grupo, quando passava a viver sob suas regras como se natural ao mesmo. Conforme as sociedades evoluíam, os próprios indivíduos que as integravam tornavam-se mais sofisticados, diversificando os seus interesses e necessidades (que um dia limitaram-se à alimentação diária para a manutenção da vida) e, com isso, sofisticando e diversificando cada vez mais o tecido social a que pertenciam. Dessa crescente sofisticação, que ainda não superamos em nosso estágio de civilização, nasceram sociedades cada vez mais complexas, reguladas por conjuntos de normas cada vez mais abrangentes e também complexos, sofisticados, porque concebidos para organização de relações que ultrapassaram em muito a simplicidade original. Nossa sociedade virtual e da informação em muito pouco será capaz de lembrar aquela sociedade dos primeiros homens, a não ser pelas características atávicas de seus integrantes; porém, em termos de regramento da vida dentro do conjunto social, torna-se evidente ser impensável aplicar ao comportamento humano atual as mesmas normas e regras aplicáveis às sociedades antecedentes à escrita, por exemplo. Assim, é certo que as necessidades que nortearão a construção e a tessitura das normas de comportamento sociais se construirão ao longo do processo de construção histórico-social. https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-3.htm#more-info-1https://ead.uva.br/disciplinas/grad/publica/cont/def/dag/re/u1/aula-3.htm#more-info-1 A evolução do Estado ao longo da história humana é notável e fascinante. Desde as sociedades mais antigas até a atualidade presenciamos alterações estruturais nessa instituição tão profundas que nos dão a impressão de por vezes estarmos nos referindo a instituições inteiramente díspares entre si quando, na verdade, fundamentalmente nos une a necessidade de vida em coletividade para a realização de nossa própria humanidade. Não cabe aqui tecermos o panorama desde os primórdios da sociedade humana até nossos dias, já que não é este o objeto de nosso estudo. Porém devemos atentar para o fato de que ao longo da evolução de nossa história passamos por diversos períodos econômicos, sociais e políticos – e esses diferentes períodos impuseram a constituição de diferentes Estados, concebidos para a regulamentação de diferentes sociedades. Ainda hoje podemos notar profundas distinções entre os Estados organizados, que refletem as distinções entre as culturas, os valores e os interesses dos diversos povos componentes do gênero humano; ainda que tenhamos trabalhado, principalmente a partir de meados do séc. XX, para a elaboração de um arcabouço comum a todas as sociedades e culturas, é certo que subsistem diferenças claramente perceptíveis, levando a um mundo em que interagem Estados baseados na orientação religiosa ao lado de Estados laicos (aqueles em que a administração pública não determina uma religião oficial), Estados monárquicos e outros republicanos, Estados parlamentaristas e outros presidencialistas, Estados que aplicam punições como a pena de morte ou de mutilação e outros que as baniram de seu ordenamento jurídico etc. Também o Brasil em que vivemos é o resultado a que chegamos em nosso estágio de civilização; é o momento cultural, histórico, social e político que atingimos, e suas instituições representam esse grau e essa medida. Numa brevíssima síntese, fomos Colônia, Reino Unido, Império e República – e, em nossa história republicana passamos por regimes ditatoriais de diversos matizes, outros democráticos, experimentamos o parlamentarismo, tivemos o voto censitário e limitado ao sexo masculino, passamos ao sufrágio universal, enfim, nossa sociedade passou por profundas mudanças em sua estrutura desde o início de nossa história como povo até chegarmos aos dias atuais. Nosso Estado tem a sua dimensão política – social e jurídica – determinada pela Constituição Federal. Ela, como Diploma fundamental de nosso Ordenamento Jurídico, determina o regime, o sistema e a forma de governo; os Poderes Constituídos e sua composição; os tributos, suas hipóteses de incidência e os titulares destes créditos; a administração pública; enfim, determina a estrutura do Estado. O Estado brasileiro na Constituição Federal A composição do nosso Estado se encontra logo no primeiro artigo da Constituição Federal, que dispõe: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I. a soberania; II. a cidadania; III. a dignidade da pessoa humana; IV. os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V. o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Percebemos, portanto, que segundo a Constituição Federal de 1988 o Brasil é uma República Federativa, composta pela união indissolúvel dos estados, municípios e Distrito Federal. Vale dizer: somos uma República formada pela Federação de entes públicos que chamamos estados, municípios e o Distrito Federal. Além do regime de governo esse dispositivo determina a indissolubilidade da União, determina a proibição do seu desmembramento, bem como da saída – voluntária ou não – de qualquer dos estados ou municípios. Também determina que nos constituímos em um Estado Democrático de Direito, portanto, nosso Estado pressupõe a participação popular na determinação das políticas e da gestão públicas e a supremacia da lei, que vincula não apenas os atos dos cidadãos como, principalmente, os atos da administração pública, do governo. Os fundamentos de nosso Estado estão delineados nos incisos do dispositivo ora sob análise, prendendo-se à soberania, à cidadania, à dignidade da pessoa humana, ao pluralismo político e aos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Passemos à análise de cada um deles em planos teóricos. Soberania Foi Jean Bodin o primeiro teórico a elaborar um conceito de soberania, referindo-se a ela como à entidade que não conhece superior na ordem externa nem igual na ordem interna, não admitindo subordinação a qualquer outra externamente, na seara internacional, tampouco admitindo um poder idêntico internamente, na seara nacional. Jean Bodin (1530-1596): jurista francês Portanto, a condição de um Estado independente, que não se mostra uma colônia de qualquer outro Estado e também não admite a existência de poder que rivalize com o seu em sede nacional ou em planos internos. Sua definição, tecida para sustentar a Monarquia francesa, foi posteriormente aperfeiçoada no Iluminismo, tendo o centro do Poder e da autoridade migrado da pessoa do Rei para a soberania popular, ou, exatamente como estabelece o parágrafo único do artigo 1º ora sob análise, a manifestação soberana da vontade do povo (de quem emana todo Poder e em nome de quem todo Poder deve ser exercido). É fato que o conceito de soberania vem se alterando ao longo da História, e isso se verifica mesmo em razão das mudanças de regimes, de Estados e de governos; porém as características da não subordinação a qualquer Poder externo e da não equiparação a qualquer Poder interno se mantêm, posto serem verdadeiramente essenciais para a formação do Estado. Significa dizer que, para ser soberano, um Estado não pode se subordinar a nenhum outro na comunidade internacional; mesmo sendo eventualmente menos rico ou poderoso que outros Estados, não pode haver relação de subordinação que o transforme em um território ou em uma colônia, porque nessas hipóteses simplesmente inexiste a soberania. Em esfera interna, é soberano o Estado quando mantém o poder sobre todo o seu território, não havendo quem lhe anteponha autoridade de igual calibre. Por isso não se admite que se mantenham poderes paralelos dentro do território de um Estado – e daí a gravidade da existência, dentro de qualquer Estado, de locais em que a sua autoridade não é respeitada, ou em que seus poderes constituídos não podem ser impostos a todos os cidadãos. Já vimos que dentre as atribuições exclusivas do Estado se encontram a administração da Justiça e a administração da violência; qualquer usurpação desses monopólios impõe a perda da soberania e, em consequência, a própria destruição do Estado. Cidadania Diz-se cidadania o exercício dos direitos e deveres políticos, sociais e civis pelo cidadão, ou na origem do termo o residente de uma cidade, aquele que vive em sociedade, interagindo com seus concidadãos, ou seja, com os seus iguais em obrigações e em direitos. A cidadania, na medida do pertencimento a determinada coletividade, determina a faculdade de fruir das prerrogativas e a obrigação de obedecer às normas impostas por seu Estado. Assim como dissemos quando do estudo da soberania, também o conceito de cidadania sofreu alteraçõesao longo da história, todavia mantendo o seu requisito essencial de participação em igualdade de direitos e obrigações, e, atualmente, caminhamos para o exercício universal em sociedade da condição de cidadania. Pluralismo Por pluralismo político entende-se o direito de que são titulares todos os Partidos Políticos à participação no processo eleitoral, ainda que sejam pequenos, ainda que não disponham de poder econômico, todos os partidos constituídos legalmente têm direito de participação de eleições cujas regras tenham sido preconcebidas, participando do poder político, votando e sendo votados. É fundamental na medida em que, representando o reconhecimento da diversidade, impede a concentração do poder nas mãos de poucos partidos, permitindo, ainda, que novos partidos se organizem e participem do processo político – eleitoral em igualdade ideal de condições. Importante mencionarmos que o pluralismo político não significa igualdade de condições econômicas entre os partidos, mas sim que nenhum deles terá a sua regular constituição impedida; tampouco, uma vez legalmente constituído, poderá ser alijado do processo eleitoral. É pressuposto do efetivo exercício da democracia em tempos atuais, principalmente quando podemos observar a polarização das relações eleitorais, com a consequente concentração, em certas legendas, do poder econômico e político; a garantia da liberdade de constituição de partidos políticos funciona, assim, como equivalente à liberdade do exercício do voto pelo cidadão, não se admitindo a limitação do exercício da vontade popular por meio do controle de sua representação – o que ocorreria caso o Estado pudesse livremente limitar o direito de constituição e participação no processo eleitoral. Todavia, não se admitir o cerceamento da constituição de legendas de representação política não equivale a tornar inexistente a legislação eleitoral, principalmente pela importância de que se reveste esse processo. A dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental do Estado Democrático de Direito e impõe o reconhecimento de cada ser humano como um fim em si mesmo, no tocante à proteção que lhe deve ser garantida pelo Direito e se assenta no pensamento de Immanuel Kant. Para aprofundar o conteúdo desta aula, estude os tópicos 3 e 4 do livro Teoria Geral do Estado de Marcus Cláudio Acquaviva, constante da Bibliografia complementar.
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