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EDUARDO TADASHI YUGUE Desafios e potenciais soluções para reciclagem de embalagens plásticas flexíveis pós-consumo no Brasil Sorocaba 2020 EDUARDO TADASHI YUGUE Desafios e potenciais soluções para reciclagem de embalagens plásticas flexíveis pós-consumo no Brasil Dissertação apresentada como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” na Área de Concentração Diagnóstico, Tratamento e Recuperação Ambiental Orientador: Prof. Dr. Sandro Donnini Mancini Co-Orientador: Prof. Dr. José Arnaldo Frutuoso Roveda Sorocaba 2020 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pela dádiva da vida, pelas minhas capacidades, pelas oportunidades, pelas alegrias e pelos desafios vencidos pelo caminho. Aos meus pais Toshiyasu (in memoriam) e Sumiko (in memoriam), por todos ensinamentos, essenciais na formação do meu caráter e profissionalismo, e pelo incessante incentivo. À minha família, minha esposa Patrícia e meu filho Enzo, pelo apoio incondicional, pela paciência, pelas horas de ausência para eu poder me dedicar a este trabalho de mestrado. Ao meu irmão Ricardo, primeiro por me mostrar o caminho e abrir as portas para a universidade, e pelas discussões e orientações em relação à elaboração desta dissertação do mestrado. Aos meus orientadores Sandro Donnini Mancini, por aceitar me orientar, e efetivamente por todas as orientações e pela dedicação com a revisão da dissertação; e ao José Arnaldo Frutuoso Roveda que desde o início acreditou na proposta deste trabalho, me incentivou e me orientou nos primeiros passos. À Bruna de Mônaco Lopes, que me inspirou inicialmente para aceitar o desafio de fazer um mestrado em paralelo com todas as atividades profissionais, que é o que ela estava fazendo quando à conheci na Mondelez. Aí vi que seria possível. Daí, isso virou meta. E agora, meta atingida. Aos meus ex-gestores e mentores: Fernando Von Zuben, Satio Umeda, Roberto Stefanini, Dan Rank, Anne Roulin e Emiliano Barelli. A todos o meu agradecimento por todo ensinamento e mentoria, importantes para na minha formação profissional. Especialmente ao Emiliano, por concordar e me incentivar a fazer o mestrado em paralelo às minhas atividades profissionais como gerente de embalagens da Pepsico. A todos os meus mestres e gurus da área da embalagem no Brasil, em especial ao Fábio Mestriner, Lincoln Seragini, Antônio Cabral e Gizela Schulzinger. Pela inspiração, pelas idéias brilhantes, pela inovação em embalagem e por promover o valor da embalagem na sociedade brasileira. Aos colegas da comunidade da Embalagem no Brasil: Assunta Camilo, Álvaro Azanha, Cristina Sartoretto, Aparecido Borghi, Paulo Pereira, Luciana Pelegrino, Eloisa Garcia, Claire Sarantópoulos, Liliam Benzi, Leda Coltro, Márcio Pinheiro, Inês Garcia, Isabella Salibe, Julio Cruz Lima Neto, Daniel Santi, Paulo Pazinatto, Márcio Kimura, Marcos Palhares, Monica Telfser, Aldo Mortara, Ricardo Hiraishi, Sergio Bianchini e muitos outros, pela disponibilidade para troca de informações e conhecimentos. Aos colegas da comunidade da Embalagem & Sustentabilidade Ailton Storolli, Bruno Pereira, Silvia Rolim, André Vilhena, Cristiani Vieira, Leda Coltro, Luis Gustavo Ortega, Ederson Munhoz Reis Matos, Fabiana Quiroga, Juliana Matos Seidel, Rogério Mani, Ricardo Guerreiro Mason, Ricardo Jamil Hajaj, Paula Pariz Lorenzoni, Guilherme Brammer, Cesar Sanches e Fábio Küln por me ajudarem na minha formação e no desenvolvimento da minha consciência em sustentabilidade e por me apoiarem no desenvolvimento deste trabalho de mestrado. A todos a minha eterna gratidão “Importante não é ver o que ninguém nunca viu, mas sim pensar o que ninguém nunca pensou sobre algo que todo mundo vê” Arthur Schopenhauer RESUMO Este trabalho visa tratar da reciclagem das embalagens plásticas flexíveis pós- consumo no Brasil, apresentando o panorama atual, os principais desafios e dificuldades para a reciclagem e, potenciais soluções tecnológicas disponíveis ou em desenvolvimento no Brasil e em outros países. Dados indicam que o volume de embalagens plásticas flexíveis pós-consumo seguirá crescendo nos próximos anos no Brasil. Atualmente uma parte deste tipo de material está sendo descartado de forma inadequada em aterros sanitários ou então descartadas aleatoriamente em lixões à céu aberto, com impacto negativo ao meio ambiente. Ao não ser reciclado, há a necessidade de extração contínua de recursos naturais, para a continuidade do processo produção-consumo. É necessário estabelecer ações que permitam um ciclo em que recursos extraídos da natureza possam voltar à produção de novos bens ao final de cada ciclo, estabelecendo as bases da economia circular. O trabalho foi realizado a partir de revisão bibliográfica, leitura de artigos técnico- científicos, participação em reuniões, visitas, consultas, entrevistas e acesso a “sites” da internet envolvendo órgãos públicos, associações de classes e empresas pertencentes à cadeia de produção de plásticos, conversão de embalagem, coleta seletiva e à reciclagem de embalagens plásticas. Como resultados, este trabalho reporta a necessidade de aplicação do conceito de eco-design no projeto de novas embalagens, tecnologia para separação automática de materiais, delaminação de estruturas multicamadas, remoção da tinta de impressão, extrusão de filme moído e a aplicação de aditivo de reforço e compatibilizante de materiais. Este trabalho explora também a reciclagem química e energética. Na reciclagem química, apresenta resultado de estudos recentes, principalmente através do processo de pirólise de poliolefinas, considerando diferentes misturas de materiais na alimentação e em diferentes modelos de reatores. Palavras-chaves: embalagens flexíveis, multicamadas, reciclagem, plásticos, pós-consumo. ABSTRACT This work aims to address the recycling of flexible post-consumer packaging in Brazil, presenting the current scenario, the main challenges and difficulties for recycling and potential technological solutions available or under development in Brazil and other countries. Data indicate that the volume of flexible plastic post- consumer packaging will continue growing in the coming years in Brazil. Currently, part of this type of material, mainly the multilayer ones, is being disposed of inappropriately in landfills or randomly disposed of in open dumps, with a negative impact on the environment. When it is not recycled, there is a need for continuous extraction of natural resources, for the continuity of the production-consumption process. It is necessary to establish actions that allow a cycle in which resources extracted from nature can return to the production of new goods at the end of each cycle, establishing the bases of the circular economy. The work was carried out through bibliographic review and technical-scientific articles review, participation in meetings, visits, consultations, interviews and access to internet sites involving public agencies, class associations and companies belonging to the plastics production chain, packaging conversion, selective collection and recycling of plastic packaging. As a result, this work reports the need to apply the concept of eco-design in the design of new packaging, technology for automatic separation of materials, delamination of multilayer structures, removal of printing ink, extrusion of ground film (flakes) and also the application of reinforcing additive and material compatibilizer. This work also exploreschemical and energy recycling. In chemical recycling, it presents the result of recent studies, mainly through the process of polyolefin pyrolysis, considering different mixtures of materials in the feed and in different reactor models. Key-works: flexible packaging, multilayer, recycling, plastic, post-consumer. LISTA DE TABELAS TABELA 1 Consumo de material de Embalagem no Brasil, pela aplicação final – excl. Caixa de papelão [toneladas] 10 TABELA 2 Processos de conversão de filmes e aplicações 14 TABELA 3 Estruturas típicas para embalagens plásticas flexíveis para as principais categorias de alimentos 15 TABELA 4 Panorama dos RSU no Brasil – SNIS-RS - 2018 17 TABELA 5 Massa de resíduos sólidos coletada pelo serviço de coleta seletiva de RSU dos municipios participantes do SNIS, segundo macroregião geográfica 21 TABELA 6 Panorama da coleta seletiva no Brasil nos municípios participantes do SNIS-RS- 2018 22 TABELA 7 Municípios com programa de coleta seletiva por faixa populacional – levantamento SNIS-RS- 2018 23 TABEAL 8 Incidência de materiais recicláveis secos recuperados por tipo de material – SNIS-RS-2018 24 TABELA 9 Estimativa de massa total de materiais recicláveis secos recuperados – Brasil – SNIS-2018 25 TABELA 10 Panorama geral do setor de plásticos no Brasil (2018) 31 TABELA 11 Composição percentual gravimétrica e volumétrica da coleta seletiva de Sorocaba (filmes flexíveis) – estimativa de coleta diária em massa e volume 35 TABELA 12 Estimativa da composição gravimétrica dos RSU coletados no Brasil em 2008 36 TABELA 13 Terminologia dos processos para reciclagem de plásticos 41 TABELA 14 Ações desenvolvidas por empresas brasileiras ligadas ao setor das embalagens plásticas flexiveis visando redução do impacto ambiental e aumento do índice de reciclagem 56 TABELA 15 Programas e sistemas de coleta de resíduos plásticos na Europa 62 TABELA 16 Taxa de destinações finais de plásticos pós-consumo na Europa em 2008, para as principais áreas de aplicação do plástico 64 TABELA 17 Tecnologias para reciclagem mecânica de filmes monocamada pós-industrial 88 TABELA 18 Soluções para reciclagem de resíduos de filme multicamada 93 LISTA DE TABELAS (continuação) TABELA 19 Os solventes comuns empregados na dissolução/reprecipitação dos principais polímeros utilizados em embalagens plásticas flexíveis multicamada 100 TABELA 20 Comparação geral da extração por solvente com recuperação mecânica primária 102 TABELA 21 Aditivos para processamento de plástico e respectiva função 103 TABELA 22 Localização de empresas do setor de reciclagem de material plástico, por região do Brasil (2016) 107 TABELA 23 Variantes do processo de pirólise 113 TABELA 24 Pirólise de PEAD e PEBD – Condições e resultados 123 TABELA 25 Resultado da pirólise de plásticos em diferentes misturas 127 TABELA 26 Comparação de algumas propriedades do óleo pirolítico de alguns polímeros com combustíveis líquidos padrão 134 TABELA 27 Políticas tributárias de incentivo à reciclagem do plástico no Brasil 142 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Taxa de urbanização no Brasil 5 FIGURA 2 Projeção da ONU para tendência demográfica do Brasil para 2050 6 FIGURA 3 Consumo de resinas para embalagens plásticas flexíveis no Brasil em 2017 11 FIGURA 4 Percentual do consumo de resina para produção de embalagens plásticas flexíveis comparado com o total de plásticos transformados no Brasil em 2017 12 FIGURA 5 Embalagens plásticas flexíveis no Brasil (por setor) - 2017 12 FIGURA 6 Logística convencional e a logística reversa 20 FIGURA 7 Municípios brasileiros com coleta seletiva – Ciclosoft 2018 24 FIGURA 8 Coleta seletiva por região - Brasil - Ciclosoft 2018 25 FIGURA 9 Composição Gravimétrica dos RSU – Brasil – Cempre 2017 26 FIGURA 10 Composição Gravimétrica na coleta Seletiva – Ciclosoft 2018 26 FIGURA 11 Fluxo de resíduos comercializados diretamente entre as cooperativas e associações de catadores e a indústria recicladora 28 FIGURA 12 Simbologia utilizada para identificação de embalagens por tipo de material 31 FIGURA 13 Participação do plástico de ciclo de vida curto, por segmento de aplicação 32 FIGURA 14 Principais resinas consumidas no Brasil 33 FIGURA 15 Participação dos plásticos na composição gravimétrica na coleta Seletiva – Ciclosoft 2018 33 FIGURA 16 Economia linear 36 FIGURA 17 Diagrama representativo da economia circular 38 FIGURA 18 Extrusora de plásticos 42 LISTA DE FIGURAS (continuação) FIGURA 19 Fluxograma simplificado da reciclagem mecânica de plásticos pós-consumo 43 FIGURA 20 Representação esquemática do ciclo da cadeia dos plásticos pós-consumo 47 FIGURA 21 Esquema do processo termoquímico da reciclagem energética 48 FIGURA 22 Volume de produção e de reciclagem de plásticos - Global 65 FIGURA 23 Peças plástica injetada – “galho” 67 FIGURA 24 Esquema de separação de materiais plásticos por diferença de densidade 71 FIGURA 25 Mistura de materiais no recebimento – Central de reciclagem da zona oeste de Sorocaba 73 FIGURA 26 Separação manual de materiais para reciclagem 74 FIGURA 27 “Trommel” – Separação de resíduos por tamanho 74 FIGURA 28 Sistema de separação pneumática de resíduos para reciclagem 75 FIGURA 29 Sistema de coleta e transporte à vácuo de papéis e filmes plásticos, separados na esteira de triagem para reciclagem 76 FIGURA 30 Triagem de materiais por espectrometria 77 FIGURA 31 2ᵃ. Central mecanizada de triagem de material reciclável – Cidade de São Paulo (BR) 78 FIGURA 32 Resíduos de embalagens plásticas flexíveis, pós- industrial, para reciclagem mecânica – Ecological Reciclagem 79 FIGURA 33 Embalagens plásticas flexíveis após processo de moagem – Ecological Reciclagem 80 FIGURA 34 Tanque de lavagem de plásticos moído 81 FIGURA 35 Flocos de embalagens plásticas flexíveis após o processo de aglomeração – Ecological Reciclagem 82 FIGURA 36 Desenho de roscas usadas no processo de extrusão: convencional e com barreira 83 http://www.plasticonline.com.br/2017/05/04/aplicativo-estimula-a-reciclagem/ LISTA DE FIGURAS (continuação) FIGURA 37 Reciclagem mecânica de embalagens plásticas flexíveis em BOPP multicamadas metalizadas – Material reciclado granulado -Ecological Reciclagem 85 FIGURA 38 Caminhos para a reciclagem de embalagens plásticas flexíveis monocamada 87 FIGURA 39 Esquema de reciclagem mecânica associada à remoção da tinta de impressão 90 FIGURA 40 Comparativo das propriedades óticas no material reciclado, com e sem aditivo compatibilizador 96 FIGURA 41 Comparativo das propriedades físicas no material reciclado, com e sem aditivo compatibilizador 96 FIGURA 42 Processo conjugado de delaminação e remoção de tintas de estrutura multicamadas 98 FIGURA 43 Desenho esquemático da técnica de dissolução/re- precipitação de polímeros 101 FIGURA 44 Peças e aplicações de madeira plástica 104 FIGURA 45 Evolução do consumo aparente e índice de reciclagem mecânica de embalagens e equiparáveis do setor de plástico no Brasil – 2014-2016 108 FIGURA 46 Benefícios sócio-ambientais da reciclagem de materiais plásticos 109 FIGURA 47 Aplicações do gás de acordo com o poder calorífico 114 FIGURA 48 Pirólise de biomassa em reator de leito fluidizado 117 FIGURA 49 Diagrama esquemático de reator pirolítico em leito de jorro 118 FIGURA 50 Reator pirolítico de forno rotativo 119 FIGURA 51 Produtos da pirólise de PEAD 124 FIGURA 52 Rendimento dos produtos da pirólise de amostras de RSU 130 FIGURA 53 Distribuição de plantas de incineração de RSU de acordo com a idade 139 FIGURA 54 Tratamento e destinação de RSU na Europa 140 FIGURA 55 Capacidade de incineração de RSU para vários países entre1960 e 2015 141 GLOSSÁRIO E ABREVIAÇÕES ABIEF Associação Brasileira de Embalagens Flexíveis ABIPLAST Associação Brasileira da Indústria do Plástico ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRE Associação Brasileira de Embalagem ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ACV Avaliação de Ciclo de Vida ANCAT Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária ASTM American Society for Testing and Materials BOPP Polipropileno Biaxialmente Orientado BR Brasil CBSI Composto Bio Sintético Industrial CETEA Centro de Tecnologia de Embalagem CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CHP Combined Heat & Power COMLURB Companhia Municipal de Limpeza Urbana DSC “Differential Scanning Calorimetry” (Calorímetro Diferencial de Varredura) EGMA Etileno-Metacrilato Glicidil EVOH Copolímero de Etileno e Álcool Vinílico FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations FT-IR “Fourier Transform - Infrared Spectroscopy” (Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier) GEE Gases de Efeito Estufa GT Grupo Técnico IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística http://www.fao.org/home/en/ GLOSSÁRIO E ABREVIAÇÕES (continuação) IMA Instituto de Macromoléculas – Universidade Federal do Rio de Janeiro INTERPACK Feira internacional de embalagem – Dusseldorf - Alemanha IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LR Logística Reversa MMA Ministério do Meio Ambiente MBS Madeira Bio Sintética MAPE Polietileno Graftizado com Anidrido Maleico MAPP Polipropileno Graftizado com Anidrido Maleico MPT Movimento Plástico Transforma OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONU Organização das Nações Unidas PAPCS Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis PA Poliamida PC Policarbonato PE Polietileno PEAD Polietileno de Alta Densidade PEBD Polietileno de Baixa Densidade PELBD Polietileno Linear de Baixa Densidade PET Poli (Tereftalato de Etileno) PEV Ponto de Entrega Voluntária PLASTIVIDA Instituto Sócio Ambiental Plásticos PMGIRS Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos PNRS Política Nacional dos Resíduos Sólidos PO Papelão Ondulado PP Polipropileno PRS Portal dos Resíduos Sólidos PS Poliestireno GLOSSÁRIO E ABREVIAÇÕES (continuação) PVC Policloreto de Vinila RDO Resíduos Domésticos REP Responsabilidade Estendida dos Produtos RPU Resíduos Públicos RSU Resíduos Sólidos Urbanos SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente SMA Secretaria do Meio Ambiente SNIS Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento SNIS - RS Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento – Resíduos Sólidos SNVS Sistema Nacional de Vigilância Sanitária SP São Paulo SUASA Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária UFSCar Universidade Federal de São Carlos WPC “Wood Plastic Composite” – Compósito de plástico com madeira WtE “Waste-to-Energy” WWI “WorldWatch Institute” SUMÁRIO I INTRODUÇÃO 1 I.1 Perguntas norteadoras 3 II OBJETIVOS 4 II.1 Objetivo Geral 4 II.2 Objetivos Específicos 4 III REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 5 III.1 Sociedade Urbanizada e de consumo 5 III.2 As embalagens para bens de consumo 7 III.2.1 Materiais de Embalagem 8 III.2.2 Embalagens para alimentos 10 III.2.3 Embalagens plásticas flexíveis 11 III.3 Resíduos Sólidos Urbanos - RSU 16 III.4 Logística Reversa 19 III.4.1 Coleta seletiva no Brasil 20 III.5 Plásticos – presença nos RSU 28 III.6 Economia circular 36 III.7 Reciclagem de Plásticos 38 IV METODOLOGIA 50 V RESULTADOS 55 V.1 Plásticos nos resíduos sólidos urbanos 57 V.2 Aspectos, dados e condições relacionadas com a reciclagem das embalagens plásticas flexíveis no Brasil 58 V.2.1 Comportamento do consumidor 58 V.2.2 Coleta Seletiva no Brasil 58 V.2.3 Coleta seletiva de plásticos flexíveis em outros países 60 V.2.3.1 Estados Unidos 60 V.2.3.2 Comunidade Européia 61 V.2.4 Separação nos centros de triagem 62 V.3 Reciclagem de resíduo plástico pós-consumo 64 V.3.1 Reciclagem de embalagens plásticas flexíveis pós- consumo 66 V.4 Reciclagem mecânica de resíduos plásticos 67 V.4.1 Reciclagem de resíduos em circuito fechado e circuito aberto 68 V.4.2 Processo de triagem 69 V.4.3 Processo de moagem, lavagem, aglutinação e secagem das embalagens plásticas flexíveis pós-consumo 78 V.4.4 Processamento do material moído, aglutinado e seco - Extrusão 82 V.4.5 Especificidades da reciclagem mecânica de embalagens plásticas flexíveis monocamada 86 V.4.5.1 Remoção da tinta de impressão 87 V.4.6 Especificidades da reciclagem mecânica de embalagens plásticas flexíveis multicamadas 91 V.4.6.1 Aditivos compatibilizantes 94 V.4.6.2 Delaminação da estrutura multicamadas 97 V.4.6.3 Tecnologia para dissolução/re-preciptação 98 V.4.6.4 Aditivação do material na reciclagem / Madeira plástica 103 V.4.6.5 Compósito de termoplásticos com reforço 105 V.4.7 Reciclagem mecânica de embalagens plásticas pós- consumo no Brasil 107 V.5 Reciclagem química 110 V.5.1 Pirólise 110 V.5.2 Tipos de reatores de pirólise utilizados para tratamento de diferentes composições 114 V.5.2.1 Reatores de leito fixo e reatores de batelada 115 V.5.2.2 Reatores de leito fluidizado 116 V.5.2.3 Reatores de leito de jorro 117 V.5.2.4 Reatores de forno rotativo 118 V.5.2.5 Reatores assistidos por microondas 119 V.5.2.6 Reatores de plasma 120 V.5.2.7 Reatores solares 121 V.5.3 Pirólise de materiais plasticoss pós-consumo e produtos obtidos 121 V.5.3.1 Pirólise de PEAD e PEBD 122 V.5.3.2 Pirólise de PP 124 V.5.3.3 Pirólise de PET 125 V.5.3.4 Co-pirólise de mistura de resíduos domésticos – biomassa e resíduos plásticos 125 V.5.3.5 Pirólise de RSU 129 V.5.4 Produtos da pirólise e suas possíveis aplicações 132 V.5.4.1 Gás pirolitico 133 V.5.4.2 Óleo pirolítico 133 V.5.4.3 Carvão pirolítico 135 V.6 Reciclagem energética e incineração 137 V.7 Políticas fiscais e tributárias para reciclagem e materiais reciclados no Brasil 142 VI COMENTÁRIOS FINAIS E CONCLUSÃO 144 VII SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS 149 VIII BIBLIOGRAFIA 150 IX APÊNDICES 175 IX.1 Apêndice I - Roteiro para identificação de desafios e dificuldades e, potenciais soluções para a reciclagem das embalagens plásticas flexíveis pós-consumo no Brasil 175 IX.2 Apêndice II - Roteiro de Entrevista _ Cooperativa de reciclagem 176 IX.3 Apêndice III - Roteiro de Entrevista _ Aterro Sanitário 181 IX.4 Apêndice IV - Roteiro de Entrevista / Reciclador – Reciclagem Mecânica 187 IX.5 Apêndice V - Roteiro Entrevista _ Reciclagem Química 189 IX.6 Apêndice VI – Calendário de reuniões, visitas, eventos e entrevistas 191 IX.7 Apêndice VII – Questionário Pesquisa _ Embalagem Plástica Flexível - Entendimento, comportamento e atitudes do consumidor 192 IX.8 Apêndice VIII - Resultado da pesquisa com consumidores 197 1 I. INTRODUÇÃO Atualmente a população brasileira vive em sua maioria na área urbana (IBGE, 2010) e junto com a característica de uma sociedade de consumo, ao menos para subsistência, tem com um dos resultados a geração de resíduos, que são tratados neste trabalho dentro do contexto dos Resíduos Sólidos Urbanos – RSU (domésticos e de limpeza pública). Estes podem ser caracterizados de uma maneira simplificada como sendo formados por uma fração úmida (matéria orgânica – basicamente restos de alimentos) e por uma fração seca (tendo as embalagens como um dos principais contribuintes) (MMA, 2008). Do ponto de vista dos materiais, a fração seca dos RSU é composta principalmentepor madeira, papel e derivados de fibra de celulose, vidro, alumínio, metal (latas) e plásticos de diversos tipos e formatos (CABRAL, 2010). Uma parte destes materiais são oriundos de fontes não-renováveis, tal como o plástico que, na sua maioria, é produzido a partir de derivados do petróleo. Dentro do conceito de sustentabilidade do planeta, com foco em não poluir e de preservar os recursos naturais, busca-se minimizar nas embalagens a utilização destes materiais extraídos da natureza e ao mesmo tempo maximizar a reutilização ou a reciclagem delas após o consumo do produto embalado, praticando a economia circular. Alguns materiais já apresentam uma solução implementada do ponto de vista da coleta e reciclagem das embalagens pós-consumo. É o caso das latas de alumínio que tem uma alta taxa de reciclagem no Brasil, e além de reduzir o impacto ambiental pelo descarte ou pela redução de extração de matéria-prima, ainda gera valor para a cadeia da reciclagem, tendo também um impacto positivo do ponto de vista social uma vez que gera empregos entre outros benefícios. Dadas algumas características do plástico como durabilidade, leveza, moldabilidade e baixo custo, ele tem sido utilizado nas mais diversas aplicações em diversas áreas, passando pela área industrial, automobilística, construção civil, de saúde e até aeroespacial. E, em função das suas propriedades e benefícios, ele está presente no dia-a-dia dos cidadãos, e o seu consumo tem crescido ano-a-ano nas últimas décadas. Mas principalmente em itens descartáveis ou de vida curta, como é o caso das embalagens que, dependendo da maneira que são dispostos ao final da sua vida útil, podem causar um impacto negativo ao meio ambiente. Este 2 cenário de aumento de consumo e disposição inadequada, gera uma situação não sustentável, do ponto de vista ambiental. Adicionalmente, como o material plástico apresenta longa durabilidade, quando descartados em aterros sanitários ocupam muito espaço e por muito tempo, reduzindo a capacidade dos mesmos. Quando descartados erroneamente na natureza geram problemas de acúmulo, podendo impermeabilizar solos, ferir ou trazer danos aos animais e poluir oceanos. O endereçamento da solução do problema começa a ser atacado inicialmente pela aplicação do conceito dos 3 R’s: Reduzir, Re-utilizar e Reciclar. Esforços para redução tem o foco na minoração ou prevenção de material a ser descartado em aterros após o consumo. Neste contexto, pode ser viabilizado por exemplo através da redução de espessura e peso das embalagens, com consequente diminuição de consumo e disposição de material em aterros. A re- utilização é um tema bastante importante a ser considerado na fase da definição do “design” do produto, considerando a possibilidade da utilização da peça plástica, após o uso, com alguma outra finalidade. Exemplo é o uso de pote de sorvete como pote plástico para acondicionar alimentos ou outros produtos. Neste caso, além de dar uma nova utilidade à embalagem, ainda prolongou a vida útil da peça. Mas o principal tema deste estudo, é a reciclagem, com a recuperação e revalorização do material pós-consumo, reduzindo resíduos descartados em aterros. Dentre todas as embalagens descartáveis, destaca-se as de plásticos flexíveis, em especial as normalmente utilizadas para acondicionar salgadinhos (“snacks”). Estas embalagens, geralmente multicamadas, são feitas de materiais tecnicamente recicláveis. Porém, elas praticamente não são recicladas no país, devido a uma série de fatores como a leveza e o fato de serem feitas de mais de um material, diferentes plásticos ou até mesmo metal. Baseada nas experiências prévias e atuais do autor, esta dissertação de mestrado visa fazer o levantamento de soluções para reciclagem das embalagens plásticas flexíveis pós-consumo para o Brasil, a partir do contexto nacional e do que outros países, em especial os desenvolvidos, fazem a respeito. Além deste levantamento, são apresentadas as barreiras e dificuldades encontradas atualmente pelos recicladores de plásticos, para viabilizar a implementação ou operacionalização de soluções já existentes. Ainda, são apresentadas soluções tecnológicas com o objetivo de ampliar o baixo índice de reciclagem destas embalagens observado atualmente no Brasil. 3 I.1. Perguntas Norteadoras Temas como sustentabilidade do planeta, tratamento dos resíduos sólidos urbanos (RSU) e reciclagem de embalagem têm se tornado cada vez mais frequentes e relevantes em várias esferas de discussão tanto no meio empresarial, na gestão pública e também na área acadêmica. A atuação de 30 anos do autor na área de desenvolvimento e inovação de embalagem, como gestor da área em várias empresas multinacionais como Nestlé, Mondeléz e Pepsico, naturalmente o colocou em contato com tais temas, principalmente no que se refere à reciclagem das embalagens pós-consumo e à necessidade de se dar uma destinação correta às mesmas, evitando o descarte em aterros ou no pior dos casos, que sejam dispostas à céu aberto. Dado interesse do autor pela reciclagem da embalagem, este participa de várias reuniões, associações e comitês, tais como comitê de sustentabilidade da ABRE, CEMPRE – GT-Flexíveis e Rede de Cooperação para o Plástico, que tem o foco na discussão e na promoção da reciclagem das embalagens no Brasil. Nestes fóruns, grupos específicos têm sido montados para discussão e busca de potenciais soluções para a reciclagem das embalagens plásticas flexíveis pós-consumo, que pelo relatado nestas entidades, não tem sido recicladas no Brasil, principalmente as de estrutura multicamadas, multi-materiais e metalizadas. O desenvolvimento deste trabalho foi norteado baseado na busca de resposta para questões relacionadas à reciclagem das embalagens plásticas flexíveis pós- consumo tais como: ➢ Quais são os desafios para o desenvolvimento da cadeia de reciclagem? ➢ Quais são as dificuldades técnicas e operacionais para a reciclagem deste tipo de material? ➢ Quais são as potenciais soluções implementadas, ou em estudo, em outros países? 4 II. OBJETIVOS II.1. Objetivo Geral Análise do gerenciamento das embalagens plásticas flexíveis pós-consumo no Brasil, avaliando dificuldades, desafios e potenciais soluções tecnológicas para o aumento do índice de reciclagem das mesmas. II.2. Objetivos Específicos II.2.1. Levantamento de dados e informações relacionados às embalagens plásticas, com foco nas flexíveis, especialmente as compostas de mais de um material, apresentando um panorama da produção, transformação, composição nos resíduos sólidos urbanos, tecnologias para reciclagem e índice de reciclagem no mercado brasileiro; II.2.2. Levantamento de soluções tecnológicas desenvolvidas ou em desenvolvimento em outros países para destinação, tratamento ou reciclagem das embalagens plásticas flexíveis pós-consumo; II.2.3. Identificar destinações já existentes no país que desviam esses resíduos dos aterros, ainda que em pequena escala, e avaliar as dificuldades para ampliar sua escala de processamento; II.2.4. Avaliação de prós e contras das potenciais soluções para reciclagem, tratamento ou outras destinações adequadas para as embalagens plásticas flexíveis pós-consumo contidas nos resíduos sólidos urbanos nas cidades brasileiras II.2.5. Identificação dos elementos envolvidos na cadeia da reciclagem das embalagens plásticas flexíveis pós-consumo, e os desafios, tecnologias e ações de cada um deles para promover a reciclagem das embalagens plásticas flexíveis pós-consumo no Brasil. 5 III. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA III.1- Sociedade urbanizada e de consumo A partir dos anos 50, houve a intensificação do processo de industrialização no Brasil, como decorrência da Segunda Guerra Mundial, principalmente com foco na substituição da importação, comdestaque para a política desenvolvimentista no governo do presidente Juscelino Kubistchek. Fruto deste processo, houve a criação de um diversificado mercado de trabalho na área urbana atraindo os habitantes da zona rural para as cidades que se encontravam em plena expansão (ALVES e MARRA, 2011). Com a forte migração da população para os centros urbanos, formou-se uma massa de trabalhadores assalariados, que com poder aquisitivo, fomentaram o mercado interno, principalmente a comercialização de alimentos (MARTINE e MCGRANHAN, 2010). Figura 1 – Taxa de urbanização no Brasil Fonte: Elaborado pelo Autor – Adaptado de IBGE, 2010 A Figura 1, com dados do Censo demográfico do IBGE, mostra que a população vivendo em área urbana é crescente deste os anos 1940 e que a partir de 1970, esta passou a ser maioria. Atualmente, mais de 80% da população brasileira vive em áreas urbanas, apresentando uma taxa de urbanização equivalente às encontradas em países desenvolvidos. 31% 36% 45% 56% 66% 74% 81% 84% 69% 64% 55% 44% 34% 26% 19% 16% 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 TAXA DE URBANIZAÇÃO BRASILEIRA População Urbana população Rural 6 A Figura 2 apresenta a tendência demográfica do Brasil, que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a projeção é de em 2050 a porcentagem da população brasileira que vive em centros urbanos deve chegar a 93,6%. Em termos absolutos, serão 237,751 milhões de pessoas morando nas cidades do país na metade deste século (IBGE, 2001). Figura 2 – Projeção da ONU para tendência demográfica do Brasil para 2050 Fonte Elaborado pelo Autor – Adaptado de IBGE, 2001 Para efeito deste estudo, fator importante referente à urbanização, diz respeito à situação em que os habitantes nos centros urbanos têm suas necessidades de consumo e que, na maioria dos casos, a origem ou fabricação de tais bens de consumo (ex: produtos industrializados) está distante do local onde o consumo em si é efetivado (DUBBELING, 2015). Neste contexto, surge o elemento “Embalagem”. Este cumpre um papel importante como ferramenta para conter, preservar, proteger e viabilizar o transporte e estocagem de bens de consumo, atendendo às necessidades de uma sociedade cada vez mais demandante e crescente (ABRE, 2012). Seguindo o fluxo do consumo, após este se consumar, a próxima etapa diz respeito ao descarte do 1 2 ,9 1 8 ,8 3 1 ,3 5 2 ,1 8 0 ,4 1 1 1 1 3 8 2 3 7 ,7 2 8 ,3 3 3 ,2 3 8 ,8 4 1 ,1 3 8 ,6 3 5 ,8 3 1 ,8 1 6 ,3 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2050*M IL H Õ E S D E H A B IT A N T E S POPULAÇÃO RESIDENTE, POR SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO - BRASIL 1940/2000 População Urbana População Rural Exponencial (População Urbana) Exponencial (População Rural) *Projeção ONU Tendências Demográficas 2000 - IBGE 2001 7 que não foi consumido, gerando os resíduos sólidos urbanos, e dentre estes, as embalagens pós-consumo (ABRE, 2012). As transformações nas cidades e na vida urbana se intensificaram na segunda metade do século XX, destacando do ponto de vista econômico, a expansão da industrialização, das atividades no comércio e a expansão do consumo, marcados pela utilização e pelo desperdício, com o descarte de sobras e embalagens. Neste contexto, as pessoas passaram a ser chamadas não mais de cidadãos, mas de consumidores (HARMAN e HORMAN, 1998). Em 2008, a Portaria MMA nº 44, de 13 de fevereiro instituiu o Comitê Gestor de Produção e Consumo Sustentável, reunindo ministérios e parceiros do setor privado e da sociedade civil com a finalidade de realizar amplo debate e identificar ações que pudessem levar o Brasil, de forma planejada e monitorada, a buscar padrões mais sustentáveis de consumo e produção para os próximos anos. Isto se deu, após assumir um compromisso junto à Organização das Nações Unidas em 2007, ao aderir ao Processo de Marrakesh, que visa dar aplicabilidade e expressão concreta ao conceito de Produção e Consumo Sustentáveis (MMA, 2008). III.2 As embalagens para bens de consumo Com a necessidade de se transportar produtos, em especial alimentos, das regiões produtoras para cidades, estas cada vez maiores e distantes, houve a necessidade de protegê-los e preservá-los. No caso dos alimentos, isto ocorreu através do desenvolvimento de técnicas para processamento e preservação dos mesmos, dando origem às embalagens, que tem como função primária a preservação dos alimentos até o seu momento do consumo (MESTRINER, 2002). Atualmente as embalagens são utilizadas até para preservar alimentos em viagens aeroespaciais, tornando-as possíveis para os habitantes da terra. As embalagens são um dos elementos que viabilizam a vida nas cidades, especialmente nas grandes, pois facilitam o abastecimento e o consumo dos habitantes. Porém, há uma consequência que é a geração de resíduos destas embalagens (MESTRINER, 2002). As embalagens são classificadas como primária, secundária ou terciária (JORGE, 2013). As primárias são as que tem contato direto com o produto embalado, as secundárias as que envolvem e agrupam várias embalagens 8 primárias, por exemplo as “caixas de papelão”, também conhecidas como “caixa de embarque”. Em algumas situações, as embalagens primárias individuais, são agrupadas em um cartucho (ex. cartucho de papel-cartão com 3 barras de cereais) ou em um display de papel-cartão (por exemplo, os que expõem várias embalagens de goma de mascar nos caixas ou balcões de bares e padarias). Neste caso, este display é considerado a embalagem secundária e se vários displays forem acondicionados em uma caixa de papelão ondulado, aí esta caixa passa a ser considerada embalagem terciária. III.2.1. Materiais de embalagem Os materiais comumente utilizados nas embalagens são (TWEDE e GODDARD, 2009): ▪ Fibras celulósicas: Papel (rótulos, envoltórios, etiqueta, selos, …), papel cartão (cartuchos, “displays”, embalagem promocional) e papelão ondulado (caixas, badejas, separadores e divisórias) ▪ Metal: aço (latas, tampas, latas promocionais, ....) e alumínio (lata de bebidas, bisnagas, ....) ▪ Vidro: garrafas, frascos, potes, ampolas, .... ▪ Plástico: Rígido (potes, frascos, tampas, garrafas, utensílios descartáveis) ou flexível (bolsa plástica, rótulos, saco plástico, lacres, etiquetas adesivas, envoltórios, sachês e bisnagas). ▪ Madeira: caixas, embalagens promocionais, paletes ▪ Outros componentes Adesivos (fechamento, agrupamento ou laminação) Tintas de impressão Aditivos para plásticos (deslizantes, anti-bloqueadores, anti-UV, …) Impermeabilizantes para papel, cartão ou papelão ondulado O material é definido de acordo com as necessidades técnicas e mercadológicas requeridas pelo produto a ser embalado e protegido. 9 Parâmetros relacionados às necessidades técnicas dizem respeito principalmente à função de proteção requerida da embalagem, podendo ser esta mecânica ou de barreira à gases, umidade, aroma etc. Por exemplo, produtos frágeis como utensílios de vidro, alguns equipamentos eletro-eletrônicos, ovo de páscoa etc vão requerer proteção mecânica (INSTITUTO DE EMBALAGENS, 2009). Já alguns alimentos, vão necessitar de proteção em relação à oxigênio, para diminuir ou evitar o processo de oxidação ou rancificação. Outros alimentos necessitam de manutenção da crocância do produto, o que requer uma embalagem com barreira à umidade (JORGE, 2013). Outro aspecto a ser considerado também é em relação ao manuseio, armazenamento e transporte do produto. Há produtos que precisam ser armazenados e transportados em ambiente refrigerado e outros que são armazenados e distribuídos em região de alta umidade, como a região amazônica, o que requer embalagem com resistência à umidade (MÄHLMANN et al., 1999). Também devem ser considerados os aspectos mercadológico e de marketing, através de formatos diferenciados e comunicação gráfica,quando a embalagem pode agregar valor ao produto destacando-o na gôndola, e ao consumidor ao informar-lhe benefícios nutricionais, forma de abertura e re- fechamento e modo de preparo do produto. Do ponto de vista estético, pode se oferecer formatos diferenciados e efeitos gráficos (exemplo, impressão brilhante, holografia, tinta fluorescente ou fotocromática, etc) (MESTRINER, 2002). Aspecto também importante é relacionado ao meio ambiente. Sempre que possível, a escolha do material deve ser realizada pensando nos 3 R’s, com a redução do consumo de material, que a embalagem possa ser reutilizada e em último caso, que o material possa ser reciclado através da infraestrutura e tecnologias disponíveis (NASCIMENTO, 2010). No caso das embalagens plásticas flexíveis, estas são destacadas pelo aspecto da flexibilidade do material, independentemente do formato da embalagem e pela espessura máxima dada como inferior à 250µm. Essas embalagens têm como uma das principais características a relação otimizada entre massa de material de embalagem por quantidade de produto embalado (SARANTÓPOULOS et al., 2002). 10 III.2.2. Embalagem para alimentos De acordo com o Datamark, em 2016, as embalagens para alimentos representaram 29,4% do total de embalagens consumidas no Brasil (excluindo caixas de papelão ondulado), conforme está apresentado na Tabela 1. Esta mesma tabela indica que em 2016, 11,3% das embalagens eram de filmes plásticos flexíveis. Tabela 1: Consumo de Material de Embalagem no Brasil, pela aplicação final [tons] – Excl. caixa de papelão Flexíveis Metais Papel Plásticos Vidro Total Alimentos 266644 315544 352276 787466 257307 1979237 29,4% Bebidas 362792 499979 53997 808600 1104279 2829647 42,0% Não alimentos 134629 503264 453388 695077 142093 1928451 28,6% 764065 1318787 859661 2291143 1503679 6737335 11,3% 19,6% 12,8% 34,0% 22,3% Fonte: Elaborado pelo autor – Adaptado de Datamark, 2017 (excluído consumo de papelão ondulado) A embalagem tem a função de assegurar a qualidade e a integridade do produto desde o momento da produção (empacotamento) até o momento do consumo. Aspectos como barreira à luz, umidade, à gases, à perda de aroma, e microrganismos, entre outros são importantíssimos visando garantir a qualidade do produto e satisfação do consumidor no momento do consumo (LANDIM et al., 2015). Com todas as propriedades necessárias, a embalagem passa a exercer um importante papel em relação à sustentabilidade do planeta, uma vez que atua efetivamente na redução de desperdício de alimentos (LANDIM et al., 2015), desde o campo (agricultura e pecuária) até o momento do consumo. Neste mesmo contexto da sustentabilidade do planeta, a embalagem exerce um papel importante na medida em que, através dela, é possível estender a vida útil dos produtos, viabilizando a alimentação da população urbana e a distribuição de nutrição aos povos distantes que atualmente apresentam alta taxa de mortalidade por questão de desnutrição (JORGE, 2013). 11 III.2.3. Embalagens plásticas flexíveis Em relação à estrutura do material de uma embalagem flexível há duas situações: estrutura monocamada e estrutura multicamada. Normalmente a monocamada é constituída de polietileno, polipoprileno, PET ou PVC. Já na estrutura multicamadas, estas podem ser formadas pela mistura de camadas de materiais como polietileno, polipropileno, PET e PA. Além de material plástico, pode ainda haver combinação com papel, folha de alumínio ou metalização. De acordo com o relatório da Maxiquim (MAXIQUIM, 2018) sobre a indústria brasileira de embalagens plásticas flexíveis em 2017, a produção naquele ano foi de 1.908 mil toneladas, com um crescimento de 4% comparado com 2016. Conforme a Figura 3, as principais resinas consumidas no Brasil em embalagens flexiveis foram PEBDL, PEBD, PP e PEAD, nesta ordem. Nesta mesma figura, observa-se que o consumo de cada uma destas resinas cresce ano-a-ano no período de 2011 a 2017. Figura 3 – Consumo de resinas para embalagens plásticasflexíveis no Brasil em 2017 Fonte: MAXIQUIM, 2018 O consumo de material para produção de embalagens plásticas flexíveis representou 30% do total de plásticos transformados (que viraram produtos) no Brasil em 2017. Conforme a Figura 4, historicamente, este percentual variou de 28% a 30% entre 2010 e 2017 (MAXIQUIM, 2018). 12 Figura 4: Percentual do consumo de resina para produção de embalagens plásticas flexíveis comparado com o total de plásticos transformados no Brasil em 2017 Fonte: MAXIQUIM, 2018 Pelo detalhamento do consumo de embalagens plásticas por setor, Figura 5, a maioria (39%) das embalagens plásticas flexíveis foram utilizadas no setor de alimentos, que cresceu 0,8% de 2016 para 2017 (MAXIQUIM, 2018). Figura 5 – Embalagens plásticas flexíveis no Brasil (por setor) – 2017 Fonte: Elaborado pelo Autor, adaptado de MAXIQUIM, 2018 Os principais tipos de plásticos e as principais estruturas utilizadas nas embalagens plásticas flexíveis são (ANYADIKE, 2009): I. Estrutura mono-material: pode ser monocamada ou multicamadas, normalmente pode se encontrar estruturas em PEBD, PEAD, PP, BOPP, PET 13 e PVC. Exemplo de mono-material é o saco de arroz, que é produzido somente por PE ou então algumas estruturas de salgadinhos que são multi- camadas, porém somente de BOPP (TECNOVAL, 2019). Há filmes multicamadas mono-material produzidas também pelo processo de co- extrusão, sendo o mesmo material base, com diferentes aditivações nas camadas, ou até, utilizando material reciclado em uma delas. Exemplo seria filmes de PE, com diferentes com camadas aditivadas para melhoria as propriedades de resistência a rasgos, furos, impacto, ou pigmentos, antiestático, antichamas, anti-UV, com bactericida, com biocida, com fungicida, entre outros, aplicados como envoltórios de paletes, filme termo- encolhível, envelope com camada negra, etc... (EMBALAGEM IDEAL, 2020). II. Estrutura com diferentes materiais: neste caso são estruturas multicamadas e, normalmente para embalagens de alimentos no Brasil utiliza-se composição com até 3 materiais poliméricos diferentes, desde BOPP/PE, ou PET/BOPP/PE, ou PET/PE, etc, laminados por adesivo (TECNOVAL, 2019). Pelo processo de co-extrusão, é possível produzir estruturas com as camadas em diferentes materiais para melhorar a selabilidade (camada interna), barreira à oxigênio (PA ou EVOH), barreira a gases e a aromas e alta resistência mecânica à abrasão, perfuração, impacto, flexão, boa resistência térmica, boa resistência a óleos, gorduras e produtos químicos (PA) (CRIPPA, 2006). Normalmente são encontrados no mercado estruturas com 3, 5 e 7 camadas, para aplicação em embalagem de produtos laticínios e carnes (ZAPAROLLI, 2007). As estruturas das embalagens plásticas flexíveis monocamada ou multicamadas podem ter espessura variando normalmente de 15µm a 200 µm. É possível produzir filmes multicamadas de 2 até 17 camadas usando tecnologias modernas e a principal aplicação é na produção de embalagens primárias (WAGNER JR, 2016). Conforme listado na Tabela 2, há várias tecnologias para a produção de filmes plásticos. A escolha da estrutura do filme, do melhor processo e da melhor tecnologia depende principalmente da aplicação final do filme. Aproximadamente 17% da produção de filmes plásticos no mundo é para produção de estruturas multicamadas (TARTAKOWSKI, 2010). 14 Tabela 2 - Processos de conversão de filmes e aplicações Estrutura Processo de Fabricação Tecnologia Exemplos Monocamada Extrusão Extrusão tubular Embalagens plásticas flexíveis, agricultura, rótulos, construção civil, filme esticável, filme termo-encolhível, etc Extrusão plana Embalagens plásticas flexíveis, envoltório para flores, substratos de revestimentos, etc Multi- camadas Co-ExtrusãoExtrusão tubular Embalagem para alimentos e produtos químicos Extrusão plana Embalagens em geral Revestimento “Coating” Envoltório para doces e embalagem para salgadinhos Laminação Embalagem para produtos médicos, condimentos, sopas, salgadinhos Laminação Adesivo Embalagem para alimentos e salgadinhos Fonte: Elaborado pelo autor – Adaptado de HORODYTSKA, 2018 A Tabela 3 apresenta estruturas típicas de embalagens plásticas flexíveis utilizadas no Brasil para acondicionar alimentos, variando desde estruturas simples, monocamada, com baixos requerimentos em termos de barreira, até estruturas mais complexas, multicamadas, com barreira à umidade, ou à oxigênio ou à luz, por exemplo. No caso das estruturas multicamadas, estas são normalmente formadas a partir de laminação de dois ou mais filmes, com a junção delas através de adesivos base solvente ou base d´água (“solventless”). Ainda integram as estruturas, tinta de impressão, metalização e outros aditivos (TECNOVAL, 2019). 15 Tabela 3: Estruturas típicas para embalagens plásticas flexíveis para as principais categorias de alimentos em que são aplicadas e correspondentes composição padrão de mercado Fonte: Elaborada pelo Autor, adaptado de TECNOVAL, 2019 Pela Tabela 3, em média, os polímeros representam 90,6% (m/m) das estruturas das embalagens plásticas flexíveis. Baseado nestes dados, observa-se que as estruturas são praticamente compostas por plástico, e para efeito de reciclagem, será considerado como tal, na busca de soluções tecnológicas. Ainda, em média 6,1% das estruturas são representadas por tinta de impressão e 4,9% por adesivo de laminação. Apesar de ser um baixo percentual de participação na composição das estruturas, são esses elementos (tinta de impressão e adesivo de laminação), um dos principais fatores que diferenciam (e geralmente dificultam) a reciclagem dos filmes plásticos laminados e impressos da reciclagem regular de uma peça em plástico rígido, além de que podem ser acrescidos do fato de eventualmente possuírem mais de um material. Estas diferenças e potenciais impactos no processo de reciclagem são abordados mais adiante. O uso de filmes plásticos flexíveis têm aumentado significativamente, principalmente em embalagens, devido à sua leveza, reduzindo o consumo de material, baixo custo, flexibilidade, versatilidade, facilidade para impressão, propriedade mecânicas e térmicas, e ainda garantindo a proteção ao produto embalado. Tudo isto habilita o uso deste material em diversas aplicações, como Principais aplicações em alimentos Estrutura Padrão % Polímero na estrutura massa/massa % Tinta de impressão % Adesivo % Outros aditivos Açucar / Farinha 1,0 kG Polietileno 45g 96 4 -- -- Biscoitos 200g Bopp 18g+Bopp 18g Met 87 7 6 -- Massa 500g Bopp 18g+PP25g 89 6 5 -- Pão de forma Polietileno 25g 93 7 -- -- Chocolates100g - 150g Bopp 22,5g+Bopp Pérola 26g 87 5 4 4 Salgadinhos 100g Bopp 27g+Bopp 18,0g Met 89 6 5 -- Barras de Cereais Bopp 18g+Bopp 18g Met 87 7 6 -- Pipoca PP30g 94 6 -- -- Café torrado em moído 500g Pet 16,8g Met + Pe 30g 89 6 5 -- Leite em pó 200g Pet 16,8g Met + Pe 30g 89 6 5 -- Achocolatado em pó 200g Pet 16,8g + Pe 30g 89 6 5 -- Cereais matinais Polietileno AD 50g 100 -- -- -- Sorvete Bopp Pérola 26g 90 10 -- -- Maionese Pet 16,8g + Pe 70g 89 3 3 5 Média 90,6 6,1 4,9 4,5 16 exemplo a substituição de embalagens rígidas (ex.: achocolatado em pó) por bolsas flexíveis, reduzindo o consumo de material de embalagem e o impacto ambiental. Estima-se que em países desenvolvidos, em torno de 50% dos plásticos nos resíduos domésticos sejam filmes flexíveis. (HORODYTSKA, 2018). III.3. Resíduos Sólidos Urbanos Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) implicam em resíduos resultantes das residências (domiciliar ou doméstico) e os resíduos da limpeza urbana (os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana) (BRASIL, 2010). Especificamente em relação ao consumo, restos de alimentos ou bens de consumo inutilizados e as respectivas embalagens, fazem parte dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). Este trabalho tem o foco no entendimento da gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, mais especificamente, nas embalagens plásticas flexíveis pós-consumo resultante principalmente da coleta seletiva. Realizar a gestão e gerenciamento de resíduos sólidos é uma das atividades mais complexas dos governos dos municípios, pois compreende uma série de atividades (por exemplo, coleta, transporte e destinação final), cada uma com suas técnicas, legislações e problemas (ABRELPE, 2019). Em 2018 foram gerados 79 milhões de toneladas no Brasil segundo a Abrelpe, o que significa 216,4 mil toneladas/dia, representando uma média per capita de 1,039 kg/hab./dia (ABRELPE, 2019). Dados levantados pelo SNIS-RS, referentes ao ano de 2018, publicados no 17°. Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos (BRASIL, 2019b), são apresentados na Tabela 4. Através deles é possível ter uma dimensão da situação do manejo dos resíduos sólidos urbanos no Brasil. Este levantamento consolida dados do manejo dos RSU de 3.468 municípios, 62,3% do total do país, representando 85,6% da população urbana brasileira (151,1 milhões de habitantes). De acordo com este diagnóstico, 62,78 milhões de toneladas de RSU foram coletados representando aproximadamente 79,5% dos RSU gerados em 2018 (BRASIL, 2019b). 17 Tabela 4: Panorama dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil – SNIS-RS - 2018 Total de municípios participantes da coleta de dados 3.468 (62,3% do total de municípios brasileiros) População urbana brasileira representada no levantamento 85,6% ou (151,1 Milhões de habitantes) Serviço de coleta domiciliar de RSU – cobertura (%) 98,8% da população urbana e 92,1% da população total Volume total coletado 62,78 milhões de toneladas – 172,0 toneladas/dia. Volume PER CAPITA coletado/dia 0,96 kg/hab./dia (média) 1 Volume coletado e disposto em aterros sanitários 46,68 milhões de toneladas de RSU, ou 75,6% do coletado Volume de resíduos coletados despejado em locais inadequados (ex. lixões) 15,05 milhões de toneladas, correspondendo a 24,4% dos resíduos coletados Recursos aplicados pelos municípios em 2018 em serviços de limpeza urbana no Brasil Média de R$130,47 por habitante Empregos diretos no setor de limpeza pública Cerca de 332 mil postos de trabalho formal no setor Fonte: Elaborado pelo Autor, adaptado de BRASIL, 2019b Ainda pela Tabela 4, 75,6% dos RSU coletados são dispostos em aterros sanitários, por outro lado, 15,05 milhões de toneladas de resíduos coletados são despejados em locais inadequados. A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (BRASIL, 2010), lei 12.305, foi promulgada no Brasil em 02/08/2010 atribui, em seu artigo 3º, caráter multidimensional à gestão integrada dos resíduos sólidos, definindo-a como o “conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável”. Para promover e potencializar este conceito, a PNRS também preconiza a responsabilidade compartilhada entre poder público, iniciativa privada, organizações sociais voltadas para a causa e os próprios consumidores, com uma visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis 1 A população urbana foi estimada pelo SNIS, em cada município brasileiro, adotando-se a população total estimada pelo IBGE multiplicada pela taxa de urbanizaçãoverificada no Censo 2010. Segundo este critério, a população urbana do Brasil em 2018 resultou em 176.539.719 habitantes. 18 ambiental social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública. Também o desenvolvimento sustentável e a ecoeficiência dos produtos ao longo da sua vida, além do reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e ainda, promovendo cidadania. Alguns dos objetivos da PNRS (BRASIL, 2010), descritos no Artigo 7o. a serem destacados dentro do contexto desta Dissertação são: não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos; estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços; adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais; incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados; gestão integrada de resíduos sólidos; articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos e capacitação técnica continuada na área gestão e reciclagem dos resíduos sólidos. Assim como a PNRS no Brasil, a Diretiva para Europa para resíduos (“Waste Framework Directive – 2008/98/EC / Council Directive, 2008), estabeleceu a seguinte hierarquia para o tratamento dos resíduos sólidos urbanos: redução, re- utilização, reciclagem, recuperação e disposição (HORODYTSKA, 2018). A composição dos RSU varia de região a região, dependendo do nível cultural, educacional, socioeconômico, dos hábitos de consumo, tamanho da cidade, disponibilidade de produtos industrializados, podendo até variar de mês-a- mês, dependendo da estação do ano. Estudos apontam que centro urbanos mais desenvolvidos, consomem mais produtos industrializados e que como consequência geram maior quantidade per capita de embalagens pós consumo (CABRAL, 2010). É muito importante a identificação da composição gravimétrica, a quantidade e a fonte geradora dos resíduos de cada localidade, para se definir a melhor forma de coleta, do transporte, da gestão, para melhoria da coleta seletiva, e para definição da solução tecnológica mais adequada no caso da reciclagem. Ou, em último caso, para a destinação de forma ambientalmente correta em aterros sanitários (BUENROSTRO e BOCCO, 2003). 19 A composição gravimétrica representa o percentual da participação (peso) de cada componente de uma amostra do RSU em relação ao peso total desta amostra. Além de restos de alimentos, os materiais recicláveis mais comumente encontrados na composição dos resíduos sólidos urbanos são alumínio, aço, papel/papelão, plásticos e vidro (IPEA, 2012). III.4. Logística reversa A logística reversa é o instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado pelo conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010) Em resumo, a logística reversa tem como objetivos (OLIVEIRA e SILVA, 2005): • O retorno ou a recuperação de produtos, no caso, material de embalagem pós-consumo; • A reciclagem, a substituição e a reutilização de materiais; • A redução da extração e do consumo de matérias-primas virgens; • A disposição ambientalmente correta de resíduos. Fator importante para que alternativas mais interessantes que o simples aterramento, como a reciclagem, aconteçam, diz respeito à necessidade de que os locais de consumo sejam atendidos por sistema de coleta dos resíduos, que seja implementada uma operação de logística reversa e especificamente em relação aos materiais de embalagem, ou seja, coleta seletiva. De uma maneira simplificada, os resíduos sólidos urbanos podem ser classificados em fração úmida, basicamente materiais orgânicos putrescíveis, principalmente resto de alimentos, e, fração seca, na sua maioria, materiais de embalagem pós-consumo. Assim, uma logística reversa de embalagens pós-consumo e se possível já separado da fração úmida, com o foco na maximização da reciclagem embalagens pós-consumo, pode ser exemplificada na Figura 6, juntamente com a logística convencional. https://pt.wikipedia.org/wiki/Produtos https://pt.wikipedia.org/wiki/Reciclagem https://pt.wikipedia.org/wiki/Reutiliza%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Mat%C3%A9rias-primas https://pt.wikipedia.org/wiki/Res%C3%ADduos 20 Figura 6. Logística convencional e a Logística Reversa Fonte: CARRIJO, 2019 Pela PNRS, são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de: • agrotóxicos (seus resíduos e embalagens) • pilhas e baterias • pneus • óleos lubrificantes (seus resíduos e embalagens) • lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista • produtos eletroeletrônicos e seus componentes Para outras embalagens de bens de consumo, não há exigência específica quanto à logística reversa. Compromissos têm sido estabelecidos via acordos setoriais. III.4.1. Coleta Seletiva no Brasil A existência de um sistema de coleta de material constitui um primeiro passo para viabilizar atividades recicladoras (SANTOS et al., 2004). Definida como a coleta dos resíduos sólidos previamente separados, de acordo com a sua constituição e composição (PNRS, artigo 3º, inciso V), a coleta 21 seletiva encontra-se sob a responsabilidade dos titulares dos serviços (Decreto Federal nº 7.404/2010, artigo 9º, parágrafo 2º) e deverá ser planejada no âmbito dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS). A Tabela 5 apresenta a massa de RSU coletada seletivamente por região, onde se destaca a região Sul, com a maior massa coletada per capita, de 34,2 kg/hab./ano, e por outro lado, as regiões Norte e Nordeste com 8,0 e 8,6 kg/hab./ano respectivamente. Já em termos de municípios com coleta seletiva, Sudeste e Sul, são os que apresentam os maiores números, 566 e 564 municípios, respectivamente, enquanto a região Norte, somente 33 municípios. Houve um aumento da massa coletada seletivamente em 2018 de 182 mil toneladas, equivalente a um aumento de 12,3% em relação ao ano anterior. Em relação à massa per capita coletada seletivamente houve um incremento de 5,1% neste mesmo período (BRASIL, 2019b). Tabela 5 - Massa de resíduos sólidos coletada pelo serviço de coleta seletiva de RSU dos municípios participantes do SNIS, segundo macrorregião geográfica Macroregião Quantidade coletada [ton./ano] Quant. de Municípios com coleta seletiva participante do SNIS Massa per capita recolhida na coleta seletiva. Média municipal [ton./mun./ano] Massa per capita coletada seletivamente [kg/hab./ano] Norte 51.174,4 33,0 1.550,7 8,0 Nordeste 157.570,1 81,0 1.945,3 8,6 Sudeste 620.168,4 566,0 1.095,7 10,2 Sul 707.772,7 564,0 1.254,9 34,2 Centro-Oeste 130.929,6 78,0 1.678,6 13,8 Total - 2018 1.667.615,22 1.322 1.261,4 14,4 Fonte: Elaborado pelo Autor. Adaptado de BRASIL, 2019b Na Tabela 6, segundo dados do SNIS-RS (2018), 1.322 municípios, de um total de 3.468 respondentes, declararam possuir algum tipo de coleta seletiva (38,1% da amostra SNIS). Em termos de coleta seletiva, o volume coletado representa apenas 2,71% do total de RSU coletados. No que tange aos resíduos 2 Quantidade coletada diretamente pelas prefeituras, por empresas contratadas pela prefeitura, por cooperativas/associações com alguma parceria com aprefeitura e por outros agentes também com parceria. 22 recicláveis coletados e recebidos nas unidades de triagem, eles representaram 1,7% do total de RSU coletados. Tabela 6: Panorama da Coleta Seletiva no Brasil nos municípios participantes do SNIS-RS - 2018 Serviço de coleta seletiva 1.322 municípios ou 38,1% dos municípios Serviço de coleta seletiva – modelo porta-a-porta 1.135 municípios, atendendo 37,8% da população urbana Participação formal de catadores na coleta seletiva Responsável por 30,7% do total de toneladas coletadas seletivamente Organizações de catadores 1.232, distribuídas em 827 municípios Números de catadores 27.063 vinculados a associações e cooperativas Massa de resíduos coletada seletivamente no ano, nos 1.322 municípios 1,7 milhão de toneladas (Tabela 5) Massa per capita coletada seletivamente 14,4 kg/hab./ano (média) (Tabela 5) Taxa de coleta seletiva vs. volume total de RSU coletados 4,11% Estimativa de resíduos recicláveis recebidos nas unidades de triagem - Brasil 1,05 milhão de toneladas, representando 1,7% do total de resíduos domiciliares e públicos coletados no Brasil, ou 5,6% da massa total potencialmente recuperável de recicláveis secos => Índice de 7,37 kg/hab./ano de resíduos recuperados. Estimativa de recuperação de recicláveis secos3 em relação aos resíduos secos domésticos 7,0% Fonte: Elaborado pelo Autor, adaptado de BRASIL, 2019b Para melhor referência do significado da média per capita encontrada, 14,4 kg/hab./ano, se assume a hipótese de atribuir o valor de 30% à fração de materiais secos potencialmente recicláveis presente na massa de RDO e se tomar a mesma quantidade média per capita de RDO coletada em 2018 (350,4 kg/hab./ano). Neste caso, pode-se afirmar que foi coletado de forma seletiva não mais que 13,7% de todo o montante potencialmente reciclável (BRASIL, 2019b). Na Tabela 7, segundo dados do SNIS-RS (2018), 1.322 municípios declararam possuir algum tipo de coleta seletiva, representando 38,1% da amostra 3 Premissas SNIS-RS, atribuindo-se RSU composto por 20,0% de resíduos sólidos públicos e, 30% dos RSU sendo potencialmente recicláveis (oriundos majoritariamente dos RDO) 23 SNIS e 23,7% do Brasil. Ainda por esta tabela, observa-se que o índice de existência de coleta seletiva aumenta nos municípios com maior população. Somente 18,9% dos municípios brasileiros com até 30 mil habitantes possuem algum tipo de coleta seletiva, enquanto este serviço está disponível em mais de 80% dos munícipios com população acima de 250 mil habitantes. Tabela 7 - Municípios com programas de coleta seletiva por faixa populacional – levantamento SNIS-RS - 2018 Faixa Populacional Total de municípios - Brasil Total de Munícipios da amostra SNIS- RS 2018 Municípios que declararam existência de coleta seletiva Total Brasil Faixa Habitantes [mil] Quant. de Munic. (%) (%) 1 até 30 4.411 2.647 835 31,5 18,9 2 de 30 a 100 842 534 271 50,7 32,2 3 de 100 a 250 205 176 124 70,5 60,5 4 de 250 a 1.000 95 94 76 80,9 80,0 5 de 1.000 a 4.000 15 15 14 93,3 93,3 6 acima de 4.000 2 2 2 100,0 100,0 Total - 2018 5.570 3.468 1.322 38,1 23,7 Total - 2017 5.570 3.556 1.256 35,3 22,5 Total - 2016 5.570 3.670 1.215 33,1 21,8 Fonte: Elaborado pelo Autor. Adaptado de BRASIL, 2019b A pesquisa Microsoft 2018, divulgado pelo Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE), mostrado na Figura 7, apresenta números próximos aos reportados pelos SNIS-RS 2018, sendo que neste em 2018, 1.227 municípios reportaram a existência de algum tipo de coleta seletiva, representando 22% dos municípios brasileiros e apenas 35 milhões de brasileiros (17%) com acesso a programas municipais de coleta seletiva. Ainda por esta pesquisa, é notório o crescimento de municípios com coleta seletiva após a promulgação da PNRS em 2010, com um aumento de 177% na abrangência nacional da coleta seletiva de 2010 a 2018. 24 Figura 7 – Municípios brasileiros com coleta seletiva – Ciclosoft 2018 Fonte: Elaborado pelo Autor, adaptado de Ciclosoft 2018 (CEMPRE, 2019) A quantidade de resíduos recicláveis secos recuperados por dia são apresentados na Tabela 8, considerando-se plástico, papel, papelão, metais, vidros e outros, de acordo com os dados levantados pelo SNIS-RS, referentes ao ano de 2018, publicados no 17°. Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos (BRASIL, 2019b). Tabela 8 – Incidências de materiais recicláveis secos recuperados por tipo de material – SNIS-RS 2018 Quant. De Municípios Papel e papelão [ton.] Plásticos [ton.] Metais [ton.] Vidros [ton.] Outros [ton.] TOTAL 1.031 241.085,7 129.493,2 75.304,9 69.820,2 58.022,4 573.726,4 42% 23% 13% 12% 10% 100% Fonte: Elaborado pelo Autor. Adaptado de BRASIL, 2019b Os dados apresentados na Tabela 8, referem-se a 1031 municípios que reportaram os dados no levantamento SNIS-RS 2018, com o detalhamento dos materiais recicláveis secos recuperados. Esta quantidade de municípios representa 18,5% do total de munícipios no país. A Tabela 9 apresenta uma estimativa da massa total de resíduos recicláveis secos para o Brasil, resultando em 1,1 milhão de toneladas recuperadas, que corresponde a 1,7% do total aproximado de 62,8 milhões de toneladas (Tabela 4) 25 de resíduos domiciliares e públicos “potencialmente” coletados em 2018 (BRASIL, 2019b). Tabela 9 – Estimativa de massa total de materiais recicláveis secos recuperados – Brasil – SNIS-RS 2018 Quantidade de municípios População Urbana (IBGE) Indicador médio [kg/hab. ano) Quant. de massa recuperada em função da pop. Urb. [ton./ano] Pop. Urb. correspondente aos mun. com materiais recicláveis recuperados entre os mun. da amostra [%] Estimativa da massa total recuperada [ton./ano] 5.570 176.539.719 7,37 1.301.627,92 81,25 1.057.590,76 Fonte: Elaborado pelo Autor. Adaptado de BRASIL, 2019b Para ampliar o índice de recuperação dos resíduos recicláveis contido nos RSU, Ministério do Meio Ambiente lançou em 2019 o Programa Nacional Lixão Zero, de forma a equacionar a questão dos resíduos sólidos urbanos, por meio do fortalecimento de sua gestão integrada, coleta seletiva, reciclagem, logística reversa, recuperação energética e disposição ambientalmente adequada dos rejeitos (BRASIL, 2019a). A Figura 8, apresenta dados do CEMPRE (2018) que mostram serem as regiões sul e sudeste as que possuem maior índice de coleta seletiva no Brasil. Figura 8 - Coleta seletiva por região - Brasil Fonte: Elaborado pelo Autos, adaptado de Ciclosoft 2018 (CEMPRE 2018) Ainda pela pesquisa Ciclosoft 2018 (CEMPRE, 2018), os programas de maior êxito são aqueles em que há uma combinação dos modelos de coleta 45% 42% 8% 4% 1% Sudeste (416) Sul (337) Nordeste (97) Centro-Oeste (62) Norte (15) 26 seletiva: Porta-a-Porta (80%), Pontos de Entrega Voluntária (PEV) (45%) e Cooperativas (61%). Muitos utilizam a combinação de dois ou três modelos. A Figura 9 (CEMPRE, 2017) mostra a composição dos resíduos sólidos urbanos, sendo 48.6% composto por “fração seca”, na sua maioria material de embalagem pós-consumo, e destes, 13,5% correspondem ao plástico. Figura 9 – Composição Gravimétrica dos RSU brasileiros Fonte: Elaborado pelo Autor, adaptado de CEMPRE, 2017 A Figura 10 apresenta um detalhamento da fração seca, resultado da coleta seletiva, conforme dados do CICLOSOFT 2018 (CEMPRE, 2018). De acordo com este relatório, 17% representa a participação do plástico na composição gravimétrica. Este relatório não apresenta a separação entre plástico rígido e plástico flexível. Figura 10 - ComposiçãoGravimétrica na coleta Seletiva – Ciclosoft 2018 Fonte: Elaborado pelo Autor, adaptado de Ciclosoft 2018 (CEMPRE, 2018) Fração Molhada 51,40% Plásticos 13,50% Vidro 2,40% Papel e Papelão 13,10% Metais 2,90% Outros 16,70% Fração Molhada Plásticos Vidro Papel e Papelão Metais Outros 17% 21% 8% 2% 10% 9%2% 7% 24% Plásticos Papel / Papelão Vidro Longa Vida Alumínio Metais Ferrosos Eletrônicos Outros 27 Para além do ganho ambiental e econômico, a vida urbana passou a conviver gradativamente com um novo conceito do “consumo consciente”. Nesse cenário, a separação dos resíduos nas residências, a maior atenção do consumidor quanto às práticas empresariais associadas à reciclagem dos produtos e a cobrança cidadã por melhorias no serviço de coleta seletiva realizado pelas prefeituras tornaram-se elementos-chave para o avanço do nível de reciclagem em geral no país, em especial a reciclagem de embalagens pós-consumo no País (CEMPRE, 2017). Apesar das dificuldades enfrentadas pelas instituições, pelo poder público e pelas cooperativas de catadores no Brasil, alguns avanços têm sido identificados nos últimos anos, ao menos em alguns materiais específicos, com aumento no índice de reciclagem, principalmente aos materiais com maior valor de mercado. Entre 1994 e 2008, o índice de reciclagem de latas de alumínio variou de 56% para 91,5%, o de papel de 37% para 43,7%, o de frascos de vidro de 33% para 47%, o de embalagens PET de 18% para 54,8%, o de lata de aço de 23% para 43,5%, e o de embalagem longa-vida de 10% em 1999 para 26,6% em 2008. (IPEA, 2017). A Figura 11 apresenta o fluxo dos resíduos pós-consumo, detalhando as diferentes formas de descarte e coleta, com foco nos resíduos potencialmente recicláveis, passando pelas cooperativas e associações de catadores, até a indústria recicladora. Neste longo caminho, pode ainda ter a passagem pelos intermediários aparistas e sucateiros. 28 Figura 11 - Fluxo de resíduos comercializados diretamente entre as cooperativas e associações de catadores e a indústria recicladora. Fonte: ANCAT, 2019 III.5. Plásticos – presença nos Resíduos Sólidos Urbanos Os plásticos fazem parte de uma classe de materiais mais abrangentes chamados polímeros, cuja palavra origina-se do grego poli (muitos) e mero (unidade de repetição). Um polímero é uma macromolécula composta por muitas (geralmente dezenas de milhares) unidades de repetição denominadas meros, ligadas através de ligações covalentes. Eles podem ser naturais, como a seda, a celulose, as fibras de algodão, etc., ou sintéticos, como o polipropileno (PP), o poli (tereftalato de etileno) (PET), o polietileno (PE), o policloreto de vinila (PVC), etc. É possível dividir os polímeros sintéticos em três grandes classes: plásticos, borrachas e fibras (CANEVAROLO, 2010). Os polímeros originários de monômeros de hidrocarboneto alifático insaturado contendo uma dupla ligação carbono-carbono reativa são conhecidos como poliolefinas, sendo os mais comuns o polietileno (de baixa e alta densidade) e o polipropileno (PP) (CANEVAROLO, 2010). 29 Segundo Canevarolo (2010) o plástico é definido como um produto final sólido de alta massa molar e são divididos em termoplásticos e termofixos. • Termoplásticos: São plásticos moldáveis que podem ser fundidos quando submetidos a altas pressões e temperaturas e solidificados quando resfriados, não sofrem alterações na sua estrutura química durante o aquecimento e que podem ser novamente fundidos após o resfriamento. Exemplos: prolipropileno (PP), polietileno de alta densidade (PEAD), polietileno de baixa densidade (PEBD), poli(tereftalato de etileno) (PET), poliestireno (PS), policloreto de vinila (PVC) etc. Podem ser transformados em objetos principalmente através da moldagem por injeção, sopro ou extrusão e são divididos em filmes (geralmente os produtos com espessura inferior a 254 µm, como embalagens plásticas flexíveis, sacos e sacolas) e rígidos (o restante) (MANRICH et al., 1997; SARANTÓPOULOS et al., 2002). • Termorígidos: São moldáveis uma única vez, pois não fundem com o reaquecimento. Exemplos: resinas fenólicas, epóxi, poliuretanos etc. Segundo Canevarolo (2010), PEAD, PEBD, PP, PS e PVC são considerados termoplásticos convencionais, pois possuem baixo custo, alta produção e fácil processamento. Os plásticos são materiais que, embora sólidos à temperatura ambiente em seu estado final, quando aquecidos acima da temperatura de “amolecimento” tornam-se fluidos e passíveis de serem moldados por ação isolada ou conjunta de calor e pressão. Os termoplásticos são moldáveis a quente e possuem baixa densidade, boa aparência, são isolantes térmico e elétrico, são leves, resistentes ao impacto e possuem baixo custo, portanto, apresentam uma larga faixa de aplicações (SPINACÉ e DI PAOLI, 2005). Apesar da existência de uma grande variedade de termoplásticos, apenas cinco deles, ou seja, o PE (PEAD, PEBD, PELBD), o PP, o PS, o PVC e o PET representam cerca de 90% do consumo nacional, utilizados em aplicações diversas, voltadas para a construção civil, setor agrícola, de calçados, móveis, embalagens, têxtil, lazer, telecomunicações, eletroeletrônicos, automobilísticos, médico-hospitalar, entre outras (ABIPLAST, 2018). Os principais produtos feitos com cada plástico são: 30 1. PET - poli (tereftalato de etileno) – É encontrado em frascos e garrafas para uso alimentício/hospitalar, cosméticos, bandejas para micro- ondas, filmes para áudio e vídeo, fibras têxteis, etc. 2. PEAD - polietileno de alta densidade – Com ele são feitas embalagens para detergentes e óleos automotivos, sacolas de supermercados, garrafeiras, tampas, tambores para tintas, potes, utilidades domésticas, etc. 3. PVC - policloreto de vinila – Já foi muito utilizado em embalagens para água mineral e óleos comestíveis. Atualmente pode ser encontrado em rótulos e lacres termo-encolhíveis. Perfis para janelas, tubulações de água e esgotos, mangueiras, embalagens para remédios, brinquedos, bolsas de sangue, material hospitalar, etc. 4. PEBD/PELBD - polietileno de baixa densidade/polietileno linear de baixa densidade – Com ele são feitas sacolas para supermercados e boutiques, filmes para embalar leite e outros alimentos, sacaria industrial, filmes para fraldas descartáveis, bolsa para soro medicinal, sacos de lixo, etc. 5. PP – polipropileno – É encontrado em filmes para embalagens e alimentos, embalagens industriais, cordas, tubos para água quente, fios e cabos, frascos, caixas de bebidas, autopeças, fibras para tapetes utilidades domésticas, potes, fraldas e seringas descartáveis, etc. 6. PS – poliestireno – Com ele se faz potes para iogurtes, sorvetes, doces, frascos, bandejas de supermercados, carcaças de equipamentos eletroeletrônicos, geladeiras (parte interna da porta), pratos, tampas, aparelhos de barbear descartáveis, brinquedos, etc. Por conta dessa presença maciça de plásticos nos resíduos domésticos, produtos feitos com esses plásticos (especialmente as embalagens) costumam ter gravado o símbolo da reciclagem com um número ou uma sigla no centro, apresentados na Figura 12, para facilitar a identificação do plástico utilizado visando a futura reciclagem (ABNT NBR 13230:2008). 31 Figura 12: Simbologia utilizada para identificação de embalagens por tipo de material Fonte: Norma NBR 13.230 da ABNT A caracterização do material para estruturas laminadas ou multicamadas cuja reciclagem é processada sem a separação dos materiais constituintes é designada pela resina de maior participação na composição da estrutura. Os materiais de embalagem recicláveis sem a separação dos seus elementos integrantes são classificados como “outros” (FORLIN, 2002). Devido aos seus muitos benefícios e propriedades específicas, o consumo
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