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RECURSOS AMBIENTAIS E POLUIÇÃO

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RECURSOS AMBIENTAIS E POLUIÇÃO
Unidade I - O NOVO CÓDIGO FLORESTAL
A Lei 12.651/2012 introduziu em nosso ordenamento jurídico o novo Código Florestal, revogando o anterior, disciplinado pela Lei 4.771/65. Com um processo legislativo permeado por entraves e discussões entre a bancada ambientalista e a ruralista no Congresso Nacional, essa lei foi sancionada e promulgada, mas recebeu uma série de vetos da Presidente da República. Logo a seguir, foi editada a Medida Provisória nº 571, convertida na Lei 12.727/2012, que buscou disciplinar alguns dos assuntos anteriormente vetados.
O Código Florestal normatiza os regimes de proteção de dois espaços territoriais especialmente protegidos de suma importância: as áreas de preservação permanente (APPs) e a reserva legal.
As APPs estão definidas no art, 3º, inciso II, da Lei como “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.
Existem as APPs definidas pela própria lei em seu art. 4º e as APPs estabelecidas pelo Poder Público, quando declaradas de interesse social, nas hipóteses previstas no art. 6º. Aquelas que já têm previsão legal são:
	LARGURA DO CURSO D’ ÁGUA
	FAIXA MARGINAL - (PARA CADA UM DOS LADOS)
	 - 10 METROS
	30 METROS 
	 10 A 50 METROS
	50 METROS 
	 50 A 200 METROS
	100 METROS 
	 200 A 600 METROS
	 200 METROS
	 + DE 600 METROS
	 500 METROS
-as faixas marginais de leitos d’água, conforme tabela abaixo:
- as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
	Zona rural (em regra)
	100 metros
	Zona rural com corpo d’ água com até 20 hectares de superfície
	50 metros
	Zona urbana
	30 metros
- restingas - fixadoras de dunas e estabilizadoras de mangues
- manguezais
- bordas de tabuleiros ou chapadas em faixa mínima de 100 metros em projeção horizontal
- topo de morros, montes, montanhas, serras, com no mínimo 100 metros de altura e inclinação média maior que 25º
- áreas de altitude superior a 1.800 metros
- veredas - 50 metros de faixa marginal do espaço brejoso ou encharcado
Já a reserva legal vem definida na Lei, em seu art. 3º, inciso III como “área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa”.
O art. 12, por sua vez, estabelece os percentuais mínimos que as propriedades rurais devem possuir de mata nativa a título de reserva legal. Confira-se:
- Se imóvel localizado na Amazônia Legal:
1. 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
2. 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
3. 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
- Se localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).
Vale ressaltar que, na vigência do Novo Código Florestal, é possível computar área de APP como área de reserva legal, algo que o código anterior não permitia, sendo questionável se isso seria alguma forma de retrocesso na proteção ambiental ou medida que favorece a exploração sustentável do imóvel rural.
Leituras
Direito do Ambiente, 10ª ed.
MILARÉ, Édis
Nesta obra, Édis Milaré traz os principais elementos e características das áreas de preservação permanente, da reserva legal e novidades trazidas pelo Novo Código Florestal para a proteção de bens ambientais. Faz breve menção histórica sobre os regimes de proteção até os dias atuais.
Apelação 0036512-46.2005.8.26.0506 – TJSP
1ª Câm. Reservada ao Meio Ambiente, Rel. Des. Oswaldo Luiz Palu, j. 12/05/2016
Nesse julgado, o Tribunal avalia a constituição de reserva legal sob a égide da lei anterior e faz o cotejamento com os deveres estabelecidos no Novo Código Florestal, realizando uma interpretação sobre o alcance do novo diploma a fatos pretéritos.
Além de resgatar os conceitos de APP e de reserva legal no contexto do Novo Código Florestal, o acórdão discorre sobre o caráter propter rem das obrigações decorrentes desses institutos de direito ambiental, reforçando os deveres de proteção aos titulares de direito de propriedade e seus sucessores.
Confira a discussão da recomposição de APPs em áreas urbanas consolidadas:
Apelação nº 0049172-35.2011.8.26.0224, TJSP, 1ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente, Rel. Des. Dimas Fonseca, j. 12/05/2016 – Ementa: “AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO AMBIENTE. Responsabilidade objetiva e solidária de todos os entes federados, pela preservação e fiscalização contínua e permanente de espaço ambiental protegido. Bairros construídos em área de preservação permanente situada à margem de curso d'água (córrego). Comprovação, porém, de que os arredores dos bairros possuem características urbanas (pavimentação asfáltica, fornecimento de energia elétrica, abastecimento de água, sistema de coleta de esgoto e aterramento parcial do córrego). Hipótese que configura a região como área urbana consolidada, nos termos do artigo 47, II, da Lei nº 11.977/09 e do artigo 2º, XIII, da Resolução nº 303/2002 do CONAMA, implicando na perda da função ecológica do local e na evidente impossibilidade de restabelecimento das condições ambientais originárias. Inviabilidade da restituição ao status quo ante, máxime pelo forte impacto social negativo que a medida implicaria. Aplicação dos princípios da razoabilidade e do desenvolvimento sustentável. Regularização do loteamento devida, com concessão de maior prazo para a efetivação. Dispensada a desocupação da APP, diante da perda da função ambiental. Indenização indevida dos adquirentes ou do dano urbanístico ambiental. Preliminar rejeitada e recurso parcialmente provido”.
POLIZIO Jr., Vladmir. Novo Código Florestal – comentado, comparado e anotado, artigo por artigo. 3ª ed. São Paulo: Rideel, 2016.
Para um estudo pormenorizado sobre determinados artigos do Novo Código Florestal, com resolução de questões.
Petição inicial da ADI 4901, questionando dispositivos do Novo Código Florestal – disponível em:
http://4ccr.pgr.mpf.mp.br/documentos-e-publicacoes/adis-propostas/adi_4901_peticao_inicial_-_parte_1.pdf/viewLinks para um site externo..
Vimos nesta unidade os principais aspectos do Código Florestal, agora regido pela Lei 12.651/12, com alterações pela Lei 12.727/2012.
Embora a lei ora em vigor tenha mantido o regime de proteção de florestas como bens de interesse comum, alguns dos principais institutos de proteção ambiental sofreram alterações.
É preciso lembrar, antes de mais, que a preservação ambiental por meio de manutenção ou recomposição de APPs ou de reserva legal configura obrigação propter rem, ou seja, obrigação real, transmissível com a coisa, ao sucessor do proprietário ou do possuidor. Impõe, portanto, limites ao exercício do direito de propriedade.
As áreas de preservação permanente, cuja principal função é garantir o equilíbrio dos ecossistemas em locais e bens sensíveis, estão arroladas no art. 4º da lei, podendo ser ampliadas pelo Poder Público quando caracterizado o interesse social, conforme art. 6º. A despeito das APPs se manterem, o novo Código Florestal traz hipóteses de supressão da vegetação nativa nos casos de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental, conforme previsto em lei. Diferentemente do código anterior, a lei atual atribui a ato do Chefe do Poder Executivo federal as hipóteses de utilidade pública. Já nos casos de baixo impacto social, é previsto ao CONAMA estabelecer outras ações ou atividades similares, para além daquelas definidas no próprio Código1.
Por outro lado, a nova lei passou a estabelecer a obrigação de recomposição das áreas de preservação permanente, bem como a manutenção de atividades em APPs, desde que em áreas rurais consolidadas, entendidas aquelascuja ocupação antrópica era anterior à data de 22 de julho de 2008, com atividades restritas e previstas na lei, em seu art. 65-A
No que tange à reserva legal, lembremos que o novo diploma legal amplia a sua função, tornando-a mais flexível para permitir a intervenção nessas áreas para uso e exploração sustentáveis, conferindo-lhe um caráter ao mesmo tempo econômico e conservacionista.
A regra geral de instituição e manutenção de reserva legal encontra-se no art. 12. No entanto, excetuam-se a essa regra os imóveis com até quatro módulos rurais cujas reservas legais até 22 de julho de 2008 eram menores que as estipuladas na lei, bem como aqueles imóveis que observaram os limites legais para a supressão de vegetação em um tempo em que esses limites eram menores e, atualmente, estão em situação de “déficit”de reserva legal. Nesses casos, não será necessária a recomposição, conforme art. 68.
O imóvel deve ser incluído no Cadastro Ambiental Rural – CAR, que é um registro público eletrônico de todos os imóveis rurais nacionais, integrante do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente e tem por finalidade o controle, monitoramento, planejamento econômico e ambiental dessas áreas. Após inclusão do imóvel no CAR, o órgão ambiental estadual competente analisará a área indicada pelo proprietário a título de reserva legal. Para a respectiva aprovação, o órgão do SISNAMA deverá considerara existência de bacia hidrogáfica, o Zoneamento Ecológico-Econômico, os corredores ecológicos com outras áreas protegidas e áreas de maior importância ou fragilidade ambiental (art. 14).
É importante ressaltar que, apesar da obrigatoriedade da inscrição do imóvel rural no CAR, ela não gera título de propriedade, mantendo-se a função dos Registros de Imóveis para esse fim. No entanto, a inscrição do imóvel no CAR desobriga o proprietário da averbação da reserva legal na matrícula do imóvel, no Cartório de Registro de Imóveis (art. 18, §4º).
_________________________
1 Cf. Milaré, loc.cit.
UNIDADE 2
Vimos nesta unidade os principais conceitos pertinentes às Unidades de Conservação, cuja classificação pode ser sistematizada no quadro abaixo:
USO SUSTENTÁVEL	 
Área de Proteção Ambiental (APA): Propriedade pública ou particular. Área em geral extensa. Qualidade de vida; disciplinar processo de ocupação; exploração sustentável
Área de Relevante Interesse Ecológico: Propriedade pública ou privada. Área de pequena extensão com pouca ocupação humana. Espécies raros da biota regional ou características extraordinárias. Proibidas atividades que as coloquem em risco
Floresta Nacional: Área de cobertura florestal de espécies predominantemente nativas. Uso múltiplo sustentável de seus recursos e pesquisa científica.
Reserva Extrativista: Populações extrativistas tradicionais (seringueiros), cuja subsistência dependa desse extrativismo. Proteção à vida e à cultura. Uso sustentável dos recursos.
Reserva de Fauna: População animal de espécie nativa. Posse e domínio público - áreas particulares devem ser desapropriadas. Proibida a caça amadorística ou profissional. Visitação controlada (plano de manejo). Pesquisas. Comercialização de produtos e subprodutos das pesquisas.
Reserva de Desenvolvimento Sustentável: Populações tradicionais, cuja subsistência sustentável ocorre por meio de gerações. Qualidade de vida e subsistência dessas populações. Visitação controlada. Pesquisas e educação ambiental. Domínio público.
PROTEÇÃO INTEGRAL	 
Reserva Particular do Patrimônio Natural: Área privada, proprietário deve conservar a diversidade biológica (termo de compromisso perante órgão ambiental, averbado no Registro de Imóveis). Pesquisa científica e visitação turística, recreativa e educacional.
Estação Ecológica: Áreas públicas. Valor ecológico determina a sua intocabilidade. Se houver áreas particulares, deverão ser desapropriadas. Plano de manejo define as condições para a realização de pesquisas científicas. Ex. E.E. Bananal
Reserva Biológica: Área pública. Preservação integral da biota e atributos naturais existentes em seus limites. Visitação proibida, salvo para fins educacionais. Pesquisa científica deve ser autorizada.
Parque Nacional: Área pública. Estudo científico ou lazer. Preservação dos ecossistemas naturais e belezas cênicas. Visitação pública permitida.
Monumento Natural: Pode ser área particular, desde que compatível com a sua finalidade. Preservação de sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.
Refúgio de Vida Silvestre: Pode ser área particular, desde que compatível com a sua finalidade. Proteção de ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora e da fauna local ou migratória. Visitação pública controlada.
Além disso, estudamos rapidamente o sistema de gerenciamento de recursos hídricos, regido em âmbito federal pela Lei 9.433/97, seus princípios e respectivos instrumentos.
Tanto a outorga quanto a cobrança, por exemplo, são estabelecidos pelo Poder Público, que confere o direito de uso da água por tempo determinado e, ao mesmo tempo, cobra uma remuneração a título de uso, em função da quantidade captada de água ou da qualidade do seu lançamento, com o objetivo de estimular o seu uso racional.
Além disso, a cobrança de uma remuneração pelo uso da água permite a arrecadação de recursos para o desenvolvimento de programas e tecnologias de proteção desse bem e de suas respectivas bacias hidrográficas.
Por falar em recursos hídricos, convém pensar na situação prática nesse tema, nomeadamente a crise hídrica no Estado de São Paulo, sobretudo no ano de 2015. A ausência de água no Sistema Cantareira, adicionado aos períodos longos de estiagem e mananciais poluidos nos fazem refletir a importância de pensarmos na gestão de recursos hídricos de maneira sistêmica e integrada com outras normas e sistemas de proteção ambiental de nosso ordenamento jurídico, já que os recursos naturais não podem ser compreendidos isoladamente.
Com efeito, políticas relacionadas às mudanças climáticas e a proteção de mananciais são fulcrais para uma adequada perpetuação das bacias hidrográficas e do abastecimento da população e dos setores agrícolas e industriais, de modo que tanto as reflexões quanto as tomadas de decisões devem ser conjuntas, pensando-se nos respectivos e múltiplos impactos. É preciso desenvolver ações de prevenção de danos e, talvez com maior eficácia, medidas indutoras de proteção e sustentabilidade, tais como pretendeu-se com os planos de gerenciamento de recursos hídricos, a outorga e a cobrança pelo uso da água.
UNIDADE 3
Nesta unidade vimos aspectos dos recursos minerais e da poluição.
Sobre os recursos minerais, analisamos brevemente a legislação pertinente e vimos que ela aponta falhas na regulação do impacto ambiental causado pela atividade mineradora, já que o seu escopo, quando de sua elaboração, era essencialmente a manutenção da atividade econômica em detrimento da preservação ambiental.
Hoje, após o desastre ambiental ocorrido na região de Mariana, em Minas Gerais, vimos que essa lacuna está mais do que evidente, requerendo-se uma revisitação à legislação em vigor para seu aperfeiçoamento em relação à proteção ambiental. Também é preciso cada vez mais focar nesse tema do ponto de vista integrado entre os diversos sistemas de proteção ambiental e de recursos naturais, pois nada está isoladamente no ambiente. O referido desastre ocorreu em uma atividade de mineração, mas envolvendo barragens de rejeitos e contaminação de recursos hídricos.
Não podemos nos esquecer que essas alterações adversas sobre o meio ambiente correspondem à poluição e podem revelar-se irreversíveis ao estado anterior, razão pela qual ações de prevenção e de mitigação de riscos devem ser frequentemente priorizadas.
E por mencionar o tema da poluição, vimos duas espécies de poluição que impactam sobre o bem estar coletivo e equilíbrio ambiental, comum principalmente nos centros urbanos: a poluição sonora e a poluição visual.
A poluição sonora é passível de reparaçãono formato de indenização pelo dano moral coletivo causado, pela perturbação à qualidade de vida de toda uma comunidade. Por essa razão é tida como dano ambiental mais do que mero dano solucionado pelo direito de vizinhança. Aliás, essa é a visão do STJ sobre o tema.
A poluição sonora estará configurada quando emitidos sons acima de determinados níveis de decibéis, estabelecidos como os níveis de tolerabilidade aceitáveis pelo ouvido humano a partir de estudos e levantamentos técnicos. Tanto nesse aspecto quanto no da poluição do ar, os níveis de tolerabilidade são os parâmetros em que a degradação ambiental decorrente de suas emissões é tida como impacto ambiental e não um dano passível de reparação. Em alguns municípios e regras condominiais também está atrelada a emissão de sons a determinados horários, correspondentes aos períodos de descanso, nesse caso uma disciplina normativa voltada para os direitos de vizinhança.
Já a poluição visual também é passível de reparação, sobretudo na restauração do estado anterior, quando for possível a remoção daquilo que causa a perturbação visual à coletividade. Visando a garantir um equilíbrio e qualidade de vida do meio ambiente urbano, vários municípios brasileiros desenvolveram políticas públicas no sentido de impedir a afixação de cartazes em ruas e edifícios, acima de determinados padrões, que potencialmente causariam essa percepção de “caos visual”. É o exemplo da Cidade Limpa, no município de São Paulo.
UNIDADE 4
Nesta unidade, estudamos, além das políticas de alterações climáticas, a introdução da Política Nacional de Resíduos Sólidos no ordenamento jurídico brasileiro, por meio da Lei 12.305/2010. A referida lei tramitou por aproximadamente duas décadas no Congresso Nacional e inspirou-se nas normas europeias, mais precisamente na Direitiva 98/2008/UE de gestão de resíduos.
A PNRS estabelece um novo marco para a gestão de resíduos no Brasil, pois passa a atribuir um valor econômico ao resíduo, para que ele seja reaproveitado na cadeia econômica ou seja matéria prima de outro meio de produção. Ganhando a natureza de um bem suscetível de apreciação econômica, o interesse em sua adequada gestão volta a ressurgir no mercado, a fim de reduzir o desperdício e o depósito em aterros sanitários, que já encontram-se com capacidade praticamente saturada em diversas localidades do país.
Desse modo, o maior objetivo da PNRS é evitar a geração de resíduos, estimulando a ecoconcepção, ou seja, a concepção de produtos com menores possibilidades de transformação em resíduos desde a fase da elaboraçao de seu projeto. Em seguida, parte para o incentivo a meios de reutilização e recuperação de resíduos e para a reciclagem. Apenas em último lugar é que se encontra a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos, entendendo-se por rejeitos aqueles que não podem ser valorizados econômicamente. Essa é a hierarquia de tratamento de resíduos determinada pelo art. 9º da Lei 12.306/2010.
Por essa razão, é equivocado afirmar que a PNRS é a “lei da reciclagem”. A reciclagem é apenas um aspecto de grande relevância abarcado pela norma, mas o seu objetivo maior e sua prioridade é a não geração de resíduos.
Ademais, a lei determina a obrigação dos entes da federação e do setor privado de elaborarem planos de gestão de resíduos. No caso do setor privado, inclusive, sua exigência poderá ser condição para a concessão de licenças ambientais. O escopo desses planos é organizar a gestão de resíduos para que se alcance uma gestão eficiente.
A norma também estabelece uma responsabilidade compartilhada pela gestão dos resíduos, qual seja, um conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas entre todos os integrantes da cadeia de produção e consumo: fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e o Poder Público. Haverá aplicação de sanções e de responsabilidade civil no caso de descumprimento desses deveres por cada um desses gestores de risco. Até mesmo o consumidor poderá ser sancionado em multa no caso do descumprimento de suas obrigações determinadas pela Lei.
Para algumas espécies de resíduos de produtos, a norma obriga a organização da logística reversa: um sistema de recolha e encaminhamento do resíduo ao responsável pelo seu tratamento ambientalmente adequado. Esse rol não é taxativo, podendo ser estendido a outras espécies de resíduos, de acordo com estudos de viabildiade técnica e econômica. Ele se encontra no art. 33 da lei, conforme abaixo:
“Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:
I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;
II - pilhas e baterias;
III - pneus;
IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.”
Para que haja uma adequada gestão, a PNRS traz alguns instrumentos, dentre eles os acordos setoriais, que correpondem a contratos celebrados entre um setor econômico, o Poder Público e todos os demais agentes que integram a respectiva cadeia de produção e consumo, a fim de que se estabeleça o modo pelo qual a logística reversa ocorrerá e respectivas responsabilidades.
Por fim, é preciso destacar a importância de uma correta disponibilização de informação ao consumidor e educação ambiental, a fim de que haja colaboração de todos para que o sistema de gestão de resíduos funcione adequadamente.

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