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Violência doméstica e familiar 
Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei Maria da Penha – n. 11.340/06; 
Violência doméstica e familiar contra a criança e adolescente: Lei Henry Borel – n. 14.344/22. 
 
1. Sujeito passivo: mulher; 
2. Violência: art. 7º; 
3. Contexto: no âmbito da unidade doméstica, da família ou em relação 
íntima de afeto (art. 5º). 
• Violência de gênero: a Lei Maria da Penha se destina às mulheres 
que se encontrem em uma situação de vulnerabilidade. Assim, é 
indispensável que a vítima esteja em uma situação de hipossuficiência 
física ou econômica, isto é, que a infração tenha como motivação a 
opressão à mulher. 
• Sujeito ativo: homem ou mulher, de modo que, sendo o agente um 
homem, a vulnerabilidade da vítima é absoluta; por outro lado, quando o 
sujeito ativo for mulher, a vulnerabilidade é relativa (depende do caso 
concreto). 
→ O homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar, não se 
aplicando, todavia, a Lei Maria da Penha, mas sim o art. 129, §9º do CP. 
→ É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou 
contravenções praticados contra a mulher no âmbito das relações 
domésticas (SÚM. 589 STJ). 
→ A Lei Maria da Penha é aplicável às mulheres trans em situação de 
violência doméstica (STF e STJ). 
• Elemento subjetivo: é o dolo. Condutas culposas não se enquadram na 
LMP. 
1.1 Âmbito da unidade doméstica 
 
→ O que se exige é um nexo de causalidade entre a conduta criminosa 
e a relação de intimidade pré-existente, gerada pelo convívio doméstico, 
sendo desnecessária a coabitação ou convívio contínuo entre o agressor 
e a vítima, podendo o contato ocorrer de forma esporádica. 
→ Não é todo e qualquer crime envolvendo relação entre parentes que 
enseja a aplicação da LMP. 
→ O STJ já entendeu ser a LMP aplicável a crime cometido contra 
empregada doméstica. 
→ “Relação íntima de afeto”: 
- 1ª corrente: interpretação ampla que pode abranger 
amizade/carinho/amor; 
- 2ª corrente: interpretação restritiva que abrange somente 
relacionamentos dotados de conotação sexual (mais acertada). 
→ Em se tratando de relação de namoro, a aplicação ou não da LMP 
dependerá do caso concreto. 
 
 
 
 
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher 
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento 
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: 
 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio 
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente 
agregadas; 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que 
são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por 
vontade expressa; 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido 
com a ofendida, independentemente de coabitação. 
 
 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação 
sexual. 
1.2 Formas de violência contra a mulher 
 
A violência doméstica pode se caracterizar por 5 formas distintas, que 
poderão ou não tipificar crime, ou seja, não existe um “crime de 
violência doméstica”. 
O juízo de tipificação é feito à luz do CP ou da legislação especial, de 
modo que os incisos do art. 7º da LMP, isoladamente considerados, não 
constituem crimes. 
 
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: 
 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde 
corporal; 
 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional 
e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que 
vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante 
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, 
perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, 
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à 
saúde psicológica e à autodeterminação; 
 
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a 
manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação 
ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua 
sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao 
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou 
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; 
 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, 
subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos 
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer 
suas necessidades; 
 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou 
injúria. 
 
CP Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno 
desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, 
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, 
isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio 
que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime 
mais grave. 
→ (Im)possibilidade de aplicação das imunidades absolutas e relativas 
aos crimes patrimoniais praticados no contexto de violência doméstica 
e familiar contra a mulher sem o emprego de violência ou grave 
ameaça à pessoa: 
- 1ª corrente: não se aplicam as imunidades dos arts. 181 e 182 do CP; 
- 2ª corrente: é possível a aplicação das imunidades, porquanto não 
expressamente vedadas pela LMP. 
 
 
1. Sujeito passivo: criança (até 12 anos) ou adolescente (12 a 18 anos); 
2. Violência: Lei 13.431/17; 
3. Contexto violência doméstica e familiar (art. 2º LHB). 
 
Art. 4º Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas, são 
formas de violência: 
 
I - violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda 
sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico; 
 
II - violência psicológica: 
a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à criança ou ao 
adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, 
agressão verbal e xingamento, ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação 
sistemática (bullying) que possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou emocional; 
b) o ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na formação psicológica 
da criança ou do adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou por 
quem os tenha sob sua autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que 
cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este; 
c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou indiretamente, a crime 
violento contra membro de sua família ou de sua rede de apoio, independentemente do 
ambiente em que cometido, particularmente quando isto a torna testemunha; 
 
III - violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a criança ou o 
adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, 
inclusive exposição do corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda: 
a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do adolescente para 
fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado de modo presencial ou por 
meio eletrônico, para estimulação sexual doagente ou de terceiro; 
b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do adolescente em 
atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma 
independente ou sob patrocínio, apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por 
meio eletrônico; 
c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o 
alojamento ou o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou 
para o estrangeiro, com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra 
forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de 
vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre os casos previstos na legislação; 
 
IV - violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou conveniada, 
inclusive quando gerar revitimização. 
 
V - violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, 
subtração, destruição parcial ou total de seus documentos pessoais, bens, valores e direitos ou 
recursos econômicos, incluídos os destinados a satisfazer suas necessidades, desde que a 
medida não se enquadre como educacional. 
 
 
O termo “juizados”, utilizado pelo legislador no art. 14 da LMP, deve ser 
compreendido como varas especializadas, vez que aos crimes praticados 
com violência doméstica e familiar contra a mulher, 
independentemente da pena, não se aplica a Lei 9.099 (art. 41). 
→ Competência para julgamento: tanto os crimes quanto as 
contravenções praticadas no contexto de violência doméstica contra 
mulher serão julgados pela vara criminal ou pelas varas especializadas. 
→ Crimes dolosos contra a vida: ressalvada a competência do Júri para 
julgamento de crime doloso contra a vida, seu processamento, até a 
fase de pronúncia (1ª fase), poderá ser pelo Juizado de violência 
doméstica e familiar contra a mulher. A 2ª fase será de competência 
do juiz presidente e Conselho de sentença. 
→ É possível, na sentença condenatória, a fixação de valor mínimo 
indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso da 
acusação ou da parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e 
independentemente de instrução probatória (uma vez provada a 
violência doméstica, o dano moral seria presumido). 
 
A Lei 9.099/95 prevê que a ação penal nos crimes de lesão corporal 
culposa e lesão corporal leve será pública condicionada à 
representação. Contudo, a LMP afasta expressamente a aplicação da lei 
dos juizados. 
Assim, tanto o STF quanto o STJ entendem que os crimes de lesão 
corporal praticados no âmbito da violência doméstica e familiar contra 
a mulher, inclusive lesão corporal leve, são de ação penal pública 
incondicionada 
Lembrando que as condutas culposas não caracterizam violência de 
gênero, de modo que a lesão corporal culposa praticada contra mulher 
continua sendo crime de ação penal pública condicionada. 
 
 
É possível a exigência de representação para certos crimes cometidos 
no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher (ex: 
ameaça; stalking...). 
A LMP traz uma norma especial quanto à retratação da representação 
(art. 16): a retratação só será admitida perante o juiz, em audiência 
especialmente designada para tal finalidade. Diferente do CPP, a 
retratação é possível até o recebimento da denúncia. 
 
 
Embora seja possível a aplicação cumulativa da pena de multa, é 
vedada a substituição de pena que implique no pagamento isolado de 
prestação pecuniária, tanto na LMP quanto na LHB. 
Ademais, não é possível a substituição da pena privativa de liberdade 
por restritiva de direitos nos casos de crimes ou contravenções 
praticados com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico 
 
 
 
As medidas cautelares na LMP ora se destinam à vítima, ora são 
destinadas ao agressor. Dependem da presença do fumus comissi 
delicti e do periculum libertatis. Podem ser aplicadas de forma isolada 
ou cumulativa. 
Em regra, são aplicadas apenas pelo juiz, a requerimento do MP ou a 
pedido da ofendida. 
⤿ Podem ser aplicadas para vítimas do sexo masculino, com base no 
poder geral de cautela do juiz, desde que inseridas em um dos 
contextos de vulnerabilidade do art. 313, III do CPP (criança, 
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência). 
⤿ A aplicação das medidas protetivas de urgência pressupõe a 
existência de violência doméstica e familiar contra a mulher, mas não 
necessariamente a prática de crime. 
→ A medida protetiva de alimentos, de natureza cível, no âmbito de 
ação criminal destinada a apurar crimes de violência doméstica contra 
a mulher, tem natureza satisfativa, e não cautelar, sendo, por si só, 
válida e eficaz. Assim, não é necessário o ajuizamento, no prazo de 30 
dias, de ação principal de alimentos, sob pena de decadência do direito. 
→ Recurso adequado contra decisão que defere, indefere ou revoga 
medida protetiva de urgência: 
• Inquérito policial ou processo penal: RESE; 
• Âmbito cível: agravo de instrumento. 
→ Possibilidade de aplicação de protetivas pela autoridade policial: 
admite-se, como exceção, o afastamento do agressor do lar pela 
autoridade policial ou pela polícia. 
Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou 
psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus 
dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de 
convivência com a ofendida: 
 
I - pela autoridade judicial; 
 II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou 
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado 
disponível no momento da denúncia. 
 
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo 
máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a 
revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público 
concomitantemente. 
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de 
urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso. 
 
7.1 Prisão preventiva 
 
Em qualquer fase do inquérito ou da instrução, o juiz poderá decretar a 
prisão preventiva, a requerimento do MP ou representação da 
autoridade policial. 
A prisão preventiva pode ser decretada para garantir a eficácia das 
medidas protetivas de urgência, desde que preenchidos os requisitos do 
art. 312 do CPP. Não é possível a decretação de prisão preventiva tão 
somente pelo descumprimento das medidas protetivas. 
→ Contudo, o art. 24-A da LMP tipifica o crime de descumprimento de 
decisão judicial que deferiu medida protetiva (não se aplica para 
descumprimento de medida imposta por delegado ou policial). 
⤿ Havendo prisão em flagrante, somente o juiz poderá conceder fiança 
(exceção ao art. 322 do CPP). 
⤿ Apesar da pena para esse crime ser de 3 meses a 2 anos, não pode 
ser tratado como infração de menor potencial ofensivo, em razão da 
vedação da incidência da Lei 9.099/95. 
⤿ A LHB, além do crime de descumprimento de medida protetiva, traz, 
ainda, o crime de não comunicação às autoridades públicas da prática 
de violência contra crianças e adolescentes.

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