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DESCRIÇÃO Principais conceitos e elementos para elaboração de projetos e operação de barragens. PROPÓSITO Conhecer os conceitos e os elementos relativos a barragens é importante para o desenvolvimento de um projeto consistente, que considere as diretrizes técnicas presentes em normas, bem como para a boa operação pós-obra. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os principais elementos e tipos de barragens MÓDULO 2 Identificar os possíveis métodos construtivos e modos de falhas de barragens MÓDULO 3 Reconhecer os princípios de projetos de barragens MÓDULO 4 Listar os principais aspectos para garantir a segurança de barragens INTRODUÇÃO BEM-VINDO AO ESTUDO SOBRE BARRAGENS AVISO: orientações sobre unidades de medida. AVISO: ORIENTAÇÕES SOBRE UNIDADES DE MEDIDA javascript:void(0) Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por questões de tecnologia e didáticas. No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos números e das unidades. MÓDULO 1 Identificar os principais elementos e tipos de barragens PRINCIPAIS ELEMENTOS E TIPOS DE BARRAGENS BREVE HISTÓRICO DAS BARRAGENS Há registros de que as barragens são obras civis presentes na humanidade desde civilizações mais antigas, situadas no Egito, Médio Oriente e na Índia, geralmente, com a finalidade de reservar água, controlar cheias e inundações de cidades. Desde então, suas características, tipos de materiais, finalidade e técnicas construtivas se desenvolveram na Engenharia, bem como o nosso conhecimento sobre o comportamento dos materiais envolvidos nessas estruturas. A Tabela 1 apresenta alguns dados históricos sobre barragens, que evidenciam a evolução dessas estruturas. Ano Local Registro Características gerais e ocorrências 4.800 a.C. Egito Barragem de Sadd-El- Kafara Altura: 12m Destruída por transbordamento 500 a.C. Sri Lanka Barragem de terra Altura: 12 a 27m Volume de material: 13.000.000m³ 100 a.C. Norte da Itália/Sul da França Barragens romanas Estrutura em arcos 1.200 d.C. Índia Barragem Madduk- Masur Altura: 90m Destruída por transbordamento 1789 Espanha Barragem de Estrecho de Rientes Altura: 46m Destruída logo após enchimento 1820 Inglaterra Telford: Introdução de núcleos argilosos em barragens de terra e enrocamento – garante estanqueidade das barragens Fim do século XIX EUA Barragem de Fort Peck Altura: 76m Volume de material:100.000.000m³ 1856 França Darcy: estudos de velocidade de percolação da água 1859 Inglaterra Patente do primeiro rolo compactador a vapor 1904 EUA Primeiro rolo compactador pé de carneiro 1930- 1940 EUA Consolidação da Mecânica dos Solos como ciência aplicada 1950 EUA Barragens de enrocamento – sem compactação Atualidade Diversos Inserção de membranas para impermeabilização e uso de terra armada EUA Surgimento dos rolos compactados vibratórios URSS Barragem de Nurek Altura: 312m Tabela 1: Dados históricos de barragens. Extraída de: Massad, 2010, p. 173. As primeiras barragens brasileiras foram construídas com terra, no século XX, no Nordeste, como um plano de ação para combate à seca. SAIBA MAIS Nessa época, não possuíamos todo o conhecimento sobre mecânica dos solos que temos hoje, de forma que essas estruturas foram construídas com conhecimento empírico (a partir da observação). Nas décadas de 60 e 70, o avanço das hidrelétricas impulsionou a construção de barragens no Brasil e, atualmente, temos centenas de barragens em operação no país, de diversificadas características e aplicações. O esquema a seguir apresenta alguns registros de barragens construídas no Brasil, que representam marcos acerca das técnicas construtivas dessas estruturas no país: 1908 Barragem do Guarapiranga - São Paulo Técnica de aterro hidráulico e solo compactado por carneiros 1942 Barragem de Coremas - Paraíba Aplicação de novos conhecimentos da Mecânica dos Solos Terra zoneada com cortina central de concreto armado Altura: 47m Extensão: 1,55km 1947 Barragem de Terzaghi - Rio de Janeiro Técnicas modernas para o projeto e construção de barragens de terra, com a utilização de filtros verticais 1982 Itaipu - Fronteira Brasil-Paraguai Uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno Altura: 196m Extensão: 7,919km 1984 Barragem de Tucuruí - Pará Barragem de terra Altura: 78m Extensão: 11km 1996 Barragem Serra da Mesa - Goiás Barragem de enrocamento com núcleo de argila Altura: 154m Extensão: 1,5km Hoje, mundialmente, contamos com técnicas avançadas que nos permitem um controle tecnológico rigoroso para a construção e operação de barragens cada vez maiores, mais seguras e de maior eficiência. ELEMENTOS PRINCIPAIS DE UMA BARRAGEM Uma barragem é composta basicamente pelos seguintes elementos: CRISTA Topo PÉ Ponto mais baixo TALUDES Faces com decaimento OMBREIRAS Laterais da barragem, desde a crista até o pé MACIÇO Corpo da barragem RESERVATÓRIO Região de retenção de material ATENÇÃO Para referenciar uma barragem, chamamos a região do reservatório de montante, e a oposta de jusante. Ou seja, teremos os taludes de montante e de jusante. Usualmente, as barragens podem ser construídas em várias etapas, de forma que o talude seja escalonado. Assim, separa-se cada talude por bermas, que podem servir de acesso para inspeções visuais e manutenções periódicas da estrutura. Imagem: Mirella Dalvi dos Santos. Terminologia dos elementos de barragens - seção transversal. Já para referenciar as ombreiras, ficamos de costas para o reservatório: teremos a ombreira direita e a esquerda. Imagem: Mirella Dalvi dos Santos. Terminologia dos elementos de barragens - 3D. A geometria da barragem é então definida pela altura dos taludes e pela inclinação dos taludes, sejam essas globais ou entre bermas. Além das larguras das bermas e da crista. Imagem: Mirella Dalvi dos Santos. Aspectos geométricos principais de barragens. Outros elementos importantes em uma barragem, os quais estudaremos em maior profundidade posteriormente, são: Drenagem interna (filtro) Drenagem superficial Reservatório Extravasor Instrumentação Revestimento dos taludes e bermas Foto: Ministério de Minas e Energia, 2020. Adaptada por Mirella Dalvi dos Santos Elementos de barragens TIPOS DE BARRAGENS As barragens podem ser classificadas principalmente de acordo com seu porte, seu material de construção, material de contenção e sua técnica construtiva. As barragens de grande porte são aquelas que possuem altura superior a 15m, ou entre 10 e 15m, desde que um dos seguintes critérios sejam atendidos: O comprimento da crista seja igual ou superior a 500m. O reservatório possua capacidade volumétrica superior a 1.000.000m³. O vertedouro possua capacidade de vazão superior a 2.000 m³/s. A fundação possua criticidades. O projeto seja não convencional. EM RELAÇÃO AO MATERIAL DE CONTENÇÃO, AS BARRAGENS PODEM SERVIR PARA A RETENÇÃO DE ÁGUA, SEDIMENTOS OU REJEITOS, SENDO ESSES DOIS ÚLTIMOS MUITO COMUNS EM BARRAGENS DE MINERAÇÃO. As possíveis técnicas construtivas serão abordadas posteriormente; por ora, veremos a classificação das barragens pelo seu material de construção. BARRAGENS DE TERRA Foto: Shutterstock.com Barragem de terra As barragens de terra são as mais comuns no Brasil. Para a construção, o solo compõe o aterro formando o maciço da barragem. O empréstimo de material pode ser de materiais disponíveis não convencionais, por exemplo, o rejeito, um subproduto do beneficiamento de minérios. Imagem: Mirella Dalvi dos Santos Barragem de terra BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO Foto: Shutterstock.com Barragem de enrocamento Barragens de terra e enrocamento são estruturas cujo maciço é construído com enrocamento (pedra de mão) e um núcleo argiloso,que imprime estanqueidade à barragem. Como o enrocamento é um material que apresenta alta resistência, barragens desse tipo tendem a ser mais estáveis, permitindo serem construídas com taludes mais íngremes quando comparadas com as barragens de terra. Imagem: Mirella Dalvi dos Santos Barragem de enrocamento. BARRAGEM DE ENROCAMENTO COM SEPTO A MONTANTE Outra técnica para garantir a estanqueidade de barragens de enrocamento é a implantação de septos no talude de montante que impermeabilizem essa face. Podem ser citados septos de placas de concreto ou material geotêxtil. Imagem: Mirella Dalvi dos Santos Barragem de enrocamento com septo a montante. BARRAGEM DE CONCRETO Foto: Shutterstock.com Barragem de concreto com contrafortes As barragens de concreto funcionam como muros de arrimo, contendo o material a montante por peso próprio ou por compressão. Estruturas que trabalham com peso próprio, também chamadas de muros de gravidade, são aquelas em que o peso próprio da estrutura (P) é responsável por equilibrar as ações instabilizadoras do sistema: o empuxo do material de montante (E); e a subpressão da fundação (U). Imagem: Shutterstock.com Barragem de concreto por gravidade A fim de se reduzir as ações atuantes na barragem, pode-se adotar barragens de concreto estrutural formadas por lajes inclinadas associadas a contrafortes. A inclinação fará com que o empuxo do material de montante seja decomposto em duas parcelas: uma vertical, que se somará ao peso próprio e será estabilizante; e outra horizontal, que será desestabilizante. Imagem: Massad, 2010, p. 176. Barragem de concreto por gravidade com contrafortes Assim como estruturas de contenções, as barragens de concreto devem passar por verificações estáticas de deslizamento, tombamento e capacidade de suporte da fundação. ARCO COM DUPLA CURVATURA Foto: Shutterstock.com Barragem em arco Barragens em arcos são possíveis devido à possibilidade de moldagem do concreto no formato desejado. Essas estruturas trabalham à compressão (solicitação que o concreto resiste bem), e devem ser engastadas em vale fechado de formação rochosa. Imagem: Massad, 2010, p. 177. Barragem de concreto com dupla curvatura RESSALTA-SE QUE AS BARRAGENS DE CONCRETO, EMBORA EM UM PRIMEIRO MOMENTO NÃO PAREÇAM SER PERTENCENTES AO CURSO DE OBRAS DE TERRA, SÃO CONSTRUÍDAS SOBRE UM SOLO DE FUNDAÇÃO E, PORTANTO, RECAEM EM UM PROBLEMA CLÁSSICO DE GEOTECNIA. ESCOLHENDO UM TIPO DE BARRAGEM O engenheiro civil, diante de tantas opções para construir barragens, pode ter dúvida de qual o tipo mais adequado quando deve resolver um problema de engenharia específico. Para nortear a tomada de decisão, esse profissional deve avaliar, principalmente, os aspectos: Geológicos- geotécnicos Associados à fundação da região em que se deseja construir a barragem, como tipo de solos e rochas constituintes (litologia, consistência e existência de estruturas como fraturas e falhas). Hidrológicos- hidráulicos Dados pluviométricos, existência de nascentes e bacia de contribuição. Topográficos Se a região é em vale, montanhosa ou plana, e se há a existência de talvegues. Ambientais Tipos de licenças necessárias para a implantação. Materiais de empréstimo Quais os materiais disponíveis para a construção da barragem. Custo Dinheiro disponível para a construção, operação e manutenção da estrutura. Clima Alguns materiais exigem que a construção seja realizada apenas em época de secas. Prazo Ligado ao fator supracitado, regiões chuvosas podem ter a construção de barragens arrastadas por anos devido ao impedimento construtivo. Experiência pessoal O conhecimento de casos anteriores é a principal forma na qual é capaz de se antever possíveis problemas. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal EXEMPLO DAS BARRAGENS DE CAPIVARI- CACHOEIRA E RIO VERDE Massad (2010) cita que a Barragem Capivari-Cachoeira, próximo à cidade de Curitiba – Paraná, levou 5 anos para ser construída, uma vez que a alta pluviosidade da região impossibilitou uma maior produtividade na execução da estrutura. Nessa mesma região, também se relata a Barragem Rio Verde, que possuía um prazo de construção de apenas 2 anos, mas o material de empréstimo apresentava teor de umidade acima da ótima para compactação, além de ter sido identificado solo mole na fundação. A solução nada convencional para essa estrutura foi utilizar uma barragem em aterro úmido, com núcleo compactado 5% acima da umidade ótima, associada a bermas de equilíbrio, de forma a não atrasar o cronograma da obra. SAIBA MAIS Devido aos materiais disponíveis e experiência acumulada, as barragens mais comuns no Brasil são as de terra e de terra-enrocamento. A Tabela 2 apresenta alguns dados para conhecimento e tomada de decisões, que leva em conta a geometria e o volume usual de barragens em relação à altura (H), associados ao custo relativo estimado. Tipo de Barragem Base Volume (m³/m) Custo relativo Terra homogênea 5,5 H 2,75 H² 1 Enrocamento 3,7 H 1,8 H² 1,5 Concreto massa 0,8 H 0,4 H² 5 Tabela 2: Custo relativo e geometria usual para diferentes tipos de barragens. Extraída de Massad, 2010, p. 183. Adaptada por Mirella Dalvi dos Santos. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ABAIXO, TEM-SE UM DESENHO ESQUEMÁTICO DE UMA BARRAGEM. OS TERMOS CORRETOS PARA OS ELEMENTOS IDENTIFICADOS DE (I) A (V) SÃO, RESPECTIVAMENTE: A) Crista, talude de jusante, maciço, reservatório, talude de montante B) Crista, talude de montante, maciço, reservatório, talude de jusante C) Maciço, talude de jusante, reservatório, crista, talude de montante D) Maciço, crista, talude de montante, reservatório, talude de jusante E) Crista, reservatório, talude de montante, talude de jusante, maciço 2. CONSIDERA-SE QUE AS BARRAGENS DE TERRA-ENROCAMENTO SÃO AS QUE POSSUEM MAIOR ESTABILIDADE GEOTÉCNICA. SOBRE ESSAS BARRAGENS, PODE-SE AFIRMAR QUE: A) Os taludes desse tipo de barragem são mais abatidos B) O enrocamento possui baixo ângulo de atrito, inferindo estabilidade C) O enrocamento é um material de baixa permeabilidade D) O núcleo argiloso garante a estanqueidade da estrutura E) O núcleo argiloso possui alto ângulo de atrito, inferindo estabilidade GABARITO 1. Abaixo, tem-se um desenho esquemático de uma barragem. Os termos corretos para os elementos identificados de (i) a (v) são, respectivamente: A alternativa "B " está correta. Segundo a terminologia adequada de barragens, podemos dizer que os itens são: (i) topo da barragem = crista; (ii) face inclinada a montante = talude de montante; (iii) corpo da barragem = maciço; (iv) região de retenção = reservatório; (v) face inclinada a jusante = talude de jusante. 2. Considera-se que as barragens de terra-enrocamento são as que possuem maior estabilidade geotécnica. Sobre essas barragens, pode-se afirmar que: A alternativa "D " está correta. O enrocamento é um material que tem elevado ângulo de atrito, inferindo estabilidade e possibilitando estruturas mais íngremes. Seu alto coeficiente de permeabilidade exige que a estanqueidade da estrutura seja garantida com a associação de um elemento impermeabilizante. No caso de barragens de terra-enrocamento, a estanqueidade é garantida com a implementação de um núcleo argiloso. MÓDULO 2 Identificar os possíveis métodos construtivos e modos de falhas de barragens MÉTODOS CONSTRUTIVOS DE BARRAGENS MÉTODOS CONSTRUTIVOS DE BARRAGENS Além dos tipos de barragens já explorados em relação ao material do maciço, as barragens também podem ser classificadas de acordo com o seu método construtivo, que pode ser por aterro hidráulico ou aterro compactado. Aterro hidráulico No aterro hidráulico, o material que comporá o maciço é transportado em suspensão com água, por meio de tubulações e disposto na área da barragem. Quando lançado, o material é segregado devido às diferentes granulometrias dos grãos. As areiasformam os taludes, e o núcleo da estrutura é composto de material mais fino (siltes e argilas). Essas barragens possuem baixo custo de construção, mas admitem inclinações mais abatidas para os taludes, além de poderem ter a segurança comprometida, visto que o material é suscetível à liquefação. Aterro compactado No aterro compactado, a construção do maciço é como aterros comuns, onde são lançadas camadas de material com teor de umidade próximo da umidade ótima, obtida de ensaios de compactação e, posteriormente, compactada pelo equipamento mais adequado de acordo com o tipo de material lançado. É a técnica mais recomendada e mais segura. ALTEAMENTOS Em barragens de mineração para contenção de rejeitos, a fim de se aumentar a capacidade volumétrica do reservatório, sucessivos alteamentos podem ser empregados a partir de um dique de partida de enrocamento ou solo compactado. Esses alteamentos podem ser construídos: Imagem: Mirella Dalvi dos Santos Barragem alteada a montante A MONTANTE Neste tipo de alteamento, o maciço da barragem sobe em direção a montante, de forma que o material de aterro é apoiado sob o material do reservatório. Quando o alteamento é apoiado sobre rejeitos, deve-se tomar cuidado com a capacidade de suporte desse material, a fim de se evitar rupturas. O método a montante é o método mais barato e rápido, mas o que apresenta menor controle tecnológico da construção e sério risco de ruptura por erosão e dificuldade de drenagem, constituindo no método menos seguro de alteamento. Imagem: Mirella Dalvi dos Santos Barragem alteada a jusante A JUSANTE Construção do maciço em direção a jusante, de forma que os degraus do alteamento ampliam a altura e a base da barragem. Por demandar um maior volume de material, é um método mais caro, porém, mais seguro e com menor probabilidade de ruptura interna em relação ao método a montante. Imagem: Mirella Dalvi dos Santos Barragem alteada a linha de centro A LINHA DE CENTRO Os alteamentos do maciço são dados nas duas direções (montante e jusante), consumindo menos material em relação aos aterros de jusante e ocupando menos espaço. É o método mais seguro em relação aos acima. RUPTURA DE BARRAGENS Segundo Massad (2010), de um levantamento realizado na década de 60 para 1620 barragens na Espanha, cerca de 19% apresentaram problemas, em que: Do levantamento realizado pelo International Committee on Large Dams (ICOLD), de 236 incidentes envolvendo barragem, 70% estavam relacionados às barragens de terra, sendo os problemas associados a: SAIBA MAIS Também, segundo pesquisas realizadas pelo ICOLD, o percentual de ruptura de barragens é de 2,2% para estruturas construídas até 1950, e de 0,5% para barragens construídas após essa data. Outra estatística é que cerca de 70% das rupturas ocorreram em barragens durante os 10 primeiros anos de operação. PRINCIPAIS FALHAS EM BARRAGEM Diz-se que uma falha é a perda de desempenho estrutural ou da funcionalidade de uma estrutura de engenharia. Os principais modos de falha em barragem são: galgamento, piping, instabilização e liquefação. As causas relacionadas estão associadas a eventos hidrológicos, problemas geológico-geotécnicas e ocorrência de sismos. GALGAMENTO PIPING INSTABILIZAÇÃO LIQUEFAÇÃO GALGAMENTO O galgamento é a superação da crista pelo material do reservatório. PIPING O piping é uma erosão interna progressiva do maciço, que passa a ser um caminho preferencial de percolação com carreamento de partículas. Esse fenômeno pode ser evitado pela implantação de filtro no maciço da barragem. INSTABILIZAÇÃO A instabilização é a ruptura clássica de taludes ou do material de fundação, devido à perda de resistência por saturação ou pela mobilização de uma carga a qual o material não consegue suportar. LIQUEFAÇÃO A liquefação é o fenômeno no qual o solo, devido a uma solicitação não drenada em um material de comportamento contrátil quando submetido ao cisalhamento, perde tensão efetiva e se comporta como um fluido, que não possui resistência ao cisalhamento e escoa até o repouso. Foto: Arquivo Público de Belo Horizonte Formação de piping na barragem da Pampulha, Belo Horizonte – MG (1954). A tabela a seguir apresenta a incidência dos modos de ruptura em percentual, para 1462 barragens de grande porte construídas até 1982. Observa-se que o piping no maciço da barragem é o principal modo de falha que ocorre nessas estruturas. Modo de falha % de rupturas Galgamento 46 Piping no barramento 31 Piping na fundação 15 Instabilidade do talude 46 Abalo sísmico 2 Piping do barramento para a fundação 2 Tabela 3: Estatísticas de rupturas em barragens (até 1982). Extraída de: Ladeira, 2007, p. 1. Adaptada por Mirella Dalvi dos Santos. SAIBA MAIS Além dessas falhas, cita-se a possibilidade de erosões nos taludes do barramento, que podem ser combatidos com a implantação de rip-rap, que são camadas de enrocamento e transição, ou de pedriscos e vegetação por biomantas ou hidrossemeadura. RISCOS ASSOCIADOS Não é desejável que a barragem apresente as rupturas já exibidas neste conteúdo. No entanto, no projeto dessas estruturas, é importante levantar quais são os possíveis riscos associados, de forma que, caso a ruptura venha a ocorrer, a mitigação dos problemas causados seja rápida e eficiente. ALAGAMENTO Um dos riscos associados à ruptura de barragens é o alagamento. Barragens de água ou de sedimentos, quando rompidas, podem desencadear no carreamento do material reservado por vários quilômetros, alterando o ecossistema local, afetando a fauna e a flora, alterando o microclima da região, causando eutrofização, além de alterar a dinâmica hidrológica da região como um todo. Infelizmente, o alagamento também pode estar associado a perdas materiais e de vidas. Foto: Shutterstock.com CONTAMINAÇÃO DO MEIO AMBIENTE Outro risco associado às rupturas de barragens é a contaminação do meio ambiente, seja no solo ou lençóis freáticos, principalmente, quando o material contido é contaminante e/ou possui metais pesados. Foto: Shutterstock.com DAM BREAK A análise do impacto de ruptura de barragens pode ser realizada por meio de programas computacionais. Conhecido como “dam break”, a análise é hidrodinâmica e realizada a partir da alimentação do programa com dados sobre os materiais da barragem e do material reservado, dados topográficos do entorno e do modo de falha mais provável. A partir de parâmetros reológicos e geotécnicos desses materiais, o programa simula a propagação dos materiais como consequência da ruptura. O resultado dessa análise são mapas de inundação que dão uma ideia da magnitude da ruptura: sua extensão, altura e velocidade. Imagem: Junior, Moreira e Heineck, 2018, p. 29. Mapa de inundação de um dam break. Essa modelagem é muito útil para o conhecimento dos riscos associados às eventuais rupturas, e permite que sejam elaborados planos de ações e emergência caso venham ocorrer. A partir dessas análises, definem-se, dentre outros aspectos, a Zona de Autossalvamento (ZAS) e a Zona de Segurança Secundária: ZONA DE AUTOSSALVAMENTO Região que está até 10km ou a 30 minutos do ponto de rompimento da barragem. A população é responsável pelo deslocamento para fora da mancha e por ir para uma zona mais segura por conta própria, pois não há tempo hábil para a ação de agentes públicos. ZONA DE SEGURANÇA SECUNDÁRIA Região que está após 10km ou 30 minutos do ponto de rompimento da barragem. O tempo é suficiente para que a população dessa zona se desloque para pontos de encontro de acolhimento, desde que sejam adequadamente treinadas. SAIBA MAIS javascript:void(0) javascript:void(0) Além dos riscos associados às rupturas, outras consequências que podem ser citadas são os impactos financeiros e da imagem do empreendedor da barragem. CASOS DE RUPTURA DE BARRAGENS Para exemplificar as causas e consequências associadas às rupturas de barragens, vamos tomarconhecimento sobre alguns casos históricos. BARRAGEM DE FORT PECK (EUA) Imagem: Davies, Mcroberts e Martin, 2015. Ruptura da barragem de Fort Peck Construída no final do século XIX com a finalidade de abastecimento de água pela técnica do aterro hidráulico, possuía 70m de altura, inclinação dos taludes de 1V:5H (aproximadamente 6,4km de extensão e capacidade de conter um volume de 100.000.000m³. A fundação era composta por aluvião arenoso de 40m de espessura. A ruptura ocorreu em 1938, durante a sua construção, devido à liquefação do talude de montante. A ruptura deu-se em uma extensão de cerca de 500m de comprimento e volume de aproximadamente 6.500.000m³. O material rompido deslocou-se por 450m em poucos minutos até alcançar o repouso a uma inclinação de 1V:20H (aproximadamente 2,9˚ 2,9°). Essa barragem culminou o início do estudo dos materiais quanto à suscetibilidade à liquefação. BARRAGEM DE MALPASSET (FRANÇA) Fotos: Duffaut, 2013, p. 336. Barragem de Malpasset após a construção (à esquerda) e após ruptura (à direita). A barragem era construída em arco de dupla curvatura, apresentava 60m de altura, largura de crista de 1,5m, base de 6,8m e capacidade de contenção do volume de 50.000.000m³ de água para abastecimento da população e controle de cheias. O rompimento deu-se em 1959, e é relato que a causa foi a ruptura por cisalhamento na rocha de apoio que apresentava descontinuidades, além da formação de uma zona argilosa na base da barragem, que diminuiu a permeabilidade da fundação. A onda do material atingiu 40m de altura a uma velocidade de 70km/h, causando a morte de 423 pessoas, além de ter afetado cerca de 7000 habitantes e ter causado graves danos materiais na cidade de Fréjus. Ressalta-se que há relatos de que algumas semanas antes da ruptura dessa barragem, trincas e fendas foram identificadas na barragem, próximo à fundação. BARRAGEM DE VAJONT (ITÁLIA) Foto: Wikimedia Commons / Domínio Público Barragem de Vajont Na época, era a maior barragem do mundo construída em arco de dupla curvatura, apresentando cerca de 265m de altura, 160m de comprimento e capacidade volumétrica de reservar 150.000.000m³ de água. Sua finalidade era a geração de energia elétrica. A ruptura deu-se em 1963 devido ao escorregamento no maciço rochoso, muito fraturado. Relata-se que o volume de 260.000.00m³ de material escoou em apenas 45 segundos, formando uma onda de 250m de altura sobre a barragem. Entre 2000 e 2600 pessoas faleceram nesse acidente, e foram identificados sismos em diversas cidades europeias. BARRAGEM DE BALDWIN HILLS (EUA) Foto: Shutterstock.com Ruptura da barragem de Baldwin Hills Esta barragem de terra foi construída em 1951, com altura média de 22m e máxima de 71m, reservatório com capacidade volumétrica de sob uma região com falhas geológicas, solos colapsíveis e erodíveis. A ruptura deu-se em 1963, após 12 anos de operação da estrutura, devido, provavelmente, ao fraturamento da impermeabilização entre o contato entre a barragem e a fundação, que causou piping e cavernas locais. No dia do rompimento, foi identificada uma infiltração na barragem, quando se tentou iniciar o esvaziamento do reservatório. Após 4 horas e meia após a identificação da anomalia, uma brecha formou-se e levou a barragem à ruptura. BARRAGENS DE BANQIAO E SHIMANTAN (CHINA) Foto: Zhang, Xu e Jia, 2009, p. 184-189 Ruptura da barragem de Banqiao. O complexo de barragens possuía a função de controle de cheias e geração de energia elétrica. A ruptura deu-se em 1975, devido à ação de fortes chuvas e do Furacão Nina, causando o óbito de mais de 25 mil pessoas por afogamento, além de outras 145 mil devido à fome e epidemias decorrentes da inundação. BARRAGEM FUNDÃO (BRASIL) Foto: Shutterstock.com Lama rompida da barragem de Fundão. A barragem de Fundão, localizada no município de Mariana – Minas Gerais, alteada com rejeitos de mineração com a técnica a montante com uma altura de 150m, rompeu-se em novembro de 2015. A barragem passava por um processo de alteamento para aumento da capacidade do reservatório, quando apresentou um vazamento. Em menos de uma hora, após a identificação dessa anomalia, a ruptura ocorreu causando a mobilização de 62.000.000m³ de lama, 19 óbitos, diversos desaparecimentos e 600 desabrigados. Na lama, foram identificados metais pesados, como arsênio, chumbo e mercúrio, que atingiram o Rio Doce nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, causando a interrupção do abastecimento de água para milhares de pessoas e danos severos ao ecossistema da região afetada. BARRAGEM 1 – CÓRREGO DO FEIJÃO (BRASIL) Foto: Reprodução/TV Globo Barragem 6 após a ruptura da ruptura da barragem 1. Localizada em Brumadinho, município de Minas Gerais, essa barragem foi construída em 1976 seguida por alteamentos com a técnica de montante com rejeitos de mineração. A ruptura ocorreu em janeiro de 2019, e a onda de rejeito alcançou uma velocidade de 80km/h. As sirenes de alerta da região não funcionaram, causando a morte de cerca de 260 pessoas. Além do efeito social de perdas materiais e de vidas, o rompimento causou grande impacto ambiental e econômico na região. Trabalha-se com a hipótese de liquefação dos materiais como causa da ruptura. OS CASOS AQUI ESTUDADOS DE RUPTURA DE BARRAGENS REFORÇAM A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS QUE ANTECEDEM À ELABORAÇÃO DO PROJETO DE BARRAGENS. A IDENTIFICAÇÃO DE MATERIAIS CRÍTICOS DEVE SER TRATADA E, APÓS A CONSTRUÇÃO DA ESTRUTURA, O COMPORTAMENTO DEVE SER MONITORADO A FIM DE SE AVALIAR A EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO EMPREGADO. Também é importante observar que grande parte das rupturas se deram com um “aviso prévio” e, nos mínimos sinais de que alguma catástrofe pode ocorrer, o sinal deve ser tratado com seriedade. Essas rupturas devem ser encaradas como lições aos engenheiros civis, de forma a evitar novos desastres por causas já conhecidas no meio técnico. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DENTRE OS TIPOS CONSTRUTIVOS DE ALTEAMENTO DE BARRAGENS, O MAIS SEGURO É O MÉTODO: A) A montante B) Aterro hidráulico C) Linha de centro D) A jusante E) Ponta de aterro 2. O MODO DE FALHA NO QUAL HÁ A FORMAÇÃO PROGRESSIVA DE TUBOS DEVIDO À EROSÃO INTERNA DO MACIÇO DE UMA BARRAGEM É CHAMADO DE: A) Piping B) Galgamento C) Instabilização da fundação D) Instabilização dos taludes E) Liquefação GABARITO 1. Dentre os tipos construtivos de alteamento de barragens, o mais seguro é o método: A alternativa "C " está correta. Os alteamentos do maciço por linha de centro são dados nas duas direções (montante e jusante), sendo essa a técnica mais segura em relação às demais alternativas. 2. O modo de falha no qual há a formação progressiva de tubos devido à erosão interna do maciço de uma barragem é chamado de: A alternativa "A " está correta. O enunciado refere-se ao piping, modo de falha no qual há erosão interna progressiva devido a um fluxo desordenado com carregamento do material do maciço. MÓDULO 3 Reconhecer os princípios de projetos de barragens PRINCÍPIOS DE PROJETOS DE BARRAGENS FASES DE UM PROJETO Antes da construção de uma barragem, o projeto e o planejamento de uma barragem passam por várias etapas de estudo que se diferem quanto ao nível de detalhamento e de informações disponíveis. Essas fases, descritas a seguir, devem ser seguidas sempre que possível, já que ignorar ou “pular” uma dessas fases poderá ocasionar problemas encontrados durante a execução e a operação da barragem, que poderiam ter sido identificados e tratados previamente. VIABILIDADE O estudo de viabilidade consiste na primeira etapa do projeto. É quando se deve reunir todas as informações e dados necessários para se investigar se existem particularidades ou criticidades que devem ser observadas nas demais fases de projeto. Continue Lendo Para tal, são analisados e levantados aspectos sociais, ambientais, econômicos, topográficos, geológicos,geotécnicos e hidrológicos. Ao final dessa etapa, o empreendedor deve decidir se a obra é viável em termos de prazo, custos e seus impactos. Caso positivo, segue-se para as próximas etapas de projeto. Caso contrário, deve suspender o projeto. Se outra área ou outra estrutura seja javascript:void(0) idealizada, o estudo de viabilidade deverá ser recomeçado considerando os novos parâmetros. Um exemplo de inadequação seria, a constatação de que na região há uma espessa camada de argila mole. Se o custo de escavação ou tratamento dessa fundação for muito maior do que o valor que o empreendedor esteja disposto a investir, o melhor a se fazer é abandonar a região e procurar outra mais adequada. PROJETO CONCEITUAL No projeto conceitual, sendo constatada a viabilidade da barragem, são realizados estudos de alternativas com a proposição de alguns arranjos para a estrutura e seus métodos construtivos. Também são realizados estudos preliminares de estabilidade geotécnica e são definidos quais serão os dispositivos de drenagem necessários. Continue Lendo É imprescindível que o projeto conceitual seja realizado já com um reconhecimento de campo e, se possível, com resultados de investigação geotécnica e dados hidrológicos recentes. Também é necessário conhecer a área de empréstimo que fornecerá o material a ser adotado na construção do maciço. Ao final do projeto, tem-se um arranjo definido, que deverá ser mais bem detalhado nas próximas etapas de projeto. Será importante, então, especificar quais são as investigações geológico-geotécnicas complementares a serem realizadas para subsidiar os estudos da próxima etapa, a fim de se evitar eventuais surpresas na fase de execução. Nessa fase, já será possível levantar, mesmo que preliminarmente, quais são os custos dos materiais e da mão de obra para a implantação da barragem. javascript:void(0) PROJETO BÁSICO No projeto básico, deve-se avançar com o arranjo escolhido no projeto conceitual. Os elementos da barragem como extravasor, drenagem interna, drenagem superficial e acessos devem ser dimensionados a partir de procedimentos e normas consagradas nas boas práticas de engenharia. Continue Lendo A instrumentação deve ser definida, bem como o plano de operação da barragem, e os equipamentos que deverão ser utilizados para a construção da estrutura. O nível de detalhamento dos desenhos e documentos dessa fase são suficientes para a implantação em campo. Logo, o orçamento e o cronograma físico da obra nessa etapa são próximos ao da realidade. PROJETO EXECUTIVO O projeto executivo compreende ao tempo de construção até a finalização da obra, em que pequenos ajustes são realizados no projeto básico, em atendimento às necessidades e possíveis alterações identificadas em campo. ESTUDOS DE ARRANJO javascript:void(0) O arranjo da estrutura consiste nas características geométricas dos elementos da barragem. Barragem de concreto Para o maciço de uma barragem de concreto, é usual a utilização de uma base que seja de 70 a 80% da altura. Caso seja a barragem de concreto e dupla curvatura, é usual a utilização de uma razão entre a largura e a altura da barragem L H inferior a 2,5. Barragens de terra As barragens de terra possuem características que dependem do tipo de material que será empregado no maciço, pois essas serão importantes para a sua estabilidade geotécnica. É comum, por exemplo, adotar uma inclinação dos taludes de montante de 3H (HORIZONTAL) :1V (VERTICAL) (aproximadamente 18°), e de 2,5H:1V (aproximadamente 22°) para o talude de jusante. Já quando se associa o enrocamento às barragens de terra, é possível ter taludes mais íngremes, de inclinação de 1V:1,6H a 1V:2,2H(de 32° a 24°). Barragens de aterro hidráulico Barragens construídas com o método de aterro hidráulico são mais abatidos, da ordem de 1V:5H (cerca de 11°). Dessa forma, barragens desse tipo consomem mais material e exigem uma maior área para a formação do maciço. Largura da crista e das bermas A crista e as bermas das barragens, geralmente, servem de acesso para os veículos e equipamentos de operação da barragem. Portanto, suas larguras, normalmente, são superiores a 3,0 ou 5,0m, considerando o tráfego em mão única. ATENÇÃO A escolha das larguras deverá ser pautada pelo tipo de veículo que se espera trafegar na barragem. Altura da barragem Quando a altura da barragem é tal que a distância entre o pé e a crista forma um talude de inclinação superior aos supracitados, escalona-se o talude de jusante em pequenas alturas, geralmente, de no máximo 10m. ( ) DEFININDO-SE A GEOMETRIA, PODE-SE ESTIMAR O VOLUME DE MATERIAL NECESSÁRIO PARA A IMPLANTAÇÃO DA BARRAGEM, ONDE DEVEM SER AVALIADOS ASPECTOS CONSTRUTIVOS IMPORTANTES, COMO VOLUME DE TERRAPLANAGEM OU DE CONCRETO BOMBEADO, REGIÃO DA ÁREA DE EMPRÉSTIMO, DENTRE OUTROS. As disposições construtivas dadas neste item são orientativas. Para a validação de uma geometria, é importante realizar os estudos que seguem. ESTUDOS GEOLÓGICOS Os estudos geológicos compreendem, principalmente, o reconhecimento da fundação do barramento. Para tal, além de dados documentados por mapas geológicos regionais, deve- se realizar um mapeamento de campo que visará reconhecer, por análise táctil visual, quais são os horizontes superficiais encontrados na região. PARA UMA INVESTIGAÇÃO PROFUNDA, EMPREGAM-SE MÉTODOS DE SONDAGEM, COMO O DE SIMPLES RECONHECIMENTO (SPT), PENETRAÇÃO DE CONE (CPT), ENSAIO DILATOMÉTRICO (DMT) E SONDAGENS ROTATIVAS. ALGUMAS DESSAS TÉCNICAS PERMITEM QUE SEJAM RECOLHIDAS AMOSTRAS PARA CARACTERIZAÇÃO COMPLETA EM LABORATÓRIO. PARA ESTE FIM, TAMBÉM PODEM SER UTILIZADAS OUTRAS TÉCNICAS DE AMOSTRAGENS, COMO ABERTURA DE POÇOS E TRINCHEIRAS DE INSPEÇÃO. Ao final do estudo geológico, será possível obter o mapeamento da área onde a barragem será implantada, inclusas possíveis estruturas geológicas, como falhas, intrusões e famílias que possam afetar na estabilidade da barragem. Imagem: Rezende e Salgado, 2011. Mapa geológico. Com o arranjo da estrutura definido, poderão ser traçadas seções para avaliar a estabilidade geotécnica para validação da geometria do barramento. O sobrepeso causado pelo sistema da barragem também poderá ser utilizado para avaliar a hidrodinâmica da região após a construção da barragem, de forma que as subpressões e o nível freático possam ser antevistos e possam guiar a locação da instrumentação necessária para o monitoramento da estrutura. ESTUDOS GEOTÉCNICOS Os estudos geotécnicos de um projeto de barragem envolvem, principalmente: o tratamento da fundação, a estabilidade e a drenagem interna. TRATAMENTO DA FUNDAÇÃO O tratamento da fundação consiste em melhorar as condições de suporte da fundação. Caso na etapa de estudos geológicos sejam identificados materiais moles ou inconsolidados, o engenheiro geotécnico deverá estudar a possibilidade de remover o material crítico por meio de um projeto específico de escavação. As escavações são vantajosas do ponto de vista de eliminar o material crítico. No entanto, só serão viáveis caso o material esteja em superfície e não sejam muito espessos. ATENÇÃO A atividade de escavação deve ser planejada com cautela, levando em consideração a estabilidade das paredes e a segurança dos funcionários envolvidos na operação. Em um caso de fundação que não seja possível a remoção do material, pode-se aplicar técnicas de melhoramento, como a injeção de calda de cimento (jetgrouting). Caso o material a ser disposto seja contaminante, será necessário impermeabilizar o contato com a fundação, para isso, é comum a utilização de argila compactada ou de material geotêxtil. ESTABILIDADE Após garantir que a fundação da barragem é adequada para receber o sobrepeso, deve-se validar a geometria escolhida para a barragem. Para tal, a forma mais comum é realizar análises de estabilidade com a utilização da Teoria de Equilíbrio Limite, a partir da seção geológica com a implantação da barragem,do conhecimento do comportamento da superfície freática e dos parâmetros geotécnicos dos materiais que compõem a seção. De posse das seções geotécnicas e do coeficiente de permeabilidade dos materiais, também é possível realizar análises de percolação, em que será possível obter vazões, além de antever como a freática e as poro-pressões irão se comportar após a construção da barragem. ATENÇÃO Esse modelo poderá ser confrontado com a análise hidrogeológica dinâmica Já vista. Em programas mais sofisticados, que utilizam elementos finitos, é possível realizar também análises de tensão x deformação, de forma a prever os deslocamentos e recalques esperados para os materiais da fundação. SAIBA MAIS Diversos são os programas disponíveis para a realização dessas análises geotécnicas. Os mais comuns são em 2D, cujo resultado das análises de estabilidade são os fatores de segurança. Esses fatores devem ser confrontados com os mínimos estabelecidos em norma, de forma a validar ou não a geometria proposta. Caso a geometria da barragem seja validada, deve-se partir para o detalhamento da barragem. DRENAGEM INTERNA O próximo passo dos estudos geotécnicos consiste em dimensionar a drenagem interna da estrutura. Esse elemento tem a finalidade de agir como o caminho preferencial da água dentro da barragem, controlando as poro-pressões e evitando o carreamento de material e erosões. Dos tipos de drenagem interna mais usuais, os mais comuns encontram-se ilustrados nas figuras abaixo: Imagens: Massad, 2010, p. 187. AUSÊNCIA DE DRENAGEM Não recomendado, pois a percolação dependerá apenas da característica do maciço. Pode favorecer o piping e comprometer a estabilidade geotécnica da estrutura. Imagens: Massad, 2010, p. 187. ENROCAMENTO DE PÉ A percolação ocorre pelo maciço, mas a jusante é concentrada no pé da estrutura. O carreamento de material pode ser verificado por inspeções de turbidez na água que sai do dreno. Imagens: Massad, 2010, p. 187. TAPETE DRENANTE (DRENO DE FUNDO) Aumenta a zona de captação de água e modifica o comportamento da freática no maciço. Imagens: Massad, 2010, p. 187. FILTRO VERTICAL (CHAMINÉ) Diminui consideravelmente a percolação no maciço, diminuindo a possibilidade de piping. Imagens: Massad, 2010, p. 187. FILTRO VERTICAL INCLINADO PARA JUSANTE Aumenta a estabilidade do talude de montante. Imagens: Massad, 2010, p. 187. FILTRO VERTICAL INCLINADO PARA MONTANTE Aumenta a estabilidade do talude de jusante. Imagens: Massad, 2010, p. 187. FILTRO ESCALONADO Aumenta o caminho de percolação, além das vantagens supracitadas. Dreno de fundo Para o bom funcionamento do dreno de fundo, além de captar e servir como um caminho preferencial de água, deve-se garantir que não haja carreamento de finos. Assim sendo, os drenos internos também são chamados de filtros, e o dimensionamento deve ser realizado levando em consideração os critérios de: PERMEABILIDADE O dreno deve ter alta condutividade hidráulica para impedir a geração de grandes forças de percolação e pressões hidrostáticas. CONTENÇÃO Os vazios formados entre grãos do dreno devem ser suficientemente pequenos para reter partículas maiores do material protegido. Para o dimensionamento de drenos internos, deve-se determinar a vazão esperada, seja à mão, por meio de redes de fluxo, ou por modelagens em programas computacionais. Daí, determina-se o intervalo aceitável para o coeficiente de permeabilidade dos filtros e calcula-se a espessura necessária, seja pela Lei de Darcy ou pela Equação de Dupuit. Para atuar como filtro, os drenos são compostos por transições geotécnicas, que são materiais de diversificadas e controladas granulometrias, conforme ilustrado na figura abaixo. Formam-se, assim, os drenos sanduíches, que podem ser associados a materiais geotêxteis. Imagem: Massad, 2010, p. 189. Dreno sanduíche Também como parte dos estudos geotécnicos, deve-se definir a instrumentação necessária para o monitoramento da barragem. Isso será tratado posteriormente. ESTUDOS HIDROLÓGICOS E HIDRÁULICOS Os estudos hidrológicos e hidráulicos envolvem a boa operação de todos os elementos da barragem. As possíveis cheias e transbordamentos que podem ocorrer na barragem como consequência de altos índices pluviométricos podem ser evitados por meio de um sistema extravasor eficiente, que seja capaz de captar e conduzir o excedente de água até a disposição final de modo ordenado. Foto: Governo de Santa Catarina, 2017 Extravasor da barragem Oeste (SC). No projeto, são então definidos níveis d’água: de operação, para quando o reservatório estiver em nível normal; e máximo, que representa o máximo aceitável antes de um transbordamento. A distância entre o nível d’água normal e a elevação de crista da barragem é chamado borda livre operacional, ou borda livre remanescente no caso do nível d’água máximo. Para garantir a saída de água pelo extravasor, em um caso de cheia, a soleira do extravasor deve coincidir com o nível d’água normal. Imagem: Mirella Dalvi dos Santos Níveis d’água e borda Livre. As chuvas também podem causar erosões dos taludes e das bermas, que podem ser controladas por meio de um sistema de drenagem superficial eficiente associado à vegetação dos taludes e proteção das bermas. Em geral, os estudos hidrológicos e hidráulicos envolvem: Concepção do sistema. Caracterização da bacia hidrográfica. Determinação das chuvas intensas na área de projeto. Definição das características físicas e parâmetros das bacias de contribuição, como área de drenagem, características do terreno e tempo de concentração. Cálculo das vazões de projeto para cada área de contribuição. Dimensionamento hidráulico das estruturas. Os dados sobre as chuvas intensas são obtidas de dados históricos disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA). Os dispositivos devem ser calculados por teorias e métodos de hidráulica consolidados; geralmente, adota-se a Metodologia de Manning para escoamento permanente e uniforme. O sistema de drenagem superficial de uma barragem é usualmente de concreto armado e composto por: Bermas com inclinação transversal e longitudinal com caída para as canaletas de berma, que evitam a concentração de água em pontos específicos (empoçamentos). Canaletas de berma, que captam as águas superficiais e conduzem até as descidas. Descidas de água, que recebem a drenagem das bermas e taludes, conduzindo até pontos mais baixos. As descidas podem ser executadas em degraus para diminuir a velocidade da água. Canais periféricos, que coletam o escoamento superficial proveniente do terreno natural e descarta a jusante. Bacias de dissipação de energia, que reduzem a velocidade da água proveniente de canais periféricos, evitando que ocorram processos erosivos no terreno natural. Sump, que consiste em um sistema para retenção de sólidos carreados pela água e evita a contaminação da água a jusante. Foto: Deflor, 2021. Alguns dispositivos de drenagem superficial. ESTUDOS AMBIENTAIS Os estudos ambientais envolvem a região que será diretamente afetada pela construção da barragem e seu entorno. Possíveis nascentes e córregos que sejam impactados pelo empreendimento devem ser levantados, bem como a área de vegetação que deverá ser suprimida. ATENÇÃO Toda documentação legal, licenças cabíveis e outorgas de utilização de recursos hídricos envolvidos nessas atividades são de responsabilidade do empreendedor junto aos órgãos ambientais pertinentes. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UM ENGENHEIRO DESEJA CONSTRUIR UMA BARRAGEM DE CONCRETO EM UMA REGIÃO ÁRIDA COM A FINALIDADE DE RESERVA DE ÁGUA E GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. PARA TAL, ELE ESTÁ REALIZANDO LEVANTAMENTOS GEOLÓGICO, GEOTÉCNICOS, HIDROLÓGICOS E SOCIOECONÔMICOS NA REGIÃO. O MAIS PROVÁVEL É QUE ESSE ENGENHEIRO ESTEJA REALIZANDO A FASE DE PROJETO CHAMADA DE: A) Estudo de alternativas B) Projeto básico C) Projeto conceitual D) Estudode viabilidade E) Projeto executivo 2. EM UMA BARRAGEM, A DRENAGEM INTERNA POSSUI A FINALIDADE PRINCIPAL DE: A) Tratar a fundação. B) Controlar as poro-pressões no maciço. C) Evitar transbordo à jusante. D) Impermeabilizar a fundação. E) Captar a água da chuva e conduzir até a disposição final. GABARITO 1. Um engenheiro deseja construir uma barragem de concreto em uma região árida com a finalidade de reserva de água e geração de energia elétrica. Para tal, ele está realizando levantamentos geológico, geotécnicos, hidrológicos e socioeconômicos na região. O mais provável é que esse engenheiro esteja realizando a fase de projeto chamada de: A alternativa "D " está correta. O estudo preliminar reúne informações e dados para verificar possíveis particularidades ou criticidades que devem ser observadas nas fases seguintes do projeto e se ele é viável ou deve ser abandonado. Essa etapa, em que se levantam custos, criticidades, prazos, dentre outros, é chamada de viabilidade. 2. Em uma barragem, a drenagem interna possui a finalidade principal de: A alternativa "B " está correta. A drenagem interna de uma barragem tem a finalidade principal de agir como o caminho preferencial da água dentro da barragem, controlando as poro-pressões e evitando o carreamento de material e erosões. MÓDULO 4 Listar os principais aspectos para garantir a segurança de barragens PRINCIPAIS ASPECTOS PARA A SEGURANÇA DE BARRAGENS OPERAÇÃO DE BARRAGENS Para garantir o bom funcionamento de barragens, a estrutura deve passar por rotinas de inspeções e manutenção. O Plano ou Manual de Operação é o documento responsável por toda sistemática da operação, além de conter algumas características geométricas do empreendimento para rápida consulta: Crista: cota, comprimento e largura Altura da barragem Reservatório: capacidade volumétrica total, cota do nível d’água em condição normal e em condição máxima Área do espelho d’água Área de drenagem da bacia de contribuição Tempo de retorno para cálculo de cheias O MANUAL DE OPERAÇÃO DEVE CONTER QUAL DEVE SER A FREQUÊNCIA DAS INSPEÇÕES NOS ELEMENTOS DA BARRAGEM E COMO A IDENTIFICAÇÃO DE ANOMALIAS DEVEM SER REGISTRADAS EM FICHAS DE INSPEÇÕES, PARA SEREM POSTERIORMENTE TRATADAS. É possível citar como prováveis anomalias em barragens: deslizamentos, trincas, erosões, surgências de água, deterioração de estruturas de concreto, obstrução de estruturas de drenagem, identificação de “água suja” na saída do dreno de fundo etc. Foto: Átila Lemos, 2020. Trincas na barragem do Itabiruçu (MG). As inspeções que buscam a identificação de anomalias podem ser: de rotina, regulares, especiais ou de emergência: INSPEÇÃO DE ROTINA Realizadas pela equipe de operação da barragem, tendo em vista detectar possíveis anomalias. INSPEÇÃO DE SEGURANÇA REGULAR Objetiva identificar anomalias que possam afetar a segurança e operação da barragem e seu estado de conservação. INSPEÇÃO DE SEGURANÇA ESPECIAL Realizada por equipe multidisciplinar e objetiva avaliar as condições de segurança do empreendimento em situações específicas durante a construção, operação e desativação. INSPEÇÃO DE EMERGÊNCIA Realizada sempre que uma anomalia potencial que coloque em risco a segurança da estrutura seja identificada. Inspeções adicionais podem ser realizadas caso o engenheiro responsável julgue necessário. Como inspeções preventivas, que podem ser realizadas antes de épocas conhecidamente chuvosas, e podem ser úteis para se verificar a condição da estrutura antes de eventos que possam levar a erosões e a cheias. Em condições normais de operação, as inspeções de rotina devem ser realizadas: Logo após o enchimento do reservatório Semanalmente, no primeiro mês após o enchimento do reservatório Quinzenalmente, no segundo e terceiro mês após o enchimento do reservatório Mensalmente, do quarto ao 12° mês após o enchimento do reservatório Trimestralmente, partir do primeiro ano após o enchimento do reservatório ATENÇÃO No Manual de Operações, também deve constar a periodicidade indicada para a leitura dos instrumentos da barragem. As leituras devem ser analisadas por um engenheiro habilitado, que verificará se o barramento pode estar associado a algum risco de ruptura. O documento no qual associam-se as leituras de instrumentação com níveis de operação normal, de alerta e de emergência é a Carta de Risco, também elaborada para cada empreendimento e indica níveis de leitura para cada um de seus instrumentos. Caso alguma leitura seja identificada fora da normalidade, é importante avaliar o índice pluviométrico recente, a integridade do instrumento e se os instrumentos próximos ao anômalo apresentam mesma criticidade, de forma a antever problemas de segurança no barramento. Para garantir a boa operação de uma barragem, também se faz necessária a manutenção da estrutura, que envolve, por exemplo, ações de limpeza, remoção de entulhos e de vegetação, testes de vida e calibração de instrumentos. Essas ações também devem constar no Manual de Operações. INSTRUMENTAÇÃO Com a finalidade de se monitorar o desempenho de uma barragem, bem como diagnosticar possíveis desvios da normalidade, a instrumentação geotécnica é implementada para acompanhamento, principalmente, de anomalias, deformações, deslocamentos, sismos, condições piezométricas e freáticas da estrutura. COMO IDENTIFICAR ANOMALIAS? DRONES Para identificação e avaliação de anomalias, principalmente, em áreas inacessíveis para inspeção visual de campo, pode-se utilizar drones, que, a partir do registro de múltiplas fotos, permitem a inspeção visual do estado de conservação de todos os elementos da barragem. RÉGUAS LINIMÉTRICAS Para o monitoramento da elevação do nível d’água dentro do reservatório, podem ser utilizadas réguas linimétricas, que permitem a leitura direta a partir de suas graduações. A medição do nível do reservatório pode ser complementada por levantamentos batimétricos, principalmente, quando o material reservado não é a água. INSTRUMENTOS DE MONITORAMENTO E CONTROLE Alguns dos instrumentos utilizados para monitoramento e controle de deformação e controle de barragens são: MARCOS SUPERFICIAIS Por meio de levantamentos topográficos e comparação com um marco de referência (benchmark) instalado em um local sem movimentações. Os marcos superficiais permitem a identificação de deslocamentos horizontais e verticais. Fotos: Oliveira e Guimarães, 2019, p. 4. Marco superficial (à esquerda) e marco de referência (à direita) em barragem para monitoramento de deslocamentos. PLACAS DE RECALQUE Chapa quadrada de aço galvanizado fixada na haste de transferência, que, na sua ponta superior, possui calota esférica para apoio de mira topográfica. A leitura é realizada por topografia a partir de um marco de referência (benchmark), e podem ser associadas várias placas para uma mesma haste, a fim de se medir o recalque em vários níveis. Foto: CoMMetro Engenharia, s.d Placas de recalque. INCLINÔMETROS Instrumento que mede deslocamentos angulares no maciço da barragem. Consistem em tubo metálico ou de plástico instalado em um material indeslocável (a fundação em maciço rochoso, por exemplo) que serve de caminho para a passagem de torpedo que mede a inclinação do tubo em relação à vertical. Foto: 3Geo Tecnologia, s.d Inclinômetro. RADAR ORBITAL Consiste em radar de imageamento de superfície com uso de ondas eletromagnéticas por satélites. O radar registra múltiplas fotos que, quando comparadas, permitem a identificação de deslocamentos com precisão milimétrica. GEOFONES Para a avaliação de sismos na região da barragem, pode-se empregar geofones, que consistem em sensores colocados na superfície dos elementos da barragem e medem a velocidade de ondas sísmicas, sejam essas naturais ou induzidas. MEDIDORES OU INDICADORES DE NÍVEL D’ÁGUA A posição da superfície freática é medida por meio de medidores ou indicadores de nível d’água.Esses instrumentos são compostos por tubos de PVC e conexões, filtro de areia, bentonita e geotêxtil para selagem. A célula de leitura se constitui em um trecho perfurado do tubo, que permite a entrada de água. Foto: Shutterstock.com Medidor de nível d’água PIEZÔMETROS A carga piezométrica pode ser monitorada por meio de piezômetros, que podem ser de diversos tipos, sendo os mais comuns os de tubo aberto (tipo Casagrande) e o elétrico de corda vibrante. O primeiro consiste em um tubo que liga o bulbo que contém areia e selo de bentonita ou solo-cimento e a superfície. O corpo do instrumento é preenchido com solo natural, e as leituras são realizadas com utilização de pio elétrico, que consiste em uma trena com ponteira elétrica a qual emite som assim que atinge a água. A carga piezométrica será dada conhecendo-se a distância da boca do tubo e a água, e a cota de instalação. Foto: Geothra, s. d Piezômetro de Casagrande. O piezômetro elétrico mede diretamente a poro-pressão por meio da medida por sensores da deformação de um diafragma interno. A altura da coluna d’água é somada à cota de instalação, obtendo-se a carga piezométrica no ponto medido. Esses instrumentos são mais sensíveis, acurados e, por serem automatizado, permitem que as leituras sejam realizadas remotamente para a frequência de tempo desejada. Foto: Geothra, s. d Piezômetro elétrico. MEDIDORES DE VAZÃO Dentre os instrumentos mais comuns em barragens, podemos citar também os medidores de vazão. Os mais utilizados são de Calha Parshall, locados na saída do dreno de fundo para medida de vazão e avaliação da turbidez da água de saída. Foto: Shutterstock.com Medidor de vazão. POÇOS DE MONITORAMENTO Outra forma de se avaliar a água subterrânea é a utilização de poços de monitoramento, que permitem a amostragem para caracterização hidráulica (química, física e biológica), descrição litológica do local, medição de nível d’água e identificação de contaminantes no lençol freático. Imagem: Shutterstock.com Poços de monitoramento As leituras e as imagens obtidas dos instrumentos devem ser regularmente analisadas por engenheiro geotécnico experiente, de forma que possíveis desvios de segurança e tomadas de decisões possam ser conduzidas adequadamente. ATENÇÃO Ressalta-se a importância da calibração e manutenção dos instrumentos da barragem, para que estejam sempre em condições favoráveis de funcionamento. CLASSIFICAÇÃO DE BARRAGENS A preocupação com a segurança de barragens se iniciou após as diversas rupturas dadas a partir da década de 50. NO BRASIL, A POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS (PNSB) ESTABELECIDA PELA LEI Nº 12.334/2010 – LEI DE SEGURANÇA DE BARRAGENS TEM O OBJETIVO DE GARANTIR QUE OS PADRÕES E AÇÕES QUE GARANTAM A SEGURANÇA DA BARRAGEM SEJAM SEGUIDOS, A FIM DE SE REDUZIR A PROBABILIDADE DE ACIDENTES. Além disso, a política regulamenta as ações de segurança para as fases de planejamento, projeto, construção, primeiro enchimento e vertimento, operação, desativação e usos futuros da estrutura. A Lei de Segurança de Barragens é aplicável a barragens de acumulação de água, rejeitos e resíduos industriais, de qualquer uso. Nessas normativas, são atribuídas classificações para as barragens, de forma que se tenham indicadores entre o volume do material contido e as condições de segurança da barragem. Os níveis para as barragens são: NÍVEL 0 Nível normal. NÍVEL 1 Indicativo de alguma instabilidade. Deve-se aumentar o monitoramento da estrutura. NÍVEL 2 Deve-se acionar as sirenes e evacuar as pessoas que estejam na ZAS. NÍVEL 3 Os cuidados devem ser estendidos para a ZSS. As barragens também passam por um Sistema de Classificação por categoria de risco e por dano potencial associado, tendo como base critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). A categoria de risco está relacionada aos aspectos da barragem que possam influenciar na probabilidade da ruptura, como: projeto, integridade, estado de conservação, operação, manutenção e atendimento do Plano de Segurança da Barragem. Os riscos classificatórios podem ser: alto, médio ou baixo, dado pela equação: CRI - CT + EC + PS Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em que CRI é a categoria de risco, CT são as características técnicas, EC o estado de conservação e OS o plano de segurança da barragem. Chega-se, então, às classificações: ALTA CRI ≥ 60 CRI ≥ 8 MÉDIA 35 ≤ CRI ≤ 60 BAIXO CRI ≤ 35 O dano potencial associado (DPA), por sua vez, representa o dano esperado com o rompimento, vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de uma barragem. Esse parâmetro é independente da probabilidade de ocorrência da ruptura, e é função do potencial de perdas de vidas humanas e dos impactos sociais. Os DPAs podem ser: ALTA DPA ≥ 16 MÉDIA 10 ≤ DPA ≤ 16 BAIXO DPA ≤ 16 A partir do CRI e do DPA, classifica-se a barragem em cinco categorias dadas pelas letras de A até E. As barragens que apresentam maior risco associado e dano potencial são as do tipo “A”, e nessas, o plano de segurança merece uma atenção especial, assim como as revisões de segurança. DANO POTENCIAL ASSOCIADO CATEGORIA DE RISCO ALTO MÉDIO BAIXO ALTO A B C MÉDIO A C D BAIXO A C E Tabela 4: Classificação de barragens. Extraída de: Agência Nacional de Águas, 2012. Adaptada por Mirella Dalvi dos Santos. DOCUMENTOS DE SEGURANÇA DE BARRAGENS Após os desastres ocorridos em Minas Gerais com o rompimento de barragens, a exigência e a importância de documentos que comprovem e atualizem as seguranças e ações de barragens têm se tornado cada vez mais amplos. Alguns dos documentos necessários para a legalização de barragens são: Plano de Ação de Emergência (PAE) Documento com orientações sobre prevenção e ações necessárias caso haja uma emergência. Quando a barragem é do setor da mineração, chama-se Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM). Inspeção de Segurança Regular (ISR) Documenta a inspeção realizada no empreendimento, que tem como objetivo identificar e avaliar eventuais anomalias que afetem as condições de segurança e operação da estrutura. O ISR possui periodicidade mínima anual. Revisão Periódica de Segurança de Barragem (RPSB) Objetiva verificar periodicamente o estado geral de segurança da barragem, além de indicar as ações a serem executadas para a manutenção da segurança da estrutura. Plano de Segurança Auxilia na gestão da segurança da barragem, contendo dados técnicos relacionados à construção, operação, manutenção e condição atual da segurança da barragem. da Barragem (PSB) Declaração de Condição de Estabilidade (DCE) Documento que certifica a segurança de uma barragem, assinada por um engenheiro consultor experiente na área. ATENÇÃO O PSB e o PAE devem estar disponíveis no local da barragem e na sede do dono da barragem, além de serem distribuídos para a defesa civil local do empreendimento. DESATIVAÇÃO DE BARRAGENS Após a barragem cumprir seu papel ao qual foi designada ou por questões técnicas e legislativas, para encerrar a sua operação, ela deve passar por processos conhecidos como descomissionamento e descaracterização. Descomissionamento O descomissionamento de uma barragem ocorre quando o reservatório não recebe mais aporte de material, não sendo obrigatória a modificação dos elementos da barragem, desde que a longo prazo o conjunto apresente estabilidade geotécnica, hidráulica e ambiental. Descaracterização Quando há um projeto de modificação da estrutura, seja por construção de reforços, remoção do maciço ou do material armazenado no reservatório, diz-se que a barragem está sendo descaracterizada. Nesse caso, também é importante que a área seja estável a longo prazo. Nos dois casos de desativação de barragem, vê-se que a estabilidade do entorno é de suma importância. Caso a barragem não apresente segurança adequada,ela pode ser atingida por meio de rebaixamentos freáticos e construção de bermas de equilíbrio. ALÉM DA ESTABILIDADE, O EMPREENDEDOR DEVE APLICAR MEDIDAS DE REMEDIAÇÃO DA ÁREA AFETADA E TRATAMENTO DO ENTORNO PARA REINCORPORAÇÃO AO RELEVO E AO MEIO AMBIENTE. PARA TAL, É PRECISO QUE HAJA ESTUDOS AMBIENTAIS, HIDROLÓGICOS E SOCIOECONÔMICOS NA REGIÃO, A FIM DE QUE HAJA O REESTABELECIMENTO DA FAUNA E FLORA LOCAL. Com a conclusão da desativação de uma barragem, a área poderá servir de lazer, reaproveitamento imobiliário, restauro ambiental, pesquisa, turismo, valorização à cultura, dentre outras aplicações. ATENÇÃO Ressalta-se que o Plano de Fechamento de uma barragem deve ser idealizado preferencialmente ainda durante o seu projeto, antes mesmo da construção. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O DOCUMENTO EM QUE PODE SER ENCONTRADA A PERIODICIDADE DE INSPEÇÕES VISUAIS E LEITURA DE INSTRUMENTOS NECESSÁRIAS EM BARRAGENS É O (A): A) Carta de Risco B) Manual de Operação C) Plano de Ação de Emergência D) Plano de Segurança da Barragem E) Revisão Periódica de Segurança de Barragens 2. PARA O ACOMPANHAMENTO GEOTÉCNICO DE UMA BARRAGEM, PODEM SER INSTALADOS DIFERENTES TIPOS DE INSTRUMENTOS QUE DEVEM SER PERIODICAMENTE LIDOS, INTERPRETADOS E CALIBRADOS. PARA SE MONITORAR A PORO-PRESSÃO DA FUNDAÇÃO DE UMA BARRAGEM, É POSSÍVEL EMPREGAR: A) Medidores de nível d’água B) Medidores de vazão C) Inclinômetros D) Marcos superficiais E) Piezômetros GABARITO 1. O documento em que pode ser encontrada a periodicidade de inspeções visuais e leitura de instrumentos necessárias em barragens é o (a): A alternativa "B " está correta. O Manual de Operação ou Plano de Operação é o documento que contém toda a sistemática da operação, incluindo a periodicidade de inspeções no barramento e da realização de leituras na instrumentação, além de conter algumas características geométricas do empreendimento. 2. Para o acompanhamento geotécnico de uma barragem, podem ser instalados diferentes tipos de instrumentos que devem ser periodicamente lidos, interpretados e calibrados. Para se monitorar a poro-pressão da fundação de uma barragem, é possível empregar: A alternativa "E " está correta. Os piezômetros são os instrumentos que medem a poro-pressão e a carga piezométrica em solos e maciços rochosos. Há diversos tipos desse instrumento, sendo os mais comuns o tubo aberto (tipo Casagrande) e o elétrico de corda vibrante. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste conteúdo, analisamos os aspectos mais importantes sobre as barragens, desde concepção, projeto, construção e operação. Vimos que são envolvidos o conhecimento interdisciplinar de diversos assuntos da Engenharia Civil, já que se misturam conceitos de mecânica dos fluidos, hidráulica, mecânica dos solos, estruturas de concreto, dentre outros. O conhecimento desses aspectos e das diretrizes para a segurança de barragens se faz importante não só para os engenheiros que trabalharão diretamente com esse tipo de estrutura, mas também para formar um conhecimento crítico sobre a vultuosidade e os impactos que as barragens podem trazer à sociedade, sejam estes positivos ou negativos. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ADAMO, N.; AL-ANSARI, N.; SISSAKIAN, V. K.; LAUE, J. Dam Safety: Technical Problems of Aging Embankment Dams. Journal of Earth Sciences and Geotechnical Engineering, v. 10, n. 6, p. 281-322, 2020. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. ANA. Resolução nº 91, de 2 de abril de 2012. Diário Oficial da União, 2012. ÁTILA LEMOS. MPF aponta falhas na estrutura e falta de monitoramento no Itabiruçu. Publicado em: 15 de set. 2020. BRASIL. Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010. Lei de Segurança de Barragens. Brasília, 2010. COMMETRO ENGENHARIA. Instrumentos. Placas de Recalque. Consultado na internet em: 1 de ago. 2021 CRUZ, P. T. da. 100 Barragens Brasileiras. 2. ed. Oficina de Textos: São Paulo, 2004. DAVIES, M.; MCROBERTS, E.; MARTIN, T. Static Liquefaction Of Tailings - fundamentals and case histories. N/A: Research Gate, 2015. Consultado na internet em: 1 de ago. 2021. DEFESA Civil monitora barragens de Taió e Ituporanga. Governo de Santa Catarina. 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CONTEUDISTA Mirella Dalvi dos Santos