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DESCRIÇÃO O entendimento dos principais conceitos, procedimentos e aplicações das investigações geotécnicas de campo. PROPÓSITO Ensaios de campo são recursos utilizados na engenharia geotécnica para se reconhecer e identificar os horizontes que compõem um terreno. Assim, serão expostos os principais ensaios utilizados no Brasil e no mundo para esse fim, seus procedimentos, interpretações e aplicações. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever os conceitos básicos e a importância das investigações geotécnicas MÓDULO 2 Reconhecer o ensaio de simples reconhecimento (SPT) MÓDULO 3 Reconhecer o ensaio de penetração do cone (CPT) MÓDULO 4 Reconhecer outros ensaios de investigação geotécnica (VST, DMT, PMT) BEM-VINDO AO ESTUDO SOBRE INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS 01:09 MÓDULO 1 Descrever os conceitos básicos e a importância das investigações geotécnicas PRINCIPAIS ASPECTOS SOBRE INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS 07:58 IMPORTÂNCIA E OBJETIVOS Em qualquer obra civil que envolva o solo, como fundações, contenções, aterros ou encostas, faz-se necessário reconhecer o tipo de solo que está presente no terreno, bem como as suas características físicas e de resistência. O SOLO É O MATERIAL QUE RESULTA DA INTEMPERIZAÇÃO (INTEMPERISMO, MAS INTEMPERIZAÇÃO É O JARGÃO UTILIZADO) DE ROCHAS PELA AÇÃO DE CHUVAS, VENTOS E REAÇÕES QUÍMICAS, QUE DESINTEGRAM E DECOMPÕEM A ROCHA EM PARTÍCULAS MENORES. Logo, trata-se de um material natural e milenar, que não necessariamente seguiu regras durante a sua disposição na natureza. Sendo assim, pode-se esperar que os solos sejam variáveis, e não é raro encontrar um subsolo extremamente heterogêneo. PROBLEMAS QUE ENVOLVEM OS SOLOS GERALMENTE SÃO COMPLEXOS, E QUALQUER INFORMAÇÃO SOBRE ESSES MATERIAIS MUITO AGREGA A UM PROJETO. SAIBA MAIS Essas informações podem ser obtidas por meio de investigação geotécnica, ensaios e técnicas de prospecção no solo capazes de caracterizar aspectos como de granulometria, compacidade, consistência, resistência, compressibilidade, posição do nível d’água, entre outras propriedades dos solos. No Brasil e no mundo, os ensaios mais comuns para esse fim são o ensaio de simples reconhecimento (SPT) e o ensaio de penetração do cone (CPT), cujas siglas vêm do inglês para standard penetration test e cone penetration test, respectivamente. Outros ensaios dignos de nota são o ensaio de palheta (ou vane test – VST), ensaio dilatométrico (DMT) e o pressiométrico (PMT). Exemplo de pesquisa de solo por perfuração. Ensaios de prospecção geotécnica. Nesses ensaios, força-se a entrada de um equipamento no solo (motivo pelo qual diz-se que são executados furos de prospecção), que dará diferentes informações a depender da técnica utilizada e do nível de sofisticação do equipamento. Em alguns tipos de investigação, além das medidas diretas realizadas durante o ensaio, é possível a recuperação de amostras em profundidade para posterior ensaio em laboratório. EXEMPLO Imagine ser responsável pelo dimensionamento das fundações de um edifício. Você já sabe que esse tipo de elemento estrutural é responsável por receber a carga da superestrutura e transferir para o solo. Mas será que o solo é competente o suficiente para receber essa carga que deseja aplicar? Se o solo é heterogêneo em planta e em profundidade, como é possível representar essa variabilidade e considerá-la em projeto? Como determinar a cota de assentamento dessas fundações? As respostas para essas perguntas só são possíveis a partir da investigação geotécnica. É notório que a investigação geotécnica é imprescindível em um projeto de engenharia. No entanto, com a tecnologia que temos hoje disponível, não é possível um reconhecimento de 100% do terreno, já que isso só seria possível caso retirássemos todo o solo, realizássemos diversos ensaios e depois o colocássemos de volta, da maneira como encontramos. LOGO, O ENGENHEIRO DEVE TER EM MENTE QUE POSSÍVEIS VARIABILIDADES PODEM OCORRER, MESMO COM UMA CAMPANHA DE INVESTIGAÇÃO BEM-FEITA E ABRANGENTE. COM O TEMPO E A EXPERIÊNCIA, DEVERÁ SER CADA VEZ MAIS CONFORTÁVEL LIDAR COM ESSA INCERTEZA. ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA A investigação geotécnica pode ser dividida em três etapas: Reconhecimento Exploratória Detalhada A primeira etapa, de reconhecimento, é também chamada de investigação de escritório. Nessa fase são coletadas informações generalizadas sobre a topografia, hidrologia, geologia, potencialidade sísmica, presença de cavidades e tipo de vegetação encontrada na região em que se deseja construir. ESSES DADOS PODEM SER OBTIDOS, POR EXEMPLO, DE ÓRGÃOS PÚBICOS COMO O INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE), A EMPRESA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA (EMBRAPA), A AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) E O DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL (DNPM). Nessa etapa, também é possível que se obtenham resultados de ensaios de campo e até a experiência adquirida em construções vizinhas. Imagine que logo ao lado de onde se deseja construir um empreendimento já exista um similar: pode ser que o vizinho já tenha dados de sondagem, registros dos materiais que foram encontrados durante a execução, entre outros. ATENÇÃO Lembre-se sempre de que o solo é um material natural e heterogêneo, e até em áreas pequenas características distintas podem ser encontradas no subsolo, que devem ser levadas em conta no projeto. A segunda etapa, investigação exploratória, é a realização do ensaio propriamente dito. São realizadas campanhas de sondagens e investigação de campo, nas quais, ao final, poderá ser capaz determinar: A natureza do solo, como a geologia local, existência de aterros, deslizamentos passados (colúvios), histórico de inundações, entre outros. A profundidade, espessura e composição de cada estrato. A profundidade do nível d’água. Propriedades de engenharia dos materiais envolvidos no substrato: resistência, compressibilidade, susceptibilidade à expansão ou liquefação, permeabilidade, entre outros. Por fim, a terceira etapa é chamada de investigação detalhada. Nessa fase, o engenheiro pode prescrever novas sondagens para complementar a campanha da fase anterior. Em obras de grande porte, em áreas em que há a ocorrência de bolsões de solos moles ou em solos sedimentares, por exemplo, é comum que essa nova campanha seja realizada em complementação à investigação exploratória. Para a investigação detalhada, podem ser realizados os mesmos tipos de ensaios anteriormente já empregados, apenas aumentando sua quantidade e/ou profundidade, ou até mesmo realizar ensaios mais complexos, que dão resultados mais refinados e confiáveis. ESCOLHA DO TIPO DE ENSAIO Diante de tantos tipos diferentes de ensaios que podem ser empregados em uma campanha de investigação geotécnica, com a finalidade de auxiliar na escolha de um ensaio, alguns pontos podem ser levados em consideração: CARACTERÍSTICAS DA OBRA PARTICULARIDADES DO TERRENO DISPONIBILIDADE CUSTO EXPERIÊNCIA CARACTERÍSTICAS DA OBRA A investigação deve ser focada no tipo de informação que se deseja obter para a elaboração do projeto. Por exemplo, a construção de uma barragem requer que seja conhecida a permeabilidade da fundação, mas em um projeto de fundação de um edifício esse parâmetro poderia não ser estritamente necessário. PARTICULARIDADES DO TERRENO Algumas técnicas exigem equipamentos robustos que nem sempre serão aplicáveis em um dado terreno. No caso de uma encosta muito íngreme, por exemplo, pode não ser possível o acesso de um tripé de SPT. DISPONIBILIDADE O ensaio SPT é sem dúvida o mais comum e mais realizado em todo o mundo. Ainda que ensaios mais sofisticados como o SPT possam dar informações mais assertivas para um projeto, pode ser que não se encontre uma empresa qualificada para executá-lo. CUSTO Estima-se que as investigações representem apenas cerca de 0,2% a 0,5% do custo total de uma obra convencional, valor que deverá ser considerado no estudo de viabilidadedo empreendimento. Ensaios mais incomuns e mais robustos serão mais custosos e, por isso, geralmente não são executados. EXPERIÊNCIA Mais importante que a execução da investigação geotécnica é a sua correta interpretação. De nada adianta a realização de ensaios refinados e caros se o engenheiro geotécnico não for capaz de obter os parâmetros corretamente para o seu projeto. ESPECIFICANDO UMA CAMPANHA DE INVESTIGAÇÃO TENDO SIDO DETERMINADO O TIPO DE ENSAIO QUE SERÁ EMPREGADO NA CAMPANHA DE INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA, DEVE-SE ESPECIFICAR A QUANTIDADE, A PROFUNDIDADE E A POSIÇÃO DESSAS SONDAGENS EM PLANTA. A ABNT NBR 8036 ESTABELECE OS REQUISITOS BÁSICOS PARA A PROGRAMAÇÃO DE SPT DOS SOLOS PARA FUNDAÇÕES DE EDIFÍCIOS. Embora tenha sido elaborada para o SPT, as diretrizes dadas nessa norma podem ser utilizadas para qualquer outro ensaio e em qualquer tipo de obra. Sobre o número de sondagens a ser executada, pode-se dizer que a quantidade ideal de furos é aquela em que o terreno passaria a ser 100% conhecido. No entanto, lembre-se de que isso só seria possível caso todo o solo fosse removido, estudado e reconstituído em campo. Sendo assim, trabalha-se por amostragem e, de acordo com a NBR 8036, o número mínimo de sondagens pode ser estabelecido a partir da área projetada da edificação: Área projetada (A) Número mínimo de sondagens A < 200m² 2 200 < A < 400m² 3 400 < A < 1.200m² 1 para cada 200m² ou fração de A 1.200 < A < 2.400m² 6+1 para cada 400m² ou fração que exceder 1.200m² A > 2.400m² Não há orientação Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela 1: Número mínimo de sondagens a partir da área projetada da edificação. Extraída de: ABNT, 1983. Em obras sem projeto de implantação, onde ainda está sendo realizado o estudo de viabilidade preliminar e não se tem a área de projeção, essa norma indica que sejam realizadas no mínimo três sondagens, a uma distância máxima de 100m. ATENÇÃO É importante salientar que essa orientação é para o número mínimo de sondagens e, a critério do projetista, mais sondagens podem (e devem) ser solicitadas. Em relação à locação das sondagens, é importante distribuir a quantidade estabelecida de modo que se tenha uma boa caracterização do terreno. Portanto, é importante não alinhar os furos e distribuí-los aleatoriamente no terreno. Em casos especiais, em que se sabe que pode haver a ocorrência de solos de baixa competência, como argilas moles, e suspeita-se da existência de cavidades naturais, ou se sabe que o solo vai receber uma carga considerável, como em elevadores ou piscinas, as sondagens devem ser especificamente locadas, a fim de se obter a caracterização dessas regiões. A Tabela 2 apresenta espaçamentos típicos para as sondagens, considerando o tipo de obra a ser executada. Projeto Espaçamento (m) Estradas 60-600 Barragens de terra, diques 15-60 Jazida de empréstimo 30-120 Edifícios 15-30 Galpões, fábricas 30-90 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela 2: Espaçamentos típicos de sondagens. Extraída de: Castello, 2015, p. 4. A imagem a seguir exemplifica como poderiam ser locados furos de sondagem, considerando as discussões apresentadas: na região dos elevadores e da piscina, são previstos alguns furos, enquanto nas demais áreas os furos são distribuídos aleatoriamente. Exemplo de locação de sondagens. Definidas as quantidades e a locação dos furos, para completar a especificação da campanha, deve-se determinar a profundidade das sondagens. Uma solução simplista seria determinar que os furos avancem até onde der, ou seja, até atingir o maciço rochoso, quando não é mais possível prospectar com equipamentos de investigação em solos. No entanto, deve-se saber se atingir o maciço rochoso será importante para o projeto em questão. Se o solo for espesso e de boa resistência, provavelmente será uma perda de tempo e de dinheiro seguir com o furo até a rocha. Furos de sondagem são comumente cobrados por metro, e o orçamento da obra dificilmente prioriza a investigação geotécnica. LOGO, ATÉ QUANDO DEVE-SE REALIZAR UMA SONDAGEM? UM MODO MAIS OBJETIVO DE DETERMINAR A PROFUNDIDADE DE SONDAGENS É DADA NA NBR 8036, QUE ESTABELECE QUE OS FUROS SEJAM EXECUTADOS ATÉ A PROFUNDIDADE NA QUAL O ACRÉSCIMO DE TENSÕES VERTICAIS PROVOCADO PELA OBRA PREVISTA SEJA NO MÁXIMO 10% DA TENSÃO EFETIVA VERTICAL INICIAL . Uma orientação dada por Sowers (1979) indica que a profundidade típica das sondagens (z) pode ser dada pelas equações descritas a seguir, seja para um edifício: leve e estreito, ou pesado e largo, com S números de pavimentos. Infelizmente, essa abordagem é um tanto subjetiva, já que o que pode ser leve para um engenheiro poderia ser considerado pesado por outro. Logo, deve ser utilizado apenas como diretriz preliminar. Projeto Profundidade (m) Edifício leve, estreito Edifício pesado, largo Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela 3: Profundidades típicas de sondagens. Extraída de: Castello, 2015, p. 6. Você deve se lembrar de que o acréscimo de tensões para uma dada profundidade é calculado na mecânica dos solos, principalmente por métodos baseados na teoria da elasticidade, como Boussinesq, Newmark e Love. Esses métodos podem ser utilizados para conhecer a (Δσ) (σ′v) z = 3 × S0,7 z = 6 × S0,7 profundidade em que o acréscimo de tensões alcança o bulbo de 10% da tensão efetiva inicial. Ou mais simplificadamente, pode ser utilizado o ábaco disponível na NBR 8036. Ábaco da determinação da profundidade das sondagens. A seguir, vejamos o passo a passo de como usá-lo: Calcular o acréscimo de tensões que será aplicado sobre o terreno, dado pelo peso do edifício dividido pela área em planta. Estimar o peso específico médio efetivo (ou submerso) para os solos ao longo da profundidade que será sondada. Como os solos geralmente possuem pesos específicos variando de 14 a 22kN/m³, o peso específico médio efetivo deve ser em torno de 4 a 12kN/m³, já que o peso específico da água é padronizado em 10kN/m³. Conhecer a geometria da projeção do edifício: B é a menor dimensão e L a maior dimensão em planta. Caso o edifício tenha um formato não retangular, o formato deve ser circunscrito a um retângulo. Calcula-se L/B, cujo resultado será utilizado para escolher a curva que varia de 1 a infinito do eixo × superior do ábaco. Calcula-se q/γMB e pega-se o valor encontrado no eixo y até encontrar a curva determinada no passo 4. O valor de M é padrão e vale 0,1, correspondente aos 10% da tensão efetiva vertical existente. Projeta-se o ponto encontrado nesses dois eixos para o x inferior, determinando-se D/B. Como B é conhecido, basta determinar D, a profundidade da sondagem. ATENÇÃO É importante salientar que, em campo, nem sempre é possível atingir a profundidade especificada em projeto. Como essa profundidade é geralmente dada quando ainda não se tem informações do subsolo, pode ser que em campo alguma particularidade seja encontrada de forma que seja necessário parar a sondagem antes ou depois do que o previsto. Uma situação em que a sondagem deveria ser continuada, mesmo atingida a profundidade especificada, é no caso de, nessa profundidade, o equipamento ainda estiver prospectando em um solo mole ou de baixa competência. Nessa situação, sugere-se que o furo seja continuado até atravessar essa camada e se encontre um solo mais firme. No entanto, pode ser que o equipamento encontre um material tão duro que não seja capaz de prospectar sem a ajuda de sondas auxiliares mais robustas, como as sondas rotativas, capazes de prospectar em materiais resistentes e coletar amostras em profundidade. Amostras de rochas obtidas de sondagens rotativas. SAIBA MAIS Caso o material resistente, aparentemente rochoso, seja encontrado em pequena profundidade, provavelmente trata-se apenas de um matacão, ou seja, um bloco de rochalocalizado resultado de deslizamentos (tálus) ou do intemperismo (saprólito). Nesse caso, é importante o avanço do furo com o uso da sonda rotativa, ou a execução de um furo auxiliar a poucos metros do primeiro. Caso realmente se trate de um matacão, deve-se ter em mente que a ocorrência é localizada, e que naquela profundidade ainda deseja-se conhecer as características do solo. PODE-SE CITAR UM CASO EM QUE UMA ROCHA PODE SER ENCONTRADA EM PEQUENA PROFUNDIDADE: QUANDO A ROCHA DA REGIÃO EXPERIMENTOU UMA FALHA OU MERGULHO GEOLÓGICO. O engenheiro civil e o geólogo responsável poderão concluir do que se trata o material encontrado (matacão ou maciço rochoso), a depender do nível de conhecimento adquirido durante a primeira fase da investigação, do reconhecimento de escritório. Daí eles poderão decidir se param a sondagem ou continuam com técnicas de sondagem mista. A imagem adiante ilustra algumas particularidades que podem ser encontradas em campo e limitar ou ampliar as profundidades de sondagem: os furos 1 e 2 seriam paralisados antes da profundidade programada, enquanto o furo 3 chegaria ao programado, mas sem atingir um solo de melhor resistência. Nos três casos, possivelmente o terreno não seria caracterizado adequadamente. Particularidades encontradas durante sondagens. VÊ-SE QUE A ESPECIFICAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA PODE SER UMA LOTERIA: PARTICULARIDADES NATURAIS DO TERRENO COMO MATACÕES E BOLSÕES DE ARGILA PODEM OU NÃO SER IDENTIFICADAS ANTES DA ELABORAÇÃO DO PROJETO. Caso essas particularidades não sejam identificadas, seus problemas associados podem aparecer apenas durante a execução da obra ou até mesmo na fase pós-obra. Por esse motivo, é extremamente importante que em todas as sondagens executadas as motivações para a paralisação das sondagens sejam explicitamente documentadas. RESULTADO DE UMA CAMPANHA GEOTÉCNICA Ao final da campanha de investigação, a empresa executora deve fornecer ao escritório de projetos o resultado obtido em cada furo executado, chamado boletim de sondagem. Nesse documento, identificam-se principalmente: A locação exata do furo. O sistema de coordenadas utilizado. A cota da boca do furo. A profundidade do nível d’água. A data e hora do início e término do furo. O motivo da paralisação da sondagem. Os resultados obtidos em profundidade. Boletim de Sondagem SPT. De posse do boletim de sondagem, é possível obter as informações necessárias para se caracterizar os substratos que compõem o terreno, além de avaliar suas características físicas e mecânicas. Analisando o comportamento do solo em profundidade e em planta, o engenheiro ou geólogo responsável deve determinar “pacotes” de materiais que apresentaram o mesmo comportamento durante o ensaio, os quais serão chamados de horizontes ou substratos. MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO NO ENSAIO, COMO VARIAÇÃO BRUSCA NA RESISTÊNCIA OU NA APARÊNCIA, SÃO PARÂMETROS QUE INDICAM QUE HOUVE UMA MUDANÇA NO SUBSTRATO. A maneira mais visual de representar os horizontes é por meio de uma seção ou perfil geológico-geotécnico, no qual deve-se apresentar a profundidade do nível d’água (NA) e identificar cada espessura de solo, apresentando características principais de textura, cor, compacidade e consistência. Como só é possível obter essas seções a partir de ensaios, é comum apresentar também o resultado principal da sondagem, chamado também de minilog. Seção geológico-geotécnica. A elaboração de perfis geológico-geotécnicos é subjetiva e demanda certa experiência do profissional responsável pelo seu desenvolvimento. Esses desenhos são imprescindíveis em obras de terra, já que é a partir deles que se desenvolve um projeto de engenharia. Logo, as seções devem ser elaboradas com cautela e responsabilidade. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Reconhecer o ensaio de simples reconhecimento (SPT) ENSAIO DE SIMPLES RECONHECIMENTO – SPT CONSIDERAÇÕES INICIAIS O ensaio de simples reconhecimento, conhecido como SPT (standard penetration test), é o mais empregado para investigação geotécnica em todo mundo, principalmente para reconhecimento de características de solos granulares e da consistência de solos argilosos. VOCÊ SABIA Estima-se que cerca de 90% das campanhas geotécnicas para obras convencionais utilizem o ensaio de simples reconhecimento. Sua popularidade pode ser dada por sua simplicidade, seu baixo custo e sua alta experiência acumulada. A execução do ensaio é dividida em duas etapas principais: AVANÇO DA SONDAGEM Inicia-se o furo com uso de trado ou trépano de lavagem com circulação de água. CRAVAÇÃO DO BARRILETE NO SOLO Ocorre por meio da ação de um martelo de bater de 65kg lançado em queda livre de uma altura de 75cm, levantado por conjunto de hasteamento e tripé. A cada golpe do martelo, o conjunto avança no solo. javascript:void(0) javascript:void(0) Ensaio SPT sendo executado. A segunda etapa do ensaio é considerada o SPT propriamente dito, já que a interpretação do ensaio é dada a partir do número de golpes necessários para cravar o conjunto. Por esse motivo, diz-se que o SPT é um ensaio de penetração dinâmica, também chamado de sondagem à percussão. A NORMA BRASILEIRA QUE PADRONIZA O EQUIPAMENTO, O PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO E A INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS É A ABNT NBR 6484. Após a execução de um metro, monta-se novamente o conjunto e repete-se o procedimento até que a profundidade especificada para o ensaio seja atingida ou o equipamento não consiga mais avançar no terreno. A CADA METRO ENSAIADO, OBTÉM-SE UMA AMOSTRA, QUE QUANDO RECUPERADA PERMITIRÁ QUE O TÉCNICO DE SONDAGEM CARACTERIZE ASPECTOS DE GRANULOMETRIA E COR. Caso seja de interesse realizar ensaios de laboratório para caracterização física, a amostra retirada do SPT deve ser prontamente acondicionada em sacos plásticos ou recipiente hermético que mantenha o teor de umidade do solo. ATENÇÃO É importante que o ensaio seja realizado com a estabilidade das paredes do furo. Caso o material constituinte seja pouco resistente, para evitar deslizamentos e manter o furo aberto, podem ser utilizados tubos de revestimento ou material estabilizante, como lama bentonítica e polímeros. APARELHAGEM O equipamento do SPT é composto principalmente por conjunto de perfuração (barrilete, peso, corda, roldana e hastes), martelo, cabeça de bater, amostrador e tripé de sondagem, conforme ilustrado na imagem adiante: Aparelhagem do ensaio SPT. O conjunto de perfuração consiste em trados manuais, sejam do tipo concha ou helicoidais, e trépanos de lavagem, cuja função será o avanço preliminar do furo, até a profundidade para executar o SPT propriamente dito. Trado manual. Geralmente, o avanço com trado é realizado quando o nível freático não foi atingido (solo seco). Quando for atingido, utiliza-se o avanço com circulação de água, que é bombeada no interior das hastes até a extremidade inferior do furo. O martelo do SPT é o elemento largado em queda livre da altura de 75cm, que aplica os golpes sobre o barrilete. É um sistema constituído pela cabeça de bater, haste e amostrador, fazendo com que o conjunto avance no furo de sondagem. VOCÊ SABIA No Brasil, o martelo padronizado na NBR 6484 é chamado de Raymond, e possui massa de 65kg. Existem modelos de martelos automáticos e manuais; os primeiros são mais vantajosos, uma vez que a altura de queda é controlada por sistema hidráulico. A cabeça de bater é responsável por receber o golpe diretamente do martelo e transferir a energia para as hastes. A norma brasileira preconiza que esse elemento tenha o formato cilíndrico, com 83mm de diâmetro, 90mm de altura e massa variando de 2,5 a 4,5kg. As hastes são tubos rosqueáveis nas extremidades em luvas, que aumentam o alcance do amostrador em profundidade, até o fundo do furo. Segundo a NBR 6484, as hastes devem possuir 3,23kg por metro linear e ser livres de empenamentos para garantir a boa execução do SPT. O amostrador éum tubo oco bipartido, constituído de cabeça, corpo e sapata. No seu interior, é possível a passagem de água e retenção de solo. É importante que o amostrador esteja limpo e íntegro, para evitar que os resultados dos ensaios sejam mascarados. Amostra retirada do ensaio SPT. UM CASO ESPECIAL DO SPT É QUANDO SE IMPRIME TORQUE AO AMOSTRADOR, REALIZANDO UM ENSAIO TIPO SPT-T. O TORQUE NECESSÁRIO É MEDIDO NA PARTE SUPERIOR DA HASTE, E O RESULTADO POSSIBILITA ESTIMAR O ATRITO ENTRE O AMOSTRADOR E O SOLO. O TRIPÉ DE SONDAGEM É UMA ESTRUTURA UTILIZADA PARA DAR APOIO E SUSTENTAÇÃO ÀS DEMAIS PARTES DO EQUIPAMENTO. CRITÉRIOS DE PARADA Embora o SPT atravesse solos consideravelmente resistentes, pode ser que no campo o operador encontre um material no qual o barrilete não consiga mais avançar, mesmo com a insistência dos golpes do martelo. Nesses casos, para evitar avariar o equipamento, a NBR 6484 estabelece que um ensaio de SPT pode ser paralisado quando: A penetração for inferior ou igual a 5cm durante dez golpes consecutivos. Um máximo de cinquenta golpes para um mesmo ensaio de 45cm for atingido. Após atingir os 7m, obter 3m sucessivos com penetração igual ou superior a vinte golpes para a cravação dos 30cm finais e respeitando o máximo de cinquenta golpes em um mesmo ensaio. Quando um desses critérios estabelecidos é utilizado para a paralisação de uma sondagem, o boletim deve conter a informação impenetrável ao trépano, que indicará que o avanço não foi mais possível. ATENÇÃO Lembre-se, no entanto, de que não necessariamente essa impenetrabilidade é sinônimo de se ter atingido o maciço rochoso: pode ser apenas a identificação de um matacão, que não representa homogeneidade do material dessa profundidade. A indicação do motivo da parada do ensaio é importante para que o engenheiro ou geólogo responsável possa elaborar o perfil geológico-geotécnico com maior segurança. Caso a sondagem seja paralisada por outros motivos, esses devem ser mencionados no boletim. EXEMPLO Os motivos para a paralização da sondagem podem ser descritos como “parada por solicitação do cliente”, “atingido a profundidade especificada” ou simplesmente “fim do furo”. Caso seja de interesse, o impenetrável pode ser vencido por meio de uma sonda rotativa, que permite o avanço em rocha. Nesse tipo de ensaio, recuperam-se amostras da rocha, chamadas de testemunhos, e a sondagem passa a ser chamada de sondagem mista, já que utiliza a técnica do SPT juntamente com a rotativa. CASO O SPT TENHA SIDO PARALISADO POR TER ENCONTRADO UM MATACÃO, POR EXEMPLO, O AVANÇO PODERÁ SER FEITO COM A SONDA ROTATIVA. QUANDO O FURO RETORNAR A ENCONTRAR SOLO, O SPT PODE SER CONTINUADO. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS Durante a etapa do SPT propriamente dito, conta-se o número de golpes necessários para cravar os últimos 45cm do metro ensaiado, em três etapas de 15cm. O resultado direto do SPT é dado pela soma dos golpes necessários para cravar apenas os últimos 30cm, chamado de Nₛₚₜ e dado em golpes/300mm. OS PRIMEIROS 15CM SÃO CONTABILIZADOS, PORÉM DESCARTADOS. SERVEM PARA TENTAR IDENTIFICAR EVENTUAIS AVARIAS NO EQUIPAMENTO OU MUDANÇAS BRUSCAS NA CAMADA. Os números de golpes contabilizados a cada 15cm dos últimos 45cm ensaiados são então representados para cada metro em um boletim de sondagem. Em geral, a empresa de sondagem apresenta apenas o número de golpes para cada 15cm, sem apresentar o valor direto de Nₛₚₜ. Existem casos especiais em que o solo é muito mole ou muito duro, no qual não é possível prospectar a profundidade padronizada em ensaio. Nesses casos, a representação no boletim é dada por uma fração entre o número de golpes e a profundidade executada. EXEMPLO Um boletim no qual para dado metro a contagem de golpes é dada por uma fração 7/8 significa que o operador deu sete golpes, mas só conseguiu andar 8cm. Já uma fração 1/48 significa que o operador deu apenas um golpe, mas o barrilete avançou 48cm, ultrapassando a profundidade especificada em norma. A partir da caracterização táctil-visual dada pelo técnico da sondagem para cada amostra recuperada, apresentam-se no boletim aspectos como cor, textura e presença de matéria orgânica, conchas e mica no solo. Nesse documento, é desejável também identificar dados gerais da sondagem, como locação, cota de topo, posição no qual o nível d’água foi encontrado e profundidade do furo executado. O BOLETIM DE SONDAGEM É DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA DA EMPRESA QUE EXECUTA A SONDAGEM. O DOCUMENTO DEVE SER DISPONIBILIZADO PARA A EMPRESA PROJETISTA, QUE INTERPRETARÁ OS RESULTADOS E OS APLICARÁ EM PROJETOS DE ENGENHARIA. INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS A partir de vários furos de SPT, será possível elaborar perfis geológico-geotécnicos para o terreno. Os substratos são geralmente estabelecidos de acordo com o comportamento diante o número de golpes, e da caracterização táctil-visual documentada no boletim. Perfil Geológico-geotécnico a partir do SPT. O valor de Nₛₚₜ pode ser utilizado para designar a consistência de solos finos e a compacidade de solos grossos, conforme a tabela 4. Solo Índice de resistência à penetração (Nₛₚₜ) Designação Areia e silte arenoso ≤4 Fofa(o) 5 a 8 Pouco compacta(o) 9 a 18 Medianamente Compacta(o) 19 a 40 Compacta(o) ˃40 Muito compacta(o) Argila e silte argiloso ≤2 Muito mole 3 a 5 Mole Solo Índice de resistência à penetração (Nₛₚₜ) Designação 6 a 10 Média(o) 11 a 19 Rija(o) ˃19 Dura(o) Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela 4: Designação de Compacidade e Consistência a partir do SPT. Adaptada de: Santos, 2017, p. 31; ABNT, 2020. O valor de Nₛₚₜ pode ser adotado em métodos semiempíricos para dimensionamento de obras de terra, como na previsão de recalques e estimativa da capacidade de carga de fundações. Quando esses métodos utilizam Nₛₚₜ diretamente, chama-se método direto. Caso contrário, se o Nₛₚₜ é utilizado para obter outros parâmetros geotécnicos, diz-se que são métodos indiretos. Os parâmetros mais comuns de se obter a partir do Nₛₚₜ são: o peso específico; a resistência não drenada de argilas; o módulo de variação volumétrica; o coeficiente de compressibilidade; e o ângulo de atrito efetivo. A equação a seguir (TEIXEIRA, 1996) é rotineiramente utilizada em projetos geotécnicos para obter ângulo de atrito, que também pode ser obtido nas curvas da imagem a seguir. ∅ = 15∘ + √24 NSPT Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Estimativa do ângulo de atrito interno com base em ensaios SPT. RESSALTA-SE QUE AS CORRELAÇÕES SÃO LIMITADAS ÀS CONDIÇÕES DE CONTORNO NA QUAL FORAM ELABORADAS. E, sempre que possível, ensaios de laboratório devem ser realizados para estimar os parâmetros geotécnicos do solo, já que fornecem parâmetros mais confiáveis. Ainda assim, o uso responsável das correlações permite o reconhecimento preliminar das características do solo em estudo, que podem ser aplicáveis em estudos de viabilidade de um projeto, por exemplo. Em solos moles, o resultado do SPT deve servir apenas como uma indicação da baixa consistência do material, não sendo recomendado o uso de correlações para obtenção de parâmetros geotécnicos, nem mesmo a utilização de métodos diretos de dimensionamento. EM TERMOS PRÁTICOS, SOLOS COM VALORES DE Nₛₚₜ INFERIORES A 8 SÃO CONSIDERADOS DE BAIXA CAPACIDADE DE SUPORTE. CASO ESSA CAMADA NÃO SEJA ESPESSA E SEJA RASA, O PROJETO DE ENGENHARIA PODERÁ CONSIDERAR A SUA REMOÇÃO. CONTUDO, SOLOS COM Nₛₚₜ SUPERIORES A 30 SÃO CONSIDERADOS RESISTENTES E ESTÁVEIS, SENDO DESEJÁVEIS EM PROJETOS DE OBRAS DE TERRA. LIMITAÇÕES APESAR DE SER UM ENSAIO AMPLAMENTE UTILIZADO EM TODO O MUNDO, O SPT É RECONHECIDAMENTE RÚSTICO, PASSÍVEL DE MUITOS ERROS E DESVIOS, PRINCIPALMENTE QUANDO O MARTELO UTILIZADO É MANUAL. A MAIOR CRÍTICA AO SPT É QUE O PROCEDIMENTO É ALTAMENTE INFLUENCIADO PELO OPERADOR. No caso do martelo manual, o operador é responsável por levantara massa até a altura especificada e depois soltar o conjunto em queda livre. Não é incomum o operador se cansar e depois de um tempo passar a levantar a uma altura menor, o que causará uma energia de impacto menor do que aquela esperada no procedimento padrão. SAIBA MAIS O desvio na energia do ensaio pode ser uma consequência não só da ação do operador, mas também da padronização diversa para o SPT no mundo, que estabelece diferentes tipos de martelo de bater e procedimentos de ensaio. Com a finalidade de unificar a energia do SPT em nível mundial, a Sociedade Internacional de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações (International Society for Soil Mechanics and Geotechnical Engineering – ISSMGE) estabelece que a energia-padrão do SPT seja de 60%. Estima-se que a energia do SPT brasileiro varie entre 70% a 80%. Ou seja, para a padronização, os valores de Nₛₚₜ devem ser corrigidos, de modo a obter Nₛₚₜ,₆₀. Infelizmente, com exceção de pesquisas científicas, no Brasil não é comum a medição da energia de ensaio, nem a correção da energia do ensaio. OUTRO ASPECTO RELACIONADO À ATIVIDADE HUMANA DURANTE ENSAIO É A CONTAGEM DE GOLPES: A FALTA DE AUTOMATIZAÇÃO NA CONTAGEM E DESORGANIZAÇÃO DURANTE A ELABORAÇÃO DO BOLETIM DE CAMPO SÃO AS PRINCIPAIS CAUSAS DE ERROS ASSOCIADOS AO Nₛₚₜ. O desgaste do martelo, empenamento das hastes, cordas velhas e desvios nas características em outros elementos do SPT também podem ser listados como causas de desvios no Nₛₚₜ. Por esse motivo, é sempre importante a manutenção e verificação da integridade do equipamento. Uma crítica ao SPT é que ele obtenha resultados para 30% do metro ensaiado, já que o Nₛₚₜ é o número de golpes necessários para prospectar os amostrados nos últimos 30cm do metro. Outros ensaios de investigação geotécnica permitem o registro contínuo de características geotécnicas com a profundidade. Por fim, embora seja uma vantagem o amostrador do SPT obter o solo em profundidade, as amostras obtidas são amolgadas. Existem técnicas mais sofisticadas de amostragem que obtêm amostras menos perturbadas e que, quando levadas para o laboratório, possibilitam a estimativa de parâmetros mais confiáveis. ATENÇÃO Ainda diante dessas limitações, ressalta-se que o SPT é um ensaio muito popular, e que dificilmente será abandonado da rotina de investigação geológico-geotécnica. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Ensaio de penetração de cone - CPT ENSAIO DE PENETRAÇÃO DE CONE - CPT CONSIDERAÇÕES INICIAIS O ensaio de penetração do cone, conhecido como CPT (cone penetration test), é considerado um dos melhores métodos de investigação geotécnica devido à qualidade e quantidade de leituras possíveis de ser obtidas, além da possibilidade de ser executado onshore ou offshore (em terra ou fora dela). SAIBA MAIS Esse ensaio chegou ao Brasil por volta de 1950 para investigação offshore em plataformas de petróleo. A partir de 1990, o método sofreu expansão nacional, e atualmente o CPT consiste no segundo método mais empregado na investigação geotécnica no país. O ensaio consiste na cravação de uma ponteira cônica de 60° de ápice, e seção variando de 5cm² a 15cm², sendo o mais comum o de área de 10cm². O cone deve ser cravado a uma velocidade constante de 20mm/s e, dependendo do tipo de equipamento, pode obter leituras a cada 10cm prospectados. Por esse motivo, o CPT é também chamado de ensaio estático, de velocidade controlada e medição quase contínua. NO BRASIL, A PADRONIZAÇÃO DAS DIMENSÕES, DO PROCEDIMENTO DO ENSAIO, DA APRESENTAÇÃO E DA INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS PODE SER ENCONTRADA NA NBR 12.069, MAS TAMBÉM É COMUM A UTILIZAÇÃO DAS NORMAS NORTE- AMERICANAS ASTM D5778 E D3441. APARELHAGEM Existem diversos tipos de cones para ensaio CPT, que se diferenciam principalmente quanto à seção transversal, ao método de aquisição de dados e ao tipo de parâmetro obtido. Diante dessas variações, os cones podem ser classificados em três grandes grupos, de acordo com a forma no qual o esforço necessário para a cravação do cone é medido. MECÂNICOS (CPT) O esforço é medido pela transferência mecânica pelas hastes. ELÉTRICO O esforço é medido por células de carga instrumentadas. PIEZOCONE (CPTU) É o cone elétrico acoplado a um transdutor de tensão que mede a poropressão gerada durante o processo de cravação. Os ensaios de piezocone são completos e fornecem resultados confiáveis para o reconhecimento geotécnico do subsolo. Em projetos específicos de engenharia, sensores especiais podem ser acoplados para medir parâmetros particulares: CONES SÍSMICOS (SCPT) CONES PRESSIOMÉTRICOS CONES RESISTIVOS (RCPT) CONES HÍBRIDOS CONES SÍSMICOS (SCPT) Com a geração de uma onda de cisalhamento na superfície do solo, um sensor posicionado no cone mede o tempo necessário para a chegada da onda, sendo possível o cálculo da velocidade cisalhante e a determinação do módulo de cisalhamento por meio da teoria da elasticidade. CONES PRESSIOMÉTRICOS Com uma sonda pressiométrica acoplada no fuste do cone em uma profundidade específica, o módulo é expandido, sendo possível determinar parâmetros de deformabilidade do solo. CONES RESISTIVOS (RCPT) É capaz de registrar a resistência elétrica do solo, fornecendo um perfil contínuo da variação da resistência, de modo que seja possível avaliar áreas contaminadas. CONES HÍBRIDOS Juntam mais de uma característica dos cones mencionados acima. Seja qual for o tipo de CPT empregado, a aparelhagem básica para execução do ensaio envolve os elementos relacionados a seguir. EQUIPAMENTO DE CRAVAÇÃO Constituído de sistema hidráulico capaz de fornecer reação para a cravação do cone. PONTEIRA De seções transversais usualmente variando de 5cm² a 15cm², em que as mais robustas são utilizadas na prospecção em solos mais resistentes que possuam pedregulhos ou cimentação. A ponteira mais comum é a de 10cm² de seção transversal. SISTEMA DE TRANSMISSÃO DE DADOS Captam, armazenam e gerenciam as medidas obtidas pelo cone. Podem ser externos ou instalados na própria ponteira cônica, com transmissão com ou sem cabos (wireless). A imagem a seguir esquematiza os elementos que compõem um piezocone. Representação esquemática de uma ponteira de piezocone. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) A escolha do tipo de cone a ser empregado em uma campanha geotécnica dependerá da capacidade do sistema hidráulico para reação e cravação do cone, da acessibilidade ao local e dos parâmetros que se deseja obter no ensaio. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS Os resultados básicos obtidos do CPT são a resistência de ponta (q꜀) e o atrito lateral (fₛ). O primeiro consiste no esforço necessário para cravar a ponta do cone, enquanto o segundo mede o atrito no contato fuste do cone e o solo. NO CASO DO PIEZOCONE, OBTÉM-SE TAMBÉM A POROPRESSÃO (U). Os resultados brutos, obtidos diretamente devem ser fornecidos ao engenheiro projetista em planilhas, sendo também comum o envio de boletins que apresentam gráficos da variação de q꜀, fₛ e u com a profundidade. APESAR DE ESSES PARÂMETROS JÁ SEREM SUFICIENTES PARA A ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA DOS SOLOS, É COMUM A APRESENTAÇÃO DE PARÂMETROS INDIRETOS COMO O MÓDULO DE COMPORTAMENTO, QUE PERMITE CLASSIFICAR O SOLO EM RELAÇÃO À SUA GRANULOMETRIA. OBTÉM-SE, ASSIM, PARA CADA FURO, A ESTRATIGRAFIA DO TERRENO. Seja em planilha ou em gráficos, é importante que os documentos contenham informações como a locação do furo executado, data de início e término da sondagem, e qual foi o motivo da paralisação do ensaio. INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS A partir do resultado de vários furos de CPT, o engenheiro ou geólogo pode elaborar perfil geotécnico. Ressalta-se que como a obtenção de q꜀, fₛ e u é contínua, a estratigrafia é obtida com alta precisão e as seções podem ser mais detalhadas se comparadas àquelas obtidas apenas de ensaios de simples reconhecimento (SPT). No caso do CPTU, o detalhamento é ainda mais refinado, uma vez que a avaliação da geraçãode poropressão durante a cravação possibilita a identificação de camadas pouco espessas, como de lentes de areia. A partir da resistência de ponta obtida, uma classificação da compacidade de solos granulares pode ser expedida: q꜀ (MPa) Designação 0 – 2,5 Muito fofo 2,5 – 5,0 Fofo 5,0 – 10,0 Médio 10,0 – 20,0 Compacto >20,0 Muito compacto Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela 5: Classificações de compacidade relativa e consistência a partir do CPT. Extraída de: Eurocode 7, 1997, p. 111. Além dessas informações, a partir dos resultados do ensaio de cone é possível obter: condições do nível d’água; ângulo de atrito interno; resistência não drenada das argilas; histórico de tensões; módulo de deformabilidade; e coeficiente de adensamento. A partir de método semiempírico, também é possível estimar a capacidade de carga das fundações e a magnitude dos recalques. A tabela a seguir apresenta a aplicabilidade dos resultados de CPT e CPTU. CPT CPTU Perfil do solo Alta Alta CPT CPTU Estrutura do solo Baixa Moderada a alta História de tensões Baixa Moderada a alta Variação espacial das propriedades mecânicas Alta Alta Propriedades mecânicas Moderada a alta Moderada a alta Características de adensamento - Alta Potencial de liquefação Moderada Alta Economia no custo das investigações Alta Alta Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela 6: Potencialidades do CPT e CPTU. Extraída de: Schnaid e Odebrecht, 2012, p. 89. Outra interpretação rotineira obtida a partir de resultados do cone é a razão de atrito ( ) dada por: Rf Rf = fs/qc Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A imagem adiante apresenta a variação de qₜ (resistência de ponta corrigida), fₛ, e I꜀ᵣᵥᵥ (índice de classificação do material) com a profundidade. Ensaio CPT típico em solo estratificado. Solos que apresentam de cerca de 1% são geralmente arenosos, enquanto valores acima de indicam solos argilosos. Outro parâmetro utilizado para classificar solos a partir das medidas do ensaio de cone é o parâmetro , dado por: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Rf Rf Rf Bq Bq = u2 − u0 qt − σv0 Onde é a poropressão medida no ensaio; a pressão hidrostática da água intersticial; qₜ a resistência de ponta corrigida; e a tensão vertical in situ. A imagem a seguir apresenta a variação desses parâmetros com a profundidade. Ensaio CPTU típico em solo estratificado. O e o também podem ser utilizados para classificar solos segundo o sistema de classificação de Robertson et al. (1986) chamado Soil Behavior Type Classification (SBT). A vantagem desse método é que a classificação é feita a partir do comportamento do solo in situ, em vez de parâmetros obtidos em laboratório, como granulometria e limites de consistência, obtidos de amostras deformadas. Além disso, o SBT pode ser utilizado para avaliar a susceptibilidade à liquefação dos materiais. u2 u0 σv0 Rf Bq Zona Tipos de Solos 1 Solo fino sensível 2 Solo orgânico e turfas 3 Argilas – argila siltosas 4 Argila siltosa – silte argiloso 5 Siltes arenosos – areias siltosas 6 Areias limpas – areias siltosas 7 Areias com pedregulhos – areias 8 Areias – areias limpas 9 Areias finas rígidas Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Ábaco de identificação do comportamento típico de solos. Extraída de: Schnaid e Odebrecht, 2012, p. 87. LIMITAÇÕES Apesar de o ensaio de cone obter parâmetros geotécnicos confiáveis, sendo considerado o melhor método de investigação, algumas dificuldades relacionadas à execução podem ser citadas. ANCORAGEM Dependendo do sistema hidráulico disponível, pode não ser possível prospectar em solos resistentes, sendo necessário aplicar a técnica de pré-furo com trado, no qual as informações geotécnicas dessa região serão perdidas. AMOSTRAS Não há coleta de amostras durante o ensaio para a classificação táctil-visual em campo e posterior caracterização em laboratório. SISTEMA DE CRAVAÇÃO Deve ser inspecionado periodicamente, para garantir que não haja perdas na pressão aplicada (vazamentos) e que a velocidade de cravação seja constante. SENSORES ELÉTRICOS Devem ser calibrados e exigem manutenção periódica, preferencialmente sempre que se iniciar uma campanha de investigação. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) INTERPRETAÇÃO Pode ser complexa em solos naturais heterogêneos. Além desses pontos, a integridade de todo o equipamento deve ser verificada, a fim de não mascarar os resultados do ensaio. As ponteiras não devem apresentar desgastes e avarias, e as hastes devem ser lineares, livres de empenamentos. Os valores de q꜀ e fₛ devem ser corrigidos no ensaio CPTU, devido às variações nas seções da ponteira e à variabilidade em relação à posição do elemento filtrante. Estima-se que, em argilas, encontram-se variações de 10% a 30% nos resultados que não foram adequadamente corrigidos. As equações a seguir apresentam as correções de q꜀ para qₜ ,e fₛ para fₜ: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Onde: q꜀ = resistência de ponta medida durante o ensaio. , obtido da calibração do cone; para , a área da seção da luva, e a área da seção cônica. = poropressão medida na posição 2. qt = qc + (1 − a)u2 a = AN AT AN AT u2 javascript:void(0) Possíveis posições dos elementos filtrantes. Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Onde é a área no topo da luva de atrito; a área lateral da luva de atrito; e a poropressão medida na posição 3 do cone. Apesar dessas limitações, é importante frisar que o ensaio de come tem pouca influência do operador, é econômico e sensível às variações do solo. Em solos homogêneos, como em aterros, a campanha de sondagem pode ser suficiente apenas com ensaios de CPT ou CPTU. ft = fs − + u2 Ast AL u3 Ast AL Ast AL u3 VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 4 Reconhecer outros ensaios de investigação geotécnica (VST, DMT, PMT) TIPOS MENOS USUAIS DE ENSAIOS DE CAMPO ENSAIO DE PALHETA (VST) O ENSAIO DE PALHETA, RECONHECIDO TAMBÉM COMO VANE TEST, É EMPREGADO PRINCIPALMENTE PARA A DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA NÃO DRENADA DE ARGILAS MOLES. ESSE ENSAIO FOI DESENVOLVIDO EM 1919 NA SUÉCIA, TENDO SEU USO INICIADO NO BRASIL EM 1949 E DIFUNDIDO ENTRE AS DÉCADAS DE 1970 E 1980. O ensaio consiste na inserção de uma palheta cruciforme no solo, e aplicação de rotação a uma velocidade de 6,0 ± 0,6° por minuto, em um tempo máximo de cinco minutos. Após essa etapa, deve-se aplicar dez revoluções da palheta para provocar o amolgamento do solo, possibilitando a determinação da resistência amolgada do material. A PADRONIZAÇÃO DA VELOCIDADE BUSCA QUE O SOLO SEJA CISALHADO SOB CONDIÇÃO NÃO DRENADA. Para que os resultados obtidos sejam adequados e representativos, Schnaid e Odebrecht (2012) mencionam que o ensaio de palheta é aplicável em solos: Com . Com . Predominantemente argilosos, com mais de 50% passando pela peneira #200, LL superior a 25% e IP superior a 4%. Sem lentes de areia. O equipamento do ensaio de palheta é formado, principalmente por palheta, hastes, e equipamento para aplicação de torque. A palheta é formada por quatro aletas de aço, usualmente com diâmetro de 65mm e altura de 130mm. Equipamentos com dimensões distintas podem ser encontrados, mas usualmente a relação H = 2D é mantida. As palhetas podem ser de acionamento manual ou elétrico. Palheta para ensaio vane test. NSPT ≤ 2 qc ≤ 1000kPa As hastes são utilizadas para que a palheta alcance o solo a ser ensaiado, devem ser de aço e resistentes ao torque. O torque deve ser aplicado por equipamento capaz de registrar leituras a cada 2° de rotação da palheta, por meio de células de carga acopladas a sistemas de aquisiçãode dados ou por torquímetros manuais. Para demais procedimentos, padronização de equipamentos e interpretação de resultados, a NBR 10905 deve ser consultada. Essa norma estabelece dois tipos de equipamento para a palheta, como veremos a seguir. EQUIPAMENTO TIPO A Não utiliza a perfuração prévia (pré-furo), pois a palheta é cravada estaticamente em solos de baixa resistência, protegida por uma sapata. Ao se atingir a profundidade na qual se deve realizar o ensaio, o torque é aplicado. Os resultados obtidos por essa técnica são mais confiáveis, uma vez que se minimiza o efeito do amolgamento durante a instalação da palheta e se reduz a variabilidade dos torques medidos. EQUIPAMENTO TIPO B Utiliza a perfuração prévia (pré-furo). As leituras são suscetíveis a erros, mas podem ser minimizadas com uso de espaçadores com rolamentos. A interpretação dos resultados é dada pela curva torque × rotação, a partir da qual é capaz de obter parâmetros geotécnicos como a resistência não drenada de argilas (Su) e a razão de pré-adensamento (RSA ou OCR). Curva torque × rotação do ensaio de palheta. A equação abaixo evidencia como calcular a resistência não drenada, onde M é o torque máximo medido (kNm) e D é o diâmetro da palheta (m). Quando se calcula a resistência amolgada (Sur) deve-se utilizar o torque medido após as dez revoluções da palheta. Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A razão entre a resistência não drenada Su e a amolgada Sur é dada pela sensibilidade da argila (St): Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Esse parâmetro permite avaliar a perda da resistência do material após o amolgamento, segundo a classificação: Sensibilidade St Baixa 2-4 Média 4-8 Alta 8-16 Muito alta >16 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Su = 0, 86M πD3 St = Su Sur Tabela 7: Sensibilidade das argilas. Extraída de: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 124). O sucesso do ensaio e a qualidade dos resultados obtidos dependerão do estado de conservação de toda a aparelhagem, bem como os cuidados tomados durante a execução do procedimento de ensaio. Algumas limitações associadas ao ensaio de palheta são: Uma drenagem parcial do solo durante o ensaio, obtendo-se uma resistência que não pode ser considerada não drenada. A velocidade de aplicação do torque, associado a efeitos viscosos na água adsorvida da argila, sendo a maior influência observada em solos de alta plasticidade. A anisotropia do material. Para esses efeitos, pode-se aplicar correções aos resultados obtidos, a fim de garantir a qualidade dos parâmetros estimados. DILATÔMETRO DE MARCHETTI (DMT) VOCÊ SABIA O ensaio dilatométrico foi desenvolvido na década de 1970 pelo professor italiano Silvano Marchetti, motivo pelo qual o equipamento é conhecido também como dilatômetro de Marchetti. O ensaio é considerado vantajoso, uma vez que parte da hipótese de que as perturbações geradas pela cravação do dilatômetro são inferiores àquelas imprimidas em outros ensaios de campo de penetração. O ensaio consiste na cravação de uma lâmina no solo, com a medição do esforço necessário para essa penetração. Ao atingir a profundidade especificada para a realização do ensaio, aplica-se uma pressão de gás no diafragma de aço, que expande a membrana e empurra o solo. O EQUIPAMENTO DO ENSAIO É COMPOSTO PELA CAIXA DE CONTROLE, NA QUAL SÃO ACOPLADOS OS MANÔMETROS, AS VÁLVULAS DE CONTROLE DE PRESSÃO E DE DRENAGEM, AS CONEXÕES PARA ALIMENTAÇÃO DE PRESSÃO DE GÁS E OS CABOS ELÉTRICOS DE ATERRAMENTO; ALÉM DO CILINDRO DE GÁS, DE ONDE VIRÁ O FLUIDO PARA APLICAR A PRESSÃO, AS HASTES E A LÂMINA, ONDE É FIXADO O DIAFRAGMA. Caixa de controle do ensaio dilatométrico. ATENÇÃO Não existe norma técnica brasileira que padronize o equipamento, o procedimento e a interpretação dos resultados dilatométricos, podendo ser consultadas as normas norte- americanas e europeias. A interpretação do ensaio é realizada a partir das leituras de deslocamento da membrana quando o diafragma é expandido – A e B –, que devem ser correspondentes às deformações elásticas do solo. A partir dessa interpretação, é possível obter: O coeficiente de empuxo no repouso ( ). O módulo de elasticidade (E). A razão de pré-adensamento (RSA ou OCR). A resistência ao cisalhamento não drenado das argilas (Su). O ângulo de atrito interno para areias ( K0 ). A classificação dos solos. A avaliação da susceptibilidade à liquefação dos materiais. Em equipamentos especiais, podem ser realizados ensaios sísmicos (SDMT) para a determinação da velocidade cisalhante. Para que seja garantida a qualidade dos resultados obtidos por meio do ensaio dilatométrico, é importante que a aparelhagem esteja íntegra, especialmente sem empenamentos e saliências entre a lâmina e o anel de fixação. TAMBÉM É ESSENCIAL QUE HAJA UMA PERIÓDICA CALIBRAÇÃO DO EQUIPAMENTO, COM A FINALIDADE DE GARANTIR A ACURÁCIA DAS LEITURAS, QUAL PRESSÃO APLICADA DEVE SER ADEQUADA E QUE NÃO HAJA VAZAMENTOS NO SISTEMA. PRESSIÔMETRO DE MÉNARD (PMT) O ensaio pressiométrico foi idealizado em 1955 pelo engenheiro francês Louis Ménard, motivo pelo qual também é conhecido como pressiômetro de Ménard. O equipamento do φ pressiômetro é composto, principalmente, pela sonda pressiométrica e pelo painel onde são controlados a pressão e o volume. SAIBA MAIS O ensaio consiste na aplicação de uma pressão uniforme nas paredes de um furo de sondagem com auxílio de uma membrana flexível acoplada a uma sonda cilíndrica, de modo a avaliar a resposta de deformação do solo. Normas internacionais podem ser consultadas para padronização de equipamento, procedimento e interpretação de resultados, já que não existe norma brasileira para o ensaio pressiométrico. A execução pode ser dada sob três procedimentos mais comuns: ENSAIO EM PRÉ-FURO AUTOPERFURANTE (SBPM) CRAVADO ENSAIO EM PRÉ-FURO A medida de deformação é realizada em um furo já executado. AUTOPERFURANTE (SBPM) O furo é executado por um tubo de parede fina, que aloja a sonda pressiométrica. Quando se atinge a profundidade especificada para o ensaio, aplica-se a pressão e mede-se a deformação por sensores elétricos. CRAVADO Um cone pressiométrico (CPMT) é cravado no solo com auxílio de sistema hidráulico. Nesse ensaio, além das medidas pressiométricas, são obtidos os parâmetros medidos no ensaio de cone (atrito lateral e resistência de ponta). A interpretação do ensaio dependerá do tipo de equipamento, procedimento empregado e tipo de solo ensaiado, sendo o principal resultado a curva pressiométrica (pressão × deslocamento), que pode ser utilizada para avaliar: O comportamento tensão × deformação do solo, obter o módulo de deformabilidade (E). O módulo cisalhante do solo (G). O coeficiente de empuxo (K). A resistência ao cisalhamento não drenada (Su). O ângulo de atrito interno do solo ( ). E o ângulo de dilatância do solo ( ). Para garantir a qualidade dos resultados obtidos, é importante realizar calibrações e manutenções periódicas no equipamento, para que se garanta que a pressão aplicada seja adequada e as leituras sejam acuradas. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO φ ψ CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste conteúdo, vimos os aspectos mais importantes sobre as investigações geológico- geotécnicas de campo, explorando seus objetivos, etapas, principais ensaios, aplicações, interpretação de resultados, procedimentos e suas limitações. O conhecimento desses aspectos é importante para a elaboração de projetos em obras de terra, já que os solos são materiais heterogêneos que demandam reconhecimento de suas características. PODCAST Confira o conteúdo preparado especialmente para enriquecer o seu conhecimento. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM. D3441: standard test method for mechanical cone penetration tests of soil. West Conshohocken,PA: ASTM, 1998. AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM. D5778: Standard test method for electronic friction cone and piezocone penetration testing of soils. West Conshohocken, PA: ASTM, 2012. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 8036: programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios – procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1983. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 12069: solo – ensaio de penetração de cone in situ (CPT). Rio de Janeiro: ABNT, 1991. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 6484: solo – sondagens de simples reconhecimento com SPT – método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2020. CASTELLO, R. R. Notas de Aula de Sondagens. Universidade Federal do Espírito Santo, 2015. DANZIGER, B. R. et al. Estudo de caso de obra com análise da interação solo estrutura. Revista Engenharia Civil, n. 23, 2005. DERRITE, R. Investigação ambiental de alta resolução com o piezocone: um estudo de caso. Dissertação. 2017. (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista, 2017. EUROCODE 7. EN 1997-2: geotechnical design – part 2: ground investigation and testing. The European Union: Bruxelas, 1997. MAYNE, P. W. Integrated ground behavior: in-situ and lab tests. 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