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Indaial – 2020 Práticas de Fundações e Obras de terra Profª. Gabriela Azambuja Mendes 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Profª. Gabriela Azambuja Mendes Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M538p Mendes, Gabriela Azambuja Práticas de fundações e obras de terra. / Gabriela Azambuja Mendes. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 208 p.; il. ISBN 978-65-5663-073-1 1. Fundações (Engenharia). – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 624.15 aPresentaçãO Caro acadêmico! Desejamos convidá-lo a estudar o Livro Didático de Práticas de Fundações e Obras de Terra. Este livro abordará os principais conceitos relacionados aos tipos de fundações e obras. Está dividido em três unidades: Unidade 1 – Geotecnia de fundações, Unidade 2 – Fundações e, por fim, a Unidade 3 – Requisitos de qualidade e obras complementares. Além disso, serão disponibilizadas leituras complementares associadas à prática dos temas estudados, aprofundando os conceitos e tendo uma visão mais ampla da vida profissional. A Unidade 1 apresenta os principais conceitos de fundações, divididos em fundações superficiais e profundas. Em seguida, o foco será as investigações geotécnicas utilizadas em campo, analisando qual a fundação ideal para cada terreno e seu solo estudado. Por fim, serão apresentadas as principais classificações de solos e métodos de estabilização dos maciços. A Unidade 2 abordará as fundações, suas capacidades de carga e dimensionamento. Inicia-se apresentando fórmulas e métodos para determinação da capacidade de carga de estacas. Em seguida, apresentam- se os dimensionamentos geométricos de sapatadas (e seus tipos), de tubulão e também de estacas. Por fim, a unidade encerra com o foco nos recalques da fundação, de grande importância na engenharia, e os métodos de precisão. A Unidade 3 terá, como objetivos, a verificação da qualidade e do desempenho das fundações e as incertezas em relação a essa estrutura e coeficiente de segurança. Impactos ambientais das fundações também serão tema desta unidade, que finaliza conceituando as diversas obras de terra complementares na construção civil. Esperamos que você, acadêmico, consiga se dedicar a esta disciplina e se aprofundar ainda mais em cada conceito para que esteja preparado para o futuro profissional. Boa leitura e bons estudos! Profª. Gabriela Azambuja Mendes Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumáriO UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES ............................................................................ 1 TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA ....................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES ................................................................................................... 3 3 FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS .......................................................................................................... 5 3.1 BLOCO ............................................................................................................................................. 6 3.2 RADIER ............................................................................................................................................ 6 3.3 SAPATA ............................................................................................................................................ 7 4 FUNDAÇÕES PROFUNDAS ............................................................................................................ 9 4.1 ESTACAS.......................................................................................................................................... 9 4.1.1 Estacas de deslocamento ...................................................................................................... 9 4.1.2 ESTACAS ESCAVADAS ..................................................................................................... 10 4.2 TUBULÃO ...................................................................................................................................... 15 4.3 CAIXÃO ......................................................................................................................................... 18 5 ATIVIDADE PRÁTICA 1 ................................................................................................................. 19 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 21 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS ................................................................. 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25 2 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA .................................................................................................. 25 3 STANDARD PENETRATION TEST (SPT) .................................................................................. 26 3.1 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO ............................................................................................... 31 3.2 SPT-T ............................................................................................................................................... 34 4 O ENSAIO DE CONE (CPT) E PIEZOCONE (CPTU) ................................................................ 35 4.1 EQUIPAMENTOS DE ENSAIO ..................................................................................................35 4.2 RESULTADOS DO ENSAIO........................................................................................................ 38 4.3 RELAÇÕES ENTRE SPT E CPT .................................................................................................. 40 5 ENSAIO DA PALHETA ................................................................................................................... 41 5.1 PROCEDIMENTOS .................................................................................................................... 41 5.2 RESULTADOS DO ENSAIO ................................................................................................ 42 6 ENSAIO PRESSIOMÉTRICO .................................................................................................. 43 7 ATIVIDADE PRÁTICA 2 ................................................................................................................ 44 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 47 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 48 TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA .................................. 51 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 51 2 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS ................................................................................................... 51 3 MECÂNICA DOS SOLOS NA ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES ........................................ 54 4 ESTABILIZAÇÃO DE MACIÇOS ................................................................................................ 55 4.1 INJEÇÕES .................................................................................................................................... 55 4.2 CONGELAMENTO DO SOLO ................................................................................................. 57 5 INTERAÇÃO SOLO-FUNDAÇÃO ................................................................................................ 58 6 ESTABILIDADE DE TALUDES ...................................................................................................... 58 6.1 MÉTODOS DE ANÁLISE DA SEGURANÇA DOS TALUDES ............................................. 62 7 ATIVIDADE PRÁTICA 3 ................................................................................................................. 72 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 74 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 76 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 77 UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES ........................................................................................................... 79 TÓPICO 1 —CAPACIDADE DE CARGA ....................................................................................... 81 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 81 2 RESISTÊNCIA DE UMA ESTACA ................................................................................................ 81 3 FÓRMULAS DINÂMICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE ESTACAS ........83 3.1 FÓRMULA DE BRIX .................................................................................................................... 83 3.2 FÓRMULA DOS HOLANDESES (WOLTMANN) .................................................................. 84 3.3 FÓRMULA DO ENGINEERING NEWS RECORD ................................................................... 84 3.4 FÓRMULA DE HILEY ................................................................................................................. 84 4 MÉTODOS SEMIEMPÍRICOS PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE ESTACAS ................................................................................................................................................ 87 4.1 MÉTODO DE AOKI E VELLOSO .............................................................................................. 87 4.2 MÉTODO DE DÉCOURT E QUARESMA ................................................................................ 91 5 PROVA DE CARGA PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE ESTACAS ........... 94 6 ATIVIDADE PRÁTICA .................................................................................................................... 96 7 ATIVIDADE PRÁTICA .................................................................................................................... 97 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 99 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 100 TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO ............................................................. 103 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 103 2 DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES RASAS ................................................................ 103 2.1 DIMENSIONAMENTO DE SAPATAS .................................................................................... 103 2.1.1 Sapatas isoladas ................................................................................................................. 104 2.1.2 Sapatas associadas ............................................................................................................. 106 2.1.3 Sapatas de divisa ................................................................................................................ 109 3 DIMENSIONAMENTO DE TUBULÃO ..................................................................................... 113 4 DIMENSIONAMENTO DE ESTACAS ....................................................................................... 114 4.1 EFEITO DE UM GRUPO DE ESTACAS .................................................................................. 117 5 ATIVIDADE PRÁTICA .................................................................................................................. 121 6 ATIVIDADE PRÁTICA .................................................................................................................. 122 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 123 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 124 TÓPICO 3 — RECALQUES .............................................................................................................. 125 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 125 2 RECALQUES EM FUNDAÇÕES ................................................................................................. 125 2.1 MÉTODOS DE PREVISÃO DE RECALQUE ......................................................................... 127 2.2 CAUSAS DO RECALQUE ......................................................................................................... 130 2.2.1 Rebaixamento do lençol freático...................................................................................... 130 2.2.2 Solos colapsíveis................................................................................................................. 131 2.2.3 Escavações em áreas adjacentes à fundação ..................................................................131 2.2.4 Vibrações ............................................................................................................................. 131 2.2.5 Escavações de túneis ......................................................................................................... 131 3 TIPOS DE MOVIMENTO DE UMA FUNDAÇÃO .................................................................. 131 4 DANOS ÀS EDIFICAÇÕES .......................................................................................................... 132 5 ATIVIDADE PRÁTICA ................................................................................................................. 134 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 135 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 137 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 138 UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES ............ 141 TÓPICO 1 — VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE E DO DESEMPENHO ............................... 143 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 143 2 APRIMORAMENTO DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL .................................. 143 3 QUALIDADE E INCERTEZAS PARA FUNDAÇÕES .............................................................. 144 3.1 A QUALIDADE PARA INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS E PARÂMETROS ............... 144 3.2 ESPECIFICIDADES PARA OBRAS DE FUNDAÇÕES ......................................................... 145 3.3 REGIÃO DO TERRENO ............................................................................................................ 145 3.4 QUALIDADE NO PROCESSO DE PRODUÇÃO .................................................................. 146 3.4.1 Fundações Diretas por Sapatas, Blocos e Radiers ......................................................... 146 3.4.2 Fundações Profundas por Tubulões ............................................................................... 146 3.4.3 Fundações Diretas por Estacas Moldadas In Loco ....................................................... 147 4 COEFICIENTES DE SEGURANÇA ............................................................................................. 148 5 REFORÇOS NAS FUNDAÇÕES .................................................................................................. 148 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 152 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 153 TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES E O MEIO AMBIENTE .................................................................. 155 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 155 2 IMPACTOS AMBIENTAIS DE FUNDAÇÕES .......................................................................... 155 2.1 RUÍDOS ........................................................................................................................................ 155 2.2 VIBRAÇÕES ................................................................................................................................ 156 2.3 CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA E DO AR .............................................................................. 158 2.4 DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS ................................................................................................... 159 3 IMPACTOS AMBIENTAIS EM BARRAGENS ......................................................................... 159 4 ATIVIDADE PRÁTICA 9 ............................................................................................................... 165 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 166 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 167 TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES ............................................................................... 169 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 169 2 CONTENÇÃO DE SOLOS............................................................................................................. 169 2.1 MUROS DE ARRIMO ................................................................................................................ 169 2.2 MUROS DE GRAVIDADE ......................................................................................................... 170 2.3 MURO DE PEDRA ..................................................................................................................... 170 2.4 MUROS DE CONCRETO CICLÓPICO ................................................................................... 171 2.5 MUROS DE GABIÕES ............................................................................................................... 172 2.6 MUROS DE SACOS DE SOLO-CIMENTO ............................................................................. 173 2.7 MURO DE SOLO-PNEUS .......................................................................................................... 174 2.8 MUROS DE FLEXÃO ................................................................................................................. 175 2.9 MUROS DE CONTRAFORTES................................................................................................. 175 2.10 MURO ANCORADO NA BASE ............................................................................................. 176 2.11 MUROS REFORÇADOS COM GEOSSINTÉTICOS ............................................................ 176 3 CORTINA ATIRANTADA ............................................................................................................. 178 4 SOLO GRAMPEADO ..................................................................................................................... 179 5 TERRA ARMADA ........................................................................................................................... 180 6 INFLUÊNCIA DA ÁGUA .............................................................................................................. 181 7 ESCORAMENTOS .......................................................................................................................... 183 7.1 ESCORAMENTO DE MADEIRA ............................................................................................. 184 7.2 ESCORAMENTO METÁLICO ................................................................................................. 184 7.3 ESCORAMENTO DE CONCRETO .......................................................................................... 185 7.4 DIFICULDADES DE EXECUÇÃO DOS ESCORAMENTOS ............................................... 186 7.5 DANOS INDUZIDOS ............................................................................................................... 187 8 MURO DE ARRIMO – DIMENSIONAMENTO ....................................................................... 188 8.1 PERFIL RETANGULAR ............................................................................................................. 188 8.2 PERFIL TRAPEZOIDAL ............................................................................................................ 188 9 DIMENSIONAMENTO PARA SOLOS NÃO COESIVOS UTILIZANDO A TEORIA DE RANKINI ..............................................................................................................................................189 10 ATIVIDADE PRÁTICA 10 ........................................................................................................... 196 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 198 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 200 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 201 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 205 1 UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar e classificar as fundações em superficiais ou profundas; • assimilar os conceitos de fundações superficiais e seus subtipos, como bloco, radier e sapata; • assimilar os conceitos de fundações profundas e seus subtipos, como es- taca, tubulão e caixão; • definir as etapas da investigação geotécnica; • conhecer os principais processos de investigação, como o Standard Pene- tration Test (SPT), Ensaio de Cone (CPT), Piezocone (CPTU), Ensaio de Palheta e o Ensaio Pressiométrico; • conhecer os principais materiais que compõem o solo; • avaliar as técnicas de estabilização de maciços rochosos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA TÓPICO 2 – INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS TÓPICO 3 – PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA 1 INTRODUÇÃO Neste primeiro tópico, abordaremos os conceitos de fundações, suas terminologias e seus subtipos. A geotecnia é uma das áreas da engenharia civil que aplica os diversos conhecimentos da engenharia no projeto e execução dos elementos das construções, necessitando da análise do comportamento de solos e/ou rochas. É necessário proceder com a identificação e classificação das diversas camadas que compõem o substrato a ser analisado, além da avaliação das suas propriedades relacionadas à engenharia (QUARESMA et al., 1998). O foco será a engenharia de fundações, ou seja, é preciso analisar o que há abaixo das estruturas que vemos nas cidades, partindo do seguinte princípio: toda obra de engenharia (sejam casas, edifícios, pontes, aeroportos, barragens etc.) necessita de uma base sólida e estável para cumprir adequadamente a sua finalidade. A engenharia de fundações é uma arte que se aprimora pela experiência, com o comportamento das fundações devidamente observado e interpretado. Por outro lado, todo desenvolvimento de técnicas de projeto e de execução das fundações depende do entendimento dos mecanismos de comportamento dos solos (PINTO, 1998, p. 51). Dentro desse contexto, será analisada a atuação do engenheiro geotécnico, além da importância da investigação geotécnica na engenharia. É preciso conhecer os principais processos de investigação e quais parâmetros do solo, como resistência e estabilidade, realizando um planejamento, e como essas informações são transmitidas em laudos e relatórios. 2 ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES O projeto e a execução de fundações, ou seja, a engenharia de fundações, requerem conhecimentos de geotecnia e cálculo estrutural. Em geral, a estrutura calculada por um engenheiro estrutural, que supõe que os apoios são indeslocáveis, resultando em um conjunto de cargas (forças verticais, forças horizontais e momentos), é passada ao projetista de fundações. Com o auxílio de uma série de elementos e informações, ele projeta as fundações da obra. Acontece que, essas fundações, quaisquer que sejam, quando carregadas, solicitarão o terreno que UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES 4 se deforma. Dessas deformações, resultam deslocamentos verticais (recalque), horizontais e rotações. Com isso, a hipótese usual de apoios indeslocáveis fica prejudicada, e nas estruturas hiperestáticas, que são a grande maioria, as cargas inicialmente calculadas são modificadas. Chega-se, assim, ao conhecido problema da interação solo-estrutura. Todo projeto de fundações contempla as cargas aplicadas pela obra e a resposta do solo a essas solicitações. Os solos são muito distintos entre si e respondem de maneira muito variável, por isso, toda experiência transmitida pelas gerações de construtores sempre se relaciona ao tipo de solo existente. O engenheiro de fundações deve participar da análise desse problema com o engenheiro estrutural. Na engenharia de fundações, o profissional lidará com um material com o qual pouco pode atuar, ou seja, tem que aceitá-lo tal como ele se apresenta, com suas propriedades e comportamentos específicos. Assim, desde o início da concepção e do projeto de uma obra, devem ser levadas em conta as condições do solo no cálculo. Pode assegurar-se que a economia da obra muito ganharia. Nos projetos de engenharia, qualquer tomada de decisão é fundamentada em uma previsão. Segundo Velloso e Lopes (2011), o esquema do processo de previsão em engenharia geotécnica é definido em etapas. FIGURA 1 – ESQUEMA DO PROCESSO DE PREVISÃO TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA 5 FONTE: Velloso e Lopes (2011, p. 3) A avaliação das previsões é indispensável, ou seja, examiná-las e interpretá- las em função dos seus resultados são ações fundamentais para o estudo. Um dos primeiros cuidados do projetista de fundações deve ser o emprego da terminologia correta. Do latim “fundare”, significa apoiar, firmar, fixar. Chama- se fundação a parte de uma estrutura que transmite ao terreno subjacente a carga da obra. De acordo com Cintra e Aoki (2010), a fundação pode ser observada como um sistema composto, não apenas pelo elemento estrutural, mas pelo maciço de solo. O objetivo do sistema é fazer a interação entre o elemento de fundação e o solo, ocorrendo a transmissão ao solo das cargas recebidas da edificação, promovendo, dessa forma, as condições mínimas de segurança da estrutura. Os principais tipos de fundações podem ser reunidos em dois grupos: • Fundações superficiais. • Fundações profundas. Algumas obras possuem características específicas que impõem um certo tipo de fundação. Outras podem permitir uma variedade de soluções. Assim, é necessário um estudo das alternativas existentes, além de uma escolha baseada em menor custo e menor prazo de execução (VELLOSO; LOPES, 1998). 3 FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS As fundações superficiais, também conhecidas como fundações diretas ou rasas, são empregadas em camadas do subsolo abaixo das estruturas capazes de suportar as cargas. No grupo, incluem-se: bloco, radier, sapata, grelha etc. UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES 6 3.1 BLOCO Segundo a norma NBR 6122 (ABNT, 2019), algumas definições são dadas às fundações superficiais: Bloco: elemento de concreto, apresentado a seguir, dimensionado de modo que as tensões de tração resultantes sejam resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura. É caracterizado por uma altura relativamente grande, importante para que trabalhem essencialmente com a compressão. FIGURA 2 – BLOCO DE FUNDAÇÃO FONTE: Teixeira e Godoy (1998, p. 227) 3.2 RADIER Radier: elemento de fundação que abrange parte ou todos os pilares de uma estrutura, distribuindo seus carregamentos. A utilização de sapatas corridas é adequada economicamente enquanto a sua áreaem relação à da edificação não ultrapasse 50%. Caso contrário, é mais vantajoso reunir todas as sapatas em um só elemento: radier. O fato de o radier ser uma peça inteiriça pode conferir uma alta rigidez, o que, muitas vezes, evita grandes recalques diferenciais (BRITO, 1987). Uma outra vantagem é que sua execução cria uma plataforma de trabalho para os serviços posteriores, impondo a execução precoce de todos os serviços enterrados na área do radier, como instalações hidrossanitárias. TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA 7 FIGURA 3 – DETALHES CONSTRUTIVOS DE UM RADIER LISO FONTE: <http://blogpraconstruir.com.br/etapas-da-construcao/radier/>. Acesso em: 12 set. 2019. Quanto ao sistema estrutural, os radiers ainda podem ser divididos em quatro diferentes classificações: • Radiers lisos. • Radiers com pedestais ou cogumelos. • Radiers nervurados. • Radiers em caixão. FIGURA 4 – TIPOS DE RADIERS FONTE: Velloso e Lopes (1998, p. 215) 3.3 SAPATA Sapata: elemento de fundação superficial, de concreto armado, dimensionado de modo que as tensões de tração resultantes sejam resistidas pelo emprego de armadura especialmente disposta para tal fim. Possui pequena altura em relação às dimensões da base. Ao contrário dos blocos, que trabalham por compressão simples, as sapatas trabalham a flexão. http://blogpraconstruir.com.br/etapas-da-construcao/radier/ UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES 8 Segundo Velloso e Lopes (1998), as sapatas podem assumir a forma quadrada (B=L, em que a dimensão lateral é a mesma da base), sapata corrida (L>>B) e sapata retangular (para segurança nos cálculos geotécnicos, utiliza-se L ≤ 5B). Ainda, as sapatas podem ser associadas em razão das disposições dos pilares. Sapata corrida: elemento sujeito à ação de uma carga distribuída linearmente (parede) ou pilares ao longo de um alinhamento (às vezes, baldrame). Um exemplo é apresentado a seguir. FIGURA 5 – SAPATA CORRIDA FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQSlahQMdViPofIC--IW26S- DkKmUq9IcSJdcJLSdaWLM9pxj0L9dA&s>. Acesso em: 14 set. 2019 Sapata associada: recebe a carga de parte dos pilares da obra. Um ponto que a difere do radier (recebe todos os pilares) é que os pilares na sapata associada não, necessariamente, precisam estar alinhados. É, basicamente, a sapata mais comum de um pilar. TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA 9 FIGURA 6 – SAPATA ASSOCIADA FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-Oa6-akATYzY/TkPxuOXwFzI/AAAAAAAAAP4/2ukbZAH1zbo/ s320/funda%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. Sapata isolada: são aquelas que, através da sua base, transmitem, para o solo, a carga de um pilar. 4 FUNDAÇÕES PROFUNDAS São as fundações que transmitem as cargas por efeito de atrito lateral (resistência de fuste) do elemento com o solo e/ou por efeito de ponta. Os principais tipos são: estaca, tubulão e caixão. 4.1 ESTACAS Estacas: elementos de fundação profunda executados por ferramentas ou equipamentos, execução esta que pode ser por deslocamento, por escavação ou, ainda, mista. São elementos estruturais esbeltos quando comparados aos blocos (ABNT, 2019). 4.1.1 Estacas de deslocamento Estacas de deslocamento são introduzidas no solo por um processo que não promova retirada de um material. O processo pode ser por cravação ou prensagem, ou seja, desloca horizontalmente o solo, dando lugar à estaca que ocupará o espaço. Exemplos de estacas de deslocamento são as pré-moldadas em concreto armado, estacas metálicas, de madeira, apiloadas de concreto e as estacas que são concretadas in loco dentro de um tubo de revestimento, de aço. UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES 10 a) Estacas pré-moldadas em concreto: são estacas constituídas de segmentos de concreto pré-moldado ou pré-fabricado e introduzidas no terreno por golpes de martelo de gravidade, explosão, hidráulico ou martelo vibratório. Segundo Melhado et al. (2002), são estacas que podem ser de concreto armado ou protendido. Como problemas de transporte e equipamento, possuem limitações de comprimento. b) Estaca metálica ou aço: estaca cravada, constituída de elemento estrutural produzido industrialmente, podendo ser de perfis laminados ou soldados, trilhos soldados ou estacas tubulares (ABNT, 2019). Segundo Melhado et al. (2002), pode ser cravada em quase todos os tipos de terreno, atingir grande capacidade de carga, trabalha bem a flexão e, se utilizada em serviços provisórios, pode ser reaproveitada várias vezes. As estacas metálicas são soluções com grande capacidade de carga, aliadas à facilidade de cravação. O metal deve resistir à corrosão, seja por sua constituição ou realização de um tratamento adequado. Quando não for realizado tratamento no perfil de aço, considera-se uma redução de 1,5 mm (1/16”) na espessura do perfil, para cálculo da capacidade de carga. Multiplicada a área da seção transversal do perfil pela taxa admissível do aço (1200 Kg/cm²), obtém-se a capacidade de carga da estaca. O comprimento da estaca poderá ser determinado através do ensaio de penetração estática. c) Estaca de madeira: é utilizada desde os tempos remotos como elemento de fundação. As madeiras mais utilizadas são de eucalipto, aroeira, maçaranduba, peroba-do-campo etc. São utilizados troncos de árvores, preferencialmente retos e regulares, cravados no solo por choque. Ainda, devem contemplar os requisitos de durabilidade e resistência (CAPUTO; CAPUTO; RODRIGUES, 2015). 4.1.2 ESTACAS ESCAVADAS Estacas escavadas são executadas in situ através da perfuração do terreno, com remoção do material (solo), com ou sem revestimento e fluído estabilizante, ou seja, ao serem executadas, substituem o solo, removendo e dando lugar à estaca que ocupará um espaço do solo removido. Exemplos de estacas escavadas são as Strauss, Franki, raiz, hélices contínuas, estacas tipo broca, estações, estacas injetadas etc. a) Estaca Strauss: executada por perfuração do solo com uma sonda ou piteira e revestimento total com camisa metálica, realizando-se o lançamento do concreto, além da retirada gradativa do revestimento com o apiloamento do concreto (ABNT, 2019). TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA 11 O procedimento executivo inicia com a abertura no solo, através de uma sonda (piteira) para introdução dos tubos metálicos segmentados, os quais são rosqueados entre si, até que atinjam a profundidade prevista em projeto. Sequencialmente, é realizada a concretagem da estaca “in loco”. Na etapa, o revestimento metálico é retirado do solo e, paralelamente, ocorre o apiloamento do concreto. A seguir, são apresentados os equipamentos utilizados no procedimento executivo. FIGURA 7 – EQUIPAMENTOS PARA EXECUÇÃO DE ESTACA STRAUSS FONTE: <https://www.totalconstrucao.com.br/wp-content/uploads/2019/04/Estaca-Strauss- -Sonda-ou-Piteira.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. As estacas Strauss apresentam uma reduzida trepidação, o equipamento utilizado é rústico, simples e de fácil locomoção no canteiro de obras. Durante a percussão, o método permite a retirada de amostragens do solo. Os aspectos negativos do procedimento executivo estão relacionados à geração de lama no canteiro de obras, aos problemas vinculados à qualidade e resistência do concreto quando produzido “in loco” e à dependência de mão de obra para a montagem do tripé, troca dos tubos etc. b) Estaca Franki: moldada in loco e executada por cravação, por meio de sucessivos golpes de um pilão, de um tubo de ponta fechada por uma bucha seca constituída de pedra e areia, previamente firmada na extremidade inferior do tubo por atrito. A estaca possui base alargada e é integralmente armada (ABNT, 2019). No processo executivo, é utilizado um equipamento do tipo bate estacas,o qual realiza os golpes de um pilão no solo, até que este atinja a profundidade prevista em projeto. A etapa seguinte consiste em alargar a base da estaca (bulbo) através do apiloamento de um material granular (bucha seca), cujo tamanho é definido em projeto. A armadura é posicionada no interior da estaca, sendo que, UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES 12 neste tipo de estaca, sempre haverá uma armadura mínima. Posteriormente, é realizada a concretagem. O concreto é introduzido no interior da estaca e, posteriormente, é realizada a compactação, com a retirada do tubo. FIGURA 8 – PROCEDIMENTO EXECUTIVO DA ESTACA FRANKI FONTE: Adaptado de Pereira (2017) Confira a animação sobre o processo executivo de estacas Franki. FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=bGv8f-Vaczk. DICAS c) Estaca raiz: estaca armada e preenchida com argamassa de cimento e areia, moldada in loco, executada através de perfuração rotativa ou rotopercussiva. Revestida integralmente, no trecho em solo, por um conjunto de tubos metálicos recuperáveis (ABNT, 2019). Segundo Pereira (2017), a estaca raiz se caracteriza por apresentar elevada tensão de trabalho ao longo do fuste (coluna que liga a base e o topo), inteiramente armado em todo seu comprimento. São estacas com capacidade de carga alta (até 140 tf), apresentam recalques reduzidos, podem ser executadas inclinadas e em todo tipo de terreno e causam mínima perturbação sonora. No entorno, os equipamentos utilizados possuem https://www.youtube.com/watch?v=bGv8f-Vaczk TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA 13 porte médio, permitindo, dessa forma, execução em áreas com limitação de espaço. Alguns efeitos negativos da implementação da estaca raiz estão relacionados ao custo elevado, ao alto consumo de aço e cimento e à presença de água no canteiro de obras. O processo executivo de estaqueamento se constitui em quatro etapas fundamentais: 1ª etapa) Perfuração do solo: nesta etapa, o terreno é perfurado através de um tubo de aço, este que rotaciona com uma carga axial para baixo. A água aplicada no processo de perfuração é injetada no interior do tubo e retorna externamente, removendo, dessa forma, o material desagregado pela coroa. 2ª etapa) Colocação da armadura: após todo o material desagregado ser removido, posiciona-se a armadura no interior da estaca. 3ª etapa) Injeção de argamassa: nesta etapa, inicia-se a injeção de argamassa de cimento e areia, com um consumo mínimo de 600 Kg de cimento por metro cúbico de argamassa. 4ª etapa) Retirada dos tubos com complemento de argamassa: finalizando o processo de execução da estaca raiz, os tubos de perfuração são removidos do solo por meio de ar comprimido, e a estaca é complementada com argamassa, preenchendo todo o espaço perfurado. A Figura 9 exemplifica o procedimento executivo: FIGURA 9 – PROCEDIMENTO SEQUENCIAL DE EXECUÇÃO DE ESTACA RAIZ FONTE: Adaptado de Pereira (2017) A figura a seguir exemplifica o processo de execução da estaca raiz nos Terminais Integrados: Norte (Itoupavas) e Oeste (Águas Verdes), na cidade de Blumenau/SC. UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES 14 FIGURA 10 – EXECUÇÃO DE ESTACA RAIZ FONTE: <https://seel.com.br/galeria-de-fotos/galeria-fundacoes>. Acesso em: 14 set. 2019. d) Hélice Contínua: conforme descreve a NBR 6122 (ABNT, 2019), a estaca hélice contínua é moldada in loco, executada por meio da introdução, no terreno, por rotação, de um trado helicoidal contínuo e com injeção de concreto pela haste central do trado. Simultaneamente, com a retirada, após a concretagem, é inserida a armação. Velloso e Lopes (2010) apontam que a colocação da armadura, no processo executivo da estaca hélice contínua, é feita após o término da concretagem, com introdução por operários. Com isso, um dos pontos de atenção durante a execução das estacas está relacionado ao fornecimento de concreto bombeado, apresentando características inerentes ao processo executivo, principalmente no que diz respeito ao slump test. Assim, é fundamental o estudo logístico da região para que não haja interrupção no fornecimento durante a concretagem da estaca. A seguir, é possível observar um resumo das estacas. https://seel.com.br/galeria-de-fotos/galeria-fundacoes%3e. Acesso em: 14 set. 2019 TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA 15 Estacas Pré-moldada Concreto De deslocamentoMetálica Madeira Moldada in loco Franki De deslocamento Raiz Sem deslocamento Broca EscavadasStraussHélice Escavada com lama FONTE: Adaptado de Campos (2015) QUADRO 1 – RESUMO DAS ESTACAS E SUAS CLASSIFICAÇÕES 4.2 TUBULÃO É elemento de fundação profunda, escavado no terreno em que, pelo menos, na etapa final, há descida de pessoas, que se faz necessária para executar o alargamento de base. Ainda, pode haver a limpeza do fundo da escavação, uma vez que neste tipo de fundação as cargas são transmitidas preponderantemente pela ponta. Os tubulões podem ser agrupados em dois grupos: tubulões a céu aberto e os que empregam ar comprimido. a) Tubulão a céu aberto: consiste em um poço aberto manualmente ou mecanicamente (com trado rotativo) em solos coesivos (secos), de modo que não haja desmoronamento durante a escavação, e acima do nível d’água. Quando há tendência de desmoronamento, reveste-se o furo com alvenaria de tijolo, tubo de concreto ou tubo de aço. O fuste (poço) é escavado até a cota desejada, a base é alargada e, posteriormente, enche-se de concreto (BRITO, 1987). O processo executivo inicia-se com a escavação do fuste. Na parte inferior, é escavada uma base (B) com diâmetro igual ou maior a três vezes o diâmetro do fuste (B≥3df), sendo que o diâmetro mínimo do fuste deve ser de 70 cm. Em seguida, são colocadas as armaduras e, posteriormente, é feita a concretagem. A seguir, é possível observar o procedimento executivo. UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES 16 FONTE: <http://www.basestrauss.com.br/tubulao.html>. Acesso em: 14 set. 2019. FIGURA 11 – PROCEDIMENTO SEQUENCIAL DE TUBULÃO A CÉU ABERTO b) Tubulão a ar comprimido (pneumático): é utilizado quando existe água, são exigidas grandes profundidades e existe o risco de desmoronamento das paredes. No caso, a injeção de ar comprimido nos tubulões impede a entrada de água, pois a pressão interna é maior, sendo a pressão empregada no máximo de 3 kg/cm² (30 metros de coluna d’água), limitando a profundidade em 30m abaixo do nível. Assim, é possível que sejam executados, normalmente, os trabalhos de escavação, alargamento do fuste e concretagem. São também executados com camisas pré-moldadas, em módulos, que variam de 3m a 4m, com uma cravação feita manualmente em um espaço confinado, utilizando ar comprimido (CAMPOS, 2015). Essa camisa também oferece uma segurança ao operário durante a descida manual em um solo. Portanto, o tubulão trabalha com sua “estrutura” fechada para que, em nenhum momento, exista a presença de água dentro do ambiente de escavação (MARANGON, 2018). Os tubulões pneumáticos são, atualmente, pouco empregados no mundo todo, devido aos riscos e custos envolvidos. No Brasil, observa-se uma tendência de redução de utilização do método (ALONSO; GOLOMBEK, 1998). TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA 17 FIGURA 12 – TUBULÃO A AR COMPRIMIDO FONTE: Fogaça (2012, p. 12) De acordo com Albiero e Cintra (1998) e Alonso e Golombek (1998), os tubulões apresentam vantagens como: • Custos de mobilização e desmobilização inferiores aos custos referentes aos bate-estacas e outros equipamentos, influenciando nos custos totais. • Os ruídos e vibrações são de baixa intensidade durante o processo executivo. • Durante a escavação, o engenheiro de fundações pode observar e classificar o solo retirado e compará-lo com as condições de subsolo previstas em projeto. • O diâmetro e o comprimento dos tubulõespodem ser modificados durante a escavação para compensar condições de subsolo diferentes das previstas. • Durante as escavações, solos com pedras e matacões podem ser atravessados, especialmente em estacas de grande diâmetro, sendo possível a penetração em rochas. • É possível apoiar cada pilar em um fuste único, no lugar de diversas estacas, eliminando a necessidade de bloco de coroamento. • As escavações podem atravessar solos com pedras e matacões, especialmente se existem grandes diâmetros com penetração de vários tipos de rocha. UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES 18 4.3 CAIXÃO Caixão: elemento de fundação de forma prismática, concretado na superfície e instalado por escavação interna. No geral, de volumes muito maiores que os tubulões. Qual será o sistema de fundação utilizado no prédio mais alto do mundo? Você já conheceu o radier estaquiado? O radier estaqueado consiste em associações de uma estaca, ou grupo de estacas, com um elemento de fundação superficial (sapata, radier) ou bloco de coroamento, com ambas as partes contribuindo para a transmissão das cargas ao maciço de solo. A diferença básica entre o radier estaqueado e os grupos convencionais é que, nesses últimos, o elemento de ligação bloco de coroamento não está em contato com o solo. Dentre os casos em que se empregou esse tipo de fundação, destaca-se o edifício mais alto do mundo, localizado em Dubai, nos Emirados Árabes, denominado Burj Khalifah, com 828 m de altura. Esse edifício está apoiado sobre um radier estaqueado com 3,5 m de espessura, sobre 194 estacas escavadas de 1,5 metro de diâmetro. ATENCAO FIGURA 13 – EDIFÍCIO BURJ KHALIFA FONTE: <https://www.burjkhalifa.ae/en/the-tower/gallery/>. Acesso em: 14 set. 2019. TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA 19 FIGURA 14 – PERSPECTIVA DO RADIER ESTAQUEADO DO BURJ KHALIFA FONTE: Hernéndez (2014, p. 7) 5 ATIVIDADE PRÁTICA 1 OBJETIVOS • Analisar uma situação de campo em que é necessário realizar uma fundação profunda. • Analisar um relatório de cravação e, paralelamente, um relatório de sondagem para a mesma região. • Determinar o comprimento de cravação das estacas. • Verificar as camadas mais resistentes e a implicação no processo executivo. Imagine que você é o engenheiro geotécnico responsável pelo projeto de fundação de uma edificação residencial multifamiliar com seis pavimentos. O terreno está localizado distante de outras edificações e, financeiramente, o sistema executivo de fundação profunda com estacas pré-moldadas se apresenta atrativo. No terreno em que será realizada a execução do projeto, foi realizado laudo de sondagem, cravação de uma estaca-teste, o relatório de cravação e o laudo de sondagem em determinado local do terreno. Chama-se diagrama de cravação o número de golpes do martelo na estaca, necessários para cravar um dado comprimento de estaca. Esse número de golpes tem uma relação direta com a nega: dividindo-se o comprimento escolhido pelo número de golpes do martelo, tem-se a nega média do comprimento (VIEIRA, 2006). Normalmente, especifica-se nega para o comprimento de cravação nos dez últimos golpes do pilão na estaca. UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES 20 Responda: 1 Você recomenda que seja realizado o estaqueamento utilizando que profundidade? Caracterize o solo onde a estaca será apoiada. 2 Partiremos do pressuposto de que a estaca pré-moldada parou de descer entre a profundidade de 17,25 metros e 18,50 metros. Qual ação você tomaria em um canteiro de obras? FIGURA 15 – RELATÓRIO DE CRAVAÇÃO FONTE: Vieira (2006, p. 49) 21 Neste tópico, você aprendeu que: • A fundação pode ser observada como um sistema composto pelo elemento estrutural e pelo maciço de solo. • Os principais tipos de fundações podem ser reunidos em dois grupos: fundações superficiais e profundas. Bloco, radier e sapata são considerados fundações superficiais. Estaca, tubulão e caixão são considerados fundações profundas. • Bloco é um elemento de concreto dimensionado de modo que as tensões de tração resultantes sejam resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura. Altura relativamente grande, importante para que seja trabalhada a compressão. • Radier é um elemento de fundação que abrange parte ou todos os pilares de uma estrutura, distribuindo seus carregamentos, podendo ser liso, com pedestais ou cogumelos, nervurado e/ou em caixão. • A sapata é um elemento de concreto armado, dimensionado de modo que as tensões de tração resultantes sejam resistidas pelo emprego de armadura especialmente disposta. Possui pequena altura em relação às dimensões da base. Ao contrário dos blocos, que trabalham por compressão simples, as sapatas trabalham a flexão. Pode ser corrida, associada ou isolada. • Uma estaca é executada por ferramentas ou equipamentos, execução esta que pode ser por deslocamento, por escavação ou mista. É um elemento estrutural esbelto quando comparado aos blocos. Pode ser classificada em estaca pré- moldada em concreto, metálica ou aço, madeira, Strauss, Franki, raiz e hélice contínua. • O tubulão é um poço aberto manualmente ou mecanicamente (com trado rotativo) em solos coesivos (secos), de modo que não haja desmoronamento durante a escavação, e acima do nível d’água. O tubulão pode ser a céu aberto ou pneumático. • O caixão tem forma prismática, concretado na superfície e instalado por escavação interna. RESUMO DO TÓPICO 1 22 1 A partir dos procedimentos executivos para estacas, analise as afirmativas a seguir: I- São moldadas in loco, armadas em todo o seu comprimento. II- O furo é preenchido com argamassa mediante bomba de injeção. III- Não devem ser executadas em solos muito duros ou muito compactos, ou quando houver ocorrência de matacões. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Sentença I, somente. b) ( ) Sentença II, somente. c) ( ) Sentença III, somente. d) ( ) As sentenças I e II estão corretas. e) ( ) Todas as sentenças estão corretas. 2 Com relação aos procedimentos executivos estabelecidos na NBR 6122:2019 – Projeto e Execução de Fundações, relacionados ao uso de estacas pré-moldadas de concreto, é CORRETO afirmar que: a) ( ) Se forem utilizadas para obras permanentes, devem ser protegidas contra o ataque de fungos. b) ( ) As tensões na cravação devem ser limitadas a 80% da tensão de escoamento do aço. c) ( ) Podem ser emendadas através de anéis soldados. d) ( ) A concretagem deve ser feita no mesmo dia da perfuração, através de um funil. e) ( ) Não devem ser utilizadas em areias submersas. 3 Indique o item CORRETO a respeito da execução de fundações profundas: a) ( ) Um dos problemas executivos da estaca tipo Franki corresponde ao estrangulamento do fuste em solos granulares. b) ( ) Os tubulões pneumáticos, a exemplo do tipo Gow, são utilizados para escavação abaixo do lençol freático com o uso de ar comprimido. c) ( ) A característica principal das estacas Strauss refere-se ao uso de bentonita para a estabilização da escavação. d) ( ) Durante a escavação de um tubulão, tanto o seu diâmetro quanto seu comprimento podem ser alterados, caso as condições do subsolo sejam diferentes das previstas. e) ( ) Em uma estaca hélice, a armação é inserida logo após a execução da cavidade pela hélice espiral. Em seguida, realiza-se o procedimento de concretagem. AUTOATIVIDADE 23 4 Ao observar as estacas a seguir, assinale a que contém as seguintes características: não permite alívio significativo do terreno, tornando possível sua execução em solos coesivos ou arenosos, na presença ou não de lençol freático; elevada produtividade, que exige a central de concreto nas proximidades do local de trabalho; é executada sobrepressão controlada e seu processo executivo é isento de vibrações e ruídos. a) ( ) Estaca Mega. b) ( ) Estaca Franki. c) ( ) Estaca Raiz. d) ( ) Estaca Strauss. e) ( ) Estaca Hélice Contínua. 24 25 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, serão apresentados os principais processos de investigação do subsolo para estruturas, além de informações que podem ser obtidas desses processos. Para a elaboração de um projeto de fundações ou obras de terra, é necessário ter conhecimento do local e do subsolo, para que se conheça os tipos de solo existentes, a profundidade e a resistência da camada, além da localização do nível d´água, caso exista. Essas informações são obtidas a partir de ensaios laboratoriais de investigação geotécnica. 2 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA O engenheiro projetista de fundações deve se envolver com a investigação do solo desde o início. Devem ser identificadas e classificadas as diversas camadas que compõem o substrato a ser analisado, além de suas propriedades de engenharia. Na prática, frequentemente, isso não acontece, e o engenheiro recebe um conjunto de sondagens, além de informações sobre a estrutura. Assim, caso ocorram eventuais dúvidas que impeçam a execução do projeto, as sondagens devem ser consideradas como uma investigação preliminar (VELLOSO; LOPES, 2011). Para uma investigação geotécnica, é necessário relacionar diversos fatores, como características do meio físico, complexidade da obra e riscos envolvidos. Então combinados, deverão determinar a estratégia a ser utilizada para o projeto (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012). Assim, segundo Velloso e Lopes (2011), é necessário definir as etapas da investigação. São elas: • Investigação preliminar. • Investigação de projeto ou complementar. • Investigação para execução. A primeira etapa, a investigação preliminar, tem como objetivo conhecer as principais características do solo. São executadas apenas sondagens para a percussão. O espaçamento entre as sondagens (também chamado de malha) costuma ser regular (com espaçamento de 1 furo a cada 20 metros, por exemplo, 26 UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES sem que os pontos estejam alinhados) e a profundidade deve caracterizar o embasamento rochoso. Após a fase, o engenheiro já deverá ter alguma ideia do tipo de fundação que deverá ser utilizado (VELLOSO; LOPES, 2011). Na investigação complementar, são executadas mais algumas sondagens, fazendo com que o total de pontos investigados contemple o mínimo de exigências normativas. O objetivo é esclarecer as características relevantes do solo do ponto de vista do comportamento de fundações (VELLOSO; LOPES, 2011). Podem ser realizadas sondagens mistas ou especiais para retiradas de amostras indeformadas. Para qualquer situação, devem existir, no mínimo: a) duas sondagens para área de projeção em planta do edifício até 200 m²; b) três sondagens para área entre 200 m² e 400 m². Por fim, a fase de execução visa confirmar as condições de projeto em áreas consideradas críticas ou em regiões com grande variação de solo na obra. Um programa de investigação bem concebido, com avaliação correta e precisa dos parâmetros do solo, pode ocasionar um ótimo desempenho na construção, além da otimização entre custo e benefícios da obra. Os principais processos de investigação geotécnica são: a) O Standard Penetration Test (SPT). b) O Ensaio de Cone (CPT) e Piezocone (CPTU). c) Ensaio de Palheta. d) Ensaio Pressiométrico. 3 STANDARD PENETRATION TEST (SPT) O Standard Penetration Test (SPT), também conhecido por sondagem de simples reconhecimento ou sondagem de solo para percussão, é a ferramenta geotécnica mais trivial conhecida, e é aplicada, praticamente, no mundo todo. É um indicativo da densidade de solos granulares e aplicado também para ser identificada a consistência de rolos coesivos e rochas brandas (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012). A sua execução está normalizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2001) e as recomendações constantes, tanto para o equipamento quanto para o procedimento, devem ser rigorosamente seguidas para a obtenção de resultados comparáveis com ensaios em outros lugares. TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS 27 A sondagem para percussão com SPT é um recurso valioso que pode facilitar a seleção do tipo de fundação, não importando o porte da obra. Há influência nos padrões de segurança, qualidade, economia, e a variação do solo de um determinado ponto de estudo para outro torna necessária a execução de sondagens em todos os projetos de fundações. O SPT é uma medida de resistência dinâmica conjugada para uma sondagem de simples reconhecimento. A perfuração é obtida por tradagem e circulação de água, sendo utilizado um trépano de lavagem como ferramenta de escavação. Amostras representativas do solo são coletadas a cada metro de profundidade por meio de amostrador padrão com diâmetro externo de 50 mm. O procedimento de ensaio consiste na cravação do amostrador no fundo de uma escavação (revestida ou não), com uma queda de peso de 65 kg a uma altura de 750 mm. O valor N SPT é o número de golpes necessário para fazer o amostrador penetrar 300 mm após uma cravação inicial de 150 mm (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012). Schnaid e Odebrecht (2012) apresentam os equipamentos e seus componentes necessários para a realização do ensaio SPT. Os equipamentos que fazem parte do sistema são compostos por seis partes: a) amostrador, b) hastes, c) martelo, d) torre ou tripé de sondagem, e) cabeça de bater e f) conjunto de perfuração. a) Amostrador: possui três partes distintas – cabeça, corpo e sapata. A cabeça possui uma válvula de esfera em um orifício de drenagem que permite a saída da água de dentro das hastes e a consequente retenção da amostra de solo dentro do amostrador. Já o corpo é formado por um tubo bipartido, que permite a inspeção tátil e visual das amostras, sendo necessário ser inspecionado periodicamente e substituído sempre que necessário. A amostra coletada no corpo do amostrador deve ser acondicionada em recipiente hermético e enviada ao laboratório para a classificação do solo, como características granulométricas, cor e presença de matéria orgânica. O amostrador possui dimensões bem definidas, não existindo tolerâncias na norma brasileira. O amostrador padrão tem diâmetro externo de 50,8 mm ± 2 mm e diâmetro interno de 34,9 mm ± 2 mm. Por fim, a sapata ou bico deve ser de aço temperado e estar isento de trincas, amassamentos, ondulações, denteações, rebordos ou qualquer tipo de deformação que altere a seção e que comprometa o ensaio. 28 UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES FIGURA 16 – AMOSTRADOR PADRÃO FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 26) b) Hastes: são tubos mecânicos providos de roscas em suas extremidades, permitindo a ligação por meio do uso de um elemento de conexão. Devem ser lineares. Apresentando desgastes ou algum empenamento, devem ser substituídas. Hastes que não estão em seu estado perfeito podem transferir parte da energia fornecida pelo golpe do martelo para a parede da perfuração, exigindo, assim, mais golpes para a cravação do amostrador. c) Martelo: constituído de aço, e com massa de 65kg, é o elemento que aplica o golpe na cabeça de bater, haste e amostrador. Deve ser de forma prismática ou cilíndrica, tendo encaixado, na parte inferior, um coxim de madeira dura (peroba rosa ou equivalente). Pode ser maciço ou vazado, segundo a NBR 6484 (ABTN, 2001). O martelo maciço deve ter uma haste de 1,20 m de comprimento fi xada na face inferior, no mesmo eixo da simetria longitudinal. A haste deve ter uma marca visível, distando de 0,75 m da base do coxim de madeira. Se a escolha do martelofor o vazado, a peça deve ter um furo central de 44 mm de diâmetro. No caso, a cabeça de bater deve ser dotada, na parte superior, de uma haste de 33,4 mm de diâmetro e 1,20 m de comprimento, com uma marca distando 0,75 m do topo da cabeça. TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS 29 FIGURA 17 – DIMENSÕES DE UM MARTELO FONTE: Adaptado de ABNT (2001) 30 UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES d) Torre ou tripé de sondagem: com cerca de cinco metros de altura, é montado sobre os pontos de sondagem predefinidos. e) Cabeça de bater: o quarto elemento componente é cilíndrico, de aço maciço e tem como objetivo promover a transferência de energia do golpe do martelo para a haste. A exigência é quanto à constituição: deve haver um tarugo de aço de (83 ± 5) mm de diâmetro, (90 ± 5) mm de altura e massa nominal entre 3,5 kg e 4,5 kg (ABNT, 2001). f) Sistema de perfuração: os trados manuais, como os do tipo helicoidal e do tipo concha, são normalmente usados para a abertura do furo de sondagem. No sistema mecanizado, a perfuração é executada com a introdução de um tubo com um helicoide na sua parte externa, o chamado tubo hollow auger. Este, além de facilitar a perfuração, promove o revestimento do furo de sondagem. FIGURA 18 – EQUIPAMENTO DE SONDAGEM SPT FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 25) TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS 31 3.1 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO Para a realização do ensaio, é determinada, na planta da área, a posição dos pontos a serem sondados. O recomendado é colocar as sondagens em pontos estratégicos, como nas proximidades da edificação. Em qualquer caso, deve-se evitar que a locação dos pontos esteja alinhada, para que se obtenha uma variação dos planos de corte (QUARESMA et al., 1998). Cada furo de sondagem deve ser marcado com a cravação de um piquete de madeira ou material apropriado, sendo necessária uma identificação do furo, servindo de referência de nível para a execução da sondagem e posterior determinação de cota através do nivelamento topográfico. Para o início da sondagem, coloca-se, sobre o terreno, a torre (ou tripé). No topo da torre, monta-se um conjunto com roldanas e cordas, que auxiliará no manuseio das hastes e levantamento do martelo. Com o auxílio de um trado, perfura-se até um metro de profundidade. A perfuração manual acima do nível do lençol freático deve ser executada com trados helicoidais. Abaixo, usa-se um sistema de circulação de água, bombeado pelo interior das hastes até a extremidade inferior do furo, na cota em que é posicionado o trépano para desintegração do solo. É recolhida uma amostra representativa do solo, chamada de amostra zero. Em seguida, em uma das extremidades da haste, acopla-se o amostrador. Com o amostrador devidamente posicionado no fundo da perfuração, coloca- se, cuidadosamente, o martelo sobre a cabeça de bater (conectada à composição da haste) e mede-se a penetração da composição decorrente do peso próprio do martelo. Se for um valor representativo, registra-se. Caso não seja, marcam-se três segmentos de 15 cm sobre a haste e inicia-se a cravação, sendo contado o número de golpes necessário para a cravação de cada segmento. Por exemplo, 5/15, 6/15 e 9/15. O número de golpes NSPT nos projetos de fundação é a soma dos valores correspondentes aos últimos 30 cm de penetração do amostrador. Observe, a seguir, um exemplo de um perfil geológico apresentado a partir do ensaio de SPT. 32 UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES GRÁFICO 1 – PERFIL GEOLÓGICO A PARTIR DO ENSAIO DE SPT FONTE: <https://www.guiadaengenharia.com/wp-content/uploads/2018/01/Sondagemm.jpg>. Acesso em: 6 set. 2019. É apresentado, em muitos casos, o número de golpes na penetração dos 30 cm iniciais. É uma forma de avaliação caso existam diferenças elevadas. Caso existam, pode ter ocorrido deficiência na limpeza do fundo do furo da sondagem ou amolgamento (perda de resistência) do solo. Outro caso é referente a quando, com a aplicação do primeiro golpe do martelo, a penetração for superior a 45 cm. O resultado da cravação do amostrador deve ser expresso pela relação do golpe com a respectiva penetração (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012). Em alguns casos, é necessário observar os critérios de paralização do ensaio: a) quando, em 3 m sucessivos, forem obtidos 30 golpes para penetração dos 15 cm iniciais do amostrador padrão; b) quando, em 4 m sucessivos, forem obtidos 50 golpes para penetração dos 30 cm iniciais do amostrador padrão; e c) quando, em 5 m sucessivos, forem obtidos 50 golpes para a penetração dos 45 cm do amostrador padrão. TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS 33 A profundidade a ser atingida pela perfuração depende do porte da obra. A resistência do solo, o tipo de obra e as características de projeto podem influenciar e exigir sondagens mais profundas. Além disso, é de primordial importância a determinação do nível da água. Assim, durante o processo de perfuração, ao ser observada a presença de água, deve-se interromper o ensaio e anotar a cota da profundidade. Terminada a sondagem, o nível d’água deve ser observado até que se estabilize, ou em um período mínimo de 24 horas. O nível da água pode ser anotado no dia de realização do ensaio SPT e é confirmado no dia seguinte, evitando influências do procedimento sobre a determinação do nível. A norma NBR 6484 (ABNT, 2001) traz uma relação dos estados de compacidade e de consistência dos solos. Tipo de solo Índice de resistência à penetração NSPT Classificação Areia e siltes arenosos ≤ 4 Fofa (o) 5 a 8 Pouco compacta (o) 9 a 18 Medianamente compacta (o) 19 a 40 Compacta (o) >40 Muito compacta (o) Argilas e siltes argilosos ≤ 2 Muito mole 3 a 5 Mole 6 a 10 Média 11 a 19 Rija >19 Dura FONTE: Adaptado de ABNT (2001) QUADRO 2 – COMPACIDADE E CONSISTÊNCIA DOS SOLOS Vamos fazer um exercício juntos? Você foi contratado pela construtora XY para executar um ensaio de sondagem SPT. Calcule o valor do N do SPT para o furo 3 de sondagem do Edifício Manchester. 34 UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES Profundidade de sondagem (m) Número de golpes/penetração do amostrador (cm) 1,00 a 1,45m 5/15 5/15 6/15 2,00 a 2,45 6/15 6/15 6/15 3,00 a 3,45 7/15 8/15 9/15 4,00 a 4,45 7/15 8/15 9/15 5,00 a 5,45 20/15 27/15 25/15 6,00 a 6,45 41/15 - - FONTE: O autor FONTE: O autor QUADRO 3 – FURO 3 DO EDIFÍCIO MANCHESTER R.: O índice de resistência corresponde ao número de golpes, do martelo de 65 kgf (ou 65 kg) caindo de 75 cm de altura, necessários para cravação dos últimos 30 cm do amostrador padrão no solo. Durante a penetração dos 15 cm iniciais do amostrador padrão, se for obtida uma penetração menor ou igual que 15 cm, e o número de golpes do martelo for maior ou igual a 30 golpes, é possível parar a penetração e prosseguir a sondagem. Assim, surge a seguinte forma: Profundidade de sondagem (m) Número de golpes/penetração do amostrador (cm) N (SPT) 1,00 a 1,45m 5/15 5/15 6/15 11 2,00 a 2,45 6/15 6/15 6/15 12 3,00 a 3,45 7/15 7/15 8/15 15 4,00 a 4,45 7/15 8/15 9/15 17 5,00 a 5,45 20/15 27/15 25/15 52 6,00 a 6,45 41/15 - - 41/15 QUADRO 4 – FURO 3 DO EDIFÍCIO MANCHESTER 3.2 SPT-T A sondagem simples associada ao torque é denominada SPT-T. O torque é aplicado na parte superior da haste, de modo a rotacionar o amostrador cravado no terreno. Assim, a medida, obtida através de um torquímetro (ferramenta mecânica de medição de torque), fornece um dado adicional à resistência para a penetração. A interpretação da medida permite a determinação do atrito ou adesão amostrador – solo, conforme a Equação 1. Eq. 1 TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS 35 FT é o atrito lateral ou adesão, em kg/cm²; T é o torque em kgf.cm, e h é a penetração do amostrador do solo. A definição do atrito lateral é útil para a determinação das características físicasdo perfil do solo. 4 O ENSAIO DE CONE (CPT) E PIEZOCONE (CPTU) O ensaio de cone (CPT – Cone Penetration Test) foi desenvolvido na Holanda, por volta de 1930, no Laboratório de Mecânica dos Solos de Delft, com o objetivo de investigar solos moles. Também é denominado de ensaio de cone holandês ou ensaio de penetração estática ou “quase estática” (devido à forma de cravação). No Brasil, o ensaio tem sido utilizado desde o final da década de 1950, porém, na época, a experiência no país era limitada a um número relativamente baixo de casos. Apenas por volta de 1990 que houve um interesse crescente pelo ensaio de CPT, impulsionado por pesquisas realizadas por diversas universidades. Atualmente, o ensaio é executado comercialmente por diversas empresas da América Latina (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012). 4.1 EQUIPAMENTOS DE ENSAIO O ensaio é simples: basicamente, é feita a cravação, no terreno, de uma ponteira cônica com velocidade lenta e constante (por isso, o termo “estática” e “quase estática”), medindo a resistência encontrada na ponta e a resistência por atrito lateral (VELLOSO; LOPES, 2011). A velocidade constante fica por volta de 20mm/s +/- 5mm/s e a seção transversal do cone costuma ser de 10cm², podendo chegar a uma seção maior em equipamentos mais robustos. Os ensaios são padronizados e existe diferença entre equipamentos e a forma de operação, podendo ser classificados em três categorias, segundo Schnaid e Odebrecht (2012): a) Cone mecânico: é caracterizado pela leitura das forças transmitidas através das hastes, utilizando células analógicas (anéis dinamométricos) para a resistência da ponta cônica (qc), do atrito ou da adesão lateral (fs). b) Cone elétrico: são utilizadas células de carga instrumentadas eletricamente e em substituição às células de carga analógicas, medindo qc e fs diretamente na ponteira. c) Piezocone: além das células de carga, o equipamento inclui sensores de pressão para registro da poropressão. Também há inclusão de sensores de inclinação e sísmicos. 36 UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 68) FIGURA 19 – SENSORES DE PRESSÃO PARA REGISTRO DA POROPRESSÃO Para execução do ensaio, é necessário compreender alguns dos equipamentos básicos, como os de cravação, detalhamento das ponteiras utilizadas, além da interpretação dos resultados. O equipamento de cravação é uma estrutura de reação na qual é montado um sistema de aplicação de cargas. Pode ser utilizado um sistema hidráulico, além de uma válvula reguladora de vazão para controle preciso da velocidade de cravação. Por meio de hastes de um metro, ocorre a penetração. Esses conjuntos podem ser utilizados em terra (onshore) e em água (neashore e off shore). No primeiro caso, o conjunto de equipamentos pode ser montado em caminhões, tratores sobre rodas ou veículos especiais. A reação é obtida pelo peso próprio do equipamento e/ou pela fi xação no solo de hélices de ancoragem. TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS 37 FONTE: Adaptado de Mayne (2007, p. 6) FIGURA 20 – EXEMPLO DE ENSAIO MECÂNICO No sistema em água, existem diversas confi gurações do sistema de cravação, sendo que se diferem entre si devido à profundidade em que se encontra o leito marinho, podendo ser utilizadas plataformas, elevatórios, embarcações ou sistemas submergíveis (SCHNAID, 2009). Os sistemas submergíveis podem ser considerados muito simples, operados com auxílio de mergulhadores para execução de sondagens. Os tipos de ponteira também devem ser analisados. Há, comercialmente, diversos tipos variando sua dimensão, confi gurações interna e externa, além dos sistemas de alimentação e de transmissão de dados. Quanto à dimensão externa (área da ponta cônica), é comum o uso de ponta com 10 cm², adotada como padrão pela referência internacional IRTP (International Reference Testing), embora existam maiores ou menores. As ponteiras apresentam partes distintas e compostas em cone, com diâmetro entre 35,3 mm e 36 mm e ângulo de 60o, luva e fi ltro (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012). 38 UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 70) FIGURA 21 – PONTEIRAS DE 2 CM², 10 CM², 15 CM², 40 CM² Quanto ao sistema de transmissão de dados, costumam ser utilizados meios automáticos, por programas computacionais, para gerenciamento das informações. As ponteiras mais modernas também apresentam um conversor analógico digital para transmissão de dados de forma digital. Devido ao número de sistemas comercialmente disponíveis, podemos citar: sistemas que utilizam cabo elétrico, sistemas por wireless, sistemas armazenados na própria ponteira e transferidos posteriormente e sistemas com armazenamento em tempo real, também por wireless. 4.2 RESULTADOS DO ENSAIO Nos ensaios CPT, as medidas normalmente realizadas são a resistência de ponta (qc) e o atrito ou adesão lateral (fs). A razão de atrito é defi nida como Rf, sendo utilizada na classifi cação dos solos. As medidas de resistência à penetração são calculadas de acordo com o efeito de poropressões que estão atuando em áreas desiguais da geometria do cone, sendo necessário conhecer as pressões neutras da base do cone u2,. Assim, calcula-se a resistência real do ensaio pela Equação 2. Eq. 2 Em que a = AN/ AT. TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS 39 FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 83) FIGURA 22 – CORREÇÕES PARA O ENSAIO DE CONE Resultados de ensaios de cone, como qc, fs e Rf, são dispostos de maneira que se apresentem as medidas com relação à profundidade. As medidas ao longo da profundidade, associadas às poropressões, apresentam grande precisão com relação à classifi cação da camada de solo. Com relação aos piezocones, medem-se as poropressões originadas durante o processo de cravação e, assim, defi ne-se um novo parâmetro muito útil para a classifi cação dos solos, conhecido como Bq, determinado através da Equação 3: Eq. 3 Em que uo são as pressões e é a tensão vertical. 40 UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 73) FIGURA 23 – ENSAIO TÍPICO CPT 4.3 RELAÇÕES ENTRE SPT E CPT Os ensaios de SPT e CPT são os procedimentos de investigações geotécnicas mais investigados no mundo. Assim, é interessante que exista uma possibilidade de correlacionar as medidas de NSPT e qc. Existem diversas metodologias de correlações. No Brasil, existem correlações baseadas em muitos dados tanto para solos do Rio de Janeiro como para São Paulo. Velloso e Lopes (2010) correlacionaram, em seu estudo, a resistência à penetração do cone (qc) do ensaio CPT com a resistência à penetração (NSPT) do ensaio SPT através da Equação 4. Os valores de “k” estão dispostos a seguir, em que são apresentados também os valores para o coeficiente α, denominado razão de atrito. O parâmetro relaciona o atrito lateral do cone (fs) com a tensão de ponta (qc), variando de acordo com o tipo de solo atravessado pelo cone (QUARESMA et al., 1998). Eq. 4 Em que k é o coeficiente de correlação entre NSPT e qc. TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS 41 Valores de k para qc em MPa e valores de razão de atrito α para dimensionamento de estacas via Aoki-Velloso Solo K α Areia 1,00 1,4 Silte 0,40 3,0 Silte arenoso 0,55 2,2 Argila 0,20 6,0 Argila arenosa 0,35 2,4 Argila siltosa 0,22 4,0 FONTE: Adaptado de Aoki e Velloso (1975) QUADRO 5 – VALORES DE K E α 5 ENSAIO DA PALHETA O ensaio da palheta, também conhecido como vane test, é comumente utilizado para a determinação da resistência ao cisalhamento não drenado (Su) em depósitos de solos moles, a uma velocidade de rotação constante e padrão, com uma palheta cruciforme em profundidade predefinida. A medição do torque T versus rotação determina os valores Su do solo natural e amolgado. O ensaio foi desenvolvido na Suécia, por John
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