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Nazifascismo CONTEXTO EUROPEU Um dos processos históricos de maior complexidade foi o fascismo, movimento de extrema-direita que surgiu na Europa durante a década de 20 do século XX. Praticamente todo o Velho Mundo passou por experiências fascistas, de forma direta ou indireta. Em alguns países, o fascismo chegou efetivamente ao poder, enquanto em outros ele foi uma constante ameaça. Como o primeiro país da Europa a ter um regime de extrema-direita foi a Itália, convencionou-se chamar tal regime de fascismo, nome relacionado ao Fascio di Combattimento, grupo armado fundado por Mussolini. Nos demais países, esses regimes assumiram nomes, como nazismo (Alemanha), salazarismo ou Estado Novo (Portugal), franquismo ou falangismo (Espanha). Apesar da variação de denominações, todos esses regimes possuem características comuns e estão inseridos em um mesmo contexto histórico. Para uma melhor compreensão das origens do fascismo, é necessário ter em mente que a Revolução Russa de 1917 favoreceu a expansão dos partidos de esquerda, que defendiam a implantação do socialismo em vários países do mundo. As forças políticas e sociais conservadoras, em toda a Europa, temiam a expansão da Revolução Russa para dentro de suas fronteiras e, por isso, estavam dispostas a combater os comunistas. Somada ao medo do socialismo, havia a insatisfação com os resultados da Primeira Guerra. A Itália, por exemplo, esperava ganhar territórios alemães na África por ter lutado do lado das potências vencedoras, o que não aconteceu. Já a Alemanha foi humilhada pelo Tratado de Versalhes e, por isso, alimentava um sentimento de revanche. Os partidos fascistas que surgiram nesses países souberam canalizar esse medo e essa insatisfação a seu favor e, através de um discurso nacionalista e anticomunista, buscavam o apoio das massas. Além da violência, os fascistas utilizavamas vias institucionais para atingir seus objetivos. Exemplo disso é o fato de que tanto Mussolini quanto Hitler chegaram ao poder pela via legal. Dessa forma, é possível afirmar que o fascismo representou uma ameaça à democracia e às liberdades individuais, mas, ao mesmo tempo, foi um regime de massas, utilizando, para tal, a manipulação em conjunto a uma feroz propaganda. Os efeitos da Crise de 1929 também foram fundamentais para a consolidação dos regimes fascistas, que consideravam o excesso de democracia e de liberalismo como responsáveis pela Crise. Os adeptos da extrema-direita construíram um discurso de combate ao desemprego e de exaltação ao nacionalismo, inclusive no que se refere à economia, angariando, dessa forma, o apoio das massas de desempregados de seus países. CARACTERÍSTICAS GERAIS Entre as características comuns aos regimes fascistas desenvolvidos na Europa, pode-se destacar: • Totalitarismo – Predomínio dos interesses do Estado sobre os individuais, sendo o coletivo mais importante que o particular. Em outras palavras, o totalitarismo nega o individualismo, pois o indivíduo somente se realiza plenamente no coletivo, ou seja, no Estado. • Militarismo – Para os fascistas, a guerra prova quem é o mais forte e que este deve dominar o fraco; os sentimentos e paixões vitais do homem vêm à tona no confronto militar. Hitler, que defendia o militarismo, afirmava que o excesso de liberalismo e o judaísmo, associados ao marxismo, provocaram a derrota da Alemanha na Primeira Guerra. • Caráter antidemocrático – Os fascistas defendiam a existência de um governo forte e centralizado, ou seja, um governo ditatorial. • Nacionalismo – Exaltação dos valores nacionais, considerados superiores dentro da sociedade. Esses valores máximos seriam referência para o comportamento e para a ordem dos indivíduos. • Romantismo – Defesa de que o autossacrifício, a fé e os sentimentos estavam acima da razão na solução dos problemas da sociedade. • Elitismo – Reconhecimento de um grupo reduzido e capaz de comandar a nação para promover o seu desenvolvimento. • Corporativismo – União entre patrões e trabalhadores, comandada pelo Estado, para eliminar os conflitos de classes, considerados um motivo de fraqueza da sociedade. Na Alemanha, essa característica não se manifestou, uma vez que Hitler reprimiu manifestações trabalhistas. Na Itália e em Portugal, foi forte a subordinação dos sindicatos ao Estado. • Antissemitismo – Perseguição com eliminação de minorias étnicas, em especial, dos judeus. É importante ressaltar que essa foi uma característica mais marcante do nazismo, tendo sido criados campos de concentração e de extermínio pela Alemanha. FASCISMO ITALIANO A Itália participou da Primeira Guerra ao lado das nações vencedoras e não recebeu o esperado, situação que proporcionou uma grande insatisfação por parte dos italianos contra as potências mundiais. A recessão, a inflação e o desemprego, característicos do Pós-Primeira Guerra, favoreceram o avanço da esquerda italiana, que levou trabalhadores a ocuparem algumas fábricas no norte do país, implantando a gestão operária. A movimentação foi tanta que os anos de 1919 e 1920 ficaram conhecidos como biênio vermelho. Diante de tal quadro, Benito Mussolini, ex-membro Partido Socialista, que havia aderido à extrema-direita, o Fascio di Combattimento e o Squadri, grupos armados que perseguiam os socialistas. Tanto o governo quanto a burguesia italiana, temerosos quanto ao socialismo, financiavam secretamente Mussolini, para que ele continuasse a reprimir os movimentos operários e socialistas dentro da Itália. O financiamento da direita possibilitou que fosse fundado o Partido Nacional Fascista em 1921, que contava com mais de 200 mil filiados. No ano seguinte, milhares de fascistas, os “camisas negras”, realizaram a famosa Marcha sobre Roma, exigindo a participação de Mussolini no governo. Em 1927, Mussolini obteve uma de suas grandes vitórias políticas. Naquele ano, foi instituído na Itália um novo conjunto de leis trabalhistas, a Carta del Lavoro, que, se por um lado, reduzia a jornada para oito horas de trabalho, concedia seguro contra acidentes e regulamentava o trabalho noturno e perigoso, por outro lado, eliminava os sindicatos e proibia as greves. Baseada nos princípios do corporativismo, a Carta del Lavoro tinha uma clara proposta conciliadora, pois, apesar de atender parte dos anseios dos operários – evitando assim o fortalecimento da esquerda –, o governo de Mussolini agradava aos patrões, que ficavam protegidos das mobilizações trabalhistas. Em 1929, procurando obter o apoio da Igreja Católica e, logo, da ala conservadora da sociedade, Mussolini foi além, assinando o Tratado de Latrão, que se propunha a resolver uma questão histórica na Itália. Durante a unificação italiana, houve a tomada das terras da Igreja pelo Estado italiano, gerando, entre eles, um conflito chamado Questão Romana. FASCISMO ALEMÃO A Alemanha vivia uma enorme crise política e econômica após a Primeira Guerra, devido às péssimas condições impostas pelo Tratado de Versalhes e à obrigação de pagar pesada indenização de guerra, o que canalizava a insatisfação popular. Em 1919, ocorreu em Berlim, capital da Alemanha, uma rebelião popular comandada por um grupo de extrema-esquerda que tentou tomar o poder no país,a Liga Espartaquista. A tentativa foi frustrada, e os principais líderes, como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, foram presos e assassinados. Diante da ameaça da esquerda, surgiu, em 1919, umgrupo político de orientação fascista que mais tarde se denominou Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães ou, simplesmente, Partido Nazista (apesar do nome do Partido, não devemos imaginar que ele defendia o trabalhador ou o socialismo). Em 1923, inspirados em Mussolini, que havia chegado ao poder na Itáliano ano anterior, os nazistas tentaram dar um golpe de Estado que ficou conhecido como Putsch de Munique. Adolf Hitler, a principal figura do Partido, foi preso e condenado a cinco anos de prisão, da qual saiu no final de 1924. Durante esse tempo, Hitler escreveu Mein Kampf (Minha Luta), obra que sintetiza a ideologia nazista. O livro faz apologia ao expansionismo alemão, alegando que os povos germânicos precisavam de espaço para desenvolver suas potencialidades, o espaço vital. Defendia também a crença na superioridade da etnia ariana, ideias que foram bem aceitas em diversos setores alemães e tornaram Hitler conhecido nacionalmente. Em 1923, após a contenção do levante nazista, os franceses ocuparam a região do Vale do Ruhr, um importante centro industrial alemão, com o objetivo de forçar os alemães a pagarem a indenização de guerra. O governo, vivendo uma crise econômica, foi obrigado a emitir papel-moeda em grande volume, levando à desvalorização do marco alemão e a uma espiral inflacionária. A recuperação econômica só foi possível graças aos Planos Dawes e Young, investimentos estadunidenses na Alemanha que acabaram diminuindo o interesse pelas teses de Hitler e fizeram com que o nacional-socialismo tivesse uma significativa queda nas votações. Com a Quebra da Bolsa de Nova Iorque, entretanto, cessaram-se os investimentos dos Estados Unidos, levando a uma crise maior do que a anterior. A inflação voltou a subir e o desemprego deu um salto assombroso, chegando a um número em torno de seis milhões de desempregados em 1932. Dessa forma, o prestígio dos nazistas voltou a crescer, e a desesperança da população em relação à democracia e ao liberalismo, associada ao medo da esquerda, fez com que parcelas das massas de trabalhadores e as elites apoiassem os nazistas. Nas eleições de 1932, Hitler concorreu à Presidência da Alemanha com o marechal Hindenburg, que saiu vencedor. Apesar disso, o partido vitorioso nas eleições foi o nazista, que ocupou a maioria das cadeiras no Reischstag, o Parlamento alemão. Inicialmente, Hindenburg nomeou Von Papen para o cargo de chanceler (primeiro-ministro alemão), o que não agradava à maioria nazista parlamentar. Para obter o apoio dos nazistas e conseguir governar, Hindenburg cedeu às pressões parlamentares e, em 1933, nomeou Hitler para o cargo de chanceler: finalmente os nazistas estavam no poder. Em fevereiro desse mesmo ano, os nazistas incendiaram o Reischstag e culparam os comunistas, o que permitiu a Hitler colocar a esquerda alemã na ilegalidade. A Constituição foi anulada e começaram a surgir os primeiros campos de concentração para os presos políticos do Estado.