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1 Unidade 8 – Elaboração e organização técnica do texto Habilidades Analisar textos escritos. Descritores de desempenho Compreender o texto como um todo organizado de sentido. Identificar a estrutura interna de um parágrafo-modelo. Compreender a coesão textual como parte integrante da clareza textual. Compreender a coerência textual como parte integrante da objetividade textual. Aplicar os elementos de coesão na produção de texto. Construir texto dissertativo. Distinguir as partes que compõem o texto escrito. Apresentação da Unidade Para que um texto seja bem elaborado e compreensível pelo leitor, é necessário que apresente uma estruturação adequada ao tipo e ao gênero. Assim, seu sentido será dado por sua organização interna, valendo-se de elementos contextuais que darão suporte às ideias nele contidas. Nesta unidade, você verá como se dá a estrutura de um texto dissertativo, além de compreender a organização de um parágrafo-modelo para que sua produção textual cumpra o papel proposto. Além disso, irá aplicar os conceitos de coesão e coerência, compreendendo que o sentido do texto se dá em uma organização coesa e coerente de seus elementos. 2 Esperamos que você apreenda os conhecimentos necessários para que seus textos sejam produzidos como um todo organizado de sentido. Bons estudos! 8.1 O texto como um todo organizado de sentido O sentido de um texto não é dado somente por seu vocabulário. Ele é construído, também, por fatores externos ao texto. Ou seja, informações que não estão contidas no texto, mas que o leitor deverá lançar mão para compreensão da leitura. A habilidade de produção e de leitura de um texto verbal escrito é definida pelo contexto que envolve o texto. 8.1.1 Contexto Uma mesma sentença poderá ter resultados interpretativos diferentes se produzida em contextos distintos. Observe as sentenças a seguir: Quadro 8.1: Contexto (1) A Mata Atlântica está sendo destruída pouco a pouco. (2) Essa água pura, vinda direto da fonte, mata minha sede. Fonte: Elaborado pela autora (2018). A palavra “mata” foi usada em duas situações diferentes: (1) com o significado de floresta; (2) com o significado de saciar, satisfazer. Assim, dizemos que o contexto é uma unidade linguística maior em que uma unidade linguística menor está inserida. Observe o esquema a seguir: 3 Figura 8.1: Esquema de contexto Fonte: Elaborada pela autora (2018). Observando o esquema, percebemos que a palavra está inserida no contexto da frase que, por sua vez, insere-se no contexto parágrafo, dando contexto maior ao texto em sua totalidade. Retomando o exemplo dado, em que usamos a palavra “mata” em duas situações contextuais distintas, podemos dizer que, a partir da leitura das sentenças, não houve a necessidade de buscar entendimento fora delas. A esse tipo de contexto denominamos de contexto explícito, ou seja, a explicação está no próprio texto ou na sentença dada. Já o contexto implícito irá tratar de algo externo ao texto ou à sentença. Quadro 8.2: Contexto implícito Vila passa sem luxo mas com samba no pé (KABARITE, 2018) . Fonte: Elaborado pela autora (2018). Para compreendermos o que o título da reportagem sugere, são necessárias algumas inferências. Texto Parágrafo Frase Palavra 4 (1) “Vila” é o apelido carinhoso dado à escola de samba Unidos de Vila Isabel, do Rio de Janeiro. (2) “Sem luxo” faz referência ao uso de fantasias e alegorias simples, singelas, sem ostentação. (3) “Com samba no pé” remete ao objetivo maior dos desfiles carnavalescos, quer seja, o de sambar na avenida. Lembrando que essas são possíveis interpretações desenhadas a partir somente da leitura do título da reportagem. Com a leitura aprofundada do texto é que poderemos saber se realmente a interpretação está de acordo com o que o repórter quis expressar ou não. Em relação ao texto, o contexto diz respeito ao que está fora, ou seja, informações que não estão explícitas no texto, mas que devem ser acessadas para sua compreensão. Vejamos um exemplo: Quadro 8.3: Informações não explícitas para o contexto Para Mercadante, fala de Temer estava "fora do contexto" (LADEIRA, 2015). Fonte: Elaborado pela autora (2018). A “fala” mencionada pelo título da reportagem foi enunciada pelo então à época vice-presidente da República, Michel Temer, sobre a presidente, Dilma Roussef, não resistir até o final do mandato. A resposta do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi dada em uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo, publicada no dia 6 de setembro de 2015. Situações como essa são comuns, sobretudo no meio midiático. Um recorte mal feito de uma fala ou de uma escrita poderá resultar em uma interpretação equivocada. No exemplo dado, o que se pode perceber é o contexto sendo usado como argumento, como recurso para explicar uma fala que produziu um desconforto para o governo, à época. 5 8.1.2 Elementos estruturais do texto O texto é tido como um todo estruturado de forma coesa, una e coerente. Desse modo, deve haver uma interligação entre as frases que, por sua vez, devem estar em acordo com o parágrafo, demonstrando um sentido único a ser dado quando de sua leitura e, consequentemente, da sua interpretação. Segundo Medeiros (2013), para que um texto seja considerado como tal, deve apresentar três qualidades essenciais: unidade, coerência e coesão. Ainda de acordo com o autor, Todas as partes devem estar interligadas e manifestar um direcionamento único. Assim, um fragmento que trata de diversos assuntos não pode ser considerado texto. Da mesma forma, se lhe falta coerência, se as ideias são contraditórias, também não se constitui texto. Se os elementos da frase que possibilitam a transição de uma ideia para outra não estabelecem coesão entre as partes expostas, o fragmento não se configura um texto. (MEDEIROS, 2013, p. 28). Desse modo, o texto apresenta alguns elementos considerados essenciais, os elementos estruturais do texto. Veja quais são eles no quadro que segue. Quadro 8.4: Elementos estruturais do texto Saber partilhado Conhecimento compartilhado com os indivíduos. Informação nova Dado novo apresentado pelo texto; nova maneira de ver o mesmo fato. Provas Fundamentação das afirmações feitas pelo autor. Referência Assunto do texto, sobre o que o texto trata. Tema Perspectiva sobre a qual o texto foi construído. Fonte: Adaptado de Medeiros (2013). Os elementos estruturais formarão, portanto, uma unidade do texto, compreendida por sua completude. 6 8.1.3 Estrutura do texto Um texto deve seguir uma sequência lógica, ordenado de modo a estabelecer uma estrutura que delimite seu início e seu final. Uma dissertação, tipo textual que tem recebido um foco maior em nossa disciplina, está assim estruturada: introdução – chama o leitor para o assunto do texto. É um convite para a leitura, uma apresentação daquilo que será exposto no texto; desenvolvimento – exposição progressiva do tema, com apresentação de argumentos e ideias que darão sentido ao texto; conclusão – momento em que se faz uma retomada das ideias abordadas ao longo do texto, convergindo em seu fechamento. Figura 8.2: Estrutura do texto dissertativo Fonte: Elaborado pela autora (2018). Essa é a estrutura mais adotada em textos do tipo dissertativo e, para que haja perfeita sincronia entre os elementos que compõem o texto, mantendo sua estrutura, é necessário que seus parágrafos também sigam uma ordenação sistematizada. Veja, no tópico que segue, como o parágrafo pode ser elaborado e como está estruturado. INTRODUÇÃO DESENVOLVIMENTO CONCLUSÃO 7 8.2 Elaboração de parágrafo “Ponto final, nova linha, parágrafo”. Quantas vezes ouvimos isso de nossos professores? Inúmeras.Para sinalizar o parágrafo, deixava-se um espaço em branco (geralmente indicado pela largura do dedo indicador) entre a linha da margem esquerda e o início da primeira frase. Assim aprendemos o que é parágrafo em um texto. No entanto, ao longo de nossa escolarização, compreendemos que parágrafo envolve muito mais do que isso. Significa a divisão de um texto em partes conectadas e coesas, responsáveis por dar o formato de texto. Vamos analisar um parágrafo para compreendermos como sua estrutura está estabelecida e qual sua função. Quadro 8.5: Exemplo de parágrafo-modelo (1) A alimentação balanceada é a chave para uma vida saudável. (2) Para que isso ocorra, é preciso comer bem e na hora certa, com atenção à qualidade nutricional dos alimentos ingeridos. Além disso, combinar os alimentos e prepará-los de modo a retirar deles os nutrientes essenciais e adequados também trarão resultados eficazes ao comportamento alimentar. (3) Essas atitudes certamente irão auxiliar na busca por uma vida mais saudável e com alimentação adequada (PERDIZ, 2018). Fonte: Elaborado pela autora (2018). Dividindo o parágrafo em partes, temos o seguinte: Quadro 8.6: Estrutura do parágrafo-modelo (1) Introdução A alimentação balanceada é a chave para uma vida saudável. 8 (2) Desenvolvimento Para que isso ocorra, é preciso comer bem e na hora certa, com atenção à qualidade nutricional dos alimentos ingeridos. Além disso, combinar os alimentos e prepará-los de modo a retirar deles os nutrientes essenciais e adequados também trarão resultados eficazes ao comportamento alimentar. (3) Conclusão Essas atitudes certamente irão auxiliar na busca por uma vida mais saudável e com alimentação adequada. Fonte: Elaborado pela autora (2018). Como podemos observar, o parágrafo-modelo, aqui exemplificado, encontra-se estruturado em três partes. A introdução (1) apresenta a ideia principal que dominar o parágrafo. A essa ideia denominamos de tópico frasal que, nesse caso, refere-se à alimentação saudável. No desenvolvimento (2), o tópico frasal é desdobrado em ideias secundárias, apresentadas de forma expositiva e esclarecedora do tema abordado, ou seja, o que é necessário fazer para que se consiga alimentar-se de forma saudável. O encerramento da ideia central do parágrafo é dado na conclusão (3), momento em que se retoma o tópico frasal e, caso o texto tenha continuidade, encaminha-se para o parágrafo seguinte. Em nosso exemplo, temos um fechamento com o termo “essas”, remetendo ao que foi exposto anteriormente. Podemos verificar que, embora de maneira autônoma, o parágrafo assim estruturado, fará parte de um encadeamento progressivo do texto. INÍCIO DO ATENÇÃO Para uma redação de qualidade, é necessária uma delimitação do tema, com o objetivo de condensar as ideias até chegar à ideia principal. Para tanto, pode-se realizar um exercício de afunilamento dessas ideias. Um tema amplo, como a natureza, por exemplo, deverá ser desdobrado em outros 9 subtemas até chegar à ideia principal, destruição da natureza pelo ser humano. Assim você poderá abordar um tema de modo objetivo e, consequentemente, eficaz. FINAL DO ATENÇÃO A clareza de um texto é guiada pelo uso de elementos de ligação que darão sentido ao texto. Esses elementos são a coesão e a coerência, assuntos de nossos próximos tópicos. 8.3 Coesão textual A coesão é fator indispensável para produzir sentido em um texto. Por meio dos elementos de ligação, forma-se um texto coeso e com sentido próprio, proporcionando ao leitor a interpretabilidade necessária em determinada situação de comunicação. Medeiros (2013, p. 337) afirma que [...] um texto não é um amontoado de palavras, mas uma rede de palavras que se encadeiam semanticamente e contribuem para transmitir uma ideia. Esse encadeamento é proporcionado pela coesão, ou seja, uma forma de recuperar informações já́ apresentadas para que o texto possa progredir. A coesão pode ser estudada sob diversos ângulos. Um deles é a coesão por retomada ou antecipação. O estudo dessa modalidade de coesão textual se dá por dois tipos de conectivos: Os anafóricos – termos que servem para retomar outros termos esboçados no texto; Os catafóricos – termos que antecipam outros que serão mencionados na sequência textual. A coesão se dá pelo uso dos conectores, também chamados operadores discursivos. Exemplos de conectores: então, portanto, já que, com efeito, porque, ora, mas assim, daí, dessa forma, isto é. Cada um desses termos estabelece relação semântica clara, indicando causa, finalidade, conclusão, contradição, entre outras possibilidades. Por isso, ao escrever, é necessário utilizar o conector adequado para produzir a relação 10 desejada. Vamos retomar o exemplo apresentado no primeiro tópico desta unidade: Quadro 8.7: Conectivo para coesão textual Vila passa sem luxo mas com samba no pé (KABARITE, 2018). Fonte: Elaborado pela autora (2018). Para que a sentença apresente o sentido desejado, o conectivo “mas” foi fundamental. Ele definiu a ideia de que, mesmo sem luxo, a escola de samba mostrou que é possível apresentar um espetáculo de cultura carnavalesca com o samba no pé. De acordo com Medeiros (2013, p. 337), a coesão pode se dar de diversas maneiras. Por referência – utilizando-se pronomes, advérbios, artigos definidos, que darão o sentido de fazer referência a algo que já foi ou será dito. Por exemplo: Elisa saiu e esqueceu-se de sua bolsa. Gosto de usar tênis e sandálias, pois ambos são muito confortáveis. Por elipse – omissão de algo que já foi referido. Por exemplo: Às quintas, Joana faz dança e (Joana faz) aula de piano. Por escolha lexical – uso de palavras ou expressões com significados próximos para evitar a repetição. Por exemplo: O Rio de Janeiro é um lugar extraordinário, com paisagens belíssimas. Mas a cidade maravilhosa está perdendo seu encanto em meio a tanta violência. De sua horta retirava todos os legumes usados em suas refeições, sendo que espinafre, alface e couve eram seus preferidos. 11 Por substituição – retoma o que foi dito por meio de um conectivo ou expressão. Por exemplo: Choveu muito ontem à noite. Por isso, não haverá jogo hoje à tarde. Saíram os noivos, seus dois cães e os padrinhos, respectivamente. Veremos, no quadro que segue, algumas formas possíveis de coesão textual. Quadro 8.8: Formas de coesão Gradação até, mesmo, até mesmo, inclusive, ao menos, pelo menos, no mínimo, no máximo, quando muito Ligação de argumentos em favor de uma mesma conclusão e, também, ainda, nem, não só́... mas também, tanto... como, além de, além disso, a par de Introdução de argumentos que levam a conclusões opostas ou, ou então, quer... quer, seja... seja, caso contrário Conclusão portanto, logo, por conseguinte, pois Comparação de superioridade, inferioridade ou igualdade tanto... quanto, tão... quanto, mais... (do) que, menos... (do) que Explicação ou justificativa com relação ao enunciado anterior porque, já́ que, pois Argumentação decisiva, com acréscimo aliás, além de tudo, além disso, ademais Generalização ou amplificação do que foi dito de fato, realmente, aliás, também, é verdade que Especificação ou exemplificação por exemplo, como Correção, esclarecimento, desenvolvimento ou redefinição do primeiro enunciado ou melhor, de fato, pelo contrário, ao contrário, isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras Explicitação, confirmação ou ilustração do que foi dito assim, desse modo, dessa maneira Fonte: Elaborado pela autora (2018). Já na coesão por justaposição é realizado o sequenciamento das ideias. Esse sequenciamento pode ser temporal, de ordenação, para introduzir uma nova ideia etc. Quadro 8.9: Coesão por justaposição12 Sequência temporal depois, meses depois, uma semana antes, um pouco mais cedo Ordenação primeiramente, em seguida, a seguir, finalmente Introdução de novo tema ou assunto a propósito, por falar nisso, mas voltando ao assunto, fazendo um parêntese Fonte: Elaborado pela autora (2018). Para finalizar nosso tema sobre elementos de coesão, tenha muita cautela ao escrever um texto: reflita sobre a relação de sentido que você deseja construir e utilize o conector adequado, pois o uso equivocado pode contradizer seu argumento. INÍCIO DO REFLITA Segundo Fernandes (2017, s.p.): “A coesão textual tem como foco a articulação interna, ou seja, as questões gramaticais. Já a coerência textual trata da articulação externa e mais profunda da mensagem”. Por isso, é necessário ter muita atenção ao utilizar os elementos coesivos pois, de forma adequada, serão importantes aliados na busca pela compreensão daquilo que você quer comunicar. FINAL DO REFLITA 8.4 Coerência textual De acordo com Koch e Travaglia (2005, p. 11), “[...] a coerência é algo que se estabelece na interação, na interlocução, numa situação comunicativa entre dois usuários". A coerência, ainda de acordo com os autores, segue o princípio de interpretabilidade do texto. Para Medeiros (2013, p. 342), “[...] as partes de um texto revelam coerência se, relacionadas, não apresentam contradições. Se as divisões não concorrem para o estabelecimento do todo, faltará consistência ao texto. Por isso, a necessidade de ordem e inter-relação”. 13 A fundamentação da coerência irá depender do estabelecimento de alguns fatores, como: elementos linguísticos; conhecimento de mundo; conhecimento partilhado; inferências; relevância; intertextualidade. Basicamente, são três as modalidades de coerência textual: narrativa, argumentativa e figurativa. 8.4.1 Coerência narrativa A narração deve apresentar uma sequência lógica de fatos a fim de que se contextualize a situação narrada. Vejamos o seguinte exemplo: Quadro 8.10: Coerência narrativa A fábrica estava repleta de preguiçosos. Nada ia para frente. Solange, a supervisora de produção, foi até a gerência comunicar a situação. Passou duas horas por lá. Quando voltou, já tínhamos terminado todo o lote. Fonte: Elaborado pela autora (2018). Qual a incoerência desse relato? Ora, se todos eram preguiçosos, como o lote todo poderia ter sido terminado apenas durante a conversa da supervisora com a gerência? Só fará sentido se esclarecermos o contexto, como, por exemplo, pontuando que, por receio de serem demitidos, os funcionários resolveram trabalhar. 8.4.2 Coerência argumentativa Em um texto, devemos desenvolver um assunto atentando para alguns desdobramentos ao longo da argumentação: dados, analogias, conclusões. Tem-se um pressuposto e, a partir dele, são realizadas as considerações. 14 Se as conclusões a que se chega em um texto não estão amparadas pelos dados apresentados, então se comete a incoerência argumentativa. Observe o exemplo: 15 Quadro 8.11: Coerência argumentativa O cigarro e a bebida alcoólica fazem parte das drogas ilícitas que o jovem maior de idade consome em nosso país. O poder de liberdade dado a esse público faz com que comecem a usar esses produtos cada vez mais tarde. Fonte: Elaborado pela autora (2018). Analisando o texto do exemplo, observamos duas situações de incoerência. A primeira: a exposição do cigarro e da bebida alcoólica como drogas ilícitas no Brasil, o que não é verdade. A segunda situação de incoerência está na segunda sentença. Note que, se os jovens têm liberdade, poderiam, de acordo com o texto, começar a fazer uso da bebida alcoólica e do cigarro cada vez mais cedo, e não cada vez mais tarde. As afirmações não têm suporte de verdade, ficando, com isso, desamparadas e incoerentes. 8.4.3 Coerência descritiva Neste caso, a coerência diz respeito à determinada descrição. Por exemplo, em um relatório de estágio, o estudante descreve a seguinte situação: Quadro 8.12: Coerência descritiva Fui contratado para trabalhar no turno matutino. Meu trabalho no escritório consistia em, dentre outras coisas, checar os e-mails do setor de atendimento ao cliente, sempre antes das 14h. Fonte: Elaborado pela autora (2018). A incoerência está na descrição temporal: se o estagiário foi contratado para trabalhar no turno matutino, não poderia realizar qualquer tipo de serviço na parte da tarde. 16 INÍCIO DA CURIOSIDADE Existem textos sem elementos coesivos que podem ser considerados coerentes. Um exemplo clássico é o texto “O que se diz”, de Carlos Drummond de Andrade (1985), que foi construído quase sem o uso de elementos de coesão. Veja um trecho: Que frio! Que vento! Que calor! Que caro! Que absurdo! Que bacana! Que tristeza! Que tarde! Que amor! Que besteira! Que esperança! [...] Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando pra frente. O que torna o texto coerente é o título e a sentença ao final do texto. FINAL DA CURIOSIDADE Encerramos, assim, esta unidade que abordou, de forma direcionada, a estrutura textual, o parágrafo-modelo, a coesão e a coerência. Esperamos que você possa apreender deste conteúdo os saberes necessários para a construção de seus textos. Síntese da Unidade Nesta unidade, você estudou que: O sentido de um texto é construído a partir de fatores externos a ele. A habilidade de produção e de leitura de um texto verbal escrito é definida pelo contexto, é uma unidade linguística maior em que uma unidade linguística menor está inserida no contexto que envolve o texto. Em relação ao texto, o contexto diz respeito ao que está fora do texto, informações que não estão explícitas, mas que devem ser acessadas para sua compreensão. O texto é tido como um todo estruturado de forma coesa, una e coerente. 17 Os elementos estruturais do texto são o saber partilhado, a informação nova, as provas, a referência e o tema. O texto dissertativo está estruturado em introdução, desenvolvimento e conclusão. O parágrafo-modelo deve seguir a mesma estrutura para que faça parte de um encadeamento progressivo do texto. A coesão é fator indispensável para produzir sentido em um texto. Por meio dos elementos de ligação, forma-se um texto coeso e com sentido próprio. A coesão dá-se por referência, por elipse, por escolha lexical e por substituição. A coerência é responsável pela interpretabilidade do texto. Coerência narrativa, argumentativa e descritiva são três modalidades de coerência textual. INÍCIO DO SAIBA MAIS Tanto a coesão quanto a coerência fazem do texto um todo organizado de sentido. Um texto com elementos coesivos equivocados resultará em uma comunicação igualmente equivocada. A coerência, por sua vez, diz respeito à lógica atribuída ao texto. Para enriquecer seu conhecimento sobre esse assunto, acesse o link http://www.filologia.org.br/xvi_cnlf/tomo_1/006.pdf e faça o download direto do artigo “A importância da coesão e da coerência em nossos textos”. Boa leitura! FIM DO SAIBA MAIS Referências ANDRADE, C. D. O poder ultrajovem. Rio de Janeiro: Record, 1985. FRENANDES, M. Coesão e Coerência. Toda Matéria, nov. 2017. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/coesao-e-coerencia/. Acesso em: 27 mar. 2018. http://www.filologia.org.br/xvi_cnlf/tomo_1/006.pdf https://www.todamateria.com.br/coesao-e-coerencia/ 18 KABARITE, S. Vila passa sem luxo, mas com samba no pé. Jornal de Brasília, Brasília, 26 fev. 2018. Disponível em: <http://www.jornaldebrasilia.com.br/brasil/vila-passa-sem-luxo-mas-com- samba-no-pe/>. Acesso em: 26 fev. 2018. KOCH, I. TRAVAGLIA, L. C. Texto e coerência. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2005. LADEIRA, P. “O governo foi além do quepodia na política anticíclica”, diz Mercadante. Folha de S. Paulo, São Paulo, 6 set. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/09/1678377-o-governo-foi-alem-do- que-podia-na-politica-anticiclica-diz-mercadante.shtml>. Acesso em: 26 fev. 2018. MACHADO, A. M. B. VILAÇA, M. L. C. A importância da coesão e coerência em nossos textos. In: CONGRESSO NACIONAL DE LINGUISTICA E FILOSOFIA, 16., 2012, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Letras, 2012, v. 16, n. 4, p. 76-83. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/xvi_cnlf/tomo_1/006.pdf>. Acesso em: 6 mar. 2018. MEDEIROS, J. B. Português instrumental. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2013. PERDIZ, P. 3 dicas para melhorar seus hábitos alimentares. Mais Equilíbrio, São Paulo, 2018. Disponível em: <http://www.maisequilibrio.com.br/bem- estar/alimentacao-mais-saudavel-7503.html>. Acesso em: 26 fev. 2018. http://www.jornaldebrasilia.com.br/brasil/vila-passa-sem-luxo-mas-com-samba-no-pe/ http://www.jornaldebrasilia.com.br/brasil/vila-passa-sem-luxo-mas-com-samba-no-pe/ http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/09/1678377-o-governo-foi-alem-do-que-podia-na-politica-anticiclica-diz-mercadante.shtml http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/09/1678377-o-governo-foi-alem-do-que-podia-na-politica-anticiclica-diz-mercadante.shtml http://www.maisequilibrio.com.br/bem-estar/alimentacao-mais-saudavel-7503.html http://www.maisequilibrio.com.br/bem-estar/alimentacao-mais-saudavel-7503.html
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