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ESAMC A INCONSTITUCIONALIDADE DA INSTAURAÇÃO DA REPÚBLICA E OS MEIOS PARA TORNÁ-LA LEGAL NO PONTO DE VISTA JURÍDICO RONEY FERREIRA NETO Santos – SP 2020 RONEY FERREIRA NETO A INCONSTITUCIONALIDADE DA INSTAURAÇÃO DA REPÚBLICA E OS MEIOS PARA TORNÁ-LA LEGAL NO PONTO DE VISTA JURÍDICO Trabalho de Conclusão de Curso ESAMC, apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito da Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação Orientador: João Augusto de Souza Dias Borgonovi Santos – SP 2020 Roney Ferreira Neto A INCONSTITUCIONALIDADE DA INSTAURAÇÃO DA REPÚBLICA E OS MEIOS PARA TORNÁ-LA LEGAL NO PONTO DE VISTA JURÍDICO Trabalho de Conclusão de Curso ESAMC, apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito da Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação Orientador/a: João Augusto de Souza Dias Borgonovi Aprovado em ___/___/___ _________________________________ NOME Orientadora _________________________________ NOME Examinador AGRADECIMENTOS Meus mais singelos agradecimentos direciono àqueles que foram fundamentais nesse projeto de conclusão de curso: professores que ao longo de todos estes 5 anos foram fundamentais no ensino e no amadurecimento acadêmico de cada um de nós alunos e aos amigos e colegas que se fizeram presente neste período. DEDICATÓRIA Sem a direção dada por Deus, a conclusão deste trabalho não seria possível. Por causa disso, dedico esta monografia a Ele. Com muita gratidão no coração. Não poderia deixar também de dedicar e agradecer a meus pais que, incondicionalmente, entregam a mim todo seu apoio e suporte. EPIGRAFE "Deus que me conceda esses últimos desejos — Paz e Prosperidade para o Brasil." - Dom Pedro II RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso visa trazer à luz uma reflexão a respeito dos rumos constitucionais do país, elencando uma breve comparação da primeira constituição que de forma natural justificou a independência do Brasil com a evolução política e social a qual resultou na atual constituição elaborada por um Congresso Constituinte – não uma assembleia como se faz crer a história. É importante conhecer a história de um país, para se formar uma nação unida. Palavras-chave: Constituição, Império do Brasil, Independência, Monarquia, República, Golpe ABSTRACT The present work, as a course conclusion one,brings to light a reflection on the country’s Constitutional course, listing a brief comparison of the first Constitution that naturally justified Brazil’s independence and lasted almost 60 years with the constitutionally contemporary political and social evolution. It is important to know the history of a country to form a nation. Key words: Constitution, Empire of Brazil, Independence, Monarchy, Republic, Blow SUMÁRIO Sumário INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 12 CAPITULO 1. ......................................................................................................................................... 14 1.1 INTRODUÇÃO AO SISTEMA MONÁRQUICO .............................................................................. 14 CAPITULO 2. ......................................................................................................................................... 22 2.1 O Governo Provisório após o Golpe Militar de 1889 e a Constituição de 1891 ............................. 22 CAPITULO 3. ......................................................................................................................................... 27 CONCLUSÃO ......................................................................................................................................... 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 31 ANEXO .................................................................................................................................................. 33 12 INTRODUÇÃO O estudo de uma Constituição, seja ela qual for, é sobre o contexto Político da época de sua vigência, então é o estudo do contexto político e social do período. O tema aqui abordado, pretende trazer ao cidadão, um questionamento acerca da vida política do país, perfazendo uma breve trajetória da independência do Brasil até os dias atuais, elencando os principais momentos do cenário político nacional que sofreu algumas reviravoltas constitucionais. A nação precisa conhecer a história do berço, o que é fundamental para a formação de uma sociedade que luta em prol de um objeto: O Brasil. 13 14 CAPITULO 1. 1.1 INTRODUÇÃO AO SISTEMA MONÁRQUICO No início da formação das sociedades, a Lei religiosa era o que determinava limites, direitos e obrigações a um povo. Com a evolução das sociedades e também da Igreja, surgiu o Direito Divino, uma espécie de associação da Igreja com os Líderes mais fortes de cada povo, surgindo assim, a aclamação desses líderes como Reis e Rainhas, Príncipes e Princesas, Duques e Duquesas, tornando a porção de Terras exploradas por esse povo nomeadas como Reinos, Principados, Ducados, surgindo assim, a mais longeva forma de governo conhecida. Em curta definição, o poder dos Reis tinha como fundamento a vontade de Deus. O Direito divino dos Reis advém da doutrina política religiosa absolutista, onde tal poder era concentrado na figura do Rei, exercendo o que compreendemos hoje, o poder executivo, legislativo e judiciário, cabendo ao Monarca, a nomeação de seus representantes em cada esfera. Atualmente o Direito Divino subsiste em Estados teocráticos, como por exemplo, no Vaticano, onde o Papa tem seu poder justificado em tal doutrina. No califado, onde sua concepção reconhece o Al Corão, concede tal poder aos Califas e o Japão tem na figura do Imperador um descendente de Amaterasu, deusa xintoísta do Sol. Das atuais Monarquias existentes, sobretudo as do Ocidente, são pautadas e limitadas no Parlamento, deixando assim o caráter absolutista de outrora. O Monarca possui suas prerrogativas, sendo chefe das forças armadas, outorgando Leis votadas pelo Parlamento, declarando Guerra a outras nações e orientando o Primeiro Ministro, autorizando este a formar um governo, respeitando assim a constituição, denominando o Estado como uma Monarquia Parlamentar Constitucional, separando o Poder Executivo, nas mãos do Primeiro 15 Ministro (premiê, chanceler ou presidente de governo), Chefe de Estado na figura do Rei, poder Legislativo nas mãos do Parlamento geralmente Bicameral e no Judiciário. No Brasil, o processo de independência do Reino de Portugal Brasil e Algarves era algo notório de ocorrer devido as crises políticas em Portugal e, tal ato pelo Português Dom Pedro I, então príncipe regente, em tornar o Brasil uma nação independente, trazia necessária e diversas ações que dessem segurança e autonomia política da recém independente nação brasileira, fazendo nascer assim a Primeira Constituição Política do Império do Brasil, em 1824. 16 1.1.2 A CONSTITUIÇÃO DE 1824Para iniciar este capítulo, precisamos entender a diferença entre Outorga e Promulgação de uma constituição: A primeira advém da vontade de uma vontade soberana de um Chefe de Estado que encontrando necessidade de meios para governar dá, concede ou ainda, confere um texto constitucional ao Estado que se governa. A segunda diz respeito a uma ação do Chefe de Estado em atestar, aprovar e por sua vez, oficializar um texto constitucional elaborado por uma Assembleia Constituinte. No caso da Primeira Constituição do Brasil, temos a Outorga da Constituição do Império do Brazil por Dom Pedro I aos 15 de março de 1824 e a seguir iremos nos debruçar nesta, para trazer elementos que fizeram a diferença na governabilidade do País, em especial no Segundo Reinado. Primeiro, a Constituição da Monarquia Parlamentar Constitucional outorgada no país, foi referendada pelas paróquias e assegurou não só a independência do Brasil como Estado Soberano, como também o livrou de uma possível união com Portugal, outrora Monarquia Absolutista que fora restaurada por Dom João VI. A primeira carta magna do país, ainda que outorgada, ou seja, imposta por Dom Pedro I, foi referendada pelas paróquias (equivalente aos estados), ou seja, aceita pela população, ainda que não houvesse tempo hábil na comunicação de todas as paróquias. Ela trazia elementos que asseguraram a unidade territorial nacional, bem como, a governança por cidadãos nacionais, impedindo assim qualquer levante por parte dos governantes ao retorno do status de Colônia, como desejava Portugal. No Livro Dossiê de Eduardo Romero de Oliveira, o escritor cita que “O ponto importante é justamente esta função instrumental do poder imperial, pelo qual o imperador adquire um papel principal na monarquia constitucional: garantia de 17 existência do regime monárquico, por que fiador e mantenedor da legalidade constitucional.” (p. 59) Em assim sendo, a representação nacional, era limitada a cidadãos brasileiros, afim de coibir qualquer português de assumir importante posição no governo e assim pôr em risco a recém-nascida soberania e independência nacional. Na mesma seara, o próprio Dom Pedro I, limitou à figura do Imperador do Brazil o único reinado neste país, não podendo então, assumir a coroa de quaisquer outro país que lhe conferia tal direito, evitando assim, uma união, fosse, principalmente com Portugal ou qualquer outro país. A carta magna, logo em seu início, definia a forma de governo e seu sistema, no artigo 3º: “ART 3º - O seu governo é monárquico, hereditário, constitucional e representativo” Tal definição, fazia com que o país fosse regido através de suas leis estabelecidas em uma constituição, e todos os seus governantes tinham o dever de respeitá-la. Em algumas das garantias individuais, era empregada devida importância sobre a religião, entregando aos cidadãos brasileiros o direito de liberdade de culto, desde que realizado dentro de residências e templos próprios para este fim e, ainda definia como religião do Estado Império do Brazil, a Católica Apostólica Romana: “ART 5º - A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser religião do Império” Se outrora o Brasil foi uma Colônia, após, vice Reino e, ainda, Reino Unido a Portugal e Algarve, regida por uma Monarquia Absolutista, onde o poder era concentrado no Rei de Portugal, a primeira constituição do Império do Brazil trouxe a divisão de poderes políticos definindo entre Legislativo, Executivo, Judiciário incluindo ainda, um quarto poder: O Poder Moderador, este conferido exclusivamente ao Imperador, afim de anular decisões de outros poderes, caso fosse prejudicial ao país, bem como dissolver o parlamento e demitir o primeiro ministro e deputados, além de suspender os magistrados do Judiciário, caso fosse averiguado alguma irregularidade nos atos praticados por estes ou ainda, por corrupção. Ainda sobre a separação de poderes, O Poder Legislativo ficou a cargo da Assembleia Geral que era composta por 2 (duas) câmaras (legislativo bicameral), 18 sendo estas a Câmara dos Deputados e Câmara dos Senadores ou simplesmente Senado. (artigo 13 da Carta Magna de 1824) Os cargos de Senadores eram vitalícios e exigia-se requisitos para assumi-los, quais sejam, “Art. 45 – Para ser Senador requer-se: (i) que seja cidadão brasileiro, no gozo de seus direitos políticos; (ii) idade mínima de 40 anos; (iii) saber, capacidade e virtudes; (iv) rendimento anual mínimo de oitocentos mil réis. O Sistema Eleitoral trazia o voto indireto e censitário, ou seja, necessitava haver renda mínima para votar, bem como para se candidatar a um cargo político. Os eleitores paroquiais* votavam nos chamados Eleitores de Província* que por sua vez, votavam nos deputados e senadores, como redigia a letra de lei Constitucional: “Art. 90. As nomeações dos Deputados, e Senadores para a Assembléa Geral, e dos Membros dos Conselhos Geraes das Provincias, serão feitas por Eleições indirectas, elegendo a massa dos Cidadãos activos em Assembléas Parochiaes os Eleitores de Provincia, e estes os Representantes da Nação, e Provincia. Art. 91. Têm voto nestas Eleições primarias: I. Os Cidadãos Brazileiros, que estão no gozo de seus direitos politicos. II. Os Estrangeiros naturalisados.” Contudo, trazia também àquela parcela da população que ficava à margem das eleições: “Art. 92. São excluidos de votar nas Assembléas Parochiaes. I. Os menores de vinte e cinco annos, nos quaes se não comprehendem os casados, e Officiaes Militares, que forem maiores de vinte e um annos, os Bachares Formados, e Clerigos de Ordens Sacras. II. Os filhos familias, que estiverem na companhia de seus pais, salvo se servirem Officios publicos. III. Os criados de servir, em cuja classe não entram os Guardalivros, e primeiros caixeiros das casas de commercio, os Criados da Casa Imperial, que não forem de galão branco, e os administradores das fazendas ruraes, e fabricas. 19 IV. Os Religiosos, e quaesquer, que vivam em Communidade claustral. V. Os que não tiverem de renda liquida annual cem mil réis por bens de raiz, industria, commercio, ou Empregos.” O Cargo do Monarca era vitalício, sendo substituído geralmente por sua prole mais velha ou homem. Art. 116. O Senhor D. Pedro I, por Unanime Acclamação dos Povos, actual Imperador Constittucional, e Defensor Perpetuo, Imperará sempre no Brazil. Art. 117. Sua Descendencia legitima succederá no Throno, Segundo a ordem regular do primogenitura, e representação, preferindo sempre a linha anterior ás posteriores; na mesma linha, o gráo mais proximo ao mais remoto; no mesmo gráo, o sexo masculino ao feminino; no mesmo sexo, a pessoa mais velha á mais moça. O Poder executivo era exercido concorrentemente por Sua Majestade o Imperador e pelos Ministros de Estado. Interessante frisar que grande responsável pela longevidade desta primeira constituição e seu sucesso, está o Poder Moderador, sendo estabelecido pelo artigo 98: “[...] a Chave de toda a organização política, é delegado privativamente ao Imperador como Chefe Supremo da Nação e seu primeiro representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos” As funções que o Poder Moderador atribuía ao Imperador estavam dispostas no artigo 101: “Art. 101. O Imperador exerce o Poder Moderador: 1. Nomeando os Senadores; 2. Convocando a Assembleia Geral extraordinariamente, quando necessário; 3. Sancionando os Decretos e Resoluções da Assembleia Geral; 4. Aprovando e suspendendo as Resoluções dos Conselhos Provinciais; 20 5. Prorrogando/adiando a Assembleia Geral e dissolvendo a Câmara dos Deputados; 6. Nomeando e demitindo livremente os Ministros de Estado; 7. Suspendendo os Magistrados; 8. Perdoando/moderando as penas impostas aosRéus condenados por sentença; 9. Concedendo anistia em casos urgentes.” “Este poder atuaria, enfim, como instrumento de pressão e intervenção nos demais poderes, alegando a “salvação do Estado” em situações de ameaça à ordem pública.” Nesta prima Carta Magna, também foi a pioneira em salvaguardar os direitos individuais inalienáveis dos cidadãos em seu artigo 179, equivalente ao artigo 5º da atual Carta Magna de 1988, resguardadas as diferenças e circunstâncias de cada época, sendo estes considerados qualquer pessoa livre natural ou naturalizada no Império do Brazil, bem como, direito à Liberdade de expressão, religião, opinião, segurança pessoal e à propriedade. Garantia ainda, o princípio da não retroatividade das leis, bem como, petição aos Poderes Legislativo e Executivo por quaisquer cidadãos, além de garantir educação primária gratuita a todos os cidadãos. Tais direitos não abrangiam os escravos, pois não eram considerados cidadãos, sendo tratados como propriedade de seus senhores, nos padrões sociais da época em que era a forma de mão de obra utilizada nas lavouras. Algo impensável nos dias contemporâneos. O artigo 179, era o que retratava fielmente o caráter liberal ante a outras constituições de sua época. Podemos notar que houveram diversas revoltas e tentativas de se fazer respeitar a Constituição Outorgada – imposta – pelo Imperador Dom Pedro I, entre os que seriam mais revolucionários querendo a República para o País, com a participação massiva do Partido Republicano buscando palco na Câmara dos Deputados, bem como, os próprios monarquistas que queriam fazer valer a Constituição do Império do Brazil, o que veio ocorrer somente no Segundo Reinado, de Dom Pedro II, quando do período mais próspero e respeitoso da História do Brasil, no ponto de vista de muitos historiadores. Joaquim Nabuco, diplomata do império e jornalista, afirmou que “em um país de instituições fracas como o Brasil, seria difícil construir uma democracia sólida 21 como a americana apenas pela mudança do regime monárquico pelo republicano. “A grande questão para a democracia brasileira não é a monarquia, é a escravidão”, dizia”. (1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil – Gomes, Laurentino) A primeira Constituição do país foi a mais longeva até atualmente, completou 67 anos. 22 CAPITULO 2. 2.1 O Governo Provisório após o Golpe Militar de 1889 e a Constituição de 1891 A “Proclamação” da República foi um evento histórico ocorrido por diversos contextos de desagrado a múltiplas classes sociais, sobretudo, a Militar. Fatores como a Guerra do Paraguai ocorrida entre 1864 e 1870, que apesar de ganhar um forte apelo abolicionista – pois deu a liberdade aos escravos que aderissem à causa da guerra como voluntários - trouxe grande desprestígio para o País, apesar de ter ganho a disputa, ficou com a imagem ligeiramente embaçada por sua crueldade em campo de batalha e as condições de seus militares, que após a guerra, não obtiveram reconhecimento suficiente ou cumprimento das promessas de indenização por parte do imperador o que causou indignação e levou a militares elaborarem declarações com duras críticas à monarquia, isto levou à censura por parte do Imperador, fazendo com que Marechal fosse insubordinado ao não acatar as ordens para punição de tais militares. Isto levou grande parte dos militares a tornarem-se adeptos à causa Republicana. Também a Lei de Abolição da Escravidão, de 13 de maio de 1888 pela Princesa Isabel, que alforriou os escravos que outrora eram propriedades privadas de seus senhores, donos de cafezais, gerou descontentamento entre os fazendeiros aristocratas por não haver tido indenização por suas perdas, resultando em declínio de suas fazendas e de seus lucros. Se outrora a Independência do Brasil foi conturbada e marcada por diversos conflitos internos entre Portugueses e Brasileiros, a Proclamação da República promovida pelo Golpe militar de 1889 não sofreu resistências de dentro do País por alguns motivos, dentre eles, a lenta disseminação da informação à época e também a inércia do Imperador Dom Pedro II em lutar contra o movimento, temendo derramamento de sangue que julgava desnecessário, contudo, quando já da república aderida ao cenário nacional, não houve aceitação por grande parte da população o que desencadeou conflitos em todo território, sufocado pelo exército 23 republicano que a mando de Marechal Deodoro da Fonseca, matou cerca de 4 mil pessoas, num país que tinha cerca de 10 milhões de habitantes, dados que demonstram claramente a insatisfação com os rumos que se delineavam a política do país. Em contrapartida, o reconhecimento da recém declarada República dos Estados Unidos do Brasil por outras nações, não seria algo fácil, pois, era resultado de um Golpe militar e sofreria resistências, principalmente na Europa, por questões conflituosas como dívidas externas, dinastias reinantes naquele continente que muitas ligações haviam com a família Imperial Brasileira, questão essa que dava conotação de Ilegitimidade à Proclamação da República no Brasil. A Rússia, por exemplo, só reconhece a República dos Estados Unidos do Brasil após a morte de Dom Pedro II. E a Grã Bretanha somente após a promulgação da Primeira Constituição republicana. A seguir, tabela cronológica dos fatos: RECONHECIMENTO FORMAL / EVENTO PAÍS / EVENTO RELEVANTE NO BRASIL 18 e 19/11/1889 Governo Provisório comunica respeito aos compromissos assumidos 03/12/1889 Argentina 05/12/1889 Uruguai 13/12/1889 Chile 14/12/1889 Governo Provisório decreta a “grande naturalização” 20/12/1889 Paraguai 27/12/1889 Peru 03/01/1890 Bolívia 07/01/1890 Venezuela 27/01/1890 México 29/01/1890 Estados Unidos da América e Equador 22/02/1890 Sereníssima República de San Marino 20/06/1890 França 15/09/1890 Eleição do primeiro Congresso Nacional como Assembleia Constituinte 24 18/09/1890 Portugal 26/09/1890 Suíça 23/10/1890 Santa Sé 26/10/1890 Itália 29/11/1890 Império Alemão e Reino da Suécia e Noruega 06/12/1890 Reino da Bélgica 24/02/1891 Promulgação da primeira Constituição da República 04/05/1891 Grã-Bretanha 05/12/1891 Morte de D. Pedro II 26/05/1892 Rússia (Fontes: BRANCATO, 1989; CARVALHO, 1998) Outro fator também mencionado era a insegurança que o movimento deixou pairar, se comparado com os países vizinhos ao Brasil, por medo de que este viesse a se tornar pequenas “republiquetas”. De insatisfeito com o presidente de Conselhos de Ministro do Império à Primeiro Presidente do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca aos 15 de Novembro de 1889, com a organização do exército brasileiro, declarou extinta a monarquia no Brasil, tomando para si o comando do País, no primeiro momento de transição de Sistema e Forma de Governo, governando provisoriamente, isto pois, não fora eleito de forma alguma, seja voto direto ou indireto. Inicialmente, em suas atribuições, a bandeira Imperial foi substituída pela bandeira que conhecemos hoje, ainda que houvesse uma bandeira com claras características da bandeira estadunidense, esta não foi oficializada, sendo utilizada apenas nos navios de travessia da família imperial para a Europa, após terem sidos expulsos do país e deu fim ao Poder Moderador. Assim então, deram início a alteração dos símbolos da pátria, adotando o brasão da república que conhecemos hoje com as armas, representando a proclamação da república por meio de golpe e assim ficou conhecida como a República da Espada. A intenção era apagar o passado monárquico e exaltar a república e seus feitores e, com isso, foram alterados nomes de ruas, escolas, repartições públicas e até mesmo cidades inteiras tiveram suas denominaçõesalteradas para homenagear 25 os “heróis” republicanos. Estátuas, obeliscos, chafarizes e outros monumentos foram construídos em ritmo frenético para “celebrar” o acontecimento. Tantas alterações repentinas, visava o novo regime, conquistar corações e mentes dos brasileiros ainda arredios à Proclamação da república. O que levou a um excessivo gasto do orçamento público e colaborou para as crises subsequentes. Antes mesmo da promulgação da Constituição de 1891, Marechal Deodoro fora generoso com os Ministros do governo provisório, outrora contribuintes para a derrubada da monarquia em prol do golpe republicano: conferiu a todos a patente de general, em retribuição aos serviços prestados à pátria na mudança do regime. O monarquista Eduardo Prado reagiu ironicamente “O quinze de novembro não foi, portanto, um ato heroico; foi um bom negócio”. Com as crises econômicas decorrentes da abolição da escravidão, o novo governo provisório se empenhou em industrializar o país, fazendo emissão de papel moeda sem lastro ouro (o valor em ouro que se tinha nos cofres públicos), pois o Brasil não tinha essa força financeira em caixa na época, com o intuito de promover crédito às empresas e pequenas indústrias para que o mercado migrasse do sistema agrário para ingressar no sistema industrial capitalista, o que trouxe mais problemas, pois, moeda sem valor como foi emitida, não trouxe o crescimento desejado e deflacionou ainda mais a economia. Com o início da República, a oligarquia agrária que era ainda o motor impulsionador da economia, queria sua participação no novo governo, ao paço que os liberais defendiam menos centralização de poder nas mãos do Chefe de Governo e Estado, com isso deu-se início a troca de favores em nome de se conseguir governar, surgindo assim a primeira assembleia constituinte, nascendo a primeira Constituição Republicana de 1891, segunda constituição do Brasil, tornando o sistema de governo Presidencialista Federalista, deixando a monarquia para o passado. Agora, as províncias se tornam estados, tendo mais liberdade na sua administração inclusive com elaboração de Constituição Estadual, desde que haja observância à Carta Magna Nacional. Com a Federalização dos estados, abriu-se a possibilidade de autonomia dos entes quanto às negociações internacionais independentes de autorização ou manipulação do poder central do Presidente, bem como, a criação de policias estaduais. 26 Nas suas principais alterações temos o voto que outrora censitário, tornou- se universal, porém, apenas para homens maiores de 21 anos de idade e alfabetizado, tornando o voto aberto, que favoreceu as oligarquias, pios havia maior controle do seu eleitorado de maioria rural. Houve também a separação do Estado e da Igreja, tornando o Estado Laico, deixando a União de ser católica, podendo agregar todas as religiões, isso fez com que houvesse alterações na Instituição do casamento que deixa de ser apenas religioso tornando-se simbólico e passa a ser Civil. Com a constituição republicana, houve a primeira eleição, porém indireta, com escolha dos políticos para a Presidência da República, tornando assim Marechal Deodoro como Presidente de fato, deixando o caráter provisório. Apesar da mudança abrupta do sistema e forma de governo, a constituição trouxe elementos já existentes da anterior, monárquica, como a separação dos poderes, com exceção do poder moderador, ficando o poder executivo, legislativo e judiciário e o que antes era conhecido como Império do Brazil passou a chamar-se República dos Estados Unidos do Brasil e aqui friso a inspiração tanto na Constituição quanto no nome buscada nos Estados Unidos da América. 27 CAPITULO 3. Como se legitima um golpe? A intenção de Marechal Deodoro era somente impedir a nomeação do Presidente de conselho do Império. Culminou em seu encontro com os militares insatisfeitos e com ideais progressistas, republicanos, que acabou sendo endossado pelo Marechal, dando incursão ao Golpe que não foi aceito pela nação – foi imposto e dessa forma cada ato precisava ser pensado e executado de forma ágil. A proclamação da República, expulsão da família imperial do Brasil ao exílio na Europa, a censura à imprensa que gerava críticas à Marechal e a seu governo provisório. A intenção desse grupo em trazer a República como renovação ao país, destarte outras nações vizinhas, não logrou êxito pois cooptou a economia nacional com aumentos de seus salários, fracasso na abertura da economia, e aquisições de luxos que outrora não existiam na Monarquia. Era urgente fomentar a legislação para trazer legitimidade ao novo Regime de Governo e para tal criou-se a assembleia constituinte composta por políticos republicanos – extirpados os conservadores -, fazendeiros cafeicultores e aristocratas, surgindo assim uma nova legislação constituinte em 1891, que desse legitimidade ao Golpe feito pouco mais de um ano antes. Ainda no governo provisório, como visto anteriormente, fazia parte da tentativa de legitimar o golpe, a alteração de símbolos pátrios que fizessem qualquer menção à Monarquia de outrora, trocando nomes de ruas, praças, repartições públicas e até mesmo cidades. O golpe mexeu com a vida de todos, pios, de maneira forçada e autoritária, impôs aos brasileiros um novo ritmo de vida dos quais se viram obrigados a abrir mão, cada vez mais, comparado quando do império: a liberdade de expressão diminuíra drasticamente, todo novo decreto trazia a tona as falhas vindas do regime monárquico que culminou no fracasso de transição da monarquia para a republica e que, duraria por toda a primeira república. O reconhecimento do Brasil como República custou aos cofres públicos tanto quanto custara a independência em 1822. O conjunto de ações para se tornar legítimo um golpe militar só não implodiu, abrindo espaço para a restauração da monarquia graças ao exilio da família imperial e aos duros comandos de militares que assumiram o poder republicano numa 28 verdadeira ditadura que, mais tarde, voltaria a mostrar sua força em sucessivos golpes. 29 CONCLUSÃO No presente, buscamos compreender de que maneira se tronou possível do ponto de vista Jurídico, a instauração da República que não fora requerida pela nação, mas imposta por um grupo exclusivo de pessoas insatisfeitas com seus interesses inatingidos. Transpassado o tempo de vácuo entre o fim drástico do sistema monárquico para abrupta criação de uma República, vislumbrou-se no federalismo estadunidense – sem deixar o coronelismo de lado – inspirações para o novo governo sob o grito de Ordem e Progresso: Ordem pelos militares, Progresso através dos militares. A República Brasileira nasceu e cresceu defeituosa de características próprias e morre a cada dia afundada cada vez mais na sua elaboração que jamais foi revista, mesmo após 6 (seis) constituições. Expurgados os fatores sociais de cada período, notamos que ambas as constituições aqui estudadas, trouxeram ao anseio popular a defesa de direitos individuais. A diferença, comparada a primeira constituição do país com as demais, está na chave que direcionada à cultura assistencialista que transformou a sociedade atual e, sobre ser algo positivo – ou não – deixo a reflexão. Enquanto a primeira constituição do Brasil Império – A mais longeva – garantiu estabilidade e continuidade, até o golpe, as demais duraram 43 anos (Constituição de 1891), 3 anos (Constituição de 1934), 9 anos (Constituição de 1937), 21 anos (Constituição de 1946 e 1967) e a atual Constituição de 1988, sempre à sombra da instabilidade política e jurídica. O problema que encontramos atualmente na nossa política e em nossas leis constituintes, são heranças trazidas de uma república forjada sob espada e ameaças àqueles que foram aclamados pelapopulação como defensor da nação. Represálias aos insatisfeitos com o novo plano de governo que rompeu com tudo o que foi pensado para o crescimento do país sob a égide do Império trazendo ao Brasil um retrocesso sem precedentes na história. Perdemos prestígio internacional, regredimos a todas conquistas realizadas pelo império, emburrecemos a nação. 30 Se outrora a educação básica era gratuita para o ensino básico, após a república, a necessidade de se apagar qualquer referência sobre o passado monárquico do país, deturpou a história nas escolas, dirimiram as conquistas militares a frangalhos e os direitos mais que se esperava de uma evolução social somente apareceram tardiamente com a quebra do sistema e sua reformulação com bases sempre fixadas nos interesses daqueles que sempre estiveram à frente do poder. E estamos com uma sociedade em formação que ainda engatinha nos aprendizados da democracia. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Capítulo 1: Constituição24 – Constituição Política do Império do Brazil (DE 25 de MARÇO DE 1824) – Disponível em <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.html> Primeira Constituição do Brasil – Canal Algo Sobre História, Dispolível em <http://youtu.be/EtnVCNFhaAc> Entendendo a Constituição Imperial de 1824 – Canal Parabólica – Disponível em https://youtu.br/C4DWSjruks0 Oliveira, Eduardo Romero de - A ideia de Império e a fundação da Monarquia Constitucional no Brasil (Portugal-Brasil, 1772 – 1824) Capítulo 2: Reconhecimento do Regime Republicano, Bonafé, Luigi, Disponivel em https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira- republica/RECONHECIMENTO%20DO%20REGIME%20REPUBLICANO.pdf 1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil – Gomes, Laurentino Lemos, Renato; Benjamin Constant: bida e história, p. 468 Governo Deodoro da Fonseca – Brasil Escola, Disponível em www.brasilescola.com.br/historiab/governo-deodoro-fonseca.htm http://youtu.be/EtnVCNFhaAc https://youtu.br/C4DWSjruks0 https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/RECONHECIMENTO%20DO%20REGIME%20REPUBLICANO.pdf https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/RECONHECIMENTO%20DO%20REGIME%20REPUBLICANO.pdf http://www.brasilescola.com.br/historiab/governo-deodoro-fonseca.htm 32 Constituição de 1891 – Bezerra, Juliana – Site Toda Matéria, Disponível em www.todamateria.com.br/constituicao-de-1891/ Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1891) Disponível em www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm http://www.todamateria.com.br/constituicao-de-1891/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.html 33 ANEXO Tabela, Brancato, 1989; Carvalho 1989
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