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TCC - Roney Ferreira Neto 1160334

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ESAMC 
 
 
 
 
 
 
 
A INCONSTITUCIONALIDADE DA INSTAURAÇÃO DA REPÚBLICA E 
OS MEIOS PARA TORNÁ-LA LEGAL NO PONTO DE VISTA 
JURÍDICO 
 
 
 
 
 
 
 
RONEY FERREIRA NETO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Santos – SP 
2020 
 
 
 
RONEY FERREIRA NETO 
 
 
 
A INCONSTITUCIONALIDADE DA INSTAURAÇÃO DA REPÚBLICA E 
OS MEIOS PARA TORNÁ-LA LEGAL NO PONTO DE VISTA 
JURÍDICO 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
ESAMC, apresentado como exigência 
parcial para a obtenção do título de 
Bacharel em Direito da Escola Superior 
de Administração, Marketing e 
Comunicação 
Orientador: João Augusto de Souza 
Dias Borgonovi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Santos – SP 
2020 
 
 
 
Roney Ferreira Neto 
 
 
 
A INCONSTITUCIONALIDADE DA INSTAURAÇÃO DA REPÚBLICA E 
OS MEIOS PARA TORNÁ-LA LEGAL NO PONTO DE VISTA 
JURÍDICO 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
ESAMC, apresentado como exigência 
parcial para a obtenção do título de 
Bacharel em Direito da Escola Superior 
de Administração, Marketing e 
Comunicação 
Orientador/a: João Augusto de Souza 
Dias Borgonovi 
 
 
 
Aprovado em ___/___/___ 
 
 
 
 
_________________________________ 
NOME 
Orientadora 
 
_________________________________ 
NOME 
Examinador 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
Meus mais singelos agradecimentos direciono àqueles que foram 
fundamentais nesse projeto de conclusão de curso: professores que ao longo de todos 
estes 5 anos foram fundamentais no ensino e no amadurecimento acadêmico de cada 
um de nós alunos e aos amigos e colegas que se fizeram presente neste período. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
Sem a direção dada por Deus, a conclusão deste 
trabalho não seria possível. Por causa disso, dedico esta 
monografia a Ele. Com muita gratidão no coração. 
Não poderia deixar também de dedicar e agradecer a meus 
pais que, incondicionalmente, entregam a mim todo seu 
apoio e suporte. 
 
 
 
 
 
EPIGRAFE 
 
 
"Deus que me conceda esses últimos desejos — Paz e 
Prosperidade para o Brasil." 
- Dom Pedro II 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O presente Trabalho de Conclusão de Curso visa trazer à luz uma 
reflexão a respeito dos rumos constitucionais do país, elencando uma breve 
comparação da primeira constituição que de forma natural justificou a independência 
do Brasil com a evolução política e social a qual resultou na atual constituição 
elaborada por um Congresso Constituinte – não uma assembleia como se faz crer a 
história. 
É importante conhecer a história de um país, para se formar uma 
nação unida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palavras-chave: Constituição, Império do Brasil, Independência, Monarquia, 
República, Golpe 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The present work, as a course conclusion one,brings to light a 
reflection on the country’s Constitutional course, listing a brief comparison of the first 
Constitution that naturally justified Brazil’s independence and lasted almost 60 years 
with the constitutionally contemporary political and social evolution. 
It is important to know the history of a country to form a nation. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Key words: Constitution, Empire of Brazil, Independence, Monarchy, Republic, Blow 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
Sumário 
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 12 
CAPITULO 1. ......................................................................................................................................... 14 
1.1 INTRODUÇÃO AO SISTEMA MONÁRQUICO .............................................................................. 14 
CAPITULO 2. ......................................................................................................................................... 22 
2.1 O Governo Provisório após o Golpe Militar de 1889 e a Constituição de 1891 ............................. 22 
CAPITULO 3. ......................................................................................................................................... 27 
CONCLUSÃO ......................................................................................................................................... 29 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 31 
ANEXO .................................................................................................................................................. 33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O estudo de uma Constituição, seja ela qual for, é sobre o contexto Político 
da época de sua vigência, então é o estudo do contexto político e social do período. 
O tema aqui abordado, pretende trazer ao cidadão, um questionamento 
acerca da vida política do país, perfazendo uma breve trajetória da independência do 
Brasil até os dias atuais, elencando os principais momentos do cenário político 
nacional que sofreu algumas reviravoltas constitucionais. 
A nação precisa conhecer a história do berço, o que é fundamental para a 
formação de uma sociedade que luta em prol de um objeto: O Brasil. 
 
13 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
CAPITULO 1. 
 
1.1 INTRODUÇÃO AO SISTEMA MONÁRQUICO 
 
 
No início da formação das sociedades, a Lei religiosa era o que 
determinava limites, direitos e obrigações a um povo. Com a evolução das sociedades 
e também da Igreja, surgiu o Direito Divino, uma espécie de associação da Igreja com 
os Líderes mais fortes de cada povo, surgindo assim, a aclamação desses líderes 
como Reis e Rainhas, Príncipes e Princesas, Duques e Duquesas, tornando a porção 
de Terras exploradas por esse povo nomeadas como Reinos, Principados, Ducados, 
surgindo assim, a mais longeva forma de governo conhecida. Em curta definição, o 
poder dos Reis tinha como fundamento a vontade de Deus. 
 
O Direito divino dos Reis advém da doutrina política religiosa 
absolutista, onde tal poder era concentrado na figura do Rei, exercendo o que 
compreendemos hoje, o poder executivo, legislativo e judiciário, cabendo ao Monarca, 
a nomeação de seus representantes em cada esfera. 
 
Atualmente o Direito Divino subsiste em Estados teocráticos, 
como por exemplo, no Vaticano, onde o Papa tem seu poder justificado em tal 
doutrina. No califado, onde sua concepção reconhece o Al Corão, concede tal poder 
aos Califas e o Japão tem na figura do Imperador um descendente de Amaterasu, 
deusa xintoísta do Sol. 
 
Das atuais Monarquias existentes, sobretudo as do Ocidente, são 
pautadas e limitadas no Parlamento, deixando assim o caráter absolutista de outrora. 
 
 O Monarca possui suas prerrogativas, sendo chefe das forças 
armadas, outorgando Leis votadas pelo Parlamento, declarando Guerra a outras 
nações e orientando o Primeiro Ministro, autorizando este a formar um governo, 
respeitando assim a constituição, denominando o Estado como uma Monarquia 
Parlamentar Constitucional, separando o Poder Executivo, nas mãos do Primeiro 
15 
 
 
 
Ministro (premiê, chanceler ou presidente de governo), Chefe de Estado na figura do 
Rei, poder Legislativo nas mãos do Parlamento geralmente Bicameral e no Judiciário. 
No Brasil, o processo de independência do Reino de Portugal 
Brasil e Algarves era algo notório de ocorrer devido as crises políticas em Portugal e, 
tal ato pelo Português Dom Pedro I, então príncipe regente, em tornar o Brasil uma 
nação independente, trazia necessária e diversas ações que dessem segurança e 
autonomia política da recém independente nação brasileira, fazendo nascer assim a 
Primeira Constituição Política do Império do Brasil, em 1824. 
 
16 
 
 
 
 
 
1.1.2 A CONSTITUIÇÃO DE 1824Para iniciar este capítulo, precisamos entender a diferença entre Outorga e 
Promulgação de uma constituição: 
A primeira advém da vontade de uma vontade soberana de um Chefe de 
Estado que encontrando necessidade de meios para governar dá, concede ou ainda, 
confere um texto constitucional ao Estado que se governa. 
A segunda diz respeito a uma ação do Chefe de Estado em atestar, aprovar 
e por sua vez, oficializar um texto constitucional elaborado por uma Assembleia 
Constituinte. 
No caso da Primeira Constituição do Brasil, temos a Outorga da 
Constituição do Império do Brazil por Dom Pedro I aos 15 de março de 1824 e a seguir 
iremos nos debruçar nesta, para trazer elementos que fizeram a diferença na 
governabilidade do País, em especial no Segundo Reinado. 
Primeiro, a Constituição da Monarquia Parlamentar Constitucional 
outorgada no país, foi referendada pelas paróquias e assegurou não só a 
independência do Brasil como Estado Soberano, como também o livrou de uma 
possível união com Portugal, outrora Monarquia Absolutista que fora restaurada por 
Dom João VI. 
 A primeira carta magna do país, ainda que outorgada, ou seja, imposta 
por Dom Pedro I, foi referendada pelas paróquias (equivalente aos estados), ou seja, 
aceita pela população, ainda que não houvesse tempo hábil na comunicação de todas 
as paróquias. Ela trazia elementos que asseguraram a unidade territorial nacional, 
bem como, a governança por cidadãos nacionais, impedindo assim qualquer levante 
por parte dos governantes ao retorno do status de Colônia, como desejava Portugal. 
 
No Livro Dossiê de Eduardo Romero de Oliveira, o escritor cita que “O 
ponto importante é justamente esta função instrumental do poder imperial, pelo qual 
o imperador adquire um papel principal na monarquia constitucional: garantia de 
17 
 
 
 
existência do regime monárquico, por que fiador e mantenedor da legalidade 
constitucional.” (p. 59) 
Em assim sendo, a representação nacional, era limitada a cidadãos 
brasileiros, afim de coibir qualquer português de assumir importante posição no 
governo e assim pôr em risco a recém-nascida soberania e independência nacional. 
Na mesma seara, o próprio Dom Pedro I, limitou à figura do Imperador do 
Brazil o único reinado neste país, não podendo então, assumir a coroa de quaisquer 
outro país que lhe conferia tal direito, evitando assim, uma união, fosse, 
principalmente com Portugal ou qualquer outro país. 
A carta magna, logo em seu início, definia a forma de governo e seu 
sistema, no artigo 3º: 
“ART 3º - O seu governo é monárquico, hereditário, constitucional e 
representativo” 
Tal definição, fazia com que o país fosse regido através de suas leis 
estabelecidas em uma constituição, e todos os seus governantes tinham o dever de 
respeitá-la. 
Em algumas das garantias individuais, era empregada devida importância 
sobre a religião, entregando aos cidadãos brasileiros o direito de liberdade de culto, 
desde que realizado dentro de residências e templos próprios para este fim e, ainda 
definia como religião do Estado Império do Brazil, a Católica Apostólica Romana: 
“ART 5º - A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser religião 
do Império” 
Se outrora o Brasil foi uma Colônia, após, vice Reino e, ainda, Reino Unido 
a Portugal e Algarve, regida por uma Monarquia Absolutista, onde o poder era 
concentrado no Rei de Portugal, a primeira constituição do Império do Brazil trouxe a 
divisão de poderes políticos definindo entre Legislativo, Executivo, Judiciário incluindo 
ainda, um quarto poder: O Poder Moderador, este conferido exclusivamente ao 
Imperador, afim de anular decisões de outros poderes, caso fosse prejudicial ao país, 
bem como dissolver o parlamento e demitir o primeiro ministro e deputados, além de 
suspender os magistrados do Judiciário, caso fosse averiguado alguma irregularidade 
nos atos praticados por estes ou ainda, por corrupção. 
Ainda sobre a separação de poderes, O Poder Legislativo ficou a cargo da 
Assembleia Geral que era composta por 2 (duas) câmaras (legislativo bicameral), 
18 
 
 
 
sendo estas a Câmara dos Deputados e Câmara dos Senadores ou simplesmente 
Senado. (artigo 13 da Carta Magna de 1824) Os cargos de Senadores eram vitalícios 
e exigia-se requisitos para assumi-los, quais sejam, “Art. 45 – Para ser Senador 
requer-se: (i) que seja cidadão brasileiro, no gozo de seus direitos políticos; (ii) idade 
mínima de 40 anos; (iii) saber, capacidade e virtudes; (iv) rendimento anual mínimo 
de oitocentos mil réis. 
O Sistema Eleitoral trazia o voto indireto e censitário, ou seja, necessitava 
haver renda mínima para votar, bem como para se candidatar a um cargo político. Os 
eleitores paroquiais* votavam nos chamados Eleitores de Província* que por sua vez, 
votavam nos deputados e senadores, como redigia a letra de lei Constitucional: 
“Art. 90. As nomeações dos Deputados, e Senadores para a 
Assembléa Geral, e dos Membros dos Conselhos Geraes das 
Provincias, serão feitas por Eleições indirectas, elegendo a 
massa dos Cidadãos activos em Assembléas Parochiaes os 
Eleitores de Provincia, e estes os Representantes da Nação, e 
Provincia. 
Art. 91. Têm voto nestas Eleições primarias: 
I. Os Cidadãos Brazileiros, que estão no gozo de seus direitos 
politicos. 
 II. Os Estrangeiros naturalisados.” 
 
Contudo, trazia também àquela parcela da população que ficava à 
margem das eleições: 
“Art. 92. São excluidos de votar nas Assembléas Parochiaes. 
I. Os menores de vinte e cinco annos, nos quaes se não 
comprehendem os casados, e Officiaes Militares, que forem 
maiores de vinte e um annos, os Bachares Formados, e Clerigos 
de Ordens Sacras. 
II. Os filhos familias, que estiverem na companhia de seus pais, 
salvo se servirem Officios publicos. 
III. Os criados de servir, em cuja classe não entram os 
Guardalivros, e primeiros caixeiros das casas de commercio, os 
Criados da Casa Imperial, que não forem de galão branco, e os 
administradores das fazendas ruraes, e fabricas. 
19 
 
 
 
IV. Os Religiosos, e quaesquer, que vivam em Communidade 
claustral. 
V. Os que não tiverem de renda liquida annual cem mil réis por 
bens de raiz, industria, commercio, ou Empregos.” 
 
 
 O Cargo do Monarca era vitalício, sendo substituído geralmente por sua 
prole mais velha ou homem. 
Art. 116. O Senhor D. Pedro I, por Unanime Acclamação dos 
Povos, actual Imperador Constittucional, e Defensor Perpetuo, 
Imperará sempre no Brazil. 
 Art. 117. Sua Descendencia legitima succederá no Throno, 
Segundo a ordem regular do primogenitura, e representação, 
preferindo sempre a linha anterior ás posteriores; na mesma 
linha, o gráo mais proximo ao mais remoto; no mesmo gráo, o 
sexo masculino ao feminino; no mesmo sexo, a pessoa mais 
velha á mais moça. 
 
O Poder executivo era exercido concorrentemente por Sua Majestade o 
Imperador e pelos Ministros de Estado. 
Interessante frisar que grande responsável pela longevidade desta primeira 
constituição e seu sucesso, está o Poder Moderador, sendo estabelecido pelo artigo 
98: “[...] a Chave de toda a organização política, é delegado privativamente ao 
Imperador como Chefe Supremo da Nação e seu primeiro representante, para que 
incessantemente vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia 
dos demais poderes políticos” 
As funções que o Poder Moderador atribuía ao Imperador estavam dispostas 
no artigo 101: 
“Art. 101. O Imperador exerce o Poder Moderador: 
1. Nomeando os Senadores; 
2. Convocando a Assembleia Geral extraordinariamente, 
quando necessário; 
3. Sancionando os Decretos e Resoluções da Assembleia 
Geral; 
4. Aprovando e suspendendo as Resoluções dos Conselhos 
Provinciais; 
20 
 
 
 
5. Prorrogando/adiando a Assembleia Geral e dissolvendo a 
Câmara dos Deputados; 
6. Nomeando e demitindo livremente os Ministros de Estado; 
7. Suspendendo os Magistrados; 
8. Perdoando/moderando as penas impostas aosRéus 
condenados por sentença; 
9. Concedendo anistia em casos urgentes.” 
 
“Este poder atuaria, enfim, como instrumento de pressão e intervenção nos 
demais poderes, alegando a “salvação do Estado” em situações de ameaça à ordem 
pública.” 
Nesta prima Carta Magna, também foi a pioneira em salvaguardar os 
direitos individuais inalienáveis dos cidadãos em seu artigo 179, equivalente ao artigo 
5º da atual Carta Magna de 1988, resguardadas as diferenças e circunstâncias de 
cada época, sendo estes considerados qualquer pessoa livre natural ou naturalizada 
no Império do Brazil, bem como, direito à Liberdade de expressão, religião, opinião, 
segurança pessoal e à propriedade. Garantia ainda, o princípio da não retroatividade 
das leis, bem como, petição aos Poderes Legislativo e Executivo por quaisquer 
cidadãos, além de garantir educação primária gratuita a todos os cidadãos. Tais 
direitos não abrangiam os escravos, pois não eram considerados cidadãos, sendo 
tratados como propriedade de seus senhores, nos padrões sociais da época em que 
era a forma de mão de obra utilizada nas lavouras. Algo impensável nos dias 
contemporâneos. 
O artigo 179, era o que retratava fielmente o caráter liberal ante a outras 
constituições de sua época. 
Podemos notar que houveram diversas revoltas e tentativas de se fazer 
respeitar a Constituição Outorgada – imposta – pelo Imperador Dom Pedro I, entre os 
que seriam mais revolucionários querendo a República para o País, com a 
participação massiva do Partido Republicano buscando palco na Câmara dos 
Deputados, bem como, os próprios monarquistas que queriam fazer valer a 
Constituição do Império do Brazil, o que veio ocorrer somente no Segundo Reinado, 
de Dom Pedro II, quando do período mais próspero e respeitoso da História do Brasil, 
no ponto de vista de muitos historiadores. 
Joaquim Nabuco, diplomata do império e jornalista, afirmou que “em um 
país de instituições fracas como o Brasil, seria difícil construir uma democracia sólida 
21 
 
 
 
como a americana apenas pela mudança do regime monárquico pelo republicano. “A 
grande questão para a democracia brasileira não é a monarquia, é a escravidão”, 
dizia”. (1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor 
injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no 
Brasil – Gomes, Laurentino) 
A primeira Constituição do país foi a mais longeva até atualmente, 
completou 67 anos. 
 
22 
 
 
 
 
CAPITULO 2. 
2.1 O Governo Provisório após o Golpe Militar de 1889 e a Constituição de 1891 
 
 
A “Proclamação” da República foi um evento histórico ocorrido por diversos 
contextos de desagrado a múltiplas classes sociais, sobretudo, a Militar. 
Fatores como a Guerra do Paraguai ocorrida entre 1864 e 1870, que apesar 
de ganhar um forte apelo abolicionista – pois deu a liberdade aos escravos que 
aderissem à causa da guerra como voluntários - trouxe grande desprestígio para o 
País, apesar de ter ganho a disputa, ficou com a imagem ligeiramente embaçada por 
sua crueldade em campo de batalha e as condições de seus militares, que após a 
guerra, não obtiveram reconhecimento suficiente ou cumprimento das promessas de 
indenização por parte do imperador o que causou indignação e levou a militares 
elaborarem declarações com duras críticas à monarquia, isto levou à censura por 
parte do Imperador, fazendo com que Marechal fosse insubordinado ao não acatar as 
ordens para punição de tais militares. 
Isto levou grande parte dos militares a tornarem-se adeptos à causa 
Republicana. 
Também a Lei de Abolição da Escravidão, de 13 de maio de 1888 pela 
Princesa Isabel, que alforriou os escravos que outrora eram propriedades privadas de 
seus senhores, donos de cafezais, gerou descontentamento entre os fazendeiros 
aristocratas por não haver tido indenização por suas perdas, resultando em declínio 
de suas fazendas e de seus lucros. 
Se outrora a Independência do Brasil foi conturbada e marcada por diversos 
conflitos internos entre Portugueses e Brasileiros, a Proclamação da República 
promovida pelo Golpe militar de 1889 não sofreu resistências de dentro do País por 
alguns motivos, dentre eles, a lenta disseminação da informação à época e também 
a inércia do Imperador Dom Pedro II em lutar contra o movimento, temendo 
derramamento de sangue que julgava desnecessário, contudo, quando já da 
república aderida ao cenário nacional, não houve aceitação por grande parte da 
população o que desencadeou conflitos em todo território, sufocado pelo exército 
23 
 
 
 
republicano que a mando de Marechal Deodoro da Fonseca, matou cerca de 4 mil 
pessoas, num país que tinha cerca de 10 milhões de habitantes, dados que 
demonstram claramente a insatisfação com os rumos que se delineavam a política do 
país. 
Em contrapartida, o reconhecimento da recém declarada República dos 
Estados Unidos do Brasil por outras nações, não seria algo fácil, pois, era resultado 
de um Golpe militar e sofreria resistências, principalmente na Europa, por questões 
conflituosas como dívidas externas, dinastias reinantes naquele continente que muitas 
ligações haviam com a família Imperial Brasileira, questão essa que dava conotação 
de Ilegitimidade à Proclamação da República no Brasil. A Rússia, por exemplo, só 
reconhece a República dos Estados Unidos do Brasil após a morte de Dom Pedro II. 
E a Grã Bretanha somente após a promulgação da Primeira Constituição republicana. 
A seguir, tabela cronológica dos fatos: 
 
 
RECONHECIMENTO FORMAL / EVENTO PAÍS / EVENTO RELEVANTE NO BRASIL 
18 e 19/11/1889 Governo Provisório comunica respeito aos 
compromissos assumidos 
03/12/1889 Argentina 
05/12/1889 Uruguai 
13/12/1889 Chile 
14/12/1889 Governo Provisório decreta a “grande 
naturalização” 
20/12/1889 Paraguai 
27/12/1889 Peru 
03/01/1890 Bolívia 
07/01/1890 Venezuela 
27/01/1890 México 
29/01/1890 Estados Unidos da América e Equador 
22/02/1890 Sereníssima República de San Marino 
20/06/1890 França 
15/09/1890 Eleição do primeiro Congresso Nacional como 
Assembleia Constituinte 
24 
 
 
 
18/09/1890 Portugal 
26/09/1890 Suíça 
23/10/1890 Santa Sé 
26/10/1890 Itália 
29/11/1890 Império Alemão e Reino da Suécia e Noruega 
06/12/1890 Reino da Bélgica 
24/02/1891 Promulgação da primeira Constituição da 
República 
04/05/1891 Grã-Bretanha 
05/12/1891 Morte de D. Pedro II 
26/05/1892 Rússia 
 (Fontes: BRANCATO, 1989; CARVALHO, 1998) 
 
Outro fator também mencionado era a insegurança que o movimento 
deixou pairar, se comparado com os países vizinhos ao Brasil, por medo de que este 
viesse a se tornar pequenas “republiquetas”. 
De insatisfeito com o presidente de Conselhos de Ministro do Império à 
Primeiro Presidente do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca aos 15 de Novembro de 
1889, com a organização do exército brasileiro, declarou extinta a monarquia no 
Brasil, tomando para si o comando do País, no primeiro momento de transição de 
Sistema e Forma de Governo, governando provisoriamente, isto pois, não fora eleito 
de forma alguma, seja voto direto ou indireto. 
Inicialmente, em suas atribuições, a bandeira Imperial foi substituída pela 
bandeira que conhecemos hoje, ainda que houvesse uma bandeira com claras 
características da bandeira estadunidense, esta não foi oficializada, sendo utilizada 
apenas nos navios de travessia da família imperial para a Europa, após terem sidos 
expulsos do país e deu fim ao Poder Moderador. Assim então, deram início a alteração 
dos símbolos da pátria, adotando o brasão da república que conhecemos hoje com as 
armas, representando a proclamação da república por meio de golpe e assim ficou 
conhecida como a República da Espada. 
A intenção era apagar o passado monárquico e exaltar a república e seus 
feitores e, com isso, foram alterados nomes de ruas, escolas, repartições públicas e 
até mesmo cidades inteiras tiveram suas denominaçõesalteradas para homenagear 
25 
 
 
 
os “heróis” republicanos. Estátuas, obeliscos, chafarizes e outros monumentos foram 
construídos em ritmo frenético para “celebrar” o acontecimento. 
Tantas alterações repentinas, visava o novo regime, conquistar corações e 
mentes dos brasileiros ainda arredios à Proclamação da república. O que levou a um 
excessivo gasto do orçamento público e colaborou para as crises subsequentes. 
Antes mesmo da promulgação da Constituição de 1891, Marechal Deodoro 
fora generoso com os Ministros do governo provisório, outrora contribuintes para a 
derrubada da monarquia em prol do golpe republicano: conferiu a todos a patente de 
general, em retribuição aos serviços prestados à pátria na mudança do regime. O 
monarquista Eduardo Prado reagiu ironicamente “O quinze de novembro não foi, 
portanto, um ato heroico; foi um bom negócio”. 
Com as crises econômicas decorrentes da abolição da escravidão, o novo 
governo provisório se empenhou em industrializar o país, fazendo emissão de papel 
moeda sem lastro ouro (o valor em ouro que se tinha nos cofres públicos), pois o Brasil 
não tinha essa força financeira em caixa na época, com o intuito de promover crédito 
às empresas e pequenas indústrias para que o mercado migrasse do sistema agrário 
para ingressar no sistema industrial capitalista, o que trouxe mais problemas, pois, 
moeda sem valor como foi emitida, não trouxe o crescimento desejado e deflacionou 
ainda mais a economia. 
Com o início da República, a oligarquia agrária que era ainda o motor 
impulsionador da economia, queria sua participação no novo governo, ao paço que os 
liberais defendiam menos centralização de poder nas mãos do Chefe de Governo e 
Estado, com isso deu-se início a troca de favores em nome de se conseguir governar, 
surgindo assim a primeira assembleia constituinte, nascendo a primeira Constituição 
Republicana de 1891, segunda constituição do Brasil, tornando o sistema de governo 
Presidencialista Federalista, deixando a monarquia para o passado. Agora, as 
províncias se tornam estados, tendo mais liberdade na sua administração inclusive 
com elaboração de Constituição Estadual, desde que haja observância à Carta Magna 
Nacional. 
Com a Federalização dos estados, abriu-se a possibilidade de autonomia 
dos entes quanto às negociações internacionais independentes de autorização ou 
manipulação do poder central do Presidente, bem como, a criação de policias 
estaduais. 
26 
 
 
 
Nas suas principais alterações temos o voto que outrora censitário, tornou-
se universal, porém, apenas para homens maiores de 21 anos de idade e alfabetizado, 
tornando o voto aberto, que favoreceu as oligarquias, pios havia maior controle do seu 
eleitorado de maioria rural. 
Houve também a separação do Estado e da Igreja, tornando o Estado 
Laico, deixando a União de ser católica, podendo agregar todas as religiões, isso fez 
com que houvesse alterações na Instituição do casamento que deixa de ser apenas 
religioso tornando-se simbólico e passa a ser Civil. 
Com a constituição republicana, houve a primeira eleição, porém indireta, 
com escolha dos políticos para a Presidência da República, tornando assim Marechal 
Deodoro como Presidente de fato, deixando o caráter provisório. 
Apesar da mudança abrupta do sistema e forma de governo, a constituição 
trouxe elementos já existentes da anterior, monárquica, como a separação dos 
poderes, com exceção do poder moderador, ficando o poder executivo, legislativo e 
judiciário e o que antes era conhecido como Império do Brazil passou a chamar-se 
República dos Estados Unidos do Brasil e aqui friso a inspiração tanto na Constituição 
quanto no nome buscada nos Estados Unidos da América. 
 
27 
 
 
 
 
CAPITULO 3. 
 
Como se legitima um golpe? 
A intenção de Marechal Deodoro era somente impedir a nomeação do 
Presidente de conselho do Império. Culminou em seu encontro com os militares 
insatisfeitos e com ideais progressistas, republicanos, que acabou sendo endossado 
pelo Marechal, dando incursão ao Golpe que não foi aceito pela nação – foi imposto 
e dessa forma cada ato precisava ser pensado e executado de forma ágil. A 
proclamação da República, expulsão da família imperial do Brasil ao exílio na Europa, 
a censura à imprensa que gerava críticas à Marechal e a seu governo provisório. 
A intenção desse grupo em trazer a República como renovação ao país, 
destarte outras nações vizinhas, não logrou êxito pois cooptou a economia nacional 
com aumentos de seus salários, fracasso na abertura da economia, e aquisições de 
luxos que outrora não existiam na Monarquia. 
Era urgente fomentar a legislação para trazer legitimidade ao novo Regime de 
Governo e para tal criou-se a assembleia constituinte composta por políticos 
republicanos – extirpados os conservadores -, fazendeiros cafeicultores e aristocratas, 
surgindo assim uma nova legislação constituinte em 1891, que desse legitimidade ao 
Golpe feito pouco mais de um ano antes. 
Ainda no governo provisório, como visto anteriormente, fazia parte da tentativa 
de legitimar o golpe, a alteração de símbolos pátrios que fizessem qualquer menção 
à Monarquia de outrora, trocando nomes de ruas, praças, repartições públicas e até 
mesmo cidades. O golpe mexeu com a vida de todos, pios, de maneira forçada e 
autoritária, impôs aos brasileiros um novo ritmo de vida dos quais se viram obrigados 
a abrir mão, cada vez mais, comparado quando do império: a liberdade de expressão 
diminuíra drasticamente, todo novo decreto trazia a tona as falhas vindas do regime 
monárquico que culminou no fracasso de transição da monarquia para a republica e 
que, duraria por toda a primeira república. O reconhecimento do Brasil como 
República custou aos cofres públicos tanto quanto custara a independência em 1822. 
O conjunto de ações para se tornar legítimo um golpe militar só não implodiu, 
abrindo espaço para a restauração da monarquia graças ao exilio da família imperial 
e aos duros comandos de militares que assumiram o poder republicano numa 
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verdadeira ditadura que, mais tarde, voltaria a mostrar sua força em sucessivos 
golpes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONCLUSÃO 
 
 
No presente, buscamos compreender de que maneira se tronou possível do 
ponto de vista Jurídico, a instauração da República que não fora requerida pela nação, 
mas imposta por um grupo exclusivo de pessoas insatisfeitas com seus interesses 
inatingidos. 
Transpassado o tempo de vácuo entre o fim drástico do sistema monárquico 
para abrupta criação de uma República, vislumbrou-se no federalismo estadunidense 
– sem deixar o coronelismo de lado – inspirações para o novo governo sob o grito de 
Ordem e Progresso: Ordem pelos militares, Progresso através dos militares. A 
República Brasileira nasceu e cresceu defeituosa de características próprias e morre 
a cada dia afundada cada vez mais na sua elaboração que jamais foi revista, mesmo 
após 6 (seis) constituições. 
Expurgados os fatores sociais de cada período, notamos que ambas as 
constituições aqui estudadas, trouxeram ao anseio popular a defesa de direitos 
individuais. A diferença, comparada a primeira constituição do país com as demais, 
está na chave que direcionada à cultura assistencialista que transformou a sociedade 
atual e, sobre ser algo positivo – ou não – deixo a reflexão. Enquanto a primeira 
constituição do Brasil Império – A mais longeva – garantiu estabilidade e continuidade, 
até o golpe, as demais duraram 43 anos (Constituição de 1891), 3 anos (Constituição 
de 1934), 9 anos (Constituição de 1937), 21 anos (Constituição de 1946 e 1967) e a 
atual Constituição de 1988, sempre à sombra da instabilidade política e jurídica. 
O problema que encontramos atualmente na nossa política e em nossas leis 
constituintes, são heranças trazidas de uma república forjada sob espada e ameaças 
àqueles que foram aclamados pelapopulação como defensor da nação. Represálias 
aos insatisfeitos com o novo plano de governo que rompeu com tudo o que foi pensado 
para o crescimento do país sob a égide do Império trazendo ao Brasil um retrocesso 
sem precedentes na história. Perdemos prestígio internacional, regredimos a todas 
conquistas realizadas pelo império, emburrecemos a nação. 
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Se outrora a educação básica era gratuita para o ensino básico, após a 
república, a necessidade de se apagar qualquer referência sobre o passado 
monárquico do país, deturpou a história nas escolas, dirimiram as conquistas militares 
a frangalhos e os direitos mais que se esperava de uma evolução social somente 
apareceram tardiamente com a quebra do sistema e sua reformulação com bases 
sempre fixadas nos interesses daqueles que sempre estiveram à frente do poder. E 
estamos com uma sociedade em formação que ainda engatinha nos aprendizados da 
democracia. 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
Capítulo 1: 
 
Constituição24 – Constituição Política do Império do Brazil (DE 25 de MARÇO DE 
1824) – Disponível em 
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.html> 
Primeira Constituição do Brasil – Canal Algo Sobre História, Dispolível em 
<http://youtu.be/EtnVCNFhaAc> 
Entendendo a Constituição Imperial de 1824 – Canal Parabólica – Disponível em 
https://youtu.br/C4DWSjruks0 
 
Oliveira, Eduardo Romero de - A ideia de Império e a fundação da Monarquia Constitucional no Brasil 
(Portugal-Brasil, 1772 – 1824) 
 
 
Capítulo 2: 
 
Reconhecimento do Regime Republicano, Bonafé, Luigi, Disponivel em 
https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/RECONHECIMENTO%20DO%20REGIME%20REPUBLICANO.pdf 
 
1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado 
contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil – 
Gomes, Laurentino 
 
Lemos, Renato; Benjamin Constant: bida e história, p. 468 
 
Governo Deodoro da Fonseca – Brasil Escola, Disponível em 
www.brasilescola.com.br/historiab/governo-deodoro-fonseca.htm 
 
http://youtu.be/EtnVCNFhaAc
https://youtu.br/C4DWSjruks0
https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/RECONHECIMENTO%20DO%20REGIME%20REPUBLICANO.pdf
https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/RECONHECIMENTO%20DO%20REGIME%20REPUBLICANO.pdf
http://www.brasilescola.com.br/historiab/governo-deodoro-fonseca.htm
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Constituição de 1891 – Bezerra, Juliana – Site Toda Matéria, Disponível em 
www.todamateria.com.br/constituicao-de-1891/ 
 
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1891) Disponível em 
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm 
 
 
 
http://www.todamateria.com.br/constituicao-de-1891/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.html
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ANEXO 
 
 
Tabela, Brancato, 1989; Carvalho 1989

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