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UNIDADE 01


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UNIDADE 01
FUNDAMENTOS DE QUALIDADE E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS
1 Conceitos gerais sobre segurança dos alimentos
Considerando o contexto de atuação de um nutricionista, é importante que você, futuro profissional
da área, entenda quais são os conceitos relacionados a um alimento seguro. Além disso, saber
abordar de maneira correta alguns termos comumente empregados na área de alimentos, como
segurança dos alimentos (food safety) e segurança alimentar (food security) é essencial. Tais
conhecimentos são amplamente debatidos no cenário atual, já que cada vez mais as pessoas têm
realizado suas refeições fora de casa, além de consumirem grandes quantidades de alimentos
processados e prontos para consumo.
Assim, torna-se responsabilidade da indústria e dos serviços de alimentação oferecer alimentos
inócuos à população, sendo esse um possível campo de atuação para o nutricionista, profissional
que poderá liderar e integrar equipes que prezarão pela qualidade e segurança dos alimentos
nesses estabelecimentos.
1.1 Food safety versus food security
A alimentação é um ato essencial para a manutenção e o bom funcionamento do organismo
humano. Assim, é de suma importância que os alimentos consumidos, além de serem interessantes
do ponto de vista nutricional e sensorial, também sejam considerados seguros. Mas afinal, o que é
um alimento seguro? Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o alimento
seguro é aquele que “não contém agentes ou substâncias nocivas em quantidades que possam
causar agravos à saúde ou danos ao consumidor” (ANVISA, 2014).
Nesse contexto, você poderá encontrar alguns termos que, apesar de serem muito parecidos e
estarem relacionados entre si, apresentam diferentes sentidos para a nutrição. As expressões
“segurança dos alimentos” e “segurança alimentar” são aplicadas em diferentes ocasiões, e cabe ao
nutricionista compreender em qual situação cada uma delas deve ser utilizada corretamente.
Segurança
dos
alimentos
Proveniente do termo inglês food safety, está relacionada ao
âmbito da vigilância sanitária e se preocupa com a produção de
alimentos seguros, livres de contaminantes e que não colocam
em risco a saúde do consumidor. Pode-se dizer que a
segurança dos alimentos é consequência da adoção de
medidas, recomendadas pelos órgãos regulatórios, durante
todas as etapas da cadeia de produção, ou seja, desde o campo
até a mesa do consumidor.
No âmbito mundial, o Codex Alimentarius é uma grande referência que apresenta normas,
recomendações e padrões, a fim de facilitar o livre-comércio de mercadorias, além de proteger a
saúde do consumidor. Já no âmbito nacional, entre os principais órgãos responsáveis pela inspeção
e regulação dos alimentos no Brasil, devemos destacar a Anvisa, a qual é uma autarquia (ou seja,
apesar de estar ligada ao governo, é um órgão que tem certa autonomia) vinculada ao Ministério da
Saúde; o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), o qual também é uma
autarquia federal, porém vinculada ao Ministério da Economia e, por fim, o Mapa (Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento).
Já quando nos referimos à segurança alimentar, cujo termo é originário do inglês food security,
este pode ser entendido como:
o direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem
comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde
que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. (BRASIL,
2006, p. 01)
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e a OMS (Organização
Mundial da Saúde) são os órgãos que lideram a discussão da segurança alimentar no âmbito
internacional. Segundo dados do último relatório publicado (FAO/WHO, 2019), cerca de 2 bilhões de
pessoas vivem em insegurança alimentar moderada ou grave devido à falta de acesso regular à
alimentos, fazendo com que mais de 820 milhões de pessoas ainda passem fome no mundo. Assim,
entende-se que as ações ligadas à Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) são aquelas que visam
desenvolver políticas públicas para reduzir as desigualdades econômicas e sociais, as quais
impactam diretamente no quadro de insegurança alimentar e desnutrição.
A partir do exposto, ficou claro compreender que iremos focar nos conceitos relacionados à
segurança dos alimentos (food safety), a qual é fundamental para o fornecimento de alimentos de
qualidade e livres de perigos ao consumidor.
1.2 Fontes de contaminação dos alimentos
Podemos relacionar o sucesso da segurança dos alimentos à adoção de práticas de higiene, as
quais podem ser entendidas como medidas de segurança e salubridade dos alimentos ao longo de
toda a cadeia produtiva. Dessa maneira, os princípios de higiene devem ser seguidos por todos os
estabelecimentos que trabalham de maneira direta (bares, lanchonetes, restaurantes etc.) ou
indiretamente (produtores, fornecedores, vendedores etc.) com a manipulação dos alimentos.
Para a divulgação desse conhecimento à população, a OMS (WHO, 1989) desenvolveu uma
ferramenta instrutiva a qual aborda as “dez regras de ouro”, a fim de se evitar a presença de
possíveis contaminantes nos alimentos, os quais podem ser de origem física, química ou
microbiológica. Vamos aprender um pouco mais sobre cada uma dessas fontes de contaminação?
Veja cada uma delas no esquema a seguir.
1.2 Fontes de contaminação dos alimentos
Podemos relacionar o sucesso da segurança dos alimentos à adoção de práticas de higiene, as
quais podem ser entendidas como medidas de segurança e salubridade dos alimentos ao longo de
toda a cadeia produtiva. Dessa maneira, os princípios de higiene devem ser seguidos por todos os
estabelecimentos que trabalham de maneira direta (bares, lanchonetes, restaurantes etc.) ou
indiretamente (produtores, fornecedores, vendedores etc.) com a manipulação dos alimentos.
Para a divulgação desse conhecimento à população, a OMS (WHO, 1989) desenvolveu uma
ferramenta instrutiva a qual aborda as “dez regras de ouro”, a fim de se evitar a presença de
possíveis contaminantes nos alimentos, os quais podem ser de origem física, química ou
microbiológica. Vamos aprender um pouco mais sobre cada uma dessas fontes de contaminação?
Veja cada uma delas no esquema a seguir.
Podemos compreender os contaminantes da seguinte maneira:
● Contaminantes físicos podem ser compreendidos como corpos estranhos que
não deveriam estar presentes nos alimentos, como cacos de vidro, parafusos, insetos,
ossos, espinhas vírgulas caroços, pedaços de plástico, papel, lascas de madeira, fio de
cabelo, pedras, areia etc. Nesses casos, os contaminantes costumam ser originários dos
equipamentos utilizados no processamento, os quais podem desprender parafusos,
pedaços de embalagem ou das próprias matérias-primas, nas quais podem conter grande
quantidade de sujidades aderidas ou não são devidamente preparadas durante sua
manipulação
● Contaminantes químicos podemos associá-los à presença de resíduos de
produtos de higiene, agrotóxicos, antibióticos, metais pesados etc. Mercúrio, chumbo e
cobra são exemplos de metais pesados, os quais são tóxicos a nosso organismo e podem
ser encontrados com mais frequência em pescados. A higienização incorreta de alguns
utensílios e alimentos também associam a contaminação por resíduos de produtos
semelhantes devido ao enxergo insuficiente ou inexistente. Uso excessivo e inadequado de
alguns pesticidas nos produtos agrícolas e de antibióticos em animais destinados ao
consumo humano também podem representar um potencial risco à saúde.
● Contaminantes biológicos são aqueles provocados por microorganismos, como
vírus, fungos, bactérias, protozoários etc. Você sabia que esses são considerados as
principais causas de contaminação nos alimentos? Isso porque os microrganismos são
seres muito pequenos, os quais não conseguimos ver a olho nu. Além disso, são capazes
de se proliferar de maneira muito rápida, dependendodas condições encontradas nos
alimentos. Fatores intrínsecos, ou seja, condições encontradas no próprio alimento e
fatores extrínsecos, os quais estão ligados ao ambiente em que o alimento se encontra são
capazes de influenciar no crescimento e desenvolvimento microbiano. Dessa maneira,
devemos dar atenção a esses fatores quando desejamos prolongar a vida útil dos
alimentos e também para produzir de maneira segura.
Quando nos referimos aos microrganismos nos alimentos, devemos entender que, de acordo com
sua ação, eles podem ser classificados em dois tipos: os deteriorantes e os patogênicos.
Microrganismos deteriorantes são aqueles que comprometem a qualidade do alimento por
interferirem em suas propriedades organolépticas e sensoriais, porém não causam doenças aos
seres humanos. Já os microrganismos patogênicos são aqueles que causam doenças, porém
podem ou não promover modificações nas características dos alimentos. É aí que está o grande
perigo, pois muitas vezes um alimento pode conter microrganismos patogênicos e não apresentar
mudanças em sua coloração, aroma ou sabor, fazendo com que ele seja consumido e,
posteriormente, relacionado ao desenvolvimento de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA).
As DTA, portanto, podem ser definidas como as doenças que são ocasionadas devido ao consumo
de água ou alimentos contaminados. Anualmente, milhares de pessoas adoecem devido à
ocorrência de DTA no mundo, o que gera grandes impactos econômicos, sociais e na área da
saúde. Atualmente, mais de 250 tipos de DTA são conhecidas, sendo que elas podem ser
classificadas como infecções, intoxicações ou toxi-infecções alimentares (BRASIL, 2020).
Os quadros de intoxicações estão relacionados à ingestão de toxinas previamente produzidas nos
alimentos por microrganismos (exemplo: botulismo, o qual deve-se à ingestão da toxina botulínica
produzida pela bactéria Clostridium botulinum; intoxicação estafilocócica, a qual está ligada ao
consumo de toxinas produzidas pela bactéria Staphylococcus aureus).
As infecções alimentares ocorrem quando a doença é ocasionada pela ingestão de células vivas
de microrganismos (exemplos: salmonelose, a qual ocorre pela presença de Salmonella spp.;
toxoplasmose, causada pelo Toxoplasma gondii).
As toxi-infecções são aquelas resultantes da ingestão de alimentos que contêm determinada
quantidade de microrganismos vivos, os quais são capazes de produzir ou liberar toxinas após seu
consumo (exemplo: Vibrio cholerae, o qual é o agente causador da cólera) (BRINQUES, 201
Dentre os principais sintomas desencadeados pelas DTA estão náuseas, vômitos, dores
abdominais, diarreia, dores de cabeça etc. Devemos nos lembrar que esses sintomas podem variar
dependendo do tipo de microrganismos envolvido e do estado de saúde do paciente, já que
indivíduos mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com a saúde debilitada podem
apresentar agravamento dos sintomas, o que pode até levá-los à morte.
Quando duas ou mais pessoas apresentam os mesmos sintomas após a ingestão de água ou
alimentos de mesma origem, isso configura um quadro de surto alimentar e, nesses casos, a
Vigilância Sanitária deverá ser acionada para investigação epidemiológica. Quando não
notificados rapidamente, torna-se mais complicada a coleta de amostras para confirmação do agente
etiológico (microrganismo) envolvido no surto. Além disso, como em alguns casos os sintomas de
DTA são considerados brandos, os indivíduos acabam não buscando por atendimento médico, o que
faz com que o número de casos seja subestimado.
Devemos considerar que os contaminantes podem chegar aos alimentos de diferentes formas,
inclusive pelo o que denominamos de contaminação cruzada, a qual se refere à transmissão de
substâncias ou microrganismos de um local contaminado para um alimento pré-preparado ou pronto
para consumo. Isso pode ocorrer tanto por contato direto ou ainda de maneira indireta, pelo uso
compartilhado de equipamentos e utensílios, pela falta de higiene do manipulador, como também
pelo mal planejamento do fluxo de produção.
Dessa forma, para que a elaboração de alimentos seguros seja eficaz, torna-se necessária a adoção
de práticas higiênico-sanitárias e ferramentas de qualidade, tais como as Boas Práticas de
Fabricação (BPF), Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) e Análise de Perigos e Pontos
Críticos de Controle (APPCC), cuja implementação é recomendada pela Anvisa.
2 Importância da qualidade no panorama atual
O consumidor atual tem se mostrado cada vez mais exigente e consciente de suas escolhas
alimentares. Ele busca por alimentos que, além de serem saborosos e nutritivos, também sejam
produzidos a partir das recomendações higiênico-sanitárias, apresentem selos e certificados de
qualidade, sejam padronizados e que possuam uma rotulagem informativa. Essas condições levam
a uma maior confiança e credibilidade da marca ou empresa, influenciando de maneira positiva, a
decisão de compra do consumidor (ITAL, 2010).
Assim, a implementação de programas e ferramentas de qualidade, que antes era vista como um
diferencial, hoje é dada como uma exigência de mercado, afinal esses programas e essas
ferramentas auxiliam na obtenção de produtos seguros e que atendam às expectativas e
necessidades do consumidor.
Para a indústria de alimentos, a qualidade é um fator elementar no sucesso de seus produtos e,
para isso, é muito importante que tenhamos claro o que de fato contempla o conceito de qualidade,
além de saber como e por que ela surgiu.
2.1. Conceitos e definições de qualidade
Atualmente, muito se ouve falar o quão importante é termos um produto de qualidade. Mas e aí, quais
atributos um alimento precisa ter para ser considerado “de qualidade”? Você seria capaz de definir?
Apesar de parecer algo simples, definir o que é qualidade pode ser uma tarefa nada fácil. Isso porque o
uso desse termo se tornou muito abrangente, tanto em nosso cotidiano quanto no mundo empresarial.
Além disso, pode-se dizer que o conceito de qualidade é algo temporal, ou seja, pode se modificar com
o passar dos anos, ademais deve ser algo relativo (BOND, BUSSE, PUSTILNICK, 2012).
Quando pensamos, por exemplo, em um hambúrguer de qualidade, quais características vêm em sua
mente? São as mesmas que para os seus colegas? Muitas vezes não. Você pode atribuir o conceito de
qualidade a características sensoriais do seu hambúrguer, como a textura da carne, seu sabor e aroma;
enquanto que para seu colega, atributos de qualidade estão relacionados a propriedades nutricionais
(quantidade de gorduras, vitaminas, minerais), práticas higiênico-sanitárias (uso de boas práticas de
fabricação) etc. Já parou para pensar nessa possibilidade?
Assim, na literatura encontramos diversas definições empregadas para o termo qualidade. Dentre elas,
podemos destacar as apresentadas por alguns dos gurus da qualidade:
Joseph Juran ele afirma que qualidades são aquelas características do produto que atendem
as necessidades dos clientes e portanto promovem a sua satisfação qualidade consiste na ausência
de deficiências.
Kaoru Ishikawa O importante figura da qualidade no Japão afirma que "qualidade é
desenvolver, projetar, produzir e comercializar um produto de qualidade que é mais econômico, mais
útil e sempre satisfatório para o consumidor"
Willian Edwards Deming vai além e complementa que "qualidade é tudo aquilo que
melhora o produto do ponto de vista do cliente. Somente o cliente é capaz de definir a qualidade de
um produto. Um conceito de qualidade muda de significado na mesma proporção em que as
necessidades dos clientes evoluem"
Vicente Falconi Campo por fim, no entendimento de Campos "um produto ou serviço de
qualidade é aquele que atende perfeitamente, de forma confiável, de forma acessível, de formaula
segura e no tempo certo as necessidades do cliente”
Em todas as perspectivas, observe que tamanha atenção é dada ao cliente/consumidor. Pensando na
indústria de alimentos, lembre-se que para a qualidade ser atingida, práticas de higiene e qualidade devempermear por toda a cadeia produtiva, ou seja, desde o campo, transporte, processamento, armazenamento,
distribuição, preparo até o momento do consumo do alimento. A implementação de ferramentas e programas
de qualidade torna-se então imprescindível, afinal, qualquer falha que ocorra em alguma etapa do processo
poderá favorecer a ocorrência de problemas no produto final, como possíveis perigos e contaminações. Isso,
além de gerar possíveis prejuízos à imagem e reputação da empresa, sabemos que representa danos à
saúde do consumidor.
Os conceitos e as estratégias de qualidade nem sempre foram empregados da maneira como é feito no
mundo atual. Para entender um pouco mais sobre como foi a evolução desses procedimentos, vamos
estudar um breve histórico das diversas etapas vivenciadas pelas empresas até se chegar na ideia de
sistema de gestão da qualidade que temos nos dias de hoje.
3 Histórico dos procedimentos de controle de qualidade
Como você já pôde observar, o conceito de qualidade não é algo muito recente. Desde os tempos mais
primórdios, o homem buscava por acesso a bens que atendessem suas necessidades e interesses.
Segundo David Garvin (2002), outro estudioso da qualidade, a evolução dos procedimentos ligados à
área pode ser compreendida em quatro estágios distintos: inspeção, controle estatístico da
qualidade, garantia da qualidade e gestão da qualidade total. Vamos conhecer um pouco mais sobre
como a qualidade foi abordada em cada uma dessas fases?
3.1 Inspeção
Na idade média, os artesãos eram as figuras responsáveis não apenas pela produção, como também pela
inspeção do produto. Eles participavam de todo o processo de produção e buscavam encontrar possíveis
falhas e defeitos no produto final de acordo com seus próprios critérios. Essa tarefa, apesar de minuciosa,
não era tão demandante, visto que naquela época os materiais eram produzidos em pequenas escalas,
feitos normalmente sob encomendas.
Já no início do século XX, com a Revolução Industrial, os produtos passaram a ser produzidos em massa
(grandes quantidades) e, portanto, houve a necessidade da padronização da produção. Desse modo,
tornou-se essencial que as inspeções fossem aplicadas de maneira mais formal, foi quando surgiu a figura
do inspetor ou supervisor de qualidade. Os produtos, então, passavam por medidas de inspeção e
controle (gabaritos e fichas de modelo padrão), sendo avaliados se estavam ou não em conformidade aos
padrões estabelecidos.
Tal medida, no entanto, não colaborou para melhoras na produtividade, pois nesse momento apenas o
produto final era avaliado e não todo seu processamento. Dessa maneira, os inspetores não se atentavam
em quais eram as causas dos problemas e quais as práticas preventivas necessárias para se evitar falhas
ou erros encontrados. O produto defeituoso apenas era corrigido ou modificado antes de chegar às mãos do
consumidor. Em casos em que isso não era possível, o produto era descartado, gerando custos e
desperdícios para a empresa.
3.2 Controle estatístico da qualidade
Vendo que a figura do inspetor de qualidade não era suficiente para entrega de produtos satisfatórios em
meio à alta produtividade demandada na época, novas medidas precisaram ser adotadas. Assim, em 1931,
o engenheiro e estatístico americano, Walter A. Shewhart sugeriu o uso de técnicas estatísticas para
controlar os processos, já que havia a preocupação de que os produtos fabricados atendessem as
especificações exatas de seus clientes.
De acordo com a proposta científica de Shewhart, era impossível que sem o uso de um método de controle
de qualidade as peças produzidas oferecessem precisamente as mesmas características, afinal, variações
nas matérias-primas, mão de obra (a qual era pouco preparada) e uso de equipamentos influenciavam
diretamente na qualidade do produto final (DAMIAN, 2018). A falta de padronização dos elementos
produzidos em larga escala fez com que muitos países tivessem problemas com seus equipamentos bélicos
e militares na Primeira Guerra mundial (1914-1918), por exemplo.
Frente à falta de tempo e custos excessivos para inspeção dos produtos, o emprego de procedimentos
estatísticos, como a amostragem, auxiliou no controle da qualidade da produção. A partir desse
embasamento, não mais todos os produtos necessitavam ser analisados individualmente em relação a cada
um de seus atributos, mas sim apenas uma pequena parcela (amostra) deles. Além disso, outras
ferramentas, como o gráfico de controle de processos, também auxiliaram na constatação de quais eram
as causas das variações nos processos produtivos, relacionando-as aos defeitos observados nos produtos.
Nessa vertente, o serviço de inspeção foi então sendo pouco a pouco substituído pelo controle de
processo, o qual já estava bem implementado ao final da Segunda Guerra mundial (1939-1945). Nesse
novo patamar, as indústrias levavam em consideração não mais apenas o produto final, mas todas as suas
etapas de produção, sendo o processo, portanto, o foco da qualidade.
Em meados de 1950, os japoneses que encontravam seu país arrasado após a Segunda Guerra mundial,
buscavam por medidas práticas para recuperar sua economia e conter os problemas sociais. Foi quando
dois estudiosos norte-americanos, Deming e Juran, foram convidados a treinar os alto executivos nipônicos
sobre como melhorar os projetos de qualidade implantando ferramentas de controle estatístico. Os
resultados foram visivelmente satisfatórios, o que levou a uma verdadeira revolução na indústria japonesa.
3.3 Garantia da qualidade
Ainda na década de 50, a indústria precisou evoluir os conceitos antes empregados sobre controle de
qualidade para ferramentas que priorizavam à garantia da qualidade. Você consegue ver a diferença entre o
uso dos termos controle e garantia? Será que eles apresentam o mesmo significado? Já posso te adiantar
que não. Vamos lá! Apesar de ambos serem práticas essenciais para obtenção de um produto de qualidade,
elas têm definições diferentes.
Controle
Quando falamos de ações que visam o controle da qualidade,
nos referimos à execução de práticas que visam identificar e
corrigir problemas encontrados no produto final. Tais ações,
portanto, são reações frente à presença de não conformidades
(algum defeito ou erro detectado) no produto final, sendo o
controle de qualidade considerado uma ferramenta corretiva.
Garantia
Quando nos referimos à garantia da qualidade, falamos de um
conjunto de ações preventivas, ou seja, que visam evitar
possíveis erros ou defeitos durante o processamento e que,
consequentemente, interfeririam no produto final. Assim,
podemos dizer que a garantia da qualidade é uma ferramenta
de gestão, em que toda equipe deve estar envolvida para a
correta verificação do andamento do sistema.
O cenário do pós-guerra fez com que muitas mudanças ocorressem nos Estados Unidos e no Japão.
● Estados Unidos
● Uma potência mundial que tanto tinha investido na produção de armamentos e
material bélico, observavam que outros produtos, como bens de consumo,
começaram a apresentar uma qualidade muito inferior à desejada, com muitos
defeitos e alta recusa do consumidor. Nessa época, a indústria norte-americana havia
deixado de lado o conceito de qualidade e prezava pela produção em grandes
volumes, a fim de abastecer o mercado. Assim, os custos com a qualidade se
tornaram cada vez maiores e ao final gerou-se um grande deficit para a economia do
país.
● Japão
● Enquanto isso, no Japão, a economia tentava se recuperar e as indústrias se
atentavam à prevenção dos defeitos na linha de produção, desenvolvendo padrões e
normas de qualidade que deveriam ser seguidos não apenas por um departamento
específico (como o departamento de controle de qualidade), mas sim por toda a
organização. Nessa nova ideologia, os elevados custos com o tratamento de produtos
defeituosos foram realocados para uso na prevenção no processo, e os conceitos de
qualidade passaram a ser praticados desde o projeto de criação do produto até o
consumidor final. A satisfação do cliente sobreos bens e serviços também passou a
ser considerada.
Nesse período, várias teorias foram elaboradas por estudiosos da área de qualidade, como o
norte-americano Philip Crosby, o qual lançou na década de 60 o programa “defeito zero”. Esse tinha
por objetivo demonstrar que a ausência de defeitos deveria ser o padrão de desempenho dos sistemas
de gestão e, portanto, as empresas deveriam se preocupar em fazer o trabalho certo já na primeira vez,
evitando-se assim futuros gastos com problemas de má qualidade dos produtos. No Japão, Kaoru
Ishikawa foi o responsável por adaptar as ideias de Deming e Juran no país, auxiliar na criação da
JUSE (Japanese Union of Scientists and Engineers) e na implantação de diversas ferramentas de
qualidade, como o Círculo de Controle de Qualidade e o Diagrama de Ishikawa (ACADEMIA
PEARSON, 2011).
Dessa maneira, impulsionado pela necessidade de melhorar as condições do país no pós-guerra, o
Japão colocou em prática com imensa disciplina as teorias desenvolvidas e logo observou um grande
avanço na sua economia. Os produtos japoneses começaram então a ganhar notoriedade mundial,
sobretudo pela qualidade superior aos do mercado ocidental.
3.4 Gestão da qualidade total
Nas décadas de 70 e 80, Japão e Estados Unidos apresentavam-se como as grandes potências
industriais, sendo que cada país investia em uma estratégia distinta para seu crescimento econômico:
enquanto os EUA privilegiavam aspectos como visão de mercado e necessidades dos clientes, os
japoneses davam prioridade à melhoria contínua de seus processos. Entre as décadas de 80 e 90 foi
quando o modelo japonês de fato se sobressaiu e difundiu-se entre os demais países, já que todos
queriam conhecer essa nova ferramenta que propiciou tão rápido crescimento à economia japonesa,
promovendo a satisfação do cliente e trazendo redução de custos à organização (CORTADA e
QUINTELLA apud SCHUCHTER, 2004).
A gestão da qualidade total trouxe um novo olhar de gerenciamento, demonstrando que para uma
empresa ter sucesso no mercado, é imprescindível que ela otimize seu desempenho como um todo,
promovendo a satisfação mútua, ou seja, atenda às necessidades e expectativas de todos os
participantes do sistema produtivo, por exemplo: clientes, fornecedores, funcionários, acionistas etc.
Para isso, investimentos em treinamentos e programas de qualidade devem ser considerados com o
intuito de encontrar ações de planejamento, controle, monitoramento e melhoria contínua do
processo. Um exemplo de ferramenta utilizada para assegurar a qualidade total são as apresentadas
pelas normas internacionais da série ISO 9000.
Agora ficou fácil para você entender um pouco mais sobre como foi o aprimoramento dos
procedimentos de qualidade ao passar dos anos e a grande relevância do sistema de gestão de
qualidade para o mercado atual.