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Tópicos Especiais - BCMT O Tempo Geológico Profa. Cícera Neysi de Almeida Departamento de Geologia/IGEO/UFRJ Definição de Tempo ✓ Duração relativa das coisas que cria no ser humano a ideia de presente, passado e futuro; período contínuo no qual os eventos se sucedem (Dicionário Houaiss) ✓ Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão. (Albert Einstein) "Cada segundo que passa é um milagre que jamais se repete." (Antiga frase dita pela Rádio Relógio do Rio de Janeiro). Em Física, tempo é a grandeza física diretamente associada ao correto sequenciamento, mediante ordem de ocorrência, dos eventos naturais; estabelecido segundo coincidências simultaneamente espaciais e temporais entre tais eventos e as indicações de um ou mais relógios adequadamente posicionados, sincronizados e atrelados de forma adequada à origem e aos eixos coordenados do referencial para o qual define-se o tempo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein ✓ O tempo sempre apresentou dificuldades conceituais únicas tanto para cientistas como para filósofos (ver Kitts 1966, 1989). ✓ Nós experimentamos o tempo somente no presente. Nosso sentido da duração do tempo é subjetivo, uma inferência baseada em nossa transitoriedade, percepções de eventos experienciados e nossa memória do passado. Tornamos nosso conceito de "duração" mais ou menos objetivo por referência a algum padrão quantificável repetitivo, como um dia ou um ano, mas nossa capacidade de compreender a duração permanece subjetiva, moldada e limitada pelas condições da experiência individual. ✓ Uma vez que o tempo geológico, tal como o tempo histórico, permanece para sempre fora do âmbito da nossa experiência direta, o nosso conceito de tempo geológico é um artefato. Tinha que ser criado ou "inventado". BURCHFIELD, 2017 O Tempo Geológico O Tempo Geológico A conceituação do tempo geológico envolve pelo menos cinco etapas essenciais: 1. O reconhecimento da evidência de uma sucessão de eventos passados no registro estático das rochas; 2. A aceitação de uma era terrestre significativamente maior do que o registro histórico da espécie humana (a noção, por mais vaga que seja, de "tempo profundo"); 3. O desenvolvimento de um sentido histórico do passado da Terra através da construção de uma escala de tempo geológico; 4. A criação de métodos quantitativos para calcular a duração dessa escala; 5. E a aceitação de um limite quantitativamente determinável para a idade da Terra. O Tempo Geológico O reconhecimento da evidência de uma sucessão de eventos passados no registro estático das rochas As rochas são o diário da Terra e o geólogo aprende a ler esse diário. http://portaldoprofessor.fct.unesp.br:9000/topico/meio-fisicobiotico/ Arenitos da Formação Botucatu. Rochas do Aquífero Guarani. Correspondem a um deserto do Jurássico superior/Cretáceo inferior 151–134 Ma. O Tempo Geológico As rochas são o diário da Terra e o geólogo aprende a ler esse diário. Arenitos da Formação Botucatu. Rochas do Aquífero Guarani. Correspondem a um deserto do Jurássico superior/Cretáceo inferior 151–134 Ma. Gondwana Map Project – Departamento de Geologia/UFRJ Coordenadora: Profa. Renata Schmitt. O Tempo Geológico As rochas são o diário da Terra e o geólogo aprende a ler esse diário. Arenitos da Formação Botucatu. Rochas do Aquífero Guarani. Correspondem a um deserto do Jurássico superior/Cretáceo inferior 151–134 Ma. Gondwana Map Project – Departamento de Geologia/UFRJ Coordenadora: Profa. Renata Schmitt. O Tempo Geológico Os Princípios Geológicos Registro Fossilífero Datação Radiométrica O Estabelecimento do Tempo Geológico baseia-se em Os Princípios Geológicos 1669 – Nicolau Steno Princípios de Steno ▪ Princípio da Superposição ▪ Princípio da Horizontalidade ▪ Princípio da Continuidade Lateral O Princípio da Superposição Em qualquer sucessão de estratos de rochas (que não tenha sofrido deformação), o estrato mais antigo posiciona- se mais abaixo, com os estratos sucessiva- mente mais jovens, posicionando-se acima. TEMPO 1 TEMPO 2 TEMPO 3 Mais velho Mais novo O Princípio da Superposição https://www.sciencenewsforstudents.org/article/scientists-say-stratigraphy Mais velho Mais novo O Princípio da Horizontalidade Original Essas camadas tem permanecido com a mesma orientação desde quando iniciou a deposição (ca. 450 Ma). Decorah - Iowa argilito calcário Depósitos sedimentares se acumulam geralmente em camadas horizontais sob a influência da gravidade. arenito O Princípio da Horizontalidade Original Depósitos sedimentares se acumulam geralmente em camadas horizontais sob a influência da gravidade. Como acontece? Exemplos Deposição no fundo de um lago Deposição no fundo do mar O Princípio da Continuidade Lateral Camadas sedimentares são contínuas, estendendo-se até as margens da bacia de deposição, ou afinando-se lateralmente. O Princípio da Sucessão Faunística William Smith (inicio sec. XVIII) As camadas de rochas sedimentares de uma dada locação contêm fósseis em uma sequencia definida, a mesma sequência pode ser observada em rochas de outras localidades. Dessa forma, os estratos podem ser correlacionados entre localidades diferentes. Fossil y Fossil x Fossil x Fossil x Fossil x Fossil y Fossil y Fossil z Fossil z O Princípio das Relações Entrecortantes dos Corpos Rochosos James Hutton (1875) Qualquer feição geológica (rocha, fóssil, estrutura, etc.) cortada por outra (rocha, estrutura, etc.) é mais antiga do que a rocha que a corta ou contem a estrutura, fóssil, etc. Charles Darwin A Teoria da Seleção Natural e a Evolução das Espécies (1859) Organismos vivos como os fossilizados se originavam de um único ancestral comum e se transformavam ao longo do tempo. ✓ As questões naturais devem ser compreendidas por meio de processos da natureza, dissociando o pensamento científico do religioso; ✓ Eram necessários grandes períodos para que ocorressem as transformações capazes de explicar a diversidade de espécies; ✓ Nosso planeta tinha muitos milhões de anos, contrariando a ideia bíblica de 6.000 anos O Registro Fossilífero O Registro Fossilífero compreende todo o conjunto de fósseis preservados nas rochas da Terra, desde os mais remotos até os mais recentes. Este registro representa apenas uma fração infinitesimal da história da vida na Terra, mesmo assim nos permite uma boa aproximação da história evolutiva da vida. O Registro Fossilífero Registros mais antigos de compostos orgânicos 3,7 Ba Papineau et al. 2019 Os mais antigos restos de seres vivos encontrados - Bactérias (3,5 – 3,0 Ba) O Registro Fossilífero Estromatólito de Gunflint (Canadá) e fóssil de bactéria nele contido. H. Hofmann, McGill Univ. A Flora de Sílex Gunflint Descoberta em 1953 A Formação Gunflint (Minesota – EUA) é constituída por uma alternância de camadas silicosas e camadas de óxido de ferro, com estromatólitos associados. Os registros fósseis incluem: Bactérias, cianofíceas, esporos (2.0 Ba) A Fauna de Ediacara Descoberta em 1868 por A. Murray na Australia. Registro do surgi- mento dos primei- ros animais. Estes são multice- lulares. esponjas dicksonia Medusas - celenterados https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_Murray A Fauna de Ediacara Dickinsonia é o mais antigo fóssil animal conhecido 558 Ma. Tinha segmentos no corpo, era achatado e ovalado e encontraram-se fósseis que chegam a ter um metro de comprimento. Reconstrução artística do fundo dos oceanos no Período Cambriano com a Fauna de Ediacara. Datação Radiométrica ✓ Geocronologia Moderna obtenção da idade do evento ou formação de um mineral ou rocha utilizando os métodos radiométricos. Métodos Radiométricos Baseiam-se na radioatividade Datação Radiométrica Radioatividade Transformação nuclear espontânea que modifica o número de prótons e nêutrons (núcleo)de determinados elementos químicos convertendo-o a um isótopo diferente Desintegração Radioativa Emissão simultânea de radiação Raios Partículas e Isótopo Instável Radioativo Isótopo Filho Radiogênico Datação Radiométrica Tempo de meia-vida tempo necessário para que metade dos nuclídeos radioativos transformem-se em nuclídeos radiogênicos desintegração é um processo exponencial negativo proporcional ao número de nuclídeos radioativos no sistema Constante de desintegração probabilidade de um átomo se desintegrar em um dado intervalo de tempo Nucleo Pai Nucleo Filho Partícula alfa Radioativo Radiogênico Datação Radiométrica Desintegração radioativa através do tempo = 1/6 por unidade de tempo (T) N inicial de radioativos = 36 T1 1/6 radiogênicos = 6 5/6 do pai = 30 T2 radiogênicos 6 + 5 (1/6 30) = 11 5/6 do pai (5/6 de 30 = 25) T1/2 = 3.9 radiogênicos = 18 T20 = 34F/2P N = isótopo radioativo = constante de desintegraçãowww.see.leeds.ac.uk Dynamic Earth - Dating rocks - radioactive decay though time N 1 ~ t- F N- F = t https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.see.leeds.ac.uk%2Fstructure%2Fdynamicearth%2Fdating%2Fdecay.htm&psig=AOvVaw1YZ8v5Kq14r1Mqh6lWeGbv&ust=1596389082328000&source=images&cd=vfe&ved=0CAMQjB1qFwoTCNj27_rC-uoCFQAAAAAdAAAAABAD https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.see.leeds.ac.uk%2Fstructure%2Fdynamicearth%2Fdating%2Fdecay.htm&psig=AOvVaw1YZ8v5Kq14r1Mqh6lWeGbv&ust=1596389082328000&source=images&cd=vfe&ved=0CA0QjhxqFwoTCNj27_rC-uoCFQAAAAAdAAAAABAD Obtenção da Idade das Rochas 43 0.161 187Os 187Re Meteoritos e depósitos de molibdênio. Zircão, apatita, granada, monazita 350.198 176Hf176Lu Zircão, uraninita, pichblenda 4.5 1.55 206Pb 238U Zircão, uraninita, pichblenda 0.71 0.9848 207Pb 235U Zircão, uraninita, pichblenda 14 0.4947 208Pb 232Th Granada, badeleyta, rocha total 106 0.0654 143Nd 147Sm Musc, bio, feld, rocha total 48 0.142 87Sr 87Rb Musc, bio, horn, sanid, ort, plag, rocha total 1.25 0.78 4.96 40Ar 40Ca 40K Material Usadot1/2 x 10 9 anos (Ga) x 10-10/ano Elemento Radiogênico Elemento Radioativo Métodos Utilizados para a Datação de Rochas e de Minerais Obtenção da Idade das Rochas Método 87Rb - 87Sr 87Rb 87Sr + - + − 𝑁 𝐹 = 𝑇 − 87𝑅𝑏 87𝑆𝑟 = 𝑒𝑡 Uma rocha no momento da sua formação tinha 32 isótopos de 87Rb Após um tempo de meia-vida: 16 87Rb e 87Sr Ilustrações: webgeology https://www.nbvm.no/br Obtençã da Idade das Rochas Ilustrações: webgeology https://www.nbvm.no/br Para cada tempo de meia-vida transcorrido a metade de isótopos pai é reduzida à metade. Método 87Rb - 87Sr 16 87Sr 8 87Sr 4 87Sr 2 87Sr 1 87Sr Transcorridos cinco anos de meia-vida (24,4 Ga): − 87𝑅𝑏 87𝑆𝑟 = 1 31 A idade desse material fictício seria 24,4 Ga Obtenção da Idade de Material Orgânico Método 14C 14C→14N + β, p Os raios cósmicos de alta energia colidem com átomos gasosos, emitindo nêutrons livres. Esses nêutrons colidem, por sua vez, com átomos de nitrogênio-14 (14N), muito comum na atmosfera terrestre, produzindo o 14C. Esse 14C logo se combina com o oxigênio do ar, formando uma molécula de gás carbônico. Ao morrer, o ser deixa de respirar. Por conseguinte, deixa de absorver 14C. Portanto, depois que a planta ou animal morre, o 14C, radioativo, presente em seu corpo, vai gradualmente emitindo radiação β e virando 14N, que não é radioativo Obtenção da Idade de Material Orgânico Método 14C 14C→14N + β, p A análise por meio do método de 14C é efetiva, normalmente, até idades de 30 mil a 40 mil anos BP, já que, após esse período, a radiação emitida pelo 14C terá sido reduzida a praticamente Zero. P (presente) = 1950 T1/2 = 5.370 anos Tipos de Idades ✓A datação de rochas é o objeto de estudo da Geocronologia, podendo ser expressa sob duas modalidades – Relativa e Absoluta. Chama-se datação, em Geologia, o estabelecimento de idade de camadas ou sequência de camadas de rochas sedimentares ou de formação de rochas ígneas e metamórficas. Tipos de Idades A idade relativa estabelece apenas relações posicionais, determinando se um evento geológico ocorreu antes ou depois de outro evento geológico. Baseia-se em três critérios: • O Princípio da Superposição • Relações de Interseção entre os corpos • Métodos Biocronológicos calcário argilito1 argilito2 argilito3 Derrame de basalto arenito Sequência 7ª Dique de basalto 6ª Argilito 3 5ª Arenito 4ª Argilito 1 3ª Derrame de basalto 2ª Argilito 1 1ª calcário Tipos de Idades A idade absoluta estabelece um número específico de anos para o tempo de formação da rocha. É obtida através dos métodos radiométricos. Idade do granito do Pão de Açúcar 560 Ma Obtida pelo método U-Pb em zircão O Tempo Geológico e a Idade da Terra Entende-se como tempo geológico, o tempo decorrido desde o final da fase formativa da Terra até os nossos dias. A Idade da Terra e a Evolução do Conhecimento Científico Ma O Tempo Geológico e a Idade da Terra A idade da Terra foi determinada em 1956 por Clair Paterson utilizando o Método Pb-Pb. O material datado foi um meteorito. 1.200 km O Tempo Geológico e a Idade da Terra A Rocha mais antiga A rocha mais antiga, datada na Terra, é o Gnaisse do Complexo Acasta localizado na Província Slave (NW Canadá) Idade 4.1 Ga. O Tempo Geológico e a Idade da Terra A Rocha mais da América do Sul Bahia Fonte: Elson P. Oliveira et al 2020 O Tempo Geológico e a Idade da Terra Cortesia: Prof. Elson Paiva Oliveira Complexo Mariri constituído por gnaisses bandados As idades obtidas pelo método U-Pb em zircão indicam cerca de 3,6 Ga. A Rocha mais da América do Sul Bahia O Tempo Geológico e a Escala do Tempo Geológico ✓ Entende-se como tempo geológico, o tempo decorrido desde o final da fase formativa da Terra até os nossos dias. ✓ Dá-se o nome de escala do tempo geológico a um arranjo de unidades geocronológicas por ordem de idade, sendo apresentada sob uma forma de tabela. ✓ Unidades Geocronológicas: eon, era, período, época, idade, cron. O Tempo Geológico e a Escala do Tempo Geológico As divisões do calendário da Terra EONS Hadeano = inferno Arqueano = arcaico Proterozoico = vida primitiva Fanerozoico = vida visível PERÍODOS Cambriano Ordoviciano Siluriano Devoniano Carbonífero Permiano Triássico Jurássico Cretáceo Paleógeno Neógeno Quaternário Abreviaturas Ba – bilhões de anos Ma – milhões de anos ma – mil anos ERAS Paleoproterozoica = primeira vida antiga Mesoproterozoica = vida média primitiva Neoproterozoica = vida nova primitiva Paleozoica = vida antiga Mesozoica = vida média Cenozoica = vida nova Paleozoica Mesozoica Cenozoica A Escala do Tempo Geológico EON ERA PERÍODO ÉPOCA MARCADORES DO TEMPO F an er o zo ic o C en o zo ic a Quaternário Holoceno Pleistoceno Final da última glaciação 11,7 Ma Neógeno Mudança na biota microscópica 2,58 Ma Paleógeno Extinção de alguns foraminíferos 23 Ma M es o zo ic a Cretáceo Extinção em massa (dinossauros, amonoides, entre outros) 66 Ma Jurássico Extinção de alguns répteis (alguns corocodilos, alguns dinossauros) 145 Ma Triássico Extinção de grande parte da vida marinha (muitos bivalves, gastrópodes e amonoides) 201 Ma P al eo zo ic a Permiano Extinção em massa (90% da vida na Terra incluindo os trilobitas) 251 Ma Carbonífero Surgimemto dos fusulinídeos (foraminífero – protozoário microscópico) 303 Ma Devoniano Perturbações paleoambientais (flutuação do nível do mar, início da glaciação continental no Gondwana) 358 Ma Siluriano Primeiras plantas terrestres. 419 Ma Ordoviciano Extinção ordoviciana-siluriana (desaparecimento de 1/3 das famílias de braquiópodes e briozoários, muitos trilobitas, conodontes) 443 Ma Cambriano Extinção cambriana-ordoviciana(muitos braquiópods e conodontes) Surgimento dos trilobitas 485 Ma P ro te ro zo ic o Neoproterozoco Formação do supercontinente Gondwana; surgimento de vida animal multicelular (A Fauna de Ediacara) 542 Ma Mesoproterozoico Formação do supercontinente Rodínia 1,0 Ba Paleoproterozoico Ruptura dos continentes anteriormente formados 1,6 Ba A rq u ea n o Colisões continentais e formação de cadeias de montanhas por todo o planeta Surgimento da vida 2,5 Ba H ad e an o Ausência de vida 4,0 Ba 4,6 As grandes divisões do tempo geológico são marcadas: a) Por evento de surgimento e extinção de vida b)Grandes eventos que modificaram a crosta terrestre
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