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Unidade II
Unidade II
5 O EXERCÍCIO FÍSICO NAS SOCIEDADES MODERNAS
5.1 As escolas ginásticas: educação, saúde e nacionalismo
A Educação Física moderna sofreu influências dos pensadores iluministas do século XVII e 
XVIII. Dentre eles se destacou Jean Jacques Rousseau (1712-1778), cuja obra colaborou com a 
criação de um novo método educacional e uma nova visão de homem. Rousseau afirmava que a 
criança deveria ser educada livre das influências negativas dos pais e das instituições da sociedade, 
sobretudo da Igreja, grande condutora ideológica da época. Para Rousseau, a educação deveria 
estar na autonomia da vontade e na razão. Rousseau valorizava, em seus preceitos educativos, a 
formação moral e física do jovem. Essa condição abriu espaço para o desenvolvimento da Educação 
Física e influenciou um grande número de estudiosos e pedagogos em diversos países da Europa, 
culminando com o surgimento das Escolas Ginásticas (MARINHO, 1980).
As Escolas Ginásticas surgiram na Europa no início do século XIX e tiveram desenvolvimento 
simultâneo em diversos países, o que favoreceu o intercâmbio de informações e tendências. Os objetivos 
gerais do movimento ginástico europeu estavam voltados ao desenvolvimento pedagógico, higiênico e 
militar do homem, buscando preparar os jovens para a vida e para a prestação de serviços à sociedade 
(GRIFI, 1989). 
Na Dinamarca, o pedagogo Franz Nachtegall (1777-1847) é considerado o idealizador de 
uma doutrina ginástica altamente pedagógica, sendo o precursor de diversas escolas e institutos 
voltados à prática. Introduziu a ginástica obrigatória em seu país, desenvolveu o gosto pela ginástica 
na população. Fundou um instituto particular de ginástica em Copenhague, o primeiro da Europa. 
Publicou um Tratado de Ginástica, que foi distribuído e aplicado em todas as escolas do país. Em 
1804, fundou um instituto militar de ginástica. Nachtegall foi precursor de Ling e Jahn e grande 
incentivador da ginástica patriótica e militar.
Johann Basedow (1723-1790) era um professor alemão que desenvolveu seu próprio sistema 
de ensino baseado nas ideias de Rousseau. A educação deveria ser livre de influência religiosa e as 
crianças deveriam ser tratadas como crianças em vez de adultos pequenos. A carga excessiva de 
atividades físicas era parte do sistema. Ele incluiu um dia de 10 horas, com cinco horas de aulas, 
três horas de esgrima, equitação, dança e música e depois duas horas de trabalho manual ligada 
a um ofício. A escola empregava Basedow na década de 1770 como seu primeiro professor em 
Educação Física, e ele pode, assim, ser considerado como o primeiro professor moderno ginástica.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 20 
5.1.1 O movimento ginástico sueco
A ginástica sueca foi implantada por Per Henrik Ling (1776-1839) e teve influência dinamarquesa. 
Ling desenvolveu uma ginástica essencialmente educativa e social, exaltando os benefícios à saúde e a 
serviço à pátria via ginástica de preparação militar. Ling procurou estabelecer rumos científicos para a 
prática dos exercícios físicos, a fim de regenerar o povo sueco (RAMOS, 1982; MARINHO, 1980). 
Figura 21 
Ling criou um sistema de ginástica constituído por quatro divisões principais: pedagógica, médica, 
militar e estética. O autor destacou em sua obra as duas primeiras divisões. A ginástica pedagógica era 
destinada a pessoas saudáveis e tinha como objetivos o domínio pleno do corpo e o desenvolvimento 
da saúde. A ginástica médica objetivava o tratamento de certas enfermidades, mal funcionamento de 
órgão e problemas posturais.
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Unidade II
A ginástica de Ling destaca-se pela sistematização precisa dos exercícios e pela organização de 
princípios (RAMOS, 1982):
• Os movimentos ginásticos devem se basear nas necessidades e leis do organismo humano, 
respeitando exigências estéticas.
• A ginástica deve desenvolver o corpo de forma harmoniosa, atuando em todas as suas partes de 
acordo com a capacidade de cada pessoa.
• Todo movimento precisa de uma forma determinada, deve ter posição inicial, desenvolvimento e 
posição final.
• Os exercícios da ginástica pedagógica devem ser selecionados de forma que estimulem a atitude 
do atleta, devendo ser simples e atraentes.
• A ginástica deve desenvolver gradualmente o corpo por meio de exercícios de intensidade e 
dificuldade crescentes, de acordo com a capacidade de cada praticante.
• A ginástica visa tanto ao corpo como ao espírito, de modo que sua prática deve ser sempre prazerosa.
• A ginástica deve sempre observar a teoria e a prática.
• A saúde é necessária a ambos os sexos e possivelmente mais à mulher, que deve se preparar para 
gerar outra vida.
Após o estabelecimento dos princípios, Ling criou os diferentes exercícios do sistema, obedecendo-se 
ações articulares anatômicas e princípios fisiológicos. O programa incluía em sua base movimentos 
envolvendo apenas o corpo, depois iam-se incluindo implementos, tais como saltos sobre o cavalo, 
rolamentos, paradas de mãos, caminhada sobre a parada de mãos, subidas em cordas, escadas, esgrima 
e natação (RAMOS, 1982).
Figura 22 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Em 1813, Ling fundou o Instituto de Estocolmo, o Real Instituto Central de Ginástica, hoje Escola 
Superior de Ginástica e Desportos, órgão que formou e ainda hoje forma milhares de jovens professores, 
instrutores e continuadores de sua obra.
Ling ainda desenvolveu um elaborado método de ginástica escolar, dividido em faixas etárias e 
guiado de acordo com os seguintes objetivos:
• Assegurar a saúde de forma agradável e estimulante.
• Dar ao praticante a capacidade de obedecer rapidamente às ordens dadas e de ter consideração 
pelos companheiros e para com os menos hábeis.
• Compensar desvantagens da vida sedentária na escola.
• Melhorar a aptidão física e a composição corporal de alunos com tendências sedentárias.
• Conscientizar a prática esportiva e estimular a continuidade da vida ativa após a idade escolar.
• Criar uma multiplicidade de exercícios e movimentos que possibilitem a adaptação às 
capacidades individuais.
Para a criança de 7 a 9 anos (fase escolar elementar), a ginástica pedagógica de Ling prescreve 
exercícios fáceis e motivantes. Os jogos são destaque nessa fase, movimentos analíticos e funcionais 
são desenvolvidos na forma de brincadeiras. Nessa fase é contraindicada a sobrecarga excessivamente 
intensa, é usada a “sessão estoriada”, na qual, através de elementos simbólicos, desenvolve-se um “conto 
do movimento”.
As crianças de 10 a 12 anos (fase intermediária) recebem um trabalho mais ativo e exigente, porém 
sem mudanças bruscas de exercícios e níveis de exigência. Os exercícios são mais intensos, porém de 
curta duração.
Dos 13 aos 15 anos (fase superior), a intensidade dos exercícios aumenta bastante, as adaptações 
devem ser adequadas a cada aluno.
Dos 16 aos 18 anos os níveis de destreza, a intensidade e a complexidade dos movimentos aumenta 
bastante e o trabalho se iguala ao treino do ginasta adulto (RAMOS, 1982).
A Lingiada, possivelmente um dos primeiros festivais ginásticos relatados na literatura, foi 
realizada na cidade de Estocolmo (Suécia) em homenagem ao criador da Educação Física Sueca, Per 
Henrik Ling (1776-1839), também fundador da GinásticaLing ou, mais comumente denominada, 
ginástica sueca.
O festival aconteceu em 1939, com 7.399 participantes vindos de 20 países e, além do festival, 
aconteceu um congresso mundial sobre atividade física, que teve participação de 1.500 instrutores. A 
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segunda Lingiada foi realizada em 1949, com a participação de 14.000 ginastas, dobrando o número de 
participantes em relação à primeira (PATRÍCIO; BORTOLETO, 2015). 
Durante a assembleia geral da Federação Internacional de Ginástica (FIG), que aconteceu paralelamente 
à segunda Lingiada, o holandês Johannes Heinrich François Sommer fez uma proposta para a realização 
de um festival mundial sob a responsabilidade da FIG. Já na Assembleia de 1951 o festival foi inserido no 
programa oficial de eventos, com o nome de “Gymnaestrada” (PATRÍCIO; BORTOLETO, 2015).
A primeira Gymnaestrada foi realizada em 1953, em Roterdã (Holanda), inspirada nas Lingiadas 
comentadas anteriormente. Essa primeira edição do evento contou com a participação de quase 5.000 
ginastas de 14 países. A Gymnaestrada, atualmente denominada World Gymnaestrada (Ginastrada 
Mundial), é o mais importante evento internacional de Ginástica Para Todos (GPT), amplamente 
denominada Ginástica Geral (GG), organizado pela FIG, com uma participação de 55 países, somando um 
número de participantes duas vezes maior do que os Jogos Olímpicos, com cerca de 19.000 ginastas. É 
realizada de quatro em quatro anos e teve sua XV edição em 2015, em Helsinque, na Finlândia (PATRÍCIO; 
BORTOLETO, 2015).
Os festivais representam um espaço livre para apresentações de ginástica. É um lugar de intercâmbio 
de experiências, ideias e conhecimentos técnicos, estéticos e organizativos. Os festivais em análise não 
possuem um caráter competitivo, os participantes sentem-se à vontade para explorar e apresentar 
algumas inovações, recriando-as conforme a particularidade do seu grupo, contribuindo para a criação 
de um acervo de ideias coletivo. Ao contrário dos eventos competitivos, vê-se uma maior liberdade de 
trabalho, maior inclusão e interação entre os ginastas (PATRÍCIO; BORTOLETO, 2015).
5.1.2 O movimento ginástico francês
Na França, a ginástica foi introduzida primeiro pelo general espanhol Francisco Amoros 
(1769-1848), que lutou nas tropas de Napoleão e depois se naturalizou francês. Amoros reconheceu 
a existência de quatro tipos de ginástica na França, cada qual com a sua função: a ginástica civil ou 
industrial, que tinha por objetivo fortalecer os cidadãos para o cumprimento de suas tarefas e trabalhos; 
a ginástica militar, utilizada na preparação dos contingentes do Exército; a ginástica médica de cunho 
higienista, atendendo às necessidades da saúde da população; e a ginástica funambulesca, praticada 
por malabares em apresentações cênicas e circenses, sendo esta condenada pelo autor por considerá-la 
desnecessária (GRIFI, 1989; MARINHO, 1980). 
A ginástica amorosiana é considerada o ponto de partida da sistematização da Educação Física na 
França. Tinha por objetivo formar homens completos, não apenas fortes e endurecidos, mas corajosos, 
com capacidade de juízo do bem, do dever e do devotamento. Amoros buscava o desenvolvimento das 
qualidades físicas, o aumento da energia e a exaltação de sentimentos elevados.
O autor utilizava uma gama enorme de exercícios: marchar, trepar em cordas, escada e trapézios, 
equilibrar, saltar, levantar, transportar, correr, lançar, nadar, mergulhar, escorregar, patinar, esgrimir, 
dançar, tiro, cavalo, jogo com bola, boxe. Amoroso elaborou sucessões e alternância de exercícios; a 
elaboração das sessões de treinamento se assemelham ao circuit training.
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Outro importante autor da ginástica francesa foi Geórges Démeny (1850-1917). Pedagogo e 
cientista, estudou profundamente a cinesiologia dos movimentos humanos, dirigiu o laboratório de 
pesquisas da Escola de Joinville e auxiliou a elaboração do Regulamento dos Exercícios Físicos do Exército. 
Foi autor de diversas obras, entre elas Bases Científicas da Educação Física, Mecanismo e Educação 
dos Movimentos, Danças Ginásticas e Educação e Esforço. Suas obras acentuaram sua característica 
extremamente militar. Seu método previa a execução de exercícios ginásticos completos, contínuos 
e cíclicos. Tinha profundo embasamento mecânico e fisiológico, foi grande defensor da prática da 
ginástica pelas mulheres combinada com a dança.
Figura 23 
Georges Hébert (1875-1957) foi oficial da Marinha francesa e criador do Método Natural de 
Ginástica. Iniciou seus estudos na Escola de Fuzileiros Navais de Lorient (1906), dirigiu o colégio de 
Atletas de Reims (1913), fundou um centro de Educação Física feminina, estimulou a prática de exercícios 
por crianças e jovens e foi autor de várias obras, entre elas: Treinamento Completo pelo Método Natural; 
A Lição Padrão de Treinamento Completo Utilitário; Guia Prático de Educação Física; O Código de Força; 
A Educação Física Feminina e a Educação Física Viril; e Moral pelo Método Natural (RAMOS, 1982).
Na Marinha, Hébert viajou pela Oceania e observou muitos povos nativos bastante robustos que 
viviam em grande contato com a natureza, usando a plenitude de seus esforços físicos para interagir e 
sobreviver ao meio ambiente hostil. 
Hébert criou então um método baseado em suas observações e objetivos na busca pelo retorno ao 
contato com a natureza. Seu método, extremamente utilitário, dividia os exercícios naturais em dez 
famílias: marchar, correr, saltar, quadrupedar, trepar, equilibrar, levantar, lançar, defender-se e nadar. Foi 
contrário ao esporte, à ginástica sueca e aos aparelhos artificiais. Seu método tinha por lema: “Ser forte 
para ser útil” (RAMOS, 1982).
O método natural grupa os exercícios naturais em uma lição em que as sequências são repetidas 
no decorrer de um percurso preparado ou natural. Os esforços são progressivos, conjugados e nunca se 
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realizam movimentos isolados. O método natural busca formar o atleta completo, com o desenvolvimento 
pleno da força, potência, agilidade, resistência e velocidade.
O método natural de Hébert foi base para a criação de uma manifestação contemporânea de 
movimento bastante original, que possui milhares de praticantes no mundo todo, o Parkour.
5.1.3 A história do Parkour
O Parkour é uma modalidade de prática de ginástica livre que tem por objetivo cumprir percursos 
urbanos com obstáculos da forma mais eficiente possível. Para isso são utilizadas técnicas de corrida, 
saltos, escaladas, aterrissagem e rolamentos. O Parkour foi criado na França, na década de 1990, por 
David Belle, que aperfeiçoou os movimentos praticados por seu pai, Raymond Belle, que foi da brigada 
de bombeiros de Paris. Raymond Belle nasceu em 1939, na Indochina. Era um de uma família de nove 
irmãos, com um pai francês e mãe vietnamita. Aos 7 anos foi enviado para viver em uma escola militar 
francesa, em Dalat, sendo treinado e educado como um garoto soldado. David relembra de seu pai lhe 
contando os tipos diferentes de treino que fazia sozinho à noite, em adição aos exercícios obrigatórios. 
Eram várias rotas ou “percursos”, alguns focados em resistência, agilidade, elasticidade e silêncio ou 
furtividade, buscando o fortalecimento físico e mental. 
Raymond, reconhecido por sua condição física, tornou-se oficial junto aos bombeiros de Paris, 
aprendendo a tarefa de salvar e sendo reconhecido em sua profissão. Em razão desua aptidão física, 
destacou-se entre os demais, agregando a equipe de bombeiros de elite, que era solicitada para as 
missões mais difíceis e perigosas de salvamento. Integrado ao regime parisiense de bombeiros militares, 
Raymond foi treinado no Methode Naturalle, de Georges Hébert. O treinamento de Raymond se estendeu 
aos treinamentos militares de salvamento, conhecidos como parcours du combattant, ou percurso 
militar de obstáculos (STRAMANDINOLI; REMONTE; MARCHETTI, 2012). 
David Belle nasceu em 29 de abril de 1973, filho de Raymond e Monique Belle, cercado por uma 
família que se destacava nos esportes. Por essa influência, David Belle desenvolveu o gosto pelas práticas 
como atletismo, ginástica olímpica, escalada e artes marciais, e sua dedicação foi intensificada aos 15 
anos. Para ele, o esporte deveria ser útil, acima de tudo. Portanto, o desenvolvimento da resistência e da 
agilidade por meio da prática deveria ser utilizado na vida. David Belle mudou-se para Lisses, uma área 
suburbana de Paris, e foi nessa época que conheceu outros jovens, que, futuramente (em 1997), seriam 
chamados de Yamakasi (STRAMANDINOLI; REMONTE; MARCHETTI, 2012). 
O Parkour surgiu não apenas por influência do pai, Raymond, mas também pelas experiências 
esportivas que o jovem David Belle vivenciou. Ele continuou o legado de seu pai, passando a dedicar-se à 
progressão por meio do movimento, sendo o conceito mais importante sua ideia de que todo treinamento 
deveria ser aplicável à vida real e ajudar a resolver problemas ou situações extremas. Seu treino era 
uma simulação do que poderia acontecer a qualquer momento, criando situações de salvamento e 
treinando-as de forma específica. Eficiência, velocidade, eficácia, longevidade e controle se tornaram 
focos do seu treino e, eventualmente, mais situações se tornaram fáceis de resolver (STRAMANDINOLI; 
REMONTE; MARCHETTI, 2012).
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
David Belle decidiu desenvolver a arte que praticava formando, em 31 de maio de 1997, a primeira 
associação Yamakasi (termo de origem africana, significando corpo forte, espírito forte), composta por 
David Belle, Sébastien Foucan, Yann Hnautra, Frederic Hnautra, Charles Perrière, Malik Diouf, Guylain 
N’Guba-Boyeke, Châu Belle-Dinh e Williams Belle, tendo como objetivo disseminar a arte e atribuir 
nomes aos principais movimentos que hoje constituem a base do Parkour. Procurou dar um nome e 
rumo à prática que vinha a realizar, já há alguns anos, juntamente com colegas de infância. 
Dentre todos, o consenso foi que chamariam “Parkour” aos percursos que faziam na procura do 
caminho mais útil entre dois pontos (STRAMANDINOLI; REMONTE; MARCHETTI, 2012).
O Parkour se desenvolveu de forma extraordinária através da divulgação dos vídeos de seus praticantes 
na internet, também passaram a produzir filmes e documentários para canais de TV. Os praticantes 
passaram a participar de filmes cinematográficos, sendo que o próprio David Belle se dedicou a alguns 
filmes. Esses filmes ajudaram a arregimentar uma legião de praticantes em todo o mundo. No entanto, 
o Parkour possui uma condição tradicional de prática livre e se nega a ser transformado em mercadoria 
ou a se transformar apenas em modalidade de exibição. É, antes de mais nada, uma filosofia de vida em 
busca do movimento eficiente e do contato com o meio (MARQUES, 2010).
Durante a grande expansão do Parkour no início dos anos 2000, David Belle e Sébastien Foucan 
tomaram rumos diferentes. Belle permaneceu mais fiel ao utilitarismo do Parkour, a filosofia de 
movimento eficiente para vencer percursos. Já Foucan passou a desenvolver uma prática mais artística, 
envolvendo elementos acrobáticos como saltos mortais durante a transposição dos obstáculos. Para 
Belle, esses movimentos são inúteis e desnecessários, mas reconhece que, sendo uma arte livre, o 
desenvolvimento do freestyle é uma consequência natural dos jovens, assim como ocorreu com o skate 
e patins (MARQUES, 2010).
 Observação
No início de sua prática, o Parkour era visto como uma atividade de 
marginais e desocupados. Muitos acreditavam que as habilidades dos 
tracers eram desenvolvidas para facilitar roubos e fugas.
5.1.4 O movimento ginástico alemão
Nascido na Alemanha, Johann Christoph Friedrich Guths Muths (1759-1839), pedagogo, é 
considerado o pai da ginástica pedagógica moderna. Podem ser destacados, na sua obra, os seguintes 
livros: A Ginástica para a Juventude, de 1793, e Livro de Ginástica para os Filhos da Pátria, de 1817 – o 
último, destacando o nacionalismo e a nobreza do povo alemão. Seu método distinguia os exercícios 
propriamente ginásticos, como o salto, a corrida, o arremesso, a equitação, o balanceio, o trepar e a 
natação, os trabalhos manuais e os jogos para a juventude. Escreveu um Manual Técnico-Prático de 
Ginástica para a Juventude, primeiro livro especializado da era moderna. As ideias de Guths Muths 
influenciaram toda uma geração de pedagogos.
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Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852) desenvolveu profundamente a ginástica militar prussiana 
de cunho nacionalista e político, incitando a juventude patriótica a se preparar para as guerras de 
unificação da Alemanha. Jahn foi combatente das tropas prussianas durantes as invasões napoleônicas 
e detinha com ele um forte sentimento de revolta e sede por justiça. Via a necessidade de organização, 
fortalecimento e união do povo alemão contra os inimigos externos (MARINHO, 1980; RAMOS, 1982; 
GRIFI, 1989). 
Figura 24 
Chamado de Turnvater, pai da ginástica, é a figura mais representativa da escola alemã. Foi um 
homem bastante vigoroso, praticava diversas modalidades, tais como esgrima, luta e ginástica. Esta 
última era sua atividade predileta, com destaque para a barra fixa. Jahn era um homem forte, justo e 
correto. Esteve sempre preocupado em promover uma vida limpa e pura para o povo alemão. Seu discurso 
pregava resistência à invasão estrangeira, ainda ressentido pelas invasões napoleônicas (RAMOS, 1982).
O sistema ginástico de Jahn era cheio de exercícios que exigiam muita aplicação de força e 
dispêndio de energia. Criou um instituto de ginástica na cidade de Haseiheide, próximo a Berlim. 
Em outras cidades do país foram erguidas escolas similares com o intuito de estimular o sentimento 
patriótico nos jovens. A ginástica vigorosa de Jahn preparava os jovens para os esforços necessários 
na guerra. Esse método, que misturava uma vigorosa ginástica e um doutrinamento nacionalista, foi 
chamado por Jahn de Turnkunst.
Jahn publicou sua obra prima, A Arte da Ginástica Alemã, em que descreveu toda a estrutura de seu 
método dividido em cinco capítulos: Exercícios gímnicos; Jogos gímnicos; Construção e instalação de 
um campo de ginástica; Modo de praticar os exercícios; e Bibliografia da arte ginástica. Os exercícios 
ginásticos foram ordenados em 17 famílias: marchar, correr, saltar, tomar impulso no cavalo, equilibrar, 
exercícios de barra, exercícios de paralela, trepar, arremessar, puxar, empurrar, levantar, transportar, 
esticar, lutar, saltar arco e pular corda (RAMOS, 1982).
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
O autor teve uma vida conturbada. Devido à atitude revolucionária dos praticantes do Turnkunst, 
foi tido como perigoso, foi preso e depois absolvido. Mais tarde foi reconhecido e condecorado. 
Sua ginástica evoluiu com movimentos mais elaborados e foi responsável pela gênese da ginástica 
artística moderna.Apesar dos grandes avanços pedagógicos, científicos e higienistas provocados pela evolução das 
escolas ginásticas europeias, foi sensível a importância dada ao uso dos exercícios com objetivos 
militares. As instituições educacionais e militares passaram a utilizar métodos ginásticos na preparação 
de Exércitos e na propagação ideológica e nacionalista. Essas prerrogativas políticas e militares das 
escolas ginásticas permaneceram no século XX, acompanhando o desenvolvimento da Educação Física 
pelo mundo.
 Lembrete
Por se tratar de uma ginástica bastante vigorosa e composta por 
diversos aparelhos, a ginástica alemã de Jahn é considerada a precursora 
da Ginástica Artística.
5.2 A gênese do esporte moderno e o processo civilizatório britânico
O esporte moderno foi regulamentado na Inglaterra no início do século XIX e teve sua origem 
em jogos populares e em atividades recreativas praticadas pela nobreza britânica. Naquele período, 
a Inglaterra passou por uma fase de grande organização social e evolução econômica em função das 
transformações geradas pela Revolução Industrial, que teve início por volta de 1770.
A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou 
a transição entre o feudalismo e o capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de 
preponderância do capital mercantil sobre a produção. Foi caracterizada pelo processo de substituição 
das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz, teve um enorme impacto 
sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação acompanhado por notável evolução 
tecnológica (ARRUDA; PILETTI, 1995).
Nas primeiras décadas do século XIX, a Inglaterra consolidou-se como principal potência imperial 
colonizadora em todo o planeta, situação que permaneceu até meados do século XX. A rainha Vitória 
ocupou o trono inglês durante o século XIX (1837-1901). Adotou uma política predominantemente 
burguesa, impulsionando o liberalismo. Essa fase ficou conhecida como Era Vitoriana (VICENTINO; 
DORIGO, 2013). 
O rápido crescimento industrial, a poderosa Marinha mercante e o Estado solidamente estruturado 
garantiam o poderio britânico, que desde a derrota de Napoleão Bonaparte, em 1815, não encontrava 
nenhum rival suficientemente forte para ameaçar de forma decisiva sua estabilidade, liderança e 
hegemonia internacional. Foi a era da libra esterlina como moeda do comércio internacional. O período 
vitoriano foi também uma época de grandes conquistas trabalhistas. Organizações de trabalhadores, 
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como as trade unions, venceram a resistência do empresariado e obtiveram sucessivas melhorias nas 
condições de trabalho (legislação trabalhista, redução da jornada de trabalho, melhores salários), bem 
como maior espaço na vida política inglesa (VICENTINO; DORIGO, 2013).
Segundo Pilatti (1999), a revolução industrial alterou a forma de entender o tempo, dando mais 
urgência e exatidão às ações. O ritmo de vida passou a seguir o compasso da produção fabril, foi instalado 
o estado de busca permanente pelo acúmulo de capital com objetivo de vida, o que posteriormente 
resultou na ideia de como usufruir desse capital, aproveitar algum momento de não trabalho, que foi 
chamado de tempo livre.
Os jogos populares ingleses eram amplamente praticados nessa época, configurando uma atividade 
cultural que destoava do processo civilizatório que ocorria na sociedade. Eram atividades extremamente 
violentas, sem regras, sem número definido de participantes, sem tempo ou campo de jogo bem definidos. 
Praticamente tudo era permitido para se alcançar a meta adversária. Com isso, os jogos causavam 
sérias lesões, tumultos, brigas, depredações e atos de vandalismo, sendo tachados como imorais, por 
fomentar o vício e a bebida, e como improdutivos, pois incitavam o ócio, provocando faltas no trabalho 
(GONZÁLEZ, 1993).
Nas escolas aristocráticas, public schools, os jogos eram praticados nos períodos de tempo livre dos 
estudantes, criando um grande problema, pois sua violência e vulgaridade comprometiam a imagem 
do tradicional sistema de ensino britânico. Os jovens praticantes machucavam-se seriamente, geravam 
tumultos, brigas e invasões de propriedades privadas, os garotos mais jovens sofriam abusos dos alunos 
veteranos (GONZÁLEZ, 1993). 
Figura 25 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
A direção das tradicionais escolas britânicas, entre elas Eton, Harrow, Rugby, Westminster, Shrewsbury, 
Charterhouse, St. Paul e Merchant Taylor, iniciaram movimentos de reforma nas atividades praticadas 
no tempo ocioso dos alunos, mantendo-os dentro dos pátios e campos de propriedade da escola e não 
mais em bares, propriedades privadas e locais públicos, onde geravam tumulto.
Os alunos tinham garantido, tradicionalmente, o direito de desfrutar de seu tempo livre como 
desejassem, pois se acreditava que esta liberdade era muito importante para a formação dos futuros 
líderes sociais. Entretanto, em função dos constantes incidentes envolvendo os alunos e a prática de 
jogos populares, as escolas tentaram impor regras para a utilização do tempo livre, aumentando a 
vigilância sobre as atividades. Como resposta à imposição das regras e à proibição dos jogos, os alunos 
realizaram inúmeras rebeliões em várias escolas britânicas. Em alguns casos, essas rebeliões chegaram 
a ser repreendidas pelo Exército.
A regulamentação das atividades do tempo livre e dos jogos praticados pelos alunos das public 
schools só ocorreu efetivamente após a realização de assembleias, encontros e cursos envolvendo 
diretores, professores e alunos. Nessas assembleias foram definidas as técnicas corporais e esportivas 
que deveriam ser permitidas ou proibidas. O pedagogo Thomas Arnold, que assumiu a direção do 
Colégio de Rugby, em 1828, é considerado um grande colaborador no processo de regulamentação e 
pedagogização das práticas esportivas (GONZÁLEZ, 1993).
Foi no ambiente das escolas inglesas que foram determinadas as regras e as características básicas 
de diversas modalidades esportivas, entre elas o futebol, o rúgbi e o críquete. O esporte regulamentado 
nas escolas não se limitou apenas a uma prática regrada nos períodos de tempo livre dos alunos, foi 
investido como valor educativo e se transformou em parte central do currículo escolar. Os campos 
de jogo se converteram em verdadeiros meios educativos, onde se exaltava a virilidade, adquiria-se 
honradez e coragem e se fomentava o espírito de equipe e de liderança (GONZÁLEZ, 1993). 
Desde sua origem, o esporte foi direcionado à função educativa. Isso ocorreu porque o esporte 
concentra, em sua essência, características da sociedade em que está inserido, reproduzindo-as em suas 
dinâmicas. Assim, pode ser utilizado como instrumento educativo, transmitindo valores importantes à 
formação do cidadão apto ao convívio em sociedade (BRACHT, 1997).
A regulamentação e os valores pedagógicos do esporte moderno também foram transmitidos para 
a sociedade inglesa no século XIX. Os ex-alunos das public schools levaram o modelo esportivo para 
clubes, associações, empresas e igrejas. 
As atividades populares vulgares foram amplamente combatidas, chegando à proibição e à 
repreensão com multas e até com prisão. A repressão teve o apoio dos protestantes puritanos e dos 
industriais burgueses, pois os jogos eram considerados práticas vulgares, que afastavam os fiéis de 
seus compromissos religiosos e também geravam ociosidade, tumultos e faltas constantes ao trabalho, 
afetando a produção industrial burguesa.
O esporte moderno foi introduzido em toda a sociedade britânica,disciplinando os trabalhadores 
e moralizando os fiéis. Muitas fábricas criaram suas próprias equipes esportivas, nas quais os operários 
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podiam se entreter de forma controlada e civilizada. Da mesma forma, as igrejas construíram campos e 
incentivaram a prática esportiva regulamentada como forma de aproximar os homens de Deus.
A partir da década de 1870, os ex-alunos do sistema educacional das public schools começaram 
a colocar em prática aquilo que haviam aprendido. Reuniram-se e discutiram formas distintas de 
jogo, criaram clubes, associações, federações, comitês, órgãos do governo e uma ampla normatização 
legal autônoma, desenvolveram um conjunto de redes de instituições e hierarquias esportivas, que 
organizaram competições locais, regionais, nacionais e internacionais.
Esse grande movimento de institucionalização do esporte fez com que o fenômeno ganhasse força e 
autonomia, solidificando-se na sociedade britânica do século XIX e expandindo-se para todo o mundo.
O modelo esportivo do associacionismo estendeu-se a outros países, acompanhando as poderosas 
influências econômicas, culturais e sociais da Inglaterra (CAGIGAL, 1996). Junto a indústria têxtil, ferrovias 
e companhias de energia, a Inglaterra exportou para o mundo o modelo esportivo, sua organização e 
regras (RUBIO, 2001).
A regulamentação das atividades esportivas, assim como sua organização institucional, ocorreu em 
paralelo ao processo civilizatório da sociedade inglesa, controlando os níveis de violência através das 
regras e adaptando as características do esporte às características da sociedade capitalista industrializada 
(ELIAS; DUNNING, 1992).
Os elementos característicos da sociedade moderna capitalista e industrial que foram incorporados 
pelo esporte são: a orientação ao rendimento e à competição, a cientifização do treinamento, a 
organização burocrática, a especialização dos papéis e a pedagogização dos processos (BRACHT, 1997).
Assim, nota-se a força do movimento esportivo ao transformar não apenas o ambiente escolar 
aristocrático, como também toda a sociedade inglesa no século XIX e depois se expandindo para todo 
o mundo no decorrer do século XX. O esporte moderno, nascido como componente curricular da 
escola aristocrática britânica, irradiou-se para todas as partes do globo, ganhando diversas aplicações, 
significações e características, porém sempre é citado em todas as sociedades em que se desenvolve 
como um elemento fundamental no processo educativo de crianças e jovens, auxiliando na socialização 
e na transmissão de valores importantes ao convívio social.
No último quarto do século XIX, com o desenvolvimento das atividades esportivas e o surgimento de ligas 
e campeonatos, nasceu a figura do espectador esportivo. Foram construídos estádios que abrigavam grande 
número de torcedores. O crescimento do número de espectadores fez com que o esporte fosse utilizado como 
forma de alienação dos trabalhadores que, aos sábados, após o expediente, dirigiam-se em massa aos estádios 
para assistir aos jogos das equipes formadas em suas respectivas fábricas. As fábricas fundaram diversas 
equipes compostas por seus operários. A disputa esportiva entre as empresas gerou a ideia de fidelidade 
entre o trabalhador e a fábrica através dos laços de afetividade proporcionados pela tensão emocional 
provocada nos embates esportivos. A discussão esportiva desviava a mente dos trabalhadores de problemas 
empregatícios e de organizações sindicais. Os operários que se destacavam nas equipes esportivas recebiam 
benefícios, horários para treinar, dias de folga e bonificações (BRACHT, 1997; GONZÁLEZ, 1993). 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Em fins do século XIX, o esporte arrastava multidões aos estádios. Surgiu então o interesse jornalístico 
sobre os jogos e competições esportivas. A princípio, os jornais se limitaram a noticiar os resultados, 
mas, com o aumento do interesse dos leitores pelas seções esportivas, foram criados novos espaços, 
crônicas, colunas e entrevistas que formataram uma nova linguagem jornalística, dando espaço para 
o crescimento da discussão popular do esporte no cotidiano. Os órgãos governamentais perceberam o 
poder de abrangência do esporte e passaram a fazer uso de suas estruturas. Ocorreu a estatização de 
entidades esportivas, o que trouxe ao esporte o sentimento de patriotismo e representação nacional, 
sobretudo com a convocação de seleções para a disputa de campeonatos internacionais. O Estado 
usurpou do esporte valores como prestígio político e econômico internacional (GONZÁLEZ, 1993).
A Inglaterra se firmou no século XIX como a grande potência imperial do mundo. Amparada por um 
imenso poder econômico proveniente da grande produção industrial e também pela soberania militar de 
sua Marinha, a Inglaterra expandiu seu domínio por todas as partes do globo. Essa posição possibilitou 
a exportação de tecnologia e empresas para suas áreas coloniais, sobretudo nas áreas têxteis, de energia 
elétrica e ferroviária. Junto a essas empresas foi exportado para o mundo todo o modelo esportivo 
inglês. Esse fato favoreceu a difusão cultural junto aos países dependentes da Inglaterra (RUBIO, 2001).
 Saiba mais
Indicamos que você assista ao filme: 
SNATCH: porcos e diamantes. Dir. Guy Ritchie. Inglaterra/EUA: Columbia 
Pictures, 2001. 103 minutos.
O longa metragem ilustra a cultura do submundo inglês, apostas, golpes 
e jogos clandestinos.
5.2.1 O esporte moderno e o contexto social
Para Brohm (1982), o esporte moderno, institucionalizado na Inglaterra em meados do século 
XIX, caracteriza-se como uma instituição de dimensões mundiais que acompanha o contexto 
social capitalista, industrial e burguês que aflorou naquela época. Para o autor, o esporte moderno 
nasce junto com a sociedade industrial e é indissociável de suas estruturas produtivas e formas de 
funcionamento. Assim, o esporte evolui se organizando de acordo com a evolução do capitalismo, e sua 
forma e conteúdo refletem a maneira de pensar, agir e consumir de uma classe social essencialmente 
moderna, que é a burguesia.
O esporte moderno surge em associações que passaram a organizar competições com regulamentação 
precisa, com fundamentação hierárquica institucional (clubes e federações) e, sobretudo, com a ideia de 
quantificação dos resultados, mensuração dos recordes, cronometragem exata e produção de conhecimento 
(ciência) para o aperfeiçoamento do desempenho. Esses elementos estavam todos sendo desenvolvidos da 
mesma forma nas indústrias, visando ao aumento da produtividade e do lucro (BROHM, 1982).
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O primeiro feito esportivo em busca da quantificação do desempenho foi a criação do Jockey 
Club, em 1750, onde a aposta era o fator motivacional para a superação das marcas nas corridas de 
cavalos. De forma gradativa, essas características foram sendo inseridas nas competições esportivas 
com a fundação das federações e associações e diante da disputa dos campeonatos: futebol (Football 
Association, 1863), atletismo (Amateur Athletic Club, 1866), natação (Amateur Metropolitan of 
Swimming Association, 1869), ciclismo (Bicyclist’s Union, 1878), remo (Metropolitan Rowing 
Association, 1879), boxe (Amateur Boxing Association, 1884), hóquei (Hockey Association, 1886), 
tênis de campo (Lawn Tennis Association, 1895) e esgrima (Amateur Fencing Association, 1898). Esse 
sistema de associações e federações foi rapidamente difundido para todo o planeta,seja nos países 
que rapidamente sofreram o processo de industrialização na Europa e América do Norte ou nos países 
que eram colônias ou dependentes da Inglaterra imperial, como os da América do Sul, Oceania, África 
do Sul, Índia, entre outros (PRONI, 2002).
Brohm (1982) destaca quatro fatores responsáveis pelo desenvolvimento do esporte moderno:
• O aumento do tempo livre e o surgimento do uso voluntário do ócio e do lazer.
• O desenvolvimento em nível mundial dos intercâmbios culturais, econômicos e políticos em 
função da evolução dos meios de transporte, dos meios de comunicação de massa (jornal, rádio 
e, mais tarde, a televisão), o que transformou o esporte em uma “mercadoria cultural”.
• A revolução técnico-científica, que permitiu o surgimento de novos equipamentos, materiais e 
até de novas modalidades. Essa evolução é evidente até os dias atuais no desenvolvimento de 
trajes, sensores e equipamentos cada vez mais leves e resistentes.
• O crescimento e o domínio da classe burguesa industrial, detentora de novas ideias de crescimento, 
evolução, prosperidade e democracia.
Dentro de um esforço para uma definição sociológica para o fenômeno do esporte moderno, Brohm 
(1982) afirma que o esporte deve ser entendido como um “fato social” e que suas relações sociais 
englobam quatro dimensões:
• Sistema institucionalizado (clubes e federações) com regras, códigos e delimitações regulamentados 
formalmente, cujo objetivo é determinar o melhor desempenho ou o melhor concorrente.
• Sistema de competições baseadas no esforço físico humano aberta democraticamente a todos em 
direitos e condições iguais de disputa, visando comparar o melhor rendimento.
• Sistema cultural, cujo objetivo é registrar a evolução dos resultados das realizações corporais 
humanas, buscando contínua superação.
• Espaço para relações humanas sociais, buscando a colaboração e o esforço para a melhoria do 
rendimento e para a busca da vitória.
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Essa classificação do esporte moderno segue, implicitamente, princípios dentro de uma nova concepção 
ética: o princípio do rendimento; o sistema de hierarquia institucional; o princípio de organização legal 
e burocrática; e o princípio da publicidade, transparência e igualdade. Tais características são típicas da 
sociedade industrial (BROHM, 1982).
5.2.2 Violência, esporte e civilização
As modalidades esportivas, praticadas, atualmente, de forma parecida no mundo todo, foram 
originadas na Inglaterra e se expandiram para outros países a partir da segunda metade do século XIX. O 
futebol é a modalidade de origem inglesa que mais se desenvolveu no mundo todo. No entanto, diversas 
outras modalidades tiveram origem na Inglaterra. Entre elas, destacam-se as corridas de cavalo, a luta 
livre, o boxe, o tênis, a caça à raposa, o remo, o críquete e o atletismo (GONZÁLEZ, 1993).
A palavra esporte é originária de “desport”, que vem do francês antigo e significava prazer, diversão. 
Na Inglaterra, a palavra passou a ser associada às atividades lúdicas praticadas no tempo ocioso da 
nobreza e das classes aristocráticas. Por volta de 1830, essas atividades da nobreza e também alguns 
jogos populares tidos como vulgares e violentos foram regulamentados nas escolas aristocráticas 
inglesas e, por volta de 1860, passaram a constituir um sistema institucionalizado de práticas esportivas 
desenvolvidas em clubes e associações (GONZÁLEZ, 1993).
Registros apontam para a realização de jogos e competições desde 800 a.C. na Grécia, 
também realizadas no período de expansão romana e durante a Idade Média. Essas atividades 
foram relatadas como violentas e brutais, se comparadas ao esporte que é praticado atualmente. 
A questão do uso da violência pode ser associada ao nível de desenvolvimento civilizatório de 
cada sociedade onde a prática competitiva esteve inserida. A violência exercida nas atividades 
e disputas era proporcional ao grau de tolerância do uso da violência das sociedades (ELIAS; 
DUNNING, 1992).
A ética dos jogadores, as normas, as regras da competição e a realização propriamente dita dos 
jogos antigos diferiam em muitos aspectos das características do esporte moderno. Atualmente, as 
regras das competições esportivas, das lutas e dos jogos são amplamente codificadas, racionalizadas e 
oficializadas. O processo de regulamentação esportiva acompanhou as características da organização 
formal da sociedade (ELIAS; DUNNING, 1992).
O mundo contemporâneo está organizado em Estados nacionais, regulamentados por leis e 
normas de convívio social, e o uso da violência passa a ser monopólio desse Estado. Para que as leis 
sejam cumpridas e a vida na sociedade seja harmoniosa, o Estado cria os órgãos policiais, que são 
os únicos que podem fazer uso da violência para manter a ordem internamente no país. Os Estados 
também fazem uso da força através dos exércitos para defender a soberania, os territórios e os 
interesses do Estado externamente. Nas sociedades antigas, a organização dos reinos não seguia 
uma ordem estatal regulamentada, assim, todo cidadão fazia uso da violência para defender sua 
segurança. O resultado era uma sociedade extremamente armada e muito mais violenta (ELIAS; 
DUNNING, 1992).
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O uso da violência no esporte segue esta lógica. No período em que as atividades competitivas não 
eram muito regulamentadas, o uso da violência era mais permitido. Havia, na Grécia Antiga, uma luta 
chamada pancrácio, que fazia parte dos Jogos Olímpicos Antigos. Nessa luta, a única regra existente 
não permitia que se matasse o seu oponente, o perdedor era aquele que desistia ou não apresentava 
mais condições físicas para lutar. O pancrácio ocasionava, com frequência, fraturas, lesões e até a morte 
dos competidores. A punição para o atleta que matasse seu adversário era apenas a desclassificação da 
competição (ELIAS; DUNNING, 1992).
Nesta modalidade os combatentes usavam todo o corpo; eles podiam arrancar os olhos uns dos 
outros, podiam puxar pelos pés, pelas orelhas, pelo nariz, podia-se quebrar os dedos e ossos do braço, 
estrangular. Era permitido sentar-se sobre o adversário e golpear seu rosto, pisotear o adversário. Os 
ferimentos eram tão severos que não era raro que acontecesse alguma morte.
Figura 26 
Em função da diferença de tolerância à violência entre a sociedade antiga e a sociedade contemporânea, 
costuma-se julgar os povos antigos como bárbaros, brutos, cruéis e selvagens. Esse tipo de julgamento 
apresenta características etnocêntricas, ou seja, rotula a sociedade antiga tendo como referência as regras, 
leis e costumes de nossa sociedade, como se apenas esses parâmetros fossem os corretos. Ao olhar para 
a sociedade antiga de acordo com as normas vigentes naquele contexto civilizatório, nota-se que muitas 
atitudes tidas como violentas eram permitidas e aceitas pelos padrões da época (ELIAS; DUNNING,1992).
A ética do povo grego era pautada no enfrentamento agonista. Nele, não eram moralmente aceitas 
a fuga, a defesa e a esquiva. A educação do jovem era voltada tanto para a guerra quanto para a 
competição, e tão honroso quanto vencer um adversário era ser derrotado por um oponente valoroso 
em uma luta franca (ELIAS; DUNNING, 1992).
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A ética inglesa do jogo limpo (fair play) não tem origem militar, sendo oriunda do comportamento 
límpido e honesto dos cavalheiros britânicos (gentleman = sportsman).A tensão emocional, que na 
idade antiga ocorria em função da violência e da brutalidade da disputa competitiva, na Inglaterra foi 
substituída pela expectativa gerada pelas apostas feitas sobre o combate, que agora havia se tornado 
menos violento em função das regras institucionalizadas (ELIAS; DUNNING, 1992).
Assim, no mundo contemporâneo, nota-se a violência no esporte como um reflexo da violência 
contida na sociedade, desde as brigas de torcidas e as agressões em campo até as atitudes violentas das 
crianças durante jogos e aulas de Educação Física. Todas essas situações refletem uma sociedade em que 
a educação não atinge a todos e, assim, não há a compreensão das regras de convívio na sociedade. O 
quadro de desigualdade social agrava as injustiças e as condições mínimas de manutenção da dignidade, 
muitas vezes não são atendidas, e esse fator também agrava a questão da violência tanto no cotidiano 
quanto no esporte (ELIAS; DUNNING, 1992).
 Lembrete
Uma sociedade com regras institucionalizadas, consolidadas e praticadas 
pela população apresenta um nível civilizatório mais avançado e menores 
índices de violência.
5.3 O Olimpismo moderno
Assim como o modelo esportivo britânico desenvolvido nas escolas aristocráticas, o desenvolvimento 
da filosofia educacional chamada Olimpismo é uma evidência histórica da função formativa do esporte. 
Sua discussão se justifica para que se possa compreender que, desde os seus primórdios, o esporte teve 
objetivos voltados para a educação de crianças e jovens e ainda hoje merece esse crédito.
No final do século XIX, o pedagogo humanista Pierre de Coubertin foi incumbido de buscar 
novos modelos para a educação na França. Após uma série de viagens pela Europa e pelos Estados 
Unidos, Coubertin retornou a seu país determinado a implantar uma teoria pedagógica inspirada 
principalmente pelo sistema educacional inglês e também sob forte influência da obra do arqueólogo 
alemão Ernest Curtius, que havia encontrado ruínas da Grécia clássica em escavações realizadas em 
1952 (CARDOSO, 2000).
Os valores educativos do esporte foram amplamente divulgados por um movimento pedagógico 
humanista que se desenvolveu no final do século XIX. O Olimpismo ou Ideário Olímpico foi o conjunto 
de ideias desenvolvidas pelo pedagogo francês Pierre de Coubertin. O movimento teve por objetivos 
promover uma reforma educacional com base na prática do esporte e também restaurar os Jogos 
Olímpicos como um elemento de promoção da paz entre os povos do mundo.
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Figura 27 
Coubertin inspirou-se em estudos, viagens e visitas a escolas de diversos países para desenvolver 
suas ideias de educação humanista via prática esportiva. Sobretudo, baseou-se no modelo educacional 
britânico após uma minuciosa visita à escola de rúgbi. O estudioso francês também ficou bastante 
impressionado com a prática esportiva desenvolvida junto às universidades norte-americanas, em 
viagem realizada em 1890 (HENRY, 1955).
Do modelo educacional inglês, Coubertin absorveu os valores pedagógicos do esporte para a formação 
de cidadãos honrados e líderes enérgicos. O esporte tinha por preceitos a competição, a regulamentação 
das atividades e o jogo limpo (fair play) (HENRY, 1955). As escavações na Grécia revelaram a educação 
helenística denominada Paideia. Essa educação visava, sobretudo em Atenas, à formação global do 
homem, aliando conhecimentos de filosofia, de gramática e musicais à prática de exercícios ginásticos 
e atividades atléticas (SOUZA, 1975).
A ideia de instauração dos Jogos Olímpicos modernos surgiu após o conhecimento e o estudo 
detalhado das descobertas arqueológicas da cidade de Olímpia, na Grécia, revelando toda a 
história dos mais importantes jogos da antiguidade clássica, seus valores culturais, religiosos e 
a sublime capacidade de promover a paz entre os povos gregos durante o período em que era 
realizado (HENRY, 1955).
Coubertin reteve da obra de Ernest Curtius os princípios que levaram os antigos gregos a realizarem 
os Jogos Olímpicos: a celebração da paz e o ideal puro da luta pela vitória em busca de ser o melhor e 
aproximar-se dos deuses. Coubertin incluiu o esporte nas escolas francesas através de um amplo projeto 
pedagógico, que contemplou a restauração dos Jogos Olímpicos (GODOY, 1996).
O educador francês de origem nobre Barão Freddy Pierre de Coubertin não mediu esforços para 
colocar suas ideias em prática e organizou, em 1894, um grande congresso em Paris, na universidade 
de Sorbonne. No congresso foram discutidos temas envolvendo o amadorismo esportivo, a educação 
via prática esportiva, foi fundado o Comitê Olímpico Internacional (COI) e planejado para dali a dois 
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anos a restauração dos Jogos Olímpicos, que seriam realizados em Atenas, na Grécia, berço dos jogos da 
antiguidade (HENRY, 1955).
A retomada dos Jogos Olímpicos já havia sido discutida anteriormente e alguns eventos chegaram a 
ser promovidos sem sucesso após as descobertas arqueológicas alemãs por volta de 1850. No entanto, 
a revitalização dos jogos somente ocorreu após os esforços de Coubertin. Para ele, os Jogos Olímpicos, 
realizados a cada quatro anos, seriam apenas mais um elemento educativo, que geraria a compreensão 
e a paz entre os jovens de todo o mundo. O Barão estava mais interessado no poder educacional 
do esporte, conforme havia estudado no modelo inglês. No entanto, os Jogos Olímpicos ganharam 
reconhecimento internacional como um grande encontro onde os atletas de todo o mundo podiam 
confrontar suas performances máximas, assim, os outros intentos educacionais do Olimpismo ficaram 
em segundo plano (BINDER, 2001).
Coubertin acreditava que a educação liberal pautada em um currículo contendo um programa 
esportivo havia sido a causa da prosperidade inglesa no século XIX. Pretendia realizar uma reforma na 
educação francesa, a qual julgava conservadora, atrasada e pouco efetiva na preparação dos jovens para 
a vida em sociedade – ao contrário da educação inglesa, que, segundo o pedagogo francês, convertia 
a vida escolar em um primeiro capítulo da existência social, pois o jovem alcançava, através dela, a 
independência e a virilidade, observando leis que mantinham sua responsabilidade individual à altura 
de sua própria consciência, em consonância com a sociedade em que vivia (HENRY, 1955).
Segundo Coubertin, o pedagogo inglês Thomas Arnold, diretor do Colégio de Rugby na década de 
1830, havia colocado as coisas de tal forma que o jovem inglês, ao penetrar à vida adulta, encontrava-se 
em um mundo que lhe havia sido familiar na escola e assim não era empurrado para a complexa vida 
moderna a partir de um mundo escolar irreal, associado com sombrias figuras da história, conforme 
ocorria com a maioria dos garotos franceses (HENRY, 1955).
Em função dessas crenças e desses estudos, Coubertin iniciou a formatação de um movimento 
filosófico que ficou conhecido como Olimpismo.
5.3.1 O ideário olímpico
Em 1894 ocorreu, na Universidade de Sorbonne, um grande congresso esportivo reunindo dois mil 
delegados de 12 países. Sob a organização do Barão de Coubertin, o congresso abordou diversos temas do 
esporte, dos quais tiveram destaque o anúncio oficial da restauração dos Jogos Olímpicos, a discussão sobre 
amadorismo e profissionalismo e a nomeação de um Comitê Internacional encarregado da restauração dos 
Jogos (Comitê Olímpico Internacional). Por ocasião do congresso, foi definido, para 1896, em Atenas, a 
realização da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna (COUBERTIN, 1965).
De acordo com a definiçãocontida na Carta Olímpica, o Olimpismo é a filosofia de vida que exalta e 
combina, de forma balanceada, as qualidades do corpo, da mente e da alma. A carta ainda declara que, 
ao misturar esporte, cultura e educação, o Olimpismo visa criar uma forma de viver baseada no prazer 
encontrado no esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito pelos princípios éticos 
fundamentais (OSWALD, 1999). 
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Unidade II
O ideário olímpico lançou, em 1896, a Carta Olímpica, que tinha por principais objetivos 
(BINDER, 2001):
• Promover o desenvolvimento das qualidades físicas e morais, que são a base do esporte.
• Educar a juventude através do espírito esportivo para um melhor entendimento e amizade entre 
os povos, ajudando a construir um mundo melhor e mais pacífico.
• Espalhar os princípios olímpicos pelo mundo, criando a amizade internacional.
• Unir os atletas do mundo a cada quatro anos em um grande festival esportivo, os Jogos Olímpicos.
Em 23 de junho de 1894, o Comitê Olímpico Internacional (COI) foi criado no congresso realizado por 
Coubertin, em Paris. O COI teve como uma de suas metas, desde a sua fundação, promover o Olimpismo. 
A Carta Olímpica, divulgada no mesmo congresso, afirma que o objetivo do Olimpismo é engajar todos 
os esportes a serviço de um desenvolvimento harmonioso do homem, com a missão de estabelecer 
uma sociedade pacífica, concebida com a preservação da dignidade humana. A meta do movimento 
olímpico seria contribuir para a construção de um mundo melhor e mais pacífico, através da educação 
dos jovens pela prática do esporte, sem qualquer tipo de discriminação com um espírito olímpico, o que 
subentende a compreensão mútua entre os povos, o espírito de amizade, a solidariedade e o fair play, 
jogo limpo (OSWALD, 1999).
Nota-se que, em sua gênese, o movimento olímpico tinha uma grande preocupação educativa e de 
transmissão de valores benéficos à construção de uma vida harmoniosa. As questões filosóficas eram 
supervalorizadas e a realização da competição olímpica era apenas um detalhe do amplo contexto 
pedagógico do Olimpismo.
Figura 28 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Nem todos os estudiosos do Olimpismo dão a Pierre de Coubertin os créditos exclusivos pelo 
renascimento dos Jogos Olímpicos, pois outros esforços já haviam sido realizados nesse sentido e outros 
idealistas também defendiam a causa dos jogos. Coubertin provavelmente emprestou a ideia de outras 
iniciativas. Entretanto, a maioria dos estudiosos afirma que foi Coubertin quem articulou a combinação 
de ideias conhecida como Olimpismo (BINDER, 2001).
A discussão sobre a necessidade de uma revolução pedagógica teve muito pouco interesse 
na época e pouco representou aos dirigentes esportivos. Com isso, Coubertin buscou temas afins 
para organizar um grande Congresso no qual as questões educativas do esporte pudessem ser 
discutidas, mesmo que entre outros assuntos. A importância de fazer um acordo sobre a definição 
do amadorismo, para que os atletas de todas as nações pudessem competir sobre as mesmas 
regras e condições, chamou a atenção dos técnicos esportivos, permitindo a Coubertin convocar 
um grande encontro para discutir o assunto.
Porém, Coubertin precisava de algo mais para cativar a imaginação das pessoas com cultura 
suficiente para entender suas ideias e dinheiro bastante para assegurar o êxito inicial. Assim, pautado 
na história dos jogos antigos da Grécia Clássica, Coubertin fundiu os ideais educativos reformistas à 
ideia de realização de um grande festival esportivo quadrienal, que teria por finalidade reunir todos os 
povos do mundo em uma festa harmônica embebida de valores construtivos, tais como a promoção da 
paz. Dessa forma, para dar força aos seus ideais educacionais, Coubertin restabelece os Jogos Olímpicos 
como propaganda para o Olimpismo (HENRY, 1955).
O projeto de Coubertin buscou instituir um conjunto de ideias nobres, denominado ideário 
olímpico, ou Olimpismo, ao qual estariam sujeitos os participantes dos Jogos Olímpicos. O preceito 
básico do Olimpismo era o amadorismo, que pregava uma prática desinteressada das atividades 
esportivas, não sendo permitida a remuneração dos participantes em função de sua atuação 
esportiva (CARDOSO, 2000).
No Congresso de Sorbonne, em 1894, a constituição do Comitê Olímpico Internacional elegeu 
o empresário grego Dimitrios Bikelas como presidente, deixando a cadeira de Secretário Geral para 
Coubertin. Os membros do recém-criado COI aceleraram a data de reinauguração dos Jogos Olímpicos 
para o ano de 1896. Coubertin preferia a data de 1900, na virada do século, para pegar carona na 
Feira Mundial, que ocorreria em Paris. No entanto, os membros do COI indicaram a realização para o 
ano de 1896 em Atenas, na Grécia como forma de homenagear a pátria onde os Jogos aconteciam na 
antiguidade clássica (CARDOSO, 2000).
Após o estabelecimento da data, ficou claro que o COI teria um grande desafio: levantar 
recursos para a realização da competição e para a construção da infraestrutura necessária. A 
tarefa foi vencida com o estabelecimento de alianças. A nomeação do príncipe herdeiro da Grécia 
Constatino como presidente do comitê foi providencial e a doação de 920 mil dracmas, feita pelo 
milionário grego radicado no Egito Jorge Averoff, possibilitou a construção do suntuoso estádio 
Panatenaico (CARDOSO, 2000). 
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Unidade II
5.3.2 A força dos Jogos Olímpicos
Para Pierre de Coubertin, os Jogos Olímpicos deveriam servir para (COI, 1963):
• Atrair a atenção do mundo para o fato de que um programa nacional de treinamento físico e 
esportivo não serviria apenas para fazer crescerem jovens mais robustos e saudáveis, mas, com 
maior importância, serviria para fazer dos jovens melhores cidadãos pela formação do caráter, 
que é a consequência da participação esportiva amadora bem conduzida.
• Demonstrar que os princípios do jogo limpo (fair play) e do espírito esportivo podem ser adotados 
em outras esferas da vida em sociedade.
• Estimular o interesse pelas artes através de demonstrações, contribuindo para ampliar e completar 
o conceito da vida.
• Ensinar que o esporte deve ser praticado pela satisfação que proporciona e não para ganhar 
dinheiro. Com devoção para a tarefa que se desempenha, a recompensa virá por si só. 
Novamente, percebe-se uma grande preocupação com a disseminação de valores através da 
prática esportiva, ressaltando o ideal amador para o esporte. Apesar de todos os preceitos filosóficos 
e de todas as aspirações educacionais de Coubertin, a característica do esporte que mais se destacou 
nos Jogos Olímpicos foi a evolução constante da técnica, da busca incessante pelo aperfeiçoamento 
físico, pela conquista de novas marcas e recordes. Com isso, os Jogos Olímpicos tiveram um grande 
desenvolvimento no início do século XX, aumentando consideravelmente o número de atletas e 
países participantes, melhorando cada vez mais a organização das competições e a evolução dos 
resultados esportivos. No entanto, os objetivos educacionais de Coubertin se viram sufocados pela 
força crescente dos Jogos Olímpicos.
Desde o primeiro congresso, em 1894, quando o COI foi formado, até sua saída em 1925, Coubertin não 
mediu esforços para convencer o COI a regulamentar seriamente a favor da Educação Física e esportiva. 
Nos congressos realizados pelo pedagogo antes de 1926, ele sempre abordou temas relacionados à 
promoção de seus objetivos educacionais esportivos.Porém, Coubertin, próximo de sua saída do COI, 
começou a relatar que a instituição nunca seria capaz de desenvolver suas ideias. O pedagogo francês 
comentou, em um de seus discursos, que o COI estava preocupado com seu constante crescimento 
técnico e era incapaz de continuar a tarefa educacional derivada do período de sua fundação. Em 1925, 
Coubertin deixou o COI e participou da organização de outras instituições para promover a Educação 
Física e o esporte como forma de educação (BINDER, 2001). 
Atualmente, diversas instituições se preocupam em elaborar programas e currículos educacionais 
envolvendo o esporte e os ideais olímpicos. A Academia Olímpica Internacional (IOA) realiza reuniões 
periódicas abordando o assunto. Em 1997 foi criada a Fundação para a Educação Olímpica e Esportiva 
(FOSE), que, desde então, vem organizando um grande programa educacional junto à campanha do 
Comitê Olímpico Grego, que organizou os jogos Olímpicos de Atenas em 2004 (BINDER, 2001).
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
A discussão dos valores educativos do esporte mostra-se atual em função dos recentes esforços 
para a realização de programas que retomam os ideais olímpicos de Coubertin desenvolvidos no final 
do século XIX. Essas ações demonstram que o intento do pedagogo humanista francês ainda pode ser 
utilizado nas escolas do mundo contemporâneo para educar crianças e jovens, visando prepará-los para 
uma melhor adaptação à vida cotidiana em sociedade.
6 O ESPORTE CONTEMPORÂNEO, ASPECTOS POLÍTICOS E MERCANTILISTAS
6.1 A história do uso político do esporte
No mundo contemporâneo, o esporte foi inserido nas estruturas neoliberais da economia de mercado, 
transformando-se em uma grande instituição financeira que representa os interesses das corporações 
transnacionais, as quais ditam as regras no mercado mundial (BRACHT, 1997). 
Bracht (1997) afirma que o Estado utiliza o esporte porque este é facilmente instrumentalizado 
politicamente pelo poder institucionalizado. O esporte reúne as seguintes características que o tornam 
suscetível à utilização política:
• É uma atividade com regras de fácil compreensão, sendo utilizado como elemento de comunicação 
de massa portador de uma linguagem simples. O Estado, por meio dessa linguagem, utiliza o 
elemento de tensão emocional do esporte para veicular os seus objetivos e ideologias.
• Oferece à população a possibilidade de identificação com o coletivo e com as aspirações patrióticas, 
dando sentido de união nacional.
• É um elemento alienador que permite ao expectador a compensação para as tensões e aflições da 
vida cotidiana.
• A apropriação do atleta como representante do sistema faz com que os sucessos esportivos 
forneçam prestígio político.
• O esporte é reflexo da concepção de valores resistentes na sociedade em que está inserido. Isso lhe 
confere uma neutralidade interna, permitindo que o direcionamento político seja determinado de 
fora do seu contexto.
Por representar interesses de diferentes grupos sociais, o esporte foi submetido a uma organização 
central dentro dos países. A configuração da instituição esportiva ocorreu paralela a um grande 
movimento mundial de estatização (GONZÁLEZ, 1993). As organizações esportivas foram coordenadas 
geralmente pelo Estado através de estruturas de controle centralizador (estruturas corporativas) ou em 
parceria com as sociedades civis privadas (estruturas neocorporativas) (BRACHT, 1997).
Dentro desse contexto, o esporte evoluiu durante a primeira metade do século XX como instrumento 
político dos governantes, atuando como ferramenta de propaganda do prestígio internacional das 
nações, da superioridade de sistemas políticos e do orgulho nacional (GONZÁLEZ, 1993).
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Unidade II
Brohm (1982) afirma que o esporte é um novo tipo de aparato ideológico do Estado, uma ferramenta 
para a manutenção da estrutura social estabelecida. Passa a ser utilizado pelas forçais hegemônicas do 
Estado civil, que não deve ser entendido apenas como as forças governamentais, mas também representa 
os grupos privados dominantes, tais como a Igreja, os sindicatos, os partidos, as escolas e os grupos 
financeiros. A instituição esportiva é uma personificação ideológica que participa na manutenção da 
ordem burguesa, destilando massivamente a ideologia dominante. 
Assim, o estudo do uso político e ideológico do esporte ganha importância, pois não se trata apenas 
de entender como o Estado se apropria desse fenômeno, mas de verificar como toda a sociedade se 
favorece das qualidades do esporte em benefício de seus próprios interesses.
6.1.1 O Olimpismo: um nobre ideal corrompido
O Barão Pierre de Coubertin afirmava que o movimento olímpico e o Comitê Olímpico Internacional 
eram instituições apolíticas e independentes que visavam promover o esporte pelo mundo. No entanto, 
a restauração dos Jogos Olímpicos criou a ideia de representação esportiva nacional e, com o passar 
das edições, essa condição gerou um sentimento patriótico nos atletas e na população dos países 
participantes. A mídia daquela época, representada maciçamente pelos jornais, passou a noticiar cada 
vez mais os feitos esportivos, aumentando consideravelmente o alcance dos acontecimentos esportivos. 
O esporte exaltou elementos simbólicos da pátria, tais como bandeiras e hinos, que foram exibidos 
ostensivamente em cerimônias de abertura e de premiação nos jogos. Percebendo o grande poder 
convocatório e nacionalista do Esporte, os governos passaram a investir na preparação das seleções 
nacionais em busca do prestígio obtido com as vitórias esportivas (GONZÁLEZ, 1993).
Os países participantes interpretaram os jogos como uma oportunidade para expressar os sentimentos 
nacionalistas e o sentido de identificação nacional. Assim, os Jogos Olímpicos, além de promoverem 
o jogo limpo, a paz e a compreensão entre os povos, foram usados para manifestar o orgulho e os 
interesses nacionais (GONZÁLEZ, 1993).
Contudo, as nobres ideias de Coubertin foram utilizadas para objetivos outros àqueles previstos pela 
Carta Olímpica. Os Estados passaram a usufruir os valores do Esporte em benefício próprio na disputa 
de prestígio internacional para seus respectivos regimes políticos. Desde então, os Jogos Olímpicos não 
representam apenas a confraternização entre os povos ou a busca de um melhor desenvolvimento 
humano, mas também a disputa de interesses políticos e econômicos de Estados e corporações. 
O Olimpismo ainda apresentou em seus primórdios uma questão ideológica bastante contundente. 
A questão do amadorismo esportivo tinha como justificativa a ideia de se evitar a mercantilização dos 
atletas, que, ao se profissionalizarem, passariam a buscar a vitória a todo custo, incentivando as trapaças, 
as deslealdades e a violência. No entanto, o amadorismo também foi uma estratégia excludente e 
segregacional bastante eficiente, na qual os trabalhadores e pessoas menos favorecidas do ponto de 
vista socioeconômico tinham menos tempo para se dedicar de forma abnegada ao esporte, tendo que 
dividir a jornada de trabalho com os treinos. Em seus primórdios, o COI tentou fazer dos Jogos Olímpicos 
uma festa com os ideais burgueses elitistas de seus fundadores: nobres, empresários, milionários, entre 
outros (RUBIO, 2001).
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No amadorismo imposto pelo COI, o atleta amador não poderia receber nenhum benefício 
capital, recompensa ou remuneração devido a suas práticasesportivas ou em função de seu 
desempenho. Na história olímpica brasileira, o bicampeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva, 
depois de conquistar a medalha de ouro no salto triplo em Helsinque, recusou a oferta de doação 
de uma casa feita por um jornal de São Paulo como prêmio por seus feitos, porque ainda pretendia 
competir e temia que aquele gesto pudesse ser interpretado como atividade remunerada, 
pondo em risco sua condição de amador (RUBIO, 2001). O amadorismo olímpico teve sua queda 
registrada de forma icônica nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992), quando, por ocasião do 
relaxamento dessa regra, a competição contou com a participação dos atletas da Liga Profissional 
de Basquetebol Norte-Americana (NBA), que, na ocasião, contava com um verdadeiro “time dos 
sonhos” (dream team), como passou a ser chamada e relembrada aquela seleção invencível que, 
além de conquistar a medalha de ouro, apresentou um verdadeiro espetáculo. Eram membros 
dessa equipe lendas do esporte, como Magic Johnson, Michael Jordan, Karl Malone, Larry Bird, 
Charles Barkley, Scottie Pippen, John Stockton e Patrick Ewing (CARDOSO, 2000). 
A partir de então, a demagogia envolvendo o ideal amador do esporte olímpico perdeu força. As 
únicas modalidades que permanecem com restrições são o boxe olímpico, onde apenas atletas amadores 
podem participar, e o futebol, onde não existe limite quanto ao profissionalismo, mas sim quanto à 
idade dos jogadores, sendo que apenas três atletas por equipe podem ter mais que 23 anos de idade. 
Essa limitação foi imposta pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) para que o torneio olímpico 
não ofuscasse a Copa do Mundo de Futebol (CARDOSO, 2000).
A realização dos Jogos Olímpicos foi, por muitas vezes, marcada por manifestações políticas, boicotes, 
atentados e até demonstrações de revanchismo belicoso ou, em outros extremos, a cordialidade em 
países inimigos. Essas ocorrências aconteceram apesar de o COI explicitar em seu regulamento que 
a participação nos Jogos Olímpicos é supranacional, ou seja, não deve ser representativa de uma 
nação, a participação é individual e não são permitidas manifestações políticas, de gênero, religiosas 
ou partidárias. A classificação do quadro de medalhas é um artifício criado pela mídia para medir o 
desempenho dos países, algo que não é apoiado pelo COI (CARDOSO, 2000).
Apesar dessas limitações, outras ritualísticas olímpicas dão espaço para manifestações nacionais, tais 
como o desfile de delegações, a execução do hino nacional e o hasteamento das bandeiras pátrias dos 
vencedores de cada prova. Esses pontos parecem paradoxais com as limitações contra as manifestações 
políticas, mas, de acordo com o COI, são momentos de expressão do multiculturalismo e do exercício da 
convivência, da amizade e da tolerância entre nações (BINDER, 2001).
6.1.2 Jogos Olímpicos de Berlim (1936) e a propaganda nazista
Um momento histórico bastante característico no que diz respeito ao uso político do esporte foram 
os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. Naquele período a Alemanha era governada pelo nazismo, 
tendo como líder supremo e totalitário Adolf Hitler. 
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Unidade II
Figura 29 
As origens do nazismo remontam aos movimentos nacionalistas de extrema direita que surgiram 
após a Primeira Guerra Mundial como resposta à ascensão socialista provocada pelos ideais da Revolução 
Bolchevique na Rússia em 1917. Os movimentos extremistas de ultradireita eram intensamente 
nacionalistas e xenófobos, incitavam a violência militar e policial e eram antiliberais, antidemocráticos, 
antiproletários e antissocialistas. As condições para o triunfo da ultradireita eram: uma Europa abalada 
pela guerra, uma massa de cidadãos desencantados e desorientados, fortes movimentos socialistas 
avançando na sociedade e um forte ressentimento nacionalista contra os tratados de paz do pós-guerra 
(HOBSBAWM, 1995).
A ascensão do nazismo na Alemanha foi favorecida pelas humilhações sofridas pelo povo em 
função das imposições do Tratado de Versalhes após a Primeira Guerra Mundial, que responsabilizou a 
Alemanha pelo conflito, obrigando-a a pagar pesadas reparações. Essas penalidades e sanções geraram 
uma grave crise econômica em 1923. Outro fator que colaborou com o nazismo foi o temor de que a 
revolução comunista ocorrida na Rússia contaminasse a Alemanha. Por fim, Hitler se aproveitou da 
grande depressão econômica mundial de 1929 para acionar os projetos políticos que estabeleceram o 
nazismo na Alemanha em 1933, criando um quadro de supressão dos direitos civis e de autonomia do 
Estado totalitário governado pelo partido único nazista.
Uma vez no poder, Hitler iniciou uma campanha de perseguição aos opositores do governo, comunistas 
e judeus. Combateu o desemprego com frentes especiais de trabalho e incentivos à indústria, em busca 
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FILOSOFIA E DIMENSÕES HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
de autonomia econômica, o que sustentou os ideais de expansão do III Reich, culminando na eclosão da 
Segunda Guerra Mundial quando Hitler invadiu a Polônia em 1939 (JAGUARIBE, 2001).
Em 25 de abril de 1931, o Dr. Theodor Lewald, secretário geral do Comitê Olímpico Alemão, apresentou 
as intenções da Alemanha em sediar os jogos de 1936 na cidade de Berlim. Como argumento, Dr. Lewald 
apresentou os projetos em andamento para a construção de estádios e instalações esportivas, e também 
lembrou que a Alemanha havia sido escolhida para sediar os jogos de 1916, que acabaram não se 
realizando em função da Primeira Guerra Mundial. Assim, Berlim foi eleita (HOLMES, 1974).
Em 1931 a Alemanha era governada pela República de Weimar. A realização dos Jogos Olímpicos 
seria utilizada para exaltar a honra do povo alemão, abalada pelas imposições humilhantes do 
Tratado de Versalhes. No entanto, em 1936, os jogos acabaram representando os interesses de 
propaganda do governo totalitário nazista e se tornaram um marco de referência da utilização do 
esporte para fins políticos. 
Hitler assumiu o cargo de chanceler alemão em 30 de janeiro de 1933 e convocou novas eleições 
para março, no intuito de obter maioria do partido nazista no parlamento (Reichtag). No dia 27 
de fevereiro, um lunático comunista patrocinado pela polícia nazista S.S. incendiou o parlamento. 
Hitler usou o pretexto para dissolver o partido comunista e prender parlamentares do Partido Social 
Democrata. Com isso, o Partido Nazista conseguiu maioria nas eleições de março e aprovou o “voto 
de confiança” a Hitler, concedendo ao chanceler poderes ditatoriais. Com a morte do presidente 
Hindenburg, em agosto de 1933, Hitler assumiu também o cargo de presidente. Investido de plenos 
poderes, Hitler dissolveu os outros partidos e impôs uma caçada aos opositores do governo e aos não 
arianos judeus (JAGUARIBE, 2001).
Os judeus foram expulsos dos clubes esportivos e das equipes olímpicas alemãs. O COI repreendeu o 
Comitê Alemão, que aparentemente voltou atrás da decisão, repatriando alguns atletas judeus exilados. 
A ascensão de Hitler ao poder colaborou diretamente com o comitê de organização dos Jogos Olímpicos, 
que foi amplamente amparado financeiramente pelo Estado. A Olimpíada de Berlim representou, para 
Hitler, uma grande oportunidade de divulgar internacionalmente a imagem poderosa da Alemanha 
Nazista. O ministério de propaganda nazista, chefiado por Goebbels, foi acionado para veicular a 
publicidade dos jogos nazistas. Hitler convocou o Exército Alemão para auxiliar nas obras dos conjuntos 
esportivos e da vila olímpica. Também promoveu frentes de trabalho, utilizando o grande contingente 
de desempregados da Alemanha daquela época (HOLMES,

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