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CONFIABILIDADE DE SISTEMAS Aline Morais da Silveira Redundância Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir redundância na área de engenharia da confiabilidade. Explicar as formas de criar redundância em sistemas. Calcular a confiabilidade de componentes com redundância. Introdução A disponibilidade dos equipamentos, garantindo que eles estejam aptos a realizarem o seu trabalho, é uma grande necessidade para as empresas. Uma das formas de aumentar a disponibilidade dos equipamentos, além da manutenção adequada, é por meio da redundância. Neste capítulo, você vai estudar a aplicação da redundância na enge- nharia da confiabilidade, verificando algumas formas de criar redundância em sistemas e, também, como calcular a confiabilidade de componentes com redundância. Redundância na engenharia da confiabilidade Por defi nição, redundância é uma repetição, sendo, no contexto das lingua- gens, normalmente considerada um excesso e desnecessária. Já no âmbito da engenharia da confi abilidade, a redundância é importante, pois assegura a produtividade, a disponibilidade e a segurança de equipamentos e seus sistemas. Segundo Slack et al. (2013), uma operação construída em redundância significa a existência de processos e recursos de reserva em caso de falha, principalmente para os casos em que a pane tem um impacto crítico. Alguns componentes são duplicados, e outros, até mesmo, triplicados, para que entrem em ação quando um deles falha. Após serem definidas as metas de confiabilidade, a necessidade de re- dundância de componentes pode ser identificada, bem como as atividades de manutenção. De acordo com Dym et al. (2010), a redundância normalmente aumenta a confiabilidade, mas, com isso, os custos também são aumentados, pois são incluídos elementos para serem usados eventualmente. A utilização de redundância deve ser ponderada, levando em conta as consequências da falha de um componente em relação à falha do sistema e os respectivos custos. Conforme Marshall e Chapman (2002), uma avaliação de risco deve ser realizada, verificando-se o risco de ocorrer determinada falha e o seu impacto sobre o sistema. A redundância deve ser priorizada para falhas cuja combi- nação de probabilidade e efeito no sistema é mais alta, mas também devem ser considerados casos em que a probabilidade é muito baixa, mas seu efeito pode ser catastrófico, além de eventos muito frequentes e de menor impacto. A redundância pode fazer com que falhas não sejam detectadas quando ocorrem, as chamadas falhas escondidas, diminuindo de forma significativa a confiabilidade dos sistemas. Identificar as falhas escondidas e monitorar sua ocorrência é essencial nos programas de manutenção centrada em confiabilidade. A redundância melhora a mantenabilidade, pois, em muitos casos, en- quanto a manutenção é realizada, o equipamento ou sistema pode continuar em operação. Mas, mesmo assim, devem ser priorizadas as melhorias nos equipamentos gargalo e naqueles que não possuem redundância, pois sua falha pode trazer um maior impacto. De acordo com Smith (2000), mesmo com vários pontos positivos, deve sempre ser lembrado que a redundância adiciona: custo; peso; peças de reposição; espaço; manutenção preventiva; consumo de energia; falhas no nível da unidade, aumentando a manutenção corretiva. Redundância2 Estações de energia nuclear, hospitais e alguns prédios públicos possuem geradores de eletricidade auxiliares como forma de redundância, para operar em casos de falha no fornecimento de eletricidade. Naves espaciais têm com- putadores reserva a bordo, que monitoram o computador principal e atuam como substitutos em caso de falha. Até o corpo humano possui órgãos dupli- cados que podem ser considerados redundância, como olhos e rins. Algumas organizações têm equipes de reserva para situações em que algum funcionário não vai trabalhar ou vai ficar preso em uma tarefa, sendo incapaz de começar a próxima, igualmente importante. O uso de redundância também é bastante comum em cadeias de suprimentos, bancos de dados, sensores de segurança, redes de energia, entre outros. Conforme a Norma Regulamentadora NR–12, que trata da segurança no trabalho em máquinas e equipamentos, o uso de redundância deve ser avaliado para dispositivos responsáveis pela prevenção de partida inesperada ou pela função de parada rela- cionada à segurança (BRASIL, 1978). Formas de criar redundância Conforme Alves (2015), na engenharia, a redundância não consiste somente na duplicação de componentes críticos, mas também na duplicação de informações e de tempo, com o objetivo de aumentar a confi abilidade do sistema. Segundo o autor, existem quatro formas principais de redundância: redundância de hardware, como a redundância modular; redundância de informações, como paridade e códigos de correção; redundância de tempo, realizando a mesma operação várias vezes, como diversas execuções de um programa ou várias cópias dos dados transmitidos; redundância de software, como N-versão de programação. Para Alves (2015), a redundância pode ter duas funções: passiva ou ativa. A redundância passiva usa excesso de capacidade para reduzir o impacto de falhas de componentes, como força extra de cabos e suportes utilizados em pontes. Já a redundância ativa evita a diminuição de desempenho por 3Redundância meio de monitoramento, sendo que cada componente duplicado adicionado ao sistema diminui a probabilidade de falha deste. Segundo Smith (2000), os tipos de redundância se diferenciam por ca- racterísticas específicas dos sistemas de que fazem parte, em que os itens redundantes podem estar ativos ou em standby. A redundância ativa (Figura 1a) é caracterizada por um sistema em que todos os itens estão em operação, e o sistema não deixa de funcionar quando um ou mais itens falham. De acordo com Marshall e Chapman (2002), a redundância ativa é bastante satisfatória para instalações de computadores. Ela pode ser subdividida em: redundância ativa total — o sistema falha somente quando todos os itens que o constituem falham; redundância ativa parcial — para o sistema continuar operando, mais de um item precisa estar funcionando, ou seja, o número de equipa- mentos que pode falhar é inferior ao caso da redundância ativa total; redundância ativa condicional — o funcionamento do sistema é con- dicionado pelo modo de falha de seus itens constituintes; se dois ou mais itens falharem no mesmo modo de falha, o sistema para, já se a falha ocorrer de modo diferente, o sistema continuará funcionando. Na redundância em standby (Figura 1b), são utilizados itens de reserva no sistema, que são acionados quando o item está em operação e, com a mesma função, para de funcionar. Podem ser utilizados itens idênticos ou itens semelhantes, mas com a mesma função. Para a redundância em standby, são necessários sensores para detectar as falhas, e a troca de um componente por outro pode ser feita por um dispositivo automático ou por um operador, que executa conforme a demanda. Figura 1. Diagramas de blocos de sistemas com redundância (a) ativa e (b) em standby. Fonte: Adaptada de Fogliatto e Ribeiro (2009). Redundância4 Segundo Marshall e Chapman (2002), no setor da energia, esquemas com redundância em standby raramente são satisfatórios em sistemas críticos, em situações comerciais ou industriais modernas. Na Figura 2, é apresentada a confiabilidade ao longo do tempo para sistemas sem redundância, com redundância ativa e com redundância em standby. Segundo Smith (2000), teoricamente, a confiabilidade do sistema com redundância em standby é maior, mas, na prática, essa vantagem pode não ocorrer, pois há um período entre a ocorrência da falha e a colocação da unidade redundante em funcionamento. Por outro lado, nem sempre é fácil obter redundância ativa com independência real entre as unidades, sendo que a falhade uma unidade pode causar, ou pelo menos acelerar, a falha de outra. Figura 2. Confiabilidade para sistemas sem redundância, com redundância ativa e com redundância em standby. Fonte: Adaptada de Smith (2000). O uso de alarme em conjunto com a redundância pode ser uma boa al- ternativa em alguns casos, pois a redundância permite que a função seja restabelecida por outro componente, enquanto o alarme avisa a respeito da falha para que ela seja corrigida, recuperando a alta confiabilidade associada ao sistema redundante. 5Redundância Confiabilidade de componentes com redundância Ao se projetar um sistema, é necessário analisar como os componentes estão agrupados e qual o impacto na confi abilidade, caso algum deles apresente falha. Na Figura 3, é possível observar que a confi abilidade de sistemas redundantes é maior do que a confi abilidade de sistemas sem redundância na maior parte da vida útil, e, quanto maior for o número de itens redundantes, maior é o período de confi abilidade elevada. Figura 3. Relação entre a quantidade de itens redun- dantes e a confiabilidade. Fonte: Adaptada de Smith (2000). Em um sistema em série, que consiste em um encadeamento de elementos, se um deles falhar, todo o sistema vai falhar. Fazendo analogia a uma corrente, que vai se romper no elo mais fraco, se um componente tiver confiabilidade baixa, o sistema inteiro terá confiabilidade baixa. Além disso, a confiabilidade de um sistema em série decresce à medida que mais componentes são adicionados ao sistema. A confiabilidade do sistema, com n componentes, em que não há redundância, é obtida por: Redundância6 Conforme Fogliatto e Ribeiro (2009), os arranjos em série são muito utilizados no projeto de produtos industriais, já que, por não apresentarem redundância de componentes, costumam apresentar menor custo. Já para sistemas em que há redundância, ou seja, sistemas em paralelo, de acordo com Slack et al. (2013), o efeito da redundância pode ser calculado por meio da soma da confiabilidade do componente do processo original com a probabilidade de que o componente reserva seja necessário e esteja funcionando: Ra + b = Ra + (Rb × Pfalha) onde Ra+b é a confi abilidade do componente a com seu componente reserva b, Ra é a confi abilidade do componente a sozinho, Rb é a confi abilidade do componente reserva b, e Pfalha é a probabilidade de que o componente a falhe e, portanto, o componente b seja necessário. Um fabricante tem duas linhas de produção, sendo que a segunda só entrará em operação se a primeira falhar. Se cada linha tem confiabilidade de 80%, qual será a confiabilidade das duas linhas trabalhando em redundância? Ra+b = Ra + (Rb × Pfalha) = 0,8 + [0,8 × (1 – 0,8)] = 0,96 = 96% Outras formas de se calcular a confiabilidade de sistemas com redundância são apresentadas a seguir. Redundância ativa total Em um sistema com redundância ativa total, a confi abilidade é: 7Redundância A confiabilidade de um sistema com três componentes (Ra = 0,90, Rb = 0,80, Rc = 0,75) com redundância ativa total é: Rsistema = 1 – [(1 – 0,90)(1 – 0,80)(1 – 0,75)] = 0,995 = 99,5% Redundância ativa parcial Segundo Smith (2000), em um sistema com redundância ativa parcial, em que r componentes podem falhar dentre os n componentes, e todos os componentes possuem a mesma confi abilidade, a confi abilidade do sistema é obtida por uma expansão binomial: Redundância ativa condicional Conforme Smith (2000), para o sistema com redundância ativa condicional, em que todos os componentes possuem a mesma confi abilidade, a confi abi- lidade do sistema é calculada por meio da equação: Rsistema = RaPa + RbPb + ... + RnPn onde Pn é a probabilidade de falha do componente n, ou seja, Pn = (1 – Rn). Redundância em standby A confi abilidade de um sistema com redundância em standby, conforme leciona Smith (2000), fazendo algumas considerações, é: As considerações são: os meios de detectar que ocorreu uma falha e de alterar a unidade defeituosa para a unidade de espera estão isentos de falhas; Redundância8 as unidades de espera possuem taxa de falha (λ) constante e idêntica à unidade principal; as unidades de espera não falham enquanto estiverem inativas; nenhum reparo é efetuado até que o sistema falhe. ALVES, E. M. A. Aumento de confiabilidade de sistemas embutidos usando redundância e algoritmos de decisões baseados em reconhecimento de padrões. 2015. 104 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) — Universidade Federal de Minas Gerais, Goiânia, MG, 2015. Disponível em: https://www.ppgee.ufmg.br/defesas/1180M.PDF. Acesso em: 11 mar. 2019. BRASIL. Ministério do trabalho. NR–12 — Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 6 jul. 1978. Disponível em: http:// trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR12/NR-12.pdf. Acesso em: 11 mar. 2019. DYM, C. L. et al. Introdução à engenharia: uma abordagem baseada em projeto. Porto Alegre: Bookman, 2010. FOGLIATTO, F. S.; RIBEIRO, J. L. D. Confiabilidade e manutenção industrial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. MARSHALL, G.; CHAPMAM, D. Resiliência, confiabilidade e redundância. Guia de aplicação de qualidade de energia. São Paulo: ECI; PROCOBRE, 2002. E-book. Disponível em: https:// www.procobre.org/pt/wp-content/uploads/sites/4/2018/03/qe16-guia-4-1-resilincia- -confiabilidade-redundncia.pdf. Acesso em: 11 mar. 2019. SLACK, N. et al. Gerenciamento de operações e de processos: princípios e práticas de impacto estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2013. SMITH, J. D. Reliability, maintainability and risk: practical methods for engineers. Oxford: Butterworth-Heinemann, 2000. 9Redundância