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A FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS As constantes e cada vez mais rápidas transformações do ambiente internacional vêm alterando as percepções e valores determinantes do comportamento humano, indicando claramente que estamos diante de novos padrões de relacionamento entre pessoas, empresas e nações. Há alguns anos os países perceberam que, para melhor enfrentar os desafios da globalização e aproveitar suas vantagens, deveriam unir-se ou, então, como se costuma dizer, integrar-se. Desta concepção surge a ideia para a formação de blocos econômicos. Os blocos geralmente compõem-se de países vizinhos, com características comuns e interesses complementares, que se unem a fim de fortalecer suas economias e com isso conseguir maior poder de barganha com outros blocos, tornando ainda mais efetiva sua participação na economia internacional. O que se percebe é uma tentativa destes países em estabelecer relações comerciais privilegiadas entre si, buscando atuar de forma conjunta no mercado internacional. Visualizando esta integração, muitos países hoje adotam a política de “portas abertas”. “Os primeiros que pressentiram essa tendência já apresentam maior especialização em suas atividades econômicas, estando com suas posições praticamente consolidadas no cenário internacional.” (SUZUKI, 1995, p. 17-18). GLOBALIZAÇÃO E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Essa integração de economias regionais obtém-se pela aproximação das políticas econômicas e da legislação dos países que fazem parte de uma aliança. Com isso, pretende-se criar um bloco econômico que possibilite um maior desenvolvimento para todos os membros da associação. No entanto, para se alcançar um patamar de integração sustentável e progressiva, Kunzler (1999) afirma que existem algumas etapas que esclarecem o processo de formação dos blocos econômicos: • Primeira etapa: Zona de livre comércio – nessa zona as mercadorias provenientes dos países- membros podem circular livremente, as tarifas alfandegárias são eliminadas e há flexibilidade nos padrões de produção, controle sanitário e de fronteiras. • Segunda etapa: União aduaneira – além das características apresentadas pela zona de livre comércio, essa etapa envolve a negociação de tarifas alfandegárias comuns para o comércio realizado com outros países. • Terceira etapa: Mercado comum – esta etapa engloba as duas fases anteriores e acrescenta a livre circulação de pessoas, serviços e capitais. • Quarta etapa: União monetária – nessa fase pressupõe-se a existência de um mercado comum em pleno funcionamento, possibilitando a coordenação das políticas econômicas dos países-membros e a criação de um único banco central para emitir a moeda que será utilizada por todos. • Quinta etapa: União política - abrange todas as fases anteriores e envolve também a unificação das políticas de relações internacionais, defesa e segurança interna e externa dos países-membros. Desta forma, a união/associação passou a ter um significado novo para os países envolvidos: prosperidade. Isto faz com que as nações passem a se adequar a essa grande tendência mundial, onde o isolamento e a autossuficiência não têm vez, e o reflexo desta situação está, principalmente, na tentativa de diminuição de barreiras alfandegárias e fiscais ao comércio internacional. A primeira grande experiência de integração entre nações surgiu em 1957, quando seis países europeus resolveram unir-se em um grupo, com o propósito de ganhar uma posição mais relevante no mundo. Mas a tendência de regionalização da economia só foi fortalecida nos anos 90, com o desaparecimento dos dois grandes “blocos” da Guerra Fria, sendo que a cada dia novos países e agrupamentos regionais manifestam seu interesse em tomar parte nesse processo, abrindo novas e promissoras perspectivas para o crescimento comercial global. Para uma melhor compreensão deste movimento de integração mundial, o tópico a seguir vai proporcionar um aprofundamento ao conhecimento da classificação dada aos blocos econômicos, suas características principais e os exemplos clássicos abordados pela literatura. CLASSIFICAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS Nas últimas décadas do século XX, os países no mundo intensificaram um movimento de inter- relações comerciais nunca visto na história das negociações internacionais. E estes relacionamentos vieram para influenciar cada vez mais as ações dos países no contexto internacional, trazendo um processo dinâmico de interações onde cada qual busca seus interesses, ainda que, conjuntamente, possam estabelecer metas comuns. Desta forma, os laços criados entre as nações cumprem tanto objetivos econômicos quanto políticos, tendo em vista os principais objetivos para a formação de um acordo multilateral. Lopez e Gama (2010) resumem estes objetivos fundamentais na negociação de um acordo entre dois ou mais países: • Ampliação do acesso de seus produtos aos mercados externos via preferências tarifárias. • Complementação econômica e liberalização gradativa do comércio. • Discussão e facilitação não apenas de temas relativos ao comércio de mercadorias, como também atividades correlacionadas. • Desenvolvimento de um pensamento comum sobre políticas comerciais, regras de concorrência, questões ambientais e também de crescimento social. Assim, a integração se processa por meio de um conjunto de medidas que tem como objetivo central a aproximação e união entre as economias e as posturas políticas de dois ou mais países. E de acordo com os fatores envolvidos e os objetivos destas nações, a relação pode assumir diversos moldes, podendo se manifestar também como fases sucessivas ou então como um acordo sem maiores pretensões evolutivas de integração. Contudo, a tendência à formação de blocos não é apenas resultado da pressão do processo de globalização da economia, mas o movimento possui uma lógica econômica, com foco no crescimento; política, como forma de potencializar o poder dos países, e social, no sentido de promover o bem-estar e o desenvolvimento para a população. Sendo assim, de acordo com a estratégia dos países e seus objetivos, abordaremos a seguir as classificações utilizadas para identificar o nível de integração em cada bloco econômico. 2.1 ZONA PREFERENCIAL Apesar de alguns autores pularem esta classificação como a primeira forma de integração regional, indo diretamente para a Área de Livre Comércio, vamos abordar este nível de integração, pois ainda existem acordos vigentes que encontram-se neste patamar e nestes moldes de bloco econômico. Uma zona preferencial é a classificação dada a uma união formada por dois ou mais países, que adotam tarifas preferenciais (menores) para o comércio entre os membros do bloco. Em outros termos, as tarifas sobre o comércio de mercadorias entre estes países são inferiores àquelas aplicadas às mesmas mercadorias quando estas não forem provenientes de um membro do bloco. Um exemplo clássico de bloco econômico que tem este formato e está nesta fase de integração é a ALADI (Associação Latino- Americana de Integração). Este acordo teve seus antecedentes na década de 50, quando estudos realizados pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (Cepal) identificaram a vontade de alguns países desta região em desenvolver um modelo de relações comerciais baseado na substituição das importações. O fato é que em 1960, em um encontro realizado em Montevidéu, foi criada a ALALC (Associação Latino- Americana de Livre Comércio), onde os países signatários tinham como instrumento básico listas nacionais que continham os produtos que fariam parte de um programa de redução tarifária que viria a perdurar por 12 anos. Este programa previa quatro rodadas de negociações, em que os países se comprometiam a reduzir, em cada um dos encontros, 25% do universo tarifário. (LOPEZ; GAMA, 2010). No entanto, a proposta de revisão no programa de liberalizaçãodo comércio entre os países participantes da ALALC mostrou no final dos anos 70 a incapacidade de se levar adiante as pretensões do bloco. Por isso, em 1980 o acordo foi substituído pela Associação Latino- Americana de Integração, criada pelo Tratado de Montevidéu assinado em 12/08/1980. Contudo, a ALADI permaneceu então com os moldes de uma zona preferencial, e os 12 países- membros citados a seguir permanecem com o tratamento tarifário privilegiado entre si: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. A ideia ainda é fomentar a negociação entre os países da região, privilegiando os produtos oriundos destes participantes. 2.2 ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO Nessa modalidade de integração regional, os países-membros eliminam progressivamente as barreiras ao comércio intrabloco, até que atinjam a tarifa de zero por cento para as mercadorias negociadas entre as partes. No entanto, cada país-membro tem total liberdade no que se refere à adoção de políticas comerciais relativas a países não membros, assim cada um mantém sua independência no que diz respeito à adoção de suas normas para com aqueles que não pertencem ao acordo. Isto significa que cada país, mesmo tendo o comércio de mercadorias livre de tarifas entre os membros, pode estabelecer as suas próprias regras tarifárias e não tarifárias para as mercadorias produzidas fora do bloco. O objetivo é que cada membro possa ainda ter liberdade na decisão sobre medidas que visam proteger alguns segmentos específicos de suas economias. Um aspecto importante a ressaltar é a necessidade de se comprovar que a mercadoria que poderá circular livremente entre os países de um bloco com esta classificação precisará comprovar a sua origem, ou seja, deverá seguir a regra de produção dentro do bloco, e a nacionalidade pode ser garantida com a apresentação de Certificado de Origem, devidamente emitido por organismo competente. O NAFTA (North American Free Trade Agreemen – Acordo de Livre Comércio da América do Norte) é um exemplo de bloco econômico neste estágio de classificação, e foi constituído em 1992 com os seguintes países signatários: Canadá, Estados Unidos e México. O acordo entrou em vigor em 1994 e tinha os seguintes pontos contemplados: • Comércio de bens com as barreiras tarifárias eliminadas num prazo de 15 anos. E ainda o fim das restrições quantitativas (cotas) nas importações entre os países. • Os produtos para serem contemplados no acordo devem respeitar a Regra de Origem, ou seja, apresentar Certificado de Origem comprovando procedência produtiva. • Os investimentos também ganhavam maior força. No entanto, mesmo depois do estabelecimento do acordo, as fortes restrições à movimentação de pessoas continuaram entre os países, principalmente no fluxo México–Estados Unidos. Assim, o controle de imigração mantém forte vigilância nas fronteiras. Ainda hoje existem muitas discussões a respeito dos reflexos da formação deste bloco para os países-membros, principalmente no que diz respeito a questões ambientais, de justiça social e até mesmo de saúde pública. Isso porque os moldes do acordo fazem com que o México, por ser o país menos desenvolvido, ficasse com boa parte do ônus da relação comercial, notadamente por ter ficado com a parte produtiva e poluidora que abastece os mercados norte-americano e canadense. Apesar de tudo, alguns indicadores macroeconômicos, como PIB, taxa de desemprego e poupança, evoluíram positivamente entre os países do NAFTA até 2008, quando a crise norte-americana trouxe consequências negativas também para os seus vizinhos, que viram suas economias entrelaçadas ruírem com os Estados Unidos. Como podemos perceber, esta integração pode trazer tanto maior poder econômico para os associados, como dependência entre os mercados, e esta, em caso de crise, pode impactar de forma negativa todos os membros, mesmo que indiretamente. 2.3 UNIÃO ADUANEIRA A denominação união aduaneira é utilizada para classificar uma integração mais avançada de bloco econômico, se comparada a uma área de livre comércio. Nessa fase de integração econômica, além da eliminação recíproca de barreiras comerciais tarifárias intrabloco, os países-membros passam a adotar uma política comercial comum relativa aos países não membros. Um dos mecanismos principais para o estabelecimento de uma política comercial comum aos países do bloco é a adoção da chamada Tarifa Externa Comum (TEC), isto significa que os membros vão tratar da mesma forma a entrada de mercadorias provenientes de outros mercados de fora do bloco. O Mercosul, bloco que tem a Argentina, o Brasil, o Paraguai e Uruguai como fundadores, é um exemplo de união aduaneira, tendo em vista as características formalizadas e apresentadas até os dias atuais. Apesar da nomenclatura que o bloco utiliza, “Mercado Comum do Sul”, o objetivo de constituir um mercado comum, a rigor, não se concretizou, tendo em vista o controle ainda existente sobre a circulação de pessoas e capital. 2.3.1 Mercosul: formação e evolução A vontade de formação de um bloco econômico sul-americano capaz de apresentar relevância mundial já se manifestava desde a década de 70, mas este foi, de certa forma, um processo lento. Os encontros entre os líderes políticos de Brasil e Argentina começaram em julho de 1986, quando na ocasião os mesmos assinaram a Ata para a Integração Argentino-Brasileira que deu origem ao Programa de Integração e Cooperação Econômica (PICE), que tinha por objetivo proporcionar a abertura seletiva no âmbito comercial entre os dois mercados. No entanto, segundo Kunzler (1999), foi apenas em 1988 que Brasil e Argentina assinaram enfim um Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, com o objetivo de consolidar um espaço econômico comum, através da liberalização comercial de fato e da homogeneização das políticas macroeconômicas dos dois países. A partir daquele ano foram assinados 24 protocolos sobre temas diversos, como: produtos alimentícios industrializados, indústria automotriz, cooperação nuclear, bens de capital, entre outros, fazendo com que a integração entre Brasil e Argentina fosse avançando. Estes acordos foram abreviados em um acordo único, o Acordo de Cooperação Econômica Nº 14 (ACE-14), assinado em 1990. No entanto, foi em 26 de março de 1991 que este anseio de integração materializou-se, através do Tratado de Assunção, que constituiu o Mercado Comum do Sul, com a participação do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai como parceiros comerciais. Vale ressaltar a presença do Chile e da Bolívia como associados do Mercosul. Cabe ressaltar que este Tratado foi complementado por vários outros protocolos adicionais, destacando-se os seguintes: • Protocolo de Brasília (1991): com o objetivo de definir temas relacionados à solução de controvérsias no âmbito do Mercosul. • Protocolo de Ouro Preto (1994): onde o tema central foram aspectos institucionais que definiram a estrutura do Mercosul. Em linhas gerais, Foschete (1999, p. 136) detalha o que ficou estabelecido quando da assinatura do Tratado de Assunção: • Um programa de liberalização comercial, consistindo de reduções tarifárias progressivas (até se atingir a tarifa zero em 31/12/1994), acompanhadas de eliminação de restrições não tarifárias. • A coordenação de políticas macroeconômicas, que se realizaria gradualmente e de forma convergente com os programas de desgravação tarifária e eliminação de restrições não tarifárias. • Uma tarifa externa comum, que incentivaria a competitividade externa dos Estados-Parte e promoveria economias de escala eficientes. • Constituição de um Regime Geral de Origem, de um Sistema de Solução de Controvérsias e Cláusulas de Salvaguardas. • A definição de listas de exceções ao programa de liberação comercial que contemplassem os chamados “produtos sensíveis”,as quais seriam reduzidas anualmente em 20%, até 31/12/1994, com tratamento diferenciado para o Paraguai e o Uruguai. Desta forma, o principal objetivo de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai era estabelecer uma zona de livre comércio entre os membros do acordo, através da eliminação de taxas alfandegárias e com uma política comercial conjunta em relação a terceiros, harmonizando gradativamente suas legislações, para assim fortalecer o processo de integração. NOTA: No Brasil, o Tratado de Assunção foi ratificado pelo Congresso por meio do Decreto Legislativo n° 197, de 25/09/1991, e promulgado pelo Decreto n° 350, de 21/11/1991. Para manter o bom andamento dos objetivos do bloco, os países realizam periodicamente encontros para discussões e revisões das diretrizes do acordo. Estas reuniões acontecem uma vez por semestre e são reconhecidas por Cúpulas do Mercosul. É neste momento que a presidência do bloco é repassada entre os presidentes dos países, tendo em vista a mesma ser Pro Tempore, e a sequência rotativa é feita em ordem alfabética pelos nomes dos Estados- Parte. É importante destacar a estrutura do Mercosul, que conta com os seguintes órgãos principais: • Conselho de Mercado Comum (CMC): é integrado pelos ministros das Relações Exteriores dos países-membros, considerado órgão superior, responsável pela condução das políticas de integração e das decisões para garantir os objetivos estabelecidos no Tratado de Assunção. • Grupo Mercado Comum (GMC): este é o órgão executivo, que toma as providências necessárias para o cumprimento das decisões do CMC. • Comissão de Comércio do Mercosul (CCM): além de assistir o GMC, entre as suas competências está a responsabilidade de supervisionar a aplicação da política comercial para o bom e pleno funcionamento da união aduaneira. • Comissão Parlamentar Conjunta: órgão representativo dos parlamentos dos países, responsável por acelerar os procedimentos de aprovação das diretrizes emanadas no âmbito do bloco. • Foro Consultivo Econômico-Social: é o organismo que serve como ponto de ligação com os diferentes setores da sociedade civil. • Secretaria Administrativa do Mercosul (SAM): é o suporte operacional do bloco e presta serviços aos demais órgãos. De acordo com Soares (1997), a abertura das economias efetivada em 1994 trouxe estímulos e uma certa competitividade aos quatro mercados envolvidos, que com esta união buscaram enfrentar e concorrer em igualdade no mercado internacional. O comércio regional entre os membros do bloco também foi beneficiado, pois de acordo com Kunzler (1999, p 56), “[...] cresceu 312% entre 1991 e 1997”. O reflexo desta nova dinâmica econômica pode ser observado ainda no aumento significativo do número de parcerias entre empresas da região do bloco, sendo que o resultado mais positivo da integração está na eliminação das barreiras tarifárias das operações realizadas entre as nações do Mercado Comum do Sul. Não se pode deixar de mencionar a importância que a adoção da Tarifa Externa Comum (TEC) teve para o reconhecimento do bloco como uma União Aduaneira. Este instrumento foi implementado no Brasil pelo Decreto n° 1.343, de 23/12/1994, para vigorar em 1995. Este mecanismo veio para equilibrar as condições de concorrência intrabloco, garantindo o tratamento preferencial para as mercadorias do Mercosul e a mesma postura para com os bens originários de terceiros países. IMPORTANTE: Precisamos destacar os critérios gerais para considerar um bem originário do bloco: - os produtos elaborados integralmente no território dos países-membros; - os produtos que tenham sido extraídos, cultivados ou colhidos no território dos signatários, mesmo submetidos a processos primários de embalagem e conservação necessários à comercialização, sem que isso mude a sua classificação fiscal. No entanto, devido à diversidade de estruturas nos setores da economia de cada país, desde a agricultura aos segmentos industriais, ainda existem listas de exceções formadas por produtos sensíveis em cada Estado-Parte, e, com a devida aprovação do bloco, cada um define suas regras de comércio, ou melhor, suas alíquotas, para estes bens específicos. De qualquer forma, nas reuniões da cúpula do Mercosul, os países podem levar as suas solicitações para revisão das alíquotas comuns aplicadas aos terceiros, tanto para aumentá-las nos casos de maior proteção às produções do bloco, como para reduzi-las nos casos de bens relevantes e não produzidos pelos membros. Desta forma, pode-se alegar que o Mercosul tornou-se irreversível; porém, nos últimos anos, bastante ameaçado pela pressão norte-americana para a formação de um bloco ainda mais ambicioso, envolvendo todos os países do Continente Americano, exceto Cuba. Contudo, ainda que a atual situação dos países do Mercosul tenha sido marcada por instabilidade e alguns impasses econômicos, a relação comercial entre os membros, muitas vezes, apresenta-se viável não só pela qualidade dos produtos comercializados, mas também pela liberalização alfandegária que, geralmente, traz uma maior competitividade às mercadorias transacionadas. Podemos dizer que o Mercosul tem uma particularidade, que é o fato de ser considerado um bloco que tem uma postura regionalista aberta, ou seja, desde a sua criação o bloco não tem como objetivo só o incremento do comércio e das relações intrazona, mas também existe um movimento de integração com outros países do Continente Sul-americano, principalmente. Assim, nós temos Estados Associados do Mercosul, como a Bolívia (desde 1996), o Chile (desde 1996), o Peru (desde 2003), a Colômbia e o Equador (desde 2004). Além da Venezuela, em estágio mais avançado de integração, que teve sua entrada aprovada com a assinatura em julho de 2006 do Protocolo de Adesão da República Bolivariana da Venezuela ao Mercosul. 2.4 MERCADO COMUM É a fase de integração em que, além de se adotar uma política comercial comum para com os terceiros países e abolir as restrições sobre os produtos negociados intrabloco, permite-se também a livre circulação dos fatores de produção (trabalho e capital). Desta forma, a mão de obra, o capital e as empresas podem movimentar-se livremente entre os países do bloco. Um exemplo clássico de Mercado Comum era o bloco formado por alguns países europeus, em um estágio anterior ao formato atual da União Europeia. O bloco era então reconhecido como Comunidade Econômica Europeia (CEE). Este acordo teve sua origem com a constituição de união aduaneira em 1948, entre a Bélgica, Holanda e Luxemburgo, que ficou conhecido como BENELUX, e três anos mais tarde houve uma ampliação do acordo, incluindo também Alemanha Ocidental, França e Itália, que constituíram a CECA (Comunidade Europeia de Carvão e Aço), para fomentar a comercialização livre destes produtos que movimentavam as economias destas nações na época e manter ainda uma postura comum para o que não fosse produzido por estes países. No entanto, as reuniões que sucederam este período fizeram com que em 1957 os seis países precursores do bloco oficializassem, pelo Tratado de Roma, a Comunidade Econômica Europeia, que entraria em vigor no ano seguinte. Neste momento, então, os objetivos do bloco não se restringiam apenas à livre circulação de mercadorias com a eliminação tarifária, mas acabaram também os obstáculos à movimentação de capital e pessoas entre os países. Nos anos que se seguiram, outros países foram incorporados ao bloco: Reino Unido, Irlanda e Dinamarca em 1972, Grécia em 1981, Espanha e Portugal já em 1986. 2.5 UNIÃO ECONÔMICA E MONETÁRIA Esta é a classificação de bloco econômico que apresenta um processo de integração mais evoluído. Tem como palavra de ordem a SUPRANACIONALIDADE, ou seja, o bloco é algo maior, mais importante do que as nações que fazem parte do mesmo. Nesta etapa os países participantes do bloco possuemlivre comércio de mercadorias; política externa comum para com aqueles que não pertencem ao acordo; os fatores de produção (pessoas e capital) podem circular livremente e ainda existe a adoção de políticas macroeconômicas uniformes. Assim, os membros passam a ter também moeda única, políticas fiscais e sociais unificadas, Parlamento unificado e Banco Central único. A União Europeia é a expressão maior, senão única, de uma união econômica e monetária. Depois da consolidação da Comunidade Econômica Europeia, os países membros deste bloco, que já eram 12 nações, firmaram em 1992 o Tratado de Maastricht – também conhecido como Tratado da União Europeia –, este tinha por objetivo central ampliar a integração entre os Estados-Parte e iniciou trazendo uma nova denominação ao bloco: União Europeia (EU). O planejamento do Tratado era possibilitar a integração total entre os países até 1999, e isso incluía: livre circulação de mercadorias, serviços, pessoas e capitais, política externa e de segurança comum, e o principal, a adoção de moeda única. O projeto também incluía a tendência de ampliar o número dos participantes paulatinamente, principalmente para os países da Europa Central e Oriental. A União Europeia que teve como precursores a Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Alemanha, França, Itália, e em seguida a adesão da Dinamarca, Irlanda, Reino Unido, Grécia, Espanha, Portugal, no final da década de 90 já contava também com a Áustria, Finlândia, Suécia. Em 2004 o Chipre, a Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia e República Tcheca aderiram à UE. E em 2007, Bulgária e Romênia completaram os 27 estados membros que compõem o bloco atualmente. No entanto, o marco deste bloco foi a criação da moeda única, o euro (€). Mas para chegar neste patamar precisamos entender alguns fatos que antecederam o surgimento do euro. O primeiro passo dado pelos países do bloco para a consolidação do nível de integração na esfera monetária e econômica foi a criação do Sistema Monetário Europeu (SME), em 1979. O objetivo do SME era controlar a inflação e as taxas de câmbio, através do estabelecimento de uma taxa central fixa que serviria de parâmetro para as conversões das moedas vigentes nos países-membros do bloco. No entanto, as políticas nacionais, a crise do petróleo de 1979 e as divergências entre os países acerca dos critérios para a criação da moeda única mostraram a fragilidade deste sistema, que perdurou até meados da década de 90. A ferramenta utilizada como referência de conversão foi a European Currency Unit (ECU), unidade monetária que permitia equalizar as diferentes moedas europeias de acordo com o peso econômico de cada uma. Esta unidade servia principalmente para nortear as transações entre os bancos centrais, para emissão de documentos de capital e crédito e no comércio exterior dos países europeus signatários. A criação de uma moeda única era eminente e necessária, pois utilizar diferentes moedas dentro do Bloco poderia ser uma alternativa que traria custos para os operadores econômicos. A instituição da moeda única, aparentemente, resultaria em benefícios maiores. Assim, o Conselho Europeu estabeleceu que em 1° de janeiro de 1999 o Euro substituiria a ECU, não sem antes anunciar a criação do Banco Central Europeu em 1998. No prazo, apenas 11 países-membros tinham cumprido os requisitos necessários para adotarem a moeda única. Cabe destacar que na época um país que tivesse a intenção de adotar o Euro deveria provar que sua economia era saudável e ainda cumprir os critérios do Tratado de Maastricht: manter o déficit e a dívida pública dentro dos limites especificados, apresentar estabilidade de taxas de câmbio e inflação e, ainda, taxas de juros dentro de determinados limites. (COMISSÃO EUROPEIA, 2011). Hoje, apenas a Dinamarca, o Reino Unido e a Suécia ainda mantêm a decisão de não participar da chamada “Zona do Euro”, mas foi apenas em 2002 que o Euro passou a ser utilizado como papel-moeda circulante nas economias. Segundo a Comissão Europeia (2011), a introdução do Euro trouxe, à sua época, a ideia de construção de uma verdadeira cultura de estabilidade em toda Europa. Isso era indispensável para uma base econômica sólida como também era o complemento lógico na estratégia de atuação e evolução de um mercado único. Mesmo que a União Europeia tem uma moeda forte, sendo um bloco econômico bastante competitivo, onde as relações comerciais são facilitadas em um nível superior aos demais acordos regionais, contando com uma liberdade na circulação dos fatores de produção, a crise financeira mundial de 2008 revelou a vulnerabilidade desses países, evidenciando a influência e a interdependência que esses ainda mantêm em relação a países de fora do bloco. Devemos destacar que essas formas de integração não se processam necessariamente como se fossem estágios obrigatórios, pelos quais todas as experiências de integração regional devem passar. Na prática, uma fase pode se sobrepor a outra, e assim uma área pode apresentar simultaneamente características comuns ou, ainda, o bloco pode permanecer no mesmo estágio, sem a intenção de avançar na integração. 3 ACORDOS BILATERAIS Como podemos perceber, as relações internacionais têm apresentado uma influência cada vez maior para a economia, a política e o desenvolvimento dos países. De uma forma ou de outra, as nações, em pleno século XXI, continuam buscando alternativas para seu crescimento nas trocas com outros mercados. E isto tem possibilitado um aprimoramento também nas parcerias internacionais. Vimos que os países interagem de diversas maneiras, e para melhorar essa interação, por vezes, têm utilizado formatos diversos de acordos que visam diminuir as barreiras e facilitar principalmente o fluxo nas trocas comerciais com outras nações. Neste contexto é importante destacar que o Brasil, mesmo no âmbito do Mercosul, para enfrentar os novos desafios do cenário mundial também negocia e firma acordos bilaterais que visam intensificar as trocas com parceiros internacionais em segmentos específicos, e para tanto tem-se os Acordos de Complementação Econômica (ACE). Abaixo citamos alguns acordos que se encontram em vigência, dos quais o Brasil é signatário, seja individualmente ou juntamente com os parceiros do Mercosul: • Mercosul - Chile (ACE-35). • Mercosul - Bolívia (ACE-36). • Brasil - México (ACE-53). • Mercosul - México (ACE-54). • Automotivo Mercosul - México (ACE-55). • Mercosul - Peru (ACE-58). • Mercosul - Colômbia, Equador e Venezuela (ACE-59). • Brasil - Guiana (ACE-38). • Brasil - Suriname (ACE-41). • Mercosul - Cuba (ACE-62). • Mercosul – Índia. • Mercosul - Israel. Com o amadurecimento das transações internacionais, os acordos bilaterais servem de mecanismo para favorecer os países que buscam ampliar suas trocas, compartilhar tecnologia, aproximar os parceiros e proporcionar o crescimento das operações realizadas em segmentos de interesses ou até mesmo com mercados de interesse. RESUMO DO TÓPICO Neste tópico você estudou sobre: • O movimento de integração entre os países no mundo como forma de obter maior representatividade e desenvolvimento econômico no contexto internacional. • A classificação dos blocos econômicos que leva em consideração principalmente os objetivos de integração dos participantes, assim como foi possível um maior detalhamento sobre os acordos mais importantes no cenário mundial. • Destacamos também o Mercosul, bloco do qual o Brasil participa, sua evolução, os princípios norteadores, estrutura e principais reflexos para as trocas comerciais do nosso país e dos outros membros. • A relevância dos acordos bilaterais para as relações comerciais entre os países, que com estes mecanismos elevaram as transações internacionais. QUESTÕES:Considerando o cenário atual no mercado internacional, o qual ainda sente os reflexos da crise que se iniciou em 2008, aponte e comente três consequências positivas e três negativas que as grandes potências da Europa vêm enfrentando, considerando que as mesmas fazem parte do bloco econômico mais evoluído de que temos conhecimento. Com base no tema estudado, responda: qual princípio dos termos do Mercosul não vem sendo respeitado tendo em vista as medidas adotadas no primeiro semestre deste ano por Brasil e Argentina (utilize os textos complementares abaixo para elucidar a resposta)? Explique por que o bloco ainda não pode ser considerado um Mercado Comum. TEXTO 1: ARGENTINA AUMENTA BARREIRAS COMERCIAIS CONTRA O BRASIL O governo da presidente Cristina Kirchner aplica uma saraivada de medidas protecionistas que restringem ou atrasam a entrada de produtos brasileiros no mercado argentino. Segundo a consultoria portenha Abeceb, do total de exportações realizadas pelo Brasil para a Argentina, 23,9% são alvo de barreiras - quase um quarto do total das vendas. A proporção indica um salto em relação ao ano passado, quando as medidas protecionistas atingiam 13,5% dos produtos Made in Brazil destinados à Argentina. Assustado com o crescente superávit comercial brasileiro, o governo Kirchner costuma argumentar que as medidas protegem a indústria nacional das “assimetrias”. De janeiro a abril, o Brasil acumula saldo positivo de US$ 1,33 bilhão com a Argentina. A previsão da consultoria Abeceb é que o superávit chegue a US$ 6,5 bilhões este ano. Nos últimos 12 meses, o governo argentino dificultou a entrada de eletrodomésticos, chocolates e máquinas agrícolas; aplicou valores critério (preço mínimo) para a importação de bidês e vasos sanitários; e tomou medidas adicionais de segurança para brinquedos. Já constavam da lista de restrições de anos anteriores autopeças, material de transporte, calçados e toalhas. De quebra, pairam ameaças sobre as vendas de carne suína. A situação preocupa o Brasil, que estuda uma retaliação para breve. Segundo fontes do governo, “não adianta conversar com os argentinos”. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, esteve em Buenos Aires em fevereiro e voltou com o compromisso de que os produtos brasileiros seriam excluídos das barreiras. Mas as promessas não foram cumpridas, o que irritou um dos auxiliares mais próximos da presidente Dilma Rousseff. FONTE: Jornal O Estado de São Paulo, 09 de maio de 2011. TEXTO 2: BRASIL DIFICULTA ENTRADA DE CARROS IMPORTADOS NO PAÍS Carro importado que chega ao Brasil agora, vai ficar parado na alfândega. Antes, a liberação acontecia imediatamente. Agora, pode durar até 60 dias. A Argentina será a mais prejudicada, já que quase metade dos carros importados que desembarcam no Brasil sai do país vizinho. Para o governo, não é nada contra os argentinos. “Não é retaliação, nós não usamos este tipo de prática, embora seja previsto na regra da OMC, mas jamais fizemos isso com nenhum país e não faríamos com a Argentina, que é um grande parceiro comercial nosso”, fala o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Recentemente a Argentina adotou medidas severas contra os produtos brasileiros. É uma tentativa de equilibrar uma balança comercial que pende para o lado brasileiro há sete anos. Para proteger sua indústria, a Argentina aumentou a lista de produtos que não podem entrar de imediato: eletroeletrônicos, autopeças, motos, automóveis, brinquedos. O efeito mais visível do freio nas autorizações automáticas de importação são mais de três mil carros de luxo retidos neste porto em Zárate, na Província de Buenos Aires. Mas é no que não se vê que pode estar o maior impacto dessa medida. As bicicletas do país dependem de pedais e assentos que vêm do Brasil. As montadoras precisam de peças que não se fabricam na Argentina, e que acabam travadas na fronteira. O presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina, Jorge Aparício, está preocupado. A espera pode ser fatal em alguns setores que não têm estoque de produtos essenciais para manter o ritmo da produção. Para Jorge, a medida é irracional, até porque os empresários não foram consultados. Agora, o governo criou uma comissão para rever alguns casos. “Dada a relação econômica e política que temos com o Brasil, deveria ter negociado antes de tomar essas medidas”. “O freio nas importações - como medida de emergência em tempos de crise - pode até funcionar, mas como política industrial é ineficaz”, diz o ex-ministro de Indústria e Comércio, Dante Sica. Para ele, o dano não é só econômico. “A Argentina perde credibilidade com os principais sócios comerciais e a confiança no país como destino de importação”. FONTE: JORNAL DA GLOBO. Disponível em: . Acesso em: 13 maio 2011. 3
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