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1 2 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA COORDENAÇÃO-GERAL DE ENSINO COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA CONTEUDISTAS Pedro Paulo Porto de Sampaio Cristiano Israel Caetano Diego de Oliveira Nogueira REVISÃO TÉCNICA Marcos Cesar Silva Valverde REVISÃO ORTOGRÁFICA Ariele Louise Barichello Cunha REVISÃO PEDAGÓGICA Ardmon dos Santos Barbosa SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO Renato Antunes dos Santos DESIGNER Ozandia Castilho Martins Renato Antunes dos Santos DESIGNER INSTRUCIONAL Ozandia Castilho Martins Luana Manuella de Sales Mendes 3 Sumário Apresentação do Curso ....................................................................................................... 4 Objetivos Gerais .................................................................................................................... 6 Objetivos Específicos ....................................................................................................... 6 Estrutura do Curso ................................................................................................................ 6 MÓDULO 1 – SURGIMENTO DO CAMPO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ...................... 7 Apresentação do módulo ................................................................................................ 7 Objetivos do módulo ........................................................................................................ 7 Estrutura do módulo ......................................................................................................... 7 Aula 1 – COMEÇANDO A DISCUSSÃO ........................................................................ 8 Aula 2 – O SURGIMENTO DO CAMPO ....................................................................... 13 Aula 3 – POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL ............................................................ 18 Aula 4 – CONCEITO, ELEMENTOS GERAIS E OBJETIVO DA POLÍTICA PÚBLICA ............................................................................................................................ 21 Aula 5 – TIPOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS ............................................................... 30 Finalizando ........................................................................................................................ 33 Módulo 2 – NOÇÕES DO CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ................................... 36 Objetivos do módulo ...................................................................................................... 36 Estrutura do módulo ....................................................................................................... 37 Aula 1 – INTRODUÇÃO AO CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ........................... 38 Aula 2 – DEFINIÇÃO DE AGENDA ............................................................................... 47 Aula 3 – FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E TOMADA DE DECISÃO .............................................................................................................................................. 58 3.1 Contextualização ................................................................................................... 58 3.2 Alternativas de formulação de políticas públicas: incrementais e fundamentais ................................................................................................................ 60 3.3 Tipos de abordagem de análise: racionalista e argumentativa/participativa ...................................................................................... 61 3.3.1 Abordagem racionalista: geração de alternativas .................................... 62 3.3.2 Abordagem racionalista: critérios e indicadores ..................................... 67 3.3.3 Abordagem racionalista: projeção de resultados .................................... 69 AULA 4 – IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ......... 73 Finalizando ........................................................................................................................ 83 Referências ........................................................................................................................... 86 4 Apresentação do Curso “[...] as coisas que se me afiguraram verdadeiras quando comecei a concebê-las pareceram-me falsas quando decidi colocá-las no papel [...]” (DESCARTES, 1637). Boas-vindas ao curso de Políticas Públicas de Segurança: noções introdutórias. Antes de iniciarmos, alguns questionamentos serão apresentados, a fim de delimitar nosso objeto de estudo. Figura 1: Questionamentos Fonte: SCD/EaD/Segen. As respostas a essas e outras questões sobre o tema serão tratadas ao longo de nossa discussão. Desse modo, objetivamos, com este curso, que você tenha um primeiro contato com os elementos introdutórios de políticas públicas e compreenda: o os antecedentes históricos que impulsionaram a criação do campo no Brasil e no mundo; o o conceito, a finalidade e os tipos de políticas públicas; o os momentos que representam o ciclo da política pública. Em nosso curso, buscamos transmitir os conhecimentos essenciais para uma visão panorâmica de cada um desses temas, consolidando assim o interesse no estudo futuro das políticas que serão desenvolvidas por gestores. Embora seja voltado aos integrantes operacionais do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), o referencial teórico apresentado no curso é também o fio 5 condutor para a elaboração de políticas públicas de todos os campos de atuação da Administração Pública, em subsistemas como saúde, educação, cultura, esporte, entre outros, o que demonstra o caráter multidisciplinar do campo. Como campo multidisciplinar, a política pública envolve conhecimentos de diversas áreas, que englobam orçamento e finanças públicas, administração de pessoal e logística, planejamento estratégico, programas e projetos, entre outros temas. O curso Políticas Públicas de Segurança: noções introdutórias busca oferecer aos leitores em geral e a você, profissional de segurança pública, em particular, as ferramentas para a análise crítica das dificuldades envolvidas no complexo processo que envolve o ciclo das políticas públicas. Ele aborda desde a representação estratégica de situações (problemas), que incidem na formação da agenda, até a avaliação das políticas após sua implementação. Nosso objetivo é que, ao final do curso, você tenha agregado um conjunto de informações necessárias para colaborar com a formação de políticas públicas em sua organização, implementá-las adequadamente e favorecer eventuais processos de monitoramento e avaliação. Esperamos que, durante o curso, você tenha acesso a um rol de conhecimentos que lhe permitam mudar a forma de pensar planejamento e gestão, programas e projetos, orçamento e finanças públicas, além de outros temas relevantes, mas nem sempre observados, no interior de sua instituição. Aproveite os conteúdos, pesquise e participe do curso por meio das atividades de aprendizagem criadas. Se possível, converse sobre o tema com seus colegas e demais profissionais que atuam na área de segurança pública e defesa social. 6 Objetivos Gerais Ao fim deste estudo, pretendemos que você tenha ampliado seus conhecimentos, exercitado/desenvolvido habilidades específicas e fortalecido atitudes favoráveis à sua atuação profissional. Acompanhe, a seguir, os objetivos específicos. Objetivos Específicos Ampliar conhecimentos: • compreender que o conhecimento em políticas públicas pode auxiliar na qualidade do serviço público prestado; • analisar o surgimento do campo das políticas públicas;• conceituar e definir os termos correntes em políticas públicas; • identificar o ciclo de políticas públicas, reconhecendo a possibilidade de sua aplicação no contexto da segurança pública. Exercitar/desenvolver habilidades específicas: • reconhecer as etapas do ciclo de políticas públicas; • traçar o passo a passo de determinada política pública; • utilizar referencial teórico para colaborar na ideação de políticas públicas. Fortalecer atitudes favoráveis à sua atuação profissional: • reconhecer a importância do estudo de políticas públicas para uma organização; • incorporar práticas de gestão e de planejamento em seu ambiente de trabalho; • integrar uma equipe para o sucesso das políticas públicas em sua implementação. Estrutura do Curso Este curso compreende os seguintes módulos: Módulo 1 – Surgimento do campo e conceitos básicos Módulo 2 – Noções do ciclo de Políticas Públicas Bons estudos! 7 MÓDULO 1 – SURGIMENTO DO CAMPO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Apresentação do módulo Neste módulo, você irá conhecer o surgimento do campo de políticas públicas. Para tanto, convidamos você a mergulhar um pouco na história desta importante área do conhecimento. Além disso, você vai poder explorar o conceito de políticas públicas, compreender sua finalidade e os tipos de políticas públicas descritos pela literatura. Objetivos do módulo Ao final do Módulo 1, você será capaz de: ● identificar as justificativas para haver estudos aprofundados sobre o campo de conhecimento políticas públicas; ● reconhecer os elementos que fizeram surgir o campo de políticas públicas; ● citar as características das políticas públicas; ● reconhecer o conceito e os elementos das políticas públicas; ● saber como se posicionam as políticas públicas nos tempos de hoje. Estrutura do módulo Este módulo está dividido em 5 aulas, conforme descrito a seguir: Aula 1 – Começando a discussão. Aula 2 – Surgimento do campo. Aula 3 – Políticas públicas no Brasil. Aula 4 – Conceito, elementos gerais e objetivo da política pública. Aula 5 – Tipos de política pública. 8 Aula 1 – COMEÇANDO A DISCUSSÃO Desde a década de 1980, observamos maior preocupação dos governos em garantir a segurança de seus cidadãos diante do aumento dos crimes e da violência. A proteção das comunidades passou a tomar conta da pauta dos governos e de seus gestores, ganhando espaço no debate público, ao lado de outras políticas tão relevantes como saúde, educação, geração de renda e emprego. Consequentemente, maiores investimentos têm sido direcionados para esse importante campo, exigindo cada vez mais a qualificação dos profissionais que atuam na área, desde os responsáveis pela elaboração das políticas públicas até aqueles que as implementam e as executam no dia a dia (PINTO; AFONSO, 2019; CERQUEIRA, 2019). Apesar dos reiterados investimentos, pesquisas indicam que os resultados em termos de políticas oficiais nem sempre são alcançados, havendo assim certa frustração da sociedade; em alguns casos há o desperdício ou a malversação de recursos públicos, gerando até mesmo a responsabilização de gestores. Tudo isso acaba aumentando a sensação de insegurança da população diante dos crimes e da violência, que alcançam de forma indistinta grandes centros urbanos e pequenas cidades (PINTO; AFONSO, 2019; CERQUEIRA, 2019; SAMPAIO, 2018). Depois dessas observações iniciais, uma questão se coloca: quais seriam as possíveis causas da falta de eficácia ou efetividade das políticas públicas em geral e, em particular, em algumas políticas públicas de segurança? Embora estejamos tratando de um problema complexo – cujas origens derivam de várias causas –, a literatura aponta como uma das possíveis respostas a falta de um conjunto de conhecimentos teórico-científicos destinados a auxiliar o gestor na elaboração de políticas públicas, em sua implementação, no monitoramento e na sua avaliação (SECCHI, 2019; SAMPAIO, 2018). Por isso, gestores públicos não familiarizados com a natureza e o funcionamento do processo de políticas podem não ser capazes de elaborar estratégias eficazes para garantir um conjunto integrado de resultados (WU et al., 2014, p. 14). 9 Segundo Kurt Lewin (1965, p. 191), “não há nada melhor do que uma boa teoria para resolver um problema prático.” Não é incomum que gestores públicos formulem políticas sem o devido respaldo técnico, seja porque não aproveita dos dados, informações que estão acessíveis, desconsidera as informações de que dispõe, seja porque desconhece ferramentas básicas para esse processo de construção (SECCHI, 2019). Após uma formulação sem as estruturas necessárias, pode ser que o agente público que irá implementar a política também não tenha obtido as informações básicas sobre o funcionamento e a finalidade de um programa ou projeto. Assim, segue o descompasso entre o que foi ou deveria ter sido pensado e planejado e o que será executado (WU et al., 2014; CAVALCANTE; LOTTA, 2015). Portanto, essas realidades demonstram lacunas tanto na formulação quanto na implementação da política. Essas lacunas, como vimos, podem ocorrer porque as políticas são mal concebidas por profissionais que não possuem qualificação para tal e, consequentemente, não dispõem das informações necessárias sobre a importância e o funcionamento de um programa ou projeto (WU et al., 2014). Por fim, muitas organizações não se dedicam a investigar o que deu certo e o que deu errado, uma vez que não são habituais os processos de monitoramento e avaliação de políticas públicas. A avaliação e o monitoramento se destinam tanto a corrigir os rumos de uma política em andamento, quanto a desconstruir e começar o trabalho de novo quando necessário. O percurso destinado à formação de políticas públicas é chamado pela doutrina especializada de policy-making process (processo de formação da política), também conhecido como policy cycle (ciclo de políticas públicas) (SECCHI; COELHO; PIRES, 2019; HOWLETT; GIEST, 2013). Um dos maiores estudiosos da atualidade em políticas públicas, Leonardo Secchi (2019, p. 2), aponta que essa ausência de conhecimentos técnicos tem conduzido governos a adotar medidas improvisadas, baseadas em repetição, imitação, preconceito, autointeresse ou mesmo "achismo". Assim, nossas sociedades, nossos governos e gestores públicos, por vezes, "planejam sem informações suficientes", tomam decisões ultrapassadas e “à revelia 10 do interesse público” (SECCHI, 2019, p. 2) e reproduzem soluções de outros lugares de maneira acrítica. Além da ausência de elementos doutrinários, muitas falhas de formulação e/ou implementação decorrem da falta ou disfunção de elementos essenciais como: o recursos humanos; o recursos financeiros; o recursos logísticos; o resistências culturais a mudanças; o barreiras da burocracia estatal; o questões de ordem política (SECCHI, 2019; CIPE, 2012). Essas faltas ou disfunções prejudicam todo o processo da política pública, uma vez que foi permeado por inconsistências e falta de coordenação, podendo ainda se revelar como um grande foco de tensões sociais (WU et al., 2014). Uma alternativa promissora para reorientar essas faltas ou deficiências é oferecer ao profissional do Susp, independentemente da organização a que pertença ou do grau hierárquico que ocupe, um repertório de ferramentas robustas para que compreenda seu papel no ciclo das políticas públicas de segurança. Assim, o integrante operacional do Susp que adquirir bagagem "teórica e metodológica aplicada à elaboração de políticas públicas” estará mais preparado para resolver os problemas sociais que enfrenta no seu cotidiano (SECCHI, 2019, p. XI). Para compreender as nuances de todo esse percurso, conhecimentos como conceitos, objetivos,tipos e processo de formação de políticas públicas – por meio do desenvolvimento analítico de um ciclo – são determinantes para a elaboração de medidas que se mostrem exequíveis e sustentáveis a longo prazo. Leonardo Secchi (2019, p. 5) aponta dois conceitos fundamentais para entender o campo de políticas públicas: o problema público e a política pública. Problema público: refere-se à distância entre a situação vigente (status quo) e a situação ideal possível dentro de uma percepção de realidade pública. Esse problema público só existe se representa foco de insatisfação de um grupo considerável de atores sociais (SECCHI, 2019). 11 Política Pública: representa a diretriz elaborada para enfrentar o problema público (SECCHI, 2019). No caso específico do Brasil, dada a dimensão territorial e a variedade de aspectos econômicos e sociais, não há como impor medidas padronizadas, que não reconheçam as realidades locais e o perfil de cada instituição de segurança pública envolvida. Desse modo, partindo de um arcabouço teórico-científico básico e considerando as características regionais, tanto os problemas públicos quanto as políticas públicas deverão ser compreendidas de forma particularizada. Evidentemente que práticas de benchmarking deverão ser adotadas, até mesmo para avaliar se experiências bem-sucedidas em outras regiões de nosso país, ou mesmo do exterior, poderão ser aproveitadas. Benchmark trata de padrão ou referência. Benchmarking é “processo contínuo e interativo de investigação e análise das estratégias de sucesso das empresas líderes ou de referência e excelência administrativa, procurando conhecer, adaptar e aprimorar essas estratégias para a realidade da empresa considerada” (OLIVEIRA, 2020, p. 318). Se ainda não existe um banco dedicado à busca de boas práticas dentro de sua organização, essa seria uma primeira medida possível a ser implementada como política pública. Trataremos melhor da ferramenta de Benchmarking no Módulo 2. Conforme adverte Leonardo Secchi (2019, p. 3), todo esse arcabouço técnico “não garante uma boa formulação e decisão, mas pode aumentar as suas chances.” Portanto, com melhor compreensão dos processos de políticas públicas, gestores públicos podem superar muitas das barreiras que prejudicam o seu potencial de contribuir para os referidos processos e, eventualmente, para o sucesso destes (WU et al., 2014, p. 13). Essa observação reforça nosso entendimento de que os profissionais de segurança pública – sem prejuízo de conhecimentos técnicos e táticos para o exercício da atividade policial – deverão possuir informações fundamentais sobre políticas públicas. 12 Como ponto de partida desse estudo, é necessário compreender o surgimento do campo de políticas públicas, tema de nossa próxima aula. 13 Aula 2 – O SURGIMENTO DO CAMPO Um dos primeiros trabalhos sobre o papel do Estado nas políticas públicas é de Richard Hofstadter (1955), na obra vencedora do Prêmio Pulitzer de 1956, na categoria história, chamada The age of reform. Ela trata do pensamento da população dos Estados Unidos da América (EUA), que, no século XIX, passou a requerer maior participação do Estado na regulação de atividades econômicas (CAVALIERI, 2009). A obra de Hofstadter (1955) relata como os monopólios existentes provocaram na sociedade da época um sentimento coletivo da necessidade de maior participação do poder público na regulação dos mercados, protegendo assim pequenos e médios fazendeiros. O começo do século XX, principalmente nos EUA, foi representado por novas tecnologias nas áreas de transportes, eletrificação e comunicação, o que expandiu a atuação dos mercados. Tal expansão motivou apelos da sociedade para a participação do Estado nos conflitos derivados dessas relações, que passaram a ser vistos como problemas públicos (MINTROM; WILLIAMS, 2013). Políticas regulatórias como o Sherman Act (1890) e o Clayton Act (1914) foram elaboradas a fim de evitar a concentração de mercados na forma de monopólios ou monopsônios. Sobre os tipos de políticas públicas, na aula 5 deste módulo trataremos da tipologia de Lowi (1964; 1972), que concebe as políticas públicas como distributivas, regulatórias, redistributivas e constitutivas. Monopólio: significa que um indivíduo ou uma corporação detém de forma exclusiva e sem concorrência o acesso e a produção a determinado produto ou serviço. Monopsônio: representa a “estrutura de mercado em que existe apenas um comprador de uma mercadoria (em geral, matéria-prima ou produto primário). Nesse caso, mesmo quando vários produtores fortes oferecem o produto, os preços não são determinados pelos vendedores, mas pelo único comprador” (SANDRONI, 2016, p. 2261). A expansão do Estado, com o aumento da atividade de regulação feita pelo governo federal, gerou a necessidade de haver profissionais qualificados em análise de políticas públicas. Essa realidade foi evidenciada como efeito do plano de recuperação econômica decorrente da crise provocada pela quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929 (MINTRON; WILLIAMS, 2013). 14 A maior participação do Estado ocorreu a partir do New Deal, impulsionado, em 1933, pelo presidente Franklin Delano Roosevelt. O plano se destinou a recuperar os Estados Unidos da crise de 1929, cujos efeitos da “grande depressão” se estenderam pela década de 1930. Roosevelt ampliou o alcance das políticas públicas oferecidas pelo governo, que passou a agir em áreas onde não atuava (CAVALIERI, 2009). A partir desse desenho histórico, “o campo de públicas” nasce nos EUA como um fragmento da ciência política. De acordo com Celina Souza (2018, p. 12): [...] a política pública enquanto área de conhecimento e disciplina acadêmica nasceu nos EUA, rompendo ou pulando as etapas seguidas pela tradição europeia de estudos e pesquisas nessa área, que se concentravam, então, mais na análise sobre o Estado e suas instituições do que propriamente na produção dos governos. Os primeiros elementos de política pública foram escritos por Harold D. Lasswell, em 1936 (s/p), na obra Politics: who gets what, when, how (Política: quem ganha, o que, quando e como). Fischer (2003) destaca que Lasswell tinha o objetivo de criar uma ciência social aplicada, que fizesse a articulação entre as universidades e os agentes públicos, cuja finalidade seria apontar soluções objetivas e práticas para problemas públicos. Harold D. Lasswell e Daniel Lerner desenvolveriam ainda mais o campo com a obra The Policy Sciences: recent developments in scope and method (1951). No texto, os autores indicam como originárias das políticas públicas: “a normatividade, a multidisciplinaridade e o foco na resolução de problemas públicos" (SECCHI, 2019, p. 6; HOWTETT; RAMESH; PERL, 2020, p. 22, tradução nossa). Normatividade: de acordo com Secchi (2019, p. 7), “a normatividade passou a conviver com a pesquisa positiva, neutra, contrária à explicitação de valores”. Por normatividade, Lasswell e Lerner (1951) determinavam que os analistas de políticas públicas deveriam incluir aspectos valorativos no processo de formação das políticas. Como veremos a seguir, hoje muitos pesquisadores avaliam políticas públicas a partir de medidas como eficiência e eficácia, ou usam o registro dos esforços políticos para estabelecer se na prática os governos têm ou não dirigido suas atividades para o alcance de seus objetivos declarados, sem levar em consideração, em ambos os casos, o 15 quanto os próprios objetivos seriam desejáveis ou racionais (HOWLETT; RAMESH; PERL, 2020, p. 22, tradução nossa). Multidisciplinaridade: o estudo do campo deve se desligar da análise restrita de instituições e estruturas políticas, devendo compreender outras áreas do conhecimento,como sociologia, economia, direito e política. Foco na resolução de problemas: na perspectiva de Lasswell e Lerner (1951) as políticas deveriam estar vinculadas aos princípios da relevância, ou seja, direcionadas a resolver problemas do mundo real, não se engajando em debates acadêmicos. Secchi (2019) relata que, modernamente, essa visão prática perdeu espaço para o desenvolvimento do campo, que invariavelmente expandiu em razão da evolução científica. Celina Souza (2007), em estudo intitulado “Estado da arte em políticas públicas”, destaca que, junto a Harold D. Lasswell, os “pais fundadores” da área foram Herbert Alexander Simon, Charles Edward Lindblom e David Easton. O objetivo de Lasswell era criar um mecanismo de mediação, um espaço de diálogo entre três grandes grupos: os agentes públicos responsáveis pela tomada de decisão, a academia/universidade e os cidadãos, propondo como resultado soluções objetivas para problemas que atingem a todos (FISCHER, 2003). Simon introduziu um importante conceito no estudo do campo, a chamada racionalidade limitada dos tomadores de decisão. Segundo Celina Souza (2007), Simon retratava que a racionalidade dos formuladores de políticas (policymakers) era sempre limitada por uma série de problemas, como informações incompletas ou imperfeitas, supressão de tempo para a tomada de decisão ou mesmo autointeresse. Simon argumenta, no entanto, que essa limitação poderia ser, pelo menos em parte, superada pelo conhecimento racional (SIMON apud SOUZA, 2007, p. 67). Lindblom incorporou outras variáveis à formulação e à análise de políticas públicas (SOUZA, 2007). Além disso, retratou as políticas públicas como incrementais, afirmando que o processo de tomada de decisão política seria melhor amparado com base na repetição ou adaptação de soluções já implementadas em outros períodos ou contextos fáticos (SAMPAIO, 2018; SOUZA, 2007). 16 Figura 2: Modelo incremental Fonte: SCD/EaD/Segen. Segundo Celina Souza (2007, p. 68), “Easton (1965) contribuiu para a área ao definir a política pública como um sistema, ou seja, como uma relação entre formulação, resultados e o ambiente”. Para Easton, políticas públicas recebem inputs dos partidos políticos, da mídia e de grupos de interesse, os quais geram influência nos resultados e nos efeitos da política (SOUZA, 2007). O Quadro 1 sintetiza as principais ideias e contribuições dos fundadores do campo de políticas públicas (SOUZA, 2007). Quadro 1 – Principais ideias e contribuições dos fundadores do campo de políticas públicas Fonte: Sistematizado pelos autores com base em Souza (2007). Nos anos posteriores, o campo se ampliou, com destaque para os avanços industriais decorrentes da Segunda Guerra Mundial. Nesse período de guerra, e da consequente mobilização para atender as demandas dos exércitos, houve maior participação estatal na regulação dos preços no mercado interno dos Estados Unidos (CAVALIERI, 2009). 17 Para essa expansão do campo, também foram importantes os institutos denominados de "think tanks". Nos EUA, os primeiros a surgir foram a National Science Foundation, a RAND Corporation e a Brookings Institution, que desenvolveram estudos especializados sobre a forma de agir dos governos (DELEON, 2006). A RAND Corporation elaborou estudos para o Departamento de Defesa, além do Sistema de Planejamento e Orçamento Programado (PPBS). No Brasil, são considerados como “think tanks” o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), as universidades e outros centros de excelência voltados à discussão, reflexão e produção científica para diversos temas do cotidiano, como educação, saúde, economia, segurança pública e demais temas de interesse social. Nos links a seguir disponibilizados, você pode saber mais sobre cada um desses think tanks visitando suas páginas na internet. RAND Corporation. National Science Foundation. Brookings Institution. Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Na próxima aula, que trata das políticas públicas no Brasil, veremos que o “campo de públicas” foi significativamente marcado, a partir da década de 1980, pelo movimento chamado New Public Management (nova gestão pública). Com início nos governos de Margaret Thatcher (Reino Unido) e Ronald Reagan (Estados Unidos), a perspectiva direcionou o Estado para um amplo movimento de reforma gerencial, baseado no ajuste fiscal, na desregulamentação do setor privado e no aumento da eficiência do setor público por meio de instrumentos como a avaliação de desempenho e a redução de custos (MAXIMIANO; NOHARA, 2017; LOTTA, 2016; SOUZA, 2007). https://www.rand.org/ https://www.nsf.gov/ https://www.brookings.edu/ https://enap.gov.br/pt/ https://forumseguranca.org.br/ https://www.ipea.gov.br/portal/ 18 Aula 3 – POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL No Estado brasileiro, Farah (2016) explica que, durante o período da República Velha, não se contemplava uma política de atuação muito robusta. Não havia na época uma visão de maior participação do Estado. A mudança de cenário ocorreu a partir de 1930, quando o Brasil viu sua indústria se desenvolver de forma mais acelerada, no denominado Estado Nacional-Desenvolvimentista. A política de participação do estado brasileiro ficou mais evidente com a regulação do café, atuação que refletiu tanto nas exportações do produto quanto no consumo interno com o acompanhamento de preços (PELAEZ, 1971; CAVALIERI, 2009). A reforma burocrática brasileira, segundo Maximiano e Nohara (2017), teve sua origem especificamente no ano de 1936, com a origem do Conselho Federal do Serviço Público Civil. O órgão posteriormente foi transformado no Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), por Luís Simões Lopes, no ano de 1938. Os novos caminhos traçados pelo Dasp fortaleceram a necessidade de novos especialistas em políticas públicas. Um segundo momento de grandes alterações ocorreu em 1967 com o Decreto-Lei n. 200, considerado a principal norma de organização da administração pública. Nessa norma, definiram-se diretrizes, princípios, descentralização administrativa, papel dos ministérios, orçamento, planejamento, controle, entre outros. O Decreto-Lei n. 200 foi desenvolvido a partir das ideias de Fayol (MAXIMIANO; NOHARA, 2017). A Constituição Federal de 1988 foi outra fronteira para as políticas públicas brasileiras, já que representou importantes avanços em termos de princípios e elementos estruturantes da administração pública. No entendimento de Celina Souza (2018), ganharam espaço o reconhecimento de direitos sociais, o acréscimo de competências para os entes federativos, o acesso amplo à saúde, a alteração nos arranjos formais para a aprovação de emendas constitucionais, dentre outros. As mudanças pararam. Anos mais tarde, o então ministro da Administração Federal e Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser-Pereira, (1995-1998), tentou substituir o modelo burocrático por um modelo de padrão gerencial, criando o 19 denominado Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado. Os esforços do ministro se traduziram na aprovação da Emenda Constitucional n. 19/1998, que, dentre outras mudanças, inseriu o princípio da eficiência no artigo 37 da Constituição Federal (MAXIMIANO; NOHARA, 2017). É importante entender que a reforma brasileira de 1995 recebeu forte influência da New Public Management (nova gestão pública), que teve início na década de 1980, seguindo os princípios da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e do presidente norte-americano Ronald Reagan. Dentro dessa perspectiva, a reforma do estado brasileiro foi ampliada,apresentando cenários como a criação de mecanismos de avaliação de desempenho, controle de gastos, controle do orçamento, privatizações, delegação de serviços públicos ao particular, aperfeiçoamento de serviços públicos, desregulamentação (ABRUCIO, 1997; MAXIMIANO; NOHARA, 2017; LOTTA, 2016). Bresser-Pereira defendia ideias voltadas a uma economia brasileira que atravessasse as fronteiras internacionais, entendendo que era obrigação do Estado promover todas as reformas administrativas, fiscais, previdenciárias e estruturais, para que tal expansão se concretizasse (NASCIMENTO, 2021; BRESSER-PEREIRA, 1997). Muitas das características desse período seguiam uma tendência mundial iniciada no programa lançado em 1993 por Bill Clinton, presidente dos EUA, denominado programa Revisão Nacional do Desempenho. Bill Clinton inspirou seu programa a partir da obra Reinventing government: how the entrepreneurial spirit is transforming the public sector (1992) (Reinventando o Governo: como o espírito empreendedor está transformando o setor público). O projeto de Clinton, em 1998, tornou-se a Aliança Nacional para a Reinvenção do Governo e, finalmente, logo após, passou a se chamar New Public Management (KELNERT; SILVA, 1993). Para fins deste estudo, simplificamos os fundamentos da “nova gestão pública” em três pontos, apresentados a seguir, que se complementam e guardam correlações entre si: 1) gerencialismo puro; 2) consumerismo; e 3) orientação para o serviço público (ABRUCIO, 1997). 20 1) Gerencialismo puro: tinha como objetivo controlar os gastos do Estado, baseando suas ações em: i) reduzir gastos; ii) melhorar a eficiência da gestão; e iii) buscar o aumento da produtividade (ABRUCIO, 1997; MAXIMIANO; NOHARA, 2017). 2) Consumerismo: é um desdobramento do gerencialismo puro. Seu fundamento consiste na ideia de que, sem prejuízo das características do gerencialismo, as ações do Estado deveriam satisfazer, com a maior plenitude possível, as demandas coletivas (ABRUCIO, 1997; MAXIMIANO; NOHARA, 2017). 3) Orientação para o serviço público:1 é uma contenção da abordagem consumerista, abrangendo conceitos como transparência, accountability (prestação de contas), participação social, justiça, equidade. Essa abordagem afasta características individualistas que poderiam surgir com o consumerismo, contudo, sem retornar ao modelo burocrático de Max Weber. Entenda que a orientação para o serviço público é uma nova visão do modelo gerencial, concebido a partir de princípios republicanos e democráticos (ABRUCIO, 1997; MAXIMIANO; NOHARA, 2017). Para finalizar, compreenda que o modelo gerencial até hoje estabelecido não parou de se transformar. Ele se adaptou de acordo com inúmeros fatores, a exemplo de mudanças sociais, políticas e econômicas. A forma como o Estado atua, seus planejamentos, direcionamentos e, consequentemente, suas políticas públicas em muito dependem de fatores que nem sempre são possíveis de se controlar ou prever. 1 Em inglês, Public Service Orientation ou simplesmente PSO. 21 Aula 4 – CONCEITO, ELEMENTOS GERAIS E OBJETIVO DA POLÍTICA PÚBLICA Conceito da política pública Nas aulas anteriores, você viu que a política pública, como campo do conhecimento, surge como um recorte da Ciência Política nos EUA. Além disso, viu também que as primeiras contribuições teóricas vieram de Harold D. Lasswell, na década de 1930 e que o campo rompeu com a tradição europeia de análise conceitual do Estado, passando a investigar a função dos governos, por entendê- los como produtores, “por excelência, de políticas públicas” (SOUZA, 2018; 2007). Segundo aponta Celina Souza (2018, p. 11), “existem inúmeras definições de políticas públicas que, na sua simplicidade e elegância [...] escondem a complexidade que envolve os governos quando decidem formulá-las e implementá-las”. Thomas R. Dye, que sintetizou o que se iniciou com H. Lasswell como Policy Science, e que depois tomou corpo e evoluiu para o conceito de Public Policy (Política Pública), deixou uma clássica lição, proferida em 1975. Para Dye, “a política pública é o que os governos decidem fazer ou não fazer [...] o que os governos fazem, por que eles fazem isso, e que diferença isso faz” (DYE, 2017, p. 1). Perceba que, apesar do alerta de Celina Souza (2018, p. 13), de que “não existe uma única, nem melhor definição sobre o que seja uma política pública”, a literatura apresenta elementos comuns, que envolvem a busca pela solução de problemas públicos. De acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) “uma das formas de se entender as políticas públicas é analisá-las como soluções estruturadas para a solução de grandes problemas coletivos” (IPEA, 2018, p. 53). Leonardo Secchi indica a política pública como: "[...] a atividade e o campo de conhecimento teórico e metodológico voltados para a geração e a sistematização de conhecimentos 22 aplicados ao enfrentamento de problemas públicos" (SECCHI, 2019, p. 1). Melazzo (2010) afirma que o termo “política pública”, por seu conteúdo polissêmico, não se resumiria a um programa ou uma ação governamental. Segundo o autor, [...] este conceito pode se referir ou expressar diferentes dimensões dos processos que envolvem a decisão e a intervenção do Estado sobre determinada realidade ou, ainda, incorporar mecanismos e estruturas de tomadas de decisão ou implementação de ações mais ou menos sujeitas a controles sociais e, somente isto, justificaria uma análise mais detida de seus conteúdos” (MELAZZO, 2010, p. 12). No entanto, Brasil e Capella (2016, p. 74) destacam “[...] que o agente mais importante do processo de produção de políticas públicas é o governo”. Essa posição estatista ou estadocêntrica defende que as políticas públicas são impulsionadas pelos governos. Tal perspectiva ocorre em razão da superioridade objetiva do Estado, que lhe garante, dentre outras prerrogativas, o poder de elaborar e fazer cumprir as leis (SECCHI, 2014; HOWLETT; RAMESH; PERL, 2020; DYE, 2017; MENY; THOENIG, 1992). A literatura estatista compreende como possível a participação de atores externos ao governo, desde que não tenham a prerrogativa de decidir ou conduzir um processo de política pública. Visões distintas concebem uma maior participação de atores externos, como organizações privadas, organizações não governamentais, organismos multilaterais ou redes de políticas públicas (policy networks). Numa abordagem multicêntrica ou policêntrica, considera-se possível a participação de atores externos aos governos ao longo do processo de formação da política pública. Então, pode-se dizer que, num processo de política pública, algumas ações estruturais são características, como: fazer escolhas, tomar decisões, planejar, executar e avaliar se os resultados concretos foram aqueles esperados. Além disso, é importante considerar que o campo das políticas públicas é também um espaço de disputas de diversos segmentos da sociedade, cada um com seus interesses de igual, maior ou menor relevância (MELAZZO, 2010). 23 Elementos gerais da política pública Após apresentarmos o conceito de política pública e antes de aprofundarmos os estudos sobre os elementos gerais da política pública, vamos discutir um pouco sobre o alcance e os possíveis significados do conceito de “política”. Leonardo Secchi (2014, p. 1) destaca que países de língua latina, como Brasil, Espanha, Itália e França, encontram dificuldades em distinguir alguns termos próprios da Ciência Política dos EUA. Isso ocorre de forma específica com o termo “política”. Na língua portuguesa, esse termo pode assumir significados distintos dos estabelecidos pelos falantes de língua inglesa, que utilizam as expressões politics e policy para significados e contextos distintos.Tal diferenciação será abordada no quadro a seguir. Politics (política): na perspectiva de Bobbio (2002 apud SECCHI, 2014, p. 1), esse significado de política representa “a atividade humana ligada à obtenção e manutenção dos recursos necessários para o exercício do poder sobre o homem.” Como destaca Secchi (2014), essa é a acepção mais presente no imaginário coletivo, ligada à ideia de competição – de grupos ou de ideias – fruto do nosso modelo de democracia. “Ninguém mais aguenta a velha política” é uma frase que exemplifica a política no sentido de politics. Policy (política): de acordo com Secchi (2014, p. 1), essa dimensão de política é mais concreta, tendo “relação com orientações para a decisão e ação”. Expressões como “a política da empresa” ou “isso não faz parte da política da organização” retratam essa abordagem. Public policy (política pública): nesse caso, o conceito está relacionado ao sentido policy, uma vez que trata “do conteúdo concreto e do conteúdo simbólico de decisões políticas, e do processo de construção e atuação dessas decisões” (SECCHI, 2014, p. 1). Atenção: é no contexto de public policy que tratamos das políticas de segurança pública. Como já vimos, Leonardo Secchi (2019, p. 5) indica como fundamentais para o estudo do campo o problema público e a política pública. Segundo o autor, a política pública tem um conceito abstrato, que irá se materializar por instrumentos concretos, 24 como leis, programas, projetos, campanhas, obras, prestação de serviços, impostos, taxas, subsídios, decisões judiciais, entre outras medidas. Howlett, Ramesh e Perl (2020) apresentam como elementos dos problemas públicos – inter-relacionados ao processo de formação da política – os atores políticos, as estruturas e instituições e os conjuntos de ideias, que serão abordados nos quadros a seguir. Atores políticos (policy actors): são os responsáveis por determinar o conteúdo e o processo de formação da política pública. São os indivíduos, grupos ou organizações que exercem um papel na arena política, sendo também hoje utilizada a expressão stakeholders (partes interessadas). As arenas políticas são os espaços em que ocorrem as discussões de ideias. Nelas, os atores tentam sensibilizar a opinião pública (HOWLETT; RAMESH; PERL, 2020; SECCHI, 2014). Existem várias formas de categorizar os atores. Em nosso estudo, seguiremos a classificação de Leonardo Secchi (2014), que distingue os atores em duas categorias: atores governamentais e atores não governamentais. Atores governamentais: políticos, designados politicamente, burocratas, juízes. Atores não governamentais: grupos de interesse, partidos políticos, meios de comunicação, think tanks, destinatários das políticas públicas (policytakers), organizações do terceiro setor, outras partes interessadas. Sobre os destinatários da política (policytakers), o IPEA (2018, p. 74-75) define como público-alvo: a) população como um todo atingida pela política; b) população que será elegível à política; c) população que será atendida e priorizada, em razão da restrição imposta por diferentes fatores, como a escassez de recursos públicos. 25 Estruturas e instituições: diferentemente da expressão comumente utilizada no país, em que instituição seria sinônimo de entidade ou organização (como uma instituição policial ou instituição de ensino superior), a palavra instituição tem uma conotação mais ampla, como um conjunto de regras formais que “condicionam o comportamento dos indivíduos” (SECCHI, 2014, p. 82). Nesse contexto, supera-se o entendimento clássico de instituição como organização, e o conceito vai além, abrangendo as regras constitucionais, os estatutos, as políticas públicas passadas, os regimentos internos das arenas em que se constroem as novas políticas etc. Essa abordagem é chamada de institucionalista. Entretanto, desde a década de 1980, novos estudos trouxeram a corrente chamada neoinstitucional ou do novo institucionalismo. Para esses pesquisadores, o comportamento dos atores nem sempre é moldado por instituições, dependendo da consolidação dessas regras impostas (FREY, 2000). A corrente neoinstitucional admite também regras informais, como os costumes, as convenções, as crenças. Conjuntos de ideias: Howlett, Ramesh e Perl (2020, p. 56, tradução nossa) destacam os vários conjuntos que distinguem as ideias durante o ciclo de formação da política: “ideias de programas, estruturas simbólicas, paradigmas políticos e sentimentos públicos”. Segundo os autores, ideias de programa “representam amplamente a seleção de soluções específicas entre o conjunto designado como aceitável dentro de um paradigma [...]” de política pública que se pretenda formular (HOWLETT; RAMESH; PERL, 2020, p. 56, tradução nossa). No campo da segurança pública, podemos citar como política pública a Lei n. 13.675, de 11 de junho de 2018, que instituiu o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e criou a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) (BRASIL, 2018). Por meio da Carteira de Projetos e da Carteira de Políticas Públicas, o Ministério da Justiça e Segurança Pública materializa ações governamentais, descrevendo as políticas a partir de público-alvo, objetivo e problema. 26 Objetivo da política pública Perceba que a formulação da política é uma resposta para as necessidades de uma determinada sociedade, comunidade ou população. Assim, os objetivos da coletividade se confundem com o próprio objetivo da política (OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996). Conforme já vimos, segundo o IPEA, a política pública é “formulada ou desenhada para atuar sobre a fonte ou a causa de um determinado problema ou conjunto de problemas [...]” (2018, p. 72). Desse modo, o objetivo geral da política pública é a solução ou a minimização de um problema (IPEA, 2018). Como etapa preliminar da elaboração de uma política pública, os formuladores da política realizam o diagnóstico, que é uma identificação da fonte ou causa do problema a ser combatido. Assim, converge-se para uma definição do objetivo da ação pública (IPEA, 2018, p. 72). Mas, a identificação do problema e a realização de diagnóstico serão assuntos tratados no Módulo 2. Segundo o IPEA (2018, p. 74-75), para definir o objetivo da política pública, devem observadas as seguintes diretrizes: o Aplicação dos recursos disponíveis de forma eficiente; o Minimização dos custos envolvidos; o Maximização dos resultados ou benefícios sociais. Ao tratarmos do objetivo da política pública, especialmente em relação à aplicação eficiente dos recursos disponíveis, precisamos associar nosso estudo a outros elementos, dentre os quais o Planejamento Estratégico Governamental (DE TONI, 2016). Além disso, são exigidos conhecimentos sobre administração orçamentária e financeira, programas e projetos, planejamento estratégico. Conhecimentos sobre orçamento público, em especial sobre seus instrumentos básicos de programação – Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual –, também são indispensáveis para a definição de prioridades, de acordo com critérios de hierarquia e essencialidade (BRASIL, 2021, c; PARANÁ, 2021; IPEA, 2018). No Plano Plurianual (PPA), o poder público define as prioridades de médio e longo prazos que materializarão políticas públicas, por meio de programas e projetos. 27 Essas políticas terão objetivos – voltados a resolver problemas públicos – mediante a definição de indicadores e metas direcionadas a um público-alvo. Para a formulação da política pública, seu monitoramento e sua avaliação, são também relevantes os conhecimentos sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) que, junto com o PPA, são instrumentos de programação previstos para a União, osEstados, o Distrito Federal e os Municípios. Segundo o Ministério da Economia (BRASIL, 2021, c), a Lei Orçamentária Anual (LOA) é elaborada com base nas metas e prioridades do Governo definidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); já a LDO estabelece a ligação entre o Plano Plurianual (PPA) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). No Módulo 2, aprofundaremos a discussão sobre os instrumentos básicos de programação e sua correspondência com políticas públicas de segurança. Perceba que todos os elementos anteriormente descritos – no conceito, elementos gerais e objetivo da política pública, poderão ser observados no Planejamento Estratégico do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) (BRASIL, 2021b), cuja finalidade é definir com “clareza para toda a organização quais são os objetivos a serem atingidos e como serão alcançados” (BRASIL, 2021, b). No âmbito do MJSP, o Planejamento Estratégico atual está associado ao Plano Plurianual – PPA 2020-2023 do Governo Federal, sendo representado visualmente por seu Mapa Estratégico, conforme se pode ver na Figura 3 a seguir: Figura 3 – Mapa estratégico 2020-2023 Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública (BRASIL, 2021, b) 28 Para a entrega formal de um produto ou serviço único, o MJSP vale-se de um conjunto de ações que integram a Carteira de Projetos Estratégicos. Essas ações são voltadas ao alcance dos objetivos propostos na estratégia (BRASIL, 2021, a). Conheça a Carteira de Projetos Estratégicos clicando aqui! Para o monitoramento e a melhoria contínua de suas ações e para o fortalecimento dos mecanismos de prestação de contas (accountability), o MJSP utiliza a Carteira de Políticas Públicas. Figura 4 – Carteira de Políticas Públicas Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública (BRASIL, 2021, a) Essa ferramenta de gestão “contempla uma lista exaustiva de todas as políticas que o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) atua, sendo organizada de forma setorial, ou seja, vinculadas à cada unidade finalística no âmbito da estrutura organizacional do Ministério” (BRASIL, 2021, a). A Carteira de Políticas Públicas contém uma série de informações que registram essas ações governamentais, tais como: o Unidade Finalística do Ministério da Justiça e Segurança Pública – MJSP; o nome da política; o principais entregas: produtos/serviços; o descrição da política: público-alvo, objetivo, problema; o fase de implementação: instrumentos; o subunidade responsável pela política; o base legal; o Planejamento estratégico 2020-2023: projetos estratégicos; https://legado.justica.gov.br/Acesso/governanca/planejamento-estrategico-2020-2023/pdfs-planejamento-estrategico%2020-23/pe-2020-2023-carteira_projetos_estrategicos_v4.pdf 29 o Planejamento estratégico 2020-2023: indicadores estratégicos; o Plano Plurianual (PPA) 2020-2023: programa temático; o Cadeia de valor: macroprocesso; o Lei Orçamentária Anual (LOA) 2020: ação orçamentária; o Lei Orçamentária Anual (LOA) 2020: plano orçamentário. Clique aqui para visualizar a Carteira de Políticas Públicas do Ministério da Justiça e Segurança Pública. No Módulo 2, veremos aplicações práticas da Carteira de Políticas Públicas. https://www.justica.gov.br/Acesso/governanca/carteira/capa 30 Aula 5 – TIPOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS Nessa aula, trataremos dos tipos de políticas públicas. Inicialmente, é importante compreender que não há um formato único para a descrição de tipologias das políticas públicas, motivo pelo qual serão apresentadas as classificações mais utilizadas pela doutrina. Perceba que a literatura, ao longo dos anos, encarregou-se de diversificar os tipos de políticas públicas, a exemplo da tipologia de Wilson (SECCHI, 2014), que descrevia as políticas a partir dos benefícios e dos custos, classificando-os como distribuídos ou concentrados. Como exemplo, uma política empreendedora seria aquela com custos concentrados e benefícios distribuídos (SECCHI, 2014). Ou seja, nessa política os benefícios são coletivos e os custos se concentram em certas categorias. Continuando com nossos exemplos de classificação, na tipologia de Gormley (1986), duas variáveis são essenciais: Nível de destaque (saliência) de um assunto: um determinado tema é destaque quando “afeta um grande número de pessoas de forma relevante” (GORMLEY, 1986, p. 598; SECCHI, 2014); e Nível de complexidade do tema: nas palavras de Gormley (1986, p. 598) um assunto é complexo quando “levanta questões factuais que não podem ser respondidas por amadores ou generalistas”. Em outras palavras, dependem de pessoas que sejam especialistas para a formulação e aplicação. Para Gormley (1986) os grupos de política são divididos em: ⮚ grupo de política de sala operatória: tem apelo popular (Ex: regulamentação da água, medicamentos etc.); ⮚ grupo de política de audiência: atrai a atenção das pessoas, da mídia, da política (Ex: políticas de cotas etc.); ⮚ grupo de política de sala de reuniões: exige conhecimento especializado e recebe baixa atenção da coletividade (Ex: regulamentação de instituições financeiras, telefônicas etc.); 31 ⮚ grupo de política de baixo escalão: de fácil e simples elaboração, não prende a atenção popular (Ex: prestação de serviços de informação aos cidadãos, protocolos para servidores públicos etc.). Uma terceira tipologia é a de Gustafson (1983, apud SECCHI, 2014), que incorpora o conceito de policymaker (formulador de política pública), cujos critérios de distinção são o conhecimento e a intenção. O modelo busca diferenciar quem tem a real intenção de resolver um problema público e quem não tem a mesma intenção. Ao final, a tipologia de Gustafson chega a duas divisões: ⮚ política pública real: quando o formulador da política busca resolver um problema público com vontade (intenção) de resolvê-lo e com conhecimento para tal; ⮚ política pública simbólica (symbolic policies): quando o formulador da política não tem conhecimento e/ou não tem um corpo técnico especializado e/ou não tem a intenção de resolver o problema. Esta também é chamada de pseudopolítica. Por fim, a tipologia mais usual e tradicional foi a desenvolvida por Theodore J. Lowi, por isso chamada de Tipologia de Lowi, que surgiu a partir de um artigo científico publicado na revista World Politics, em 1964. Segundo Secchi (2014), nesta classificação surgem quatro tipos de políticas públicas, cujo critério é o impacto esperado na sociedade: 1) políticas regulatórias: são políticas em que são definidos padrões de conduta ou de comportamento, produto ou serviço (SECCHI, 2014). A aprovação ou não desse tipo de política irá depender das forças dos atores e dos interesses da sociedade. Exemplificando a política regulatória, Secchi (2014, p. 25) lista: as regras para segurança alimentar, para operação de mercado financeiro, regras de tráfego aéreo, códigos de trânsito, leis e códigos de ética em assuntos como aborto ou eutanásia ou, ainda, proibição de fumo em locais fechados e regras para publicidade de certos produtos. 2) políticas distributivas: são as políticas que beneficiam um grupo de atores, porém seus custos são distribuídos entre toda a coletividade. Para ilustrar essa política, Secchi (2014, p. 25) fala em “subsídios, gratuidade de taxas para certos usuários de serviços públicos, incentivos ou renúncias fiscais.”; 32 3) políticas redistributivas: nessas políticas o benefício é limitado a um grupo e o custo recai sobre outra categoria de atores. Nesse contexto, poderá haver disputa entre os lados opostos. Um exemplo seriam as políticas de incentivos fiscais, em que determinados segmentos da economia são beneficiados em detrimento de outros. Sempre que há renúncia de receita, algum outro setor acaba sendo onerado paraa manutenção do equilíbrio fiscal; 4) políticas constitutivas: são regras que definem como irão ocorrer outros processos, como disputas políticas, como o desenvolvimento de políticas públicas, entre outros, por isso são também denominadas meta-policies. Para explicá-las, Lowi (1985, p. 74) fala em “regras sobre poderes e regras sobre regras”. Segundo Secchi (2014, p. 26), elas “estão acima dos outros três tipos de políticas e comumente moldam a dinâmica política dessas arenas.” O conflito está concentrado nos atores diretamente interessados, não surtindo muito interesse nos cidadãos, que estão mais preocupados com a prestação de serviços públicos ou com as ações concretas do governo. Outros casos que se enquadram nessa forma de política citados por Secchi (2014, p. 26): as regras do sistema político-eleitoral, a distribuição de competências entre poderes e esferas, as regras das relações intergovernamentais, as regras de participação da sociedade civil em decisões públicas. Figura 5 – Lowi (1985) Fonte: SCD/EaD/Segen. 33 Finalizando Ao término deste módulo, você aprendeu que, a partir de 1980, aumentou a preocupação dos governos com a garantia da segurança de seus cidadãos diante do aumento de crimes e da violência. Além disso, viu que “não há nada melhor do que uma boa teoria para resolver um problema prático” (LEWIN, 1965, p. 191). Portanto, o conhecimento teórico contribui sobremaneira para os processos de monitoramento e avaliação das políticas públicas, uma vez que a investigação sobre o que deu certo e o que deu errado ainda não é uma prática habitual em muitas organizações (principalmente públicas). Em nosso estudo, você viu também que política pública é uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público. Além disso, que um primeiro passo possível para a elaboração de uma política pública pode se constituir pela implementação de um banco de boas práticas dentro de cada organização. Aprofundando um pouco mais, você conheceu Hofstadter. Esse importante pesquisador identificou, em 1955, que os monopólios existentes provocavam na sociedade da época o sentimento coletivo da necessidade de uma maior participação do poder público na regulação dos mercados. Você também se familiarizou com Roosevelt, presidente norte-americano responsável por ampliar o alcance das políticas públicas oferecidas pelo governo, passando a agir em áreas em que o governo dos EUA até então não atuava. Você deve também se recordar de Lasswell, teórico que tinha o objetivo de criar uma ciência social aplicada. Em sua visão, deveria existir uma articulação entre as universidades e os agentes públicos, cuja finalidade seria apontar soluções objetivas e práticas para problemas públicos. Além de Lasswell, mais três cientistas são reconhecidos como os fundadores da área de políticas públicas: H. Simon, C. Lindblom e D. Easton. Eles contribuíram de formas diferentes para a formação do campo de políticas públicas. Não esqueça de que esse campo se expandiu após a Segunda Guerra Mundial, principalmente com a criação dos institutos denominados de "think tanks". Já um segundo e importante marco nas políticas públicas foi estabelecido a partir de 1980, devido ao movimento chamado New Public Management (nova gestão pública). A seguir, voltamo-nos ao estudo das políticas públicas no Brasil, quando identificamos uma mudança de cenário a partir de 1930, momento em que a indústria se desenvolveu de forma mais acelerada no denominado Estado Nacional- 34 Desenvolvimentista. Alguns anos mais tarde, em 1936, houve a criação do Conselho Federal do Serviço Público Civil. Já em 1967, foi aprovado o Decreto-Lei n. 200, considerado a principal norma de organização da administração pública brasileira. Você conheceu também Luiz Carlos Bresser-Pereira, importante gestor, professor e ministro que, na década de 1990, tentou substituir o modelo burocrático brasileiro por um modelo de padrão gerencial, criando o denominado “Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado” (PDRAE). O Plano Bresser era influenciado por dois nomes da época, Margaret Thatcher e Ronald Reagan, na chamada “nova gestão pública”, que se fundava em três pontos: 1) gerencialismo puro; 2) consumerismo; e 3) orientação para o serviço público. Um conceito simples de política pública foi apresentado por Dye (2017, p. 1): “é o que os governos decidem fazer ou não fazer”. Como exemplos, podemos citar o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS). Até este momento dos estudos, acreditamos que você tenha compreendido que o objetivo geral de uma política pública é a solução ou a minimização de um problema. Mas, neste escopo, vamos rememorar que existem três elementos dos problemas públicos – inter-relacionados ao processo de formação da política – sendo eles: os atores, as instituições e as ideias ou conhecimentos. Além disso, relembre que as prioridades estabelecidas pelo poder público serão encontradas no Plano Plurianual (PPA). Neste, estão definidas as prioridades de médio e longo prazos que materializarão políticas públicas por meio de programas e projetos. Essas políticas terão objetivos que buscam resolver problemas públicos mediante a definição de indicadores e metas, sendo direcionadas a um público-alvo. Com esse raciocínio, você concluiu que, para a entrega formal de um produto ou serviço único, o MJSP vale-se de um conjunto de ações que integram a Carteira de Projetos Estratégicos, as quais são voltadas ao alcance dos objetivos propostos na estratégia. O MJSP utiliza ainda a Carteira de Políticas Públicas, instrumento voltado tanto para o monitoramento e a melhoria contínua de suas ações quanto para o fortalecimento dos mecanismos de accountability (prestação de contas). Ao final do Módulo 1, você aprendeu sobre as tipologias de políticas públicas, que variam de acordo com a literatura. Assim sendo, não há um formato único para a descrição dessas tipologias. Wilson descreve as políticas a partir dos benefícios e dos custos, classificando- os como distribuídos ou concentrados. 35 A tipologia de Gormley leva em conta o nível de destaque (saliência) e o nível de complexidade. Para ele, há também os grupos de política, que são divididos em: grupo de política de sala operatória, grupo de política de audiência, grupo de política de sala de reuniões e grupo de política de baixo escalão. Já Gustafson incorporou o conceito de policymaker (formulador de política pública), cujos critérios de distinção são o conhecimento e a intenção. Busca-se diferenciar quem tem a real intenção de resolver um problema público de quem não tem a mesma intenção. A mais conhecida tipologia é a de Lowi, que apresenta como critério o impacto esperado na sociedade. Para Lowi, há quatro tipos de políticas públicas: 1) regulatórias; 2) distributivas; 3) redistributivas; e 4) constitutivas. 36 Módulo 2 – NOÇÕES DO CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Depois dos conhecimentos adquiridos no Módulo 1, que abordou o surgimento do campo, os conceitos fundamentais e os tipos de políticas públicas, neste Módulo 2 estudaremos o ciclo de políticas públicas. Assim, relembrando o que aprendemos no Módulo 1, de acordo com Howlett, Ramesh e Perl (2020, p. 8, tradução nossa): “A política pública é um fenômeno complexo que compreende inúmeras decisões tomadas por muitos indivíduos e organizações no interior do próprio governo, cujas decisões são influenciadas por outros atores que operam interna e externamente ao Estado”. Perceba que o processo de elaboração da política pública (policy-making process) começa quando os atores sociais identificam um problema e apresentam- no como uma demanda que não poderá ser resolvida sem a participação do Estado (DE TONI, 2016).A seguir, o processo de elaboração da política pública apresenta fases/estágios/momentos, que se relevam como marcos do que também se denomina de ciclo de políticas públicas (policy cicle). Destaca-se que não existe um modelo básico ou padronizado do ciclo de políticas públicas. Existem vários modelos, conforme as abordagens dos autores ou das organizações envolvidas. Neste Módulo 2, pretendemos fornecer instrumentos para que o profissional integrante do Susp compreenda seu papel indispensável no ciclo de políticas públicas, podendo participar ativamente das etapas que integram esse processo, considerando respostas alinhadas às expectativas sociais. Objetivos do módulo Com os conteúdos trabalhados neste módulo, você será capaz de: • compreender o ciclo de políticas públicas, que inclui: definição de agenda, formulação da política pública, tomada de decisões, implementação e avaliação da política pública; • proceder a uma reflexão crítica quanto à importância do profissional de segurança pública em todo o processo de formação da política. 37 Estrutura do módulo O presente módulo está dividido em 4 aulas, conforme elencadas a seguir: Aula 1 – Introdução ao ciclo de políticas públicas Aula 2 – Definição de agenda Aula 3 – Formulação de políticas públicas e tomada de decisão Aula 4 – Implementação e avaliação de políticas públicas 38 Aula 1 – INTRODUÇÃO AO CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Esta aula busca oferecer uma visão objetiva e didática sobre o ciclo de políticas públicas (policy cicle), mediante um esquema de interpretação que traduz o processo de elaboração da política pública (policy-making process). De acordo com o dicionário Michaelis (2015, online): Compreende-se ciclo como uma sequência de ações constituinte de um processo que, partindo de um ponto de início, após evolução e transformação, apresentando diferença sensível, desembocam em um ponto final, que nada mais é que o retorno ao ponto inicial para consequente recomeço. A ideia de ciclo está presente em várias áreas do conhecimento, como na Administração e no Planejamento Estratégico. O ciclo PDCA, estruturado em Plan, Do, Check, Act ou Planejar, Executar, Verificar, Agir é um exemplo muito utilizado como ferramenta de gestão voltada à melhoria contínua em organizações públicas e privadas. No Brasil, por exemplo, é referenciado pelo IPEA (2018). Conforme apontam Caetano e Sampaio (2016, p. 129), o ciclo PDCA trata-se de uma técnica, que tem origem no Sistema Toyota de Produção, e que se destina à solução de problemas, “uma vez que organiza o órgão, fornecendo maior visibilidade (clareza)” na identificação, solução de um problema e melhoria contínua. Adicionalmente, o ciclo PDCA “oferece maior agilidade, mediante a formulação inicial de um planejamento (traçar metas e definir os meios), o qual, em seguida, é posto em prática (executar o que foi planejado e capacitar o pessoal)” (CAETANO; SAMPAIO, 2016, p. 127). De acordo com Maximiano (2018, p. 175), o Sistema Toyota de Produção, baseado no aprimoramento contínuo e na filosofia da “eliminação completa de todo e qualquer desperdício”, se alicerça nos seguintes fundamentos: 1. Jidoka: interromper o andamento das máquinas e das linhas de produção quando ocorre qualquer tipo de problema ou defeito. 2. Just-in-time (no tempo certo): fabricar apenas a quantidade necessária de produtos. 3. Kaizen: práticas de aprimoramento contínuo. (MAXIMIANO, 2018, p. 175) 39 Figura 6 – Ciclo PDCA Fonte: TCE (PARANÁ, 2021). Ciclo PDCA: O ciclo PDCA é um ciclo de desenvolvimento cujo foco é a melhoria contínua. Possui como princípios a clareza e agilidade nos processos envolvidos na execução da gestão, dividindo-a em quatro principais passos, apresentados a seguir: 1 - "P" - Plan (planejar): estabelecer uma meta ou identificar um problema (aquilo que impede o alcance dos resultados esperados, ou seja, o alcance da meta); analisar o fenômeno (analisar os dados relacionados ao problema); analisar o processo (descobrir as causas fundamentais dos problemas); e elaborar um plano de ação; 2 - "D" - Do (executar): realizar as atividades conforme o plano de ação; 3 - "C" - Check (verificar): monitorar e avaliar periodicamente os resultados, avaliar os processos e resultados, confrontando-os com o planejado por meio dos indicadores de resultado. Atualizar ou implantar a gestão à vista pretendida; 4 - "A" - Act (agir): atuar de acordo com os resultados das avaliações e dos relatórios, eventualmente determinar e confeccionar novos planos de ação, para melhorar a qualidade, eficiência e eficácia, aprimorando a execução e corrigindo eventuais falhas. Procura-se atingir dois tipos de metas em qualquer organização: melhorar resultados e manter resultados. Para os dois casos, é possível aplicar esse método. 40 Saiba mais sobre o ciclo PDCA e outras ferramentas de gestão e planejamento no Curso Planejamento Estratégico e Gestão em Segurança Pública ofertado pela SEGEN. Também envolvendo a ideia de ciclo, no Policiamento Orientado para o Problema (POP), utilizamos o método IARA (no inglês, SARA), que consiste nas seguintes fases: Figura 7 – Método IARA Fonte: SCD/EaD/Segen. Na perspectiva de Herman Goldstein (2003), o Policiamento Orientado para o Problema (POP) – utilizando o método IARA – busca o controle do crime mediante a realização de diagnósticos locais que orientam a atuação da polícia na direção de comportamentos criminosos que tenham maior tendência à repetição. Saiba mais sobre o POP no Curso Policiamento Orientado para Resolução de Problemas ofertado pela SEGEN. Essa ideia de ciclo, como uma sequência de ações com um ponto de partida, evolução e transformação, chegando a um ponto final que nada mais é do que o recomeço, também se aplica à política pública. http://portal.ead.senasp.gov.br/academico/editoria-a/planejamento-estrategico-e-gestao-em-seguranca-publica http://portal.ead.senasp.gov.br/academico/copy_of_editoria-a/policiamento-orientado-para-resolucao-de-problemas http://portal.ead.senasp.gov.br/academico/copy_of_editoria-a/policiamento-orientado-para-resolucao-de-problemas 41 A política pública geralmente começa com a discussão do problema – e sua entrada na agenda dos governos – e termina com a avaliação da política, voltada à análise de impacto e aprendizagem dos gestores. Em alguns casos, autores como Leonardo Secchi (2014) também tratam da extinção da política. Em nosso curso, optamos por apresentar o ciclo de políticas públicas na perspectiva do Guia de Políticas Públicas: gerenciando processos, de Wu et al. (2014), em sua tradução editada pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). Utilizamos também como referencial teórico deste curso as obras de Howlett, Ramesh e Perl (2020), Leonardo Secchi (2019; 2014), Celina Souza (2018), Ana Claudia Capella (2018), além de vários estudos do IPEA e de outros think tanks. Neste Módulo 2, indicamos a estruturação do ciclo da ENAP (WU et al., 2014) conforme descrito abaixo: ● Definição de agenda ● Formulação de políticas públicas ● Tomada de decisão ● Implementação de políticas públicas ● Avaliação de políticas públicas Ao aprofundar seus estudos, você provavelmente encontrará na doutrina várias terminologias para as partes que compõem esse ciclo. Não há uma denominação melhor do que outra. Elas são escolhas de pesquisadores e estudiosos do campo. Assim, em nosso curso, abordaremos algumas das terminologias mais utilizadas, para que o profissional, ao se deparar no futuro com qualquer texto do assunto, compreenda que todas essas denominações falam do ciclo da política pública. Sobre as partes que integram esse ciclo, a literatura apresenta algumas distinções terminológicas, como estágios (HOWLETT; RAMESH;PERL, 2020), fases (SECCHI, 2019; SOUZA, 2018; CAPELLA, 2018; WU et al., 2014) ou, como também passaremos a tratar, momentos da política pública. Baptista e Rezende (2015) e Sampaio (2018) denominam de “momentos” as partes que integram o ciclo da política pública. 42 Segundo Baptista e Rezende (2015, p. 228) “por mais que haja um cuidado do analista em não isolar uma fase e seus efeitos, há sempre o risco de tratá-la de forma estanque.” Por tal razão, essa terminologia é adotada diante da “inevitável fragmentação que a ideia de fases provoca em qualquer análise a ser empreendida” (BAPTISTA; REZENDE, 2015, p. 228). Perceba que a separação da política pública em estágios, fases ou momentos – que se mostram sequenciais e interdependentes – facilita seu estudo e o acompanhamento de sua evolução. É importante esclarecer, entretanto, que o processo de construção de uma política é dinâmico, e geralmente as fases podem se apresentar alternadas ou misturadas, sem fronteiras nítidas (SECCHI, 2014). Essa visão de Leonardo Secchi é reforçada por estudo do IPEA (2018), no sentido de que dificilmente as políticas públicas se comportam, na prática do dia a dia, de forma linear, como fases sucessivas e encadeadas. Segundo o IPEA (2018, p. 96) “essas fases, ao contrário, existem na forma de circuitos paralelos, intercorrentes, ou seja, em atividade simultânea, mas nem sempre coincidente.” Desse modo, perceba que a abordagem sequencial tem suas limitações. Não é raro, por exemplo, que se tenha que estudar um processo de tomada de decisão antes da identificação do problema (IPEA, 2018). “Ou seja, constantemente, há reformulação da agenda previamente formulada, decisões que aprofundam ou revogam decisões anteriores e avaliações antecipadas que interferem na implementação, de forma positiva ou negativa” (IPEA, 2018, p. 96). Entretanto, para fins didáticos, a apresentação concatenada ajuda a organizar as ideias, auxiliando políticos, gestores e, fundamentalmente, profissionais de segurança pública a criar um referencial de análise (SECCHI, 2014). Portanto, além do referencial teórico-científico, o ciclo garante ao gestor um mapa mental, uma direção, um rumo a tomar. 43 Segundo o filósofo Sêneca (4-65 a.c.): “Não existem ventos favoráveis para barcos sem rumo.” Além disso, compreender a existência dessas atividades inter-relacionadas facilita o envolvimento dos gestores públicos para alcançar os objetivos das políticas almejadas pela sociedade em consonância com as propostas formuladas pelos governos. Em relação aos modelos de ciclo de política pública, lembre-se de que existem vários esquemas representativos e que seu conhecimento quanto a tal variedade pode auxiliar o gestor na sua atuação prática. Por esse motivo, o treinamento adequado viabiliza a resolução de problemas públicos. Com esses conhecimentos, os profissionais que vivenciam essas etapas sobrepostas e os problemas que se interligam têm melhores condições para compreender seu papel em todas as arenas da política pública. Esse desdobramento das políticas públicas em etapas fundamentais foi exposto pioneiramente na obra de David Easton (1968). Os inputs (entradas) do processo político refletiam o ambiente e as demandas sociais e, após o processamento pelo sistema político (governo) – em um ciclo de diferentes fases –, culminavam nos outputs (saídas), que se materializavam em políticas públicas e seus resultados. Figura 8 – Inputs e outputs Fonte: SCD/EaD/Segen. A lógica input-output e a concepção das fases de Easton (1968) ganharam força no âmbito acadêmico, passando a ser amplamente reproduzidas. 44 Lasswell dividiu o ciclo em sete estágios: (1) informação; (2) promoção; (3) prescrição; (4) invocação; (5) aplicação; (6) término e (7) avaliação. Para Kingdon, a formulação de uma política pública inclui necessariamente: (1) o estabelecimento de uma agenda, (2) a especificação das alternativas a partir das quais as escolhas são feitas, (3) uma escolha final entre essas alternativas, por meio de votação ou decisão unilateral e (4) a implementação dessa decisão Celina Souza (2006), após apresentar e comparar diversas literaturas sobre policy cicle, compreende que o ciclo é constituído das seguintes fases: (1) definição da agenda, (2) identificação das alternativas, (3) avaliação das opções, (4) seleção das opções, (5) implementação e (6) avaliação. Leonardo Secchi (2014) define como fases do ciclo da política: (1) identificação do problema, (2) formação da agenda, (3) formulação das alternativas, (4) tomada de decisão, (5) implementação da política, (6) avaliação da política pública e (7) extinção da política pública. 45 Como já havíamos mencionado, não existe um modelo único e padronizado do ciclo de políticas públicas. A Figura 9 sistematiza o ciclo, com as abordagens política, técnica e organizacional, que exigem, respectivamente, perspicácia nas políticas, capacidade analítica e experiência gerencial. Figura 9 – Ciclo com as abordagens política, técnica e organizacional Fonte: SCD/EaD/Segen. A Figura 8, adaptada de Howlett, Ramesh e Perl (2020), demonstra, por meio da ideia de uma ampulheta, as fases do ciclo da política pública. Na parte superior da ampulheta, observamos os estágios iniciais da política, de definição da agenda e de formulação. Em seguida, passamos pelo “funil” da tomada de decisão para a implementação da política, que depois será avaliada. 46 Figura 10 – O ciclo da ampulheta Fonte: SCD/EaD/Segen. 47 Aula 2 – DEFINIÇÃO DE AGENDA Como determinados problemas ganham visibilidade e entram na pauta política diante do universo de questões prementes do cotidiano? Quando falamos de defesa social, violência e criminalidade, que questões se tornam mais relevantes e ocupam a atenção dos governos, das organizações que integram o Susp e da sociedade? A busca de respostas a tais indagações deve ser ponto de partida para todos os envolvidos na prestação de serviços públicos, especialmente para aqueles dedicados à segurança pública e defesa social. As possíveis respostas a essas perguntas podem auxiliar os atores a compreender a primeira fase do ciclo de políticas públicas: a definição de agenda (agenda-setting). A agenda “é uma lista de questões ou problemas aos quais agentes governamentais e outros membros na comunidade de política pública estão atentando em certo momento” (WU et al., 2014, p. 30). A agenda contempla discussões políticas entendidas como questões legítimas e que despertam a atenção do sistema político (CAPELLA, 2018). Wu et al. (2014) alertam que os problemas poderão variar conforme as circunstâncias econômicas, sociais, temporais e geográficas. Assim, ao falarmos de problemas no subsistema da segurança pública e defesa social, grandes centros urbanos poderão ter demandas que se distinguem das existentes em áreas rurais. Do mesmo modo, diferentes regiões do país podem ter realidades absolutamente distintas, exigindo do gestor público posturas diversificadas, dependendo de cada caso concreto. Por esse motivo, a definição de agenda reflete, por vezes, uma situação de conflitos de interesses, o que representa a fase mais crítica desse processo. Grupos antagônicos concorrem, buscando atenção dos governos, sendo que alguns interesses poderão ser atendidos e outros não (CAPELLA, 2018; WU et al., 2014). Kingdon (2014, p. 1) utiliza a frase “an idea whose time has come” (“uma ideia cujo tempo chegou”) que indica a existência de um momento incontrolável que desponta na política e na sociedade sobre determinado assunto, afastando tudo o que se encontra em seu caminho. 48 Para o autor,alguns sinais como uma mudança expressiva na opinião pública, repetidas mobilizações de pessoas com propósitos definidos e a atração de atores políticos para a arena expõem esse momento. Secchi (2019, p. 27) também indica que o vislumbre de uma oportunidade de melhoria é determinante para a inserção de temas na agenda. Essas iniciativas podem ser originadas de avanços tecnológicos ou práticas de benchmarking. Como exemplos de avanços tecnológicos, podemos citar a criação do Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG) e a correspondente política pública voltada ao Fortalecimento da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos, ação prevista no Caderno de Políticas Públicas do MJSP. Saiba mais sobre o Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG) clicando aqui! No caso do fortalecimento da cultura de benchmarking, um bom exemplo é o eixo Promoção da Segurança e Defesa da Mulher, na Política Nacional de Segurança Pública, em que são estabelecidas diversas ações, entre as quais o levantamento e a disseminação de boas práticas. Medidas de enfrentamento à violência contra a mulher são objeto da Organização das Nações Unidas. De acordo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha – CICV (2017, p. 228), a Assembleia Geral da ONU, por meio da resolução 61/143 (2006), definiu “violência contra a mulher” como “todo ato de violência baseado no pertencimento ao sexo feminino que tenha ou possa ter como resultado um dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico para a mulher, incluindo [...] privação arbitrária de liberdade, seja no âmbito público ou privado da vida.” Ainda tratam a matéria a Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH (art. 7.º), o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – PIDCP, nos art. 2 (1) e art. 4 (1, 2) e a Recomendação Geral n. 19 (6) da ONU. Apesar de não ser um fenômeno recente, a violência contra a mulher passou a ser considerada como uma questão internacional de direitos humanos, alvo assim de políticas públicas dos governos (CICV, 2017). https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1556212211.45 49 Figura 11 – Promoção da Segurança e Defesa da Mulher Fonte: SCD/EaD/Segen. Em estudo sobre as razões que contribuem para a definição de problemas, Capella (ROCHEFORT; COBB apud CAPELLA, 2018, p. 20-25) destaca nove elementos, descritos a seguir: (i) Causalidade: é a relação de causa e efeito de um problema. Identificada a causa, a ação governamental volta-se à neutralização, modificação ou eliminação do problema. As causas podem ser intencionais ou não intencionais. Como exemplo, pode-se pensar numa enchente depois de uma forte chuva: a chuva, como um acontecimento natural, não é intencional, contudo o lixo que entope os bueiros e causa a enchente é resultado de uma ação do homem. Nesse sentido, o problema possui uma causa (bueiro entupido) e um efeito (enchente) e pode ser neutralizado por determinada ação governamental. Outros diversos exemplos de causa e efeito podem ser indicados, como a elevada quantidade de acidentes em um trecho mal sinalizado de uma rodovia. A causa seria a sinalização deficiente, enquanto o efeito seria a grande quantidade de acidentes no local. Assim, perceba que a avaliação de causa e efeito é uma importante ferramenta para identificar os problemas e determinar soluções. Essa ação não se dá apenas na alta 50 administração das organizações. Os profissionais do Susp que atuam em ocorrências de diversas naturezas, por enfrentarem inúmeros problemas no dia a dia, são qualificados para estabelecer essa relação de causalidade e propor soluções. (ii) Gravidade: a percepção da gravidade do problema é relativa e depende da subjetividade de cada indivíduo. Normalmente, quanto mais enfoque é dado ao problema pela mídia e maior é a comoção das pessoas envolvidas, maior o nível de gravidade, resultando em formulação de política pública sobre o tema. Nos últimos anos, observou-se a gravidade de ações criminosas, chamadas de “novo cangaço”2. A gravidade dessas práticas delituosas exigiu do poder público, e especialmente das polícias, um conjunto de ações dedicadas ao seu enfrentamento. Assim, políticas públicas voltadas a planejamento logístico, operacional e inteligência ganharam destaque, uma vez que diversos desses crimes são cometidos em pequenas cidades, geralmente desprovidas de adequado contingente policial. (iii) Incidência: significa identificar quem é afetado pelo problema, em que extensão e com qual nível de gravidade. Nesse aspecto, acompanhar estatísticas sobre situações entendidas como problemas pode ser uma maneira de exigir intervenção governamental rápida. O aumento da incidência de determinada prática criminosa, como furtos e roubos em uma determinada região, vai exigir das forças de segurança ações orientadas para o problema, por meio de ferramentas de análise criminal e prevenção situacional do crime. Sem prejuízo das ações ordinárias de policiamento preventivo, de repressão imediata e de investigação policial, são necessários conhecimentos sobre vitimização repetida e teoria da oportunidade. (iv) Novidade: a mobilização das pessoas em relação a um problema novo gera maior atenção social e busca por soluções. O ciclo de problema consiste em: primeiro, a situação não desperta interesse; depois, entra numa fase de descoberta e preocupação com as consequências; a seguir, há o momento das dificuldades e dos custos para a solução 2 Define-se como novo cangaço a ação criminosa, coordenada, planejada e direcionada para cidades de menor porte, em que vários órgãos públicos e privados são atacados por um número considerável de criminosos, utilizando de armas de maior calibre e tomada de reféns. A organização criminosa por vezes rende as forças públicas de segurança do local e passam subtrair de forma violenta bancos, joalherias e outros, sem ou com pouca resistência. 51 do problema; ao final, gradualmente aquilo deixa de ser o centro das atenções e o público se volta a outro “novo” problema. Um exemplo de novidade pode ser pensado na ocorrência, na contemporaneidade, dos crimes cibernéticos. A cada dia, são praticados novos delitos por meios eletrônicos, envolvendo invasões de sistemas, furto de dados pessoais, exploração sexual de menores, estelionatos, extorsões, dentre outros. Tais fatos exigem do poder público e, especialmente, das organizações integrantes do Susp, políticas públicas voltadas ao investimento em tecnologia e à qualificação profissional. Além disso, políticas públicas de esclarecimento sobre crimes cibernéticos e segurança da informação podem ser valiosas contra a prática de tais delitos. Uma política pública voltada a esse problema é a Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018. A chamada Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) instituiu o tratamento de dados pessoais com o “objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural”. Figura 12 – LGPD Fonte: SCD/EaD/Segen. 52 Figura 13 – Aplicação LGPD Fonte: SCD/EaD/Segen. Acesse a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) clicando aqui. (v) Proximidade: é comum os indivíduos darem mais atenção aos problemas que estão próximos a eles. Situações afastadas das suas realidades não são priorizadas e não geram envolvimento. Portanto, as políticas públicas tendem a se direcionar a um determinado grupo de pessoas. O Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG) é um exemplo de resposta aos problemas comuns de um bairro ou região. Sem prejuízo de ações que atendam toda a coletividade – com seus mais diversos problemas – a atuação próxima e focada numa região ou comunidade, principalmente perante o CONSEG, deve ser compreendida como política pública de segurança. (vi) Crise: umproblema é entendido como uma crise quando se observa uma situação grave que demanda formulação de estratégia urgente e breve tomada de decisão para acautelar os resultados. A crise é um contexto típico de entrada de um problema na agenda, de maneira que não pode mais ser ignorado. Quando oriundos de crises, os problemas têm como https://www.gov.br/defesa/pt-br/acesso-a-informacao/lei-geral-de-protecao-de-dados-pessoais-lgpd https://www.gov.br/defesa/pt-br/acesso-a-informacao/lei-geral-de-protecao-de-dados-pessoais-lgpd 53 fatores determinantes – que indicam sua premência – a urgência e a tendência (BIRKLAND; DEYOUNG, 2013; KINGDON, 2014). Uma crise sanitária ou um desastre ambiental exigem do poder público um conjunto de ações imediatas e específicas em diversas áreas, como saúde e economia. Em acontecimentos dessa natureza, as forças de segurança passam a atuar em ações de socorro público e defesa civil. Desse modo, políticas públicas antecedentes, voltadas à qualificação técnica profissional, padronização de condutas operacionais e suporte logístico, são fundamentais para a apresentação de respostas aos problemas públicos. (vii) Público-alvo: na definição do problema, as políticas públicas devem se relacionar diretamente a um ou mais grupos de pessoas. Dependendo do problema e da estratégia governamental, as ações podem ser destinadas a um grupo de forma prioritária. A política pública pode ter um público-alvo bem delimitado ou mesmo ações com maior amplitude e espectro de atuação. Na inserção do tema na agenda, devem ser realizados todos os esforços, “por meio de estudos e estimativas que permitam sua delimitação e mensuração” (IPEA, 2018, p. 75). Políticas de Promoção e Proteção dos Direitos Sociais e dos Povos Indígenas, previstas na Carteira de Políticas Públicas do MJSP (BRASIL, 2021, a), são um dos exemplos em que ações governamentais têm um público-alvo específico. Na Carteira de Políticas Públicas do MJSP, na Descrição da Política, estão detalhados o público-alvo, o objetivo e o problema. (viii) Meios versus fins: a definição do problema pode se dar privilegiando-se a perspectiva dos fins buscados (CAPELLA, 2018, p. 24). Do mesmo modo, “é possível que problemas sejam definidos predominantemente com base nos meios, como se o processo de implementação balizasse a percepção sobre a questão”. Nas políticas garbage can model, trataremos melhor dos problemas definidos com base nos meios, em que as soluções surgem antes dos problemas (CAPELLA, 2018, p. 24). (ix) Soluções: a definição dos problemas possui três aspectos fundamentais: meios de suporte à solução, aceitabilidade de uma ideia como solução e capacidade financeira e orçamentária. https://www.justica.gov.br/Acesso/governanca/carteira/capa 54 Perceba que, para as políticas públicas, a solução é um importante componente da definição do problema. Portanto, deverá haver suporte às decisões tomadas para que o esforço despendido seja válido. Além disso, a solução deve ser aceitável em termos de valores éticos e coerente com a disponibilidade orçamentária. Kingdon, incorporando a ordenação sequencial do processo de formulação de políticas públicas, considera em suas análises três fluxos para a formação da agenda, quais sejam (apud NOGUEIRA, 2018): o os problemas (problems); o a política (politics); o as soluções ou alternativas (policies alternatives). Acompanhe, a seguir, explicações sobre cada um desses três fluxos: (1) Problemas: a atenção dada a determinados problemas ocorre em decorrência dos meios pelos quais tomamos conhecimento deles (indicadores, eventos-focalizadores, feedbacks positivos e feedbacks negativos), bem como quando: (a) valores importantes dos destinatários da política são colocados em xeque; (b) comparações são realizadas com outros países ou organizações relevantes; (c) a classificação de uma situação é, em determinada categoria, alterada. Como exemplo, problemas de degradação do espaço público podem ser classificados como uma questão urbanística ou de segurança; o tratamento do problema será consideravelmente afetado de acordo com a classificação adotada. Diante disso, perceba que o reconhecimento do problema e sua definição são momentos críticos no estabelecimento de agendas. (2) Política: eventos no campo político, participação da opinião pública, mudanças de governos e participação de diversos segmentos da sociedade são importantes vetores da política. Na política (aqui no sentido de politics), estão muito presentes os processos de persuasão e negociação, diferentemente de contextos em que é mais evidente a necessidade de testes lógicos, viabilidade técnica e aceitabilidade, elementos que guiam as discussões dos problemas percebidos pelos demais gestores públicos (burocratas). Compreenda que essas visões da política e da burocracia pública não se anulam; pelo contrário, são perspectivas que se complementam. 55 Diante disso, não há como identificar problemas e definir a agenda sem a visão da política e da burocracia pública. Importante Entenda que, ao falarmos de burocracia (e de burocratas), não utilizamos esses termos de maneira pejorativa para definir uma administração morosa e ultrapassada. Aqui, o sentido usado é o concebido conforme o sociólogo alemão Max Weber (1982), que definiu o modelo burocrático de Administração, em substituição ao modelo patrimonialista. Como já abordamos no Módulo 1, há alguns anos estamos passando pela transição do modelo burocrático para o modelo gerencial (CAETANO; SAMPAIO, 2016). Portanto, para nosso estudo de políticas públicas, burocracia pública ou estatal é o conjunto de órgãos e agentes (burocratas) que integram a Administração Pública nos seus diversos níveis (WEBER, 1982; CHIAVENATO, 2020, p. 99-102). (3) Soluções: as alternativas são geradas em comunidade, por acadêmicos, pesquisadores, burocratas de carreira, analistas e demais stakeholders (partes interessadas) que compartilham preocupações por determinada área. Todos esses atores participam de um processo quase sempre competitivo de seleção. As ideias que se mostram viáveis, do ponto de vista técnico, e que possuam custos toleráveis sobrevivem, assim como as que representam valores compartilhados, pois são aceitas pela população e tem receptividade por parte dos formuladores de políticas. Além disso, boas ideias precisam ser bem defendidas, ou seja, a argumentação para defendê-las possui papel central em sua consolidação. Em momentos críticos, quando ocorrem as chamadas janelas de oportunidade (policy window), há a confluência destes fluxos (coupling). Então, os empreendedores de políticas (policy entrepreneurs) atuam para que sejam produzidas as alterações de agenda (CAPELLA, 2007; 2018). Janela de oportunidade: “é quando um problema é reconhecido, uma solução está disponível e as condições políticas tornam o momento propício para a mudança, possibilitando que questões ascendam à agenda” (CAPELLA, 2018, p. 43; 2007). As aberturas de janela podem ser periódicas e previsíveis, quando da mudança de um governo ou da cúpula de uma organização, ou nos ciclos orçamentários. No entanto, podem ser também imprevisíveis. 56 Empreendedores de política: os policy entrepreneurs buscam persuadir outros atores sociais, direcionando seus assuntos – e conferindo-lhes destaque – antes que se perca a janela de oportunidade (PAGE, 2006, p. 217, tradução nossa). O “empreendedor é o indivíduo especialista em uma determinada questão, geralmente com habilidade em representar ideias de outros indivíduos e grupos; ou ainda que desfruta de uma posição de autoridade dentro do processo decisório.” (CAPELLA, 2018, p. 44). A Figura 14, proposta por Ana Claudia Capella (2007; 2018), sintetiza esse modelo de John Kingdon, de 1984, chamado de múltiplosfluxos (multiple streams), o qual esquematiza como os problemas entram na agenda dos governos. Figura 14 – Entrada dos problemas nas agendas dos governos Fonte: Modelo de Kingdon dos múltiplos fluxos (apud CAPELLA, 2007, p. 98; 2018, p. 45). Perceba que, no subsistema da segurança pública, as recorrentes restrições humanas, logísticas, orçamentárias e financeiras, a compressão de tempo, as resistências políticas ou a falta de engajamento social fazem com que alguns problemas não permaneçam por um tempo suficiente na agenda ou sequer ingressem nela (SUBIRATS, 1989). 57 Diante dessa realidade e cientes desse fluxo, os profissionais do Susp são capazes de identificar e gerenciar as janelas de oportunidade que levam à entrada de determinadas questões na agenda, colaborando assim com o processo de formação da política. 58 Aula 3 – FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E TOMADA DE DECISÃO Na aula anterior, aprendemos que a definição de agenda é “o processo pelo qual o governo identifica, reconhece e delimita um problema, passando a incorporá-lo no campo das políticas públicas” (DE TONI, 2016, p. 35; KINGDON, 2014). Na aula 3 deste módulo vamos tratar das etapas seguintes do ciclo da política: formulação de políticas públicas e tomada de decisão. FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Diante da relevância e das peculiaridades sobre a formulação da política pública, nosso estudo será assim estruturado: 1. Contextualização; 2. Alternativas de formulação de políticas públicas: incrementais e fundamentais; 3. Tipos de abordagem de análise: racionalista e argumentativa/participativa. 3.1 Contextualização Howlett, Ramesh e Perl (2020) apontam que o reconhecimento por parte do governo de que existe um problema público e a necessidade de adotar providências a esse respeito demonstram que, de fato, o problema entrou na agenda. Com a entrada do problema na agenda, caberá aos formuladores de políticas (policymakers) iniciar o curso de ação voltado à solução ou minimização do problema. Assim, introduzido o problema na agenda, os esforços subsequentes dizem respeito à “[...] construção e combinação de soluções para os problemas [...]” que são cruciais (SECCHI; COELHO; PIRES, 2019, p. 61). Nesse contexto, a formulação de políticas públicas será o segundo momento do ciclo da política pública. Ela “envolve a identificação e a determinação de possíveis soluções para os problemas [...]” (JONES, 1984, p. 7, tradução nossa) ou 59 “[...] a exploração de várias opções ou cursos alternativos de ação disponíveis para enfrentá-los (HOWLETT; RAMESH; PERL, 2020, p. 132-133, tradução nossa). Perceba que os gestores públicos devem desenvolver alternativas técnicas e de custos viáveis aos problemas, sendo que o desenvolvimento não planejado pode levar a escolhas equivocadas, com implicações orçamentárias e de impacto danoso à comunidade atendida com determinada política pública. Lembre-se de que a formulação de uma política pública é a fase de geração de um conjunto de escolhas de políticas plausíveis técnica e financeiramente para a resolução de problemas públicos. A fase de formulação não pode ser encarada como um processo estritamente racional baseado em passo a passo. Devem ser admitidos conflitos sobre metas ou percepções da situação, não sendo estáveis e determinados os caminhos a serem adotados. Assim, o problema não é só técnico, o clima nem sempre é consensual e o processo de formulação não é controlado. Ao contrário, na formulação de políticas, as percepções e os interesses dos atores individuais também podem se manifestar sem seguir um modelo racional. A política opera como um sistema de concessões, o meio ambiente é conflitivo e o processo é caracterizado por diversidade e limitações. Por isso, quando o compromisso dos governos com determinado problema ganha predominância (fluxo político), é importante que o profissional responsável pela etapa da formulação tenha um cardápio de políticas públicas sólidas disponíveis para o debate. Não havendo esse rol de alternativas, os gestores públicos poderão ser levados a adotar políticas deficientes, marginalmente conflitantes com as demais já existentes, ou mesmo se manterem inertes, sem impulsionar as medidas de resposta necessárias aos problemas apresentados. Se o gestor público não se antecipar, poderá ser levado pelos acontecimentos! É importante que os profissionais de segurança pública tenham conhecimento dos problemas de sua competência territorial e planejem projetos técnicos e factíveis. 60 3.2 Alternativas de formulação de políticas públicas: incrementais e fundamentais Wu et al. (2014), ao tratarem das opções desenvolvidas para a formulação de políticas públicas, relatam que as alternativas podem ser classificadas em incrementais e fundamentais. Alternativas incrementais são descritas por Celina Souza (2007, p. 73), seguindo a proposição de Lindblom (1959), como aquelas políticas que não partem necessariamente do zero, mas “[...] de decisões marginais e incrementais que desconsideram mudanças políticas ou mudanças substantivas nos programas governamentais”. Já as alternativas fundamentais representam mudanças significativas em termos de ideias novas incorporadas, interesses sociais atendidos e instrumentos de políticas utilizados (WU et al., 2014). Esses autores apontam uma maior tendência de busca por alternativas incrementais, por várias razões, dentre as quais (WU et al., 2014, p. 55-56): o alternativas fundamentais exigem múltiplas mudanças nas políticas vigentes, sendo difícil (ex ante) a obtenção de informações sobre os possíveis impactos da nova política; o mudanças fundamentais causam certo grau de incerteza, gerando maiores riscos para os formuladores, seja em termos de repercussões no orçamento, seja na reputação do governo ou da instituição que desenvolve a política; o alternativas incrementais, em geral, consomem menos recursos de pessoal, financeiros e organizacionais, uma vez que já estão em funcionamento, precisando apenas ser ajustadas para adequar-se às políticas públicas a que pretendam ser subsumidas. Assim, a tendência a alternativas incrementais acaba sendo um limitador de ações públicas para os formuladores de política, que não exploram outras opções no processo de formulação. Wu et al. (2014, p. 55-56) ilustram, com exemplo, a possibilidade de combinação de alternativas incrementais e fundamentais: 61 No congestionamento de tráfego, por exemplo, os formuladores devem considerar simultaneamente as possibilidades de construir mais estradas, melhorar o transporte público, restringir o uso de automóveis ou alguma combinação dessas ou de outras alternativas. Saiba mais sobre o modelo incremental nas políticas públicas de segurança acessando a pesquisa Os modelos incremental e garbage can nas políticas públicas de segurança no Estado do Paraná: do Policiamento Modular ao Paraná Seguro, de Sampaio (2018). Atenção: trataremos mais do modelo incremental na fase da tomada de decisão. 3.3 Tipos de abordagem de análise: racionalista e argumentativa/participativa Dentro do estudo da formulação da política, outro tema relevante é a definição da abordagem de análise. Leonardo Secchi (2019) apresenta as abordagens racionalista e argumentativa/participativa, que trazem consigo técnicas próprias de solução. Como veremos a seguir, a abordagem argumentativa/participativa é menos estruturada analiticamente, valendo-se de técnicas ligadas ao policiamento orientado para o problema (POP) e à mediação de conflitos. Por outro lado, a abordagem racionalista requer um maior esforço teórico, desdobrando-se em: geração de alternativas, estabelecimento de critérios e projeção de resultados. 62Abordagem argumentativa/participativa: Essa abordagem é útil quando “o problema em mãos é pouco estruturado.” Quando o “problema é complexo e ambíguo, e há tempo suficiente para engajar atores para participar e aprender uns com os outros e chegar a uma recomendação consensual.” Nesse caso, “a análise centrada no analista seria considerada pouco legítima ou parcial”. Aplica-se também “quando o analista não possui conhecimento ou cognição para chegar a uma recomendação sozinho” (SECCHI, 2019, p. 63). A abordagem argumentativa/participativa, mais ligada à organização de reuniões e fóruns de políticas púbicas, utiliza ferramentas distintas, em que se privilegiam a pluralidade de participantes, as discussões e o mapeamento de argumentos (SECCHI, 2019). Desse modo, técnicas voltadas ao policiamento orientado para o problema (POP) e à mediação de conflitos são as mais adequadas para o contexto de formulação da política de abordagem argumentativa/participativa. Abordagem racionalista: Destina-se a tratar de “[...] temas técnicos estruturados, quando a urgência é grande, quando há pouca necessidade de legitimar a análise e a decisão e quando a habilidade está concentrada no analista de política pública capaz de dominar as ferramentas racionalistas [...]” (SECCHI, 2019, p. 63). As etapas dessa abordagem consistem em gerar alternativas, estabelecer critérios e projetar resultados. 3.3.1 Abordagem racionalista: geração de alternativas Para a geração de alternativas, Secchi (2019) apresenta as seguintes técnicas: o Benchmarking: processo dedicado à análise e sistematização de práticas de referência, buscando gerar ideias de melhoria para as práticas da organização (SECCHI, 2019; APQC, 2015). Tal prática pode ser facilmente realizada na organização que integra o Sistema Único de Segurança Pública. As boas práticas podem ser inscritas, devidamente avaliadas pelo setor técnico responsável, e difundidas por fóruns ou eventos dedicados à transmissão do conhecimento e ao nivelamento de procedimentos da organização. 63 Sobre boas práticas e governança, conheça o manual “Política Pública em Dez Passos”, do Tribunal de Contas da União (TCU). Voltado a gestores públicos, o documento busca subsidiar o aprimoramento do processo de elaboração de políticas públicas. o Brainstorming: a “tempestade de ideias” é uma técnica de grupo em que os participantes são instados a expor suas ideias de forma livre. Prestigia-se a criatividade para a solução de uma questão ou problema (OSBORN, 1953; SECCHI, 2019). o Redesenho incremental: também denominada de tinkering (WEIMER, 1993; SECCHI, 2019, p. 76), “a técnica consiste na decomposição de uma política pública, programa ou serviço já existente e na modificação marginal de seus elementos.” Secchi (2019) retrata que uma política pública em funcionamento é um conjunto de elementos que integram um processo, com capacidade, qualidade, confiabilidade, custo, segurança. Ao ser utilizada essa técnica, o gestor público poderá propor alterações em um ou mais desses elementos para a solução ou minimização do problema apresentado. Secchi (2019, p. 78) – utilizando os fundamentos de May (1981), Patton e Sawicki (1993) e Bardach (2009) – apresenta algumas opções de redesenho incremental, que podem ser adaptadas para qualquer subsistema de política, em especial no campo da segurança pública: - tamanho: pode ser relacionado à amplitude da política, dos recursos disponibilizados ou dos meios empregados. Exemplo: por vezes, uma política pública começa como um projeto piloto, no entanto, diante de resultados iniciais animadores, ocorre uma expansão inadequada do projeto, sem que haja o suporte adequado de recursos humanos e logísticos. Nesse caso, o ideal seria retroceder aos níveis sustentáveis, até que o órgão se estruture para a ampliação da política; - localização: a política pode ser central ou difusa, móvel ou fixa, física ou virtual. Havendo a necessidade de adequar a prestação física, 64 substituindo-a pela eletrônica, a organização precisa estar atenta para as inovações tecnológicas necessárias; - tempo: a política pode ser frequente ou intermitente, permanente ou periódica. A frequência da ação estatal deverá estar alinhada à origem da política, ou seja, ao problema público identificado. Nesse contexto, atuações engessadas, ortodoxas geram o desperdício de recursos e a dispersão dos esforços empreendidos pelo órgão; - estrutura institucional: a organização pode ser centralizada ou descentralizada, atuando por função ou por produto, por processo ou por projeto. Após a realização do diagnóstico (SWOT), a organização pode se reinventar, reorganizar-se e promover mudanças que a tornem mais eficiente na entrega das políticas públicas de segurança; - regulação: pode ser geral ou por categoria, fundada em recompensas ou sanções, com fiscalização interna ou externa. No caso específico do controle da organização, o órgão poderá aperfeiçoar ou adaptar seus mecanismos de correção interna seguindo os códigos de integridade e compliance, hoje muito presentes na administração pública e na iniciativa privada. De acordo com o CICV (2017, p. 55), “a corrupção é uma das maiores ameaças à legitimidade e eficácia de uma agência de aplicação da lei, sendo a responsabilidade de cada um dos funcionários de desempenhar um papel ativo no combate à corrupção.” O Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (CCFRAL), no artigo 7, proíbe os funcionários responsáveis pela aplicação da lei de cometer qualquer ato de corrupção e determina que devem, igualmente, “opor-se rigorosamente e combater” todos os atos dessa índole (CICV, 2017, p. 147). Ainda trata do tema a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção – CNUCC, em seu artigo 8 (1, 2). 65 Figura 15 – Códigos de integridade Fonte: SCD/EaD/Segen. Figura 16 – Compliance Fonte: SCD/EaD/Segen. Saiba mais sobre Programa de Integridade consultando a página da Controladoria-Geral da União (CGU). Para assistir os vídeos disponíveis clique aqui. Perceba que, por ser incremental, essa técnica de redesenho só poderá ser aplicada em políticas públicas existentes, sendo que as opções acima apresentadas são um rol exemplificativo, que poderá ser adaptado de acordo com as necessidades e a realidade da organização de segurança pública (SECCHI, 2019). o Nudge: essa técnica, concebida por Thaler e Sustein (2008), busca criar estímulos leves para a modificação do comportamento de seres humanos. Segundo Secchi (2019, p. 79), “como uma política pública é uma diretriz que https://www.gov.br/cgu/pt-br/assuntos/etica-e-integridade/programa-de-integridade/programa-de-integridade https://www.gov.br/cgu/pt-br/assuntos/etica-e-integridade/programa-de-integridade/capacitacoes 66 busca influenciar a ação humana, o analista de política pública pode usar a técnica ‘nudge’ para encontrar soluções simples, acessíveis, de baixo custo e eficazes”. Oriunda da economia comportamental, a técnica busca explorar comportamentos humanos, por vezes automáticos, a partir de cinco abordagens (SECCHI, 2019, p. 79; THALER; SUSTEIN, 2008, p. 23-53): ancoragem e ajuste: as pessoas tomam decisões a partir de informações superficiais, que são as âncoras; essas âncoras condicionam as demais decisões (THALER; SUSTEIN, 2008, p. 23); disponibilidade heurística: as pessoas têm opiniões condicionadas pelos exemplos que têm à disposição (THALER; SUSTEIN, 2008, p. 24; SECCHI, 2019, p. 79); representatividade heurística: as pessoas associam muito suas opiniões sobre o que acontecerá no futuro ao que aconteceu no passado (THALER; SUSTEIN, 2008, p. 26; SECCHI, 2019, p. 79); resistência às mudanças: as pessoas são muito condicionadas ao que vinham fazendono passado, sendo resistentes a mudar comportamentos e hábitos (THALER; SUSTEIN, 2008, p. 40; SECCHI, 2019, p. 79); senso de manada: as pessoas se condicionam muito ao que os outros fazem (THALER; SUSTEIN, 2008, p. 53; SECCHI, 2019, p. 79). Perceba que, no campo das políticas públicas de segurança, a ferramenta nudge é extremamente útil, principalmente no estudo da vitimização repetida, em que há uma propensão de pessoas, domicílios ou negócios se tornarem vítimas, notadamente quando associadas a falhas na proteção da propriedade privada (DURANTE FILHO, 2021, p. 94; WEISEL, 2005). A técnica nudge busca mudanças de comportamentos automatizados que todos temos no dia a dia. Essas mudanças podem ser adequadas em políticas que utilizem a prevenção situacional do crime e o policiamento orientado para o problema (DURANTE FILHO, 2021; THALER; SUSTEIN, 2008). Apesar de aparentemente elementar, essa técnica pode ser utilizada como ferramenta em 67 políticas públicas voltadas, por exemplo, à redução de crimes patrimoniais (furtos contra pessoas, residências, comércios). Por meio de campanhas em redes sociais e no contato diário com as pessoas, o profissional poderá repassar recomendações simples sobre comportamentos automáticos, vitimização repetida e prevenção situacional do crime. Apesar de toda a complexidade que envolve as políticas públicas, as soluções por vezes são genéricas e triviais, resumidas a poucos exemplos. Essa última técnica estruturada por Secchi (2019, p. 80-81) prevê várias estratégias convencionais de intervenção, tais como: ● regulamentação/desregulamentação; ● aplicação da lei; ● impostos e taxas; ● empréstimo, subsídios e incentivos fiscais; ● prestação direta de serviço público; ● informação ao público; ● campanhas/mobilização; ● prêmios e concursos. 3.3.2 Abordagem racionalista: critérios e indicadores Após geradas as alternativas pelas técnicas acima expostas (Benchmarking, Brainstorming, Redesenho incremental, Nudge e Soluções genéricas), precisam ser definidos os critérios e os indicadores da política pública. Os critérios representam os macro-objetivos ou as justificativas para a mudança da política, enquanto os indicadores são a operacionalização daquilo que pode ser mensurado na política (SECCHI, 2019). Para o estudo de políticas públicas, é importante distinguir os conceitos de indicadores e metas, que serão necessários tanto na fase de formulação da política quanto da avaliação (monitoramento). 68 Figura 17 – Conceitos de indicadores e metas Fonte: SCD/EaD/Segen. A Figura 10 representa os objetivos, os indicadores e as metas estratégicas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (BRASIL, 2021, b) previstos no Planejamento Estratégico 2020-2023. Note que cada uma dessas ações está alinhada com a Carteira de Políticas Públicas (BRASIL, 2021, a), que será estudada a seguir. Figura 18 – Objetivos, indicadores e metas estratégicas do MJSP previstos no Planejamento Estratégico 2020-2023 Fonte: Brasil (2021, b). 69 3.3.3 Abordagem racionalista: projeção de resultados Por fim, geradas as alternativas e estabelecidos os critérios e indicadores, é hora de projetar os resultados. Nesse momento, “os potenciais resultados das alternativas determinarão a escolha da política pública mais adequada” (SECCHI, 2019, p. 90). De acordo com Leonardo Secchi (2019, p. 91-115), as técnicas de projeção de resultados mais utilizadas pela metodologia racionalista, por nós aqui adotada, são as seguintes: o análise custo-benefício (ACB): trata-se de um método voltado a maximizar a eficiência, ajudando o analista a identificar se os benefícios da política superam os custos; o análise custo-efetividade (ACE): com base na efetividade, o método busca averiguar a capacidade de a política alcançar os objetivos propostos; o análise de viabilidade política e de implementação (AVPI): esse é um dos grandes desafios da política. Algumas alternativas, aparentemente perfeitas no planejamento, por vezes são contestadas por atores políticos nas fases da tomada de decisão e da implementação da política. Assim, esse método busca identificar os critérios de viabilidade política e de implementação, se são aptos a receber apoio, tanto na fase pré-decisória como pós-decisória, a partir do mapeamento de atores apoiadores, neutros e opositores. TOMADA DE DECISÃO Superada a etapa de formulação, é na tomada de decisão que ocorre a definição da política pública. Após esse momento, haverá a implementação voltada à resolução de um problema que ingressou na agenda. Assim, os elementos quem, como, para quem e por quê? são relevantes e se destacam. A fase da tomada de decisão envolve um pequeno grupo formado por agentes de alto nível hierárquico e vincula o governo a um curso específico de ação, após a ponderação técnica e política. Ou seja, a tomada de decisão impõe ao ator estatal a necessidade de “fazer escolhas de um número relativamente pequeno de opções políticas alternativas, 70 identificadas no processo da formulação da política, com vistas a resolver um problema público” (HOWLETT; RAMESH; PERL, 2020, p. 177, tradução nossa). A literatura indica que a não tomada de decisão pode refletir também em uma política pública, uma vez que mantém um status quo (BACHRACH; BARATZ, 1962). De acordo com Brewer e Deleon (1983, p. 179), “naturalmente, as escolhas possíveis, em sua maior parte, não serão todas realizadas, e a decisão de não tomar determinados cursos de ação é parte da seleção assim como o é a definição final do melhor curso.” A forma pela qual os agentes de políticas públicas decidem (ou como decidem) é outro ponto relevante no debate sobre processos decisórios nos estudos de políticas públicas. Nesse sentido, destacamos três modelos de tomada de decisão: o racionalista, o incremental e o da garbage can (lata de lixo). MODELO RACIONALISTA Para o modelo racionalista da fase da tomada de decisão, é necessário que se identifique o maior número de variáveis de ação e as consequências possíveis, antes de se adotar uma política. Esse modelo é “construído sobre o pressuposto de que as consequências de cada opção de política pública alternativa podem ser conhecidas com antecedência (WU et al., 2014, p. 81). No ideal racional, os tomadores de decisão teriam de definir os seus objetivos de modo claro e preciso, quantificando os resultados desejáveis. Em seguida, analisariam todas as alternativas disponíveis para a obtenção dos tais objetivos, os custos, benefícios e riscos e, por fim, escolheriam a que maximizasse os ganhos (CARVALHO, 2013, p. 133). MODELO INCREMENTAL Por outro lado, o modelo incremental parte da premissa de que os tomadores de decisão, a exemplo de qualquer pessoa, sofrem de restrição de tempo e informação (WU et al., 2014, p. 81-82). Esses indivíduos, quando lidam com situações complexas passam a decidir por meio “de uma série restrita de comparações entre alternativas marginalmente diferentes entre si, da situação existente e de decisões anteriormente tomadas, mediante um processo de ajustamentos mútuos entre as partes envolvidas” (LINDBLOM apud 71 CARVALHO, 2013, p. 133). Consequentemente, a mudança com base em suas decisões é incremental e de dimensão pouco significativa. Para o incrementalismo, não é usual a ocorrência de mudanças abruptas, por processos que impliquem alterações políticas drásticas. No entanto, pequenas mudanças rápidas podem gerar transformações mais drástica no status quo do que uma mudança única e repentina. Isso se deve ao fato de que mudanças incrementais são aceitas com mais facilidade do que mudanças radicais, que encontram mais resistência de atores com poder de veto a mudanças (WU et al., 2014, p. 82). MODELO DA GARBAGE CAN (LATADE LIXO) No contexto em que se desenrola a ação da administração pública, um dos modelos que ocorre com grande frequência, segundo Hill (2005), é o da garbage can (lata de lixo). Nesse modelo, o processo de decisão é visto como um contentor de lixo, no qual são despejados vários tipos de problemas e soluções à medida que vão sendo gerados pelos atores. Assim, quando surge uma necessidade, os tomadores de decisão buscam na lata de lixo uma solução para o problema. O garbage can model considera as organizações como “anarquias organizadas” com três características em destaque: (1) rotatividade alta dos membros envolvidos no processo decisório e engajamento variável; (2) difícil conciliação entre as preferências, que nem sempre são definidas previamente; e (3) nem todos os processos organizacionais são conhecidos e claros a todos, sendo que a preferência por tentativa e erro é mais usual do que o planejamento estratégico. O processo decisório nesse modelo é frequentemente irracional, produzido por quatro fluxos: problemas, soluções, potenciais participantes e oportunidades de escolha. Os problemas e as soluções não apresentam necessariamente relação causal. Os participantes têm diferentes pontos de vistas, calcados em experiências e valores singulares, reconhecendo os problemas e as soluções apresentadas de forma quase 72 sempre heterogênea. Quando participantes, soluções e problemas se combinam, há a oportunidade de escolha (momento da decisão). A organização é a “lata de lixo” na qual ocorre essa combinação para a tomada de decisão. Esse modelo decisório entende que podem ser propostas soluções mesmo que não existam problemas, que muitas escolhas são realizadas sem que se resolva o problema; e poucos problemas são realmente resolvidos (CAPELLA, 2004; apud NOGUEIRA, 2018). REFLEXÃO Na qualidade de profissional integrante do Sistema Único de Segurança Pública, perceba a importância de o gestor estar preparado para colaborar com o assessoramento, fornecendo informações e recomendações qualificadas sobre as diferentes opções existentes para o tomador de decisão. 73 AULA 4 – IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Nesta última aula do Módulo 2 vamos tratar da implementação e da avaliação de políticas públicas. IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA A implementação da política pública consiste nos esforços de execução da ação governamental, incluída a alocação de recursos e o desenvolvimento dos processos previstos para isso (BRASIL, 2015). Essa fase, portanto, pressupõe a adoção de técnicas de planejamento por parte dos gestores públicos. Sobre o planejamento, Oliveira (2020, p. 32, grifo nosso) nos informa que é “um processo desenvolvido para o alcance de uma situação futura desejada, de um modo mais eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de esforços e recursos pela organização”. O processo de planejamento, bem conduzido, poderá diminuir os riscos e evitar o desperdício de recursos financeiros, logísticos e de pessoal. Perceba que a elaboração do planejamento estratégico das organizações deve considerar, para a solução de problemas públicos, os instrumentos básicos de programação do orçamento (previstos na Constituição Federal e na Lei de Responsabilidade Fiscal – Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000), elencados a seguir (BRASIL, 2000). o Plano Plurianual (PPA) o Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Lei Orçamentária Anual (LOA) Além disso, são necessários conhecimentos sobre projetos, compreendidos pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública “como um esforço temporário, com início e término definidos, cujo objetivo resulta em uma entrega formal de um produto ou serviço único” (BRASIL, 2021, b). 74 Nesse contexto, não só os formuladores das políticas, mas também os profissionais de todos os níveis da administração pública precisam angariar informações sobre vários assuntos que envolvem a elaboração das políticas públicas, a formatação de programas e projetos e os instrumentos básicos de programação (PPA, LDO e LOA). Figura 19 – Etapas Fonte: Brasil (2021, c). 75 Acompanhe informações sobre o PPA, a LDO e a LOA clicando nos itens abaixo: • PPA; • LDO; • LOA. O Ministério da Justiça e Segurança Pública, visando planejar suas estratégias, divulgou no ano de 2020 sua Carteira de Políticas Públicas. Nesta, podemos acompanhar de forma objetiva a implementação das políticas definidas como prioritárias pelo Governo Federal. Observe no Quadro 2 um exemplo, adaptado da Carteira de Políticas Públicas do MJSP (BRASIL, 2021, a), de acompanhamento da implementação de política pública devidamente alinhada aos instrumentos de programação orçamentária. Quadro 2 – Acompanhamento da implementação de política pública Fonte: Adaptado de BRASIL (2021, a). Nessa fase, um conjunto de agentes públicos ganha relevância, na medida em que será responsável pela materialização das ações que começaram como https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/plano-plurianual-ppa file:///C:/Users/luana.mendes/Downloads/•%09%20https:/www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/orcamento/orcamentos-anuais/2021/LDO https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/orcamento/orcamentos-anuais/2021/loa 76 problemas, entraram na agenda dos governos, passaram pelo processo da tomada de decisão e, finalmente, serão alçados à condição de política pública. A literatura apresenta duas abordagens na implementação de políticas públicas, as chamadas top-down (de cima para baixo) e bottom-up (de baixo para cima-baixo) (LIPSKY, 2019): Top-down: neste modelo, consideram-se mais relevantes para a implementação os tomadores de decisão e os formuladores da política. No modelo top-down, a política pública é concebida a partir da cúpula da organização, havendo uma menor participação dos demais atores, dentre os quais os burocratas de nível médio e os burocratas de nível de rua (por nós chamados de burocratas ou profissionais da linha de frente). Esse modelo, se não bem conduzido, pode gerar dificuldades na implementação ou mesmo déficits diante do que foi previsto na formulação da política. Tal realidade potencial nos indica uma série de hipóteses: formulação de políticas inadequadas à realidade de uma região ou organização pública, falta de meios (pessoal, logística, recursos financeiros) ou mesmo falta de esclarecimentos e treinamento sobre a política (CAVALCANTE; LOTTA, 2015; WU et al., 2014). Perceba que os déficits de implementação – gerados pela falta de informações sobre o desenho e os objetivos da política – podem também ser potencializados por aspectos culturais, como os decorrentes da resistência a mudanças (WU et al., 2014). É importante considerar que, na fase de implementação, os rumos da política poderão ser corrigidos. Mas, por vezes, é somente após a instalação da política pública que os problemas se manifestam. Diante disso, no modelo top-down, uma das medidas essenciais para a implementação da política – a ser adotada pela cúpula da organização – é o engajamento dos demais integrantes do órgão, especialmente os burocratas de nível médio e os burocratas da linha de frente (LIPSKY, 2019; CAVALCANTE; LOTTA, 2015). Embora o modelo preveja a implementação “de cima para baixo”, com a maior participação de todos os membros a política terá maiores chances de êxito. - Bottom-up: esta abordagem evidencia que as políticas públicas dependem de uma maior interação entre o governo e os atores envolvidos. São levadas em consideração as opiniões dos sujeitos destinatários, inclusive da burocracia de nível médio e da linha de frente, fazendo surgir a demanda de baixo para cima, no nível 77 real dasua execução. Assim, além da política e da alta administração do Estado, a fase de implementação no modelo bottom-up conta expressivamente com os gestores públicos que estão na atividade-meio (dirigidas pelos burocratas de nível médio) e na atividade finalística (operadas pelos burocratas da linha de frente). Não obstante, na abordagem bottom-up os processos de negociação se mantêm no decorrer de toda a implementação da política, provocando efeitos sobre o seu desenho de entrega. Saiba mais sobre a burocracia de nível médio e a burocracia de nível de rua (linha de frente). Burocracia de nível médio: são “[...] atores que desempenham função de gestão e direção intermediária (como gerentes, diretores, coordenadores ou supervisores) em burocracias públicas e privadas” (LOTTA; PIRES; OLIVEIRA, 2015, p. 23). Operacionalizam as estratégias formuladas pela cúpula da organização, sendo um relevante elo entre formuladores da política e aqueles que efetivamente a implementam, os chamados burocratas da linha de frente. Burocracia do nível de rua (burocracia da linha de frente): são os profissionais do serviço público que interagem com as pessoas, sendo os principais responsáveis por implementar as políticas públicas. Lipsky (2019) aponta que a maioria dos cidadãos encontra o governo por meio desses profissionais da linha de frente, como os policiais e os bombeiros nas ruas, os profissionais de saúde nos hospitais e os professores nas salas de aula. Independentemente do modelo adotado, as políticas implementadas são resultantes das regras delimitadas pelos atores políticos e pela alta burocracia, adaptadas pelos burocratas de nível médio e da linha de frente, de acordo com o contexto histórico, socioeconômico e político do momento da sua implementação. AVALIAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA: A avaliação é fase em que se determinará se uma ação pública tem valor para a sociedade ou se precisa ser repensada. Tem como objetivo avaliar se a política é executada conforme sua idealização (o contexto em que foi criada), identificando se as conexões entre os insumos, os processos e os produtos estão condizentes com o resultado esperado pelos tomadores de decisão e pelos formuladores da política ou se esse fluxo deve ser aprimorado (IPEA, 2018). 78 Na perspectiva de Cotta (2001, p. 91), a avaliação pode ser classificada de acordo com “seu timing (antes, durante ou depois da implementação da política ou programa), da posição do avaliador em relação ao objeto avaliado (interna, externa ou híbrida) e da natureza do objeto avaliado (contexto, insumos, processos e resultados).” Leonardo Secchi (2014) destaca que, em relação a esse timing, podem ser descritos três momentos da avaliação: 1) ex ante (antes da implementação), também chamada de policy appraisal (TURNPENNY; ADELLE; JORDAN, 2013); 2) ex post (posterior à implementação, voltado à avaliação dos propósitos da política em relação aos impactos alcançados) (GERTLER et al., 2018; BRASIL, 2018), e; 3) in itinere (chamada de avaliação formativa ou monitoramento) (BRASIL, 2018). Secchi, Coelho e Pires (2019) definem que a avaliação compreende a estipulação de critérios, indicadores e padrões, sendo esse o momento em que se produz o feedback da política. Os critérios são os mecanismos dedicados à escolha ou ao julgamento pelo gestor público acerca dos parâmetros de avaliação, para identificar se uma política funcionou ou não. Os critérios são definidos pelos indicadores (tema já tratado). Os padrões são os benchmarks ou standard ideal (SECCHI; COELHO; PIRES, 2019). Se a avaliação for realizada ex post, permite verificar se os resultados obtidos resolveram ou atenuaram os problemas, de acordo com os três fatores (OLIVEIRA, 2013) elencados a seguir. Eficiência: relação entre insumos e resultados (obtenção dos melhores resultados para um dado nível de insumos). Segundo Oliveira (2020, p. 7), eficiência é “fazer as coisas e resolver problemas de maneira adequada”, cumprir deveres, respeitar prazos e reduzir custos. Medidas de desempenho: ● insumos: recursos financeiros, recursos humanos e recursos materiais, e; ● resultados: atividades desenvolvidas e serviços prestados. Eficácia: 79 êxito do programa; capacidade demonstrada pelo projeto de atingir os objetivos e as metas previamente estabelecidos; foca-se nos resultados. De acordo com Maximiano (2018, p. 7), “quanto mais alto o grau de realização dos objetivos, mais a organização é eficaz.” Medidas de desempenho: ● produtividade: capacidade de solução dos problemas registrados, e; ● custos: custo médio para a produção dos serviços prestados. Efetividade: capacidade que os resultados têm de produzir mudanças duradouras e significativas. Segundo Maximiano (2018, p. 8), na administração pública, é sinônimo de impacto, sendo que os “benefícios sociais são medidas de efetividade.” Medidas de desempenho: ● impacto: efeito produzido pelo resultado alcançado; ● satisfação do usuário: queixas recebidas, pesquisas de opinião, e; ● qualidade do serviço: disponibilidade e adequação do serviço procurado. De acordo com estudo da Casa Civil da Presidência da República, juntamente com o IPEA (BRASIL, 2018), existem dois tipos básicos de avaliação da política: Resultados (outcomes): são as mudanças de curto prazo, que decorrem da intervenção da política, em que se observam indicadores quantitativos ou se realizam levantamentos acerca da percepção da política na visão dos destinatários. Como exemplos, podem ser citados o número de prisões e apreensões, a redução de acidentes em uma rodovia, ou a redução da sensação de insegurança de determinada comunidade. Impactos (impacts): representam “mudanças de mais longo prazo promovidas sobre o aspecto ou a perspectiva futura de seus beneficiários ou grupo que se inserem”; desse modo, impactos compreendem os “resultados dos resultados.” (BRASIL, 2018, p. 241) São exemplos de impactos os efeitos duradouros da redução da desigualdade a partir de programas sociais, ou o aumento da expectativa de vida em decorrência de programas de saúde pública. Como instrumentos de avaliação, podem ser utilizadas: entrevista (em grupo ou individual), inspeção, observação, coleta de dados quantitativos e qualitativos, análise de documentos, utilização de bases de dados e análise estatística de dados quantitativos (INTOSAI, 2016). 80 Comparando-se a situação encontrada pelos instrumentos de avaliação (“o que é”) com a situação idealizada, ou critério de performance (“o que deve ser”), poderá se demonstrar que a política pública está sendo executada da forma como foi planejada ou, em caso de não correspondência, que há um desvio em relação ao critério de performance que deve ser corrigido pelo gestor público (IPEA, 2018). No âmbito federal, a execução do monitoramento (in itinere) está definida na obra Avaliação de Políticas Públicas: guia prático de análise ex post (BRASIL, 2018). Nesta obra, verificamos que um dos principais instrumentos é o Plano Plurianual Anual (PPA). Trata-se de planejamento que, consoante já aprendemos, é de quatro anos. A partir do PPA, o Governo Federal aprecia (BRASIL, 2018): i) verificação dos resultados; ii) identificação das dificuldades de execução; iii) indicação das medidas para melhoria do desempenho. Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento. Ministério do Planejamento. PPA Cidadão. Biblioteca Digital. Além do Governo Federal e do Congresso Nacional, outros órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU) acompanham a execução de indicadores e metas, estabelecendo índices de desempenho. Para ilustrar, citamos o Índice de Governança e Gestão em Segurança Pública (IGGSeg), que está sendo desenvolvido pelo TCU em parceria com os Tribunais de Contas dos Estados.Segundo explica o TCU, o IGGSeg servirá para apreciar o nível de maturidade na Gestão e Governança das diversas entidades que atuam na segurança pública. A avaliação será estrutura nos seguintes eixos: https://www.siop.planejamento.gov.br/siop/ file:///C:/Users/luana.mendes/Downloads/%20http/www.planejamento.gov.br/assuntos/planeja/plano-plurianual https://ppacidadao.planejamento.gov.br/sitioPPA/ http://bibspi.planejamento.gov.br/ 81 Figura 20 – Avaliação da maturidade na Gestão e Governança Fonte: TCU: Acórdão n. 1.192/2020. (BRASIL, 2020). PAINEL DE INDICADORES Outra ferramenta voltada a monitorar o progresso (avaliação in itinere) e desempenho de uma política pública é o painel de indicadores. No campo da segurança pública, essa ferramenta poderá auxiliar a organização no cumprimento da sua missão e dos seus objetivos estratégicos – ou mesmo monitorar programas e projetos – mediante o acompanhamento dos indicadores e das metas de resultado (BRASIL, 2021, b). A imagem abaixo representa o Painel de Integridade Pública, da Controladoria-Geral da União (CGU), dedicada a conferir o andamento dos programas de integridade em órgãos e entidades do Governo Federal. Figura 21 – Conceitos de indicadores e metas Fonte: SCD/EaD/Segen. 82 PROJETO EM FRENTE BRASIL A título de ilustração, apresentamos abaixo o projeto Em Frente Brasil, que está sendo avaliado (monitorado) pela União. Mais informações clique aqui. Figura 22 – Em Frente Brasil Fonte: SCD/EaD/Segen. Assista o vídeo. O Em Frente Brasil propõe o combate da criminalidade violenta focando nos territórios, a partir da implementação de soluções customizadas às realidades regionais (BRASIL, 2019). O projeto-piloto ocorre em cinco cidades: região Norte, em Ananindeua (PA); região Nordeste, em Paulista (PE); região Sudeste, em Cariacica (ES); região Sul, em São José dos Pinhais (PR); e região Centro-Oeste, em Goiânia (GO) (BRASIL, 2019). O governo federal tem papel central na articulação e coordenação das ações, buscando viabilizar a execução dos objetivos e das diretrizes previstas na Política Nacional de Segurança Pública e no Plano Nacional de Segurança Pública, instituídos, respectivamente, pela Lei n. 13.675 e pelo Decreto n. 9.630, ambos de 2018 (BRASIL, 2019). Os objetivos do PNSP (art. 2.º do decreto federal) são plenamente possíveis de serem avaliados de forma (1) quantitativa, a exemplo da redução dos homicídios e dos demais crimes violentos letais e da redução da violência contra a mulher, e (2) qualitativa, como a valorização de condições de trabalho dignas aos profissionais de segurança pública e do sistema penitenciário (BRASIL, 2019). https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1567102301.36 https://www.youtube.com/watch?v=wnjJiQGXv8w 83 Finalizando Na primeira aula, você compreendeu que o processo de elaboração da política pública começa quando o público identifica um problema, apresentando-o como uma demanda que não poderá ser resolvida sem a participação do Estado. As fases ou os estágios para elaborar uma política pública são denominadas de ciclo. O ciclo PDCA é muito utilizado como ferramenta de gestão, voltada à melhoria contínua, possuindo como etapas: planejar (plan), fazer (do), checar (check) e agir (act). No Policiamento Orientado para o Problema (POP), é utilizado o método IARA (no inglês, SARA), consistente nas fases: identificação (scanning); análise (analysis) resposta (response) e avaliação (assessment). Você também viu que o processo de construção de uma política é dinâmico, razão pela qual as fases podem se apresentar alternadas ou misturadas. O ciclo de políticas públicas da ENAP é dividido em: 1) definição de agenda; 2) formulação de políticas; 3) tomada de decisão; 4) implementação de políticas; e 5) avaliação de políticas. Na segunda aula, conceituamos a agenda como uma lista de questões ou problemas aos quais agentes governamentais e outros membros na comunidade de política pública oferecem destaque em certo momento. A definição da agenda envolve, por vezes, conflitos de interesses. Nesta aula, você compreendeu que as razões que contribuem para a definição de problemas possuem nove elementos: i) causalidade; ii) gravidade; iii) incidência; iv) novidade; v) proximidade; vi) crise; vii) público-alvo; viii) meios versus fins; e ix) soluções. Por fim, ao estabelecer uma ordem sequencial do processo de formulação de políticas públicas, são considerados três fluxos para a formação da agenda: i) os problemas (problems); ii) a política (politics); e iii) as soluções ou alternativas (policies alternatives). Cabe aos formuladores de políticas (policymakers) iniciar o curso de ação, voltado à solução ou minimização do problema que entrou na agenda. Na segunda fase do ciclo, chamada de formulação de políticas públicas, gera- se um conjunto de escolhas de políticas plausíveis técnica e financeiramente para a resolução de problemas públicos. A formulação não segue uma ordem, um protocolo 84 cego. Os atores envolvidos estão em conflito, a política se desenvolve em um ambiente de disputas, por meio de concessões em um processo limitado. Na sequência, você aprendeu que as políticas podem ser do tipo fundamentais (novas), geralmente caracterizadas por mudanças drásticas que geram dúvidas sobre o impacto, a reputação do governo, os gastos etc., e incrementais, que apenas realizam ajustes no que já existe, com menos recursos e pouco impacto. A análise da política pública pode seguir duas abordagens: i) racionalista: tema estruturado, técnico, pouco tempo disponível, domínio do analista; e ii) argumentativa: problema complexo pouco estruturado, com mais tempo disponível e pouca participação do analista. Após definir a abordagem da análise, as etapas seguintes são: i) gerar alternativas: com a utilização de técnicas de benchmarking, brainstorming, redesenho incremental, nudge e soluções genéricas; ii) estabelecer critérios (macro objetivos): indicadores (operacionalização) e metas (quantitativo e tempo); e iii) projetar resultados: análise custo-benefício (ACB), análise custo-efetividade (ACE) e análise de viabilidade política e de implementação (AVPI). Na fase seguinte, você aprendeu que a tomada de decisão, ou seja, a definição da política pública seguida de sua implementação é feita por um grupo pequeno de agentes do alto nível hierárquico, e que, por vezes, a tomada de decisão pode significar manter do jeito que está, não se implementando nenhuma ação. Para decidir, você entendeu que os agentes de políticas públicas utilizam os modelos: i) garbage can (lata de lixo): problemas e soluções empilhados que vão sendo retirados do entulho conforme a necessidade; ii) racional: maior quantidade possível de ações e consequências antes de definir a política; e iii) incremental: poucas alternativas, pequenas mudanças. A implementação consiste nos esforços de execução da ação governamental. É o momento em que o governo irá destinar recursos e desenvolver processos, o que pressupõe a existência de um planejamento. Você já sabe que planejamento é um processo desenvolvido para o alcance de uma situação futura desejada. Ao planejar, o Estado é mais eficiente, eficaz e efetivo, obtendo melhor concentração de esforços e recursos pela organização. Os recursos públicos seguem regras legais que devem estar presentes nos instrumentos básicos de programação, sendo eles: o Plano Plurianual (PPA); a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); e a Lei Orçamentária Anual (LOA). 85 Na fase de implementação, duas abordagens se destacam: a top-down (de cima para baixo) e a bottom-up (de baixo para cima). Políticas públicas implementadas são resultantes das regras delimitadas pelos atores políticos e pela alta burocracia,adaptadas pelos burocratas de nível médio e de rua (linha de frente), de acordo com o contexto histórico, socioeconômico e político do momento da sua implementação. Após implementar, é necessário avaliar se a política está sendo executada conforme foi imaginada. Na avaliação, devemos identificar se as conexões entre os insumos, os processos e os produtos estão condizentes com o esperado pelos tomadores de decisão. Caso não estejam, devem ser aprimoradas. A avaliação é classificada em função do seu timing (antes, durante ou depois da implementação da política ou programa), da posição do avaliador em relação ao objeto avaliado (interna, externa ou híbrida) e da natureza do objeto avaliado (contexto, insumos, processos e resultados). Como verificar isso? De acordo com a Casa Civil da Presidência da República, juntamente com o IPEA (BRASIL, 2018), as pesquisas de avaliação de políticas públicas se enquadram em dois tipos básicos: avaliação de resultados e avaliação de impactos. Além disso, você aprendeu que a avaliação é feita por intermédio dos instrumentos de avaliação que são: i) entrevistas (em grupo ou individual); ii) inspeção; iii) observação; iii) coleta de dados quantitativos e qualitativos; iv) análise de documentos; v) utilização de bases de dados; e v) análise estatística de dados quantitativos. Após a avaliação da política pública, ela pode ser mantida como está, ajustada ou extinta (já atingiu seu propósito). 86 Referências ABRUCIO, F. L. O impacto do modelo gerencial na Administração Pública: um breve estudo sobre a experiência internacional recente. Brasília: ENAP, 1997. (Cadernos ENAP; n. 10) APQC. American Productivity and Qualitity Center. Benchmarking methodology. [online]. Houston: APQC, 2015. Disponível em: https://www.apqc.org/what-we- do/benchmarking. Acesso em: 5 jun. 2021. BACHRACH, P.; BARATZ, M. S. Two Faces of Power. American Political Science Review, Washington (D. C.), v. 56, n. 4, p. 947-952, Dec. 1962. Tradução disponível em: https://www.scielo.br/j/rsocp/a/JmswJhMprywMKZ4LVNfQsDf/?lang=pt. Acesso em: 20 maio 2021. BAPTISTA, T. W. F.; REZENDE, M. A ideia de ciclo na análise de políticas públicas. In: MATTOS, R. A.; BAPTISTA, T. W. F. (org.). Caminhos para análise das políticas de saúde. Porto Alegre: Rede UNIDA, 2015. BIRKLAND, T. A.; DEYOUNG, S. E. 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