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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIABETES E HIPERTENSÃO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIABETES E HIPERTENSÃO MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIABETES E DA HIPERTENSÃO ARTERIAL 2 PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA SAÚDE 2.1 PREVENÇÃO PRIMORDIAL 2.2 PREVENÇÃO PRIMÁRIA 2.3 PREVENÇÃO SECUNDÁRIA 2.4 PREVENÇÃO TERCIÁRIA 2.5 PREVENÇÃO QUARTENÁRIA (RECENTE CLASSIFICAÇÃO) 3 A ENFERMAGEM NAS AÇÕES PREVENTIVAS NA HIPERTENSÃO E NO DIABETES MÓDULO II 4 HIPERTENSÃO ARTERIAL 5 FISIOLOGIA 6 FISIOPATOLOGIA 7 CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL 7.1 ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO 7.2 METAS DE TRATAMENTO DE ACORDO COM A ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO 8 FATORES DE RISCO 9 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 10 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA 11 TRATAMENTO 12 COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL 13 CRISE HIPERTENSIVA AN02FREV001/REV 4.0 4 13.1 SINTOMAS E SINAIS DE ALERTA NA CRISE HIPERTENSIVA 14 CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE HIPERTENSO 15 APARELHOS UTILIZADOS PARA AFERIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL 16 PROCEDIMENTO DA MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL 17 SITUAÇÕES ESPECIAIS DE MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL 18 FATORES DETERMINANTES DA PRESSÃO ARTERIAL 19 NOTAS COMPLEMENTARES 20 VARIAÇÕES FISIOLÓGICAS DA PRESSÃO ARTERIAL 21 AÇÕES EDUCATIVAS DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO AO PACIENTE HIPERTENSO 22 A HIPERTENSÃO ARTERIAL E SEUS DEZ MANDAMENTOS 23 HIPERTENSÃO ARTERIAL NA GRAVIDEZ 23.1 AS PREVENÇÕES DAS CONVULSÕES MÓDULO III 24 DIABETES MELLITUS 25 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO PÂNCREAS 26 FUNÇÃO DA INSULINA NO CORPO 27 EFEITOS DO GLUCAGON NO ORGANISMO 28 EFEITOS FISIOPATOLÓGICOS DO DIABETES MELLITUS 29 CETOSE E COMA DIABÉTICO 30 TIPOS DE DIABETES 30.1 DIABETES TIPO 1 30.2 DIABETES TIPO 2 30.3 DIABETES NA GRAVIDEZ 30.4 OUTROS TIPOS DE DIABETES 31 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA 32 FATORES DE RISCO 33 TRATAMENTO 33.1 CONSERVAÇÃO DA E TRANSPORTE DA INSULINA 33.2 APLICAÇÃO DA INSULINA 33.3 TÉCNICA DE ADMINISTRAÇÃO DE INSULINA COM SERINGA AN02FREV001/REV 4.0 5 33.4 NOTAS COMPLEMENTARES 33.5 COMPLICAÇÕES NA APLICAÇÃO DE INSULINA 33.6 MONITORIZAÇÃO 33.7 AUTOMONITORIZAÇÃO 33.8 TRANSPLANTE DE PÂNCREAS 34 COMPLICAÇÕES AGUDAS DO DIABETES E AÇÕES DE ENFERMAGEM 35 COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES E AÇÕES DE ENFERMAGEM 35.1 AÇÕES DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DAS COMPLICAÇÕES MACROVASCULARES 35.2 AÇÕES DE ENFERMAGEM NA EDUCAÇÃO DO PACIENTE E CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CUIDADOS DOMICILIARES 35.3 AÇÕES PREVENTIVAS E CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA NEFROPATIA 35.4 PROBLEMAS NAS PERNAS E PÉS 35.5 AÇÕES DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO AOS PROBLEMAS DE PÉS E PERNAS DOS PACIENTES DIABÉTICOS 36 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE DIABÉTICO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 6 MÓDULO I 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIABETES E DA HIPERTENSÃO ARTERIAL O Diabetes Mellitus e a Hipertensão Arterial são doenças que acometem muitos indivíduos e constituem-se como causa da diminuição na qualidade de vida das pessoas. As consequências de ambas as patologias podem ser de ordem econômica, social, física e psicológica. Além da ocorrência de agravos físicos na saúde do paciente acometido existe o comprometimento no desenvolvimento do trabalho e aumento dos custos da saúde pública para realização do tratamento. Sobre qualidade de vida a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma ser a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores, nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (WHOQOL GROUP, 1994). O termo qualidade de vida está inserido em inúmeras vertentes do conjunto da vida do ser humano, entretanto na área de assistência a saúde é uma das buscas no desenvolvimento das ações, uma vez que todo o esforço dirigido direta ou indiretamente ao paciente tem como objetivo uma redução e não ocorrência de agravos ao ser físico, mental e social. O técnico de enfermagem, enquanto integrante da equipe de saúde e participante no desenvolvimento do cuidado ao ser humano, deve possuir o conhecimento frente a estas duas patologias que são denominadas de epidemias mundiais. O atendimento dos pacientes portadores de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus é amplo, já que tanto na atuação hospitalar quanto na atenção básica, citam-se aqui os Programas de Saúde da Família, estes pacientes sempre deverão ser identificados e tratados com o intuito de reduzir ao máximo as sequelas que estas doenças podem ocasionar. AN02FREV001/REV 4.0 7 A cada ano existe um aumento no número de pessoas diagnosticadas com Diabetes e Hipertensão Arterial. As políticas de saúde pública vêm tentando fortalecer os esforços no sentido de diminuir a ocorrência de tais doenças, bem como minimizar as consequências. Para que se tenha uma ideia do número de pacientes diabéticos e hipertensos cadastrados no Brasil, observe as tabelas abaixo: TABELA 1 - NÚMERO DE DIABÉTICOS, HIPERTENSOS E DIABÉTICOS COM HIPERTENSÃO POR SEXO, TIPO E RISCO, NO PERÍODO DE 1/2008 A 12/2008 UF Nº de Diabéticos Nº de Hipertensos Nº de Diabéticos com Hipertensão Total Tipo 1 Tipo 2 Masc. Fem. Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. AC 117 21 21 30 45 2302 883 1419 406 143 263 AL 695 46 103 170 376 9679 2958 6721 2744 841 1903 AM 434 53 89 121 171 3767 1442 2325 1070 379 691 AP 22 4 2 4 12 258 106 152 93 34 59 BA 3556 381 491 1050 1634 53500 16675 36825 13701 4094 9607 CE 1002 87 141 283 491 18964 6201 12763 4359 1281 3078 DF 371 54 80 118 119 1040 363 677 982 380 602 ES 956 107 124 294 431 18609 6945 11664 5186 1737 3449 GO 669 107 135 192 235 11036 4370 6666 3598 1365 2233 MA 1477 142 197 477 661 16717 5850 10867 4771 1672 3099 MG 3969 629 676 1174 1490 75610 28283 47327 21844 7417 14427 MS 667 69 98 254 246 12384 4778 7606 3264 1134 2130 MT 930 151 147 306 326 13284 5647 7637 3304 1303 2001 PA 1467 152 224 444 647 13256 5129 8127 3849 1385 2464 PB 534 68 87 167 212 10058 3274 6784 2882 916 1966 PE 1412 156 278 368 610 28834 8638 20196 8396 2387 6009 PI 570 65 81 180 244 10827 3784 7043 1919 597 1322 PR 1537 202 259 517 559 30585 11846 18739 7943 2906 5037 RJ 1349 191 227 447 484 22364 7923 14441 7958 2618 5340 RN 343 36 65 99 143 4050 1341 2709 1182 346 836 RO 456 54 77 138 187 6478 2746 3732 1474 542 932 RR 78 18 13 17 30 663 240 423 216 67 149 RS 2146 259 299 674 914 43804 15428 28376 12797 4546 8251 SC 1100 170 188 370 372 20544 7645 12899 5909 2252 3657 SE 279 26 36 88 129 3737 1226 2511 943 300 643 SP 6419 761 896 2205 2557 67060 25647 41413 27353 10371 16982 TO 330 55 57 93 125 5043 2167 2876 1123 475 648 Total 32885 4064 5091 10280 13450 504453 181535 322918 149266 51488 97778 FONTE: Disponível em:<http://hiperdia.datasus.gov.br/>. Acesso em: 25 maio 2009. AN02FREV001/REV 4.0 8 TABELA 2 - NÚMERO DE DIABÉTICOS, HIPERTENSOS E DIABÉTICOS COM HIPERTENSÃO POR SEXO, TIPO E RISCO, NO PERÍODO DE 1/2009 A 6/2009. UF Nº de Diabéticos Nº de Hipertensos Nºde Diabéticos com Hipertensão Total Tipo 1 Tipo 2 Masc. Fem. Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. AC 21 2 3 8 8 199 73 126 35 14 21 AL 99 10 12 32 45 1174 380 794 305 87 218 AM 133 18 17 40 58 1097 411 686 322 112 210 AP 4 0 1 2 1 50 22 28 16 6 10 BA 771 86 110 212 363 13574 4422 9152 3445 1063 2382 CE 243 28 43 63 109 5195 1769 3426 1135 336 799 DF 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 ES 130 25 23 28 54 2417 943 1474 657 225 432 GO 294 51 59 92 92 3482 1412 2070 2032 757 1275 MA 404 45 52 131 176 5463 1963 3500 1734 646 1088 MG 769 92 120 260 297 13728 5258 8470 3957 1421 2536 MS 133 18 23 42 50 2765 1080 1685 690 248 442 MT 326 62 48 102 114 5575 2368 3207 1311 490 821 PA 382 66 73 109 134 3761 1486 2275 1132 390 742 PB 113 14 15 19 65 2327 803 1524 732 264 468 PE 262 22 45 62 133 4926 1518 3408 1682 484 1198 PI 138 11 28 37 62 3174 1128 2046 712 239 473 PR 358 54 81 108 115 6501 2712 3789 1874 702 1172 RJ 557 67 90 177 223 8092 2900 5192 3104 1022 2082 RN 159 14 33 42 70 1389 464 925 483 140 343 RO 82 11 12 32 27 1650 658 992 379 142 237 RR 15 1 3 1 10 98 36 62 27 12 15 RS 335 48 50 103 134 6147 2252 3895 1884 655 1229 SC 198 40 31 62 65 2675 1032 1643 935 335 600 SE 101 13 22 24 42 1025 321 704 295 81 214 SP 1191 141 144 400 506 11545 4594 6951 4591 1756 2835 TO 90 18 19 25 28 1266 528 738 238 93 145 Total 7308 957 1157 2213 2981 109295 40533 68762 33707 11720 21987 FONTE: Disponível em: <http://hiperdia.datasus.gov.br/>. Acesso em: 26 maio 2009. As tabelas acima se referem ao Programa Hiperdia, que se constitui em um Sistema de Cadastramento e Acompanhamento dos Pacientes Hipertensos e Diabéticos em todo Território Nacional, tendo como principal objetivo do programa o acompanhamento pela unidade de saúde local destes pacientes, buscando um aumento na qualidade de vida e diminuição da morbimortalidade. AN02FREV001/REV 4.0 9 O cadastramento do número de pacientes hipertensos e diabéticos é importante, pois serve de subsídio para o Governo Federal enviar recursos para os municípios, incluindo neste item as medicações protocoladas que devem ser disponibilizadas gratuitamente para estes pacientes. O desenvolvimento operacional do programa fica a cargo das Secretarias Municipais de Saúde, que seguem as diretrizes do Ministério da Saúde. O cadastramento dos pacientes no programa é feito após o diagnóstico da Hipertensão ou do Diabetes. Mesmo existindo a busca por esses pacientes, como campanhas de verificação de Pressão Arterial e Testes de Glicemia Periférica, visitas domiciliares e ações dos agentes de saúde. Não é possível garantir que o número de pacientes cadastrados é realmente o número que possui as patologias. Estima-se sempre que existam mais pacientes acometidos que de alguma forma ainda não foram detectados. A Hipertensão Arterial é preocupante, muitas vezes, por ser chamada de doença silenciosa, que quando manifestada abruptamente causa consequências graves e algumas vezes irreversíveis. Segundo dados divulgados pela Revista Corpore (2008), aproximadamente 85% dos pacientes vítimas de derrame sofrem de pressão alta e dentre as vítimas do infarto agudo do miocárdio 40 a 60% têm hipertensão associada. A Sociedade Brasileira de Hipertensão estima que 26 milhões de brasileiros sejam hipertensos, sendo que apenas 2,7 milhões estão em tratamento. Segundo o Ministério da Saúde, 21,6% da população com 18 anos ou mais é hipertensa, aproximadamente 26,5 milhões de pessoas têm a doença, dessas cerca de 5 milhões estão no cadastro do Programa Hiperdia. Em todo o mundo estima-se que a Hipertensão Arterial atinja 600 milhões de pessoas. Segundo dados de Mortalidade do Ministério da Saúde (2004), 265 mil mortes no Brasil foram ocasionadas por doenças do Aparelho Circulatório, o que representa 30% das mortes dos brasileiros, sendo a metade relacionada à hipertensão não controlada. No Brasil estima-se que 35% da população acima de 40 anos sejam portadores de Hipertensão Arterial, isto equivale a cerca de 17 milhões de brasileiros, desses 75% dependem do Sistema Único de Saúde para detecção e tratamento da doença. AN02FREV001/REV 4.0 10 Assim como a Hipertensão Arterial, os números da prevalência de Diabetes no Brasil e no mundo são estarrecedores. A OMS desde 2007 considera a Diabetes uma epidemia mundial. No Brasil, em 2007, existiam 6,2 milhões de diabéticos, sendo colocado em oitavo lugar nesse ano no ranking dos países com mais portadores de diabetes tipo 2. O envelhecimento da população, urbanização crescente e mudança nos hábitos de vida, com adoção de rotinas não saudáveis como, por exemplo, o sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são as causas da maior incidência de pacientes diabéticos no Brasil e no mundo. A Hipertensão Arterial em combinação com o Diabetes é responsável por 50% dos pacientes acometidos por insuficiência renal terminal. No ano de 2000 a OMS estimava que o número de diabéticos em todo o mundo era de cerca de 177 milhões, sendo que para 2025 a perspectiva é que esse número dobre e chegue a 350 milhões de pessoas. Especificamente no Brasil, estima-se 12 milhões de pessoas com a doença naquele ano. A Hipertensão Arterial e o Diabetes constituem-se em fatores de Risco para as doenças do Aparelho Circulatório; sendo as mais frequentes o infarto agudo do miocárdio, o acidente vascular cerebral, a insuficiência renal crônica, a insuficiência cardíaca, as amputações de pés e pernas, a cegueira definitiva, os abortos e as mortes perinatais. Um dado importante que a enfermagem entra em contato diariamente em ambiente hospitalar e domiciliar é que o Acidente Vascular Cerebral vem ocorrendo em idade precoce, com letalidade hospitalar. Em um mês, em torno de 50% dos pacientes que sobrevivem 50% ficam com algum grau de comprometimento. No mundo, a incidência do AVC varia conforme a OMS, 500/700.000 casos/ano, com uma mortalidade entre 35 a 200 casos em cada grupo de 10.000 habitantes. Faria & Zannela (2002) afirmam que a coexistência de hipertensão e diabetes aumenta o risco para complicações micro e macrovasculares, predispondo os indivíduos à insuficiência cardíaca congestiva, doença coronariana e cerebrovascular, insuficiência vascular periférica, nefropatia e retinopatia. O diabetes está entre os fatores que predispõem ao descontrole da pressão – quem possui diabetes tem duas vezes mais chances de desenvolver a hipertensão. A hipertensão também está relacionada diretamente a um maior grau de resistência à insulina, sendo que alguns medicamentos usados para o tratamento AN02FREV001/REV 4.0 11 da hipertensão pioram essa resistência, favorecendo o aparecimento do diabetes (BEZERRA, 2006). Diante dos dados apresentados intensifica-se a colaboração que o profissional de saúde deve desenvolver na abordagem destes pacientes com o intuito de diminuir gradativamente os números de incidência de hipertensos e diabéticos, como forma de garantir uma assistência de enfermagem eficiente. 2 PROMOÇÃO E PREVENÇÃO DA SAÚDE A questão maior que se agrega a todos os fatores envolvidos na detecção de doenças e prevenção das mesmas está no contingente de manter a saúde dos indivíduos. Segundo a Organização Mundial de Saúde a saúde é um estado dinâmico, de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. Referente à prestação do cuidado para um entendimento adequado sobre a assistência de enfermagem com resultados é importante incorporar ao conhecimento a atuação da equipe de saúde nos diferentes níveis de prevenção e promoção da saúde. Sem dúvida a busca pela promoção da saúde é um dos principais objetivos dos profissionais, uma vez que o ato de promover a saúde implica em mudanças no estilo de vida das pessoas e consequentemente umadiminuição da incidência de patologias, incluindo a Hipertensão Arterial e o Diabetes. Para compreender melhor estes atos de prevenção e promoção à saúde, analisemos os seguintes conceitos: - Promoção da Saúde: Segundo Brunner & Suddarth (1998), a promoção da saúde é definida como um conjunto de ações que desenvolvem recursos que irão manter o bem-estar do indivíduo e melhoram sua qualidade de vida. Refere-se às atividades que a pessoa desenvolve na ausência de sintomas com o objetivo de se manter saudável, não requerendo para isto a assistência direta de um membro de saúde. Nessa perspectiva, o profissional de saúde atua na propagação de mudanças no estilo de vida da pessoa para que a mesma não venha a desenvolver AN02FREV001/REV 4.0 12 uma patologia, sendo de inteira responsabilidade a realização das mudanças do próprio indivíduo. Como exemplo de promoção da saúde pode-se citar a consciência frente à nutrição, ou seja, manutenção de uma alimentação saudável, administração do estresse cotidiano e a busca pelo preparo físico, realização de exercícios e atividades que o corpo necessita para se manter em condições adequadas de peso, força e flexibilidade. O Ministério da Saúde, por meio da Política Nacional de Promoção da Saúde, define a Promoção da Saúde como uma estratégia de articulação na qual se confere visibilidade aos fatores que colocam a saúde da população em risco e às diferenças entre as necessidades, territórios e culturas presentes no Brasil, objetivando a criação de mecanismos que reduzam as situações de vulnerabilidade, defendendo a equidade e incorporando a participação e o controle social na gestão das políticas públicas. A Organização Mundial de Saúde caracteriza como iniciativas de Promoção da Saúde os programas, as políticas e as atividades planejadas e executadas de acordo com os seguintes princípios: Concepção Holística: este princípio determina que as ações de promoção enfoquem o indivíduo como um todo, saúde física, social e espiritual e que englobe a população como um todo e não apenas os grupos de riscos para determinadas doenças; Intersetorialidade: articulação de saberes e experiências no planejamento, ação conjunta de vários profissionais; Empoderamento e Participação Social: constitui-se na inserção da participação da comunidade em conjunto com os profissionais de saúde na eleição das prioridades na promoção da saúde; Equidade: reorientação dos serviços sanitários, visando ampliar o acesso e criação de ambientes de suporte, com políticas que viabilizem condições de vida favoráveis à saúde; AN02FREV001/REV 4.0 13 Ações Multiestratégicas: envolvimento de múltiplas disciplinas e criação de métodos e abordagens diferentes; Sustentabilidade: promover uma política de promoção da saúde que se constitua em um processo contínuo, forte e autossustentável. O termo Promoção da Saúde foi utilizado pela primeira vez por um historiador da medicina chamado Henry Sigerist, quando em 1945 definiu as quatro funções da medicina: promoção da saúde, prevenção da doença, restauração do doente e reabilitação (TERRIS, 1996). A Medicina Preventiva foi sistematizada no livro de Leavell & Clark, cuja primeira edição, intitulada “Medicina Preventiva”, foi publicada em 1958. Leavell & Clark (1976) descrevem a prevenção como uma ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural da doença, a fim de tornar improvável o progresso posterior, apresentando três níveis de prevenção: - Prevenção Primária: Realizada no período de pré-patogênese, sendo que o conceito de promoção da saúde aparece como um dos níveis da prevenção primária definidos como medidas destinadas a desenvolver uma saúde ótima. Um segundo nível de prevenção primária seria a proteção específica contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio ambiente. Este nível de prevenção está ligado a todas as ações que visam diminuir a incidência de uma doença na população, ou seja, desenvolvimento de ações que impeçam a ocorrência de determinada patologia na população. Inclui-se aqui a promoção à saúde e à proteção específica. Alguns dos exemplos são: vacinação, tratamento de água para consumo humano, uso de preservativos, mudanças nos hábitos de vida (incentivo a uma boa alimentação, realização de exercícios físicos). - Prevenção Secundária: A fase da prevenção secundária também se apresenta em dois níveis, o primeiro diagnóstico e tratamento precoce e o segundo limitação da invalidez. Visa um diagnóstico imediato e um tratamento para evitar a prevalência da doença no indivíduo. AN02FREV001/REV 4.0 14 - Prevenção Terciária: Por fim, a prevenção terciária diz respeito a ações de reabilitação, caracteriza-se por ações que tem como objetivo a reabilitação do indivíduo e redução de sua incapacidade. QUADRO 1 – NÍVEIS DE APLICAÇÃO DA MEDICINA PREVENTIVA SEGUNDO LEAVELL & CLARK (1976) PREVENÇÃO PRIMÁRIA PREVENÇÃO SECUNDÁRIA PREVENÇÃO TERCIÁRIA Promoção da Saúde Educação Sanitária; Bom padrão de nutrição ajustado às várias fases do desenvolvimento da vida; Atenção ao desenvolvimento da personalidade; Moradia adequada, recreação e boas condições de trabalho; Aconselhamento matrimonial, educação sexual e genética; Exames seletivos periódicos. Proteção Específica Uso de imunizações específicas; Atenção à higiene pessoal; Hábito de saneamento do ambiente; Proteção contra riscos ocupacionais; Proteção contra acidentes; Uso de alimentos específicos; Proteção contra substâncias carcinogênicas; Evitação contra alérgenos. Diagnóstico e Tratamento Precoce Medidas individuais e coletivas para descoberta de casos; Pesquisa de triagem e exames seletivos; Objetivos: - Curar e evitar o processo da doença; - Evitar a propagação de doenças contagiosas; - Evitar complicações e sequelas; - Encurtar o período de invalidez. Limitação da Invalidez Tratamento adequado para interromper o processo mórbido e evitar futuras complicações e sequelas; Provisão de meios para evitar a invalidez e a morte. Reabilitação Prestação de serviços hospitalares e comunitários para reeducação e treinamento, a fim de possibilitar a utilização máxima das capacidades restantes; Educação do público e indústria no sentido de que empreguem o reabilitado; Emprego tão completo quanto possível; Colocação seletiva; Terapia Ocupacional em Hospitais; Utilização de asilos. FONTE: Leavell & Clarck, 1976. De acordo com o quadro acima é possível identificar a amplitude das ações que procuram intervir no estado de saúde dos indivíduos, sendo a equipe de saúde precursora de todos os níveis de atenção. Atualmente, alguns conceitos e nomes do processo de Saúde Preventiva foram redefinidos, como segue abaixo. AN02FREV001/REV 4.0 15 2.1 PREVENÇÃO PRIMORDIAL Objetivos: Evitar a emergência e estabelecer padrões de vida (sociais, econômicos e culturais) que aumentem o risco de desenvolver doenças; Procedimento: ações dirigidas às populações ou grupos selecionados saudáveis; Consequências: efeitos múltiplos nas várias doenças e impacto na saúde pública; Exemplos: legislação sobre álcool, políticas antitabagismo e programas do exercício regular. 2.2 PREVENÇÃO PRIMÁRIA Objetivos: evitar fatores de risco, determinantes ou causas de doenças; Procedimento: atividades dirigidas a indivíduos, grupos ou população total saudável; Consequências: diminuição da incidência da doença, diminuição do risco médio de ocorrência da doença na população; Exemplo: Vigilância sanitária da água, vacinação, planejamento familiar e educação para prevenção de infecções de transmissãosexual. AN02FREV001/REV 4.0 16 2.3 PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Objetivo: Promover a detecção precoce do processo patológico em doentes assintomáticos e posterior correção do desvio da normalidade (retorno ao estado saudável); Procedimento: Rastreio; Consequência: Diminuição da prevalência (diminuição da duração) e diminuição da morbilidade e da mortalidade; Exemplo: Vigilância da Pressão Arterial e da Glicemia, rastreio de neoplasias, rastreio de fenilcetonúria nos recém-nascidos. 2.4 PREVENÇÃO TERCIÁRIA Objetivo: limitar a progressão da doença e evitar suas complicações; promover a adaptação às sequelas e a reintegração no meio; prevenir recorrências; Procedimento: medicina preventiva e curativa estreitamente associada; Consequência: aumento da capacidade funcional do indivíduo, reintegração (familiar/social), melhor gestão dos estados de doença; Exemplo: adaptação de infraestruturas, educação social, políticas de trabalho (de reintegração). 2.5 PREVENÇÃO QUARTENÁRIA (RECENTE CLASSIFICAÇÃO) Objetivos: evitar o excesso de intervencionismo médico e a iatrogenia; detectar indivíduos em risco de overmedicalisation; sugerir alternativa; capacitar os AN02FREV001/REV 4.0 17 utentes quanto à aplicação de consumos impróprios; realizar análise das decisões clínicas. Para adquirir conhecimento frente à atuação na prevenção e promoção da saúde aos indivíduos cabe relembrar a História Natural da Doença e todos os fatores que estão envolvidos junto a ela, bem como os níveis de aplicação das ações de saúde. A doença passa por três fases: Pré-Patogênese, Fase clínica e sequelas. Essas três etapas dizem respeito à História Natural de uma doença, sendo importante o conhecimento dessas fases para enquadrar as ações na área da saúde, conforme representado abaixo: PRÉ-PATOGÊNESE INESPECÍFICA ESPECÍFICA Condições gerais do indivíduo ou do ambiente, que predispõem a uma ou várias doenças. A presença de fatores causais favorece o aparecimento de uma doença FASE CLÍNICA PRECOCE AVANÇADA Da situação anterior resultou uma doença cujos primeiros sinais e sintomas se tornaram aparentes. A doença segue sua evolução, terminando com a morte, com a cura ou deixando sequelas. SEQUELAS As sequelas ou consequências das doenças podem ser reparadas com maior ou menor eficiência, permitindo a reabilitação do indivíduo. FONTE: Junqueira, 2001. Deve-se identificar em qual dos estágios da doença o indivíduo está para assim permitir ações adequadas que contribuam realmente em sua reabilitação e/ou proporcionem uma melhor qualidade de vida a partir de seu conhecimento frente à AN02FREV001/REV 4.0 18 doença e perspectivas. Esse trabalho envolve toda a equipe de saúde. Abaixo estão representados os níveis de aplicação das ações de saúde: POSIÇÃO DAS BARREIRAS QUE PODEMOS OPOR À MARCHA DAS DOENÇAS 1º NÍVEL 2º NÍVEL 3º NÍVEL 4º NÍVEL 5º NÍVEL Promoção da Saúde Proteção Específica Diagnóstico e Tratamento Limitação do Dano Reabilitação PREVENÇÃO PRIMÁRIA PREVENÇÃO SECUNDÁRIA PREVENÇÃO TERCIÁRIA FONTE: Junqueira, 2001. 1º nível: trabalhar com a doença antes que o indivíduo a contraia. Melhorar as condições de vida do indivíduo, de modo que as agressões ambientais sejam reduzidas ao mínimo. Com isso fomentamos a geração de indivíduos com melhor potencial genético. Diminuir fatores de riscos externos. 2º Nível: Proteger os indivíduos contra agressões específicas como, por exemplo, favorecer uma boa dieta alimentar. 3º Identificar o quanto antes o caso e iniciar o mais precocemente possível o tratamento. 4º Trabalhar com o indivíduo já portador da doença com ações efetivas para a recuperação, sem sequelas ou diminuir a incidência das mesmas. 5º Se o indivíduo foi surpreendido apenas no final da doença, gerando sequelas, as ações têm o objetivo de recuperá-las o mais rápido possível. As ações possíveis devem sempre seguir o objetivo de fazer com que o indivíduo não adoeça, no caso de adoecer trabalhar ao máximo para que o mesmo se restabeleça e sem a presença de sequelas. Deve-se agir sempre no sentido esquerdo da flecha. AN02FREV001/REV 4.0 19 3 A ENFERMAGEM NAS AÇÕES PREVENTIVAS NA HIPERTENSÃO E NO DIABETES A Hipertensão Arterial e o Diabetes são doenças multifatoriais e multicausais, podendo não acarretar no início qualquer sintoma nos pacientes. Sua prevenção envolve orientações voltadas a vários objetivos, desta forma o sucesso no manejo com o paciente hipertenso ou diabético e na própria comunidade saudável é uma meta não apenas restrita a um único profissional. O tratamento da Hipertensão Arterial e do Diabetes e mesmo a prevenção envolve mudança nos hábitos de vida do paciente, ensinamentos educativos, o que muitas vezes torna-se penoso para o sujeito, tanto nos casos dos tratamentos medicamentosos como nas mudanças do dia a dia, como alimentação, exercícios e adesão à terapêutica. Por se tratar de medidas educativas de prevenção, é necessário que sejam contínuas. Deste modo, entende-se que o processo de prevenção destas patologias deve ser realizado por toda a equipe multiprofissional, proporcionando aos pacientes e à comunidade um número maior de informações, tornando-os participantes ativos das ações que a eles estarão sendo dirigidas, com motivação suficiente para vencer o desafio de adotar atitudes que tornem as ações definitivas e efetivas. O III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial descreve as principais vantagens da atuação da equipe multiprofissional no acompanhamento do paciente hipertenso. São elas: O número de pessoas atendidas será tão maior quanto mais afinada estiver à equipe em seus diversos modos de abordagem; A adesão ao tratamento será nitidamente superior; O número de pacientes com pressão arterial controlada e adotando hábitos de vida saudáveis será, consequentemente, maior; AN02FREV001/REV 4.0 20 Cada paciente poderá ser um replicador sobre o conhecimento desses hábitos; Haverá o desenvolvimento de ações de pesquisa em serviço, já que a sistematização do atendimento possibilita esta atuação; Crescimento profissional pela constante troca de informações e pela maior confiança individual e do serviço como um todo. Neste contexto a enfermagem exerce, juntamente com os demais profissionais da saúde, papel primordial na aplicação de ações que envolvam os pacientes diabéticos e hipertensos, bem como a comunidade saudável na perspectiva da promoção da saúde. Pensando que a enfermagem está em contato direto com os pacientes e a comunidade, tanto nos serviços hospitalares como no atendimento básico da saúde, é de suma importância que todos os profissionais que formam a enfermagem estejam em sintonia no acompanhamento destes pacientes, uma vez que a equipe em si já se dá pela presença do enfermeiro e técnico de enfermagem. Existem ações de cunho comum entre todos os profissionais que integram uma equipe multiprofissional: Ações educativas (educação preventiva, modificação de fatores de risco, produção de material educativo); Treinamento de profissionais; Encaminhamento a outros profissionais, quando indicado; Ações assistenciais, individuais e em grupo; Participação em projetos de pesquisa. As ações da enfermagem especificamente citadas pelo III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial são: À enfermeira cabe realizar a consulta de enfermagem e delegação de atividades aos técnicos de enfermagem, que desenvolvem suas funções conforme o que preconiza o Conselho Regional de Enfermagem e Conselho Federal de Enfermagem. AN02FREV001/REV 4.0 21 A consulta de enfermagem consiste na aferição da pressão arterial, investigaçãosobre fatores de risco e hábitos de vida, orientação sobre o uso dos medicamentos e seus efeitos colaterais, avaliação de sintomas, reforço sobre as orientações dos hábitos de vida pessoais e familiares. Controle de retornos, busca de faltosos e controle de consultas agendadas. Percebe-se que o manejo com os pacientes hipertensos e diabéticos deve se dar sempre mediante o conhecimento técnico científico do profissional. O técnico de enfermagem deve possuir conhecimento sobre todos os parâmetros que envolvem a captação da doença e seu tratamento, bem como estar embasado mediante a um questionamento do paciente. Como exemplo disso, podemos citar a própria verificação da pressão arterial, procedimento que pode ser realizado pelo técnico de enfermagem. Se neste momento da aferição o profissional não mantiver os cuidados preconizados tecnicamente e/ou não questionar sobre condições que possam falsear o resultado encontrado, um paciente hipertenso pode não estar sendo detectado. Daí a importância de todos os profissionais que englobam a Equipe Multiprofissional no direcionamento e implementação de ações que visem à manutenção e recuperação da saúde dos indivíduos. A importância do trabalho em equipe para o alcance do resultado é tal que torna indispensável rever sobre a operacionalização deste trabalho. As variáveis e a complexidade de diversas situações concebidas pela sociedade atualmente exigem o engajamento de dois ou mais grupos profissionais na intervenção de um mesmo problema, atuando conjuntamente com objetivos comuns frente à demanda de necessidade da população. Levando isso para ações preventivas na hipertensão e no diabetes, após a captação do paciente possivelmente portador de uma dessas patologias, o mesmo será encaminhado ao médico para receber o diagnóstico, portanto é necessária, além da enfermagem, a presença de outros profissionais no desenvolvimento das ações. O trabalho em equipe multiprofissional parece um trabalho fácil, se olharmos apenas as questões resolutivas. Seria o mesmo que cada profissional ler as determinações de seu conselho profissional e após cumprir os escritos. Entretanto, AN02FREV001/REV 4.0 22 em se falando do trabalho em saúde esta questão é bem mais complexa, uma vez que a produção e o produto destas relações são subjetivos. As definições sobre Equipe de Saúde são raras. Nas produções teóricas predomina a concepção de equipe do senso comum, em que a equipe é representada por um conjunto de profissionais em situação comum de trabalho. No trabalho em saúde, a equipe sempre fará referência a um trabalho relativo à obtenção de bens ou produtos para a atenção das necessidades humanas. O trabalho em equipe na enfermagem foi proposto na década de 50 nos Estados Unidos, por intermédio de experiências realizadas no Teachers College da Universidade da Columbia, por Eleanor C. Lambertsen, que preconizava a organização do trabalho em enfermagem com base na equipe. No Brasil os resultados desta proposta foram divulgados em 1996 pela Associação Brasileira de Enfermagem no livro “Equipe de Enfermagem Organização e Funcionamento”. A partir daí surgem experiências na área da enfermagem com o objetivo de melhorar o aproveitamento do pessoal. Lambertsen (1996) propõe a organização do serviço de enfermagem com base no trabalho em equipe, objetivando voltar o cuidado para o paciente, tomando como base a utilização do pessoal de enfermagem com a máxima economia e eficácia. Esse modelo de organização do trabalho de enfermagem expressou: Crítica ao trabalho centrado na tarefa (modelo funcional); Tentativa de solução para a escassez dos recursos humanos de enfermagem nos hospitais norte americanos no período após a II Guerra Mundial; Pela necessidade de extensão na cobertura dos serviços de saúde, na década de 70, no Brasil, a proposta do trabalho em equipe multiprofissional ganha ênfase pela atuação das condutas de Medicina Comunitária e Medicina Preventiva, enfatizando o trabalho em equipe como racionalização dos serviços. No primeiro momento as equipes de saúde trabalhavam com o médico e os atendentes de enfermagem, considerada uma composição inadequada. Em 1980, com ampliação na formação de profissionais de nível médio e superior (não médicos) diversificou-se a equipe de saúde. AN02FREV001/REV 4.0 23 A Equipe Multiprofissional começou a ser composta por profissionais de diferentes áreas como: enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, nutricionistas, médicos, entre outros. A atuação de uma equipe multiprofissional é permeada pelo alcance de resultados comuns; no caso da saúde, o atendimento e resolução das necessidades apresentadas pelo paciente nos diferentes níveis de intervenção. Nesse contexto, especificamente no trabalho com o paciente hipertenso e diabético, a equipe de profissionais deve observar o paciente como um todo, não pensando apenas em diagnosticar e entregar medicamentos, já que como foi visto anteriormente o diagnóstico dessas doenças, de regra afetam o cotidiano do paciente e da família pelas mudanças bruscas e necessárias. Muito mais que compreender a doença, é importante que este profissional visualize as necessidades do paciente e trabalhando em equipe saiba realizar os encaminhamentos possíveis, sempre pensando no bem-estar do cliente. A obtenção de resultados em um trabalho de Equipe Multiprofissional pode ser interferida pelos seguintes fatores: Atenção Integral às Necessidades de Saúde da População - Os serviços especializados tendem à fragmentação do cuidado à saúde do indivíduo; - Ações realizadas por diferentes profissionais necessitam articulação; - Nenhum profissional de saúde em separado tem possibilidades de atender as demandas de saúde do paciente; Comunicação: Busca de consenso entre os profissionais - Articular diversas ações realizadas em um setor, integrar setores e serviços entre si; O trabalho em equipe multiprofissional é uma prática em que a comunicação entre os profissionais faz parte do cotidiano. As articulações das ações se dão pelo uso da linguagem. Este processo é permeado pela comunicação e interação dos agentes; esta relação recíproca entre o trabalho e a interação que caracteriza o trabalho em equipe. O processo de prevenção da Hipertensão e do Diabetes se faz a partir do encontro com os grupos de pacientes já acometidos pela patologia. Neste momento eles se sentem mais à vontade para questionar uns aos outros sobre a doença, bem como aos profissionais de saúde. AN02FREV001/REV 4.0 24 Esta ocasião do encontro dos grupos é precedida por uma equipe multiprofissional em sintonia, que transmite segurança na comunicação por seus diferentes profissionais e consequentemente uma melhor adesão ao tratamento. Peduzzi (1998; 2001), em seus estudos sobre conceito e tipologia do trabalho em Equipe Multiprofissional de Saúde, afirma que o trabalho em Equipe Multiprofissional é uma modalidade de trabalho coletivo, centrada na reciprocidade entre trabalho e interação, que as principais dimensões do trabalho em equipe são a articulação das ações e a interação de seus agentes. Sobre a articulação descreve os momentos em que os profissionais ativamente colocam em evidência as conexões existentes entre as distintas ações e os variados conhecimentos técnicos. A interação como uma prática comunicativa, por meio da qual os envolvidos se põem de acordo quanto a um projeto comum; capaz de promover a cooperação e integração na equipe. Minelli (2004) afirma que as respostas da interação dos grupos profissionais vão desde aspectos relativos aos olhares diferenciados para um determinado processo, até uma possibilidade de ganho na qualidade e eficiência da resposta recebida. O trabalho em Equipe Multiprofissional também é caracterizado por complexidadeadvinda da convivência entre os diferentes processos de trabalho, objetos de trabalho, saberes específicos, instrumentos utilizados para realização e desenvolvimento do trabalho. A principal problemática visualizada na Equipe de Trabalho Multiprofissional é a inexistência de integração entre os profissionais que a compõem. A noção de equipe que predomina nos serviços de saúde se restringe à coexistência de vários profissionais em uma mesma situação de trabalho, compartilhando o mesmo espaço físico e a mesma clientela, porém sem integração. Segundo Peduzzi (1998; 2001), a tipologia do trabalho em equipe pode ser distinguida em duas modalidades: AN02FREV001/REV 4.0 25 JUSTAPOSIÇÃO DAS AÇÕES EQUIPE AGRUPAMENTO AGRUPAMENTO DOS AGENTES ARTICULAÇÃO DAS AÇÕES EQUIPE INTEGRAÇÃO INTERAÇÃO DOS AGENTES Em ambas estão presentes as diferenças técnicas dos trabalhos especializados e a desigualdade de valor atribuído a estes trabalhos. Também em ambas estão presentes tensões entre as diversas concepções quanto à independência dos trabalhos especializados ou à sua complementaridade objetiva. Existem alguns critérios de reconhecimento da modalidade do trabalho em equipe que a classificam em agrupamento ou integração, conforme mostra a tabela abaixo: AN02FREV001/REV 4.0 26 TABELA 3 – CRITÉRIOS DE RECONHECIMENTO DA MODALIDADE DE TRABALHO EM EQUIPE TIPOLOGIA Parâmetros Equipe Integração Equipe Agrupamento Comunicação externa ao trabalho X Comunicação Estritamente Pessoal X Comunicação Intrínseca ao Trabalho X Projeto Assistencial Comum X Diferenças Técnicas entre trabalhos especializados X X Arguição da desigualdade dos trabalhos especializados X Especificidades dos trabalhos especializados X X Flexibilidade da divisão do trabalho X Autonomia técnica de caráter interdependente X Autonomia técnica plena X Ausência de Autonomia Técnica X FONTE: Peduzzi, 2001. Diante destes conceitos e tipologias algumas das principais problemáticas apresentadas no desenvolvimento do trabalho em Equipe Multiprofissional de Saúde são: Falta de responsabilidade coletiva pelos resultados dos trabalhos; AN02FREV001/REV 4.0 27 Ações e intervenções desarticuladas e independentes; Baixo grau de interação entre os profissionais; Dificuldade de atuar de forma coesa e integrada; Desarticulação de ações de caráter curativo, administrativo e preventivo. Os resultados de um trabalho em Equipe Multiprofissional dependem diretamente da integração das ações dos profissionais. Trata-se de uma interação de saberes e de relacionamento; o sucesso no atendimento ao paciente é possível quando abrange a Equipe Multiprofissional, sendo que o maior desafio destes profissionais é atingir a integração nas práticas de saúde desenvolvidas ao cliente. Essencialmente nos serviços de promoção e prevenção do diabetes e da hipertensão sem a continuidade de saberes pelos diferentes profissionais que compõem a equipe multiprofissional e principalmente sem o entendimento de todos, frente à atuação individual e conjunto é impossível estabelecer resultados satisfatórios. Portanto, a atuação da enfermagem na prevenção da Hipertensão Arterial e do Diabetes vai além dos conhecimentos técnicos e necessita, sem dúvida, da percepção do profissional técnico de enfermagem e enfermeiro frente ao paciente como indivíduo portador de necessidades específicas que devem ser sanadas no processo de cuidar, senão pelo profissional da enfermagem, por outro pertencente à equipe. Nos próximos módulos serão trabalhados especificamente a Diabetes e a Hipertensão, incluindo questões fisiopatológicas, fatores de riscos, classificação, tratamento, diagnóstico, consequências e assistência de enfermagem dirigida aos pacientes portadores destas patologias, desde a atenção primária até a terciária. FIM DO MÓDULO I AN02FREV001/REV 4.0 28 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIABETES E HIPERTENSÃO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 29 CURSO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIABETES E HIPERTENSÃO MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 30 MÓDULO II 4 HIPERTENSÃO ARTERIAL A Hipertensão Arterial tem sido motivo de muitos estudos e pesquisas nos últimos anos e muitos progressos foram feitos, de modo a tratar e prevenir essa doença. Apesar de todos os tratamentos hoje considerados efetivos, cabe salientar que o principal foco ainda é a prevenção. Segundo Veiga e Crossetti (1998), Pressão Arterial é a pressão que o sangue exerce dentro das artérias. A pressão máxima denomina-se sistólica e ocorre quando o ventrículo esquerdo do coração empurra o sangue até a aorta; e a pressão mínima, chamada diastólica, é a pressão que está presente continuamente nas paredes arteriais. A Hipertensão Arterial é uma doença que pode ocorrer em homens ou mulheres, jovens e até mesmo em crianças. Nos adultos, a cada cinco pessoas estima-se que uma seja hipertensa e nos idosos ela pode ser diagnosticada em uma a cada duas pessoas. Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), a hipertensão, ou pressão alta, existe quando a pressão arterial apresentar-se igual ou superior a 140/90 mmHg, em verificações repetidas realizadas pelo médico ou profissional de saúde. Essa situação ocorre porque os vasos nos quais o sangue circula se contraem e fazem com que a pressão do sangue se eleve. Segundo Brunner & Suddarth (1998), a hipertensão é definida como a presença de um nível persistente de pressão arterial em que a pressão sistólica encontra-se acima de 140 mmHg e a pressão diastólica acima de 90 mmHg. Considera-se a Hipertensão Arterial ou pressão alta uma situação anormal que pode afetar tanto homens quanto mulheres, independente da idade. De acordo com Bolner (2006), se não for controlada pode causar derrame cerebral, infarto, deficiência dos rins, entre outros males. A medida da pressão arterial representa o valor da pressão calibrada em milímetros de mercúrio (mmHg), que é a unidade padrão. O primeiro número, que é AN02FREV001/REV 4.0 31 o de maior valor, é chamado de pressão sistólica ou máxima. Isso ocorre quando o coração se contrai, o que chamamos de sístole. O segundo número é o de menor valor, que é chamado de pressão diastólica ou mínima, onde neste caso, o coração encontra-se na fase do relaxamento, o que chamamos de diástole. A pressão sistólica normal (pressão máxima), varia de 110 a 130 mmHg e diastólica normal (pressão mínima) varia de 65 a 75 mmHg. Registrada com o valor da pressão sistólica antes da diastólica, por exemplo, 120/80. A diferença entre as duas medidas, neste caso 40, é denominada pressão de pulso. Em casos que o paciente apresenta pressão elevada, chamamos de hipertensão e, ao contrário, apresentando pressão baixa, chamamos de hipotensão. (POTTER, PERRY, 1999). A pressão ou tensãoarterial é um parâmetro de suma importância na investigação diagnóstica, sendo obrigatório em toda consulta de qualquer especialidade; relacionando-se com o coração, traduz o sistema de pressão vigente na árvore arterial. É medida com a utilização do esfigmomanômetro e do estetoscópio. Segundo Duncan (2006), um indivíduo pode se considerar hipertenso quando sua pressão arterial sistólica fica igual ou superior a 140 mmHg e a pressão diastólica igual ou superior a 90 mmHg. A identificação destes valores aumenta significativamente o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Neste aspecto é comum o surgimento de crises hipertensivas que incluem além da elevação da pressão arterial, uma associação com lesões do Sistema Nervoso Central (SNC), do coração e dos rins. Na ocorrência destes fatos, o diagnóstico e o tratamento devem ser imediatos e essenciais, pois as manifestações clínicas destas crises dependem do grau de lesão dos órgãos-alvo (lesões nos olhos, cérebro, coração, rins e membros inferiores). Vale destacar que as lesões ou disfunções dos diversos órgãos são incomuns com uma pressão arterial inferior a 130 mmHg. Dessa forma, pode-se afirmar que o ideal é mantermos a medida normal da pressão arterial entre os limites de 120/80 mmHg a 140/90 mmHg, reduzindo desta forma riscos com a saúde. No Brasil são cerca de 17 milhões o número de portadores da Hipertensão Arterial, sendo que 35% da população estão na faixa etária dos 40 anos para mais. Contudo, seu aparecimento é cada vez mais precoce e cerca de 4% destes portadores são crianças e adolescentes. A morbidade ainda é AN02FREV001/REV 4.0 32 muito alta, sendo um problema grave de saúde pública no mundo todo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 5 FISIOLOGIA Para entender melhor todo o mecanismo envolvido na aferição da Pressão Arterial, seus resultados e anormalidades é importante revisarmos fisiologicamente o Sistema Circulatório, ao qual a pressão arterial está envolvida. O coração é formado por duas bombas distintas, como mostrado na Figura 1, uma delas bombeia o sangue para os pulmões, enquanto a outra bombeia o sangue que sai dos pulmões para todo o resto do corpo. Assim, o sangue flui ao longo de um circuito contínuo, denominado Sistema Circulatório. AN02FREV001/REV 4.0 33 FIGURA 1 – OS COMPONENTES FUNCIONAIS DO CORAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd127/exerci1.jpg>. Acesso em: 21 maio 2009. O sangue ao atingir o átrio direito, trazido pelas grandes veias, é forçado pela contração arterial a passar pela válvula tricúspide, enchendo o ventrículo direito. O ventrículo direito bombeia o sangue pela válvula pulmonar para a artéria pulmonar e, daí para os pulmões e, finalmente, pelas veias pulmonares, para o átrio esquerdo. A contração do átrio esquerdo força o sangue a passar pela válvula mitral para o ventrículo esquerdo, de onde, pela válvula aórtica, atinge a aorta e, por essa artéria, toda circulação sistêmica. A circulação é dividida em duas definições. A Pequena Circulação ou Circulação Pulmonar, onde a veia cava inferior e superior levam sangue ao átrio direito, daí pela válvula tricúspide chega ao ventrículo direito, sendo então conduzida a artéria pulmonar que leva aos pulmões e retorna ao átrio esquerdo do coração pelas veias pulmonares, conforme figura 2. AN02FREV001/REV 4.0 34 FIGURA 2 – PEQUENA CIRCULAÇÃO FONTE: Disponível em: <http//www.prof2000.pt>. Acesso em: 21 maio 2009. Na Grande Circulação ou Circulação Sistêmica o sangue passa do átrio esquerdo ao ventrículo esquerdo pela válvula bicúspide ou mitral. Do ventrículo esquerdo é bombeado para o corpo, saindo pela válvula aórtica e artéria aorta, retornando ao átrio direito pelas veias cavas, conforme figura 3. AN02FREV001/REV 4.0 35 FIGURA 3 – GRANDE CIRCULAÇÃO FONTE: Disponível em:<http://www.soscorpo.com.br/anatomia/grande_circulacao.jpg>. Acesso em: 21 maio 2009. Os dois átrios são bombas de escorva que forçam quantidades adicionais de sangue para o interior dos ventrículos respectivos, imediatamente antes da contração ventricular. Essa propulsão de sangue adicional faz com que os ventrículos atuem como bombas muito mais eficientes do que seriam sem esse mecanismo especial de enchimento. Entretanto, os ventrículos são tão possantes que ainda são capazes de bombear grandes quantidades de sangue mesmo quando os átrios não estão funcionando. A Figura 4 representa um corte microscópio de um músculo cardíaco; as fibras possuem mesma estriação transversa, que é característica de musculoesquelético. Isso porque o músculo cardíaco possui o mesmo tipo de AN02FREV001/REV 4.0 36 mecanismo contrátil por filamentos deslizantes de actina e de miosina, que ocorre no musculoesquelético. Entretanto, ao contrário do musculoesquelético, as fibras musculares cardíacas são interconectadas entre si, formando treliça que é chamada de sincício. Essa disposição é semelhante à que existe no músculo liso visceral, onde suas fibras também são fundidas, formando massa interconectada de fibras, também chamada de sincício. FIGURA 4 – CORTE MICROSCÓPICO DO MÚSCULO CARDÍACO FONTE: Disponível em: <http://www.virtual.epm.br/.../karina/corte_histol.gif. Acesso em: 21 maio 2009. No coração existem dois sincícios musculares distintos. Um deles corresponde ao músculo cardíaco, que forma a parede dos dois átrios, enquanto o outro é o músculo cardíaco que forma a parede dos dois ventrículos. Essas duas massas musculares são separadas por tecido fibroso, situado entre os átrios e os ventrículos. A importância das duas massas musculares siniciais distintas é a seguinte: quando qualquer dessas é estimulada, o potencial de ação se propaga por todo o sincício e, portanto, faz com que toda a massa muscular contraia. Dessa forma, quando a massa muscular atrial é estimulada em qualquer ponto, o potencial de ação é propagado tanto para o átrio direito quanto para o átrio esquerdo, o que AN02FREV001/REV 4.0 37 faz com que todo o complexo das paredes atriais contraia a um só tempo, do que resulta a contração do sangue para passar pelas válvulas mitral e tricúspide. Em seguida, quando o potencial de ação é propagado pelo músculo ventricular, vai exercitar todo o músculo sincicial ventricular. Portanto, todas as paredes ventriculares contraem a um só tempo e o sangue contido no interior de suas câmeras é bombeado, de modo adequado, pelas válvulas aórtica e pulmonar para as artérias. A maioria das fibras musculares cardíacas é capaz de contrair ritmicamente. Isso é verdade, em especial, para grupo de pequenas fibras cardíacas, situadas na parede superior do átrio direito, que formam o nodo sinoatrial, ou simplesmente, nodo SA. A figura 5 abaixo mostra os potenciais de ação rítmicos que são gerados em uma fibra do nodo SA. FIGURA 5 – DESCARGA RÍTMICA DE UMA FIBRA DO NODO AS FONTE: Guyton,1988. A causa dessa ritmicidade é a membrana das fibras SA, que mesmo em repouso são muito permeáveis ao sódio. Portanto, grande número de íons sódio passa para o interior da fibra, fazendo com que o potencial da membrana em repouso se desvie, continuamente, para valor mais positivo. Logo que o potencial da AN02FREV001/REV 4.0 38 membrana atinge nível crítico, chamado de valor “limiar”, é produzido um potencial de ação, o que ocorre abruptamente. Ao término desse potencial de ação, a membrana fica, temporariamente, menos permeável aos íons sódio, mas ao mesmo tempo mais permeável do que o normal aos íons potássio e a saída desses íons, transportando cargas positivas para o exterior, faz com que o potencial de membrana fique muito negativo, mais negativo que nunca, caracterizando o estado de hiperpolarização,devido à perda excessiva de cargas positivas. Essa condição persiste por fração de segundos e, logo depois, desaparece, visto que as permeabilidades aos íons sódio e potássio retornam aos seus valores normais, quando a maior permeabilidade ao sódio da membrana faz com que ocorra outro potencial de ação. Esse processo perdura sem interrupção por toda a vida, o que leva à excitação rítmica das fibras do nodo SA, na frequência normal em repouso de 72 batimentos por minuto, representando o total de cerca de dois bilhões de batimentos, ao longo de toda a vida de uma pessoa. Normalmente, os potenciais de ação com origem no nodo SA são propagados por todo o coração e, por conseguinte, produzem a contração rítmica de todo o coração. Contudo, se o nodo SA deixar de gerar impulsos rítmicos, alguma área do coração irá fazê-lo, e assumirá o controle da frequência cardíaca. A ritmicidade do coração tem origem no próprio coração e se porções desse coração são removidas do corpo, continuarão a se contrair, enquanto dispuserem de nutrição adequada. O ritmo do Nodo SA passa a ser o ritmo de todo o coração, razão pela qual o nodo SA é chamado de marca-passo do coração. Apesar do impulso cardíaco poder ser propagado, perfeitamente bem, pelas próprias fibras do músculo cardíaco, o coração possui um sistema especial de condução – o Sistema de Purkinje – que transmite impulsos com velocidade cerca de cinco vezes maior que a do músculo cardíaco normal. A figura 6 abaixo apresenta a organização desse sistema. Ele tem origem no nodo sinoatrial, dele saem vários feixes muito delicados de fibras de Purkinje – as vias internodais – que passam pelas paredes atriais até um segundo nodo, o nodo atrioventricular (nodo AV), também situado na parede do átrio direito, mas localizado na parte inferior da parede posterior, próximo ao centro do coração. AN02FREV001/REV 4.0 39 FIGURA 6 – ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE PURKINJE FONTE: Guyton, 1988. Desse nodo, um grande feixe de fibras de Purkinje, o feixe AV, passa imediatamente para os ventrículos, atingindo, primeiro, o septo interventricular. Após seguir, por curta distância, por este septo, o feixe AV se divide em dois grandes ramos; um ramo esquerdo, que se continua pela e ao longo da superfície interna do ventrículo esquerdo, e um ramo direito, com trajeto por percurso semelhante, no ventrículo direito. Nos ventrículos, esses dois ramos produzem muitas ramificações, de diâmetro bem menor, que, eventualmente, fazem contato direto com o músculo cardíaco em todas as suas áreas. Portanto, um impulso que seja propagado pelas fibras de Purkinje é conduzido com muita rapidez e diretamente para o músculo cardíaco. A principal função do sistema de Purkinje é a de transmitir o impulso cardíaco com muita rapidez pelos átrios e, após pequena pausa no nodo AV, também com muita rapidez pelos ventrículos. A condução rápida do impulso fará com que todas as porções de cada sincício de músculo cardíaco – o sincício atrial e o sincício ventricular – contraiam ao mesmo tempo, de modo a exercerem esforço coordenado de bombeamento. Se não fosse o sistema de Purkinje, o impulso seria propagado, muito mais lentamente, pelo AN02FREV001/REV 4.0 40 músculo cardíaco, o que permitiria que algumas fibras musculares contraíssem muito antes das outras e, também, relaxassem antes das outras. Obviamente, isso resultaria em compressão reduzida do sangue e, por conseguinte, em eficácia diminuída do bombeamento. Após se ter originado no nodo SA, o impulso é propagado, primeiro pelos átrios, provocando sua contração. Alguns poucos centésimos de segundo depois de ter saído do nodo SA, o impulso atinge o nodo AV. Entretanto, esse nodo AV retarda o impulso por outros poucos centésimos de segundo, antes de permitir sua passagem para os ventrículos. Esse retardo permite que os átrios forcem a passagem de sangue para o interior dos ventrículos, antes do início da contração ventricular. Após esse retardo, o impulso é propagado com muita rapidez pelo Sistema de Purkinje dos ventrículos, fazendo com que os dois ventrículos contraiam com força máxima dentro de poucos centésimos de segundos. O Nodo AV retarda o impulso cardíaco pelo seguinte mecanismo: as fibras nesse nodo têm diâmetro muito pequeno, o que as torna diferentes das do restante do sistema de Purkinje, transmitindo o impulso cardíaco muito lentamente, com velocidade de cerca de um décimo da medida em fibras cardíacas normais e apenas 1/50 da medida nas grandes fibras de Purkinje. Por conseguinte, o impulso cardíaco atravessa com a velocidade de um caramujo, esse nodo, o que produz retardo de mais de 0.1 segundo entre as contrações dos átrios e dos ventrículos. Ocasionalmente, o impulso cardíaco é bloqueado em algum ponto de seu trajeto, devido à lesão cardíaca. Por exemplo, uma parte do músculo cardíaco ou do Sistema de Purkinje pode ser destruída e substituída por tecido fibroso, incapaz de transmitir o impulso. A região do coração que contrai com maior frequência controla as demais, enquanto houver fibras funcionais de condução entre as diversas áreas. O eletrocardiograma é um instrumento muito utilizado para avaliação da capacidade do coração para a transmissão do impulso cardíaco. Quando um impulso percorre o coração, a corrente elétrica, gerada pelo potencial de ação do músculo cardíaco, difunde pelos líquidos que banham o coração, e fração bastante diminuta dessa corrente aflora à superfície do corpo. Quando são colocados eletrodos sobre a superfície cutânea da região cardíaca ou sobre os dois lados do coração, como nos dois braços, e ligando esses eletrólitos a sistema adequado de AN02FREV001/REV 4.0 41 registro, as voltagens elétricas geradas durante cada batimento cardíaco podem ser registradas. No eletrocardiograma normal mostrado na figura 7-A, a pequena deflexão marcada no registro como a letra “P” é causada pela voltagem produzida pela passagem dos impulsos pelos átrios. As deflexões marcadas com as letras “Q”, “R” e “S” são causadas pela passagem do impulso pelos ventrículos, enquanto a deflexão marcada pela letra “T” é produzida pelo retorno do potencial de membrana das fibras musculares ventriculares ao seu valor normal de repouso, ao término da contração. Quando as anomalias cardíacas são causadas por doença, o eletrocardiograma muitas vezes fica diferente do seu padrão normal. A figura 7-B mostra o que acontece quando parte do músculo ventricular está lesada. Nesse registro o trecho do eletrocardiograma entre as ondas S e T fica deprimido. Isso é o resultado de fluxo anômalo de corrente elétrica no coração, no intervalo entre os batimentos cardíacos. Indica lesão das membranas das fibras musculares ventriculares, o que ocorre com muita frequência quando a pessoa sofre um ataque cardíaco agudo. A figura 7-C mostra o que acontece quando um dos lados do coração fica mais aumentado do que o outro. O registro exibe o aumento anormal da onda S e diminuição da onda R, indicando maior fluxo de corrente no lado esquerdo do que no lado direito. A pressão arterial elevada, muito frequentemente, causa esse tipo de eletrocardiograma, devido à carga excessiva de pressão exercida sobre o ventrículo esquerdo. AN02FREV001/REV 4.0 42 FIGURA 7 – ELETROCARDIOGRAMA NORMAL E EXPRESSÃO DE DIVERSAS ANOMALIAS AN02FREV001/REV 4.0 43 FONTE: Guyton, 1988. A figura 7 - D mostra o eletrocardiograma de pessoa portadora de sistema de Purkinje com bloqueio parcial. Nesse exemplo, o impulso é transmitido por grande parte da massa ventricular, por meio das fibras musculares cardíacas, de velocidade lenta de condução, ao invés das fibras de Purkinje, com velocidade de AN02FREV001/REV 4.0 44 condução elevada, de modo que o complexoQRS dura por tempo muito maior e tem forma anormal. A figura 7 - E mostra o efeito do bloqueio do impulso em nível do feixe AV. As ondas P ocorrem com regularidade e as ondas QRS também ocorrem regularmente, mas sem guardar qualquer relação temporal definida com as ondas P. Os átrios estão contraindo com sua frequência natural de 72 batimentos/minuto, enquanto os ventrículos assumiram a sua frequência natural: 38 batimentos/minuto. Finalmente a figura 7 - F, indicado por seta, de contração prematura do coração. A única anormalidade desse registro é a de que o impulso ocorreu logo após o batimento cardíaco anterior. Na maioria dos casos, isso é causado por coração irritável, como o que ocorre por tabagismo excessivo, pela ingestão de grandes quantidades de café, ou por falta de sono. As quatro válvulas cardíacas do coração estão orientadas de tal modo que o sangue nunca pode fluir para trás, mas unicamente, para frente, quando o coração contrai. A válvula tricúspide impede o fluxo do sangue do ventrículo direito para o átrio direito e a válvula mitral impede o refluxo do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo, enquanto as válvulas pulmonar e aórtica, respectivamente, impedem o reflexo para os ventrículos direito e esquerdo do sangue dos sistemas pulmonar e arterial sistêmico. Essas válvulas exercem funções idênticas às das válvulas de qualquer bomba de compressão, pois nenhuma bomba desse tipo pode funcionar se fluir líquido nos dois sentidos. Quando se ausculta uma pessoa com um estetoscópio o batimento cardíaco é marcado por dois sons. A primeira bulha cardíaca é causada pelo fechamento das válvulas AV, quando o ventrículo contrai e a segunda bulha cardíaca é causada pelo fechamento das válvulas aórticas e pulmonar ao término da contração. Essa correlação é mostrada na figura 8, onde é apresentado um fonocardiograma – que é o registro gráfico dos sons produzidos por um coração – de um coração normal. Nessa figura, sístole define o período de batimento cardíaco em que os ventrículos estão contraídos e diástole define o período em que os ventrículos estão relaxados. AN02FREV001/REV 4.0 45 FIGURA 8 – FONOCARDIOGRAMA DO CORAÇÃO NORMAL E DE CORAÇÕES COM DOENÇA VALVULAR AÓRTICA OU MITRAL FONTE: Guyton, 1988. Quando os ventrículos contraem, as pressões aumentadas nos dois ventrículos forçam o fechamento das válvulas AV. A interrupção súbita do fluxo dos ventrículos para os átrios faz com que o sangue produza vibrações das paredes cardíacas e do próprio sangue. Essas vibrações são transmitidas até a parede torácica, onde são ouvidas como a primeira bulha. Imediatamente após os ventrículos terem descarregado seu sangue para o sistema arterial, o subsequente relaxamento ventricular permite que o sangue volte a fluir para trás, das artérias para os ventrículos, o que provoca o fechamento abrupto das válvulas aórticas e pulmonar. Isso também produz vibrações, desta vez, no sangue e nas paredes das artérias pulmonar e aorta, além de nos ventrículos. Essas vibrações também são transmitidas para a parede torácica, causando o som da segunda bulha cardíaca. A figura 9 mostra as variações de pressão no átrio esquerdo, no ventrículo esquerdo e na aorta durante o ciclo cardíaco típico. Durante a diástole, a pressão atrial esquerda é pouco mais elevada que a do ventrículo esquerdo, pois o sangue AN02FREV001/REV 4.0 46 flui continuamente das veias pulmonares para o átrio. Isso faz com que o sangue flua do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo. Próximo ao fim da diástole, a contração do átrio eleva a pressão atrial a valores ainda mais altos, forçando quantidade adicional de sangue para o interior do ventrículo. Então, subitamente o ventrículo contrai, a válvula mitral fecha e a pressão ventricular aumenta rapidamente. Quando essa pressão ventricular atinge valor mais alto do que o vigente na aorta, a válvula aórtica abre e o sangue flui para a aorta durante todo o restante da sístole. Quando o ventrículo relaxa, a pressão ventricular diminui precipitadamente, o que permite pequeno refluxo, que logo fecha a válvula aórtica. AN02FREV001/REV 4.0 47 FIGURA 9 – PRESSÕES NA AORTA, NO VENTRÍCULO ESQUERDO E NO ÁTRIO ESQUERDO DURANTE O CICLO CARDÍACO FONTE: Guyton, 1988. Durante toda a diástole, a pressão aórtica permanece alta, pois grande quantidade de sangue ficou retida nesses vasos muito distensíveis durante a sístole. Esse sangue flui lentamente ao longo dos capilares, para voltar para o átrio direito, fazendo com que a pressão aórtica caia do valor máximo medido no pico da sístole, de aproximadamente 120 mm Hg, até o mínimo, de cerca de 80 mmHg ao fim da diástole. Por conseguinte, diz-se que a pressão arterial sistêmica normal é de 120/80, ou seja, pressão sistólica de 120 mmHg e uma pressão diastólica de 80 mmHg. AN02FREV001/REV 4.0 48 6 FISIOPATOLOGIA No momento que nos aprofundamos nos conhecimentos da anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular humano, podemos entender que o coração faz o trabalho de bombear o sangue para todos os órgãos do corpo por meio das artérias. No momento em que o sangue é “empurrado” contra a parede dos vasos sanguíneos ocorre uma tensão gerada na parede das artérias. Essa tensão denomina-se Pressão Arterial. É possível afirmar que todo o processo que envolve a pressão arterial resulta da contração do coração a cada batimento e da contração dos vasos quando o sangue passa. A fisiopatologia da hipertensão arterial, bem como o surgimento das crises hipertensivas se deve ao aumento abrupto da resistência vascular. De acordo com Mussi (1995), quando a pressão arterial cai, ocorre vasodilatação cerebral e se a pressão arterial sobe ocorre vasoconstrição. Quando a pressão arterial média ultrapassa os valores limites da autorregulação o cérebro extrai mais oxigênio para compensar a redução do fluxo cerebral. Em indivíduos normais a circulação cerebral pode tolerar rápidas reduções da pressão arterial, porém em pacientes hipertensos, idosos e portadores de doenças cerebrovasculares estes mecanismos regulatórios têm respostas mais lentas às variações da pressão arterial. Dessa forma, é recomendável no tratamento das crises hipertensivas a redução da pressão arterial em torno de 20 a 25% dos valores iniciais em períodos de minutos ou horas, dependendo da natureza da emergência. Além de todos estes fatores fisiopatológicos que envolvem a hipertensão arterial, alguns eventos que surgem no interior das artérias nos levam a entender melhor como ocorrem as sequelas desta doença. Por exemplo, os vasos mais sensíveis não aguentam a forte pressão arterial exercida e estouram, fato este que é causador do derrame. Outro episódio nos mostra que a Hipertensão Arterial provoca feridas nas paredes internas dos vasos, o que leva à formação de partículas que vão se colando AN02FREV001/REV 4.0 49 até “entupir” a passagem do sangue, desta forma levando a ocorrência de infartos e de insuficiência renal. FIGURA 10 – PAREDE INTERNA DO VASO Na manutenção adequada da pressão arterial é necessário que os mecanismos do organismo humano mantenham-se com um fluxo sanguíneo adequado, conforme as demandas do coração, rins, vasos, enzimas e íons que estão sob o controle do Sistema Nervoso Central (SNC). Nossas necessidades corporais variam muito de acordo com as influências internas e externas, por isso o controle da pressão arterial torna-se muito complexo e sua manutenção uma tarefa bastante adaptativa. O mecanismo que controla a constrição e o relaxamento dos vasos sanguíneos está no centro vasomotor, situado na medula cerebral. Feixes nervosos simpáticos têm origem nesse centro vasomotor e percorrem a medula espinhal, emergindo da medulaespinhal nos gânglios simpáticos do tórax e abdômen. A estimulação do centro vasomotor põe em movimento impulsos motores que percorrem o sistema nervoso simpático até os gânglios simpáticos. Nesse ponto, os neurônios pré-ganglionares liberam acetilcolina, que estimula as fibras nervosas pós-ganglionares nos vasos sanguíneos, onde a liberação da noradrenalina resulta em constrição dos vasos. AN02FREV001/REV 4.0 50 Várias influências como ansiedade e medo podem afetar a resposta dos vasos sanguíneos a esses estímulos vasoconstritores. As pessoas com hipertensão são muito sensíveis à noradrenalina, embora se desconheça realmente o porquê. Ao mesmo tempo em que o sistema nervoso simpático estimula os vasos sanguíneos em resposta a estímulos emocionais, a glândula adrenal é instigada, resultando em atividade vasoconstritiva adicional. A medula adrenal secreta a adrenalina, que causa vasoconstrição. O córtex adrenal secreta cortisol e outros esteroides, os quais podem favorecer a resposta vasoconstritora dos vasos sanguíneos. A vasoconstrição resulta em menor fluxo de sangue ao rim, causando a liberação de renina. A renina leva à formação de angiotensina I, a qual se converte em angiotensiogênio II, um poderoso vasoconstritor, que, por sua vez, estimula a secreção de aldosterona pelo córtex adrenal. Esse hormônio provoca retenção de água e sódio pelos túbulos renais, levando a um aumento do volume intravascular. Todos esses fatores tendem a perpetuar o estado hipertensivo. As alterações estruturais e funcionais no sistema vascular periférico são responsáveis pelas alterações da pressão arterial que ocorre com a idade. Essas alterações incluem a aterosclerose, perda da elasticidade do tecido conjuntivo e uma diminuição do relaxamento do músculo liso vascular, que, por sua vez, reduzem a capacidade de distensão e compressão dos vasos. Consequentemente, a aorta e as grandes artérias ficam com menor capacidade de acomodar o volume de sangue bombeado pelo coração (volume sistólico), resultando em uma diminuição do débito cardíaco e um aumento da resistência periférica. AN02FREV001/REV 4.0 51 FIGURA 11 – PRESSÃO ARTERIAL A hipertensão arterial na maioria das vezes é assintomática, ou seja, as pessoas não sentem nada, por isso é também chamada de “doença silenciosa”. Às vezes, dor de cabeça, tontura e mal-estar podem ocorrer em quem está com a pressão arterial alta, mas muitas vezes quando a pessoa começa a ter algum sintoma já está com os vasos endurecidos e estreitados. Para Ferreira (2000), a Hipertensão aumenta consideravelmente o risco de doença coronariana mesmo não sendo aterogênica, porém quando os pré-requisitos metabólicos para a aterogênese estiverem presentes, ocorre a aceleração, o que agrava o desenvolvimento da aterosclerose. AN02FREV001/REV 4.0 52 FIGURA 12 – TIPOS DE ATEROSCLEROSE Os cuidados com a Hipertensão Arterial devem ser intensos, para desta forma evitar as possíveis consequências e sequelas. O que deve preocupar o profissional de enfermagem é principalmente o que a Hipertensão Arterial pode causar se não for controlada, ou seja, fazer com que o próprio paciente entenda o risco que corre com esta doença. 7 CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Na atenção básica, a equipe de enfermagem deve estar bem preparada para orientar os pacientes quanto aos tipos de Hipertensão. Além disso, o profissional deve estar atento e sempre a procura de indícios que identificam as diferenças entre uma e outra forma de hipertensão. A Hipertensão Arterial, no que tange à etiologia, pode ser classificada em: 1. Hipertensão Primária (chamada de Hipertensão Arterial Essencial) AN02FREV001/REV 4.0 53 2. Hipertensão Secundária A Hipertensão Arterial Primária totaliza, segundo o Ministério da Saúde (2006), 95% dos casos, e tem causa desconhecida, podendo estar associada à hereditariedade e também a anormalidades da função renal. Já a Hipertensão Secundária corresponde aos 5% restantes, quando é possível a identificação de causas, como, por exemplo, problemas renais e algumas doenças endócrinas. Além da identificação dos tipos etiológico da Hipertensão, na Saúde Pública o profissional da equipe de enfermagem pode avaliar o paciente pelo grau de complexidade desta doença. Esta avaliação pode ser feita evidenciando o hipertenso como: GRAU I (leve), avaliando quanto à dieta, consumo de sal excessivo, intensidade da atividade física, controle do peso, o uso ou não de álcool e cigarro; GRAU II e III (moderado a grave) torna-se necessário, além do controle de fatores de risco, a utilização da avaliação médica para intensificar o uso de medicamentos. QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Classificação Da Hipertensão Arterial Sistêmica Segundo A Sociedade Brasileira De Cardiologia, V Diretriz De Hipertensão Arterial Sistêmica E Vi Jnc Americano Nível da Pressão Arterial Classificação < 120 sistólica e < 80 diastólica Ideal < 130 sistólica e < 85 diastólica Normal 130-139 sistólica ou 86-89 diastólica Normal-alta 140-159 sistólica ou 90-99 diastólica Hipertensão Estágio 1 160-179 sistólica ou 100-109 diastólica Hipertensão Estágio 2 AN02FREV001/REV 4.0 54 > 110 diastólica ou > 180 sistólica Hipertensão Estágio 3 Diastólica normal com sistólica > 140 Hipertensão Sistólica Isolada 7.1 ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Fatores de Risco Maiores para Doenças Cardiovasculares: A própria HAS; Obesidade (IMC>30); Fumo; Inatividade física; Dislipidemia; Diabetes Mellitus; Idade > 55 p/ H e > 65 p/M; História familiar de DCV anterior à idade de risco. Lesão de Órgão-Alvo Doenças Cardíacas; HVE; Angina/IAM prévio; Revascularização Miocárdica; Insuficiência Cardíaca; Nefropatia; AVE ou AIT; doença Arterial Periférica; Retinopatia diabética; OBS: O diabetes Mellitus possui na estratificação peso equivalente à lesão de órgão-alvo já estabelecida. O quadro abaixo representa o nível de risco em que o paciente está enquadrado, segundo a classificação da Hipertensão Arterial, bem como os fatores de riscos existentes para determinar a gravidade e complexidade dos sistemas envolvidos e assim proporcionar um tratamento eficiente e eficaz. QUADRO 3 – ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Fatores de risco Pressão arterial Normal Limítrofe Hipertensão estágio 1 Hipertensão estágio 2 Hipertensão estágio 3 Sem fator de risco Sem risco adicional Risco baixo Risco médio Risco alto 1 a 2 fatores de risco Risco baixo Risco baixo Risco médio Risco médio Risco muito alto AN02FREV001/REV 4.0 55 3 ou mais fatores de risco ou lesão de órgãos-alvo ou Diabetes Mellitus Risco médio Risco alto Risco alto Risco alto Risco muito alto Doença cardiovascular Risco alto Risco muito alto Risco muito alto Risco muito alto Risco muito alto 7.2 METAS DE TRATAMENTO DE ACORDO COM A ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO • Hipertensos estágio 1 e 2 com risco cardiovascular baixo e médio < 140/90 mmHg • Hipertensos e limítrofes com risco cardiovascular alto < 130/85 mmHg • Hipertensos e limítrofes com risco cardiovascular muito alto < 130/80 mmHg • Hipertensos nefropatas com proteinúria > 1,0 g/l < 120/75 mmHg Após o VII JCN houve uma simplificação das categorias e a categorização de uma situação intitulada como “pré-hipertensão”, neste sentido as ações de promoção de saúde, incluindo mudanças nos estilos de vida são altamente incentivadas, tendo em vista que pacientes nesta etapa possuem um risco maior de evoluírem para Hipertensão Arterial. QUADRO 4 – CLASSIFICAÇÃO HIPERTENSÃO ARTERIAL APÓS VII JCN Nível da Pressão Arterial Classificação< 120 sistólica e < 80 diastólica Normal <= 139 sistólica e <= 89 diastólica Pré-Hipertensão AN02FREV001/REV 4.0 56 140 -159 sistólica ou 90- 99 diastólica Hipertensão Estágio 1 > 100 diastólica ou > 160 sistólica Hipertensão Estágio 2 Conforme o quadro acima, as categorias de estágio 2 e 3 foram unificadas, tendo em vista não haver objetivo prático em diferenciar duas situações clínicas que já reservam um prognóstico igualmente ruim. O principal objetivo dessa nova classificação é aumentar a importância da necessidade de se diagnosticar precocemente a hipertensão e mantê-la em nível o mais fisiológico possível, tendo em vista o enorme risco cardiovascular que a hipertensão possui. A SBC não adotou essa classificação. 8 FATORES DE RISCO Apesar dos vários malefícios causados pela Hipertensão Arterial, esta doença enquanto problema de Saúde Pública ainda é pouco valorizada pelas pessoas que convivem diariamente com seus efeitos. O que leva a esse descaso é o fato da Hipertensão quase sempre não apresentar sintomas, o que muitas vezes dificultar o tratamento. A maioria das pessoas que tem Hipertensão Arterial herda a doença dos pais, pois se sabe que quem tem pai e mãe com hipertensão tem maior chance de apresentar a doença. A história e o exame físico do paciente hipertenso, segundo Bolner (2006), devem ser obtidos de forma completa, dando relevante importância aos fatores de risco tais como: Obesidade: o excesso de peso tem relação com o aumento da pressão arterial, portanto se o peso está acima do normal, deve-se iniciar um programa de reeducação alimentar. A Sociedade Brasileira de Cardiologia sugere que o Índice de Massa Corporal sempre seja aferido, para uma adequada relação entre o peso para a faixa etária do paciente. Dessa forma, a meta é manter um IMC entre 20 Kg/m² e AN02FREV001/REV 4.0 57 25 kg/m² para se evitar que o sobrepeso seja fator desencadeante da pressão arterial. O cálculo do IMC é realizado a partir da seguinte fórmula: Bebidas Alcoólicas: é fato concreto de que os componentes existentes nas bebidas alcoólicas elevam consideravelmente a pressão arterial. Dessa forma, para quem sofre de Hipertensão a melhor forma de mantê-la estável é evitar o consumo de bebidas alcoólicas. A Sociedade Brasileira de Cardiologia instrui abandonar ou limitar o consumo diário de álcool a 30 ml de etanol para os homens (720 ml de cerveja, 240 ml de vinho e 60 ml de bebida destilada) e à metade dessas quantidades para as mulheres, isso para a população que ainda não possui a doença, como fator preventivo. Alimentação: restringir o sal da dieta. Uma alimentação com redução no uso do sal evita a elevação da pressão arterial. A Sociedade Brasileira de Cardiologia orienta uma ingestão diária de sódio entre 2,4 g de sódio ou 6 g de cloreto de sódio, incluindo a alimentação natural e produtos manufaturados. Também é recomendada a ingestão diária de potássio entre 2 a 4 g contidos em uma dieta rica em frutas e vegetais frescos. Sedentarismo: o fato de não praticar exercícios físicos adequados leva a sérios problemas na pressão arterial. Além da sua elevação os riscos de infarto são aumentados significativamente. Praticar exercícios físicos aeróbios, 30 a 45 minutos por dia, três ou mais vezes por semana. Tentar aumentar também a atividade física diária (SBC). Tabagismo: Eleva agudamente a pressão arterial e favorece o desenvolvimento e as complicações da aterosclerose. Sua interrupção reduz o risco de acidente vascular encefálico, de doença isquêmica do coração e de doença vascular arterial periférica, além de evitar seus outros efeitos deletérios. A exposição IMC: peso/altura² AN02FREV001/REV 4.0 58 ao fumo (tabagismo passivo) também deve ser evitada. O tabagismo é grande risco para os pacientes com hipertensão, pois a nicotina aumenta consideravelmente a pressão arterial, sendo também um fator de risco para as doenças cardiovasculares. Estresse: existe uma relação entre a elevação da pressão arterial em condições de estresse, entretanto os mecanismos que elevam a mesma ainda não estão claros. Dislipidemias: A hipercolesterolemia é um dos maiores fatores de risco cardiovascular. O nível de colesterol total sérico deve ser mantido abaixo de 200 mg/dl, com LDL-colesterol (colesterol de baixa densidade) abaixo de 130 mg/dl. O HDL-colesterol (colesterol de alta densidade) baixo (inferior a 35 mg/dl) pode aumentar em resposta à redução do peso, à prática de exercícios físicos e à suspensão do hábito de fumar. A hipertrigliceridemia (triglicerídeos > 200 mg/dl) deve ser tratada com as medidas dietéticas, acrescidas da redução da ingestão de carboidratos simples e de bebidas alcoólicas. Quando necessário, recomenda-se o uso de fibratos. Fator Genético: também é visto como um fator de risco importante, pois a hereditariedade aumenta a chance do desenvolvimento da hipertensão arterial. 9 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O exame físico pode não revelar anormalidade alguma, a não ser a elevação da pressão arterial, mas podem ser observadas alterações na retina, como hemorragias, exsudato (acúmulo de líquido), arteríolas estreitadas e, nos casos graves, edema de papila (edema do disco óptico). As pessoas com hipertensão arterial podem estar assintomáticas e assim permanecer por muitos anos. Os sintomas, quando ocorrem, geralmente indicam lesões vasculares, com AN02FREV001/REV 4.0 59 manifestações específicas relacionadas com os sistemas orgânicos servidos pelos vasos envolvidos. A doença arterial coronária com angina é a sequela mais frequente em indivíduos hipertensos. A hipertrofia ventricular esquerda ocorre em resposta a uma maior carga de trabalho imposta ao ventrículo, à medida que ele é obrigado a se contrair de encontro a pressões sistêmicas mais altas. Quando o coração não consegue mais suportar a sobrecarga de trabalho, sobrevém a insuficiência cardíaca. As alterações patológicas nos rins podem se manifestar sob a forma de nictúria (micção aumentada durante a noite) e azotemia (aumento da ureia e da creatinina séricas). O envolvimento vascular cerebral pode produzir um acidente vascular cerebral ou ataque isquêmico transitório, manifestado por paralisia temporária de um lado (hemiplegia) ou alterações na visão. Os infartos cerebrais são responsáveis por 80% dos acidentes vasculares cerebrais e ataques isquêmicos nas pessoas hipertensas. 10 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA São necessários história e exame físico meticulosos. As retinas são examinadas e devem ser feitos testes laboratoriais para avaliar possíveis lesões de órgãos, como rins e coração, que podem estar acometidos pela pressão arterial aumentada. A hipertrofia ventricular esquerda pode ser avaliada pelo eletrocardiograma; a proteína na urina pode ser detectada por meio do exame de urina. A incapacidade de concentrar a urina e um aumento da ureia e creatinina séricas também podem estar presentes. O principal meio de se diagnosticar o paciente hipertenso é por meio da aferição da Pressão Arterial. Sabe-se, entretanto, que estes valores muitas vezes são irreais, ou seja, por uma técnica inadequada ou pela situação do paciente no momento da verificação esta pode estar alterada, significando um momento e não uma situação contínua. Assim, é muito importante dar atenção ao paciente e tratá-lo como único, avaliando a necessidade de novas verificações de pressão arterial. AN02FREV001/REV 4.0 60 Nas situações em que o paciente apresenta um valor anormal de pressão arterial é importante sempre instruí-lo para que retorne ao serviço para utilização de mapas de acompanhamento, assim igualmente realizado aos pacientes já hipertensos, com a intenção de monitorar os reais índices da pressão arterial dopaciente. De qualquer forma, ao ser verificada a pressão arterial de um paciente e esta estiver fora dos padrões de normalidade, seguindo as técnicas e cuidados padrões para a verificação da pressão arterial, este paciente deverá ser encaminhado ao profissional médico que realiza uma avaliação médica, que inclui o pedido de exames laboratoriais e demais intervenções aplicadas ao protocolo de atendimento deste tipo de paciente. O técnico de enfermagem tem papel fundamental na mensuração da pressão arterial, uma vez que ao realizá-la poderá estar detectando um paciente hipertenso. É essencial também que, ao realizar a aferição da pressão arterial, o técnico tenha presente o questionamento sobre os fatores de risco, estudados anteriormente, desta forma terá mais subsídios para sua conduta e encaminhamentos. 11 TRATAMENTO O tratamento pode ser feito com medicamentos ou não, isso vai depender dos níveis da pressão arterial, do comprometimento ou não de determinados órgãos e da presença de outras doenças. A hipertensão não tem cura, mas pode e deve ser tratada, seguindo as orientações de seu médico e modificando alguns hábitos de vida e alimentares, o portador evitará todos os problemas da pressão arterial, levando uma vida normal e saudável. A terapêutica não medicamentosa da Hipertensão Arterial é realizada por meio de algumas mudanças no estilo de vida do paciente, entre elas estão a redução de peso, moderação na ingestão de álcool, manutenção adequada da atividade física, moderação na ingestão de sódio, manutenção da ingestão de k (potássio) e além de tudo isso evitar o tabagismo. Conforme Bolner (2006) existem fatores efetivos, comprovados em pesquisas, mas ainda desconhecidos de que a AN02FREV001/REV 4.0 61 suplementação de cálcio e a suplementação de magnésio reduzem levemente a pressão arterial. O tratamento medicamentoso é indicado pelo médico quando as medidas não farmacológicas não são suficientes para o controle da pressão arterial. Nos pacientes com hipertensão em fase I e imediatamente após o diagnóstico nos pacientes com alto risco cardiovascular ou hipertensão em fase II, qualquer que seja o subgrupo de risco. Em qualquer caso o tratamento não farmacológico sempre deve ser mantido. São drogas de primeira linha para o tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica, todas com resultado benéfico comprovado em vários trabalhos na prevenção de complicações cardiovasculares: os diuréticos tiazídicos, os bloqueadores dos canais de cálcio, os betabloqueadores e os inibidores da enzima conversora da angiotensina e os bloqueadores AT1. O anexo 1 deste módulo descreve alguns dos medicamentos utilizados na hipertensão, bem como seus efeitos. De todas essas o diurético tiazídico tem demonstrado o melhor resultado no prognóstico cardiovascular, sendo também promotor de melhor resposta anti- hipertensiva em regimes com várias drogas. Assim, isoladamente ou em combinação é a melhor droga como primeira opção. Algumas situações clínicas específicas indicam o uso de determinada droga anti-hipertensiva para uso inicial isolado ou combinado, devido ao comprovado benefício da droga em relação àquela doença. Quem avalia e prescreve o medicamento anti-hipertensivo é o médico. A V Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial descreve as importantes características do medicamento anti-hipertensivo, como forma de estimular a adesão do paciente ao tratamento, são elas: Ser eficaz por via oral; Ser bem tolerado; Permitir a administração em menor número possível de tomadas, com preferência para dose única diária; Ser iniciado com as menores doses efetivas preconizadas para cada situação clínica, podendo ser aumentada gradativamente, pois quanto maior a dose, maiores serão as probabilidades de efeitos adversos; AN02FREV001/REV 4.0 62 Não ser obtido por meio de manipulação, pela inexistência de informações adequadas de controle de qualidade, bioequivalência e/ou interação química dos compostos; Ser considerado em associação para os pacientes com hipertensão em estágios 2 e 3, que na maioria das vezes não respondem à monoterapia; Ser utilizado por um período mínimo de quatro semanas, salvo em situações especiais, para aumento de dose, substituição da monoterapia ou mudança das associações em uso. De acordo com o Ministério da Saúde (2006), além do uso de medicamentos o principal foco do tratamento da hipertensão ainda são os meios de prevenção das complicações (lesões de órgãos-alvo), pois na maioria das vezes o paciente portador da doença pensa que está curado após o uso da medicação prescrita pelo médico, e deste momento em diante acaba por abandonar o tratamento, voltando desta forma a níveis pressóricos altos. É cuidado de enfermagem realizar a orientação do paciente diante da prescrição do medicamento feita pelo médico. Orientar quanto à importância do tratamento ininterrupto até ordem médica, e quanto aos horários que o paciente deve tomar as medicações em casa, conforme descrito na prescrição do médico assistente. Outro fator a ser lembrado nas ações básicas de saúde com relação ao tratamento da hipertensão é o programa HIPERDIA. As Unidades Básicas de Saúde devem ter suporte para a manutenção deste programa, que é fundamental para a avaliação constante do portador da hipertensão. O HIPERDIA, além do cadastro e fornecimento dos dados sobre cada hipertenso, é uma forma do profissional ter atualizado os dados dos pacientes e desta forma realizar uma boa avaliação no momento das pré-consultas, em que são realizadas medições de peso, altura, verificação da pressão arterial, orientações, bem como o relato de cada paciente. Todas essas informações são lançadas mensalmente no programa informatizado. Dessa forma, o profissional da atenção básica exerce papel importante no tratamento da hipertensão, orientando e conscientizando o hipertenso de que embora não haja cura, o controle adequado da pressão arterial é essencial na prevenção de futuras consequências desta doença. AN02FREV001/REV 4.0 63 12 COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Segundo Noblat & Lopes (2004), o risco de complicações de hipertensão arterial é, em geral, maior em homens do que em mulheres, sendo que nos idosos esta diferença reduz particularmente o risco de complicações cardiovasculares, aumentada em mulheres após a menopausa. Segundo Almeida & Rodrigues (1997), a queda dos níveis hormonais determinada pela menopausa, principalmente estrogênios, é acompanhada por uma série de alterações metabólicas, funcionais e estruturais que podem explicar a progressão mais acelerada do processo aterosclerótico e suas complicações cardiovasculares: mudança no perfil dos lipídios plasmáticos (aumento do colesterol total, LDL-colesterol e triglicérides e redução do HDL-colesterol); maior coagulabilidade e menor poder fibrinolítico, resultando em tendência à trombose; aumento da oxidação das lipoproteínas (LDL) ocasionando maior formação de células espumosas e aceleração do processo aterosclerótico; redução da capacidade vasodilatadora dependente e independente do endotélio; elevação da pressão arterial; menor complacência vascular e miocárdica; redução do débito cardíaco. As principais complicações da Hipertensão Arterial são: Aceleração da Aterosclerose; Infarto Agudo do Miocárdio; Insuficiência Cardíaca; Acidente Vascular Cerebral; Diminuição ou Perda da função renal; Perda da Visão. AN02FREV001/REV 4.0 64 13 CRISE HIPERTENSIVA A Crise Hipertensiva é uma condição clínica caracterizada por elevação aguda ou crônica da PA (Níveis de Pressão Diastólica superior a 130 mmHg) em associação ou não com manifestações de comprometimento de órgãos-alvo (cardiovasculares, neurológicas e renais). As manifestaçõesclínicas das crises hipertensivas dependem do grau de disfunção dos órgãos-alvo. Os níveis pressóricos absolutos podem não ter importância, mas sim a velocidade de elevação que esta ocorreu. Pacientes com hipertensão de longa data podem tolerar pressões sistólicas de 200 mm Hg e diastólicas superiores a 150 mm Hg, entretanto crianças ou gestantes podem desenvolver encefalopatia com pressões diastólicas de 100 mm Hg. Cerca de 10 a 20% da população adulta em nosso país apresenta Hipertensão Arterial Sistêmica; estudos mostram que emergências hipertensivas ocorrem em menos de 1% dos pacientes hipertensos, esses pacientes desenvolverão um ou mais episódio de emergência hipertensiva. O mecanismo responsável pela elevação da PA não é claramente conhecido, no entanto, elevações dos níveis de renina, adrenomodulina e peptídeo atrial natriurético foram encontrados em alguns pacientes com emergências hipertensivas. Uma elevação súbita da PA secundária a um aumento da resistência vascular periférica parece estar envolvida nos momentos iniciais; o fumo, possivelmente mediando lesão endotelial, é um antigo suspeito de estar envolvido na gênese das emergências hipertensivas (fumantes têm 5x mais chances de desenvolver hipertensão maligna); fatores genéticos e imunológicos também podem ter papel importante. Os pacientes portadores de feocromocitoma ou hipertensão renovascular apresentam uma incidência de elevações abruptas de pressão arterial mais alta do que o esperado para outras causas de hipertensão arterial. Alguns autores acreditam que a ativação do sistema renina-angiotensina esteja envolvida no desenvolvimento das emergências hipertensivas, assim a redução do volume AN02FREV001/REV 4.0 65 circulante causada, entre outros motivos, pela ação de diuréticos de alça – como a furosemida – pode estar associada a elevações abruptas de pressão arterial e à lesão endotelial dos quadros de emergência hipertensiva. Uma vez iniciado o processo lesivo vascular, surge um ciclo vicioso com secreção de substâncias vasoconstritoras e vasotóxicas, como o TNFa, que perpetuam o processo. FIGURA 13 – CURVA DE AUTORREGULAÇÃO CEREBRAL DE PACIENTES NORMOTENSOS A figura acima mostra a curva de autorregulação cerebral no paciente normotenso. Nota-se que os mecanismos de vasodilatação e vasoconstrição podem manter o fluxo sanguíneo cerebral constante em uma larga faixa de pressão arterial média, porém quando a pressão arterial ultrapassa esse limite pode ocorrer hipo ou hiperperfusão cerebral. Quando, no entanto, a pressão arterial média cai abaixo da capacidade de autorregulação, ocorre hipoperfusão e isquemia tecidual. AN02FREV001/REV 4.0 66 FIGURA 14 – CURVA DE AUTORREGULAÇÃO CEREBRAL DE PACIENTES HIPERTENSOS A figura acima mostra o desvio da curva de autorregulação para a direita em pacientes cronicamente hipertensos. 13.1 SINTOMAS E SINAIS DE ALERTA NA CRISE HIPERTENSIVA Neurológicos: Relaxamento da Consciência, Sinais Focais (localizatórios), Cefaleia Súbita Intensa, Presença de Sinais Meníngeos e Alterações agudas no fundo do olho; Cardiológicos: Dor Torácica Isquêmica, Dor Torácica Intensa, Congestão Pulmonar e Presença de 3ª Bulha; Renais: Presença de edema recente, diminuição do volume urinário, hematúria, proteinúria e elevação dos níveis de creatinina; Na abordagem do paciente hipertenso grave na emergência médica é necessária uma história e um exame físico direcionados, porém acurados na busca AN02FREV001/REV 4.0 67 da presença de lesão de órgão-alvo, particularmente na busca de sintomas e sinais de alerta, são cruciais para a segurança do paciente e para a boa prática clínica; a história deve investigar as características dos sintomas do paciente. Muitos pacientes apresentam-se na emergência apenas após a constatação da elevação dos níveis pressóricos em uma medida rotineira de pressão arterial. O exame físico deve incluir a pesquisa da presença de sinais de irritação meníngea, fundo de olho para buscar edema de papila, hemorragias e exsudatos; o exame neurológico deve procurar a presença de rebaixamento de nível de consciência, confusão mental ou agitação psicomotora, presença de sinais neurológicos focais, particularmente os sinais deficitários; a ausculta cardíaca deve buscar a presença de 3ª ou 4ª bulha e sopro de insuficiência aórtica; a ausculta pulmonar deve procurar a presença de sinais de congestão pulmonar; o exame físico deve incluir, ainda, a palpação da aorta abdominal e a pesquisa de pulsos periféricos, incluindo o pulso carotídeo. É importante avaliar a presença de deterioração da função renal, buscando a presença de edema, diminuição de volume urinário e hematúria; em pacientes com pressão arterial diastólica superior a 130 mmHg, impõe-se a dosagem de creatinina sérica e a análise urinária para pesquisar a presença de hematúria e proteinúria; a estratificação de risco desses pacientes está na confirmação ou na exclusão de existência de lesão aguda (em curso) de um órgão-alvo. Caso não seja possível excluir a existência de lesão, deve-se assumir a presença de lesão aguda e tratar conforme o órgão lesado. A Crise Hipertensiva é dividida em urgência hipertensiva e emergência hipertensiva: Urgência Hipertensiva: não existe o comprometimento instalado dos órgãos-alvo (coração, artérias, cérebro e rins). Após a avaliação médica o paciente geralmente recebe medicações por via oral ou sublingual e é tratado ambulatorialmente e em domicílio; o controle da Pressão Arterial é feito em até 24 horas; Emergência Hipertensiva: existe o comprometimento instalado e iminente dos órgãos-alvo (coração, artérias, cérebro e rins); após a avaliação AN02FREV001/REV 4.0 68 médica é indicado tratamento hospitalar em CTI’s e administração de vasodilatadores endovenosos. Essa crise é acompanhada por sinais que indicam as lesões nos órgãos-alvo, tais como: encefalopatia hipertensiva, edema agudo de pulmão, acidente vascular encefálico, infarto agudo do miocárdio ou dissecção aguda da aorta, nestes casos há o risco iminente de morte; Segundo Uenishi (1994), os principais cuidados de enfermagem no tratamento das crises hipertensivas são: Manter o paciente em ambiente calmo e tranquilo; Puncionar veia periférica; Monitorizar adequadamente (PA, ECG e Débito Urinário); Instalar medicação prescrita anti-hipertensiva em bombas de infusão; Para pacientes com infusão intravenosa de vasodilatadores, obter parâmetros de sinais vitais a cada cinco minutos até a redução desejada da pressão arterial. Um dos principais medicamentos vasodilatadores utilizados nas emergências hipertensivas é o nitroprussiato de sódio, que é um potente vasodilatador. Sua ação é semelhante ao nitrito, que atua diretamente sobre o músculo liso dos vasos sanguíneos, provavelmente por causa da porção nitrosa. O metabolismo inicial do nitroprussiato envolve a liberação não enzimática de cianogênio, o qual é rapidamente convertido em tiocinato, por meio de uma ação catalisadora por enzima hepática. Embora essa reação seja irreversível, o tiocinato pode ser de forma lenta convertido em cianeto pela ação de uma tiocinato oxidase presente nos eritrócitos. (GUERRA et al.,1988). Muitos dos efeitos tóxicos que se observam durante o uso do nitroprussiato são notados em envenenamento por cianeto e tem sido sugerido que esse último composto seria responsável pelos efeitos tóxicos pelo uso prolongado da droga em pacientes. O início da ação do nitroprussiato de sódio é imediato e persiste enquanto perdura a infusão da droga, atua tanto nos vasos de capacitância como nos vasos de resistência. Produz redução muito rápida nas pressões arterial e venosa central e um aumento moderado na frequência cardíaca. Também é potentevasodilatador cerebral, causando aumento da pressão intracraniana responsável pela cefaleia pulsátil experimentada por alguns pacientes. Os vasos da retina podem relaxar-se e aumentar a pressão intraocular, o que AN02FREV001/REV 4.0 69 favorece a crise aguda do glaucoma. O nitroprussiato de sódio é indicado nas crises hipertensivas e também é útil para produzir hipotensão em alguns procedimentos cirúrgicos, assim como para diminuir a resistência periférica em pacientes com infarto do miocárdio, ocasionando melhora no desempenho cardíaco, que é acompanhado pelo aumento do volume urinário e excreção de sódio. A toxidade aguda do Nitroprussiato é secundária à vasodilatação excessiva e à hipotensão. Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, agitação, cefaleia, palpitação, pressão subesternal e síncope, devido ao deslocamento da massa sanguínea para as áreas esplênicas e periféricas, com possível hipóxia cerebral. Os principais cuidados de enfermagem na administração desta medicação são: Preparo e diluição da medicação conforme padronização e/ou prescrição médica (geralmente é diluído em 250 ml de solução fisiológica ou glicose 5%); Controle rigoroso de gotejamento, instalar preferencialmente em bomba de infusão e verificar continuamente a infusão correta do medicamento; Controle da pressão arterial do paciente (algumas bibliografias indicam controle a cada cinco minutos, outras a cada 15 a 30 minutos. É importante seguir as orientações do enfermeiro na observação e aferição da pressão arterial, uma vez que nas primeiras horas de infusão da medicação será necessária a verificação em intervalos menores e/ou conforme a apresentação de sinais e sintomas no paciente); o mais indicado é que o paciente esteja monitorizado com monitor multiparâmetros, que verifica constantemente o pulso, pressão arterial e oximetria; Observação: todos os sinais e resultados obtidos devem obrigatoriamente ser anotados no prontuário do paciente, bem como os horários de instalação da medicação e possíveis mudanças em gotejamentos, conforme a orientação médica. Seguir a prescrição do enfermeiro frente aos demais cuidados específicos prestados a este paciente. Segundo Andrade (2009), os efeitos colaterais produzidos pela infusão do nitroprussiato de sódio melhoram com a diminuição do gotejamento ou quando o paciente é mantido em decúbito horizontal. AN02FREV001/REV 4.0 70 14 CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE HIPERTENSO Mais importante do que o diagnóstico do indivíduo com hipertensão é a avaliação os seus riscos. Em nível de saúde pública, além de todos os critérios de avaliação, as Unidades Básicas devem disponibilizar de local apropriado para receber os pacientes com hipertensão. O ambiente deve ser tranquilo e confortável para o bom êxito da avaliação do profissional da enfermagem e também para o bem- estar do paciente. O cuidado aos pacientes hipertenso também são realizados em hospitais, tendo o técnico de enfermagem o contato quase que permanente com esses pacientes, tanto nos momentos em que são internados, por complicações advindas da hipertensão arterial, como nos casos em que estará realizando procedimentos eletivos, como cirurgias e/ou exames diagnósticos. Os principais cuidados de enfermagem ao paciente hipertenso são: Monitorização da Pressão Arterial: a monitorização da pressão arterial é dirigida aos pacientes já hipertensos e à população saudável. A monitorização de PA em pacientes hipertensos deve ser feita em intervalos rotineiros e frequentes, programados junto com o paciente e diante da necessidade deste. Os pacientes que possuem o diagnóstico de hipertensão ou aqueles em grupo de risco e/ou avaliados como pré-hipertensos devem possuir uma carteira de controle de acompanhamento ou mapa de avaliação, onde é anotado o dia, horário, resultado da pressão arterial e assinatura do profissional que realizou a verificação. Para os pacientes em uso de medicamentos anti-hipertensivos, é de suma importância a verificação da pressão arterial no intuito de identificar a eficiência dos medicamentos frente à patologia. Os pacientes hipertensos hospitalizados, igualmente, devem ser monitorizados conforme a necessidade e rotina institucional e medicados de acordo com a prescrição médica. Smeltzer e Bare (2006) enfatizam que, uma vez identificada, a pressão arterial elevada deve ser monitorada a intervalos regulares, porque a hipertensão é uma condição para o resto da vida. AN02FREV001/REV 4.0 71 Tendo como meta do tratamento evitar a morte e as complicações ao atingir e manter a pressão arterial mais baixa que 140/90 mmHg. Monitorização dos Sinais e Sintomas: a enfermagem deve investigar sinais e/ou sintomas que possam indicar lesão de outros órgãos, desta forma é sempre importante manter um diálogo com o paciente e questionar sobre: sangramentos nasais, dor anginosa, falta de ar, alterações na visão, vertigens, dores de cabeça ou nictúria; Monitorização dos Pulsos: indica-se que sempre ao monitorizar a pressão arterial do paciente também seja incluída a verificação dos pulsos apical e periférico (frequência, ritmo e características) para com isso detectar possíveis efeitos da hipertensão sobre o coração e vasos periféricos; Educação do paciente para o autocuidado: o objetivo do tratamento da hipertensão é a manutenção de uma pressão arterial adequada que não cause danos para o paciente, a colaboração da enfermagem frente a este cuidado deve ser de baixo custo e alto benefício. O tratamento inclui ações de mudança nos estilos de vida e nos casos em que o médico prescreve o uso de medicações, desta forma, o próprio paciente torna-se responsável por estas mudanças e a enfermagem tem a função de realizar a orientação e acompanhamento frente a estas novas adaptações, por esta razão é um sistema de educação continuada e de estímulo ao autocuidado. A adesão ao tratamento pode ser caracterizada como o grau em que o comportamento do indivíduo, em termos de tomar o medicamento, seguir a dieta, realizar mudanças no estilo de vida e comparecer às consultas de acompanhamento, coincide com o conselho médico ou de saúde. Vários fatores podem dificultar a adesão do paciente: doença, tratamento, aspectos socioeconômicos, ocupação, estado civil, religião, crenças de saúde, família, hábitos de vida e culturais devem ser considerados (SARMENTO, 2004). Algumas das estratégias utilizadas para este fim é a reunião em grupos de hipertensos para que os mesmos troquem informações sobre suas dificuldades frente às mudanças, muitas vezes, penosas, mas necessárias. A família deve ser envolvida e estimulada juntamente com o paciente para que se torne capaz de oferecer apoio aos esforços do paciente em controlar a hipertensão. O posicionamento e apoio da família são de fundamental importância às mudanças AN02FREV001/REV 4.0 72 nos hábitos de vida do hipertenso, pois ações como fazer atividades físicas, seguir dieta adequada e tomar medicamentos na hora e na dosagem certa, talvez venham a requerer apoio e supervisão dos familiares. Além disso, quando temos um hipertenso na família, todos os outros membros devem se preparar para colocar em prática medidas de vida saudável precocemente, pois a chance de também desenvolver hipertensão arterial é muito grande (SARMENTO, 2004; ORQUIZA, 2007). Sabe-se que toda mudança requer um processo educativo e esse se dá de uma forma lenta e deve ser contínuo. Assim, as ações desenvolvidas pelos profissionais que trabalham com esses pacientes devem atender às necessidades de cada um, à medida que se tenta manter o tratamento por longo período (ALMEIDA, 2004). Monitorização no uso de medicamentos: nos programas de saúde pública de atenção a pacientes hipertensos as medicações protocoladas são distribuídas gratuitamenteao paciente que faz uso contínuo, o profissional de enfermagem neste aspecto realiza juntamente com o farmacêutico o controle adequado das medicações distribuídas para o paciente, bem como a periodicidade de retirada de tais medicamentos, geralmente realizando uma anotação da quantidade do medicamento que está sendo entregue ao paciente e a data de entrega, desta forma é possível monitorar a correta administração do medicamento em domicílio. Outra questão é o aparecimento de sinais ou sintomas que podem estar associados ao uso da medicação anti-hipertensiva, como por exemplo, tonteira ou zonzeira ao ficar em pé; todas essas informações devem sempre ser registradas para que exista uma comunicação eficiente entre os profissionais que prestam atenção à saúde do paciente, tanto nos hospitais quanto em tratamentos ambulatoriais. Para a implementação de ações, o profissional deve procurar conhecer a história do paciente individualmente, de forma a elaborar estratégias que possam contribuir para adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso (SOUZA, 2003). Monitorização das complicações potenciais: A elevação prolongada da pressão arterial lesiona os vasos sanguíneos por todo o corpo, principalmente em órgãos-alvo, como o coração, rins, cérebro e olhos, além de provocar espessamento e perda de elasticidade das paredes arteriais e aumento da resistência vascular AN02FREV001/REV 4.0 73 periférica nos vasos acometidos. As consequências usuais da hipertensão descontrolada prolongada são o infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e renal, acidentes vasculares cerebrais e visão prejudicada. O ventrículo esquerdo do coração pode ficar aumentado (hipertrofia ventricular esquerda), à medida que age para bombear o sangue contra a pressão elevada (POTTER & PERRY, 2001; SMELTZER E BARE, 2006). Os sintomas de que a doença está progredindo e envolvendo outros sistemas orgânicos devem ser detectados precocemente, de modo que o programa de tratamento possa ser alterado de acordo. Quando o paciente retorna ao ambulatório para acompanhamento, todos os sistemas orgânicos devem ser avaliados para detectar qualquer indício de lesão vascular em órgãos vitais. O exame dos olhos é particularmente importante porque a lesão vascular na retina indica alteração similar em outro local do sistema vascular. O paciente deve ser inquirido acerca de embaçamento visual, manchas diante dos olhos e diminuição da acuidade visual. O coração, sistema nervoso e rins necessariamente também devem ser avaliados. Oliveira (2004) enfatiza que a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) somente passa a provocar sintomas quando os órgãos-alvo começam a não mais suportar as alterações que sofreram para se adaptar aos níveis tensionais elevados. Entretanto, tais alterações não são precoces, surgem geralmente após mais de 10 anos de presença da doença, por meio de complicações graves, fato justificado pela evolução assintomática que a HAS apresenta. Infere ainda o autor que se deve ter como objetivo uma conduta preventiva que pode ser obtida mediante o diagnóstico precoce e o tratamento da HAS. Quaisquer achados significativos devem ser imediatamente notificados para a necessidade de estudos diagnósticos adicionais. Com base nos achados, os medicamentos podem ser mudados em uma tentativa de controlar a hipertensão. Segundo Potter (2002), a anamnese do paciente é essencial no momento da avaliação, ou seja, observar o paciente de forma completa irá facilitar a compreensão e identificação de riscos. Verificação do peso e altura: Importante mensuração que a enfermagem contribui realizando para que se possa estimar o IMC do paciente e, assim, acompanhar o ganho e perda de massa muscular individualmente, como fator relevante na atenção primária e secundária do indivíduo hipertenso. AN02FREV001/REV 4.0 74 Cuidados Hospitalares: além de todos os cuidados citados anteriormente é importante que ao paciente hospitalizado sejam realizados os seguintes cuidados: questionamento sobre a medicação domiciliar de uso contínuo ou não, no momento da internação, antes da realização de exames diagnósticos, incluindo os contrastados, antes da realização de atos cirúrgicos; monitorização da pressão arterial: conforme a preconização e rotina da instituição frente à verificação dos sinais vitais do paciente, e principalmente em intervalos menores naqueles pacientes que fazem uso endovenoso de medicação anti-hipertensiva, gestantes, emergências hipertensivas e pré-operatórios; Participar em Treinamentos e Capacitação: a enfermagem tem o dever de estar constantemente atualizada frente às mudanças e implementações que surgem na ciência, desta forma, o técnico de enfermagem participa de capacitações tanto em nível de saúde pública como hospitalar, para garantir técnicas e condutas adequadas e de qualidade ao paciente. Realizar uma aferição de pressão arterial de forma isenta de riscos. 15 APARELHOS UTILIZADOS PARA AFERIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL Esfigmomanômetro - É o instrumento utilizado para a medida da pressão arterial. É composto pelo manômetro e manguito. FIGURA 15 - ESFIGMOMANÔMETRO FONTE: < http://pt.goldenmap.com/Sinais_vitais > Acesso em: 28 Fev. 2013. AN02FREV001/REV 4.0 75 Estetoscópio - Existem vários modelos, porém os principais componentes são: Olivas auriculares: são pequenas peças cônicas que proporcionam uma perfeita adaptação ao meato auditivo, de modo a criar um sistema fechado entre o ouvido e o aparelho. Armação metálica: põe em comunicação as peças auriculares com o sistema flexível de borracha; é provida de mola que permite um perfeito ajuste do aparelho. Tubos de borracha: possuem diâmetro de 0,3 a 0,5 cm e comprimento de 25 a 30 cm. Receptores: existem dois tipos fundamentais: o de campânula de 2,5 cm, que é mais sensível aos sons de menor frequência e o diafragma, que dispõe de uma membrana semirrígida com diâmetro de 3 a 3,5 cm, utilizado para ausculta em geral. FIGURA 16 - ESTETOSCÓPIO FONTE: > http://medicast.blogspot.com.br/2007_10_01_archive.html> Acesso em: 28 Fev. 2013. AN02FREV001/REV 4.0 76 16 PROCEDIMENTO DA MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL Preparo do paciente para a medida da pressão arterial: 1. Explicar o procedimento ao paciente; 2. Repouso de pelo menos cinco minutos em ambiente calmo; 3. Evitar bexiga cheia; 4. Não praticar exercícios físicos 60 a 90 minutos antes; 5. Não ingerir bebidas alcoólicas, café ou alimentos e não fumar 30 minutos antes; 6. Manter pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxado; 7. Remover roupas do braço no qual será colocado o manguito; 8. Posicionar o braço na altura do coração (nível do ponto médio do esterno ou 4° espaço intercostal), apoiado, com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido; 9. Solicitar para que não fale durante a medida. Procedimento de medida da pressão arterial: 1. Medir a circunferência do braço do paciente; 2. Selecionar o manguito de tamanho adequado ao braço; 3. Colocar o manguito sem deixar folgas acima da fossa cubital, cerca de 2 a 3 cm. AN02FREV001/REV 4.0 77 FIGURA 17 – MEDIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL FONTE: >www.portalangels.com> Acesso em: 28 Fev. 2013. 4. Centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial; 5. Estimar o nível da pressão sistólica (palpar o pulso radial e inflar o manguito até seu desaparecimento, desinflar rapidamente e aguardar 1 minuto antes da medida); 6. Palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campânula do estetoscópio sem compressão excessiva. AN02FREV001/REV 4.0 78 FIGURA 18 - MEDIÇÃO DA PRESSÃOARTERIAL FONTE: <www.mundoeducacao.com.br> Acesso em: 28 Fev. 2013. 7. Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da pressão sistólica; 8. Proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 a 4 mmHg por segundo); 9. Determinar a pressão sistólica na ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff), que é um som fraco seguido de batidas regulares e, após, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação; 10. Determinar a pressão diastólica no desaparecimento do som (fase V de Korotkoff); 11. Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa; AN02FREV001/REV 4.0 79 12. Se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar valores da sistólica/diastólica/zero; 13. Esperar um a dois minutos antes de novas medidas; 14. Informar os valores de pressão arterial obtidos para o paciente; 15. Anotar os valores e o membro. Antes e após qualquer procedimento é necessária a lavagem das mãos e a assepsia dos materiais utilizados, nestes casos, utiliza-se o álcool 70% e o algodão para realização da assepsia nas olivas auriculares e no diafragma do estetoscópio. Pacientes em isolamento de contato sempre terão material individualizado quando hospitalizados. Dessa forma, o técnico de enfermagem sempre deverá seguir as normas e orientações do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar. A tabela abaixo mostra as dimensões dos manguitos para as diferenças circunferências de braço. TABELA 4 - DIMENSÕES DA BOLSA DE BORRACHA PARA DIFERENTES CIRCUNFERÊNCIAS DE BRAÇO EM CRIANÇAS E ADULTOS (V DIRETRIZES BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL) Denominação do Manguito Circunferência do Braço (cm) Bolsa de Borracha (cm) Largura Comprimento Recém-nascido < ou = 10 4 8 Criança 11 a 15 6 12 Infantil 16 a 22 9 18 Adulto Pequeno 20 a 26 10 17 Adulto 27 a 34 12 23 Adulto Grande 35 a 45 16 32 17 SITUAÇÕES ESPECIAIS DE MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL AN02FREV001/REV 4.0 80 A medida da pressão arterial em crianças é recomendada em toda avaliação clínica após os três anos de idade ou em circunstâncias especiais de risco antes desta idade, identificando-se a pressão diastólica na fase V de Korotkoff e empregando-se manguito com bolsa de borracha de tamanho adequado à circunferência do braço. Na medida da pressão arterial do idoso existem três aspectos importantes: maior frequência de hiato auscultatório, que consiste no desaparecimento dos sons na ausculta durante a deflação do manguito, geralmente entre o final da fase I e o início da fase II dos sons de Korotkoff. Tal achado pode subestimar a verdadeira pressão sistólica ou superestimar a pressão diastólica; pseudo-hipertensão, caracterizada por nível de pressão arterial superestimado em decorrência do enrijecimento da parede da artéria. Pode ser detectada por meio da manobra de Osler, que consiste na inflação do manguito no braço até o desaparecimento do pulso radial. Se a artéria for palpável após esse procedimento, sugerindo enrijecimento, o paciente é considerado Osler positivo; a hipertensão do avental branco é mais frequente no idoso. Segundo Guedis et al. (2008), define-se como efeito do avental branco a condição clínica na qual as pressões arteriais sistólicas e diastólicas são maiores que 20 mmHg e 10 mmHg respectivamente, em relação aos números obtidos pela medida da pressão de consultório comparadas por aqueles registrados pela Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) ou pela Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA). Em gestantes recomenda-se que a medida da pressão arterial seja feita na posição sentada, identificando-se a pressão diastólica na fase V de Korotkoff. 18 FATORES DETERMINANTES DA PRESSÃO ARTERIAL Segundo Veiga & Crossetti (1998), os principais fatores determinantes da pressão arterial são: - A força de contração do coração interfere na pressão sanguínea de modo que uma contração débil resulta em uma pressão mais baixa; AN02FREV001/REV 4.0 81 - A resistência periférica também interfere na pressão sanguínea, pois se o calibre dos vasos periféricos é muito pequeno a pressão sanguínea aumenta e quando os vasos têm um calibre amplo produzem diminuição de pressão sanguínea; - Volume do sangue circulante. Quando é pouco a pressão é baixa e quando a quantidade aumenta a pressão arterial também aumenta; - A viscosidade do sangue é outro fator que influi, pois quanto mais viscoso, mais alta será a pressão arterial; - Elasticidade da parede dos vasos. Vasos pouco elásticos oferecem mais resistência do que os que têm muita elasticidade; assim sendo, aumentando a resistência, a pressão também aumenta. 19 NOTAS COMPLEMENTARES Variações na posição e na pressão do receptor do estetoscópio interferem com o resultado dos níveis tensionais; Evitar a congestão das veias do braço, pois dificulta a ausculta; A roupa da paciente não deve fazer constrição no braço; A presença de arritmias importantes interfere na medida da PA; A PA pode ser medida nas coxas, porém com manguitos especiais e com o estetoscópio localizado no oco poplíteo; Em pacientes obesos, a maior circunferência do braço determina níveis pressóricos falsamente elevados, sendo conveniente nesses casos a medida da PA no antebraço, com o estetoscópio sobre a artéria radial; Em crianças, na determinação da PA diastólica, leva-se em conta a diminuição dos ruídos de Korotkoff, já que o desaparecimento pode não ocorrer. 20 VARIAÇÕES FISIOLÓGICAS DA PRESSÃO ARTERIAL AN02FREV001/REV 4.0 82 Idade - em crianças é nitidamente mais baixa do que em adultos; Sexo - na mulher é pouco mais baixa do que no homem, porém na prática adotam-se os mesmos valores; Raça - as diferenças em grupos étnicos muito distintos talvez se deva a condições culturais e de alimentação; Sono - durante o sono ocorre uma diminuição de cerca de 10%, tanto na sistólica como na diastólica; Emoções - há uma elevação principalmente da sistólica; Exercício físico - provoca intensa elevação da PA, devido ao aumento do débito cardíaco, existindo curvas normais da elevação da PA durante o esforço físico (testes ergométricos); Alimentação - após as refeições, há discreta elevação, porém sem significado prático; Mudança de posição - a resposta normal quando uma pessoa fica em pé ou sai da posição de decúbito inclui uma queda da PA sistólica de até 15 mmHg e uma leve queda ou aumento da diastólica de 5 a 10 mmHg. Pode ocorrer hipotensão postural (ortostática), que se acompanha de tontura ou síncope; as três causas mais comuns da hipotensão ortostática: depleção do volume intravascular, mecanismos vasoconstritores inadequados e efeito autônomo insuficiente sobre a constrição vascular. Terminologia empregada na conduta técnica: Hipertensão: Aumento da Pressão Arterial; Hipotensão: Diminuição da Pressão Arterial; Normotenso: Pressão Normal; Unidade utilizada: mmHg (milímetros de mercúrio); PA: Pressão Arterial; TA: Tensão Arterial. AN02FREV001/REV 4.0 83 21 AÇÕES EDUCATIVAS DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO AO PACIENTE HIPERTENSO Toda a Equipe de Enfermagem tem papel fundamental nas ações educativas bem como preventivas, que devem ser realizadas constantemente com os pacientes hipertensos. Além do comparecimento nas pré-consultas para avaliação médica mensal, a equipe participa de forma periódica em grupos com estes pacientes, que normalmente são realizados em suas comunidades, onde são feitas palestras, avaliação da pressão arterial, peso, altura, entre outros. A educação e as formas de demonstração ao paciente hipertenso sobrea doença, suas complicações, seus riscos, são uma constante nas Unidades Básicas de Saúde. O paciente e sua família são os principais atores desse controle e o técnico de enfermagem é um facilitador das mudanças necessárias para a manutenção dos níveis adequados da pressão arterial. O papel de educador torna-se fundamental no desempenho de toda a equipe de saúde, principalmente na orientação ao paciente e seus familiares quanto à importância na mudança dos hábitos de vida, para assim controlar os fatores de risco modificáveis, tais como: estresse, glicose e colesterol alto, sedentarismo, obesidade, consumo de álcool, fumo, drogas ilícitas e o consumo excessivo de sal. Observa-se que os programas educacionais e de assistência ao hipertenso têm obtido resultados satisfatórios, o que possibilita um controle adequado em nível de atenção básica, entretanto muitos pacientes ainda não foram diagnosticados e por outro lado alguns seguem estilos de vida que os tornam susceptíveis à hipertensão. Então, mais do que nunca o papel educativo da enfermagem se faz necessário principalmente na mudança do estilo de vida de toda a população que, incluindo hábitos mais saudáveis, estarão saindo do grupo de risco tanto de adquirir a hipertensão como de evitar as complicações que esta patologia pode ocasionar. 22 A HIPERTENSÃO ARTERIAL E SEUS DEZ MANDAMENTOS AN02FREV001/REV 4.0 84 Controlar o peso, manter uma dieta saudável, dando preferência a verduras, frutas e peixes, ingerir bastante líquido. Consultar o médico periodicamente, para avaliar os efeitos do tratamento. Verificar a pressão arterial com frequência, pois isso possibilita ao profissional da saúde e também ao paciente um controle adequado dos níveis pressóricos. Dizer não ao fumo. A nicotina aumenta consideravelmente a pressão arterial. AN02FREV001/REV 4.0 85 Verificar a quantidade de sal nos rótulos dos alimentos. Reduzir o consumo do mesmo nos alimentos. Dizer não ao sedentarismo. A prática de exercícios físicos reduz a possibilidade de riscos em consequência da hipertensão. Caminhadas são bem aceitas por pacientes hipertensos, desde que sob orientação médica, pois cada paciente terá um plano de exercícios elaborado, de acordo com suas necessidades. Escolher bem os alimentos que serão ingeridos. Tentar adaptar-se a uma reeducação alimentar, para que isso traga benefícios ao tratamento da hipertensão. Praticar esportes. O médico irá adaptar o tipo de esporte que cada paciente poderá desenvolver. AN02FREV001/REV 4.0 86 Saber se é diabético. Normalmente pacientes hipertensos tendem a desenvolver diabetes com o passar dos anos. Esse episódio pode ocorrer ao contrário, ou seja, diabéticos tornarem-se hipertensos. Por isso, a avaliação constante das condições de saúde com exames periódicos é fundamental. Evitar o estresse, esse causa danos muitas vezes complicados para o paciente hipertenso, pois gera alguns riscos que a hipertensão pode causar, como por exemplo, o infarto. 23 HIPERTENSÃO ARTERIAL NA GRAVIDEZ Este tema é motivo de um curso, assim, dada a importância do conhecimento da enfermagem frente à hipertensão na gravidez, será apresentada AN02FREV001/REV 4.0 87 uma abordagem resumida, no intuito de fornecer informações básicas ao aluno para melhor acompanhamento e monitoramento das pacientes acometidas por esta patologia. Os estados hipertensivos da gestação ocupam atualmente no Brasil o primeiro lugar entre as causas de mortalidade materna, principalmente quando se instala na sua forma grave, como é o caso da pré-eclâmpsia e eclâmpsia (MONTENEGRO, 2002). A hipertensão na gravidez é diagnosticada quando os níveis pressóricos são iguais ou superiores a 140/90 mmHg. A gravidez pode ser complicada por quatro formas distintas de hipertensão, são elas: 1. Pré-Eclâmpsia/Eclampsia (doença hipertensiva específica da gravidez): ocorre principalmente em gestantes após a 20º semana de gestação, e mais frequentemente próximo ao termo. Há o desenvolvimento gradual da hipertensão, proteinúria, edema generalizado e, às vezes, alterações na coagulação e função hepática. A presença de convulsão define a forma grave da pré-eclâmpsia chamada de eclampsia. O nível de proteinúria é considerado anormal quando superior a 300 mg/24 horas ou pelo menos 2 + em análise qualitativa. A proteinúria pode ser uma manifestação tardia da pré-eclâmpsia. O edema isolado não é critério útil para diagnóstico de pré-eclâmpsia. 2. Hipertensão crônica de qualquer etiologia: refere-se à presença de hipertensão antes da gravidez ou da 20º semana de gestação. Hipertensão diagnosticada em qualquer fase da gravidez, mas que persiste além de seis semanas, após o parto, é também considerada hipertensão crônica. 3. Pré-Eclâmpsia sobreposta à hipertensão crônica ou nefropatia: pode ocorrer em mulheres com hipertensão preexistente e, em tais casos, o prognóstico para mãe e o feto é pior do que qualquer uma das condições isoladas. O diagnóstico é feito quando há o aumento da pressão arterial (30 mmHg sistólica ou 15 mmHg diastólica) AN02FREV001/REV 4.0 88 acompanhado de proteinúria ou edema, após a 20ª semana de gestação. 4. Hipertensão Gestacional: define situações em que ocorre elevação da pressão arterial durante a gravidez, ou nas primeiras 24 horas após o parto, sem outros sinais de pré-eclâmpsia ou hipertensão preexistentes. Esta condição parece ser preditiva do desenvolvimento posterior de hipertensão essencial e tende a ocorrer em gestações subsequentes. A evolução da pré-eclâmpsia é imprevisível, mesmo quando a pressão arterial está apenas discretamente elevada. Assim, uma falha em reconhecê-la pode ter sérias consequências. A pré-eclâmpsia pode progredir para eclâmpsia (convulsão-coma) ou para uma forma intermediária chamada iminência de eclâmpsia, que é caracterizada por cefaleia intensa, distúrbio visual, hiper-reflexia, dor epigástrica e hemoconcentração. A pré-eclâmpsia independente da gravidade aparente e sempre representa um risco potencial para a mãe e para o feto. A hipertensão pré-eclâmpsia frequentemente desaparece dentro de duas ou seis semanas após o parto e possui uma etiologia ainda desconhecida. As mulheres hipertensas que desejam engravidar devem ser cuidadosamente avaliadas; também nas possibilidades de hipertensão secundária. Segundo Montenegro (2002), o tratamento da pré-eclâmpsia é conservador, até o concepto atingir a maturidade (37 semanas). O processo só é curado com o parto, mesmo quando a pressão arterial está normalizada, e a paciente apresenta-se sem edema e sem proteinúria, ainda assim o feto está em risco já que a depuração placentária é 50% inferior à normal. Todas as pacientes hipertensas grávidas devem ser seguidas de perto. Na maioria delas a pressão alta diminui no segundo trimestre devido à vasodilatação fisiológica da gravidez e consequente a isso poderá haver a redução na dose ou suspensão da medicação anti-hipertensiva pelo médico. A ausência de redução da pressão arterial no segundo trimestre é um mal prognóstico. Montenegro (2002) descreve que as principais medidas adotadas a paciente são: AN02FREV001/REV 4.0 89 Repouso no leito em decúbito lateral esquerdo para melhorar o fluxo sanguíneo renal e a ultraplacentário; Sedação oral com diazepínicos ou barbitúricos para auxiliar no repouso; A dieta hipossódica e diurética é discutida entre os profissionais, se usar diurético promove rápida excreção de água e de sódio, levando à depleção eletrólica, associada à privação do sal, não traz benefício ao problema da toxímia, por isso a dieta é normossódica; Os hipertensores também não são administrados com objetivo de prolongara gravidez (reduz a perfusão ultraplacentária). Na pré-eclâmpsia grave, e na eclâmpsia, antes de interromper a gestação, o quadro clínico será estabilizado, o que demora em torno de quatro a seis horas. 23.1 AS PREVENÇÕES DAS CONVULSÕES O sulfato de magnésio constitui o agente isolado mais valioso no tratamento da pré-eclâmpsia grave. Um total de 10g de uma solução de sulfato de magnésio a 5% (5g injetado profundamente, intramuscular, em cada nádega), ou dois gramas a 10% injetado lentamente na veia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000). O sulfato de magnésio é um medicamento perigoso, em dose tóxica deprime a respiração e é causa da parada cardíaca. Combater a sua toxidez com um grama de gluconato de cálcio (intravenoso). Não cedendo às convulsões manter sulfato de magnésio por 24 horas para manutenção (SCHWARTZ, et al. 1982). Durante a administração do sulfato de magnésio deve-se monitorar: a pressão arterial de 10 em 10 minutos, controle de diurese acima de 25 ml/h, a frequência respiratória acima de 14-16 mr/min., fluxo patelar antes, durante e após a administração (MÃE CURITIBANA, 2004). Cuidados de Enfermagem a Paciente com Hipertensão na Gravidez: Diminuir ao máximo a ansiedade da paciente; AN02FREV001/REV 4.0 90 Auxiliar na Dor da Paciente: ouvir a paciente sobre a dor, questionar intensidade e criar um diálogo compreensivo; Medicar conforme a prescrição médica; Aliviar náuseas e vômitos: medicar conforme a prescrição do médico assistente e reduzir odores e visões desagradáveis para a paciente; Observar e registrar eliminações urinárias: hematúria é um sinal importante e grave nestes tipos de paciente; observar oligúria (débito de 100 a 500 ml/24 horas); observar presença de anúria (débito urinário inferior a 50 ml/24 horas); realizar coleta de urina para 24 horas orientando a paciente sobre o procedimento quando o médico solicitar o controle. Manter acesso venoso de bom calibre, caso seja necessária reposição hídrica; Registrar ingesta e eliminações para balanço hídrico da paciente; Monitorizar pressão arterial, pulso, temperatura, respiração de 2/2 horas ou conforme a prescrição do enfermeiro; Controle de Batimentos Cardiofetais: conforme prescrição do enfermeiro e/ou obstetra. ANEXO I – TERAPIA MEDICAMENTOSA NA HIPERTENSÃO CONFORME BRUNNER & SUDDARTH (1998) MEDICAME NTO PRINCIPAL AÇÃO VANTAGENS CONTRAINDICAÇÕES EFEITOS E CONSIDERAÇÕES DE ENFERMAGEM Diuréticos e Medicament os Relacionad os Clortalidona Quinetazona Clortiazida Hidroclorotia Diminuem o volume sanguíneo renal e o débito cardíaco; Depleção de líquido extravascular; Equilíbrio negativo do sódio; Afetam diretamente a musculatura lisa Eficazes oralmente; Eficazes durante a administração em longo prazo; Efeitos colaterais discretos; Gota; Sensibilidade conhecida a medicamentos derivados de sulfonamida; Função renal seriamente comprometida. Boca seca, fraqueza, zonzeiras, letargia, dores musculares, fadiga muscular, taquicardia, distúrbios GI. Hipotensão postural pode ser AN02FREV001/REV 4.0 91 zida (diuréticos tiazídicos) vascular. Intensificam efeitos de outros medicamentos anti- hipertensivos; Contrabalançam o efeito de retenção de sódio de outros medicamentos anti- hipertensivos. potencializada pelo álcool, barbitúrico ou narcóticos. Como os tiazídicos causam perda de sódio, o paciente deve ser instruído a observar presença de hipotensão postural em clima quente. (Ingerir bolachas salgadas em clima quente pode evitar isso). Administrar potássio suplementar. Considerações Gerontológicas: Risco de hipotensão postural é significativo por causa da depleção de volume; medir a pressão arterial para se levantar lentamente. Furosemida (Diuréticos de Alça) Depleção de volume; bloqueiam a reabsorção de sódio e água no rim; antagonizam a ação da aldosterona. Ação rápida; potente para serem usados somente quando os tiazídicos falham. Mesma que os citados acima. Depleção de volume é rápida – pode ocorrer intensa diurese; depleção de eletrólitos – reposição é necessária; sede, náuseas, vômitos, rubor cutâneo, hipotensão AN02FREV001/REV 4.0 92 postural; percepção do paladar adocicado; queimação oral e gástrica. As considerações gerontológicas são as mesmas citadas pelos tiazídicos. Espironolact ona Triatereno (Diuréticos poupadores de potássio) Inibidores competitivos da aldosterona. Age no túbulo distal independentemente da adisterona Espironolactona é eficaz no tratamento da hipertensão acompanhada de aldoteronismo primário. Tanto a espironolactona quanto o triatereno causam retenção de potássio. Doença renal Azotomia Doença hepática severa Zonzeiras, letargia, dor de cabeça – diminuir a dose. Diarreia e outros sintomas GI – administrar medicamentos após as refeições. Erupções cutâneas, urticária, confusão mental, ataxia – pode ser necessário diminuir a dose. Ginecomastia (não para o Triatereno) Inibidores Adrenérgic os Reserpina Perturba a síntese e reabsorção de noradrenalina Desacelera o pulso que contrabalança a taquicardia da hidralazina História de depressão, Psicose Obesidade, Sinusite crônica, Úlcera Péptica. Podem causar grave depressão. Relatar manifestações, pois isso pode demandar a suspensão do medicamento. Ingurgitamento nasal que pode exigir vasoconstritor nasal. Aumenta o apetite, AN02FREV001/REV 4.0 93 portanto pode ser difícil controlar o peso. Recidiva de úlcera péptica. Administrar com refeições ou leite. Considerações Gerontológicas: depressão e hipotensão postural com os idosos. Metildopa Inibidor da dopa – descarboxilase; desloca a noradrenalina dos locais de armazenamento. Eficaz em pacientes não controlados pela tiazida – reserpina (com ou sem hidralazina); Útil em pacientes com insuficiência renal; Não diminui o débito cardíaco nem o fluxo sanguíneo renal; Não induz oligúria Doença Hepática Zonzeiras, tonteiras. Boca seca; ingurgitamento nasal; (desconfortável de início, mas depois tende a desaparecer); Anemia hemolítica; Considerações Gerontológicas: pode produzir alterações mentais e comportamentais no idoso. Propanolol Bloqueia o sistema nervoso simpático, especialmente os nervos simpáticos do coração, produzindo uma frequência cardíaca mais lenta e menor pressão arterial Reduz a frequência do pulso nos pacientes com taquicardia e elevação da pressão arterial e é útil como coadjuvante aos Asma brônquica; Renite alérgica; Insuficiência ventricular direita decorrente da hipertensão pulmonar; Insuficiência cardíaca congestiva. Depressão mental manifestada por insônia, lassidão, fraqueza e fadiga. Zonzeiras e náuseas, vômitos e distúrbios gástricos ocasionais. Ocorrem discrasias AN02FREV001/REV 4.0 94 medicamentos que agem no local neuroefetor do vaso sanguíneo sanguíneas como agranulocitose e púrpura trombocitopênica, mas não incomuns. Considerações Gerontológicas: Risco de toxidade aumentado no idoso, comprometimento da função renal e hepática. Verificar a pressão arterial em três posições e observar a presença de hipotensão. Hidrocloreto de Prazosin Vasodilatador periférico agindo diretamente sobre o vaso sanguíneo; similar a hidralazina Age diretamente sobre o vaso sanguíneo e é agente eficaz nos pacientes com reações adversas à hidralazina Angina no peito e doença arterial coronária. Induztaquicardia se não precedida pela administração de propanolol e um diurético Vômitos e diarreia ocasionais, frequência urinária e colapso cardiovascular, especialmente se dado com hidralazina, sem diminuir a dose da última. Os pacientes ocasionalmente sentem zonzeiras, falta de energia e fraqueza. Hidrocloreto de Clonidina Modo exato de ação desconhecido, mas age por meio do sistema nervoso central, aparentemente por Pouco ou nenhum efeito ortostático. Moderadamente potente e algumas vezes Doença arterial coronária grave, gravidez, crianças Efeitos colaterais mais comuns são boca seca, zonzeiras, sedação e dores de cabeça e fadiga ocasionais. AN02FREV001/REV 4.0 95 intermédio de estimulação adrenérgica centralmente mediada no cérebro, produzindo redução da pressão arterial. eficaz quando outros medicamentos deixam de diminuir a pressão arterial Anorexia, mal-estar e vômitos, com leve distúrbio da função hepática foram relatados. Rubor cutâneo, sonhos e pesadelos, insônia e ansiedade foram relatados, mas não são comuns. Metropolol Bloqueia o acesso da noradrenalina nos receptores adrenérgicos, especialmente no miocárdio, diminui a pressão arterial ao abrandar o débito cardíaco e a resistência periférica. Absorção rápida Insuficiência cardíaca; Bradicardia sinusal; Defeitos da condução AV Diabetes Mellitus Pode causar bradicardia, ICC, intensificação de bloqueio cardíaco – tomar o pulso apical antes da administração. Pode causar depressão grave, relatar manifestações, pois isso poderá indicar a suspensão do medicamento. Instruir o paciente a contar a frequência do pulso antes de cada dose e informar ao médico pulso lento ou irregular Nadolo Bloqueia os receptores adrenérgicos no coração; reduz a frequência cardíaca e o débito cardíaco e diminui a automaticidade do Pode ser usado isoladamente no tratamento da hipertensão, ou em combinação com um diurético Meia-vida longa; ICC Bradicardia sinusal Asma Brônquica DPOC Pode causar bradicardia; instruir o paciente a contar a frequência do pulso antes de cada dose e informar ao médico pulso lento e AN02FREV001/REV 4.0 96 coração; desconhecido o modo exato da ação na diminuição da pressão arterial ortostática e supina administração uma vez ao dia irregular; Pode causar zonzeira, sedação, alterações comportamentais, depressão; avisar ao paciente que ele deve evitar dirigir e outras atividades perigosas até que seja conhecida a resposta. Vasodilatad ores Hidrocloreto de hidralazina Diminui e resistência periférica ao elevar concomitantemente o débito cardíaco; Age diretamente sobre os músculos lisos dos vasos sanguíneos Usado como terceiro medicamento de escolha quando o paciente não responde à tiazida- reserpina, metildopa ou guanetidina Angina ou doença coronariana ICC Hipersensibilidade Dor de cabeça, taquicardia, rubor e dispneia podem ocorrer; Edema periférico que pode necessitar de diuréticos; Pode produzir síndrome semelhante ao lúpus eritematoso Minoxidil Ação vasodilatadora direta sobre os vasos arteriolares, causando diminuição da resistência vascular periférica; reduz as pressões sistólicas e diastólicas Efeito hipotensor mais pronunciado do que da hidralazina. Nenhum efeito sobre os reflexos vasomotores, assim não causa hipotensão postural Feocromocitoma Taquicardia, angina no peito, alterações no ECG; verificar a PA e pulso apical antes da administração, monitorizar ingestão, eliminação e peso diário. Nitroprussiat o de Sódio Vasodilatação periférica por meio Ação rápida Sépsis Zonzeira, dor de cabeça, náuseas, AN02FREV001/REV 4.0 97 Nitroglicerina Diazóxido do relaxamento da musculatura lisa edema, taquicardia, palpitações Inibidor da Enzima de Conversão da Angiotensin a Captopril Inibe a conversão da angiotensina I em II; Diminui a resistência periférica total Menos efeitos cardiovasculare s. Pode ser usado com um diurético. Hipotensão pode ser revertida por reposição hídrica Distúrbio renal Considerações Gerontológicas: necessita de dosagens menores e diuréticos de alça na disfunção renal Antagonista s do Cálcio Hidrocloreto de Diltiazem Inibe a entrada do íon cálcio; Reduz a pós-carga cardíaca Inibe o espasmo arterial coronário não controlado pelos bloqueadores ou nitratos Síndrome do nódulo sinusal doente, bloqueio AV do segundo ou terceiros graus; hipotensão; ICC Não suspender repentinamente. Observar a presença de hipotensão. Informar batimentos cardíacos irregulares, zonzeiras, edema. Instruir acerca dos cuidados higiênicos dentários em decorrência de uma possível gengivite Nifedipina Inibe a entrada do íon cálcio pelas membranas. Efeitos vasodilatadores sobre as arteríolas periféricas e coronárias. Diminui o trabalho cardíaco e o Ação rápida. Eficaz por via oral ou sublingual. Sem tendência a diminuir a atividade nodal SA ou prolongar a condução nodal AV Nenhuma Administrar com o estômago vazio. Usar com cautela nos pacientes diabéticos. Alimentações pequenas e frequentes na presença de náuseas. AN02FREV001/REV 4.0 98 consumo de energia, aumenta a oferta de oxigênio ao miocárdio.0 Câimbras musculares, rigidez articular, dificuldades sexuais podem desaparecer com a diminuição da dosagem. Informar acerca dos batimentos cardíacos irregulares, constipação, falta de ar, edema. Pode causar tonteiras Verapamil Inibe a entrada do íon cálcio. Diminui a velocidade de condução do impulso cardíaco Antidisrítimico e eficaz. Início rápido de ação por via ev Bloqueia os canais SA e AV Doença do nódulo sinusal ou AV; grave IC, hipotensão Administrar com o estômago vazio, ou antes, das refeições. Não suspender repentinamente. Depressão pode desaparecer com a suspensão do medicamento. Para as dores de cabeça reduzir o barulho e monitorizar os eletrólitos. Diminuir a dose na insuficiência renal ou hepática Considerações Gerontológicas: Necessário reduzir a dose AN02FREV001/REV 4.0 99 FIM DO MÓDULO II AN02FREV001/REV 4.0 99 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIABETES E HIPERTENSÃO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 100 CURSO DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIABETES E HIPERTENSÃO MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 101 MÓDULO III 24 DIABETES MELLITUS Conceituada pela Sociedade Brasileira de Diabetes como uma síndrome de múltipla etiologia, que resulta da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina em exercer de maneira adequada os seus efeitos. É caracterizada pela hiperglicemia (aumento da quantidade de glicose no sangue), juntamente com distúrbios do metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas. As principais consequências desta patologiaincluem os danos, disfunções e falência de vários órgãos, essencialmente os rins, olhos, nervos, coração e vasos sanguíneos. Segundo o Ministério da Saúde (2006), o diabetes é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas pela hiperglicemia e associada a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos; podendo resultar de defeitos de secreção de insulina ou defeitos na ação da insulina, envolvendo processos patogênicos específicos, como por exemplo, destruição das células beta do pâncreas, resistência a ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros. Conforme Brunner & Suddarth (1998), o Diabetes Mellitus define-se como um grupo de distúrbios heterogêneos caracterizados por níveis elevados de glicose no sangue. Em uma pessoa normal certa quantidade de glicose circula no sangue, sendo formada no fígado a partir de alimentos ingeridos; a insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas, é responsável pelo controle do nível de glicose no sangue, regulando a produção e armazenamento de glicose. No diabetes, a capacidade do corpo responder à insulina pode diminuir, ou o pâncreas pode parar totalmente de produzir insulina, levando a uma hiperglicemia, podendo resultar em complicações metabólicas agudas e em longo prazo contribuir para complicações crônicas, estando associado a um aumento da ocorrência de doenças macrovasculares, incluindo infarto agudo do miocárdio, derrames e doença vascular periférica. AN02FREV001/REV 4.0 102 Para entender melhor o mecanismo do Diabetes no organismo, bem como da insulina e ação da glicose é necessário relembrar a anatomia e fisiologia do pâncreas humano, que é responsável pela produção dos hormônios reguladores dos níveis de glicose no organismo, conforme consta a seguir. 25 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO PÂNCREAS O pâncreas é um órgão relativamente pequeno que pesa no adulto cerca de 100 gramas e mede aproximadamente 15 cm. Situa-se em condições normais na porção superior do abdômen, abaixo do estômago e é interligado por um canal ao duodeno; é dividido em partes denominadas: cabeça, corpo e cauda. Este órgão é classificado como uma glândula anfícrina, por possuir uma porção exócrina e outra endócrina, que fazem parte do sistema digestório humano. A porção do pâncreas que exerce função exócrina é responsável pela síntese do suco pancreático, que contém enzimas que atuam na digestão de carboidratos (amilase pancreático), lipídios (lípase pancreática) e proteínas (proteases: quimiotripsina e carboxipeptidase). FIGURA 19 – PÂNCREAS HUMANO EM CORTE LONGITUDINAL FONTE: Disponível em: <http://www.mdsaude.com>. Acesso em: 6 jun. 2009. AN02FREV001/REV 4.0 103 A porção do pâncreas que desempenha uma função hormonal ou endócrina é formada pelas Ilhotas de Langerhans, que se constituem por dois tipos de células: as betas, responsáveis pela produção de insulina, e as células alfa, que produzem o glucagon. Ambos os hormônios são responsáveis pela manutenção de níveis ideais de glicose no sangue, ambos com efeitos contrários, diminuindo e aumentando respectivamente os valores da glicose no sangue. O controle glicêmico no sangue se faz da seguinte maneira: após a alimentação os níveis de glicose aumentam, neste momento o pâncreas secreta a insulina para manter os níveis de glicose ideais; a insulina desloca a glicose do sangue para os tecidos das células que compõem o corpo humano ou armazenam a glicose nas células-alvo do fígado na forma de glicogênio, baixando com isso a glicemia. Por outro lado, quando se permanece muito tempo sem comer os níveis de glicose do sangue ficam baixos, menos que o aceitável, assim o pâncreas em condições normais passa a produzir e secretar glucagon, estimulando a glicogênese (quebra do glicogênio, aumentando a taxa de glicemia) e transportando glicose no sangue. Quaisquer situações anormais na secreção da insulina nos efeitos da insulina no organismo provocam a hiperglicemia, índices maiores que os permitidos de glicose no sangue circulante, constituindo-se na Diabetes Mellitus. 26 FUNÇÃO DA INSULINA NO CORPO A insulina exerce efeitos muito pronunciados sobre o metabolismo da maior parte dos diferentes tipos de alimentos – carboidratos, gorduras e proteínas. Sem insulina um animal ou um ser humano não consegue crescer, em parte por não poder utilizar mais que parte bem pequena do carboidrato que ingere, mas também por suas células serem incapazes de sintetizar proteínas. Também, na falta da insulina, as células utilizam quantidades grandes de gorduras, o que provoca condições de debilidade extrema, tais como perda de peso, acidose, e até mesmo coma. Mas diante destas informações, por que a insulina e seus efeitos são tão importantes? Vamos analisar abaixo como a insulina atua nos AN02FREV001/REV 4.0 104 alimentos para compreender esta importância. O mais importante efeito da insulina é o de promover o transporte de glicose para o interior de quase todas as células musculares, as células gordurosas e as células hepáticas. O mecanismo de ação da insulina é mostrado na figura abaixo. A glicose combina-se com uma substância carreadora na membrana celular e, em seguida, difunde-se para o interior da membrana, onde é liberada no citoplasma. O carreador é utilizado repetidamente para o transporte de quantidades adicionais de glicose. Esse tipo de transporte chama-se difusão facilitada. Isso significa que a combinação da glicose com o carreador torna mais fácil a difusão da glicose por meio da membrana. Entretanto, esse transporte jamais fará com que a concentração de glicose no interior da célula fique maior que o exterior. O efeito da insulina sobre o transporte de glicose é o de ativar o mecanismo de difusão facilitada. Dentro de período de segundos a minutos após a combinação da insulina com a membrana celular, a intensidade da difusão da glicose para o interior celular aumenta de 15 a 20 vezes, o que sugere uma ação direta da insulina, seja sobre a própria membrana celular ou sobre o sistema de transporte da glicose. O transporte de glicose para o interior das células hepáticas depende de mecanismo diferente. A membrana celular do fígado é tão permeável que a glicose pode, com toda a facilidade, difundir-se por meio dela, mesmo na ausência da difusão facilitada. Contudo, a glicose pode difundir-se nos dois sentidos, tanto para dentro como para fora das células. Mas, na presença de insulina, várias enzimas das células hepáticas são ativadas, o que promove o encarceramento da glicose no interior dessas células. Essas enzimas são as glicoquinase, que faz com que a glicose reaja com o íon fosfato, e o glicogênio sintetase, que faz com que grande número de moléculas de glicose reaja entre si para formar o glicogênio, o polímero da glicose de alto peso molecular. Na falta da insulina esse mecanismo de encarceramento cessa e outra enzima, a fosforilase, fica ativada e despolimeriza o glicogênio de volta à glicose, o que permite sua saída da célula. Quando a concentração de glicose fica acima do normal, o pâncreas secreta quantidades maiores de insulina que, por sua vez, promove o transporte rápido de glicose para o interior das células e a torna disponível para as funções celulares. Portanto, um dos efeitos óbvios da insulina é a de provocar a rápida utilização da AN02FREV001/REV 4.0 105 glicose para energia, pela maioria das células do corpo. Após uma refeição, quando existe excesso de glicose e insulina, a glicose é muitas vezes transportada para o interior das células hepáticas e musculares em quantidades muito maiores que as que podem ser utilizadas para energia. Como resultado, uma grande parte dessa glicose fica armazenada sob a forma de glicogênio: a concentraçãodo glicogênio nas células hepáticas pode, por vezes, atingir até 5 a 6% e, nas células musculares, mais de 1%. Durante os períodos de intervalos durante as refeições, as células musculares reconvertem o glicogênio de volta à glicose, usando-a para energia. Por outro lado, nas células hepáticas a enzima fosforilase fica ativada e despolimeriza o glicogênio de volta a glicose, liberando essa glicose para o sangue circulante, por onde é levada a todas as regiões do corpo onde for necessária. Desse modo, o fígado é um dos depósitos temporários de glicose de maior importância. Após os depósitos hepático e muscular de glicose terem sido preenchidos, toda a glicose remanescente que ainda não pode ser usada de forma imediata é armazenada como gordura, nos depósitos de gordura. Cerca de nove décimos dessa gordura são sintetizados no fígado a partir do grande excesso de glicose que é transportada para essas células, sob a influência da insulina. Em seguida, essa gordura é liberada para o sangue, sob a forma de lipoproteínas e transportadas para as células gordurosas (adiposas) no tecido gorduroso. Além disso, outro décimo dessa gordura de depósito é sintetizado nas próprias células gordurosas. A insulina promove o transporte de glicose para essas células de modo idêntico ao das outras células do corpo. Em resumo, o efeito da insulina sobre o metabolismo da glicose é o de aumentar sua utilização para energia ou o de fazer com que a glicose fique armazenada sob a forma de glicogênio ou sob a forma de gordura. Em presença de grandes quantidades de insulina, o rápido transporte de insulina para o interior das células em todo o corpo diminui sua concentração sanguínea. De modo inverso, a falta de insulina faz com que a glicose fique retida no sangue, ao invés de penetrar nas células. A falta completa de insulina, usualmente produz um aumento da concentração sanguínea de glicose, desde o valor maior 90 mg para cada 100 ml, até valores da ordem de 350 mg para 100 ml. Por outro lado, AN02FREV001/REV 4.0 106 um aumento acentuado da insulina pode reduzir a glicose sanguínea até aproximadamente 25 mg por 100 ml, isto é, um quarto do normal. O efeito da insulina sobre o metabolismo das gorduras é quase que exatamente o oposto do que exerce sobre o metabolismo da glicose. Isto é, insulina inibe de modo acentuado, quase em todos os aspectos o metabolismo da glicose, como foi descrito acima. A insulina dificulta o metabolismo das gorduras por dois meios: Primeiro, quando a glicose está presente em excesso no interior das células. Essas células demonstram preferência para a utilização da glicose em lugar da gordura para o metabolismo, devido à natureza dos sistemas enzimáticos intracelulares. Como resultado, a intensidade da degradação dos ácidos graxos fica muito diminuída. Segundo, antes que a gordura que foi depositada nas células gordurosas possa ser utilizada para energia, deve ser liberada das células. O mecanismo dessa liberação é para que uma enzima, presente nas próprias células gordurosas, chamada de lípase hormônio-sensível, desdobre os ácidos graxos das gorduras armazenadas que difundem para o sangue. Contudo, a insulina inibe a lípase hormônio-sensível, de modo que, uma vez que a gordura tenha sido depositada nas células gordurosas, ela não será liberada enquanto existir insulina em quantidades suficientes para inibir a lípase hormônio- sensível. Dessa forma, em presença de insulina, a gordura fica relativamente impossível de ser utilizada para o metabolismo, enquanto que a disponibilidade de glicose fica muito aumentada. Na falta de insulina, em termos essenciais, todas as fases do metabolismo das gorduras ficam muito aceleradas. Primeiro, a lípase hormônio sensível das células gordurosas fica fortemente ativada e grandes quantidades de ácidos graxos são liberadas para o sangue. Segundo, esses ácidos graxos ficam facilmente disponíveis para as células de todo o corpo, e muitos deles são usados, de modo quase que imediato, para energia, em especial, pelas células musculares. Terceiro, grande proporção de ácidos graxos é transportada para o fígado, onde são convertidos em triglicerídeos, fosfolipídeos e colesterol. AN02FREV001/REV 4.0 107 Quarto, o metabolismo muito rápido dos ácidos graxos no fígado provoca a formação de quantidades muito grandes de ácidos acetoacético, que é liberado, logo em seguida, para o sangue. Boa parte desse ácido é utilizada pelas células para energia, mas parte permanece no sangue e pode ocasionar acidose generalizada grave, muitas vezes levando ao coma acidótico e até a morte, que são os efeitos mais penosos do diabetes. Há um aumento rápido dos ácidos graxos no sangue, quando ocorrer falta abrupta de insulina, como que ocorre por remoção do pâncreas. Deve, também, ser notado o aumento progressivo do ácido acetoacético sanguíneo, resultado de um metabolismo de gorduras excessivo e prolongado, além do acúmulo muito acentuado da glicose sanguínea, devido a não utilização celular de glicídios. A insulina é quase tão potente como o hormônio do crescimento em fazer com que ocorra deposição de proteínas nas células. Isso resulta de seus efeitos, tanto diretos como indiretos, sobre o metabolismo das proteínas. Os efeitos diretos da insulina sobre o metabolismo das proteínas são de três tipos: 1. A insulina aumenta a intensidade do transporte da maioria dos aminoácidos por meio da membrana celular, o que aumenta as quantidades disponíveis de aminoácidos para a síntese celular de proteínas. 2. A insulina aumenta a formação de ARN nas células; 3. A insulina aumenta a formação de proteínas pelos ribossomos; Desse modo, a insulina exerce um potente efeito direto sobre a promoção da síntese de proteínas em todas ou na maioria das células. O efeito indireto da insulina sobre o metabolismo das proteínas é resultado da utilização da glicose pelas células. Quando a glicose está disponível para o uso energético ocorre o efeito poupador de proteína, pois os carboidratos são usados preferencialmente à insulina. Por outro lado, na ausência da insulina, esse efeito não existe, de modo que são utilizadas grandes quantidades de proteína, como também de gordura, em lugar dos carboidratos, para energia. Dado que a insulina promove a formação de proteínas, bem como torna disponíveis grandes quantidades de energia dos carboidratos, esse hormônio exerce AN02FREV001/REV 4.0 108 efeito muito potente sobre o crescimento. Na verdade, sua falta, em um animal, produz retardo do crescimento na mesma intensidade em que ocorre com falta do hormônio do crescimento da hipófise anterior. Quando o teor da glicose sanguínea fica elevado, o pâncreas começa a secretar insulina dentro de poucos minutos. Isso é causado por efeito direto da glicose sobre as células beta das ilhotas pancreáticas, fazendo com que secretem quantidades muito acentuadas de insulina. Essa insulina, por sua vez, faz com que a glicose em excesso seja transportada para o interior das células, onde poderá ser usada para energia, armazenada como glicogênio ou convertida em gordura. Assim, o mecanismo da insulina é um modo de feedback para o controle da concentração da glicose no sangue e nos líquidos extracelulares. Isto é, um teor muito elevado de glicose provoca a secreção de insulina, que ocasiona maior utilização da glicose e retorno de suas concentrações aos valores normais. De modo inverso, quando o valor sanguíneo da glicose fica muito baixo, ocorre redução da secreção de insulina e a glicose passa a ser conservada nos líquidos orgânicos, até que sua concentração volte ao normal. O hormônio glucagon também participa no controle da concentração sanguínea da glicose. 27 EFEITOS DO GLUCAGON NO ORGANISMO As células alfa das ilhotas de Langerhans secretam um hormônio chamadoglucagon. Muitas das funções do glucagon são opostas às da insulina, embora outras complementem suas ações. O glucagon aumenta o teor sanguíneo de glicose; a insulina o diminui. Por outro lado, tanto a insulina quanto o glucagon aumentam a disponibilidade de glicose para a utilização celular. O glucagon realiza isso por mobilizar a glicose do fígado; a insulina o faz por aumentar o transporte de glicose para o interior da célula. Por exemplo, durante o exercício intenso, os dois hormônios atuam em conjunto, para que ocorra maior utilização de glicose pelos músculos. O glucagon aumenta a concentração sanguínea de glicose por dois mecanismos. Primeiro, aumenta a degradação do AN02FREV001/REV 4.0 109 glicogênio hepático em glicose, tornando-a disponível para ser transportada para o sangue. O glucagon exerce esse efeito pela ativação da enzima adenilciclase nas membranas das células hepáticas, o que aumenta o teor de AMP cíclico nas células hepáticas. Esse AMP cíclico, então, ativa a enzima fosforilase, que promove a glicogenólise (degradação do glicogênio hepático em glicose). Segundo, o glucagon, aumenta a glicogênese (conversão de proteína em glicose) pelo fígado. Exerce esse efeito, em sua maior parte, pela ativação do sistema enzimático das células hepáticas responsáveis por esse processo. A concentração sanguínea da glicose pode aumentar de até 20% dentro de alguns minutos após a injeção do glucagon. A secreção de glucagon é controlada de modo quase exatamente oposto ao da insulina. Isto é, quando a concentração sanguínea de glicose cai abaixo do normal, o pâncreas começa a secretar maiores quantidades de glucagon para o sangue. Em verdade quando a secreção sanguínea de glicose cai até 60 mg por 100 ml de sangue (mais ou menos 30% abaixo do normal), o pâncreas, em termos literais, joga glucagon para o sangue. Esse efeito do baixo teor de glicose sobre a secreção de glucagon provoca a liberação quase imediata de glicose pelo fígado, o que, de forma muito rápida, aumenta de novo o teor de sangue até voltar ao normal, de 90 mg por 100 ml. Desse modo, o mecanismo do glucagon, como o mecanismo da insulina, participa da regulação da concentração sanguínea de glicose, mas com uma diferença: o mecanismo do glucagon é especialmente ativado durante o exercício intenso e os períodos de destruição, pois ambos agem no sentido de baixar a glicose sanguínea. Uma função especialmente importante do glucagon é a de manter a concentração de glicose alta o suficiente para o funcionamento normal dos neurônios cerebrais e, portanto, para impedir as convulsões e o coma hiperglicêmico. AN02FREV001/REV 4.0 110 28 EFEITOS FISIOPATOLÓGICOS DO DIABETES MELLITUS A anormalidade primária do diabetes é a incapacidade de utilizar quantidades adequadas de glicose para energia, empregando pelo contrário quantidades excessivas de gorduras. Isso faz com que o teor sanguíneo da glicose fique muito aumentado, por vezes chegando até o triplo do normal e em raros casos até dez vezes o valor normal. Grandes quantidades de glicose são perdidas na urina, visto que os túbulos renais não conseguem reabsorver toda a glicose que chega ao filtrado glomerular por minuto. A glicose tubular em excesso também provoca pressão osmótica extremamente aumentada nos túbulos, o que reduz a absorção de água. Como resultado a pessoa diabética perde grandes quantidades de glicose e água na urina. Em casos extremos o volume excessivo de urina pode causar a desidratação extracelular, o que, por si só pode ser lesivo. A incapacidade da pessoa diabética em utilizar a glicose para energia priva- a de parte importante de energia de seu alimento. Ela torna-se uma pessoa enfraquecida devido ao consumo aumentado de gorduras e proteínas. Como resultado da deficiência nutricional do diabetes, o indivíduo diabético sente habitualmente muita fome, de modo que come, na maioria das vezes com grande voracidade, muito embora a fração de carboidratos do que ingere pouco contribua para a nutrição. O diabetes prolongado causa o desenvolvimento precoce da aterosclerose, o que, subsequentemente, pode provocar ataques cardíacos, lesões renais, acidentes vasculares cerebrais e outros distúrbios circulatórios. A razão para esse desenvolvimento da aterosclerose é que, mesmo com o melhor tratamento do diabetes, o metabolismo da glicose nunca pode ser mantido em nível suficientemente alto para impedir o metabolismo excessivo das gorduras e o depósito do colesterol nas paredes dos vasos sanguíneos é sempre um acompanhamento indesejável do metabolismo rápido das gorduras. AN02FREV001/REV 4.0 111 Devido a isso, a pessoa que apresenta diabetes em fase muito jovem de sua vida tem, em geral, sobrevida reduzida, não importando quão bem seja tratado. O hiperinsulinismo pode ocorrer, na maioria das vezes, como resultado do tratamento exagerado de pessoa diabética com insulina ou de secreção muito aumentada de insulina por tumor de ilhota pancreática. Nos dois casos, a consequência é uma concentração sanguínea muito baixa de glicose. Por sua vez, isso causa, inicialmente, hiperexcitabilidade cerebral, e depois coma. Os neurônios cerebrais exigem um suprimento constante de glicose por não poderem utilizar quantidades significativas de gorduras ou de proteínas para a energia. Ainda mais, a intensidade da captação de glicose pelos neurônios, diferentemente do que acontece com as outras células, é dependente, em sua maior parte, da concentração sanguínea de glicose, e não no teor disponível de insulina. Sempre que há excesso de insulina, a glicose sanguínea fica muito diminuída e os neurônios não recebem mais a quantidade de glicose necessária ao seu metabolismo. Isso faz com que fiquem primeiro, muito excitados, e, em seguida, deprimidos. Na fase de excitação podem ocorrer convulsões, mas na fase de depressão, a pessoa entra em coma, muito semelhante a que ocorre no diabetes não tratado. Na verdade, por vezes, é muito difícil o diagnóstico da causa do coma em um diabético. Pode ser o resultado da secreção insuficiente de insulina, como acontece no coma diabético, ou do tratamento com insulina em demasia, quando a causa do coma passa a ser hiperinsulinismo. 29 CETOSE E COMA DIABÉTICO O metabolismo extraordinariamente rápido das gorduras no diabetes pode, por vezes, aumentar a quantidade de cetoácidos nos líquidos extracelulares até cerca de 10 mEq/litro, o que é 10 vezes maior que o normal. Em certas situações isso é suficiente para fazer com que o pH dos líquidos orgânicos caia de seu valor normal de 7,4 para tão baixo quanto 7,0, ou – em condições muito raras – até de 6,9. Esse grau de acidose é incompatível com a vida por mais de algumas horas. AN02FREV001/REV 4.0 112 A pessoa nesta situação respira extremamente rápido e profundo, para eliminação do gás carbônico, o que ajuda a compensar a acidose metabólica, mas apesar disso, a acidose, muitas vezes chega a uma intensidade suficiente para causar coma. A não ser que seja tratada, a pessoa, na grande maioria dos casos, morre em 24 horas. O tratamento consiste na pronta administração de insulina em grandes doses. Algumas vezes é administrada glicose juntamente com a insulina, para favorecer a troca do metabolismo das gorduras pelo dos carboidratos; a administração venosa de soluções alcalinas também pode ser muito benéfica na neutralização da acidose. 30 TIPOS DE DIABETES 30.1 DIABETES TIPO 1 O Diabetes Tipo 1 ocorre quando o organismo humano deixa de produzir insulina ou produz em pequena quantidade devido à destruição das células beta do pâncreas; essa destruição se dá porque o organismo começa a produzir anticorpos, interpretando as células beta como corpos estranhos. Segundo o Ministério da Saúde (2006), a destruiçãodas células beta do pâncreas é causada geralmente por processo autoimune, que pode ser detectado por autoanticorpos circulantes antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD), anti-ilhotas e anti-insulina, e em algumas situações pode estar associado a doenças autoimunes como, por exemplo, a Tireoidite de Hashimoto, doença de Addison e a miastenia gravis, sendo que em menor proporção as causas da destruição das células beta são desconhecidas. Segundo Brunner & Suddarth (1998), a Diabetes tipo 1 é caracterizada pela incapacidade em produzir insulina porque as células betapancreáticas foram destruídas por um processo autoimune. A hiperglicemia de jejum ocorre como resultado de uma produção não controlada de glicose pelo fígado. Além disso, a glicose derivada dos alimentos não pode ser estocada no fígado, mas permanece na corrente sanguínea e contribui para a glicemia pós-prandial (após refeições). AN02FREV001/REV 4.0 113 Ocorre degradação de gordura, resultando em um aumento de produção dos corpos cetônicos, que são subprodutos da degradação de gorduras. Os corpos cetônicos são ácidos que perturbam o equilíbrio acidobásico do corpo quando se acumulam em quantidades excessivas. A resultante Cetoacidose Diabética (CAD) pode causar sintomas tais como dor abdominal, náuseas, vômitos, hiperventilação, odor de frutas no hálito e, se não tratada, nível alterado de consciência, coma e morte. O início do tratamento com insulina, juntamente com líquidos e eletrólitos necessários, melhora rapidamente as anomalias metabólicas e resolve os sintomas de hiperglicemia e CAD, juntamente a isso é importante dieta, exercícios frequentes e a monitorização dos níveis de glicose. As causas do Diabetes Tipo 1 ainda são desconhecidas, algumas pesquisas identificaram a presença de um gene que poderiam predispor a pessoa à doença. Entretanto, em algumas pessoas portadoras do Diabetes Tipo 1 este mesmo gene não foi encontrado; estuda-se ainda a possibilidade de ser uma causa própria do organismo ou causa externa. A maioria das pessoas acometidas por este tipo de Diabetes possui menos de 35 anos de idade. Esses pacientes necessitam receber insulina continuamente para auxiliar o metabolismo dos açucares no organismo, permitindo a formação de energia. Sintomas identificados neste no Diabetes Tipo 1: Vontade de urinar diversas vezes; Fome frequente; Sede constante; Perda de Peso; Fraqueza; Fadiga; Nervosismo; Mudanças de Humor; Náuseas; Vômitos. AN02FREV001/REV 4.0 114 30.2 DIABETES TIPO 2 No Diabetes Tipo 2 existe a produção contínua da insulina pelo pâncreas, o problema reside na incapacidade de absorção das células musculares e adiposas, que por alguma razão não conseguem metabolizar a glicose suficiente da corrente sanguínea, esta anomalia denomina-se de Resistência Insulínica. Segundo Brunner & Suddarth (1998), no Diabetes Tipo II existem dois problemas principais relacionados à insulina: resistência à insulina e secreção prejudicada de insulina. A resistência à insulina refere-se a uma sensibilidade diminuída dos tecidos a ela, que se torna menos efetiva na estimulação da captação de glicose pelos tecidos. Na secreção prejudicada de insulina, que é característica do Diabetes tipo 2, há suficiente insulina presente para evitar a degradação de gorduras e subsequente produção de corpos cetônicos. Portanto, a CAD não ocorre no Diabetes Tipo 2, porém, um diabetes tipo 2 alterado e descontrolado pode levar a outro problema agudo chamado hiperglicemia hiperosmolar não cetótica. O Ministério da Saúde (2006) define o Diabetes Tipo 2 como um termo usado para designar uma deficiência relativa de insulina. A administração de insulina nesses casos, quando efetuada, não visa evitar cetoacidose, mas alcançar controle do quadro hiperglicêmico. A cetoacidose é rara e, quando presente, é acompanhada de infecção ou estresse muito grave. O Diabetes Tipo 2 está mais associado ao fator hereditário do que o Diabetes Tipo 1, e existe uma grande relação entre o sedentarismo e a obesidade e o aparecimento da doença. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, 60 a 90% de pacientes com Diabetes Tipo 2 são obesos. Ocorre mais frequentemente nas pessoas acima de 40 anos de idade. O tratamento dos pacientes com Diabetes Tipo 2 é a ingestão de antiglicêmicos por via oral e posteriormente nos casos necessários à associação destes com a insulina. Sintomas Diabetes Tipo 2: Infecções Frequentes; AN02FREV001/REV 4.0 115 Alteração Visual (Visão Embaçada); Dificuldade na cicatrização de feridas; Formigamento nos pés; Furunculose. 30.3 DIABETES NA GRAVIDEZ A mulher pode passar por duas situações diferentes etiologicamente referentes à diabetes durante o período da gestação. Uma mulher pode ser diabética e engravidar, ou adquirir durante o período gestacional o chamado Diabetes Gestacional. As mulheres que têm diabetes diagnosticadas antes da gestação devem ser aconselhadas quanto ao tratamento da doença durante a gestação. Um controle precário do diabetes (hiperglicemia) na concepção tem sido associado à ocorrência de malformações congênitas. Por este motivo, as mulheres com diabetes devem ter um excelente controle deste distúrbio antes da concepção e durante a gravidez. A Sociedade Brasileira de Diabetes instrui que todas as mulheres diabéticas devem seguir com rigor o controle sobre os níveis glicêmicos, principalmente pensando que um dia poderão engravidar, evitando assim ao máximo as complicações da hiperglicemia na gestação. Sendo este controle contínuo, antes e durante a gravidez, já que o controle glicêmico rigoroso durante a gestação diminui a probabilidade de a criança nascer diabética. Diante disso, a programação da gravidez seria o melhor caminho para a mulher diabética, uma vez que ao decidir por engravidar, preventivamente já inicia um acompanhamento sobre as complicações já existentes e possíveis repercussões durante a gravidez. Uma gravidez não planejada não é motivo de desespero, mas sim de acompanhamento e controles rigorosos com a ajuda dos profissionais de saúde. O Diabetes Gestacional é a alteração nos níveis de glicose durante o período da gestação, podendo ou não persistir após o parto. É a hiperglicemia diagnosticada na gravidez, de intensidade variada, geralmente se resolvendo no AN02FREV001/REV 4.0 116 período pós-parto, mas retornando anos depois em grande parte dos casos. Seu diagnóstico é controverso. A OMS recomenda detectá-lo com os mesmos procedimentos diagnósticos empregados fora da gravidez, considerando como diabetes gestacional valores referidos fora da gravidez como indicativos de diabetes ou de tolerância à glicose diminuída (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). O diabetes gestacional ocorre em mulheres que não tinham diabetes antes da gestação. Desenvolve-se hiperglicemia durante a gestação devido à secreção de hormônios placentários. Todas as mulheres grávidas devem ser triadas quanto ao diabetes antes da 24º e 27º semanas gestantes. O tratamento inicial inclui modificações dietéticas e monitoramento de glicose. Caso a hiperglicemia persista é prescrito insulina. Os agentes hipoglicemiantes não devem ser usados durante a gestação (BRUNNER & SUDDARTH, 1998). Após o parto da criança, os níveis de glicose sanguínea na mulher com diabetes gestacional retornam ao normal. Entretanto, muitas que tiveram diabetes gestacional desenvolvem diabetes tipo 2 na vida adulta. Assim, todas as mulheres que tiveram diabetes gestacional devem ser aconselhadas a manter seu peso corpóreo ideal e a se exercitarem regularmente para tentar evitar o início do diabetes tipo II. 30.4 OUTROS TIPOS DE DIABETES Existem outras formas de Diabetes que ocorrem com menor frequência, são elas: 1. DiabetesSecundário ao Aumento da Função das Glândulas Endócrinas: algumas doenças glandulares, devido ao aumento da função, podem prejudicar a ação da insulina e em pessoas predispostas aparecer o diabetes. Algumas das doenças são: hipertireoidismo, doença de Cushing, acromegalia ou gigantismo, feocromocitoma, glucagonoma. 2. Diabetes Secundário a Doenças Pancreáticas: o diabetes pode ocorrer em decorrência de alguma doença pancreática, geralmente em pessoas possuidoras da doença e com predisposição ao diabetes tipo II, são elas: AN02FREV001/REV 4.0 117 retirada cirúrgica do pâncreas de até 75%, pancreatite crônica e destruição pancreática por hemocromatose (acúmulo de ferro no fígado). 3. Resistência Congênita ou Adquirida à Insulina: a ação da insulina é ineficiente devido a defeitos nos encaixes da insulina nos tecidos (receptores de insulina) e formação antirreceptores. 4. Diabetes associado à Poliendocrinopatias Autoimunes: nesses casos existem anticorpos de células das ilhotas pancreáticas. 5. Diabetes associado à Desnutrição e Fibrocalculoso: é devido à baixa ingestão proteica e consumo de alimentos com cianeto que, em conjunto, causam destruição das células pancreáticas e consequente diminuição da produção de insulina. 6. Diabetes relacionada à anormalidade de insulina (insulinopatias): nestes casos há produção de insulina, entretanto, sua estrutura está alterada e com isso sua ação é ineficiente, o tratamento é feito com a insulinoterapia. 7. Diabetes Tipo LADA (Latent Autoimmune Diabetes in Adults): conceitua-se como o surgimento tardio do Diabetes Tipo 2, sendo que a maior incidência está na faixa dos pacientes entre 35 e 60 anos, magros e com cetoacidose. Também é denominado como Diabetes 1.5 e costuma ser confundido com o Diabetes Tipo 2. 31 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA A presença de níveis elevados de glicose no sangue é o principal critério para o diagnóstico do diabetes. Entretanto, pode-se dizer que o diagnóstico do diabetes é feito por meio da investigação clínica de sinais e sintomas e juntamente a esses, por meio da verificação por exames laboratoriais. Os principais sintomas de Diabetes são os denominados “4 Ps”: Poliúria: corresponde ao aumento do volume urinário (acima de 2.500 ml/24 horas) podendo ou não ser acompanhado de aumento na frequência urinária; Polidipsia: sede excessiva; AN02FREV001/REV 4.0 118 Polifagia: ou hiperfagia corresponde à fome excessiva e aumento exagerado da ingestão de alimentos sólidos; Perda involuntária de peso. Outros sintomas que podem ser indicativos do diabetes são: fadiga, fraqueza, letargia, prurido cutâneo e vulvar, balanopostite (uma inflamação conjunta da glande e do prepúcio) e infecções de repetição. Quando a doença já causou complicações maiores pode ser diagnosticada por meio da retinopatia, neuropatia ou doença cardiovascular aterosclerótica. Vale ressaltar que existem casos de pacientes com Diabetes tipo II que são assintomáticos, dessa forma o não aparecimento de sinais e sintomas não deve em nenhum momento ser critério de exclusão ao diagnóstico da doença, em todos os casos os fatores de risco devem ser avaliados em conjunto com os exames laboratoriais. Os principais exames laboratoriais que são utilizados na investigação diagnóstica do Diabetes são: Glicemia de Jejum: a glicemia de jejum é realizada pela análise da quantidade de glicose presente no sangue venoso após 8 a 12 horas de jejum. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes e Associação Americana de Diabetes (2005), quando o resultado da glicemia de jejum estiver entre 70 a 99 mg/dl e 140 mg/dl após a sobrecarga de glicose, o exame é considerado normal; já nos casos em que o resultado do exame estiver entre 100 a 125 mg/dl o paciente é portador de uma glicemia inapropriada e é necessária a realização do TTG; nos resultados iguais ou acima de 126 mg/dl em dois exames consecutivos já existe o diagnóstico do diabetes e valores acima de 200 mg/dl em qualquer hora do dia o paciente também é diagnosticado com diabetes. Resumidamente: - Exame Normal: 70 a 99 mg/dl. - Intolerância à Glicose: 100 a 125 mg/dl. - Diabetes: iguais ou superiores a 126 mg/dl em jejum ou 200 mg/dl em qualquer horário do dia. AN02FREV001/REV 4.0 119 Teste Oral de Tolerância a Glicose (TTG-75g): este exame consiste na administração por via oral pelo paciente em 75 g de glicose diluída em água em laboratório, após duas horas da ingestão pelo paciente é realizada a coleta do sangue venoso e feita a análise dos níveis de glicose no sangue. O resultado igual ou superior a 200 mg/dl indica o diagnóstico de diabetes enquanto que se o resultado for entre os valores de 140 a 199 mg/dl o diagnóstico é de pré-diabetes e/ou intolerância à glicose. Segundo o Ministério da Saúde (2006), pessoas cuja glicemia de jejum situa- se entre 110 e 125 mg/dL (glicemia de jejum alterada), por apresentarem alta probabilidade de ter diabetes, podem requerer avaliação por TTG-75g em 2h. Mesmo quando a glicemia de jejum for normal (< 110 mg/dL), pacientes com alto risco para diabetes ou doença cardiovascular podem merecer avaliação por TTG. 32 FATORES DE RISCO No diabetes tipo I acredita-se que uma combinação de fatores genéticos, imunológicos e possivelmente ambientais (por exemplo, virais) contribua para a destruição das células beta. As pessoas não herdam o diabetes tipo 1 em si. O que elas herdam é uma predisposição genética, ou tendências para desenvolver este tipo de diabetes. Neste tipo de diabetes há a evidência de uma resposta autoimune, ou seja, uma resposta anormal na qual os anticorpos são dirigidos contra os tecidos normais do corpo, respondendo a esses tecidos como se eles fossem exógenos. Algumas pesquisas demonstram que alguns vírus ou toxinas podem estar relacionados à existência do diabetes tipo 1, sendo que estes vírus ou toxinas são vistos supostamente como precipitantes do processo autoimune, que leva à destruição das células beta. Os mecanismos que levam à resistência à insulina e a sua secreção prejudicada no Diabetes tipo 2 é desconhecido. Os fatores genéticos são AN02FREV001/REV 4.0 120 considerados como tendo certo papel no desenvolvimento da resistência à insulina. Além disso, existem alguns fatores de risco que são conhecidos como estando associados ao desenvolvimento de Diabetes tipo 2, são eles: Idade maior de 45 anos; Obesidade (inclusive a obesidade infantil): índice de massa corporal igual ou acima de 25; Obesidade Central: cintura abdominal maior que 102 cm para homens e maiores que 88 cm para mulheres; História familiar: antecedentes familiares (pai ou mãe com diabetes); Hipertensão: 140/90 mmHg; Nível alto de colesterol e triglicerídeos: colesterol HDL de 35 mg/dl e/ou triglicerídeos 150 mg/dl História de macrossomia ou diabetes gestacional; Diagnóstico prévio de síndrome dos ovários policísticos; Doença cardiovascular, cerebrovascular ou vascular periférica definida; Estresse emocional; Sedentarismo; Mulheres que geram filhos com mais de 4 Kg; Uso frequente de medicamentos como corticosteroides e/ou diuréticos. 33 TRATAMENTO O tratamento do Diabetes é definido primeiramente a partir de sua etiologia, ou seja, dependendo do tipo de Diabetes que o paciente possui como também a causa, quando identificada. Em todos os casos, ao ser diagnosticado um paciente com diabetes todas as metas devem ser no sentido de manter a glicose sanguínea em níveis aceitáveis e prevenir as complicações que esta patologia pode causar. Dessa forma, é importante que o profissional de enfermagem possua embasamento sobre as mudanças no estilo de vida do paciente, como forma de prevenir as intercorrências e sequelas que o Diabetes poderá ocasionar. Namaioria AN02FREV001/REV 4.0 121 das vezes há indicação dos medicamentos por via oral ou a insulinoterapia, que em conjunto a hábitos de vida saudáveis leva a uma considerável redução dos níveis de complicações. O tratamento para diabetes tem forte influência sobre a qualidade de vida. O controle dos sintomas causado pela hiperglicemia impõe restrições ao paciente, envolvendo uma rotina prescrita para reeducação alimentar, atividade física, medicação e automonitoramento do sangue (Garrat et al., 2002). Além disso, quase sempre está acompanhada ao longo da vida por outras doenças crônicas, possuindo prognósticos incertos e que, apesar de contínuos tratamentos, podem causar sintomas e complicações agudas. Nos casos dos pacientes diagnosticados como pré-diabéticos, são essenciais as mudanças no estilo de vida, como caminho para que o paciente não venha a ser um futuro diabético. Alguns estudos demonstram que o acompanhamento do paciente pré-diabético e a educação continuada na mudança do estilo de vida diminui as chances do paciente ser diabético. É importante ter em mente que existe uma diferença entre o tratamento aplicado ao paciente com Diabetes Tipo 1 e Diabetes Tipo 2, mais no aspecto medicamentoso, já que as mudanças no estilo de vida dos pacientes equivale a todos os tipos de Diabetes. Os principais objetivos do tratamento do paciente com Diabetes Tipo 1 são: - promover o controle metabólico; - permitir desenvolvimento e crescimento adequado (geralmente por ser diagnosticado em pessoas jovens ou crianças); - promover o bem-estar físico e psíquico do paciente; - evitar as complicações crônicas. O tratamento da Diabetes Tipo 1 consiste: - terapia nutricional; - atividade física; - insulinoterapia. Os principais objetivos no tratamento do paciente com Diabetes Tipo 2 são: - controle metabólico; - manutenção da qualidade de vida; AN02FREV001/REV 4.0 122 - não desenvolver complicações. O tratamento do Diabetes tipo 2 consiste: - terapia nutricional; - atividades físicas; - antidiabéticos orais; - insulinoterapia (quando necessário); - manutenção de uma pressão arterial estável; - redução da dislipidemia. Diante disso abordaremos o tratamento farmacológico e não farmacológico para estudo, sendo que um não exclui o outro, e será competência do profissional médico realizar a orientação frente aos fármacos administrados e a necessidade da utilização da insulinoterapia para cada paciente diante do diagnóstico. Tratamento não farmacológico: consiste em ações e mudanças no estilo de vida do paciente e inclui: 1. Terapia nutricional adequada: a dieta e o controle de peso constituem- se na base do tratamento do paciente diabético. O tratamento do paciente diabético visa às seguintes metas: fornecimento de todos os alimentos essenciais, atingir e manter um peso razoável, atender as necessidades energéticas, evitar grandes flutuações diárias nos níveis de glicose sanguínea, mantendo os níveis os mais próximos do normal e diminuir os níveis de lipídios no sangue. Segundo o Ministério da Saúde (2006), as principais instruções na terapia nutricional do paciente diabético são: A quantidade energética ingerida deve ser adequada à atividade física e ser fracionada em cinco a seis refeições/lanches diários; A ingestão diária deve conter de 50 a 60% de carboidratos, a maior parte em forma complexa. Para tanto, os pacientes devem ser AN02FREV001/REV 4.0 123 encorajados a comer alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras, legumes, feijões e cereais integrais; A ingestão diária deve conter no máximo 30% de gorduras, sendo não mais de um terço sob a forma de ácidos graxos saturados; não exceder a 300 mg/dia de colesterol; Alimentos que contêm sacarose (açúcar comum) devem ser evitados para prevenir oscilações acentuadas da glicemia. Quando consumidos, o limite é de 20 a 30g por dia de açúcar de forma fracionada e substituindo outro carboidrato para evitar o aumento calórico. A recomendação não é encorajá-los a comer doces, mas, auxiliá-los a, quando usar esses alimentos, fazê-lo de modo que não os prejudique; A ingestão de álcool, quando consumido, deve ser moderada e de preferência com as refeições. O limite diário é de uma a duas doses, isto é, 10-20g de álcool/dia. Um copo (90 ml) de vinho contém 1,1 doses, uma lata de cerveja (350 ml) 1,7 doses, e uma dose (35 ml) de destilados 2 doses de álcool. Pacientes com hipertrigliceridemia ou mau controle metabólico não devem ingerir bebidas alcoólicas; O uso moderado de adoçantes não calóricos (ciclamato, sucralose, sacarina, aspartame, acesulfame, e stévia) é seguro quando consumido em quantidades adequadas. Os alimentos dietéticos podem ser recomendados, mas, é preciso ficar atento sobre seu conteúdo calórico e de nutrientes. Alimentos diet são isentos de sacarose, quando destinados a indivíduos diabéticos, mas, podem ter valor calórico elevado, por seu teor de gorduras ou outros componentes. Alimentos light são de valor calórico reduzido em relação aos alimentos convencionais. Os refrigerantes e as gelatinas dietéticas têm valor calórico próximo de zero e podem ser consumidos. Por outro lado, chocolate, sorvete, alimentos com glúten (pão, macarrão, biscoitos), mesmo quando diet, são calóricos e seu uso não deve ser encorajado. Adoçantes calóricos como a frutose (p. ex., o mel), devem ser usados com restrição, respeitando as limitações indicadas na orientação dietética. AN02FREV001/REV 4.0 124 Mesmo diante destas orientações gerais para o paciente diabético é importante que cada paciente seja assistido individualmente e, neste contexto, o profissional que melhor irá trabalhar e orientar a dieta é o nutricionista, já que além da avaliação nutricional realiza inquérito com o paciente e estipula uma dieta de acordo com as necessidades nutricionais e econômicas do mesmo. Cabe à enfermagem estimular o paciente diabético a seguir adequadamente a dieta prescrita pelo nutricionista, bem como verificar as dúvidas do paciente frente à alimentação. O cuidado também deve estar voltado para o controle do peso corporal, isto tanto na população saudável, como nos pacientes já diabéticos, desta forma torna-se necessário o acompanhamento regular do peso do paciente e altura para mensuração da IMC. 2. Exercícios Físicos: os exercícios são extremamente importantes no tratamento do paciente diabético devido aos seus efeitos na diminuição da glicose sanguínea e na redução dos fatores de risco cardiovasculares. Eles diminuem a glicose sanguínea, aumentando a captação de glicose pelos músculos do corpo e melhorando o uso da insulina, a circulação e o tônus muscular. Os exercícios de resistência podem aumentar a massa muscular magra, elevando, portanto, a taxa metabólica de repouso. Estes efeitos são úteis no diabetes em relação à perda de peso, diminuição do estresse e manutenção de uma sensação de bem-estar. Os exercícios também alteram os lipídios do sangue e diminuem os índices de colesterol total e triglicerídeos. Segundo o Ministério da Saúde (2006), as principais orientações no desenvolvimento de atividades físicas no paciente diabético são: O exercício deve ser iniciado de forma gradual, como caminhadas por cinco a 10 minutos em terreno plano, aumentando semanalmente até alcançar 30 a 60 minutos diários, cinco a sete dias por semana. Nesse processo, qualquer aumento de atividade física deve ser valorizado como um ganho de saúde e não como uma meta final não alcançada; Os calçados devem ser confortáveis, evitando bolhas e calosidades; AN02FREV001/REV 4.0 125 A intensidade de atividade física deve ser aumentada progressivamente, tendo como objetivo atingir intensidade moderada (60 e 80% da frequência cardíaca máxima). Na prática,a mudança progressiva da intensidade pode ser orientada pelo teste da fala da seguinte maneira: a intensidade é leve quando ainda é possível cantar, moderada quando ainda é possível conversar confortavelmente, e intensa quando a pessoa fica ofegante, limitando a conversação; Indivíduos com perda significativa de sensibilidade nos pés devem evitar caminhar em esteiras ou ao ar livre, correr, etc. Nesses casos, os exercícios mais recomendados são natação, ciclismo, remo e exercícios realizados na posição sentada. Casos com retinopatia proliferativa não tratada ou tratada recentemente devem evitar exercícios que aumentam a pressão intra- abdominal, que têm efeito semelhante à manobra de Valsalva, que englobam movimentos rápidos da cabeça ou que envolvem risco de traumatismo ocular; Antes de iniciar um exercício vigoroso é necessário afastar complicações como retinopatia proliferativa, neuropatia autonômica e doença cardíaca importante. Indivíduos com risco cardiovascular >10% em 10 anos ou com sintomas de neuropatia autonômica que desejam praticar exercício vigoroso, se eram anteriormente sedentários, devem ser encaminhados ao cardiologista para orientação; As atividades ao gosto do paciente, como caminhar e dançar, devem ser incentivadas, especialmente quando programas estruturados não estão disponíveis; Evitar aplicar insulina em local que será muito exercitado (p. ex., quando faz trabalho de fortalecimento de quadríceps, caminhada e corrida evitar aplicação na perna, fazendo-a no abdômen), pois pode afetar sua velocidade de absorção; Se possível, realizar controle metabólico (glicemia capilar) antes da atividade. Postergar o início do exercício com glicemia > 250 mg/dL no tipo 1; Ingerir um alimento contendo carboidrato se a glicemia for inferior a 100 mg/dL; Ingerir carboidratos de fácil digestão antes, durante e depois de exercício prolongado; AN02FREV001/REV 4.0 126 Diminuir a dose de insulina ou aumentar a ingesta de carboidrato (para cada 30 minutos de exercício, 10 a 15g) quando for praticar exercício; Evitar exercitar-se no pico de ação da insulina; Evitar exercícios de intensidade elevada e de longa duração (mais que 60 minutos); Carregar consigo um alimento contendo carboidrato para ser usado em eventual hipoglicemia; Estar alerta para sintomas de hipoglicemia durante e após o exercício. 3. Tratamento Farmacológico: consiste na administração de hipoglicemiantes por via oral e/ou uso da insulinoterapia, conforme avaliação e prescrição médica. O paciente é avaliado rotineiramente para detectar os sinais de ação eficiente ou não dos medicamentos utilizados. Os principais medicamentos orais utilizados no tratamento do paciente com diabetes tipo 2 são a Metformina e as Sulfonureias (Glibenclamida e Glicazida). A Metformina é um medicamento de escolha para a maioria dos pacientes diabéticos tipo 2, pois está associada a um menor número de complicações vasculares, não contribui para o aumento de peso e possui menor probabilidade de levar à hipoglicemia, entretanto, seu uso isolado nem sempre produz níveis de glicose controlados, necessitando por meio da avaliação médica a combinação com uma sulfonureia. As contraindicações no uso da Metformina são: - Diabetes tipo 1; - Insuficiência Renal; - Gravidez; - Doenças hepáticas; - Insuficiência cardíaca. As contraindicações no uso das Sulfonureias são: - Diabetes tipo 1; - Gravidez; - Grandes cirurgias; - Infecções severas; AN02FREV001/REV 4.0 127 - Estresse ou trauma; - Predisposição à hipoglicemia severa; - Diminuição da função hepática ou renal; - Acidose ou estado pré-acidótico. 4. Insulinoterapia: constitui-se no uso da insulina para o tratamento do paciente diabético e é uma das escolhas médicas conforme o diagnóstico, etiologia e controle da doença. As principais indicações e uso clínico são: no Diabetes Tipo 1, no Diabetes Tipo 2 sem controle, Diabetes Gestacional e no Tratamento da Cetoacidose Diabética. Diante dos diversos tipos de insulina que existem no mercado, atualmente, será mencionada pela classificação de ação os nomes e propriedades de cada tipo de insulina que pode ser prescrita ao paciente. A prescrição é de responsabilidade do médico, entretanto, cabe à enfermagem ter conhecimento frente à ação da insulina e aplicação, uma vez que está em contato direto com o paciente e desenvolve tais técnicas. Quanto à origem das insulinas elas podem ser classificadas como: Animal, suínas (obtidas do pâncreas do porco, bovinas - do pâncreas do gado - e mistas obtidas do pâncreas do porco e do gado) e humanas, obtidas por intermédio da recombinação do DNA. A insulina pode ser classificada como: Ultrarrápida, Rápida, Intermediária e Lenta, conforme o tempo de início da ação no organismo do paciente. A insulina ultrarrápida - LISPRO possui o início da ação cinco a 15 minutos após a injeção subcutânea, seu pico de ação se faz em uma hora após a aplicação e sua duração total é de três horas; as vias utilizadas para administração são subcutânea, intramuscular ou endovenosa, sendo as últimas na maioria das vezes indicada nos casos de Cetoacidose Diabética. A Insulina Rápida – REGULAR também conhecida como Insulina Cristalina possui seu início de ação 30 a 60 minutos após a administração, seu pico de ação ocorre em duas ou quatro horas após a injeção e a duração total gira em torno de seis a oito horas. Pode ser administrada por via endovenosa, intramuscular ou subcutânea, sendo que seu pico máximo de ação na administração endovenosa ocorre em 30 minutos após a aplicação. AN02FREV001/REV 4.0 128 Por possuir um PH neutro a Insulina Rápida – REGULAR tem maior estabilidade em temperatura ambiente (cerca de duas a três semanas). Constitui-se em uma das insulinas de escolha no diabetes descompensado em associação com situações como infecções, choques, trauma cirúrgico e cetoacidose (via endovenosa); pode ser prescrita endovenosa por bomba de infusão nas terapêuticas de tratamento intensivo do diabetes mellitus. A Insulina de ação Intermediária – NPH (Neutral Protamine Hagedorn Insulin) possui uma ação mais lenta que as demais citadas anteriormente, pois é conjugada à protamina – que retarda a absorção da insulina pelo tecido subcutâneo. O início de sua ação ocorre uma a duas horas após a aplicação, tendo pico máximo de ação oito a 12 horas e duração total de 22 a 28 horas. É usada geralmente em combinação com a insulina lispro ou de ação regular. Não é indicada em situações de emergência e sua via de administração é subcutânea. A Insulina de Ação Lenta possui o início de ação em um a três horas após a aplicação, seu pico máximo de oito a 12 horas e duração de 20 a 24 horas; resulta da combinação de 70% de insulina ultralenta e 30% de insulina semilenta. A insulina de ação prolongada (Glargina, Detemir) possui ação após duas a quatro horas da administração e duração de 18 a 24 horas. No tratamento do paciente com insulina alguns fatores podem interferir a absorção da insulina como, por exemplo: local de administração, fluxo sanguíneo alterado por massagens ou banhos quentes, volume e concentração da insulina injetada e presença de anticorpos anti-insulina circulantes. 33.1 CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE DA INSULINA O uso da insulina como tratamento no paciente diabético inclui a educação deste e/ou dos familiares sobre o correto armazenamento e aplicação da terapia, já que na maioria das vezes este medicamento é utilizado diariamente pelo paciente em casa. Assim, é importante que o técnico de enfermagem, em conjunto com a equipe de saúde, realize um acompanhamento sobre a eficiência do tratamento em AN02FREV001/REV 4.0 129 domicílio, bem como a orientação continuada sobre a administração da insulina pelo paciente. A insulinaé um hormônio, e como tal é necessário que seja armazenada e conservada de forma adequada para que não perca suas propriedades farmacológicas. Dessa forma, alguns princípios para a conservação da insulina devem ser seguidos, são eles: - os frascos de insulina não devem ser congelados e nem mantidos em temperatura inferior a 2º C; - devido à degradação que pode sofrer, não é recomendado que a insulina seja exposta ao sol; - as insulinas devem ser guardadas na geladeira, preferencialmente na gaveta dos legumes ou na prateleira mais próxima a esta, à porta não é indicada por apresentar maior variação de temperatura e mobilidade dos frascos a cada abertura. A temperatura para armazenamento é de 2 a 8ºC. A insulina armazenada na geladeira também deve ser retirada 10 a 20 minutos antes da aplicação, pois insulina gelada causa irritação local e dor no paciente; - a insulina que estiver em uso pode ser mantida em temperatura ambiente (15 a 30º). Após aberta tem duração máxima de até 30 dias, após este período perde a ação. Nesses casos, orientar o paciente que deixe o frasco de insulina no local mais fresco da casa; - Antes de utilizar a insulina é importante conferir o prazo de validade no frasco; - Antes de abrir o frasco de insulina colocar um rótulo com a data de abertura para controle de validade; - A insulina não pode ser exposta a temperaturas maiores que 30ºC e nem à luz solar; - Quando a insulina é guardada em temperaturas erradas, ou quando é sacudida demasiadamente pode apresentar grumos, cristais ou agregados, isto indica que ela está desnaturada e não é mais aconselhável para uso; - A insulina regular tem aspecto límpido e transparente, enquanto a NPH possui aspecto leitoso. Qualquer alteração nestas características não administrar a insulina; AN02FREV001/REV 4.0 130 - Nos casos de pacientes que precisam viajar e levar a insulina, é necessário uma bolsa térmica ou de isopor sem gelo, no caso de não haver, o paciente pode levar em bolsa normal, mas sem expor ao calor ou sol, ao chegar ao destino colocar na geladeira. Em caso de viagem de avião, não despachar com a bagagem, pois o compartimento de cargas tem temperatura muito baixa, podendo congelar a insulina. 33.2 APLICAÇÃO DA INSULINA A aplicação da insulina no paciente pode ser feita por via endovenosa, nos casos de terapia intensiva ou tratamento específico de cetoacidose diabética, intramuscular ou subcutânea, conforme descrito anteriormente sobre os tipos de insulina, entretanto, a forma mais utilizada e que o paciente utiliza em casa é a administração da insulina subcutânea. Os instrumentos para administração da insulina subcutânea são: - Seringas de Insulina: que possuem escalas das unidades conforme a concentração. As seringas de insulina podem ter agulha fixa ou agulha removível. As seringas com agulha fixa apresentam-se em 30 UI, 50 UI e 100 UI, sendo que a graduação da escala nas seringas de 30UI e 50 UI é de 1 em 1, enquanto que na de 100 UI é de 2 em duas, conforme a figura abaixo: FIGURA 20 - SERINGAS PARA APLICAÇÃO DE INSULINA FONTE: Disponível em: <http://www.bd.com>. Acesso em: 28 jun. 2009. AN02FREV001/REV 4.0 131 - Seringas: As seringas com agulhas removíveis são aquelas que não possuem a seringa fixa ao corpo da agulha. Neste tipo de seringa há retenção de até 5 UI de insulina, denominado espaço morto, que não é calculada na dosagem da insulina e nem na administração ao paciente. Nesse caso, quando existe uma prescrição de dois tipos de insulina, não é conveniente utilizá-las em mistura, uma vez que poderá ocorrer um erro de dosagem ou uma superdosagem de um dos tipos de insulina administrado em conjunto (GROSSI, 2004). A capacidade de volume de cada seringa é medida em centímetros cúbicos (cc), ou seja, um centímetro cúbico é equivalente a 1 ml, que equivale a 100 UI de insulina. Por exemplo, 0,5 cc = 0,5 ml = 50 UI. A graduação da seringa pode ser dupla ou simples, na dupla cada traço da seringa corresponde a duas unidades, enquanto que na simples cada traço refere-se a uma unidade de insulina. As agulhas removíveis apresentam-se no tamanho de 13 x 0,45 mm, enquanto as agulhas fixas aumentam as opções para os tamanhos 12,7 x 0,33 mm e 8 x 0,30 mm. A escolha pelo tamanho da agulha depende da apresentação física do paciente. Para pacientes obesos ou acima do peso indica-se o uso da agulha 12,7 x 0,33 mm, encontradas tanto para uso em seringas como para uso em canetas. Os adultos com tipo físico normal ou magros podem utilizar a agulha 8 x 0,30 mm das seringas ou 5 mm para as canetas. Pessoas obesas ou acima do peso, mas com pouco tecido subcutâneo nos braços e coxas, podem usar as agulhas 8 e 5 mm nestas regiões ou 12 para o abdômen. Segundo a Associação Americana de Diabetes (1998), quanto menor o comprimento e diâmetro da agulha, menor a dor durante a aplicação. No entanto, as agulhas curtas não são indicadas para pessoas obesas devido à variabilidade da absorção da insulina. - Canetas Injetoras: as canetas injetoras são outra possibilidade de instrumento utilizado na administração da insulina subcutânea. No Brasil existem atualmente canetas injetoras descartáveis e reutilizáveis. Está indicada principalmente nos casos de pacientes que fazem uso de múltiplas doses diárias de insulina e associada por alguns estudos, devido à praticidade, ao melhor controle glicêmico do diabete. AN02FREV001/REV 4.0 132 Cada caneta possui um local onde é colocado o refil de insulina, atualmente existindo refil de até 30 ml ou 300 UI de insulina. O paciente, antes da aplicação, faz a seleção da dose de insulina prescrita por rotação de um botão e após aciona a aplicação, em ângulo de 90º, sem necessidade de prega cutânea. As opções de tamanho de agulha para caneta são: 12,7 x 0,33 mm, 8 x 0,25 mm, 6 x 0,30 mm e de 5 x 0,25 mm. Segundo Almeida (1998) e Oliveira (1999), as canetas injetoras apresentam vantagens para quem realiza múltiplas aplicações diárias de insulina. Entretanto, o custo na aquisição deste instrumental dificulta sua utilização pela maioria dos portadores de diabetes. FIGURA 21 - CANETA PARA APLICAÇÃO DE INSULINA FONTE: Disponível em: <http://www.farmadelivery.com>. Acesso em: 28 jun. 2009. A conservação dos refis de insulina, quando armazenados, devem ser mantidos na geladeira em temperatura de 2 a 8ºC conforme os frascos de insulina, entretanto, depois de inseridos nas canetas para uso, segundo alguns dos fabricantes Lilly e Novo Nordisk, as canetas devem ser mantidas em temperatura ambiente, sem exposição à luz, nem temperaturas agressivas, tendo validade de 30 dias o refil. AN02FREV001/REV 4.0 133 - Bombas de Infusão de Insulina: As bombas de infusão de insulina consistem em microcomputadores, ou seja, pequeno reservatório de insulina, portátil, com peso em torno de 250g, fixado no exterior do corpo. Por intermédio de um pequeno cateter de plástico fica ligado a uma agulha inserida na pele. O microcomputador injeta continuamente no organismo cerca de 1U de insulina por hora e libera uma quantidade programada de insulina em forma de pulso durante as refeições, conforme as necessidades dos portadores de diabetes. Segundo Brunner & Suddarth (1998), uma das desvantagens das bombas de insulina é que podem ocorrer interrupções inesperadas no fluxo de insulina caso o tubo ou a agulha fiquem ocluídos, se o suprimento de insulina for interrompido ou a bateria descarregar. Outra desvantagem é o potencial de infecção nos locais de inserção da agulha, e também a hipoglicemia é mais provável na terapia de insulina por bomba, isso associado ao rígido controle dietético em conjunto com a bomba de insulina. FIGURA 22 - BOMBA DE INFUSÃO DE INSULINA FONTE: Disponível em: <http://www.forumpcs.com.br>.Acesso em: 28 jun. 2009. Mesmo diante de todos os instrumentos disponíveis no mercado para administração da insulina, ainda no Brasil o uso mais frequente recai sobre as AN02FREV001/REV 4.0 134 seringas, isto porque possui um custo mais acessível e alguns programas de saúde pública distribuem o instrumento para o paciente gratuitamente. De qualquer forma, o profissional de saúde na sua atividade deve possuir conhecimento frente aos diferentes modos de administração da insulinoterapia para que o paciente em conjunto com o médico opte pelo melhor, obtendo uma relação de custo-benefício. Sobre o estudo dos instrumentos utilizados na administração da insulina é importante que sempre o profissional de enfermagem busque informações específicas com os fabricantes, uma vez que devido a gama de possibilidades algumas informações diferem de uma bibliografia para outra. Aplicação de Insulina: a técnica de aplicação da insulina deve ser adequada para propiciar uma correta absorção da insulina e consequentemente um tratamento eficiente e eficaz ao paciente. Dessa forma, é importante que o profissional de enfermagem detenha os conhecimentos para ensinar o paciente quando este estiver realizando a aplicação em domicílio e também nos casos de pacientes hospitalizados, onde esta técnica é feita inicialmente pelos próprios profissionais de enfermagem. A aplicação de insulina, na maioria das vezes, é realizada em tecido subcutâneo, podendo, entretanto, ser administrada por outras vias, como descrito anteriormente, dependendo da indicação médica. A insulinoterapia realizada pelo paciente em casa necessariamente é em tecido subcutâneo. FIGURA 23 - TECIDO SUBCUTÂNEO FONTE: Disponível em: <http://www.linda.m.sites.uol.com.br>. Acesso em: 29 jun. 2009. AN02FREV001/REV 4.0 135 Primeiramente serão abordados os locais indicados para aplicação de insulina, que segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes são os seguintes: Abdômen (região lateral direita e esquerda, cerca de quatro a seis centímetros afastados da cicatriz umbilical), Coxas (face anterior e posterior externas: nos pacientes adultos esta região é delimitada em 12 a 15 cm abaixo do grande trocânter, nove a 12 cm acima do joelho, numa faixa de sete a 10 cm de largura, sendo que em crianças a mesma região é utilizada tendo o cuidado para a proporcionalidade do corpo), Braços (face posterior) e Nádegas (quadrante posterior externo da região ilíaca). FIGURA 24 - LOCAIS DE APLICAÇÃO DA INSULINA FONTE: Disponível em: <http://www.portaldodiabetes.com.br>. Acesso em: 29 jun. 2009. É muito importante que seja realizado o rodízio dos locais a cada aplicação para evitar as complicações decorrentes da administração de insulina em um mesmo local, desta forma, conforme preconizam as orientações da Associação Americana de Diabetes (2007), é necessário esgotar as possibilidades de aplicações subsequentes em uma mesma região, distanciando-se aproximadamente em dois centímetros de um local para o outro. Também é importante salientar que cada local de aplicação da insulina possui um potencial de absorção diferente, o que poderá alterar os resultados da glicemia do paciente, assim, o local considerado como de maior absorção é o AN02FREV001/REV 4.0 136 abdômen, após os braços, coxas e nádegas. Segundo Brunner & Suddarth (1998), o rodízio sistemático dos locais de injeção dentro da área anatômica é recomendada para evitar alterações localizadas no tecido gorduroso (lipodistrofia). Além disso, para promover consistência na absorção de insulina os pacientes devem ser estimulados a usar todos os locais disponíveis de injeção dentro de uma área e não circular aleatoriamente de uma área para outra. Alguns princípios que podem ser usados na aplicação do rodízio são: os pacientes não devem tentar o mesmo local mais que uma vez em duas a três semanas. Além disso, se o paciente estiver planejando se exercitar, a insulina não deve ser injetada no membro que vai ser exercitado, pois ela é absorvida mais rápida, podendo resultar em hipoglicemia. Conforme instruções do Ministério da Saúde (2006) deve-se evitar aplicar a insulina subcutânea próximos das articulações, na área da virilha, no umbigo e na linha média do abdômen. Sendo que o rodízio de áreas para aplicação de insulina é importante para não ocorrer complicações como hipertrofia ou atrofia local. Ao orientar o paciente diabético sobre a aplicação de insulina é importante que sejam estipulados juntamente com o paciente os rodízios que serão feitos na administração do medicamento, levando em consideração as atividades cotidianas do paciente, bem como as necessidades de aplicação. 33.3 TÉCNICA DE ADMINISTRAÇÃO DE INSULINA COM SERINGA Material Necessário: Seringa e Agulha, algodão, álcool 70% e medicamento (insulina conforme a prescrição médica). Procedimento: - Lavar as mãos; - Explicar o procedimento ao paciente; - Retirar o frasco de insulina da geladeira 10 a 20 minutos antes da aplicação; - Rolar o frasco entre as mãos sem agitar com no mínimo 20 movimentos; - Realizar a assepsia do frasco com algodão embebido em álcool 70%; AN02FREV001/REV 4.0 137 - Aspirar à quantidade de ar na seringa; - Injetar o ar dentro do frasco para melhor retirada da insulina; - Virar o frasco e a seringa para baixo, aspirando a quantidade de unidades conforme a prescrição médica; - Retirar o ar que esteja presente na seringa; - Selecionar a área de aplicação, tendo os cuidados mencionados anteriormente no rodízio de áreas para aplicação; - Fazer assepsia da área com algodão; - Fazer prega na pele e introduzir a seringa em ângulo de 90º e após soltar a prega; - Administrar a quantidade de insulina que consta na seringa; - Retirar a seringa e após fazer uma leve compressão com algodão e álcool 70%; - Organizar o material utilizado; - Lavar as mãos e registrar no prontuário. 33.4 NOTAS COMPLEMENTARES 1 - Ao encontrar presença de sangue na aplicação da insulina, seguir o seguinte: sangue em pequena quantidade, continuar a administração, sangue em grande quantidade, interromper a administração e preparar nova dose de insulina (Ministério da Saúde). 2 - O tamanho da agulha é avaliado pelo profissional segundo o tipo físico do paciente. 3 - A prega cutânea deve ser feita antes da introdução da agulha e soltando antes da introdução da insulina. 4 - O ângulo de aplicação deverá ser de 90°C, entretanto caso a agulha seja maior que a indicada em alguns pacientes magros e crianças é necessário uma avaliação e utilização de ângulos de 45 ou 60°C (Associação Americana dos Diabéticos, 2004). AN02FREV001/REV 4.0 138 5 - A aspiração após a introdução da agulha não é necessária quando se está utilizando os instrumentos corretos (Associação Americana dos Diabéticos, 2004). 6 - O reuso das agulhas e seringas em serviços hospitalares públicos e privados é proibido pela Divisão de Medicamentos no Brasil (DIMED), por meio da Portaria nº 3 de 07/02/86, incluindo a utilização do material no mesmo paciente. 8 - O reuso das agulhas e seringas pelos pacientes diabéticos que fazem insulinoterapia em casa é controverso na literatura, uma vez que alguns autores trazem a reutilização como uma forma de complicação que pode ocasionar lesão local por infecção, sendo isso para um diabético um problema relevante. Por outro lado, o Ministério da Saúde (2006) considera como adequada a reutilização por até oito aplicações sempre pela mesma pessoa, mantendo-se os seguintes cuidados: a seringa deve ser retampada e guardada em temperatura ambiente ou sob refrigeração (gaveta ou porta da geladeira), ainda considerar que o paciente deve estar com ausência de feridas abertas nas mãos e livre de infecções de pele nos locais da aplicação; o diabéticodeve ter destreza manual, ausência de tremores e boa acuidade visual, sendo capaz de reencapar a agulha com segurança. A limpeza da agulha não deve ser feita com álcool, porque é capaz de remover o silicone que a reveste, tornando a aplicação mais dolorosa. As seringas reutilizadas devem ser descartadas quando a agulha se torna romba, curva ou entra em contato com alguma superfície diferente da pele e logo que a aplicação se torne muito mais dolorosa. É importante salientar que esta reutilização é empregada apenas aos pacientes que fazem uso de insulina domiciliar, nunca em hospitais. 9 - O paciente deve sempre ser orientado sobre o descarte do material perfurocortante em recipiente apropriado. 10 - Algumas insulinas podem ser prescritas e administradas conjuntamente no paciente, entretanto, é importante que o profissional de enfermagem tenha conhecimento de quais podem ser misturadas para a aplicação na mesma seringa, conforme consta abaixo: - Mistura de NPH + Regular: pode ser feita e utilizada imediatamente ou armazenada em refrigerador para uso em 30 dias. AN02FREV001/REV 4.0 139 - Mistura de NPH + Ultrarrápida: pode ser feita e deverá ser utilizada imediatamente após o preparo. - Mistura de Regular + Lenta: não tem indicação. - Glargina ou Detemir + qualquer tipo de insulina: não pode ser misturada devido ao Ph baixo do diluente. Nos casos em que houver a mistura das insulinas seguindo as orientações anteriores, a técnica é a mesma da citada na administração da insulina, incluindo: - Primeiramente aspira-se a quantidade de ar que consiste as unidades de insulina NPH e injeta-se o ar dentro de frasco de insulina NPH; - Após o mesmo procedimento com a insulina regular, já aspirando a quantidade de insulina para a seringa; - Por último aspira-se a quantidade de insulina NPH, sendo que o ar já foi injetado anteriormente. Na hipótese de se aspirar quantidades superiores às prescritas, de forma alguma recolocar as insulinas nos frascos. Desprezar e realizar o procedimento novamente. 33.5 COMPLICAÇÕES NA APLICAÇÃO DE INSULINA A aplicação de insulina está associada a algumas complicações, principalmente nos pacientes que fazem uso diário deste hormônio. As complicações podem estar ligadas a vários fatores; é de suma importância que o profissional de enfermagem realize este acompanhamento de reações cutâneas no paciente, já que isto pode ser indício de que uma das etapas do processo de conservação, preparo e aplicação está falho. Segundo Camata (2003), para a aplicação de insulina são imprescindíveis alguns cuidados como: a escolha de um instrumental adequado à quantidade de insulina, bem como ao estado físico do paciente, o domínio sobre a técnica de aplicação da insulina e os rodízios dos locais de aplicação na pele, entre outros. Davidson (2001) e Costa (1988) afirmam ser comum o portador de diabetes e usuário de insulinoterapia domiciliar apresentar complicações cutâneas ou reações AN02FREV001/REV 4.0 140 como lipodistrofia insulínica, lipo-hipertrofia, nódulos endurecidos, equimose, ardência e prurido. Segundo Navarro et al. (1995), as reações alérgicas durante a insulinoterapia geralmente ocasionam sintomas como rush, seguido de prurido e enduração. Os hematomas podem estar relacionados à técnica inadequada de aplicação ou à redução do número de células adiposas no local da aplicação. O aparecimento da hipertrofia está conexo à aplicação prolongada do hormônio insulínico em um mesmo local, resultando em sua absorção e controle glicêmico errático (MATHEUS e AHMED, 1999). As principais complicações com o uso da insulina são: - Reações Alérgicas: caracteriza-se por uma reação alérgica local em forma de vermelhidão, inchaço, sensibilidade e enduração ou círculo de dois a quatro centímetros, podendo aparecer no local uma a duas horas após a aplicação da injeção. Geralmente estas reações ocorrem no início da terapia. - Reações Alérgicas Sistêmicas: são raras. Há uma reação cutânea local imediata que logo se espalha em forma de uma urticária generalizada. O tratamento é a dessensibilização, com pequenas doses de insulina administradas em quantidades gradualmente crescentes. Estas reações raras são ocasionalmente associadas a edema generalizado ou anafilaxia. - Lipodistrofia de Insulina: refere-se a uma perturbação localizada do metabolismo de gorduras, sob a forma ou de lipoartrofia, ocorrendo no local das injeções de insulina. A lipoartrofia é a perda de gordura subcutânea e aparece como uma leve ou acentuada depressão da gordura subcutânea, a utilização da insulina humana quase que eliminou esta situação. A lipo-hipertrofia é o desenvolvimento de massas fibrogordurosas no local da injeção e é causada pelo uso repetido de um local de injeção. Caso a insulina seja injetada em áreas como cicatrizes, a absorção pode ser retardada. Este é um dos motivos pelos quais é importante o rodízio dos locais de aplicação; o paciente deve evitar injetar insulina nestas áreas até que a hipertrofia desapareça. - Resistências à Insulina: a maioria dos pacientes em uma época ou outra tem algum grau de resistência à insulina. Isso pode ocorrer por vários motivos, sendo o mais comum à obesidade, que pode ser superada pela perda de peso. AN02FREV001/REV 4.0 141 Segundo Brunner & Suddarth (1998), a resistência clínica à insulina foi definida como uma necessidade diária de insulina de 200 unidades ou mais. Na maioria dos pacientes diabéticos que recebem insulina desenvolvem-se imunoanticorpos que se ligam à insulina, diminuindo assim a insulina disponível para uso. Todas as insulinas animais, bem como as humanas, em menor grau causam produção de anticorpos em seres humanos. O tratamento consiste em administrar uma preparação de insulina mais pura e, ocasionalmente, a prednisona pode ser necessária para bloquear a produção de anticorpos, isto pode ser seguido de uma redução gradual da produção de insulina. Portanto, os pacientes precisam se automonitorar quanto à hipoglicemia. 33.6 MONITORIZAÇÃO A monitorização do paciente diabético faz parte do tratamento, pois, além da medicação farmacológica prescrita, mudanças no estilo de vida e o uso em alguns casos da insulinoterapia, há a necessidade de acompanhar continuamente este paciente, como forma de diminuir os índices de probabilidade no desenvolvimento de complicações e manter níveis adequados de glicemia sanguínea. Com o uso de uma automonitorização da glicose sanguínea, as pessoas com diabetes são hoje capazes de ajustar o esquema de tratamento para obter um controle ótimo da glicose. Isto permite a detecção e prevenção da hiperglicemia e tem um papel crucial na normalização dos níveis de glicose sanguínea, o que possivelmente reduz as complicações diabéticas em longo prazo (BRUNNER & SUDDARTH, 1998). 33.7 AUTOMONITORIZAÇÃO A glicose sanguínea periférica pode ser monitorada em casa pelo próprio paciente e/ou familiares. Há vários métodos de monitorização, na maioria das vezes AN02FREV001/REV 4.0 142 se obtém uma gota de sangue do dedo do paciente e se coloca em uma fita, em um dos métodos após esta coleta é depositado líquido reagente na fita. Assim se consegue uma cor que é comparada, por meio da inspeção visual, à cor da fita reagente padrão da embalagem. Em outros, por meio da gota de sangue na fita e o uso do monitor se obtém o valor da glicemia do paciente. Em todos os casos é importante que o paciente seja orientado quanto à técnica de realização, bem como à manutenção dos monitores (glicosímeros), para que não sejam aferidos resultados errados. Na orientação ao paciente torna-se importante observar as habilidades do mesmo para este tipo de automonitorização. A frequência da automonitorização sempre vai depender do tipo de tratamento ao qual o pacienteé submetido. Nos casos do paciente que realiza insulinoterapia a necessidade é mais frequente conforme o uso diário. Os pacientes sempre devem ser instruídos a manter um registro dos resultados obtidos na automonitorização para que seja visualizado pela equipe de saúde. Outro teste além da glicemia capilar que pode ser realizado em casa é a monitorização de cetonas. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2008), a presença de cetonas na urina é um achado importante e o paciente deve imediatamente procurar um médico para saber o que está ocorrendo. A monitorização do paciente também é feita a partir do acompanhamento do retorno ao consultório médico, às consultas com o especialista são de suma importância para evitar complicações futuras, bem como proporcionar uma qualidade de vida adequada ao paciente. O paciente deve seguir rigorosamente o plano de retorno ao consultório conforme a instrução do médico que avalia as necessidades individualmente. Assim como as consultas, o paciente deve ser instruído a realizar todos os exames solicitados pelo médico, que na maioria das vezes estão relacionados à monitorização de complicações e manutenção dos níveis de glicemia adequados. Um dos exames que é realizado na monitorização do tratamento do paciente diabético chama-se Hemoglobina Glicada, que mostra como foi o controle glicêmico do paciente nos últimos 60 ou 90 dias de tratamento, e serve como um dos parâmetros para condutas médicas, dentre os demais exames. AN02FREV001/REV 4.0 143 33.8 TRANSPLANTE DE PÂNCREAS O transplante do pâncreas é uma modalidade de tratamento em busca da cura do Diabetes e está indicado a alguns portadores de Diabetes Mellitus Tipo 1 com falência dos rins, já que nestes casos é realizado o transplante duplo do pâncreas e do rim. A rejeição do transplante nos últimos anos é menor devido ao uso de antibióticos mais potentes. 34 COMPLICAÇÕES AGUDAS DO DIABETES E AÇÕES DE ENFERMAGEM As três principais complicações agudas do Diabetes são: 1 – Hipoglicemia: ocorre quando a glicose sanguínea cai abaixo 50 a 60 mg/dl, podendo ser causada por muita insulina ou agentes hipoglicemiantes orais, pouca comida ou atividade física excessiva. Ocorre em qualquer hora do dia ou da noite, geralmente antes das refeições, principalmente quando as refeições são retardadas; está associada ao pico das ações de algumas insulinas. Na hipoglicemia branda, quando a glicose cai, o sistema nervoso simpático é estimulado; com o surgimento da adrenalina causa o suor, tremores, taquicardia, palpitação, nervosismo e fome. Na hipoglicemia moderada a queda da glicose priva as células do cérebro a energia necessária para seu funcionamento. Alguns dos sinais são: incapacidade em se concentrar, dor de cabeça, tontura, confusão, lapsos de memória, dormência dos lábios e da língua, visão dupla e sonolência, descoordenação, alterações emocionais, comportamentos irracionais. Na hipoglicemia grave, o paciente necessita da ajuda de outra pessoa para o tratamento dos principais sinais, que incluem desorientação, convulsão, dificuldade em acordar do sono ou perda da consciência. Em hospitais ou salas de emergência os pacientes que estão inconscientes ou incapazes de deglutir devem ser tratados com 25 a 50 ml de glicose, que é administrada via intravenosa, conforme a AN02FREV001/REV 4.0 144 prescrição médica, sendo a ação dentro de minutos. Nestes casos é importante garantir um acesso venoso calibroso e a monitorização dos níveis de glicose. Ações de Enfermagem: Instrução do paciente e dos familiares sobre os riscos de hipoglicemia, bem como as medidas a serem tomadas caso o paciente tenha os sintomas. Em pacientes idosos, principalmente, é importante que sempre a pessoa cuidadora ou próxima da família tenha atenção para os sintomas que envolvem a hipoglicemia, para que encoraje o paciente a procurar o hospital ou serviço de saúde. Orientar o paciente para que siga sempre um padrão regular de alimentação, administração de insulina e realização de exercícios. Orientar o paciente e família sobre a realização da automonitorização para precocemente detectar a hipoglicemia. Administrar os medicamentos na hipoglicemia grave conforme a prescrição médica, realizando os testes de glicemia capilar em intervalos frequentes, e controle dos sinais vitais. Garantir acesso venoso calibroso na chegada do paciente com hipoglicemia grave. 2 - Cetoacidose Diabética (CAD): é causada pela ausência ou quantidade acentuadamente inadequada de insulina, resultando em distúrbios do metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras, caracterizando-se por: desidratação, perda de eletrólitos e acidose. A manifestação clínica se faz a partir dos seguintes sinais e sintomas: hiperglicemia, visão turva, poliúria, fraqueza, cefaleia, sede intensa, desidratação, hálito de cetona, pouco apetite ou anorexia, náuseas, vômitos, dor abdominal, aumento da frequência respiratória. Os valores laboratoriais de glicose na CAD estão em torno de 300 a 800 mg/dl, sendo que em alguns pacientes menos e em outros mais altos podendo chegar até 1000 mg/dl. A gravidade da CAD não está relacionada apenas ao nível de glicose sanguínea aumentada. As principais causas da CAD são: uma diminuição de insulina ou falta de uma dose, uma doença ou infecção ou a manifestação do diabetes não diagnosticado e não tratado. O tratamento da CAD é dirigido para os três problemas principais: desidratação, perda de eletrólitos e acidose, desta forma a conduta geralmente escolhida é: a reidratação do paciente por meio de infusões AN02FREV001/REV 4.0 145 intravenosas; a reposição de potássio diluído em solução fisiológica e a administração intravenosa de insulina. 3 - Síndrome Não Cetótica Hiperosmolar Hiperglicêmica (HHNC): é uma situação na qual a hiperosmolaridade e hiperglicemia predominam, com alterações sensoriais (senso de consciência). A diferença importante entre a HHNC e a CAD é que não ocorrem cetose e acidose na primeira. Na CAD não há nenhuma insulina presente, por isso ocorre a degradação dos estoques de glicose, proteínas e lipídios (estes últimos levando à produção de corpos cetônicos). Na HHNC o nível de insulina não é tão baixo, sendo que a insulina presente é suficiente para quebrar os lipídios. Os pacientes não apresentam sintomas gastrointestinais na HHNC relacionados à cetose. O quadro clínico é de hipotensão, profunda desidratação, taquicardia e sinais neurológicos variáveis como, por exemplo: alteração do sensório, convulsões e hemiparesia. As causas estão mais associadas à idade avançada, razão pela qual ocorre mais frequentemente em pacientes idosos. Pode também ser precipitado por uma doença aguda, como pneumonia, infarto do miocárdio e derrame. Alguns medicamentos conhecidos como desencadeadores de insuficiência de insulina (diuréticos de tiazida, propanolol), ou procedimentos terapêuticos (diálise, hemodiálise, nutrição parenteral total). Os pacientes geralmente apresentam uma história de dias ou semanas de poliúria com uma inadequada ingestão de líquidos. O tratamento é similar ao da CAD com a administração de líquidos, eletrólitos e insulina intravenosa. Ações de Enfermagem na CAD e HHNC: Puncionar acesso venoso calibroso, às vezes, tendo necessidade de ter mais de um acesso conforme a prescrição e indicação médica; Monitorização frequente dos sinais vitais, avaliação pulmonar e controle de ingestas e eliminações – para assegurar que não está sendo dada uma sobrecarga hídrica no paciente, principalmente nos casos de idosos e com ICC; Preparo e administração de eletrólitos conforme a prescrição médica, tendo especial atenção para que o potássio seja sempre diluído em solução antes da administração no paciente; AN02FREV001/REV 4.0 146 Preparoe administração da insulina contínua por bomba de infusão, seguir o gotejamento prescrito pelo médico para infusão; Monitorização da glicemia capilar, nos casos em que o paciente recebe insulina contínua por via endovenosa é necessário um controle rigoroso no resultado da glicemia capilar. Assim, inicialmente na maioria dos casos é realizada uma verificação de hora em hora. Acompanhar os resultados da Pressão Venosa Central do Paciente e da Monitorização Hemodinâmica. Nas ações de prevenção e educação em domicílio: orientar o paciente para que não deixe de tomar líquidos a toda a hora para evitar a desidratação; tomar rigorosamente os medicamentos prescritos e a insulina e realizar a automonitorização. Sob qualquer alteração importante procurar o serviço de saúde. 35 COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES E AÇÕES DE ENFERMAGEM As complicações crônicas do Diabetes podem afetar quase que todos os sistemas do corpo e podem ser divididas em: Complicações Macrovasculares, Complicações Microvasculares e Neuropatia. Dentre as complicações macrovasculares estão às alterações ateroscleróticas nos grandes vasos sanguíneos que ocorrem também em pacientes não diabéticos, entretanto, com maior frequência nos pacientes diabéticos, alguns fatores de riscos associados ao diabetes são relacionados à maior incidência de complicações macrovasculares. Dependendo da localização das lesões ateroscleróticas os principais tipos de doenças macrovasculares que podem ocorrer no paciente diabético são: doença arterial coronariana, doença vascular cerebral, doença vascular periférica. AN02FREV001/REV 4.0 147 35.1 AÇÕES DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DAS COMPLICAÇÕES MACROVASCULARES Orientar o paciente a manter hábitos de vida saudáveis: manter uma dieta balanceada, controlar rigorosamente o peso, controlar a hipertensão arterial e hiperlipidemia, realizar exercícios regularmente com orientação médica; Manter níveis de glicose estáveis; Evitar situações de estresse e diminuir ansiedade; Prestar cuidados hospitalares quando o paciente apresenta necessidade de internação. As complicações Microvasculares são únicas para os diabéticos. A doença microvascular diabética é caracterizada por espessamento da membrana basal, que circunda as células endoteliais dos capilares, o nível de glicose sanguínea aumentada faz com que a membrana basal seja espessada. A retinopatia diabética é causada por alterações nos capilares da retina dos olhos. Caracteriza-se por três estágios principais: não proliferativa (sem prejuízos visuais, até 90% dos pacientes com glicose pouco controlada em 10% pode ocorrer o edema macular); Pré- Proliferativa (considerada precursora da retinopatia proliferativa); proliferativa (ocorre hemorragia vítrea ou deslocamento da retina, paciente pode apresentar hemorragia sem perdas visuais, ou com perda da visão. De tal modo qualquer indício de hemorragia deve ser encaminhado ao oftalmologista). A avaliação diagnóstica da Retinopatia Diabética é feita pelo oftalmologista com a visualização por meio do oftalmoscópio ou pelo exame de Angiografia Fluoresceína. O tratamento é feito pela Fotocoagulação (laser), Viterectomia ou em alguns casos por meio do uso de medicamentos e medidas como controle da hipertensão, controle da glicose sanguínea e não fumar. Outras complicações oftalmológicas que podem ocorrer no paciente diabético são: as cataratas, alterações do cristalino, hipoglicemia (visão dupla durante os episódios de glicose baixa), paralisia de músculo extracorpóreo e glaucoma. AN02FREV001/REV 4.0 148 35.2 AÇÕES DE ENFERMAGEM NA EDUCAÇÃO DO PACIENTE E CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CUIDADOS DOMICILIARES Instruir o paciente e seus familiares sobre os aspectos que permeiam a retinopatia, o acompanhamento e o tratamento adequado; Adaptar os meios ao paciente que perde a visão e necessita de insulinoterapia e automonitorização para evitar erros com quantidades; Auxiliar o paciente na redução da ansiedade provocada pela perda da visão; Realizar todos os encaminhamentos adequados do paciente frente a qualquer forma de alteração visual relatada. A nefropatia se desenvolve no diabético quando os níveis de glicose sanguínea são altos e com isso ocorre uma alteração de filtração renal que permite que as proteínas sanguíneas passem para a urina. Assim, as pressões dos vasos sanguíneos dos rins aumentam e possivelmente sirva de estímulo para o desenvolvimento da nefropatia. A doença renal pode aparecer nas pessoas portadoras de diabetes tipo 1 após 15 a 20 anos com sinais iniciais, enquanto que nos pacientes diabéticos tipo 2 o desenvolvimento da doença renal pode ser até 10 anos após o início da diabetes. A avaliação diagnóstica é feita por meio de exames laboratoriais e clínicos, uma das mais importantes proteínas sanguíneas que começa a passar para a urina é a albumina. A coleta de urina de 24 horas é realizada em busca de uma microalbuminúria, já que dos pacientes que apresentam este resultado no exame, 85% podem desenvolver nefropatia clínica. Os sintomas de disfunção renal no paciente diabético são semelhantes ao paciente não diabético, acrescentando-se episódios frequentes de hipoglicemia, sendo que à medida que a função renal diminui o paciente pode sofrer de declínio da acuidade visual, impotência, ulceração do pé, ICC e diarreia noturna. A prevenção e o tratamento da Nefropatia são realizados por meio do controle glicêmico e atenção para: controle da hipertensão arterial, prevenção e tratamento AN02FREV001/REV 4.0 149 das infecções urinárias, evitar substâncias nefrotóxicas, ajuste de medicação conforme a prescrição médica relacionada à alteração da função renal, manter uma dieta pobre em sódio e proteínas. O tratamento de diálise (hemodiálise, diálise peritoneal) pode ser indicado conforme a avaliação médica e comprometimento renal. As pessoas com diabetes têm uma chance de 20 a 40 % de desenvolver doença renal. 35.3 AÇÕES PREVENTIVAS E CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA NEFROPATIA Instruir o paciente a seguir rigorosamente o controle glicêmico por meio do acompanhamento da dieta adequada, automonitorização, realização de atividade física, monitorização periódica (ida ao consultório médico e realização de exames de rotina) e administração de medicamentos conforme a prescrição médica. Questionar o paciente sobre sinais e sintomas que possam se referir ao início de infecções do trato urinário, bem como realizar encaminhamento ao médico. Auxiliar e orientar o paciente sobre a coleta do exame de urina de 24 horas quando houver a solicitação médica. Ajudar a diminuir a ansiedade do paciente que necessita de tratamentos mais invasivos, como a diálise. Prestar cuidados de enfermagem a pacientes em tratamento hemodialítico e em CAPD; Envolver os familiares nas questões sobre os efeitos do tratamento no paciente. A neuropatia diabética refere-se a um grupo de doenças que afeta todos os tipos de nervos, incluindo nervos periféricos, autônomos e espinhais. Altos níveis de glicose sanguínea durante anos podem estar associados à origem da doença. As duas neuropatias mais comuns são: - Polineuropatia Sensoriomotora ou Neuropatia Periférica: afeta em maior proporção as partes distais dos nervos, em especial as extremidades inferiores, ambos os lados do corpo. Os sintomas iniciais incluem formigamentos, fisgadas ou AN02FREV001/REV 4.0 150 sensibilidade aumentada e sensações de queimadura; na progressão da neuropatia os pés ficam entorpecidos e o andar sem firmeza; o paciente possui sensação diminuída de dor e temperatura com risco aumentado de danos e infecções nos pés. O tratamento da neuropatia é baseado nos controles de glicemia sanguínea, para evitar a progressão da doença e medicaçãoanalgésica para dor, que nesses casos torna-se de média a grande intensidade. - Neuropatia Autônoma: nessa neuropatia todos os sistemas que englobam o sistema nervoso autônomo sofrem disfunção e caracterizam-se principalmente por efeitos como: Cardiovasculares (batimento cardíaco levemente taquicárdico, fixo; hipotensão ortostática e infarto agudo do miocárdio silencioso, indolor), Gastrointestinais (absorção incorreta da glicose dos alimentos ingeridos, mudanças nos níveis de glicose; saciedade precoce, intumescimento, vômito e náuseas, constipação diabética ou diarreia noturna), Urinários (retenção urinária, bexiga neurogênica), Glândula Adrenal (o paciente não sente mais os sinais típicos da hipoglicemia), Neuropatia Sudomotora (ressecação dos pés por falta de suor, aumento de secreção de suor nos membros superiores) e Disfunção Sexual (impotência sexual). 35.4 PROBLEMAS NAS PERNAS E PÉS As três complicações que contribuem para o aumento de risco de infecção nos pés são: neuropatia, doença vascular periférica e imunocomprometimento. O desenvolvimento de uma úlcera diabética no pé começa com um dano nos tecidos moles, como uma fissura, se o paciente não inspeciona o pé frequentemente pode não notar até que se torne uma infecção mais grave. A drenagem, o intumescimento, vermelhidão da perna ou gangrena pode ser o primeiro sinal de problemas nos pés que o paciente percebe. O tratamento das úlceras diabéticas envolve o repouso no leito, uso de antibióticos e debridamento. É importante que os níveis de glicose sejam controlados, já que na presença de infecção estes valores tendem a subir, dificultando a cicatrização. AN02FREV001/REV 4.0 151 Nos pacientes que possuem doença vascular periférica as úlceras podem não cicatrizar devido à dificuldade do oxigênio, nutrientes e antibióticos em alcançar o tecido danificado e nestes casos algumas vezes à amputação é indicada para impedir a disseminação da infecção. Os pacientes diabéticos que possuem alto risco de desenvolver úlceras diabéticas são: Os que possuem diabetes há mais de 10 anos; Idade acima dos 40 anos; História de fumo; Pulsos periféricos diminuídos; Sensação diminuída; Deformidades anatômicas nas áreas de pressão (tais como joanetes e calos); História anterior de úlceras nos pés ou amputação. 35.5 AÇÕES DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO AOS PROBLEMAS DE PÉS E PERNAS DOS PACIENTES DIABÉTICOS - Orientar o paciente sobre os banhos apropriados, secagem e lubrificação dos pés; - Orientar para que os pés não fiquem úmidos; - Incentivar o paciente a inspecionar os pés diariamente quanto à presença de vermelhidão, fissuras, calos ou ulcerações; - Os pacientes com dificuldade de visão devem possuir um cuidador que se responsabilize pela inspeção dos pés; - Os sapatos devem ser confortáveis e não podem provocar nenhum tipo de lesão no pé do diabético; - O paciente é instruído a não andar descalço, não usar objetos quentes nos pés, não usar calçados abertos, cortar as unhas retas e não mexer em calosidades; - Os pacientes devem ser estimulados a manter uma dieta adequada que evite o aumento dos lipídios no sangue e manutenção dos níveis aceitáveis de glicose sanguínea; AN02FREV001/REV 4.0 152 - Realização de curativos e cuidados com as úlceras diabéticas em domicílio ou em ambiente hospitalar. 36 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE DIABÉTICO Como é possível perceber diante do estudo deste módulo, o Diabetes Mellitus é uma patologia que modifica os hábitos de vida de um indivíduo e consequentemente lhe aumenta os riscos de várias complicações, tanto agudas quanto crônicas. As complicações do Diabetes têm uma repercussão na qualidade de vida do paciente, uma vez que suas consequências podem ser devastadoras, como são os casos das perdas de visão, amputações e insuficiência renal. Dessa forma, é correto afirmar que a prevenção é o melhor caminho para que as pessoas não venham a adquirir diabetes e, se diagnosticadas com a doença, possam evitar ao máximo a ocorrência de complicações. A enfermagem tem papel fundamental na prestação da informação ao paciente frente às medidas preventivas, tanto envolvendo as ações de prevenção primária, que incluem mudanças no estilo de vida da população saudável e ações de prevenção secundária, que abarcam a incorporação do tratamento diante do diabetes, e nos casos de complicações decorrentes do diabetes o paciente é assistido em sua reabilitação social, física e emocional. É possível citar como as principais ações de enfermagem no tratamento do paciente diabético, as seguintes: Orientar e educar a população saudável a manter hábitos de vida que diminuam o risco de adquirir o Diabetes Tipo II, como por exemplo, manutenção de uma dieta adequada, realização de exercícios físicos, parar de fumar, realização de exames periódicos; Orientar o paciente portador do Diabetes de qualquer tipo a manter os hábitos de vida saudáveis citados no item anterior como forma de diminuir a ocorrência de complicações advindas de um tratamento diabético ineficaz; AN02FREV001/REV 4.0 153 Orientar o paciente diabético tipo 2 quanto à realização de vacinação contra a Influenza, já que o índice de mortalidade é aumentado mediante esse vírus nos portadores de diabetes; Monitorar o paciente e educar quanto ao tratamento farmacológico prescrito pelo médico. Identificar primeiramente a clareza do paciente para realizar o tratamento domiciliar, usar mecanismos para que o paciente não esqueça os horários das medicações e explicar a ele sobre reações e atitudes frente ao uso de hipoglicemiantes; Educar e monitorar o paciente em uso de insulinoterapia, demonstrar a aplicação da insulina, fornecer esquema de rodízio ao paciente, instruir sobre como se faz a aspiração das unidades de insulina e mesmo as complicações que podem ocorrer nos locais onde se aplica insulina, bem como o armazenamento, conservação e transporte. Fornecer informações sobre o uso dos instrumentos existentes para uso da insulina; Orientar o paciente a realizar a automonitorização e ensiná-lo a manusear o material e equipamento utilizado para tal, nos casos em que o paciente não tem condições de realizar em casa e necessita, deve ser orientado a comparecer ao posto de saúde; Monitorar a participação dos pacientes nas consultas médicas conforme a preconização do médico de retorno ao consultório, realização de exames e participação nos grupos de diabéticos; Participar de campanhas de rastreamento de casos de pacientes diabéticos e realizar os encaminhamentos necessários; Prestar cuidados de enfermagem ao paciente diabético hospitalizado, monitorar frequentemente a glicemia capilar (principalmente nos casos de estresse extremo, como por exemplo, nos pré e pós-operatórios), coletar dados do paciente sobre o esquema terapêutico que utiliza em domicílio e sempre registrar informações no prontuário. Assistir o paciente e monitorizar níveis de hipoglicemia nos pacientes hospitalizados e administrar medicações conforme a prescrição médica. Seguir ações de enfermagem específicas em cada complicação conforme citado no módulo; AN02FREV001/REV 4.0 154 Interagir com a família do diabético para que a mesma compreenda certas manifestações do paciente e a correlação com a doença, tornando-se a família incentivadora do tratamento; Questionar sempre ao paciente sobre questões que podem envolver sinais de complicações da doença; Promover ao máximo o autocuidado eficiente; Incentivar o paciente a manter uma boa higiene bucal e relatar quaisquer casos de hemorragias, edemas ou dores na gengiva; Manter uma boa higiene e cuidados com a pele, orientar o paciente para que realize em casa e nos casos de pacientes hospitalizados realizaros cuidados; Instruir o paciente para que seja menos exposto possível a situações de estresse; Auxiliar o paciente a manter níveis adequados de glicemia, como forma de proporcionar uma melhor qualidade de vida; Participar da prestação do cuidado aos pacientes que tiveram complicações e interagir em sua reabilitação familiar e social. FIM DO MÓDULO III AN02FREV001/REV 4.0 155 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, C. M. S. et al. Avaliação morfofuncional cardíaca em jovens normotensos, filhos de hipertensos. Estudo Doppler ecocardiográfico prospectivo. Arq. Bras. Cardiol. v. 71, n. 5, p. 681-686, 1998. ALMEIDA, F. A.; RODRIGUES, I. S. Revisão Atualização em Hipertensão Arterial: Terapia de Reposição Hormonal na Menopausa. Impacto sobre a pressão arterial e outros fatores de risco cardiovasculares. Jornal Brasileiro de Nefrologia. v. 19 (4), 1997, p. 433-438. AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Insulin Administration. Diabetes Care, 2004. BEZERRA B. Diabetes e hipertensão: cuidado duplo. Disponível em: <http://www.diabetes.org.br/imprensa/entrevistas/index.php?id=266>. Acesso em: 10 jun. 2009. BOLNER, A. R. Evidência Clínica. 11. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Prevenção Clínica de Doenças Cardiovasculares e Renais. 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