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Sentença da 3 Vara Federal - SE - Concurso PRF

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11/02/2022 08:10 Processo Judicial Eletrônico: 
https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5636680&idProcessoDoc=5621449 1/15
 
PROCESSO Nº: 0803436-31.2021.4.05.8500 - AÇÃO CIVIL PÚBLICA
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 
RÉU: CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISA EM AVALIACAO E SELECAO E DE PROMOCAO DE
EVENTOS - CEBRASPE e outro 
ADVOGADO: Daniel Barbosa Santos e outro 
3ª VARA FEDERAL - SE (JUIZ FEDERAL TITULAR)
 
 
 
 
SENTENÇA
 
 
I - RELATÓRIO
 
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ajuizou a presente Ação Civil Pública em face
da UNIÃO FEDERAL e do CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISA EM AVALIAÇÃO E
SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS - CEBRASPE, todas qualificadas nos autos,
objetivando, em resumo:
 
[...] provimento jurisdicional que imponha obrigação de fazer aos
demandados, consistente na retificação do Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de
janeiro de 2021, a fim de que os candidatos autodeclarados negros aprovados nas
provas objetivas que tiverem direito à correção de suas provas discursivas com base
nas suas classificações na ampla concorrência não sejam contabilizados no
quantitativo de correções das provas discursivas de candidatos autodeclarados
negros, constando tanto da listagem de candidatos da ampla concorrência quanto da
listagem dos candidatos autodeclarados negros que tem direito à correção de suas
provas discursivas.
Além disso, em sede definitiva, objetiva-se que a UNIÃO e o CEBRASPE
sejam condenados adotar tais medidas sempre que realizem e organizem concursos
públicos para provimento de cargos efetivos no âmbito da administração pública
federal, assegurando-se, assim, efetividade da Lei nº 12.990/2014.
 
Explicou que, no concurso público em questão, a CEBRASPE e a UNIÃO adotaram
critérios de classificação, previstos no item 10.6 do Edital Concurso PRF nº 01/2021,
dissonantes da regra insculpida no art. 3º, caput, da Lei nº 12.990/2014, a qual deve ser
aplicada em todas as fases do certame, não apenas na fase final; e que o Supremo Tribunal
Federal já declarou a constitucionalidade da aludida lei (ADC nº 41/DF).
11/02/2022 08:10 Processo Judicial Eletrônico: 
https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5636680&idProcessoDoc=5621449 2/15
Requereu:
 
a) o recebimento da presente petição inicial;
b) a juntada dos documentos que instruem a inicial;
c) a concessão de tutela de urgência ou de medida liminar, inaudita
altera pars, com fundamento no art. 12 da Lei nº 7.347/85 c/c art. 300 do Código de
Processo Civil, para determinar:
c.1) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção
e de Promoção de Eventos - CEBRASPE que, na condução do concurso regido pelo
Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, respeitem a reserva de vagas
destinadas a candidatos negros estabelecida no §1º do art. 3º da Lei 12.990/2014 em
todas as fases do concurso e não apenas no momento da apuração do resultado
final;
c.2) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção
e de Promoção de Eventos - CEBRASPE que realizem a retificação do Edital
Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, para dele fazer constar
expressamente que os candidatos autodeclarados negros aprovados nas provas
objetivas que tiverem direito à correção de suas provas discursivas com base nas
suas classificações na ampla concorrência não serão contabilizados no quantitativo
de correções das provas discursivas de candidatos autodeclarados negros, constando
tanto da listagem de candidatos da ampla concorrência com direito à correção de
suas provas discursivas, quanto da listagem dos candidatos autodeclarados negros
que têm direito à correção de suas provas discursivas;
c.3) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção
e de Promoção de Eventos - CEBRASPE, de acordo com os itens anteriores, que
não considerem, no número de correções de provas discursivas para vagas
reservadas para candidatos negros, aqueles candidatos negros que obtiveram
nota suficiente para estarem no número de correções de provas discursivas
para vagas de ampla concorrência, na primeira etapa do concurso público em
andamento (mantendo-os, porém, tanto na lista dos aprovados para as vagas
destinadas à ampla concorrência quanto na lista dos aprovados para as vagas
reservadas a candidatos negros), devendo realizar, ainda, a correção das provas
discursivas de candidatos autodeclarados negros aprovados e classificados
dentro das vagas reservadas, tantos quantos bastem para completar o limite
previsto no edital (ou seja, em número equivalente ao de candidatos
autodeclarados negros classificados ou aprovados dentro do número de vagas
oferecido para ampla concorrência);
c.4) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção
e de Promoção de Eventos - CEBRASPE, que retifiquem o Edital de Concurso PRF
nº 11, de 27 de maio de 2021, de forma a que sejam incluídos, na lista dos
candidatos que se autodeclararam negros, outros eventuais candidatos que atendam
ao item "c.3" acima, devendo ser oportunizado a esses candidatos o direito de
interposição de recurso contra o resultado provisório da prova discursiva;
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c.5) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção
e de Promoção de Eventos - CEBRASPE que, analisados os eventuais recursos,
publiquem o resultado final da prova discursiva relativamente a esses candidatos e
façam a convocação para a prova de capacidade física dos que forem aprovados na
prova discursiva (item 11.1 do edital), bem como das demais fases do certame (itens
12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20 do edital), caso venham a obter aprovação,
retificando-se os correspondentes editais de resultados já publicados;
c.6) a suspensão do andamento do concurso público até que os candidatos
que venham a ter suas provas discursivas corrigidas, nos termos das alíneas
anteriores, e sejam submetidos às demais fases do certame (caso venham a obter
aprovação), até que alcancem a fase em que se encontram os demais candidatos já
aprovados.
d) a citação da UNIÃO e do Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e
Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE, na forma da lei, para, querendo,
contestarem a presente ação, sob pena de decretação da revelia e aplicação de seus
efeitos;
e) por se tratar de questão unicamente de direito, o julgamento antecipado
do mérito, conforme disposto no artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil, e,
caso Vossa Excelência entenda necessária dilação probatória, pugna pela produção
de todas as provas em direito admitidas, em especial juntada de novos documentos e
oitiva de testemunhas;
f) ao final do regular processamento do feito, requer-se, a título de tutela
definitiva:
f.1) seja julgada procedente a presente ação civil pública, com
confirmação definitiva do pedido de tutela de urgência formulado nos itens "c",
"c.1", "c.2", "c.3", "c.4", "c.5" e "c.6";
f.2) sejam as rés UNIÃO e Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e
Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE condenadas a, quando na
condução e organização de concursos públicos para provimento de cargos efetivos
no âmbito da administração pública federal, insiram nos editais norma que garanta
que não seja computado, para efeito de correção das provas discursivas dos
candidatos com deficiência ou dos candidatos negros, os candidatos que se
declararam com deficiência e os autodeclarados negros classificados ou aprovados
dentro do número de correções previsto para a ampla concorrência, sendo que esses
candidatos constarão tanto da lista dos candidatos que tiveram a prova discursiva
corrigida da ampla concorrência como também da lista dos candidatos que tiveram a
prova discursiva corrigida para as vagas reservadas aos candidatos que se
declararam com deficiência ou aos candidatos negros.
g) que sejam arbitradas pelo i. Juízo as multas diárias por descumprimento
das obrigaçõesreferentes aos pedidos desta inicial, em valor condizente com a
relevância da matéria, a serem aplicadas em tutela provisória ou na sentença, nos
termos do art. 536 c/c art. 537 do CPC.
11/02/2022 08:10 Processo Judicial Eletrônico: 
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h) para fins de atendimento do art. 319, VI, do CPC, as provas com que
pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados são os documentos anexados
referenciados ao longo desta inicial, razão pela qual requer-se a sua juntada
eletrônica;
i) para fins de atendimento do art. 319, VII, do Código de Processo Civil,
diante da urgência da matéria e de que se trata de processo seletivo público em
curso, informa o MPF não possuir interesse na realização de audiência de
conciliação visando à composição entre as partes.
 
Juntou documentos.
Proferiu-se ato decisório em 10/07/2021 [ID 4058500.4959801], postergando a análise
da tutela de urgência para depois das manifestações prévias dos requeridos.
A União Federal se manifestou na data de 16/07/2021 [ID 4058500.4981749],
alegando:
a) Preliminarmente: a inépcia da exordial, por não apresentar os fatos com clareza e
objetividade; e o descabimento do pedido de tutela provisória antecipada.
b) No mérito: a pretensão autoral não se amolda aos princípios da legalidade
administrativa e da vinculação ao instrumento convocatório, porquanto a cláusula de barreira já
teve sua legalidade reconhecida pelo STF (RE 635.739/AL); o certame aqui impugnado
obedece à Lei nº 12.990/2014; o julgamento do STF na ADC nº 41/DF direcionou a reserva de
vagas ao momento final do concurso público; em outras ações semelhastes a esta, o próprio
Parquet Federal se pronunciou de forma contrária à agora adotada.
Pleiteou o indeferimento da liminar requestada, a extinção do feito sem resolução do
mérito ou a improcedência dos pedidos iniciais.
Acostou documentos.
No dia 16/07/2021 [ID 4058500.4982656], Antônio Cláudio Kozikoski Júnior, Renan
Pereira Freitas, Camila Polvero e Guilherme Jacinto Lopes pugnaram pelas suas aceitações no
feito, na qualidade de terceiros interessados, uma vez que são também autores de ação popular
que discute a classificação de quantidade mínima de candidatos para a categoria de ampla
concorrência.
Juntaram documentos.
O CEBRASPE, por sua vez, apresentou logo contestação, sustentando [ID
4058500.4985760]:
a) a pretensão do autor infringe o art. 3º, §1º, da Lei nº 12.990/2014, pois nem todos
os candidatos negros classificados dentro do quantitativo de provas discursivas corrigidas em
ampla concorrência estão efetivamente abrangidos no número de vagas ofertadas para ampla
concorrência;
b) torna-se imprescindível a citação dos candidatos negros convocados para o exame
de aptidão física, para serem litisconsortes passivos necessários dos demandados, haja vista
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que poderão ser afetados pela resolução desta lide;
c) segundo o art. 41, §1º, da Lei nº 8.666/1993, qualquer cidadão poderia impugnar os
critérios de avaliação e seleção estabelecidos no certame, mas em momento oportuno, o que
não foi feito;
d) a cláusula de barreira, exposta no subitem 10.6.1 do Edital Concurso PPF nº
01/2021, já foi declarada constitucional pelo STF;
e) a regra do art. 3º, §1º, da Lei nº 12.990/2014 deve ser implantada somente no
resultado final do certame, porquanto ela se refere a candidatos aprovados, ou seja, os
submetidos a todas as fases e que obtiveram êxito nelas.
Em 08/08/2021 [ID 4058500.5049069], deferiu-se a tutela de urgência requestada,
afastando-se inicialmente as questões preliminares suscitadas pelos requeridos.
A União informou, na data de 13/08/2021 [ID 4058500.5073233], ter interposto agravo
de instrumento contra o ato decisório de ID 4058500.5049069, pugnando pela reconsideração
deste. Acostou documentos relativos a outras demandas que tratam do mesmo concurso
público.
Comunicou-se, no dia 18/08/2021 [IDs 4058500.27476196 e 4058500.27476198], a
suspensão, pelo Exmo. Relator do Agravo de Instrumento nº 0809450-20.2021.4.05.0000, da
liminar concedida nestes autos.
Determinou-se, em seguida, que fosse dada ciência às partes da suspensão
antecitada [ID 4058500.5093554].
A peça contestatória da União foi juntada em 20/08/2021 [ID 4058500.5097582], na
qual se alegou, em resumo:
a) Preliminarmente: a litispendência desta demanda com a ação popular nº 1024029-
73.2021.4.01.3500; a conexão desta demanda com a citada ação popular; a inépcia da petição
inicial; e a necessidade de formar-se litisconsórcio passivo entre os requeridos e os candidatos
aprovados no certame.
b) No mérito, o que já foi sustentando na manifestação preliminar.
Requereu a juntada de documentos [IDs 4058500.5097586 a 4058500.5097594], o
acolhimento das questões preliminares aventadas ou, no mérito, a improcedência da pretensão
autoral.
O autor apresentou réplica [ID 4058500.5126385], ratificando a exordial e suas
manifestações anteriores.
Proferiu-se despacho [ID 4058500.5136042], ordenando a intimação dos requeridos
para dizerem se pretendiam produzir outras provas, já que o MPF não as requereu.
O Parquet Federal, em 10/09/2021 [ID 4058500.5160321], reiterou os pleitos contidos
na petição inicial, principalmente para que, após a cognição exauriente, "seja deferida nova
tutela de urgência em fase de sentença, conforme destacado no ID 4058500.5160321 (e réplica
de ID 4058500.5126385), sem que seja decretada a suspensão do certame, podendo os
demandados integrarem os candidatos prejudicados na fase em que se encontra, no que
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couber, e realizar as etapas pretéritas, sem que haja prejuízo ao cronograma do Curso de
Formação e atos subsequentes". Acostou decisão proferida em ação civil pública (ACP nº
1058451-92.2021.4.01.330) que discute as mesmas apontadas irregularidades, no concurso da
Polícia Federal [ID 4058500.5216994].
A União afirmou não ter outras provas a produzir [ID 4058500.5246749].
Certificou-se o transcurso de prazo para que a CEBRASPE respondesse ao despacho
de ID 4058500.5136042.
Na data de 18/10/2021 [ID 4058500.5310108], o autor pugnou pela juntada de
sentença proferida na ACP nº 1058451-92.2021.4.01.330 [ID 4058500.5310111].
Em 21/10/2021 [ID 4058500.5326873], o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental -
IARA peticionou, requerendo habilitação nestes autos na qualidade de amicus curiae, nos
termos dos arts. 138, caput, c/c 119, parágrafo único, do CPC. Alegou que tem uma larga
experiência na defesa da causa dos negros.
Acostaram-se peças processuais referentes ao Agravo de Instrumento nº 0809450-
20.2021.4.05.0000 [IDs 4058500.5337296 a 4050000.28533937].
O IARA juntou Certidão, expedida pelo Colendo Tribunal Regional Federal da 5ª
Região - TRF5 em 28/10/2021 [ID 4058500.5354642], com a informação de que o Agravo de
Instrumento nº 0809450-20.2021.4.05.0000 não foi provido.
Em 29/10/2021 [ID 4058500.5354865], o MPF concordou com a habilitação pedida
pelo IARA e pediu a intimação dos requeridos para cumprirem a tutela de urgência concedida
nestes autos, já que o TRF5 negou provimento ao reportado agravo de instrumento.
E, na data de 08/11/2021 [ID 4058500.5375617], o autor esclareceu que a
CEBRASPE recebeu R$ 21.224.329,29 (vinte e um milhões, duzentos e vinte e quatro mil,
trezentos e vinte e nove reais e vinte e oito centavos) para corrigir 6.000 mil provas discursivas
(mais os empatados na última colocação) e 1.200 dessas correções deveriam ter sido
reservadas aos cotistas, sendo que somente 5.879 candidatos tiveram suas redações
corrigidas; e que era preciso acionar o Tribunal de Contas da União - TCU, para instaurar
procedimento apuratório visando a apurar eventual ocorrência de prejuízo ao erárioe
enriquecimento ilícito de terceiros. Pugnou pela designação de audiência.
O pleito acima foi deferido em 08/11/2021 [ID 4058500.5377288].
Juntou-se o acórdão proferido pelo TRF5 no Agravo de Instrumento nº 0809450-
20.2021.4.05.0000 [ID 4058500.5392068].
A União informou nada ter a opor à habilitação do IARA [ID 4058500.5393264].
Realizou-se audiência no dia 12/11/2021 [ID 4058500.5394805], na qual as partes
firmaram acordo para o cumprimento da tutela liminar concedida nesta ação.
No dia 22/11/2021 [ID 4058500.5417643], o CEBRASPE juntou relatórios [IDs
4058500.5417644], em obediência ao ajuste feito na assentada acima.
Em 03/12/2021 [ID 4058500.5455385], a União pediu juntada de decisão monocrática
proferida pelo Ministro Presidente do Superior Tribunal de Justiça - STJ na Suspensão de
11/02/2022 08:10 Processo Judicial Eletrônico: 
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Liminar de Sentença nº 3032 - PE (2021/0385282-2), suspendendo a tutela de urgência deferida
nesta ação civil pública.
Deferiu-se a habilitação do IARA e se determinou a intimação das partes para
dizerem se pretendiam produzir outras provas [ID 4058500.5456148].
O IARA acostou manifestação em 13/12/2021 [ID 4058500.5479413], argumentando:
a) não existiu o alegado, pela União, prejuízo financeiro e dano irreversível ao erário
federal, até porque foram os requeridos que não observaram os ditames legais de proteção aos
direitos dos candidatos negros, nem apresentaram qualquer elemento indicativo desses danos;
b) os concursos públicos geram arrecadação considerável, resultantes das taxas de
inscrição, inclusive essa taxa foi de R$ 180,00 (cento e oitenta reais) para o certame objeto
desta demanda, havendo, portanto, superávit financeiro da União na realização do concurso da
PRF;
c) também não há qualquer lesão à ordem e à segurança pública;
d) já há julgado, proferido pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região - TRF1, no
mesmo sentido aqui defendido pelo autor.
Pugnou pela manutenção dos efeitos da liminar aqui já concedida, considerando-se
os fatos novos ora apresentados.
No dia 16/12/2021 [ID 4058500.5495102], o Parquet Federal reiterou os argumentos
já expendidos em suas manifestações anteriores e na exordial, requerendo a confirmação
definitiva dos pleitos de tutela de urgência formulados "nos itens "c", "c.1", "c.2", "c.3", "c.4"
e "c.5" (à exceção do pedido de suspensão do certame entabulado no item "c.6", cujo
pedido de exclusão foi acolhido por esse Juízo - Id. 4058500.5394805), especialmente
porque resta superado o óbice destacado na decisão monocrática proferida pelo Egrégio STJ,
qual seja, de que a suspensão da execução da decisão liminar perdurará, apenas, até que haja
o julgamento do mérito desta ação".
Já em 11/01/2022 [ID 4058500.5530034], o requerente pediu a juntada de ato
decisório proferido pelo TCU e documentos correlatos [IDs 4058500.5530073 a
4058500.5530107], suspendendo o certame. Nessa mesma ocasião, reiterou os demais
argumentos já declinados anteriormente.
Proferiu-se despacho [ID 4058500.5531823], ordenando a intimação dos requeridos
para manifestarem-se sobre a petição autoral acima reportada.
A União se pronunciou na data de 18/01/2022 [ID 4058500.5546959], sustentando,
em suma, que: o ato decisório proferido pelo TCU não tem o condão de afastar o que decidiu o
Presidente do STJ na Suspensão de Liminar de Sentença nº 3032 - PE (2021/0385282-2);
assuntos como contratos administrativos e seus custos não são objetos da presente ação, e sua
introdução em momento posterior à estabilização da demanda viola o princípio da congruência
(CPC, arts. 141, 329, II, 492); o pedido de suspensão de segurança, feito à Presidência do STJ,
não é sucedâneo recursal e tem a função de defender o interesse público, devendo prevalecer
sobre as demais decisões provisórias a respeito do mesmo assunto, especialmente quanto a
atos decisórios do TCU.
11/02/2022 08:10 Processo Judicial Eletrônico: 
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Ratificou suas alegações anteriores e o pleito de improcedência da pretensão autoral.
O CEBRASPE se manifestou em 28/01/2022 [ID 4058500.5579115], pontuando que:
a decisão do TCU é administrativa e determina apenas a suspensão da execução do Contrato
nº 200109/2021, não do concurso público em tela; o autor mostra mero inconformismo com o
decisum proferido pelo Ministro Presidente do STJ.
De resto, ratificou as alegações já expendidas anteriormente, pugnando pela
improcedência da pretensão autoral.
Após, os autos retornaram conclusos para sentença.
 
É O QUE IMPORTA RELATAR.
DECIDO.
 
 
II - FUNDAMENTAÇÃO
 
Pretende-se, aqui, em resumo, determinar que a UNIÃO FEDERAL e o CEBRASPE,
no concurso público para provimento de vagas no cargo de Policial Rodoviário Federal - PRF,
regido pelo Edital Concurso PRF nº 01/2021, observem o disposto no artigo 3º, §1º, da Lei nº
12.990/2014 em cada uma das fases e etapas do referido concurso.
A princípio, esclareça-se que a ampla concorrência compreende as vagas destinadas
aos candidatos que não se encaixam nas regras de cotas ou que não precisam das ações
afirmativas. Em geral, as vagas nos concursos públicos são: a) ampla concorrência (AC); b)
pessoa preta ou parda (PPP); e c) pessoa com deficiência (PCD).
Nesse cenário, cabe salientar que a Lei 12.990/2014 dispõe sobre a reserva de 20%
das vagas, em concursos públicos, para os cotistas negros, considerando o provimento de
cargos efetivos e empregos públicos, no âmbito da administração pública federal, das
autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia
mista controlada pela União. A respeito do assunto, o STF, em sede de Ação Declaratória de
Constitucionalidade nº 41/DF, julgada na data de 08/06/2017, afirmou a sua constitucionalidade:
 
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE
CONSTITUCIONALIDADE. RESERVA DE VAGAS PARA NEGROS EM
CONCURSOS PÚBLICOS. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI N°
12.990/2014. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
1. É constitucional a Lei n° 12.990/2014, que reserva a pessoas negras 20% das
vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e
empregos públicos no âmbito da administração pública federal direta e indireta, por
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três fundamentos. 1.1. Em primeiro lugar, a desequiparação promovida pela política
de ação afirmativa em questão está em consonância com o princípio da isonomia.
Ela se funda na necessidade de superar o racismo estrutural e institucional ainda
existente na sociedade brasileira, e garantir a igualdade material entre os cidadãos,
por meio da distribuição mais equitativa de bens sociais e da promoção do
reconhecimento da população afrodescendente.
[...]
2. Ademais, a fim de garantir a efetividade da política em questão, também é
constitucional a instituição de mecanismos para evitar fraudes pelos candidatos. É
legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de
heteroidentificação (e.g., a exigência de autodeclaração presencial perante a
comissãodo concurso), desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e
garantidos o contraditório e a ampla defesa.
3. Por fim, a administração pública deve atentar para os seguintes parâmetros: (i) os
percentuais de reserva de vaga devem valer para todas as fases dos concursos; (ii) a
reserva deve ser aplicada em todas as vagas oferecidas no concurso público (não
apenas no edital de abertura); (iii) os concursos não podem fracionar as vagas de
acordo com a especialização exigida para burlar a política de ação afirmativa, que só
se aplica em concursos com mais de duas vagas; e (iv) a ordem classificatória obtida
a partir da aplicação dos critérios de alternância e proporcionalidade na nomeação
dos candidatos aprovadosdeve produzir efeitos durante toda a carreira funcional do
beneficiário da reserva de vagas.
4. Procedência do pedido, para fins de declarar a integral constitucionalidade da Lei
n° 12.990/2014. Tese de julgamento: "É constitucional a reserva de 20% das vagas
oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos
públicos no âmbito da administração pública direta e indireta. É legítima a
utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação,
desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a
ampla defesa ".
 
Logo, as cotas étnico-raciais, também intituladas de 'ações afirmativas', visam inserir
uma parte da população em contextos nos quais o seu acesso era dificultado, assegurando-se,
portanto, o que reza o artigo 5º, I, da Constituição Federal, bem como o artigo 3º da Carta
Política.
No cenário brasileiro, essas ações afirmativas visam concretizar uma reparação
histórica e cultural, de acordo com o julgamento da ADPF nº 186, inciso IV que diz:
 
"IV - Medidas que buscam reverter, no âmbito universitário, o quadro histórico de
desigualdade que caracteriza as relações étnico-raciais e sociais em nosso País, não
podem ser examinadas apenas sob a ótica de sua compatibilidade com determinados
preceitos constitucionais, isoladamente considerados, ou a partir da eventual
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vantagem de certos critérios sobre outros, devendo, ao revés, ser analisadas à luz do
arcabouço principiológico sobre o qual se assenta o próprio Estado brasileiro.
 
Uma vez reconhecida a constitucionalidade da Lei nº 12.990/2014, pelo STF, os
editais de concurso têm que adotar o sistema de cotas e não podem estabelecer mecanismos
que venham a neutralizar a sua correta aplicação.
 
DA APLICAÇÃO DO ARTIGO 3º, CAPUT E §1º, DA LEI Nº 12.990/2014.
 
Eis o que reza o art. 3º, caput e §1º, da Lei nº 12.990/2014:
 
Art. 3º Os candidatos negros concorrerão concomitantemente às vagas reservadas e
às vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no
concurso.
§ 1º Os candidatos negros aprovados dentro do número de vagas oferecido para
ampla concorrência não serão computados para efeito do preenchimento das vagas
reservadas."
 
Constata-se que o artigo 3º, da Lei nº 12.990/2014, preceitua que os candidatos
negros concorrerão, concomitantemente, às vagas reservadas e às vagas da ampla
concorrência.
Nessa ambiência, o Supremo Tribunal Federal reconheceu, no julgamento da ADC nº
41/DF, que a reserva de vagas para candidatos negros deve ser aplicada em todas as fases dos
concursos públicos, consoante expressamente consignado na ementa a seguir transcrita:
 
"Ementa: Direito Constitucional. Ação Direta de Constitucionalidade. Reserva de
vagas para negros em concursos públicos. Constitucionalidade da Lei n°
12.990/2014. Procedência do pedido. 1. É constitucional a Lei n° 12.990/2014, que
reserva a pessoas negras 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para
provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração
pública federal direta e indireta, por três fundamentos. 1.1. Em primeiro lugar, a
desequiparação promovida pela política de ação afirmativa em questão está em
consonância com o princípio da isonomia. Ela se funda na necessidade de superar o
racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade brasileira, e garantir a
igualdade material entre os cidadãos, por meio da distribuição mais equitativa de
bens sociais e da promoção do reconhecimento da população afrodescendente. 1.2.
Em segundo lugar, não há violação aos princípios do concurso público e da
eficiência. A reserva de vagas para negros não os isenta da aprovação no concurso
público. Como qualquer outro candidato, o beneficiário da política deve alcançar a
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nota necessária para que seja considerado apto a exercer, de forma adequada e
eficiente, o cargo em questão. Além disso, a incorporação do fator "raça" como
critério de seleção, ao invés de afetar o princípio da eficiência, contribui para sua
realização em maior extensão, criando uma "burocracia representativa", capaz de
garantir que os pontos de vista e interesses de toda a população sejam considerados
na tomada de decisões estatais. 1.3. Em terceiro lugar, a medida observa o princípio
da proporcionalidade em sua tríplice dimensão. [...] 3. Por fim, a administração
pública deve atentar para os seguintes parâmetros: (i) os percentuais de reserva de
vaga devem valer para todas as fases dos concursos; (ii) a reserva deve ser aplicada
em todas as vagas oferecidas no concurso público (não apenas no edital de abertura);
(iii) os concursos não podem fracionar as vagas de acordo com a especialização
exigida para burlar a política de ação afirmativa, que só se aplica em concursos com
mais de duas vagas; e (iv) a ordem classificatória obtida a partir da aplicação dos
critérios de alternância e proporcionalidade na nomeação dos candidatos aprovados
deve produzir efeitos durante toda a carreira funcional do beneficiário da reserva de
vagas. 4. Procedência do pedido, para fins de declarar a integral constitucionalidade
da Lei n° 12.990/2014. Tese de julgamento: "É constitucional a reserva de 20% das
vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e
empregos públicos no âmbito da administração pública direta e indireta. É legítima a
utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação,
desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a
ampla defesa". (STF, ADC 41/DF, Tribunal Pleno, Min. Luís Roberto Barroso,
Julgamento: 08/06/2017, DJe 180 de 17/08/2017)
 
Quanto à possibilidade de participar de um concurso público, por meio do sistema de
cotas, muitos candidatos questionam se podem se inscrever como preto ou pardo? Outro ponto
que desperta dúvida, no candidato às cotas raciais, é sobre a possibilidade de concorrer ao
mesmo cargo como cotista e não cotista.
Se o cotista for aprovado, dentro do número de vagas da ampla concorrência, ele não
utilizará a reserva de vagas para os cotistas pretos ou pardos.
Pois bem.
No caso concreto, alega o MPF que a UNIÃO FEDERAL e o CEBRASPE não estão
cumprindo o que reza o artigo 3º, §1º, da Lei nº 12.990/2014, pois estão computando, no
número de correções de provas discursivas para vagas reservadas para candidatos negros
aqueles candidatos negros que obtiveram nota suficiente para estarem no número de correções
de provas discursivas para vagas de ampla concorrência, na primeira etapa do concurso público
para provimento de cargos de Policial Rodoviário Federal - PRF.
O MPF menciona que o concurso em andamento, realizado pela Secretaria de
Estado da Administração do Estado de Sergipe (SEAD/SE), para o provimento de vagas nos
cargos de Agente de Polícia Judiciária e de Escrivão de Polícia da Polícia Civil do Estado de
Sergipe, organizado pelo CEBRASPE e regido pelo Edital nº 1 PCSE, de 1º de julho de 2021,
adotou a seguinte cláusula editalícia:
 
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9.7 DOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA PROVA DISCURSIVA
[...]
9.7.1.2 Não serão computados, para efeito de correção das provas discursivas dos
candidatos com deficiência ou dos candidatos negros , os candidatos que se
declararam com deficiência e os autodeclarados negros classificados ou aprovados
dentro do número de correções previsto para a ampla concorrência, sendo que
esses candidatos constarão tanto da lista dos candidatos que tiveram a prova
discursiva corrigida da ampla concorrência como também da lista dos candidatos
quetiveram a prova discursiva corrigida para as vagas reservadas aos candidatos
que se declararam com deficiência ou aos candidatos negros.
 
Acerca da questão aqui suscitada, colaciono o aresto do TRF1, em sede de Agravo
de Instrumento (1013843-20.2018.4.01.0000):
 
(...) 7. Certo é que a Lei nº 12.990/2014, no § 1º de seu art. 3º, prevê que "os
candidatos negros aprovados dentro do número de vagas oferecido para ampla
concorrência não serão computados para efeito do preenchimento das vagas
reservadas". 8. Tal previsão, aparentemente relativa apenas aos candidatos negros
aprovados, não impede, a meu ver, o acolhimento da tese ministerial no sentido de
que os candidatos negros classificados dentro do número de vagas oferecido para a
ampla concorrência, em cada uma das fases e etapas, não devem ser computados
para efeito de preenchimento das vagas reservadas. 9. Isso porque o edital do
certame, quando prevê número máximo de provas discursivas a serem corrigidas,
estabelece, conforme destacou o Ministério Público Federal, uma cláusula de
barreira, de modo que os candidatos negros que obtiverem nota suficiente para a
ampla concorrência impedirão que outros candidatos negros tenham suas provas
discursivas corrigidas, limitando a aplicação da lei de reserva de vagas. ()" (TRF 1ª
Região, Agravo de Instrumento nº 1013843- 20.2018.4.01.0000, Rel. Des. Jirair
Aram Meguerian, julgado em 06/06/2018, grifamos).
 
Portanto, no caso em análise, a se considerar, na contagem de vagas reservadas, os
candidatos negros com nota suficiente para figurar na lista da ampla concorrência durante cada
fase e etapa do concurso público em andamento para provimento de cargos da Polícia
Rodoviária Federal, estar-se-á a negar eficácia ao disposto no art. 3º, caput e §1º, da Lei nº
12.990/2014, cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal na Ação
Declaratória de Constitucionalidade nº 41.
A pretensão autoral, sob outro ângulo, não representa nenhuma violação aos
princípios da independência dos Poderes e da vinculação ao instrumento convocatório do
certame. Isso porque a Administração Pública deve obediência aos postulados constitucionais
da legalidade, da eficiência, da impessoalidade, da moralidade, entre outros, insculpidos no art.
37 da Carta Magna brasileira e na legislação infraconstitucional de regência. E os demandados
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não observaram esses princípios no caso aqui em voga, de modo que cabe ao Poder Judiciário,
desde que provocado, assegurar aos indivíduos essas prerrogativas fundamentais.
Por fim, esclareça-se que, no pertinente à tutela de urgência concedida nestes autos,
não é juridicamente possível sua ratificação na sentença, nem o deferimento de uma nova
medida liminar. Na verdade, mesmo o ato decisório proferido pelo Exmo. Ministro Presidente do
STJ declinando, em seu final, que ela valeria até o julgamento da demanda - sem colocar
expressamente o "julgamento definitivo da demanda" -, infere-se das suas entrelinhas que ela
deve permanecer hígida até o esgotamento dos recursos pertinentes. Essa constatação pode
ser extraída do seguinte trecho da decisão aqui comentada:
 
[...]
Repise-se que a mens legis do instituto da suspensão de segurança ou de
sentença é o estabelecimento de prerrogativa justificada pelo exercício da função
pública na defesa do interesse do Estado. Sendo assim, busca evitar que decisões
contrárias aos interesses primários ou secundários, ou ainda mutáveis em razão da
interposição de recursos, tenham efeitos imediatos e lesivos para o Estado e, em
última instância, para a própria coletividade.
[...]
 
Em arremate, esclareça-se que a decisão do TCU tem caráter administrativo e não
prevalece em face de atos decisórios proferidos pelo Poder Judiciário.
 
III - DISPOSITIVO
 
Pelo exposto, JULGO PROCEDENTES OS PLEITOS AUTORAIS para determinar
que a UNIÃO FEDERAL e o CEBRASPE:
a) na condução do concurso regido pelo Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro
de 2021, respeitem a reserva de vagas destinadas a candidatos negros estabelecida no §1º do
art. 3º da Lei 12.990/2014 em todas as fases do concurso e não apenas no momento da
apuração do resultado final;
b) realizem a retificação do Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, para
dele fazer constar expressamente que os candidatos autodeclarados negros aprovados nas
provas objetivas que tiverem direito à correção de suas provas discursivas com base nas suas
classificações na ampla concorrência não serão contabilizados no quantitativo de correções das
provas discursivas de candidatos autodeclarados negros, constando tanto da listagem de
candidatos da ampla concorrência com direito à correção de suas provas discursivas, quanto da
listagem dos candidatos autodeclarados negros que têm direito à correção de suas provas
discursivas;
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c) de acordo com os itens anteriores, que não considerem, no número de correções
de provas discursivas para vagas reservadas para candidatos negros, aqueles candidatos
negros que obtiveram nota suficiente para estarem no número de correções de provas
discursivas para vagas de ampla concorrência, na primeira etapa do concurso público em
andamento (mantendo-os, porém, tanto na lista dos aprovados para as vagas destinadas à
ampla concorrência quanto na lista dos aprovados para as vagas reservadas a candidatos
negros), devendo realizar, ainda, a correção das provas discursivas de candidatos
autodeclarados negros aprovados e classificados dentro das vagas reservadas, tantos quantos
bastem para completar o limite previsto no edital (ou seja, em número equivalente ao de
candidatos autodeclarados negros classificados ou aprovados dentro do número de vagas
oferecido para ampla concorrência);
d) retifiquem o Edital de Concurso PRF nº 11, de 27 de maio de 2021, de forma a que
sejam incluídos, na lista dos candidatos que se autodeclararam negros, outros eventuais
candidatos que atendam ao item "c.3" acima, devendo ser oportunizado a esses candidatos o
direito de interposição de recurso contra o resultado provisório da prova discursiva;
e) analisados os eventuais recursos, publiquem o resultado final da prova discursiva
relativamente a esses candidatos e façam a convocação para a prova de capacidade física dos
que forem aprovados na prova discursiva (item 11.1 do edital), bem como das demais fases do
certame (itens 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20 do edital), caso venham a obter aprovação,
retificando-se os correspondentes editais de resultados já publicados;
 
f) quando na condução e organização de concursos públicos para provimento de
cargos efetivos no âmbito da administração pública federal, insiram nos editais norma que
garanta que não seja computado, para efeito de correção das provas discursivas dos candidatos
com deficiência ou dos candidatos negros, os candidatos que se declararam com deficiência e
os autodeclarados negros classificados ou aprovados dentro do número de correções previsto
para a ampla concorrência, sendo que esses candidatos constarão tanto da lista dos candidatos
que tiveram a prova discursiva corrigida da ampla concorrência como também da lista dos
candidatos que tiveram a prova discursiva corrigida para as vagas reservadas aos candidatos
que se declararam com deficiência ou aos candidatos negros.
Condeno o CEBRASPE ao pagamento de metade das custas processuais, valor a
ser revertido para a Conta Única do Tesouro Nacional.
Deixo de condenar a União ao pagamento desse ônus, em observância à regra de
isenção prevista no art. 4º, I, da Lei nº 9.289/1996
Deixo de condenar os demandados ao pagamento de honorários advocatícios, uma
vez que os membros do Ministério Público Federal já são remunerados pelos cofres da União
Federal.
Publique-se.Registre-se. Intimem-se.
 
 
 
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Juiz Federal Edmilson da Silva Pimenta
 
 
 
 
 
 
 
Processo: 0803436-31.2021.4.05.8500
 Assinado eletronicamente por:
 EDMILSON DA SILVA PIMENTA - Magistrado
 Data e hora da assinatura: 11/02/2022 00:09:34
 Identificador: 4058500.5621449
 
Para conferência da autenticidade do documento: 
 https://pje.jfse.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
22021100093395400000005636680

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