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Apostila - História do cristianismo III

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Fevereiro / 2020
Professor/autor: Dr. Wander de Lara Proença
Projeto Gráfico e Capa: Mauro Rota - Departamento de desenvolvimento institucional
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:
Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR
86055-670 Tel.: (43) 3371.0200
3História do cristianismo III | FTSA | 
SUMÁRIO
História do Cristianismo III
Introdução ao curso..............................................................................................................04
Unidade I - Religiões e religiosidades na formação da américa latina
Introdução
1. Os povos ameríndios e suas crenças...............................................................................07
2. A chegada dos colonizadores europeus ao continente latino-americano.....................11
3. Crenças de matriz africana...............................................................................................21
4. O catolicismo missionário na América Latina.................................................................24
5. Religiosidade popular e magia..........................................................................................27
6. Presenças ocasionais do Protestantismo no período colonial......................................39
Unidade II - Catolicismo e protestantismo na américa latina e Brasil
Introdução..............................................................................................................................48
1. O catolicismo estabelicido no Brasil e sua simbologia...................................................49
3. O protestantismo na América Latina no século XIX........................................................70
4. O protestantismo no Brasil a partir do século XIX...........................................................73
5. As primeiras igrejas protestantes estabelecidas no Brasil..............................................80
Unidade III - O pentecostalismo no Brasil
Introdução..............................................................................................................................91
1. Surgimento do Pentecostalismo.......................................................................................92
2. O petecostalismo "clássico" no Brasil................................................................................96
3. Segunda tipologia pentecostal: o "dêutero" pentecostalismo ou pentecostalismo de
"cura divina"..........................................................................................................................106
4. Pentecostalismo e o uso dos meios de comunicação de massa................................117
5. Pentecostalização do protestantismo clássico..............................................................121
6. A operosidade pentecostal em contextos sociais de exclusão....................................126
Unidade IV - Neopentecostalismo e outros movimentos evangélicos contemporâneos
1. Origem e desenvolvimento do neopentecostalismo......................................................136
2. O público alcançado pelo neopentecostalismo..............................................................137
3. O uso dos meios de comunicação de massa pelo neopentecostalismo.....................151
4. Polêmicas em relação ao dinheiro.................................................................................158
5. O atual cenário evangélico no Brasil................................................................................176
| História do cristianismo III | FTSA4
HISTÓRIA DO CRISTIANISMO III
Introdução ao curso
Bem-vindo(a) ao curso de História do Cristianismo III!
Esta disciplina completa o ciclo de estudos no campo da história do 
cristianismo, que se iniciou, em História I, com os conteúdos sobre a igreja 
antiga, sua identidade apostólica e expansionista no contexto do Império 
Romano, além do mundo medieval, com o surgimento da cristandade 
católica, em suas formas institucional e popular. Seguimos por História 
II, em que a Reforma Protestante e seu impacto no mundo moderno 
foram objetos de análise, estendendo-se o olhar até os séculos XVIII e 
XIX, quando se deu o advento do metodismo, com suas repercussões 
reavivalistas nas igrejas norte americanas. Agora, por fi m, chegamos a 
um contexto mais próximo, o da América Latina e, particularmente, Brasil.
O curso está dividido em quatro grandes unidades. Na unidade 
I, será apresentado um panorama histórico sobre a formação da 
América Latina, demonstrando-se a diversidade de crenças indígenas, 
africanas, catolicismo missionário e popular, presenças ocasionais do 
protestantismo, além de uma atenção especial às formas de religiosidades 
sincréticas ou hibridizadas.
Na unidade II, serão destacados o catolicismo institucional no contexto 
brasileiro e, a partir do século XIX, o protestantismo estabelecido por 
imigração e missão, confi gurando-se desse modo um novo cenário 
religioso no País.
Na unidade III, os conteúdos tematizarão o pentecostalismo, originário 
nos Estados Unidos e reconfi gurado em sua tipologia clássica no contexto 
brasileiro, além de especial atenção à chamada ‘segunda onda’ pentecostal, 
caracterizada pela atuação de líderes carismáticos nacionais.
Na última unidade, a ênfase será no neopentecostalismo, com suas 
5História do cristianismo III | FTSA | 
inovações geradoras de grande impacto no campo religioso, com enorme 
visibilidade na mídia, criação de ritos polêmicos e com um crescimento 
numérico escalonário. Também compõem este bloco as abordagens 
sobre novas tendências religiosas no cenário evangélico brasileiro atual, 
a partir do que se tem chamado de "pós-denominacionalismo", projetado 
em movimentos que agregam seguidores fora das instituições, como os 
que são nominados como "desigrejados".
Minha expectativa é de que o olhar sobre o passado ofereça a cada 
estudante deste curso uma melhor compreensão do nosso presente; 
quiçá, o estudo do que já é história contribua para iluminar a visão sobre 
o que ainda chamamos de futuro.
Bom curso!
Prof. Wander de Lara Proença
UNIDADE I – RELIGIÕES E RELIGIOSIDADES NA 
| História do cristianismo III | FTSA6
FORMAÇÃO DA AMÉRICA LATINA 
Introdução à unidade
Quando em Atos 1:8 Jesus disse que seus discípulos seriam suas 
testemunhas “até aos confi ns da terra”, fazia partes destes “confi ns” 
uma região que já era habitada por milhões de pessoas, que viria a 
ser conhecida posteriormente por América e também Brasil. Povos 
riquíssimos em sua cultura, religiosidade, formas de vida e relação com 
a natureza. Os que chegaram nesta região se diziam ou se imaginavam 
ser “discípulos” de Jesus, acreditando estarem também cumprindo uma 
missão testemunhal da fé cristã.
A história revelaria a posteriori, entretanto, que o chamado “descobrimento” 
da América, ofi cialmente ocorrido em 1492, pelo navegador Cristóvão 
Colombo, representaria um impacto cultural, econômico e social sobre 
os povos autóctones que habitavam este continente. “Muitas atrocidades 
foram cometidas em nome de “Deus”, da ‘Santa Madre Igreja’, e das 
Coroas Espanhola e Portuguesa em terras latino-americanas” (Jonathan 
Menezes).
Nesta primeira unidade serão analisados os processos de ‘descoberta’, 
conquista, colonização, catequização, evangelização, ou qualquer outro 
nome que se dê aos encontros, ou melhor, ‘choques’ culturais e religiosos 
envolvendo o mundo cristão católico, representado por Espanha e 
Portugal, e o mundo ameríndio, representado por cerca de 60 milhões 
habitantes constituído por inúmeras tribos e povos.
O conteúdo a ser abordado buscará responder às seguintes questões: 
o surgimento da América para o restante do mundo, em 1492, foi
o “descobrimento” de um mundo novo ou o “encobrimento” de um
mundo pré-existente? Como analisar esse processo levando em conta
a perspectiva do “outro”, o índio, autóctone? Quais crenças eram
professadas ou praticadas pelos povos indígenas da América? Que tipo
de cristianismo foi disseminado entre os povos indígenas(ameríndios)?
7História do cristianismo III | FTSA | 
E as crenças de matriz africana, quando e como foram introduzidas em 
solo americano? Como se formou a religiosidade sincrética, de devoção 
popular, que se estende até aos nossos dias?
1. Os povos ameríndios e suas crenças
Emprega-se o termo ‘ameríndio’ para designar os habitantes do mundo 
que viria a ser chamado de América, ou continente americano, a partir do 
século XVI.
Este mundo, também nominado de pré-colombiano, era habitado por 
cerca de 60 milhões de pessoas, há aproximadamente 25 mil anos. 
Nele se falavam milhares de línguas e dialetos. Só no Brasil (hoje assim 
chamado), eram cerca de 4,5 milhões de ameríndios, que falavam cerca 
de 1.200 línguas e dialetos.
A História e a Arqueologia ajudam a identifi car que chegada destes povos 
à América pré-colombiana se deu a partir da Ásia, especialmente da região 
da Mongólia, em diferentes levas de migração. Adentraram ao continente 
americano fazendo provavelmente a travessia pelo Estreito de Bering.
| História do cristianismo III | FTSA8
Glossário:
Ameríndia: nome dado à região, hoje conhecida como América, 
que era habitada pelos povos pré-colombianos (antes da chegada 
de Cristóvão Colombo).
Autóctone: natural do país ou da região em que habita e descende 
dos povos que ali sempre viveram; aborígene, indígena.
Cristóvão Colombo: navegador genovês; geógrafo; elaborou o 
projeto de navegação que, saindo da Espanha, se atingisse a região 
asiática navegando pelo Oceano Atlântico no sentido inverso de 
navegação conhecido à época, que seguia pelo Mar Mediterrâneo.
Estreito de Bering: faixa marítima que liga os oceanos Pacífi co e 
Ártico entre a Rússia e os Estados Unidos, com extensão aproximada 
de 100 km de largura, e que por um processo de glaciação tem 
sua parte de água congelada em determinados períodos do ano, 
possibilitando a travessia pedestre.
9História do cristianismo III | FTSA | 
Os povos ameríndios desenvolveram diferentes níveis de organização 
social, econômica e política. Quando espanhóis e portugueses chegaram 
a este novo mundo se depararam com civilizações bastante complexas, 
como os Astecas (no México), Incas (no Peru) e Maias (Guatemala).
Os Astecas, por exemplo, tinham um sistema político que formava uma 
confederação, um tipo de império; tinham um imperador, chamado 
Montezuma; desenvolveram cidades com construções suntuosas, ruas 
pavimentadas, setores comerciais por meio de um tipo de produção e 
troca em feiras, conhecimentos de medicina e engenharia; tinham um 
sistema tributário que cobrava impostos de povos inimigos conquistados; 
possuíam exército e um sistema religioso bastante complexo com 
sacerdotes ofi ciais.
Os Maias, desenvolveram saberes especializados de astronomia, 
agricultura cultivada por irrigação, conhecimentos de medicina, um 
calendário com 365 dias e 6 horas. 
Os Incas, formavam também um império; possuíam saberes 
especializados de engenharia, desenvolveram complexas construções, 
hoje visitadas como pontos turísticos em Machu Picchu.
Machu Picchu: Obra magna de arquitetura e engenharia; a área é Patrimônio da Humanidade desde 
1983. O santuário histórico de Machu Picchu ofi cial é alcançado através do Caminho Inca, composto 
por um conjunto de edifi cações que foi levantado no século XV. As pesquisas ainda não conseguiram 
precisar, no entanto, se o local foi um centro de defesa, um templo cerimonial ou uma cidade.
| História do cristianismo III | FTSA10
Outros povos ameríndios, como era o caso dos Tupi-Guarani, no contexto 
hoje brasileiro, viviam de forma nômade, com base na caça e coleta, numa 
economia de extração e subsistência, de integração com a natureza.
Estas populações, de modo geral, possuíam na crença um elemento 
muito importante para orientar seu mundo e comportamento. Admitiam 
a existência de uma divindade, mas não havia princípios ou estrutura de 
uma religião como ocorre, por exemplo, no cristianismo. Nas crenças 
indígenas, Tupã era o seu deus, considerado o sopro do divino. A relação 
com o sagrado se dava por meio da natureza, pela crença animista. O 
termo animismo tem origem na palavra grega “ânima”, que signifi ca alma 
ou vida, por isso o animismo acredita que os objetos materiais ou forças 
da natureza também possuem algum tipo de vida, devendo por isso 
ser também respeitados ou venerados. Assim, tudo no universo estava 
animado por uma força espiritual: as árvores, as pedras, os astros, todos 
os animais, insetos e também os objetos, podem relacionar-se com 
as pessoas em uma dimensão transcendente. Para os seguidores do 
animismo, os espíritos animam o mundo, protegem a saúde e permitem 
boas colheitas, velam pelas pessoas e, sobretudo, pelos espíritos dos 
mortos - se as pessoas forem más podem ser castigadas por meio de 
catástrofes e doenças enviadas por eles. Os animistas invocam os 
espíritos para proteção, festejam os mortos para que sejam favorecidos, 
com cantos e danças ao som dos tambores. Podem utilizar em seus 
rituais máscaras decoradas e pintadas com cores vivas, representando 
os espíritos invisíveis. 
Assim, as crenças indígenas adoravam o relâmpago, o trovão, o sol, a lua. 
Acreditavam também num deus malfazejo, a quem chamavam Anhangá. 
Seus líderes, na condição de xamãs ou pajés, afi rmam ter comunicações 
com o deus Tupã, sendo por isso capazes de predizer os tempos bons e 
maus para as caçadas, para a coleta de alimento, ou mesmo para o cultivo 
da terra, no caso das tribos que já adotavam esse modo de economia.
11História do cristianismo III | FTSA | 
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO - 01
O conceito animismo é de grande relevância para compreensão 
religiosa da América Latina, pois, a crença animista se faz 
presente na religiosidade indígena, no catolicismo, protestantismo, 
espiritismo, umbanda e outras formas de espiritualidade que 
compõem esse contexto. 
Assinale a única alternativa correta. O animismo acredita que: 
( ) Os objetos materiais ou forças da natureza possuem algum 
tipo de vida ou são animados por uma força divina devendo ser 
respeitado e venerados. O universo é animado por forças espirituais.
( ) Os objetos materiais ou forças da natureza não são animados 
por uma força espiritual. Ou seja, o universo é fruto de uma 
complexa evolução natural. 
( ) O animismo é uma crença isolada e se faz presente na América 
Latina apenas em referência à religiosidade indígena.
Acesse o AVA para fazer o exercício!
e veja a reação do professor!
| História do cristianismo III | FTSA12
2. A chegada dos colonizadores europeus ao continente
latino-americano
Em busca de novos territórios para abastecimento comercial, espanhóis 
e portugueses chegaram ao mundo ameríndio. Logo após a chegada de 
Colombo, Espanha e Portugal dividiram o novo mundo em dois grandes 
blocos de colonização. Esse acordo foi assinado no chamado Tratado 
de Tordesilhas, em 1494. Desse modo, receberam das mãos do Papa 
autorização e bênção para explorar economicamente as novas terras 
americanas pela colonização. Em contrapartida, a igreja exigiu duas 
coisas das respectivas coroas: que catequizassem (evangelizassem 
os povos nativos) e pagassem à igreja tributos (dízimos) de toda a 
riqueza produzida. Assim, os colonizadores introduziram um sistema de 
exploração de riquezas, por meio de ciclos, como exploração da madeira, 
do ouro, das grandes lavouras de açúcar, café e outros.
Glossário:
Tordesilhas: cidade, na Espanha, onde foi assinado o tratado ou 
acordo entre Espanha, Portugal e o Papa Alexandre VI, sobre a 
exploração colonizadora do novo mundo “descoberto”, a Ameríndia 
(América). 
Tratado de Tordesilhas: assinado em 1494, dois anos após 
a chegada de Cristóvão Colombo à América pela primeira vez. 
O tratado assegurava exclusividade a Espanha e Portugal, 
países católicos, na exploração econômica e disseminação da fé 
religiosa segundo os dogmas do catolicismo no novo mundo.
Para garantir e acelerar a produção, recorreram inicialmente à escravidão 
da mão de obraindígena. Devido à morte em grande escala destes, por 
excesso de trabalho, doenças contraídas, fugas, dentre outros fatores, 
logo recorreram a outra mão de obra: a de africanos escravizados em 
seu continente, trazidos nos navios negreiros para serem vendidos no 
mercado americano. Estima-se que ao longo de três séculos, cerca de 10 
milhões de africanos foram transportados para a América (do norte, do 
13História do cristianismo III | FTSA | 
sul e central). Só os portugueses importaram 50% deste contingente para 
o trabalho no Brasil.
Saiba Mais:
Linha do tempo
1492 – descoberta da América por Cristóvão Colombo
1494 – assinatura do Tratado de Tordesilhas
1500 – descobrimento do Brasil
1501 - Constatação científica de que se tratava de um novo 
Continente, feita pelo geógrafo Américo Vespúcio, por isso o novo 
continente recebeu o nome de América.
Os impactos da colonização nos povos indígenas foram enormes e 
violentos, no resultando no extermínio de milhões de indígenas e suas 
culturas. Houve: recrutamento para o uso da mão de obra; tomada 
de suas terras e territórios, destruição de sua organização social e 
religiosa, guerra bacteriológica, ou seja, doenças trazidas da Europa 
intencionalmente para contágio por meio de vírus, visando a morte e 
dizimação dos grupos indígenas, quando estes resistiam à dominação; 
a demonização de sua cultura e crenças. Um impacto econômico, 
caracterizado pela exploração, saque, implantação de um capitalismo 
selvagem e ávido por lucro; um genocídio, em que houve destruição 
de 90% da população nativa em três séculos de colonização. Em 1519 
iniciaram-se as expedições de Fernando Cortês ao México. Dois anos 
depois, a cidade de Tenochtitlán, capital do império asteca, foi destruída 
quase por completo, sobrando algumas ruínas. “A destruição foi da ordem 
de 90% da população [...]; “Dos 22 milhões de astecas em 1519, quando 
Hernán Cortés penetrou no México, só restou um milhão em 1600”. (Boff, 
1992, p. 10). No Brasil, especifi camente, de 4,5 milhões, restaram hoje 
cerca de 800 mil indígenas; em termos culturais, o desaparecimento de 
culturas históricas, incluindo línguas, conhecimentos, valores; no Brasil, 
por exemplo, de 1200 línguas e dialetos falados no século XVI, restaram 
hoje cerca de 180.
| História do cristianismo III | FTSA14
“Difi cilmente na história do Ocidente encontramos tanto etnocentrismo, 
dogmatismo, fundamentalismo e totalitarismo como na visão dos europeus 
do século XVI. Essa rigidez cultural e religiosa está na raiz do etnocídio 
e da violência aplicada contra indígenas e negros durante séculos, que 
perdura no inconsciente coletivo e nos hábitos autoritários das classes 
dominantes latino-americanos até os tempos atuais (...) A conquista e a 
colonização constituem em si um ato de grandíssima violência. Implicam 
que uma nação com sua cultura, memória, história e religião se submeta a 
outra, perdendo seu caráter de sujeito histórico (...) desestruturam a cultura 
submetida. Obrigam as pessoas a internalizar a fi gura do colonizador e a 
reprimir os legítimos reclamos de libertação e de justiça” (Boff, p. 18,19).
Saiba Mais:
De acordo com informações do Censo 2010, cerca de 0,4% da 
população brasileira é formada por índios, um total de 800 mil 
vivendo no País. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), 
existem 225 povos indígenas, além de referências de 70 tribos 
vivendo em locais isolados e que ainda não foram contatadas por 
este órgão governamental.
Há, portanto, seguindo o que constata Boff (1992) uma dívida histórica 
para com estes povos ameríndios:
Dívida étnico-cultural: os colonizadores dizimaram a população 
autóctone; destruíram o modo de produção comunitário e participativo; 
sufocaram os grandes mitos e tradições orais. Referindo-se às culturas 
ameríndias, Boff afi rma:
Aqui surgiram grandes culturas, com corpos de sábios, 
conhecimentos sofi sticados em astronomia, agricultura e 
medicina e línguas e religiões grandiosas. Tudo isso foi 
considerado obra de Satanás. O cristianismo sempre se 
mostrou sensível ao pobre, mas implacável e etnocêntrico 
diante da alteridade cultural (Boff, 1992, p. 11).
15História do cristianismo III | FTSA | 
• Dívida ecológica: há estragos irreparáveis na exploração de riquezas
naturais; desfl orestamento; inserção de um capitalismo predatório.
• Dívida de uma evangelização autêntica: os ameríndios conheceram
um evangelho desfi gurado; a evangelização não foi libertadora,
foi por medo, por violência. Por isso, torna-se necessária uma
reevangelização, recuperando a mensagem do evangelho a partir da
cultura e valores da própria América Latina.
Os colonizadores tinham como lema “terras para o Rei e almas para o 
Papa”; desenvolveram a chamada política “cruz e da espada”, ou seja, 
usavam da força para impor sua religião, ou então, usavam a religião para 
facilitar a dominação escravista. 
A cruz, enquanto símbolo, traz à luz o fator religioso e místico da 
conquista; marca a presença dos cristãos nesse processo, e a “conquista 
espiritual da América”. 
Segundo o pesquisador Ruggiero Romano, o primeiro gesto de Cristóvão 
Colombo, ao tomar posse da terra, foi fi ncar uma cruz, e, ao lado dela, 
crava-se também a bandeira de Espanha. A religião aporta aqui como 
instrumento ideológico e legitimador dos atos do Estado. (Romano, 
1973, p. 21). Como cita Enrique Dussel, “a bandeira ou estandarte que 
Cortês levou nesta expedição era de tafetá negro com cruz vermelha, 
com algumas chamas azuis e brancas e uma letra em volta que dizia: 
sigamos a cruz e com este sinal venceremos” (Apud Dussel, 1993, p. 44). 
Tal qual o imperador Constantino no séc. IV, que teve a “visão” mística 
de que com este sinal venceria, os espanhóis também se valeram dessa 
experiência com a cruz (sinal de vida e liberdade), para plantar a morte e 
escravidão na América. 
A violência da religião na América começa pela forma como aqui se 
aplicavam os intentos evangelísticos. A meta de colocar os povos 
das regiões americanas debaixo da égide política de Espanha estava 
intimamente atrelada à obrigação especial, fi rmada pelo papa Alexandre 
VI e pelos reis católicos, de levar-lhes a “santa fé católica” (Deiros, 1992, 
| História do cristianismo III | FTSA16
p. 272). Como também informa Dussel, antes de começar uma batalha
contra os indígenas, os conquistadores liam um texto para eles (o
“requerimento”) – como se os nativos entendessem algo do que estavam
falando – no qual se propunha a conversão dos tais à religião cristã.
Ordens religiosas posteriormente enviadas para a evangelização 
tiveram também a missão de converter para dominar; encomenderos ou 
bandeirantes, foram enviados para capturar indígenas para uso de sua 
mão de obra como escravos.
O século XVI marca o maior genocídio conhecido, 
que se dá no choque entre o europeu – civilizado, 
católico, cartesiano, bem instruído – e o índio – o “bom 
selvagem”, inculto, bestializado, explorado – que foi 
extraído de seu estado de “paz”, violentado e dominado 
em sua própria terra, a qual não mais poderia ser 
chamada de “sua”, mas daqueles mais poderosos que 
a “descobriram”. (Todorov, 1993, p. 10).
Glossário:
Encomenderos: capturavam indígenas para concentrá-los em locais 
de trabalho sob custódia da colonização espanhola; neste espaço 
os ameríndios eram doutrinados por missionários que integravam, 
normalmente, as ordens religiosas mais comuns nesta época. 
Os nativos ainda tinham que prover as necessidades de seus 
doutrinadores. Apareceram delações sobre os maus tratos a que 
estes trabalhadores eram submetidos por parte dos ‘encomenderos’.
Bandeirantes: Cumprem, no espaço da colonização portuguesa, as 
mesmas funções dos encomenderos espanhóis.
Ordens religiosas: Organizações religiosas surgidas na Idade 
Média, cujos membros, a partir da inspiração ou idealização de seu 
líder fundador, cumprem missões específi cas, como por exemplo, 
nas áreas de educação, saúde e ação social.
Genocídio: nome dado ao assassinato ou extermíniodeliberado de 
um grupo de pessoas
17História do cristianismo III | FTSA | 
EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO - 02
Segundo Leonardo Boff (1992), temos uma dívida histórica para com 
os povos ameríndios. Essa ponderção se alastra para o negro, para 
a mulher, ou seja, para todo aquele que foi atingido por um tipo de 
evangelização que desfi gurou a mensagem do Cristo por meio do uso 
de violência e opressão. Assim, atitudes salutares vão de encontro a 
essa dívida e são pertinentes para aplicação na atualidade. 
Desse modo, quais atitudes são possíveis perante essa realidade 
histórica? Assinale a única alternativa correta:
( ) Conscientização histórica já é uma atitude virtuosa que permite 
apagar grande parte dessa dívida passada. Assim, a tarefa humana 
perante essa barbárie histórica não se faz pela criticidade, mas 
apenas em adquirir boas informações para não mais repetir os erros. 
( ) Reevangelização a partir da cultura e valores da própria América 
Latina, superando o etnocentrismo, além de ações práticas de 
cuidado da criação de Deus em sua biodiversidade, envolvendo 
atitudes de reparação às explorações de riquezas naturais, como 
o refl orestamento e luta pelos direitos humanos de povos que
diretamente dependem da natureza.
( ) Reconhecimento de que não há mais nada a se fazer em 
relação ao passado, bastando por isso reafi rmações doutrinárias e 
convicções étnicas que assegurem a evangelização já consumada. 
Acesse o AVA para fazer o exercício!
e veja a reação do professor!
| História do cristianismo III | FTSA18
Introduziram, assim, em solo latino-americano, um tipo de cristianismo 
comprometido com a morte, injustiça, violência, guerra e escravidão. 
Um evangelho muito diferente daquele que Jesus anunciou como o 
evangelho do Reino de Deus.
Houve [na América] amostras defeituosas de 
evangelização. Foram [indígenas e negros], 
forçadamente, incorporados e inseridos na totalidade 
romano-católica na parte ibérica da América Latina [...]. 
O efeito foi a satanização das religiões autóctones e a 
imposição do cristianismo num imenso processo de 
substituição e de inculcação. O poder político foi usado 
para a implantação do cristianismo. (Boff, 1992, p. 23,24)
O outro e todo seu aparato cultural e religioso devem passar por uma 
“desconstrução” para que a verdadeira religião e civilização possam ser 
colocadas no lugar, como ressalta Dussel:
Todo o “mundo” imaginário do indígena era “demoníaco” 
e como tal devia ser destruído. Esse mundo do Outro 
era interpretado como o negativo, pagão, satânico e 
intrinsecamente perverso. O método da tabula rasa era 
o resultado coerente, a conclusão de um agrupamento:
como a religião indígena é demoníaca, e a europeia divina, 
a primeira deve ser totalmente negada e, simplesmente,
começar-se de novo e radicalmente a partir da segunda
o ensino religioso (Dussel, 1993, p. 60).
Assim, as “conversões” e “batismos” se sucedem e se multiplicam. 
Os sinais do “triunfo” do cristianismo na América também se tornam 
evidentes; a efeito de demonstração, surgem os altares, capelas e 
igrejas. Os vestígios que relembram as religiões e crenças anteriores dos 
indígenas, altares e velhos templos, devem ser destruídos. E como ato 
emblemático de vitória sobre tais crenças, as novas capelas e templos 
cristãos são edifi cados precisamente sobre as ruínas dos antigos. 
19História do cristianismo III | FTSA | 
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO - 03
Os colonizadores tinham como lema “ Terras para o Rei e almas para 
o Papa”. A política de envangelização e invasão era fundamentada
na cruz e na espada. Perante isso, pode-se afi rmar que a conquista
espiritual e territorial da América Latina foi de intentos evangelísticos
violentos, fundamentados na dominação, escravização, e
demonização sobre as crenças, e também sobre os índios .
Que tipo de resistência houve por parte dos povos indígenas em 
relação às formas de violência que sofreram? Assinale a única 
alternativa correta:
( ) Os povos indígenas resistiam de forma intensa guerreando 
contra os portugues e espanhóis que invadiam suas terras, 
conseguindo por isso preservar numérica e culturalmente suas 
tribos, como ocorreu entre os Astecas.
( ) Os povos indígenas resistiam à violência dos colonizadores por 
meio da tolerância e submissão passiva como escravos. 
( ) Os povos indígenas se isolavam, cometiam infanticídio, suicídio 
coletivo, faziam resistência pelo sincretismo, enfi m, lutavam de 
diversos modos na defesa da vida e de seus territórios.
Acesse o AVA para fazer o exercício!
e veja a reação do professor!
| História do cristianismo III | FTSA20
Como se poderia dar valor ao universo cultural de um povo que não era 
visto como “povo”, cujos membros, no fundo, eram considerados como 
“quase macacos”? Por isso, a afi rmação de Ruggiero Romano de que a 
evangelização resultou muitas vezes em um fracasso, pois foi dominada 
pela violência. Este agravante pode ser observado nas palavras dos 
indígenas à época: “Entre nós se introduziu a tristeza, se introduziu o 
cristianismo, esse foi o princípio de nossa miséria, o princípio de nossa 
escravidão.” (Boff, p.29)
Cabe citar, neste propósito, as palavras de Jonathan Menezes:
O papel da igreja, que supostamente seria o de fazer 
justiça e ser a “voz” em favor de tantas vozes de seres 
humanos que arbitrariamente foram sendo “caladas” 
diante do horror da conquista, parece que muitas 
vezes foi invertido na América, em nome de interesses 
aparentemente mais “nobres” como o do lucro, do 
poder, da subjugação dos povos para o fortalecimento 
de um só povo. Esses exemplos aqui citados, a meu 
ver, aumentam o coro de tantas vozes que acreditam 
que o cristianismo, ao longo de sua história, muitas 
vezes militou contra, e não a favor, do reino de Deus. 
(Menezes, 2016, p.20)
Uma questão que se coloca é: houve algum tipo de resistência por parte dos 
povos indígenas frente às formas de violência que sofreram? A resposta é 
‘sim’. Isso ocorreu por meio fugas, isolamento, infanticídio (mães indígenas 
que preferiam ver seus fi lhos mortos ao nascer do que serem escravizados 
pelos colonizadores), e até mesmo pelo suicídio coletivo, ou seja, preferiam 
morrer do que se deixar escravizar; houve resistência também pelo 
sincretismo (um tipo de conversão que apenas adaptava ideias e ritos 
cristãos com as crenças ameríndias, como é o caso da Virgem de Guadalupe, 
no México, em que Maria é adaptada a uma antiga devoção feminina 
indígena, ou seja, aparentemente estavam venerando os santos católicos, 
mas indiretamente continuavam adorando suas antigas divindades. Houve, 
igualmente, resistência por meio do aldeamento nas missões jesuíticas.
21História do cristianismo III | FTSA | 
Las Casas e a defesa dos índios
Segundo informa Bidegaín (1993, p. 70), este momento da colonização 
das ilhas caribenhas é marcado, primeiro, pela entrada de armas e, 
depois, pela chegada dos encomendeiros (que obrigavam os índios a 
trabalharem como escravos em troca de catequese) e missionários. A 
intensa exploração e violência utilizada pelos encomendeiros foi uma 
pedra de tropeço na vida dos missionários. E, é bom que se diga, desde 
o início da colonização tinha-se pelo menos dois grupos, que tomavam
posições opostas quanto à questão indígena, segundo Bidegaín: os
dominicanos, que defendiam a dignidade humana do índio e eram contra
a “guerra justa”, e aqueles que apoiavam os atos de dominação dos
colonizadores espanhóis, sem se preocupar com os “meios” utilizados.
Destaca-se a atuação de Bartolomeu de Las Casas. Espanhol, fi lho de
comerciantes, Las Casas chega a América como membro da tripulação
de Colombo em sua segunda viagem ao continente. Aporta, inicialmente,
como um encomendeiro entre tantos outros. Porém, ao ver com os
próprios olhos os atos de exploração e violência que aqui já se praticava
contra os nativos, Las Casas se sensibiliza e resolve mudar de postura.
De acordo com Bidegaín, num ato de consciência ele leu o texto de
Eclesiástico 34.26:“É assassino do próximo quem lhe rouba os meios de
subsistência; derrama sangue, quem priva o assalariado de seu salário”.
Assim o clérigo, ordenado na América, “compreendeu a injustiça que
cometia com seus índios e revisou sua atitude. Entregou os índios que
lhe foram encomendados ao governador de Cuba, Diego de Velásquez, e
abandonou a ilha a fi m de se dirigir à Espanha, para defender os índios
perante os próprios monarcas e fazê-los compreender a situação de
exploração que padeciam” (Bidegaín, 1993, p. 70). (Menezes, 2016, p.22)
3 - Crenças de matriz africana
As organizações das religiões afro-brasileiras nasceram das tradições 
culturais trazidas do continente africano para o Brasil na época da 
escravatura. Os negros escravizados tiveram difi culdades de expressar 
sua religiosidade e por esta razão tiveram que adaptar seus costumes e 
| História do cristianismo III | FTSA22
crenças para preservar sua tradição. Os africanos e seus descendentes 
tiveram que encontrar formas alternativas para garantir a manutenção de 
sua cultura. Das manifestações, a que mais sofreu perseguição e negação 
de sua legitimidade foi a religião. No Brasil, o Candomblé e a Umbanda 
são as religiões africanas que mais se destacaram, sendo conhecidas 
como afrodescendentes por apresentarem elementos religiosos das 
mais diversas regiões da África.
O candomblé é defi nido como religião animista, original da região das 
atuais Nigéria e Benin, trazida para o Brasil e aqui estabelecida por 
africanos escravizados. Em seus ritos, sacerdotes e adeptos encenam, 
com danças, em cerimônias públicas e privadas, uma convivência com 
forças da natureza e ancestrais. Os rituais são liderados pela mãe-de-
santo ou pai-de-santo, havendo uma hierarquia defi nida nas demais 
funções. Os seguidores do candomblé prestam culto e adoram os 
orixás, considerados pelos adeptos como deuses ou divindades que 
representam as forças da natureza. No Brasil, a história do candomblé se 
mistura com a do Catolicismo.
Proibidos de continuar com sua religião, os africanos escravizados 
usavam as imagens dos santos católicos para escapar da censura 
imposta pela Igreja. Isto ajuda a explicar o sincretismo encontrado no 
Candomblé no Brasil, algo que não se verifi ca na África. Atualmente, 
porém, muitas casas de candomblé não aceitam o sincretismo e buscam 
retornar às origens africanas.
No caso da Umbanda, considera-se uma religião brasileira formada pela 
composição híbrida de elementos de outras religiões como o catolicismo, 
espiritismo juntando-se ainda elementos da cultura africana e indígena. 
A umbanda tem origem nas senzalas em reuniões onde os escravos 
vindos da África louvavam os seus deuses por meio de danças e cânticos 
e incorporavam espíritos. O culto umbandista é realizado em templos, 
terreiros ou Centros apropriados para o encontro dos praticantes onde 
23História do cristianismo III | FTSA | 
entoam cânticos e fazem uso de instrumentos musicais como o atabaque. 
A cerimônia é presidida por um chefe masculino ou feminino. Durante as 
sessões são realizadas consultas de apoio e orientação a quem recorre ao 
terreiro, práticas mediúnicas com incorporações de entidades espirituais 
e outros rituais. O culto se assemelha ao candomblé, no entanto, são 
religiões que possuem práticas distintas.
Glossário:
Candomblé: termo da língua bantu, que signifi ca “dança” ou “dança 
com atabaques”.
Umbanda: palavra derivada do termo “u´mbana”, que na língua 
banta falada em Angola, o quimbundo, signifi ca “curandeiro”.
Orixás: defi nidos pelos adeptos do candomblé e da umbanda como 
forças da natureza. 
Sincretismo: fusão de diferentes doutrinas para a formação de uma 
nova, seja de caráter fi losófi co, cultural ou religioso. O sincretismo 
religioso é a mistura de uma ou mais crenças em uma única 
doutrina, mantendo-se características típicas de todas as suas 
doutrinas-base, sejam rituais, superstições, processos etc.
Uma palavra que partir do séc. XVII foi bastante utilizada pelos 
colonizadores para defi nir cerimônias africanas, muito diversifi cadas 
quanto às práticas, foi o termo Calundu. Essa palavra reúne diversos 
signifi cados: possessão ritual, evocação de espíritos (em geral de 
mortos), oferendas de comidas e bebidas aos espíritos, adivinhação 
do futuro, curandeirismo, música cantada e marcada por batuques. Os 
calundus eram combatidos pela Inquisição, mas tolerados por senhores 
(e padres), pois a tolerância era uma forma de negociação objetivando 
manter maior controle sobre os africanos escravizados, diminuindo 
atos de rebelião e fugas. A crença para esses grupos foi um recurso de 
subsistência e também resistência cultural e identitária.
| História do cristianismo III | FTSA24
4. O Catolicismo missionário na América Latina1
Sabe-se que a Igreja Católica, tal qual a concebemos modernamente, foi 
formada somente a partir do século XVI, quando se viu a necessidade 
de uma Contrarreforma ou Reforma Católica e a afi rmação de um corpo 
teológico-doutrinário e litúrgico que diferenciasse a “verdadeira igreja”, 
Católica, Apostólica, Romana, desse novo tipo que surgiu com a Reforma 
Protestante, e que vinha se alastrando pela Europa naquele período. Tudo 
isso foi sintetizado no Concílio de Trento (1545-1563), o mais longo de 
todos os tempos, que teve duas direções básicas: a) defi nição dos dogmas 
contra a cosmovisão protestante; b) reforma dos costumes e leis da igreja. 
O catolicismo de Trento nasce com a força propulsora de defender as 
doutrinas católicas (contra a pujança dos protestantes) e levar a fé cristã 
aos povos que se encontravam em estado de “ignorância” (do ponto de 
vista do europeu). Quando esse concílio aconteceu, a igreja já havia se 
instalado nas Américas há pelo menos 50 anos. Embora o concílio não 
tenha tido nenhuma autoridade religiosa representante do continente no 
quadro de religiosos presentes, houve uma preocupação, por menor que 
fosse, de que as resoluções de Trento chegassem até a igreja estabelecida 
nas colônias. Boa parte dessas resoluções, como já mencionado, foram 
reafi rmações de práticas e doutrinas outrora vigentes, em matérias 
questionadas e combatidas pelos reformadores, como a questão da 
autoridade, do pecado, da justifi cação e dos sacramentos. 
Como um poderoso braço de Trento e da Contrarreforma, os jesuítas 
foram os principais agentes encarregados dessa tarefa. A Companhia de 
Jesus (ou dos jesuítas) é uma ordem religiosa fundada em 1534 por um 
grupo de estudantes da Universidade de Paris, tendo como seu principal 
líder o padre Inácio de Loyola. É conhecida por duas frentes de trabalho 
bastante fortes: a educacional e a missionária. Os jesuítas foram um 
dos grupos defensores mais radicais dos postulados estabelecidos pela 
Contrarreforma. Dentre outras coisas, pregavam que as ostentações e 
cerimônias (ritos, liturgias) do catolicismo precisavam ser mantidas, 
valorizadas e ostensivamente fi nanciadas. 
1 Item desenvolvido com a colaboração do prof. Jonathan Menezes
25História do cristianismo III | FTSA | 
Os primeiros jesuítas a aportarem na América foram os contratados por 
Portugal, chegando ao Brasil em 1549. A Espanha os contratou em 1567. 
Os nomes mais conhecidos são os dos padres José de Anchieta e Manuel 
da Nóbrega. Fundaram um colégio em Salvador, Bahia, e começaram sua 
catequese ali. Aos jesuítas é atribuída a responsabilidade pela instituição 
de quase todo o corpo educacional no Brasil no período colonial 
(1500-1800), e pelo rico legado deixado para a literatura brasileira. Há 
pelo menos duas formas de conceber o trabalho dos jesuítas com os 
indígenas na América: a) como protetores dos indígenas – enquanto 
lutaram contra a ação dos encomenderos e latifundiários, de exploração 
do trabalho escravo indígena e até mesmo de caça aos nativos; b) como 
violadores de seus costumes, cultura e religião. Como todo o trabalho 
de evangelização na América, a missão dos jesuítas não se delineou de 
modo muito diferente no quesito diálogocom as culturas e religiosidades, 
a não ser pelo fato de terem aprendido as línguas nativas, composto seus 
autos (peças teatrais) e sermões nessas línguas, e tendo-as preservado 
de extinção completa. 
Uma das difi culdades de apreensão e aceitação da pregação dos jesuítas 
por parte dos nativos estava no nomadismo. Segundo Martin Dreher 
(1999, p. 71), “este terminava com os esforços dos padres e punha fi m à 
sua ilusão de que os indígenas estavam sendo atraídos por sua pregação, 
e principalmente, por sua música”. Uma das estratégias de contenção e 
domesticação dos indígenas foram as chamadas reduções. Os batizados 
eram concentrados em aldeamentos fi xos, nos quais eram disciplinados 
e fi cavam sob a vigilância dos jesuítas. Alguns percalços, porém, surgiram 
contra o sucesso desse modelo, como a falta de vontade política da 
Corte em afastar os colonos e encomenderos dos indígenas, haja vista 
o confl ito de interesses que estava em jogo. Acrescia-se a isso a própria
ação dos colonos contra os jesuítas, o que resultou, por exemplo, em sua
expulsão da colônia portuguesa em 1640, só deixando-os voltar com a
condição de não mais importunarem os caçadores de índios.
| História do cristianismo III | FTSA26
Glossário:
Inácio de Loyola: nascido na Espanha, foi o fundador da Companhia 
de Jesus, uma ordem religiosa católica romana que teve grande 
importância na Contrarreforma Católica, cujos membros são 
conhecidos como os jesuítas. Loyola era militar e ao sobrevive a 
um acidente que sofrera, fez o voto de se dedicar à vida religiosa, 
fundando assim a Ordem que fi cou conhecida como Companhia 
de Jesus, que passou a ter como principal estratégica de missão a 
educação.
Reduções: nome dado ao espaço onde funcionavam as missões 
jesuíticas, constituído pela escola, onde indígenas eram 
alfabetizados, pelo templo, onde era feita a catequese, e ofi cinas, 
onde havia produção de artesanato, instrumentos musicais e outros 
bens que eram vendidos para arrecadação fi nanceira de sustento 
das missões.
Além dessa estratégia das reduções, tentou-se também a estratégia 
de persuasão dos indígenas. Para tanto, foi necessário que os jesuítas 
fl exibilizassem um pouco mais as formas de abordagem na catequese, 
fazendo uma mescla de ortodoxia católica com alguns elementos 
presentes nos usos, costumes e crenças dos indígenas, de modo que 
houvesse uma possível identifi cação. José de Anchieta foi um dos que 
com maestria se adaptou ao espírito fl exibilizado da evangelização 
através de sua produção poética e dramática. O primeiro indício disso 
está no fato desse jesuíta ter redigido seus poemas e autos em tupi. 
Em ambas as formas de comunicação, se podia notar a presença de 
elementos do que hoje concebemos como uma “religiosidade popular”, 
simples e objetiva, que buscava despertar a devoção cristã no índio e 
transformá-lo num “novo homem” – os jesuítas, diferentemente de outros 
colonos e dos conquistadores, consideravam os indígenas não como 
seres bestiais, mas como “gente” humana.
27História do cristianismo III | FTSA | 
5. Religiosidade popular e magia2
O assunto da religiosidade popular na América Latina é bastante amplo e 
um conceito que tem múltiplas defi nições. O Conselho Episcopal Latino 
Americano, em 1974, defi niu religiosidade popular como “o conjunto de 
convicções e práticas religiosas que grupos étnicos e sociais elaboram 
através de uma adaptação especial do cristianismo a culturas tipicamente 
latino-americanas” (Apud Deiros, 1992, p. 118). Deiros formula seu 
próprio ponto de vista sobre a religiosidade popular, como sendo “o 
conjunto de mediações e expressões religiosas nascidas da mente e 
das entranhas do povo no culto, segundo os modos tradicionais típicos 
de cada agrupamento humano e transmitidos de geração em geração” 
(Deiros, 1992, p. 119,120).
Segundo esse autor (1992, p. 120), “as crenças resultantes do processo 
de sincretismo religioso, que se deu no continente a partir da colonização 
das almas indígenas e negras, mostram a coexistência de elementos 
estranhos entre si, porém, todos debaixo do nome abarcador de 
catolicismo romano”.
Geralmente, nos simulacros dos santos estava presente a “côrte celeste” 
de maior preferência do devoto. Sempre havia um lugar especial para a 
Virgem, a padroeira do povo, em suas diversas e inúmeras representações, 
adorada como a “rainha dos céus”, “madrinha dos neófi tos”, advogada 
dos oprimidos e pecadores, símbolo de grande devoção e comoção 
populares. Dentre os santos de casa, como informa Mott (1997, p. 
186), “o lusitano santo Antônio foi – e continua sendo – o campeão da 
devoção popular em toda cristandade”. Ele era comumente invocado 
como advogado das causas perdidas e santo casamenteiro. “Valei-me 
meu Santo Antônio!”, costumam clamar os devotos, sempre em busca 
de um novo favor. 
2 O conteúdo deste item foi elaborado com a colaboração do Prof. Jonathan Menezes.
| História do cristianismo III | FTSA28
Não obstante às constantes visitas dos padres a esses lugares onde 
fi cavam os santos, aspergindo e abençoando com água benta, nem 
sempre as práticas ali realizadas seguiram os preceitos estabelecidos 
pela ortodoxia católica. Um exemplo, oferecido por Mott, está na 
intimidade excessiva com o sobrenatural por parte de alguns colonos. 
As mulheres se colocando como as próprias amas de leite do menino 
Jesus, a particular devoção das mulheres grávidas com nossa Senhora 
do parto, e vários exemplos que apresentam algumas relações não só 
de amor como também de ódio dos devotos com os santos. Conforme 
expõe Mott (1997, p. 184), “de fato, na religiosidade popular do Brasil 
de antanho, a intimidade dos devotos vis-à-vis certos santos e oragos 
percorria um continuum de amor e ódio, que incluía louvores, adulação, 
rituais propiciatórios, intimidação e até agressão física”.
Gilberto Freyre, em sua obra Casa-Grande e Senzala, fala-nos mais a respeito 
dessa religiosidade afetivizada, lírica e animista vigente no Brasil Colonial:
(...) os santos e os anjos só faltando tornar-se carne e 
descer dos altares nos dias de festa para se divertirem 
com o povo; os bois entrando pelas igrejas para serem 
bentos pelos padres; as mães ninando os fi lhinhos 
com as mesmas cantigas de louvar o menino-Deus; as 
mulheres estéreis indo esfregar-se, de saia levantada, 
nas pernas de São Gonçalo do Amarante; os maridos 
cismados de infi delidade conjugal indo interrogar os 
“rochedos dos cornudos”; e as moças casadoras os 
“rochedos do casamento”; nossa senhora do Ó adorada 
na imagem de uma mulher prenha (Freyre, 1973, p. 22). 
Dentre as práticas que compunham a religiosidade popular eram as 
simpatias, os feitiços, as mandingas e até pactos explícitos com o Diabo. 
Em contrapartida, alguns padres, preocupados com o desvio dos fi éis 
pelas armadilhas do demônio, segundo informa Mott (1997, p. 196), 
passaram a “adotar certas cerimônias e rituais que competiam, no 
apelo dos sentidos e utilização de elementos materiais, com as práticas 
29História do cristianismo III | FTSA | 
costumeiras dos mandingueiros, calunduzeiros”. Esse é um indício que 
aponta para a complacência da igreja em tratar das práticas religiosas 
populares. Nem a existência da Santa Inquisição, que no Brasil foi coisa 
“pra português ver”, pôde domesticar as manifestações do sagrado em 
seu estado mais primitivo ou “selvagem”, como diria o sociólogo Roger 
Bastide. A tênue barreira entre a religiosidade ortodoxa e a popular, entre 
as práticas ilícitas e as lícitas não foi sufi ciente para impedir a propagação 
dessas excentricidades religiosas, que correram pela margem, pela periferia, 
e perpassaram a história do cristianismo na América Latina até hoje.
O “Homo Religiosus” Latino-americano 
Constatamos que:
1. América Latina é um povo evangelizado pela metade. A massa
ignorante ou douta possui uma fé incipiente, que se manifesta em
grande porcentagem numa 'religiosidade popular'. Isso se verifi ca
tanto entre as pessoas do campo como entrea gente urbana. A
educação dessa fé é umas de nossas grandes urgências pastorais.
2. As motivações dessa religiosidade popular são diversas e se
encontram muitas vezes mescladas, de modo que é difícil em
muitos casos discernir onde termina o religioso e onde começa o
mágico e supersticioso. Podem nascer do temor, do fatalismo e de
uma visão cósmica da divindade ou de uma visão correta de Deus
e de uma fé verdadeira. Muitas vezes essa religiosidade se fomenta
com fi ns econômicos e turísticos.
3. As manifestações da religiosidade popular são múltiplas e
variadas, por exemplo: multitudinárias nos santuários; coletivas
nas paróquias; familiares, nas casas e comunidades de base;
individuais, desde a veneração de uma imagem até o uso fetichista
de amuletos.
4. Essas parecem ser as manifestações mais frequentes da
religiosidade popular: o culto a imagens do Cristo passivo e morto;
o culto aos mortos; as diferentes devoções a Maria; o culto a certos
| História do cristianismo III | FTSA30
santos que 'fazem milagres'; carregar medalhas e escapulários; 
fazer novenas; pagar missas e promessas; consultar adivinhos e 
horóscopos, etc. 
5. Dentre essas manifestações, há algumas que vão sendo
abandonadas por muitos (rosário, mês de Maria, primeiras sextas),
enquanto em algumas partes se fazem esforços para encontrar
novas expressões de fé (Liturgia da Palavra, novenas bíblicas), se
nota um crescimento no campo do espiritismo e da astrologia em
outras partes, especialmente nas cidades.
6. Na religiosidade popular em geral encontramos elementos
positivos mesclados com alguns negativos, por exemplo:
Positivos: sentido do sagrado e transcendente; disponibilidade para 
escutar a palavra de Deus; capacidade de orar; sentido de amizade 
e caridade; capacidade de sofrer e reparar; desprendimento do 
material; aceitação cristã de situações irremediáveis.
Negativos: falta de sentido de pertencimento à Igreja; crença em 
lendas e mitos; 'religião triste e fatalista'; desvinculação entre fé 
e vida; valorização exagerada dos santos e ignorância de Cristo e 
seu Mistério; considerar a religião como mágica e supersticiosa; 
'caricaturas' de Deus; desvios morais (rituais, orgias, etc.); primado 
pelo utilitarista, o egoísta (Deiros, 1992, p. 102).
Talvez a transformação na vida do indígena tenha sido mesmo escassa do 
ponto de vista do conteúdo da adoração e culto a seus deuses, cobertos 
com uma camada de verniz católico; mas no que se refere às formas 
estabelecidas para isso e o cotidiano dos nativos, passaram por um 
processo grande de transformação. Ninguém sai totalmente incólume 
de um deslocamento como esses:
Em síntese, a religiosidade popular é fruto da 
evangelização incompleta e alienante, levada a cabo 
desde os dias da conquista até o presente, com 
31História do cristianismo III | FTSA | 
características especiais. Os conquistadores e os 
missionários trabalharam por converter em realidade 
seus sonhos messiânicos de criar “de cima para baixo” e 
mediante métodos violentos, uma cristandade modelo, 
uniforme nos planos estatal e religioso. Para tanto, 
quis-se destruir a religião nativa e impor a fé católica 
romana em seu lugar. Desse modo, o que houve foi uma 
sobreposição de religiões, porém não uma autêntica 
conversão, no sentido cristão. (Deiros, 1992, p. 126)
No Brasil, não obstante os muitos avanços (e retrocessos) ocorridos no 
campo das religiões nas últimas décadas, bem como das metamorfoses 
do sagrado, ainda somos fruto dessa construção ocorrida desde o período 
colonial. Ed René Kivitz parece ter captado muito bem essa infl uência ao 
falar de algumas marcas do fenômeno religioso do Brasil e da América 
Latina, no prefácio à edição brasileira do livro A igreja do outro lado, de 
Brian McLaren (2008). Segundo ele:
A religiosidade brasileira do terceiro mundo é mágica, 
mística, profundamente marcada pelas categorias 
das religiões indígenas e afro. Somos o povo das 
superstições, das mandingas, das simpatias. Ainda 
fazemos despachos nas esquinas, pulamos ondinhas 
na passagem de ano e lançamos fl ores ao mar para 
Iemanjá, fazemos correntes de oração e jejuns, subimos 
escadas de joelhos pagando promessas, acendemos 
velas, ungimos portas de casas com óleo e deixamos 
a Bíblia aberta no Salmo 91 para afastar espíritos 
malignos, damos dinheiro na igreja para impedir a ação 
dos gafanhotos devoradores do dinheiro dos crentes, 
engrossamos romarias à Fátima, Lourdes e Aparecida 
do Norte, cultuamos o Padre Cícero e nos regozijamos 
com a canonização do Frei Galvão (Kivitz, 2008, p. 15). 
Ainda sobre a religiosidade popular e magia no campo religioso brasileiro, 
| História do cristianismo III | FTSA32
o pesquisador Antônio Gouvêa Mendonça descreve o compósito do
campo religioso brasileiro afi rmando que “o universo do catolicismo
popular era um universo mágico de pluralidade de deuses”, cujo cenário,
nunca fi xo e permanente, “podia ser manipulado e rearranjado segundo
as necessidades humanas”. Acrescenta ainda:
A cultura brasileira tem três componentes muito claros: 
a cultura ibero-latino-católica, a indígena e a negra. A 
primeira não é representada pelo catolicismo tridentino, 
mas pela religião popular, folclórica e festiva legada 
pela tradição lusitana. Dessa mistura de cultura resultou 
um imaginário de um mundo composto por espíritos 
e demônios bons e maus, por poderes intermediários 
entre os homens e o sobrenatural e por possessões. 
Trata-se de um mundo maniqueísta em que os poderes 
são classifi cáveis entre o bem e o mal e manipuláveis 
magicamente. (Mendonça, 1997, p.160)
Mendonça destaca algumas características fi ncadas nas raízes dessa 
religiosidade desenvolvida desde o período colonial: peregrinações 
a locais sagrados; mediação dos santos por meio de preces muito 
populares, que nem sempre seguem a canonização ofi cial dos mesmos 
pela igreja; fazer e cumprir promessas, acender velas, solicitar ajuda 
de rezadores. Eduardo Albuquerque comenta o arraigamento dessas 
práticas no catolicismo de devoção popular:
No cristianismo popular brasileiro, a oração, a prece 
e a reza são fórmulas religiosas dirigidas a Deus, a 
Cristo, à Virgem Maria e aos santos, mediante o que 
o fi el pede, deseja, julga a si mesmo e avalia suas
próprias necessidades. Vindas de Portugal, enfrentam
a Inquisição, os médicos e os juristas e sobrevivem
nos nossos dias através dos homens e mulheres que
benzem. (...) instrumentos mantidos pela memória
do povo brasileiro para enfrentar suas adversidades
cotidianas. (Albuquerque, 2006, p.10)
33História do cristianismo III | FTSA | 
EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO - 04
A religiosidade popular é inerente à América Latina; por mais que 
a corrente ortodoxa se coloque como um barreira para impedir 
a propagação das excentricidades da esfera religiosa popular, 
essa se fez pela margem, pela periferia, e perpassou a história do 
cristianismo até hoje, formatando então o “Homo Religiosus” latino 
– americano. Assim, quais aspectos dessa religiosidade popular
podem ser considerados positivos para a vida cristã na atualidade?
Assinale a única alternativa correta:
( ) Crença em lendas e mitos, superstição, falta de pertencimento 
à igreja, religiosidade fatalista.
( ) Sentido do sagrado e do transcendente, disponibilidade para 
escutar a palavra de Deus, capaciadade de orar, sentido de amizade 
e caridade, capaciadade de sofrer e reparar, desprendimento do 
material, aceitação cristã de situações irremediáveis. 
( ) Religiosidade com fi ns materiais, valorização exagerada dos 
santos, desvinculação entre fé e vida. 
Acesse o AVA para fazer o exercício!
e veja a reação do professor!
| História do cristianismo III | FTSA34
A introdução de grandes levas de escravos provenientes da África ocasionou 
não somente uma grande mescla ou mestiçagem racial, como também um 
intenso e circular pluralismo nas crenças que perfazem o campo religioso 
brasileiro. Basicamente, os únicos elementos que os negros puderam 
transportar da sua terra natal parao Brasil colonial foram, além de outros 
aspectos culturais, as crenças em seus deuses e espíritos e os múltiplos 
ritos para se relacionar com eles. Esta fé se estendeu posteriormente às 
diferentes regiões do país, estando presente por meio de uma variedade de 
expressões das quais as mais conhecidas e extensivas são o candomblé e 
a umbanda. Essa última tipologia contém traços muito fortes de espiritismo 
como também elementos litúrgicos da fé cristã. 
Tais crenças compõem parte signifi cativa da cultura do país. Pierre 
Sanchis se refere ao capital simbólico que confi gura o campo religioso 
brasileiro indicando como matriz religiosa um encontro de práticas, 
crenças e ritos de expressões culturais distintas, marcadas por raízes 
europeias, africanas e indígenas. A “porosidade” que confi gura essa 
matriz cultural é que permite, ao mesmo tempo, crer em demônios, ter 
medo de pisar em trabalhos de macumba, usar fi tas do Senhor do Bonfi m, 
colocar carrancas nas entradas das casas, elefantes de costas para as 
portas, soltar fogos no dia de Nossa Senhora Aparecida, virar Santo 
Antônio de cabeça para baixo para se obter um casamento, ir à missa 
aos domingos, acreditar em reencarnação, tomar banho de descarrego e 
benzer-se com água benta, acender incensos, acreditar em “olho gordo”, 
cristais, gnomos... (Sanchis, 1994, p. 4)
Também Eduardo Hoornaert (1993, p.67), distinguindo do que chama de 
“catolicismo estabelecido ou patriarcal”, identifi ca o “catolicismo popular” 
brasileiro como sendo a religiosidade indígena e africana (HOORNAERT, 
1991, p. 98). Afi rma ainda que “os sacerdotes católicos foram assimilados 
a modelos bem defi nidos do imaginário religioso indígena...”, ao passo 
que um processo em outra via também ocorreu: no confronto entre o 
sacerdote católico e o “xamã” americano (pajé, curandeiro, conselheiro, 
feiticeiro etc.) alguns deles “descobriram nesse confronto a dimensão 
xamânica inerente à sua própria vocação” (Hoornaert, 1993, p.72).
35História do cristianismo III | FTSA | 
A magia consiste num dos elementos que marcam fortemente o campo 
religioso brasileiro, com raízes fi ncadas na longa duração. Pode-se 
entender como magia tudo aquilo que tenta inverter as formas naturais 
das coisas. A sua essência reside, pois, na dominação dos poderes supra-
sensíveis, os quais são convocados e controlados autoritariamente em 
função do objetivo visado pelos seus adeptos. Desde os tempos mais 
antigos, a magia tem prometido às pessoas que a ela recorrem a solução 
imediata de determinados problemas muito concretos. O pesquisador 
Antônio Flávio Pierucci ressalta que a magia está circunscrita nas 
soluções que pode oferecer aos transtornos e contratempos da vida 
humana: “A magia torna o mundo mais próximo das nossas próprias 
mãos, deixa os poderes superiores mais acessíveis à nossa própria 
vontade, simbolicamente mais controláveis; a magia delimita, defi ne e 
aproxima os resultados que promete” (Pierucci, 2001, p.44). Esse mesmo 
autor acrescenta:
A magia costuma ser praticada em situações de 
muita incerteza, imprevisibilidade e, portanto, tensão e 
ansiedade. (...) Magia é para ser acionada no momento 
oportuno, quando se tem que enfrentar, com sucesso, 
difi culdades não usuais, situações específi cas fora do 
trivial, quando o inexplicável teima em acontecer e o 
imprevisto pode sobrevir. Magia é feita para concretizar 
o extraordinário. (Pierucci, 2001, p. 55)
Estabelecendo como ponto de partida o contexto do Brasil colonial, pode-
se dizer que em tal período já podem ser identifi cadas práticas religiosas 
marcadamente caracterizadas por expressões de magia, com fortes 
raízes no catolicismo medieval. Especialmente, a partir do século IV da era 
cristã, quando o cristianismo se tornou religião lícita e ofi cial do Império 
Romano, desenvolveu-se um intenso e crescente processo de aculturação 
entre doutrinas cristãs e antigas práticas cúlticas que permeavam o 
universo religioso do mundo greco-romano. Segundo Leonildo Campos, 
nesse período a assimilação da fé cristã pela população rural, mediante 
a catequese, “formou uma camada de verniz sobre uma antiga realidade 
| História do cristianismo III | FTSA36
religiosa” (Campos, 1997, p.170), desencadeando um intenso apego às 
relíquias como fetiches de proteção, com caráter mágico, objetos esses 
que supostamente teriam sido utilizados pelos apóstolos ou outros 
mártires do cristianismo e que eram então guardados nos lares dos 
devotos com o sentido de proteção contra doenças, contra infortúnios 
do demônio ou como ajuda contra as intempéries que poderiam ameaçar 
as colheitas. Esta “magia” dos objetos desencadeou um verdadeiro 
comércio de amuletos:
Multiplicaram-se os cultos às relíquias sagradas, 
verdadeiros fetiches milagrosos, aos quais se atribuíam 
poder de curar enfermidades e proteger as pessoas 
dos perigos. Esses objetos, que pensavam terem 
pertencido aos santos ou simplesmente por terem 
sido usados na missa, eram trocados, presenteados, 
roubados, vendidos ou comprados. Muitos deles eram 
empregados com as mais diversas fi nalidades, desde 
o auxílio no trabalho de parto até na cura de peste no
gado bovino ou afastar epidemias de seca, fome ou
pragas de gafanhotos (Campos, 1997, p.171).
O historiador inglês Keith Thomas também afi rma que no contexto da 
Idade Média, 
as relíquias sagradas tornaram-se fetiches milagrosos, 
tidos como dotados do poder de curar enfermidades e 
proteger contra perigos (...) atribuía-se igualmente uma 
efi cácia miraculosa às imagens. A representação de são 
Cristóvão, que com tanta frequência ornamentava as 
paredes das igrejas das aldeias inglesas, supostamente 
concedia um dia de imunidade à doença ou à morte a 
todos os que a fitassem (Thomas, 1991, p.36).
Este mesmo autor constata que no mundo medieval havia se desenvolvido 
um “amplo leque de fórmulas para atrair a bênção prática de Deus sobre 
as atividades seculares”, acrescentando:
37História do cristianismo III | FTSA | 
O ritual básico era o benzimento com sal e água para 
a saúde do corpo e expulsão dos maus espíritos. Mas 
os livros litúrgicos da época também traziam rituais 
para benzer casas, gados, culturas, embarcações, 
ferramentas, armas, cisternas e fornalhas. Havia 
fórmulas para abençoar homens que se preparavam 
para sair em viagem, para travar um duelo, para entrar 
em batalha ou mudar de casa. Havia métodos para 
abençoar os doentes e tratar de animais estéreis, 
para afastar o trovão e trazer a fecundidade ao leito 
matrimonial [...] Fundamentalmente em todo esse 
procedimento era a ideia de exorcismo, o esconjuro 
formal do demônio, expulsando de algum objeto 
material por meio de preces e da invocação do nome 
de Deus. A água benta podia ser utilizada para afastar 
maus espíritos e vapores pestilenciais. Era remédio 
contra a doença e a esterilidade (Thomas, 1991, p.38).
Glossário:
Sabá: termo utilizado para identifi car os ritos classifi cados como 
bruxaria durante a Idade Média.
Amuleto: objeto ou fórmula que alguém guarda consigo e a que 
se atribuem virtudes sobrenaturais de defesa contra desgraças, 
doenças, malefícios etc.
Xamanismo: manifestações, ritos e práticas centralizadas na 
fi gura do xamã, identifi cado como feiticeiro, que tem o papel de 
intermediação entre a realidade terrena e a dimensão sobrenatural, 
por meio de transes místicos, com fi nalidades especialmente 
curativas.
Exorcismo: rito por meio do qual se expulsam os maus espíritos.
| História do cristianismo III | FTSA38
A historiadora Laura de Mello e Souza demonstra em suas obras como 
esse catolicismo mágico, de identidade ainda medieval, se transpôs à 
América no período da colonização. Isto se deu de dois modos: pelas 
práticas de uma religiosidade popular católica à margem dos dogmas 
ofi ciais; pelo olhar inquisitorial do catolicismo ofi cial, que buscava vigiar 
e punir estas práticas. Afi rma que católicos chegaram a fazer uso da 
violência no esforço que empreenderam visando o banimentodo que 
consideravam “paganismo”, expresso na religiosidade vivida pelas 
populações da Europa Moderna: “homens e mulheres [eram] acusados de 
[...] blasfêmias, proposições heréticas, visões e feitiçarias” (Souza, 1993, 
p. 90). Ainda segundo essa autora, “os jesuítas haviam desempenhado
função demonizadora durante o século XVI, vendo sabá nas cerimônias
indígenas”. (Souza, 1986). As atuações colonizadoras no Brasil colonial
eram também vistas como mecanismos “exorcizadores desses povos;
trazendo-lhes a fé cristã, os livrariam dos demônios” (Mariz, 2000, p.257).
Na época, como mostra Keith Thomas, o diabo era a explicação para o
inexplicável e para mistérios, doenças e insucessos, havendo, portanto, a
necessidade de se recorrer à magia (Thomas, 1991, p.387).
Laura de Mello e Souza afi rma que “a baixa Idade Média assistira a 
uma demonização paulatina da existência”, fortalecendo “ainda mais a 
presença de satã entre os homens” (Souza, 1986, p. 137). Acrescenta 
esta autora:
No fi nal do século XV, pregadores e clérigos saturavam 
seus sermões com um vocabulário diabólico. [...] Foi, 
portanto, no início da Época Moderna, e não na Idade 
Média, que o inferno e seus habitantes tomaram conta 
da imaginação dos homens do Ocidente (Souza, 1986, 
p. 139).
No caso católico, a ratifi cação feita pelo Concílio de Trento no sentido 
de continuar usando a Inquisição no combate às heresias, acabou 
39História do cristianismo III | FTSA | 
instigando ainda mais o imaginário diabólico que viria confi gurar as 
práticas religiosas desenvolvidas na América Colonial.
Encontrando na colônia populações autóctones que 
também viam o diabo como força atuante e poderosa, 
os jesuítas acabaram por demonizar ainda mais as 
concepções indígenas, tornando-se, em última instância, 
e por mais paradoxal que pareça, agentes demonizadores 
do cotidiano colonial (Souza, 1986, p. 139).
Ressalta-se ainda que as práticas mágicas e religiosas na colônia 
brasileira revelariam, ao fi nal de seu primeiro século de existência, sua face 
pluricultural, que se consolidou durante o século XVII. Para isso contribuiu 
a Inquisição, que “despejou sobre solo colonial com grande frequência 
os hereges e feiticeiros” que “trabalhariam no sentido da manutenção 
das persistências” (Souza, 1993, p. 56). Enfi m, a Europa da Modernidade 
nascente, berço e auge das reformas religiosas tanto protestante como 
católica, experimentou, com sua periferia colonial uma guinada: em vez 
de “religião com magia”, como sempre tinha sido e assim seguiria sendo 
no resto do mundo, “religião contra magia” (Pierucci, 2001, p. 86).
6. Presenças ocasionais do Protestantismo no período
colonial
Ainda que de modo ocasional ou temporário, o protestantismo conseguiu 
estabelecer contatos com a América Latina ao longo do período 
colonial. 
Os primeiros contatos ocorreram por meio de literaturas. Piratas, 
corsários, comerciantes de escravos (franceses, ingleses e holandeses), 
que eram protestantes, ao circularem por estes territórios latino-
americanos disseminaram Bíblias, livretos protestantes e outros tipos de 
literaturas, que falavam da fé reformada, sobretudo entre as camadas 
mais elitizadas.
| História do cristianismo III | FTSA40
Glossário:
Corsários: espiões enviados à América por nações concorrentes da 
Espanha e Portugal. Dentre estas nações, algumas eram protestantes, 
fato que possibilitava a distribuição de literaturas por estes emissários 
em terras latino-americanas, dentre as quais, a Bíblia ou trechos dela, 
além de comentários bíblicos de Martinho Lutero.
Uma colônia alemã, luterana, desenvolveu-se na Venezuela, entre 
1529-1546. Foi por circunstâncias econômicas. A Espanha devia 
para banqueiros alemães e como forma de quitar a dívida cedeu este 
território para que fosse explorado comercialmente pelos credores. 
Estes trouxeram algumas dezenas de famílias para o Novo Mundo, 
onde criaram uma igreja para a prática do culto protestante, de liturgia 
luterana, com a presença de pastores que cuidavam espiritualmente 
desta população. Foi algo que se deu apenas na língua germânica, sem 
fi nalidade missionária ou evangelizadora. 
Conforme já mencionado na disciplina de História do Cristianismo II, 
não obstante as restrições impostas, duas tentativas de inserção foram 
feitas por protestantes no Brasil colonial. Ambas acabaram sendo 
fortemente rechaçadas pela religião dominante, o catolicismo, sob a 
acusação de se constituir prática de heresia, dado o calor dos conflitos 
desencadeados naquele período pelo processo de reformas na igreja, 
que contrapunha protestantes e católicos, e envolviam não só aspectos 
religiosos, mas também interesses econômicos de controle e conquistas 
de mercados pelos países europeus. A primeira tentativa de inserção 
no país, por protestantes, data de 1555, quando se deu a chegada da 
expedição liderada por Nicolau Villegaignon, que objetivava fundar a 
França Antártica e construir uma espécie de refúgio onde calvinistas 
franceses, conhecidos como huguenotes, pudessem praticar livremente 
a fé reformada, uma vez que sofriam duras perseguições religiosas em 
seu país de origem. Como desdobramento ainda desse projeto, em 10 de 
março de 1557, chegaram em solo brasileiro pastores enviados por João 
41História do cristianismo III | FTSA | 
Calvino, da cidade de Genebra, Suíça, com o propósito de difundir o culto 
protestante. Fazia parte desse grupo um jovem estudante de teologia, 
chamado Jean de Léry, que vinte anos mais tarde publicaria uma obra 
que se tornou um importante documento sobre o Brasil, em tal período, 
denominada Viagem à Terra do Brasil. Em decorrência de confl itos com 
líderes políticos e religiosos portugueses, a expedição teve seu término 
com a expulsão, em 1860, de todos os franceses e a desativação da 
colônia que havia sido organizada por Villegaignon (Lestrigante, 1998).
Glossário:
Huguenotes: Nome dados aos calvinistas, na França. A origem do 
termo tem algumas explicações; uma delas afi rma que em razão 
daqueles protestantes se reunirem - geralmente à noite, devidos às 
perseguições - na região de um antigo castelo outrora habitado pelo 
“Rei Hugo”, criou-se a alcunha pejorativa de que aqueles religiosos 
eram “seguidores do Rei Hugo”, ou seja, “huguenotes”.
França Antártica: Os confl itos entre huguenotes (protestantes) 
e católicos aumentavam, na França, o que resultou na fuga de 
muitos protestantes, visto que estavam sendo perseguidos pelo 
catolicismo. Em razão disso, 
e também por interesses 
econômicos e comerciais, 
comandados por Nicolau 
Durand Villegaignon e o 
Almirante Gaspar Coligny, os 
franceses chegaram ao Brasil 
em 1555, na atual cidade do 
Rio de Janeiro, ocupando 
os territórios ainda não 
explorados pelos portugueses: 
Baía de Guanabara. Foi, assim, 
que surgiu a França Antártica.
| História do cristianismo III | FTSA42
Um segundo esforço de inserção no Brasil se deu no século XVII, entre 
1630 e 1654, dessa vez com holandeses, através do empreendimento 
denominado “Companhia das Índias Ocidentais”, que se estabeleceu 
inicialmente em Pernambuco e, depois, em outras áreas do Nordeste 
brasileiro. O objetivo principal era o comércio de açúcar (Reily, 1993). 
Maurício de Nassau, líder do projeto, também se preocupou em trazer 
ao Brasil pastores da Igreja Reformada Holandesa, que chegaram a 
desenvolver um trabalho religioso não apenas com a comunidade 
holandesa, mas também com outros grupos existentes no país. Com 
esse propósito, foi elaborado até mesmo um catecismo nas línguas 
holandesa, portuguesa e tupi, sendo organizadas inclusive algumas 
igrejas que praticaram o culto reformado. Em 1654, confl itos políticos e 
econômicos provocaram o fi m desse empreendimento, desaparecendo 
também com isso os vestígios institucionais do cristianismo protestante 
holandês em solo brasileiro (Mendonça, 1984, p.17).
Colônias protestantes também foram criadas nas Ilhas do Caribe, no 
século XVII, por holandeses, franceses, ingleses. Na Jamaica, os batistasfundaram também igrejas. Todas estas igrejas funcionaram às margens 
do império espanhol. 
Uma colônia escocesa foi criada no Panamá, entre 1698-1700, onde se 
implantou temporariamente uma igreja presbiteriana.
Houve também uma missão moraviana entre escravos, na Guiana 
holandesa do Caribe, a partir de 1732; o mesmo se deu na Jamaica a 
partir de 1738. Os missionários moravianos chegavam a se vender 
como escravos para conseguirem adentrar em lugares proibidos a fi m 
de evangelizar os nativos. Aproveitavam-se também do fato de que, na 
Jamaica, foi criado o Código do Escravo, segundo o qual havia a obrigação 
de evangelização do escravo pelos colonos. 
43História do cristianismo III | FTSA | 
Saiba Mais:
Diferentes Representações da Morte 
 Quando estudamos o período de formação colonial da América 
Latina e Brasil, um dos assuntos que desperta a atenção se refere 
às diferentes representações da morte envolvendo os diversos 
grupos presentes em tais contextos.
A começar pelos povos ameríndios. Em geral, professavam a 
crença em uma vida imortal. Em seus mitos, constava o da busca 
pela “Terra sem males”, um tipo de paraíso perdido na Terra, no qual 
não envelheceriam mais, não fi cariam mais doentes, não morreriam, 
onde haveria caça em abundância, sem necessidade de perseguir 
os animais a serem abatidos, porque elas viriam se oferecer aos 
caçadores. Um imaginário com representações semelhantes 
ao Éden descrito no livro bíblico do Gênesis. Fazia parte desse 
imaginário religioso a crença de que seus antepassados retornariam 
no tempo do fi m para guiá-los rumo a esse paraíso terrestre. Era um 
tipo de escatologia. Entre os Maias, por exemplo, estes elementos 
de crença estavam inclusive registrados em um livro chamado 
Popol Vuh, apelidado de “Bíblia Maia”, cujas inscrições eram feitas 
de uma forma artesanal nominada de Quipu, vistos que estes povos 
eram ágrafos, ou seja, sem escrita. Esse livro Maia apresentava 
mitos da criação do mundo e também indicativos apocalípticos. 
Quando os colonizadores espanhóis e portugueses chegaram para 
a conquista, alguns destes povos acreditaram inicialmente que 
os seus antepassados estavam retornando, cumprindo assim as 
profecias. O fi lme 2012, lançado no cinema nesse mesmo ano, é 
baseado nesse imaginário Maia sobre o fi m do mundo. A última 
cena, inclusive, apresenta a chegada dos colonizadores com este 
sentido apocalíptico.
Em relação aos povos de origem africana, introduzidos na 
América colonial, caracterizou-os o imaginário referente à morte 
| História do cristianismo III | FTSA44
com destaque para dois aspectos. Primeiro, o valor dado aos 
antepassados. Nas crenças de matriz africana é comum a ideia 
de uma família extensiva e multigeracional, segundo a qual vivos 
e mortos mantém vínculos familiares muitos intensos e próximos; 
a morte não os separa; daí serem usuais os ritos pelos quais 
eles acreditam manter contato e estabelecer comunicações 
com os que já morreram. Um segundo aspecto, sobre a relação 
entre vivos e mortos, é marcado pelo símbolo do fogo, que fi cava 
aceso diuturnamente nas senzalas (habitações dos africanos 
escravizados). A história mostra que quando vinham de seu 
continente de origem, os africanos costumavam trazer tições 
retirados de fogueira sagrada de sua terra (representando os 
ancestrais). Ao chegarem ao mundo americano acendiam aquele 
tição para alimentar o fogo das suas habitações, representando a 
presença dos ancestrais junto a eles, para protegê-los em casa e no 
trabalho. Ao morrer alguém daquela senzala, fazia parte dos ritos 
colocarem um tição aceso nas mãos do falecido durante o cortejo 
até o local de sepultamento. Isto signifi cava que aquele espírito teria 
em sua travessia o caminho iluminado até o mundo dos mortos, no 
encontro com os ancestrais. Um ser divinizado, chamado kalunga, 
era responsável por fazer essa passagem para o mundo do além.
Quanto aos católicos e protestantes, apresentam também 
diferentes representações da morte, tanto no período colonial 
como do império, e mesmo no contexto contemporâneo.
Considerações fi nais
Vimos, nesta unidade, aspectos históricos de formação do que hoje 
nominamos de América Latina e Brasil, sobretudo dos elementos que 
contribuíram diretamente para a confi guração de um campo religioso 
marcado pela diversidade, pelo confl ito, pela intolerância, mas também 
por exemplos positivos de quem empreendeu esforços para anunciar a 
boa notícia do reino de Deus.
45História do cristianismo III | FTSA | 
É impossível compreender o mundo latino-americano sem a devida 
atenção ao elemento religioso, pois ele já estava presente com os povos 
ameríndios ou pré-colombianos, acompanhou o projeto expansionista de 
colonização de espanhóis e portugueses rumo ao novo mundo. Toda essa 
religiosidade sofreu ao longo do tempo modificações, ressignificações, 
apropriações sincréticas. A chegada, posteriormente, do protestantismo 
em terras da América Latina e Brasil marcaria a construção de uma nova 
visão de mundo, de sociedade e cultura. Mas sobre isto passaremos a 
tratar de modo detalhado a partir da próxima unidade.
EXERCÍCIO DE REFLEXÃO - 05
Esse processo histórico que você acabou de estudar – invasões 
dos portugueses e espanhóis na América Latina – expõe as 
mentalidades de um tempo que permitem não só a informação, 
mas, exigem uma séria refl exão sobre o germinar cristão da 
América Latina. 
Nesse sentido, faça uma refl exão, utilizando no mínimo 200 
palavras, destacando aspectos positivos e negativos que você 
consegue enxergar no processo colonizador e paute como esses 
aspectos infl uenciam o cristianismo atual. 
Acesse o AVA para fazer o exercício!
e veja a reação do professor!
| História do cristianismo III | FTSA46
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disponível em: http:// www.planetanews.com. Acesso em: out. 2019.
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