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Fevereiro / 2020 Professor/autor: Dr. Wander de Lara Proença Projeto Gráfico e Capa: Mauro Rota - Departamento de desenvolvimento institucional Todos os direitos em língua portuguesa reservados por: Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR 86055-670 Tel.: (43) 3371.0200 3História do cristianismo III | FTSA | SUMÁRIO História do Cristianismo III Introdução ao curso..............................................................................................................04 Unidade I - Religiões e religiosidades na formação da américa latina Introdução 1. Os povos ameríndios e suas crenças...............................................................................07 2. A chegada dos colonizadores europeus ao continente latino-americano.....................11 3. Crenças de matriz africana...............................................................................................21 4. O catolicismo missionário na América Latina.................................................................24 5. Religiosidade popular e magia..........................................................................................27 6. Presenças ocasionais do Protestantismo no período colonial......................................39 Unidade II - Catolicismo e protestantismo na américa latina e Brasil Introdução..............................................................................................................................48 1. O catolicismo estabelicido no Brasil e sua simbologia...................................................49 3. O protestantismo na América Latina no século XIX........................................................70 4. O protestantismo no Brasil a partir do século XIX...........................................................73 5. As primeiras igrejas protestantes estabelecidas no Brasil..............................................80 Unidade III - O pentecostalismo no Brasil Introdução..............................................................................................................................91 1. Surgimento do Pentecostalismo.......................................................................................92 2. O petecostalismo "clássico" no Brasil................................................................................96 3. Segunda tipologia pentecostal: o "dêutero" pentecostalismo ou pentecostalismo de "cura divina"..........................................................................................................................106 4. Pentecostalismo e o uso dos meios de comunicação de massa................................117 5. Pentecostalização do protestantismo clássico..............................................................121 6. A operosidade pentecostal em contextos sociais de exclusão....................................126 Unidade IV - Neopentecostalismo e outros movimentos evangélicos contemporâneos 1. Origem e desenvolvimento do neopentecostalismo......................................................136 2. O público alcançado pelo neopentecostalismo..............................................................137 3. O uso dos meios de comunicação de massa pelo neopentecostalismo.....................151 4. Polêmicas em relação ao dinheiro.................................................................................158 5. O atual cenário evangélico no Brasil................................................................................176 | História do cristianismo III | FTSA4 HISTÓRIA DO CRISTIANISMO III Introdução ao curso Bem-vindo(a) ao curso de História do Cristianismo III! Esta disciplina completa o ciclo de estudos no campo da história do cristianismo, que se iniciou, em História I, com os conteúdos sobre a igreja antiga, sua identidade apostólica e expansionista no contexto do Império Romano, além do mundo medieval, com o surgimento da cristandade católica, em suas formas institucional e popular. Seguimos por História II, em que a Reforma Protestante e seu impacto no mundo moderno foram objetos de análise, estendendo-se o olhar até os séculos XVIII e XIX, quando se deu o advento do metodismo, com suas repercussões reavivalistas nas igrejas norte americanas. Agora, por fi m, chegamos a um contexto mais próximo, o da América Latina e, particularmente, Brasil. O curso está dividido em quatro grandes unidades. Na unidade I, será apresentado um panorama histórico sobre a formação da América Latina, demonstrando-se a diversidade de crenças indígenas, africanas, catolicismo missionário e popular, presenças ocasionais do protestantismo, além de uma atenção especial às formas de religiosidades sincréticas ou hibridizadas. Na unidade II, serão destacados o catolicismo institucional no contexto brasileiro e, a partir do século XIX, o protestantismo estabelecido por imigração e missão, confi gurando-se desse modo um novo cenário religioso no País. Na unidade III, os conteúdos tematizarão o pentecostalismo, originário nos Estados Unidos e reconfi gurado em sua tipologia clássica no contexto brasileiro, além de especial atenção à chamada ‘segunda onda’ pentecostal, caracterizada pela atuação de líderes carismáticos nacionais. Na última unidade, a ênfase será no neopentecostalismo, com suas 5História do cristianismo III | FTSA | inovações geradoras de grande impacto no campo religioso, com enorme visibilidade na mídia, criação de ritos polêmicos e com um crescimento numérico escalonário. Também compõem este bloco as abordagens sobre novas tendências religiosas no cenário evangélico brasileiro atual, a partir do que se tem chamado de "pós-denominacionalismo", projetado em movimentos que agregam seguidores fora das instituições, como os que são nominados como "desigrejados". Minha expectativa é de que o olhar sobre o passado ofereça a cada estudante deste curso uma melhor compreensão do nosso presente; quiçá, o estudo do que já é história contribua para iluminar a visão sobre o que ainda chamamos de futuro. Bom curso! Prof. Wander de Lara Proença UNIDADE I – RELIGIÕES E RELIGIOSIDADES NA | História do cristianismo III | FTSA6 FORMAÇÃO DA AMÉRICA LATINA Introdução à unidade Quando em Atos 1:8 Jesus disse que seus discípulos seriam suas testemunhas “até aos confi ns da terra”, fazia partes destes “confi ns” uma região que já era habitada por milhões de pessoas, que viria a ser conhecida posteriormente por América e também Brasil. Povos riquíssimos em sua cultura, religiosidade, formas de vida e relação com a natureza. Os que chegaram nesta região se diziam ou se imaginavam ser “discípulos” de Jesus, acreditando estarem também cumprindo uma missão testemunhal da fé cristã. A história revelaria a posteriori, entretanto, que o chamado “descobrimento” da América, ofi cialmente ocorrido em 1492, pelo navegador Cristóvão Colombo, representaria um impacto cultural, econômico e social sobre os povos autóctones que habitavam este continente. “Muitas atrocidades foram cometidas em nome de “Deus”, da ‘Santa Madre Igreja’, e das Coroas Espanhola e Portuguesa em terras latino-americanas” (Jonathan Menezes). Nesta primeira unidade serão analisados os processos de ‘descoberta’, conquista, colonização, catequização, evangelização, ou qualquer outro nome que se dê aos encontros, ou melhor, ‘choques’ culturais e religiosos envolvendo o mundo cristão católico, representado por Espanha e Portugal, e o mundo ameríndio, representado por cerca de 60 milhões habitantes constituído por inúmeras tribos e povos. O conteúdo a ser abordado buscará responder às seguintes questões: o surgimento da América para o restante do mundo, em 1492, foi o “descobrimento” de um mundo novo ou o “encobrimento” de um mundo pré-existente? Como analisar esse processo levando em conta a perspectiva do “outro”, o índio, autóctone? Quais crenças eram professadas ou praticadas pelos povos indígenas da América? Que tipo de cristianismo foi disseminado entre os povos indígenas(ameríndios)? 7História do cristianismo III | FTSA | E as crenças de matriz africana, quando e como foram introduzidas em solo americano? Como se formou a religiosidade sincrética, de devoção popular, que se estende até aos nossos dias? 1. Os povos ameríndios e suas crenças Emprega-se o termo ‘ameríndio’ para designar os habitantes do mundo que viria a ser chamado de América, ou continente americano, a partir do século XVI. Este mundo, também nominado de pré-colombiano, era habitado por cerca de 60 milhões de pessoas, há aproximadamente 25 mil anos. Nele se falavam milhares de línguas e dialetos. Só no Brasil (hoje assim chamado), eram cerca de 4,5 milhões de ameríndios, que falavam cerca de 1.200 línguas e dialetos. A História e a Arqueologia ajudam a identifi car que chegada destes povos à América pré-colombiana se deu a partir da Ásia, especialmente da região da Mongólia, em diferentes levas de migração. Adentraram ao continente americano fazendo provavelmente a travessia pelo Estreito de Bering. | História do cristianismo III | FTSA8 Glossário: Ameríndia: nome dado à região, hoje conhecida como América, que era habitada pelos povos pré-colombianos (antes da chegada de Cristóvão Colombo). Autóctone: natural do país ou da região em que habita e descende dos povos que ali sempre viveram; aborígene, indígena. Cristóvão Colombo: navegador genovês; geógrafo; elaborou o projeto de navegação que, saindo da Espanha, se atingisse a região asiática navegando pelo Oceano Atlântico no sentido inverso de navegação conhecido à época, que seguia pelo Mar Mediterrâneo. Estreito de Bering: faixa marítima que liga os oceanos Pacífi co e Ártico entre a Rússia e os Estados Unidos, com extensão aproximada de 100 km de largura, e que por um processo de glaciação tem sua parte de água congelada em determinados períodos do ano, possibilitando a travessia pedestre. 9História do cristianismo III | FTSA | Os povos ameríndios desenvolveram diferentes níveis de organização social, econômica e política. Quando espanhóis e portugueses chegaram a este novo mundo se depararam com civilizações bastante complexas, como os Astecas (no México), Incas (no Peru) e Maias (Guatemala). Os Astecas, por exemplo, tinham um sistema político que formava uma confederação, um tipo de império; tinham um imperador, chamado Montezuma; desenvolveram cidades com construções suntuosas, ruas pavimentadas, setores comerciais por meio de um tipo de produção e troca em feiras, conhecimentos de medicina e engenharia; tinham um sistema tributário que cobrava impostos de povos inimigos conquistados; possuíam exército e um sistema religioso bastante complexo com sacerdotes ofi ciais. Os Maias, desenvolveram saberes especializados de astronomia, agricultura cultivada por irrigação, conhecimentos de medicina, um calendário com 365 dias e 6 horas. Os Incas, formavam também um império; possuíam saberes especializados de engenharia, desenvolveram complexas construções, hoje visitadas como pontos turísticos em Machu Picchu. Machu Picchu: Obra magna de arquitetura e engenharia; a área é Patrimônio da Humanidade desde 1983. O santuário histórico de Machu Picchu ofi cial é alcançado através do Caminho Inca, composto por um conjunto de edifi cações que foi levantado no século XV. As pesquisas ainda não conseguiram precisar, no entanto, se o local foi um centro de defesa, um templo cerimonial ou uma cidade. | História do cristianismo III | FTSA10 Outros povos ameríndios, como era o caso dos Tupi-Guarani, no contexto hoje brasileiro, viviam de forma nômade, com base na caça e coleta, numa economia de extração e subsistência, de integração com a natureza. Estas populações, de modo geral, possuíam na crença um elemento muito importante para orientar seu mundo e comportamento. Admitiam a existência de uma divindade, mas não havia princípios ou estrutura de uma religião como ocorre, por exemplo, no cristianismo. Nas crenças indígenas, Tupã era o seu deus, considerado o sopro do divino. A relação com o sagrado se dava por meio da natureza, pela crença animista. O termo animismo tem origem na palavra grega “ânima”, que signifi ca alma ou vida, por isso o animismo acredita que os objetos materiais ou forças da natureza também possuem algum tipo de vida, devendo por isso ser também respeitados ou venerados. Assim, tudo no universo estava animado por uma força espiritual: as árvores, as pedras, os astros, todos os animais, insetos e também os objetos, podem relacionar-se com as pessoas em uma dimensão transcendente. Para os seguidores do animismo, os espíritos animam o mundo, protegem a saúde e permitem boas colheitas, velam pelas pessoas e, sobretudo, pelos espíritos dos mortos - se as pessoas forem más podem ser castigadas por meio de catástrofes e doenças enviadas por eles. Os animistas invocam os espíritos para proteção, festejam os mortos para que sejam favorecidos, com cantos e danças ao som dos tambores. Podem utilizar em seus rituais máscaras decoradas e pintadas com cores vivas, representando os espíritos invisíveis. Assim, as crenças indígenas adoravam o relâmpago, o trovão, o sol, a lua. Acreditavam também num deus malfazejo, a quem chamavam Anhangá. Seus líderes, na condição de xamãs ou pajés, afi rmam ter comunicações com o deus Tupã, sendo por isso capazes de predizer os tempos bons e maus para as caçadas, para a coleta de alimento, ou mesmo para o cultivo da terra, no caso das tribos que já adotavam esse modo de economia. 11História do cristianismo III | FTSA | EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO - 01 O conceito animismo é de grande relevância para compreensão religiosa da América Latina, pois, a crença animista se faz presente na religiosidade indígena, no catolicismo, protestantismo, espiritismo, umbanda e outras formas de espiritualidade que compõem esse contexto. Assinale a única alternativa correta. O animismo acredita que: ( ) Os objetos materiais ou forças da natureza possuem algum tipo de vida ou são animados por uma força divina devendo ser respeitado e venerados. O universo é animado por forças espirituais. ( ) Os objetos materiais ou forças da natureza não são animados por uma força espiritual. Ou seja, o universo é fruto de uma complexa evolução natural. ( ) O animismo é uma crença isolada e se faz presente na América Latina apenas em referência à religiosidade indígena. Acesse o AVA para fazer o exercício! e veja a reação do professor! | História do cristianismo III | FTSA12 2. A chegada dos colonizadores europeus ao continente latino-americano Em busca de novos territórios para abastecimento comercial, espanhóis e portugueses chegaram ao mundo ameríndio. Logo após a chegada de Colombo, Espanha e Portugal dividiram o novo mundo em dois grandes blocos de colonização. Esse acordo foi assinado no chamado Tratado de Tordesilhas, em 1494. Desse modo, receberam das mãos do Papa autorização e bênção para explorar economicamente as novas terras americanas pela colonização. Em contrapartida, a igreja exigiu duas coisas das respectivas coroas: que catequizassem (evangelizassem os povos nativos) e pagassem à igreja tributos (dízimos) de toda a riqueza produzida. Assim, os colonizadores introduziram um sistema de exploração de riquezas, por meio de ciclos, como exploração da madeira, do ouro, das grandes lavouras de açúcar, café e outros. Glossário: Tordesilhas: cidade, na Espanha, onde foi assinado o tratado ou acordo entre Espanha, Portugal e o Papa Alexandre VI, sobre a exploração colonizadora do novo mundo “descoberto”, a Ameríndia (América). Tratado de Tordesilhas: assinado em 1494, dois anos após a chegada de Cristóvão Colombo à América pela primeira vez. O tratado assegurava exclusividade a Espanha e Portugal, países católicos, na exploração econômica e disseminação da fé religiosa segundo os dogmas do catolicismo no novo mundo. Para garantir e acelerar a produção, recorreram inicialmente à escravidão da mão de obraindígena. Devido à morte em grande escala destes, por excesso de trabalho, doenças contraídas, fugas, dentre outros fatores, logo recorreram a outra mão de obra: a de africanos escravizados em seu continente, trazidos nos navios negreiros para serem vendidos no mercado americano. Estima-se que ao longo de três séculos, cerca de 10 milhões de africanos foram transportados para a América (do norte, do 13História do cristianismo III | FTSA | sul e central). Só os portugueses importaram 50% deste contingente para o trabalho no Brasil. Saiba Mais: Linha do tempo 1492 – descoberta da América por Cristóvão Colombo 1494 – assinatura do Tratado de Tordesilhas 1500 – descobrimento do Brasil 1501 - Constatação científica de que se tratava de um novo Continente, feita pelo geógrafo Américo Vespúcio, por isso o novo continente recebeu o nome de América. Os impactos da colonização nos povos indígenas foram enormes e violentos, no resultando no extermínio de milhões de indígenas e suas culturas. Houve: recrutamento para o uso da mão de obra; tomada de suas terras e territórios, destruição de sua organização social e religiosa, guerra bacteriológica, ou seja, doenças trazidas da Europa intencionalmente para contágio por meio de vírus, visando a morte e dizimação dos grupos indígenas, quando estes resistiam à dominação; a demonização de sua cultura e crenças. Um impacto econômico, caracterizado pela exploração, saque, implantação de um capitalismo selvagem e ávido por lucro; um genocídio, em que houve destruição de 90% da população nativa em três séculos de colonização. Em 1519 iniciaram-se as expedições de Fernando Cortês ao México. Dois anos depois, a cidade de Tenochtitlán, capital do império asteca, foi destruída quase por completo, sobrando algumas ruínas. “A destruição foi da ordem de 90% da população [...]; “Dos 22 milhões de astecas em 1519, quando Hernán Cortés penetrou no México, só restou um milhão em 1600”. (Boff, 1992, p. 10). No Brasil, especifi camente, de 4,5 milhões, restaram hoje cerca de 800 mil indígenas; em termos culturais, o desaparecimento de culturas históricas, incluindo línguas, conhecimentos, valores; no Brasil, por exemplo, de 1200 línguas e dialetos falados no século XVI, restaram hoje cerca de 180. | História do cristianismo III | FTSA14 “Difi cilmente na história do Ocidente encontramos tanto etnocentrismo, dogmatismo, fundamentalismo e totalitarismo como na visão dos europeus do século XVI. Essa rigidez cultural e religiosa está na raiz do etnocídio e da violência aplicada contra indígenas e negros durante séculos, que perdura no inconsciente coletivo e nos hábitos autoritários das classes dominantes latino-americanos até os tempos atuais (...) A conquista e a colonização constituem em si um ato de grandíssima violência. Implicam que uma nação com sua cultura, memória, história e religião se submeta a outra, perdendo seu caráter de sujeito histórico (...) desestruturam a cultura submetida. Obrigam as pessoas a internalizar a fi gura do colonizador e a reprimir os legítimos reclamos de libertação e de justiça” (Boff, p. 18,19). Saiba Mais: De acordo com informações do Censo 2010, cerca de 0,4% da população brasileira é formada por índios, um total de 800 mil vivendo no País. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), existem 225 povos indígenas, além de referências de 70 tribos vivendo em locais isolados e que ainda não foram contatadas por este órgão governamental. Há, portanto, seguindo o que constata Boff (1992) uma dívida histórica para com estes povos ameríndios: Dívida étnico-cultural: os colonizadores dizimaram a população autóctone; destruíram o modo de produção comunitário e participativo; sufocaram os grandes mitos e tradições orais. Referindo-se às culturas ameríndias, Boff afi rma: Aqui surgiram grandes culturas, com corpos de sábios, conhecimentos sofi sticados em astronomia, agricultura e medicina e línguas e religiões grandiosas. Tudo isso foi considerado obra de Satanás. O cristianismo sempre se mostrou sensível ao pobre, mas implacável e etnocêntrico diante da alteridade cultural (Boff, 1992, p. 11). 15História do cristianismo III | FTSA | • Dívida ecológica: há estragos irreparáveis na exploração de riquezas naturais; desfl orestamento; inserção de um capitalismo predatório. • Dívida de uma evangelização autêntica: os ameríndios conheceram um evangelho desfi gurado; a evangelização não foi libertadora, foi por medo, por violência. Por isso, torna-se necessária uma reevangelização, recuperando a mensagem do evangelho a partir da cultura e valores da própria América Latina. Os colonizadores tinham como lema “terras para o Rei e almas para o Papa”; desenvolveram a chamada política “cruz e da espada”, ou seja, usavam da força para impor sua religião, ou então, usavam a religião para facilitar a dominação escravista. A cruz, enquanto símbolo, traz à luz o fator religioso e místico da conquista; marca a presença dos cristãos nesse processo, e a “conquista espiritual da América”. Segundo o pesquisador Ruggiero Romano, o primeiro gesto de Cristóvão Colombo, ao tomar posse da terra, foi fi ncar uma cruz, e, ao lado dela, crava-se também a bandeira de Espanha. A religião aporta aqui como instrumento ideológico e legitimador dos atos do Estado. (Romano, 1973, p. 21). Como cita Enrique Dussel, “a bandeira ou estandarte que Cortês levou nesta expedição era de tafetá negro com cruz vermelha, com algumas chamas azuis e brancas e uma letra em volta que dizia: sigamos a cruz e com este sinal venceremos” (Apud Dussel, 1993, p. 44). Tal qual o imperador Constantino no séc. IV, que teve a “visão” mística de que com este sinal venceria, os espanhóis também se valeram dessa experiência com a cruz (sinal de vida e liberdade), para plantar a morte e escravidão na América. A violência da religião na América começa pela forma como aqui se aplicavam os intentos evangelísticos. A meta de colocar os povos das regiões americanas debaixo da égide política de Espanha estava intimamente atrelada à obrigação especial, fi rmada pelo papa Alexandre VI e pelos reis católicos, de levar-lhes a “santa fé católica” (Deiros, 1992, | História do cristianismo III | FTSA16 p. 272). Como também informa Dussel, antes de começar uma batalha contra os indígenas, os conquistadores liam um texto para eles (o “requerimento”) – como se os nativos entendessem algo do que estavam falando – no qual se propunha a conversão dos tais à religião cristã. Ordens religiosas posteriormente enviadas para a evangelização tiveram também a missão de converter para dominar; encomenderos ou bandeirantes, foram enviados para capturar indígenas para uso de sua mão de obra como escravos. O século XVI marca o maior genocídio conhecido, que se dá no choque entre o europeu – civilizado, católico, cartesiano, bem instruído – e o índio – o “bom selvagem”, inculto, bestializado, explorado – que foi extraído de seu estado de “paz”, violentado e dominado em sua própria terra, a qual não mais poderia ser chamada de “sua”, mas daqueles mais poderosos que a “descobriram”. (Todorov, 1993, p. 10). Glossário: Encomenderos: capturavam indígenas para concentrá-los em locais de trabalho sob custódia da colonização espanhola; neste espaço os ameríndios eram doutrinados por missionários que integravam, normalmente, as ordens religiosas mais comuns nesta época. Os nativos ainda tinham que prover as necessidades de seus doutrinadores. Apareceram delações sobre os maus tratos a que estes trabalhadores eram submetidos por parte dos ‘encomenderos’. Bandeirantes: Cumprem, no espaço da colonização portuguesa, as mesmas funções dos encomenderos espanhóis. Ordens religiosas: Organizações religiosas surgidas na Idade Média, cujos membros, a partir da inspiração ou idealização de seu líder fundador, cumprem missões específi cas, como por exemplo, nas áreas de educação, saúde e ação social. Genocídio: nome dado ao assassinato ou extermíniodeliberado de um grupo de pessoas 17História do cristianismo III | FTSA | EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO - 02 Segundo Leonardo Boff (1992), temos uma dívida histórica para com os povos ameríndios. Essa ponderção se alastra para o negro, para a mulher, ou seja, para todo aquele que foi atingido por um tipo de evangelização que desfi gurou a mensagem do Cristo por meio do uso de violência e opressão. Assim, atitudes salutares vão de encontro a essa dívida e são pertinentes para aplicação na atualidade. Desse modo, quais atitudes são possíveis perante essa realidade histórica? Assinale a única alternativa correta: ( ) Conscientização histórica já é uma atitude virtuosa que permite apagar grande parte dessa dívida passada. Assim, a tarefa humana perante essa barbárie histórica não se faz pela criticidade, mas apenas em adquirir boas informações para não mais repetir os erros. ( ) Reevangelização a partir da cultura e valores da própria América Latina, superando o etnocentrismo, além de ações práticas de cuidado da criação de Deus em sua biodiversidade, envolvendo atitudes de reparação às explorações de riquezas naturais, como o refl orestamento e luta pelos direitos humanos de povos que diretamente dependem da natureza. ( ) Reconhecimento de que não há mais nada a se fazer em relação ao passado, bastando por isso reafi rmações doutrinárias e convicções étnicas que assegurem a evangelização já consumada. Acesse o AVA para fazer o exercício! e veja a reação do professor! | História do cristianismo III | FTSA18 Introduziram, assim, em solo latino-americano, um tipo de cristianismo comprometido com a morte, injustiça, violência, guerra e escravidão. Um evangelho muito diferente daquele que Jesus anunciou como o evangelho do Reino de Deus. Houve [na América] amostras defeituosas de evangelização. Foram [indígenas e negros], forçadamente, incorporados e inseridos na totalidade romano-católica na parte ibérica da América Latina [...]. O efeito foi a satanização das religiões autóctones e a imposição do cristianismo num imenso processo de substituição e de inculcação. O poder político foi usado para a implantação do cristianismo. (Boff, 1992, p. 23,24) O outro e todo seu aparato cultural e religioso devem passar por uma “desconstrução” para que a verdadeira religião e civilização possam ser colocadas no lugar, como ressalta Dussel: Todo o “mundo” imaginário do indígena era “demoníaco” e como tal devia ser destruído. Esse mundo do Outro era interpretado como o negativo, pagão, satânico e intrinsecamente perverso. O método da tabula rasa era o resultado coerente, a conclusão de um agrupamento: como a religião indígena é demoníaca, e a europeia divina, a primeira deve ser totalmente negada e, simplesmente, começar-se de novo e radicalmente a partir da segunda o ensino religioso (Dussel, 1993, p. 60). Assim, as “conversões” e “batismos” se sucedem e se multiplicam. Os sinais do “triunfo” do cristianismo na América também se tornam evidentes; a efeito de demonstração, surgem os altares, capelas e igrejas. Os vestígios que relembram as religiões e crenças anteriores dos indígenas, altares e velhos templos, devem ser destruídos. E como ato emblemático de vitória sobre tais crenças, as novas capelas e templos cristãos são edifi cados precisamente sobre as ruínas dos antigos. 19História do cristianismo III | FTSA | EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO - 03 Os colonizadores tinham como lema “ Terras para o Rei e almas para o Papa”. A política de envangelização e invasão era fundamentada na cruz e na espada. Perante isso, pode-se afi rmar que a conquista espiritual e territorial da América Latina foi de intentos evangelísticos violentos, fundamentados na dominação, escravização, e demonização sobre as crenças, e também sobre os índios . Que tipo de resistência houve por parte dos povos indígenas em relação às formas de violência que sofreram? Assinale a única alternativa correta: ( ) Os povos indígenas resistiam de forma intensa guerreando contra os portugues e espanhóis que invadiam suas terras, conseguindo por isso preservar numérica e culturalmente suas tribos, como ocorreu entre os Astecas. ( ) Os povos indígenas resistiam à violência dos colonizadores por meio da tolerância e submissão passiva como escravos. ( ) Os povos indígenas se isolavam, cometiam infanticídio, suicídio coletivo, faziam resistência pelo sincretismo, enfi m, lutavam de diversos modos na defesa da vida e de seus territórios. Acesse o AVA para fazer o exercício! e veja a reação do professor! | História do cristianismo III | FTSA20 Como se poderia dar valor ao universo cultural de um povo que não era visto como “povo”, cujos membros, no fundo, eram considerados como “quase macacos”? Por isso, a afi rmação de Ruggiero Romano de que a evangelização resultou muitas vezes em um fracasso, pois foi dominada pela violência. Este agravante pode ser observado nas palavras dos indígenas à época: “Entre nós se introduziu a tristeza, se introduziu o cristianismo, esse foi o princípio de nossa miséria, o princípio de nossa escravidão.” (Boff, p.29) Cabe citar, neste propósito, as palavras de Jonathan Menezes: O papel da igreja, que supostamente seria o de fazer justiça e ser a “voz” em favor de tantas vozes de seres humanos que arbitrariamente foram sendo “caladas” diante do horror da conquista, parece que muitas vezes foi invertido na América, em nome de interesses aparentemente mais “nobres” como o do lucro, do poder, da subjugação dos povos para o fortalecimento de um só povo. Esses exemplos aqui citados, a meu ver, aumentam o coro de tantas vozes que acreditam que o cristianismo, ao longo de sua história, muitas vezes militou contra, e não a favor, do reino de Deus. (Menezes, 2016, p.20) Uma questão que se coloca é: houve algum tipo de resistência por parte dos povos indígenas frente às formas de violência que sofreram? A resposta é ‘sim’. Isso ocorreu por meio fugas, isolamento, infanticídio (mães indígenas que preferiam ver seus fi lhos mortos ao nascer do que serem escravizados pelos colonizadores), e até mesmo pelo suicídio coletivo, ou seja, preferiam morrer do que se deixar escravizar; houve resistência também pelo sincretismo (um tipo de conversão que apenas adaptava ideias e ritos cristãos com as crenças ameríndias, como é o caso da Virgem de Guadalupe, no México, em que Maria é adaptada a uma antiga devoção feminina indígena, ou seja, aparentemente estavam venerando os santos católicos, mas indiretamente continuavam adorando suas antigas divindades. Houve, igualmente, resistência por meio do aldeamento nas missões jesuíticas. 21História do cristianismo III | FTSA | Las Casas e a defesa dos índios Segundo informa Bidegaín (1993, p. 70), este momento da colonização das ilhas caribenhas é marcado, primeiro, pela entrada de armas e, depois, pela chegada dos encomendeiros (que obrigavam os índios a trabalharem como escravos em troca de catequese) e missionários. A intensa exploração e violência utilizada pelos encomendeiros foi uma pedra de tropeço na vida dos missionários. E, é bom que se diga, desde o início da colonização tinha-se pelo menos dois grupos, que tomavam posições opostas quanto à questão indígena, segundo Bidegaín: os dominicanos, que defendiam a dignidade humana do índio e eram contra a “guerra justa”, e aqueles que apoiavam os atos de dominação dos colonizadores espanhóis, sem se preocupar com os “meios” utilizados. Destaca-se a atuação de Bartolomeu de Las Casas. Espanhol, fi lho de comerciantes, Las Casas chega a América como membro da tripulação de Colombo em sua segunda viagem ao continente. Aporta, inicialmente, como um encomendeiro entre tantos outros. Porém, ao ver com os próprios olhos os atos de exploração e violência que aqui já se praticava contra os nativos, Las Casas se sensibiliza e resolve mudar de postura. De acordo com Bidegaín, num ato de consciência ele leu o texto de Eclesiástico 34.26:“É assassino do próximo quem lhe rouba os meios de subsistência; derrama sangue, quem priva o assalariado de seu salário”. Assim o clérigo, ordenado na América, “compreendeu a injustiça que cometia com seus índios e revisou sua atitude. Entregou os índios que lhe foram encomendados ao governador de Cuba, Diego de Velásquez, e abandonou a ilha a fi m de se dirigir à Espanha, para defender os índios perante os próprios monarcas e fazê-los compreender a situação de exploração que padeciam” (Bidegaín, 1993, p. 70). (Menezes, 2016, p.22) 3 - Crenças de matriz africana As organizações das religiões afro-brasileiras nasceram das tradições culturais trazidas do continente africano para o Brasil na época da escravatura. Os negros escravizados tiveram difi culdades de expressar sua religiosidade e por esta razão tiveram que adaptar seus costumes e | História do cristianismo III | FTSA22 crenças para preservar sua tradição. Os africanos e seus descendentes tiveram que encontrar formas alternativas para garantir a manutenção de sua cultura. Das manifestações, a que mais sofreu perseguição e negação de sua legitimidade foi a religião. No Brasil, o Candomblé e a Umbanda são as religiões africanas que mais se destacaram, sendo conhecidas como afrodescendentes por apresentarem elementos religiosos das mais diversas regiões da África. O candomblé é defi nido como religião animista, original da região das atuais Nigéria e Benin, trazida para o Brasil e aqui estabelecida por africanos escravizados. Em seus ritos, sacerdotes e adeptos encenam, com danças, em cerimônias públicas e privadas, uma convivência com forças da natureza e ancestrais. Os rituais são liderados pela mãe-de- santo ou pai-de-santo, havendo uma hierarquia defi nida nas demais funções. Os seguidores do candomblé prestam culto e adoram os orixás, considerados pelos adeptos como deuses ou divindades que representam as forças da natureza. No Brasil, a história do candomblé se mistura com a do Catolicismo. Proibidos de continuar com sua religião, os africanos escravizados usavam as imagens dos santos católicos para escapar da censura imposta pela Igreja. Isto ajuda a explicar o sincretismo encontrado no Candomblé no Brasil, algo que não se verifi ca na África. Atualmente, porém, muitas casas de candomblé não aceitam o sincretismo e buscam retornar às origens africanas. No caso da Umbanda, considera-se uma religião brasileira formada pela composição híbrida de elementos de outras religiões como o catolicismo, espiritismo juntando-se ainda elementos da cultura africana e indígena. A umbanda tem origem nas senzalas em reuniões onde os escravos vindos da África louvavam os seus deuses por meio de danças e cânticos e incorporavam espíritos. O culto umbandista é realizado em templos, terreiros ou Centros apropriados para o encontro dos praticantes onde 23História do cristianismo III | FTSA | entoam cânticos e fazem uso de instrumentos musicais como o atabaque. A cerimônia é presidida por um chefe masculino ou feminino. Durante as sessões são realizadas consultas de apoio e orientação a quem recorre ao terreiro, práticas mediúnicas com incorporações de entidades espirituais e outros rituais. O culto se assemelha ao candomblé, no entanto, são religiões que possuem práticas distintas. Glossário: Candomblé: termo da língua bantu, que signifi ca “dança” ou “dança com atabaques”. Umbanda: palavra derivada do termo “u´mbana”, que na língua banta falada em Angola, o quimbundo, signifi ca “curandeiro”. Orixás: defi nidos pelos adeptos do candomblé e da umbanda como forças da natureza. Sincretismo: fusão de diferentes doutrinas para a formação de uma nova, seja de caráter fi losófi co, cultural ou religioso. O sincretismo religioso é a mistura de uma ou mais crenças em uma única doutrina, mantendo-se características típicas de todas as suas doutrinas-base, sejam rituais, superstições, processos etc. Uma palavra que partir do séc. XVII foi bastante utilizada pelos colonizadores para defi nir cerimônias africanas, muito diversifi cadas quanto às práticas, foi o termo Calundu. Essa palavra reúne diversos signifi cados: possessão ritual, evocação de espíritos (em geral de mortos), oferendas de comidas e bebidas aos espíritos, adivinhação do futuro, curandeirismo, música cantada e marcada por batuques. Os calundus eram combatidos pela Inquisição, mas tolerados por senhores (e padres), pois a tolerância era uma forma de negociação objetivando manter maior controle sobre os africanos escravizados, diminuindo atos de rebelião e fugas. A crença para esses grupos foi um recurso de subsistência e também resistência cultural e identitária. | História do cristianismo III | FTSA24 4. O Catolicismo missionário na América Latina1 Sabe-se que a Igreja Católica, tal qual a concebemos modernamente, foi formada somente a partir do século XVI, quando se viu a necessidade de uma Contrarreforma ou Reforma Católica e a afi rmação de um corpo teológico-doutrinário e litúrgico que diferenciasse a “verdadeira igreja”, Católica, Apostólica, Romana, desse novo tipo que surgiu com a Reforma Protestante, e que vinha se alastrando pela Europa naquele período. Tudo isso foi sintetizado no Concílio de Trento (1545-1563), o mais longo de todos os tempos, que teve duas direções básicas: a) defi nição dos dogmas contra a cosmovisão protestante; b) reforma dos costumes e leis da igreja. O catolicismo de Trento nasce com a força propulsora de defender as doutrinas católicas (contra a pujança dos protestantes) e levar a fé cristã aos povos que se encontravam em estado de “ignorância” (do ponto de vista do europeu). Quando esse concílio aconteceu, a igreja já havia se instalado nas Américas há pelo menos 50 anos. Embora o concílio não tenha tido nenhuma autoridade religiosa representante do continente no quadro de religiosos presentes, houve uma preocupação, por menor que fosse, de que as resoluções de Trento chegassem até a igreja estabelecida nas colônias. Boa parte dessas resoluções, como já mencionado, foram reafi rmações de práticas e doutrinas outrora vigentes, em matérias questionadas e combatidas pelos reformadores, como a questão da autoridade, do pecado, da justifi cação e dos sacramentos. Como um poderoso braço de Trento e da Contrarreforma, os jesuítas foram os principais agentes encarregados dessa tarefa. A Companhia de Jesus (ou dos jesuítas) é uma ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, tendo como seu principal líder o padre Inácio de Loyola. É conhecida por duas frentes de trabalho bastante fortes: a educacional e a missionária. Os jesuítas foram um dos grupos defensores mais radicais dos postulados estabelecidos pela Contrarreforma. Dentre outras coisas, pregavam que as ostentações e cerimônias (ritos, liturgias) do catolicismo precisavam ser mantidas, valorizadas e ostensivamente fi nanciadas. 1 Item desenvolvido com a colaboração do prof. Jonathan Menezes 25História do cristianismo III | FTSA | Os primeiros jesuítas a aportarem na América foram os contratados por Portugal, chegando ao Brasil em 1549. A Espanha os contratou em 1567. Os nomes mais conhecidos são os dos padres José de Anchieta e Manuel da Nóbrega. Fundaram um colégio em Salvador, Bahia, e começaram sua catequese ali. Aos jesuítas é atribuída a responsabilidade pela instituição de quase todo o corpo educacional no Brasil no período colonial (1500-1800), e pelo rico legado deixado para a literatura brasileira. Há pelo menos duas formas de conceber o trabalho dos jesuítas com os indígenas na América: a) como protetores dos indígenas – enquanto lutaram contra a ação dos encomenderos e latifundiários, de exploração do trabalho escravo indígena e até mesmo de caça aos nativos; b) como violadores de seus costumes, cultura e religião. Como todo o trabalho de evangelização na América, a missão dos jesuítas não se delineou de modo muito diferente no quesito diálogocom as culturas e religiosidades, a não ser pelo fato de terem aprendido as línguas nativas, composto seus autos (peças teatrais) e sermões nessas línguas, e tendo-as preservado de extinção completa. Uma das difi culdades de apreensão e aceitação da pregação dos jesuítas por parte dos nativos estava no nomadismo. Segundo Martin Dreher (1999, p. 71), “este terminava com os esforços dos padres e punha fi m à sua ilusão de que os indígenas estavam sendo atraídos por sua pregação, e principalmente, por sua música”. Uma das estratégias de contenção e domesticação dos indígenas foram as chamadas reduções. Os batizados eram concentrados em aldeamentos fi xos, nos quais eram disciplinados e fi cavam sob a vigilância dos jesuítas. Alguns percalços, porém, surgiram contra o sucesso desse modelo, como a falta de vontade política da Corte em afastar os colonos e encomenderos dos indígenas, haja vista o confl ito de interesses que estava em jogo. Acrescia-se a isso a própria ação dos colonos contra os jesuítas, o que resultou, por exemplo, em sua expulsão da colônia portuguesa em 1640, só deixando-os voltar com a condição de não mais importunarem os caçadores de índios. | História do cristianismo III | FTSA26 Glossário: Inácio de Loyola: nascido na Espanha, foi o fundador da Companhia de Jesus, uma ordem religiosa católica romana que teve grande importância na Contrarreforma Católica, cujos membros são conhecidos como os jesuítas. Loyola era militar e ao sobrevive a um acidente que sofrera, fez o voto de se dedicar à vida religiosa, fundando assim a Ordem que fi cou conhecida como Companhia de Jesus, que passou a ter como principal estratégica de missão a educação. Reduções: nome dado ao espaço onde funcionavam as missões jesuíticas, constituído pela escola, onde indígenas eram alfabetizados, pelo templo, onde era feita a catequese, e ofi cinas, onde havia produção de artesanato, instrumentos musicais e outros bens que eram vendidos para arrecadação fi nanceira de sustento das missões. Além dessa estratégia das reduções, tentou-se também a estratégia de persuasão dos indígenas. Para tanto, foi necessário que os jesuítas fl exibilizassem um pouco mais as formas de abordagem na catequese, fazendo uma mescla de ortodoxia católica com alguns elementos presentes nos usos, costumes e crenças dos indígenas, de modo que houvesse uma possível identifi cação. José de Anchieta foi um dos que com maestria se adaptou ao espírito fl exibilizado da evangelização através de sua produção poética e dramática. O primeiro indício disso está no fato desse jesuíta ter redigido seus poemas e autos em tupi. Em ambas as formas de comunicação, se podia notar a presença de elementos do que hoje concebemos como uma “religiosidade popular”, simples e objetiva, que buscava despertar a devoção cristã no índio e transformá-lo num “novo homem” – os jesuítas, diferentemente de outros colonos e dos conquistadores, consideravam os indígenas não como seres bestiais, mas como “gente” humana. 27História do cristianismo III | FTSA | 5. Religiosidade popular e magia2 O assunto da religiosidade popular na América Latina é bastante amplo e um conceito que tem múltiplas defi nições. O Conselho Episcopal Latino Americano, em 1974, defi niu religiosidade popular como “o conjunto de convicções e práticas religiosas que grupos étnicos e sociais elaboram através de uma adaptação especial do cristianismo a culturas tipicamente latino-americanas” (Apud Deiros, 1992, p. 118). Deiros formula seu próprio ponto de vista sobre a religiosidade popular, como sendo “o conjunto de mediações e expressões religiosas nascidas da mente e das entranhas do povo no culto, segundo os modos tradicionais típicos de cada agrupamento humano e transmitidos de geração em geração” (Deiros, 1992, p. 119,120). Segundo esse autor (1992, p. 120), “as crenças resultantes do processo de sincretismo religioso, que se deu no continente a partir da colonização das almas indígenas e negras, mostram a coexistência de elementos estranhos entre si, porém, todos debaixo do nome abarcador de catolicismo romano”. Geralmente, nos simulacros dos santos estava presente a “côrte celeste” de maior preferência do devoto. Sempre havia um lugar especial para a Virgem, a padroeira do povo, em suas diversas e inúmeras representações, adorada como a “rainha dos céus”, “madrinha dos neófi tos”, advogada dos oprimidos e pecadores, símbolo de grande devoção e comoção populares. Dentre os santos de casa, como informa Mott (1997, p. 186), “o lusitano santo Antônio foi – e continua sendo – o campeão da devoção popular em toda cristandade”. Ele era comumente invocado como advogado das causas perdidas e santo casamenteiro. “Valei-me meu Santo Antônio!”, costumam clamar os devotos, sempre em busca de um novo favor. 2 O conteúdo deste item foi elaborado com a colaboração do Prof. Jonathan Menezes. | História do cristianismo III | FTSA28 Não obstante às constantes visitas dos padres a esses lugares onde fi cavam os santos, aspergindo e abençoando com água benta, nem sempre as práticas ali realizadas seguiram os preceitos estabelecidos pela ortodoxia católica. Um exemplo, oferecido por Mott, está na intimidade excessiva com o sobrenatural por parte de alguns colonos. As mulheres se colocando como as próprias amas de leite do menino Jesus, a particular devoção das mulheres grávidas com nossa Senhora do parto, e vários exemplos que apresentam algumas relações não só de amor como também de ódio dos devotos com os santos. Conforme expõe Mott (1997, p. 184), “de fato, na religiosidade popular do Brasil de antanho, a intimidade dos devotos vis-à-vis certos santos e oragos percorria um continuum de amor e ódio, que incluía louvores, adulação, rituais propiciatórios, intimidação e até agressão física”. Gilberto Freyre, em sua obra Casa-Grande e Senzala, fala-nos mais a respeito dessa religiosidade afetivizada, lírica e animista vigente no Brasil Colonial: (...) os santos e os anjos só faltando tornar-se carne e descer dos altares nos dias de festa para se divertirem com o povo; os bois entrando pelas igrejas para serem bentos pelos padres; as mães ninando os fi lhinhos com as mesmas cantigas de louvar o menino-Deus; as mulheres estéreis indo esfregar-se, de saia levantada, nas pernas de São Gonçalo do Amarante; os maridos cismados de infi delidade conjugal indo interrogar os “rochedos dos cornudos”; e as moças casadoras os “rochedos do casamento”; nossa senhora do Ó adorada na imagem de uma mulher prenha (Freyre, 1973, p. 22). Dentre as práticas que compunham a religiosidade popular eram as simpatias, os feitiços, as mandingas e até pactos explícitos com o Diabo. Em contrapartida, alguns padres, preocupados com o desvio dos fi éis pelas armadilhas do demônio, segundo informa Mott (1997, p. 196), passaram a “adotar certas cerimônias e rituais que competiam, no apelo dos sentidos e utilização de elementos materiais, com as práticas 29História do cristianismo III | FTSA | costumeiras dos mandingueiros, calunduzeiros”. Esse é um indício que aponta para a complacência da igreja em tratar das práticas religiosas populares. Nem a existência da Santa Inquisição, que no Brasil foi coisa “pra português ver”, pôde domesticar as manifestações do sagrado em seu estado mais primitivo ou “selvagem”, como diria o sociólogo Roger Bastide. A tênue barreira entre a religiosidade ortodoxa e a popular, entre as práticas ilícitas e as lícitas não foi sufi ciente para impedir a propagação dessas excentricidades religiosas, que correram pela margem, pela periferia, e perpassaram a história do cristianismo na América Latina até hoje. O “Homo Religiosus” Latino-americano Constatamos que: 1. América Latina é um povo evangelizado pela metade. A massa ignorante ou douta possui uma fé incipiente, que se manifesta em grande porcentagem numa 'religiosidade popular'. Isso se verifi ca tanto entre as pessoas do campo como entrea gente urbana. A educação dessa fé é umas de nossas grandes urgências pastorais. 2. As motivações dessa religiosidade popular são diversas e se encontram muitas vezes mescladas, de modo que é difícil em muitos casos discernir onde termina o religioso e onde começa o mágico e supersticioso. Podem nascer do temor, do fatalismo e de uma visão cósmica da divindade ou de uma visão correta de Deus e de uma fé verdadeira. Muitas vezes essa religiosidade se fomenta com fi ns econômicos e turísticos. 3. As manifestações da religiosidade popular são múltiplas e variadas, por exemplo: multitudinárias nos santuários; coletivas nas paróquias; familiares, nas casas e comunidades de base; individuais, desde a veneração de uma imagem até o uso fetichista de amuletos. 4. Essas parecem ser as manifestações mais frequentes da religiosidade popular: o culto a imagens do Cristo passivo e morto; o culto aos mortos; as diferentes devoções a Maria; o culto a certos | História do cristianismo III | FTSA30 santos que 'fazem milagres'; carregar medalhas e escapulários; fazer novenas; pagar missas e promessas; consultar adivinhos e horóscopos, etc. 5. Dentre essas manifestações, há algumas que vão sendo abandonadas por muitos (rosário, mês de Maria, primeiras sextas), enquanto em algumas partes se fazem esforços para encontrar novas expressões de fé (Liturgia da Palavra, novenas bíblicas), se nota um crescimento no campo do espiritismo e da astrologia em outras partes, especialmente nas cidades. 6. Na religiosidade popular em geral encontramos elementos positivos mesclados com alguns negativos, por exemplo: Positivos: sentido do sagrado e transcendente; disponibilidade para escutar a palavra de Deus; capacidade de orar; sentido de amizade e caridade; capacidade de sofrer e reparar; desprendimento do material; aceitação cristã de situações irremediáveis. Negativos: falta de sentido de pertencimento à Igreja; crença em lendas e mitos; 'religião triste e fatalista'; desvinculação entre fé e vida; valorização exagerada dos santos e ignorância de Cristo e seu Mistério; considerar a religião como mágica e supersticiosa; 'caricaturas' de Deus; desvios morais (rituais, orgias, etc.); primado pelo utilitarista, o egoísta (Deiros, 1992, p. 102). Talvez a transformação na vida do indígena tenha sido mesmo escassa do ponto de vista do conteúdo da adoração e culto a seus deuses, cobertos com uma camada de verniz católico; mas no que se refere às formas estabelecidas para isso e o cotidiano dos nativos, passaram por um processo grande de transformação. Ninguém sai totalmente incólume de um deslocamento como esses: Em síntese, a religiosidade popular é fruto da evangelização incompleta e alienante, levada a cabo desde os dias da conquista até o presente, com 31História do cristianismo III | FTSA | características especiais. Os conquistadores e os missionários trabalharam por converter em realidade seus sonhos messiânicos de criar “de cima para baixo” e mediante métodos violentos, uma cristandade modelo, uniforme nos planos estatal e religioso. Para tanto, quis-se destruir a religião nativa e impor a fé católica romana em seu lugar. Desse modo, o que houve foi uma sobreposição de religiões, porém não uma autêntica conversão, no sentido cristão. (Deiros, 1992, p. 126) No Brasil, não obstante os muitos avanços (e retrocessos) ocorridos no campo das religiões nas últimas décadas, bem como das metamorfoses do sagrado, ainda somos fruto dessa construção ocorrida desde o período colonial. Ed René Kivitz parece ter captado muito bem essa infl uência ao falar de algumas marcas do fenômeno religioso do Brasil e da América Latina, no prefácio à edição brasileira do livro A igreja do outro lado, de Brian McLaren (2008). Segundo ele: A religiosidade brasileira do terceiro mundo é mágica, mística, profundamente marcada pelas categorias das religiões indígenas e afro. Somos o povo das superstições, das mandingas, das simpatias. Ainda fazemos despachos nas esquinas, pulamos ondinhas na passagem de ano e lançamos fl ores ao mar para Iemanjá, fazemos correntes de oração e jejuns, subimos escadas de joelhos pagando promessas, acendemos velas, ungimos portas de casas com óleo e deixamos a Bíblia aberta no Salmo 91 para afastar espíritos malignos, damos dinheiro na igreja para impedir a ação dos gafanhotos devoradores do dinheiro dos crentes, engrossamos romarias à Fátima, Lourdes e Aparecida do Norte, cultuamos o Padre Cícero e nos regozijamos com a canonização do Frei Galvão (Kivitz, 2008, p. 15). Ainda sobre a religiosidade popular e magia no campo religioso brasileiro, | História do cristianismo III | FTSA32 o pesquisador Antônio Gouvêa Mendonça descreve o compósito do campo religioso brasileiro afi rmando que “o universo do catolicismo popular era um universo mágico de pluralidade de deuses”, cujo cenário, nunca fi xo e permanente, “podia ser manipulado e rearranjado segundo as necessidades humanas”. Acrescenta ainda: A cultura brasileira tem três componentes muito claros: a cultura ibero-latino-católica, a indígena e a negra. A primeira não é representada pelo catolicismo tridentino, mas pela religião popular, folclórica e festiva legada pela tradição lusitana. Dessa mistura de cultura resultou um imaginário de um mundo composto por espíritos e demônios bons e maus, por poderes intermediários entre os homens e o sobrenatural e por possessões. Trata-se de um mundo maniqueísta em que os poderes são classifi cáveis entre o bem e o mal e manipuláveis magicamente. (Mendonça, 1997, p.160) Mendonça destaca algumas características fi ncadas nas raízes dessa religiosidade desenvolvida desde o período colonial: peregrinações a locais sagrados; mediação dos santos por meio de preces muito populares, que nem sempre seguem a canonização ofi cial dos mesmos pela igreja; fazer e cumprir promessas, acender velas, solicitar ajuda de rezadores. Eduardo Albuquerque comenta o arraigamento dessas práticas no catolicismo de devoção popular: No cristianismo popular brasileiro, a oração, a prece e a reza são fórmulas religiosas dirigidas a Deus, a Cristo, à Virgem Maria e aos santos, mediante o que o fi el pede, deseja, julga a si mesmo e avalia suas próprias necessidades. Vindas de Portugal, enfrentam a Inquisição, os médicos e os juristas e sobrevivem nos nossos dias através dos homens e mulheres que benzem. (...) instrumentos mantidos pela memória do povo brasileiro para enfrentar suas adversidades cotidianas. (Albuquerque, 2006, p.10) 33História do cristianismo III | FTSA | EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO - 04 A religiosidade popular é inerente à América Latina; por mais que a corrente ortodoxa se coloque como um barreira para impedir a propagação das excentricidades da esfera religiosa popular, essa se fez pela margem, pela periferia, e perpassou a história do cristianismo até hoje, formatando então o “Homo Religiosus” latino – americano. Assim, quais aspectos dessa religiosidade popular podem ser considerados positivos para a vida cristã na atualidade? Assinale a única alternativa correta: ( ) Crença em lendas e mitos, superstição, falta de pertencimento à igreja, religiosidade fatalista. ( ) Sentido do sagrado e do transcendente, disponibilidade para escutar a palavra de Deus, capaciadade de orar, sentido de amizade e caridade, capaciadade de sofrer e reparar, desprendimento do material, aceitação cristã de situações irremediáveis. ( ) Religiosidade com fi ns materiais, valorização exagerada dos santos, desvinculação entre fé e vida. Acesse o AVA para fazer o exercício! e veja a reação do professor! | História do cristianismo III | FTSA34 A introdução de grandes levas de escravos provenientes da África ocasionou não somente uma grande mescla ou mestiçagem racial, como também um intenso e circular pluralismo nas crenças que perfazem o campo religioso brasileiro. Basicamente, os únicos elementos que os negros puderam transportar da sua terra natal parao Brasil colonial foram, além de outros aspectos culturais, as crenças em seus deuses e espíritos e os múltiplos ritos para se relacionar com eles. Esta fé se estendeu posteriormente às diferentes regiões do país, estando presente por meio de uma variedade de expressões das quais as mais conhecidas e extensivas são o candomblé e a umbanda. Essa última tipologia contém traços muito fortes de espiritismo como também elementos litúrgicos da fé cristã. Tais crenças compõem parte signifi cativa da cultura do país. Pierre Sanchis se refere ao capital simbólico que confi gura o campo religioso brasileiro indicando como matriz religiosa um encontro de práticas, crenças e ritos de expressões culturais distintas, marcadas por raízes europeias, africanas e indígenas. A “porosidade” que confi gura essa matriz cultural é que permite, ao mesmo tempo, crer em demônios, ter medo de pisar em trabalhos de macumba, usar fi tas do Senhor do Bonfi m, colocar carrancas nas entradas das casas, elefantes de costas para as portas, soltar fogos no dia de Nossa Senhora Aparecida, virar Santo Antônio de cabeça para baixo para se obter um casamento, ir à missa aos domingos, acreditar em reencarnação, tomar banho de descarrego e benzer-se com água benta, acender incensos, acreditar em “olho gordo”, cristais, gnomos... (Sanchis, 1994, p. 4) Também Eduardo Hoornaert (1993, p.67), distinguindo do que chama de “catolicismo estabelecido ou patriarcal”, identifi ca o “catolicismo popular” brasileiro como sendo a religiosidade indígena e africana (HOORNAERT, 1991, p. 98). Afi rma ainda que “os sacerdotes católicos foram assimilados a modelos bem defi nidos do imaginário religioso indígena...”, ao passo que um processo em outra via também ocorreu: no confronto entre o sacerdote católico e o “xamã” americano (pajé, curandeiro, conselheiro, feiticeiro etc.) alguns deles “descobriram nesse confronto a dimensão xamânica inerente à sua própria vocação” (Hoornaert, 1993, p.72). 35História do cristianismo III | FTSA | A magia consiste num dos elementos que marcam fortemente o campo religioso brasileiro, com raízes fi ncadas na longa duração. Pode-se entender como magia tudo aquilo que tenta inverter as formas naturais das coisas. A sua essência reside, pois, na dominação dos poderes supra- sensíveis, os quais são convocados e controlados autoritariamente em função do objetivo visado pelos seus adeptos. Desde os tempos mais antigos, a magia tem prometido às pessoas que a ela recorrem a solução imediata de determinados problemas muito concretos. O pesquisador Antônio Flávio Pierucci ressalta que a magia está circunscrita nas soluções que pode oferecer aos transtornos e contratempos da vida humana: “A magia torna o mundo mais próximo das nossas próprias mãos, deixa os poderes superiores mais acessíveis à nossa própria vontade, simbolicamente mais controláveis; a magia delimita, defi ne e aproxima os resultados que promete” (Pierucci, 2001, p.44). Esse mesmo autor acrescenta: A magia costuma ser praticada em situações de muita incerteza, imprevisibilidade e, portanto, tensão e ansiedade. (...) Magia é para ser acionada no momento oportuno, quando se tem que enfrentar, com sucesso, difi culdades não usuais, situações específi cas fora do trivial, quando o inexplicável teima em acontecer e o imprevisto pode sobrevir. Magia é feita para concretizar o extraordinário. (Pierucci, 2001, p. 55) Estabelecendo como ponto de partida o contexto do Brasil colonial, pode- se dizer que em tal período já podem ser identifi cadas práticas religiosas marcadamente caracterizadas por expressões de magia, com fortes raízes no catolicismo medieval. Especialmente, a partir do século IV da era cristã, quando o cristianismo se tornou religião lícita e ofi cial do Império Romano, desenvolveu-se um intenso e crescente processo de aculturação entre doutrinas cristãs e antigas práticas cúlticas que permeavam o universo religioso do mundo greco-romano. Segundo Leonildo Campos, nesse período a assimilação da fé cristã pela população rural, mediante a catequese, “formou uma camada de verniz sobre uma antiga realidade | História do cristianismo III | FTSA36 religiosa” (Campos, 1997, p.170), desencadeando um intenso apego às relíquias como fetiches de proteção, com caráter mágico, objetos esses que supostamente teriam sido utilizados pelos apóstolos ou outros mártires do cristianismo e que eram então guardados nos lares dos devotos com o sentido de proteção contra doenças, contra infortúnios do demônio ou como ajuda contra as intempéries que poderiam ameaçar as colheitas. Esta “magia” dos objetos desencadeou um verdadeiro comércio de amuletos: Multiplicaram-se os cultos às relíquias sagradas, verdadeiros fetiches milagrosos, aos quais se atribuíam poder de curar enfermidades e proteger as pessoas dos perigos. Esses objetos, que pensavam terem pertencido aos santos ou simplesmente por terem sido usados na missa, eram trocados, presenteados, roubados, vendidos ou comprados. Muitos deles eram empregados com as mais diversas fi nalidades, desde o auxílio no trabalho de parto até na cura de peste no gado bovino ou afastar epidemias de seca, fome ou pragas de gafanhotos (Campos, 1997, p.171). O historiador inglês Keith Thomas também afi rma que no contexto da Idade Média, as relíquias sagradas tornaram-se fetiches milagrosos, tidos como dotados do poder de curar enfermidades e proteger contra perigos (...) atribuía-se igualmente uma efi cácia miraculosa às imagens. A representação de são Cristóvão, que com tanta frequência ornamentava as paredes das igrejas das aldeias inglesas, supostamente concedia um dia de imunidade à doença ou à morte a todos os que a fitassem (Thomas, 1991, p.36). Este mesmo autor constata que no mundo medieval havia se desenvolvido um “amplo leque de fórmulas para atrair a bênção prática de Deus sobre as atividades seculares”, acrescentando: 37História do cristianismo III | FTSA | O ritual básico era o benzimento com sal e água para a saúde do corpo e expulsão dos maus espíritos. Mas os livros litúrgicos da época também traziam rituais para benzer casas, gados, culturas, embarcações, ferramentas, armas, cisternas e fornalhas. Havia fórmulas para abençoar homens que se preparavam para sair em viagem, para travar um duelo, para entrar em batalha ou mudar de casa. Havia métodos para abençoar os doentes e tratar de animais estéreis, para afastar o trovão e trazer a fecundidade ao leito matrimonial [...] Fundamentalmente em todo esse procedimento era a ideia de exorcismo, o esconjuro formal do demônio, expulsando de algum objeto material por meio de preces e da invocação do nome de Deus. A água benta podia ser utilizada para afastar maus espíritos e vapores pestilenciais. Era remédio contra a doença e a esterilidade (Thomas, 1991, p.38). Glossário: Sabá: termo utilizado para identifi car os ritos classifi cados como bruxaria durante a Idade Média. Amuleto: objeto ou fórmula que alguém guarda consigo e a que se atribuem virtudes sobrenaturais de defesa contra desgraças, doenças, malefícios etc. Xamanismo: manifestações, ritos e práticas centralizadas na fi gura do xamã, identifi cado como feiticeiro, que tem o papel de intermediação entre a realidade terrena e a dimensão sobrenatural, por meio de transes místicos, com fi nalidades especialmente curativas. Exorcismo: rito por meio do qual se expulsam os maus espíritos. | História do cristianismo III | FTSA38 A historiadora Laura de Mello e Souza demonstra em suas obras como esse catolicismo mágico, de identidade ainda medieval, se transpôs à América no período da colonização. Isto se deu de dois modos: pelas práticas de uma religiosidade popular católica à margem dos dogmas ofi ciais; pelo olhar inquisitorial do catolicismo ofi cial, que buscava vigiar e punir estas práticas. Afi rma que católicos chegaram a fazer uso da violência no esforço que empreenderam visando o banimentodo que consideravam “paganismo”, expresso na religiosidade vivida pelas populações da Europa Moderna: “homens e mulheres [eram] acusados de [...] blasfêmias, proposições heréticas, visões e feitiçarias” (Souza, 1993, p. 90). Ainda segundo essa autora, “os jesuítas haviam desempenhado função demonizadora durante o século XVI, vendo sabá nas cerimônias indígenas”. (Souza, 1986). As atuações colonizadoras no Brasil colonial eram também vistas como mecanismos “exorcizadores desses povos; trazendo-lhes a fé cristã, os livrariam dos demônios” (Mariz, 2000, p.257). Na época, como mostra Keith Thomas, o diabo era a explicação para o inexplicável e para mistérios, doenças e insucessos, havendo, portanto, a necessidade de se recorrer à magia (Thomas, 1991, p.387). Laura de Mello e Souza afi rma que “a baixa Idade Média assistira a uma demonização paulatina da existência”, fortalecendo “ainda mais a presença de satã entre os homens” (Souza, 1986, p. 137). Acrescenta esta autora: No fi nal do século XV, pregadores e clérigos saturavam seus sermões com um vocabulário diabólico. [...] Foi, portanto, no início da Época Moderna, e não na Idade Média, que o inferno e seus habitantes tomaram conta da imaginação dos homens do Ocidente (Souza, 1986, p. 139). No caso católico, a ratifi cação feita pelo Concílio de Trento no sentido de continuar usando a Inquisição no combate às heresias, acabou 39História do cristianismo III | FTSA | instigando ainda mais o imaginário diabólico que viria confi gurar as práticas religiosas desenvolvidas na América Colonial. Encontrando na colônia populações autóctones que também viam o diabo como força atuante e poderosa, os jesuítas acabaram por demonizar ainda mais as concepções indígenas, tornando-se, em última instância, e por mais paradoxal que pareça, agentes demonizadores do cotidiano colonial (Souza, 1986, p. 139). Ressalta-se ainda que as práticas mágicas e religiosas na colônia brasileira revelariam, ao fi nal de seu primeiro século de existência, sua face pluricultural, que se consolidou durante o século XVII. Para isso contribuiu a Inquisição, que “despejou sobre solo colonial com grande frequência os hereges e feiticeiros” que “trabalhariam no sentido da manutenção das persistências” (Souza, 1993, p. 56). Enfi m, a Europa da Modernidade nascente, berço e auge das reformas religiosas tanto protestante como católica, experimentou, com sua periferia colonial uma guinada: em vez de “religião com magia”, como sempre tinha sido e assim seguiria sendo no resto do mundo, “religião contra magia” (Pierucci, 2001, p. 86). 6. Presenças ocasionais do Protestantismo no período colonial Ainda que de modo ocasional ou temporário, o protestantismo conseguiu estabelecer contatos com a América Latina ao longo do período colonial. Os primeiros contatos ocorreram por meio de literaturas. Piratas, corsários, comerciantes de escravos (franceses, ingleses e holandeses), que eram protestantes, ao circularem por estes territórios latino- americanos disseminaram Bíblias, livretos protestantes e outros tipos de literaturas, que falavam da fé reformada, sobretudo entre as camadas mais elitizadas. | História do cristianismo III | FTSA40 Glossário: Corsários: espiões enviados à América por nações concorrentes da Espanha e Portugal. Dentre estas nações, algumas eram protestantes, fato que possibilitava a distribuição de literaturas por estes emissários em terras latino-americanas, dentre as quais, a Bíblia ou trechos dela, além de comentários bíblicos de Martinho Lutero. Uma colônia alemã, luterana, desenvolveu-se na Venezuela, entre 1529-1546. Foi por circunstâncias econômicas. A Espanha devia para banqueiros alemães e como forma de quitar a dívida cedeu este território para que fosse explorado comercialmente pelos credores. Estes trouxeram algumas dezenas de famílias para o Novo Mundo, onde criaram uma igreja para a prática do culto protestante, de liturgia luterana, com a presença de pastores que cuidavam espiritualmente desta população. Foi algo que se deu apenas na língua germânica, sem fi nalidade missionária ou evangelizadora. Conforme já mencionado na disciplina de História do Cristianismo II, não obstante as restrições impostas, duas tentativas de inserção foram feitas por protestantes no Brasil colonial. Ambas acabaram sendo fortemente rechaçadas pela religião dominante, o catolicismo, sob a acusação de se constituir prática de heresia, dado o calor dos conflitos desencadeados naquele período pelo processo de reformas na igreja, que contrapunha protestantes e católicos, e envolviam não só aspectos religiosos, mas também interesses econômicos de controle e conquistas de mercados pelos países europeus. A primeira tentativa de inserção no país, por protestantes, data de 1555, quando se deu a chegada da expedição liderada por Nicolau Villegaignon, que objetivava fundar a França Antártica e construir uma espécie de refúgio onde calvinistas franceses, conhecidos como huguenotes, pudessem praticar livremente a fé reformada, uma vez que sofriam duras perseguições religiosas em seu país de origem. Como desdobramento ainda desse projeto, em 10 de março de 1557, chegaram em solo brasileiro pastores enviados por João 41História do cristianismo III | FTSA | Calvino, da cidade de Genebra, Suíça, com o propósito de difundir o culto protestante. Fazia parte desse grupo um jovem estudante de teologia, chamado Jean de Léry, que vinte anos mais tarde publicaria uma obra que se tornou um importante documento sobre o Brasil, em tal período, denominada Viagem à Terra do Brasil. Em decorrência de confl itos com líderes políticos e religiosos portugueses, a expedição teve seu término com a expulsão, em 1860, de todos os franceses e a desativação da colônia que havia sido organizada por Villegaignon (Lestrigante, 1998). Glossário: Huguenotes: Nome dados aos calvinistas, na França. A origem do termo tem algumas explicações; uma delas afi rma que em razão daqueles protestantes se reunirem - geralmente à noite, devidos às perseguições - na região de um antigo castelo outrora habitado pelo “Rei Hugo”, criou-se a alcunha pejorativa de que aqueles religiosos eram “seguidores do Rei Hugo”, ou seja, “huguenotes”. França Antártica: Os confl itos entre huguenotes (protestantes) e católicos aumentavam, na França, o que resultou na fuga de muitos protestantes, visto que estavam sendo perseguidos pelo catolicismo. Em razão disso, e também por interesses econômicos e comerciais, comandados por Nicolau Durand Villegaignon e o Almirante Gaspar Coligny, os franceses chegaram ao Brasil em 1555, na atual cidade do Rio de Janeiro, ocupando os territórios ainda não explorados pelos portugueses: Baía de Guanabara. Foi, assim, que surgiu a França Antártica. | História do cristianismo III | FTSA42 Um segundo esforço de inserção no Brasil se deu no século XVII, entre 1630 e 1654, dessa vez com holandeses, através do empreendimento denominado “Companhia das Índias Ocidentais”, que se estabeleceu inicialmente em Pernambuco e, depois, em outras áreas do Nordeste brasileiro. O objetivo principal era o comércio de açúcar (Reily, 1993). Maurício de Nassau, líder do projeto, também se preocupou em trazer ao Brasil pastores da Igreja Reformada Holandesa, que chegaram a desenvolver um trabalho religioso não apenas com a comunidade holandesa, mas também com outros grupos existentes no país. Com esse propósito, foi elaborado até mesmo um catecismo nas línguas holandesa, portuguesa e tupi, sendo organizadas inclusive algumas igrejas que praticaram o culto reformado. Em 1654, confl itos políticos e econômicos provocaram o fi m desse empreendimento, desaparecendo também com isso os vestígios institucionais do cristianismo protestante holandês em solo brasileiro (Mendonça, 1984, p.17). Colônias protestantes também foram criadas nas Ilhas do Caribe, no século XVII, por holandeses, franceses, ingleses. Na Jamaica, os batistasfundaram também igrejas. Todas estas igrejas funcionaram às margens do império espanhol. Uma colônia escocesa foi criada no Panamá, entre 1698-1700, onde se implantou temporariamente uma igreja presbiteriana. Houve também uma missão moraviana entre escravos, na Guiana holandesa do Caribe, a partir de 1732; o mesmo se deu na Jamaica a partir de 1738. Os missionários moravianos chegavam a se vender como escravos para conseguirem adentrar em lugares proibidos a fi m de evangelizar os nativos. Aproveitavam-se também do fato de que, na Jamaica, foi criado o Código do Escravo, segundo o qual havia a obrigação de evangelização do escravo pelos colonos. 43História do cristianismo III | FTSA | Saiba Mais: Diferentes Representações da Morte Quando estudamos o período de formação colonial da América Latina e Brasil, um dos assuntos que desperta a atenção se refere às diferentes representações da morte envolvendo os diversos grupos presentes em tais contextos. A começar pelos povos ameríndios. Em geral, professavam a crença em uma vida imortal. Em seus mitos, constava o da busca pela “Terra sem males”, um tipo de paraíso perdido na Terra, no qual não envelheceriam mais, não fi cariam mais doentes, não morreriam, onde haveria caça em abundância, sem necessidade de perseguir os animais a serem abatidos, porque elas viriam se oferecer aos caçadores. Um imaginário com representações semelhantes ao Éden descrito no livro bíblico do Gênesis. Fazia parte desse imaginário religioso a crença de que seus antepassados retornariam no tempo do fi m para guiá-los rumo a esse paraíso terrestre. Era um tipo de escatologia. Entre os Maias, por exemplo, estes elementos de crença estavam inclusive registrados em um livro chamado Popol Vuh, apelidado de “Bíblia Maia”, cujas inscrições eram feitas de uma forma artesanal nominada de Quipu, vistos que estes povos eram ágrafos, ou seja, sem escrita. Esse livro Maia apresentava mitos da criação do mundo e também indicativos apocalípticos. Quando os colonizadores espanhóis e portugueses chegaram para a conquista, alguns destes povos acreditaram inicialmente que os seus antepassados estavam retornando, cumprindo assim as profecias. O fi lme 2012, lançado no cinema nesse mesmo ano, é baseado nesse imaginário Maia sobre o fi m do mundo. A última cena, inclusive, apresenta a chegada dos colonizadores com este sentido apocalíptico. Em relação aos povos de origem africana, introduzidos na América colonial, caracterizou-os o imaginário referente à morte | História do cristianismo III | FTSA44 com destaque para dois aspectos. Primeiro, o valor dado aos antepassados. Nas crenças de matriz africana é comum a ideia de uma família extensiva e multigeracional, segundo a qual vivos e mortos mantém vínculos familiares muitos intensos e próximos; a morte não os separa; daí serem usuais os ritos pelos quais eles acreditam manter contato e estabelecer comunicações com os que já morreram. Um segundo aspecto, sobre a relação entre vivos e mortos, é marcado pelo símbolo do fogo, que fi cava aceso diuturnamente nas senzalas (habitações dos africanos escravizados). A história mostra que quando vinham de seu continente de origem, os africanos costumavam trazer tições retirados de fogueira sagrada de sua terra (representando os ancestrais). Ao chegarem ao mundo americano acendiam aquele tição para alimentar o fogo das suas habitações, representando a presença dos ancestrais junto a eles, para protegê-los em casa e no trabalho. Ao morrer alguém daquela senzala, fazia parte dos ritos colocarem um tição aceso nas mãos do falecido durante o cortejo até o local de sepultamento. Isto signifi cava que aquele espírito teria em sua travessia o caminho iluminado até o mundo dos mortos, no encontro com os ancestrais. Um ser divinizado, chamado kalunga, era responsável por fazer essa passagem para o mundo do além. Quanto aos católicos e protestantes, apresentam também diferentes representações da morte, tanto no período colonial como do império, e mesmo no contexto contemporâneo. Considerações fi nais Vimos, nesta unidade, aspectos históricos de formação do que hoje nominamos de América Latina e Brasil, sobretudo dos elementos que contribuíram diretamente para a confi guração de um campo religioso marcado pela diversidade, pelo confl ito, pela intolerância, mas também por exemplos positivos de quem empreendeu esforços para anunciar a boa notícia do reino de Deus. 45História do cristianismo III | FTSA | É impossível compreender o mundo latino-americano sem a devida atenção ao elemento religioso, pois ele já estava presente com os povos ameríndios ou pré-colombianos, acompanhou o projeto expansionista de colonização de espanhóis e portugueses rumo ao novo mundo. Toda essa religiosidade sofreu ao longo do tempo modificações, ressignificações, apropriações sincréticas. A chegada, posteriormente, do protestantismo em terras da América Latina e Brasil marcaria a construção de uma nova visão de mundo, de sociedade e cultura. Mas sobre isto passaremos a tratar de modo detalhado a partir da próxima unidade. EXERCÍCIO DE REFLEXÃO - 05 Esse processo histórico que você acabou de estudar – invasões dos portugueses e espanhóis na América Latina – expõe as mentalidades de um tempo que permitem não só a informação, mas, exigem uma séria refl exão sobre o germinar cristão da América Latina. Nesse sentido, faça uma refl exão, utilizando no mínimo 200 palavras, destacando aspectos positivos e negativos que você consegue enxergar no processo colonizador e paute como esses aspectos infl uenciam o cristianismo atual. Acesse o AVA para fazer o exercício! e veja a reação do professor! | História do cristianismo III | FTSA46 Referências: ALBUQUERQUE, Eduardo Basto de. Orações & rezas populares. Texto disponível em: http:// www.planetanews.com. Acesso em: out. 2019. BIDEGÁIN, Ana Maria. História dos cristãos na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1993. CAMPOS, Leonildo S. Teatro, templo e mercado. Organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. Petrópolis: Vozes, 1997. BOFF, Leonardo. América latina: da conquista à nova evangelização. São Paulo: Ática, 1992. DEIROS, Pablo Alberto. História del cristianismo en América Latina. Buenos Aires: FTL, 1992. DUSSEL, Enrique. 1492: O encobrimento do outro. A origem do mito da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1993. FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala. 16ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. HOORNAERT, Eduardo. Formação do catolicismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1991. HOORNAERT, Eduardo et al. Estudos Bíblicos nº 37. Petrópolis: Vozes, 1993. HOORNAERT, Eduardo. História do cristianismo na América Latina e no Caribe. São Paulo: Paulinas, 1994. KIVITZ, Ed René. Prefácio à edição brasileira. In: MCLAREN, Brian. A igreja do outro lado. Brasília, DF: Palavra, 2008. MARIZ, Cecília L. 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