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Entrega voluntária de recém-nascidos para adoção

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Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO CARLOS DRUMMOND DE 
ANDRADE 
 
ALESSANDRA STATI DO EGITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-NASCIDOS PARA 
ADOÇÃO COM ÊNFASE NA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2021
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO CARLOS DRUMMOND DE 
ANDRADE 
 
ALESSANDRA STATI DO EGITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-NASCIDOS PARA 
ADOÇÃO COM ÊNFASE NA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como exigência parcial para obtenção do grau 
de Bacharel em Direito na Unidrummond, sob 
a orientação da Dra. Profª. Me. Regina Maria 
Pinna. 
 
 
 
São Paulo 
2021 
 S237 Egito, Alessandra Stati do
 
 ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-
NASCIDOS PARA ADOÇÃO COM ÊNFASE NA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA / Alessandra Stati do Egito - São Paulo, 2021.
 49 fls.
 Orientador(a): Regina Maria Pinna
 Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)
(Direito) – Centro Universitário Carlos Drummond de Andrade, São Paulo,
2021.
 1. Constituição da República Federativa do Brasil 2.
Entrega voluntária de recém-nascidos 3. Adoção e Poder de família 4. Da
necessidade de divulgação e esclarecimento do tema 5. A entrega do recém-
nascido na prática
 CDD 341.2
 
 
ALESSANDRA STATI DO EGITO 
 
ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-NASCIDOS PARA 
ADOÇÃO COM ÊNFASE NA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
pela aluna do Curso de Bacharel em Direito 
como parte dos requisitos para conclusão do 
curso, perante a banca examinadora composta: 
 
 
Data da aprovação: São Paulo – SP, 08 de novembro de 2021. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
_________________________________________ 
Orientadora: Prof. Me. Regina Maria Pinna 
 
 
_________________________________________ 
Examinador: Prof. Me. Neivaldo Gonçalves da Costa 
 
 
_________________________________________ 
Examinador: Prof. Me. Diego Santos Sanchez 
 
São Paulo 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus pais e 
familiares, pois, sem a ajuda destes, eu não 
teria a oportunidade de estar concluindo meu 
curso de bacharel em Direito. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Primordialmente, gostaria de agradecer a Deus e aos meus guias espirituais que 
permitiram a existência desse momento, trazendo a sensação de dever cumprido na confecção 
deste trabalho que, possui popularmente um marco histórico de finalização de um sonho. 
À minha família, em especial meu pai Alexandre Albercio do Egito e minha mãe Sandra 
Gibertoni Stati do Egito que, sempre vibraram por mim em cada conquista no decorrer destes 
cinco anos de curso, me ajudando financeira e psicologicamente para a conclusão do meu 
bacharelado, me impedindo de desistir em todos os momentos de frustração ou desânimo. 
Aos meus avós, Onivaldo Stati e Terezinha Neide Gibertoni Stati pela força, incentivo e 
carinho comigo desde sempre. sei que a conclusão deste curso é também um sonho de vocês 
que estou cumprindo com muita satisfação. 
Ao meu noivo Gustavo Stoch Osti, por todo o apoio, dedicação e companheirismo neste 
percurso estudantil que ocasionou na minha ausência em vários momentos, contudo, que sem 
dúvida, será um grande marco em nossa trajetória. 
Aos meus amigos e colegas de classe pela união e respeito para com todos, pelo auxílio 
e motivação transmitida para chegarmos até o tão almejado diploma. 
Agradeço também a instituição UniDrummond, ao corpo docente, em especial à minha 
orientadora Professora Regina Maria Pinna, a direção e a coordenação pela oportunidade do 
vislumbro desta nova etapa, bem como por terem me proporcionado no decorrer destes 
últimos anos estudantis, não apenas o conhecimento acadêmico e racional, mas também o 
equilíbrio para realização dos deveres de forma centrada e eficiente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O abandono de recém-nascidos ocorre desde os milênios, independente do motivo pelo qual 
uma mãe e/ou sua família renunciam a uma criança que acabou de vir ao mundo, fato é que 
muito provavelmente essas pessoas sequer sabem que podem realizar a entrega esse recém-
nascido de forma responsável. Não raramente é transmitido em jornais e programas 
televisivos reportagens de crianças deixadas em caixas de papelão, sacos de lixo e banheiros 
públicos. Dessa forma, o presente trabalho visa, inicialmente, a divulgação do tema e 
conscientização de uma população que pode vir a conhecer alguém que pensa em fazer algo 
similar e não sabe como auxiliar. No decorrer deste, verificar-se-á as legislações que preveem 
a entrega voluntária de recém-nascidos, orientações de órgãos públicos sobre o tema, bem 
como uma breve demonstração de como isso poderia ocorrer na prática. De modo a explicar o 
porquê existe o direito, o trabalho se amolda no princípio da dignidade da pessoa humana, 
pensando tanto no direito da mãe em realizar a entrega, como da criança em viver em um 
ambiente saudável, onde suas necessidades e direitos fundamentais sejam prioridade absoluta, 
como por exemplo, educação, residência, moradia, dentre outros. Contudo, apesar de 
demonstrar ser possível, esclarecer-se-á também as reais consequências em optar por esse tipo 
de atitude, incluindo a impossibilidade de arrependimento tardio. 
 
Palavras-chave: Recém-nascidos; Entrega; Direito; Dignidade; Perda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The abandonment of newborns has occurred since the millennium, regardless of the reason 
why a mother and/or her family renounce a child who has just come into the world, the fact is 
that most likely these people do not even know that they can give this newborn responsibly. 
Not rarely newspapers and television programs often broadcast reports of children left in 
cardboard boxes, garbage bags and public restrooms. In this way, the present work aims, 
initially, at the dissemination of the theme and awareness of a population that may come to 
know someone who is thinking of doing something similar and does not know how to help. 
During this, verify the legislation that provides for the voluntary give of newborns, orientation 
from public agencies on the subject, as well as a brief demonstration of how this could happen 
in practice. In order to explain why the right exists, the work is based on the principle of 
human dignity, thinking both of the mother's right to make the give, as well as the child's right 
to live in a healthy environment, where their fundamental needs and rights are absolute 
priority, such as education, residence, habitation, among others. However, despite 
demonstrating the possibility, explain the real consequences of opting for this type of attitude, 
including the impossibility of late regret. 
 
Keywords: Newborns; Give; Right; Dignity; Loss. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 
1 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL .............................. 11 
1.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ............................................................................. 12 
1.1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana .................................................... 14 
1.2 PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA ..................................................... 15 
2 ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-NASCIDOS ................................................... 18 
2.1 RAZÕES QUE MOTIVAM A REALIZAÇÃO DA ENTREGA .................................21 
2.2 PREVISÃO LEGAL NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ........ 23 
3 ADOÇÃO ............................................................................................................................. 25 
3.1 QUEM PODE ADOTAR ............................................................................................... 27 
3.2 QUEM PODE SER ADOTADO ................................................................................... 29 
3.3 REQUISITOS PARA ADOÇÃO .................................................................................. 30 
3.4 DA POSSIBILIDADE DE ANULABILIDADE DA ADOÇÃO .................................. 31 
4 PODER DE FAMÍLIA ........................................................................................................ 33 
5 DA NECESSIDADE DE DIVULGAÇÃO E ESCLARECIMENTO DO TEMA ......... 36 
5.1 DIFERENÇA DE ENTREGA E ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO ................... 37 
6 A ENTREGA DO RECÉM-NASCIDO NA PRÁTICA ................................................... 39 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 44 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 47 
ANEXO .................................................................................................................................... 49 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
No decorrer dos anos, a imposição da sociedade quanto a criação das crianças e 
adolescentes tem se tornado mais rígida, impondo aos pais que seja fornecida uma vida digna 
aos seus filhos, obrigando-os a conceder às suas crianças acesso à educação, saúde, 
alimentação e necessidades básicas, e, apesar de realmente parecer o básico, essa não é a 
realidade de muitas famílias, onde em alguns casos sequer possuem uma residência fixa e 
segura para criar seus filhos. 
Por esse motivo o presente trabalho visa defender a tese de que este tema é merecedor 
de uma maior divulgação pela mídia, pois, acredita-se que, com isso, o número de crianças 
abandonadas, maltratadas e agredidas por seus entes seriam reduzidos drasticamente. 
É incoerente que um direito da mulher e da criança não seja devidamente divulgado. 
Assim, espera-se apresentar os benefícios que a aplicação dessa legislação poderia trazer para 
a sociedade, mostrando as possibilidades de acolhimento do recém-nascido que a mãe não 
quer criar, ou ainda que, apesar de querer, não tem possibilidade de criá-lo com a dignidade 
que ela e a sociedade julgam necessária. 
Importante esclarecer que muitas mães entregam seus filhos para adoção por ter 
consciência que outra pessoa terá mais condições de dar uma vida digna ao seu filho do que 
ela mesma, sendo a dignidade da pessoa humana um dos princípios constitucionais básicos, 
conforme menciona a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1, inciso III. 
Tema pouco debatido na sociedade em decorrência do preconceito que paira sobre ele, 
todavia extremamente necessário e útil para muitos desinformados. 
Estima-se também que com a divulgação do tema, as pessoas mais favorecidas possam 
orientar aquelas desprovidas do conhecimento necessário a fim de instruí-las em como fazer a 
entrega responsável. 
Ademais, é nítida a preferência dos adotantes em adotar recém-nascidos em 
concorrência com crianças com idade superior, o que facilitaria muito que essa criança viesse 
a ser integrada em uma boa família caso logo ao nascer ingressasse no sistema de adoção. 
A entrega voluntária de recém-nascidos para adoção é um direito garantido às gestantes 
ou mulheres em estado puerperal, nos termos do artigo 19-A do Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA), tendo suas especificações previstas nos parágrafos seguintes da mesma 
legislação. 
10 
 
Será esclarecido que o Estado deve cuidar para que a entrega seja realizada de forma 
sigilosa, bem como sem críticas ou julgamentos à mãe, devendo encaminhá-la para a Justiça 
da Infância e Juventude com a maior discrição possível. 
Relatar-se-á também que a entrega legal é diferente do abandono de bebês, sendo este 
crime, conforme determinação do artigo 134 do Código Penal, o que de forma alguma se 
assemelha ao aqui dissertado. 
No presente caso a mãe ou gestante procura fazer a entrega, visando que seu filho tenha 
uma vida digna e próspera, acreditando que uma família substituta seja de fato mais 
competente para essa função, não podendo de forma alguma este ato ser caracterizado como 
abandono. 
Com isso, ao final, relatar brevemente sobre o processo de entrega do recém-nascido 
para a adoção, onde será delimitada as exigências e requisitos para que uma família consiga 
realizar o sonho de ter um filho, independente do DNA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 
 
 
Inicialmente, exalta-se a importância da Constituição Federal da República no cotidiano 
do brasileiro, tendo em vista ser ela a responsável por nossos direitos básicos e fundamentais. 
 
A Constituição, lato sensu, consiste no ato de constituir, de estabelecer, de firmar ou 
até mesmo, no modo pelo qual se constitui uma coisa, um ser vivo, uma 
organização, dentre outros sentidos. No entanto, juridicamente, a Constituição 
representa a lei fundamental e supremacia de um estado. Ela contém normas de 
estruturação do Estado, de formação dos poderes públicos, de forma de governo e de 
aquisição do poder de governar, de distribuição de competências, de direito, de 
garantias e deveres dos cidadãos. (CANOTILHO; MOREIRA, 1991, p. 41). 
 
Como um ramo do Direito Público interno, de acordo com NUNES (2011, p. 177) o 
“Estado de Direito” é o princípio que norteia o Direito Constitucional, isso porque o Estado 
tem como princípio inspirador a subordinação de todo poder ao Direito. 
NUNES (2011, p. 177) menciona ainda que, o Direito Constitucional, engloba as 
normas jurídicas constitucionais, ou seja, aquelas pertencentes à Constituição, dentre as quais 
se destacam as pertinentes à forma e à organização do Estado, ao regime político, à 
competência e função dos órgãos estatais estabelecidos, aos direitos e garantias fundamentais 
dos cidadãos, dentre outros temas essenciais à população em um todo. 
Nesses moldes também ensina a Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e 
SILVA (2017, p. 83): 
 
De modo geral, as Constituições têm por finalidade estabelecer normas de estruturas 
de um Estado, bem como a sua organização, o modo de aquisição de poder e a forma 
do seu exercício, além de estabelecer limites a atuação estatal, a de assegurar os 
direitos e as garantias dos indivíduos daquele Estado, de fixar o seu regime político 
e os seus fundamentos econômicos, sociais e culturais. (PRATA; SILVA, 2017, 
p.83) 
 
Entretanto, PAULO e ALEXANDRINO (2013, p. 3) afirmam em sua obra que o Direito 
Constitucional é muito mais do que apenas um ramo do direito público, ele é a matriz de toda 
a ordem jurídica de um Estado, ele representa o tronco que deriva os demais ramos do Direito. 
Vigente desde 05 de outubro de 1988, a intenção com a criação da Constituição Federal 
foi proporcionar uma vida o mais igualitária possível entre a sociedade e suas diferentes 
classes sociais, fato que fica claro ao observar o próprio preâmbulo da Carta Magna: 
 
12 
 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional 
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício 
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o 
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade 
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, 
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, 
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA 
REPÚBLICA FEDERATIVADO BRASIL. (BRASIL, 1988). 
 
Inúmeros direitos são abordados pela Constituição Federal, sendo eles os que 
possibilitam uma vida, educação, saúde e trabalho de forma digna a todos os cidadãos 
brasileiros, incluindo direitos específicos para as mulheres e as crianças. 
No desenvolvimento do presente trabalho, observar-se-á uma atenção primordial aos 
artigos 1, 5 e 226 a 230 da Constituição Federal de 1988, isso porque são os responsáveis 
pelos direitos e garantias fundamentais, bem como da proteção à maternidade e à infância, 
que embasa o tema aqui discorrido. 
 
1.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
 
A Carta Magna inicia sua sequência de determinações com “Título I – Dos Princípios 
Fundamentais”, composto por apenas quatro artigos. Em breve leitura aos mesmos, é possível 
entender que seguirá um elencado de direitos que deveriam ser nítidos, mas que, em alguns 
casos, acabam sendo esquecidos pela população desprovida de bom senso. 
 
TÍTULO I - DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de 
Direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. 
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o 
Executivo e o Judiciário. 
 
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e 
regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e 
quaisquer outras formas de discriminação. 
 
13 
 
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais 
pelos seguintes princípios: 
I - independência nacional; 
II - prevalência dos direitos humanos; 
III - autodeterminação dos povos; 
IV - não-intervenção; 
V - igualdade entre os Estados; 
VI - defesa da paz; 
VII - solução pacífica dos conflitos; 
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X - concessão de asilo político. 
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, 
política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma 
comunidade latino-americana de nações. (BRASIL, 1988). 
 
Conforme demonstra o brilhantíssimo doutrinador NUNES (2011, p. 225), os princípios 
constitucionais são o ponto mais importante do sistema normativo, são através deles que se 
desenvolveram as demais legislações, eles são verdadeiras vigas-mestras, alicerces sobre os 
quais se constrói o sistema jurídico. 
Os princípios constitucionais são capazes de induzir a interpretação das próprias 
diretrizes da Constituição Federal, e não poderia ser diferente tendo em vista ser ela a norma 
responsável por decidir qualquer antinomia presente em outras legislações. 
 
Percebe-se, assim, que os princípios exercem uma função importantíssima dentro do 
ordenamento jurídico-positivo, já que orientam condicionam e iluminam a 
interpretação das normas jurídicas em geral. Por serem normas qualificadas, os 
princípios dão coesão ao sistema jurídico, exercendo excepcional fator aglutinante. 
(NUNES, 2011, p. 226) 
 
Tanto é verdade que, a Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e SILVA 
(2017, p. 88) ensina que, sobre a Constituição Federal à uma supremacia frente ao 
ordenamento jurídico, pois o que se espera é que as normas não constitucionais sejam 
interpretadas perante ao determinado na Carta Magna. 
Complementam ainda os autores supramencionados (2017, p. 88): “Ao se interpretar 
uma norma que apresente várias significações, deverá buscar aquele que se apresente em 
conformidade com as normas constitucionais, de modo a evitar a declaração de 
inconstitucionalidade da referida norma”. (grifo do autor) 
Assim, pode-se afirmar que os princípios constitucionais elencam os mais básicos de 
todos os direitos previstos ao ser humano, aqueles direitos que nada e nem ninguém deve 
intervir, nem mesmos os órgãos dos poderes superiores, acrescentando-se ao fato de que, 
incontestavelmente, havendo qualquer conflito entre as normas, esta será resolvida pela 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e seu derivados princípios. 
14 
 
1.1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana 
 
Apesar da extrema importância de todos os princípios constitucionais, para o presente 
estudo será embasado somente o princípio da dignidade da pessoa humana, em detrimento do 
seu encaixe perfeito ao tema abordado. 
Previsto no artigo 1, inciso III da Constituição Federal, ou seja, em evidência perto dos 
demais, este trata-se de um princípio essencial para que a sociedade disponha de uma 
dignidade mínima em sua rotina. 
Arrisca NUNES (2011, p. 230) afirmar ser este o principal princípio constitucional, 
tendo em vista que “Esse fundamento funciona como princípio maior para a interpretação de 
todos os direitos e garantias conferidos às pessoas no texto constitucional”. 
 
E, de fato, não há como se falar em dignidade, se esse mínimo não estiver garantido 
e implementado concretamente na vida das pessoas. 
Como é que se poderia imaginar que qualquer pessoa teria sua dignidade garantida 
se não lhe fosse garantida sadia qualidade de vida, como é que se poderia afirmar 
sua dignidade? (NUNES, 2011, p. 231) 
 
Ainda com base no entendimento deste brilhantíssimo doutrinador, todo ser humano 
tem dignidade só pelo fato de já ser pessoa, afinal, a dignidade humana é um valor preenchido 
a priori. 
Em complemento ao já mencionado, PAULO e ALEXANDRINO (2013, p. 94) 
afirmam em sua obra que o presente princípio proporciona ao indivíduo duas posições 
jurídicas, sendo elas, em primeiro o direito de proteção individual, não somente em relação ao 
Estado, mas também frente aos seus iguais, os seres humanos. E em segundo, o dever 
fundamental de tratamento igualitário da população. 
 
A dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do 
Brasil, consagra, desde logo, nosso Estado como uma organização centrada no ser 
humano, e não em qualquer outro referencial. A razão de ser do Estado brasileiro 
não se funda na propriedade, em classes, em corporações, em organizações 
religiosas, tampouco no próprio Estado (como ocorre nos regimes totalitários, mas 
sim na pessoa humana. Na feliz síntese de Alexandre de Moraes, ‘esse fundamento 
afasta a ideia de predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em 
detrimento da liberdade individual’. São vários os valores constitucionais que 
decorrem diretamente da ideia de dignidade humana, tais como dentre outros, o 
direito à vida, intimidade, à honra e à imagem. (PAULO; ALEXANDRINO, 2013, 
p. 94) 
 
15 
 
O princípio da dignidade da pessoa humana é relembrado inúmeras vezes no decorrer 
dos artigos da Carta Magna, sempre exemplificando a sua importância para a aplicabilidade 
das demais determinações legislativas. 
Adentrando ao tema principal do presente trabalho, observar-se-á no tópico a seguir as 
previsões constitucionais referentes à proteção da mulher, voltada à maternidade, bem como à 
criança dentre os artigos 226 e 230 da Carta Magna. 
Contudo, interessante mencionar que a dignidade da pessoa humana está nestes artigos 
muito bem evidenciada, conforme artigo 226, parágrafo 7º: 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] 
§7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade 
responsável, o planejamento familiar é livre decisãodo casal, competindo ao Estado 
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada 
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. (BRASIL, 
1988) 
 
O próprio artigo indica que o Estado deve propiciar os recursos a fim de respeitar a livre 
decisão do casal em meio ao planejamento familiar, um desses recursos é exatamente a 
entrega de recém-nascidos de forma responsável e sem julgamentos, exatamente o que se visa 
elucidar neste estudo. 
 
1.2 PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA 
 
Em tópicos anteriores vislumbrou-se sobre os direitos e garantias fundamentais, com a 
devida complementação pelos princípios constitucionais. Contudo, ao adentramos à proteção 
da maternidade e à infância, embarcar-se-á nos estudos dos direitos sociais. 
Nas belíssimas palavras de BERTHOLDI (2020, p. 7), “Os direitos sociais tem por 
objetivo e essência a tutela da igualdade e da liberdade, buscando garantir aos cidadãos 
condições dignas de vivência, disponibilizando materiais e meios para que se efetive a fruição 
plena das liberdades individuais.”. 
A previsão dos direitos sociais se inicia no artigo 6 da Constituição Federal, 
mencionando de pronto os direitos que serão descritos com detalhes posteriormente no 
decorrer dos artigos da própria Carta Magna: 
 
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição. (BRASIL, 1988). 
16 
 
Dentre estes, observa-se a proteção à maternidade e à infância que, apesar de 
mencionado em vários momentos pela Constituição Federal, é desenvolvido com maior 
ênfase entre os artigos 226 e 230. 
Os referidos artigos trazem à tona um pouco da relação familiar, elencando a família 
como base da sociedade, descrevendo os direitos e deveres da família, bem como os amparos 
obrigatórios aos seus familiares, seja dos pais aos filhos, como o inverso. 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração. 
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem 
e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em 
casamento. 
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por 
qualquer dos pais e seus descendentes. 
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente 
pelo homem e pela mulher. 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio 
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade 
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado 
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada 
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a 
integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 
(BRASIL, 1988) 
 
Para o presente estudo, devemos enfatizar o previsto no § 7º do artigo acima 
colacionado, pois, conforme bem mencionado, o planejamento familiar é de livre decisão do 
casal, ou no caso, da mulher, tendo em vista que atualmente a família solo é 
jurisprudencialmente reconhecida. 
Ademais, o § 7º é claro em enfatizar que o Estado deve propiciar recursos para que a 
mulher ou o casal consigam exercer esse direito. Em um extenso rol de possibilidades, sem 
dúvidas a solução para um filho indesejado está elencada, razão pela qual tem-se a 
possibilidade da entrega voluntária responsável do recém-nascido, tema central do presente 
estudo. 
Verifica-se também que, a Constituição Federal traz uma ideia fixa do que é família, 
todavia, importante lembrar que ela é datada de 1988, e que, desde então, houveram 
mudanças significativas em nossa sociedade que foram abarcadas pelas legislações mais 
atuais, como é o caso do Código Civil, o principal ao se tratar de família e sucessões, bem 
como as jurisprudências diárias promulgadas pelos tribunais superiores. 
Conforme brilhantíssimo Promotor de Justiça do Estado da Bahia, FARIA (2010, p. 07), 
“O conceito trazido no caput do artigo 226 é plural e indeterminado, firmando verdadeira 
17 
 
cláusula geral de inclusão.”, isso porque, com as consistentes mudanças sociais, a legislação 
deve ser capaz de seguir a realidade de toda a população. 
FARIA (2010, p. 07), ainda completa com a seguinte afirmação: “É o cotidiano, as 
necessidades e avanços sociais, que se encarregam da concretização dos tipos. E, uma vez 
formados os núcleos familiares, merecem, igualmente, proteção legal.”. 
No tocante a maternidade e a infância não poderia ser diferente, elas tiveram seu devido 
reconhecimento como direito social fundamental com a promulgação da Constituição Federal 
de 1988. Atualmente, tanto a mulher gestante como a criança e adolescente possuem previsão 
legal para que suas necessidades básicas e sua dignidade humana sejam respeitadas. 
 
Com o advento da Constituição Federal de 1988, o direito à proteção da maternidade 
foi elevado à condição de direito social fundamental, em especial devido ao valor 
jurídico-social assumido pela garantia de índole constitucional em comento, que 
busca, de maneira robusta, dar efetividade à proclamação constante no artigo 6º da 
Carta da República. (RANGEL, 2016, s/n) 
 
Posto isso, a legislação em concurso com os tribunais superiores tiveram de se adequar 
à realidade vivenciada pela sociedade, razão pela qual tem-se atualmente outros preceitos 
capazes de suprir entendimentos que não condizem mais com a época. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
2 ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-NASCIDOS 
 
 
Em meio a tantas notícias de abandono de recém-nascidos em latas de lixo, caixas de 
papelão e banheiros públicos, o Poder Judiciário teve de tomar uma medida para que os bebês 
indesejados por sua família não acabassem sozinhos, com frio e fome em um ambiente 
insalubre qualquer. 
Conforme definição do 16º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (2019, p. 3): “A 
entrega voluntária trata da possibilidade da genitora manifestar, voluntariamente, o interesse 
em entregar seu/sua bebê para adoção, antes ou logo após o nascimento.”. 
ALVES, Juiz de Direito Substituto da 6ª Seção Judiciária, com sede no Foro Central da 
Comarca da Região Metropolitana de Maringá - PR confeccionou um artigo especificamente 
sobre esse assunto e a realidade que abarca o tema. 
Nele, elenca o Magistrado ALVES (2018, p. 1) que “não são incomuns os lamentáveis 
casos de mães que, por ganância, entregam seus filhos a terceiros, mediante pagamento ou 
promessa de recompensa.”. 
Esclarece também ser extremamente comum que a adoção ocorra pelos entes da própria 
família, onde avós, tios, primos e seus derivados, acabam por cuidar da criança visando que a 
mesma foi abandona pelos pais. 
Nesse sentido, interessante ressaltar que o Estatuto da Criança e do Adolescente presa 
pela permanência da criança em sua família natural, sendo inclusive um dos direitos do menor 
previsto no artigo 25 da legislação: 
 
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou 
qualquer deles e seus descendentes. 
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende 
para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes 
próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de 
afinidade e afetividade. (BRASIL, 1990) 
 
Contudo, em observação ao parágrafo único do artigo supramencionado, podemos 
observar a expressão “família extensa ou ampliada”, essa diz respeito aos demais membros da 
família, conformemencionado anteriormente (avós, tios, primos e afins). 
 
 
 
19 
 
Crianças e adolescentes possuem o direito de serem criados e educados na sua 
família natural, devendo ter preferência à família extensa ou ampliada (na ausência 
da família natural), parentes próximos com os quais a criança ou adolescente 
convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (art. 25, parágrafo único, do 
ECA)”. (PRATA; SILVA, 2017, p. 1652) 
 
Ademais, ALVES (2018, p. 1) informa que, sempre foi uma prática comum dos 
brasileiros a realização de adoções ilícitas, ou seja, a entrega da criança para terceiros que, por 
conta de impossibilidade de engravidar, ou até mesmo para que a criança não fosse 
abandonada por sua família legítima, acabavam por criá-las como se sua fossem, em alguns 
casos até registrando-as em seu nome. 
Esta prática foi denominada como adoção direta, onde os pais acabam por escolher os 
terceiros que ficarão responsáveis pela criação do recém-nascido. De acordo com o ALVES 
(2018, p. 2), esse tipo de adoção é muito perigosa, conforme menciona em seu artigo: 
 
A adoção irregular constitui grande risco para todos os envolvidos. Não há nenhum 
acompanhamento pelo Poder Judiciário, não se sabendo se a pessoa ou família que 
recebe a criança é idônea e está dispensando os cuidados necessários ao infante. Os 
genitores que entregam seu filho de forma irregular, assim como as pessoas que 
recebem a criança, podem ser chamados perante as autoridades para prestar 
esclarecimentos e, eventualmente, até responder a um processo criminal. (ALVES, 
TJPR, 2018, p. 2) 
 
O Meritíssimo ainda esclarece sobre a possibilidade de perda do poder familiar dos pais, 
que realizaram a adoção direta, conforme artigo 1.638, inciso V, do Código Civil, assunto que 
será melhor abordado em tópicos posteriores, bem como a eventual chance dos que receberam 
a criança de não conseguirem permanecer com a guarda, podendo a mesma, ser encaminhada 
para instituição que realize a adoção de forma regular. 
 
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: 
I - castigar imoderadamente o filho; 
II - deixar o filho em abandono; 
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; 
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente. 
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção. 
(BRASIL, 2002) (grifo nosso) 
 
Em feitos como o supramencionado, o legislador deverá analisar as especificidades do 
caso concreto, verificar a existência de vínculo afetivo entre os terceiros escolhidos e a 
criança. Restando confirmado que a criança está sendo bem cuidada, física e 
psicologicamente, é plenamente possível que a guarda seja deferida aos adotantes irregulares, 
dependendo do entendimento do Juiz da causa. 
20 
 
Contudo, importante mencionar a gravidade do assunto, pois conforme previsão do 
artigo 149-A, inciso IV do Código Penal, a adoção ilegal poderá ser caracterizada como 
tráfico de pessoas, motivo pelo qual menciona ALVES (2018, p. 2) a possibilidade de as 
partes responderem em processo criminal, pois de fato, cometeram um crime, conforme o 
mencionado artigo: “Tráfico de Pessoas - Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, 
transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, 
fraude ou abuso, com a finalidade de: [...], IV - adoção ilegal; [...]”. 
Outro ponto motivacional para a criação de uma legislação pertinente ao assunto, foi o 
aumento da prática de abortos em clínicas clandestinas por mulheres e adolescentes gestantes 
que não possuem condições financeiras, familiares, físicas e psíquicas. 
Não se pode excluir também as mulheres que não possuem o sonho de ser mãe, 
desprovidas do instinto materno, sendo capaz de entender que não conseguirá criar o recém-
nascido da forma como ele merece e deve ser cuidado. 
 
Infelizmente, o direito de entregar voluntariamente o bebê para adoção ainda é muito 
desconhecido pelas gestantes e mães, situação que acarreta atos de desespero e 
crueldade, como o infanticídio, o aborto e o abandono de bebês, condutas 
consideradas crime pela legislação penal brasileira (arts. 123, 124 e 133 do Código 
Penal). (ALVES, TJPR, 2018, p. 2) 
 
Sobre o assunto, inclui-se a colocação de OLIVEIRA JÚNIOR (2018, p. 1), Promotor 
de Justiça aposentado, “É inevitável a censura a tal comportamento, mas fica no ar a 
indagação de que, se não optasse pelo nascimento, poderia ter praticado o aborto ou, após o 
nascimento, sob a influência do estado puerperal, o infanticídio”. 
O Brasil, assim como outros países, ainda crucifica a prática do aborto, sendo inclusive 
crime previsto no Código Penal (artigo 124 e seguintes), entretanto foram os primeiros a criar 
regras para a criação do menor, impondo aos pais que seja fornecida uma vida digna aos seus 
filhos, guarnecendo à suas crianças acesso a educação, saúde, alimentação, lazer e 
necessidades básicas. 
Esse tipo de “obrigatoriedade” aos genitores encontra-se prevista tanto no Estatuto da 
Criança e do Adolescente, como na Constituição Federal de 1988, isso sem mencionar suas 
colocações em legislações federais exclusivas da proteção da criança e do adolescente, como 
a própria Lei Nacional de Adoção, dentre outras. 
Ocorre que, essa não é a realidade de muitas famílias, onde em alguns casos sequer 
possuem uma residência fixa e segura para criar seu filho, sendo essa a principal motivação 
para a divulgação do presente direito da mulher. 
21 
 
2.1 RAZÕES QUE MOTIVAM A REALIZAÇÃO DA ENTREGA 
 
Nomeamos a entrega voluntária de recém-nascidos como um direito da mulher porque 
ela tem a decisão final, nada e nem ninguém tem o direito de decidir sobre a medida que será 
adotada em sua gestação além dela. Todavia, em alguns casos, trata-se de uma decisão da 
família em conjunto, onde a esposa e o marido ou companheiro decidem por bem que a 
criança seja criada por uma família substituta. 
Dentre os mil e um motivos para adotar a presente medida, as principais dela estão entre 
problemas financeiros e a falta de interesse da mulher em exercer o papel de mãe, onde por 
conhecer os perigos do abordo clandestino, opta pela entrega e inclusão da criança na fila para 
adoção regular. 
O TJ/SC, assim como outros tantos Tribunais de Justiça, desenvolveu uma reportagem a 
fim de divulgar o referido tema, nesse sentido vejamos: 
 
A escolha do destino de um filho pode ser influenciada por uma série de fatores, que 
vão desde o contexto econômico, familiar e afetivo vivenciado pela mulher no 
momento da gestação até sua história pessoal, muitas vezes marcada por uma 
infância de privações, violências, carências (afetiva e material), incompreensões, 
abandono e rejeição. (Revista do CEJUR/TJSC, 2018, p. 106) 
 
Em mesma reportagem, o TJ/SC elenca algumas razões que poderiam levar essas 
mulheres a realizar a entrega de seus recém-nascidos, conforme segue: 
 
As razões para a entrega podem ser múltiplas e diferentes entre si: a) sentimento de 
incapacidade de exercer a maternidade, que pode estar relacionado à história de vida 
marcada por carência afetiva e material ou violência; b) aceitação da impossibilidade 
de criar a criança; c) rejeição do filho por conflitos internos da mãe; d) desejo de 
não exercer a função materna; e) opção por outras prioridades na vida; f) 
falta de condições socioeconômicas; g) gravidez indesejada ou não 
planejada; h) gravidez originada de relacionamento ocasional; i) ausência do 
comprometimento paterno; j) pressões sociais ou familiares e falta de apoio; k) 
situação afetiva difícil com o pai da criança; l) gravidez originada de um 
relacionamento extraconjugal; m) gravidez originada de estupro ou de um 
episódio incestuoso. (Revista do CEJUR/TJSC, 2018, p. 107) 
 
Apesar das várias possibilidades elencadas anteriormente, inquestionável que a questãofinanceira é algo que vem dilacerando a população, fato que resta nítido com o número de 
moradores de rua que aumenta a cada dia. Pessoas desempregadas, famílias despejadas e sem 
rumo sempre foram assuntos de jornais e reportagens de televisão, realidade essa que 
aumentou drasticamente com a pandemia do COVID-19, bastando uma visita rápida a Praça 
22 
 
da Sé localizada na capital do Estado de São Paulo, por exemplo, para confirmação do 
alegado por esta estudante. 
Esse tipo de situação, faz com que pessoas adotem medidas que nunca seriam sequer 
estipuladas em outras circunstâncias. 
Grande parte dessa população opta pelo uso de drogas lícitas e ilícitas para suprir a falta 
de alimentação e conforto vivenciada, deixando-as fora de si e não tendo consciência de 100% 
(cem por cento) dos seus atos. Elas não possuem acesso a saneamento básico, quiçá a métodos 
contraceptivos que poderiam ajudar na redução de crianças de rua, nesses casos a entrega 
voluntária visa contribuir também com essas pessoas, entretanto são raros os casos de 
conhecimento desse direito por pessoas em referida situação. 
Adolescentes que não tem instruções em casa sobre o uso de contraceptivos também 
devem estar no topo da lista de razões para entregar um recém-nascido ao sistema de adoção, 
pois, em alguns casos a gestante não tem uma mãe/avó/afim que auxilie-a na criação dessa 
criança, e principalmente em seu sustendo, tendo em vista que esta adolescente também 
precisa de cuidados, isso sem falar na dificuldade em concluir seus estudos em decorrência da 
gestação precipitada. 
Outro motivo, não menos importante, são as mulheres que não tem interesse em exercer 
o papel de mãe. Com a inclusão da mulher no mercado de trabalho, as prioridades mudaram, 
atualmente o papel da mulher na sociedade não é mais a de doméstica que fica em casa com 
os filhos, com isso, o extremo cansaço e o objetivo de crescer profissionalmente tem sido 
motivo para que elas optem por se afastar da maternidade, isso claro sem contar naquelas que 
não possuem aptidão com crianças e não se acham capazes de ser mãe, atitude essa que 
também merece respeito pela sociedade. 
 
Acontece que, algumas vezes, a mulher está despreparada para a maternidade, outras 
não tem condições financeiras para suportá-la, somando-se a elas o abandono do pai 
da criança, sem falar ainda do medo e do temor dos familiares, para quem procura de 
todas as formas esconder a gravidez. (OLIVEIRA JÚNIOR, 2018, p. 1) 
 
Assim, muitos podem ser os motivos, sejam mulheres sozinhas ou famílias 
despreparadas para receber um bebê em 9 (nove) meses, todas justificativas plausíveis para se 
realizar a entrega voluntária. 
Entretanto, importante esclarecer que em momento algum do processo de entrega 
voluntária, a mulher é obrigada a esclarecer seus motivos para o ato, pois, a mulher deve se 
sentir acolhida pelo estabelecimento e não pode de forma alguma ser julgado por seu ato. 
23 
 
Além de conhecer o direito à entrega voluntária de bebês para adoção, é preciso 
respeitar quem opta pelo exercício do referido direito, sendo essencial ultrapassar 
preconceitos e aceitar a decisão das mães que decidem pela entrega voluntária, 
desmistificando ideias como a de que toda mulher nasceu para ser mãe e de que a 
mãe que entrega o filho para adoção é má, pecadora ou sofre de problemas mentais. 
(ALVES, TJPR, 2018, p. 12) 
 
O presente trabalho conterá um tópico destinado a dissertação da entrega voluntária na 
prática, descrevendo um pouco como funciona e o posicionamento jurisprudencial sobre o 
assunto, contudo, desde já é importante entender que a entrega é realizada com extrema 
discrição e respeito com a opção feita pela mulher, não podendo ela de forma alguma se sentir 
reprimida ou ofendida pelos atendentes da Vara da Infância e Juventude ao exercer seu 
direito, nesse sentido é a menção feita por ALVES (2018, p. 12) em citação acima 
colacionada. 
 
2.2 PREVISÃO LEGAL NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
O Estatuto tem como escopo viabilizar os direitos fundamentais e as condições que o 
ser humano em desenvolvimento merece amparo, possibilitando assim o crescimento sadio e 
adequado das crianças e adolescentes. 
Para adentrarmos ao assunto do presente estudo, teremos uma indagação a partir do 
artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente que, diz respeito ao direito à convivência 
familiar e comunitária. 
 
As crianças e os adolescentes possuem o direito de serem criados no seio saudável 
de sua família natural. No entanto, somente em casos excepcionais, poderão ser 
cuidados e educados por família substituta, assegurada a convivência familiar e 
comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. A manutenção 
ou a reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação 
a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em serviços e 
programas de proteção, apoio e promoção. (PRATA; SILVA, 2017, p. 1652) 
 
Em meados de 2010, o Estatuto da Criança e do Adolescente já mencionava o direito da 
mulher de entregar seu filho a instituições competentes para esse serviço, bem como da 
criança em crescer acobertada por um lar onde é devidamente acolhida. Todavia, a menção se 
fazia de forma superficial, apenas indicando a existência de tal regulamentação legislativa, 
sem maiores explanações. 
Foi com a criação da Lei nº 13.509 de 22 de novembro de 2017 denominada “Lei de 
Adoção”, que o assunto ganhou a devida atenção, momento em que fora incluso ao Estatuto 
24 
 
da Criança e do Adolescente artigos que de fato orientavam tanto a mulher gestante, como os 
órgãos e o Poder Judiciário em como agir de acordo com a situação. 
Grande exemplo disso é o artigo 19-A do referido diploma legal que prevê os principais 
detalhes da entrega voluntária: “A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu 
filho para adoção, antes ou logo após o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e 
da Juventude.” Seguido de seus parágrafos que dizem sobre o procedimento e medidas a 
adotar no ato da entrega. 
Sobre a alteração da Lei nº 13.509/17 no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 
8.069/90), OLIVEIRA JÚNIOR (2018, p. 2), reflete: “Referida alteração veio a suprir a 
lacuna existente até então e reservar um espaço para que a mãe possa decidir com segurança, 
embora não haja ainda uma divulgação ou até mesmo uma orientação mais concentrada a 
respeito da opção legal agora apresentada.”. 
Nesse sentido, esclarece-se que todo o incluso no Estatuto da Criança e do Adolescente 
pela Lei nº 13.509/17 foi essencial para que pudesse colocar em prática um direito presente, 
todavia não praticado pela população, principalmente pela falta de conhecimento da 
existência deste que, sequer, poderia ser devidamente divulgado em detrimento da falta de 
conhecimento do procedimento a ser seguido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
3 ADOÇÃO 
 
 
Ao iniciar um estudo, importante se faz a procura do significado da palavra denominada 
ao assunto. No caso da adoção, alguns autores de grande prestígio formularam conceitos do 
que seria o ato de ação, como por exemplo, a brilhantíssima DINIZ (2002, p. 416), que segue: 
 
Adoção é o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém 
estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou 
afim, um vínculo fictício, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa 
que, geralmente, lhe é estranha (DINIZ, 2002, p. 416). 
 
Colaciona-se também nesta oportunidade, a definição de adoção de PEREIRA (2004, p. 
392), “O ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe outra como filho, independentemente de 
existir entre elas qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim”. 
A adoção de modo geral, sempre foi uma prática comum dos brasileiros, a realização de 
entrega para terceiros que, por conta de impossibilidadede engravidar, ou até mesmo para que 
a criança não fosse abandonada por sua família legítima, acabavam por criá-las como se sua 
fossem. Embora tratar-se de uma adoção ilegal, em decorrência da ausência de 
acompanhamento do processo pelo Poder Judiciário, era muito praticada, como relatado em 
capítulo anterior. 
Esta prática foi regulamentada no Código Civil de 1916, com determinações que hoje 
não seriam mais usuais, dentre elas, podemos destacar algumas: a realização por escritura 
pública; a dissolução do vínculo em sendo as partes maiores e em acordo; bem como que 
apenas os maiores de 50 anos poderiam ser adotantes, tendo em vista que esse seria o último 
recurso existente para que os casais estéreis conseguissem perpetuar seu culto familiar e não 
falecerem sem deixar descendentes, algo totalmente imperdoável à época. 
Importante relatarmos que nos tempos antigos era motivo de vergonha que um homem, 
provedores do lar, não fosse capaz de prover frutos do seu relacionamento e, 
consequentemente, ter descendentes. Diferente do que se vive atualmente, na época era 
motivo de chacota e humilhação. 
Conforme relata o professor PEREIRA (2013, p. 147), “Nos tempos remotos, destinava-
se a adoção a assegurar o culto dos antepassados, nos casos em que a falta de descendentes 
naturais era o presságio da cessação dos sacrifícios fúnebres”. Complementa ainda o 
professor, nos termos que segue: 
26 
 
Assim era entre os indus, romanos e gregos, que encontravam no instituto da adoção 
o recurso último à perpetuidade da família. Derivado de um sentimento religioso, 
foi, todavia, no passado, um dos veículos da afirmação do indivíduo, em reação ao 
temor do completo desaparecimento. Daí, ressumbra, não menos claro, o traço 
político da instituição, pelo qual, muita vez, se sucediam, através de gerações, 
inúmeros chefes. Até os povos bárbaros, quando não tinham filhos, pela natureza, 
escolhiam-nos pelas armas, para esse, adotados, continuassem suas proesas belicosas 
(PEREIRA, 2013, p. 147) 
 
No tocante aos processos de adoção, GONÇALVES (2017, p. 376) informa que tudo 
mudou drasticamente no tocante a esses pontos com a promulgação da Constituição Federal 
de 1988 que, incluiu a exigência de acompanhamento do Poder Judiciário para a realização da 
adoção em seu artigo 227, § 5º: “A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, 
que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros.”. 
Relata ainda GONÇALVES (2017, p. 375) que a mesma só será firmada por meio de 
sentença judicial, nos termos estabelecidos no artigo 47 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: “O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no 
registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.”. 
Nos tempos atuais a adoção encontra-se prevista na Constituição Federal, no Código 
Civil, no Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como possui lei própria nº 12.010 de 03 
de agosto de 2009, tendo como última atualização a Lei nº 13.509 de 22 de novembro de 
2017, ou seja, com o passar dos anos foram estabelecidas regulamentações necessárias e úteis 
para fim da adoção ilegal. 
Esclarece-se inclusive que, a Lei nº 13.509/17 foi confeccionada para incluir o assunto 
do presente estudo, conforme descreve o artigo 1 da mesma: 
 
Art. 1º Esta Lei altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e 
do Adolescente) , para dispor sobre entrega voluntária, destituição do poder familiar, 
acolhimento, apadrinhamento, guarda e adoção de crianças e adolescentes, 
a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 
1º de maio de 1943 , para estender garantias trabalhistas aos adotantes, e a Lei nº 
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , para acrescentar nova 
possibilidade de destituição do poder familiar. (BRASIL, 2017) 
 
GONÇALVES (2017, p. 375) destaca que com o atual conceito de adoção, leva-se em 
conta o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, conforme discorre o 
parágrafo único, inciso IV, do artigo 100 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
 
 
27 
 
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades 
pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos 
familiares e comunitários. 
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: 
[...] 
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender 
prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo 
da consideração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito da 
pluralidade dos interesses presentes no caso concreto; (BRASIL, 1990) 
 
Importante o devido destaque ao artigo supracolacionado, pois em legislações 
anteriores, o artigo 43 do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como no artigo 1625 do 
Código Civil de 2002, prevalecia-se os benefícios e vantagens do adotando. 
Ademais, um marco importantíssimo aos adotados, fora a definição de igualdade entre 
eles e os filhos biológicos do adotante. Essa determinação encontra-se presente tanto no artigo 
227, § 6º da Constituição Federal, como no artigo 1.596 do Código Civil, com as mesmas 
palavras: “Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os 
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à 
filiação.”. 
Ainda sobre o tema, a Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e SILVA 
(2017, p. 412) relatam: “Assim, o filho adotado integra-se à nova família total e 
definitivamente, desligando-se de qualquer vínculo com os pais e parentes consanguíneos, 
salvo quanto aos impedimentos para o casamento”. 
Ressalta-se que, aos olhos da população em geral pode parecer algo extremamente 
irrisório, todavia para aqueles que vivem diariamente o preconceito e desclassificação como 
“filho” pela diferença biológica, é algo acolhedor. 
 
3.1 QUEM PODE ADOTAR 
 
Em análise à legislação pertinente, temos algumas objeções no tocante a quem pode 
adotar, contudo, com o decorrer dos anos este rol vem se estendendo com base nos atuais 
entendimentos jurisprudenciais. 
Nesse sentido, tem-se algumas definições presentes no artigo 42 do Estatuto da Criança 
e do Adolescente que só vieram a serem previstos com a redação da Lei Nacional de Adoção 
nº 12.010 de 03 de agosto de 2009: 
 
 
28 
 
 Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do 
estado civil. 
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando. 
§ 2 o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados 
civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família. 
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando. 
§ 4 o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar 
conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde 
que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de 
convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e 
afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade 
da concessão. 
§ 5 o Nos casos do § 4 o deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao 
adotando, será assegurada a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 
da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil . 
§ 6 o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de 
vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. 
(BRASIL, 1990) 
 
Conforme menciona o caput do artigo supramencionado, podem adotar os maiores de 
18 (dezoitos) anos, independentemente do estado civil deste. 
Sobre isso, GONÇALVES (2017, p. 385), esclarece que, além da obrigatoriedade dos 
18 anos para comprovar a capacidade civil completa do adotante, porse tratar de ato jurídico, 
a adoção exige capacidade civil, por isso “não pode adotar os menores de 18 anos, os ébrios 
habituais e os viciados em tóxico, os que, por causa transitória ou permanente, não puderem 
exprimir sua vontade, bem com os pródigos”. 
Observar-se também, conforme § 3º que é obrigatória uma diferença de idade entre do 
adotante e o adotado de, no mínimo, 16 (dezesseis) anos. 
 
Podem adotar todas as pessoas civilmente capazes (maiores de 18 anos), de qualquer 
estado civil. A adoção por ambos os cônjuges ou companheiros poderá ser 
formalizada, desde que um deles tenha completado dezoito anos de idade, 
comprovada a estabilidade da família. Além disso, o adotante deverá ser pelo menos 
dezesseis anos mais velho do que o adotado. (PRATA; SILVA, 2017, p. 413) 
 
O fato do adotante ser solteiro em nada influencia no processo, todavia ao se tratar dos 
homossexuais é sabido que adentramos em uma polêmica extensa. 
Sobre o assunto, GONÇALVES (2017, p. 385) diz que, “A adoção por homossexuais, 
individualmente, tem sido admitida, mediante cuidadoso estudo psicossocial por equipe 
interdisciplinar que possa identificar na relação o melhor interesse do adotando.”. (grifo do 
autor) 
Contudo, no tocante à adoção por casais homossexuais, esta não encontra previsão na 
Lei da Adoção, bem como no Estatuto da Criança e do Adolescente, dependendo nesses casos 
de amparo das jurisprudências e entendimentos doutrinários para lutar pela adoção. 
29 
 
Rigorosa também a adoção com relação à duas pessoas, devendo com base na 
legislação, serem obrigatoriamente um casal formado por marido e mulher, conforme § 2º do 
artigo 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente, devendo no caso de divorciados ou 
separados de fato haver acordo sobre guarda e visita, nos termos do § 4º da mesma legislação. 
 
Não poderá também haver adoção por duas pessoas, salvo se forem marido e 
mulher, ou se viverem em união estável. Os divorciados e os separados 
judicialmente, no entanto, poderão adotar conjuntamente, contanto que acordem 
sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio de convivência tenha sido 
iniciado na constância da sociedade conjugal. (PRATA; SILVA, 2017, p. 413) 
 
Apesar de todo o mencionado, sabe-se que a dificuldade em adotar é tremenda em razão 
da rígida fiscalização dos possíveis adotantes, extremamente necessária, mas que não 
raramente acaba por destruir o sonho de alguns interessados que não passam pela fiscalização 
da assistente social, psicólogos e demais etapas obrigatórias do sistema. 
 
3.2 QUEM PODE SER ADOTADO 
 
Popularmente fala-se da adoção de crianças e adolescente, por se tratar de mais usual, 
todavia esclarece-se que a legislação torna plenamente possível a adoção de maiores de 18 
(dezoito) anos. 
A Lei Nacional de Adoção prevê a possibilidade de adoção aos maiores de 18 anos, nos 
mesmos termos do artigo 1.619 do Código Civil, exigindo que procedimento judicial para 
regulamentação de ambos: “A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da 
assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, 
as regras gerais da Lei n o 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do 
Adolescente.” 
 
No atual regime, tanto a adoção de menores quanto a de maiores revestem-se das 
mesmas características, estando sujeitas a decisão judicial, em atenção ao comando 
constitucional de que a adoção será sempre assistida pelo Poder Judiciário (CF, art. 
227, § 5º). (GONÇALVES, 2017, p. 395) 
 
O brilhantíssimo doutrinador GONÇALVES (2017, p. 395/396) relata também que não 
há nenhum tipo de influência quanto à qualidade da filiação, por exemplo, se essa criança foi 
fruto de um casamento havido entre pai e mãe ou se ao menos estes são conhecidos, não 
haverá análise alguma nesse sentido. Outro ponto importante, é que de forma alguma existirá 
anulação da adoção em razão da vinda de filhos biológicos do adotante. 
30 
 
Ressalta-se que, conforme popularmente conhecido, há determinação para que irmãos 
sejam inclusos juntos em famílias substitutas, com previsão no artigo 28, § 4º do Estatuto da 
Criança e do Adolescente: 
 
[...] 
§ 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma 
família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra 
situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, 
procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos 
fraternais. (BRASIL, 1990) 
 
Portanto, nas palavras de GONÇALVES (2017, p. 395), todas as pessoas cuja diferença 
mínima seja de dezesseis anos para o adotante podem ser adotadas, em razão ao disposto no 
artigo 42, § 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
3.3 REQUISITOS PARA ADOÇÃO 
 
Conforme redação do brilhantíssimo doutrinador GONÇALVES (2017, p. 396) o 
Estatuto da Criança e do Adolescente prevê 06 (seis) principais requisitos exigidos para a 
adoção, sendo eles: 
 
1) Idade mínima de 18 anos para o adotante, com base no artigo 42, caput; 
2) Diferença de 16 anos entre adotante e adotado, conforme §3º do mesmo artigo 
anterior; 
3) Consentimento dos pais ou representantes legais de quem se deseja adotar; 
4) Concordância deste se contar mais de 12 anos, nos termos do artigo 28, §2º; 
5) Processo judicial, previsto no caput do artigo 47; e 
6) Efetivo benefício do adotado, conforme o artigo 43. 
 
Os requisitos numerados como 1 e 2 já foram profundamente explicados em tópicos 
anteriores, razão pela qual não haverá extensa dissertação sobre os mesmos no presente 
momento. 
No tocante ao item 3, GONÇALVES (2017, p. 397) esclarece que o consentimento dos 
pais ou representantes legais de quem se deseja adotar é condição fundamental para à 
conceção da medida. Todavia, este é dispensado em caso de destituição do poder familiar, 
conforme preceitua o artigo 166 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
31 
 
Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder 
familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família 
substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada 
pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado. (BRASIL, 1990) 
 
Entretanto, isso só ocorrerá após rigorosa observância do direito do contraditório 
previsto no artigo 24 da mesma legislação: “A perda e a suspensão do pátrio poder 
familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos 
na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e 
obrigações a que alude o art. 22.”. 
Ademais, conforme item 4, deverá ser respeitada a opinião do adotado se este for maior 
de 12 (doze) anos, conforme o § 2º do artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ele 
deverá consentir com a adoção: “Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será 
necessário seu consentimento, colhido em audiência”. 
Passado o processo judicial previsto em item 5, será proferida a adoção, nos termos do 
artigo 43 da mesma legislação supracitada: “A adoção será deferida quando apresentar reais 
vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.”. 
Assim, preenchidos os requisitos, é provável que a adoção seja finalizada com sucesso, 
a fim de proporcionar um lar extremamente acolhedor para o adotado, bem como uma 
extrema felicidade para o adotante em ser pai/mãe. 
 
3.4 DA POSSIBILIDADE DE ANULABILIDADE DA ADOÇÃO 
 
Para finalizar o tópico de adoção, importante mencionar as possibilidades de anulação 
desta, entretanto, verificar-se-á que esta só ocorre quando não há verdadeira observância aos 
requisitos descritos em tópico anterior, ou, se o adotante ou adotado não agiu conforme o 
esperado. 
Para GONÇALVES (2017, p. 399), a adoção pode ser judicialmente anulada se atingir orol de negócios jurídicos nulos previstos no artigo 166 do Código Civil, em especial os incisos 
V e VI: Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: [...] V - for preterida alguma solenidade 
que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; 
[...] 
GONÇALVES (2017, p. 399) ainda prevê possibilidades de a adoção ser declarada 
nula: 
 
32 
 
A declaração pode ser declarada nula se: a) o adotante não tiver mais de 18 anos 
(ECA, art. 42); b) o adotante não for pelo menos dezesseis anos mais velho que o 
adotado (art. 42, § 3º); c) duas pessoas, sem serem marido e mulher ou convivente, 
adotarem a mesma pessoa (art. 42, § 2º); d) o tutor ou o curador não tiver prestado 
contas (art. 44); e) houver vício resultante de simulação ou de fraude à lei (art. 167 e 
166, VI). (GONÇALVES, 2017, p. 399) 
 
GONÇALVES (2017, p. 400) relata ainda que, poderá haver anulabilidade se houver 
falta de assistência do pai, tutor ou curador, ao consentimento do relativamente incapaz, com 
base no artigo 171, inciso I do Código Civil; ou vício de consentimento do adotante, do 
adotado e do representante legal deste, proveniente de erro, dolo, coação, lesão e estado de 
perigo, nos termos do artigo 171, inciso II da mesma legislação: 
 
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio 
jurídico: 
I - por incapacidade relativa do agente; 
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude 
contra credores. (BRASIL, 2002) 
 
Dessa forma, resta nítido que, para um processo de adoção plenamente legal e sem 
riscos de anulação, é necessário preencher os requisitos e seguir o determinado pelo Estatuto 
da Criança e do Adolescente, bem como a Lei Nacional da Adoção, sempre de olho nas 
previsões do Código Civil em razão de ser o que norteia os contratos e questões de família. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
4 PODER DE FAMÍLIA 
 
 
O poder de família encontra-se previso no Capítulo V do Código Civil, dividido em três 
sessões, bem como estando suas previsões devidamente descritas entre os artigos 1.630 e 
1.638 da referida legislação. 
Segundo GONÇALVES (2017, p. 410), “Poder familiar é o conjunto de direitos e 
deveres atribuídos aos pais no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores”. 
Importante mencionar que o poder familiar se originou do pátrio poder no Código Civil 
de 1916, razão pela qual este era desempenhado somente pelo pai, por ser considerada 
autoridade maior do lar. Todavia, com o passar dos anos, o Código Civil de 2002 supriu essa 
ausência de igualdade e atualmente o poder familiar é desempenhado pelos pais, homem e 
mulher. 
Conforme já mencionado inúmeras vezes no decorrer deste estudo, o Estado impõe aos 
pais deveres e responsabilidades para com seus filhos, ao adentrar no poder familiar tem-se 
apenas mais uma forma de colocar a presente afirmação em prática. 
 
O poder familiar e se constitui em responsabilidade comum dos genitores, o dever 
de prestar aos filhos, enquanto civilmente menores, o necessário ao seu sustento, 
proporcionando-lhes alimentação, vestuário, educação, moradia, lazer, assistência à 
saúde, medicamentos, etc. (SILVA; COELHO, 2008, p. 3) 
 
O poder de família retoma arduamente as previsões constitucionais, pois trata-se do 
dever dos pais, descrito pelo artigo 229 da Carta Magna: “Os pais têm o dever de assistir, criar 
e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na 
velhice, carência ou enfermidade.”. 
A Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e SILVA (2017, p. 1652) diz que 
“Os pais devem dirigir os filhos com a finalidade de proporcionar seu adequado 
desenvolvimento.”. 
É nesse sentido que o artigo 1.634 do Código Civil elenca um rol de possibilidades que 
o poder familiar dispõe aos pais: 
 
 
 
 
34 
 
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o 
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: 
I - dirigir-lhes a criação e a educação; 
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; 
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; 
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; 
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência 
permanente para outro Município; 
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais 
não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; 
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos 
da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-
lhes o consentimento; 
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; 
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade 
e condição. (BRASIL, 2002) 
 
É ao se aprofundar no poder familiar que entende-se o direito dos pais sobre as escolhas 
de seus filhos. Até que a criança e adolescente complete sua capacidade civil, compete aos 
pais o dever de criar, educar, cuidar, fornecer vínculos culturais e lazeres, bem como fazer 
escolhas pelo/para o menor. 
Passada a fase de explicação conceitual sobre o poder de família, esclarece-se que, para 
o presente estudo, o ponto relevante sobre o tema é a possibilidade de suspensão e destituição 
do poder de família, pois, conforme a Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e 
SILVA (2017, p. 1653): “A destituição do poder familiar é pré-requisito para o processo de 
adoção”. 
Há previsão legal nesse sentido a partir do artigo 1635 do Código Civil, sendo dividido 
entre penas de suspensão ou extinção do poder familiar dependendo da pratica desenvolvida 
pelo genitor. 
PRATA e SILVA (2017, p. 1653) diz que a suspensão do poder familiar se trata de 
medida punitiva aos pais, ou a um deles, pelo exercício inadequado do poder familiar, como 
prevê o artigo 1637 do Código Civil: 1) abusar de sua autoridade; 2) faltar aos deveres 
referentes à pessoa do filho; 3) arruinar os bens da prole; e 4) ser condenado à pena privativa 
de liberdade superior a dois anos por sentença/acórdão transitado em julgado. 
Enquanto que, no tocante à destituição, ressaltam os doutrinadores se tratar de medida 
punitiva aos pais, ou a um deles se infringir o artigo 1638 do Código Civil, ou seja: 1) castigar 
imoderadamente o filho; 2) deixar o filho em abandono; 3) praticar atos contrários à moral e 
aos bons costumes (contra o filho ou contra outras pessoas); e 4) incidir, reiteradamente, em 
faltas contra os direitos de seus filhos. 
35 
 
Ocorre que, nem sempre o poder familiar irá ser extinto em razão de uma atrocidade 
praticada pelos pais em prol do filho, por isso, o artigo 1635 do Código Civil traz à tona as 
possibilidades naturais da extinção do poder de família: 
 
Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar: 
I - pela morte dos pais ou do filho; 
II - pela emancipação, nos termos do art. 5o , parágrafo único; 
III - pela maioridade; 
IV - pela adoção; 
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638. (BRASIL, 2002) 
 
Dentre as possibilidades de extinção do poder familiar, temos previsto em inciso IV a 
adoção, quando por óbvio o poder familiar, bem como qualquer vínculo com a família 
anterior é quebrado para o início de um novo ciclo. 
Ressalta-se que, essas previsões são para que as crianças e adolescentes tenham uma 
criação digna, com a devida atenção que lhe são merecidas. 
Conforme belíssimas palavras de SILVA e COELHO (2008, p. 6): “Os pais 
conjuntamente, devem agir de forma ética e responsável para com a sua prole, possibilitando 
o devido sustento, assistência médica, escolaridade carinho, atenção e proteção, 
administrando paralelamente de forma correta também os seus bens.”. 
Complementam ainda com a seguinte indagação: 
 
É indiscutível que é na famíliaque a criança deve encontrar o ambiente adequado 
para desenvolver-se, para estabelecer sua identidade e uma personalidade 
equilibrada. Por estas razões institui-se o poder familiar, como mecanismo de 
proteção aos filhos menores e incapazes da sua própria administração. (SILVA; 
COELHO, 2008, p. 6) 
 
Por fim, cabe informar que a imposição da suspensão ou destituição do poder familiar 
só é possível por ordem judicial, sendo a sentença de procedência, ao final, averbada no 
registro de nascimento da criança, nos termos do artigo 163, parágrafo único do Estatuto da 
Criança e do Adolescente: “A sentença que decretar a perda ou a suspensão do poder familiar 
será averbada à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente.”. 
 
 
 
 
36 
 
5 DA NECESSIDADE DE DIVULGAÇÃO E ESCLARECIMENTO DO 
TEMA 
 
 
Conforme já mencionado várias vezes no decorrer do presente trabalho, a entrega 
voluntária de recém-nascidos para adoção é um tema que deveria interessar a todos, pois 
nunca se sabe quando alguém próximo de nós precisará de orientação nesse sentido. 
No Brasil, o aborto ainda é crime, sem mencionar que o assunto em si permanece sendo 
um tabu perante a sociedade, bem como motivo de chacota e humilhação para as mulheres 
que pensam em tomar atitudes como essa. Sendo assim, para compensar a impossibilidade das 
mulheres em interromper uma gestação indesejada, foi criado um método para que fosse 
possível não possuir qualquer tipo de vínculo com a criança após o seu nascimento. 
O mais importante sobre o tema aqui abordado, é a forma da entrega, sem deixar na 
porta de um desconhecido ou em um ambiente insalubre qualquer, mas sim em um local 
apropriado e preparado para lidar com a entrega daquele bebê. E, o mais importante, que 
respeite a decisão dessa mulher, acompanhada ou não de seu companheiro e familiares, em 
não exercer a maternidade. 
Todavia, atualmente entende-se que o empecilho principal tem sido em divulgar esse 
direito, pois, não se trata de um assunto que se fale abertamente com alguém, geralmente ao 
dialogar sobre isso, a pessoa terá que lidar com o “entorte de rosto” ou demonstrações de 
preconceito para com a mãe e familiares que decidem pela entrega voluntária do recém-
nascido. 
Dificilmente será possível dialogar abertamente sobre o assunto com familiares e 
conhecidos, o que geralmente acaba com que essa mulher faça a entrega escondida daqueles 
que deveriam apoia-la ou até mesmo instruí-la. 
Tamanha a necessidade de divulgação do tema que, boa parte do conteúdo utilizado 
para confecção deste trabalho com título do tema “entrega voluntária de recém-nascidos”, 
trata-se de divulgações de órgãos públicos, como Tribunais de Justiça e a Defensoria Pública. 
Nesse tópico, ressalta-se um folder de divulgação do tema, incluso ao final deste em 
anexos, feito em setembro de 2016, pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, onde a 
mesma desenvolve o tema com detalhes e respondendo a maioria das dúvidas apresentadas 
para aqueles que procuram saber. 
37 
 
COSTA (2018, p. 35), Técnica Ministerial do Ministério Público do Estado do Ceará, 
em Revista Acadêmica de Escola Superior do Ministério Público do Ceará, menciona um 
levantamento feito pela Secretaria dos Direitos Humanos onde os números chocam a qualquer 
um: 
 
Apenas no ano de 2017, o Estado do Ceará registrou, por via do Serviço Disque 100, 
mantido pela Secretaria dos Direitos Humanos, mais de 300 (trezentos) casos de 
abandono e quase 1500 (mil e quinhentos) casos de negligência em amparo e 
responsabilização de crianças, além a ser a mãe da criança responsável pela violação 
de direitos em quase 2000 denúncias. (COSTA, 2018, p. 35) 
 
Ou seja, o Poder Judiciário realiza esse tipo de divulgação porque é plenamente ciente e 
vivencia o desespero dessas mulheres, bem como tem real noção da quantidade de recém-
nascidos abandonados. 
Levando-se em conta que esse é o número no Estado do Ceará, imaginemos a mesma 
escala em nível nacional. 
 
5.1 DIFERENÇA DE ENTREGA E ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO 
 
O folder disponibilizado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, em setembro 
de 2016, que encontra-se em anexo ao presente trabalho, esclarece em segundo tópico a 
seguinte indagação: “Qual a diferença entre abandono e entrega protegida de crianças recém-
nascidas para fins de adoção?” 
Tendo em vista o contato direto da Defensoria Pública com a população de baixa renda, 
acredita-se que, esse deve ser um dos maiores questionamentos da população ao ouvir sobre a 
entrega responsável, afinal, o medo de estar cometendo um crime faz com que a população 
mais temerosa se resguarde. 
A resposta fornecida pela Defensoria foi: 
 
A entrega protegida não é crime e se difere do abandono, porque é uma escolha 
consciente e amparada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 13, §1º, do 
ECA). A entrega protegida é o ato de confiar o recém-nascido à responsabilidade da 
Justiça para que seja encaminhado à adoção. (Defensoria Pública do Estado de São 
Paulo, 2016, p. 1) 
 
Com base nisso, façamos uma breve análise sobre o tema. 
38 
 
O artigo 134 do Código Penal prevê pura e simplesmente que “Expor ou abandonar 
recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.”, 
entretanto, assim como tudo no âmbito do direito, requer maiores esclarecimentos. 
Conforme a Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e SILVA (2017, p. 881), 
o elemento subjetivo do crime de exposição ou abandono de recém-nascido é o dolo de perigo 
que, consiste na vontade de abandonar o recém-nascido à própria sorte, consciente do perigo 
que lhe pode advir. 
Sendo assim, é evidente que a entrega voluntária não se assemelha ao abandono de 
recém-nascidos, pois a mulher está entregando o bebê em local apropriado e preparado para 
acolhê-lo, ato que se difere da prática de abandono deste em qualquer ambiente após o parto. 
 
Não se pode confundir o ato de entrega voluntária de um filho para fins de adoção 
com o abandono. Infelizmente, estas mães, muitas vezes, acabam sendo vítimas de 
discriminação, de preconceitos, incompreensões, censuras, julgamentos morais e até 
de exclusão social. (KREUZ, 2012, p. 111 apud COSTA, 2018, p. 36) 
 
Por isso, ressalta-se a necessidade de desmistificar a entrega voluntária, pois, conforme 
menciona COSTA (2018, p. 35): “Trata-se de direito da mulher, por optar não criar seu filho 
sem amor, sem vontade, sem condições psicológicas ou financeiras e direito da criança de 
estar inserido em um lar estruturado, com amor e tratamento digno.”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
6 A ENTREGA DO RECÉM-NASCIDO NA PRÁTICA 
 
 
Inicialmente, esclarece-se que não foi possível localizar casos práticos sobre o tema. 
Principalmente por conta das restrições que pairam sobre o tema, não se encontra pessoas com 
disponibilidade para argumentar, menos ainda capazes de afirmar se de fato já optaram pela 
entrega voluntária. 
 Além disso, foram realizados levantamentos jurisprudenciais sobre, mas o que se 
verificou foram apenas artigos sobre o tema desenvolvidos pelos Tribunais de Justiça que, 
conforme relatado em capítulo anterior, é fonte principal de base para a escrita do presente 
trabalho, com veemência na necessidade de divulgação do tema. 
Em que pese não tenha-se um caso prático para aqui abordar, os próprios Tribunais, 
Magistrados e Conselhos se encarregaram de discutir sobre a entrega na prática e descrevê-la 
como funciona, ou ao menos o que se espera ao vislumbrar a chegada de uma mãe com 
interesse em realizar a entrega de seu recém-nascido para a adoção. 
Esclarece a Revista do CEJUR/TJSC (2018, p. 108) que embora haja todo respaldo 
legal para a entrega voluntária de crianças, a legislação não detalha a forma pela qual esta 
deve ser conduzida pelas varas da infância e juventude, razão pela qual cabe a cada Estado 
formular seu

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