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CENTRO UNIVERSITÁRIO CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE ALESSANDRA STATI DO EGITO ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-NASCIDOS PARA ADOÇÃO COM ÊNFASE NA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA São Paulo 2021 CENTRO UNIVERSITÁRIO CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE ALESSANDRA STATI DO EGITO ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-NASCIDOS PARA ADOÇÃO COM ÊNFASE NA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito na Unidrummond, sob a orientação da Dra. Profª. Me. Regina Maria Pinna. São Paulo 2021 S237 Egito, Alessandra Stati do ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM- NASCIDOS PARA ADOÇÃO COM ÊNFASE NA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA / Alessandra Stati do Egito - São Paulo, 2021. 49 fls. Orientador(a): Regina Maria Pinna Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) (Direito) – Centro Universitário Carlos Drummond de Andrade, São Paulo, 2021. 1. Constituição da República Federativa do Brasil 2. Entrega voluntária de recém-nascidos 3. Adoção e Poder de família 4. Da necessidade de divulgação e esclarecimento do tema 5. A entrega do recém- nascido na prática CDD 341.2 ALESSANDRA STATI DO EGITO ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-NASCIDOS PARA ADOÇÃO COM ÊNFASE NA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado pela aluna do Curso de Bacharel em Direito como parte dos requisitos para conclusão do curso, perante a banca examinadora composta: Data da aprovação: São Paulo – SP, 08 de novembro de 2021. BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Orientadora: Prof. Me. Regina Maria Pinna _________________________________________ Examinador: Prof. Me. Neivaldo Gonçalves da Costa _________________________________________ Examinador: Prof. Me. Diego Santos Sanchez São Paulo 2021 Dedico este trabalho aos meus pais e familiares, pois, sem a ajuda destes, eu não teria a oportunidade de estar concluindo meu curso de bacharel em Direito. AGRADECIMENTOS Primordialmente, gostaria de agradecer a Deus e aos meus guias espirituais que permitiram a existência desse momento, trazendo a sensação de dever cumprido na confecção deste trabalho que, possui popularmente um marco histórico de finalização de um sonho. À minha família, em especial meu pai Alexandre Albercio do Egito e minha mãe Sandra Gibertoni Stati do Egito que, sempre vibraram por mim em cada conquista no decorrer destes cinco anos de curso, me ajudando financeira e psicologicamente para a conclusão do meu bacharelado, me impedindo de desistir em todos os momentos de frustração ou desânimo. Aos meus avós, Onivaldo Stati e Terezinha Neide Gibertoni Stati pela força, incentivo e carinho comigo desde sempre. sei que a conclusão deste curso é também um sonho de vocês que estou cumprindo com muita satisfação. Ao meu noivo Gustavo Stoch Osti, por todo o apoio, dedicação e companheirismo neste percurso estudantil que ocasionou na minha ausência em vários momentos, contudo, que sem dúvida, será um grande marco em nossa trajetória. Aos meus amigos e colegas de classe pela união e respeito para com todos, pelo auxílio e motivação transmitida para chegarmos até o tão almejado diploma. Agradeço também a instituição UniDrummond, ao corpo docente, em especial à minha orientadora Professora Regina Maria Pinna, a direção e a coordenação pela oportunidade do vislumbro desta nova etapa, bem como por terem me proporcionado no decorrer destes últimos anos estudantis, não apenas o conhecimento acadêmico e racional, mas também o equilíbrio para realização dos deveres de forma centrada e eficiente. RESUMO O abandono de recém-nascidos ocorre desde os milênios, independente do motivo pelo qual uma mãe e/ou sua família renunciam a uma criança que acabou de vir ao mundo, fato é que muito provavelmente essas pessoas sequer sabem que podem realizar a entrega esse recém- nascido de forma responsável. Não raramente é transmitido em jornais e programas televisivos reportagens de crianças deixadas em caixas de papelão, sacos de lixo e banheiros públicos. Dessa forma, o presente trabalho visa, inicialmente, a divulgação do tema e conscientização de uma população que pode vir a conhecer alguém que pensa em fazer algo similar e não sabe como auxiliar. No decorrer deste, verificar-se-á as legislações que preveem a entrega voluntária de recém-nascidos, orientações de órgãos públicos sobre o tema, bem como uma breve demonstração de como isso poderia ocorrer na prática. De modo a explicar o porquê existe o direito, o trabalho se amolda no princípio da dignidade da pessoa humana, pensando tanto no direito da mãe em realizar a entrega, como da criança em viver em um ambiente saudável, onde suas necessidades e direitos fundamentais sejam prioridade absoluta, como por exemplo, educação, residência, moradia, dentre outros. Contudo, apesar de demonstrar ser possível, esclarecer-se-á também as reais consequências em optar por esse tipo de atitude, incluindo a impossibilidade de arrependimento tardio. Palavras-chave: Recém-nascidos; Entrega; Direito; Dignidade; Perda. ABSTRACT The abandonment of newborns has occurred since the millennium, regardless of the reason why a mother and/or her family renounce a child who has just come into the world, the fact is that most likely these people do not even know that they can give this newborn responsibly. Not rarely newspapers and television programs often broadcast reports of children left in cardboard boxes, garbage bags and public restrooms. In this way, the present work aims, initially, at the dissemination of the theme and awareness of a population that may come to know someone who is thinking of doing something similar and does not know how to help. During this, verify the legislation that provides for the voluntary give of newborns, orientation from public agencies on the subject, as well as a brief demonstration of how this could happen in practice. In order to explain why the right exists, the work is based on the principle of human dignity, thinking both of the mother's right to make the give, as well as the child's right to live in a healthy environment, where their fundamental needs and rights are absolute priority, such as education, residence, habitation, among others. However, despite demonstrating the possibility, explain the real consequences of opting for this type of attitude, including the impossibility of late regret. Keywords: Newborns; Give; Right; Dignity; Loss. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 1 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL .............................. 11 1.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ............................................................................. 12 1.1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana .................................................... 14 1.2 PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA ..................................................... 15 2 ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-NASCIDOS ................................................... 18 2.1 RAZÕES QUE MOTIVAM A REALIZAÇÃO DA ENTREGA .................................21 2.2 PREVISÃO LEGAL NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ........ 23 3 ADOÇÃO ............................................................................................................................. 25 3.1 QUEM PODE ADOTAR ............................................................................................... 27 3.2 QUEM PODE SER ADOTADO ................................................................................... 29 3.3 REQUISITOS PARA ADOÇÃO .................................................................................. 30 3.4 DA POSSIBILIDADE DE ANULABILIDADE DA ADOÇÃO .................................. 31 4 PODER DE FAMÍLIA ........................................................................................................ 33 5 DA NECESSIDADE DE DIVULGAÇÃO E ESCLARECIMENTO DO TEMA ......... 36 5.1 DIFERENÇA DE ENTREGA E ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO ................... 37 6 A ENTREGA DO RECÉM-NASCIDO NA PRÁTICA ................................................... 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 44 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 47 ANEXO .................................................................................................................................... 49 9 INTRODUÇÃO No decorrer dos anos, a imposição da sociedade quanto a criação das crianças e adolescentes tem se tornado mais rígida, impondo aos pais que seja fornecida uma vida digna aos seus filhos, obrigando-os a conceder às suas crianças acesso à educação, saúde, alimentação e necessidades básicas, e, apesar de realmente parecer o básico, essa não é a realidade de muitas famílias, onde em alguns casos sequer possuem uma residência fixa e segura para criar seus filhos. Por esse motivo o presente trabalho visa defender a tese de que este tema é merecedor de uma maior divulgação pela mídia, pois, acredita-se que, com isso, o número de crianças abandonadas, maltratadas e agredidas por seus entes seriam reduzidos drasticamente. É incoerente que um direito da mulher e da criança não seja devidamente divulgado. Assim, espera-se apresentar os benefícios que a aplicação dessa legislação poderia trazer para a sociedade, mostrando as possibilidades de acolhimento do recém-nascido que a mãe não quer criar, ou ainda que, apesar de querer, não tem possibilidade de criá-lo com a dignidade que ela e a sociedade julgam necessária. Importante esclarecer que muitas mães entregam seus filhos para adoção por ter consciência que outra pessoa terá mais condições de dar uma vida digna ao seu filho do que ela mesma, sendo a dignidade da pessoa humana um dos princípios constitucionais básicos, conforme menciona a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1, inciso III. Tema pouco debatido na sociedade em decorrência do preconceito que paira sobre ele, todavia extremamente necessário e útil para muitos desinformados. Estima-se também que com a divulgação do tema, as pessoas mais favorecidas possam orientar aquelas desprovidas do conhecimento necessário a fim de instruí-las em como fazer a entrega responsável. Ademais, é nítida a preferência dos adotantes em adotar recém-nascidos em concorrência com crianças com idade superior, o que facilitaria muito que essa criança viesse a ser integrada em uma boa família caso logo ao nascer ingressasse no sistema de adoção. A entrega voluntária de recém-nascidos para adoção é um direito garantido às gestantes ou mulheres em estado puerperal, nos termos do artigo 19-A do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), tendo suas especificações previstas nos parágrafos seguintes da mesma legislação. 10 Será esclarecido que o Estado deve cuidar para que a entrega seja realizada de forma sigilosa, bem como sem críticas ou julgamentos à mãe, devendo encaminhá-la para a Justiça da Infância e Juventude com a maior discrição possível. Relatar-se-á também que a entrega legal é diferente do abandono de bebês, sendo este crime, conforme determinação do artigo 134 do Código Penal, o que de forma alguma se assemelha ao aqui dissertado. No presente caso a mãe ou gestante procura fazer a entrega, visando que seu filho tenha uma vida digna e próspera, acreditando que uma família substituta seja de fato mais competente para essa função, não podendo de forma alguma este ato ser caracterizado como abandono. Com isso, ao final, relatar brevemente sobre o processo de entrega do recém-nascido para a adoção, onde será delimitada as exigências e requisitos para que uma família consiga realizar o sonho de ter um filho, independente do DNA. 11 1 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Inicialmente, exalta-se a importância da Constituição Federal da República no cotidiano do brasileiro, tendo em vista ser ela a responsável por nossos direitos básicos e fundamentais. A Constituição, lato sensu, consiste no ato de constituir, de estabelecer, de firmar ou até mesmo, no modo pelo qual se constitui uma coisa, um ser vivo, uma organização, dentre outros sentidos. No entanto, juridicamente, a Constituição representa a lei fundamental e supremacia de um estado. Ela contém normas de estruturação do Estado, de formação dos poderes públicos, de forma de governo e de aquisição do poder de governar, de distribuição de competências, de direito, de garantias e deveres dos cidadãos. (CANOTILHO; MOREIRA, 1991, p. 41). Como um ramo do Direito Público interno, de acordo com NUNES (2011, p. 177) o “Estado de Direito” é o princípio que norteia o Direito Constitucional, isso porque o Estado tem como princípio inspirador a subordinação de todo poder ao Direito. NUNES (2011, p. 177) menciona ainda que, o Direito Constitucional, engloba as normas jurídicas constitucionais, ou seja, aquelas pertencentes à Constituição, dentre as quais se destacam as pertinentes à forma e à organização do Estado, ao regime político, à competência e função dos órgãos estatais estabelecidos, aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, dentre outros temas essenciais à população em um todo. Nesses moldes também ensina a Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e SILVA (2017, p. 83): De modo geral, as Constituições têm por finalidade estabelecer normas de estruturas de um Estado, bem como a sua organização, o modo de aquisição de poder e a forma do seu exercício, além de estabelecer limites a atuação estatal, a de assegurar os direitos e as garantias dos indivíduos daquele Estado, de fixar o seu regime político e os seus fundamentos econômicos, sociais e culturais. (PRATA; SILVA, 2017, p.83) Entretanto, PAULO e ALEXANDRINO (2013, p. 3) afirmam em sua obra que o Direito Constitucional é muito mais do que apenas um ramo do direito público, ele é a matriz de toda a ordem jurídica de um Estado, ele representa o tronco que deriva os demais ramos do Direito. Vigente desde 05 de outubro de 1988, a intenção com a criação da Constituição Federal foi proporcionar uma vida o mais igualitária possível entre a sociedade e suas diferentes classes sociais, fato que fica claro ao observar o próprio preâmbulo da Carta Magna: 12 Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVADO BRASIL. (BRASIL, 1988). Inúmeros direitos são abordados pela Constituição Federal, sendo eles os que possibilitam uma vida, educação, saúde e trabalho de forma digna a todos os cidadãos brasileiros, incluindo direitos específicos para as mulheres e as crianças. No desenvolvimento do presente trabalho, observar-se-á uma atenção primordial aos artigos 1, 5 e 226 a 230 da Constituição Federal de 1988, isso porque são os responsáveis pelos direitos e garantias fundamentais, bem como da proteção à maternidade e à infância, que embasa o tema aqui discorrido. 1.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS A Carta Magna inicia sua sequência de determinações com “Título I – Dos Princípios Fundamentais”, composto por apenas quatro artigos. Em breve leitura aos mesmos, é possível entender que seguirá um elencado de direitos que deveriam ser nítidos, mas que, em alguns casos, acabam sendo esquecidos pela população desprovida de bom senso. TÍTULO I - DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 13 Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. (BRASIL, 1988). Conforme demonstra o brilhantíssimo doutrinador NUNES (2011, p. 225), os princípios constitucionais são o ponto mais importante do sistema normativo, são através deles que se desenvolveram as demais legislações, eles são verdadeiras vigas-mestras, alicerces sobre os quais se constrói o sistema jurídico. Os princípios constitucionais são capazes de induzir a interpretação das próprias diretrizes da Constituição Federal, e não poderia ser diferente tendo em vista ser ela a norma responsável por decidir qualquer antinomia presente em outras legislações. Percebe-se, assim, que os princípios exercem uma função importantíssima dentro do ordenamento jurídico-positivo, já que orientam condicionam e iluminam a interpretação das normas jurídicas em geral. Por serem normas qualificadas, os princípios dão coesão ao sistema jurídico, exercendo excepcional fator aglutinante. (NUNES, 2011, p. 226) Tanto é verdade que, a Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e SILVA (2017, p. 88) ensina que, sobre a Constituição Federal à uma supremacia frente ao ordenamento jurídico, pois o que se espera é que as normas não constitucionais sejam interpretadas perante ao determinado na Carta Magna. Complementam ainda os autores supramencionados (2017, p. 88): “Ao se interpretar uma norma que apresente várias significações, deverá buscar aquele que se apresente em conformidade com as normas constitucionais, de modo a evitar a declaração de inconstitucionalidade da referida norma”. (grifo do autor) Assim, pode-se afirmar que os princípios constitucionais elencam os mais básicos de todos os direitos previstos ao ser humano, aqueles direitos que nada e nem ninguém deve intervir, nem mesmos os órgãos dos poderes superiores, acrescentando-se ao fato de que, incontestavelmente, havendo qualquer conflito entre as normas, esta será resolvida pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e seu derivados princípios. 14 1.1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana Apesar da extrema importância de todos os princípios constitucionais, para o presente estudo será embasado somente o princípio da dignidade da pessoa humana, em detrimento do seu encaixe perfeito ao tema abordado. Previsto no artigo 1, inciso III da Constituição Federal, ou seja, em evidência perto dos demais, este trata-se de um princípio essencial para que a sociedade disponha de uma dignidade mínima em sua rotina. Arrisca NUNES (2011, p. 230) afirmar ser este o principal princípio constitucional, tendo em vista que “Esse fundamento funciona como princípio maior para a interpretação de todos os direitos e garantias conferidos às pessoas no texto constitucional”. E, de fato, não há como se falar em dignidade, se esse mínimo não estiver garantido e implementado concretamente na vida das pessoas. Como é que se poderia imaginar que qualquer pessoa teria sua dignidade garantida se não lhe fosse garantida sadia qualidade de vida, como é que se poderia afirmar sua dignidade? (NUNES, 2011, p. 231) Ainda com base no entendimento deste brilhantíssimo doutrinador, todo ser humano tem dignidade só pelo fato de já ser pessoa, afinal, a dignidade humana é um valor preenchido a priori. Em complemento ao já mencionado, PAULO e ALEXANDRINO (2013, p. 94) afirmam em sua obra que o presente princípio proporciona ao indivíduo duas posições jurídicas, sendo elas, em primeiro o direito de proteção individual, não somente em relação ao Estado, mas também frente aos seus iguais, os seres humanos. E em segundo, o dever fundamental de tratamento igualitário da população. A dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil, consagra, desde logo, nosso Estado como uma organização centrada no ser humano, e não em qualquer outro referencial. A razão de ser do Estado brasileiro não se funda na propriedade, em classes, em corporações, em organizações religiosas, tampouco no próprio Estado (como ocorre nos regimes totalitários, mas sim na pessoa humana. Na feliz síntese de Alexandre de Moraes, ‘esse fundamento afasta a ideia de predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em detrimento da liberdade individual’. São vários os valores constitucionais que decorrem diretamente da ideia de dignidade humana, tais como dentre outros, o direito à vida, intimidade, à honra e à imagem. (PAULO; ALEXANDRINO, 2013, p. 94) 15 O princípio da dignidade da pessoa humana é relembrado inúmeras vezes no decorrer dos artigos da Carta Magna, sempre exemplificando a sua importância para a aplicabilidade das demais determinações legislativas. Adentrando ao tema principal do presente trabalho, observar-se-á no tópico a seguir as previsões constitucionais referentes à proteção da mulher, voltada à maternidade, bem como à criança dentre os artigos 226 e 230 da Carta Magna. Contudo, interessante mencionar que a dignidade da pessoa humana está nestes artigos muito bem evidenciada, conforme artigo 226, parágrafo 7º: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] §7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisãodo casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. (BRASIL, 1988) O próprio artigo indica que o Estado deve propiciar os recursos a fim de respeitar a livre decisão do casal em meio ao planejamento familiar, um desses recursos é exatamente a entrega de recém-nascidos de forma responsável e sem julgamentos, exatamente o que se visa elucidar neste estudo. 1.2 PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA Em tópicos anteriores vislumbrou-se sobre os direitos e garantias fundamentais, com a devida complementação pelos princípios constitucionais. Contudo, ao adentramos à proteção da maternidade e à infância, embarcar-se-á nos estudos dos direitos sociais. Nas belíssimas palavras de BERTHOLDI (2020, p. 7), “Os direitos sociais tem por objetivo e essência a tutela da igualdade e da liberdade, buscando garantir aos cidadãos condições dignas de vivência, disponibilizando materiais e meios para que se efetive a fruição plena das liberdades individuais.”. A previsão dos direitos sociais se inicia no artigo 6 da Constituição Federal, mencionando de pronto os direitos que serão descritos com detalhes posteriormente no decorrer dos artigos da própria Carta Magna: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 1988). 16 Dentre estes, observa-se a proteção à maternidade e à infância que, apesar de mencionado em vários momentos pela Constituição Federal, é desenvolvido com maior ênfase entre os artigos 226 e 230. Os referidos artigos trazem à tona um pouco da relação familiar, elencando a família como base da sociedade, descrevendo os direitos e deveres da família, bem como os amparos obrigatórios aos seus familiares, seja dos pais aos filhos, como o inverso. Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º O casamento é civil e gratuita a celebração. § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. (BRASIL, 1988) Para o presente estudo, devemos enfatizar o previsto no § 7º do artigo acima colacionado, pois, conforme bem mencionado, o planejamento familiar é de livre decisão do casal, ou no caso, da mulher, tendo em vista que atualmente a família solo é jurisprudencialmente reconhecida. Ademais, o § 7º é claro em enfatizar que o Estado deve propiciar recursos para que a mulher ou o casal consigam exercer esse direito. Em um extenso rol de possibilidades, sem dúvidas a solução para um filho indesejado está elencada, razão pela qual tem-se a possibilidade da entrega voluntária responsável do recém-nascido, tema central do presente estudo. Verifica-se também que, a Constituição Federal traz uma ideia fixa do que é família, todavia, importante lembrar que ela é datada de 1988, e que, desde então, houveram mudanças significativas em nossa sociedade que foram abarcadas pelas legislações mais atuais, como é o caso do Código Civil, o principal ao se tratar de família e sucessões, bem como as jurisprudências diárias promulgadas pelos tribunais superiores. Conforme brilhantíssimo Promotor de Justiça do Estado da Bahia, FARIA (2010, p. 07), “O conceito trazido no caput do artigo 226 é plural e indeterminado, firmando verdadeira 17 cláusula geral de inclusão.”, isso porque, com as consistentes mudanças sociais, a legislação deve ser capaz de seguir a realidade de toda a população. FARIA (2010, p. 07), ainda completa com a seguinte afirmação: “É o cotidiano, as necessidades e avanços sociais, que se encarregam da concretização dos tipos. E, uma vez formados os núcleos familiares, merecem, igualmente, proteção legal.”. No tocante a maternidade e a infância não poderia ser diferente, elas tiveram seu devido reconhecimento como direito social fundamental com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Atualmente, tanto a mulher gestante como a criança e adolescente possuem previsão legal para que suas necessidades básicas e sua dignidade humana sejam respeitadas. Com o advento da Constituição Federal de 1988, o direito à proteção da maternidade foi elevado à condição de direito social fundamental, em especial devido ao valor jurídico-social assumido pela garantia de índole constitucional em comento, que busca, de maneira robusta, dar efetividade à proclamação constante no artigo 6º da Carta da República. (RANGEL, 2016, s/n) Posto isso, a legislação em concurso com os tribunais superiores tiveram de se adequar à realidade vivenciada pela sociedade, razão pela qual tem-se atualmente outros preceitos capazes de suprir entendimentos que não condizem mais com a época. 18 2 ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RECÉM-NASCIDOS Em meio a tantas notícias de abandono de recém-nascidos em latas de lixo, caixas de papelão e banheiros públicos, o Poder Judiciário teve de tomar uma medida para que os bebês indesejados por sua família não acabassem sozinhos, com frio e fome em um ambiente insalubre qualquer. Conforme definição do 16º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (2019, p. 3): “A entrega voluntária trata da possibilidade da genitora manifestar, voluntariamente, o interesse em entregar seu/sua bebê para adoção, antes ou logo após o nascimento.”. ALVES, Juiz de Direito Substituto da 6ª Seção Judiciária, com sede no Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Maringá - PR confeccionou um artigo especificamente sobre esse assunto e a realidade que abarca o tema. Nele, elenca o Magistrado ALVES (2018, p. 1) que “não são incomuns os lamentáveis casos de mães que, por ganância, entregam seus filhos a terceiros, mediante pagamento ou promessa de recompensa.”. Esclarece também ser extremamente comum que a adoção ocorra pelos entes da própria família, onde avós, tios, primos e seus derivados, acabam por cuidar da criança visando que a mesma foi abandona pelos pais. Nesse sentido, interessante ressaltar que o Estatuto da Criança e do Adolescente presa pela permanência da criança em sua família natural, sendo inclusive um dos direitos do menor previsto no artigo 25 da legislação: Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. (BRASIL, 1990) Contudo, em observação ao parágrafo único do artigo supramencionado, podemos observar a expressão “família extensa ou ampliada”, essa diz respeito aos demais membros da família, conformemencionado anteriormente (avós, tios, primos e afins). 19 Crianças e adolescentes possuem o direito de serem criados e educados na sua família natural, devendo ter preferência à família extensa ou ampliada (na ausência da família natural), parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (art. 25, parágrafo único, do ECA)”. (PRATA; SILVA, 2017, p. 1652) Ademais, ALVES (2018, p. 1) informa que, sempre foi uma prática comum dos brasileiros a realização de adoções ilícitas, ou seja, a entrega da criança para terceiros que, por conta de impossibilidade de engravidar, ou até mesmo para que a criança não fosse abandonada por sua família legítima, acabavam por criá-las como se sua fossem, em alguns casos até registrando-as em seu nome. Esta prática foi denominada como adoção direta, onde os pais acabam por escolher os terceiros que ficarão responsáveis pela criação do recém-nascido. De acordo com o ALVES (2018, p. 2), esse tipo de adoção é muito perigosa, conforme menciona em seu artigo: A adoção irregular constitui grande risco para todos os envolvidos. Não há nenhum acompanhamento pelo Poder Judiciário, não se sabendo se a pessoa ou família que recebe a criança é idônea e está dispensando os cuidados necessários ao infante. Os genitores que entregam seu filho de forma irregular, assim como as pessoas que recebem a criança, podem ser chamados perante as autoridades para prestar esclarecimentos e, eventualmente, até responder a um processo criminal. (ALVES, TJPR, 2018, p. 2) O Meritíssimo ainda esclarece sobre a possibilidade de perda do poder familiar dos pais, que realizaram a adoção direta, conforme artigo 1.638, inciso V, do Código Civil, assunto que será melhor abordado em tópicos posteriores, bem como a eventual chance dos que receberam a criança de não conseguirem permanecer com a guarda, podendo a mesma, ser encaminhada para instituição que realize a adoção de forma regular. Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I - castigar imoderadamente o filho; II - deixar o filho em abandono; III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente. V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção. (BRASIL, 2002) (grifo nosso) Em feitos como o supramencionado, o legislador deverá analisar as especificidades do caso concreto, verificar a existência de vínculo afetivo entre os terceiros escolhidos e a criança. Restando confirmado que a criança está sendo bem cuidada, física e psicologicamente, é plenamente possível que a guarda seja deferida aos adotantes irregulares, dependendo do entendimento do Juiz da causa. 20 Contudo, importante mencionar a gravidade do assunto, pois conforme previsão do artigo 149-A, inciso IV do Código Penal, a adoção ilegal poderá ser caracterizada como tráfico de pessoas, motivo pelo qual menciona ALVES (2018, p. 2) a possibilidade de as partes responderem em processo criminal, pois de fato, cometeram um crime, conforme o mencionado artigo: “Tráfico de Pessoas - Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: [...], IV - adoção ilegal; [...]”. Outro ponto motivacional para a criação de uma legislação pertinente ao assunto, foi o aumento da prática de abortos em clínicas clandestinas por mulheres e adolescentes gestantes que não possuem condições financeiras, familiares, físicas e psíquicas. Não se pode excluir também as mulheres que não possuem o sonho de ser mãe, desprovidas do instinto materno, sendo capaz de entender que não conseguirá criar o recém- nascido da forma como ele merece e deve ser cuidado. Infelizmente, o direito de entregar voluntariamente o bebê para adoção ainda é muito desconhecido pelas gestantes e mães, situação que acarreta atos de desespero e crueldade, como o infanticídio, o aborto e o abandono de bebês, condutas consideradas crime pela legislação penal brasileira (arts. 123, 124 e 133 do Código Penal). (ALVES, TJPR, 2018, p. 2) Sobre o assunto, inclui-se a colocação de OLIVEIRA JÚNIOR (2018, p. 1), Promotor de Justiça aposentado, “É inevitável a censura a tal comportamento, mas fica no ar a indagação de que, se não optasse pelo nascimento, poderia ter praticado o aborto ou, após o nascimento, sob a influência do estado puerperal, o infanticídio”. O Brasil, assim como outros países, ainda crucifica a prática do aborto, sendo inclusive crime previsto no Código Penal (artigo 124 e seguintes), entretanto foram os primeiros a criar regras para a criação do menor, impondo aos pais que seja fornecida uma vida digna aos seus filhos, guarnecendo à suas crianças acesso a educação, saúde, alimentação, lazer e necessidades básicas. Esse tipo de “obrigatoriedade” aos genitores encontra-se prevista tanto no Estatuto da Criança e do Adolescente, como na Constituição Federal de 1988, isso sem mencionar suas colocações em legislações federais exclusivas da proteção da criança e do adolescente, como a própria Lei Nacional de Adoção, dentre outras. Ocorre que, essa não é a realidade de muitas famílias, onde em alguns casos sequer possuem uma residência fixa e segura para criar seu filho, sendo essa a principal motivação para a divulgação do presente direito da mulher. 21 2.1 RAZÕES QUE MOTIVAM A REALIZAÇÃO DA ENTREGA Nomeamos a entrega voluntária de recém-nascidos como um direito da mulher porque ela tem a decisão final, nada e nem ninguém tem o direito de decidir sobre a medida que será adotada em sua gestação além dela. Todavia, em alguns casos, trata-se de uma decisão da família em conjunto, onde a esposa e o marido ou companheiro decidem por bem que a criança seja criada por uma família substituta. Dentre os mil e um motivos para adotar a presente medida, as principais dela estão entre problemas financeiros e a falta de interesse da mulher em exercer o papel de mãe, onde por conhecer os perigos do abordo clandestino, opta pela entrega e inclusão da criança na fila para adoção regular. O TJ/SC, assim como outros tantos Tribunais de Justiça, desenvolveu uma reportagem a fim de divulgar o referido tema, nesse sentido vejamos: A escolha do destino de um filho pode ser influenciada por uma série de fatores, que vão desde o contexto econômico, familiar e afetivo vivenciado pela mulher no momento da gestação até sua história pessoal, muitas vezes marcada por uma infância de privações, violências, carências (afetiva e material), incompreensões, abandono e rejeição. (Revista do CEJUR/TJSC, 2018, p. 106) Em mesma reportagem, o TJ/SC elenca algumas razões que poderiam levar essas mulheres a realizar a entrega de seus recém-nascidos, conforme segue: As razões para a entrega podem ser múltiplas e diferentes entre si: a) sentimento de incapacidade de exercer a maternidade, que pode estar relacionado à história de vida marcada por carência afetiva e material ou violência; b) aceitação da impossibilidade de criar a criança; c) rejeição do filho por conflitos internos da mãe; d) desejo de não exercer a função materna; e) opção por outras prioridades na vida; f) falta de condições socioeconômicas; g) gravidez indesejada ou não planejada; h) gravidez originada de relacionamento ocasional; i) ausência do comprometimento paterno; j) pressões sociais ou familiares e falta de apoio; k) situação afetiva difícil com o pai da criança; l) gravidez originada de um relacionamento extraconjugal; m) gravidez originada de estupro ou de um episódio incestuoso. (Revista do CEJUR/TJSC, 2018, p. 107) Apesar das várias possibilidades elencadas anteriormente, inquestionável que a questãofinanceira é algo que vem dilacerando a população, fato que resta nítido com o número de moradores de rua que aumenta a cada dia. Pessoas desempregadas, famílias despejadas e sem rumo sempre foram assuntos de jornais e reportagens de televisão, realidade essa que aumentou drasticamente com a pandemia do COVID-19, bastando uma visita rápida a Praça 22 da Sé localizada na capital do Estado de São Paulo, por exemplo, para confirmação do alegado por esta estudante. Esse tipo de situação, faz com que pessoas adotem medidas que nunca seriam sequer estipuladas em outras circunstâncias. Grande parte dessa população opta pelo uso de drogas lícitas e ilícitas para suprir a falta de alimentação e conforto vivenciada, deixando-as fora de si e não tendo consciência de 100% (cem por cento) dos seus atos. Elas não possuem acesso a saneamento básico, quiçá a métodos contraceptivos que poderiam ajudar na redução de crianças de rua, nesses casos a entrega voluntária visa contribuir também com essas pessoas, entretanto são raros os casos de conhecimento desse direito por pessoas em referida situação. Adolescentes que não tem instruções em casa sobre o uso de contraceptivos também devem estar no topo da lista de razões para entregar um recém-nascido ao sistema de adoção, pois, em alguns casos a gestante não tem uma mãe/avó/afim que auxilie-a na criação dessa criança, e principalmente em seu sustendo, tendo em vista que esta adolescente também precisa de cuidados, isso sem falar na dificuldade em concluir seus estudos em decorrência da gestação precipitada. Outro motivo, não menos importante, são as mulheres que não tem interesse em exercer o papel de mãe. Com a inclusão da mulher no mercado de trabalho, as prioridades mudaram, atualmente o papel da mulher na sociedade não é mais a de doméstica que fica em casa com os filhos, com isso, o extremo cansaço e o objetivo de crescer profissionalmente tem sido motivo para que elas optem por se afastar da maternidade, isso claro sem contar naquelas que não possuem aptidão com crianças e não se acham capazes de ser mãe, atitude essa que também merece respeito pela sociedade. Acontece que, algumas vezes, a mulher está despreparada para a maternidade, outras não tem condições financeiras para suportá-la, somando-se a elas o abandono do pai da criança, sem falar ainda do medo e do temor dos familiares, para quem procura de todas as formas esconder a gravidez. (OLIVEIRA JÚNIOR, 2018, p. 1) Assim, muitos podem ser os motivos, sejam mulheres sozinhas ou famílias despreparadas para receber um bebê em 9 (nove) meses, todas justificativas plausíveis para se realizar a entrega voluntária. Entretanto, importante esclarecer que em momento algum do processo de entrega voluntária, a mulher é obrigada a esclarecer seus motivos para o ato, pois, a mulher deve se sentir acolhida pelo estabelecimento e não pode de forma alguma ser julgado por seu ato. 23 Além de conhecer o direito à entrega voluntária de bebês para adoção, é preciso respeitar quem opta pelo exercício do referido direito, sendo essencial ultrapassar preconceitos e aceitar a decisão das mães que decidem pela entrega voluntária, desmistificando ideias como a de que toda mulher nasceu para ser mãe e de que a mãe que entrega o filho para adoção é má, pecadora ou sofre de problemas mentais. (ALVES, TJPR, 2018, p. 12) O presente trabalho conterá um tópico destinado a dissertação da entrega voluntária na prática, descrevendo um pouco como funciona e o posicionamento jurisprudencial sobre o assunto, contudo, desde já é importante entender que a entrega é realizada com extrema discrição e respeito com a opção feita pela mulher, não podendo ela de forma alguma se sentir reprimida ou ofendida pelos atendentes da Vara da Infância e Juventude ao exercer seu direito, nesse sentido é a menção feita por ALVES (2018, p. 12) em citação acima colacionada. 2.2 PREVISÃO LEGAL NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O Estatuto tem como escopo viabilizar os direitos fundamentais e as condições que o ser humano em desenvolvimento merece amparo, possibilitando assim o crescimento sadio e adequado das crianças e adolescentes. Para adentrarmos ao assunto do presente estudo, teremos uma indagação a partir do artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente que, diz respeito ao direito à convivência familiar e comunitária. As crianças e os adolescentes possuem o direito de serem criados no seio saudável de sua família natural. No entanto, somente em casos excepcionais, poderão ser cuidados e educados por família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. A manutenção ou a reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em serviços e programas de proteção, apoio e promoção. (PRATA; SILVA, 2017, p. 1652) Em meados de 2010, o Estatuto da Criança e do Adolescente já mencionava o direito da mulher de entregar seu filho a instituições competentes para esse serviço, bem como da criança em crescer acobertada por um lar onde é devidamente acolhida. Todavia, a menção se fazia de forma superficial, apenas indicando a existência de tal regulamentação legislativa, sem maiores explanações. Foi com a criação da Lei nº 13.509 de 22 de novembro de 2017 denominada “Lei de Adoção”, que o assunto ganhou a devida atenção, momento em que fora incluso ao Estatuto 24 da Criança e do Adolescente artigos que de fato orientavam tanto a mulher gestante, como os órgãos e o Poder Judiciário em como agir de acordo com a situação. Grande exemplo disso é o artigo 19-A do referido diploma legal que prevê os principais detalhes da entrega voluntária: “A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho para adoção, antes ou logo após o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude.” Seguido de seus parágrafos que dizem sobre o procedimento e medidas a adotar no ato da entrega. Sobre a alteração da Lei nº 13.509/17 no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), OLIVEIRA JÚNIOR (2018, p. 2), reflete: “Referida alteração veio a suprir a lacuna existente até então e reservar um espaço para que a mãe possa decidir com segurança, embora não haja ainda uma divulgação ou até mesmo uma orientação mais concentrada a respeito da opção legal agora apresentada.”. Nesse sentido, esclarece-se que todo o incluso no Estatuto da Criança e do Adolescente pela Lei nº 13.509/17 foi essencial para que pudesse colocar em prática um direito presente, todavia não praticado pela população, principalmente pela falta de conhecimento da existência deste que, sequer, poderia ser devidamente divulgado em detrimento da falta de conhecimento do procedimento a ser seguido. 25 3 ADOÇÃO Ao iniciar um estudo, importante se faz a procura do significado da palavra denominada ao assunto. No caso da adoção, alguns autores de grande prestígio formularam conceitos do que seria o ato de ação, como por exemplo, a brilhantíssima DINIZ (2002, p. 416), que segue: Adoção é o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo fictício, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha (DINIZ, 2002, p. 416). Colaciona-se também nesta oportunidade, a definição de adoção de PEREIRA (2004, p. 392), “O ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe outra como filho, independentemente de existir entre elas qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim”. A adoção de modo geral, sempre foi uma prática comum dos brasileiros, a realização de entrega para terceiros que, por conta de impossibilidadede engravidar, ou até mesmo para que a criança não fosse abandonada por sua família legítima, acabavam por criá-las como se sua fossem. Embora tratar-se de uma adoção ilegal, em decorrência da ausência de acompanhamento do processo pelo Poder Judiciário, era muito praticada, como relatado em capítulo anterior. Esta prática foi regulamentada no Código Civil de 1916, com determinações que hoje não seriam mais usuais, dentre elas, podemos destacar algumas: a realização por escritura pública; a dissolução do vínculo em sendo as partes maiores e em acordo; bem como que apenas os maiores de 50 anos poderiam ser adotantes, tendo em vista que esse seria o último recurso existente para que os casais estéreis conseguissem perpetuar seu culto familiar e não falecerem sem deixar descendentes, algo totalmente imperdoável à época. Importante relatarmos que nos tempos antigos era motivo de vergonha que um homem, provedores do lar, não fosse capaz de prover frutos do seu relacionamento e, consequentemente, ter descendentes. Diferente do que se vive atualmente, na época era motivo de chacota e humilhação. Conforme relata o professor PEREIRA (2013, p. 147), “Nos tempos remotos, destinava- se a adoção a assegurar o culto dos antepassados, nos casos em que a falta de descendentes naturais era o presságio da cessação dos sacrifícios fúnebres”. Complementa ainda o professor, nos termos que segue: 26 Assim era entre os indus, romanos e gregos, que encontravam no instituto da adoção o recurso último à perpetuidade da família. Derivado de um sentimento religioso, foi, todavia, no passado, um dos veículos da afirmação do indivíduo, em reação ao temor do completo desaparecimento. Daí, ressumbra, não menos claro, o traço político da instituição, pelo qual, muita vez, se sucediam, através de gerações, inúmeros chefes. Até os povos bárbaros, quando não tinham filhos, pela natureza, escolhiam-nos pelas armas, para esse, adotados, continuassem suas proesas belicosas (PEREIRA, 2013, p. 147) No tocante aos processos de adoção, GONÇALVES (2017, p. 376) informa que tudo mudou drasticamente no tocante a esses pontos com a promulgação da Constituição Federal de 1988 que, incluiu a exigência de acompanhamento do Poder Judiciário para a realização da adoção em seu artigo 227, § 5º: “A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros.”. Relata ainda GONÇALVES (2017, p. 375) que a mesma só será firmada por meio de sentença judicial, nos termos estabelecidos no artigo 47 do Estatuto da Criança e do Adolescente: “O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.”. Nos tempos atuais a adoção encontra-se prevista na Constituição Federal, no Código Civil, no Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como possui lei própria nº 12.010 de 03 de agosto de 2009, tendo como última atualização a Lei nº 13.509 de 22 de novembro de 2017, ou seja, com o passar dos anos foram estabelecidas regulamentações necessárias e úteis para fim da adoção ilegal. Esclarece-se inclusive que, a Lei nº 13.509/17 foi confeccionada para incluir o assunto do presente estudo, conforme descreve o artigo 1 da mesma: Art. 1º Esta Lei altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) , para dispor sobre entrega voluntária, destituição do poder familiar, acolhimento, apadrinhamento, guarda e adoção de crianças e adolescentes, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 , para estender garantias trabalhistas aos adotantes, e a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , para acrescentar nova possibilidade de destituição do poder familiar. (BRASIL, 2017) GONÇALVES (2017, p. 375) destaca que com o atual conceito de adoção, leva-se em conta o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, conforme discorre o parágrafo único, inciso IV, do artigo 100 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 27 Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: [...] IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto; (BRASIL, 1990) Importante o devido destaque ao artigo supracolacionado, pois em legislações anteriores, o artigo 43 do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como no artigo 1625 do Código Civil de 2002, prevalecia-se os benefícios e vantagens do adotando. Ademais, um marco importantíssimo aos adotados, fora a definição de igualdade entre eles e os filhos biológicos do adotante. Essa determinação encontra-se presente tanto no artigo 227, § 6º da Constituição Federal, como no artigo 1.596 do Código Civil, com as mesmas palavras: “Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.”. Ainda sobre o tema, a Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e SILVA (2017, p. 412) relatam: “Assim, o filho adotado integra-se à nova família total e definitivamente, desligando-se de qualquer vínculo com os pais e parentes consanguíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento”. Ressalta-se que, aos olhos da população em geral pode parecer algo extremamente irrisório, todavia para aqueles que vivem diariamente o preconceito e desclassificação como “filho” pela diferença biológica, é algo acolhedor. 3.1 QUEM PODE ADOTAR Em análise à legislação pertinente, temos algumas objeções no tocante a quem pode adotar, contudo, com o decorrer dos anos este rol vem se estendendo com base nos atuais entendimentos jurisprudenciais. Nesse sentido, tem-se algumas definições presentes no artigo 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente que só vieram a serem previstos com a redação da Lei Nacional de Adoção nº 12.010 de 03 de agosto de 2009: 28 Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil. § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando. § 2 o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família. § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando. § 4 o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão. § 5 o Nos casos do § 4 o deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil . § 6 o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença. (BRASIL, 1990) Conforme menciona o caput do artigo supramencionado, podem adotar os maiores de 18 (dezoitos) anos, independentemente do estado civil deste. Sobre isso, GONÇALVES (2017, p. 385), esclarece que, além da obrigatoriedade dos 18 anos para comprovar a capacidade civil completa do adotante, porse tratar de ato jurídico, a adoção exige capacidade civil, por isso “não pode adotar os menores de 18 anos, os ébrios habituais e os viciados em tóxico, os que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade, bem com os pródigos”. Observar-se também, conforme § 3º que é obrigatória uma diferença de idade entre do adotante e o adotado de, no mínimo, 16 (dezesseis) anos. Podem adotar todas as pessoas civilmente capazes (maiores de 18 anos), de qualquer estado civil. A adoção por ambos os cônjuges ou companheiros poderá ser formalizada, desde que um deles tenha completado dezoito anos de idade, comprovada a estabilidade da família. Além disso, o adotante deverá ser pelo menos dezesseis anos mais velho do que o adotado. (PRATA; SILVA, 2017, p. 413) O fato do adotante ser solteiro em nada influencia no processo, todavia ao se tratar dos homossexuais é sabido que adentramos em uma polêmica extensa. Sobre o assunto, GONÇALVES (2017, p. 385) diz que, “A adoção por homossexuais, individualmente, tem sido admitida, mediante cuidadoso estudo psicossocial por equipe interdisciplinar que possa identificar na relação o melhor interesse do adotando.”. (grifo do autor) Contudo, no tocante à adoção por casais homossexuais, esta não encontra previsão na Lei da Adoção, bem como no Estatuto da Criança e do Adolescente, dependendo nesses casos de amparo das jurisprudências e entendimentos doutrinários para lutar pela adoção. 29 Rigorosa também a adoção com relação à duas pessoas, devendo com base na legislação, serem obrigatoriamente um casal formado por marido e mulher, conforme § 2º do artigo 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente, devendo no caso de divorciados ou separados de fato haver acordo sobre guarda e visita, nos termos do § 4º da mesma legislação. Não poderá também haver adoção por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher, ou se viverem em união estável. Os divorciados e os separados judicialmente, no entanto, poderão adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal. (PRATA; SILVA, 2017, p. 413) Apesar de todo o mencionado, sabe-se que a dificuldade em adotar é tremenda em razão da rígida fiscalização dos possíveis adotantes, extremamente necessária, mas que não raramente acaba por destruir o sonho de alguns interessados que não passam pela fiscalização da assistente social, psicólogos e demais etapas obrigatórias do sistema. 3.2 QUEM PODE SER ADOTADO Popularmente fala-se da adoção de crianças e adolescente, por se tratar de mais usual, todavia esclarece-se que a legislação torna plenamente possível a adoção de maiores de 18 (dezoito) anos. A Lei Nacional de Adoção prevê a possibilidade de adoção aos maiores de 18 anos, nos mesmos termos do artigo 1.619 do Código Civil, exigindo que procedimento judicial para regulamentação de ambos: “A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei n o 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.” No atual regime, tanto a adoção de menores quanto a de maiores revestem-se das mesmas características, estando sujeitas a decisão judicial, em atenção ao comando constitucional de que a adoção será sempre assistida pelo Poder Judiciário (CF, art. 227, § 5º). (GONÇALVES, 2017, p. 395) O brilhantíssimo doutrinador GONÇALVES (2017, p. 395/396) relata também que não há nenhum tipo de influência quanto à qualidade da filiação, por exemplo, se essa criança foi fruto de um casamento havido entre pai e mãe ou se ao menos estes são conhecidos, não haverá análise alguma nesse sentido. Outro ponto importante, é que de forma alguma existirá anulação da adoção em razão da vinda de filhos biológicos do adotante. 30 Ressalta-se que, conforme popularmente conhecido, há determinação para que irmãos sejam inclusos juntos em famílias substitutas, com previsão no artigo 28, § 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente: [...] § 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais. (BRASIL, 1990) Portanto, nas palavras de GONÇALVES (2017, p. 395), todas as pessoas cuja diferença mínima seja de dezesseis anos para o adotante podem ser adotadas, em razão ao disposto no artigo 42, § 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente. 3.3 REQUISITOS PARA ADOÇÃO Conforme redação do brilhantíssimo doutrinador GONÇALVES (2017, p. 396) o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê 06 (seis) principais requisitos exigidos para a adoção, sendo eles: 1) Idade mínima de 18 anos para o adotante, com base no artigo 42, caput; 2) Diferença de 16 anos entre adotante e adotado, conforme §3º do mesmo artigo anterior; 3) Consentimento dos pais ou representantes legais de quem se deseja adotar; 4) Concordância deste se contar mais de 12 anos, nos termos do artigo 28, §2º; 5) Processo judicial, previsto no caput do artigo 47; e 6) Efetivo benefício do adotado, conforme o artigo 43. Os requisitos numerados como 1 e 2 já foram profundamente explicados em tópicos anteriores, razão pela qual não haverá extensa dissertação sobre os mesmos no presente momento. No tocante ao item 3, GONÇALVES (2017, p. 397) esclarece que o consentimento dos pais ou representantes legais de quem se deseja adotar é condição fundamental para à conceção da medida. Todavia, este é dispensado em caso de destituição do poder familiar, conforme preceitua o artigo 166 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 31 Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado. (BRASIL, 1990) Entretanto, isso só ocorrerá após rigorosa observância do direito do contraditório previsto no artigo 24 da mesma legislação: “A perda e a suspensão do pátrio poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.”. Ademais, conforme item 4, deverá ser respeitada a opinião do adotado se este for maior de 12 (doze) anos, conforme o § 2º do artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ele deverá consentir com a adoção: “Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência”. Passado o processo judicial previsto em item 5, será proferida a adoção, nos termos do artigo 43 da mesma legislação supracitada: “A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.”. Assim, preenchidos os requisitos, é provável que a adoção seja finalizada com sucesso, a fim de proporcionar um lar extremamente acolhedor para o adotado, bem como uma extrema felicidade para o adotante em ser pai/mãe. 3.4 DA POSSIBILIDADE DE ANULABILIDADE DA ADOÇÃO Para finalizar o tópico de adoção, importante mencionar as possibilidades de anulação desta, entretanto, verificar-se-á que esta só ocorre quando não há verdadeira observância aos requisitos descritos em tópico anterior, ou, se o adotante ou adotado não agiu conforme o esperado. Para GONÇALVES (2017, p. 399), a adoção pode ser judicialmente anulada se atingir orol de negócios jurídicos nulos previstos no artigo 166 do Código Civil, em especial os incisos V e VI: Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: [...] V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; [...] GONÇALVES (2017, p. 399) ainda prevê possibilidades de a adoção ser declarada nula: 32 A declaração pode ser declarada nula se: a) o adotante não tiver mais de 18 anos (ECA, art. 42); b) o adotante não for pelo menos dezesseis anos mais velho que o adotado (art. 42, § 3º); c) duas pessoas, sem serem marido e mulher ou convivente, adotarem a mesma pessoa (art. 42, § 2º); d) o tutor ou o curador não tiver prestado contas (art. 44); e) houver vício resultante de simulação ou de fraude à lei (art. 167 e 166, VI). (GONÇALVES, 2017, p. 399) GONÇALVES (2017, p. 400) relata ainda que, poderá haver anulabilidade se houver falta de assistência do pai, tutor ou curador, ao consentimento do relativamente incapaz, com base no artigo 171, inciso I do Código Civil; ou vício de consentimento do adotante, do adotado e do representante legal deste, proveniente de erro, dolo, coação, lesão e estado de perigo, nos termos do artigo 171, inciso II da mesma legislação: Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. (BRASIL, 2002) Dessa forma, resta nítido que, para um processo de adoção plenamente legal e sem riscos de anulação, é necessário preencher os requisitos e seguir o determinado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como a Lei Nacional da Adoção, sempre de olho nas previsões do Código Civil em razão de ser o que norteia os contratos e questões de família. 33 4 PODER DE FAMÍLIA O poder de família encontra-se previso no Capítulo V do Código Civil, dividido em três sessões, bem como estando suas previsões devidamente descritas entre os artigos 1.630 e 1.638 da referida legislação. Segundo GONÇALVES (2017, p. 410), “Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores”. Importante mencionar que o poder familiar se originou do pátrio poder no Código Civil de 1916, razão pela qual este era desempenhado somente pelo pai, por ser considerada autoridade maior do lar. Todavia, com o passar dos anos, o Código Civil de 2002 supriu essa ausência de igualdade e atualmente o poder familiar é desempenhado pelos pais, homem e mulher. Conforme já mencionado inúmeras vezes no decorrer deste estudo, o Estado impõe aos pais deveres e responsabilidades para com seus filhos, ao adentrar no poder familiar tem-se apenas mais uma forma de colocar a presente afirmação em prática. O poder familiar e se constitui em responsabilidade comum dos genitores, o dever de prestar aos filhos, enquanto civilmente menores, o necessário ao seu sustento, proporcionando-lhes alimentação, vestuário, educação, moradia, lazer, assistência à saúde, medicamentos, etc. (SILVA; COELHO, 2008, p. 3) O poder de família retoma arduamente as previsões constitucionais, pois trata-se do dever dos pais, descrito pelo artigo 229 da Carta Magna: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.”. A Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e SILVA (2017, p. 1652) diz que “Os pais devem dirigir os filhos com a finalidade de proporcionar seu adequado desenvolvimento.”. É nesse sentido que o artigo 1.634 do Código Civil elenca um rol de possibilidades que o poder familiar dispõe aos pais: 34 Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: I - dirigir-lhes a criação e a educação; II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município; VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo- lhes o consentimento; VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição. (BRASIL, 2002) É ao se aprofundar no poder familiar que entende-se o direito dos pais sobre as escolhas de seus filhos. Até que a criança e adolescente complete sua capacidade civil, compete aos pais o dever de criar, educar, cuidar, fornecer vínculos culturais e lazeres, bem como fazer escolhas pelo/para o menor. Passada a fase de explicação conceitual sobre o poder de família, esclarece-se que, para o presente estudo, o ponto relevante sobre o tema é a possibilidade de suspensão e destituição do poder de família, pois, conforme a Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e SILVA (2017, p. 1653): “A destituição do poder familiar é pré-requisito para o processo de adoção”. Há previsão legal nesse sentido a partir do artigo 1635 do Código Civil, sendo dividido entre penas de suspensão ou extinção do poder familiar dependendo da pratica desenvolvida pelo genitor. PRATA e SILVA (2017, p. 1653) diz que a suspensão do poder familiar se trata de medida punitiva aos pais, ou a um deles, pelo exercício inadequado do poder familiar, como prevê o artigo 1637 do Código Civil: 1) abusar de sua autoridade; 2) faltar aos deveres referentes à pessoa do filho; 3) arruinar os bens da prole; e 4) ser condenado à pena privativa de liberdade superior a dois anos por sentença/acórdão transitado em julgado. Enquanto que, no tocante à destituição, ressaltam os doutrinadores se tratar de medida punitiva aos pais, ou a um deles se infringir o artigo 1638 do Código Civil, ou seja: 1) castigar imoderadamente o filho; 2) deixar o filho em abandono; 3) praticar atos contrários à moral e aos bons costumes (contra o filho ou contra outras pessoas); e 4) incidir, reiteradamente, em faltas contra os direitos de seus filhos. 35 Ocorre que, nem sempre o poder familiar irá ser extinto em razão de uma atrocidade praticada pelos pais em prol do filho, por isso, o artigo 1635 do Código Civil traz à tona as possibilidades naturais da extinção do poder de família: Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar: I - pela morte dos pais ou do filho; II - pela emancipação, nos termos do art. 5o , parágrafo único; III - pela maioridade; IV - pela adoção; V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638. (BRASIL, 2002) Dentre as possibilidades de extinção do poder familiar, temos previsto em inciso IV a adoção, quando por óbvio o poder familiar, bem como qualquer vínculo com a família anterior é quebrado para o início de um novo ciclo. Ressalta-se que, essas previsões são para que as crianças e adolescentes tenham uma criação digna, com a devida atenção que lhe são merecidas. Conforme belíssimas palavras de SILVA e COELHO (2008, p. 6): “Os pais conjuntamente, devem agir de forma ética e responsável para com a sua prole, possibilitando o devido sustento, assistência médica, escolaridade carinho, atenção e proteção, administrando paralelamente de forma correta também os seus bens.”. Complementam ainda com a seguinte indagação: É indiscutível que é na famíliaque a criança deve encontrar o ambiente adequado para desenvolver-se, para estabelecer sua identidade e uma personalidade equilibrada. Por estas razões institui-se o poder familiar, como mecanismo de proteção aos filhos menores e incapazes da sua própria administração. (SILVA; COELHO, 2008, p. 6) Por fim, cabe informar que a imposição da suspensão ou destituição do poder familiar só é possível por ordem judicial, sendo a sentença de procedência, ao final, averbada no registro de nascimento da criança, nos termos do artigo 163, parágrafo único do Estatuto da Criança e do Adolescente: “A sentença que decretar a perda ou a suspensão do poder familiar será averbada à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente.”. 36 5 DA NECESSIDADE DE DIVULGAÇÃO E ESCLARECIMENTO DO TEMA Conforme já mencionado várias vezes no decorrer do presente trabalho, a entrega voluntária de recém-nascidos para adoção é um tema que deveria interessar a todos, pois nunca se sabe quando alguém próximo de nós precisará de orientação nesse sentido. No Brasil, o aborto ainda é crime, sem mencionar que o assunto em si permanece sendo um tabu perante a sociedade, bem como motivo de chacota e humilhação para as mulheres que pensam em tomar atitudes como essa. Sendo assim, para compensar a impossibilidade das mulheres em interromper uma gestação indesejada, foi criado um método para que fosse possível não possuir qualquer tipo de vínculo com a criança após o seu nascimento. O mais importante sobre o tema aqui abordado, é a forma da entrega, sem deixar na porta de um desconhecido ou em um ambiente insalubre qualquer, mas sim em um local apropriado e preparado para lidar com a entrega daquele bebê. E, o mais importante, que respeite a decisão dessa mulher, acompanhada ou não de seu companheiro e familiares, em não exercer a maternidade. Todavia, atualmente entende-se que o empecilho principal tem sido em divulgar esse direito, pois, não se trata de um assunto que se fale abertamente com alguém, geralmente ao dialogar sobre isso, a pessoa terá que lidar com o “entorte de rosto” ou demonstrações de preconceito para com a mãe e familiares que decidem pela entrega voluntária do recém- nascido. Dificilmente será possível dialogar abertamente sobre o assunto com familiares e conhecidos, o que geralmente acaba com que essa mulher faça a entrega escondida daqueles que deveriam apoia-la ou até mesmo instruí-la. Tamanha a necessidade de divulgação do tema que, boa parte do conteúdo utilizado para confecção deste trabalho com título do tema “entrega voluntária de recém-nascidos”, trata-se de divulgações de órgãos públicos, como Tribunais de Justiça e a Defensoria Pública. Nesse tópico, ressalta-se um folder de divulgação do tema, incluso ao final deste em anexos, feito em setembro de 2016, pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, onde a mesma desenvolve o tema com detalhes e respondendo a maioria das dúvidas apresentadas para aqueles que procuram saber. 37 COSTA (2018, p. 35), Técnica Ministerial do Ministério Público do Estado do Ceará, em Revista Acadêmica de Escola Superior do Ministério Público do Ceará, menciona um levantamento feito pela Secretaria dos Direitos Humanos onde os números chocam a qualquer um: Apenas no ano de 2017, o Estado do Ceará registrou, por via do Serviço Disque 100, mantido pela Secretaria dos Direitos Humanos, mais de 300 (trezentos) casos de abandono e quase 1500 (mil e quinhentos) casos de negligência em amparo e responsabilização de crianças, além a ser a mãe da criança responsável pela violação de direitos em quase 2000 denúncias. (COSTA, 2018, p. 35) Ou seja, o Poder Judiciário realiza esse tipo de divulgação porque é plenamente ciente e vivencia o desespero dessas mulheres, bem como tem real noção da quantidade de recém- nascidos abandonados. Levando-se em conta que esse é o número no Estado do Ceará, imaginemos a mesma escala em nível nacional. 5.1 DIFERENÇA DE ENTREGA E ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO O folder disponibilizado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, em setembro de 2016, que encontra-se em anexo ao presente trabalho, esclarece em segundo tópico a seguinte indagação: “Qual a diferença entre abandono e entrega protegida de crianças recém- nascidas para fins de adoção?” Tendo em vista o contato direto da Defensoria Pública com a população de baixa renda, acredita-se que, esse deve ser um dos maiores questionamentos da população ao ouvir sobre a entrega responsável, afinal, o medo de estar cometendo um crime faz com que a população mais temerosa se resguarde. A resposta fornecida pela Defensoria foi: A entrega protegida não é crime e se difere do abandono, porque é uma escolha consciente e amparada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 13, §1º, do ECA). A entrega protegida é o ato de confiar o recém-nascido à responsabilidade da Justiça para que seja encaminhado à adoção. (Defensoria Pública do Estado de São Paulo, 2016, p. 1) Com base nisso, façamos uma breve análise sobre o tema. 38 O artigo 134 do Código Penal prevê pura e simplesmente que “Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.”, entretanto, assim como tudo no âmbito do direito, requer maiores esclarecimentos. Conforme a Doutrina Simplificada de coordenação de PRATA e SILVA (2017, p. 881), o elemento subjetivo do crime de exposição ou abandono de recém-nascido é o dolo de perigo que, consiste na vontade de abandonar o recém-nascido à própria sorte, consciente do perigo que lhe pode advir. Sendo assim, é evidente que a entrega voluntária não se assemelha ao abandono de recém-nascidos, pois a mulher está entregando o bebê em local apropriado e preparado para acolhê-lo, ato que se difere da prática de abandono deste em qualquer ambiente após o parto. Não se pode confundir o ato de entrega voluntária de um filho para fins de adoção com o abandono. Infelizmente, estas mães, muitas vezes, acabam sendo vítimas de discriminação, de preconceitos, incompreensões, censuras, julgamentos morais e até de exclusão social. (KREUZ, 2012, p. 111 apud COSTA, 2018, p. 36) Por isso, ressalta-se a necessidade de desmistificar a entrega voluntária, pois, conforme menciona COSTA (2018, p. 35): “Trata-se de direito da mulher, por optar não criar seu filho sem amor, sem vontade, sem condições psicológicas ou financeiras e direito da criança de estar inserido em um lar estruturado, com amor e tratamento digno.”. 39 6 A ENTREGA DO RECÉM-NASCIDO NA PRÁTICA Inicialmente, esclarece-se que não foi possível localizar casos práticos sobre o tema. Principalmente por conta das restrições que pairam sobre o tema, não se encontra pessoas com disponibilidade para argumentar, menos ainda capazes de afirmar se de fato já optaram pela entrega voluntária. Além disso, foram realizados levantamentos jurisprudenciais sobre, mas o que se verificou foram apenas artigos sobre o tema desenvolvidos pelos Tribunais de Justiça que, conforme relatado em capítulo anterior, é fonte principal de base para a escrita do presente trabalho, com veemência na necessidade de divulgação do tema. Em que pese não tenha-se um caso prático para aqui abordar, os próprios Tribunais, Magistrados e Conselhos se encarregaram de discutir sobre a entrega na prática e descrevê-la como funciona, ou ao menos o que se espera ao vislumbrar a chegada de uma mãe com interesse em realizar a entrega de seu recém-nascido para a adoção. Esclarece a Revista do CEJUR/TJSC (2018, p. 108) que embora haja todo respaldo legal para a entrega voluntária de crianças, a legislação não detalha a forma pela qual esta deve ser conduzida pelas varas da infância e juventude, razão pela qual cabe a cada Estado formular seu
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