Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ciências Morfofuncionais dos Sistemas Imune e Hematológico Adaptação celular: as células também se ajustam Profa. Dra. Cristiane M. Leite • Unidade de Ensino: 1 • Competência da Unidade: Conhecer os processos de adaptações celulares frente a estímulos físicos, químicos ou fisiológicos em excesso; conhecer os possíveis resultados do processo de lesões celulares reversíveis e irreversíveis, compreendendo como essas podem ser originadas; definir como o oxigênio pode estar relacionado à lesão celular; definir as vias de morte celular por apoptose e por necrose. • Resumo: Adaptações celulares: atrofia, hipertrofia, hiperplasia e metaplasia; patogenia das lesões celulares; degeneração gordurosa; hipóxia e isquemia em degeneração hidrópica ou tumefação turva e da lesão celular irreversível; aspectos morfológicos e fisiopatológicos que levam à necrose ou apoptose. • Palavras-chave: Adaptações celulares; lesões reversíveis; lesões irreversíveis; morte celular. • Título da Teleaula: Adaptação celular: as células também se ajustam • Teleaula nº: 1 Abertura • Saúde, homeostasia e resposta celular; • Adaptação celular: • Hipertrofia • Hiperplasia • Atrofia • Metaplasia • Causas da lesão celular; • Mecanismos de lesão celular; • Lesão irreversível: • Necrose • Apoptose Saúde, homeostasia e resposta celular Paciente fumante há 36 anos, que fazia ingestão de bebida alcoólica diariamente. Fonte: Avatar Maker. Que outro processo patológico poderia ser acrescentado no diagnóstico clínico do paciente? Qual a relação da ingestão de álcool com a lesão celular? Saúde x Doença Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não, simplesmente, a ausência de doenças ou enfermidades. Fonte: Adaptado de https://cutt.ly/6yqTy8m e https://cutt.ly/syqTs8P . Homeostase Estado dinâmico O corpo monitora seu estado interno e toma medidas para corrigir perturbações que ameacem a sua função normal. Regulação do meio interno do corpo, mantendo-o em equilíbrio. Fonte: SILVERTHORN, D.U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 5.ed. São Paulo: Artmed, 2010. Esteatose hepática (degeneração gordurosa) • Acúmulo anormal de lipídios dentro das células parenquimatosas. Fonte: BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: patologia geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Esteatose hepática Associada a: • Ingestão de dietas hiperlipídicas; • Ingestão de grandes quantidades de álcool. Fonte: BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: patologia geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Esteatose hepática Esteatose Cirrose Câncer Fonte: CURI, R.; PROCÓPIO, J. Fisiologia humana. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Tipos de adaptação celular Hipertrofia • Síntese e incorporação de novos componentes estruturais; Pode ser: • Fisiológica • Patológica Aumento do tamanho das células que resulta no aumento do tamanho do órgão afetado. Célula normal Hipertrofia Fonte: Adaptado de https://cutt.ly/mywastP . Aumento da demanda funcional ou por estimulação de hormônios e fatores de crescimento. Hipertrofia fisiológica • Aumento da massa muscular associado à prática de exercícios. Fonte: https://cutt.ly/IywdBd5 e BARBIN, I. C. C. Ciências morfofuncionais dos sistemas imune e hematológico. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2015 Miócito normal Miócito hipertrofiado Aumento do tamanho das fibras musculares em resposta ao aumento da demanda. Hipertrofia patológica Fonte: GROSSMAN, Sheila C & PORTH, Carol M. Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Sobrecarga hemodinâmica crônica Hipertrofia celular Aumenta a força e capacidade de trabalho do músculo. • Hipertrofia do miocárdio: resultado de doença cardíaca. Hiperplasia • Só ocorre em células com capacidade de divisão; Pode ser: • Fisiológica • Patológica Aumento no número de células em um órgão ou tecido em resposta a um estímulo Célula normal Hiperplasia Fonte: Adaptado de https://cutt.ly/mywastP . Aumento do número de células induzido por hormônios, fatores de crescimento ou por células-tronco. Hiperplasia Próstata normal Próstata hiperplásica Fonte: Laminário digital. Atrofia Redução do tamanho de um órgão ou tecido devido diminuição do tamanho e número de células. Célula normal Atrofia Fonte: Adaptado de https://cutt.ly/mywastP . Pode ser: • Fisiológica • Patológica Atrofia Causas: • Redução da carga de trabalho (atrofia de desuso). Fonte: Adaptado de https://cutt.ly/0ywh4Rg e BARBIN, I. C. C. Ciências morfofuncionais dos sistemas imune e hematológico. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2015Músculo normal Músculo atrofiado Atrofia • Perda da inervação (atrofia por denervação). Medula espinal Fibras musculares Junção neuromuscular Motoneurônios Fonte: Modificado de TORTORA, G.J.; DERRICKSON, B. Pricípios de anatomia e fisiologia. 14.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Sem comando nervoso (motoneurônios) não há contração muscular. Atrofia Atrofia • Diminuição do suprimento sanguíneo; • Nutrição inadequada; • Perda da estimulação endócrina; Endométrio mulher jovem Endométrio mulher senil Fonte: GROSSMAN, Sheila C & PORTH, Carol M. Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Metaplasia • Muitas vezes é uma resposta adaptativa de uma célula sensível a um estímulo nocivo, sendo substituída por um tipo celular capaz de suportar o ambiente adverso. Alteração reversível no qual um tipo celular diferenciado é substituído por outro tipo celular. Célula normal Metaplasia Fonte: Adaptado de https://cutt.ly/mywastP . • Resultado de um reprogramação de células-tronco presente nos tecidos normais ou de células mesenquimais indiferenciadas do tecido conjuntivo. Fonte: Adaptado de https://cutt.ly/qywxyKI . Cérvix uterino Metaplasia de epitélio colunar para epitélio escamoso. METAPLASIA Causas e mecanismos da lesão celular Na consulta com o neurologista, a esposa relatou que o paciente era fumante há 36 anos, que fazia ingestão de bebida alcoólica todos os dias e que era hipertenso, porém não tomava o medicamento todos os dias como recomendado pelo médico. Fonte: Avatar Maker. Qual a relação das informações ao médico com o estado patológico do paciente? Causas de lesão celular 1. Privação de oxigênio Causas: • Isquemia; • Redução da capacidade de transporte de O2 no sangue; • Oxigenação inadequada do sangue devido insuficiência cardiorrespiratória. HIPÓXIA Causas da lesão celular 2. Agentes físicos • Trauma mecânico; • Extremos de temperatura (queimaduras e frio intenso); • Alterações bruscas da pressão atmosférica; • Radiação; • Choque elétrico. Causas da lesão celular 3. Agentes químicos • Glicose e NaCl em concentrações hipertônicas; • O2 em altas concentrações; • Venenos (arsênico, cianeto e sais de mercúrio); • Poluentes do ar; • Inseticidas e herbicidas; • Riscos industriais e ocupacionais (asbesto); • Drogas sociais (álcool, cocaína etc). Causas da lesão celular 4. Reações imunológicas • Reações lesivas aos autoantígenos endógenos são responsáveis por diversas doenças autoimunes; • Reações imunes a vários agentes externos podem também lesão celular e tecidual. Causas da lesão celular 5. Defeitos genéticos • Causam lesão celular devido a deficiência de proteínas funcionais; • Variações na sequência do DNA também podem deixar as células mais susceptíveis à lesão por substâncias químicas e outros agressores ambientais. Causas da lesão celular 6. Desequilíbrios nutricionais • Deficiência proteico-calórica; • Deficiência de vitaminas específicas; • Excessos nutricionais, como o excesso de colesterol; • Composição da dieta. Mecanismos de lesão celular Que alterações podem ocorrer? • Depleção de ATP e danos mitocondriais; • Alteração nas membranas celulares e influxo de Ca+2; • Alterações nasíntese proteica e lesões genéticas. • Alterações intracelulares Acúmulo de substâncias intracelulares: Água, lipídios, proteínas, pigmentos Degenerações ou pigmentações Acúmulo de lipofuscina Fonte: GROSSMAN, S.C., PORTH, C.M. Porth: fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Depleção de ATP Atividade bomba Na+-K+ ATP Tumefação celular Entrada de Na+ e saída de K+ na célula Fonte: BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: patologia geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Lesão irreversível: necrose e apoptose. Necrose Morte celular em organismo vivo e seguida de autólise. Fonte: Modificado de NIAAA/Wikimedia Commons. Célula normal Núcleo Organelas Bolhas Bolhas • Rompimento da membrana plasmática, organelas e núcleo; • Extravasamento do conteúdo. Necrose de coagulação • Principal causa: isquemia; • Alterações nucleares: cariólise, picnose e, eventualmente, cariorrexe; • Citoplasma eosinófilo. Fonte: Laminário digital. Necrose caseosa • Lesão presente na tuberculose; • Material esbranquiçado na área de necrose, células lesionadas e restos granulares circundados por uma borda inflamatória (granulomas). Fonte: BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: patologia geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Necrose gomosa • Típica de lesões tardias ou terciárias da sífilis (goma sifilítica). Fonte: 2Flickr. Fonte: 1Flickr. Apoptose • Via de morte celular na qual as células ativam enzimas que degradam o DNA nuclear das células, bem como as proteínas nucleares e citoplasmáticas. Fonte: GROSSMAN, S.C., PORTH, C.M. Porth: fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Apoptose • Ocorre ativação das enzimas caspases, sendo dividida em 2 fases: fase de iniciação (ativação das caspases) e fase de execução (degradação celular pelas caspases); • Ativação das caspases: pode ocorrer pela via intrínseca (mitocondrial) e via extrínseca (via do receptor de morte). VIA INTRÍNSECA Fonte: BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: patologia geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. VIA EXTRÍNSECA Fonte: BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: patologia geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Fechamento • Saúde, homeostasia e resposta celular; • Adaptação celular: • Hipertrofia • Hiperplasia • Atrofia • Metaplasia • Causas da lesão celular; • Mecanismos de lesão celular; • Lesão irreversível: • Necrose • Apoptose Ciências Morfofuncionais dos Sistemas Imune e Hematológico Tecido sanguíneo e sistema imune: defensores do organismo! Profa. Dra. Cristiane M. Leite • Unidade de Ensino: 2 • Competência da Unidade: Conhecer o tecido sanguíneo, seus componentes e funções; compreender os mecanismos fisiopatológicos dos principais tipos de anemias; compreender os tipos, funções e aspectos morfológicos dos leucócitos; conhecer os órgãos e tecidos do sistema imune e suas funções; compreender a resposta imune inata e as linhas de defesa do sistema imune; compreender os mecanismos da resposta inflamatória aguda e mecanismos do sistema complemento. • Resumo: sangue, componentes e funções; sistema imune; sistemas de defesa do organismo. • Palavras-chave: hemácias; plaquetas; leucócitos; hematopoese; anemia; sistema imune; neutrófilos; eosinófilos; basófilos; linfócitos; monócitos; anticorpos; antígenos; medula óssea; timo; baço; linfonodos; tonsilas; resposta imune inata; barreiras naturais; inflamação aguda; sistema complemento. • Título da Teleaula: Tecido sanguíneo e sistema imune: defensores do organismo! • Teleaula nº: 2 Abertura • Sangue; • Principais características dos eritrócitos; • Tipos de anemia; • Leucócitos: tipos e funções; • Órgãos linfoides: características e funções; • Imunidade inata; • Mediadores químicos da imunidade inata; • Inflamação aguda. Sangue, eritrócitos e anemia Mulher, 56 anos, apresentava constipação e mal-estar gástrico há dois anos. A endoscopia revelou presença de nódulos no estômago e metaplasia intestinal nos segmentos do intestino delgado. Os exames laboratoriais mostraram baixo nível de hemoglobina, de plaquetas e de glóbulos brancos no geral. Foi concluído que a paciente era portadora de gastrite autoimune, sendo solicitado exame de sangue para avaliar níveis de vitamina B12. Fonte: Avatar Maker. Qual a associação da patologia com as doenças hematológicas? COMPOSIÇÃO SANGUÍNEA Plasma (55%) Leucócitos e plaquetas Hemácias ou eritrócitos Elementos celulares (45%) PLASMA + ELEMENTOS CELULARES Fonte: Adaptado de Alan Sved/Wikimedia Commons. • Eritrócitos ou hemácias • Leucócitos • Plaquetas ELEMENTOS CELULARES Resposta imune. Coagulação sanguínea. Transporte de O2 para os tecidos e CO2 para os pulmões. Eritrócitos ou hemácias • Elementos figurados mais numerosos; • Discos bicôncavos - contêm o pigmento hemoglobina (transporte de O2). α β Eritrócito Hemoglobina Fonte: Adaptado de VANPUTTE, C.; REGANM, J.; RUSSO, A. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2016. Produção de eritrócitos Eritropoetina aumentada Medula óssea vermelha O2 sanguíneo diminuído O2 sanguíneo aumentado Aumento da produção de hemácias Hemácias Fonte: Adaptado de VANPUTTE, C.; REGANM, J.; RUSSO, A. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2016. Anemia por deficiência de ferro (ferropriva) • Causas: absorção inadequada de ferro, perda excessiva ou aumento da demanda de ferro ou, ainda, ingestão insuficiente de ferro; • Resultado: síntese insuficiente de hemoglobina. Fonte: Ed Uthman/Wikimedia Commons. • Dispneia; • Taquicardia; • Atrofia epitelial. Coiloníquia Queilite angular Fadiga Fonte: HOFFBRAND, A. V. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017; Shanghai killer whale/Wikimedia Commons. Anemia megaloblástica • Causas: ingestão ou absorção inadequada de vitamina B12 ou de ácido fólico; • Produção de hemácias grandes e anormais. Fonte: HOFFBRAND, A. V. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Anemia falciforme • Defeito genético hereditário na molécula da hemoglobina; • Hemoglobina anormal que se cristaliza quando libera o O2 (eritrócito em forma de foice). Fonte: Pkleong/Wikimedia Commons. Fonte: Keith Chambers/Wikimedia Commons. Hemácia normal Falciforme Bloqueando o fluxo sanguíneo Fonte: Adaptado de NHGRI/Wikimedia Commons. Promove danos nos tecidos e dor por hipóxia. Características gerais dos leucócitos e dos órgãos linfoides Leucócitos ou glóbulos brancos • Granulócitos: apresentam grânulos no citoplasma e núcleo lobulado. (Neutrófilos, eosinófilos e basófilos) • Agranulócitos: apresentam grânulos no citoplasma, porém pequenos e de difícil visualização; núcleo não lobular. (Linfócitos e monócitos) Neutrófilos • 60 a 70% dos leucócitos; • Núcleo lobular (2 a 5 lobos); • Citoplasma pálido com contorno irregular; • Secretam lisozimas; • Geralmente, primeiros a responder a uma infecção. Neutrófilo Fonte: HOFFBRAND, A. V. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017; Blausen.com staff (2014)/Wikimedia Commons. Eosinófilos • Correspondem a 1-3% dos leucócitos; • Grânulos citoplasmáticos se coram de vermelho-claro com eosina (corante ácido); • Núcleo bilobulado; • Importantes nas reações alérgicas e infecções parasitárias. Fonte: HOFFBRAND, A. V. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017; 2Blausen.com staff (2014)/Wikimedia Commons. Eosinófilo Basófilos • 0,3 a 0,5% dos leucócitos; • Grânulos citoplasmáticos escuros que encobrem o núcleo; • Grânulos contém heparina e histamina; • Envolvidos em processos associados a reações alérgicas e de hipersensibilidade. Fonte: HOFFBRAND, A. V. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed,2017; 3Blausen.com staff (2014)/Wikimedia Commons. Basófilo Linfócito • 20 a 30% dos leucócitos totais; • Principais células funcionais do sistema imune • Citoplasma consiste em anel estreito, quase imperceptível ao redor do núcleo. • Tipos: linfócitos B, linfócitos T e células natural killer. Linfócito Fonte: HOFFBRAND, A. V. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017; 4Blausen.com staff (2014)/Wikimedia Commons. Monócito • 3 a 8% dos leucócitos totais; • Citoplasma grande com núcleo em forma de rim; • Ao deixar a circulação se transformam em macrófagos; • Fagocitam bactérias, células mortas, fragmentos celulares e outros debris; • Promovem ativação de linfócitos. Monócito Fonte: HOFFBRAND, A. V. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017; 4Blausen.com staff (2014)/Wikimedia Commons. • Primários • Medula óssea e timo. • Secundários • Linfonodos, baço, nódulos linfáticos e tecido linfoide associado à mucosa (MALT). TECIDOS LINFOIDES Fonte: Modificado de OpenStax College/Wikimedia Commons. Timo • Órgão bilobulado; • Localizado no mediastino; • Grande no recém- nascido, mas diminui com o crescimento; • Local de maturação de linfócitos T: timosina. TimoTireoide Traqueia Fonte: Adaptado de Siverthorn, D.U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Medula óssea vermelha Circulação Circulação Circulação Timo Linfonodo ORIGEM E MATURAÇÃO DOS LINFÓCITOS Fonte: VANPUTTE, C. L. et al. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. Baço • Maior dos órgãos linfáticos; • Apresenta: • Linfócitos T e B (funções imunes); • Macrófagos (destroem patógenos). Fonte: Modificado de Public domain/Wikimedia Commons. Detecta e responde a substâncias estranhas no sangue. Linfonodos • Pequenos, redondos ou ovais; • Localizados ao longo dos vasos linfáticos; • Presença de linfócitos e macrófagos. • • • Fonte: Modificado de Marieb & Hoehn (2009). Filtram a linfa, eliminando bactérias e outros materiais. Nódulo linfático • Massas ovaladas de tecido linfático que não são cercadas por uma cápsula. • Presentes na túnica mucosa que reveste os sistemas digestório, urinário e genital, e vias respiratórias. MALT (tecido linfoide associado à mucosa) • Agregados de células linfáticas e matriz extracelular não envoltos por cápsula; • Participam da resposta imune contra substâncias estranhas inaladas ou ingeridas; • Palatinas, linguais e faringeal. Palato mole Tonsila palatina Tonsila faringeal Úvula Língua Fonte: Modificado 6Blausen.com staff (2014)/Wikimedia Commons. Fonte: अं ेज़ी Wikipedia पर Michaelbladon/Wikimedia Commons. TONSILAS Imunidade inata Imunidade inata ou natural • Principal característica: você já nasce com ela. • Imunidade Inespecífica: As linhas de defesa não reconhecem o que estão combatendo (vírus, bactérias, protozoários, entre outros); • Tempo de resposta: atua nas primeiras 12h após a infecção; • Composta por: barreiras físicas, químicas e celulares. Primeira linha de defesa do organismo Fonte: Adaptado de SIVERTHORN, D.U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. • Barreiras físicas: pele e mucosas (epitélio). • Barreiras químicas: muco, saliva, ácido estomacal. Patógeno e PAMPs associados PAMP PRR associados à células DAMP Lesão grave Necrose Liberação de DAMP (sinais de perigo) PRR associados à células Resposta imune RECONHECIMENTO DE SUBSTÂNCIAS ESTRANHAS Fonte: Adaptado de DELVES, P. J. et al. Fundamentos de imunologia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Fagocitose Fonte: Adaptado de Mango Slices/Wikimedia Commons. Mediadores químicos • Presentes nas membranas celulares: lisozima, sebo e muco; • Histamina, complemento e eicosanoides (leucotrienos e prostaglandinas); • Citocinas (interferons, interleucinas e linfocinas). SISTEMA COMPLEMENTO Complexo antígeno- anticorpo C1 Complexo antígeno- anticorpo-C1 C4 Complexo C4 + C2C2 C3 C5 C6 C7 C8 C9 Substâncias estranhas e fatores B, D e P Via clássica Via alternativa IMUNIDADE INATA • Formação de complexo de ataque à membrana (MAC); • Opsonização; • Inflamação. Interferons Vírus Interferon Ativação de células do sistema imune (macrófagos e células natural killer). Indução de apoptose em células vizinhas infectadas. Células não infectadas alteram sua expressão gênica (aumenta resistência à infecção). Fonte: Adaptado de CNX OpenStax/Wikimedia Commons. Inflamação aguda Mulher, 56 anos, apresentava constipação e mal-estar gástrico há dois anos. A endoscopia revelou presença de nódulos no estômago e metaplasia intestinal nos segmentos do intestino delgado. Foi concluído que a paciente era portadora de gastrite autoimune, ou seja, um processo inflamatório da mucosa do estômago. Fonte: Avatar Maker. Qual a relação dos sintomas de desconforto com o processo inflamatório? Inflamação aguda • Curta duração; • Exsudação de líquidos e componentes do plasma; • Migração de leucócitos. Sinais cardinais da inflamação: • Calor; • Rubor; • Edema; • Dor; • Perda da função. Inflamação aguda – fase vascular • Vasodilatação de arteríolas e vênulas; • Aumento da permeabilidade vascular. Normal Inflamação Fonte: Adaptado de GROSSMAN, S.C., PORTH, C.M. (2019, p. 311). Inflamação aguda – fase celular • Marginação, adesão e transmigração dos leucócitos; • Quimiotaxia; • Ativação e fagocitose. Fonte: Adaptado de GROSSMAN, S.C., PORTH, C.M. (2019, p. 311-312). Fonte: Adaptado de GROSSMAN, S.C., PORTH, C.M. (2019, p. 317). Fechamento • Sangue; • Principais características dos eritrócitos; • Tipos de anemia; • Leucócitos: tipos e funções; • Órgãos linfoides: características e funções; • Imunidade inata; • Mediadores químicos da imunidade inata; • Inflamação aguda. Ciências Morfofuncionais dos Sistemas Imune e Hematológico Resistência e reparo do organismo Profa. Dra. Cristiane M. Leite • Unidade de Ensino: 3 • Competência da Unidade: Conhecer as reações e os mecanismos de defesa e patológicos do organismo, oriundos dos embates com diversos agentes agressores do meio ambiente. • Resumo: Resposta imune adquirida, inflamação aguda e crônica, interação antígeno- anticorpo, mediadores pró e anti-inflamatórios, reações de hipersensibilidade, mecanismos de imunização e reparo tecidual. • Palavras-chave: Sistema imune; inflamação; hipersensibilidade; reparo. • Título da Teleaula: Resistência e reparo do organismo. • Teleaula nº: 3 Abertura • Imunidade adquirida • Anticorpos e suas funções; • Hipersensibilidade; • Imunização; • Inflamação crônica; • Principais mediadores químicos inflamatórios e fármacos anti-inflamatórios; • Reparo tecidual. • Humoral • Celular Resposta adquirida: humoral e celular Homem, 55 anos, encontra-se em crise de dores abdominal, diarreia e vômito devido às doenças crônicas do fígado e do pâncreas causadas pela hepatite C e pelo câncer do pâncreas. v Fonte: Avatar Maker. Qual o tipo de resposta imune presente? Qual o tipo celular predominante nesta fase? Imunidade adquirida ou adaptativa • Imunidade desenvolvida mediante exposição prévia a agentes infecciosos e outras substâncias estranhas ao organismo; • Tipos: humoral e mediada por células. ANTÍGENOS Substâncias estranhas ao organismo que, quando introduzidas nele, desencadeiam a produção de anticorpos pelos linfócitos B, o que conduz à destruição do agente invasor. Fonte: Adaptado de GROSSMAN, S.C., PORTH, C.M. Porth: fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Células-tronco pluripotentes Timo Célula- tronco linfocítica Célula B Célula T Tecido linfoide Célula T citotóxica Célula T auxiliar Célula T reguladora Medula óssea IMUNIDADE ADAPTATIVA HUMORAL Fonte: Adaptadode GROSSMAN, S.C., PORTH, C.M. Porth: fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Imunidade adquirida celular • Não está necessariamente presente ao nascimento; • Resposta das células T auxiliares (CD4+) e T citotóxicas (CD8+); • Mecanismo intracelular. Muitos microrganismos vivem dentro das células o que torna impossível a ação de anticorpos humorais. IMUNIDADE ADAPTATIVA CELULAR Fonte: Adaptado de GROSSMAN, S.C., PORTH, C.M. Porth: fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Anticorpos, reação de hipersensibilidade e imunização Anticorpos • São glicoproteínas fabricadas pelos plasmócitos com função de: 1) Auxiliar o processo de fagocitose pela criação do complexo antígeno-anticorpo; 2) Realizam a tentativa de inativar microrganismos invasores. Os anticorpos não destroem os agentes invasores! Temos 5 classes: • IgM; • IgG; • IgA; • IgD; • IgE. • Forma de pentâmero; • Relacionados a defesa de patógenos apenas no sangue; • Maiores anticorpos que possuímos e de produção mais rápida; • São os primeiros anticorpos produzidos em caso de infecção. (Contato primário com o antígeno) Imunoglobulina M - IgM Aumento em sua quantidade no sangue significa exposição recente ao microrganismo e fase aguda de uma doença. Fonte: Modificado de 2OpenStax College/Wikimedia Commons. • Forma monomérica e estrutura pequena; • Relacionados a defesa de patógenos no sangue; • Produzidos por linfócitos de memória (indicam exposição tardia ao agente invasor (contato secundário com o antígeno). Imunoglobulina G - IgG Fonte: Modificado de 2OpenStax College/Wikimedia Commons. Aumento em sua quantidade no sangue significa exposição tardia ao microrganismo e conferência de imunidade permanente. • Forma de dímero; • Segundo tipo mais comum encontrado no soro; • Encontrada na saliva, lágrimas, colostro e em secreções brônquicas, gastrointestinais, prostáticas e vaginais. Imunoglobulina A - IgA Fonte: Modificado de 2OpenStax College/Wikimedia Commons. Componente secretório Principal função: imunidade local em superfícies mucosas. Impede a ligação de vírus e bactérias às células epiteliais. • Menos comum, ligando-se fortemente em basófilos e mastócitos; • Envolvida em processos inflamatórios, reações alérgicas e infecções parasitárias. Imunoglobulina E - IgE Fonte: Modificado de 2OpenStax College/Wikimedia Commons. Imunoglobulina D - IgD Fonte: Modificado de 2OpenStax College/Wikimedia Commons. • Atua como receptor para antígenos nas membranas celulares de linfócitos B. 1. Imediata ou tipo I: • Ocorre minutos após a exposição aos antígenos (alérgenos). • Mediada por IgE, que em contato com o alérgeno induz a liberação de mediadores químicos. • É uma resposta imune exacerba à antígenos que não nos fariam mal, como: pigmentos, pólen, camarão, etc. Receptor Fc para IgE Alérgeno IgE Degranulação de mastócitos, liberação de mediadores REAÇÃO DE HIPERSENSIBILIDADE Fonte: Modificado de 3OpenStax College/Wikimedia Commons. 2. Tipo II: • Ocorre em até 8 horas após a exposição; • Mediada por anticorpos ativando o complemento, citotoxicidade promovida por IgG; • Exemplo: transfusão incompatível de sangue – A para B. Célula T citotóxica Receptor para IgG Antígeno Célula-alvo Citotoxicidade dependente de IgG Antígeno Complexo imune Ativação do complemento Fonte: Modificado de 3OpenStax College/Wikimedia Commons. • Ocorre até 10 horas após exposição; • Mediado pelo acúmulo de imunocomplexos formados por grande quantidade de antígenos no corpo; • Atingem locais específicos e destroem o tecido próximo pois causam inflamação e atração de neutrófilos e monócitos. • Mediada por IgG e MAC. 3. Tipo III: Neutrófilo Ativação do complemento Imunocomplexos Fonte: Modificado de 3OpenStax College/Wikimedia Commons. • Mediada por células; • Após 24h de contato com o antígeno; • Mecanismos de doenças autoimunes; • Mediada por linfócitos T citotóxicos que reconhecem células normais e induzem a eliminação destas pela ativação de macrófagos. 4. Tipo IV ou tardia: Antígeno Citocinas Célula T citotóxica Macrófago ativado Célula T auxiliar sensibilizada Fonte: Modificado de 3OpenStax College/Wikimedia Commons. 1. Imunização ATIVA TIPOS DE IMUNIZAÇÃO Ocorre quando o sistema imune responde à investida de um patógeno por ambos mecanismos de imunidade adaptativa, ou seja: Humoral Celular Linfócitos T de memória Linfócitos B de memória Produção de ambos indica memória imunológica para vida ou durante longo período. 2. Imunização PASSIVA Ocorre quando o indivíduo recebe anticorpos prontos e ativos, mas, que foram produzidos por outro organismo. Humoral Celular Não ocorre: • A estimulação do sistema imune; • O contato com o antígeno; • Sem memória imunológica linfócito B/T. Imunidade adquirida Imunidade ativa Imunidade passiva Natural Artificial Natural Artificial Inflamação crônica, mediadores inflamatórios e fármacos anti-inflamatórios Homem, 55 anos, encontra-se em crise de dores abdominal, diarreia e vômito associados à perda de peso no último mês sem restrição alimentar. Com a investigação, o médico diz ao paciente que os sintomas são causados pela pancreatite crônica. v Fonte: Avatar Maker. Qual medicamento deveria ser receitado para amenizar os sintomas do processo inflamatório? Inflamação crônica • Geralmente é resultado de processo inflamatório agudo recorrente ou progressivo; exposição prolongada ao agente agressor ou resposta persistente envolvendo mecanismos imunológicos. • Características: • Longa duração; • Geralmente sem sinais cardinais da inflamação; • Infiltração de células mononucleares; • Proliferação vascular e fibroblástica. Células da inflamação crônica • Linfócitos: • Recrutamento de linfócitos T e B para o local da lesão; • Amplificam e propagam a inflamação. Fonte: Adaptado de Flickr. Produção de citocinas Produção de INF gama Células da inflamação crônica • Macrófagos: • Originam de monócitos do sangue e migram para o espaço intersticial no local afetado; • Secretam citocinas e fatores de crescimento, que atuam em diferentes células, promovendo a eliminação do agente agressor e ativando células como os linfócitos T. Fonte: Adaptado de Librepath/Wikimedia commons. Vias de ativação dos macrófagos VIA CLÁSSICA: macrófagos M1 • Atuam na destruição tecidual e de parasitas intracelulares, e em respostas adaptativas. VIA ALTERNATIVA: macrófagos M2 • Atuam no reparo tecidual (removem neutrófilos apoptóticos, ajudam na formação do tecido de granulação e produzem mediadores pró-fibróticos) . Células da inflamação crônica • Plasmócitos: • Responsáveis pela produção de anticorpos contra antígenos persistentes ou componentes teciduais alterados. • Eosinófilos: • Presentes em reações imunes mediadas por IgE ou em infecções parasitárias. • Mastócitos: • Promovem a secreção de diferentes citocinas. • Mediadores derivados do ácido araquidônico (formado após uma lesão celular / inflamação aguda): • Prostaglandinas H2: potencialização da dor/febre e vasodilatação. • Prostaciclina: mediador vasodilatador. • Tromboxano: mediador vasoconstritor. • Leucotrienos: aumento da permeabilidade vascular, favorece o edema. MEDIADORES QUÍMICOS • Interleucinas: 1. Citocinas pró-inflamatórias: (IL-1, IL-2, IL-6, IL-7 e FNT) • Atuam na proliferação, quimiotaxia, diferenciação de leucócitos e produção de anticorpos. 2. Citocinas anti-inflamatórias: (IL-4, IL-10, IL-13) • Atenuam a resposta inflamatória. Produzidas principalmente por linfócitos T auxiliares, macrófagos e eosinófilos e estão envolvidas na ativação ou supressão do sistema imune. • Atuam na amenização dos sinais inflamatórios (dor, rubor, calor e edema); • Inibem as cascatas químicas e substâncias que causam os efeitos cardinais; • Existemdois tipos de anti-inflamatórios: • Não esteroides (AINEs) ou Não hormonais; • Esteroides (AIEs); MEDICAMENTOS ANTI-INFLAMATÓRIOS • Diminuem a produção dos precursores dos mediadores químicos (Prostaglandinas, Prostaciclinas); Lesão celular Liberação fosfolipídios de membrana Degradados Enzima Fosfolipase A2 Originando ÁCIDO ARAQUIDÔNICO Degradado Enzima COX1 e COX2 Originando Anti-inflamatórios não esteroidais Inibem as COX1 e COX2 Ibuprofeno, nimesulida e celecoxib Diminui rubor, dor, calor e vasodilatação. • Baixa ou nenhuma produção do ácido araquidônico. Não há produção de mediadores químicos (Prostaglandinas/prostaciclinas) • A diminuição de rubor, dor, calor e vasodilatação é mais acentuada! Lesão celular Liberação fosfolipídios de membrana Degradados Enzima Fosfolipase A2 Anti-inflamatórios esteroidais Inibem a Fosfolipase A2 Cortisona e a betametasona Reparo tecidual Regeneração • Tecido danificado é substituído por células do mesmo tipo, retomando sua normalidade funcional; • Depende: • Tipo de células residuais presentes (lábeis, estáveis ou permanentes); • Extensão da lesão. • Proliferação celular é regulada pelo ciclo celular e estimulada por fatores de crescimento e interações entre as células no local da lesão e a matriz extracelular. Cicatrização • Tecido danificado é substituído por tecido conjuntivo altamente vascularizado, e como resultado se observa a formação de cicatrizes. Ocorre quando o tecido danificado não consegue se restabelecer completamente ou caso as estruturas de suporte tecidual estejam severamente comprometidas. • Processo controlado por mediadores químicos liberados no local da lesão e por fatores de crescimento. Fases da cicatrização Fase Inflamatória Epiderme Derme Artéria Resposta vascular Coágulo Migração celular Fonte: Adaptado de 3Wikimedia Commons/WikimediaCommons. Fases da cicatrização Fase Proliferativa Fibroblasto Macrófago Formação de crosta e migração de células epiteliais Formação de tecido de granulação Fonte: Adaptado de 3Wikimedia Commons/Wikimedia Commons. Fases da cicatrização Fase de Maturação e Remodelação Restabelecimento da espessura do tecido epitelial Remodelação tecidual Fonte: Adaptado de 3Wikimedia Commons/Wikimedia Commons. Fechamento • Imunidade adquirida • Anticorpos e suas funções; • Hipersensibilidade; • Imunização; • Inflamação crônica; • Principais mediadores químicos inflamatórios e fármacos anti-inflamatórios; • Reparo tecidual. • Humoral • Celular Escrever a ATOTW tutoriais visitando www.wfsahq.org/resources/anaesthesia-tutorial-of-the-week ATOTW 328 – Imunologia para Anestesistas Parte 2: Reações de Hipersensibilidade (7 de abril de 2016) Pag 1 of 6 CIÊNCIAS BÁSICAS Tutorial 328 Pontos Chaves • Hipersensibilidade é um processo de dano tissular secundário a uma reação inflamatória. • Reações de hipersensibilidade são classificadas de I a IV pela Classificação de Gell e Coombs. • Anafilaxia é uma forma extrema de reação do tipo I que ocorre devido a uma degranulação disseminada de mastócitos interagindo com IgEs ligadas ao antígeno. • A patogênese das reações de hipersensibilidade geralmente deve- se a mais de que uma classe de reação de hipersensibilidade ocorrendo concomitantemente. hypersensitivity occurring concurrently. IMUNOLOGIA PARA ANESTESISTAS Parte 2 – Reações de Hipersensibilidade Dr. Katharine Kennedy Anaesthetics Registrar, Mersey Deanery, UK Dr. Tushar Dixit Consultant Anaesthetist, St Helens and Knowsley NHS Trust, UK Escrever à atotw@wfsahq.org Tradução autorizada para o português por Gisele Sachet Ghisi, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianopólis, Brasil INTRODUÇÃO No primeiro tutorial de imunologia nós tratamos da imunologia básica que ajudaria o entendimento do que pode dar errado, que é o foco deste tutorial. Como anestesistas, nós sabemos do risco de reações de hipersensibilidade dos nossos pacientes e de forma compreensível somos particularmente temerosos às reações anafiláticas. A anafilaxia é abordada durante o treinamento em anestesiologia e os protocolos para seu manuseio são familiares aos anestesistas. Neste tutorial nós discutiremos os princípios imunológicos ressaltando os quarto tipos de reações de hipersensibilidade. REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE 1,2 Durante uma reação imune, a liberação de mediadores inflamatórios resulta em um aumento da permeabilidade vascular e recrutamento de células inflamatórias que causarão inflamação do tecido local. A hipersensibilidade causa um dano tissular secundário a uma resposta inflamatória exagerada. Estas reações podem ser em resposta a um 7 DE ABRIL DE 2016 QUESTÕES Antes de continuar, tente responder as seguintes perguntas. As respostas estão no final do artigo, juntamente de sua justificativa. Por favor, responda Verdadeiro ou Falso: 1. Sobre as reações de hipersensibilidade do tipo I: a. ‘Indivíduos atópicos’ possuem maior chance de desenvolver uma reação de hipersensibilidade do tipo I b. É necessário uma sensibilização prévia ao antígeno c. Incluem reações anafiláticas d. São mediadas por IgG e. Possuem apenas uma fase de reação 2. Reações Anafilactóides: a. Ocorrem devido a degranulação de mastócitos b. São resultado de uma reação cruzada entre IgE e mastócitos c. São induzidas em todos os indivíduos expostos a substâncias anafilactóides d. Diferenciam-se das reações anafiláticas pela ausência da triptase de mastócitos e. Pode levar a hipotensão durante a indução da anestesia 3. Sobre reações de hipersensibilidade tardias: a. Também são conhecidas como reações de hipersensibilidade tipo IV b. Ocorrem dentro de 2 horas após a exposição ao antígeno c. Compreendem um infiltrado de células T helper e macrófagos d. Podem resultar na formação de um granuloma e. São mais comumente vistas em reações cutâneas Escrever a ATOTW tutoriais visitando www.wfsahq.org/resources/anaesthesia-tutorial-of-the-week ATOTW 328 – Imunologia para Anestesistas Parte 2: Reações de Hipersensibilidade (7 de abril de 2016) Pag 2 of 6 antígeno externo, como pólen, ou uma resposta inapropriada a um patógeno ou ainda contra o tecido do próprio individuo. Reações de hipersensibilidade podem ser classificadas de segundo. A primeira vez que isto foi apresentado como uma classificação foi em 1963 pelos imunologistas Phillip Gell e Robin Coombs e ainda permanece como a classificação de hipersensibilidade mais utilizada. Ela classifica as reações de acordo com o tempo e a etiologia em quarto grupos separados. Embora as classes pareçam ser independentes umas das outras, as reações de hipersensibilidade em geral envolvem mais de um tipo de reação ao mesmo tempo. REAÇÃO DE HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO I 1,2,3 Reações de hipersensibilidade do tipo I também são conhecidas como reações imediatas e são vistas na anafilaxia, asma alérgica e eczema. O indivíduo deve ter sido sensibilizado pelo antígeno previamente para correr o risco de desenvolver uma reação destas. A primeira exposição produziria imunoglobulinas E (IgE) específicas ao antígeno, então uma memória para esta IgE é guardada pelas células de memória. A hipersensibilidade acontece na exposição subsequente ao antígeno, em que induz-se grande produção de IgE, que por sua vez irá se ligar aos receptores Fcε dos mastócitos. A interação dos mastócitos ligados a IgE com o antígeno induz a sua degranulação e libera mediadores inflamatórios. Mastócitos contem histamina. Quando eles degranulam, a histamina liberada causa aumento da permeabilidade vascular e vasodilatação que contribuem para o efeito imediato visto em reações de hipersensibilidade do tipo I. Outros fatores liberados pela degranulação são quimiotáticos, responsáveis pelo aumento de eosinófilos e basófilos na circulação, assim como fatores de ativação plaquetária,que contribuirão para as mudanças vasculares vistas nestas reações. Embora descrita como reação de hipersensibilidade imediata, estas reações em geral possuem componentes mais lentos, que ocorrerem de 4 a 6 horas depois. Estas reações mais demoradas possuem duas etiologias: a síntese de leucotrienos e prostaglandinas, que possuem propriedades vasoativas semelhantes à histamina e a liberação de interleucina-4 pelas células T helper 2 (Th2), resultando em um recrutamento ainda maior de células inflamatórias. Este secundo pico da reação é conhecido como a fase tardia e pode durar até 24 horas após a exposição. O uso de corticosteroides na fase imediata irá reduzir ou eliminar esta reação secundária. Figura 1: Diagrama representando a reação de hipersensibilidade tipo I 1) Primeira exposição ao antígeno 2) IgE para o antígeno é produzido e a memória para ele é guardada 5) O mastócito ativado degranula, liberando histamina e outros compostos vasoativos 4) O antígeno liga-se ao IgE do mastócito ativando-o 3) Exposição subsequente ao antígeno resulta em uma produção maciça de IgE que liga-se ao receptor Fc dos mastócitos Escrever a ATOTW tutoriais visitando www.wfsahq.org/resources/anaesthesia-tutorial-of-the-week ATOTW 328 – Imunologia para Anestesistas Parte 2: Reações de Hipersensibilidade (7 de abril de 2016) Pag 3 of 6 Anafilaxia 1,3,5 A maioria das reações do tipo I ocorrem localmente como resultado da produção de IgE por inalação ou ingestão de antígenos como pode ser visto em alergia a pólen ou alimentos. Anafilaxia é o exemplo mais dramático de uma reação de hipersensibilidade tipo I que resulta de uma disseminação sistêmica do antígeno. O tempo de curso para a anafilaxia depende da forma com que o antígeno foi recebido. Se for de forma sistêmica para um individuo sensibilizado, por exemplo, através uma picada de abelha ou droga endovenosa, anafilaxia ocorre rapidamente. Quando o antígeno é absorvido através da pele ou trato gastrointestinal, o inicio dos sintomas anafiláticos pode ser mais lento, como em uma alergia ao látex ou amendoim. Independente do tempo, o mecanismo subjacente das anafilaxias é os mesmo. A patologia deve-se a uma degranulação maciça seguida de uma disseminação da histamina liberada após a exposição ao antígeno em um indivíduo sensibilizado. A histamina causa contração dos músculos lisos, aumento da permeabilidade vascular e vasodilatação que resultam nos sinais clássicos vistos na anafilaxia como rash urticarial, broncoespasmo, inchaço facial e colapso cardiovascular. O uso de adrenalina pode antagonizar os efeitos da histamina ao agir nos receptores alfa e beta, causando respectivamente vasoconstrição e bronco dilatação. A adrenalina também ajuda a reduzir a permeabilidade vascular Reações anafilactóides 1,3 Uma questão comum a ser apresentada em exames é a diferença entre as reações anafiláticas e anafilactóides. As reações anafilactóides são reações semelhantes às anafiláticas, também resultam da degranulação de mastócitos e disseminação da histamina liberada. Porém, nestas reações o estímulo inicial aos mastócitos não depende da interação com o IgE ligado ao antígeno. Ao invés disto, os mastócitos são estimulados diretamente por certas substâncias. Exemplos de substâncias anafilactóides incluem amidos dextranos, fluoresceína e contrastes radiopacos. Entretanto, estas reações não ocorrem em todos os indivíduos expostos a estes compostos. Reações anafilactóides podem ser responsáveis por casos de colapso cardiovasculares severos durante a anestesia; entretanto, o tratamento para ambas, reações de anafilaxia e anafilactóide, é o mesmo, e os protocolos para seu manuseio devem ser seguidos. O uso o teste de triptase de mastócitos irá apenas confirmar a degranulação dos mesmos, não mostrando nenhuma diferença entre as duas. Se há suspeita de ração anafilactóide, é preciso procurar ajuda de um expert em imunologia e excluir anafilaxia. Atopia1,4 Alguns indivíduos são mais propensos a doenças alérgicas que outros devido a uma predisposição própria a atopia. Como discutido no tutorial anterior, células Th2 estão envolvidas na ativação de células B que produzirão imunoglobulina e podem aumentar a produção de IgE. Indivíduos atópicos possuem uma alteração no balanço de células T helper e predomínio da resposta Th2. Isto leva a uma tendência intrínseca a produção de IgE a antígenos externos comuns, portanto, estes indivíduos estão mais propensos a experimentar reações de hipersensibilidade tipo I como asma, eczema e até anafilaxia. REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE TIPO II 1,3 Reações de hipersensibilidade tipo II são consideradas mediadas por anticorpos. Elas ocorrem quando um anticorpo ou imunoglobulina é produzida em resposta a um antígeno não danoso, resultando em uma reação imunológica indesejada. Como discutido no tutorial I, imunoglobulinas são vitais para proteção contra patógenos externos; elas opsonizam células para posterior destruição pelos leucócitos, além de recrutar mais células da resposta imune, resultando em uma reação inflamatória. Elas podem ocorrer quando as células B que produzem imunoglobulinas contra células nativas não são destruídas durante seu desenvolvimento. Quando isto ocorre, os indivíduos correm o risco de desenvolver alguma doença autoimune, podendo ser em um órgão específico ou anemia hemolítica autoimune. O exemplo de doença autoimune em órgão específico devido a reação de hipersensibilidade tipo II é a Síndrome de Goodpasture. Nesta condição, anticorpos são produzidos contra colágeno tipo IV, encontrado nas membranas dos pulmões e no glomérulo. A ligação do anticorpo ao colágeno induz a inflamação e subsequente dano a membrana basal, deixando-a não funcional. Outros exemplos de doenças autoimunes por reação do Tipo II são anemia hemolítica autoimune, em que há anticorpos específicos para antígenos de eritrócitos e miastenia graves, em que anticorpos são produzidos contra receptores de acetilcolina. A destruição de ambos os alvos ocorrem, acarretando em anemia e fraqueza neuromuscular, respectivamente. Algumas reações do tipo II ocorrem em resposta a antígenos externos ou células transfundidas ou transplantadas. Nestes casos, embora não desejada, esta reação ocorre devido a um sistema imunológico funcionante. O risco da rejeição em transplantes e transfusões é reduzido ao comparar o tecido do doador e do receptor. Escrever a ATOTW tutoriais visitando www.wfsahq.org/resources/anaesthesia-tutorial-of-the-week ATOTW 328 – Imunologia para Anestesistas Parte 2: Reações de Hipersensibilidade (7 de abril de 2016) Pag 4 of 6 Figura 2: Reação de Hipersensibilidade tipo II. A presença de antígeno estimula células B específicas. A células B passa por uma expansão clonal e produz uma grande quantidade de imunoglobulina contra o antígeno. Ao ligar-se ao antígeno, a imunoglobulina leva a célula a destruição pela NK ou complemento. REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE TIPO III 1, 3 Reações de hipersensibilidade do tipo III ocorrem pelo depósito de complexos imunológicos, o que resulta em uma ativação complementar e inflamação. Por esta razão, elas também são conhecidas como reação de hipersensibilidade mediada por complexos imunes. Em um indivíduo saudável, os complexos antígeno:anticorpo são mantidos como complexes solúveis no sangue pelas proteínas C2 e C4 do sistema complemento. Estes complexos imunes ligam-se a receptores do complemento ou de células vermelhas, permitindo seu transporte até o baço, onde os complexos serão removidos e destruídos. A patologia pode ser percebida quando a produção de complexos é maior que o clearance. Quando há produção excessiva de complexos imunes, pode ocorrer precipitação. Isto leva a ativação do complemento, recrutamento de células imunológicas e dano tecidual pela liberação de mediadores inflamatórios e radicais livres. As áreas afetadaspela precipitação dos complexos costumam ser locais de filtração, como os glomérulos, sinóvias e a membrana basal epidermal. Alguns indivíduos são mais propensos a terem uma reação de hipersensibilidade tipo III; isto pode ser devido a tendências intrínsecas ou pelo processo de doenças prévias. Tendências inerentes devem-se a deficiência das proteínas C2 e C4 do complemento, o que aumenta a precipitação por diminuir a solubilidade dos complexos. Lupus Eritematoso Sistêmico (LES) é um exemplo de doença pré-existente com risco aumentado de reação de hipersensibilidade tipo III. Isto pode ser devido a redução de receptores de células complemento em suas células vermelhas, levando a uma diminuição do clearance. Em alguns casos de hipersensibilidade tipo III, a patologia é induzida por uma alta carga antigênica. Isto é visto em Alveolite Alérgica Extrínseca ou Pulmão de Fazendeiro, em que a inalação de partículas de lixo orgânico produzem uma grande quantidade de complexos imunes nos pulmões, causando inflamação alveolar. Como mencionado, os glomérulos são locais comuns para a reação de hipersensibilidade tipo III devido a sua função de filtrar o plasma. Existem inúmeras formas de o complexo imune danificar o glomérulo, porém a mais comum é a nefropatia por IgA ou doença de Berger. Esta é o resultado da deposição de complexos com IgA no mesângio dos glomérulos. A deposição de complexos imunes também é responsável pelo dano renal visto em glomerulonefrite pós-estreptocócica e LES. A púrpura de Henoch-Schönlein é uma doença sistêmica caracterizada por vasculite, rash, dor nas articulações, dor abdominal e ocasionalmente glomerulonefrite. Esta condição também é resultado de reações de hipersensibilidade tipo II e aparece pela deposição disseminada de IgA contendo complexos. Outras doenças cujas condições devem-se a reações de hipersensibilidade tipo III incluem artrite reumatoide, na qual os complexos imunes se depositam na sinóvia das articulações e dermatite herpetiforme, a qual causa bolhas na pele devido a deposição de IgA com complexo na derme. Antígeno Plasmócitos Célula Expan- são da célula B Célula lisada A imunoglobulina liga-se ao antígeno para destruição da célula mediada pelo complemento ou pela citotoxicidade da NK Célula NK Escrever a ATOTW tutoriais visitando www.wfsahq.org/resources/anaesthesia-tutorial-of-the-week ATOTW 328 – Imunologia para Anestesistas Parte 2: Reações de Hipersensibilidade (7 de abril de 2016) Pag 5 of 6 Figura 3: Patogênese da reação de hipersensibilidade tipo III. REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE TIPO IV 3,4,5 As reações de hipersensibilidade tipo IV surgem através de reações estimuladas por antígenos específicos de Células T. Estas reações podem levar mais de 12 horas para se desenvolver e, portanto também são conhecidas como reações de hipersensibilidade tardias. Tipicamente estas reações ocorrem após o contato de um antígeno sensibilizante com a pele, em que os efeitos são visualizados como dermatite de contato. O antígeno é pego no local por células da resposta inata, como macrófagos, que então agem como apresentadoras de antígenos e ativam células T CD4+ específicas para os antígenos. As células T ativadas desta forma tendem a adotar um perfil de Th1 e migrar para a área com alta concentração de antígenos, onde liberam citocinas inflamatórias como interferon-γ (IFN-γ), IL-1, IL-2 e IL-6. O resultado das citocinas é inflamação local pelo aumento da permeabilidade vascular e pela migração e ativação de outras células. Se o contato não for persistente, o pico da reação tende a ser em 24-48 horas. Se for prolongada, o processo inflamatório em andamento pode resultar na formação de um granuloma caracterizado por células gigantes multinucleadas vindas da fusão de macrófagos. Reações granulomatosas levam semanas para serem resolvidas. Nem todas as reações do tipo IV ocorrem de forma cutânea. O mesmo mecanismo parece contribuir para o desenvolvimento de diabetes tipo I e esclerose múltipla, nas quais atacam-se células β do pâncreas e a mielina. Como doenças granulomatosas, é comum que estas reações estejam envolvidas na doença de Crohn. Figura 4: Patologia da reação de Hipersensibilidade IV cutânea. 4 1) Imunocomplexos formados por antígenos solúveis e imunoglobulinas livres 2) Imunocomplexos são depositados no endotélio resultando em recrutamento de células imunes 3) Deposição dos complexos resulta em inflamação local Antígeno na circulação Endotélio Célula B Plasmócito Imunoglobulina livre Complexo imunoglobulina:anticorpo Complexo imunológico Célula Inflamatória Necrose fibrinóide Complemento Neutrófilo horas 1) 1) O antígeno passa o tecido subcutâneo, é processado e então apresentado por células como macrófagos 2) Células Th1 reconhecem o antígeno apresentado e liberam citocinas inflamatórias 3) A liberação de citocinas resulta no aumento da permeabilidade vascular e recrutamento de fagócitos e células T para o local. É o que causa a inflamação vista localmente Escrever a ATOTW tutoriais visitando www.wfsahq.org/resources/anaesthesia-tutorial-of-the-week ATOTW 328 – Imunologia para Anestesistas Parte 2: Reações de Hipersensibilidade (7 de abril de 2016) Pag 6 of 6 SUMÁRIO Um entendimento básico do processo imunológico das reações de hipersensibilidade não irá apenas ajudar na preparação para os exames, mas também na prática diária. Estas reações podem se manifestar como uma pequena reação do tipo IV por um curativo adesivo, ou uma reação anafilática severa a drogas administradas sistemicamente. A Classificação de Gell e Coombs é uma descrição útil das quadro etiologias diferentes subjacentes as patologias vistas nas reações de hipersensibilidade. Estes processos nem sempre se devem a uma desordem do sistema imunológico e, portanto algumas reações necessitam de prevenção com agentes imunossupressores – por exemplo, doença autoimune ou prevenção de rejeição em um transplante. Embora a classificação descreve-as como entidades separadas, na realidade múltiplas etiologias podem contribuir para a apresentação clinica. MCQ RESPOSTAS 1. a) Verdadeira: Reações de hipersensibilidade tipo I são mais comuns em indivíduos atópicos b) Verdadeira: Reações de hipersensibilidade tipo I necessitam de sensibilização prévia ao antígeno c) Verdadeira: Anafilaxia é bem descrita como uma reação de hipersensibilidade tipo I d) Falsa: Reações de hipersensibilidade tipo I são mediadas por IgE e) Falsa: Reações de hipersensibilidade tipo I possuem uma fase imediata e uma tardia 2. a) Verdadeira: Reações anafilactóides ocorrem devido a degranulação de mastócitos b) Falsa: Reações anafilactódies não dependem de IgE c) Falsa: Reações anafilactódies só ocorrem em indivíduos expostos a certos gatilhos d) Falsa: O aumento da triptase dos mastócitos confirma que houve degranulação e pode ocorrer tanto em uma reação anafilática quanto em uma reação anafilactóide e) Verdadeira: Reações anafilactóide podem ser a causa de hipotensão severa na indução da anestesia 3. a) Verdadeira: Reações de hipersensibilidade tardias também são chamadas de reações de hipersensibilidade tipo IV b) Falsa: Reações de hipersensibilidade tardias atingem seu pico de 24 a 48 após a exposição c) Verdadeira: Reações de hipersensibilidade tardias compreendem um infiltrado de células T helper e macrófagos d) Verdadeira: Reações de hipersensibilidade tardias podem resultar na formação de um granuloma e) Verdadeira: Reações de hipersensibilidade tardias são mais comumente vistas como reações cutâneas REFERÊNCIAS 1) Chapel H, Haeney M, Misbah S, Snowden N; Essentials of Clinical Immunology, 6th Ed. Oxford, Wiley- Blackwell, 2014 2) Male, D; Immunology: An Illustrated Outline, 3rd Ed. London, Mosby-Wolfe, 1998. 3) Todd I, Spickett G; Lecture Notes Immunology, 6th Ed. Oxford, Wiley-Blackwell,2010 4) Murphy K, Travers P, Walport M; Immunobiology, 7th Ed. New York, Garland Science, 2008. 5) Male D, Brostoff J, Roth D, Roitt I; Immunology, 7th Ed. Philadelphia, Mosby Elsevier, 2006. This work is licensed under the Creative Commons Attribution-NonCommercial 3.0 Unported License. To view a copy of this license, visit http://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/ Ciências Morfofuncionais dos Sistemas Imune e Hematológico Enigmas do câncer Profa. Dra. Cristiane M. Leite • Unidade de Ensino: 4 • Competência da Unidade: Compreender e compreender as características de crescimento, de metástase e principais vias de disseminação do câncer; conhecer a nomenclatura das neoplasias, bem como seus aspectos epidemiológicos, métodos de diagnóstico e de tratamento. • Resumo: Conceitos sobre as neoplasias; aspectos macro e microscópicos das neoplasias benignas e malignas; características de crescimento, de metástase e vias de disseminação; nomenclatura dos tumores e aspectos epidemiológicos; carcinogênese; métodos de diagnóstico e de tratamento das neoplasias. • Palavras-chave: neoplasia benigna, neoplasia maligna, agente carcinogênico, carcinogênese, metástase. • Título da Teleaula: Enigmas do câncer • Teleaula nº: 4 Abertura • Neoplasias: tipos e características gerais; • Nomenclatura das neoplasias; • Metástase; • Agentes carcinogênicos; • Carcinogênese; • Epidemiologia do câncer; • Rastreamento e estadiamento das neoplasias; • Diagnóstico e tratamento das neoplasias. Características e nomenclatura das neoplasias Neoplasia • Não obedece às leis de crescimento celular normal; • Não tem nenhum propósito útil, não ocorre em resposta a um estímulo adequado e continua a crescer à custa do hospedeiro. Distúrbio do crescimento celular desencadeado por uma série de mutações adquiridas que afetam uma única célula e sua progênie clonal. • Lento e localizado; • Sem infiltração nos tecidos adjacentes; • Ocorre compressão do órgão afetado. • Crescimento rápido e autônomo; • Com infiltração nos tecidos adjacentes; • Infiltração pode gerar metástase. Tipos de tumores Fonte: Adaptado de BARBIN (2015) Benigno Maligno Câncer in situ e câncer invasivo Câncer não invasivo ou carcinoma in situ: • Primeiro estágio de classificação do câncer; • As células cancerosas localizam-se somente na camada de tecido na qual se desenvolveram; • Maioria desse tipo de câncer é curável, se tratada antes de progredir para o câncer invasivo. Câncer in situ e câncer invasivo Câncer invasivo: • Células cancerosas invadem outras camadas celulares do órgão, ganham a corrente sanguínea ou linfática e se disseminam para outras partes do corpo. Fonte: Adaptado de INCA (2011). Nomenclatura para tumores benignos • Acrescentar o sufixo –oma ao termo que caracteriza o tecido no qual a neoplasia se iniciou. Nomenclatura para tumores malignos 1. Tumores originados de epitélios de revestimento: • Utilizar carcinoma. Ex: carcinoma de células escamosas. Varia de acordo com a origem embrionária dos tecidos no qual se iniciou a neoplasia. Nomenclatura para tumores malignos 2. Tumores de origem mesenquimal: • Utilizar sarcoma, após a indicação do tecido mencionado. Nomenclatura para tumores malignos 3. Tumores de origem em linfócitos ou seus precursores: • Utilizar linfoma. 4. Tumores em células hematopoiéticas: • Utilizar leucemia. Nomenclatura para tumores malignos ATENÇÃO Também é possível complementar a nomenclatura das neoplasias acrescentando as indicações topográficas de sua localização. • Exemplos: • Adenocarcinoma de pâncreas • Osteossarcoma de fêmur Nomenclatura para tumores malignos ATENÇÃO Em alguns casos, alguns cânceres podem ser nomeados com o nome do cientista que o descreveu. • Exemplos: • Sarcoma de Kaposi • Linfoma de Burkitt Metástase Desenvolvimento de uma neoplasia secundária, em uma região distante da neoplasia primária. Disseminação linfática Disseminação hematogênica Canais linfáticos Vasos sanguíneos Agentes carcinogênicos e carcinogênese Paciente, 42 anos, diagnosticada com câncer de mama, relatou que sua mãe havia falecido de câncer de mama aos 49 anos e que sua tia também estava tratando da doença. Afirmou ser tabagista (fuma 20 cigarros por dia), consumir moderadamente bebida alcóolica e ter boas condições alimentares e de higiene. Fonte: Avatar Maker. Qual a relação das informações relatada pela paciente e o carcinoma de mama? Agente carcinogênico Tipos: • Químicos; • Físicos; • Biológicos. Toda e qualquer substância com capacidade de causar câncer. Mutação Danos no DNA Fonte: Modificada de https://cutt.ly/Ut7FCTp. Agente carcinogênico químico • Toda substância química, natural ou sintética, que atue sobre o DNA das células, causando mutações nas mesmas; • Podem ser de ação direta ou de ação indireta. Exemplos: • Hidrocarbonetos policíclicos (fuligem, alcatrão, fumaça do cigarro); • Inseticidas e fungicidas; • Corantes; • Benzeno, entre outros. Agente carcinogênico físico • Radiações ionizantes • Raios X e raios gama • Radiação não-ionizante • Raios ultravioleta • Radiação infravermelha Efeitos dependem: • Dose; • Tempo de exposição; • Predisposição genética; • Idade, entre outros. Agente carcinogênico biológico • Engloba diferentes microrganismos que podem causar alterações no DNA. Vírus Bactéria • Papiloma vírus humano (HPV); • Vírus Hepatite B; • Vírus Epstein-Barr. • Helicobacter pylori. Carcinogênese Etapas: • Iniciação; • Promoção; • Progressão. Processo pelo qual agentes carcinogênicos transformam células normais em células cancerígenas. Fonte: GROSSMAN, Sheila C & PORTH, Carol M. Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Epidemiologia, rastreamento e estadiamento das neoplasias OMSOMS • 7,6 milhões de pessoas no planeta morrem em decorrência da doença a cada ano. • 18 milhões de casos novos de câncer no mundo. Segunda doença que mais mata no mundo No Brasil, estima-se a ocorrência de cerca de 625 mil casos novos por ano. Fonte: Adaptado de INCA (2019). Fonte: https://cutt.ly/Tt7WHQu. Aumento na incidência e mortalidade por câncer estão relacionadas com: • Envelhecimento da população; • Crescimento populacional; • Mudança na distribuição e prevalência dos fatores de risco para o câncer. Incorporação de hábitos e atitudes associados à urbanização (sedentarismo, alimentação inadequada, entre outros). Rastreamento Pode ser feito por meio de: • Observação (pele, boca, genitália externa); • Palpação (mama, tireoide, linfonodos); • Exames e procedimentos laboratoriais (Papanicolau, colonoscopia, mamografia). Medida de prevenção secundária para o reconhecimento precoce do câncer em uma população assintomática. Estadiamento • Utilizado para classificar e avaliar a evolução do câncer; • Ajuda a determinar a escolha do tratamento para indivíduos específicos, estimando o prognóstico e comparando os resultados de diferentes regimes de tratamento; • Sistema TNM é o mais empregado. Critérios do estadiamento (sistema TNM) Tamanho do tumor primário (T): Critérios do estadiamento (sistema TNM) Propagação para linfonodos regionais (N): Critérios do estadiamento (sistema TNM) Metástase a distância (M): Diagnóstico e tratamento das neoplasias Métodos diagnóstico • Determinados em grande parte pela localização e pelo tipo de câncer suspeito; • Diversos procedimentos podem ser empregados no diagnóstico do câncer: Marcadores tumorais • São antígenos expressos na superfície das células tumorais ou substâncias liberadas pelas células normais em resposta à presença de neoplasia; • Utilizados para rastreamento, estabelecimento de prognóstico, monitoramento da terapia e detecção de recidiva. • PSA (antígeno prostático específico); • CA-125 (antígeno do câncer 125); • Beta-2-microglobulina, entre outros.Métodos citológicos e histológicos Exame de Papanicolau: método citológico para detecção de células cancerígenas. Fonte: https://cutt.ly/8t5y8Z4. Fonte: https://cutt.ly/Jt5uh4E. Métodos citológicos e histológicos 2. Biópsia do tecido: remoção de uma amostra de tecido para estudo microscópico. • Biopsia com agulha de aspiração • Por métodos endoscópicos ou métodos laparoscópicos. • Biópsia por excisão. Fundamental no diagnóstico correto e na histologia do câncer. Métodos citológicos e histológicos 3. Imuno-histoquímica: uso de anticorpos para facilitar a identificação de produtos ou marcadores de superfície celular. Também pode ser usada para: • Determinar o local de origem de neoplasias metastáticas; • Detectar moléculas com significado prognóstico ou terapêutico. Métodos citológicos e histológicos 4. Microarranjos (Microarray): detectam e quantificam a expressão de um grande número de genes. • Identificação do tipo neoplasia; • Possível prever o prognóstico e reposta terapêutica. Tratamento do câncer 1. Cirúrgico: • Utilizado para diagnóstico, estadiamento, remoção da neoplasia e como paliativos (alívio dos sintomas) quando a cura não pode ser alcançada. 2. Radioterapia: • É o método mais utilizado; • Pode ser empregada como método primário ou como tratamento adjuvante. Tratamento do câncer • Utiliza partículas ou ondas de alta energia para destruir ou danificar as células cancerígenas; • A dose de radiação escolhida para o tratamento é determinada por fatores como: radiossensibilidade do tipo de neoplasia, tamanho da neoplasia e a tolerância dos tecidos circundantes. Tratamento do câncer Efeitos adversos da radioterapia: • Danos à células normais localizadas na área de tratamento; • Fadiga; • Pode ocorrer anorexia, náuseas, vômitos e diarreia; Supressão da medula óssea, causando redução do número de leucócitos, plaquetas e hemácias; • Reações cutâneas. Tratamento do câncer 3. Quimioterapia: • É um tratamento sistêmico, que contribui para que os medicamentos alcancem o local da neoplasia e outras áreas distantes. Ação dos quimioterápicos: • Impedem o crescimento e a replicação das células. Tratamento do câncer Efeitos adversos da quimioterapia: • Supressão da medula óssea, levando à neutropenia, anemia e trombocitopenia; • Anorexia, náuseas e vômitos; • Alopecia, geralmente temporária; • Alterações no fluxo menstrual e/ou amenorreia; • Oligospermia e azoospermia; • Efeitos teratogênicos ou mutagênicos. Fechamento • Neoplasias: tipos e características gerais; • Nomenclatura das neoplasias; • Metástase; • Agentes carcinogênicos; • Carcinogênese; • Epidemiologia do câncer; • Rastreamento e estadiamento das neoplasias; • Diagnóstico e tratamento das neoplasias. Rev Bras Med Trab. 2019;17(2):254-9 254 Recebido: 11/07/2018 Aceito: 26/06/2019 Fonte de financiamento: nenhuma COMUNICAÇÃO BREVE RESUMO | Os objetivos do artigo são apresentar uma lista de agentes carcinogênicos selecionados como prioritários para as ações de saúde do trabalhador no Brasil e descrever seu processo de validação. Foi realizada revisão bibliográfica sobre o tema, com o levan- tamento dos principais agentes carcinogênicos utilizados nas atividades ocupacionais no Brasil, a classificação de carcinogenicidade segundo a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) e respectivos tipos de câncer, considerando o contexto brasileiro, com validação e revisão final por especialistas. A lista final inclui agentes carcinogênicos, estabelecidos ou prováveis, presentes nos processos produtivos de algumas atividades econômicas no Brasil e fornece orientação para futuros estudos da carga do câncer por atividades econômicas. Palavras-chave | exposição ocupacional; câncer ocupacional; vigilância; carcinógenos. ABSTRACT | The aims of the present study were to assemble a list of carcinogens considered as having high priority for occupational health actions in Brazil and to describe the process followed to validate it. Through a literature review we retrieved the main carcin- ogens used in production activities in Brazil, the carcinogenicity classification developed by the International Agency for Research on Cancer (IARC) and corresponding types of cancer relevant within the Brazilian context. The list thus assembled was reviewed and validated by an expert panel. It includes known and suspected carcinogens found in the production process of some industries in Brazil, and might serve as orientation for future studies on the burden of occupational cancer. Keywords | occupational exposure; occupational cancer; surveillance; carcinogens. 1Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2Departamento de Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, Ministério da Saúde – Brasília (DF), Brasil. DOI: 10.5327/Z1679443520190289 Estabelecimento de agentes e atividades ocupacionais carcinogênicas prioritárias para a vigilância em saúde no Brasil High-priority carcinogenic occupational agents and activities for health surveillance in Brazil Raphael Mendonça Guimarães1 , Daniela Buosi Rohlfs2 , Karla Freire Baêta2 , Renan Duarte dos Santos2 http://orcid.org/0000-0003-1225-6719 http://orcid.org/0000-0001-6967-0852 http://orcid.org/0000-0002-9220-9324 http://orcid.org/0000-0001-9461-7594 Rev Bras Med Trab. 2019;17(2):254-9 255 Carcinógenos ocupacionais e vigilância no Brasil INTRODUÇÃO Nos países em desenvolvimento, as preocupações de saúde pública mais urgentes costumam ser as doenças transmissí- veis, em função da sua prevalência na população e por servir de indicador da etapa da transição epidemiológica em que o país se encontra. Nesse processo, as doenças transmissíveis vão gradativamente dando espaço às não transmissíveis, e o avanço da transição é indicador do desenvolvimento social daquele lugar1. Entre aquelas não transmissíveis, o câncer tem demonstrado gradual crescimento, o que tem levado os estudiosos da área de saúde pública a procurar compreender melhor sua gênese e suas relações com o mundo do trabalho. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) avaliou, nos últimos anos, mais de 900 agentes e classificou mais de 400 como definitivamente carcinogênicos ou suspeitos de potencial cancerígeno. Destes, 168 agentes individuais e 12 situa- ções de exposição (determinados empregos ou indústrias) são encontrados em ambientes ocupacionais2. Portanto, muitos estudos epidemiológicos sobre as propriedades carcinogênicas de vários agentes ocorrem em ambientes ocupacionais, onde as exposições costumam ser mais altas do que no ambiente geral. A despeito disso, um grande desafio na prevenção do câncer relacionado ao trabalho é a falta de conhecimento do local onde estão ocorrendo exposições cancerígenas e de quantos traba- lhadores são afetados. No início dos anos 2000, Siemiatycki et al.3 realizaram uma ampla codificação e revisão de situações de exposição a carcinógenos ocupacionais. Além disso, a iniciativa CARcinogen EXposure (CAREX) foi criada, em colaboração com a IARC, para estimar o ônus dos fatores ocupacionais no câncer4. Nos últimos anos, essa iniciativa tem sido replicada em diversos países, atendendo também a especificidades locais, como a estratificação por sexo e a proposta de abordagens alternativas para estimar a exposição a agrotóxicos. No Brasil, o Ministério da Saúde, por meio de áreas técnicas especializadas, tem procurado dimensionar os fatores ocupa- cionais e ambientais do câncer e intervir neles, gerando proce- dimentos de vigilância em saúde. Nessa direção, um marco importante foi a elaboração de diretrizes sobre o câncer no que se refere ao trabalho que servissem de subsídios para o Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente para a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador. A proposta das Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho surgiu de uma demanda do Ministério daSaúde, para apoiar as ações dos Centros de Referências Especializados em Saúde do Trabalhador nas questões associadas ao benzeno. Houve, desde então, expansão do escopo das diretrizes, que se tornaram um guia prático sobre o câncer, considerando a contribuição dos diversos agentes cancerígenos presentes nos ambientes e processos de trabalho, e de fácil aplicabilidade para fins de vigilância em saúde do trabalhador nos órgãos municipais, estaduais e federais5. Do ponto de vista político, é importante estabelecer prio- ridades de atuação por parte do Ministério da Saúde brasi- leiro, com enfoque em ações de vigilância e prevenção para além da contribuição técnica, fornecidas por essas diretrizes. Destaca-se ainda a necessidade de orientar as ações desen- volvidas no âmbito dos ambientes de trabalho para evitar a exposição a cancerígenos ocupacionais, igualmente rele- vantes para o controle do câncer. No entanto, no universo de circunstâncias de exposição e de cânceres relacionados ao trabalho, faz-se relevante elencar prioridades nacionais, tendo em vista as especificidades do perfil das atividades produtivas no país e as peculiaridades dos processos de trabalho potencialmente perigosos aos trabalhadores. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é apresentar uma lista de agentes carcinogênicos selecionados como prioritários para as ações de saúde do trabalhador no Brasil. MÉTODO A metodologia para escolha das circunstâncias de expo- sição ocupacional prioritárias é uma adaptação do modelo CAREX4. Com base nisso, os critérios utilizados resumem-se a três aspectos: se há evidência de que a substância ou ativi- dade é carcinogênica; se a substância ou atividade é classificável como ocupacional; e se a substância ou atividade é presente no Brasil. A etapa inicial consistiu em revisão conduzida por protocolo sistematizado, contudo não foi realizada revisão siste- mática, uma vez que a orientação da revisão não é compatível a um objeto desse tipo de revisão (já que não se trata de uma única localização de câncer ou um único fator de risco). Nesses termos, para responder à primeira pergunta, considerou-se a lista de carcinógenos, com sua devida classificação, elaborada pela IARC. A IARC classifica, em suas monografias, agentes reconhecida ou potencialmente cancerígenos, além de mais 12 atividades econômicas que por si só configuram o risco. Foram então incluídos os agentes e atividades presentes nos grupos classificados como definitivamente (grupo 1), Guimarães RM, et al. Rev Bras Med Trab. 2019;17(2):254-9 256 provavelmente (grupo 2a), e possivelmente (grupo 2b) carci- nogênicos. Vale dizer que essa decisão foi considerada estra- tégica, tendo em vista que há compostos estabelecidos como prioritários no âmbito da vigilância em saúde ambiental e saúde do trabalhador no Brasil, como os agrotóxicos, que, por sua vez, são incluídos, de acordo com o princípio ativo, nos grupos 2a ou 2b. Nesse caso, a fim de ir ao encontro da política em vigor, optou-se por tornar o critério de seleção mais sensível. Em seguida, foram considerados os agentes e atividades que tivessem relação direta com processos produtivos. Para isso, foi consultado um painel de especialistas a fim de validar as escolhas realizadas pelos autores. Esse painel foi constituído de um especialista em saúde do trabalhador, dois especia- listas em oncologia e epidemiologia, dois especialistas em epidemiologia, um especialista em epidemiologia e saúde do trabalhador e um especialista nas três áreas. Foram levados em conta aspectos teórico-metodológicos que subsidiassem as classificações realizadas. Considerou-se, para a avaliação, o relato do perfil profissiográfico dos grupos ocupacionais, bem como a experiência prévia dos especialistas em situa- ções específicas de distintos processos de trabalho, como o trabalho rural ou aquele desenvolvido com solventes. Os grupos formados e as substâncias incluídas foram aqueles em que houve concordância por todos os espe- cialistas. Foram, portanto, excluídos fatores relacionados à dieta, à atividade física, à atividade hormonal e a agentes infecciosos. Finalmente, para considerar se a substância ou atividade era relevante no contexto brasileiro, consultou- se a base de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), bem como a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), de maneira que foram inseridas as atividades em que há prevalência maior que 1% no país. Dessa forma, elaborou-se a listagem final das prioridades de monitoramento para o câncer relacionado ao trabalho. Enfim, ressalta-se que, por não se tratar de pesquisa que envolve seres humanos, este estudo fica isento de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa. RESULTADOS O processo inicial para elaboração da lista proposta foi levantar o estado da arte do potencial carcinogênico nas mono- grafias editadas pela IARC, bem como metanálises publicadas para esse fim. O resultado desse levantamento encontra-se descrito no Quadro 1. Essa lista aponta, com base no conheci- mento atual, para as principais atividades em que há exposição a pelo menos uma substância potencial ou definitivamente cancerígena e as principais substâncias de exposição ocupa- cional associadas a pelo menos uma localização de câncer. Com essa informação, foi possível selecionar substân- cias prioritárias, considerando dois principais fatores: o número de localizações associadas definitiva ou provavel- mente a essa exposição; a potencial prevalência de traba- lhadores expostos a essa condição. Em seguida, foi possível chegar a um consenso sobre como reagrupá-las, para que se pudesse avaliar a pertinência da criação de estratégias de monitoramento haja vista esses novos grupos. O Quadro 2 descreve a lista final com os grupos criados com base nas substâncias ou circunstâncias carcinogênicas. Ao final, o produto final dessa experiência de classificação sugere uma lista composta de sete grupos, contendo 43 ativi- dades e substâncias com potencial carcinogênico presentes nos processos produtivos de maior prevalência no Brasil. Do ponto de vista da política, essa lista de prioridades permitirá melhor focalização das atividades regulatórias, como a definição de padrões de exposição, a aplicação de regulamentos e a imple- mentação de proibições na importação ou no uso desses agentes. DISCUSSÃO A priorização e classificação de carcinógenos ocupacio- nais são necessárias para uma série de objetivos, incluindo pesquisa, alocação de recursos e estimativas de carga de doença do câncer ocupacional, todas elas como parte dos esforços profissionais de prevenção do câncer e intervenção dos fatores de risco1. De fato, os cânceres ocupacionais e os fatores de risco associados são revisados em numerosos textos sobre medicina do trabalho, toxicologia, saúde ambiental e higiene ocupacional2,5, no entanto a maioria desses textos baseia-se na experiência das populações nos países desen- volvidos3. Portanto, resumir informações sobre um campo tão amplo como o câncer relacionado ao trabalho nos países em desenvolvimento, para fins de políticas públicas, é uma tarefa ambiciosa, porém fundamental. É importante perceber que a lista de prioridades não abrange todos os agentes nem todas as circunstâncias carci- nogênicas ocupacionais. Em muitos casos, foram priori- zados os agentes que estão individualmente presentes nas Rev Bras Med Trab. 2019;17(2):254-9 257 Carcinógenos ocupacionais e vigilância no Brasil Potencial carcinogênico Circunstâncias da exposição Substâncias Atividades Definitivamente 2-naftilamina; Cabeleireiros e barbeiros; Carpintaria; Cimenteiras; Fabricação de auramina; Fabricação de isopropanol; Fabricação de magenta; Fabricação de mobiliário e gabinete; Fabricação e reparação de botas e calçados; Fiação de juta; Fundição de ferro e aço; Gaseificação do carvão; Indústria de borracha; Indústria de refinamento de níquel; Lavagem a seco; Madeireira; Mineração de
Compartilhar