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Prévia do material em texto

2019
1a Edição
Literatura OcidentaL i
Prof.ª Raquel da Silva Yee
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Raquel da Silva Yee
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
Y42l
 Yee, Raquel da Silva
 Literatura ocidental I. / Raquel da Silva Yee. – Indaial: UNIASSELVI, 
2019.
 182 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0290-7
1. Literatura ocidental. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da 
Vinci.
CDD 809
III
apresentaçãO
Caro acadêmico!
Este livro didático pretende oferecer uma indrodução panorâmica 
à Literatura Ocidental, que servirá para ampliar seu repertório literário 
e embasar seus estudos futuros. Você terá a oportunidade de entrar em 
contato com várias obras representativas da história da literatura no mundo 
ocidental.
O itinerário delineado recorta 27 séculos de práticas literárias 
produzidas na Europa e em grande parte da América. Passaremos por muitos 
textos, de diferentes estilos, épocas e lugares, abarcando os primórdios das 
produções literárias da antiguidade grega e latina, a literatura na Idade 
Média, a literatura entre os séculos XV e XVIII e, finalmente, as primeiras 
manifestações literárias da modernidade. Tendo em vista a impossilidade 
de abarcarmos a amplitude dos escritos elaborados durante esses séculos, 
optamos por priorizar alguns autores e textos, de modo que as reflexões 
apresentadas despertem o interesse por outras leituras e indagações sobre o 
vasto campo da literatura.
Durante o percurso, refletiremos sobre as singularidades dos 
projetos estéticos a partir do estudo dos movimentos literários. Contudo, 
a perspectiva histórica desta disciplina não pretende ser estanque, nem 
arbritária, já que entendemos as expressões artísticas como um organismo 
vivo e dinâmico, intimamente ligadas ao contexto de cada época, refletindo, 
assim, o pensamento político, social e estético do momento em que foram 
produzidas. O que confirma a ideia de que os textos literários e seus temas 
se modificam a longo do tempo e pressupõem uma experiência de leitura 
sempre aberta às inúmeras rotas e (re)descobertas, à medida que a sociedade 
e os leitores igualmente se transformam. Logo, esperamos que você extrapole 
as discussões expostas aqui. 
Este livro didático é, certamente, um convite à fruição, à leitura crítica, 
à linguagem plurissignificativa dos textos literários. Afinal, a literatura 
é capaz de promover encontros prazerosos, interações e discussões mais 
amplas e complexas que estimulam a nossa percepção do mundo, de si, dos 
outros e das relações sociais. Sendo, portanto, indispensável para a formação 
do indivíduo e para o intercâmbio de diferentes línguas e culturas.
Boas leituras!
Prof.ª Raquel da Silva Yee
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
V
VI
VII
UNIDADE 1 – OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL ........................................... 1
TÓPICO 1 – LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS ....................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 POR QUE LER LITERATURA? ......................................................................................................... 4
3 OS CLÁSSICOS E A FORMAÇÃO DO LEITOR ........................................................................... 7
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 10
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 12
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 13
TÓPICO 2 – A LITERATURA GREGA ................................................................................................ 15
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15
2 O PENSAMENTO MÍTICO ................................................................................................................ 16
3 A POÉTICA DE ARISTÓTELES ........................................................................................................ 19
4 GÊNERO ÉPICO .................................................................................................................................. 21
5 GÊNERO DRAMÁTICO .................................................................................................................... 26
5.1 A TRAGÉDIA ................................................................................................................................... 26
5.2 A COMÉDIA .................................................................................................................................... 31
6 GÊNERO LÍRICO ................................................................................................................................. 33
7 A FICÇÃO EM PROSA ....................................................................................................................... 35
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 36
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 37
TÓPICO 3 – A LITERATURA LATINA ............................................................................................... 39
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39
2 A POESIA LATINA ..............................................................................................................................40
3 A PROSA LITERÁRIA ......................................................................................................................... 43
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 46
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 47
TÓPICO 4 – A LITERATURA NA IDADE MÉDIA .......................................................................... 51
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51
2 AS CANCÕES DE GESTA .................................................................................................................. 51
3 A LÍRICA TROVADORESCA ............................................................................................................ 54
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 59
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 60
UNIDADE 2 – A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII .............................................. 63
TÓPICO 1 – O RENASCIMENTO ........................................................................................................ 65
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65
2 RESSONÂNCIAS DA LITERATURA ITALIANA: DANTE, PETRARCA, BOCCACCIO ....... 66
3 TRAVESSIAS LITERÁRIAS: A GESTA DO MAR ........................................................................ 77
3.1 OS LUSÍADAS DE CAMÕES ......................................................................................................... 77
sumáriO
VIII
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 83
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 84
TÓPICO 2 – A ESTÉTICA BARROCA ................................................................................................ 89
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 89
2 DON QUIJOTE DE LA MANCHA: CERVANTES E O ROMANCE MODERNO .................. 90
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 95
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 98
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99
TÓPICO 3 – NOVAS FORMAS DRAMÁTICAS .............................................................................. 105
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 105
2 HAMLET DE SHAKESPEARE ........................................................................................................... 105
3 LOPE DE VEGA E CALDERÓN DE LA BARCA ........................................................................... 108
4 INTERFACES DO CLASSICISMO: ESCOLA DE MULHERES DE MOLIÈRE ...................... 112
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 117
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 118
UNIDADE 3 – LITERATURA E MODERNIDADE .......................................................................... 121
TÓPICO 1 – A LITERATURA DA ILUSTRAÇÃO ............................................................................ 123
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 123
2 PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS ...................................................................... 124
3 AUTORES E OBRAS FUNDAMENTAIS ......................................................................................... 125
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 128
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 129
TÓPICO 2 – A ESTÉTICA ROMÂNTICA .......................................................................................... 131
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 131
2 O MOVIMENTO ROMÂNTICO OCIDENTAL ............................................................................. 131
3 A PROSA ROMÂNTICA..................................................................................................................... 133
4 A POESIA ROMÂNTICA ................................................................................................................... 139
5 O TEATRO ROMÂNTICO ................................................................................................................. 147
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 148
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 149
TÓPICO 3 – REALISMO E NATURALISMO .................................................................................... 151
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 151
2 A LINGUAGEM DO REALISMO ..................................................................................................... 152
3 AUTORES E OBRAS FUNDAMENTAIS ......................................................................................... 152
4 O NATURALISMO ............................................................................................................................... 157
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 161
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 163
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 164
TÓPICO 4 – AS ESTÉTICAS DO FIM DO SÉCULO XIX ................................................................ 167
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 167
2 O PARNASIANISMO .......................................................................................................................... 167
3 O SIMBOLISMO ................................................................................................................................. 169
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 174
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 175
REFERÊNCIAS .........................................................................................................................................177
1
UNIDADE 1
OS PRIMÓRDIOS DA 
LITERATURA OCIDENTAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta desta unidade, você deverá ser capaz de:
• refletir sobre as funções da literatura e as especificidades da linguagem 
literária, bem como sua importância na formação do leitor;
• perceber as amplas significações do conceito de livro clássico; 
• reconhecer as origens e o legado da literatura da Grécia e Roma antigas na 
história da literatura ocidental;
• compreender as transformações estéticas e históricas que impulsionaram 
as primeiras manifestações literárias da Idade Média.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 - LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS
TÓPICO 2 - A LITERATURA GREGA 
TÓPICO 3 - A LITERATURA LATINA
TÓPICO 4 - A LITERATURA NA IDADE MÉDIA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
LITERATURA OCIDENTAL E OS 
CLÁSSICOS
1 INTRODUÇÃO
Em nossa trajetória, buscaremos compreender a literatura como forma de 
manifestação artística que tem fortes vínculos com uma tradição que começou a ser 
construída há muito tempo. Antes de percorrermos obras literárias fundacionais 
da antiguidade clássica, apresentaremos, neste tópico, uma possível definição do 
nosso objeto de estudo, bem como uma discussão que envolve a importância da 
literatura na formação do indíviduo e o papel que ela desempenha na sociedade. 
Em seguida, problematizaremos o conceito de livro clássico, a influência 
duradoura de grandes obras que transformaram o pensamento de seu tempo. 
Munidos dessas reflexões, seguiremos rumo à origem da literatura ocidental na 
Grécia antiga e no mundo romano. 
Posto isso, consideramos importante recuperar o sentido etimológico do 
termo "literatura", proveniente do vocábulo latino littera, que significa letra e está 
atrelado à arte das palavras. Noção moderna que passou a ser denominada, como 
hoje conhecemos, só a partir do fim do século XVIII, visto que, anteriormente, a 
noção clássica de literatura estava ligada, de modo geral, a tudo o que a retórica 
e a poesia produziam, incluindo fiçcão, história, filosofia, ciência e eloquência, 
destaca Compagnon (2010).
O debate sobre literatura vem sendo feito há milênios e varia 
significativamente de acordo com as épocas e as culturas. A noção de literatura 
que perdurou ao longo dos séculos através do sistema dos gêneros poéticos 
dramático, épico e lírico, elaborado segundo as ideias dos filósofos Platão (427-347 
a.C.) e Aristóteles (384 -322 a.C.), passou a ser questionada com o aparecimento 
de novas formas de representação literária que surgiram na Idade Média e 
nos séculos seguintes, como veremos mais detidamente no decorrer de nossas 
discussões.
Diante desses novos (con)textos, a literatura começa a ser compreendida, 
na ampla acepção moderna, como um conjunto diversificado de textos criativos 
que requer do leitor uma capacidade de compreensão e interpretação que não se 
restringe a alguns preceitos. Sendo assim, podemos considerar que a literatura, 
desde suas origens até a atualidade, se caracteriza por suas diversas formas e 
meios. 
Surge, portanto, a ideia de criação literária vinculada à arte, ao exercício 
artístico da linguagem, constituindo-se como um jogo de alternâncias entre o texto 
e o leitor, um espaço aberto de relações que geram novos textos e, por extensão, 
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
4
novas leituras, segundo Roland Barthes (2006). Experimentações que trazem 
à tona as tramas complexas das escrituras, o inusitado manejo da linguagem, 
permitindo ao leitor captar a realidade de uma maneira diferente, mudando 
também a percepção sobre si mesmo e sobre aquilo que está ao seu redor. 
2 POR QUE LER LITERATURA? 
"A literatura nos ensina a melhor sentir, e como nossos sentidos não têm 
limites, ela jamais conclui, mas fica aberta […]". Se uma das funções da literatura 
é nos ensinar "a melhor sentir", como diz Compagnon (2009, p. 66), iniciaremos 
este tópico aguçando os nossos sentidos, participando efetivamente do jogo 
das palavras, experimentando o que as produções literárias têm a nos oferecer. 
Através da leitura do poema do autor brasileiro Manoel de Barros, que segue 
abaixo, passaremos a ampliar nossas reflexões acerca da importância dos textos 
literários. 
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio (BARROS, 1993, p.15).
Experimentar o que os textos literários podem oferecer ao leitor é, sem 
dúvida, uma das melhores maneiras de descobrir "por que ler literatura". A leitura 
do poema de Manoel de Barros mobiliza nossas percepções, suscita sensações 
inusitadas e traz uma série de reflexões sobre o fenômeno literário. Através 
do poema, podemos lidar com o improvável, escutar a "cor dos passarinhos”, 
porque o poeta, assim como o imaginário fértil da criança, estabelece relações 
abstratas e subjetivas com as palavras e os acontecimentos. Isso quer dizer que 
a literatura maneja o discurso, faz um uso peculiar da linguagem, transfigura o 
real, desconstrói padrões convencionais e a racionalidade lógica. 
Assim, na passagem do primeiro verso, "no descomeço era o verbo”, 
podemos perceber que o eu lírico (a “voz que fala” no poema) estabelece uma 
relação intertextual com a Bíblia cristã, com o mito da criação, questionando 
as referências cristalizadas ao longo tempo. Nesse sentido, o "delírio do verbo" 
pode ser entendido como um devaneio, um estado de inquietação, atrelado à 
subversão, à capacidade plurissignificativa da linguagem literária de provocar 
nascimentos, de singularizar as palavras.
TÓPICO 1 | LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS
5
A partir da leitura do poema retomamos, de certa maneira, a definição 
ampla de literatura como arte das palavras, capaz de produzir um efeito estético, 
sensível. Afinal, a literatura está diretamente vinculda às manifestações artísticas, 
à palavra estética, originária do termo grego aisthésis, ao que é perceptível pelos 
sentidos. Entendida de forma mais abrangente, a literatura engloba, segundo o 
crítico literário Antonio Candido:
[…] todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em 
todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde 
o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas 
e difíceis da produção escrita das grandes civilizações. Vista deste 
modo, a literatura aparece claramente como manifestação universal de 
todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem 
que possam viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em 
contato com alguma espécie de fabulação. Assim como todos sonham 
todas as noites, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do 
dia sem alguns momentos de entrega ao universo fabuloso. O sonho 
assegura durante o sono a presença indispensável desse universo, 
independentemente da nossa vontade. E durante a vigília a criação 
ficcional ou poética, que é a mola da literatura em todos os seus níveis 
e modalidades, está presente em cada um de nós, analfabeto ou erudito 
— como anedota, causo, história em quadrinho, noticiário policial, 
canção popular, moda de viola, samba carnavalesco. Ela se manifesta 
desde o devaneio amoroso ou econômico no ônibus até a atenção 
fixada na novela de televisão ou na leitura corrida de um romance. 
Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no 
universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no sentido amplo 
a que me referi parece corresponder a uma necessidade universal, que 
precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito (CANDIDO, 
2011, p. 174).As considerações de Antonio Candido (2011, p. 174) expostas no ensaio O 
direito à literatura nos ajudam a situar a literatura dentro de um conjunto plural de 
construções do imaginário. O crítico associa a necessidade da produção literária ao 
processo inconsciente de elaboração onírica, defendendo que a arte das palavras é 
também um direito humano indispensável. Além de fornecer um prazer lúdico, é 
fonte de conhecimento do real, uma "forma de expressão que manifesta emoções 
e a visão do mundo dos indivíduos e dos grupos". Assumindo, portanto, uma 
função social, um papel importante de humanização, compreendida por Candido 
como:
[…] o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos 
essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a 
boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a 
capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a 
percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. 
A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida 
em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a 
sociedade e o semelhante (CANDIDO, 2011, p. 174).
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
6
É por isso que a atividade literária oral ou escrita, para D'Onofrio (1990, 
p. 10), “é consubstancial à sociedade humana, não existindo povo sem literatura". 
Constatações que também se revelam produtivas nas discussões de Antonie 
Compangnon.
As definições de literatura segundo sua função parecem relativamente 
estáveis, quer essa função seja compreendida como individual ou 
social, privada ou pública. Aristóteles falava de katharsis (catarse), 
ou de purgação, ou de purificação de emoções como o temor e a 
piedade. É uma noção difícil de determinar, mas ela diz respeito a uma 
experiência especial das paixões ligada à arte poética. Aristóteles, além 
disso, colocava o prazer de aprender na origem da arte poética: instruir 
ou agradar, ou ainda instruir agradando, serão as duas finalidades, 
ou a dupla finalidade, que também Horácio reconhecerá na poesia, 
qualificada de dulce et utile (COMPAGNON, 2010, p. 34-35).
Para o autor, as concepções de Aristóteles e Horácio de que a literatura 
deveria ser dulce et utile, ou seja, favorecer o prazer e a formação humana, de 
certa forma, permanecem estáveis ao ressaltarem que o texto literário, dentre 
suas várias funções, tem a capacidade de despertar os sentimentos do autor e 
do leitor. Nessa perspectiva há, portanto, “um conhecimento do mundo e dos 
homens propiciado pela experiência literária (talvez não apenas por ela, mas 
principalmente por ela)”, destaca Compagnon (2010, p. 35).
Em outro momento, sob a provocadora indagação "Literatura para quê?", 
Compagnon (2009, p. 60) reforça a discussão, salientando que a literatura deve 
"ser lida e estudada porque oferece um meio — alguns dirão até mesmo único — 
de preservar e transmitir a experiência dos outros, aqueles que estão distantes de 
nós no espaço e no tempo, ou que diferem de nós por suas condições de vida". 
Sem dúvida, ela é capaz de nos tornar "sensíveis ao fato de que os outros são 
muito diversos e que seus valores se distanciam dos nossos”. 
Reconhecer que a literatura assume um papel transformador passa pelo 
entendimento de que ela desempenha várias funções, incluindo o entretenimento, 
a investigação psicológica, a crítica política, social e ideológica, entre outras 
questões estéticas e filosóficas mais amplas que abarcam as especificidades dos 
textos literários. 
Notadamente, a leitura de poemas, romances, contos, peças teatrais, 
entre outros textos verbais e visuais, possibilita múltiplas experiências. Através 
da literatura somos transportados para lugares inusitados que escapam à nossa 
percepção. Também somos estimulados a refletir sobre a complexidade da 
linguagem, sobre crenças, incertezas, sobre aspirações e conflitos humanos. Ora, 
não é à toa que muitas obras literárias foram consagradas por suas singulares 
reverberações e exerceram um profundo impacto na sociedade. À vista disso, 
veremos, a seguir, outra importante discussão, envolvendo especificamente a 
leitura de livros considerados clássicos.
TÓPICO 1 | LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS
7
3 OS CLÁSSICOS E A FORMAÇÃO DO LEITOR
O estudo da literatura ocidental apresenta uma série de desafios que 
certamente estão vinculados à amplitude e à complexidade do nosso objeto 
de investigação. Vimos que a literatura possui especificidades próprias, que 
se revelam pela maneira como expressa artisticamente determinadas ideias e 
sensações. Daqui em diante, estudaremos várias obras pertencentes ao canône 
literário ocidental, isto é, textos que exercem uma influência particular e fazem 
parte de um conjunto de leituras consideradas importantes para a formação do 
leitor.
O cânone literário, oriundo da palavra grega kanon, significa norma, medida, diz 
respeito aos princípios literários que permitem organizar um conjunto de obras consideradas 
indispensáveis à formação do indivíduo. Designa, ainda, os postulados ou princípios 
doutrinários que norteiam determinada corrente literária (MOISÉS, 2004). São obras de 
referência, denominadas clássicas. De certa forma, o processo de canonização está atrelado 
a interesses dos grupos responsáveis por sua constituição e disseminação. É por isso que 
muitos especialistas em literatura problematizam a formação do cânone, contrariando as 
escolhas arbitrárias fundamentadas em regras que estão a serviço de ideologias hegemônicas 
e incorporando outras formas de manifestações literárias.
NOTA
Diante dessas problematizações, você pode estar se perguntando: Afinal, 
o que podemos chamar de clássicos? 
Na verdade, não há um consenso entre os especialistas sobre o valor de 
uma obra literária. Podemos considerar que um determinado livro se converte 
em clássico quando persiste ao longo do tempo e segue vivo na releitura e na 
imaginação dos leitores, como é o caso dos poemas Ilíada e Odisseia, recitados 
oralmente, que consagraram Homero como o educador dos gregos e, por 
extensão, o modelador da cultura ocidental, segundo Jaeger (2010). Esses 
poemas da Antiguidade Clássica nutriram o pensamento da humanidade, ao 
transmitirem valores culturais através do relato das realizações dos deuses e dos 
antepassados. As diversas traduções e releituras das epopeias homéricas, que 
vão da poesia à prosa, das irreverentes histórias em quadrinhos às modernas 
produções cinematográficas, continuam suscitando indagações críticas sobre o 
homem e o mundo, como já abordado em Yee (2011). Constatações que nos levam 
à outra indagação: Por que será que certas obras se perpetuam, permanecendo 
singulares e enigmáticas?
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
8
Obras como Ilíada e Odisseia, de Homero, a Divina Comédia de Dante 
Alighieri e a narrativa do famoso cavaleiro medieval, criada por Miguel de 
Cervantes em Dom Quixote, foram produzidas por culturas diferentes, em tempos 
tão distantes, e continuam dissipando imagens que povoam o imaginário coletivo. 
São obras que pertencem indiscutivelmene ao cânone, parecem definir um valor 
literário e se revelam uma experiência de leitura enriquecedora, na qual o leitor 
pode experimentar as destrezas e as complexidades da linguagem literária e 
refletir sobre temas inesgotáveis.
No ensaio Por que ler os clássicos, Ítalo Calvino (2007, p. 10-11) levanta 
algumas hipóteses que nos levam a entender que os livros clássicos sempre se 
renovam e têm algo a dizer, e "quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, 
quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos". Vistos 
dessa maneira, os clássicos são responsáveis por gerar uma espécie de "riqueza" 
para o seu leitor, na medida em que proporcionam uma experiência instigante e 
inesquecível, sempre aberta às interpretações. 
Calvino acredita que uma obra não será considerada clássica apenas por 
uma convenção, por uma escolha arbitrária de um grupo de pessoas, e, sim, 
porqueexerce, antes de tudo, "uma influência particular quando se impõem 
como inesquecíveis e quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-
se como inconsciente coletivo ou individual". Ou seja, um clássico amplia 
significativamente nossa experiência de leitura quando passa a fazer parte das 
nossas lembranças ou do imaginário coletivo. Em outra passagem do ensaio 
citado, Calvino reforça que:
7. Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo 
as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços 
que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais 
simplesmente na linguagem ou nos costumes). 
Isso vale tanto para os clássicos antigos quanto para os modernos. 
Se leio a Odisseia, leio o texto de Homero, mas não posso esquecer 
tudo aquilo que as aventuras de Ulisses passaram a significar durante 
os séculos e não posso deixar de perguntar-me se tais significados 
estavam implícitos no texto ou se são incrustações, deformações 
ou dilatações. Lendo Kafka, não posso deixar de comprovar ou de 
rechaçar a legitimidade do adjetivo kafkiano que costumamos ouvir a 
cada quinze minutos, aplicado dentro e fora de contexto. Se leio Pais e 
filhos de Turgueniev ou Os possuídos de Dostoievski não posso deixar 
de pensar em como essas personagens continuaram a reencarnar-se 
até nossos dias (CALVINO, 2007, p. 12).
Ao citar o seu repertório de obras da tradição literária, Calvino destaca a 
influência dos clássicos sobre o pensamento do leitor. As obras instigam, nutrem 
o imaginário, desencadeiam uma série de discussões e correlações. Por essa via, 
entendemos a justificativa do autor de que ler os clássicos é sempre melhor do 
que não os ler. Calvino ainda ressalta que:
TÓPICO 1 | LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS
9
[…] A leitura de um clássico deve oferecer-nos alguma surpresa em 
relação à imagem que dele tínhamos. Por isso, nunca será demais 
recomendar a leitura direta dos textos originais, evitando o mais 
possível bibliografia crítica, comentários, interpretações. A escola e a 
universidade deveriam servir para fazer entender que nenhum livro 
que fala de outro livro diz mais sobre o livro em questão; mas fazem de 
tudo para que se acredite no contrário. Existe uma inversão de valores 
muito difundida segundo a qual a introdução, o instrumental crítico, a 
bibliografia são usados como cortina de fumaça para esconder aquilo 
que o texto tem a dizer e que só pode dizer se o deixarmos falar sem 
intermediários que pretendam saber mais do que ele (CALVINO, 
2007, p. 13).
Significa entender que as instituições de ensino precisam dar a devida 
atenção ao debate sobre a experiência da leitura de textos integrais, privilegiando 
a vivência efetiva com os textos literários em suas dimensões estética, filosófica, 
cultural e histórica. Em face do exposto, talvez você esteja se questionando mais 
uma vez: Será que ainda há espaço para os clássicos na escola? Como preparamos 
os alunos para melhor fruir um texto literário? Respaldados pelas discussões 
apresentadas até aqui, reivindicaremos o espaço para os clássicos na escola. 
Ora, se é possível através da literatura vivermos experiências diversificadas 
e inesquecíveis, cabe ao professor, diante da tarefa desafiadora, despertar a 
curiosidade dos estudantes, instigando o prazer pela leitura desinteressada, 
sem imposição, visando, assim, o enriquecimento do autoconhecimento e 
da percepção de mundo dos leitores. Dessa maneira, os estudantes poderão 
encontrar caminhos para ir mais longe, buscando outras referências, construindo 
um repertório próprio de livros clássicos.
Jorge Luis Borges também se debruçou sobre os significados plurais e 
complexos dos clássicos ao longo do tempo, concebendo o clássico como sendo 
"aquel libro que una nación o un grupo de naciones o el largo tiempo han decidido 
leer como si en sus páginas todo fuera deliberado, fatal, profundo como el cosmos 
y capaz de interpretaciones sin término" (BORGES, 1980, p. 32). Para encerrar 
este tópico convidamos você para apreciar as reflexões de Borges, apresentadas a 
seguir, em língua espanhola, no texto intitulado Sobre los clássicos. 
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
10
SOBRE LOS CLÁSSICOS
Jorge Luis Borges
Escasas disciplinas habrá de mayor interés que la etimología: ello se 
debe a las imprevisibles transformaciones del sentido primitivo de las palabras, 
a lo largo del tiempo. Dadas tales transformaciones, que pueden lindar con lo 
paradójico, de nada o de muy poco nos servirá para la aclaración de un concepto 
el origen de una palabra. Saber que cálculo, en latín, quiere decir piedrecita y que 
los pitagóricos las usaban antes de la invención de los números, no nos permite 
dominar los arcanos del álgebra; saber que hipócrita es actor, y persona, máscara, 
no es un instrumento valioso para el estudio de la ética. Parejamente, para fijar 
lo que hoy entendemos por lo clásico, es inútil que este adjetivo descienda del 
latín classis, flota, que luego tomaría el sentido del orden. (Recordemos de paso la 
información análoga de ship-shape.)
¿Qué es, ahora, un libro clásico? Tengo al alcance de la mano las definiciones 
de Eliot, de Arnold y de Sainte-Beuve, sin duda razonables y luminosas, y me 
sería grato estar de acuerdo con esos ilustres autores, pero no los consultaré. 
He cumplido sesenta y tantos años: a mi edad, las coincidencias o novedades 
importan menos que lo que uno cree verdadero. Me limitaré, pues, a declarar lo 
que sobre este punto he pensado.
Mi primer estímulo fue una Historia de la literatura china (1901) de Herbert 
Allen Giles. En su capítulo segundo leí que uno de los cinco textos canónicos 
que Confucio editó es el Libro de los Cambios o I King, hecho de 64 hexagramas, 
que agotan las posibles combinaciones de seis líneas partidas o enteras. Uno de 
los esquemas, por ejemplo, consta de dos líneas enteras, de una partida y de 
tres enteras, verticalmente dispuestas. Un emperador prehistórico los habría 
descubierto en la caparazón de una de las tortugas sagradas. Leibniz creyó ver en 
los hexagramas un sistema binario de numeración; otros, una filosofía enigmática; 
otros, como Wilhelm, un instrumento para la adivinación del futuro, ya que las 
64 figuras corresponden a las 64 fases de cualquier empresa o proceso; otros, 
un vocabulario de cierta tribu; otros, un calendario. Recuerdo que Xul-Solar 
solía reconstruir ese texto con palillos y fósforos. Para los extranjeros, el Libro 
de los Cambios corre el albur de parecer una mera chinoiserie; pero generaciones 
milenarias de hombres muy cultos lo han leído y referido con devoción y seguirán 
leyéndolo. Confucio declaró a sus discípulos que si el destino le otorgara cien 
años más de vida, consagraría la mitad a su estudio y al de los comentarios o alas.
Deliberadamente he elegido un ejemplo extremo, una lectura que reclama 
un acto de fe. Llego, ahora, a mi tesis. Clásico es aquel libro que una nación o un 
grupo de naciones o el largo tiempo han decidido leer como si en sus páginas todo 
fuera deliberado, fatal, profundo como el cosmos y capaz de interpretaciones sin 
término. Previsiblemente, esas decisiones varían. Para los alemanes y austríacos 
LEITURA COMPLEMENTAR
TÓPICO 1 | LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS
11
el Fausto es una obra genial; para otros, una de las más famosas formas del tedio, 
como el segundo Paraíso de Milton o la obra de Rabelais. Libros como el de Job, 
la Divina Comedia, Macbeth (y, para mí, algunas de las sagas del Norte) prometen 
una larga inmortalidad, pero nada sabemos del porvenir, salvo que diferirá del 
presente. Una preferencia bien puede ser una superstición.
No tengo vocación de iconoclasta. Hacia el año treinta creía, bajo el influjo 
de Macedonio Fernández, que la belleza es privilegio de unos pocos autores; 
ahora sé que es común y que está acechándonos en las casuales páginas del 
mediocre o en un diálogo callejero. Así, mi desconocimiento de las letras malayas 
o húngarases total, pero estoy seguro de que si el tiempo me deparara la ocasión 
de su estudio, encontraría en ellas todos los alimentos que requiere el espíritu. 
Además de las barreras lingüísticas intervienen las políticas o geográficas. Burns 
es un clásico en Escocia; al sur del Tweed interesa menos que Dunbar o Stevenson. 
La gloria de un poeta depende, en suma, de la excitación o de la apatía de las 
generaciones de hombres anónimos que la ponen a prueba, en la soledad de sus 
bibliotecas.
Las emociones que la literatura suscita son quizá eternas, pero los medios 
deben constantemente variar, siquiera de un modo levísimo, para no perder su 
virtud. Se gastan a medida que los reconoce el lector. De ahí el peligro de afirmar 
que existen obras clásicas y que lo serán para siempre.
Cada cual descree de su arte y de sus artificios. Yo, que me he resignado a 
poner en duda la indefinida perduración de Voltaire o de Shakespeare, creo (esta 
tarde uno de los últimos días de 1965) en la de Schopenhauer y en la de Berkeley.
Clásico no es un libro (lo repito) que necesariamente posee tales o cuales 
méritos; es un libro que las generaciones de los hombres, urgidas por diversas 
razones, leen con previo fervor y con una misteriosa lealtad.
FONTE: BORGES, Jorge Luis. Sobre los clássicos. In: Otras inquisiciones: prosa completa, II. 
Barcelona: Bruguera, 1980. p. 302-303.
12
Neste tópico, você aprendeu que:
• A literatura, como manifestação artística, exerce um trabalho peculiar com 
as palavras ao criar ficções que estabelecem um diálogo estético e crítico com 
a realidade, com a complexidade do ser humano, do mundo e das relações 
existenciais.
• Os textos literários despertam sensações e sentimentos que promovem o prazer 
da leitura, estimulam a criatividade, o senso crítico, e são importantes para a 
formação humana. 
• A formação do leitor literário pressupõe o contato direto com diversos textos 
literários, visando promover o reconhecimento de suas singularidades, bem 
como a ampliação da visão de mundo e o desenvolvimento da sensibilidade do 
leitor.
• Os clássicos são livros que integram as nossas lembranças e exercem uma 
influência particular na medida em que se tornam inesquecíveis e se mimetizam 
como inconsciente coletivo e individual.
RESUMO DO TÓPICO 1
13
1 Considerando as discussões de Jorge Luis Borges no ensaio Sobre los clásicos, 
expostas na Leitura Complementar, analise as asserções a seguir e a relação 
proposta entre elas.
I. Um clássico é um livro que as gerações de homens, instigados por diversos 
motivos, leem com fervor prévio e com uma misteriosa lealdade.
PORQUE
II. Os clássicos vêm até nós da tradição e exigem um ato de fé prévia. No 
entanto, essa concepção coletiva é eterna e imutável.
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma 
justificativa correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa 
correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.
2 Leia o poema do escritor Carlos Drummond de Andrade. Em seguida, 
responda à questão proposta.
Iniciação Literária
Leituras! Leituras!
Como quem diz: Navios... Sair pelo mundo
voando na capa vermelha de Júlio Verne.
Mas por que me deram para livro escolar
a Cultura dos campos de Assis Brasil?
O mundo é só fosfatos – lotes de 25 hectares
– soja – fumo – alfafa – batata-doce – mandioca –
pastos de cria – pastos de engorda.
Se algum dia eu for rei, baixarei um decreto
condenando este Assis a ler sua obra.
FONTE: ANDRADE, Carlos Drummond de. Iniciação literária. In: Nova reunião: 23 livros de 
poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 603.
O poema de Drummond estabelece uma relação intertextual com os escritos 
do autor francês Júlio Verne (1828-1905), enfatizando o processo de iniciação 
literária ao universo dos textos clássicos. A partir do texto acima, avalie as 
afirmações a seguir:
AUTOATIVIDADE
14
I. O eu lírico demonstra prazer pela leitura da ficção do escritor Júlio Verne, 
mas sente-se forçado a ler um livro que trata de dados descritivos referentes 
ao universo agrário brasileiro.
II. Depreende-se do poema a ideia de que a leitura de um clássico é como um 
voo, um momento de liberdade que possibilita ao leitor “sair pelo mundo" 
através da imaginação.
III. O eu lírico apresenta um paradoxo entre as leituras espontâneas e o 
livro escolar, considerando a obra de Júlio Verne um modelo de texto 
convencional. 
É correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
3 Tendo em vista as reflexões apresentadas neste tópico, faça uma lista de seus 
clássicos. Que livros fazem parte do seu reportório de leitura? Selecione 
e apresente alguma obra que você já leu ou ouviu falar, que pode ser 
considerada significativa para a formação do leitor. Em seguida, disserte 
sobre a relevância da obra escolhida, baseando-se na concepção de "clássico", 
formulada pelos autores Ítalo Calvino e Jorge Luis Borges.
15
TÓPICO 2
A LITERATURA GREGA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos a literatura grega, considerada o fundamento 
da literatura ocidental. Para tanto, iniciaremos com uma síntese sobre os períodos 
históricos das manifestações literárias e seus principais autores das formas épica, 
dramática e lírica. Em seguida, faremos uma abordagem sobre o pensamento 
mítico dos gregos e partiremos da Poética de Aristóteles, de suas discussões 
sobre os gêneros literários, para ressaltar algumas das obras mais relevantes da 
literatura grega. 
A cultura grega surgiu na atual Península Balcânica aproximadamente no 
ano 1100 a.C. até o período da conquista romana em 146 a.C. Nela, encontramos 
as bases da cultura ocidental nos diversos âmbitos que englobam a filosofia, a 
história, os sistemas políticos e jurídicos, a ciência, a educação, a literatura, as 
artes plásticas e arquitetura como técnicas estéticas, os esportes, entre outros. 
A literatura grega antiga inicia por volta do século VIII a.C. e engloba, 
basicamente, três momentos: o período arcaico (até o fim do século VI a.C.), o 
período clássico (séculos V e IV a.C.), e o período helenístico (a partir do século 
III a.C.).
O período arcaico foi um momento profícuo dos poemas cantados, 
transmitidos oralmente, cujos temas envolviam histórias mitológicas. Neste 
momento destacamos o surgimento das epopeias a Ilíada e a Odisseia, atribuídas a 
Homero, que narram a Guerra de Troia e a Viagem de retorno de Odisseu (Ulisses, 
no nome latino). É deste período também a poesia de Hesíodo (c. 700 a.C.), que 
foi posto em competição com Homero pelos próprios gregos, destaca Romilly 
(2011). Segundo a autora, a obra poética de Hesíodo procura romper com o ideal 
guerreiro do herói e é constituída principalmente por dois poemas: a Teogonia e os 
Trabalhos e Dias. Além desses, os antigos referiram outros. Nesta época, surgiram 
também os diversos tipos de poesia lírica, como os da poetisa Safo. 
No período clássico, auge dos gêneros literários, destacam-se as tragédias 
de Sófocles, Ésquilo e Eurípides e as comédias de Aristófanes, bem como as obras 
de Platão e Aristóteles, que foram fundamentais para a formação do pensamento 
ocidental.
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
16
O período helenístico ou greco-romano, momento situado entre a morte 
de Alexandre, O Grande (323 a.C.) e a conquista do Antigo Egito pelos romanos, 
no ano de 30 a.C., sinaliza a transição da cultura grega para a romana. Nesta 
época, as ciências começam a se desenvolver, e no âmbito das artes destacam-se 
a poesia lírica de Calímaco, a poesia épica de Apolônio de Rodes, e o surgimento 
da ficção em prosa — considerada a gênese do romance.
2 O PENSAMENTO MÍTICO
Os mitos são elementos fundamentais para a compreensãoda literatura 
grega e latina, bem como para as manifestações artísticas do Renascimento ou do 
Classicismo que revalorizaram a Antiguidade Clássica. 
Os gregos antigos foram grandes criadores de histórias fabulosas que 
serviram para explicar as origens dos fenômenos naturais e do comportamento 
humano, antes do progresso racional e científico. Os mitos gregos, que foram 
adotados com outros nomes pelos latinos, são narrativas dos atos de seres 
sobrenaturais que explicavam a origem do universo e buscavam apaziguar os 
seres humanos diante das forças da natureza, dos conflitos e das contradições 
existenciais.
Através dessas narrativas, é possível compreender a cultura e a forma 
de pensamento dos gregos, seu modo de entender o mundo, destaca Jean-Pierre 
Vernant (1992). No panteísmo (crença em vários deuses), um dos princípios da 
sociedade grega, os deuses tinham uma construção bastante distinta do Deus 
presente na sociedade cristã. Mesmo sendo considerados divindades, os deuses 
gregos apresentavam limitações e muitas outras características semelhantes às 
dos humanos, além de estarem condicionados aos desígnos do Destino.
Mito (do grego mythos, no singular; mythoi, no plural), significa narrativa, 
histórias universalmente presentes no imaginário coletivo de povos de diferentes culturas. 
Para os gregos antigos, o pensamento mítico surge como uma crença-verdade transmitida 
através do discurso, criada e recriada por poetas e cantores populares, segue uma lógica 
peculiar que busca compreender a origem do mundo e de tudo que existe nele. "Memória, 
oralidade e tradição: são essas condições de existência e sobrevivência do mito", destaca 
Vernant (2000, p. 12). 
NOTA
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
17
Para Vernant, os mitos gregos são construções simbólicas complexas, 
que auxiliam o homem a compreender fenômenos concretos e abstratos, 
representando, assim, um sistema de pensamento a partir de uma perspectiva 
social. Logo: 
O mito não é uma vaga expressão de sentimentos individuais ou de 
emoções populares; é um sistema simbólico institucionalizado, uma 
conduta verbal codificada, veiculando, como a língua, maneiras de 
classificar, de coordenar, de agrupar e contrapor fatos, de sentir ao 
mesmo tempo semelhanças e dessemelhanças; em suma, de organizar 
a experiência (VERNANT, 2000, p. 206).
Vislumbrando a reflexão sobre a relação entre mito e literatura, a partir da 
poesia épica e do teatro grego, apresentaremos a seguir as principais divindades 
da Antiguidade Clássica e uma síntese de suas características mais peculiares, 
segundo D'Onofrio (1990). Destacaremos o nome grego e entre parênteses o 
termo correspondente latino.
• Zeus (Júpiter, também conhecido como Jove) é a maior divindade do mundo 
greco-romano, considerado por Homero o pai dos deuses e dos homens; o mito 
exprime a figura da autoridade, da onipotência.
• Poséidon (Netuno), irmão de Zeus, deus do mar e todo elemento líquido; ele é 
o causador de todos os movimentos sísmicos, através da agitação tempestuosa 
da água, simboliza a perturbação e a renovação da ordem cósmica, em oposição 
à terra, elemento passivo e estável.
• Hades (Plutão), irmão de Zeus, deus dos infernos, das profundezas subterrâneas, 
da morte e da destruição.
• Hera (Juno), esposa de Zeus, deusa da fecundidade e da fidelidade matrimonial, 
persegue todas as amantes do marido e os filhos ilegítimos deste, representa o 
princípio feminino.
• Atena (Minerva), filha de Zeus, deusa da guerra e da sabedoria; ela, junto 
com o irmão Apolo, simboliza características como a inteligência, a verdade, o 
equilíbrio sobre a barbárie, a orgia, o mistério.
• Afrodite (Vênus), filha de Zeus, deusa da beleza e do amor; ela, junto com seu 
filho Eros (Cupido), personifica a força do instinto sexual, que não conhece 
barreiras sociais ou morais. 
• Apolo, filho de Zeus, deus da luz; tinha a missão de trazer a luz para a terra, 
o calor e a vida. Apolo, com a musa Calíope, gerou Orfeu, poeta e músico, 
admirado pelos gregos porque seu canto abrandava a dor e fascinava homens, 
animais e minerais.
• Dioniso (Baco), filho de Zeus, deus do vinho; fruto de um um amor divino-
humano, não foi aceito no Olimpo e precisou conquistar o direito à imortalidade; 
personifica o instinto, a subversão da ordem, o prazer e a inversão dos valores.
• Ares (Marte), filho de Zeus e Hera, deus da guerra e da violência; personifica a 
força bruta, a violência gratuita.
• Hermes (Mercúrio), filho de Zeus, mensageiro dos deuses, protetor do 
comércio, do lucro e das viagens.
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
18
• Ártemis (Diana), filha de Zeus, deusa da caça, da virgindade, símbolo da 
necessidade de repressão dos instintos sexuais. Também é considerada a deusa 
da Lua.
• Deméter (Ceres), irmã de Zeus, deusa da terra e da agricultura; simboliza o 
progresso material do homem na sua aprendizagem do cultivo da terra.
• Destino (Fado), filho da Noite, gerado pelo Caos, simboliza uma força cósmica 
superior ao próprio Zeus, à vontade dos deuses e dos homens, representa a 
necessidade de manutenção da ordem no universo. 
• Vulcano (Hefesto), é o símbolo da engenhosidade humana, que se serve do 
fogo como meio para o desenvolvimento da ciência e da arte.
• As musas, as nove musas que inspiravam as artes, eram filhas de Zeus e 
Mnemosine (deusa da memória). São elas: 1) Calíope, musa da poesia épica; 
2) Clio, musa da história; 3) Érato, musa da poesia lírica; 4) Euterpe, protetora 
da música; 5) Melpômene, musa do canto (mãe das sereias); 6) Polímnia, musa 
dos hinos religiosos e da oratória; 7) Talia, musa da comédia; 8) Terpsícore, 
musa da poesia trágica; 9) Urânia, musa das ciências exatas.
Destacamos o papel importante dos mitos na sociedade grega e na 
formação do pensamento ocidental. Veremos mais adiante que as ações heroicas 
humanas relatadas nas epopeias apresentam a constante intervenção dos deuses. 
Por exemplo, no poema Ilíada, que narra o Guerra de Troia, os deuses estavam 
divididos entre os gregos e os troianos, e a própria guerra teria sido motivada 
pela rivalidade entre as deusas.
 O pensamento filosófico sobre a literatura também se apropriou das 
construções míticas recitadas em praça pública por poetas cantadores como 
Homero. Platão, em sua obra intitulada A República, critica Homero por apresentar 
heróis e deuses reproduzindo comportamentos moralmente duvidosos, como a 
traição, a falsidade, o roubo, a violência etc., que, para o filósofo, corrompem os 
nossos juízos de valor. Ainda na concepção de Platão, o artista nasce como tal 
porque recebe dos deuses o "dom" da arte. Esta ideia de "poeta inspirado" pela 
Musa foi refutada pela concepção de Aristóteles do "poeta artífice", aquele "que 
constrói e estrutura sua obra mediante um longo trabalho de aprendizado de 
modelos preexistentes, de técnicas específicas e do conhecimento da realidade 
que o circunda", destaca D'Onofrio (1990, p. 41). 
Na próxima seção, ressaltaremos as principais discussões de Aristóteles 
na sua Poética, obra que teve grande repercussão em diversas épocas e instaurou 
o vocabulário da crítica literária no Ocidente, lembra Romilly (2011). O nosso 
propósito é iniciar o estudo da literatura grega, destacando os gêneros literários e 
a continuidade entre as obras gregas e romanas.
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
19
3 A POÉTICA DE ARISTÓTELES
Platão e Aristóteles foram os precursores do pensamento sobre as 
manifestações do imaginário. Ao refutar as ideias platônicas de que a arte tem 
uma origem divina e a mimese (imitação) poética é ilusória e prejudicial aos ideais 
morais e pedagógicos dos filósofos, Aristóteles reelaborou o conceito de imitação 
como representação de uma possibilidade e criou uma concepção estética, 
abordando, sobretudo, a produção da poesia oral, em seus diversos gêneros, 
destacando a função de cada um deles. 
Vejamos, a seguir, a apresentação inicial da Poética, escrita, 
aproximadamente, entre os anos 335 e 323 a.C., quandoa poesia oral era forma 
predominante de literatura. A obra contém 26 capítulos e apresenta uma discussão 
sobre a arte poética, destacando as poesias trágica e épica.
I. Falemos da natureza e espécies da poesia, do condão de cada uma, 
de como hão de compor as fábulas para o bom êxito do poema; depois, 
do número e natureza das partes e bem assim das demais matérias 
dessa pesquisa, começando, como manda a natureza, pelas noções 
mais elementares. 
A epopeia, o poema trágico, bem como a comédia, o ditirambo [hino 
coral em louvor de Dionisio (Baco)] e, em sua maior parte, a arte do 
flauteiro e a do citaredo [cantor], todas vêm a ser, de modo geral, 
imitações. Diferem entre si em três pontos: imitam ou por meios 
diferentes, ou objetos diferentes, ou de maneira diferente e não a 
mesma (ARISTÓTELES, 2014, p. 18).
As palavras iniciais de Aristóteles sinalizam um predomínio das 
produções orais recitadas pelos aedos (poetas cantadores), próprias da época e das 
práticas dos grupos sociais na cultura dos gregos antigos. Ademais, caracterizam 
a literatura como uma arte da imitação (algo inerente à natureza humana), que se 
realiza através da linguagem, do ritmo e da harmonia. O filósofo desenvolve a 
ideia de que a função da literatura, principalmente do teatro, é criar representações 
(imitações) das ações e comportamentos humanos, das paixões e forças que nos 
levam a agir. Para Aristóteles, quando nos deparamos com as representações 
criadas pelos textos literários, aprendemos com as experiências das personagens. 
Na Antiguidade Clássica, Aristóteles foi o precursor do estudo da 
produção literária baseada em gêneros, isto é, em padrões de construção artística, 
classificados em épico, dramático e lírico, mas a parte dos escritos correspondentes 
à poesia lírica foi perdida. Durante o Renascimento, as teorias poéticas italianas 
incluíram as formas líricas entre as categorias descritas por Aristóteles. Essa 
classificação se consolidou como norma, especialmente na época que vai de fins 
do século XV até o século XVIII, destaca Souza (1995). Contudo, a partir do século 
XIX, o Romantismo se afasta do normativismo e começam a surgir novas criações 
e correlações que visam à liberdade criadora, à desconstrução dos modelos 
fixados até então, como exemplo temos a consolidação romance, figurando entre 
os gêneros literários modernos em prosa.
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
20
Sobre os gêneros literários, Angélica Soares reforça que:
[...] A denominação de gêneros literários, para os diferentes 
agrupamentos de obras literárias, fica mais clara se lembrarmos que 
gênero (do latim genus-eris) significa tempo de nascimento, origem, 
classe, espécie, geração. E o que se vem fazendo, através dos tempos, 
é filiar cada obra literária a uma classe ou espécie; ou ainda é mostrar 
como certo tempo de nascimento e certa origem geram uma nova 
modalidade literária. A caracterização dos gêneros, tomando por 
vezes feições normativas, ou apenas descritivas, apresentando-se 
como regras inflexíveis ou apenas um conjunto de traços, os quais a 
obra pode apresentar em sua totalidade ou predominantemente, vem 
diferenciando-se a cada época. Em defesa de uma universalidade na 
literatura, muitos teóricos chegam mesmo a considerar o gênero como 
categoria imutável e a valorizar a obra pela sua obediência a leis fixas 
de estruturação, pela sua “pureza”. Enquanto outros, em nome da 
liberdade criadora de que deve resultar o trabalho artístico, defendem 
a mistura de gêneros, procurando mostrar que cada obra apresenta 
diferentes combinações de características dos diversos gêneros 
(SOARES, 2007, p. 7-8).
No âmbito dessas discussões, a classificação aristotélica, criada para 
dar uma configuração artística a diversas histórias, ainda continua provocando 
reflexões, especialmente o conceito de imitação, da poesia como recriação, que 
servem de base para o pensamento sobre as formas estéticas. 
As categorias apresentadas pelo filósofo podem ser caracterizadas em três 
gêneros, de acordo com a forma e o conteúdo das obras literárias.
• Épico ou narrativo: texto criado a partir de uma estrutura narrativa que tem 
como assunto os feitos heroicos e os grandes ideais de um povo. Homero é 
considerado modelo, o poeta mais representativo.
• Dramático: são textos em que as personagens apresentam uma ação direta, 
divididas em tragédia e comédia. 
• Lírico: são diferentes tipos de versos em que o sujeito lírico (eu lírico), criado 
pelo poeta, vivencia e manifesta emoções.
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
21
Além das questões que apresentamos sobre a Poética de Aristóteles, é 
importante que você aprofunde seus estudos fazendo a leitura integral da obra, atendo-se 
a outras discussões, por exemplo, o conceito de catarse (referente à purificação, à liberação 
de um sentimento reprimido, como sendo a finalidade da tragédia ao suscitar o temor e 
a piedade); as questões da verossimilhança (sobre aquilo que é semelhante à verdade, na 
medida do possível e do necessário); as especificidades de cada gênero; a diferença entre 
o poeta e o historiador (o historiador escreve o que aconteceu, e o poeta, o que poderia ter 
acontecido), entre outras. Para saber mais, acesse a versão completa da obra no Portal Domínio 
Público. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm.
do?select_action=&co_obra=2235. 
Para ampliar ainda mais os seus conhecimentos, procure estabelecer um diálogo entre as 
discussões do filósofo e as narrativas fílmicas. Muitas estratégias utilizadas pela dramarturgia 
e pelo cinema seguem as regras dramáticas clássicas. Veja, por exemplo, no filme Avatar 
(2009), de James Cameron, como, no mundo alienígena de Pandora, os colonizadores 
humanos e os Na'vi, seres primitivos, entram em guerra pelo planeta e pela manutenção da 
espécie nativa.
IMPORTANT
E
4 GÊNERO ÉPICO 
A narrativa mais antiga de que se tem conhecimento é A epopeia de Gilgamesh 
ou o Poema de Gilgamesh, da cultura da Mesopotâmia, produzida em torno do ano 
2.000 a.C. Gravado em tábuas de argila através da escrita cuneiforme, o poema 
é considerado a primeira obra a narrar os feitos de um herói, as aventuras do rei 
Gilgamesh e do seu amigo Endiku, os desafios enfrentados diante de monstros e 
deuses. Apesar disso, na cultura ocidental, considera-se as obras Ilíada e Odisseia, 
surgidas por volta do século VIII a.C, as narrativas mais importantes, provenientes 
de uma tradição transmitida de forma oral pelos aedos, poetas que cantavam 
fábulas e tradições.
Se ninguém tem certeza da existência de Homero, o contrário acontece 
com os poemas que foram atribuídos a ele, destaca Manguel, ao dizer que:
Num sentido muito real, a Ilíada e a Odisseia nos são familiares antes 
de abrirmos suas primeiras páginas. Antes mesmo de começarmos a 
acompanhar as mudanças de humor de Aquiles ou admirar a esperteza 
e a coragem de Ulisses, aprendemos a presumir que, em algum lugar, 
nessas histórias de guerra no tempo e de viagem no espaço, nos será 
contada a experiência de toda a luta e de toda travessia humanas 
(MANGUEL, 2008, p. 39).
Já do ponto de vista formal, a poesia épica da Antiguidade Clássica 
se caracteriza por apresentar uma narrativa longa, composta por um verso 
específico chamado hexâmetro datílico, que foi elaborado por Homero e outros 
épicos gregos. Também está presente em Virgílio, na Eneida, e em outros épicos 
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
22
latinos, tendo sido reelaborado posteriormente por Camões, nos Lusíadas, com 
seus versos decassílados, seguidos por novas propostas de versos que surgiram 
posteriormente.
O hexâmetro datílico (dactilus, significa dedo em grego) é uma estrutura 
métrica poética formada por uma sílaba longa (tônica) seguida por duas curtas (átonas) que 
se parecem com as falanges dos dedos. Os versos decassílados, por sua vez, possuem dez 
sílabas métricas e são classificados de acordo as posições da sílaba tônica.
NOTA
Além disso, ospoemas épicos gregos apresentam uma organização 
interna. Por serem longos, são divididos em vários cantos (ou livros). Nessa 
estrutura, os cantos são organizados da seguinte maneira:
• Proposição (ou exórdio): introdução do tema e definição do herói do poema.
• Invocação: momento em que o poeta pede inspiração à Musa para desenvolver 
a narrativa. 
• Narração: parte em que se narra as aventuras e os feitos gloriosos do herói.
• Epílogo (conclusão): encerramento da narração dos feitos heroicos.
Logo, podemos considerar que as epopeias clássicas apresentam 
características comuns ao narrarem feitos extraordinários de um herói. Nelas, 
no entanto, o conceito de herói é amplo, visto que as personagens apresentam 
características diversificadas dentre as várias possibilidades de representação. 
Contudo, nas epopeias homéricas costuma-se singularizar a força de Aquiles, na 
Ilíada, e a astúcia de Ulisses, na Odisseia.
A Ilíada tem cerca de mil versos, divididos em 24 contos, e é considerada 
uma obra de juventude de Homero. O poema narra parte da guerra dos Aqueus 
(os primeiros gregos que ocuparam parte do Mediterrâneo) contra Troia, 
evidenciando a ira de Aquiles, a sua recusa em continuar a lutar, seguido do 
seu regresso ao combate para vingar seu amigo. Antes do começo do poema, 
a bela Helena, esposa de Menelau, fora raptada por Páris, filho do rei de Troia. 
Por esse motivo, Agamenon, irmão de Menelau, sitia Troia com o apoio de seus 
guerreiros mais famosos: Ajax, Diomedes, Ulisses, o velho Nestor, Pátroclo e 
seu amigo Aquiles, filho da deusa Tétis, considerado o maior guerreiro grego. 
A guerra durou dez anos e os deuses se envolveram constantemente no conflito. 
Do lado dos troianos estavam Afrodite (mãe do troiano Eneias), Apolo e Ares. Do 
lado dos gregos: Tétis, Atena, Poseidon e Hera.
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
23
Vejamos a seguir os versos iniciais da Ilíada, na tradução de Odorico 
Mendes (1784).
 Canta-me, ó deusa, do Peleio de Aquiles
 A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos,
 Verdes no Orco lançou mil fortes almas,
 Corpos de heróis a cães e abutres pasto:
 Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem 
5
 O de homens chefe e o Mirmidon divino 
 (HOMERO, 2008, p. 45, grifo nosso).
O vócabulo ira, atrelado a Aquiles, é o primeiro que chama a atenção do 
leitor e que desencadeia uma sucessão de episódios. O poema Odisseia, por sua vez, 
tem cerca de 12 mil versos, também divididos em 24 contos, e é considerado uma 
obra do período de maturidade do autor. A narrativa começa dez anos depois da 
queda de Troia. Com o fim da guerra, o comportamento desrespeitoso de alguns 
gregos incomodou outros, principalmente Atena, que os apoiou durante todo o 
conflito. Por isso, Ulisses não teve permissão para retornar a Ítaca, onde Penélope, 
sua esposa fiel, há sete anos, sob pressão de um grupo de pessoas que almejam 
o poder, tentava evitar uma série de pretendentes. Zeus decide intervir e acaba 
lançando Ulisses no mar e no caminho de regresso para casa, que levará mais dez 
anos e será repleto de grandes obstáculos provocados por Poseidon, deus do mar.
Acompanhemos, abaixo, os versos iniciais do poema, a astúcia, a bravura 
de Ulisses diante dos desafios, que foi consagrado como herói e imortalizado 
pelos seus feitos.
 […] 
 Canta, ó Musa, o varão que astucioso,
 Rasa Ílion santa, errou de clima em clima,
 Viu de muitas nações costumes vários.
 Mil transes padeceu no equóreo ponto,
 Por segurar a vida e aos seus a volta; 
 5
 Baldo afã! pereceram, tendo insanos
 Ao claro Hiperiônio os bois comido,
 Que não quis para a pátria alumiá-los.
 Tudo, ó prole Dial, me aponta e lembra 
(HOMERO 2009, s.p., grifo nosso).
Dentre as várias imagens da literatura, conhecidas por povoarem o nosso 
imaginário, a viagem de Ulisses talvez seja uma das mais impactantes. "Será que 
a Odisseia não é o mito de todas as viagens?", indaga Ítalo Calvino (2007, p. 24), 
ressaltando que "ainda hoje, para nós, cada viagem, pequena ou grande, sempre é 
Odisseia". Provavelmente, em contextos distintos, já empregamos essa metáfora. 
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
24
Metáfora: figura de linguagem que consiste no emprego de uma palavra 
fora do seu sentido comum, a exemplo da "viagem" de Ulisses, que assume um sentido 
amplificado de desafio, de transformação.
NOTA
Na literatura, as várias reelaborações da epopeia homérica mostram 
a força e a presença da literatura grega em nossa cultura ocidental, como, por 
exemplo, a viagem de Eneias narrada por Virgílio, a alegoria da viagem ao 
submundo criada por Dante e a viagem de Vasco da Gama, narrada por Camões, 
obras que estudaremos nos próximos capítulos.
Tantas outras imagens da literatura clássica se tornaram bastante 
representativas, como o momento em que Ulisses tapa os ouvidos de seus marujos 
com cera e se amarra ao mastro do navio para ouvir o canto das sereias, cujo 
perigo é conhecido por enfeitiçar os viajantes. 
Vejamos abaixo um trecho do episódio, narrado no Canto XII, no qual 
Ulisses recebe o conselho da feiticeira Circe sobre os perigos das sereias. 
 […]
 A satisfaço, e ela assim discorre: 25 
 “Pois bem; atende agora, e um deus na mente
 Meu conselho te imprima. Hás de as sereias
 Primeiro deparar, cuja harmonia
 Adormenta e fascina os que as escutam:
 Quem se apropinqua estulto, esposa e filhos 30
 Não regozijará nos doces lares;
 Que a vocal melodia o atrai às veigas,
 Onde em cúmulo assentam-se de humanos
 Ossos e podres carnes. Surde avante;
 As orelhas aos teus com cera tapes, 35
 Eusurdeçam de todo. Ouvi-las podes
 Contanto que do mastro ao longo estejas
 De pés e mãos atado; e se, absorvido
 No prazer, ordenares que te soltem,
 Liguem-te com mais força os companheiros. 40
 […] (HOMERO, 2009, s.p.).
Finalizaremos esta seção de discussão apresentando um diálogo entre 
literatura e pintura, uma percepção distinta e singular a respeito do episódio 
narrado sobre a exposição de Ulisses ao sedutor e mortal canto das sereias.
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
25
FIGURA 1 - WATERHOUSE, JOHN WILLIAM. ULISSES E AS SEREIAS. NATIONAL GALLERY OF 
VICTORIA, MELBOURNE, 1891. ÓLEO SOBRE LIENZO, 100.6 X 202.
FONTE: <https://artsandculture.google.com/asset/ulysses-and-the-sirens/qQH6ni1OHjyz>. 
Acesso em: 15 jun. 2018.
DICAS
No Portal Domínio Público, você pode acessar as traduções da Ilíada e da 
Odisseia, traduzidas pelo maranhense Manuel Odorico Mendes (1799-1874), primeiro 
tradutor brasileiro a verter para o português as obras de Homero e de Virgílio. Você também 
pode acessar a dissertação de mestrado Odorico Mendes, o manuscrito da Ilíada e diversas 
facetas da atividade tradutória, indicada nas referências finais deste livro didático, para 
conhecer os bastidores da tradução no Brasil na segunda metade do século XIX, tendo em 
vista a grande importância dos tradutores na difusão dos textos literários e para o intercâmbio 
entre diferentes culturas e línguas. Afinal, como diz Manguel (2008, p. 10), “exceto por um 
grupo cada vez menor de intelectuais aos quais foi concedida a graça de conhecer grego 
antigo, o resto de nós não lê Homero, mas uma tradução de Homero”. Ademais, indicamos 
outras traduções de Homero para o portugûes, como as versões de Carlos Alberto Nunes e 
de Haroldo de Campos. Acesse através do link: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
PesquisaObraForm.jsp.
Além disso, se você quiser conhecer outras releituras das obras de Homero, sugerimos 
os filmes A Odisseia (1997), de Andrei Konchalovsky, e Troia (2004), de Wofgang Petersen, 
que são produções cinematrográficas mais recentes. Já o filme Até o fim (2013), de Jeffrey 
McDonald, apresenta uma perspectiva diferente dos feitos sobre-humanos do herói épico. 
No filme, o herói é um homem contemporâneo que navega sozinho com seu veleiro e se vê 
diante de váriosdesafios em alto-mar, lutando pela sobrevivência.
Ainda é possível encontrar várias versões das epopeias homéricas, como as produzidas pela 
autora Ruth Rocha, publicadas pela Editora Companhia das Letrinhas, e a versão criada por 
Maurício de Sousa e pelo ilustrador Fábio Sombra em versos de cordel, publicada pela Editora 
Melhoramentos.
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
26
5 GÊNERO DRAMÁTICO 
As origens do drama grego estão relacionadas à religiosidade, ao culto 
do deus Dionísio, às apresentações de danças e hinos recitados por um coro. Na 
Grécia antiga, o teatro foi a maior forma de representação cultural e de lazer. 
Durante uma semana de festas dionisíacas, um grande público se reunia para 
assitir às várias peças representadas nos concursos teatrais. 
Aristóteles (2014, p. 23-24) apresenta o gênero dramático como uma 
manifestação artística espetacular, uma "imitação feita por personagens em ação", 
subdividida em tragégia e comédia. Resumidamente, podemos considerar que 
essas duas formas de composição se diferenciam pelo tipo de ação praticada 
pelas personagens. Para o filósofo, as tragédias imitam "ações de caráter 
elevado", as ações dos deuses, dos heróis do povo, das famílias nobres. Elas têm 
um efeito pedagógico de catarse, ou seja, de purificação do espectador através 
dos sentimentos de terror e piedade. As comédias, por outro lado, evidenciam 
narrativas que são risíveis e apontam o ridículo de "personagens inferiores", de 
homens comuns, de aspectos relacionados com a vida cotidiana. Inicialmente, a 
comédia estava ligada aos cantos e brincadeiras de uma procissão burlesca em 
homenagem a Dionísio, deus do vinho.
 
A seguir, apresentaremos uma seleção de fragmentos da poesia dramática 
grega que evocam uma série de questionamentos sobre atitudes e sentimentos 
humanos. Entre as obras, destacaremos as tragédias Prometeu acorrentado, de 
Ésquilo, Édipo Rei, de Sófocles, Medéia, de Eurípides, e a comédia Lisístrata ou 
Greve dos Sexos, de Aristófanes. 
5.1 A TRAGÉDIA
Certamente você já ouviu o termo “tragédia" e provavelmente deve utilizá-
lo em seu cotidiano para se referir a acontecimentos catastróficos, de grandes 
proporções, na maioria das vezes relacionados à morte. No teatro, a tragédia 
também estabelece essa relação de sentido e está vinculada a uma sequência de 
acontecimentos associada a alguma desgraça. Um conflito que envolve a falha 
trágica do herói ao descobrir um engano, ou seja, ao fazer algo sem saber, depois 
sofrer as consequências desse erro. 
 A tragédia grega é, sem dúvida, uma expressão de uma ação humana levada 
até às últimas consequências. Geralmente apresenta personagens complexos 
e um conjunto de circunstâncias que as colocam numa situação sem saída. A 
estrutura da tragédia realça personagens que se movem em cena e participam 
de uma ação por meio de versos falados. Aliás, o teatro como drama (a palavra 
drama significa ação, em grego) apresenta componentes fundamentais, como o 
coro, a voz da coletividade, elemento predominante que comenta a cena, cantando 
sob a direção do corifeu (regente do coro); os episódios da ação, introduzidos, 
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
27
interrompidos e concluídos pelo coro; o parodos, canto de introdução; o exodos, o 
canto de conclusão, e os stasima, outros cantos cujo número vai de dois a cinco, 
destaca Romilly (2011, p. 90).
Ésquilo (524- 456 a.C) figura como o mais antigo dos autores trágicos, 
considerado o criador da tragédia. Dele destacam-se as sete tragédias 
conservadas, Os Persas, os Sete contra Tebas e as três peças (Agamêmnon, As coéforas 
e As eumênides) que constituem a Oresteia. As demais obras que restaram são As 
suplicantes e Prometeu acorrentado. Nelas são apresentados temas que envolvem 
grandes questões humanas, como a relação com as divindades e o destino, os 
problemas instaurados pela culpa, pelo mau e o senso de justiça.
A peça Prometeu acorrentado, apresentada abaixo, mostra-nos o mundo 
dos imortais. Prometeu, um ser divino, é alvo da cólera de Zeus (Júpiter), por 
ter roubado o fogo dos deuses para ajudar os mortais. Mesmo sabendo do seu 
terrível castigo, a personagem de Ésquilo sente-se injustiçada e segue fiel aos seus 
princípios, desafiando os poderes autoritários das divindades.
Nos rochedos da Cítia. O PODER, a VIOLÊNCIA, VULCANO e 
PROMETEU
O PODER 
Eis-nos chegados aos confins da terra, à longínqua região da Cítia, 
solitária e inacessível! Cumpre-te agora, ó Vulcano, pensar nas ordens 
que recebeste de teu pai, e acorrentar este malfeitor, com indestrutíveis 
cadeias de aço, a estas rochas escarpadas. Ele roubou o fogo, teu 
atributo, precioso fator das criações do gênio, para transmiti-lo aos 
mortais! Terá, pois, que expiar este crime perante os deuses, para que 
aprenda a respeitar a potestade de Júpiter, e a renunciar a seu amor 
pela Humanidade.
VULCANO
Para vós, Poder e Violência, a ordem de Júpiter está cumprida; 
nada mais resta a fazer. Quanto a mim, sinto-me sem coragem para 
acorrentar pela força a um deus, meu parente, sobre esta penedia, 
exposto à fúria das tempestades! Vejo-me, no entanto, coagido a fazê-
lo, pois seria perigoso esquecer as ordens de meu pai. Preclaro filho da 
sábia Têmis, é bem contra minha vontade, e a tua, que te vou prender 
por indissolúveis cadeias, a este inóspito rochedo, de onde não ouvirás 
a voz, nem verás o semblante de um único mortal; e onde, queimado 
lentamente pelos raios ofuscantes do Sol, terás adusta a epiderme; 
onde a noite estrelada tardará a poupar-te à luz intensa, assim como 
o Sol tardará em secar o orvalho matinal. Oprimir-te-á o peso de 
uma dor perene, pois ainda não nasceu, sequer, o teu libertador. Eis 
a consequência de tua dedicação pelos humanos; como deus, que 
tu és, fizeste aos mortais uma dádiva tal, que ultrapassou todas as 
prerrogativas possíveis. Como castigo por essa temeridade, ficarás 
sobre esta rocha terrífica, em pé, sem sono e sem repouso; debalde 
farás ouvir suspiros e clamores dolorosos; o coração de Júpiter é 
inexorável... Um novo senhor é sempre severo!...
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
28
O PODER 
E então? Por que tardas ainda? De que vale esta vã piedade? Pois quê?... 
por acaso não detestas a uma divindade inimiga dos demais deuses, 
visto que transmitiu aos homens as honras que eram teu privilégio?
VULCANO
É que... os laços do sangue, e os da amizade, são poderosos!
O PODER 
Sem dúvida! Mas como desobedecer às ordens de teu pai? Não o 
temes, por acaso?
VULCANO
Tu serás sempre, ó Poder, destituído de piedade, e capaz de tudo!
O PODER
Certamente! De que serve lamentar a sorte deste criminoso, uma vez 
que não há remédio possível para seu mal? Não te canses, pois, na 
busca de um socorro inútil.
VULCANO
Oh!... Como abomino o ofício a que me consagrei!
O PODER
Por quê? Esse ofício não é a causa, nem a origem, dos males que aqui 
vemos presentes.
VULCANO
Quem me dera um companheiro, que comigo partilhasse deste 
sacrifício!...
O PODER
Muito podem os deuses, na verdade, porém dependem de um poder 
supremo; só Júpiter é onipotente.
[…] (ÉSQUILO, 2005, p. 5-8).
Outro importante dramaturgo grego foi Sófocles (496-406 a.C), que 
escreveu mais de 120 peças. Diversas obras do autor conquistaram os espectadores 
gregos em vários concursos dramáticos. As peças mais importantes e famosas são 
as três centradas no mito de Édipo (Édipo Rei, Antígona e Édipo em Colon, peça 
póstuma). Da tragédia de Édipo emanam grandes temas, entre eles: o triunfo do 
poder patriarcal, a busca da identidade, a questão do destino e o tema do incesto 
que inspirou a psicanálise de Freud na elaboração do "complexo de Édipo", 
relacionado à fase do desenvolvimento infantil.
Em suas obras, as personagens individuais, diante da força do destino, 
ganham mais destaque que a intervenção do coro. O trecho a seguir, extraído de 
Édipo Rei, narra a triste história de Édipo, o primeiro filho de Laio, rei de Tebas. 
Vítima de uma maldição, o protagonista

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