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Prévia do material em texto

2019
1a Edição
Literatura OcidentaL i
Prof.ª Raquel da Silva Yee
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Raquel da Silva Yee
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
Y42l
 Yee, Raquel da Silva
 Literatura ocidental I. / Raquel da Silva Yee. – Indaial: UNIASSELVI, 
2019.
 182 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0290-7
1. Literatura ocidental. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da 
Vinci.
CDD 809
III
apresentaçãO
Caro acadêmico!
Este livro didático pretende oferecer uma indrodução panorâmica 
à Literatura Ocidental, que servirá para ampliar seu repertório literário 
e embasar seus estudos futuros. Você terá a oportunidade de entrar em 
contato com várias obras representativas da história da literatura no mundo 
ocidental.
O itinerário delineado recorta 27 séculos de práticas literárias 
produzidas na Europa e em grande parte da América. Passaremos por muitos 
textos, de diferentes estilos, épocas e lugares, abarcando os primórdios das 
produções literárias da antiguidade grega e latina, a literatura na Idade 
Média, a literatura entre os séculos XV e XVIII e, finalmente, as primeiras 
manifestações literárias da modernidade. Tendo em vista a impossilidade 
de abarcarmos a amplitude dos escritos elaborados durante esses séculos, 
optamos por priorizar alguns autores e textos, de modo que as reflexões 
apresentadas despertem o interesse por outras leituras e indagações sobre o 
vasto campo da literatura.
Durante o percurso, refletiremos sobre as singularidades dos 
projetos estéticos a partir do estudo dos movimentos literários. Contudo, 
a perspectiva histórica desta disciplina não pretende ser estanque, nem 
arbritária, já que entendemos as expressões artísticas como um organismo 
vivo e dinâmico, intimamente ligadas ao contexto de cada época, refletindo, 
assim, o pensamento político, social e estético do momento em que foram 
produzidas. O que confirma a ideia de que os textos literários e seus temas 
se modificam a longo do tempo e pressupõem uma experiência de leitura 
sempre aberta às inúmeras rotas e (re)descobertas, à medida que a sociedade 
e os leitores igualmente se transformam. Logo, esperamos que você extrapole 
as discussões expostas aqui. 
Este livro didático é, certamente, um convite à fruição, à leitura crítica, 
à linguagem plurissignificativa dos textos literários. Afinal, a literatura 
é capaz de promover encontros prazerosos, interações e discussões mais 
amplas e complexas que estimulam a nossa percepção do mundo, de si, dos 
outros e das relações sociais. Sendo, portanto, indispensável para a formação 
do indivíduo e para o intercâmbio de diferentes línguas e culturas.
Boas leituras!
Prof.ª Raquel da Silva Yee
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
V
VI
VII
UNIDADE 1 – OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL ........................................... 1
TÓPICO 1 – LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS ....................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 POR QUE LER LITERATURA? ......................................................................................................... 4
3 OS CLÁSSICOS E A FORMAÇÃO DO LEITOR ........................................................................... 7
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 10
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 12
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 13
TÓPICO 2 – A LITERATURA GREGA ................................................................................................ 15
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15
2 O PENSAMENTO MÍTICO ................................................................................................................ 16
3 A POÉTICA DE ARISTÓTELES ........................................................................................................ 19
4 GÊNERO ÉPICO .................................................................................................................................. 21
5 GÊNERO DRAMÁTICO .................................................................................................................... 26
5.1 A TRAGÉDIA ................................................................................................................................... 26
5.2 A COMÉDIA .................................................................................................................................... 31
6 GÊNERO LÍRICO ................................................................................................................................. 33
7 A FICÇÃO EM PROSA ....................................................................................................................... 35
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 36
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 37
TÓPICO 3 – A LITERATURA LATINA ............................................................................................... 39
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39
2 A POESIA LATINA ..............................................................................................................................40
3 A PROSA LITERÁRIA ......................................................................................................................... 43
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 46
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 47
TÓPICO 4 – A LITERATURA NA IDADE MÉDIA .......................................................................... 51
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51
2 AS CANCÕES DE GESTA .................................................................................................................. 51
3 A LÍRICA TROVADORESCA ............................................................................................................ 54
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 59
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 60
UNIDADE 2 – A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII .............................................. 63
TÓPICO 1 – O RENASCIMENTO ........................................................................................................ 65
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65
2 RESSONÂNCIAS DA LITERATURA ITALIANA: DANTE, PETRARCA, BOCCACCIO ....... 66
3 TRAVESSIAS LITERÁRIAS: A GESTA DO MAR ........................................................................ 77
3.1 OS LUSÍADAS DE CAMÕES ......................................................................................................... 77
sumáriO
VIII
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 83
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 84
TÓPICO 2 – A ESTÉTICA BARROCA ................................................................................................ 89
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 89
2 DON QUIJOTE DE LA MANCHA: CERVANTES E O ROMANCE MODERNO .................. 90
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 95
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 98
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99
TÓPICO 3 – NOVAS FORMAS DRAMÁTICAS .............................................................................. 105
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 105
2 HAMLET DE SHAKESPEARE ........................................................................................................... 105
3 LOPE DE VEGA E CALDERÓN DE LA BARCA ........................................................................... 108
4 INTERFACES DO CLASSICISMO: ESCOLA DE MULHERES DE MOLIÈRE ...................... 112
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 117
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 118
UNIDADE 3 – LITERATURA E MODERNIDADE .......................................................................... 121
TÓPICO 1 – A LITERATURA DA ILUSTRAÇÃO ............................................................................ 123
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 123
2 PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS ...................................................................... 124
3 AUTORES E OBRAS FUNDAMENTAIS ......................................................................................... 125
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 128
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 129
TÓPICO 2 – A ESTÉTICA ROMÂNTICA .......................................................................................... 131
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 131
2 O MOVIMENTO ROMÂNTICO OCIDENTAL ............................................................................. 131
3 A PROSA ROMÂNTICA..................................................................................................................... 133
4 A POESIA ROMÂNTICA ................................................................................................................... 139
5 O TEATRO ROMÂNTICO ................................................................................................................. 147
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 148
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 149
TÓPICO 3 – REALISMO E NATURALISMO .................................................................................... 151
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 151
2 A LINGUAGEM DO REALISMO ..................................................................................................... 152
3 AUTORES E OBRAS FUNDAMENTAIS ......................................................................................... 152
4 O NATURALISMO ............................................................................................................................... 157
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 161
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 163
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 164
TÓPICO 4 – AS ESTÉTICAS DO FIM DO SÉCULO XIX ................................................................ 167
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 167
2 O PARNASIANISMO .......................................................................................................................... 167
3 O SIMBOLISMO ................................................................................................................................. 169
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 174
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 175
REFERÊNCIAS .........................................................................................................................................177
1
UNIDADE 1
OS PRIMÓRDIOS DA 
LITERATURA OCIDENTAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta desta unidade, você deverá ser capaz de:
• refletir sobre as funções da literatura e as especificidades da linguagem 
literária, bem como sua importância na formação do leitor;
• perceber as amplas significações do conceito de livro clássico; 
• reconhecer as origens e o legado da literatura da Grécia e Roma antigas na 
história da literatura ocidental;
• compreender as transformações estéticas e históricas que impulsionaram 
as primeiras manifestações literárias da Idade Média.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 - LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS
TÓPICO 2 - A LITERATURA GREGA 
TÓPICO 3 - A LITERATURA LATINA
TÓPICO 4 - A LITERATURA NA IDADE MÉDIA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
LITERATURA OCIDENTAL E OS 
CLÁSSICOS
1 INTRODUÇÃO
Em nossa trajetória, buscaremos compreender a literatura como forma de 
manifestação artística que tem fortes vínculos com uma tradição que começou a ser 
construída há muito tempo. Antes de percorrermos obras literárias fundacionais 
da antiguidade clássica, apresentaremos, neste tópico, uma possível definição do 
nosso objeto de estudo, bem como uma discussão que envolve a importância da 
literatura na formação do indíviduo e o papel que ela desempenha na sociedade. 
Em seguida, problematizaremos o conceito de livro clássico, a influência 
duradoura de grandes obras que transformaram o pensamento de seu tempo. 
Munidos dessas reflexões, seguiremos rumo à origem da literatura ocidental na 
Grécia antiga e no mundo romano. 
Posto isso, consideramos importante recuperar o sentido etimológico do 
termo "literatura", proveniente do vocábulo latino littera, que significa letra e está 
atrelado à arte das palavras. Noção moderna que passou a ser denominada, como 
hoje conhecemos, só a partir do fim do século XVIII, visto que, anteriormente, a 
noção clássica de literatura estava ligada, de modo geral, a tudo o que a retórica 
e a poesia produziam, incluindo fiçcão, história, filosofia, ciência e eloquência, 
destaca Compagnon (2010).
O debate sobre literatura vem sendo feito há milênios e varia 
significativamente de acordo com as épocas e as culturas. A noção de literatura 
que perdurou ao longo dos séculos através do sistema dos gêneros poéticos 
dramático, épico e lírico, elaborado segundo as ideias dos filósofos Platão (427-347 
a.C.) e Aristóteles (384 -322 a.C.), passou a ser questionada com o aparecimento 
de novas formas de representação literária que surgiram na Idade Média e 
nos séculos seguintes, como veremos mais detidamente no decorrer de nossas 
discussões.
Diante desses novos (con)textos, a literatura começa a ser compreendida, 
na ampla acepção moderna, como um conjunto diversificado de textos criativos 
que requer do leitor uma capacidade de compreensão e interpretação que não se 
restringe a alguns preceitos. Sendo assim, podemos considerar que a literatura, 
desde suas origens até a atualidade, se caracteriza por suas diversas formas e 
meios. 
Surge, portanto, a ideia de criação literária vinculada à arte, ao exercício 
artístico da linguagem, constituindo-se como um jogo de alternâncias entre o texto 
e o leitor, um espaço aberto de relações que geram novos textos e, por extensão, 
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
4
novas leituras, segundo Roland Barthes (2006). Experimentações que trazem 
à tona as tramas complexas das escrituras, o inusitado manejo da linguagem, 
permitindo ao leitor captar a realidade de uma maneira diferente, mudando 
também a percepção sobre si mesmo e sobre aquilo que está ao seu redor. 
2 POR QUE LER LITERATURA? 
"A literatura nos ensina a melhor sentir, e como nossos sentidos não têm 
limites, ela jamais conclui, mas fica aberta […]". Se uma das funções da literatura 
é nos ensinar "a melhor sentir", como diz Compagnon (2009, p. 66), iniciaremos 
este tópico aguçando os nossos sentidos, participando efetivamente do jogo 
das palavras, experimentando o que as produções literárias têm a nos oferecer. 
Através da leitura do poema do autor brasileiro Manoel de Barros, que segue 
abaixo, passaremos a ampliar nossas reflexões acerca da importância dos textos 
literários. 
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio (BARROS, 1993, p.15).
Experimentar o que os textos literários podem oferecer ao leitor é, sem 
dúvida, uma das melhores maneiras de descobrir "por que ler literatura". A leitura 
do poema de Manoel de Barros mobiliza nossas percepções, suscita sensações 
inusitadas e traz uma série de reflexões sobre o fenômeno literário. Através 
do poema, podemos lidar com o improvável, escutar a "cor dos passarinhos”, 
porque o poeta, assim como o imaginário fértil da criança, estabelece relações 
abstratas e subjetivas com as palavras e os acontecimentos. Isso quer dizer que 
a literatura maneja o discurso, faz um uso peculiar da linguagem, transfigura o 
real, desconstrói padrões convencionais e a racionalidade lógica. 
Assim, na passagem do primeiro verso, "no descomeço era o verbo”, 
podemos perceber que o eu lírico (a “voz que fala” no poema) estabelece uma 
relação intertextual com a Bíblia cristã, com o mito da criação, questionando 
as referências cristalizadas ao longo tempo. Nesse sentido, o "delírio do verbo" 
pode ser entendido como um devaneio, um estado de inquietação, atrelado à 
subversão, à capacidade plurissignificativa da linguagem literária de provocar 
nascimentos, de singularizar as palavras.
TÓPICO 1 | LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS
5
A partir da leitura do poema retomamos, de certa maneira, a definição 
ampla de literatura como arte das palavras, capaz de produzir um efeito estético, 
sensível. Afinal, a literatura está diretamente vinculda às manifestações artísticas, 
à palavra estética, originária do termo grego aisthésis, ao que é perceptível pelos 
sentidos. Entendida de forma mais abrangente, a literatura engloba, segundo o 
crítico literário Antonio Candido:
[…] todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em 
todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde 
o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas 
e difíceis da produção escrita das grandes civilizações. Vista deste 
modo, a literatura aparece claramente como manifestação universal de 
todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem 
que possam viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em 
contato com alguma espécie de fabulação. Assim como todos sonham 
todas as noites, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do 
dia sem alguns momentos de entrega ao universo fabuloso. O sonho 
assegura durante o sono a presença indispensável desse universo, 
independentemente da nossa vontade. E durante a vigília a criação 
ficcional ou poética, que é a mola da literatura em todos os seus níveis 
e modalidades, está presente em cada um de nós, analfabeto ou erudito 
— como anedota, causo, história em quadrinho, noticiário policial, 
canção popular, moda de viola, samba carnavalesco. Ela se manifesta 
desde o devaneio amoroso ou econômico no ônibus até a atenção 
fixada na novela de televisão ou na leitura corrida de um romance. 
Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no 
universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no sentido amplo 
a que me referi parece corresponder a uma necessidade universal, que 
precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito (CANDIDO, 
2011, p. 174).As considerações de Antonio Candido (2011, p. 174) expostas no ensaio O 
direito à literatura nos ajudam a situar a literatura dentro de um conjunto plural de 
construções do imaginário. O crítico associa a necessidade da produção literária ao 
processo inconsciente de elaboração onírica, defendendo que a arte das palavras é 
também um direito humano indispensável. Além de fornecer um prazer lúdico, é 
fonte de conhecimento do real, uma "forma de expressão que manifesta emoções 
e a visão do mundo dos indivíduos e dos grupos". Assumindo, portanto, uma 
função social, um papel importante de humanização, compreendida por Candido 
como:
[…] o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos 
essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a 
boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a 
capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a 
percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. 
A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida 
em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a 
sociedade e o semelhante (CANDIDO, 2011, p. 174).
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
6
É por isso que a atividade literária oral ou escrita, para D'Onofrio (1990, 
p. 10), “é consubstancial à sociedade humana, não existindo povo sem literatura". 
Constatações que também se revelam produtivas nas discussões de Antonie 
Compangnon.
As definições de literatura segundo sua função parecem relativamente 
estáveis, quer essa função seja compreendida como individual ou 
social, privada ou pública. Aristóteles falava de katharsis (catarse), 
ou de purgação, ou de purificação de emoções como o temor e a 
piedade. É uma noção difícil de determinar, mas ela diz respeito a uma 
experiência especial das paixões ligada à arte poética. Aristóteles, além 
disso, colocava o prazer de aprender na origem da arte poética: instruir 
ou agradar, ou ainda instruir agradando, serão as duas finalidades, 
ou a dupla finalidade, que também Horácio reconhecerá na poesia, 
qualificada de dulce et utile (COMPAGNON, 2010, p. 34-35).
Para o autor, as concepções de Aristóteles e Horácio de que a literatura 
deveria ser dulce et utile, ou seja, favorecer o prazer e a formação humana, de 
certa forma, permanecem estáveis ao ressaltarem que o texto literário, dentre 
suas várias funções, tem a capacidade de despertar os sentimentos do autor e 
do leitor. Nessa perspectiva há, portanto, “um conhecimento do mundo e dos 
homens propiciado pela experiência literária (talvez não apenas por ela, mas 
principalmente por ela)”, destaca Compagnon (2010, p. 35).
Em outro momento, sob a provocadora indagação "Literatura para quê?", 
Compagnon (2009, p. 60) reforça a discussão, salientando que a literatura deve 
"ser lida e estudada porque oferece um meio — alguns dirão até mesmo único — 
de preservar e transmitir a experiência dos outros, aqueles que estão distantes de 
nós no espaço e no tempo, ou que diferem de nós por suas condições de vida". 
Sem dúvida, ela é capaz de nos tornar "sensíveis ao fato de que os outros são 
muito diversos e que seus valores se distanciam dos nossos”. 
Reconhecer que a literatura assume um papel transformador passa pelo 
entendimento de que ela desempenha várias funções, incluindo o entretenimento, 
a investigação psicológica, a crítica política, social e ideológica, entre outras 
questões estéticas e filosóficas mais amplas que abarcam as especificidades dos 
textos literários. 
Notadamente, a leitura de poemas, romances, contos, peças teatrais, 
entre outros textos verbais e visuais, possibilita múltiplas experiências. Através 
da literatura somos transportados para lugares inusitados que escapam à nossa 
percepção. Também somos estimulados a refletir sobre a complexidade da 
linguagem, sobre crenças, incertezas, sobre aspirações e conflitos humanos. Ora, 
não é à toa que muitas obras literárias foram consagradas por suas singulares 
reverberações e exerceram um profundo impacto na sociedade. À vista disso, 
veremos, a seguir, outra importante discussão, envolvendo especificamente a 
leitura de livros considerados clássicos.
TÓPICO 1 | LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS
7
3 OS CLÁSSICOS E A FORMAÇÃO DO LEITOR
O estudo da literatura ocidental apresenta uma série de desafios que 
certamente estão vinculados à amplitude e à complexidade do nosso objeto 
de investigação. Vimos que a literatura possui especificidades próprias, que 
se revelam pela maneira como expressa artisticamente determinadas ideias e 
sensações. Daqui em diante, estudaremos várias obras pertencentes ao canône 
literário ocidental, isto é, textos que exercem uma influência particular e fazem 
parte de um conjunto de leituras consideradas importantes para a formação do 
leitor.
O cânone literário, oriundo da palavra grega kanon, significa norma, medida, diz 
respeito aos princípios literários que permitem organizar um conjunto de obras consideradas 
indispensáveis à formação do indivíduo. Designa, ainda, os postulados ou princípios 
doutrinários que norteiam determinada corrente literária (MOISÉS, 2004). São obras de 
referência, denominadas clássicas. De certa forma, o processo de canonização está atrelado 
a interesses dos grupos responsáveis por sua constituição e disseminação. É por isso que 
muitos especialistas em literatura problematizam a formação do cânone, contrariando as 
escolhas arbitrárias fundamentadas em regras que estão a serviço de ideologias hegemônicas 
e incorporando outras formas de manifestações literárias.
NOTA
Diante dessas problematizações, você pode estar se perguntando: Afinal, 
o que podemos chamar de clássicos? 
Na verdade, não há um consenso entre os especialistas sobre o valor de 
uma obra literária. Podemos considerar que um determinado livro se converte 
em clássico quando persiste ao longo do tempo e segue vivo na releitura e na 
imaginação dos leitores, como é o caso dos poemas Ilíada e Odisseia, recitados 
oralmente, que consagraram Homero como o educador dos gregos e, por 
extensão, o modelador da cultura ocidental, segundo Jaeger (2010). Esses 
poemas da Antiguidade Clássica nutriram o pensamento da humanidade, ao 
transmitirem valores culturais através do relato das realizações dos deuses e dos 
antepassados. As diversas traduções e releituras das epopeias homéricas, que 
vão da poesia à prosa, das irreverentes histórias em quadrinhos às modernas 
produções cinematográficas, continuam suscitando indagações críticas sobre o 
homem e o mundo, como já abordado em Yee (2011). Constatações que nos levam 
à outra indagação: Por que será que certas obras se perpetuam, permanecendo 
singulares e enigmáticas?
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
8
Obras como Ilíada e Odisseia, de Homero, a Divina Comédia de Dante 
Alighieri e a narrativa do famoso cavaleiro medieval, criada por Miguel de 
Cervantes em Dom Quixote, foram produzidas por culturas diferentes, em tempos 
tão distantes, e continuam dissipando imagens que povoam o imaginário coletivo. 
São obras que pertencem indiscutivelmene ao cânone, parecem definir um valor 
literário e se revelam uma experiência de leitura enriquecedora, na qual o leitor 
pode experimentar as destrezas e as complexidades da linguagem literária e 
refletir sobre temas inesgotáveis.
No ensaio Por que ler os clássicos, Ítalo Calvino (2007, p. 10-11) levanta 
algumas hipóteses que nos levam a entender que os livros clássicos sempre se 
renovam e têm algo a dizer, e "quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, 
quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos". Vistos 
dessa maneira, os clássicos são responsáveis por gerar uma espécie de "riqueza" 
para o seu leitor, na medida em que proporcionam uma experiência instigante e 
inesquecível, sempre aberta às interpretações. 
Calvino acredita que uma obra não será considerada clássica apenas por 
uma convenção, por uma escolha arbitrária de um grupo de pessoas, e, sim, 
porqueexerce, antes de tudo, "uma influência particular quando se impõem 
como inesquecíveis e quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-
se como inconsciente coletivo ou individual". Ou seja, um clássico amplia 
significativamente nossa experiência de leitura quando passa a fazer parte das 
nossas lembranças ou do imaginário coletivo. Em outra passagem do ensaio 
citado, Calvino reforça que:
7. Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo 
as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços 
que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais 
simplesmente na linguagem ou nos costumes). 
Isso vale tanto para os clássicos antigos quanto para os modernos. 
Se leio a Odisseia, leio o texto de Homero, mas não posso esquecer 
tudo aquilo que as aventuras de Ulisses passaram a significar durante 
os séculos e não posso deixar de perguntar-me se tais significados 
estavam implícitos no texto ou se são incrustações, deformações 
ou dilatações. Lendo Kafka, não posso deixar de comprovar ou de 
rechaçar a legitimidade do adjetivo kafkiano que costumamos ouvir a 
cada quinze minutos, aplicado dentro e fora de contexto. Se leio Pais e 
filhos de Turgueniev ou Os possuídos de Dostoievski não posso deixar 
de pensar em como essas personagens continuaram a reencarnar-se 
até nossos dias (CALVINO, 2007, p. 12).
Ao citar o seu repertório de obras da tradição literária, Calvino destaca a 
influência dos clássicos sobre o pensamento do leitor. As obras instigam, nutrem 
o imaginário, desencadeiam uma série de discussões e correlações. Por essa via, 
entendemos a justificativa do autor de que ler os clássicos é sempre melhor do 
que não os ler. Calvino ainda ressalta que:
TÓPICO 1 | LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS
9
[…] A leitura de um clássico deve oferecer-nos alguma surpresa em 
relação à imagem que dele tínhamos. Por isso, nunca será demais 
recomendar a leitura direta dos textos originais, evitando o mais 
possível bibliografia crítica, comentários, interpretações. A escola e a 
universidade deveriam servir para fazer entender que nenhum livro 
que fala de outro livro diz mais sobre o livro em questão; mas fazem de 
tudo para que se acredite no contrário. Existe uma inversão de valores 
muito difundida segundo a qual a introdução, o instrumental crítico, a 
bibliografia são usados como cortina de fumaça para esconder aquilo 
que o texto tem a dizer e que só pode dizer se o deixarmos falar sem 
intermediários que pretendam saber mais do que ele (CALVINO, 
2007, p. 13).
Significa entender que as instituições de ensino precisam dar a devida 
atenção ao debate sobre a experiência da leitura de textos integrais, privilegiando 
a vivência efetiva com os textos literários em suas dimensões estética, filosófica, 
cultural e histórica. Em face do exposto, talvez você esteja se questionando mais 
uma vez: Será que ainda há espaço para os clássicos na escola? Como preparamos 
os alunos para melhor fruir um texto literário? Respaldados pelas discussões 
apresentadas até aqui, reivindicaremos o espaço para os clássicos na escola. 
Ora, se é possível através da literatura vivermos experiências diversificadas 
e inesquecíveis, cabe ao professor, diante da tarefa desafiadora, despertar a 
curiosidade dos estudantes, instigando o prazer pela leitura desinteressada, 
sem imposição, visando, assim, o enriquecimento do autoconhecimento e 
da percepção de mundo dos leitores. Dessa maneira, os estudantes poderão 
encontrar caminhos para ir mais longe, buscando outras referências, construindo 
um repertório próprio de livros clássicos.
Jorge Luis Borges também se debruçou sobre os significados plurais e 
complexos dos clássicos ao longo do tempo, concebendo o clássico como sendo 
"aquel libro que una nación o un grupo de naciones o el largo tiempo han decidido 
leer como si en sus páginas todo fuera deliberado, fatal, profundo como el cosmos 
y capaz de interpretaciones sin término" (BORGES, 1980, p. 32). Para encerrar 
este tópico convidamos você para apreciar as reflexões de Borges, apresentadas a 
seguir, em língua espanhola, no texto intitulado Sobre los clássicos. 
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
10
SOBRE LOS CLÁSSICOS
Jorge Luis Borges
Escasas disciplinas habrá de mayor interés que la etimología: ello se 
debe a las imprevisibles transformaciones del sentido primitivo de las palabras, 
a lo largo del tiempo. Dadas tales transformaciones, que pueden lindar con lo 
paradójico, de nada o de muy poco nos servirá para la aclaración de un concepto 
el origen de una palabra. Saber que cálculo, en latín, quiere decir piedrecita y que 
los pitagóricos las usaban antes de la invención de los números, no nos permite 
dominar los arcanos del álgebra; saber que hipócrita es actor, y persona, máscara, 
no es un instrumento valioso para el estudio de la ética. Parejamente, para fijar 
lo que hoy entendemos por lo clásico, es inútil que este adjetivo descienda del 
latín classis, flota, que luego tomaría el sentido del orden. (Recordemos de paso la 
información análoga de ship-shape.)
¿Qué es, ahora, un libro clásico? Tengo al alcance de la mano las definiciones 
de Eliot, de Arnold y de Sainte-Beuve, sin duda razonables y luminosas, y me 
sería grato estar de acuerdo con esos ilustres autores, pero no los consultaré. 
He cumplido sesenta y tantos años: a mi edad, las coincidencias o novedades 
importan menos que lo que uno cree verdadero. Me limitaré, pues, a declarar lo 
que sobre este punto he pensado.
Mi primer estímulo fue una Historia de la literatura china (1901) de Herbert 
Allen Giles. En su capítulo segundo leí que uno de los cinco textos canónicos 
que Confucio editó es el Libro de los Cambios o I King, hecho de 64 hexagramas, 
que agotan las posibles combinaciones de seis líneas partidas o enteras. Uno de 
los esquemas, por ejemplo, consta de dos líneas enteras, de una partida y de 
tres enteras, verticalmente dispuestas. Un emperador prehistórico los habría 
descubierto en la caparazón de una de las tortugas sagradas. Leibniz creyó ver en 
los hexagramas un sistema binario de numeración; otros, una filosofía enigmática; 
otros, como Wilhelm, un instrumento para la adivinación del futuro, ya que las 
64 figuras corresponden a las 64 fases de cualquier empresa o proceso; otros, 
un vocabulario de cierta tribu; otros, un calendario. Recuerdo que Xul-Solar 
solía reconstruir ese texto con palillos y fósforos. Para los extranjeros, el Libro 
de los Cambios corre el albur de parecer una mera chinoiserie; pero generaciones 
milenarias de hombres muy cultos lo han leído y referido con devoción y seguirán 
leyéndolo. Confucio declaró a sus discípulos que si el destino le otorgara cien 
años más de vida, consagraría la mitad a su estudio y al de los comentarios o alas.
Deliberadamente he elegido un ejemplo extremo, una lectura que reclama 
un acto de fe. Llego, ahora, a mi tesis. Clásico es aquel libro que una nación o un 
grupo de naciones o el largo tiempo han decidido leer como si en sus páginas todo 
fuera deliberado, fatal, profundo como el cosmos y capaz de interpretaciones sin 
término. Previsiblemente, esas decisiones varían. Para los alemanes y austríacos 
LEITURA COMPLEMENTAR
TÓPICO 1 | LITERATURA OCIDENTAL E OS CLÁSSICOS
11
el Fausto es una obra genial; para otros, una de las más famosas formas del tedio, 
como el segundo Paraíso de Milton o la obra de Rabelais. Libros como el de Job, 
la Divina Comedia, Macbeth (y, para mí, algunas de las sagas del Norte) prometen 
una larga inmortalidad, pero nada sabemos del porvenir, salvo que diferirá del 
presente. Una preferencia bien puede ser una superstición.
No tengo vocación de iconoclasta. Hacia el año treinta creía, bajo el influjo 
de Macedonio Fernández, que la belleza es privilegio de unos pocos autores; 
ahora sé que es común y que está acechándonos en las casuales páginas del 
mediocre o en un diálogo callejero. Así, mi desconocimiento de las letras malayas 
o húngarases total, pero estoy seguro de que si el tiempo me deparara la ocasión 
de su estudio, encontraría en ellas todos los alimentos que requiere el espíritu. 
Además de las barreras lingüísticas intervienen las políticas o geográficas. Burns 
es un clásico en Escocia; al sur del Tweed interesa menos que Dunbar o Stevenson. 
La gloria de un poeta depende, en suma, de la excitación o de la apatía de las 
generaciones de hombres anónimos que la ponen a prueba, en la soledad de sus 
bibliotecas.
Las emociones que la literatura suscita son quizá eternas, pero los medios 
deben constantemente variar, siquiera de un modo levísimo, para no perder su 
virtud. Se gastan a medida que los reconoce el lector. De ahí el peligro de afirmar 
que existen obras clásicas y que lo serán para siempre.
Cada cual descree de su arte y de sus artificios. Yo, que me he resignado a 
poner en duda la indefinida perduración de Voltaire o de Shakespeare, creo (esta 
tarde uno de los últimos días de 1965) en la de Schopenhauer y en la de Berkeley.
Clásico no es un libro (lo repito) que necesariamente posee tales o cuales 
méritos; es un libro que las generaciones de los hombres, urgidas por diversas 
razones, leen con previo fervor y con una misteriosa lealtad.
FONTE: BORGES, Jorge Luis. Sobre los clássicos. In: Otras inquisiciones: prosa completa, II. 
Barcelona: Bruguera, 1980. p. 302-303.
12
Neste tópico, você aprendeu que:
• A literatura, como manifestação artística, exerce um trabalho peculiar com 
as palavras ao criar ficções que estabelecem um diálogo estético e crítico com 
a realidade, com a complexidade do ser humano, do mundo e das relações 
existenciais.
• Os textos literários despertam sensações e sentimentos que promovem o prazer 
da leitura, estimulam a criatividade, o senso crítico, e são importantes para a 
formação humana. 
• A formação do leitor literário pressupõe o contato direto com diversos textos 
literários, visando promover o reconhecimento de suas singularidades, bem 
como a ampliação da visão de mundo e o desenvolvimento da sensibilidade do 
leitor.
• Os clássicos são livros que integram as nossas lembranças e exercem uma 
influência particular na medida em que se tornam inesquecíveis e se mimetizam 
como inconsciente coletivo e individual.
RESUMO DO TÓPICO 1
13
1 Considerando as discussões de Jorge Luis Borges no ensaio Sobre los clásicos, 
expostas na Leitura Complementar, analise as asserções a seguir e a relação 
proposta entre elas.
I. Um clássico é um livro que as gerações de homens, instigados por diversos 
motivos, leem com fervor prévio e com uma misteriosa lealdade.
PORQUE
II. Os clássicos vêm até nós da tradição e exigem um ato de fé prévia. No 
entanto, essa concepção coletiva é eterna e imutável.
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma 
justificativa correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa 
correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.
2 Leia o poema do escritor Carlos Drummond de Andrade. Em seguida, 
responda à questão proposta.
Iniciação Literária
Leituras! Leituras!
Como quem diz: Navios... Sair pelo mundo
voando na capa vermelha de Júlio Verne.
Mas por que me deram para livro escolar
a Cultura dos campos de Assis Brasil?
O mundo é só fosfatos – lotes de 25 hectares
– soja – fumo – alfafa – batata-doce – mandioca –
pastos de cria – pastos de engorda.
Se algum dia eu for rei, baixarei um decreto
condenando este Assis a ler sua obra.
FONTE: ANDRADE, Carlos Drummond de. Iniciação literária. In: Nova reunião: 23 livros de 
poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 603.
O poema de Drummond estabelece uma relação intertextual com os escritos 
do autor francês Júlio Verne (1828-1905), enfatizando o processo de iniciação 
literária ao universo dos textos clássicos. A partir do texto acima, avalie as 
afirmações a seguir:
AUTOATIVIDADE
14
I. O eu lírico demonstra prazer pela leitura da ficção do escritor Júlio Verne, 
mas sente-se forçado a ler um livro que trata de dados descritivos referentes 
ao universo agrário brasileiro.
II. Depreende-se do poema a ideia de que a leitura de um clássico é como um 
voo, um momento de liberdade que possibilita ao leitor “sair pelo mundo" 
através da imaginação.
III. O eu lírico apresenta um paradoxo entre as leituras espontâneas e o 
livro escolar, considerando a obra de Júlio Verne um modelo de texto 
convencional. 
É correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
3 Tendo em vista as reflexões apresentadas neste tópico, faça uma lista de seus 
clássicos. Que livros fazem parte do seu reportório de leitura? Selecione 
e apresente alguma obra que você já leu ou ouviu falar, que pode ser 
considerada significativa para a formação do leitor. Em seguida, disserte 
sobre a relevância da obra escolhida, baseando-se na concepção de "clássico", 
formulada pelos autores Ítalo Calvino e Jorge Luis Borges.
15
TÓPICO 2
A LITERATURA GREGA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos a literatura grega, considerada o fundamento 
da literatura ocidental. Para tanto, iniciaremos com uma síntese sobre os períodos 
históricos das manifestações literárias e seus principais autores das formas épica, 
dramática e lírica. Em seguida, faremos uma abordagem sobre o pensamento 
mítico dos gregos e partiremos da Poética de Aristóteles, de suas discussões 
sobre os gêneros literários, para ressaltar algumas das obras mais relevantes da 
literatura grega. 
A cultura grega surgiu na atual Península Balcânica aproximadamente no 
ano 1100 a.C. até o período da conquista romana em 146 a.C. Nela, encontramos 
as bases da cultura ocidental nos diversos âmbitos que englobam a filosofia, a 
história, os sistemas políticos e jurídicos, a ciência, a educação, a literatura, as 
artes plásticas e arquitetura como técnicas estéticas, os esportes, entre outros. 
A literatura grega antiga inicia por volta do século VIII a.C. e engloba, 
basicamente, três momentos: o período arcaico (até o fim do século VI a.C.), o 
período clássico (séculos V e IV a.C.), e o período helenístico (a partir do século 
III a.C.).
O período arcaico foi um momento profícuo dos poemas cantados, 
transmitidos oralmente, cujos temas envolviam histórias mitológicas. Neste 
momento destacamos o surgimento das epopeias a Ilíada e a Odisseia, atribuídas a 
Homero, que narram a Guerra de Troia e a Viagem de retorno de Odisseu (Ulisses, 
no nome latino). É deste período também a poesia de Hesíodo (c. 700 a.C.), que 
foi posto em competição com Homero pelos próprios gregos, destaca Romilly 
(2011). Segundo a autora, a obra poética de Hesíodo procura romper com o ideal 
guerreiro do herói e é constituída principalmente por dois poemas: a Teogonia e os 
Trabalhos e Dias. Além desses, os antigos referiram outros. Nesta época, surgiram 
também os diversos tipos de poesia lírica, como os da poetisa Safo. 
No período clássico, auge dos gêneros literários, destacam-se as tragédias 
de Sófocles, Ésquilo e Eurípides e as comédias de Aristófanes, bem como as obras 
de Platão e Aristóteles, que foram fundamentais para a formação do pensamento 
ocidental.
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
16
O período helenístico ou greco-romano, momento situado entre a morte 
de Alexandre, O Grande (323 a.C.) e a conquista do Antigo Egito pelos romanos, 
no ano de 30 a.C., sinaliza a transição da cultura grega para a romana. Nesta 
época, as ciências começam a se desenvolver, e no âmbito das artes destacam-se 
a poesia lírica de Calímaco, a poesia épica de Apolônio de Rodes, e o surgimento 
da ficção em prosa — considerada a gênese do romance.
2 O PENSAMENTO MÍTICO
Os mitos são elementos fundamentais para a compreensãoda literatura 
grega e latina, bem como para as manifestações artísticas do Renascimento ou do 
Classicismo que revalorizaram a Antiguidade Clássica. 
Os gregos antigos foram grandes criadores de histórias fabulosas que 
serviram para explicar as origens dos fenômenos naturais e do comportamento 
humano, antes do progresso racional e científico. Os mitos gregos, que foram 
adotados com outros nomes pelos latinos, são narrativas dos atos de seres 
sobrenaturais que explicavam a origem do universo e buscavam apaziguar os 
seres humanos diante das forças da natureza, dos conflitos e das contradições 
existenciais.
Através dessas narrativas, é possível compreender a cultura e a forma 
de pensamento dos gregos, seu modo de entender o mundo, destaca Jean-Pierre 
Vernant (1992). No panteísmo (crença em vários deuses), um dos princípios da 
sociedade grega, os deuses tinham uma construção bastante distinta do Deus 
presente na sociedade cristã. Mesmo sendo considerados divindades, os deuses 
gregos apresentavam limitações e muitas outras características semelhantes às 
dos humanos, além de estarem condicionados aos desígnos do Destino.
Mito (do grego mythos, no singular; mythoi, no plural), significa narrativa, 
histórias universalmente presentes no imaginário coletivo de povos de diferentes culturas. 
Para os gregos antigos, o pensamento mítico surge como uma crença-verdade transmitida 
através do discurso, criada e recriada por poetas e cantores populares, segue uma lógica 
peculiar que busca compreender a origem do mundo e de tudo que existe nele. "Memória, 
oralidade e tradição: são essas condições de existência e sobrevivência do mito", destaca 
Vernant (2000, p. 12). 
NOTA
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
17
Para Vernant, os mitos gregos são construções simbólicas complexas, 
que auxiliam o homem a compreender fenômenos concretos e abstratos, 
representando, assim, um sistema de pensamento a partir de uma perspectiva 
social. Logo: 
O mito não é uma vaga expressão de sentimentos individuais ou de 
emoções populares; é um sistema simbólico institucionalizado, uma 
conduta verbal codificada, veiculando, como a língua, maneiras de 
classificar, de coordenar, de agrupar e contrapor fatos, de sentir ao 
mesmo tempo semelhanças e dessemelhanças; em suma, de organizar 
a experiência (VERNANT, 2000, p. 206).
Vislumbrando a reflexão sobre a relação entre mito e literatura, a partir da 
poesia épica e do teatro grego, apresentaremos a seguir as principais divindades 
da Antiguidade Clássica e uma síntese de suas características mais peculiares, 
segundo D'Onofrio (1990). Destacaremos o nome grego e entre parênteses o 
termo correspondente latino.
• Zeus (Júpiter, também conhecido como Jove) é a maior divindade do mundo 
greco-romano, considerado por Homero o pai dos deuses e dos homens; o mito 
exprime a figura da autoridade, da onipotência.
• Poséidon (Netuno), irmão de Zeus, deus do mar e todo elemento líquido; ele é 
o causador de todos os movimentos sísmicos, através da agitação tempestuosa 
da água, simboliza a perturbação e a renovação da ordem cósmica, em oposição 
à terra, elemento passivo e estável.
• Hades (Plutão), irmão de Zeus, deus dos infernos, das profundezas subterrâneas, 
da morte e da destruição.
• Hera (Juno), esposa de Zeus, deusa da fecundidade e da fidelidade matrimonial, 
persegue todas as amantes do marido e os filhos ilegítimos deste, representa o 
princípio feminino.
• Atena (Minerva), filha de Zeus, deusa da guerra e da sabedoria; ela, junto 
com o irmão Apolo, simboliza características como a inteligência, a verdade, o 
equilíbrio sobre a barbárie, a orgia, o mistério.
• Afrodite (Vênus), filha de Zeus, deusa da beleza e do amor; ela, junto com seu 
filho Eros (Cupido), personifica a força do instinto sexual, que não conhece 
barreiras sociais ou morais. 
• Apolo, filho de Zeus, deus da luz; tinha a missão de trazer a luz para a terra, 
o calor e a vida. Apolo, com a musa Calíope, gerou Orfeu, poeta e músico, 
admirado pelos gregos porque seu canto abrandava a dor e fascinava homens, 
animais e minerais.
• Dioniso (Baco), filho de Zeus, deus do vinho; fruto de um um amor divino-
humano, não foi aceito no Olimpo e precisou conquistar o direito à imortalidade; 
personifica o instinto, a subversão da ordem, o prazer e a inversão dos valores.
• Ares (Marte), filho de Zeus e Hera, deus da guerra e da violência; personifica a 
força bruta, a violência gratuita.
• Hermes (Mercúrio), filho de Zeus, mensageiro dos deuses, protetor do 
comércio, do lucro e das viagens.
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
18
• Ártemis (Diana), filha de Zeus, deusa da caça, da virgindade, símbolo da 
necessidade de repressão dos instintos sexuais. Também é considerada a deusa 
da Lua.
• Deméter (Ceres), irmã de Zeus, deusa da terra e da agricultura; simboliza o 
progresso material do homem na sua aprendizagem do cultivo da terra.
• Destino (Fado), filho da Noite, gerado pelo Caos, simboliza uma força cósmica 
superior ao próprio Zeus, à vontade dos deuses e dos homens, representa a 
necessidade de manutenção da ordem no universo. 
• Vulcano (Hefesto), é o símbolo da engenhosidade humana, que se serve do 
fogo como meio para o desenvolvimento da ciência e da arte.
• As musas, as nove musas que inspiravam as artes, eram filhas de Zeus e 
Mnemosine (deusa da memória). São elas: 1) Calíope, musa da poesia épica; 
2) Clio, musa da história; 3) Érato, musa da poesia lírica; 4) Euterpe, protetora 
da música; 5) Melpômene, musa do canto (mãe das sereias); 6) Polímnia, musa 
dos hinos religiosos e da oratória; 7) Talia, musa da comédia; 8) Terpsícore, 
musa da poesia trágica; 9) Urânia, musa das ciências exatas.
Destacamos o papel importante dos mitos na sociedade grega e na 
formação do pensamento ocidental. Veremos mais adiante que as ações heroicas 
humanas relatadas nas epopeias apresentam a constante intervenção dos deuses. 
Por exemplo, no poema Ilíada, que narra o Guerra de Troia, os deuses estavam 
divididos entre os gregos e os troianos, e a própria guerra teria sido motivada 
pela rivalidade entre as deusas.
 O pensamento filosófico sobre a literatura também se apropriou das 
construções míticas recitadas em praça pública por poetas cantadores como 
Homero. Platão, em sua obra intitulada A República, critica Homero por apresentar 
heróis e deuses reproduzindo comportamentos moralmente duvidosos, como a 
traição, a falsidade, o roubo, a violência etc., que, para o filósofo, corrompem os 
nossos juízos de valor. Ainda na concepção de Platão, o artista nasce como tal 
porque recebe dos deuses o "dom" da arte. Esta ideia de "poeta inspirado" pela 
Musa foi refutada pela concepção de Aristóteles do "poeta artífice", aquele "que 
constrói e estrutura sua obra mediante um longo trabalho de aprendizado de 
modelos preexistentes, de técnicas específicas e do conhecimento da realidade 
que o circunda", destaca D'Onofrio (1990, p. 41). 
Na próxima seção, ressaltaremos as principais discussões de Aristóteles 
na sua Poética, obra que teve grande repercussão em diversas épocas e instaurou 
o vocabulário da crítica literária no Ocidente, lembra Romilly (2011). O nosso 
propósito é iniciar o estudo da literatura grega, destacando os gêneros literários e 
a continuidade entre as obras gregas e romanas.
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
19
3 A POÉTICA DE ARISTÓTELES
Platão e Aristóteles foram os precursores do pensamento sobre as 
manifestações do imaginário. Ao refutar as ideias platônicas de que a arte tem 
uma origem divina e a mimese (imitação) poética é ilusória e prejudicial aos ideais 
morais e pedagógicos dos filósofos, Aristóteles reelaborou o conceito de imitação 
como representação de uma possibilidade e criou uma concepção estética, 
abordando, sobretudo, a produção da poesia oral, em seus diversos gêneros, 
destacando a função de cada um deles. 
Vejamos, a seguir, a apresentação inicial da Poética, escrita, 
aproximadamente, entre os anos 335 e 323 a.C., quandoa poesia oral era forma 
predominante de literatura. A obra contém 26 capítulos e apresenta uma discussão 
sobre a arte poética, destacando as poesias trágica e épica.
I. Falemos da natureza e espécies da poesia, do condão de cada uma, 
de como hão de compor as fábulas para o bom êxito do poema; depois, 
do número e natureza das partes e bem assim das demais matérias 
dessa pesquisa, começando, como manda a natureza, pelas noções 
mais elementares. 
A epopeia, o poema trágico, bem como a comédia, o ditirambo [hino 
coral em louvor de Dionisio (Baco)] e, em sua maior parte, a arte do 
flauteiro e a do citaredo [cantor], todas vêm a ser, de modo geral, 
imitações. Diferem entre si em três pontos: imitam ou por meios 
diferentes, ou objetos diferentes, ou de maneira diferente e não a 
mesma (ARISTÓTELES, 2014, p. 18).
As palavras iniciais de Aristóteles sinalizam um predomínio das 
produções orais recitadas pelos aedos (poetas cantadores), próprias da época e das 
práticas dos grupos sociais na cultura dos gregos antigos. Ademais, caracterizam 
a literatura como uma arte da imitação (algo inerente à natureza humana), que se 
realiza através da linguagem, do ritmo e da harmonia. O filósofo desenvolve a 
ideia de que a função da literatura, principalmente do teatro, é criar representações 
(imitações) das ações e comportamentos humanos, das paixões e forças que nos 
levam a agir. Para Aristóteles, quando nos deparamos com as representações 
criadas pelos textos literários, aprendemos com as experiências das personagens. 
Na Antiguidade Clássica, Aristóteles foi o precursor do estudo da 
produção literária baseada em gêneros, isto é, em padrões de construção artística, 
classificados em épico, dramático e lírico, mas a parte dos escritos correspondentes 
à poesia lírica foi perdida. Durante o Renascimento, as teorias poéticas italianas 
incluíram as formas líricas entre as categorias descritas por Aristóteles. Essa 
classificação se consolidou como norma, especialmente na época que vai de fins 
do século XV até o século XVIII, destaca Souza (1995). Contudo, a partir do século 
XIX, o Romantismo se afasta do normativismo e começam a surgir novas criações 
e correlações que visam à liberdade criadora, à desconstrução dos modelos 
fixados até então, como exemplo temos a consolidação romance, figurando entre 
os gêneros literários modernos em prosa.
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
20
Sobre os gêneros literários, Angélica Soares reforça que:
[...] A denominação de gêneros literários, para os diferentes 
agrupamentos de obras literárias, fica mais clara se lembrarmos que 
gênero (do latim genus-eris) significa tempo de nascimento, origem, 
classe, espécie, geração. E o que se vem fazendo, através dos tempos, 
é filiar cada obra literária a uma classe ou espécie; ou ainda é mostrar 
como certo tempo de nascimento e certa origem geram uma nova 
modalidade literária. A caracterização dos gêneros, tomando por 
vezes feições normativas, ou apenas descritivas, apresentando-se 
como regras inflexíveis ou apenas um conjunto de traços, os quais a 
obra pode apresentar em sua totalidade ou predominantemente, vem 
diferenciando-se a cada época. Em defesa de uma universalidade na 
literatura, muitos teóricos chegam mesmo a considerar o gênero como 
categoria imutável e a valorizar a obra pela sua obediência a leis fixas 
de estruturação, pela sua “pureza”. Enquanto outros, em nome da 
liberdade criadora de que deve resultar o trabalho artístico, defendem 
a mistura de gêneros, procurando mostrar que cada obra apresenta 
diferentes combinações de características dos diversos gêneros 
(SOARES, 2007, p. 7-8).
No âmbito dessas discussões, a classificação aristotélica, criada para 
dar uma configuração artística a diversas histórias, ainda continua provocando 
reflexões, especialmente o conceito de imitação, da poesia como recriação, que 
servem de base para o pensamento sobre as formas estéticas. 
As categorias apresentadas pelo filósofo podem ser caracterizadas em três 
gêneros, de acordo com a forma e o conteúdo das obras literárias.
• Épico ou narrativo: texto criado a partir de uma estrutura narrativa que tem 
como assunto os feitos heroicos e os grandes ideais de um povo. Homero é 
considerado modelo, o poeta mais representativo.
• Dramático: são textos em que as personagens apresentam uma ação direta, 
divididas em tragédia e comédia. 
• Lírico: são diferentes tipos de versos em que o sujeito lírico (eu lírico), criado 
pelo poeta, vivencia e manifesta emoções.
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
21
Além das questões que apresentamos sobre a Poética de Aristóteles, é 
importante que você aprofunde seus estudos fazendo a leitura integral da obra, atendo-se 
a outras discussões, por exemplo, o conceito de catarse (referente à purificação, à liberação 
de um sentimento reprimido, como sendo a finalidade da tragédia ao suscitar o temor e 
a piedade); as questões da verossimilhança (sobre aquilo que é semelhante à verdade, na 
medida do possível e do necessário); as especificidades de cada gênero; a diferença entre 
o poeta e o historiador (o historiador escreve o que aconteceu, e o poeta, o que poderia ter 
acontecido), entre outras. Para saber mais, acesse a versão completa da obra no Portal Domínio 
Público. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm.
do?select_action=&co_obra=2235. 
Para ampliar ainda mais os seus conhecimentos, procure estabelecer um diálogo entre as 
discussões do filósofo e as narrativas fílmicas. Muitas estratégias utilizadas pela dramarturgia 
e pelo cinema seguem as regras dramáticas clássicas. Veja, por exemplo, no filme Avatar 
(2009), de James Cameron, como, no mundo alienígena de Pandora, os colonizadores 
humanos e os Na'vi, seres primitivos, entram em guerra pelo planeta e pela manutenção da 
espécie nativa.
IMPORTANT
E
4 GÊNERO ÉPICO 
A narrativa mais antiga de que se tem conhecimento é A epopeia de Gilgamesh 
ou o Poema de Gilgamesh, da cultura da Mesopotâmia, produzida em torno do ano 
2.000 a.C. Gravado em tábuas de argila através da escrita cuneiforme, o poema 
é considerado a primeira obra a narrar os feitos de um herói, as aventuras do rei 
Gilgamesh e do seu amigo Endiku, os desafios enfrentados diante de monstros e 
deuses. Apesar disso, na cultura ocidental, considera-se as obras Ilíada e Odisseia, 
surgidas por volta do século VIII a.C, as narrativas mais importantes, provenientes 
de uma tradição transmitida de forma oral pelos aedos, poetas que cantavam 
fábulas e tradições.
Se ninguém tem certeza da existência de Homero, o contrário acontece 
com os poemas que foram atribuídos a ele, destaca Manguel, ao dizer que:
Num sentido muito real, a Ilíada e a Odisseia nos são familiares antes 
de abrirmos suas primeiras páginas. Antes mesmo de começarmos a 
acompanhar as mudanças de humor de Aquiles ou admirar a esperteza 
e a coragem de Ulisses, aprendemos a presumir que, em algum lugar, 
nessas histórias de guerra no tempo e de viagem no espaço, nos será 
contada a experiência de toda a luta e de toda travessia humanas 
(MANGUEL, 2008, p. 39).
Já do ponto de vista formal, a poesia épica da Antiguidade Clássica 
se caracteriza por apresentar uma narrativa longa, composta por um verso 
específico chamado hexâmetro datílico, que foi elaborado por Homero e outros 
épicos gregos. Também está presente em Virgílio, na Eneida, e em outros épicos 
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
22
latinos, tendo sido reelaborado posteriormente por Camões, nos Lusíadas, com 
seus versos decassílados, seguidos por novas propostas de versos que surgiram 
posteriormente.
O hexâmetro datílico (dactilus, significa dedo em grego) é uma estrutura 
métrica poética formada por uma sílaba longa (tônica) seguida por duas curtas (átonas) que 
se parecem com as falanges dos dedos. Os versos decassílados, por sua vez, possuem dez 
sílabas métricas e são classificados de acordo as posições da sílaba tônica.
NOTA
Além disso, ospoemas épicos gregos apresentam uma organização 
interna. Por serem longos, são divididos em vários cantos (ou livros). Nessa 
estrutura, os cantos são organizados da seguinte maneira:
• Proposição (ou exórdio): introdução do tema e definição do herói do poema.
• Invocação: momento em que o poeta pede inspiração à Musa para desenvolver 
a narrativa. 
• Narração: parte em que se narra as aventuras e os feitos gloriosos do herói.
• Epílogo (conclusão): encerramento da narração dos feitos heroicos.
Logo, podemos considerar que as epopeias clássicas apresentam 
características comuns ao narrarem feitos extraordinários de um herói. Nelas, 
no entanto, o conceito de herói é amplo, visto que as personagens apresentam 
características diversificadas dentre as várias possibilidades de representação. 
Contudo, nas epopeias homéricas costuma-se singularizar a força de Aquiles, na 
Ilíada, e a astúcia de Ulisses, na Odisseia.
A Ilíada tem cerca de mil versos, divididos em 24 contos, e é considerada 
uma obra de juventude de Homero. O poema narra parte da guerra dos Aqueus 
(os primeiros gregos que ocuparam parte do Mediterrâneo) contra Troia, 
evidenciando a ira de Aquiles, a sua recusa em continuar a lutar, seguido do 
seu regresso ao combate para vingar seu amigo. Antes do começo do poema, 
a bela Helena, esposa de Menelau, fora raptada por Páris, filho do rei de Troia. 
Por esse motivo, Agamenon, irmão de Menelau, sitia Troia com o apoio de seus 
guerreiros mais famosos: Ajax, Diomedes, Ulisses, o velho Nestor, Pátroclo e 
seu amigo Aquiles, filho da deusa Tétis, considerado o maior guerreiro grego. 
A guerra durou dez anos e os deuses se envolveram constantemente no conflito. 
Do lado dos troianos estavam Afrodite (mãe do troiano Eneias), Apolo e Ares. Do 
lado dos gregos: Tétis, Atena, Poseidon e Hera.
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
23
Vejamos a seguir os versos iniciais da Ilíada, na tradução de Odorico 
Mendes (1784).
 Canta-me, ó deusa, do Peleio de Aquiles
 A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos,
 Verdes no Orco lançou mil fortes almas,
 Corpos de heróis a cães e abutres pasto:
 Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem 
5
 O de homens chefe e o Mirmidon divino 
 (HOMERO, 2008, p. 45, grifo nosso).
O vócabulo ira, atrelado a Aquiles, é o primeiro que chama a atenção do 
leitor e que desencadeia uma sucessão de episódios. O poema Odisseia, por sua vez, 
tem cerca de 12 mil versos, também divididos em 24 contos, e é considerado uma 
obra do período de maturidade do autor. A narrativa começa dez anos depois da 
queda de Troia. Com o fim da guerra, o comportamento desrespeitoso de alguns 
gregos incomodou outros, principalmente Atena, que os apoiou durante todo o 
conflito. Por isso, Ulisses não teve permissão para retornar a Ítaca, onde Penélope, 
sua esposa fiel, há sete anos, sob pressão de um grupo de pessoas que almejam 
o poder, tentava evitar uma série de pretendentes. Zeus decide intervir e acaba 
lançando Ulisses no mar e no caminho de regresso para casa, que levará mais dez 
anos e será repleto de grandes obstáculos provocados por Poseidon, deus do mar.
Acompanhemos, abaixo, os versos iniciais do poema, a astúcia, a bravura 
de Ulisses diante dos desafios, que foi consagrado como herói e imortalizado 
pelos seus feitos.
 […] 
 Canta, ó Musa, o varão que astucioso,
 Rasa Ílion santa, errou de clima em clima,
 Viu de muitas nações costumes vários.
 Mil transes padeceu no equóreo ponto,
 Por segurar a vida e aos seus a volta; 
 5
 Baldo afã! pereceram, tendo insanos
 Ao claro Hiperiônio os bois comido,
 Que não quis para a pátria alumiá-los.
 Tudo, ó prole Dial, me aponta e lembra 
(HOMERO 2009, s.p., grifo nosso).
Dentre as várias imagens da literatura, conhecidas por povoarem o nosso 
imaginário, a viagem de Ulisses talvez seja uma das mais impactantes. "Será que 
a Odisseia não é o mito de todas as viagens?", indaga Ítalo Calvino (2007, p. 24), 
ressaltando que "ainda hoje, para nós, cada viagem, pequena ou grande, sempre é 
Odisseia". Provavelmente, em contextos distintos, já empregamos essa metáfora. 
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
24
Metáfora: figura de linguagem que consiste no emprego de uma palavra 
fora do seu sentido comum, a exemplo da "viagem" de Ulisses, que assume um sentido 
amplificado de desafio, de transformação.
NOTA
Na literatura, as várias reelaborações da epopeia homérica mostram 
a força e a presença da literatura grega em nossa cultura ocidental, como, por 
exemplo, a viagem de Eneias narrada por Virgílio, a alegoria da viagem ao 
submundo criada por Dante e a viagem de Vasco da Gama, narrada por Camões, 
obras que estudaremos nos próximos capítulos.
Tantas outras imagens da literatura clássica se tornaram bastante 
representativas, como o momento em que Ulisses tapa os ouvidos de seus marujos 
com cera e se amarra ao mastro do navio para ouvir o canto das sereias, cujo 
perigo é conhecido por enfeitiçar os viajantes. 
Vejamos abaixo um trecho do episódio, narrado no Canto XII, no qual 
Ulisses recebe o conselho da feiticeira Circe sobre os perigos das sereias. 
 […]
 A satisfaço, e ela assim discorre: 25 
 “Pois bem; atende agora, e um deus na mente
 Meu conselho te imprima. Hás de as sereias
 Primeiro deparar, cuja harmonia
 Adormenta e fascina os que as escutam:
 Quem se apropinqua estulto, esposa e filhos 30
 Não regozijará nos doces lares;
 Que a vocal melodia o atrai às veigas,
 Onde em cúmulo assentam-se de humanos
 Ossos e podres carnes. Surde avante;
 As orelhas aos teus com cera tapes, 35
 Eusurdeçam de todo. Ouvi-las podes
 Contanto que do mastro ao longo estejas
 De pés e mãos atado; e se, absorvido
 No prazer, ordenares que te soltem,
 Liguem-te com mais força os companheiros. 40
 […] (HOMERO, 2009, s.p.).
Finalizaremos esta seção de discussão apresentando um diálogo entre 
literatura e pintura, uma percepção distinta e singular a respeito do episódio 
narrado sobre a exposição de Ulisses ao sedutor e mortal canto das sereias.
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
25
FIGURA 1 - WATERHOUSE, JOHN WILLIAM. ULISSES E AS SEREIAS. NATIONAL GALLERY OF 
VICTORIA, MELBOURNE, 1891. ÓLEO SOBRE LIENZO, 100.6 X 202.
FONTE: <https://artsandculture.google.com/asset/ulysses-and-the-sirens/qQH6ni1OHjyz>. 
Acesso em: 15 jun. 2018.
DICAS
No Portal Domínio Público, você pode acessar as traduções da Ilíada e da 
Odisseia, traduzidas pelo maranhense Manuel Odorico Mendes (1799-1874), primeiro 
tradutor brasileiro a verter para o português as obras de Homero e de Virgílio. Você também 
pode acessar a dissertação de mestrado Odorico Mendes, o manuscrito da Ilíada e diversas 
facetas da atividade tradutória, indicada nas referências finais deste livro didático, para 
conhecer os bastidores da tradução no Brasil na segunda metade do século XIX, tendo em 
vista a grande importância dos tradutores na difusão dos textos literários e para o intercâmbio 
entre diferentes culturas e línguas. Afinal, como diz Manguel (2008, p. 10), “exceto por um 
grupo cada vez menor de intelectuais aos quais foi concedida a graça de conhecer grego 
antigo, o resto de nós não lê Homero, mas uma tradução de Homero”. Ademais, indicamos 
outras traduções de Homero para o portugûes, como as versões de Carlos Alberto Nunes e 
de Haroldo de Campos. Acesse através do link: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
PesquisaObraForm.jsp.
Além disso, se você quiser conhecer outras releituras das obras de Homero, sugerimos 
os filmes A Odisseia (1997), de Andrei Konchalovsky, e Troia (2004), de Wofgang Petersen, 
que são produções cinematrográficas mais recentes. Já o filme Até o fim (2013), de Jeffrey 
McDonald, apresenta uma perspectiva diferente dos feitos sobre-humanos do herói épico. 
No filme, o herói é um homem contemporâneo que navega sozinho com seu veleiro e se vê 
diante de váriosdesafios em alto-mar, lutando pela sobrevivência.
Ainda é possível encontrar várias versões das epopeias homéricas, como as produzidas pela 
autora Ruth Rocha, publicadas pela Editora Companhia das Letrinhas, e a versão criada por 
Maurício de Sousa e pelo ilustrador Fábio Sombra em versos de cordel, publicada pela Editora 
Melhoramentos.
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
26
5 GÊNERO DRAMÁTICO 
As origens do drama grego estão relacionadas à religiosidade, ao culto 
do deus Dionísio, às apresentações de danças e hinos recitados por um coro. Na 
Grécia antiga, o teatro foi a maior forma de representação cultural e de lazer. 
Durante uma semana de festas dionisíacas, um grande público se reunia para 
assitir às várias peças representadas nos concursos teatrais. 
Aristóteles (2014, p. 23-24) apresenta o gênero dramático como uma 
manifestação artística espetacular, uma "imitação feita por personagens em ação", 
subdividida em tragégia e comédia. Resumidamente, podemos considerar que 
essas duas formas de composição se diferenciam pelo tipo de ação praticada 
pelas personagens. Para o filósofo, as tragédias imitam "ações de caráter 
elevado", as ações dos deuses, dos heróis do povo, das famílias nobres. Elas têm 
um efeito pedagógico de catarse, ou seja, de purificação do espectador através 
dos sentimentos de terror e piedade. As comédias, por outro lado, evidenciam 
narrativas que são risíveis e apontam o ridículo de "personagens inferiores", de 
homens comuns, de aspectos relacionados com a vida cotidiana. Inicialmente, a 
comédia estava ligada aos cantos e brincadeiras de uma procissão burlesca em 
homenagem a Dionísio, deus do vinho.
 
A seguir, apresentaremos uma seleção de fragmentos da poesia dramática 
grega que evocam uma série de questionamentos sobre atitudes e sentimentos 
humanos. Entre as obras, destacaremos as tragédias Prometeu acorrentado, de 
Ésquilo, Édipo Rei, de Sófocles, Medéia, de Eurípides, e a comédia Lisístrata ou 
Greve dos Sexos, de Aristófanes. 
5.1 A TRAGÉDIA
Certamente você já ouviu o termo “tragédia" e provavelmente deve utilizá-
lo em seu cotidiano para se referir a acontecimentos catastróficos, de grandes 
proporções, na maioria das vezes relacionados à morte. No teatro, a tragédia 
também estabelece essa relação de sentido e está vinculada a uma sequência de 
acontecimentos associada a alguma desgraça. Um conflito que envolve a falha 
trágica do herói ao descobrir um engano, ou seja, ao fazer algo sem saber, depois 
sofrer as consequências desse erro. 
 A tragédia grega é, sem dúvida, uma expressão de uma ação humana levada 
até às últimas consequências. Geralmente apresenta personagens complexos 
e um conjunto de circunstâncias que as colocam numa situação sem saída. A 
estrutura da tragédia realça personagens que se movem em cena e participam 
de uma ação por meio de versos falados. Aliás, o teatro como drama (a palavra 
drama significa ação, em grego) apresenta componentes fundamentais, como o 
coro, a voz da coletividade, elemento predominante que comenta a cena, cantando 
sob a direção do corifeu (regente do coro); os episódios da ação, introduzidos, 
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
27
interrompidos e concluídos pelo coro; o parodos, canto de introdução; o exodos, o 
canto de conclusão, e os stasima, outros cantos cujo número vai de dois a cinco, 
destaca Romilly (2011, p. 90).
Ésquilo (524- 456 a.C) figura como o mais antigo dos autores trágicos, 
considerado o criador da tragédia. Dele destacam-se as sete tragédias 
conservadas, Os Persas, os Sete contra Tebas e as três peças (Agamêmnon, As coéforas 
e As eumênides) que constituem a Oresteia. As demais obras que restaram são As 
suplicantes e Prometeu acorrentado. Nelas são apresentados temas que envolvem 
grandes questões humanas, como a relação com as divindades e o destino, os 
problemas instaurados pela culpa, pelo mau e o senso de justiça.
A peça Prometeu acorrentado, apresentada abaixo, mostra-nos o mundo 
dos imortais. Prometeu, um ser divino, é alvo da cólera de Zeus (Júpiter), por 
ter roubado o fogo dos deuses para ajudar os mortais. Mesmo sabendo do seu 
terrível castigo, a personagem de Ésquilo sente-se injustiçada e segue fiel aos seus 
princípios, desafiando os poderes autoritários das divindades.
Nos rochedos da Cítia. O PODER, a VIOLÊNCIA, VULCANO e 
PROMETEU
O PODER 
Eis-nos chegados aos confins da terra, à longínqua região da Cítia, 
solitária e inacessível! Cumpre-te agora, ó Vulcano, pensar nas ordens 
que recebeste de teu pai, e acorrentar este malfeitor, com indestrutíveis 
cadeias de aço, a estas rochas escarpadas. Ele roubou o fogo, teu 
atributo, precioso fator das criações do gênio, para transmiti-lo aos 
mortais! Terá, pois, que expiar este crime perante os deuses, para que 
aprenda a respeitar a potestade de Júpiter, e a renunciar a seu amor 
pela Humanidade.
VULCANO
Para vós, Poder e Violência, a ordem de Júpiter está cumprida; 
nada mais resta a fazer. Quanto a mim, sinto-me sem coragem para 
acorrentar pela força a um deus, meu parente, sobre esta penedia, 
exposto à fúria das tempestades! Vejo-me, no entanto, coagido a fazê-
lo, pois seria perigoso esquecer as ordens de meu pai. Preclaro filho da 
sábia Têmis, é bem contra minha vontade, e a tua, que te vou prender 
por indissolúveis cadeias, a este inóspito rochedo, de onde não ouvirás 
a voz, nem verás o semblante de um único mortal; e onde, queimado 
lentamente pelos raios ofuscantes do Sol, terás adusta a epiderme; 
onde a noite estrelada tardará a poupar-te à luz intensa, assim como 
o Sol tardará em secar o orvalho matinal. Oprimir-te-á o peso de 
uma dor perene, pois ainda não nasceu, sequer, o teu libertador. Eis 
a consequência de tua dedicação pelos humanos; como deus, que 
tu és, fizeste aos mortais uma dádiva tal, que ultrapassou todas as 
prerrogativas possíveis. Como castigo por essa temeridade, ficarás 
sobre esta rocha terrífica, em pé, sem sono e sem repouso; debalde 
farás ouvir suspiros e clamores dolorosos; o coração de Júpiter é 
inexorável... Um novo senhor é sempre severo!...
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
28
O PODER 
E então? Por que tardas ainda? De que vale esta vã piedade? Pois quê?... 
por acaso não detestas a uma divindade inimiga dos demais deuses, 
visto que transmitiu aos homens as honras que eram teu privilégio?
VULCANO
É que... os laços do sangue, e os da amizade, são poderosos!
O PODER 
Sem dúvida! Mas como desobedecer às ordens de teu pai? Não o 
temes, por acaso?
VULCANO
Tu serás sempre, ó Poder, destituído de piedade, e capaz de tudo!
O PODER
Certamente! De que serve lamentar a sorte deste criminoso, uma vez 
que não há remédio possível para seu mal? Não te canses, pois, na 
busca de um socorro inútil.
VULCANO
Oh!... Como abomino o ofício a que me consagrei!
O PODER
Por quê? Esse ofício não é a causa, nem a origem, dos males que aqui 
vemos presentes.
VULCANO
Quem me dera um companheiro, que comigo partilhasse deste 
sacrifício!...
O PODER
Muito podem os deuses, na verdade, porém dependem de um poder 
supremo; só Júpiter é onipotente.
[…] (ÉSQUILO, 2005, p. 5-8).
Outro importante dramaturgo grego foi Sófocles (496-406 a.C), que 
escreveu mais de 120 peças. Diversas obras do autor conquistaram os espectadores 
gregos em vários concursos dramáticos. As peças mais importantes e famosas são 
as três centradas no mito de Édipo (Édipo Rei, Antígona e Édipo em Colon, peça 
póstuma). Da tragédia de Édipo emanam grandes temas, entre eles: o triunfo do 
poder patriarcal, a busca da identidade, a questão do destino e o tema do incesto 
que inspirou a psicanálise de Freud na elaboração do "complexo de Édipo", 
relacionado à fase do desenvolvimento infantil.
Em suas obras, as personagens individuais, diante da força do destino, 
ganham mais destaque que a intervenção do coro. O trecho a seguir, extraído de 
Édipo Rei, narra a triste história de Édipo, o primeiro filho de Laio, rei de Tebas. 
Vítima de uma maldição, o protagonistaque dá título à peça cumpriu um trágico 
destino ao assassinar o pai e se casar com a própria mãe Jocasta, sem saber. 
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
29
No fragmento abaixo, Édipo lamenta a sua desgraça. 
[…]
O SERVO: Ai de mim! Isso é que me será horrível dizer!
ÉDIPO: E para mim será horrível ouvir! Fala, pois! Assim é preciso!
O SERVO: Diziam que era filho dele próprio. Mas aquela que está no 
interior de tua casa, tua esposa, é quem melhor poderá dizer a verdade.
ÉDIPO: Foi ela que te entregou a criança?
O SERVO: Sim, rei.
ÉDIPO: E para quê?
O SERVO: Para que eu a deixasse morrer.
ÉDIPO: Uma mãe fez isso! Que desgraçada!
O SERVO: Assim fez, temendo a realização de oráculos terríveis...
ÉDIPO: Que oráculos?
O SERVO: Aquele menino deveria matar seu pai, assim diziam...
ÉDIPO: E por que motivo resolveste entregá-lo a este velho?
O SERVO: De pena dele, senhor! Pensei que este homem o levasse 
para sua terra, para um país distante... Mas ele o salvou da morte para 
maior desgraça! Porque, se és tu quem ele diz, sabe que tu és o mais 
infeliz dos homens!
ÉDIPO: Oh! Ai de mim! Tudo está claro! Ó luz, que eu te veja pela 
derradeira vez! Todos sabem: tudo me era interdito: ser filho de quem 
sou, casar-me com quem me casei e eu matei aquele a quem eu não 
poderia matar! 
Desatinado, ÉDIPO corre para o interior do palácio; retiram-se os dois 
pastores; a cena fica vazia por algum tempo.
O CORO: Ó gerações de mortais, como vossa existência nada vale a 
meus olhos! Qual a criatura humana que já conheceu felicidade que 
não seja a de parecer feliz, e que não tenha recaído após, no infortúnio, 
finda aquela doce ilusão? Em face de seu destino tão cruel, ó desditoso 
Édipo, posso afirmar que não há felicidade para os mortais!
[…] (SÓFOCLES, 2005, p. 83-87).
Eurípides (480-406 a.C.) completa o trio dos grandes tragediógrafos 
gregos. O dramaturgo, no entanto, pertence a uma geração formada por uma 
atmosfera moral diferente, apresentanto uma visão crítica dos mitos, da realidade, 
das ideias políticas, das paixões e fraquezas humanas. Eurípides escreveu mais 
de 60 peças, mas só restaram 18, das quais as mais importantes são: As troianas, 
Ifigênia em Âulis, Medéia, Hipólito e As bacantes.
Leia, abaixo, um trecho de Medéia, drama de uma feiticeira apaixonada pelo 
aventureiro Jasão. Medéia fugiu de sua terra, contrariando o pai e entristecendo 
seu próprio irmão, para acompanhar Jasão. A cena escolhida mostra o momento 
em que Medéia toma consciência de suas atitudes e se decepciona por ter confiado 
tanto no amor de seu companheiro. 
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
30
CORO
[…]
Idos são os tempos de respeito aos juramentos. A honra desapareceu 
da nobre Hélade. Não se encontra mais em toda a vastidão da nossa 
terra; voou além dos céus. Não tens mais espaço na casa de teus pais, 
pobre de ti; era teu porto, o teu abrigo seguro para as tempestades da 
existência. E aqui teu leito foi ocupado por uma mais ditosa, teu lar 
tem outra rainha.
(Entra Jasão)
JASÃO
Não é a primeira vez que noto, muitas vezes notei, a desgraça que 
é um temperamento exacerbado. Por exemplo, agora, bem poderias 
permanecer neste país e nesta casa, se soubesses obedecer à vontade 
dos que te são superiores. Quem te expulsa de Corinto não somos 
nós, até condescendentes. São tuas palavras insensatas. A mim essas 
palavras não me dizem nada. Pode continuar apregoando ao mundo 
que Jasão é o mais vil dos homens. Mas, depois do que gritas contra 
o soberano, o banimento é até uma punição bem generosa. Tentei de 
toda forma conter a irritação do rei Creonte, pois o meu desejo era que 
continuasses aqui.
Mas teu temperamento, a que me referi, fez com que, com palavras 
execráveis, continuasses incansável nas injúrias ao rei. Foste banida. 
Porém, apesar disso tudo, não vim aqui para repudiar o que, ainda, 
me é caro, mas, ainda, preocupado por ti, mulher, com tua sorte. Para 
que não sejas exilada com teus filhos, sem recursos, uma indigente. 
O desterro traz sempre um cortejo de misérias. Bem sei o quanto me 
odeias; mas contra ti jamais alimentarei um desejo igual.
MEDÉIA
(Soberba)
A única expressão que a minha língua encontra para definir o teu 
caráter, tua falta de virilidade, é o mais baixo dos canalhas. Vieste 
a mim, estás aqui, para quê, tu, ser odiado pelos deuses, odiado 
por mim e por toda humanidade? Não é prova de coragem nem de 
magnanimidade olhar na cara os ex-amigos, na esperança de que 
esqueçam todo o mal que lhes fizeste. A isso se chama cinismo, e 
vem com as piores doenças do caráter humano — a falta de pudor, a 
ausência de vergonha.
Ainda assim, fizeste bem em vir, aliviarei meu coração injuriando-te, 
pois sofrerás ouvindo meus insultos. Começarei do começo. Salvei 
tua vida, como sabem todos os helenos que embarcaram contigo na 
Argo, quando foste enviado para subjugar o touro de ventas de fogo e 
semear a morte nos campos. Fui eu que matei o dragão que guardava 
o Velocino de Ouro com seus olhos que jamais dormiam, e seus anéis, 
que prendiam o Velocino, tornando impossível libertá-lo. Abandonei 
pai e pátria e vim contigo pra lolco; meu amor era maior que minha 
prudência.
Depois provoquei a morte de Pélias de modo mais terrível: nas mãos 
das próprias filhas. E assim te livrei de todos os temores. Tudo isso 
eu fiz por ti, e, vil traidor, procuraste uma nova esposa, embora 
já tivéssemos procriado dois filhos. Se eu não houvesse te dado 
descedência, teria perdoado tua busca em um novo leito. 
Já morreu em mim há muito tempo toda e qualquer confiança em tuas 
juras. Acho que até acreditas que nossos velhos deuses já não reinam. 
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
31
Ou que estabeleceram novas leis para os mortais. Se não, como 
poderias justificar tua tremenda vilania? […] Céus, a que coração 
traiçoeiro confiei minha esperança.
[…]
CORIFEU
Há algo terrível e incurável, acima de qualquer compreensão mortal, 
no ódio que nasce entre os próximos e os amados.
[…] (EURÍPIDES, 2004, p. 32-37)
Medéia cometeu gestos extremados por causa de uma traição, provocando 
várias mortes, inclusive a morte dos dois filhos que teve com Jasão. Ao final do 
trecho da peça exposta acima, o público é advertido sobre a imprudência das 
pessoas que se deixam levar pelas paixões. 
5.2 A COMÉDIA 
A comédia, por sua vez, é um gênero teatral que trata de assuntos 
cotidianos, envolvendo política e diversos temas sociais, de forma humorada. Os 
conflitos apresentam peripécias, confusões, armações. O universo da comédia é 
bastante variado, burlesco, caricato. Normalmente, as personagens são cidadãos 
comuns e os temas giram em torno da vida cotidiana, de assuntos mundanos.
Aristófanes (445-386 a.C.) é o representante mais importante da comédia 
grega. Foi responsável por misturar manifestações líricas com expressões francas 
e pouco polidas, em todos os aspectos sociais. O comediógrafo tinha um tom livre 
e frequentemente provocava as pessoas, apesar das tentativas de proibição de 
suas produções. 
Na comédia grega há um prólogo apresentando o assunto a ser encenado, 
e o coro, personagem coletivo, que discordava e apresentava o enredo, fazendo 
comentários e reflexões para mostrar aos humanos que estavam condicionados às 
vontades dos deuses, desaparece completamente. 
Entre as obras de Aristófanes, destacam-se: Os cavaleiros, A paz, As nuvens, 
Lisístrata, As rãs e Assembleia das mulheres. Neste tópico, apresentaremos um 
fragmento da comédia Lisístrata ou Greve dos Sexos, na qual uma mulher convoca 
as mulheres gregas para uma greve de sexo, com o objetivo de acabar com a 
guerra e restabelecer a paz. A história, que até hoje continua sendo montada e 
apresentada por várias companhias teatrais, se passa em Atenas, na Grécia, cerca 
de 411 a.C., num período em que acontecia a Guerra do Peloponeso, um conflito 
ocasionado pela rivalidade econômica entre Atenas e Esparta.
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
32
CENA
No primeiro plano, de um lado a casa de Lisístrata, dooutro a de 
Cleonice. Ao fundo, a Acrópole. Um caminho estreito e cheio de curvas 
conduz até lá. No meio dos rochedos, em segundo plano, a gruta de 
Pã. Lisístrata anda pra lá e pra cá, diante da casa.
LISÍSTRATA - Pois é. Se tivessem sido convidadas para uma festa de 
Baco isso daqui estaria intransitável de mulheres e tamborins. Mas, 
como eu disse que a coisa era séria, nenhuma apareceu até agora. Só 
pensam em bacanais. Ei, Cleonice! Bom-dia, Cleonice!
CLEONICE - Bom-dia, Lisístrata. Magnífico dia para um bacanal.
LISÍSTRATA - Cleonice, pelo amor de Zeus: Baco já deve andar 
cansado.
CLEONICE - Que aconteceu, boa vizinha? Tens a expressão sombria, 
um olhar cheio de repreensão, a testa franzida. O avesso de uma 
máscara de beleza.
LISÍSTRATA - Oh, Cleonice, meu coração está cheio de despeito. Me 
envergonho de ser mulher. Sou obrigada a dar razão aos homens, 
quando nos tratam como objetos, boas apenas para os prazeres do 
leito.
CLEONICE - E às vezes nem isso. Cibele, por exemplo...
LISÍSTRATA - (Repreensiva.) Por favor, Cleonice. (Pausa.) Não é hora 
para maledicências. (Pausa.) No momento em que foram convocadas 
para uma decisão definitiva na vida do país, preferem ficar na cama 
em vez de atender aos interesses da comunidade.
CLEONICE - Calma, Lisinha! Você sabe como é difícil para as donas-
de-casa se livrarem dos compromissos domésticos. Uma tem que ir 
ao mercado, outra leva o filho à academia, uma terceira luta com a 
escrava preguiçosa que às 6 da manhã ainda não levantou. Sem falar 
no tempo que se perde limpando o traseiro irresponsável das crianças.
LISÍSTRATA - Mas eu avisei que deixassem tudo. A coisa aqui é muito 
mais urgente. Muito maior.
CLEONICE - Tão grande assim?
LISÍSTRATA - Acho que nenhuma de nós jamais encarou nada tão 
grande. Ou nos reunimos e enfrentamos juntas ou ela nos devora.
CLEONICE - Mas, então, se você mostrou a elas a exata dimensão da 
coisa, não compreendo que não tenham vindo logo correndo, todas!
LISÍSTRATA - Ah, Cleonice, que cansaço! Do que é que você está 
falando? É claro que se fosse o que você pensa ninguém teria deixado 
de comparecer imediatamente. Mas o problema é muito diferente. 
Tenho passado noites em claro, me virando na cama prum lado e pro 
outro sem encontrar uma posição correta diante dele. A todo instante 
cresce e diminui diante de meus olhos. Não sei o que fazer. Preciso de 
auxílio.
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
33
CLEONICE - (Ainda incapaz de levar a coisa a sério.) Será que nós 
duas sozinhas não podemos reduzir o negócio a proporções menos 
alarmantes?
LISÍSTRATA - Nós duas sozinhas como, Cleonice? Estou falando da 
salvação da Grécia.
CLEONICE - Ah, é isso, enfim, a coisa que te preocupa. Pobre Lisístrata, 
se você pensa que pode salvar a pátria reunindo as mulheres numa 
praça... Sagrada ingenuidade! Muitos já o tentaram antes... Muitos o 
tentarão sempre através dos séculos.
LISÍSTRATA - Não com meu plano. Reuniremos todas as mulheres da 
Grécia, incluindo as beócias e as peloponesas. E acabaremos de vez 
com as lutas fratricidas, que nos deixam à mercê dos bárbaros que 
descem lá do Norte.
[…] (ARISTÓFANES, 2003, p. 2-3).
Nas cenas que se seguem do texto dramático de Aristófanes, Lisístrata 
irá expor seu plano às outras mulheres que, de início, reagem negativamente. 
No entanto, não encontrando outra saída, aceitam o acordo. Depois de muitas 
confusões e facetas, elas alcançam seu objetivo.
Na poesia dramática grega, é válido ressaltar o surgimento da comédia 
nova, cujos temas de caráter privado destacavam personagens típicos: velhos, 
jovens, avarentos, cortesãs, mercadores. Entre as obras, destaca-se O misantropo, 
de Meneandro (341-292 a.C.), que exercerá forte influência nos comediógrafos 
latinos Plauto e Terêncio, como veremos adiante.
6 GÊNERO LÍRICO
Na Grécia antiga, a poesia lírica, caracterizada pela expressão de um 
mundo interior, começou a se destacar a partir do século VII a.C. com o declínio 
da poesia épica. Segundo D'Onofrio (1990, p. 58), os primeiros poemas líricos 
também estão relacionados ao culto religioso, sendo cantados durante as 
procissões e festas sagradas. De acordo com o autor, um perfil da poesia lírica pode 
ser traçado dentro das diversas modalidades de poesia: o epinício (comemoração 
de uma vitória esportiva), o encômio (elogio a um homem), o epitalâmio (canto 
nupcial), a elegia (canto fúnebre, que passou a expressar um acontecimento triste 
e a expressar sentimentos de amor e de exaltação patriótica); a ode (gênero mais 
livre que exalta valores nobres).
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
34
A palavra lírico advém de “lira”, instrumento musical utilizado pelos gregos na 
Antiguidade, e ficou conhecida como uma canção acompanhada ao som da lira. Nessa fusão 
de versos e música, o ritmo assumiu uma característica marcante para o texto lírico. Com o 
passar do tempo, outros instrumentos musicais, como flauta e o alaúde, foram utilizados para 
entoar os versos, e a poesia lírica deixou de ser necessariamente cantada e acompanhada 
por um instrumento musical. Por conta dessas relações, a literatura e a música mantêm um 
diálogo constante.
Já a expressão “eu lírico”, também conhecida como sujeito lírico ou eu poemático, diz 
respeito à “voz que fala" no poema, à expressão do “eu” que projeta seus sentimentos, desejos 
e emoções. Sobre as peculiaridades do gênero lírico, é importante que se compreenda as 
seguintes noções, destacadas por Soares (2007, p. 26):
1ª) o eu lírico ganha sempre forma no modo especial de construção do 
poema: na seleção e combinação das palavras, na sintaxe, no ritmo, na 
imagística; 2 ª) assim, ele se configura e existe diferentemente em cada 
texto, dirigindo-nos a recepção; 3 ª) e, por isso, não se confunde com a 
pessoa do poeta (o eu biográfico), mesmo quando expresso na primeira 
pessoa do discurso.
Cabe ainda destacar que há várias formas de expressão do gênero lírico, que pode ser escrito 
em versos, em prosa ou através de experiências visuais que mesclam a disposição das letras, 
como veremos na visualidade dos versos de Mallarmé, no final do século XIX, na Unidade 3, 
considerado o momento da liberdade de criação da poesia moderna. Por isso, quando lemos 
um poema, devemos observar o seu conteúdo e sua forma de composição (ritmo, metro, 
rima, efeitos visuais etc.) para que possamos captar as peculiaridades da linguagem poética 
e os sentidos sugeridos.
NOTA
Na Antiguidade, a expressão desse mundo interior, do "eu”, foi difundida 
por Safo, a poetisa mais famosa entre os autores de poesia lírica. Apelidada 
de “Décima Musa", sua figura foi alvo de especulações sobre os seus amores 
homossexuais. Aliás, o termo "lésbica" estaria relacionado à Ilha de Lesbos, cidade 
natal de Safo, lembra D'Onofrio (1990, p. 61).
 
Nos poemas de Safo predominam o tema amoroso, erótico, a nostalgia, 
as contradições dos sentimentos humanos, como é possível observar no poema a 
seguir.
(fragmentos de um poema)
Parece-me igual aos deuses 
ser aquele homem que, à sua frente sentado,
de perto, doces palavras, inclinando o rosto,
escuta,
e quando te ris, provocando o desejo; isso, eu juro,
me faz com pavor bater o coração no peito;
eu te vejo um instante apenas e as palavras
todas me abandonam;
TÓPICO 2 | A LITERATURA GREGA
35
a língua se parte; debaixo da minha pele,
no mesmo instante, corre um fogo sutil;
meus olhos me veem; zumbem
meus ouvidos
um frio suor me recobre, um frêmito me apodera
do corpo todo, mais verde que
as ervas
eu fico
e que já estou morta parece [...]
Mas [...] (SAFO, 2002, p. 4-5).
 
7 A FICÇÃO EM PROSA 
A produção literária em prosa, embora não contemplada na Poética de 
Aristóteles, foi escrita pelos gregos nos séculos II e III d.C. e constitui as primeiras 
formas de romance de caráter idealizante e conservador que se diferem das 
produções anti-idealizantes dos romances latinos de Petrônio e de Apuleio, cujas 
narrativas apresentam conteúdos satíricos de caráter mais realista.
Entre os romancesgregos, destacam-se: As Aventuras de Quereas e Calíroe, 
de Caritão de Afrodísia; Os relatos etíopes (Teágenes e Cariclea), de Heliodoro de 
Émeso; Dáfnis e Cloe, de Longo; As Aventuras de Leucipe e Clitofonte, de Aquiles 
Tácio; Os relatos efésios, de Xenofonte de Éfeso (Habôcomes e Antia). O conteúdo 
temático dessas obras, repleto de aventuras e idealizações, se refugia no mundo 
da fantasia, da existência mítica, e será reelaborado por romancistas medievais, 
bizantinos e por autores da literatura hispânica como Miguel de Cervantes.
36
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Os mitos expressam histórias fabulosas de divindades que excerceram forte 
influência no pensamento ocidental e são elementos importantes para a 
compreensão da literatura grega e latina.
• Aristóteles propôs a divisão tripartida da literatura nos gêneros épico, 
dramático e lírico, problematizando sua natureza, sua função e seus efeitos.
• O gênero épico teve sua origem na Antiguidade e é representado pela epopeia, 
uma narrativa longa composta em versos, que aborda as façanhas de um herói e 
apresenta elementos míticos que participam ativamente da história, a exemplo 
das obras Ilíada e Odisseia, de Homero.
• O gênero dramático desenvolve uma ação para ser encenada e inclui a tragédia 
e a comédia como importantes formas de expressão teatral.
• No gênero lírico predomina a expressão da subjetividade, do "eu” que expressa 
seus sentimentos, desejos e emoções, como é possível observar nos poemas de 
Safo.
• Na Grécia antiga, os primeiros poemas líricos foram cantados durante os 
festejos de devoção religiosa.
• A ficção em prosa não é contemplada nas discussões da Poética, elaborada por 
Aristóteles. Mesmo assim, os romances da Antiguidade, como As Aventuras 
de Quereas e Calíroe, de Caritão de Afrodísia, são considerados as primeiras 
manifestações literárias do gênero.
• A teoria dos gêneros de Aristóteles foi fundamental para a construção de 
concepções modernas da literatura.
37
1 Leia as discussões apresentadas pelo filósofo francês Georges Gusdorf 
acerca do mito e responda à questão seguinte.
A consciência mítica primitiva, que garantia a coerência rígida das 
primeiras comunidades humanas, desapareceu em face do progresso da crítica 
racional e das técnicas sustentadas pela ciência. Mas esta primeira consciência 
extensiva e unanimista foi substituída por uma consciência mítica segunda, 
mais secreta, e como que nos bastidores do pensamento racional. As intenções 
míticas, aqui, mais livres, supõem uma adesão individual e como que uma 
triagem entre as possibilidades oferecidas aos desejos de cada um. Religião, 
literatura, política, propõem, em ordem dispersa, fórmulas míticas nas quais 
cada homem, chamado assim a uma espécie de exame de consciência, é 
convidado a se reconhecer.
O papel crescente da literatura e sua progressiva difusão deve ser 
relacionado com o recuo das crenças religiosas. A experiência mítica teve de 
se fixar em meios novos de expressão. O aspecto formal da literatura importa 
menos do que sua significação material. O estilo valoriza os elementos mais 
arcaicos do ser no mundo, cuja permanência justifica o sucesso do poema e do 
drama, assim como motiva a expansão das obras-primas da literatura universal. 
O prodigioso desenvolvimento do romance, que é, sem dúvida, o aspecto mais 
significativo da vida literária contemporânea, deve-se sem dúvida ao fato de 
que o romance põe o mito ao alcance de todos sob o revestimento de uma 
história fácil de seguir. Eliade assinalou a sobrevivência dos arquétipos míticos 
como claves da literatura. "As provações, os sofrimentos, as peregrinações do 
candidato à iniciação, [...] por exemplo, sobrevivem no relato dos sofrimentos 
e dos obstáculos que o herói épico ou dramático deve superar (Ulisses, 
Enéas, Parsifal, este ou aquele personagem de Shakespeare, Fausto e outros), 
antes de atingir seus fins. [...]". O próprio romance policial, que constitui um 
dos aspectos mais singulares do folclore contemporâneo, prolonga, sob as 
aparências do duelo entre o detetive e o criminoso, a inspiração dos romances 
de capa e espada, que foi mais remotamente aquela dos romances de cavalaria, 
e remonta a muito mais atrás ainda na noite dos tempos, isto é, até as raízes 
do inconsciente.
VOCABULÁRIO:
Unanimista: do que é unânime, aceito por todos.
Eliade: Mircea Eliade (1906-1986), intelectual romeno, historiador e filósofo das religiões.
Claves: chaves; representações.
FONTE: GUSDORF, Georges. Mito e metafísica. São Paulo, Convívio, 1979, p. 268-269.
A partir do texto acima, avalie as afirmações a seguir:
AUTOATIVIDADE
38
I. Para o autor, a consciência mítica permanece na atualidade, nas expressões 
da vida diária, ainda que o mito das comunidades primitivas tenha 
desaparecido em virtude da crítica científica.
II. A literatura, como expressão artística, recupera fórmulas míticas ao 
retomar aspectos inconscientes dos nossos medos e anseios, através das 
provações do herói, da luta entre o bem e o mal etc. 
III. É possível inferir que o mito reaparece nos dias atuais através das narrativas 
que reforçam os ideais de felicidade, o mistério, a luta pela liberdade e 
pela ordem social, entre outras.
É correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
2 Para Aristóteles, na tragédia, os deuses e heróis são imitados num tom 
nobre e elevado; enquanto na comédia os homens comuns são satirizados. 
Segundo o filósofo grego, a tragédia leva o espectador a pensar sobre o 
destino do ser humano e o sentido da existência, suscitando a compaixão 
e o terror. Na poesia dramática, a purgação das emoções do espectador 
corresponde ao movimento denominado:
a) ( ) Coro.
b) ( ) Catarse.
c) ( ) Farsa.
d) ( ) Exórdio.
e) ( ) Invocação.
3 Considerando as discussões sobre os gêneros literários, expostas no Tópico 
2, analise as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.
I. Na atualidade, a classificação dos gêneros literários apresenta elementos 
previstos pela teoria aristotélica, permanecendo a mesma desde sua criação.
PORQUE
II. As obras literárias são estanques e obedecem às leis fixas de estruturação, 
necessárias à criação estética.
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma 
justificativa correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa 
correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.
39
TÓPICO 3
A LITERATURA LATINA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A literatura latina surge a partir do século II a.C., quando os romanos, 
através de suas forças militares, iniciam um percurso rumo à conquista dos 
territórios que englobam a Itália, Grécia, Oriente, África, Gália, e que termina 
no século V d.C. com a queda do Império Romano no Ocidente. Após sucessivas 
vitórias, os latinos passaram a se dedicar aos estudos da filosofia, das letras e das 
belas artes, seguindo os modelos literários e artísticos produzidos pelos gregos, 
destaca D'Onofrio (1990).
Podemos delimitar cronologicamente a literatura latina e seus principais 
autores da seguinte maneira:
FIGURA 2- PERIODIZAÇÃO DA LITERATURA LATINA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
FONTE: MARTINS (2009, p. 24)
Contudo, neste tópico, faremos um recorte das manifestações literárias 
da cultura latina, contemplando algumas obras e os autores, como a tríade dos 
grandes poetas latinos, Virgílio, Horácio e Ovídio, os dramaturgos Plauto e 
Terêncio, e os autores de ficção em prosa, Petrônio e Apuleio. 
40
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
2 A POESIA LATINA
Os poemas produzidos pelos latinos, na Antiguidade Clássica, podem 
ser divididos em épico, dramático, lírico, satírico e didático. A tradição grega da 
poesia épicaexerceu forte influência sobre as produções latinas, notadamente em 
Virgílio (Públio Virgílio Marão - 70-19 a.C.) que, por solicitação do imperador 
Augusto (patrocinador de muitos poetas), empreendeu um projeto literário 
sofisticado, com formas literárias modernas, ao escrever a epopeia Eneida, a partir 
do modelo de Homero. 
A epopeia de Virgílio é composta por 12 cantos, num total de 9. 826 versos, 
e narra a história de Eneias, personagem troiano que escapou da Guerra de Troia 
e travou duras lutas em Lácio (como era conhecida a região central da Itália) para 
fundar uma nova cidade que viria a ser Roma. O poema apresenta uma estrutura 
que se assemelha aos poemas homéricos, podendo ser dividido em dois grandes 
momentos: o primeiro narra a viagem marítima de Eneias e o segundo narra o 
momento bélico, das lutas pela conquista do território latino. Há também uma 
mudança de foco narrativo, predominando a visão panorâmica do narrador em 
terceira pessoa, que personifica a voz do mito, da lenda e da história.
Notadamente a narrativa de Virgílio foi um pretexto para a exaltação da 
cidade e de Augusto, "para a valorização do romano e de seus feitos remotos e 
recentes, […] para a sugestão de uma linha filosófica que sintetiza, praticamente, 
as correntes de pensamento então difundidas em Roma” (CARDOSO, 1989, p. 20).
Acompanhemos, abaixo, o canto inicial da epopeia, na tradução de 
Odorico Mendes, momento em que o narrador, em primeira pessoa, dá início à 
narração e solicita à deusa da poesia épica que lhe envie recordações dos fatos 
míticos e lendários que envolvem a figura de Eneias, herói troiano. 
Eu, que entoava na delgada avena
Rudes canções, e egresso das florestas,
Fiz que as vizinhas lavras contentassem
A avidez do colono, empresa grata
Aos aldeãos; de Marte ora as horríveis 5
Armas canto, e o varão que, lá de Troia
Prófugo, à Itália e de Lavino às praias
Trouxe-o primeiro o fado. Em mar e em terra
Muito o agitou violenta mão suprema,
E o lembrado rancor da seva Juno; 10
Muito em guerras sofreu, na Ausônia quando
Funda a cidade e lhe introduz os deuses:
Donde a nação latina e albanos padres,
E os muros vêm da sublimada Roma.
Musa, as causas me aponta, o ofenso nume, 15
Ou por que mágoa a soberana déia
Compeliu na piedade o herói famoso
A lances tais passar, volver tais casos.
Pois tantas iras em celestes peitos! (VIRGÍLIO, 1854, s.p.).
TÓPICO 3 | A LITERATURA LATINA
41
Virgílio ainda compôs duas grandes obras, as Bucólicas, coletânea de 
poemas líricos pastoris, e as Geórgicas, poema didático produzido a serviço da 
política de Augusto, cujos temas abordam os encantos da vida rural, a simplicidade 
e a pureza da vida campestre.
A palavra bucólica, boukoliká, em grego, significa “canto dos boiadeiros”, 
e no caso dos poemas de Virgílio, designam canções que retratam regiões do 
norte da Itália, onde viviam muitos pastores. O poeta latino foi o grande difusor 
dos poemas pastoris, em meados dos anos 40 a.C., inspirado pelo poeta grego 
Teócrito, que se destacou por seus idílios de conteúdo bucólico, salienta Cardoso 
(1989).
Virgílio produziu esses poemas pastoris num momento marcado por 
grandes batalhas. No trecho do poema abaixo (na Écloga I), através do diálogo de 
dois pastores, em que Melibeu, deixando as terras que lhe tinham sido confiscadas, 
queixa-se a Títiro, podemos perceber o cuidado das personagens com os animais 
e a tentativa de afastamento do período conturbado pela guerra.
Mel. Tu, sob a larga faia reclinado, 
Silvestre musa em tênue cana entoas:
Nós, Títiro, da pátria os fins deixamos
E a doce lavra, a pátria nós fugimos,
As selvas tu, pausado à sombra, ensinas 5
Amarílis Formosa a ressoarem.
Tit. Ó Melibeu, este ócio é dom divino;
Que um deus o creio, e sempre as aras dele
Tenro anho tingirá do aprisco nosso:
Deu-me, estás vendo, errarem minhas vacas, 10
Tanger o meu sabor na agreste avena.
[…] 
VOCABULÁRIO:
Faia: árvore.
Cana: flauta.
Aras: altares.
Anho: cordeiro.
Aprisco: curral de ovelhas
Tingirá: no poema refere-se a tingir com seu sangue
Tanger com o meu sabor: “tocar como eu quisesse, 
de acordo com o meu gosto" (VIRGÍLIO, 2008, p. 29).
Complementando as discussões sobre a poesia latina, destacamos Horácio 
(65-27 a.C), um dos grandes poetas latinos. Contemporâneo de Virgílio e amigo 
pessoal do poeta, Horácio aparece na cena literária de Roma por volta de 35 a.C., 
destacando-se com suas sátiras, odes e epístolas em versos, desenvolvendo temas 
diversos, como suas reflexões sobre o domínio e o tom de cada gênero literário. 
Suas principais obras são as Odes, ou canções, nas quais aparecem o termo carpe 
diem, expressão que significa aproveite o dia porque a vida é breve, e a frase fugere 
urbem (fugir da cidade), que sinaliza a busca de uma vida simples. Outros temas, 
como o amor à pátria, à religião e à poesia são recorrentes em suas produções. Na 
42
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
fase juvenil de sua vida, o poeta latino escreveu as Sátiras e os Epodos, dois livros 
de sátiras sobre os costumes do seu tempo. Em Epístola aos Pisões (denominada 
posteriormente como Arte Poética), Horácio qualificará o papel da literatura como 
sendo moral e didático, na expressão dulce et utile, mencionada no primeiro tópico 
dos nossos estudos, quando problematizamos as funções da literatura através do 
crítico Antonie Compagnon. 
Outro poeta latino bastante significativo e versátil é Ovídio (43-18 a.C.), 
com suas obras de cunho erótico e de amores ternos, como Heroides, Amores, A 
arte de amar, Os remédios do amor e a obra Produtos de beleza para o rosto das mulheres. 
Após esses trabalhos, Ovídio retoma o tema mitológico e escreve um longo 
poema de grande importância: As Metamorfoses — abordando histórias sobre a 
formação do mundo, a criação e regeneração do homem, sobre as divindades, os 
semideuses, os heróis e suas paixões, que foram reelaboradas na Idade Média, no 
Renascimento, ressurgindo principalmente com Shakespeare. 
Ovídio também compôs Fastos, outro importante poema de cunho 
didático, apresentando diversas curiosidades sobre as antiguidades romanas, 
como rememorações das festas cívicas e religiosas, descrições e explicações de 
rituais etc. Finalmente, também vale salientar a obra intitulada Tristia (Cantos 
tristes), do seu momento de exílio, depois de ter sido desterrado pelo imperador 
Augusto. Os versos apresentados a seguir foram escritos na fase mais triste e 
melancólica de Ovídio.
Vem conhecer, posteridade, o poeta que fui
De amores ternos, o poeta que ora lês.
Sulmona é minha pátria, que fecundam frescas águas
E que dista da Urbe nove vezes dez milhas.
Lá nasci; para que saibas a época, foi quando
Um mesmo fado tiveram ambos os cônsules.
Se de algo vale, o grau de cavaleiro herdei de antigos
Avós, não de recente favor da fortuna.
Não fui o primeiro rebento; tenho um irmão nascido
Três vezes quatro meses já antes de mim.
[...]
Desde a infância ilustrávamos a mente; fez-nos ir
O pátrio zelo a Roma e aos seus mestres insignes.
Com seu ardor de jovem, meu irmão tinha nascido
Para a eloquência, as pugnas verbosas do foro.
Mas a mim, criança ainda, atraíam os mistérios
Do céu e, às escondidas, a obra das Musas.
Meu pai dizia: “Por que tentas um estudo vão?
O próprio Homero não deixou riqueza alguma”.
Tal fala me tocou; larguei o Helicão de vez
E tentei escrever palavras sem cadência:
Por si mesma, vinha a cadência certa do poema;
Saía em verso quanto eu buscasse dizer (OVÍDIO, 2017, p. 7).
TÓPICO 3 | A LITERATURA LATINA
43
As poesias dramáticas, por sua vez, começaram a surgir em Roma na 
segunda metade do século III a.C. Segundo Cardoso (1989, p. 23), em 264, durante 
os Jogos Romanos, realizados anualmente em homenagem a Júpiter (Zeus), os 
romanos haviam tido a oportunidade de assistir a uma peça teatral grega. Só 
24 anos mais tarde, após a comemoração do primeiro aniversário da vitória dos 
romanos na guerra púnica, é que o povo teve a oportunidadede assitir a uma 
encenação em latim. 
As obras trágicas mais significativas na literatura latina são as tragédias 
de Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.), compostas de nove obras inspiradas em modelos 
gregos, sobretudo nas peças de Eurípides. Entre elas, destacam-se: As fenícias, A 
loucura de Hércules, Fedra, Tiestes, Agamemnon e As troianas.
No que diz respeito à comédia, poucas obras trágicas se preservaram, entre 
elas estão as comédias de Plauto (254-184 a.C.) e as de Terêncio (185-159 a.C.). Das 
mais de 100 obras escritas por Plauto, 21 resistiram até nossa época. Entre as mais 
conhecidas estão as peças Anfitrião, A marmita e Os Menecmos. Diferentes das 
comédias de Plauto, que são "movimentadas, cheias de correrias, atropelos e cenas 
de pancadaria”, as obras de Terêncio, mesmo mostrando as figuras tradicionais 
da comédia nova, fogem das convenções, analisando-as psicologicamente e 
apresentando "uma ação mais tranquila, com peripécias dramáticas e aventuras 
quase sempre galantes', destaca Cardoso (1989, p. 39). Como exemplos, temos as 
peças Andria (A moça de Andros), Adelphoi (Os irmãos), Heyra (A sogra), Eunuchus 
(O Eunuco), Heautontimoroumenos (O autopunidor ), Phormion (Fórmio). As peças 
de Terêncio também foram muito apreciadas na Idade Média e no Renascimento.
3 A PROSA LITERÁRIA
O gênero narrativo ficcional em prosa que surgiu em Roma pode ser 
considerado, por sua estrutura e características, a gênese do romance satírico-
picaresco (relativo a pícaro, burlesco ou malandro), a exemplo de Satyricon, 
romance incompleto atribuído a Petrônio, e a obra Metamorfoses (conhecida como 
O asno de Ouro), de Apuleio, autor cujas informações biográficas mais certas 
indicam o seu nascimento em 125 d.C., em Madura, colônia romana da África. 
Os dois romances, únicos exemplares da ficção em prosa latina, são elaborados 
a partir da memória de alguém que vivenciou os fatos. Neles, encontramos a 
presença marcante do narrador-protagonista, um eu que narra e ao mesmo tempo 
assume o papel de personagem principal que vive os fatos. 
44
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
ATENCAO
Na prosa literária, o narrador, instância ficcional da enunciação, que se 
distancia do eu do escritor, pode assumir várias formas (participar da história narrada ou 
apenas observar e analisar os acontecimentos sem participar ativamente deles, podendo 
fazer a narração na primeira ou na terceira pessoa do discurso). Sua função é apresentar uma 
história constituída por personagens, que atuam num determinado espaço, durante um 
período de tempo, cujos fatos narrados formam o enredo (também conhecido por trama ou 
intriga). Esses são os elementos básicos estruturadores da narrativa.
O romance Satyricon, de Petrônio, apresenta peripécias do narrador 
— protagonista Encólpio, um jovem sem família e sem profissão, bem como a 
história de outras personagens burlescas com passagens que satirizam os desejos, 
os costumes e a hipocrisia da sociedade da época. A obra O asno de Ouro, por sua 
vez, é composta por 11 partes (livros), e destaca o maravilhoso, o sobrenatural, 
através das aventuras de Lúcio, que se transforma em burro por causa de um 
engano. Ao hospedar-se na casa de uma feiticeira, durante uma viagem pela 
Grécia, experimenta um medicamento que poderia transformá-lo em pássaro, 
mas acabou metamorfoseado em burro, conservando seu pensamento humano e 
seu espírito crítico. 
O romance de Apuleio se sobressai por apresentar um processo de 
enunciação mais apurado, envolvendo quatro elementos importantes: o autor (O 
homem de Madura — o africano e pobre Apuleio aparece na obra e em alguns 
momentos confunde-se com o narrador ficcional), o narrador (Lúcio, o nobre 
grego), a personagem (Lúcio, que narra e vive a história ora como ser humano 
ora transformado em burro) e o leitor (o destinatário do romance — marcado pelo 
uso constante da segunda pessoa tu e vós).
É interessante notar, abaixo, nos fragmentos do romance O Asno de Ouro, 
citados por D'Onofrio (1990, p. 125), a presença constante do narrador. 
Eu vou-te contar, numa prosa milesiana, uma série de estórias 
variadas e acariciar os teus ouvidos benévolos […] Eu começo […] Lá 
passou-se um fato memorável, que desejo vos contar […] Entre outras, 
há uma estória excelente e muito engraçada que resolvi vos contar. 
Eis, eu começo […] Alguns dias depois, cometeu-se nesse lugar, eu me 
lembro, um crime abominável e, para que possais ler a história, eu a 
inseri no meu livro […] 
TÓPICO 3 | A LITERATURA LATINA
45
ATENCAO
Sobre a palavra romance e a configuração do gênero romanesco, no âmbito 
dos estudos literários, observe o que diz D’Onofrio (2002, p. 116-117):
Etimologicamente, a palavra romance deriva da expressão latina 
romanice loqui, ‘falar românico', ou seja, falar num dos vários dialetos 
europeus que se formaram a partir da língua da antiga Roma, em 
oposição a latine loqui, que era a língua culta da Idade Média. E porque 
nesses dialetos populares se contavam histórias de amor e aventuras 
cavalheirescas, transmitidas oralmente, a palavra romance passou 
a indicar uma longa narrativa sentimental, forma cultural que viveu à 
margem da literatura oficial durante a época do classicismo. Também no 
mundo greco-romano aconteceu o mesmo fenômeno: paralelamente 
aos gêneros literários considerados 'clássicos' porque modulares e 
ensinados nas escolas (tragédia, comédia, épica, lírica, historiografia, 
oratória), havia outras formas de cultura literária que circulavam entre 
a grande massa do povo analfabeto. Uma delas era a ficção em prosa, 
que tinha duas vertentes. A narrativa idealizante era composta de longas 
histórias de amor e de aventura, centradas sobre um casal de namorados 
que, após superar incríveis obstáculos com a ajuda divina, chegava a 
realizar seu sonho de amor. De cunho profundamente sentimental, tais 
histórias cultivavam o desejo utópico do triunfo do amor, da verdade, 
da justiça. Lembramos alguns títulos de obras escritas nos últimos 
dois séculos antes de Cristo: Dáfnis e Cloe, de Longo; As aventuras de 
Quereas e Caloríe, de Caritão de Afrodísias; Teágenes e Cariclea, de 
Heliodoro de Émeso; Habrôcomes e Antia, de Xenofonte de Éfeso. Outra 
vertente, a narrativa satirizante, se difundiu mais no mundo latino; de 
cunho fortemente realístico, apresentava quadros da vida cotidiana nos 
quais estavam anotadas as mazelas de várias classes sociais; O Satiricon, 
de Petrônio, e o Asno de Ouro, de Apuleio, são bons exemplos do tipo 
de literatura picaresca produzida no início da era cristã. Como podemos 
verificar, quer a narrativa sentimental, quer a narrativa realista, embora 
sem o nome de romance, têm origens muito remotas. Ocorre que esse 
tipo de ficção em prosa viveu por longo tempo ofuscado pelos gêneros 
literários clássicos e não recebeu a devida apreciação crítica: todas as 
teorias poéticas da época do classicismo se preocuparam apenas com 
os textos versificados. Somente com o declínio da poesia épica, a partir 
do século XVIII, a ficção em prosa, assumindo o papel da epopeia de 
expressar a totalidade da vida, passou a adquirir o estatuto de gênero 
literário.
46
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• As manifestações artísticas, como as desenvolvidas na antiga Roma, são 
resultado das circunstâncias históricas e sociais em que elas foram produzidas.
• A Eneida, de Virgílio, apresenta relações com os modelos cultivados por 
Homero, e é considerada a obra mitológica e histórica mais importante do 
poeta latino.
• Além da poesia épica, a literatura latina é composta por poemas dramáticos, 
líricos, satíricos e didáticos, em produções de autores como Ovídio, Horácio e 
Sêneca.
• O bucolismo, difundido pelas poesias pastoris, corresponde a uma evasão, 
exalta um ambiente de paz e a simplicidade do campo.
• Em Roma, surgem as obras Satyricon, de Petrônio, e O asno de ouro, de Apuleio, 
textos em prosa considerados como romance, por sua estrutura e características. 
47
1 Duranteas nossas discussões sobre a literatura latina, vimos que o poeta 
Virgílio, além de ter criado a epopeia Eneida, foi o grande difusor da poesia 
bucólica, exaltando a beleza da vida tranquila nos campos. Poetas de épocas 
posteriores, inspirados pela tradição greco-romana, também manifestaram 
diferentes perspectivas sobre a relação entre o eu lírico e a natureza. Leia 
abaixo os poemas de Camões (1524-1580), Juan Meléndez Valdés (1754-
1817) e Fernando Pessoa (1888-1935) e explique de que maneira o eu lírico 
dos poemas estabelece relações com a paisagem bucólica.
TEXTO 1
Alegres campos, verdes arvoredos,
Claras e frescas águas de cristal,
Que em vós os debuxais ao natural,
Discorrendo da altura dos rochedos:
Silvestres montes, ásperos penedos
Compostos de concerto desigual;
Sabei que sem licença de meu mal
Já não podeis fazer meus olhos ledos.
E, pois já me não vêdes como vistes,
Não me alegrem verduras deleitosas,
Nem águas que correndo alegres vêm.
Semearei em vós lembranças tristes,
Regar-vos-hei com lágrimas saudosas,
E nascerão saudades de meu bem.
FONTE: CAMÕES, Luis de. Lírica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992, p. 15.
TEXTO 2
De la primavera
La blanda primavera 
derramando aparece 
sus tesoros y galas 
por prados y vergeles.
AUTOATIVIDADE
48
Despejado ya el cielo 
de nubes inclementes, 
con luz cándida y pura 
ríe a la tierra alegre.
 […]
De esplendores más rico 
descuella por oriente 
en triunfo el sol y a darle 
la vida al mundo vuelve.
Medrosos de sus rayos 
los vientos enmudecen, 
y el vago cefirillo 
bullendo les sucede,
el céfiro, de aromas 
empapado, que mueven 
en la nariz y el seno 
mil llamas y deleites.
[…]
VOCABULARIO:
Cefirillo: referente a céfiro, viento de poniente.
FONTE: VALDÉS, Juan Meléndez. De la primavera. In: GARCÍA LÓPEZ, José. Historia de la 
literatura española. 20. ed. Barcelona: Vicens Vives, 1997, p. 444.
TEXTO 3
Gozo os campos sem reparar para eles.
Perguntas-me porque os gozo.
Porque os gozo, respondo.
Gozar uma flor é estar ao pé dela inconscientemente
E ter uma noção do seu perfume nas nossas ideias mais apagadas.
Quando reparo, não gozo: vejo.
Fecho os olhos, e o meu corpo, que está entre a erva,
Pertence inteiramente ao exterior de quem fecha os olhos —
À dureza fresca da terra cheirosa e irregular;
E alguma coisa dos ruídos indistintos das coisas a existir,
E só uma sombra encarnada de luz me carrega levemente nas órbitas,
E só um resto de vida ouve.
FONTE: PESSOA, Fernando. In: Poemas completos de Alberto Caeiro. São Paulo: Hedra, 
2006, p. 153.
49
2 Leia abaixo um fragmento do poema de Horácio.
A pálida morte percute compassadamente, com seu pé justo, 
as choças [casas] dos pobres e os palácios dos reis. 
Caro Sesto, a suprema brevidade da vida impede-nos de conceber 
uma esperança duradoura. 
FONTE: HORÁCIO, Odes I, IV, In: CARDOSO, Z. A. A literatura latina. Porto Alegre: Mercado 
Aberto, 1989. P. 13-15.
Em relação ao poema e às principais ideias de Horácio, avalie as afirmações a 
seguir. 
I. O poema expressa a ideia de que a vida é breve e a morte é certa, de que é 
preciso, portanto, saber aproveitar o dia.
II. O trecho do poema "A pálida morte percute compassadamente" sugere a 
insatisfação e a desesperança do eu lírico com a vida, e o seu desejo pela 
morte.
III. Encontramos nos diversos temas das odes horacianas um elogio à 
simplicidade, a vontade do eu lírico de usufruir do momento presente.
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
3 Sobre as produções literárias latinas na Antiguidade Clássica, analise as 
asserções a seguir.
I. Na prosa de Petrônio, assim como na de Apuleio, o sujeito da enunciação é 
marcado pelo uso da primeira pessoa e a obra mescla o papel do narrador 
com o do protagonista.
II. A ficção em prosa O asno de ouro, de Apuleio, apresenta alguns vestígios 
explícitos do autor, sinalizando aspectos autobiográficos e acentuando 
uma fusão de vozes. 
III. O gênero romance, como denominação e forma literária, aparece 
exclusivamente na Idade Média.
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
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51
TÓPICO 4
A LITERATURA NA IDADE MÉDIA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A literatura greco-latina começa a ser substituída pela literatura romana-
cristã no período de fundação da Europa Moderna, conhecido como Idade 
Média. Momento histórico (situado entre os séculos V e XV), que teve início 
com a conquista de Roma, capital do Império Romano do Ocidente pelos povos 
germânicos no ano 476, e terminou com a queda de Constantinopla, capital do 
Império Romano do Oriente, conquistada pelos turcos em 1943.
Esta foi uma época de grandes mudanças na organização social, na qual 
o clero e a nobreza constituíam as classes governantes que controlavam a terra 
e o poder espiritual, respectivamente. A Igreja conduzia a educação formal e a 
produção cultural, enquanto a sociedade se reorganizava em torno dos senhores 
feudais, os grandes proprietários de terras. 
Na Idade Média há duas fases distintas. A Alta Idade Média (do século V 
ao XI), época em que a Europa viveu estagnada pela instabilidade política e quase 
paralisada culturalmente, sem nenhuma produção relevante no âmbito da ciência 
e das artes. Após um processo gradativo de mudanças, ocorre um renascimento 
cultural na segunda fase, denominada Baixa Idade Média — muito rica para a 
literatura, sobretudo na produção dos gêneros narrativo e lírico. 
Logo, neste tópico, estudaremos as manifestações literárias que surgiram 
na Idade Média a partir dessas mudanças na ordem social e das substanciais 
transformações linguísticas ocorridas com a passagem do latim para o surgimento 
das línguas europeias modernas (francês, italiano, espanhol, português). 
Destacaremos as canções de gesta, especialmente El cantar de Mío Cid, produzido 
em língua espanhola medieval, e a lírica trovadoresca, os primeiros textos criados 
em galego-português (língua em estágio anterior ao português).
2 AS CANCÕES DE GESTA
Na Idade Média destacam-se dois grandes gêneros narrativos. O primeiro 
evidencia os romances de cavalaria, atrelados aos temas do “ciclo de bretão", às 
aventuras do rei Arthur e dos seus cavaleiros da Távola Redonda, exaltando 
a figura do cavaleiro, símbolo de coragem e bravura. Neste ciclo narrativo, 
produzido em prosa durante o período das Cruzadas (guerras religiosas entre 
52
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
cristãos europeus e muçulmanos), há uma vertente de cunho religioso, a exemplo 
da obra A demanda do Santo Graal, do francês Chrétien de Troyes (1135-1185), 
e outra vertente do romance que exalta os amores sensuais e adúlteros, como 
Amadis de Gaula, escrito em língua espanhola. 
As canções de gesta, por sua vez, pertencem ao “ciclo carolíngio", são 
cantos épicos de origem popular que surgiram num contexto de confrontos bélicos, 
ressaltando as aventuras militares de Carlos Magno e dos Paladinos da França. 
As canções, redigidas em versos e recitadas por poetas itinerantes, divertiam a 
população medieval, contendo histórias sobre os heróis nacionais, bem como as 
relações entre o monarca e seus vassalos (subordinados). A maioria dos poemas 
não contém a identificação dos seus autores e permaneceram no anonimato. 
Entre as canções mais emblemáticas, destacam-se La chanson de Roland (A canção 
de Rolando), na França, Das Nibelungenlied (A canção dos Nibelungos), na Alemanha, 
e El cantar de Mío Cid (Cantar do meu Cid), na Espanha.
 
Vamos ler a seguir um pequeno trecho do Cantar del Mío Cid, considerado 
a primeira narrativa extensa da literatura espanhola preservada por um copista 
no Manuscrito de Per Abbat, datado de 1307, embora se acredite que o ano de 1140 
seja a data provável da composição do poema. Neste manuscrito, composto por 
3.735 versos, há três partes essenciais, o Cantar del Destierro,o Cantar de las Bodas 
e o Cantar de la afrenta de Corpes, que contam a história de Rodrigo Diaz de Vivar 
(El Cid), um personagem histórico que atuou ativamente durante a reconquista 
da Península Ibérica, suscitando inveja e intrigas entre os nobres de Castilha, até 
conseguirem que o rei Alfonso VI decretasse o exílio de Cid.
O Cantar del Mío Cid tem um alto valor representativo, pois, segundo José 
García López,
El enaltecimiento del Campeador frente a las arbitrariedades del 
poder real – objeto primordial del poema – responde al sentir 
político de Castilla medieval, coincidente con la primitiva tradición 
germánica y opuesta al espíritu del derecho romano conservado por 
León. La exclamación: Dios, qué buen vassallo, si oviesse buen señore! 
Refleja bien a las claras la simpatía que inspiraba la figura del héroe, 
atropellado injustamente, pero que sabe adoptar una actitud digna sin 
dejar de ser fiel al rey. El basar las relaciones entre señor y vasallo 
en un mutuo respeto, el individualismo y la “defensa del honor”, son 
elementos básicos del poema, y que van a perdurar a través de toda 
la literatura española. Se conjugan en el poema dos móviles: la lucha 
contra el infiel y contra las injusticias, y el afán de engrandecimiento 
personal y familiar (LÓPEZ, 1997, p. 53).
Vejamos abaixo a descrição da Batalha de Alcoçer, do Cantar del Destierro, 
segundo a versão de Ramón Menéndez Pidal, citada por José García López (1997). 
Este fragmento da primeira parte refere-se aos primeiros momentos da batalha e 
ao desenvolvimento da luta. 
TÓPICO 4 | A LITERATURA NA IDADE MÉDIA
53
35 - Los del Cid acometen para socorrer a Pedro Vermúdez
Enbraçan los escudos delant los coraçones, 
715 
abaxan las lanças abueltas de los pendones,
enclinaron las caras de suso de los arzones,
ivanlos ferir de fuertes coraçones.
A grandes vozes llama el que en buen ora naçió:
 “¡Feridlos, cavalleros, por amor del Criador! 720
¡Yo so Roy Diaz, el Çid de Bivar Campeador!”
Todos fieren en el az do está Per Vermudoz.
Trezientas lanças son, todas tienen pendones;
seños moros mataron, todos de seños colpes;
a la tornada que fazen otros tantos muertos son. 725
36- Destrozan las haces enemigas 
Veriedes tantas lanças premer e alçar, 
tanta adágara foradar e passar, 
tanta loriga falssar e desmanchar, 
tantos pendones blancos salir vermejos en sangre, 730 
tantos buenos cavallos sin sos dueños andar. 
Los moros llaman Mafomat e los cristianos Santi Yague. 
Cadien por el campo en un poco de logar 
moros muertos mil e trezientos ya.
VOCABULARIO:
Abueltas: Al miesmo tempo que.
Suso: Encima.
Az: Fila de guerreros.
Seños: Sendos.
Premer: Bajar.
Adágara: Escudo de cuero.
Loriga: Armadura de cuero con escamas o anillos de metal cosidos 
encima.
Falssar: Romperse.
Desmanchar: Deshacerse las mallas de la loriga (GARCÍA LÓPEZ, 
1997, p. 30-31).
Além da descrição da batalha, você notou a disposição inusitada dos 
versos? O poema está dividido em duas partes diferentes. São versos que não 
apresentam o mesmo número de linhas (anisossilábicos), contêm apenas uma 
rima (monorrimos) e os sons finais de cada verso não correspondem perfeitamente 
(assonantes). 
54
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
DICAS
Para ler na íntegra El cantar de Mío Cid, na versão modernizada, acesse o site 
espanhol da Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes: http://www.cervantesvirtual.com/obra-
visor/texto-modernizado-del-cantar-de-mio-cid--0/html/.
Para complementar seus estudos, sugerimos o filme El Cid (1961), produzido por Anthony 
Mann, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yExKh2vOdEM. E o vídeo El Cid: 
leyenda e historia, em: https://www.youtube.com/watch?v=bqRE9wz34JE. 
Em sua prática docente, aproveite as produções audiovisuais para explorar ao máximo a 
leitura do poema. Esta é uma boa oportunidade para elaborar uma atividade em que os 
alunos analisem trechos do poema e ampliem seus conhecimentos sobre a língua e a 
literatura espanhola. É fundamental que se valorize a literatura na aula de Língua Estrangeira 
(LE), favorecendo a prática de leitura crítica e a expansão da visão de mundo dos alunos. 
3 A LÍRICA TROVADORESCA
A poesia lírica criada nas cortes medievais surgiu no final do século XI, em 
Provença, no sul da França, região da língua provençal. O francês Guilherme de 
Poiters foi um dos primeiros poetas a difundir essas composições e emblemática 
concepção do 'amor cortês', ideal amoroso e cavalheiresco, cuja mensagem 
é sempre endereçada a uma mulher idealizada e amada pelo trovador, artista 
produtor dessa poesia, que cantava e divertia o público da corte, como também 
o das regiões rurais. Por isso, a produção poética do período apresenta uma forte 
relação com a música, já que os versos eram criados para serem cantados.
 
A lírica galego-portuguesa, especificamente, divide-se da seguinte forma: 
• Cantigas liríco-amorosas: tem como tema central o jogo das relações amorosas 
e são divididas em cantigas de amigo e cantigas de amor. Nas cantigas de amigo, 
o trovador assume a voz da mulher, geralmente uma pastora ou camponesa, 
que se queixa da ausência do amante e acaba compartilhando suas tristezas 
com outras mulheres, com a mãe e até mesmo com a natureza. Na época, a 
palavra amigo significava namorado ou amante. Nas cantigas de amor, o 
eu lírico expressa um sentimento não correspondido pela mulher amada e 
submissão a ela. O relacionamento entre a dama e o trovador corresponde ao 
relacionamento distante e submisso entre o senhor e o vassalo da sociedade 
medieval. Nessas cantigas, a palavra coita é muito usada para fazer referência 
ao sofrimento amoroso e o comportamento obediente do trovador representa a 
idealização do amor cortês. 
TÓPICO 4 | A LITERATURA NA IDADE MÉDIA
55
• Cantigas satíricas - apresentam críticas aos comportamentos individuais e 
sociais. As cantigas de escárnio ridicularizam sutilmente as pessoas da corte 
e das comunidades rurais, as sátiras são indiretas. Já as cantigas de maldizer 
apresentam uma crítica mais explícita e um vocabulário de baixo calão.
Essas características estão presentes nas três cantigas expostas a seguir, uma 
de amigo, do trovador Martin Codax, outra de amor, de Nuno Fernandes Tornel 
e, por último, uma cantiga satírica, de João Garcia de Guilhad. Encerraremos esta 
unidade apresentando duas versões dos textos, a original, em galego-português, 
e a versão modernizada no português atual. Durante a leitura, procure perceber 
como o eu lírico manifesta os seus sentimentos, identificando os temas abordados 
e as especificidades de cada cantiga. 
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus, se verrá cedo!
Ai ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo.
dizei-me: voltará cedo?
Ondas do mar levantado,
se vistes meu amado,
dizei-me: voltará cedo?
Se vistes meu amigo,
aquele que por quem suspiro
dizei-me: voltará cedo?
Se vistes meu amado,
que me pôs neste cuidado
dizei-me: voltará cedo?
QUADRO 1 – CANTIGA DE AMIGO DE MARTIN CODAX
FONTE: Correia (1978, p. 124-125)
A cantiga que você leu foi escrita pelo trovador galego Martin Codax, mas 
evidencia os sentimentos de um sujeito poético feminino, que funde a paisagem 
marítima com suas expectativas amorosas. Na presença do mar revolto, a mulher 
expressa sua angústia por causa do amigo ausente.
56
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
DICAS
Ouça a belíssima versão da cantiga Ondas do mar de Vigo, musicada 
pelo compositor Xoán Eiriz, diponível em: https://cantigas.fcsh.unl.pt/versaomusical.
asp?cdcant=1308&cdvm=384.
Nos versos, expostos abaixo, você observará as nuances poéticas das 
cantigas de amor dos trovadores medievais.
Ir-vus queredes, mia senhor,
e fiq’end’eu com gran pesar,
que nunca soube ren amar
ergo vós, des quando vus vi.
E pois que vusides d’aqui,
senhor fremosa, que farei?
E que farei eu, pois non vir’
o vosso mui bom parecer?
Non poderei eu mais viver,
se me Deus contra vos al:
senhor fremosa, que farei?
E rogu’eu aNosso Senhor
que, se vos vus fordes d’quen,
Que me dê mia morte por én,
ca muito me será mester.
E se mi-a el dar non quiser’:
senhor fremosa, que farei?
Pois mi-assi força voss’amor
e non ousovusco guarir,
des quando me de vos partir’,
eu que non sei al bem querer,
Querria-me de vos saber:
Senhor fremosa, que farei. 
Se em partir, senhora minha,
mágoas haveis de deixar
a quem firme em vos amar
foi desde a primeira hora,
se me abandonais agora,
ó formosa! que farei?
Que farei se nunca mais
contemplar vossa beleza?
Morto serei de tristeza.
Se Deus me não acudir,
nem de vós conselho ouvir,
ó formosa! que farei?
A Nosso Senhor eu peço
quando houver de vos perder,
se me quiser comprazer,
que a morte me queira dar.
Mas se a vida me poupar,
ó formosa! que farei?
Vosso amor me leva a tanto!
Se, partindo, provocais
quebranto que não curais
a quem de amor desespera,
de vós conselho quisera:
ó formosa! que farei?
QUADRO 2 – CANTIGA DE AMOR DE NUNO FERNANDES TORNEL
FONTE: Correia (1978, p. 216-217)
TÓPICO 4 | A LITERATURA NA IDADE MÉDIA
57
A cantiga de amor, de Nuno Fernandes, reforça o amor do trovador pela 
dama. O eu lírico não esconde sua aflição, seu desespero, e implora a atenção da 
mulher amada. Diferentemente das cantigas do gênero lírico, observe, a seguir, 
como as cantigas satíricas utilizam um vocabulário pouco polido para fazer 
críticas contundentes às pessoas de diversas classes sociais. 
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv'en [o] meu 
cantar;
mais ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
Ai, dona feia, foste-vos queixar
que nunca vos louvo em meu cantar;
mas agora quero fazer um cantar
em que vos louvares de qualquer 
modo;
e vede como quero vos louvar
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, que Deus me perdoe,
pois tendes tão grande desejo
de que eu vos louve, por este motivo
quero vos louvar já de qualquer 
modo;
e vede qual será a louvação:
dona feia, velha e maluca!
Dona feia, eu nunca vos louvei
em meu trovar, embora tenha 
trovado muito;
mas agora já farei um bom cantar;
em que vos louvarei de qualquer 
modo;
e vos direi como vos louvarei:
dona feia, velha e maluca!
QUADRO 3 – CANTIGA SATÍRICA DE JOÃO GARCIA GUILHADE
FONTE: Correia (1978, p. 136-137)
Na cantiga de escárnio, de Guilhade, certamente você percebeu a 
desqualificação e a caracterização exagerada dos defeitos de "dona feia”. 
58
UNIDADE 1 | OS PRIMÓRDIOS DA LITERATURA OCIDENTAL
DICAS
No site da Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes você encontrará o Portal 
Martin Codax, dedicado ao trovador galelo-português, autor da cantiga de amigo que você 
leu anteriormente. O portal torna acessíveis composições, gravações sonoras e estudos 
diversos sobre as cantigas de Martin Codax, disponíveis em: http://www.cervantesvirtual.
com/portales/martin_codax/. 
O Instituto de Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da 
Universidade Nova, de Lisboa, através do projeto Littera, edição, atualização e preservação 
do património literário medieval português, também diponibiliza ao leitor cantigas medievais 
galego-portuguesas de diversos autores, manuscritos e cantigas musicadas. Amplie seus 
conhecimentos pesquisando em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt>. 
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RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
• Várias línguas foram criadas a partir do latim falado no Império Romano, e a 
literatura greco-latina começou a ser substituída pela literatura romano-cristã.
• A Idade Média foi uma época em que a organização social se transformou, 
dividindo-se entre a nobreza, a Igreja e o povo.
• As canções de gesta e a poesia trovadoresca são consideradas as primeiras 
manifestações literárias escritas que surgiram na literatura ocidental.
• El cantar de Mío Cid, representante das canções de gesta na literatura de língua 
espanhola, trata-se de um poema épico que reflete o cotidiano da sociedade 
medieval e narra as aventuras de Rodrigo Díaz de Vivar, um cavaleiro 
castelhano.
• As poesias trovadorescas, acompanhadas de música e geralmente cantadas pelos 
trovadores, foram produções cultivadas nas cortes medievais. Denominadas 
de cantigas, essas produções se dividem em cantigas líricas e cantigas satíricas.
60
AUTOATIVIDADE
1 A aventura do Cantar de Mío Cid começa em Vivar, terra natal de Rodrigo 
Díaz, o Cid Campeador. Em certa ocasião, ele recebe notícias de seu exílio 
por parte do rei Alfonso VI, que lhe concede nove dias de prazo para 
abandonar o reino. Leia abaixo o fragmento da primeira parte do Cantar de 
Mío Cid e responda à questão seguinte.
[…]
4 - Nadie da hospedaje al Cid por temor al Rey. Sólo una niña de nueve años 
pide al Cid que se vaya. El Cid acampa en la glera del río Arlanzón
 Narrador
Le convidarían de grado, mas ninguno no osaba; 
El rey don Alfonso tenía tan gran saña; 
Antes de la noche, en Burgos de él entró su carta, 
Con gran recaudo y fuertemente sellada: 
Que a mío Cid Ruy Díaz, que nadie le diese posada, 25
Y aquel que se la diese supiese veraz palabra, 
Que perdería los haberes y además los ojos de la cara, 
Y aún más los cuerpos y las almas. 
Gran duelo tenían las gentes cristianas; 
Escóndense de mío Cid, que no le osan decir nada, 30
El Campeador adeliñó a su posada. 
Así como llegó a la puerta, hallola bien cerrada; 
Por miedo del rey Alfonso que así lo concertaran: 
Que si no la quebrantase por fuerza, que no se la abriesen por nada. 
Los de mío Cid a altas voces llaman; 35
Los de dentro no les querían tornar palabra. 
Aguijó mío Cid, a la puerta se llegaba; 
Sacó el pie de la estribera, un fuerte golpe le daba; 
No se abre la puerta, que estaba bien cerrada. 
 
[…]
FONTE: GUTIÉRREZ, Aja, M.ª del Carmen; RODRÍGUEZ, Timoteo Riaño. Cantar de Mío Cid. 
3: texto modernizado. Alicante: Biblioteca virtual Miguel de Cervantes, 2007. Disponível em: 
<http://www.cervantesvirtual.com/portales/cantar_de_mio_cid/obra_ediciones/>. Acesso 
em: 15 maio 2018.
Assinale a alternativa que corresponde corretamente ao trecho citado acima.
a) ( ) D. Afonso VI temia a chegada de Mío Cid.
b) ( ) Uma das filhas de Mío Cid questionou a postura violenta de Dom Alfonso 
VI.
61
c) ( ) A menina que estava na hospedaria insistiu para Mío Cid permanecer no 
local.
d) ( ) Mío Cid teria ferido Dom Alfonso VI às margens do rio Arlanzón.
e) ( ) Mío Cid golpeou à força a porta da hospedaria.
2 Leia a cantiga Se eu pudesse desamar, do trovador medieval Pero da Ponte. 
Aproveite e ouça a cantiga musicada por Pedro Barroso, disponível em: 
https://cantigas.fcsh.unl.pt/versaomusical.asp?cdcant=986&cdvm=96. Depois, 
responda às questões a seguir.
Se eupodesse desamar
a quem me sempre desamou
e podess'algum mal buscar
a quem me sempre mal buscou!
Assi me vingaria eu,
 se eu pudesse coita dar
 a quem me sempre coita deu.
Mais sol nom poss'eu enganar
meu coraçom que m'enganou,
per quanto mi fez desejar
a quem me nunca desejou.
E por esto nom dórmio eu,
 porque nom poss'eu coita dar
 a quem me sempre coita deu.
Mais rog'a Deus que desampar
a quem m'assi desamparou,
ou que podess'eu destorvar
a quem me sempre destorvou.
E logo dormiria eu,
 se eu podesse coita dar
 a quem me sempre coita deu.
Vel que ousass'en preguntar
a quem me nunca preguntou,
por que me fez em si cuidar,
pois ela nunca em mi cuidou;
e por esto lazeiro eu:
 porque nom posso coita dar
 a quem me sempre coita deu.
FONTE: <https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=986&pv=sim>. Acesso em 25 abr. 2018.
a) Qual é o conflito sentimental vivido pelo eu lírico?
62
b) Os versos expressam características de que tipo de cantiga? Justifique sua 
resposta com base no texto e nas discussões apresentados no tópico 4.
3 (ENADE, 2017) 
El hecho de situar un poema al final de la unidad didáctica revela, en muchos 
casos, las dificultades que dicho material plantea al profesor para incorporarlo 
realmente en el desarrollo de la clase: el poema queda así relegado a una 
posición de cierre marginal, de ejercicio voluntario que generalmente y por 
motivos de tiempo para el cumplimiento de la programación no se llega a 
realizar nunca en clase. Los que nos dedicamos a la enseñanza del español como 
lengua extranjera solo tenemos que echar un vistazo a nuestros libros de texto 
para constar que desafortunadamente esta es a realidade imperante. Existe 
por tanto la necesidad de encontrar estratégias para hacer que la literatura 
forme una parte más significativa de los programas de enseñanza de lenguas a 
extranjeros y aprovechar la riqueza que los textos literários ofrecem como input 
de lengua para desarrollar las cuatro destrezas linguísticas fundamentales en 
la adquisición de una lengua: comprensión lectora, comprensión auditiva, 
expresión oral e expresión escrita, dentro de un contexto cultural significativo.
FONTE: ALBADALEJO GARCÍA, M. D. Marco teórico para el uso de la literatura como 
instrumento didáctico en la clase de E/LE. Marco ELE: n. 5, 2017 (adaptado).
Teniendo en cuenta el texto anterior y sus conocimientos acerca del uso de 
textos literarios en clases de ELE, analice las siguientes afirmaciones.
I. Los textos literarios puedem dar al estudiante extranjero una comprensión 
de los códigos y de las manifestaciones culturales que constituyen la 
sociedad en la cual se habla la lengua que se está aprendiendo.
II. En los textos literarios se encuentram variaciones estilísticas, estructuras 
sintácticas y formas de conectar ideas que también están presentes en el 
lenguaje del cotidiano.
III. Los textos literarios permiten al estudiante extranjero entrar en contacto 
con estructuras de la lengua estándar, representadas en las gramáticas 
tradicionales, que son muestras legítimas de uso cotidiano da la lengua 
extranjera.
Es correcto lo que se afirma en:
FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2017/32_LET_
POR_ESP_LICENCIATURA_BAIXA.pdf>. Acesso: 27 mar. 2019.
a) ( ) la afirmación I, solamente.
b) ( ) la afirmación III, solamente.
c) ( ) las afirmaciones I y II, solamente.
d) ( ) las afirmaciones II y III, solamente.
e) ( ) las afirmaciones I, II y III.
63
UNIDADE 2
A LITERATURA ENTRE OS 
SÉCULOS XV E XVII
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• compreender o contexto histórico e as características literárias do Renas-
cimento, período de transição entre o mundo medieval e o moderno;
• entender as transformações artísticas impulsionadas pelo Humanismo 
através dos poetas italianos Dante Alighieri, Francesco Petrarca e Giovan-
ni Boccaccio;
• conhecer as motivações do projeto épico de Camões, bem como as especi-
ficidades literárias da obra Os Lusíadas;
• estudar as principais expressões literárias do Barroco a partir da obra de 
Miguel de Cervantes, das produções teatrais de Shakespeare, Lope de 
Vega e Calderón de la Barca, bem como perceber as interfaces do teatro 
clássico através do dramaturgo francês Molière.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoativdades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – O RENASCIMENTO 
TÓPICO 2 – A ESTÉTICA BARROCA
TÓPICO 3 – NOVAS FORMAS DRAMÁTICAS
64
65
TÓPICO 1
O RENASCIMENTO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
O Renascimento foi um importante movimento que provocou 
transformações significativas nos campos artístico e científico, marcando a 
transição do período medieval para o mundo moderno. Originado, inicialmente, 
em Florença, na Itália, durante o século XIV, o movimento, em sua diversidade, 
à medida que se dinfundia pela Eupropa nos séculos XV e XVI, impulsionou 
novas formas de pensamento acerca das concepções estéticas, filosóficas, sociais, 
religiosas preconizadas pela Idade Média. 
A história da cultura renascentista está atrelada ao crescimento da 
burguesia e das atividades econômicas que estimularam a vida urbana, o 
individualismo, a conscientização dos valores humanos, o predomínio da razão, a 
observação científica, a organização racional do Estado e o capitalismo mercantil. 
Essa transformação de visão de mundo foi possível devido ao desenvolvimento 
das ciências exatas, físicas e biológicas, especialmente, ao aperfeiçoamento da 
imprensa pelo tipógrafo alemão Gutenberg (1398-1469), à teoria heliocêntrica (ou 
seja, à ideia de que a Terra não era o centro do Universo, mas girava em torno do 
Sol e em torno de si mesma), elaborada por Copérnico (1473-1543) e defendida, 
mais tarde, por Galileu Galilei (1564-1642). Ademais, destacam-se, entre outras 
descobertas, o tratamento científico do sistema hidráulico, inventado por 
Leonardo da Vinci (1452- 1519), cientista e artista italiano, considerado o maior 
representante da Renascença. Nesse período, as expedições marítimas também 
difundiram novas ideias e contribuíram para alargar a visão de mundo europeia.
Outro traço marcante foi o surgimento da vertente filosófica e literária 
denominada Humanismo, responsável por devolver ao homem "a liberdade de 
construir seu próprio projeto de vida, fora das amarras das instituições medievais 
do Império da Igreja, os ápices do sistema feudal”, deslocando a visão teocêntrica 
(Deus e a religião como centro de todas as questões) para a antropocêntrica (ser 
humano como centro de interesse do pensamento), destaca D’Onofrio, 1990 (p. 
219).
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
66
Antropocentrismo (o radical de origem grega antropo significa "homem”, "ser 
humano"). Os artistas e intelectuais humanistas adotam o antropocentrismo no lugar do 
teocentrismo (do grego teo, que significa “deus” como princípio base de toda a realidade), 
predominante na Idade Média.
NOTA
Do ponto de vista filosófico, o Humanismo buscou a revalorização do 
pensamento de Platão, deixado de lado na Idade Média, época em que predominou 
a filosofia de Aristóteles. Masílio Ficini (1433-1499), através de estudos, da tradução 
para o latim dos diálogos platônicos e da fundação da Academia Platônica, em 
Florença, difundiu o neoplatonismo humanista, enfatizando a distinção entre 
amor carnal e o amor espiritual.
Este complexo processo de mudanças, que se estendeu até o final do 
século XVI, influenciou a história da literatura ocidental. O projeto literário do 
Humanismo marca um período de redescoberta das obras da cultura greco-
latina, consideradas fontes de conhecimento sobre o ser humano. Veremos, a 
seguir, os traços renascentistas dos poetas italianos Dante Alighieri (1265-1321), 
Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1313-1375), situados 
cronologicamente na Idade Média, considerados os “maiores gêniosliterários 
que a Itália produziu em todos os tempos”, os criadores do poema de viés épico 
e teológico, da lírica pessoal e do conto realista, segundo Carpeaux (2012, p. 117).
2 RESSONÂNCIAS DA LITERATURA ITALIANA: DANTE, 
PETRARCA, BOCCACCIO
 A literatura italiana, no século XIV, período conhecido como Trecento, 
criou novos gêneros literários que exerceram forte influência sobre outras 
literaturas da Europa. Dante Alighieri, nascido em Florença, cidade onde 
viveu até ser exilado por questões políticas, foi um grande poeta de seu tempo, 
expoente das novas formas poéticas expressas no Dolce stil nuovo (doce estilo 
novo), movimento literário organizado com seus amigos contemporâneos, entre 
eles, Guido Guinizelli (1240-74) e Guido Cavalcanti (1255-1300). A sublimação do 
amor e das experiências religiosas, representados pela figura angelical da mulher 
amada, assumiu um tom mais paradoxal, repleto de indagações, metáforas e 
simbolismo através da prestigiada composição métrica do soneto, composto por 
catorze versos, dispostos em dois quartetos e dois tercetos — forma poética mais 
usada no século XIII até o início do século XX. As convenções desse novo estilo 
aparecem em Vida nova, obra da juventude de Dante, que conta a história de seu 
amor pela nobre florentina Beatrice Portinari, como podemos ver no fragmento 
abaixo. 
TÓPICO 1 | O RENASCIMENTO
67
[...] veio-me a vontade de dizer outras palavras, com o fito de expressar 
quatro coisas sobre o meu estado e que eu ainda não tinha manifestado. 
A primeira é que eu me amargurava muitas vezes, quando a minha 
memória induzia a minha fantasia a imaginar as mutações que o Amor 
produziria em mim. A segunda era que o Amor, muitas vezes, me 
possuía tão fortemente, que outra vida não restava em mim senão o 
pensamento que falava dessa mulher. A terceira é que, quando essa 
batalha amorosa se travava dentro de mim desse jeito, eu ia ficando 
cada vez mais pálido à procura dessa mulher, certo de que haveria de 
tomar o meu partido, ao assistir o semelhante em combate _ mas eu 
me esquecia o que acontecia comigo toda vez que me aproximava de 
tanta graça. E a quarta coisa é que esta visão não só não resultava em 
meu favor, como, ao contrário, acabava, em definitivo, com o sopro de 
vida que ainda me restava. Disse, então, o seguinte soneto:
1 "Perversas qualidades dá-me o Amor"
2 é o que me vem ao pensamento.
3 Sinto dó de mim mesmo e às vezes tento
4 Fugir, dizendo: “Pode alguém supor
5 Absurdo igual? Num súbito momento,
6 se apodera de mim, deixando o cor-
7 ação viver num sopro de dor,
8 que fala de você e é meu sustento.
9 Ainda assim, semivivo, me empenho
10 em curar-me e salvar-me, indo à procura
11 do seu olhar, o bem de um bem remoto.
12 Mas se ergo os olhos para vê-la, tenho
13 que quer fugir de mim a alma insegura,
14 sentir no meu peito o terremoto (PIGNATARI, 2006, p. 38 -39).
Além de Vida Nova, Dante escreveu outras obras literárias e tratados de 
cunho político e filosófico, imortalizando seu nome com a criação da Divina 
Comédia, a obra mais emblemática da transição do período medieval para o 
Renascimento, consagrada por sucessivas gerações de leitores e estudiosos. 
A princípio, Dante denominou o seu poema Comédia, sem o adjetivo Divina, 
acrescentado posteriormente por Boccaccio. A Divina Comédia, como passou 
a ser conhecida a partir do século XVI, narra o relato da grande viagem que o 
poeta Dante realiza pelos três reinos do mundo pós-morte, segundo a concepção 
católica: o Inferno (lugar dos condenados, do extravio, da tristeza), o Purgatório 
(moradia das almas redimidas que aguardam permissão para serem admitidas ao 
Paraíso) e, por fim, o Paraíso (lugar dos merecimentos, da felicidade, onde tudo 
é luz). 
Todo percurso é narrado em primeira pessoa, em cem cantos, dos 
quais o primeiro serve como introdução. A personagem principal e o narrador 
representam o próprio autor que, ficcionalmente, comecará sua jornada até o 
Paraíso, apresentando a geografia dos reinos e seus habitantes, bem como diversas 
imagens simbólicas, sensações, pensamentos filosóficos, teológicos, científicos, 
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
68
invocações históricas, fábulas mitológicas, que trazem à tona uma série de anseios 
e fraquezas humanas, incluindo ainda, entre suas críticas, a conduta imoral de 
alguns representantes da Igreja.
Do ponto de vista estrutural, impressiona o fato de o poema ter sido 
organizado em tercetos de decassílados, com rima encadeada e alternada, 
segundo o esquema ABA BCB CDC, DED, etc, de modo que a métrica e o número 
de cânticos correspondam a múltiplos de três, considerado um número mágico 
na Idade Média e símbolo da Trindade, a unidade divina da religião cristã (Pai, 
Filho e Espírito Santo). Outra particularidade da estrutura da obra diz respeito 
à configuração espacial dos reinos. O Inferno, cratera provocada pela queda 
do anjo rebelbe Lúcifer, derrotado por Deus, é formado por nove círculos. A 
montanha do Purgatório também é dividida em nove partes. O Paraíso, lugar 
acima do Purgatório, é composto por nove céus, onde estão as almas premiadas 
na ordem crescente de seus merecimentos. Simbologias que nos dão a dimensão 
do mundo imaginado pelo poeta. O poema dantesco é, sem dúvida, uma viagem 
enigmática, repleta de descobertas, misticismo e alegoria. Acompanhe, a seguir, 
o início desta instigante viagem:
Canto I
A meio caminhar de nossa vida A 1
fui me encontrar em uma selva escura: B
estava a reta minha via perdida. A
Ah! que a tarefa de narrar é dura B 4
essa selva selvagem, rude e forte, C
que volve o medo à mente que a figura. B
De tão amarga, pouco mais lhe é a morte, C 7
mas, pra tratar do bem que enfim lá achei, D
direi do mais que me guardava a sorte. C
Como lá fui parar não sei; D 10
tão tolhido de sono me encontrava, E
que a verdadeira via abandonei. [...] D
(ALIGHIERI, 2017, p. 25).
Quais foram suas impressões iniciais? Certamente você deve ter percebido 
que os versos retratam um sentimento de angústia, uma atmosfera de medo. Dante, 
aos 35 anos de idade, se vê perdido numa "selva selvagem", que simbolicamente 
representa a incerteza, a confusão, o extravio da rota — alegoria religiosa para o 
desvio do caminho da virtude. Após uma noite apreensiva, ele consegue escapar 
da selva, livrando-se de três feras: a onça, o leão e a loba. Neste momento, aparece 
a alma de Virgílio, o poeta latino, autor de Eneida (estudado na Unidade 1). 
 Os versos abaixo apresentam o encontro entre os poetas.
Quando eu já para o vale descaído 61
tombava a minha frente um vulto incerto
que por longo silêncio emudecido
TÓPICO 1 | O RENASCIMENTO
69
 parecia, irrompeu no grão deserto: 64
“Tem piedade de mim”, gritei-lhe então,
"quem quer que sejas, sombra ou homem certo”.
E ele me respondeu: “Homem já não, 67
homem eu fui, e foi de pais lombardos,
mantuamos ambos, minha geração.
Nasci sub Julio, inda que em tempo tardos, 70
e vivi em Roma sob o bom Augusto,
e os dolosos de então deuses bastardos.
Poeta fui, cantei aquele justo 73
filho de Anquise, de Troia a volver,
quando o soberbo Ilion foi combusto.
Mas tu, por que inda tornas a temer? 76
por que não galgas o preciso monte,
princípio e causa de todo prazer?"
"És tu Virgílio, aquela fonte 79
que expande do dizer tão vasto flume?”,
respondi eu com vergonhosa fronte,
"Ó de todo poeta honor e lume, 82
valha-me o longo estudo e o grande amor
que me fez procurar o teu volume.
Tu és meu mestre, tu és meu autor, 85
foi só de ti que eu procurei colher 
o belo estilo que me deu louvor. 
[...] (ALIGHIERI, 2012, p. 27-28).
Virgílio, representante da razão e da sabedoria humana, aparece para 
socorrer Dante e guiá-lo na viagem até o limiar do Purgatório, pois o poeta latino, 
sendo pagão, não pode ascender ao reino das almas elevadas. Então, será ao lado 
da musa Beatriz que Dante continuará seu percurso até o Paraíso, destino da 
redenção espiritual.Canto a canto surgem novos episódios. A história se desenrola e várias 
imagens e diálogos se entrelaçam. Antes de entrar no Inferno, imensa cratera 
das profundezas da terra, Virgílio e Dante passam pelo Limbo, o lugar dos 
não batizados, dos pagãos virtuosos que não pecaram, mas foram excluídos da 
salvação. Lá, encontram, separados das outras almas e habitando um "nobre 
castelo" cercado por sete muros, grandes mestres da Antiguidade Clássica, entre 
eles, o poeta grego Homero, à frente do grupo, considerado o "poeta soberano", 
um modelo a ser seguido; e os poetas latinos Horácio, Ovídio e Lucano, que logo 
aceitam Dante em sua comunidade, promovendo-o ao sexto integrante "entre 
tanto saber". Notadamente, o episódio anuncia a tentativa de conciliação entre a 
religião católica e a tradição greco-latina. 
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
70
Em linhas gerais, podemos dizer, segundo as palavras de Carmelo 
Distante, proferidas no prefácio da tradução brasileira da Divina Comédia, que:
Cada episódio é em si uma obra-prima à parte, mas é na sua estrutura e 
na totalidade de sua forma que ela se distingue como uma insuperável 
criação do intelecto humano. Pode-se dizer que é pelo conjunto de 
seu corpo magnífico, plasmado com amor e paixão, sede de justiça, 
desprezo feroz, ira, ódio, comoção profunda, refinamento virtuoso e 
santo, em suma, por tudo o que é de terrível e de mau, de gentil e 
de delicado, de generoso e nobre se hospeda no coração e na alma 
humana, que a Comédia se faz admirar em toda sua magnificência 
poética (ALIGHIERI, 2017, p. 16).
Realmente, o poema exerce uma influência duradoura e seu legado 
continua presente. A representação do artista italiano Domenico di Michelino 
(1417-1491), exposta na pintura abaixo, finaliza nossas discussões, atestando a 
força poética de Dante na história do pensamento ocidental. 
FIGURA 1 - DI MICHELINO, DOMENICO. DANTE ILUMINANDO FLORENÇA COM SEU POEMA. 
1465. TÊMPERA SOBRE MADEIRA
FONTE: <https://ataqueaberto.blogspot.com/2016/01/dante-iluminando-florenca.html>.
Acesso em: 14 set. 2018.
Quais foram os elementos do quadro que mais chamaram sua atenção? 
Provavelmente você notou, em primeiro plano, a figura do poeta italiano; e, ao 
fundo, a montanha do Purgatório, dentre outras imagens cristãs que enfatizam 
a importância do artista, valorizado em sua individualidade e criatividade. 
Dante é retratado como o criador de uma obra capaz de iluminar a sociedade, 
evocar figurações da vida e da morte e a peregrinação do homem em busca 
da espiritualidade que, segundo o poeta, só pode ser atingida num lugar onde 
TÓPICO 1 | O RENASCIMENTO
71
residem justiça, paz e amor. O mundo dantesco problematiza a salvação espiritual 
do indivíduo, mas também o aperfeiçoamento das instituições sociais e políticas, 
reforça D’Onofrio (1990, p. 194).
DICAS
No livro Inferno (2013), o escritor norte-americano Dan Brown constrói uma 
narrativa em que o protagonista Robert Langdon, professor de Simbologia de Harvard, se 
vê diante da enigmática obra Divina Comédia, de Dante Alighieri. O filme Inferno (2016), 
produzido por Ron Howard e inspirado no livro de Dan Brown, também apresenta relações 
intertextuais significativas com a literatura do poeta florentino.
Dando continuidade aos estudos sobre os principais autores italianos 
de vertentes renascentistas, destacaremos brevemente a produção literária de 
Francesco Petrarca, erudito das letras, homem comprometido com a atividade 
política, mestre da poesia lírica ocidental, que manifestou interesse pelas obras 
literárias e filosóficas dos gregos e latinos, especialmente pelos escritos de Platão, 
inaugurando o platonismo amoroso, tema retomado por vários poetas, entre eles, 
os portugueses Sá de Miranda (1485-1558) e Luís Vaz de Camões (1524 -1580), 
expoente do Classicismo em Portugual — estética literária que faz parte do 
movimento amplo do Renascimento e visa a valorização do sentido artístico da 
cultura clássica greco-romana. 
Na lírica amorosa petrarquiana destaca-se a obra Cancioneiro, na qual 
manifesta o drama do amor pela inalcançável Laura. O eu lírico, angustiado, 
almeja reencontrar sua amada no céu. A concepção idealizante, que diviniza a 
mulher, é multiforme, fruto das cantigas da tradição trovadoresca e reflete também 
o platonismo amoroso, o mundo eterno e perfeito, onde a mulher é vista como 
um ser superior, livre das paixões carnais. Petrarca é o poeta da subjetividade, 
dos motivos psicológicos, dos estados melancólicos, considerado o precursor da 
poesia lírica das literaturas modernas.
Leia o soneto, a seguir, no qual o eu lírico tenta caracterizar o amor:
Soneto XXII
Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal?
Se boa por que tem ação mortal?
Se má por que é tão doce o seu tormento?
Se eu ardo por querer por que o lamento?
Se sem querer o lamentar que val?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
Tanto podes sem meu consentimento.
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
72
E se eu consito sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca,
Eu vou para o alto mar e sem governo.
É tão grave de error, de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio
E tremo em pleno estio e ardo no inverno 
(PETRARCA, 1998, p. 63).
O poema de Petrarca apresenta reflexões paradoxais sobre o amor e 
seus efeitos, fundindo ideias contraditórias. Afinal, o que é o amor? Um "doce 
tormento", um "deleitoso mal"? Indagações sobre a temática amorosa várias vezes 
difundidas por poetas, em diversas línguas, que nos lembram outros versos já 
conhecidos, a exemplo do soneto de Camões exposto abaixo.
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor 
(CAMÕES, 1994, p. 19).
Nos versos acima, percebemos a nítida influência de Petrarca. O eu lírico 
do poema camoniano mostra-se empenhado em compreender o amor, e constata 
o caráter contraditório desse sentimento ao representar metaforicamente a 
intensidade da paixão, como podemos notar nas expressões “fogo que arde sem 
se ver, dor que desatina sem doer”, nas quais as sensações de felicidade e tristeza 
coexistem. 
TÓPICO 1 | O RENASCIMENTO
73
DICAS
A temática amorosa atravessa a história da literatura ocidental, sendo revisitada 
por vários autores modernos e contemporâneos. A manifestação desse sentimento também 
está presente em outras linguagens, através de filmes, músicas, até mesmo na publicidade. 
Como esse sentimento se manifesta atualmente na literatura e em outras representações 
culturais? As reflexões apresentadas neste tópico podem orientar você a desenvolver um 
planejamento didático sobre a temática, sensibilizando os alunos para a leitura dos poemas 
de Petrarca e Camões, seguida da análise e interpretação das obras e das possíveis correlações 
com outras manisfestações artísticas e outros textos literários em língua espanhola, como, 
por exemplo, o poema do espanhol Pedro Salinas Serrano (1891- 1951):
¿Serás, amor 
un largo adiós que no se acaba? 
Vivir, desde el principio, es separarse. 
En el primer encuentro 
con la luz, con los labios, 
el corazón percibe la congoja 
de tener que estar ciego y solo un día. 
Amor es el retraso milagroso 
de su término mismo; 
es prolongar el hecho mágico 
de que uno y uno sean dos, en contra 
de la primer condena de la vida. 
Con los besos, 
con la pena y el pecho se conquistan 
en afanosas lides, entre gozos 
parecidos a juegos, 
días, tierras, espacios fabulosos, 
a la gran disyunción que está esperando, 
FONTE: https://www.poesi.as/ps36005.htm. Acesso em: 25 set. 2018.
hermana de lamuerte o muerte misma. 
Cada beso perfecto aparta el tiempo, 
le echa hacia atrás, ensancha el mundo breve 
donde puede besarse todavía.
Ni en el llegar, ni en el hallazgo 
tiene el amor su cima: 
es en la resistencia a separarse 
en donde se le siente, 
desnudo, altísimo, temblando. 
Y la separación no es el momento 
cuando brazos, o voces, 
se despiden con señas materiales: 
es de antes, de después. 
Si se estrechan las manos, si se abraza, 
nunca es para apartarse, 
es porque el alma ciegamente siente 
que la forma posible de estar juntos 
es una despedida larga, clara. 
Y que lo más seguro es el adiós.
Vimos que o Trecento italiano criou gêneros literários novos num 
momento histórico marcado pela construção de uma nova mentalidade. Giovanni 
Boccaccio também se destaca neste contexto como um homem do período 
medieval considerado moderno em relação à sua época. É considerado o criador 
da prosa italiana, do conto breve. Entre 1348 e 1353, escreveu a obra Decameron, 
nome de origem grega que significa “dez jornadas”, uma coletânea de cem contos 
envolvendo dez jovens (sete moças e três rapazes) que se refugiam em uma região 
isolada por causa da peste negra disseminada na cidade de Florência, epidemia 
que devastou a Europa por volta de 1340. 
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
74
As imagens da peste negra elaboradas por Boccaccio também estão presentes 
na vida e na obra de Dante como representação da catástrofe social e das mazelas humanas.
NOTA
Boccaccio construiu narrativas com temáticas variadas, contendo enredos 
trágicos, cômicos e burlescos, envolvendo os costumes e a mentalidade de diversas 
personagens, entre elas, aristocratas, comerciantes, religiosos, camponeses, 
avaros, devassos, personagens históricos, representantes da sociedade italiana do 
século XIV, principalmente florentina. Segundo Simoni (2007, p. 39), o autor fugiu 
do olhar pessimista, da construção metafórica da peste e da morte do medievo, 
visando derrubar a crença de que a Idade Média foi a “idade das trevas”. Logo, 
constrói "a história do desejo de sobreviver e as tentativas diárias de superar os 
infortúnios".
O Quadro 1 apresenta a relação entre as jornadas e o tema narrativo.
Jornada Regente Tema
1ª Pampineia Tema livre.
2ª Filomena Trata daqueles que, apesar de atribulados por diferentes 
coisas, chegam a um final feliz, contrariando todas as 
expectativas.
3ª Neífile Trata de quem, com engenho, conquistou alguma coisa muito 
desejada ou recuperou algo perdido.
4ª Filóstrato Trata sobre aqueles cujos amores tiveram fim infeliz.
5ª Fiammetta Trata de algo feliz que tenha acontecido a algum amante, 
depois de vicissitudes tristes e cruéis.
6ª Elissa Trata de alguém que, tendo sido provocado, defendeu-se 
com palavras espirituosas ou escapou de perdas, perigos ou 
vexames valendo-se de pronta resposta ou de muito engenho.
7ª Dioneu Trata do modo como, por amor ou para salvar-se, as mulheres 
burlaram seus maridos, tendo eles percebido ou não.
8ª Lauretta Trata das burlas praticadas todos os dias por mulheres contra 
homens, por homens contra mulheres, ou por um homem
contra outro.
9ª Emília Cada um fala daquilo que mais lhe agrada, da maneira que 
bem quiser.
10ª Pânfilo Trata sobre alguém que tenha obrado de modo generoso ou 
mesmo magnífico em torno dos fatos do amor ou de outros.
QUADRO 1 – DECAMERON – AS DEZ JORNADAS E SEUS RESPECTIVOS TEMAS 
FONTE: Adaptado de Boccaccio (2013, p. 12)
TÓPICO 1 | O RENASCIMENTO
75
A seguir, há um trecho da primeira jornada, descrevendo os infortúnios 
da peste negra.
PRIMEIRA JORNADA
Graciosas senhoras, quanto mais penso cá comigo e contemplo como 
são as senhoras naturalmente piedosas, mais concluo que esta obra 
lhes parecerá austera e pesada no princípio, assim como o é a dolorosa 
lembrança da última peste, com que ela se inicia, para todos os que a 
viram ou que de algum outro modo souberam de seus estragos. Mas 
não quero que isso as assuste e impeça de prosseguir, como se, lendo, 
houvessem de estar sempre entre suspiros e lágrimas. Este horripilante 
início não deve ser diferente do que é para o caminhante a montanha 
acidentada e íngreme, atrás da qual se encontre uma planície belíssima e 
amena, que lhe parecerá tanto mais agradável quanto maior tiver sido o 
padecimento da subida e da descida. E, assim como os confins da alegria 
são ocupados pela dor, as misérias têm seus limites no contentamento 
que sobrevém. A este breve aborrecimento (digo breve porque contido 
em poucas linhas) seguem-se logo o deleite e o prazer já prometidos, 
que talvez não fossem esperados de tal início, caso isto não fosse dito. 
Na verdade, se me tivesse sido possível levá-las convenientemente 
àquilo que desejo por outro caminho, e não por esta senda tão árdua, eu 
o teria feito de bom grado: mas como, sem esta rememoração, não seria 
possível explicar por qual razão ocorreram as coisas que a seguir serão 
lidas, disponho-me a descrevê-las como que impelido pela necessidade.
Digo, pois, que os anos da frutífera encarnação do Filho de Deus já haviam 
chegado ao número 1348 quando, na insigne cidade de Florença, a mais 
bela de todas as da Itália, ocorreu uma peste mortífera, que – fosse ela 
fruto da ação dos corpos celestes, fosse ela enviada aos mortais pela justa 
ira de Deus para correção de nossas obras iníquas — começara alguns 
anos antes no lado oriental, ceifando a vida de incontável número de 
pessoas, e, sem se deter, continuou avançando de um lugar a outro até se 
estender desgraçadamente em direção ao Ocidente.
E, de nada havendo servido os saberes e as providências humanas, 
como a limpeza das imundícies da cidade por funcionários 
encarregados de tais coisas, a proibição de entrada dos doentes e 
os muitos conselhos dados para a conservação da salubridade, e 
tampouco encontrando efeito as humildes súplicas feitas a Deus pelos 
devotos, não uma vez, mas muitas, em procissões e de outros modos, 
era já quase início da primavera do ano acima quando começaram a 
manifestar-se de maneira prodigiosa seus horríveis e dolorosos efeitos. 
Não se manifestavam como na parte oriental, onde expelir sangue pelo 
nariz era sinal manifesto de morte inevitável, mas começavam com o 
surgimento de certas tumefações na virilha ou nas axilas de homens 
e mulheres, algumas das quais atingiam o tamanho de uma maçã 
comum e outras o de um ovo, umas mais e outras menos, e a elas o 
povo dava o nome de bubões. E os referidos bubões mortíferos, não se 
limitando às duas citadas partes do corpo, em breve espaço de tempo 
começaram a nascer e a surgir indiferentemente em todas as outras 
partes, após o que a qualidade da enfermidade começou a mudar, 
passando a manchas negras ou lívidas, que em muitos surgiam nos 
braços, nas coxas e em qualquer outra parte do corpo, umas grandes e 
ralas, outras diminutas e espessas. E, tal como ocorrera e ainda ocorria 
com o bubão, tais manchas eram indício inegável de morte próxima 
para todos aqueles em quem aparecessem.
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
76
 […] embora não morressem todos, também nem todos se salvavam: 
ao contrário, adoeciam muitos que pensavam de modos diversos, em 
todos os lugares; e esses doentes, que, quando estavam sãos, tinham 
dado exemplo àqueles que agora continuavam sãos, definhavam 
quase abandonados por todas as partes. E, sem contar que um cidadão 
evitava o outro, que quase nenhum vizinho cuidava do outro e que os 
parentes raramente ou nunca se visitavam, e só o faziam à distância, 
era tamanho o pavor que essa tribulação pusera no coração de homens 
e mulheres, que um irmão abandonava o outro, o tio ao sobrinho, a 
irmã ao irmão e muitas vezes a mulher ao marido; mas (o que é pior 
e quase incrível) os pais e as mães evitavam visitar e servir os filhos, 
como se seus não fossem. Por todas essas coisas, para a multidão 
incalculável de homens e mulheres que adoeciam não restava outro 
socorro senão a caridade dos amigos (e destes houve poucos) ou a 
ganânciados serviçais, que trabalhavam em troca de gordos salários 
e acordos abusivos, se bem que com tudo aquilo não restassem 
muitos: e os que havia eram homens ou mulheres de tosco engenho, a 
maioria não acostumada a tais serviços, que só serviam para pôr nas 
mãos dos doentes algumas coisas que estes pedissem ou para velar 
a sua morte; e, cumprindo tal serviço, muitas vezes pereciam junto 
com seus ganhos. E, do fato de estarem os doentes abandonados por 
vizinhos, parentes e amigos e de serem poucos os serviçais, decorreu 
um costume quase desconhecido antes: nenhuma mulher que 
adoecesse, por mais graciosa, bela ou fidalga que fosse, se importava 
de ter um homem a seu serviço, fosse ele jovem ou não, e de lhe expor 
todas as partes do corpo sem nenhum pudor, tal qual teria exposto 
a uma mulher, desde que a doença impusesse essa necessidade; e, 
nos tempos que se sucederam, isso talvez tenha sido razão de menor 
honestidade daquelas que se curaram. Além disso, morreram muitos 
que, se porventura ajudados, teriam escapado; assim, tanto por falta 
do devido atendimento, que os doentes não podiam ter, quanto pela 
força da peste, era tamanha a multidão de gente a morrer noite e dia 
na cidade que causava espanto ouvir dizer, quanto mais presenciar. 
Desse modo, como que por necessidade, entre os que sobreviveram, 
surgiram usos contrários aos primitivos costumes dos cidadãos 
(BOCCACCIO, 2013, p. 17-18).
DICAS
As histórias criadas por Boccaccio 
influenciaram vários autores, especialmente as produções 
de Shakespeare e Molière. Além disso, serviram de fonte de 
inspiração para outras linguagens, através de adaptações 
realizadas para a televisão, rádio e cinema, entre as quais 
destaca-se a adaptação cinematográfica Decameron (1971), 
de Pier Paolo Pasolini. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=FTrIjcquA4A.
FONTE: <https://www.imdb.com/title/tt0065622/mediaviewer/rm2029595392>. Acesso 
em: 18 mar. 2019.
TÓPICO 1 | O RENASCIMENTO
77
3 TRAVESSIAS LITERÁRIAS: A GESTA DO MAR
As viagens marítimas por lugares desconhecidos, a descoberta de novas 
terras e o contato com povos de costumes diferentes foram acontecimentos muito 
importantes da época. Os reinos europeus, especialmente Portugal e Espanha, 
visavam a expansão de seus territórios. Portugal seguiu a rota africana e chegou 
à India (ponto do comérico rentável de especiarias). A Espanha seguiu a rota 
Atlântica, decobrindo a América.
Os ideais da Renascença, atrelados às expedições marítimas, criaram uma 
nova dimensão de vida que passou a fazer parte da imaginação dos escritores e das 
produções literárias. O poema épico Os Lusíadas, de Camões, é certamente a obra que 
melhor expressa os preceitos renascentistas e as aventuras desse período, refletindo, 
ao mesmo tempo, a imitação dos modelos artísticos da antiguidade greco-latina e a 
exaltação do homem descobridor, desbravador de outras terras, que visava, sobretudo, 
à ampliação econômica e política. Por isso, a construção camoniana é de grande 
relevância do ponto de vista literário e histórico, pelo valor poético e documental.
3.1 OS LUSÍADAS DE CAMÕES
A biografia de Camões (152? -1580) é permeada por lendas. Especula-se 
que o poeta passou por muitas dificuldades, nasceu pobre e morreu na miséria. 
Durante a juventude perdeu o olho direito quando servia como soldado em 
Marrocos. Por causa de sua vida boêmia e agitada, foi preso em 1552 e desterrado 
para o Oriente, em 1553. Ele ainda prestou serviço militar na Índia e cargo 
burocrático na China. Supostamente, teria salvado o manuscrito de seu poema Os 
Lusíadas após um naufrágio. De fato, pouco sabemos sobre sua vida, o contrário 
acontece com suas obras, especialmente a épica camoniana.
DICAS
Complemente seus conhechimentos sobre o poeta e sua obra, assistindo ao 
interessante documentário Quem és tu Luís Vaz de Camões?, disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=5CqmXUURDP0.
Motivado pelo contexto histórico das viagens marítimas e dos 
descobrimentos, Camões, em Os Lusíadas (1572), narra a viagem marítima de 
Vasco da Gama de Lisboa à Índia, ou seja, história dos grandes feitos da nação 
portuguesa, a transfiguração da experiência geográfica, militar e econômica, 
consagrando-se, portanto, como autor da epopeia nacional. Podemos observar as 
intenções do poeta nas primeiras estrofes que apresentam o assunto do poema.
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
78
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
[...] (CAMÕES, 2015, p. 25-26).
O eu lírico contará os feitos militares (as armas) realizados pelos grandes 
navegadores (barões) para estabelecer o império português (o Novo Reino) na 
Ásia e na África. A voz do eu poemático afirma ainda que precisará de inspiração 
e proteção divina para expressar em versos os acontecimentos, fazendo alusão à 
Calíope, musa protetora da poesia épica, e à tradição clássica, por intermédio do 
sabio grego Ulisses, herói da Odisseia de Homero, e do troiano Eneias, herói da 
Eneida de Virgílio, dois grandes modelos para Camões. Ao longo da narrativa, 
os deuses Vênus (favorável à viagem) e Baco (contrário à viagem) interferem nos 
acontecimentos. O poema Os Lusíadas funde mito e história, glorifica Vasco da 
Gama como um herói individual, como é típico nos poemas épicos da Antiguidade 
Clássica, mas não se trata de uma aventura de um único protagonista. Há também 
uma outra dimensão a ser observada, a intenção da narrativa, enaltecer o povo 
lusitano e destacar o caráter nacional da expedição. 
No poema camoniano há vários narradores, o plano da enunciação é 
complexo. Podemos acompanhar o ponto de vista do “eu”, do discurso em 
primeira pessoa, a voz que interpreta os acontecimentos emite julgamentos e faz 
advertências. Ao lado dessa voz, há um narrador em terceira pesssoa, onisciente 
e onipresente, ou seja, que sabe tudo a respeito de todos. Além disso, o poema 
abre espaço para as vozes das personagens. Do ponto de vista formal, o poema 
está estruturado em dez cantos, contendo 1.102 estrofes organizadas em versos 
decassílados. Neles, há uma série de episódios interligados ao tema central da 
narração. A obra divide-se em cinco partes, organizadas da seguinte maneira:
TÓPICO 1 | O RENASCIMENTO
79
• Proposição: introdução do assunto que será tratado no poema e apresentação 
dos heróis.
• Invocação: pedido feito às musas para que o poeta tenha inspiração para 
compor seu poema.
• Dedicatória: o poeta dedica a obra ao rei português D. Sebastião, seu protetor.
• Narração: parte dedicada à narração dos episódios da viagem, nos quais 
destacam-se: a história do assassinato de Inês de Castro (canto III) cometido por 
motivos políticos escusos do rei Dom Afonso IV; o episódio Velho do Restelo 
(canto IV) sobre a advertência feita a Vasco da Gama e à expansão marítima; os 
acontecimentos atrelados ao Gigante Adamastor (canto V), e as incontroláveis 
forças da natureza que se manifestam durante a viagem para o Oriente.
• Epílogo: encerramento do poema — visão crítica sobre as conquistas materiais 
e o futuro da nação portuguesa.
Acompanhe no mapa a seguir (Figura 2) a trajetória de Vasco da Gama 
retratada em Os Lusíadas. 
FIGURA 2 – MAPA DO PERCURSO DEVASCO DA GAMA
FONTE:<http://gogvg7.wixsite.com/osletras/single-post/2015/11/30/Resenha-A-Epopeia-de-
Cam%C3%B5es>. Acesso em: 28 set. 2018.
A epopeia Os Lusíadas apresenta várias histórias entrelaçadas à trama 
principal, como o episódio do Velho do Restelo, no canto IV, destacado 
anteriormente. Restelo é o nome de uma praia situada às margens do rio Tejo, 
em Lisboa, de onde partiam as embarcações. Nesse episódio, uma multidão 
observa os últimos preparativos do embarque, e Vasco da Gama narra a tristeza 
da despedida entre marinheiros e familiares no momento em que a expedição 
portuguesa se preparava para as viagens oceânicas. Em seguida, retrata o 
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
80
personagem Velho do Restelo, um homem que estava na praia e começa a falar 
aos navegadores. Leia um trecho do episódio. 
Mas um velho, d'respeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco levantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
Cum saber só d'experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
- "Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
Como aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
«Dura inquietação d'alma e da vida
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinas e de impérios!
amam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo digna de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
«A que novos desastres determinas
De levar estes Reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Debaixo dalgum nome preeminente?
Que promessas de reinos e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias?
Mas, ó tu, geração daquele insano
Cujo pecado e desobediência
Não somente do Reino soberano
Te pôs neste desterro e triste ausência,
Mas inda doutro estado mais que humano,
Da quieta e da simples inocência,
Idade d'ouro, tanto te privou,
Que na de ferro e d'armas te deitou:
Já que nesta gostosa vaidade
Tanto enlevas a leve fantasia,
O desprezo da vida, que devia
De ser sempre estimada, pois que já
Temeu tanto perdê-la quem a dá:
TÓPICO 1 | O RENASCIMENTO
81
«Não tens junto contigo o Israelita,
Com quem sempre terás guerras sobejas?
Não segue ele do Arábio a lei maldita,
Se tu pela de Cristo só pelejas?
Não tem cidades mil, terra infinita,
Se terras e riqueza mais desejas?
Não é ele por armas esforçado,
Se queres por vitórias ser louvado?
«Deixas criar às portas o inimigo,
Por ires buscar outro de tão longe,
Por quem se despovoe o Reino antigo,
Se enfraqueça e se vá deitando a longe;
Buscas o incerto e incógnito perigo
Por que a Fama te exalte e te lisonje
Chamando-te senhor, com larga cópia,
Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia.
Oh! Maldito o primeiro que, no mundo,
Nas ondas vela pôs em seco lenho!
Digno da eterna pena do Profundo,
Se é justa a justa Lei que sigo e tenho!
Nunca juízo algum, alto e profundo,
Nem cítara sonora ou vivo engenho
Te dê por isso fama nem memória,
Mas contigo se acabe o nome e glória!
Trouxe o filho de Jápeto do Céu
O fogo que ajuntou ao peito humano,
Fogo que o mundo em armas acendeu,
Em mortes, em desonras (grande engano!).
Quanto melhor nos fora, Prometeu,
E quanto pera o mundo menos dano,
Que a tua estátua ilustre não tivera
Fogo de altos desejos, que a movera!
Não cometera o moço miserando
O carro alto do pai, nem o ar vazio
O grande arquiteto com filho, dando
Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio.
Nenhum cometimento alto e nefando
Por fogo, ferro, água, calma e frio,
Deixa intentado a humana geração.
Mísera sorte! Estranha condição!" 
(CAMÕES, 2005, p. 136-138).
Você deve ter percebido, no fragmento acima, que o narrador descreve 
a personagem, Velho do Restelo, como alguém sábio, respeitável e experiente, 
representando um contraponto aos anseios audaciosos de Vasco da Gama em relação 
à viagem, condenando a ambição humana e citando as prováveis consequências 
negativas da expedição marítima portuguesa, mesmo entendendo que os homens 
se sentem empolgados e atraídos pela glória das conquistas territoriais.
Séculos depois, outro grande poeta português, Fernando Pessoa (1888-
1935), estabeleceu um diálogo com o episódio do Velho do Restelo, compondo 
o poema Mar Português, justificando a iniciativa dos navegadores portugueses, 
apesar dos sofrimentos causados.
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
82
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu (PESSOA, 1996, p. 11).
No século XVI, além de Os Lusíadas, foram compostos outros poemas 
épicos em Portugual, entre eles, O primeiro cerco de Diu (1538), de Francisco de 
Andrada; Naufrágio e perdição de Sepúlveda e Leonor (1594), de Jerônimo Corte-Real; 
História de Santa Comba dos Vales (1598), de António Ferreira. A gesta hispânica, 
por sua vez, foi relatada em outro gênero, através de crônicas que tiveram grande 
repercussão. A primeira delas foi o Diário de a bordo (1492 -1493), de Cristóbal 
Colón, chefe da expedição espanhola, um dos primeiros documentos sobre a 
América, no qual predominam propósitos históricos, políticos e doutrinários. 
Dentre outras crônicas, destacam-se Naufragios (1542), de Álvar Núñez Cabeza 
de Vaca, e Historia Verdadera de la Conquista de la Nueva España (1555-1584), de 
Bernal Díaz del Castillo. Já na poesia épica inglesa, John Milton figura como 
maior representante, com as obras O paraíso perdido (1667) e O paraíso reconquistado 
(1671), colocando-se fora dos moldes dos poetas da tradição clássica.
83
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• O Renascimento cultural marca o período de transição da Idade Média para 
a Idade Moderna, enfatizando a valorização do ser humano, a investigação 
racionalista e o uso do conhecimento científico. 
• A transformação da concepção de mundo ocorrida no Renascimento está 
atrelada ao estudo e à assimilação da cultura greco-latina.
• O Humanismo foi um movimento científico e literário de mentalidade 
renovadora, cujas manifestações, muitas vezes conflitantes, alargaram a 
experiência humana em vários campos, colocando o homem no centro do 
pensamento da época (antropocentrismo).
• No Trecento italiano, o grupo formado pelos poetas italianos Dante Alighieri, 
Petrarca e Boccaccio deu início ao movimento humanista, criando gêneros 
literários novos, como o estilo dos versos decassílabos sob a forma poética do 
soneto (dois quartetos e dois tercetos).
• A longa viagem imaginária de Dante Alighieri através do Inferno, Purgatório 
e Paraíso, em A divina Comédia, é considerada uma das maiores expressões do 
Renascimento, uma alegoria da peregrinação do homem em busca da perfeição 
espiritual.
• As grandes navegações foram fundamentais para a ampliação do conhecimento 
sobre o mundo e a cultura de vários povos, sendo Camões o principal poeta 
renascentista em Portugual.
84
AUTOATIVIDADE
1 No canto III da obra A Divina Comédia, Dante e Virgílio chegam à entrada 
do Inferno. Dante se assombra com a inscrição que lê sobre o seu portal. 
Os textos reunidos nesta atividade, cada qual a seu modo, fazem referência 
às cenas descritas pelo poeta italiano. Leia, abaixo, o trecho do poema e, 
em seguida, a releitura da cena através da história em quadrinhos (HQ) 
elaborada pelo designer norte-americano Seymour Chwast.
TEXTO 1
VAI-SE POR MIM A CIDADE DOLENTE, 
VAI-SE POR MIM A SEMPITERNA DOR, 
VAI-SE POR MIM ENTREPERDIDA GENTE. 
MOVEU JUSTIÇA O MEU ALTO FEITOR, 
FEZ-SE A DIVINA POTESTADE, MAIS 
O SUPREMO SABER E O PRIMO AMOR. 
ANTES DE MIM NÃO FOI CRIADO MAIS 
NADA SENÃO ETERNO, E ETERNO EU DURO. 
DEIXAI TODA A ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS.
Essas palavras vi, num tom escuro 
escritas sobre o alto de uma porta,
donde eu: "Meu mestre, o seu sentido é duro".
E ele, a mim, como mestre que conforta:
“Livra-te desse medo circunspecto,
aqui toda tibiez esteja morta;
Que chegando ora estamos ao conspecto
das tristes gentes das quais já te disse
que têm perdido o bem do intelecto”.
Depois, na sua tomando com meiguice
minha mão, como que me confortei,
fez que no umbral secreto eu o seguisse.
Gritos, suspiros, prantos lá encontrei
que ecoavam no espaço sem estrelas,
pelo que no começo até chorei.
Diversas línguas, hórridas querelas,
brados de mágoa, irrupções de ira
com estalar de mãos em suas sequelas,
85
formam um tumulto que regira,
no intemporal negrume, sem parade,
qual turbilhão de areia em torno atira.
E eu, co'a cabeça já de horror tomada:
“Que gente essa é", indaguei, “nesse clamor,
 que parece em sua dor tão derrotada?"
E ele: "As almas que vês nesse amargor,
São os que têm no mundo – e ora deploram –
Vivido sem infâmia e sem louvor.
[…]
FONTE: ALIGHIERI, D. A Divina Comédia - Inferno. 4. ed. Tradução e notas de ltalo Eugenio 
Mauro. São Paulo: Editora 34, 2017.
TEXTO 2
FONTE:<https://cultura.estadao.com.br/blogs/a-biblioteca-de-raquel/as-divinas-comedias-
de-dante/>. Acesso em: 20 set. 2018.
A partir da leitura dos textos 1 e 2, podemos inferir que:
86
I. No texto 1, a inscrição que Dante lê na entrada do Inferno causa temor 
diante da impossibilidade de salvação dos pecadores.
II. No poema, entre gritos, suspiros e prantos, Dante encontra almas inertes, 
isentas da dor e do castigo, diferentemente do que ressalta a história em 
quadrinhos.
III. No texto 2, o Inferno é retratado como o reino das trevas, onde o ser humano, 
castigado por moscas e vespas, escapa da lei de sua própria natureza. 
Está correto o que se afirma em
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) I e II, apenas.
c) ( ) II e III, apenas.
d) ( ) I e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
2 Leia, abaixo, um poema de Camões e outro de Petrarca. Analise a linguagem 
dos textos, identifique suas temáticas e os possíveis diálogos entre eles. 
TEXTO 1
Não tenho paz nem posso fazer guerra;
temo e espero, e do ardor ao gelo passo,
e voo para o céu, e desço à terra,
e nada aperto, e todo o mundo abraço.
Prisão que nem se fecha ou se descerra,
nem me retém nem solta o duro laço;
entre livre e submissa esta alma erra,
nem é morto nem vivo o corpo lasso.
Vejo sem olhos, grito sem ter voz;
e sonho perecer e ajuda imploro;
a mim odeio e a outrem amo após.
Sustento-me de dor e rindo choro;
a morte como a vida enfim deploro:
e neste estado sou, Dama, por vós.
FONTE: PETRARCA. Poemas de amor de Petrarca. Tradução de Jamil Almansur Haddad. 
Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
TEXTO 2
Tanto de meu estado me acho incerto, 
que em vivo ardor tremendo estou de frio; 
sem causa, juntamente choro e rio, 
o mundo todo abarco e nada aperto. 
87
É tudo quanto sinto, um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio, 
agora desvario, agora acerto. 
Estando em terra, chego ao Céu voando, 
num'hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar um' hora.
Se me pergunta alguém porque assim ando, 
respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.
FONTE: CAMÕES, L. Sonetos. São Paulo: Martin Claret, 2004.
Considerando os poemas destacados acima, avalie as afirmações a seguir.
I. O verso de Petrarca “Temo e espero e do ardor ao gelo passo”, no texto 
1, mantém uma correspondência de sentido com o verso “Quem em vivo 
ardor tremendo estou de frio", de Camões.
II. Há, nos dois poemas, uma manifestação dos sentimentos do eu lírico pela 
mulher amada.
III. O eu lírico dos poemas expressa ideias contraditórias, apesar do amor 
correspondido.
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) I e II, apenas.
c) ( ) II e III, apenas.
d) ( ) I e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
3 Leia a estrofe a seguir, que faz parte do canto VI do poema épico Os Lusíadas, 
de Luís de Camões.
[…]
Vistes que com grandíssima ousadia 
Foram já cometer o Céu supremo; 
Vistes aquela insana fantasia 
De tentarem o mar com vela e remo; 
Vistes, e ainda vemos cada dia, 
Soberbas e insolências tais, que temo 
88
Que do mar e do Céu em poucos anos 
Venham Deuses a ser, e nós humanos.
[…]
FONTE: CAMÕES, L. Os Lusíadas. São Paulo: Martin Claret, 2005. p. 169.
Considerando o episódio narrado anteriormente e as reflexões acerca da 
produção épica camoniana realizadas durante este tópico, classifique V para 
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) No trecho do poema, a ousadia representa a bravura da expedição 
portuguesa que, com "vela e remo", navegava rumo ao mar desconhecido, 
ao Oriente.
( ) No episódio acima citado é possível perceber uma visão humanista no que 
diz respeito à capacidade do homem de superar as adversidades.
( ) Em Os Lusíadas, Camões glorifica os deuses da Antiguidade Clássica e 
Vasco da Gama em detrimento do povo lusitano.
( ) Na epopeia, os navegadores portugueses são considerados heróis 
superiores aos das epopeias clássicas, Odisseia de Homero e Eneida, de 
Virgílio.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
a) ( ) V – V – F – F. 
b) ( ) F – F – V – F. 
c) ( ) V – V – F – V. 
d) ( ) F – F – V – V. 
e) ( ) V – V – F – V.
89
TÓPICO 2
A ESTÉTICA BARROCA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
A estética barroca compreende o século XVII, período marcado por 
tensões políticas e econômicas, principalmente no campo religioso. Situa-se no 
contexto sociocultural da Contrarreforma, em 1563, movimento instaurado pelas 
normas do Concílio de Trento e difundido pela Companhia de Jesus, que visava 
o fortalecimento da Igreja Católica, ameaçada no século anterior pela Reforma 
iniciada pelo religioso alemão Martinho Lutero (1483-1546), que, ao questionar 
algumas práticas da Igreja Católica, provocou a divisão do cristianismo ocidental 
em católicos e protestantes. 
Em reação a esse movimento, a Igreja Católica buscou recuperar seu 
prestígio de várias maneiras. Nessa época, ressurgiu o Tribunal do Santo Ofício, 
também chamado Sagrada Inquisição, que prendia as pessoas acusadas de heresia. 
Também foi criado o Índice dos livros proibidos, uma relação de livros cuja leitura era 
vetada aos católicos, entre eles, estavam as obras dos autores Copérnico, Galileu 
e Descartes (considerado o pai do Racionalismo moderno). No âmbito das artes, 
uma das iniciativas foi incentivar as manifestações artísticas de temática religiosa, 
que exerceram forte influência na construção estética do Barroco. Há uma tensão 
que nasce da tentativa de fusão das perspectivas opostas do teocentrismo e do 
antroprocentrismo. Se o Renascimento pregava o predomínio da razão sobre 
os sentimentos, o Barroco exaltará, de forma exacerbada, os sentimentos e a 
religiosidade, os conflitos trágicos da alma humana. O próprio nome Barroco 
designa pérola irregular, estranha, e traz consigo a expressão dessa crise, cujas 
particularidades estéticas não chegam a determinar uma ruptura total com os 
ideais estéticos e ideológicos da Renascença. Por isso:
O tema da fugacidade, da ilusão da vida e das coisas humanas ocupa 
um lugar central na literatura barroca. As motivações religiosas deste 
tema são bem evidentes: trata-se de lembrar ao homem que tudo é vão 
e efêmero à superfície da Terra, que a vida carnal é uma passagem e 
que é necessário procurar uma realidade suprema isenta de mentira 
e imperfeição. As ruínas atestam a transitoriedade do homem e os 
poetas meditam angustiados sobre a fragilidade da beleza humana, 
sobre a destruição e o vazio que superam tudo o que é grácil e 
luminoso (AGUIAR E SILVA, 1976, p. 339).
 
As expressões artísticas do Barroco estão presentesnos ornamentos das 
igrejas, nas pinturas, sob a técnica de claro e escuro, como também na música e 
na literatura, no contexto de diferentes influências, ambiguidades e significados 
simbólicos, na união dos aspectos contraditórios do sagrado e do profano, de um 
mundo instável, num momento de crise na cultura ocidental. 
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
90
FIGURA 3 - CRISTO CARREGANDO A CRUZ, NA VIA SACRA DE CONGONHAS (MG), 
DO ESCULTOR ALEIJADINHO, REPRESENTANTE DO BARROCO BRASILEIRO
FONTE: <http://quatrocontextos.blogspot.com/p/a-arte-barroca-brasileira-aleijadinho-e.html>. 
Acesso em: 20 set. 2018.
A produção literária do período, que predominou na Europa em países e 
épocas diferentes, incorpora muitos elementos da arte espanhola, que vivia seu 
auge com o poeta e dramaturgo Góngora, o pintor Velásquez e o escritor Miguel 
de Cervantes, entre outros. A seguir, destacaremos a passagem da poesia épica 
para a prosa ficcional através do escritor espanhol Cervantes. Você verá como o 
autor representou a instabilidade e a fragilidade humana desse momento.
2 DON QUIJOTE DE LA MANCHA: CERVANTES E O 
ROMANCE MODERNO
O primeiro grande escritor da narrativa ficcional da literatura espanhola foi 
Miguel de Cervantes Saavedra, cuja história de vida é marcada pela necessidade 
de sobrevivência e pelas aspirações militares e literárias. Cervantes participou 
de várias expedições militares, chegou a ser ferido no peito e na mão esquerda. 
Apesar disso, participou de outras batalhas. Em 1575, foi preso e viveu durante 
cinco anos como escravo na Argélia. Ao retornar para Madri, em 1580, dedicou-se 
à literatura, escrevendo peças teatrais e o romance pastoril La Galatea, inicialmente 
sem muito sucesso. Somente 20 anos depois, conseguiu rumar para o sucesso 
literário com a publicação da primeira parte da notável obra El ingenioso hidalgo 
Don Quijote de la Mancha, em 1605. A segunda parte de seu romance foi publicada 
dez anos depois, em 1615. Cervantes também escreveu as Novelas ejemplares, entre 
1590 e 1612, uma série de histórias curtas com enredos e estilo variados, além da 
novela bizantina El Persiles (1617), última obra do autor.
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA BARROCA
91
ESTUDOS FU
TUROS
Você estudará com mais profundidade as obras de Cervantes na disciplina de 
Literatura Hispânica I.
Certamente, a história de Dom Quixote é a mais conhecida e aclamada 
por leitores e estudiosos. O romance, um dos livros literários mais traduzidos 
e lidos no Ocidente, narra as aventuras do fidalgo que enlouqueceu de tanto ler 
livros de cavalaria, mostrando como a vida e a literatura, a realidade e a ficção 
se confundem e borram as fronteiras de separação. Uma obra moderna aberta a 
várias interpretações, repleta de recursos estruturais, de regristros linguísticos, de 
humor, paródia e crítica social. As peripécias do cavaleiro andante e seu escudeiro 
Sancho Pança são descritas, analisadas e interpretadas. Dom Quixote acredita ver 
gigantes onde havia apenas moinhos de vento, confunde rebanhos de ovelhas 
com exércitos “porque existen puntos de vista diferentes sobre la realidad, según 
la óptica de cada ser humano, según sus condiciones de vida, su cultura, su 
carácter, su estado de ánimo etc.”, enfatizam Marín e Rey (2006, p. 109).
Para construir sua narrativa, Cervantes também incorporou traços 
literários da tradição medieval hispânica e portuguesa, a exemplo dos populares 
romances de cavalaria Amadís de Gaula (1496), de Rodríguez de Montalvo, e de 
Palmerin da Inglaterra (1541-1543), de Francisco Morais, citados ao longo da obra. 
Acompanhe, no fragmento abaixo, o início das andanças de Quixote, o espaço da 
ação, a caracterização da posição social e do temperamento do personagem.
Capítulo I
QUE TRATA DE LA CONDICIÓN Y EJERCICIO DEL FAMOSO HIDALGO 
DON QUIJOTE DE LA MANCHA
En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho 
tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín 
flaco y galgo corredor. Una olla de algo más vaca que carnero, salpicón las más 
noches, duelos y quebrantos los sábados, lantejas los viernes, algún palomino 
de añadidura los domingos, consumían las tres partes de su hacienda. El resto 
della concluían sayo de velarte, calzas de velludo para las fiestas, con sus 
pantuflos de lo mesmo, y los días de entresemana se honraba con su vellorí de 
lo más fino. Tenía en su casa una ama que pasaba de los cuarenta, y una sobrina 
que no llegaba a los veinte, y un mozo de campo y plaza, que así ensillaba 
el rocín como tomaba la podadera. Frisaba la edad de nuestro hidalgo con 
los cincuenta años; era de complexión recia, seco de carnes, enjuto de rostro, 
QUADRO 9 – DON QUIJOTE DE LA MANCHA. FRAGMENTO DO CAPÍTULO I
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
92
gran madrugador y amigo de la caza. Quieren decir que tenía el sobrenombre 
de Quijada, o Quesada, que en esto hay alguna diferencia en los autores que 
deste caso escriben; aunque por conjeturas verosímiles se deja entender que 
se llamaba Quijana. Pero esto importa poco a nuestro cuento: basta que en la 
narración dél no se salga un punto de la verdad.
Es, pues, de saber que este sobredicho hidalgo, los ratos que estaba ocioso, que 
eran los más del año, se daba a leer libros de caballerías, con tanta afición y gusto, 
que olvidó casi de todo punto el ejercicio de la caza, y aun la administración 
de su hacienda; y llegó a tanto su curiosidad y desatino en esto, que vendió 
muchas hanegas de tierra de sembradura para comprar libros de caballerías 
en que leer, y así, llevó a su casa todos cuantos pudo haber dellos; y de todos, 
ningunos le parecían tan bien como los que compuso el famoso Feliciano de 
Silva; porque la claridad de su prosa y aquellas entricadas razones suyas le 
parecían de perlas, y más cuando llegaba a leer aquellos requiebros y cartas 
de desafíos, donde en muchas partes hallaba escrito: «La razón de la sinrazón 
que a mi razón se hace, de tal manera mi razón enflaquece, que con razón 
me quejo de la vuestra fermosura». Y también cuando leía: «... los altos cielos 
que de vuestra divinidad divinamente con las estrellas os fortifican, y os hacen 
merecedora del merecimiento que merece la vuestra grandeza».
Con estas razones perdía el pobre caballero el juicio, y desvelábase por entenderlas y 
desentrañarles el sentido, que no se lo sacara ni las entendiera el mesmo Aristóteles, 
si resucitara para sólo ello. No estaba muy bien con las heridas que don Belianís 
daba y recebía, porque se imaginaba que, por grandes maestros que le hubiesen 
curado, no dejaría de tener el rostro y todo el cuerpo lleno de cicatrices y señales. 
Pero, con todo, alababa en su autor aquel acabar su libro con la promesa de aquella 
inacabable aventura, y muchas veces le vino deseo de tomar la pluma y dalle fin al 
pie de la letra, como allí se promete; y sin duda alguna lo hiciera, y aun saliera con 
ello, si otros mayores y continuos pensamientos no se lo estorbaran. Tuvo muchas 
veces competencia con el cura de su lugar (que era hombre docto, graduado en 
Sigüenza), sobre cuál había sido mejor caballero: Palmerín de Ingalaterra, o Amadís 
de Gaula; mas maese Nicolás, barbero del mismo pueblo, decía que ninguno 
llegaba al Caballero del Febo, y que si alguno se le podía comparar, era don Galaor, 
hermano de Amadís de Gaula, porque tenia muy acomodada condición para todo; 
que no era caballero melindroso, ni tan llorón como su hermano, y que en lo de la 
valentía no le iba en zaga.
[...]
FONTE: <http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/el-ingenioso-hidalgo-don-quijote-de-la-
mancha-6/html/> Acesso em: 28 set. 2018.
Veja, na sequência, a releitura artística do francês Gustave Doré (Figura 
4), renomado ilustrador do século XIX, na qual Dom Quixote, representado como 
um homem magro e alto, sentado num trono, aparece lendo, com uma espada 
na mão e um livro na outra, cercado por livros, dragões, cavaleiros, ratos, entre 
outras figurasimaginárias.
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA BARROCA
93
FIGURA 4 – DOM QUIXOTE LENDO LIVROS DE CAVALARIA
FONTE: <http://paleonerd.com.br/2016/07/21/porque-dom-quixote-e-um-classico/>. Acesso 
em: 28 set. 2018.
Dentre as diversas possibilidades de compreensão da obra, Quixote, 
personagem letrada de vasta cultura literária, tornou-se “o símbolo do homem 
utópico, que sonha em estabelecer na sociedade um conjunto de valores 
ideológicos” (D’Onofrio,1990, p. 280), um “louco”, que luta em vão para modificar 
a difícil realidade em que vive. Sancho Pança, diferentemente, é a personificação 
do racional, do prático, das convenções sociais que por vezes desfazem os 
sonhos do indivíduo. Na narrativa coexistem duas forças que tentam caminhar 
juntas, marcando um conflito existencial, o valor do idealismo e dos princípios 
humanitários, que, a partir do Barroco, serão temas explorados pelos escritores 
românticos e modernos.
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
94
DICAS
FONTE: <http://www.cervantesvirtual.com/>. Acesso em: 20 set. 2018.
A Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes disponibiliza uma série de estudos sobre a literatura 
espanhola. Você pode acessar a obra completa de Don Quijote de La Mancha e ouvi-la 
na seção Fonoteca. Visite o site pelo endereço http://www.cervantesvirtual.com e acesse 
também as entrevistas e palestras sobre a vida e a obra de Dom Quixote, disponíveis na seção 
Videoteca de Literatura.
FONTE:<http://www.educa.jcyl.es/educacyl/cm/gallery/Recursos%20Infinity/tematicas/
webquijote/juegotest.html> Acesso em: 20 set. 2018.
Além disso, há páginas interessantes na internet com jogos interativos, descrições dos 
personagens, informações diversas sobre a obra, que podem contribuir para instigar os 
alunos e ressignificar suas práticas pedagógicas em sala de aula. Busque promover reflexões 
acerca do intercâmbio cultural entre línguas, literaturas e culturas, destacando a importância 
da obra de Cervantes no seu contexto histórico de produção e na atualidade. Sugira a leitura 
e a investigação sobre as várias versões de Dom Quixote.
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA BARROCA
95
LEITURA COMPLEMENTAR
Sabemos que Don Quijote de la Mancha é um clássico da literatura mundial. Muitos 
textos e escritores fazem referência a essa obra, como fez o escritor peruano Mario 
Vargas Llosa, ganhador do Nobel de Literatura de 2010. Leia, abaixo, algumas 
reflexões do autor acerca da obra de Cervantes.
Una novela para el siglo XXI
Mario Vargas Llosa
Antes que nada, Don Quijote de la Mancha, la inmortal novela de 
Cervantes es una imagen: la de un hidalgo cincuentón, embutido en una armadura 
anacrónica y tan esquelético como su caballo, que, acompañado por un campesino 
basto y gordinflón montado en un asno, que hace las veces de escudero, recorre 
las llanuras de la Mancha, heladas en invierno y candentes en verano, en busca de 
aventuras. Lo anima un designio enloquecido: resucitar el tiempo eclipsado siglos 
atrás (y que, por lo demás, nunca existió) de los caballeros andantes, que recorrían 
el mundo socorriendo a los débiles, desfaciendo entuertos y haciendo reinar una 
justicia para los seres del común que de otro modo éstos jamás alcanzarían, del 
que se ha impregnado leyendo las novelas de caballerías, a las que él atribuye la 
veracidad de escrupulosos libros de historia. 
Este ideal es imposible de alcanzar porque todo en la realidad en la que 
vive el Quijote lo desmiente: ya no hay caballeros andantes, ya nadie profesa las 
ideas ni respeta los valores que movían a aquéllos, ni la guerra es ya un asunto 
de desafíos individuales en los que, ceñidos a un puntilloso ritual, dos caballeros 
dirimen fuerzas. Ahora, como se lamenta con melancolía el propio Don Quijote 
en su discurso sobre las armas y las letras, la guerra no la deciden las espadas y las 
lanzas, es decir, el coraje y la pericia del individuo, sino el tronar de los cañones 
y la pólvora, una artillería que, en el estruendo de las matanzas que provoca, ha 
volatilizado aquellos códigos del honor individual y las proezas de los héroes que 
forjaron las siluetas míticas de un Amadís de Gaula, de un Tirante el Blanco y de 
un Tristán de Leonis.
 
¿Significa esto que Don Quijote de la Mancha es un libro pasadista, que 
la locura de Alonso Quijano nace de la desesperada nostalgia de un mundo que 
se fue, de un rechazo visceral de la modernidad y el progreso? Eso sería cierto 
si el mundo que el Quijote añora y se empeña en resucitar hubiera alguna vez 
formado parte de la historia. En verdad, sólo existió en la imaginación, en las 
leyendas y las utopías que fraguaron los seres humanos para huir de algún modo 
de la inseguridad y el salvajismo en que vivían y para encontrar refugio en una 
sociedad de orden, de honor, de principios, de justicieros y redentores civiles, 
que los desagraviara de las violencias y sufrimientos que constituían la vida 
verdadera para los hombres y las mujeres del Medievo.
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
96
La literatura caballeresca que hace perder los sesos al Quijote ésta es 
una expresión que hay que tomar en un sentido metafórico más que literal no 
es "realista", porque las delirantes proezas de sus paladines no reflejan una 
realidad vivida. Pero ella es una respuesta genuina, fantasiosa, cargada de 
ilusiones y anhelos y, sobre todo, de rechazo, a un mundo muy real en el que 
ocurría exactamente lo opuesto a ese quehacer ceremonioso y elegante, a esa 
representación en la que siempre triunfaba la justicia, y el delito y el mal merecían 
castigo y sanciones, en el que vivían, sumidos en la zozobra y la desesperación, 
quienes leían (o escuchaban leer en las tabernas y en las plazas) ávidamente las 
novelas de caballerías. Así, el sueño que convierte a Alonso Quijano en Don 
Quijote de la Mancha no consiste en reactualizar el pasado, sino en algo todavía 
mucho más ambicioso: realizar el mito, transformar la ficción en historia viva.
 Este empeño, que parece un puro y simple dislate a quienes rodean a 
Alonso Quijano, y sobre todo a sus amigos y conocidos de su anónima aldea 
el cura, el barbero Nicolás, el ama y su sobrina, el bachiller Sansón Carrasco, 
va, sin embargo, poco a poco, en el transcurso de la novela, infiltrándose en la 
realidad, se diría que debido a la fanática convicción con la que el Caballero de 
la Triste Figura lo impone a su alrededor, sin arredrarlo en absoluto las palizas 
y los golpes y las desventuras que por ello recibe por doquier. En su espléndida 
interpretación de la novela, Martín de Riquer insiste en que, de principio a fin 
de su larga peripecia, Don Quijote no cambia, se repite una y otra vez, sin que 
vacile nunca su certeza de que son los encantadores los que trastocan la realidad 
para que él parezca equivocarse cuando ataca molinos de viento, odres de vino, 
carneros o peregrinos creyéndolos gigantes o enemigos. Eso es, sin duda, cierto. 
Pero, aunque el Quijote no cambia, encarcelado como está en su rígida visión 
caballeresca del mundo, lo que sí va cambiando es su entorno, las personas que 
lo circundan y la propia realidad que, como contagiada de su poderosa locura, 
se va desrealizando poco a poco hasta como en un cuento borgesiano convertirse 
en ficción. Éste es uno de los aspectos más sutiles y también más modernos de la 
gran novela cervantina.
[...]
Un libro moderno
La modernidad del Quijote está en el espíritu rebelde, justiciero, que lleva 
al personaje a asumir como su responsabilidad personal cambiar el mundo para 
mejor, aun cuando, tratando de ponerla en práctica, se equivoque, se estrelle 
contra obstáculos insalvables y sea golpeado, vejado y convertido en objeto de 
irrisión. Pero también es una novela de actualidad porque Cervantes, para contar 
la gesta quijotesca, revolucionó las formas narrativas de su tiempo y sentó las 
bases sobre las que nacería la novela moderna. Aunque no lo sepan, los novelistas 
contemporáneos que juegan con la forma distorsionan el tiempo, barajan y 
enredanlos puntos de vista y experimentan con el lenguaje, son todos deudores 
de Cervantes.
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA BARROCA
97
Esta revolución formal que significó El Quijote ha sido estudiada y 
analizada desde todos los puntos de vista posibles, y, sin embargo, como ocurre 
con las obras maestras paradigmáticas, nunca se agota, porque, al igual que el 
Hamlet, o La Divina Comedia, o la Ilíada y la Odisea, ella evoluciona con el paso 
del tiempo y se recrea a sí misma en función de las estéticas y los valores que cada 
cultura privilegia, revelando que es una verdadera caverna de Alí Babá, cuyos 
tesoros nunca se extinguen.
[...]
FONTE: LLOSA, M. V. Uma novela para el siglo XXI. Letras Libres, Madrid, 31 jan. 2005. Disponível 
em: <https://www.letraslibres.com/mexico-espana/una-novela-el-siglo-xxi>. Acesso em: 15 set. 
2018.
98
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• O movimento literário do Barroco é uma manifestação dos conflitos e das 
contradições que agitaram a vida europeia nos âmbitos político, social e 
religioso. 
• O Barroco surge da tensão entre a razão, impulsionada pelo Renascimento, e a 
fé religiosa. Há uma exaltação dos sentimentos e a religiosidade é expressa de 
forma dramática e intensa.
• A arte barroca assume um viés contraditório, instável, pessimista, tal como o 
retrato de sua época.
• O romance moderno inicia com a grande obra Don Quijote de la Mancha, de 
Miguel de Cervantes, expoente máximo da literatura espanhola.
• Na sociedade em que Don Quijote de la Mancha foi escrito há uma conexão entre 
crenças e dúvidas, ilusões e desejos interrompidos que marcam uma profunda 
tensão social e cultural.
• O romance de Cervantes evoca interpretações variadas, podendo ser 
caracterizado como uma paródia dos livros de cavalaria que contrapõe a 
realidade com os ideais imaginados pelo protagonista. A "loucura" de Quixote 
é capaz de provocar divertimentos, transformar o mundo e torná-lo mais justo. 
Por outro lado, enfatiza o sentido trágico da vida humana.
99
AUTOATIVIDADE
1 Leia atentamente o trecho do emblemático Capítulo VIII de Dom Quixote de 
La Mancha, "La aventura de los molinos de viento”.
Capítulo VIII
Del buen suceso que el valeroso Don Quijote tuvo en la espantable y jamás 
imaginada aventura de los molinos de viento, con otros sucesos dignos de 
felice recordación
En esto descubrieron treinta o cuarenta molinos de viento que hay en aquel 
campo, y así como Don Quijote los vió, dijo a su escudero: 
- La ventura va guiando nuestras cosas mejor de lo que acertáramos a desear; 
porque ves allí, amigo Sancho Panza, donde se descubren treinta o poco más 
desaforados gigantes con quien pienso hacer batalla, y quitarles a todos las 
vidas, con cuyos despojos comenzaremos a enriquecer: que esta es buena 
guerra, y es gran servicio de Dios quitar tan mala simiente de sobre la faz de 
la tierra. 
- ¿Qué gigantes? dijo Sancho Panza.
- Aquellos que allí ves, respondió su amo, de los brazos largos, que los suelen 
tener algunos de casi dos leguas.
- Mire vuestra merced, respondió Sancho, que aquellos que allí se parecen no 
son gigantes, sino molinos de viento, y lo que en ellos parecen brazos son las 
aspas, que volteadas del viento hacen andar la piedra del molino. 
- Bien parece, respondió Don Quijote, que no estás cursado en esto de las 
aventuras; ellos son gigantes, y si tienes miedo quítate de ahí, y ponte en 
oración en el espacio que yo voy a entrar con ellos en fiera y desigual batalla. 
Y diciendo esto, dio de espuelas a su caballo Rocinante, sin atender a las voces 
que su escudero Sancho le daba, advirtiéndole que sin duda alguna eran 
molinos de viento, y no gigantes aquellos que iba a acometer. Pero él iba tan 
puesto en que eran gigantes, que ni oía las voces de su escudero Sancho, ni 
echaba de ver, aunque estaba ya bien cerca, lo que eran; antes iba diciendo en 
voces altas: 
- Non fuyades, cobardes y viles criaturas, que un solo caballero es el que 
os acomete. Levantóse en esto un poco de viento y las grandes aspas 
comenzaron a moverse, lo cual visto por Don Quijote, dijo: pues aunque 
mováis más brazos que los del gigante Briareo, me lo habéis de pagar.
100
Y en diciendo esto, y encomendándose de todo corazón a su señora Dulcinea, 
pidiéndole que en tal trance le socorriese, bien cubierto de su rodela, con la 
lanza en el ristre, arremetió a todo el galope de Rocinante y embistió con 
el primero molino que estaba delante; y dándole una lanzada en el aspa, la 
volvió el viento con tanta furia, que hizo la lanza pedazos, llevándose tras sí al 
caballo y al caballero, que fue rodando muy maltrecho por el campo. Acudió 
Sancho Panza a socorrerle, a todo el correr de su asno, y cuando llegó halló 
que no se podía menear: tal fue el golpe que dio con él Rocinante.
—¡Válame Dios! —dijo Sancho—. ¿No le dije yo a vuestra merced que mirase 
bien lo que hacía, que no eran sino molinos de viento, y no lo podía ignorar 
sino quien llevase otros tales en la cabeza?
—Calla, amigo Sancho —respondió don Quijote—, que las cosas de la guerra 
más que otras están sujetas a continua mudanza; cuanto más, que yo 
pienso, y es así verdad, que aquel sabio Frestón que me robó el aposento y 
los libros ha vuelto estos gigantes en molinos, por quitarme la gloria de su 
vencimiento: tal es la enemistad que me tiene; mas al cabo al cabo han de 
poder poco sus malas artes contra la bondad de mi espada.
—Dios lo haga como puede —respondió Sancho Panza.
Y, ayudándole a levantar, tornó a subir sobre Rocinante, que medio despaldado 
estaba. Y, hablando en la pasada aventura, siguieron el camino del Puerto 
Lápice, porque allí decía don Quijote que no era posible dejar de hallarse 
muchas y diversas aventuras, por ser lugar muy pasajero; sino que iba muy 
pesaroso, por haberle faltado la lanza; y diciéndoselo a su escudero, le dijo:
—Yo me acuerdo haber leído que un caballero español llamado Diego Pérez de 
Vargas, habiéndosele en una batalla roto la espada, desgajó de una encina 
un pesado ramo o tronco, y con él hizo tales cosas aquel día y machacó 
tantos moros, que le quedó por sobrenombre «Machuca», y así él como sus 
decendientes se llamaron desde aquel día en adelante «Vargas y Machuca». 
Hete dicho esto porque de la primera encina o roble que se me depare 
pienso desgajar otro tronco, tal y tan bueno como aquel que me imagino; y 
pienso hacer con él tales hazañas, que tú te tengas por bien afortunado de 
haber merecido venir a vellas y a ser testigo de cosas que apenas podrán 
ser creídas.
—A la mano de Dios —dijo Sancho—. Yo lo creo todo así como vuestra merced 
lo dice; pero enderécese un poco, que parece que va de medio lado, y debe 
de ser del molimiento de la caída.
—Así es la verdad —respondió don Quijote—, y si no me quejo del dolor, 
es porque no es dado a los caballeros andantes quejarse de herida alguna, 
aunque se le salgan las tripas por ella.
101
—Si eso es así, no tengo yo que replicar —respondió Sancho—; pero sabe 
Dios si yo me holgara que vuestra merced se quejara cuando alguna cosa 
le doliera. De mí sé decir que me he de quejar del más pequeño dolor que 
tenga, si ya no se entiende también con los escuderos de los caballeros 
andantes eso del no quejarse.
No se dejó de reír don Quijote de la simplicidad de su escudero; y, así, le 
declaró que podía muy bien quejarse como y cuando quisiese, sin gana o 
con ella, que hasta entonces no había leído cosa en contrario en la orden de 
caballería […]
FONTE: CERVANTES, Miguel de. Don Quijote de la Mancha. Madrid: Real Academia 
Española, 1605. Disponível em: <https://cvc.cervantes.es/literatura/clasicos/quijote/edicion/
parte1/cap01/default.htm>. Acesso em: 10 set. 2018.
a) Neste episódio, como se relacionam a realidade e a ficção?
b) De que forma as novelas de cavalaria influenciaram Dom Quixote?
2 Considerando as discussões apresentadas no Tópico 1 e o fragmento do 
Capítulo VIII de Dom Quixote de La Mancha, evidenciado na questão acima, 
analise as asserções aseguir.
I. Na passagem destacada, Sancho Pança descobre que os moinhos de vento 
são gigantes dispostos a guerrear.
II. Dom Quixote, em seu delírio, representa, de certa forma, a rebeldia da 
imaginação e a necessidade de transformação diante dos obstáculos 
intransponíveis.
III. O idealismo que move Dom Quixote também o transforma numa metáfora 
sobre a condição humana, um retrato dos desafios individuais.
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) I e II, apenas.
c) ( ) II e III, apenas.
d) ( ) I e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
3 (ENADE, 2017)
TEXTO 1
Que trata de la primera salida que de su tierra hizo el ingenioso don Quijote.
Hechas, pues, estas prevenciones, no quiso aguardar más tiempo a poner en 
efecto su pensamiento, apretándole a ello la falta que él pensaba que hacía en 
el mundo su tardanza, según eran los agravios que pensaba deshacer, tuertos 
que enderezar, sinrazones que enmendar, y abusos que mejorar, y deudas 
102
que satisfacer; y así, sin dar parte a persona alguna de su intención, y sin que 
nadie le viese, una mañana, antes del día (que era uno de los calurosos del mes 
de Julio), se armó de todas sus armas, subió sobre Rocinante, puesta su mal 
compuesta celada, embrazó su adarga, tomó su lanza, y por la puerta falsa 
de un corral, salió al campo con grandísimo contento y alborozo de ver con 
cuánta facilidad había dado principio a su buen deseo. 
FONTE: CERVANTES, M. El ingenioso hidalgo don Quijote de La Mancha. Edición del IV 
Centenario. Real Academia de La Lengua Española. São Paulo: Prol Gráfica, 2004.
TEXTO 2
FONTE: PORTINARI, C. Dom 
Quixote a cavalo com lança 
e espada. In: CERVANTES, M.; 
PORTINARI, C; DRUMMOND, C. 
Dom Quixote. Rio de Janeiro: 
DiaGraphis, 1973.
TEXTO 3
O Esguio Propósito
Caniço de pesca
fisgando no ar,
gafanhoto montado
em corcel magriz,
espectro de grilo
cingindo loriga,
fio de linha
à brisa torcido,
relâmpago
ingênuo
furor
de solitárias horas indormidas
quando o projeto invade a noite obscura.
Esporeia
O cavalo,
Esporeia
O sem-fim
FONTE: DRUMMOND, C. O Esguio Propósito In: 
CERVANTES, M.; PORTINARI, C; DRUMMOND, C. 
Dom Quixote. Rio de Janeiro: DiaGraphis, 1973.
Considerando os três textos apresentados, assinale a opção correta.
FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2017/32_LET_
POR_ESP_LICENCIATURA_BAIXA.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2019.
a) ( ) Há, nos três textos, a transposição de um sistema significante a 
outro (romance/imagem/poema), o que inviabiliza uma leitura das obras 
separadamente, uma vez que elas mantêm uma relação dialógica.
103
b) ( ) A intersemiose das três obras abarca o sitema linguístico e o visual, mas 
se percebe, ao correlacioná-las, uma superioridade da palavra sobre a imagem, 
pois o texto 1 descreve detalhes que não podem ser vistos no texto 2.
c) ( ) O cavaleiro retratado de forma retorcida no texto 2 recupera “mal 
compuesta celada” de Dom Quixote no texto 1, assim como o texto 3 representa 
graficamente esse desequilíbrio por meio da irregularidade da disposição 
dos versos.
d) ( ) Nos textos 2 e 3, a relação dialógica atinge o seu grau máximo, pois 
em ambos a imagem de Dom Quixote é desconstruída pela representação 
do desarranjo ou da ruptura entre a realidade e o devaneio, o que não se 
esboça no texto 1.
e) ( ) O impulso, os sonhos e a desconexão com a realidade são traços de 
Dom Quixote presentes no texto 1 e ausentes nas metáforas criadas nos 
textos 2 e 3, que estampam um típico cavaleiro medieval.
4 A partir da releitura dos fragmentos do Capítulo VIII de Dom Quixote de 
La Mancha, elabore um glossário bilíngue com 10 palavras, na direção 
espanhol-português, como no exemplo abaixo. Para esclarecer o significado 
de determinada palavra, consulte o dicionário bilíngue da Real Academia 
Española e o Word Reference, disponíveis online em: http://www.rae.es e 
www.wordreference.com, entre outros.
Espuelas esporas
104
105
TÓPICO 3
NOVAS FORMAS DRAMÁTICAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
No início da fase barroca da cultura clássica, o teatro se consagrou como 
um gênero privilegiado, um fenômeno urbano, social, lúdico e cultural, que 
reunia diversos membros da sociedade. Surgiram novas formas dramáticas sob o 
influxo dos contrastes e das contradições, do estado de tensão entre a razão e a fé 
religiosa, das incertezas do ser humano, que caracterizam a essência antagônica 
das produções literárias. 
Daremos particular destaque a Shakespeare, dramaturgo inglês e 
aos dramaturgos espanhóis Lope de Vega e Calderón de La Barca, os mais 
representativos do período Barroco. Suas peças teatrais distanciam-se 
formalmente do rígido cânone clássico e abordam temáticas diversas, incluindo 
questões sociais e políticas, os comportamentos humanos, a transitoriedade e a 
complexidade da vida. Como a proposta deste livro didático foi pensada para 
que você conheça as várias faces que a literatura assume em suas relações com o 
contexto histórico e com as culturas humanas, encerraremos nossas reflexões no 
âmbito da segunda metade século XVII, destacando como o dramaturgo francês 
Molière interagiu com o seu tempo e teve suas manifestações influenciadas pela 
vertente estética do Classicismo.
Sendo assim, iniciaremos o próximo subcapítulo apresentando William 
Shakespeare, o maior dramaturgo da literatura universal, e uma de suas peças 
mais famosas: Hamlet, príncipe da Dinamarca.
2 HAMLET DE SHAKESPEARE
William Shakespeare (1564-1616) começou a vida literária escrevendo 
poemas, mas depois manifestou grande interesse pelo teatro, exercendo as 
profissões de ator, escritor e empresário, tornando-se sócio da companhia teatral 
Lord Chamberlain e do Globo Theather, a sala de espetáculos mais importante de 
Londres na época. Os estudiosos atribuem a Shakespeare um conjunto de 36 peças, 
entre tragédias, comédias, dramas históricos e pastoris. Dentre as produções, 
detacam-se as peças que iniciam o ciclo sobre a história da Inglaterra, Ricardo III e 
a A comédia dos erros; as tragédias Romeu e Julieta, Hamlet, Otelo, Macbeth, Rei Lear; 
e as comédias Sonho de uma noite de verão, Muito barulho por nada, A megera domada, 
O mercador de Veneza. 
106
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
Do vasto conjunto das obras, enfatizaremos a tragédia de Hamlet, príncipe 
da Dinamarca, peça que faz parte da fase de maturidade do autor, dos textos escritos 
entre 1600 e 1608, que têm em comum os conflitos e as contradições da natureza 
humana, a expressão do sentido trágico da existência. Segundo D’Onofrio (1999), 
a personagem Hamlet foi construída a partir de uma antiga lenda escandinava 
escrita pelo dinamarquês Saxo Grammaticus, no início do século XIII, nas suas 
Histórias dânicas. Shakespeare aproveitou a difusão da história, conhecida como 
“peça de vingança”, e criou a personagem envolta pelos temas da dúvida, da 
astúcia e da vingança, mas que reflete sobre seus atos e sobre a vida, não sabe 
como agir e analisa as possíveis consequências das ações. 
A peça está dividida em cinco atos, contendo várias cenas que se 
ambientam no castelo de Elsenor — residência real; na casa de Polônio — lorde 
camareiro; na planície perto do porto e no cemitério. O drama se desenrola a 
partir do surgimento do fantasma do rei Hamlet que aparece para pedir vingança 
de sua morte ao príncipe Hamlet, filho homônimo do falecido rei. Abalado com 
a revelação do assassino, o herdeiro do trono finge insanidade para executar 
melhor o seu plano. A incerteza e a indecisão tomam conta da personagem. Após 
o convencimento de que o tio Cláudio armou o crime para se livrar do irmão, 
casar com a rainha Gertrudes e tomar posse do reino, Hamlet vive um conflito 
de consciência. Perceba, abaixo, no fragmento do ato III (cena 3), a presença do 
drama barroco da dúvida.
HAMLET: Eu devo agir é agora; ele agora está rezando.
Eu vou agir agora – e assim ele vai pro céu;
E assim estou vingado – isso merece exame.
Um monstro mata meu pai e, por isso,
Eu,seu único filho, envio esse canalha ao céu.
Oh, ele pagaria por isso recompensa – isso não é vingança.
Ele colheu meu pai impuro, farto de mesa,
Com todas suas faltas florescentes, um pleno maio.
E o balanço desse aí – só Deus sabe,
Mas pelas circunstâncias e o que pensamos
Sua dívida é grande. Eu estarei vingado
Pegando-o quando purga a alma,
E está pronto e maduro para a transição?
Não.
Pára espada, e espera ocasião mais monstruosa!
Quando estiver dormindo bêbado, ou em fúria,
Ou no gozo incestuoso do seu leito;
Jogando, blasfemando, ou em qualquer ato
Sem sombra ou odor de redenção.
Aí derruba-o, pra que seus calcanhares deem coices no céu,
E sua alma fique tão negra e danada
Quanto o inferno, pra onde ele vai. Minha mãe me espera;
Este remédio faz apenas prolongar tua doença; (Sai.) (SHAKESPEARE, 
2003, p. 67- 68). 
A peça shakespeareana apresenta uma atmosfera trágica que envolve 
constantemente o leitor, o espectador, numa série de reflexões sobre a vida e a 
morte, algumas delas incorporadas e repetidas até hoje através de célebres frases: 
“Há algo de podre no reino da Dinamarca” (ato I, cena 4), expressão de Marcelo, 
TÓPICO 3 | NOVAS FORMAS DRAMÁTICAS
107
sentinela do castelo, ao perceber a conversa entre o príncipe e o fantasma do pai; 
“Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que pode sonhar tua filosofia” (ato I, 
cena 5), proferida por Hamlet ao amigo que ficou espantado com o aparecimento 
do rei; “Ser ou não, eis a questão!” (ato 3, cena I), famosa e profunda indagação 
existencial que figura entre outras expressões. Comumente, a história do princípe 
Hamelt é definida como a tragédia da vingança, assim como a peça Otelo versa 
sobre o drama do ciúme e Romeu e Julieta é tida como a tragédia amorosa de dois 
jovens.
DICAS
Leia a tragédia na íntegra procurando uma comprensão mais ampla do 
texto. Proponha aos seus alunos uma discussão coletiva sobre as singularidades da obra, 
sugerindo para pequenos grupos uma leitura dramática das cenas escolhidas, fazendo com 
que eles transformem essa leitura em ação e se imaginem nas situações vivenciadas pelas 
personagens. Você também pode estabelecer uma relação dialógica com a linguagem 
cinematográfica, pois Hamlet já foi adaptado várias vezes para o cinema. Você já assistiu 
alguma versão? Para ampliar o seu repertório de leituras, recomendamos o filme de Laurence 
Kerr Olivier, lançado em 1948, e a versão do cineasta Franco Zeffirelli, lançada em 1990.
(a) (b)
FONTE: (a) <https://s3.amazonaws.com/criterion-production/
films/2f448c30ac7b06febb22d66b5ff974a7/IbyM57yhe0Whunlq0YhnaVhNeqD9Hi_large.
jpg>; (b) <https://www.movieposter.com/posters/archive/main/67/MPW-33904>. Acesso 
em: 20 set. 2018.
• HAMLET. Direção: Laurence Kerr Olivier. Inglaterra: Two Cities Films Ltd.: LW Editora, 
1948.155 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uuxyOVDnqkM.
• HAMLET. Direção: Franco Zeffirelli. Estados Unidos: Warner Bross Pictures: Columbia 
Pictures, 1990. 130 min. Assista ao trailer em: https://www.youtube.com/watch?v=Chf_
EyRwVHI.
108
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
3 LOPE DE VEGA E CALDERÓN DE LA BARCA
Outro profícuo dramaturgo do teatro ocidental foi Lope Félix de Vega 
Carpio, representante do Século de Ouro, como também é conhecido o período 
entre o Renascimento e o surgimento do Barroco, que impulsionou as produções 
literárias de grandes escritores espanhóis como Miguel de Cervantes e Calderón 
de Barca.
Lope de Vega, além de poeta e prosista, escreveu mais de mil dramas, 
além das 468 peças que chegaram até nós. Seus textos retratam histórias e lendas 
da Espanha, o Velho e o Novo Testamentos, costumes de sua época, motivos 
mitológicos e pastoris. Assim como Shakespeare, Lope de Vega não se submeteu 
à imposição dos cultuadores do Classicismo que, a partir da Poética de Aristóteles, 
defendiam a tradição grega e latina, a regra das três unidades, ou seja, as obras 
deveriam respeitar as unidades de espaço (história concentrada no mesmo lugar, 
sem mudanças espaciais); tempo (a duração da ação não pode exceder a 24 horas) 
e ação (as personagens são envolvidas numa só intriga).
As mudanças efetuadas pelo dramaturgo espanhol, defendidas na obra 
Arte nuevo de hacer comédias en este tiempo, tornaram suas tramas mais dinâmicas. 
Obras como Fuenteovejuna (peça aqui destacada), La dama boba, El castigo sin 
venganza, El perro del hortelano, Lo fingido verdadero formam parte dos textos 
clássicos do teatro espanhol.
Fuenteovejuna trata-se de uma obra de caráter pedagógico com conteúdo 
social e reivindicativo, cujos temas enfatizam o poder coletivo, o abuso de poder 
e traição, a defesa da monarquia no lugar do velho sistema feudal, a honra, o 
amor, a tragédia. É um drama histórico, composto por volta de 1613, baseado em 
eventos reais que aconteceram em Córdoba, na cidade de Fuenteovejuna, no final 
do século XV, durante o reinado dos reis católicos. O comandante da Ordem de 
Calatrava, Fernán Gómez de Guzmán, governou a cidade com tirania, exigindo 
mais impostos e serviços do que estipulava, além de ser conhecido por cometer 
abusos sexuais com as mulheres do povoado. Revoltado, o povo se rebelou e o 
matou com crueldade. 
Lope de Vega conheceu o episódio durante suas ávidas leituras sobre a 
história da Espanha e, a partir daí, estruturou sua peça em três atos. O primeiro, 
apresenta o comandante e suas más intenções, surge um triângulo amoroso entre 
o comandante Fernán Gómez, a lavradora Laurencia e Frondoso, terminando com 
o confronto entre Frondoso e Fernán. No segundo ato, a intriga se desenvolve, 
Laurencia e Frondoso se casam, e o comandante decide se vingar, raptando a 
noiva. Depois de lutar contra Fernán, Laurencia consegue voltar ao povoado. 
Finalmente, no terceiro ato, a cidade se revolta e mata o tirano. Acompanhe, 
abaixo, o breve diálogo de algumas personagens sobre o abuso de poder contra 
o povo e sobre o plano de vingança como forma controversa de justiça social, de 
legítima defesa da dignidade.
TÓPICO 3 | NOVAS FORMAS DRAMÁTICAS
109
JUAN ROJO: ¿Qué es lo que quieres tú que el pueblo intente?
REGIDOR: Morir, o dar la muerte a los tiranos,
pues somos muchos, y ellos poca gente.
BARRILDO: ¡Contra el señor las armas en las manos!
ESTEBAN: El rey sólo es señor después del cielo,
y no bárbaros hombres inhumanos.
Si Dios ayuda nuestro justo celo,
¿qué nos ha de costar?
MENGO: Mirad, señores,
que vais en estas cosas con recelo.
Puesto que por los simples labradores
estoy aquí que más injurias pasan,
más cuerdo represento sus temores.
JUAN ROJO: Si nuestras desventuras se compasan,
para perder las vidas, ¿qué aguardamos?
Las casas y las viñas nos abrasan,
¡tiranos son! ¡A la venganza vamos! 
(LOPE DE VEGA, p. 76).
DICAS
O filme Lope (2010), de Andrucha Waddington, baseado na vida de Lope de 
Vega, apresenta a juventude do escritor espanhol e o início de sua carreira como dramaturgo. 
Nele, também podemos observar o modo de fazer teatro e os espaços cênicos que surgiram 
na Espanha no século XVI, designados como Corral de comedias, locais improvisados nos 
pátios de casas ou pousadas.
FONTE: <https://vertentesdocinema.com/wp-content/uploads/2011/03/Lope_poster.jpg>. 
Acesso em: 20 set. 2018.
• LOPE. Direção: Andrucha Waddington. Rio de Janeiro: Conspiração filmes, 2010. 106 min.
110
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
O dramaturgo espanhol Pedro Calderón de la Barca nasceu em Madri 
em 1600, estudou com os jesuítas nas Universidades de Alcalá e Salamanca, foi 
cavaleiro da Ordem de Santiago, soldado na Catalunha e sacerdote a partir dos 
50 anos. Como dramaturgo, deu continuidade às investidas de Lope de Vega, 
adotando um tom mais profundo, carregado de ornamentos, cuja ação dramática 
apresenta conceitos filosóficos de caráter simbólico, ideológico e doutrinário, 
impregnada de um espírito melancólico. Seus personagens são mais puros e 
idealizados, por vezes chegam a se distanciar da vida cotidiana.As 120 comédias 
e os 80 autos sacramentais de Calderón marcam o ápice da comédia barroca 
espanhola. 
Em sua peça mais famosa, A vida é sonho (1635), predomina o conflito 
barroco do desengano humano, sob o influxo da concepção platônica. O drama 
gira em torno da privação da liberdade de Segismundo por seu pai, o rei Basílio 
da Polônia, por medo de que as previsões de um oráculo consultado sejam 
cumpridas. Segismundo, o protagonista, imbuído de um pessimismo profundo, 
vive encarcerado no mundo dos sonhos, como é possível conferir no trecho a 
seguir, um dos mais famosos do teatro espanhol, no qual o personagem questiona 
sobre o sentido da vida, reflete sobre a realidade e o sonho.
SEGISMUNDO: 
Es verdad, pues: reprimamos 
esta fiera condición, 
esta furia, esta ambición, 
por si alguna vez soñamos. 
Y sí haremos, pues estamos 
en mundo tan singular, 
que el vivir solo es soñar; 
y la experiencia me enseña, 
que el hombre que vive sueña 
lo que es, hasta despertar.
Sueña el rey que es rey, y vive 
con este engaño mandando, 
disponiendo y gobernando; 
y este aplauso, que recibe 
prestado, en el viento escribe 
y en cenizas le convierte 
la muerte (¡desdicha fuerte!): 
¡que hay quien intente reinar 
viendo que ha de despertar 
en el sueño de la muerte!
Sueña el rico en su riqueza, 
que más cuidados le ofrece; 
sueña el pobre que padece 
su miseria y su pobreza; 
sueña el que a medrar empieza, 
sueña el que afana y pretende, 
sueña el que agravia y ofende, 
y en el mundo, en conclusión, 
todos sueñan lo que son, 
aunque ninguno lo entiende.
TÓPICO 3 | NOVAS FORMAS DRAMÁTICAS
111
Yo sueño que estoy aquí, 
destas prisiones cargado; 
y soñé que en otro estado 
más lisonjero me vi. 
¿Qué es la vida? Un frenesí. 
¿Qué es la vida? Una ilusión, 
una sombra, una ficción, 
y el mayor bien es pequeño; 
que toda la vida es sueño, 
y los sueños, sueños son (CALDERÓN DE LA BARCA, 2001, p 75-76).
Vimos que Lope e Calderón lançaram as bases do moderno teatro 
espanhol. O primeiro, segundo D’Onofrio (1990, p. 325): 
Mais prolífero, mais alegre, mais próximo do ideal renascentista da 
arte como expressão da natureza eufórica; o segundo, mais reflexivo, 
mais técnico, mais aristocrático, mais atormentado pela problemática 
barroca da luta entre a liberdade humana e o determinismo da Graça 
divina”. 
Ambos abordam questões de honra, ciúmes, religião e tragédias amorosas.
 
A literatura do Barroco e sua problemática se estendeu para os mais 
variados gêneros literários, configurando-se como expressão de uma tensão 
espiritual e social propagada de forma mais ou menos idêntica, em vários países. O 
poeta Gregório de Matos, conhecido como “Boca do Inferno”, pelos contundentes 
versos satíricos; e Padre Antônio Vieira, com suas cartas e sermões religiosos, por 
exemplo, são os representantes mais expressivos em língua portuguesa. 
Note a seguir, nos versos de Gregório de Matos (s.d., p. 4-5), a crítica do eu 
lírico à organização social da Bahia, cidade explorada pelo estrangeiro (brichote) 
que aporta na região com suas naus (máquina mercante) para negociar mercadorias. 
À cidade da Bahia
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante 
Estás e estou do nosso antigo estado! 
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, 
Rica te vi eu já, tu a mim abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante, 
Que em tua larga barra tem entrado, 
A mim foi-me trocando, e tem trocado, 
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente 
Pelas drogas inúteis, que abelhuda 
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus que de repente 
Um dia amanheceras tão sisuda 
Que fora de algodão o teu capote!
112
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
DICAS
Caetano Veloso musicou o poema de Gregório de Matos no álbum Transa, 
na década de 1970. Ouça a canção, disponível no link https://www.youtube.com/watch?v=_
amoeHb1Xay, e observe a recriação artística do texto barroco.
4 INTERFACES DO CLASSICISMO: ESCOLA DE MULHERES 
DE MOLIÈRE
O século VII foi marcado fortemente pelas manifestações literárias do 
Barroco. Por outro lado, o teatro francês desconstruiu tal evidência com a vigência 
do Classicismo. A arte como imitação da natureza e dos modelos da Antiguidade 
são os princípios desse movimento, destaca Faria (1999), mas os espíritos críticos, 
provenientes do culto à razão, impedem que os dramaturgos franceses imitem 
servilmente os modelos oferecidos pelos mestres do passado, constituindo 
características formais e ideológicas bastante peculiares. Para Carpeaux (2012b, 
p. 51), o "Classicismo constitui a interrupção antitética que atenua o Barroco, sem 
eliminá-lo de todo". Os principais dramaturgos do teatro clássico são Molière 
(1622-1673), Jean Racine (1639-1699) e Pierre Corneille (1606-1684).
Conheceremos um pouco mais sobre o teatro de Jean-Baptiste Poquelin, 
conhecido como Molière, que tem raízes na tradição literária italiana da Commedia 
dell’Arte, uma manifestação teatral popular que privilegia o improviso, o efeito 
cômico, a sagacidade ou a estupidez das personagens. 
TÓPICO 3 | NOVAS FORMAS DRAMÁTICAS
113
Segundo D’Onofrio (1990, p. 325), a Commedia dell’Arte percorreu as principais 
cidades da Península da Itália, chegando até a França, durante os século XVII e XVIII.
Tratavam-se de peças improvisadas, herança do Mimo da cultura 
grega, forma dramática que dava muita importância à gesticulação: a 
partir de um esquema de texto escrito, deixava-se aos atores a liberdade 
de improvisar diálogos, ao sabor dos dialetos regionais e dos costumes 
locais. A comicidade era garantida pelas “máscaras”, tipos fixos cujo 
simples aparecimento em cena já provocava as gargalhadas da massa 
popular: o Capitann Spaventa (oficial espanhol brutal e fanfararão), o 
Mattamoro (exterminador dos mouros), o Dottore (advogado gago e 
charlatão), o Pantalone (comerciante vítima as burlas da esposa e do 
amante dela, Arlechini (criado esperto), o Brighella (criado “burro”, saco 
de pancadas), o Pulcinella (sujeito falador e mentiroso), a Colombina 
(moça bonita e leviana) (D’ONOFRIO, 1990, p. 325).
 Vale destacar que os mimos, herança da cultura grega, eram atores populares que iam 
de cidade em cidade levando histórias cômicas. Esses atores desenvolveram uma linguagem 
gestual originando o que atualmente conhecemos como mímica.
NOTA
FIGURA 5 – PERSONAGENS DA COMMEDIA DELL’ARTE.
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/692006298967036101/>. Acesso em 5 out. 2018.
Jean-Baptiste Poquelin nasceu em Paris, em janeiro de 1622. Estudou Direito 
para se tornar um advogado, mas preferiu fundar sua própria companhia de teatro 
(L’Illustre-Théâtre), adotando o pseudônimo de Molière. Viveu numa época em 
que a profissão de ator era marginalizada, sobretudo pela Igreja Católica. Molière, 
apesar das dificuldades enfrentadas, conseguiu dedicar sua vida ao teatro, sendo 
autor, ator, diretor e empresário. Em sua arte dramática, destaca-se a comédia, nos 
moldes da comédia de costumes dos latinos Plauto e Terêncio.
114
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
A primeira peça de sátira social escrita pelo dramaturgo francês foi As 
precisosas ridículas (1659), na qual ironiza os comportamentos das damas da 
sociedade e dos artistas que frequentam os salões literários de Paris. A peça Tartufo 
(1664), censurada por parte do público, satiriza a hipocrisia dos devotos. Outras 
peças fazem parte de suas produções, como Don Juan (1665), em que questiona a 
fidelidade conjugal, entre outras convenções sociais; e O Misantropo (1666), uma 
denúncia sobre a falsa moralidade da sociedade, considerada a obra-prima do 
autor. Ademais, destacam-se o Avarento (1668) e O doente imaginário (1673).
 
Escola de Mulheres (1662), peça representada a partir de 1º de junho de 
1663, também faz parte deste prolífico conjunto de textos literários satíricos. A 
comédia, que enfatizaremos a seguir, é composta por cinco atos e aborda o lugar 
das mulheres na sociedade do século XVII, criticando a ordem social, o casamento,os meios de acesso da mulher à educação, a moral da época. A peça apresenta 
Inês, uma menina ingênua e submissa, que é forçada a se casar com Arnolfo, um 
homem velho que ela não gosta, mas que a criou desde sua infância. Contando 
com a supervisão de dois servos, Arnolfo financia a educação de Inês, tornando-
se seu guardião. Apesar do controle, Arnolfo teme ser um marido enganado. 
Acompanhe abaixo o diálogo entre as persoangens. 
CENA II: Arnolfo e Inês
ARNOLFO (Sentado)
Inês, para me escutar, põe-te mais a meu gosto, levanta um pouco a 
testa e vira um pouco o rosto.
(Colocando o dedo na fronte). Agora, olha bem para mim enquanto 
falo e presta atenção às menores palavras. Vou me casar com você, 
Inês; cem vezes por dia você deverá agradecer esta honra bendita, 
lembrando a baixeza onde você nasceu, ao mesmo tempo que admira 
a minha bondade, que a eleva dessa vil condição de camponesa pobre 
à dignidade burguesa, para partilhar do leito e dos abraços conjugais 
de um homem que mais de vinte vezes recusou a outras o coração 
e a honra que agora te oferece. Você jamais deverá esquecer, repito, 
quão insignificante seria sem essa gloriosa ligação conjugal, de modo 
que a lembrança faça com que você sinta melhor a condição que vou 
colocá-la para que jamais venha me arrepender do que faço agora, O 
casamento, Inês, não é uma piada. A condição de esposa traz deveres 
austeros; não pretendo erguê-la nessa posição para deixá-la livre 
aproveitando a vida. Teu sexo nasceu pra dependência. A onipotência 
é para quem tem barba. Ainda que sejamos duas partes de um mesmo 
todo, as duas partes não são nada iguais. Uma é suprema: outra, 
subalterna. Uma, em tudo, tem que submeter-se à outra, que comanda. 
A obediência que o soldado bem disciplinado deve a quem comanda, 
que o criado demonstra a seu patrão, a criança a seu pai, um frade 
a seus superiores, não pode nem sequer se comparar à odediência, 
à docilidade, à humildade e ao profundo respeito que a mulher tem 
que ter pelo marido, chefe, senhor e dono! Quando ele a olhar com 
olhar severo, o dever dela é baixar o seu, sem jamais fitá-lo cara a cara, 
exceto quando ele a favorecer com uma mirada mais terna. As nossas 
mulheres, hoje em dia, não compreendem isso. Mas não se deixe levar 
pelo exemplo das outras. Procure não imitar essas tristes levianas de 
TÓPICO 3 | NOVAS FORMAS DRAMÁTICAS
115
quem a cidade inteira censura as libertinagens e não se deixe tentar 
pelo maligno, isto é, não dê ouvido a nenhum peralta. Lembre-se 
de que, ao fazê-la metade de mim mesmo, ponho minha honra toda 
em suas mãos, e que essa honra é frágil, e que se fere à toa, e que 
com este assunto não se brinca. No inferno há caldeirões imensos 
fervendo eternamente. É nele que se lançam para sempre mulheres 
de vida desregrada. Eu não te conto contos; portanto, guarda em 
teu coração o que eu te digo. Se você guardar a lição sinceramente e 
evitar qualquer leviandade, ah, tua alma será branca e sedosa; como 
um lírio! Mas se você não se importar com a hora terá a alma mais 
preta que carvão. Todos te acharão uma mulher nojenta e chegará o 
dia em que, pertencendo ao demônio, irás ferver no inferno por toda 
eternidade. Que Deus não o permita! Faça uma reverência. Assim 
como uma noviça que entra no convento deve aprender de cor os seus 
deveres, a mulher que casa deve fazer o mesmo. Tenho aqui um escrito 
importante, que te ensinará o ofício de esposa. Ignora o autor – alguma 
boa alma. Desejo que isso seja tua única leitura. Toma. (Levanta-se.) 
Vejamos se você lê bem (MOLIÈRE,1980, p. 203-204).
Arnolfo, com suas palavras tirânicas e opressoras, impõe suas vontades, 
sua proposta de casamento que impede qualquer desejo de independência e 
realização pessoal de Inês. Mas, com o passar do tempo, Inês começa a se interessar 
por Horácio, um jovem que também a ama. Horácio, entretanto, sem saber que 
Arnolfo é o guardião de Inês, acaba confidenciando o seu amor e o desejo de 
casar-se com ela secretamente. Arnolfo, num momento muito cômico da peça, 
sofre e suporta ouvir suas confidências, que apenas aumentam seu ciúme e o seu 
comportamento patético. Finalmente, Inês se rebela contra a ordem estabelecida 
e as tradições que alienam as mulheres, usando truques para lutar contra a 
sociedade patriarcal opressiva. Leia o trecho em que ela frustrará os planos de 
Arnolfo.
[…] 
ARNOLFO
Minha cara a amedronta, safadinha? Não parece te dar muito prazer 
minha presença. É evidente que empato os pequenos projetos da 
aventura amorosa. (Inês procura Horácio). Não adianta gastar teus 
olhos para ver se encontra o sedutor. Ele já está longe demais para 
vir te ajudar. Ah! Ah! Tão mocinhos ainda e já com tantos truques. 
Tua simplicidade, que nunca teve igual, pergunta ingenuamente se os 
filhos se fazem pelo ouvido, no entanto, marca encontros noturnos e 
sabe se esgueirar sem um ruído para seguir o amante! E como usa 
a língua quando está com ele! Deve ter frequentado uma excelente 
escola! Que professor, diabo, te ensinou tanta coisa em tempo assim 
tão curto! Também não tem mais medo de algo do outro mundo? 
Parece que o galanteador te dá coragem para a noite toda. Fingida! 
Como é que conseguiu tramar tantas perfídias? Agir assim comigo 
depois de tudo que lhe fiz de bem. Alimentei no seio uma serpente e, 
assim que cresceu, demonstra gratidão mordendo a mim, que só lhe 
dei carinho.
INÊS
Por que me grita assim?
116
UNIDADE 2 | A LITERATURA ENTRE OS SÉCULOS XV E XVII
ARNOLFO
Vai começar a dizer que estou errado!
INÊS
Não vejo mal em nada do que fiz.
ARNOLFO
Ah, então ter um amante não é nada de mal?
INÊS
É um homem que garantiu que vai casar comigo. Segui as lições que o 
senhor me ensinou: é preciso casar pro amor não ser pecado.
ARNOLFO
É; mas eu é quem pretendia fazê-la minha esposa. E me parece que 
quando conversei contigo deixei isso bem claro!
INÊS
Deixou. Mas vou falar a verdade: eu acho ele muito mais agradável. 
Com o senhor o casamento é uma coisa penosa e aborrecida, e quando 
o vejo falar de casamento tenho a impressão de coisa insuportável. 
Quando, porém, é ele que descreve a vida de casado, eu vejo um 
quadro tão cheio de delícias que quero casar logo.
[…]
INÊS
Realmente o senhor tomou todos os cuidados para que eu recebesse 
educação esmerada. Pensa então que me iludo a ponto de saber que 
sou uma idiota? Me envergonho de mim; mas, na idade em que estou, 
não quero mais passar por imbecil – se puder.
[…] (MOLIÈRE, 1980, p. 246-251).
O século XVII marca o início da emancipação das mulheres nos meios 
aristocrático e intelectual. Neste contexto, o teatro de Molière assume uma função 
importante ao problematizar a hipocrisia e a hostilidade das relações sociais. A 
peça Escola de mulheres, particularmente, está na vanguarda do protesto feminista 
contra a brutalidade masculina e a restrição tirânica de casamento.
No teatro, desde a Antiguidade, a sátira é um recurso importante para 
promover a reflexão crítica sobre comportamento humano. Outros teatrólogos se 
inspiraram nessa tradição, assim como Gil Vicente, no Humanismo português; 
Molière no teatro clássico francês e Martins Pena, no teatro do Romantismo 
brasileiro, e tantos outros escritores modernos e contemporanêos que produzem 
sátiras em diferentes gêneros literários.
117
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• O teatro figura como uma das expressões literárias mais importantes do 
Barroco, momento em que as tragédias gregas são prestigiadas.
• O predomínio das paixões sobre a razão, os enganos das aparências, a violência 
do mundo, as contradições da natureza humana são temas que perpassam pela 
tragédia de Hamlet, texto escrito pelo dramaturgo inglês Shakeaspeare.
• Lope de Vega e Calderón de la Barca, escritores espanhóis do século XVII, 
foram dramaturgos muito produtivos. Nas peças de Lope de Vega predomina a 
invenção espontânea, geralmente ocorrem em um ambiente popular e nacional, 
como visto na peça Fuenteovejuna; enquanto Calderón de la Barca exploratemas 
mais clássicos e introspectivos, predominando o conflito barroco do desengano 
humano, a exemplo do drama A vida é sonho.
• O teatro clássico é um movimento literário e cultural da segunda metade do 
século XVII. O dramaturgo francês Molière é mais conhecido por suas comédias 
de costumes e pela identificação de elementos da Commedia dell'Arte. 
118
1 Leia a seguir um dos trechos mais expressivos de Hamlet. Trata-se de 
um tipo especial de texto, chamado de solilóquio. É usado quando um 
personagem fala consigo mesmo — ou pensa em voz alta.
HAMLET: Ser ou não ser – eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias –
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono – dizem – extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao túmulo vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem aguentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação. (Vê Ofélia rezando.)
Mas, devagar, agora!
A bela Ofélia!
(Para Ofélia.) Ninfa, em tuas orações
Sejam lembrados todos os meus pecados.
FONTE: SHAKESPEARE, W. Hamlet. Tradução Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret Ltda, 
2003. 
AUTOATIVIDADE
119
Reflita sobre os personagens de Hamlet transcritos no trecho anterior. 
Interprete o dilema apresentado pelo personagem.
2 No famoso trecho da peça teatral, podemos considerar que o dilema de 
Hamlet enfatiza 
a) ( ) O enfrentamento do sofrimento através da libertação espiritual.
b) ( ) A visão teocêntrica das personagens e do mundo.
c) ( ) O predomínio da razão sobre as paixões.
d) ( ) A natureza humana e suas contradições.
e) ( ) A falta de consciência de sua indecisão.
3 Ao compararmos o solilóquio de Hamlet com o de Segismundo em La vida 
es sueño (1635), de Calderón de la Barca, exposto no Tópico 2, podemos 
inferir que:
I. Nos dois textos, a vida, a morte e o sonho são percebidos de maneira cética.
II. Segismundo, assim como Hamlet, não sabe o que é a vida, se é realidade 
ou ficção.
III. Para Hamlet, o destino do homem é incontrolável, nada do que ele faz 
pode modificá-lo.
IV. Está correto o que se afirma em
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) I e II, apenas.
c) ( ) II e III, apenas.
d) ( ) I e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
4 (ENADE, 2014) 
Considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, William 
Shakespeare deixou uma vasta obra, da qual são mais conhecidas suas peças 
teatrais. Foi pela grande importância e fama do autor que Richard Appignanesi 
decidiu adaptar suas peças teatrais, como Hamlet, Romeu e Julieta e Macbeth 
para os quadrinhos, usando o estilo mangá. Um aspecto interessante dessa 
adaptação é o fato de Appignanesi realizar uma releitura da obra clássica, 
mantendo os diálogos e as falas da versão original em inglês.
120
FONTE: <http://garotait.com.br>. Acesso em: 30 jul. 2014.
A partir do texto e da ilustração apresentados, e tendo em vista a perspectiva do 
ensino e a aprendizagem de língua estrangeira, avalie as afirmações a seguir.
I. A associação entre o texto imagético e o texto verbal, nas histórias em 
quadrinhos (HQ), permite ao aprendiz preencher lacunas de interpretação.
II. O caráter lúdico das HQs pode auxiliar no processo de ensino-
aprendizagem de idiomas estrangeiros e literaturas estrangeiras.
III. A articulação entre o ensino de uma língua estrangeira e o de sua respectiva 
literatura torna os objetos de estudo marcas simbólicas imbuídas de 
expressão cultural verbal e não verbal.
IV. A série de mangás Shakespeare é um gênero/textual em que se privilegia 
a linguagem verbal, visto que os diálogos adaptados são em língua 
estrangeira.
Está correto o que se afirma em:
FONTE: http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2014/32_letras_
portugues_ingles.pdf. Acesso em: 27 mar. 2019.
a) ( ) I e II, apenas.
b) ( ) I e IV, apenas.
c) ( ) II e III, apenas.
d) ( ) I, III e IV apenas.
e) ( ) I, II, III e IV.
5 Ao contrário da tragédia, a comédia é um gênero teatral que geralmente trata 
de assuntos do cotidiano de forma humorada. Os conflitos se caracterizam 
por armações, enganos ou confusões e costumam acabar em finais, no 
mínimo, divertidos. O que o dramaturgo Molière nos conta no século XVII, 
através da comédia Escola de Mulheres, que ressoa hoje? Que temas podem 
ser considerados atuais? Qual é a função do teatro nesse contexto? 
121
UNIDADE 3
LITERATURA E MODERNIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• estudar aspectos gerais do período Neoclássico e do momento ideológico 
do pensamento iluminista na literatura do século XVIII, que marcou o 
início da época moderna;
• entender as origens e peculiaridades do movimento literário do Roman-
tismo;
• conhecer o contexto histórico e as características literárias do Realismo e 
do Naturalismo;
• refletir sobre as concepções estéticas do fim do século XIX: o Simbolismo 
e o Parnasianismo;
• conhecer autores e textos representativos de cada movimento literário;
• ler e analisar criticamente algumas obras da literatura ocidental entre os 
séculos XVIII e XIX, a fim de reconhecer temáticas e procedimentos esti-
lísticos.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 - A LITERATURA DA ILUSTRAÇÃO
TÓPICO 2 - A ESTÉTICA ROMÂNTICA
TÓPICO 3 - REALISMO E NATURALISMO 
TÓPICO 4 - AS ESTÉTICAS DO FIM DO SÉCULO XIX
122
123
TÓPICO 1
A LITERATURA DA ILUSTRAÇÃO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 2, vimos importantes mudanças ocorridas na Europa a partir 
do século XVI, especialmente no âmbito das ideias. Durante a Idade Média, a 
vida social estava diretamente ligada à religião. Esse cenário começou a mudar 
com o Renascimento cultural e com a Reforma protestante. Com o Barroco surgiu 
a tensão entre a razão e a fé religiosa. E no século XVIII surgiram dois momentos 
importantes na literatura: o poético e o ideológico.
No momento poético, segundo Bosi (2006a), a natureza, a vida no campo, 
os afetos comuns do homem, impulsionados pela tradição clássica e pelas formas 
bem definidas, viraram modelos de imitação e passaram a fazer parte da obra dos 
poetas árcades, que adotaram simbolicamente, em referência à Arcádia, antiga 
região da Grécia habitada por pastores, a tradição dos poetas da antiguidade. 
O momento ideológico, por sua vez, representa a crítica da burguesia culta aos 
abusos da nobreza e do clero. Nesta fase, surgiram pensadores que constestaram 
com veemência os dogmas religiosos e intensificaram o pensamento ocidental 
sob o prisma da razão. 
O pensamento ideológico voltado para o racional surgiu, 
predominantemente, na França e na Inglaterra e ficou conhecido como Ilustração 
ou Iluminismo. O período em questão foi denominado Século das Luzes, no qual 
os intelectuais tiveram como meta "a luta contra a ignorância e a superstição" 
(D'ONOFRIO, 2007, p. 224). As luzes contrapõemas concepções obscuras dos 
séculos passados, representam o saber, o conhecimento alcançado através da 
razão. Convencidos de que:
 
[...] o desenvolvimento das ciências naturais levaria inevitavelmente o 
homem a dominar as forças da natureza, os iluministas sonhavam com 
a ideia de que sociedade humana pudesse ser reorganizada em bases 
estritamente racionais, banindo-se qualquer tipo de preceito religioso 
(D’ONOFRIO, 2007, p. 254).
No presente tópico, destacaremos a lírica árcade com os seus temas 
bucólicos, bem como as tendências do pensamento iluminista e suas contribuições 
para o entendimento do ser humano e para o campo estético e literário. 
Enfatizaremos a supremacia racionalista, os principais pensadores e suas obras 
de cunho didático e moral.
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
124
2 PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS 
Em meados do século XVIII, a burguesia atingiu a hegemonia econômica 
e disseminou um pensamento crítico contra os abusos da nobreza e do clero, 
estabelecendo bases intelectuais que valorizavam as explicações racionalistas 
sobre as relações entre o ser humano e o mundo. A Revolução Industrial (1760), 
ocorrida na Inglaterra, e a Revolução Francesa (1789) aconteceram em virtude da 
ascensão política e econômica da classe burguesa.
No âmbito intelectual, várias obras passaram a questionar diferentes 
segmentos da vida social. A gravura intitulada O sono da razão produz monstros 
(1799), do artista espanhol Francisco de Goya, na figura a seguir, é bastante 
emblemática no que diz respeito à representação das ideias iluministas difundidas 
na Europa durante o século XVIII.
FONTE: <https://pt.wikiquote.org/wiki/Francisco_Goya#/media/File:Capricho_43,_El_
sue%C3%B1o_de_la_raz%C3%B3n_produce_monstruos.jpg>. Acesso em 25 nov. 2018.
FIGURA 1 – O SONO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS (1799), FRANCISCO DE GOYA
A imagem representa os perigos que cercam o ser humano quando a 
razão adormece e aponta para uma concepção de mundo mais humana e terrena, 
que atingiu vários campos do conhecimento. Essa nova maneira de pensar 
desencadeou a Revolução Francesa e provocou o enfraquecimento da monarquia 
absolutista. Foi nessa atmosfera de renovação que vigorou o revolucionário lema 
“Igualdade, libertade e fraternidade", baseado no pensamento iluminista. 
 
TÓPICO 1 | A LITERATURA DA ILUSTRAÇÃO
125
3 AUTORES E OBRAS FUNDAMENTAIS
No contexto do século XVIII, surgiram importantes obras, como O espírito 
das leis, de Montesquieu, obra publicada em 1748, que propôs a divisão do 
governo em três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Em 1751 surgiu 
a Enciclopedia, organizada por Denis Diderot e Jean d`Alambert, concebida 
para concretizar o projeto iluminista, ou seja, enfatizar a razão, o conhecimento 
humano, o progresso e as ciências. Ao tentar reunir o saber humano acumulado 
em várias áreas do conhecimento, a obra se tornou uma das principais realizações 
do Iluminismo, cuja pretensão era disponibilizar o acesso às artes e às ciências 
para toda a sociedade. Editada originalmente em 17 volumes, ela levou 21 anos 
para ser finalizada. Vários escritores, entre cientistas e intelectuais, colaboraram 
com produção dos verbetes, várias vezes interrompidos pela censura eclesiástica, 
chegando a ser proibida pela Coroa francesa. Mesmo assim, a obra obteve sucesso 
e influenciou a produção de outras publicações do gênero em vários países. 
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Encyclop%C3%A9die#/media/File:Encyclopedie_
de_D%27Alembert_et_Diderot_-_Premiere_Page_-_ENC_1 >. Acesso em 25 nov. 2018.
FIGURA 2 – FRONTISPÍCIO DO VOLUME I DA ENCICLOPÉDIA
Outro importante pensador francês foi François-Marie Arout, conhecido 
como Voltaire (1694-1778). Sua obra é vasta, inclui poemas, peças teatrais, 
romances, contos satíricos, com destaque para Cândido ou O Otimismo, narrativa 
filosófica que aborda de modo irônico a história das desventuras de um jovem 
ingênuo que, diante da perversidade do mundo, busca encontrar um sentido 
para a vida, chegando à conclusão na famosa moral: "devemos cultivar nosso 
jardim" (VOLTAIRE, 2010, p. 187).
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
126
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) também marcou a época com suas 
produções, defendendo a democracia e denunciando as injustiças sociais. Entre 
as suas obras, sobressaem-se o Discurso sobre a origem e fundamentos da desigualdade 
entre homens (1775), o Contrato Social (1762) e o romance Emílio (1762), que 
difundiu a idealização da figura do “bom selvagem”, do homem que nasce bom 
e é corrompido pela sociedade. Rousseau cultuou a simplicidade e o refúgio na 
natureza, abrindo vias para as aspirações estéticas nostálgicas e individualistas 
do Romantismo. Ele ainda escreveu o romance espistolar A nova Heloisa (1761) e 
cultivou a literatura autobiográfica com a obra Confissões (1782).
Nesse contexto, o Arcadismo adotou os princípios do Neoclassicismo, 
reabilitando os clássicos greco-romanos, os preceitos aristotélicos e horacianos, 
desenvolvendo suas ideias no tempo da Enciclopedia, na época de Voltaire e de 
Rousseau. Os poetas árcades, inspirados, principalmente, nas obras do poeta 
latino Virgílio, exaltaram a vida rural e o bucolismo, idealizando a simplicidade 
do campo, a fuga da cidade (fugere urbem), os prazeres imediatos, baseados na 
famosa expressão carpe diem (viva o dia), frase retirada da ode do poeta latino 
Horácio. Os árcades retomaram a ideia de que a razão e a felicidade se encontram 
nas coisas simples da vida, num lugar agradável, sem conflitos. A proposta da 
nova poética se espalhou pelos países de língua neolatina, especialmente em 
Portugal e no Brasil.
 
Veja, a seguir, como esses temas aparecem nas poesias portuguesa e 
brasileira, com os poetas Bocage (1765-1805) e Claudio Manuel da Costa (1729-
1789), respectivamente:
Desejos da presença do objeto amado
Já o Inverno, espremendo as cãs nervosas,
Geme, de horrendas nuvens carregado;
Luz o aéreo fuzil, e o mar inchado
Investe ao Pólo em serras escumosas;
Oh benignas manhãs! Tardes saudosas,
Em que folga o pastor, medrando o gado,
Em que brincam no ervoso e fértil prado
Ninfas e Amores, Zéfiros e Rosas!
Voltai, retrocedei, formosos dias;
Ou antes vem, vem tu, doce beleza
Que noutros campos mil prazeres crias;
E ao ver-te sentirá minh'alma acesa
Os perfumes, o encanto, as alegrias
Da estação, que remoça a Natureza (BOCAGE, 1994, p.10).
Lira XIX
Enquanto pasta alegre o manso gado, 
Minha bela Marília, nos sentemos 
À sombra deste cedro levantado.
TÓPICO 1 | A LITERATURA DA ILUSTRAÇÃO
127
Um pouco meditemos 
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive, nos descobre
A sábia natureza (GONZAGA, 1996, p. 26). 
DICAS
O filme Sociedade dos poetas mortos (1989), 
dirigido por Peter Weir, apresenta interessantes reflexões sobre a 
vida, ilustrando bem o lema carpe diem e o refúgio dos poetas nos 
recantos da natureza. Vale a pena assistir.
FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51roNEGDpOL.jpg>. Acesso 
em: 20 mar. 2019.
No contexto ideológico da Ilustração vale ressaltar o surgimento do 
jornalismo e o aumento do público leitor, que colocaram em evidência a prosa 
literária, como os romances ingleses As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift; 
A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy, do escritor irlandês Laurence 
Sterne, autores que inspiraram o renomado escritor brasileiro Machado de Assis 
(que será estudado mais adiante, no movimento literário do Realismo). No século 
XVIII, temos ainda importantes romances ingleses, como Tom Jones, de Henry 
Fielding (1707-1754), e Orgulho e Preconceito, de Jane Austen (1775-1817).
O desenvolvimento da imprensa contribuiu significativamente para que o 
romance se tornasse popular nos séculos XVIII e XIX. Os jornais criaram os folhetins, espaços 
que publicavam capítulos de romances. A estratégia se transformou numa instigante forma 
de entretenimento para os leitores e influenciou a maneira como são feitas as atuais novelas 
e séries de televisão.NOTA
No teatro do século XVIII, destaca-se Carlo Goldoni (1707-1793), 
considerado o maior comediógrado italiano da época, que buscou reaproximar o 
teatro da realidade humana, segundo os modelos clássicos e o exemplo de Molière, 
salienta D`Onofrio (2007). Goldoni escreveu 120 comédias retratando intrigas, tipos 
humanos e ambientes sociais. Fazem parte de sua produção literária as comédias A 
viúva sabida, O mentiroso, Um curioso acidente, A confeitaria, entre outras.
128
Neste tópico, você aprendeu que:
• O contexto de produção artística do século XVIII foi marcado, sobretudo, pela 
Revolução Francesa e a Revolução Industrial, que promoveram a ascensão 
política e econômica da classe burguesa.
• O Iluminismo foi um movimento intelectual que se difundiu na Europa, 
defendendo a construção do saber por meio da razão.
• A Enciclopédia, organizada por Denis Diderot e Jean d`Alambert, foi uma das 
principais obras do Iluminismo, que cultuou o progresso e as ciências.
• Os pensadores Voltaire e Rousseau desempenharam um papel importante na 
difusão dos ideais iluministas.
• Os poetas arcadistas, em oposição aos exageros do Barroco, cultivaram temas 
bucólicos e as formas líricas da tradição clássica.
RESUMO DO TÓPICO 1
129
1 A seguir, você vai ler e analisar criticamente um poema de Bocage. Em 
seguida, responda às questões propostas.
Oh retrato da morte, oh noite amiga 
Por cuja escuridão suspiro há tanto! 
Calada testemunha do meu pranto, 
Dos meus desgostos secretária antiga! 
Pois manda Amor, que a ti somente os diga, 
Dá-lhes pio agasalho no teu manto; 
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto 
Dorme a cruel, que a delirar me obriga: 
E vós, oh cortesãos da escuridade, 
Fantasmas vagos, mochos piadores, 
Inimigos, como eu, da claridade! 
Em bandos acudi aos meus clamores; 
Quero a vossa medonha sociedade, 
Quero fartar meu coração de horrores. 
FONTE: BOCAGE, M. M. Soneto e outros poemas. São Paulo: FTD, 1994, p.8.
a) Qual é a temática explícita do poema?
b) Como é apresentado o estado de espírito do eu lírico? Exemplifique com 
trechos do poema.
c) O poema dialoga com as principais tendências da estética arcadista? 
Explique.
2 Considerando as discussões sobre os movimentos intelectuais que surgiram 
na Europa no século XVIII, analise as asserções a seguir e a relação proposta 
entre elas.
O Iluminismo foi um movimento cultural que se difundiu a partir do século 
XVIII e que, simbolicamente, significa luz ao intelecto.
PORQUE
Os pensadores iluministas acreditavam ser possível encontrar o saber por 
meio da razão, através de formas subjetivas de pensamento.
AUTOATIVIDADE
130
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma 
justificativa correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa 
correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.
3 Quanto ao Arcadismo, é correto afirmar que:
a) ( ) Os poetas árcades reavivaram as ousadias estéticas do Barroco. 
b) ( ) A estética retoma os temas e as formas líricas da tradição clássica. 
c) ( ) Os poemas árcades contestam a valorização dos espaços prazerosos e da 
vida simples.
d) ( ) A poesia lírica expressa um desequilíbrio das formas e dos sentimentos.
131
TÓPICO 2
A ESTÉTICA ROMÂNTICA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
No Romantismo, a arte passou a valorizar a experiência individual, 
a rebeldia, as emoções, a ruptura com os critérios de beleza, resultando na 
diversidade de temas que envolvem paixões, desencantos, um estado de espírito 
melancólico (conhecido como "mal do século"). Os escritores românticos se 
inspiravam em temas que envolviam o mistério, o terror, a morte, bem como as 
mazelas sociais, o novo tipo de vida materialista, rotineiro e injusto socialmente 
trazido pelas revoluções, o refúgio na natureza e a valorização do nacionalismo. 
O aspecto multiforme desse movimento perpassou por diversos espaços 
e tempos nos diferentes países da Europa e da América. Na literatura do 
Romantismo, a narrativa, a lírica e o drama foram os gêneros literários evidenciados, 
com destaque para o romance, gênero em prosa bastante difundido na época. 
Neste tópico, você vai estudar o surgimento do Romantismo, a consolidação do 
romance, o seu contexto histórico e suas principais caraterísticas estéticas. Além 
disso, você vai entrar em contato com alguns textos que pertencem à tradição 
literária ocidental e que caracterizam a experiência romântica, especialmente os 
gêneros narrativo e lírico.
2 O MOVIMENTO ROMÂNTICO OCIDENTAL
O pintor francês Eugène Delacroix (1798-1863) registrou o momento 
histórico de batalhas ocorridas durante a Revolução Francesa no emblemático 
quadro A liberdade guiando o povo (1830), reproduzido abaixo. A obra encontra-
se exposta no Museu do Louvre, em Paris, e faz referência aos diversos grupos 
sociais que participaram do movimento de luta, nos dias 27, 28 e 29 de julho de 
1830, contra o rei Carlos X, que tentava restabelecer o absolutismo no país.
132
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
FONTE: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/a-liberdade-guiando-o-povo-
eugene-delacroix/>. Acesso em: 25 nov. 2018.
FIGURA 3 – A LIBERDADE GUIANDO O POVO (1830), DE EUGÈNE DELACROIX 
No centro do quadro, é possível ver em destaque a imagem de uma mulher 
segurando a bandeira tricolor da França. Essa figura, denominada Marianne, faz 
menção à deusa grega Atena e passou a simbolizar a luta do povo contra a tirania, 
a noção de liberdade instaurada na base do pensamento romântico.
Foi com esse pensamento que o Romantismo surgiu na Alemanha e 
na Inglaterra, entre a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do 
século XIX. Mas, "antes de ser um movimento estético, ideológico e social, o 
Romantismo é uma atidude espiritual”, destaca D’Onofrio (2007, p. 327). Isso 
porque, enquanto atitude, o Romantismo sempre existiu, pois sempre houve 
artistas temperamentais e melancólicos, que instituíram a liberdade como estilo 
de vida e usaram suas emoções como fonte de inspiração. 
O fenômeno artístico-literário do Romantismo está diretamente 
relacionado ao desenvolvimento sociocultural europeu durante a segunda 
metade do século XIX, período em que os artistas defendiam modos livres de 
experiência e de expressão:
[…] apregoando a derrocada de qualquer forma de absolutismo: 
político, contra o imperialismo e a favor de regimes constitucionais; 
religioso, contra o dogmatismo e a favor de uma religião mais sentida 
e mais natural; social, contra a prepotência das classes dominantes e 
a favor das aspirações da nascente classe burguesa; estético, contra as 
regras do Classicismo e a favor de uma total liberdade de expressão 
artística (D’ONOFRIO, 2007, p. 327).
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA ROMÂNTICA
133
Na Europa, a produção artística do século XIX difundiu intensamente 
as expressões estéticas da literatura romântica. Os românticos convocaram 
as sensibilidades, as aventuras, os sonhos, os devaneios. Na poesia, vigorou 
inicialmente um interesse pelas forças da natureza, pelos extremos, pelos 
pessimismos, pelos dramas contraditórios do barroco. O gérmen dessa rebeldia 
artística colocou em suspensão a tradição clássica de criação rígida e racionalista. 
Contudo, diante do insuperável conflito entre o ideal e o real, a filosofia de vida 
dos românticos foi marcada por aspectos contraditórios, "procurava-se ou a fuga 
na solidão e na morte ou a luta para modificar a realidade, ou um suave lirismo ou 
uma amarga ironia, ou a simplicidade popular ou um refinado individualismo", 
salienta D’Onofrio (2007, p. 329).
O romance, por sua vez, passou a narrar a atmosfera conflituosa, as 
experiências dos indíviduos comuns, suas aventuras e desventuras. Herdeiro da 
epopeia, esse gênero da era burguesa assumiu espaço privilegiadona cultura 
ocidental. Sua concepção literária moderna sobrepujou a tradição oral milenar 
das composições poéticas e dramáticas, destaca Satalloni (2007). Resultado da era 
das revoluções Francesa e Industrial que marcou a Europa durante o século XVIII, 
o romance consolida-se num contexto permeado por pensamentos progressistas 
e nacionalistas, por ideias de liberdade e individualidade, no qual vem à tona a 
necessidade de se criar uma forma literária inovadora, substituindo a tradição 
coletiva dos enredos das epopeias clássicas e renascentistas. Mesmo apresentando 
diversas tendências e particularidades, a maioria das obras valoriza a liberdade, a 
subjetividade, os temas populares e as raízes nacionais.
O gênero dramático, assim como o lírico e o narrativo, também se 
consolidou como estética de ruptura, abolindo regras rígidas de estrutura 
das peças, especialmente a lei aristotélica das três unidades (ação, tempo e 
espaço). Novas e renovadas formas de representação surgiram, como a ópera, 
especialmente valorizada pelos românticos, que começou a interpretar os anseios 
do público burguês e deixou de ser um espetáculo restrito à classe nobre e rica. 
3 A PROSA ROMÂNTICA
A narrativa em prosa afirmou-se como um dos gêneros mais lidos e 
apreciados somente a partir da segunda metade do século XVIII. Antes disso, era 
vista como uma forma de literatura destinada ao entretenimento de uma camada 
social que não foi educada aos moldes dos estudos clássicos, salienta D’Onofrio 
(2007). Com o surgimento do Romantismo, os textos em prosa começaram a 
exercer a função da antiga poesia épica, que explorava conflitos existenciais, 
comportamentos e paixões humanas.
No movimento romântico, iniciado na Alemanha, destaca-se o importante 
escritor Johann Wolfgang Goethe (1749-1832), cujo romance, Os sofrimentos 
do Jovem Werther, teve uma grande repercussão internacional. Trata-se de uma 
134
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
narrativa epistolar, contada através de cartas. Nela, o protagonista Werther relata 
ao seu melhor amigo, Wilhelm, seu drama amoroso, sua paixão por Lotte, jovem 
comprometida com outro homem. 
Acompanhe abaixo um trecho do relato de Werther, no qual ele menciona 
o episódio de um desastre natural ocorrido na região em que mora e, ao mesmo 
tempo, evoca suas angústias e lembranças de sua amada.
Caro Wilhelm, encontro-me no mesmo estado daqueles infelizes que 
se acham possuídos por um espírito maligno. É algo que me acomete 
às vezes: não se trata de angústia nem de desejo... É um tumulto 
interior, desconhecido, que ameaça dilacerar-me o peito, que me 
aperta a garganta! Ai de mim! Nesses momentos vagueio por entre 
horrendas cenas noturnas dessa época inimiga dos homens. 
Ontem à noite não pude ficar em casa. O degelo chegou de repente. 
Disseram-me que o rio havia transbordado, que todos os riachos 
estavam cheios e que, de Wahlheim até aqui, todo o meu querido 
vale ficara inundado! Eram mais de onze horas quando saí de casa. 
Que espetáculo assombroso ver do rochedo, ao luar, as torrentes 
furiosas invadindo os campos, prados e cercados, e o grande vale 
formando um só mar sublevado, em meio ao rugir do vento. E quando 
a Lua reapareceu por sobre uma nuvem negra e diante de mim, as 
torrentes de águas com reflexo terrível e magnífico, se entrechocavam, 
despedaçando-se, percorreu-me, então, um tremor, seguido de um 
desejo brutal. Ah! Com os braços abertos, debrucei-me sobre o abismo, 
enquanto me perdia num pensamento prazeroso: precipitar as minhas 
dores e os meus sofrimentos na voragem das águas, deixando-me 
arrastar por aquelas ondas! Oh!... E dizer que não tive coragem de 
levantar os pés do chão e acabar com todos os meus tormentos!... Sinto 
que minha hora ainda não chegou! Oh! Wilhelm! Com que prazer teria 
renunciado à minha vida de homem para romper as nuvens nesse 
vento tempestuoso e subverter as ondas!
Quão doloroso foi lançar os olhos para o recanto em que descansara 
com Lotte, sob um salgueiro, após um passeio num dia de muito 
calor e ver que ali também estava inundado e quase não reconheci o 
salgueiro!
“E os seus prados”, pensei, “e o campo em torno da residência de caça! 
E o nosso caramanchão, como deve ter sido devastado pelas águas 
devoradoras!
E um raio de Sol do passado brilhou em minha alma, da mesma 
forma como sonhar com rebanhos, pradarias e honras ou glórias deve 
iluminar a alma de um prisioneiro. Eu estava lá!... Não me censuro, 
pois tenho coragem para morrer... Agora, estou sentado aqui como 
uma mulher velha que cata a sua lenha ao longo das cercas e mendiga 
o pão de porta em porta, a fim de atenuar e prolongar um pouco mais 
a sua triste e miserável vida (GOETHE, 2010, p. 130-131). 
Nesse trecho do romance, que se tornou um marco do chamado “mal do 
século" (expressão criada por Chateaubriand para referenciar a crise de valores 
e crenças instalada no século XIX), o estado de espírito de Wether se encontra 
devastado e tomado pela sensação de autodestruição. Doente, melancólico, 
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA ROMÂNTICA
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inconformado, o jovem se vê diante da impossibilidade de adequar suas aspirações 
às limitações da vida cotidiana. Por isso, encontra no suicídio a solução para o 
seu problema. O sentimento dramático, nostálgico e melancólico de Werther, 
considerado o símbolo do herói romântico, rebelde e apaixonado, dialoga com 
a pintura O viajante sobre o mar de névoa (1818), de Caspar David Friedrich, 
reproduzida abaixo.
FIGURA 4 – O VIAJANTE SOBRE O MAR DE NÉVOA
FONTE: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Caminhante_sobre_o_mar_de_n%C3%A9voa#/media/
File:Caspar_David_Friedrich_-_Wanderer_above_the_sea_of_fog.jpg >. Acesso em: 25 nov. 2018.
Como você vê, a expressão do espírito romântico se revela na postura do 
homem diante dos ímpetos da natureza, envolto por um cenário de penhascos e 
nuvens. O que sugere a reflexão sobre a condição humana e o estar no mundo, 
sobre o contemplamento da força da natureza. Sensações que também perpassam 
pela narrativa do Jovem Werther.
Dando continuidade a nossas discussões, passamos a destacar a ficção em 
prosa romântica de língua inglesa. Várias obras e autores relevantes fazem parte 
do cânone literário ocidental. Entre eles, o escocês Walter Scott (1771-1832), com 
o romance histórico Ivanhoé (1820), ambientado na Idade Média, na época das 
Cruzadas, que revive o universo dos castelos, repleto de aventuras e intrigas.
136
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
O norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849) cultivou narrativas mais 
curtas, destacando-se com os contos policiais, de terror e de mistérios, além de 
histórias de viagens fantásticas e alguns ensaios. Das produções literárias de 
Poe, destacam-se o conto policial Os crimes da rua Morgue (1841), ao apresentar, 
ligados entre si, a história do crime e do inquérito, tendo o investigador como 
protagonista da narrativa. Poe foi o introdutor do gênero policial, da figura do 
detetive. Sua história influenciou vários ficcionistas e a criação de personagens 
como o detetive Lecoq, do escritor francês Émile Gaboriau (1832-1873), e Sherlock 
Holmes, do escritor britânico Arthur Conan Doyle (1859-1930).
A escritora norte-americana Narriet Beecher Stowe (1811-1896), defensora 
dos escravos e das ideias abolicionistas, publicou, em 1852, a obra A cabana do pai 
Tomás, que foi traduzida para vários idiomas e alcançou um número expressivo 
de leitores durante o século XIX. No Brasil, a narrativa acentuou as dicussões 
sobre as concepções sociais e o sistema de escravidão, como podemos ver nas 
produções literárias dos escritores brasileiros Joaquim Manuel de Macedo, em 
As vítimas-algozes - quadros da escravidão (1869), Bernardo Guimarães, em A escrava 
Isaura (1875), a peça Mãe (1860), de José de Alencar, além dos contos e das críticas 
de teatro de Machado de Assis, destaca Guimarães (2013). Acompanhe abaixo um 
trecho do romance de Stowe.
Capítulo XXX
Liberdade
[...]
Terminara a noite; a estrela da manhã, que devia brilharsobre a sua 
liberdade, levantava-se radiosa em frente deles. Liberdade, palavra 
mágica, quem és tu? Não serás mais do que uma palavra, uma flor de 
retórica? Por que, então, homens e mulheres da América, basta esta 
palavra para o coração lhes bater mais rapidamente? Que significava 
a liberdade para Jorge Harris? Para os vossos pais, a liberdade é o 
direito que qualquer nação tem de ser nação; para ele, era o direito 
que todo homem tem de ser um homem, e não um animal. O direito de 
chamar à mulher que ama sua mulher, de a proteger contra qualquer 
violência ilegal, o direito de proteger e educar os filhos, o direito de ter 
a sua casa, a sua religião, os seus princípios, sem depender da vontade 
de outrem.
Eram estes os pensamentos que se agitavam e borbulhavam no peito 
de Jorge, enquanto apoiava a cabeça sonhadora à mão, olhando a 
mulher, que tentava adaptar roupas de homem à sua figura elegante 
e esguia. Pareceu-lhes que sob este disfarce seria mais fácil escapar 
(STOWE, 2000, p. 188). 
Na França, o Romantismo teve início com François-René de Chateaubriand 
(1768-1848), herdeiro de Rousseau, das concepções do pensamento romântico, 
dos conceitos de liberdade e fraternidade, da natureza e do sentimento como 
forças fundamentais que regem o homem. Nos romances Atala (1801) e René 
(1802), Chateaubriand descreve paisagens exóticas e as relações sentimentais dos 
personagens. Em Memórias de além-túmulo (1849), destaca a autobiografia ficcional.
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA ROMÂNTICA
137
Publicados originalmente em folhetim, os romances Os três mosqueteiros 
(1844) e O conde de Monte Cristo (1844-1846), de Alexandre Dumas (1802-1870), 
tornaram-se romances populares, sucesso entre os leitores e, mais tarde, foram 
adaptados para o cinema. Ambos os romances evidenciam a figura do herói 
romântico, destemido, que enfrenta diversos empecilhos em busca do amor, 
da justiça ou da honra. Já o escritor Henri-Marie Beyle, mais conhecido pelo 
pseudônimo de Stendhal (1783-1842), foi o introdutor do romance psicológico na 
França, com a tendência para a narrativa realística de descrição da vida, do fluxo 
de consciência, do mundo subjetivo da personagem. Nos romances O vermelho e o 
negro (1831) e A cartuxa de Parma (1839), por exemplo, Stendhal criou protagonistas 
que representam o típico jovem apaixonado, aventureiro e ambicioso.
No Romantismo francês há, porém, um autor que se sobressai. Considerado 
o expoente do movimento romântico na Europa, Victor-Marie Hugo (182-1885) 
escreveu poesias, dramas, romances, e se tornou referência para muitos escritores. 
Na prosa de ficção, destacamos as obras Notre-Dame de Paris (1831), Os miseráveis 
(1862), Os trabalhadores do mar (1866) e o Homem que ri (1869). 
DICAS
Um filme imperdível sobre o momento histórico 
da Revolução Francesa e a obra de Victor Hugo é a adaptação 
cinematográfica de Os Miseráveis, dirigido por Tom Hooper, 
em 2012.
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/thumb/1/16/Miseraveis_Poster_
Nacional.jpg/240px-Miseraveis_Poster_Nacional.jpg>. Acesso em: 20 mar. 2019.
Na Itália, o movimento romântico apresenta duas importantes obras em 
prosa: As últimas cartas de Jacopo Ortis (1817), romance epistolar de Ugo Foscolo 
(1778-1827), inspirado no clássico enredo alemão do jovem Werther; Os noivos 
(1827), de Alessandro Manzoni (1785-1873), romance histórico ambientado na 
província de Milão, região dominada pelos espanhóis. A narrativa relata a história 
de amor de Renzo e Lúcia e apresenta um retrato da realidade social da época. A 
obra, adapatada para o teatro e para o cinema, apresenta temas como o amor, o 
heroísmo, o patriotismo, a hipocrisia e o triunfo da fé.
Em Portugual, a consolidação do Romantismo ocorreu somente na segunda 
década do século XIX, com a publicação do poema Camões (1825), de Almeida 
Garret (1799-1854). Do autor português, destacam-se as obras em prosa O arco de 
138
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
Sant`Ana (1845-1850) e Viagens na minha terra (1846). Alexandre Herculano (1810-
1877) cultivou o romance histórico, tornando-se um reconhecido ficcionista do 
gênero com a obra Eurico, o presbítero (1844). Camilo Castelo Branco (1825-1890) 
representa as tendências românticas em fase de esgotamento com as narrativas 
urbanas passionais, nas quais impera um sentimentalismo exacerbado, presente 
em obras, como, Onde está a felicidade? (1852) e Amor de perdição (1862).
No Romantismo brasileiro, as narrativas ficcionais traçaram um vasto 
retrato do país recém-independente de Portugal, processo que se estendeu 
de 1821 a 1825, tendo como marco da independência a data de 7 de setembro 
de 1822. Nesse contexto, a literatura assumiu um papel importante na busca 
de uma definição da identidade nacional, destacando a figura idealizada do 
índio, reinterpretando fatos e personagens históricos, os conflitos e interesses 
da burguesia que começava a se formar, a sociedade marcada pela escravidão, 
pelo patriarcalismo, as diferentes etnias e regiões do território nacional em obras 
como: A moreninha (1844), de Joaquim Manuel Macedo, Iracema (1865), de José de 
Alencar, Inocência (1872), de Visconde de Taunay.
O fragmento do romance Iracema, de José de Alencar, exposto abaixo, 
apresenta a cultura indígena como aspiração do símbolo da nacionalidade 
brasileira. O autor constrói um perfil idealizado das personagens indígenas e 
suas relações com o colonizador, incorporando inúmeros elementos da natureza, 
informações históricas e o vocabulário tupi-guarani:
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu 
Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros 
que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo do jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia 
no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e 
as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação 
tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia 
que vestia a terra com as primeiras águas.
VOCABULÁRIO:
Graúna: pássaro conhecido de cor negra luzidia.
Jati: pequena abelha que fabrica delicioso mel.
Ipu: terreno fértil (ALENCAR, 2002, p. 16).
Na prosa romântica hispano-americana, um dos autores de maior 
destaque foi o peruano Ricardo Palma (1833-1919). Segundo Jozef (1989), o autor 
superou o movimento romântico, encontrando um caminho próprio e original. 
Recriou personagens e lendas da alma popular dos antigos peruanos. Sua obra 
principal intitulada Tradicciones peruanas (1872), publicada na forma de folhetim 
por vários anos, é baseada em eventos históricos documentados, apresenta uma 
linguagem informal, diálogos com o leitor e críticas às instituições e aos costumes 
políticos e religiosos.
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA ROMÂNTICA
139
DICAS
Saiba mais sobre a biografia e a obra de Ricardo Palma. 
Acesse textos e imagens interessantes da narrativa Tradicciones 
peruanas na Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, disponível 
em: http://www.cervantesvirtual.com/obra/tradiciones-peruanas-
primera-serie--0/.
FONTE: <http://www.cervantesvirtual.com/obra/tradiciones-peruanas-primera-serie--0/>. 
Acesso em: 20 mar. 2019.
4 A POESIA ROMÂNTICA
No período do Romantismo, o lirismo surgiu na Alemanha com o poeta 
Friedrich von Hardenberg, conhecido como Novalis (1772-1801), considerado 
o precursor da poesia romântica e simbolista. Outros poetas exerceram forte 
influência na lírica alemã, entre eles, Friedrich Hölderlin (1770-1843), Clemens 
Bretano (1778-1842) e Wolfgang Goethe.
Na Inglaterra, a estética literária do individualismo e da subjetividade 
manifesta-se na poesia de John Keats (1795-1821), Lord Byron (1788-182), entre 
outros. Para representar a poesia de língua inglesa, ressaltamos o poeta norte-
americano Edgar Allan Poe, que, além de criador do conto policial e de histórias 
fantásticas, é um dos maiores poetas da época romântica. Seus versos foram 
amplamente recriadose difundidos por autores europeus, especialmente os 
ligados à estética simbolista como Baudelaire e Mallarmé. Poe ficou conhecido 
como um dos poetas "malditos” por expressar esteticamente os anseios, as 
contradições e as perplexidades do homens de sua época, constestando os 
valores sociais da vida burguesa e revelando o lado desconhecido da existência 
humana. Por isso, sua poética se refugia no sonho, no insólito, e muitos dos seus 
personagens são seres inquietos e atormentados.
Das produções em versos, "destinadas a hipnotizar os ouvidos e o espírito 
do leitor", diz Carpeaux (2012e, p. 141), a exemplo dos poemas Israfel, Ulalume, 
Lenore, Annabel Lee, For Annie, destacamos The raven (O corvo), seu poema mais 
famoso, traduzido para vários idiomas. Em português, temos as traduções 
realizadas por Machado de Assis (1883), Emílio de Meneses (1917), Fernando 
Pessoa (1924), Milton Amado e Oscar Mendes (1943), entre outras.
140
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
Acompanhe, no poema O Corvo, na versão de Milton Amado e Oscar 
Mendes, a história de um personagem que, numa certa noite, estava lendo para 
combater a insônia causada pela recordação de sua amada Lenora, quando ouve 
um barulho estranho e amedrontador:
O CORVO
Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,
a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,
e, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,
tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar.
"É alguém — fiquei a murmurar — que bate à porta, devagar;
sim, é só isso e nada mais."
Ah! Claramente eu o relembro! Era no gélido dezembro
e o fogo agônico animava o chão de sombras fantasmais.
Ansiando ver a noite finda, em vão, a ler, buscava ainda
algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora
— essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora
e nome aqui já não tem mais.
A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina,
arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais.
De susto, em pávida arritmia, o coração veloz batia
e a sossegá-lo eu repetia: "É um visitante e pede abrigo.
Chegando tarde, algum amigo está a bater e pede abrigo.
É apenas isso e nada mais."
Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim:
"Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito aí fora esperais;
mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido,
que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta,
assim de leve, em hora morta." Escancarei então a porta:
— escuridão, e nada mais.
Sondei a noite erma e tranquila, olhei-a fundo, a perquiri-la,
sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.
Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quedo,
só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia), e foi: "Lenora!"
E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: "Lenora!"
Depois, silêncio e nada mais.
Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente,
mais forte, o ruído recomeça e repercute nos vitrais.
"É na janela" — penso então. — "Por que agitar-me de aflição?
Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento,
o vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento.
É o vento só e nada mais."
Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto
— é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.
Como um fidalgo passa, augusto, e, sem notar sequer meu susto,
adeja e pousa sobre o busto — uma escultura de Minerva,
bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,
empoleirado e nada mais.
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA ROMÂNTICA
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Ao ver da ave austera e escura a soleníssima figura,
desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus ais.
"Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular" — então lhe digo —
"não tens pavor. Fala comigo, alma da noite, espectro torvo,
qual é o teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno torvo!"
E o Corvo disse: "Nunca mais".
Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,
misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais;
pois nunca soube de vivente algum, outrora ou no presente,
que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua porta,
uma ave (ou fera, pouco importa), empoleirada em sua porta
e que se chame "Nunca mais".
Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,
com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.
Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,
enquanto a mágoa me envenena: "Amigos... sempre vão-se embora.
Como a esperança, ao vir a aurora, ELE também há de ir-se embora".
E disse o Corvo: "Nunca mais".
Vara o silêncio, com tal nexo, essa resposta que, perplexo,
julgo: "É só isso o que ele diz; duas palavras sempre iguais.
Soube-as de um dono a quem tortura uma implacável desventura
e a quem, repleto de amargura, apenas resta um ritornelo
de seu cantar; do morto anelo, um epitáfio: — o ritornelo
de "Nunca, nunca, nunca mais".
Como ainda o Corvo me mudasse em um sorriso a triste face,
girei então numa poltrona, em frente ao busto, à ave, aos umbrais
e, mergulhando no coxim, pus-me a inquirir (pois, para mim,
visava a algum secreto fim) que pretendia o antigo Corvo,
com que intenções, horrendo, torvo, esse ominoso e antigo Corvo
grasnava sempre: "Nunca mais".
Sentindo da ave, incandescente, o olhar queimar-me fixamente,
eu me abismava, absorto e mudo, em deduções conjeturais.
Cismava, a fronte reclinada, a descansar, sobre a almofada
dessa poltrona aveludada em que a luz cai suavemente,
dessa poltrona em que ELA, ausente, à luz que cai suavemente,
já não repousa, ah!, nunca mais...
O ar pareceu-me então mais denso e perfumado, qual se incenso
ali descessem a esparzir turibulários celestiais.
"Mísero!, exclamo. Enfim teu Deus te dá, mandando os anjos seus,
esquecimento, lá dos céus, para as saudades de Lenora.
Sorve o nepentes. Sorve-o, agora! Esquece, olvida essa Lenora!"
E o Corvo disse: "Nunca mais."
"Profeta! — brado. — Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal
que o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais,
de algum naufrágio, a esta maldita e estéril terra, a esta precita
mansão de horror, que o horror habita, imploro, dize-mo, em verdade:
EXISTE um bálsamo em Galaad? Imploro! Dize-mo, em verdade!"
E o Corvo disse: "Nunca mais".
142
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
"Profeta!" — exclamo — "Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal!
Pelo alto céu, por esse Deus que adoram todos os mortais,
fala se esta alma sob o guante atroz da dor, no Éden distante,
verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Lenora,
— essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora!"
E o Corvo disse: "Nunca mais!"
"Seja isso a nossa despedida!"— ergo-me e grito, alma incendida. —
"Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais!
Nem leve pluma de ti reste aqui, que tal mentira ateste!
Deixa-me só neste ermo agreste! Alça teu voo dessa porta!
Retira a garra que me corta o peito e vai-te dessa porta!"
E o Corvo disse: "Nunca mais!"
E lá ficou! Hirto, sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,
sobre o alvo busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.
No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal, em sonhos, dorme,
e a luz da lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.
Nela, que ondula sobre a alfombra, está minha alma; e, presa à sombra,
não há de erguer-se, ai! Nunca mais! (POE, 1997, p. 62-65).
A partir da leitura, você deve ter percebido, além da temática, a composição 
do poema. São 18 estrofes, cada uma contendo cinco versos longos, seguido de um 
curto em que se repete a palavra “Nunca mais” (nevermore). Nele, há um jogo de 
relações entre as personagens do eu lírico, o corvo e Lenora, já morta, apresentada 
como a jovem amada pelo personagem que narra um episódio vivido no passado, 
atrelado à sua ânsia para acalmar a dor da ausência e à possibilidade de um reencontro 
dos amantes numa outra vida. Desejo interrompido pela fatídica resposta do corvo: 
Nunca mais! Enfurecido, o eu lírico tenta expulsar a agourenta ave de seu quarto.
FIGURA 5 – O CORVO, ILUSTRAÇÃO DE GUSTAVE DORÉ
FONTE: <http://cantosdasubversao.blogspot.com/2011/10/ilustracoes-de-gustave-dore-o-corvo.html> . Acesso em: 25 nov. 2018.
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA ROMÂNTICA
143
Você sabia que o poema O Corvo, de Edgar Allan Poe, também foi adaptado 
para o seriado de animação norte-americano Os Simpsons, em 1990? No episódio A casa 
da árvore dos horrores I, a personagem Lisa lê o conto para o seu irmão Bart. A história é 
encenada pelo patriarca Homer, que faz o papel do poeta. Confira a interessante recriação do 
poema no link: https://www.youtube.com/watch?v=XOC66LDjkxI.
IMPORTANT
E
FONTE: https://poesclub.blogspot.com/2013/12/o-corvo-nos-simpsons.html. Acesso: 16 
de jan. 2019
Diante desse repertório diversificado, você pode sugerir aos seus alunos atividades didáticas 
interessantes. Que tal apresentar o poema de Poe na tradução em espanhol, junto com 
as imagens de Gustave Doré e a animação dos Simpsons? O link a seguir disponibiliza a 
tradução realizada para o espanhol por Pérez Bonalde https://es.wikisource.org/wiki/El_
cuervo_(Traducci%C3%B3n_de_P%C3%A9rez_Bonalde).
Experimente usar a tradução como ferramenta de ensino-aprendizagem da literatura e da 
língua espanhola, explorando a temática do poema, o autor e o contexto de produção, o 
vocabulário e as particularidades de cada idioma.
Para complementar, solicite a criação, em grupos, de poemas envolvendo histórias de terror e 
suspense. A partir daí os alunos também podem produzir desenhos, histórias em quadrinhos, 
nas versões tradicionais e/ou digitais, fazer animações, gravações em áudio, entre outras 
atividades. Na internet, há uma série de recursos educativos à disposição dos alunos. É 
importante deixar os alunos livres para escolher a melhor maneira de expressar a criatividade. 
Ainda sobre o gênero lírico da época romântica, voltamos a apresentar o 
francês Victor Hugo com suas coletâneas de poemas líricos: Odes et ballades (1822-
28), Orientales (1829), Les rayons en les ombres (1840) e a obra poética de maior 
destaque: La légende des siècles (1859). O italiano Giacomo Leopardi (1798-1837), 
outro grande poeta da literatura ocidental, cuja produção lírica está compilada no 
volume chamado Canti (Cantos). Leopardi também se sobressai na prosa literária 
com a obra Operrete morali (1827), uma coleção de 24 histórias de argumentação 
144
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
filosófica na qual prevalece o registro cômico-satírico sobre a existência, o mal 
e a dor, a (in)consciência, a felicidade, entre outros temas. Zibaldone di Pensieri 
(1898), mais uma importante obra do autor, apresenta apontamentos diversos 
sobre filosofia, literatura, política, sobre o homem e o mundo. Reflexões que 
influenciaram autores como Nietzsche, Machado de Assis, Calvino, destaca 
Guerini (2001).
DICAS
A pesquisadora brasileira Andreia Guerini possui uma vasta produção 
acadêmica sobre as obras de Giacomo Leopardi. Com o objetivo de oferecer ao leitor 
uma amostra das discussões do poeta sobre poesia, Guerini selecionou e traduziu para o 
português alguns dos fragmentos do Zibaldone di Pensieri, disponíveis no site da Revista 
Caderno de Literatura em Tradução, da Universidade de São Paulo (USP), no link http://www.
revistas.usp.br/clt/article/view/49361.
Dos muitos Romantismos da literatura ocidental, o principal poeta 
em língua portuguesa foi Almeida Garret, reconhecido como um intelectual 
politicamente combativo. Seus poemas valorizam temas populares e estimulam o 
sentimento nacional. O poema Camões, marco inicial do Romantismo português, 
gira em torno da composição de Os Lusíadas e da vida sentimental de seu autor. 
Já no Brasil, Gonçalves Dias dá ênfase à frustração amorosa, ao indianismo, à 
melancolia e à saudade; Álvares de Azevedo tende para a poesia pessimista 
e melancólica, como também para a prosa de suspense e horror, expressos 
na obra Noite na Taverna (1855), ao estilo do escritor britânico Lord Byron. Na 
poesia brasileira, Castro Alves, influenciado pelo francês Victor Hugo, foi quem 
problematizou as questões sociais de forma mais crítica, sensibilizando o leitor 
especialmente no que diz respeito à condição humana do negro escravizado, 
distanciado-se das gerações anteriores, como demonstra o fragmento do poema 
Vozes d'África reproduzido no Quadro 1.
Vozes d'Africa
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
QUADRO 1 – FRAGMENTO DO POEMA VOZES D’ÁFRICA, DE CASTRO ALVES
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA ROMÂNTICA
145
— Infinito: galé! ...
Por abutre — me deste o sol candente,
E a terra de Suez — foi a corrente
Que me ligaste ao pé...
[...]
FONTE: <http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/bndigital0127.pdf>. Acesso em: 
16 jan. 2019.
A poesia em língua espanhola também revela vários poetas, como 
o argentino Esteban Echeverría (1805-1851), que, por influência francesa, 
penetrou no movimento de renovação intelectual e introduziu o Romantismo na 
Argentina, motivado pela necessidade de construir uma nação através de uma 
literatura própria, assim como surgiu na literatura brasileira o desejo de destacar 
as potencialidades do país, seus temas culturais, a natureza local, a valorização 
do povo nativo. No poema La Cautiva, Echeverría concebe a ideia de literatura 
nacional, apresentando o deserto do pampa argentino. Leia, a seguir, um trecho 
do poema.
LA CAUTIVA
PARTE PRIMERA 
 
El Desierto 
 
Era la tarde, y la hora 
en que el sol la cresta dora 
de los Andes. El Desierto 
inconmensurable, abierto, 
y misterioso a sus pies 
se extiende; triste el semblante, 
solitario y taciturno 
como el mar, cuando un instante 
al crepúsculo nocturno, 
pone rienda a su altivez
QUADRO 2 – LA CAUTIVA, DE ESTEBAN ECHEVERRÍA
FONTE: Jozef (1989, p. 64-65)
Encerramos nossas reflexões sobre a poesia romântica destacando José 
Hernandez (1834-1886), outro autor importante que você estudará com mais 
profundidade ao longo dos seus estudos sobre a literatura hispano-americana. 
Hernandez faz parte de um grupo de autores que difundiu a poesia gauchesca 
na Argentina, adotando o falar campesino, representando o mundo pastoril das 
estâncias, a classe social rural dos gaúchos. Seu poema narrativo Martín Fierro, 
considerado uma obra-prima de forte valor patriótico, foi lançado pela primeira 
146
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
vez em 1872, com o título El gaucho Martín Fierro, composto por 13 cantos; e a 
segunda parte La vuelta de Martín Fierro, composta por 33 cantos, foi publicada 
em 1879. Posteriormente, as duas obras passaram a ser editadas em um único 
volume de Martin Fierro, com as respectivas partes intituladas La ida e La vuelta.
No poema de Hernandez encontramos “uma preocupação estética ao 
lado da ética", observa Jozef (1989, p.73-74), ao destacar os versos no Quadro 
3 como uma demonstração da consciência do autor sobre a importância de sua 
obra enquanto registro contundente da realidade:
QUADRO 3 – LA VUELTA DE MARTÍN FIERRO, DE JOSÉ HERNANDEZ
FONTE: Jozef (1989, p. 73-74)
Yo he conocido cantores
Que era un gusto el escuchar;
Mas no quierem opinar
y se divierten cantando.
Pero yo canto opinando
Que es mi modo de cantar.
Ou ainda:
Que he relatado a mi modo
Males que conocen todos
Pero que naides cantó.
TÓPICO 2 | A ESTÉTICA ROMÂNTICA
147
DICAS
É possível ler o poema Martin Fierro de modo interativo no site da Biblioteca Nacional da 
Argentina, disponível em: http://fierro.bn.gov.ar/fierro.php#samples/fierro-ida.
Além dessa experiência dinâmica e instigante, é possível acessar vários trabalhos sobre José 
Hernandez e a Literatura Gauchesca. Vale a pena a leitura para complementar as discussões 
dessa unidade e saber um pouco mais sobre a literatura espanhola da América Latina.
FONTE: <http://fierro.bn.gov.ar/fierro.php#samples/fierro-ida>. Acesso em: 20 mar. 2019.
5 O TEATRO ROMÂNTICO
No Romantismo, o gênero dramático se afirmou em oposiçãoà estética 
clássica, abolindo as regras rígidas, principalmente a lei das três unidades. O 
drama passou a incluir elementos narrativos e líricos, "misturando-se o trágico 
com o cômico, a poesia com a música e o canto, a prosa com o verso" (D’ONOFRIO, 
1990, p. 364), com destaque para a ópera e seu aspecto lírico. Na época romântica, 
vários foram os dramaturgos considerados importantes. 
Na França, destaca-se o compositor Hector Berlioz (1803-1869) e suas obras 
Benenuto Cellini, Beatrice; e Georges Bizet (1838-1875), com a ópera Carmem. Na 
Alemanha, os autores Richard Wagner (1813-1883) e a famosa peça Tristão e Isolda, 
entre outros dramas renomados, como também Goethe e o poema dramático Fausto. 
No Brasil, o teatro romântico surgiu com Martins Penna (1815-1848), que usou o 
humor na crítica de costumes da sociedade do século XIX, destacando temas sobre 
ricos e pobres, casamentos por interesse, escravidão etc. Suas principais obras são: 
Juiz de paz na roça, Judas em sábado de aleluia e O noviço. No país, temos ainda as óperas 
O condor (1871) e O Guarani (1873), de Carlos Gomes. E no teatro da literatura em 
língua espanhola aponta-se o nome do dominicano Javier Foxá (1816-1865) como o 
primeiro dramaturgo romântico, que escreveu o drama Don Pedro de Castilla.
148
Neste tópico, você aprendeu que:
• Romantismo foi um movimento literário bastante fértil e diversificado, que se 
estendeu até a segunda metade do século XIX e destacou diversos escritores no 
cenário artístico ocidental.
• As origens das manifestações românticas foram marcadas por ideias de 
liberdade e rebeldia.
• Os escritores românticos desconstruiam modelos preestabelecidos, valorizavam 
a originalidade e potencializavam a representação da individualidade.
• O gênero romance destacou-se no século XIX, assumindo um caráter inovador 
e popular, uma configuração que se difere historicamente da prosa de ficção 
elaborada na Antiguidade Clássica e na Idade Média.
• A imprensa contribuiu significativamente para a popularidade do romance 
nos séculos XVIII e XIX.
RESUMO DO TÓPICO 2
149
AUTOATIVIDADE
1 O movimento artístico-literário do Romantismo está diretamente 
relacionado ao desenvolvimento sociocultural ocorrido na Europa em 
meados do século XVIII. Analise as proposições relacionadas à concepção 
romântica e assinale a alternative correta.
I. O Romantismo propôs uma ruptura com a rigidez formal da tradição 
literária clássica, privilegiando a representação da individualidade.
II. Os romances da época abandonam as tradições locais e a imaginação para 
enfatizar enredos pautados em aspectos objetivos e racionais.
III. Os textos literários dos escritores do Romantismo são frutos de construções 
lúcidas que enaltecem a moral comum e os costumes sociais.
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
2 Leia a seguir um trecho das reflexões do jovem Werther, protagonista do 
romance Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, e analise as seguintes 
asserções.
– Paixão! Embriaguez! Loucura! Conservai-vos tão serenos, tão 
desinteressados, vós, os moralistas; cobris de injúrias o bêbado, detestais 
o insensato, passais ao largo como o sacerdote e agradeceis a Deus, tal o 
fariseu, por não vos ter feito iguais a eles.
Mais de uma vez me embriaguei, minhas paixões nunca estiveram longe da 
loucura e não me arrependo nem de uma coisa nem de outra, apesar de terem 
me ensinado que sempre haveria
de menoprezar todos os indivíduos excepcionais que fizeram algo de 
grandioso, algo de aparentemente irrealizável!
– Mas também na vida cotidiana é insuportável ouvir quase sempre gritar 
para qualquer um empenhado numa ação livre, nobre, inesperada: “É um 
bêbado, está louco!”
Envergonhai-vos, vós todos tão sóbrios! Envergonhai-vos, vós todos tão 
sensatos!
FONTE: GOETHE, J. Wolfgang von. Os sofrimentos do Jovem Werther. Tradução de 
Leonardo César Lack. São Paulo: Abril, 2010.
150
I. A exaltação dos sentimentos, a fantasia e a embriguez são traços românticos 
expressos nas reflexões do jovem Werther.
II. Werther defende o impulso das paixões sem que haja um estado de 
desequilíbrio e de semiconsciência do ser humano. 
III. A visão de Werther expressa uma insatisfação com a vida cotidiana e 
representa uma ruptura com o espírito racionalista. 
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
3 Leia o poema Cantos del Peregrino, do argentino José Marmól (1817-1871), e 
responda à seguinte questão.
Si en peregrina vida por los etéreos llanos 
Las fantasías bellas de los poetas van, 
Son ellas las que brillan en rutilantes mares
Allá en los horizontes del cielo tropical.
Allí las afliciones se avivan en el alma.
Allí se poetize la voz del corazón;
Allí es poeta el hombre; allí los pensamientos
Discurren solamente por la region de Dios.
FONTE: JOZEF, Bella. História da literatura hispano-americana. 3. ed. Rio de Janeiro: F. 
Alves, 1989. p.66.
No fragmento do poema a característica romântica observada é:
a) ( ) A erudição do vocabulário.
b) ( ) O predomínio dos contrastes da natureza.
c) ( ) A objetividade do eu lírico.
d) ( ) A peregrinação e as aflições da alma dos poetas.
e) ( ) A construção racional do mundo interior.
151
TÓPICO 3
REALISMO E NATURALISMO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos continuar estudando as relações entre os textos 
literários e seus contextos de produção, reforçando a ideia de que uma obra, em 
sua singularidade, se insere no espaço e no tempo de um conjunto complexo de 
ideias e valores. Enfatizaremos os pressupostos filosóficos e científicos, bem como 
os princípios estéticos e ideológicos do momento histórico do século XIX, no qual 
estavam inseridos grandes autores da literatura universal, entre eles, Honoré de 
Balzac, Gustave Flaubert, Charles Dickens, Thomas Mann, Leon Tolstoi, Eça de 
Queirós, Machado de Assis e Émile Zola.
A segunda metade do século XIX acompanhou um grande avanço das 
ciências e os efeitos gerados pela Revolução Industrial, que prometia prosperidade 
econômica e desenvolvimento técnico e científico, mas, por outro lado, acentuou 
a distinção entre a burguesia e a classe trabalhadora. A desilusão com os ideais de 
liberdade, igualdade e fraternidade, instituídos pela Revolução Francesa, também 
intensificou as críticas à sociedade burguesa, acerca do egoísmo e individualismo. 
Nesse contexto, diferentes doutrinas surgiram na Europa.
Dentre elas, destaca-se a concepção do Socialismo científico, de Karl 
Marx, cujos ideais propunham critérios de justiça social à classe operária. 
Segundo sua visão, as duas classes, capitalista e operária, divergiam do ponto de 
vista econômico e político, pois a primeira privilegiava os próprios interesses e 
explorava a segunda, que precisa reivindicar por melhores condições de trabalho. 
Para Marx, a classe operária ocupa um papel central no desenvolvimento 
econômico e deveria combater a exploração para equilibrar a divisão de lucros 
entre os trabalhadores. Essas discussões foram expostas nas suas principais obras: 
O manifesto do Partido Comunista (1848) e O Capital (1827).
 A Teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin, que constatou 
que o ser humano é resultado de um longo processo de evolução e adaptação, 
também foi fundamental. Sua obra mais famosa é a A origem das espécies (1859), 
que causou grande polêmica na época. Nela, Darvin propõe a teoria evolucionista: 
as espécies de animais derivam mutuamente da seleção natural; substituindo a 
teoria criacionista, na qual as espécies teriam sido criadas por Deus e nunca se 
transformaram. Temos ainda o Determinismo, de Hippolyte Taine, com a tríade 
"raça, meio e momento", que apresenta o ser humano como um produto do meio 
em que se encontra, da sua herança cultural, social e biológica. E, finalmente, 
o Positivismo, defendido por Auguste Comte,apontando o saber baseado nas 
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
152
leis científicas como sendo superior aos demais saberes. Vale salientar que 
o Positivismo materialista é fruto da ideologia dos pensadores iluministas e 
enciclopedistas, que acreditaram no progresso técnico-industrial da civilização. 
Essas doutrinas influenciaram o modo como as artes plásticas e a literatura 
representavam o mundo, impulsionando o surgimento de movimentos como o 
Realismo e o Naturalismo. 
2 A LINGUAGEM DO REALISMO
Os sentimentos idealizados anteriormente pela estética romântica 
dão lugar a uma análise racionalista e objetiva da realidade, fazendo com que 
os artistas do Realismo retratem a vida cotidiana e denunciem os problemas 
sociais de modo mais objetivo e concreto. O termo Realismo designa, portanto, a 
tendência da literatura do século XIX ligada ao grau de aproximação da realidade 
em contraposição à fantasia. Para os autores realistas, a função do artista era 
representar os acontecimentos com fidelidade, sem maquiá-los, acentuando, 
muitas vezes, seus aspectos mais cruéis. Por isso, repudiam o sobrenatural, o 
fantástico, o extraordinário, o exótico, o utópico, elementos característicos do 
Romantismo.
O artista realista não apenas documenta a realidade, mas procura 
compreendê-la, descobrir o sentido das ações e dos temperamentos 
humanos. […] A arte tem que descrever o que acontece atualmente nas 
minas, nas fábricas, nos cortiços, nas cidades, na política, nos negócios, 
nas relações conjugais. Qualquer motivo de conflito do homem com 
seu ambiente pode ser assunto artístico. O protagonista preferido 
é o homem comum, vítima de taras hereditárias ou de condições 
ambientais desfavoráveis, e não o herói de origem nobre ou divina 
(D’ONOFRIO, 1990, p. 383). 
 A observação crítica da realidade e a crença nas ciências como meio para 
entender o homem e a sociedade eram os princípios estéticos e ideológicos do 
Realismo, que foram intensificados no Naturalismo.
 
3 AUTORES E OBRAS FUNDAMENTAIS
A prosa realista inicia-se com o francês Honoré de Balzac (1799-1850), 
apontado como pai do romance moderno. Para Carpeaux (2012c, p. 25):
A história do romance como gênero literário divide-se em duas 
épocas: antes e depois de Balzac. Com ele, até o termo mudou de 
sentido. Antes de Balzac, “romance” fora a relação de uma história 
extraordinária, "romanesca", fora do comum. Depois será o espelho do 
nosso mundo, dos nossos países, das nossas cidades e ruas, das nossas 
casas, dos dramas que se passam em nossos apartamentos e quartos. 
TÓPICO 3 | REALISMO E NATURALISMO
153
Nas reflexões acima, Carpeaux procura destacar o compromisso do 
Realismo com a verdade, pois o movimento literário realista atingiu "o grau mais 
elevado de verossimilhança na escolha e no arranjo estético do material ficcional”, 
reforça D’Onofrio (1990, p. 383).
Nesse sentido, Balzac foi o autor que retratou a sociedade do século XIX de 
forma mais perspicaz, através da monumental obra Comédia humana — um conjunto 
de 89 romances que faz um contraponto à Divina Comédia, de Dante Alighieri. A 
produção literária de Balzac levou 21 anos para ficar pronta. Ela divide-se em três 
partes. Na primeira, há uma descrição dos costumes da sociedade burguesa. Na 
segunda, encontramos pensamentos reflexivos sobre a vida; e na terceira parte o 
autor apresenta uma análise sobre o comportamento humano diante das instituições 
sociais. Sem dúvida, Balzac conseguiu captar profundamente a sua época.
A narrativa realista francesa ainda realça nomes como Guy de Maupassant 
(1850-1880), escritor de contos, romances e novelas. Gustave Flaubert (1850-1893) 
igualmente pautou suas produções pela objetividade, imortalizando a obra 
Madame Bovary, publicada em 1857. A seguir, você fará a leitura de um trecho da 
obra, no qual é representada, sem idealizações, a vida conjugal dos personagens 
Charles e Ema Bovary. 
[…] quanto mais próximas estivessem as coisas, mais o pensamento se 
lhe desviava delas. Tudo quanto a rodeava de perto, o campo enfadonho, 
burguesinhos imbecis, mediocridade da existência, lhe parecia uma excepção 
no mundo, um acaso particular a que se achava ligada, enquanto para além se 
estendia, a perder de vista, o imenso país das felicidades e das paixões. Nos 
seus desejos, ela confundia as sensualidades do luxo com as alegrias do coração, 
a elegância dos costumes com a delicadeza do sentimento. Não precisaria o 
amor, como as plantas da Índia, de terrenos preparados, de uma temperatura 
determinada? […]
Charles tinha boa saúde e um óptimo aspecto; a sua reputação estava 
definitivamente estabelecida. Os camponeses estimavam-no por não ser 
orgulhoso. Acariciava as crianças, nunca entrava na taberna e, além disso, 
inspirava confiança pela sua moralidade. Acertava sobretudo com os catarros e 
as doenças de peito. Tendo muito receio de matar os doentes, Charles, realmente, 
pouco mais receitava do que calmantes, de quando em quando um emético, 
um escalda-pés ou sanguessugas. Mas Charles não tinha nenhuma ambição! 
Um médico de Yvetot, com quem tivera ultimamente uma conferência, chegara 
mesmo a humilhá-lo, à própria cabeceira do doente, diante da família, reunida. 
Quando Charles lhe contou, à noite, o sucedido, Emma levantou a voz, furiosa 
contra o colega do marido. Charles enterneceu-se. Beijou-a na testa, com uma 
lágrima. Mas ela estava exasperada de vergonha e tinha ganas de lhe bater; foi 
abrir a janela do corredor e respirar o ar fresco para se acalmar.
QUADRO 4 – MADAME BOVARY, DE GUSTAVE FLAUBERT
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
154
- Que pobre homem! Que pobre homem! - dizia ela em voz baixa, mordendo 
os lábios.
Sentia-se, além disso, mais irritada com ele. Com a idade, Charles ia adquirindo 
certos hábitos grosseiros; à sobremesa entretinha-se a cortar as rolhas das 
garrafas vazias; depois de comer passava a língua sobre os dentes; quando 
comia a sopa, fazia barulho cada vez que engolia e, como tivesse começado 
a engordar, os olhos, já de si pequenos, pareciam subir-lhe para a testa, 
empurrados pelas bochechas.
Emma, às vezes, metia-lhe para dentro do colete a orla vermelha das camisolas, 
compunha-lhe a gravata, ou punha de parte as luvas desbotadas que ele se 
dispunha ainda a usar; e não era, como pensava Charles, por causa dele; era 
por ela própria, por expansão do seu egoísmo, por irritação nervosa. Às vezes 
também lhe falava de alguma coisa que tivesse lido, como do trecho de um 
romance, de uma peça nova, ou de histórias curiosas da alta-roda que vinham 
no folhetim; porque, afinal, Charles sempre era alguém, sempre com disposição 
para ouvir e pronto para dar a sua aprovação. Muitas confidências fazia ela à 
cadelinha galga! E tê-Ias-ia feito até às achas do fogão e ao pêndulo do relógio.
FONTE: <https://www.livros-digitais.com/gustave-flaubert/madame-bovary/70>. Acesso em: 16 
jan. 2019.
No romance da literatura inglesa, figura Charles Dickens (1812-1870), 
com David Copperfield, sua obra mais famosa. Na Alemanha, o destaque vai 
para Thomas Mann (1875-1955), em Os Buddenbrooks: decadência de uma família, 
romance que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literaura, em 1929. Na Rússia, o 
expoente do realismo é Leon Tolstoi (1828-1910) e suas obras Guerra e Paz e Ana 
Karenina. Em Portugal, Eça de Queirós surge como expoente, retratando temas 
acerca da hipocrisia, do aborto, da insensibilidade do clero, do falso moralismo, 
do adultério, como visto nas ficções O crime do padre Amaro e O primo Basílio.
TÓPICO 3 | REALISMO E NATURALISMO
155
DICAS
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-gCdY2luNtaE/TuIeWL6IicI/AAAAAAAAAZU/
jVnhmAARDGA/s1600/primobasc3adlio-euzinha_nit2.jpg>. Acesso em: 20 mar. 2019.
O filme brasileiro Primo Basílio, lançado em 2007, foi inspirado na obra do autor português. 
Nele, podemos perceber como o cinema reelaborou a contundente crítica à sociedade 
presente no romance. A história criada por Eça de Queirós aborda o envolvimento amoroso 
de Basílio comLuísa, casada com Jorge.
No Brasil, Machado de Assis é um nome consagrado pela crítica literária 
mundial, considerando a reconhecida complexidade de sua obra e suas inúmeras 
possibilidades de leituras. Para Gledson (2006), Machado de Assis foi o grande 
responsável pelo amadurecimento das discussões em literatura brasileira e sua 
relação com a sociedade, elevando-as a um novo grau de autoconsciência, pois 
tinha noção dessa necessidade nacional. Tal postura nos leva a compreender 
como ele transcende seus predecessores, José de Alencar e Manuel Antônio de 
Almeida. Machado de Assis seguiu o tom realista, criando enredos que abordam 
o estado íntimo do indivíduo, cujos contextos envolvem temas como clientelismo, 
o patriarcalismo, a escravidão, a mulher na vida social, entre outros assuntos que 
refletem sua época.
Envolto pelas novas ideias políticas, pelas teorias científicas e filosóficas 
que marcaram o contexto sociopolítico europeu, Machado de Assis refletiu esse 
momento de profusa transformação em sua arte literária. Após sua fase romântica, 
ele procurou enfatizar as questões psicológicas dos personagens, discutindo de 
modo introspectivo as vontades, as necessidades, os defeitos e as qualidades do 
ser humano, sob influência de grandes autores como Xavier de Maistre, Laurence 
Sterne, Dante Alighieri, Miguel de Cervantes e Shakespeare. É nesta fase mais 
madura que Machado de Assis rompe com o modelo convencional do romance 
linear, destacando-se com as obras: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), 
Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900) e Memorial de Aires (1908).
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
156
O romance Memórias póstumas de Brás Cubas, considerado representante 
do Realismo brasileiro, foi o introdutor do romance psicológico. O estilo 
memorialista tem o foco narrativo de primeira pessoa cujo autor é Brás Cubas, 
na verdade, um defunto-autor que deseja escrever a sua autobiografia. Nascido 
numa família da elite carioca do século XIX, o narrador, já morto, ressurge do 
túmulo para contar sua própria história, dedicando-a “ao verme que primeiro 
roeu as frias carnes do meu cadáver” (ASSIS, 2009, p.50), rememorando os fatos, 
sem recuperá-los fielmente. 
Em Memórias póstumas as marcas intertextuais se tornam persistentes à 
medida que Machado de Assis retoma, através de Brás Cubas, algumas leituras 
de grandes clássicos da literatura mundial. As digressões filosóficas do narrador-
personagem estão repletas de referências, alusões e citações de um texto em 
outro. Autores como Homero, Virgílio, Camões, Shakespeare, Byron e Leopardi 
constantemente dialogam com Brás Cubas em seu processo de autoanálise, de 
crítica existencial e social. 
Veja no excerto do capítulo 129, Sem remorsos, como Machado de Assis se 
apropria desses artifícios intertextuais.
Não tinha remorsos. Se possuísse os aparelhos próprios, incluía nesse 
livro uma página de química, porque havia de decompor o remorso 
até os mais simples elementos com o fim de saber de um modo 
positivo e concludente por que razão Aquiles passeia à roda de Troia o 
cadáver do adversário, e lady Macbeth passeia à volta de sua sala a sua 
mancha de sangue. Mas eu não tenho aparelhos químicos, como não 
tinha remorsos; tinha vontade de ser ministro do Estado. Contudo, 
se hei de acabar este capítulo, direi que não quisera ser Aquiles nem 
Lady Macbeth; e que, a ser alguma coisa, antes Aquiles, antes passear 
ovante o cadáver do que a mancha; ouvem-se no fim as súplicas de 
Príamo, e ganha-se uma bonita reputação militar e literária. Eu não 
ouvia as súplicas de Príamo, mas o discurso de Lobo Neves, e não 
tinha remorsos (ASSIS, 2009, p. 218).
Nesse trecho, percebemos o jogo intertextual, há referências à cena presente 
na obra Ilíada, de Homero, na qual Aquiles arrasta o cadáver de Heitor, filho de 
Príamo. O fragmento do romance ainda faz alusão à personagem de Macbeth, de 
Shakespeare. Lady Macbeth incentiva seu marido a assassinar o rei Ducan para 
assumir o trono. Sentindo remorso e culpa, ela vê tais manchas de sangue.
O uso do fluxo de autoconsciência também eleva a particularidade 
do romance. Técnica narrativa muito recorrente em autores como Sterne, cuja 
personagem de A vida e opiniões de Tristam Shandy soa bastante familiar, pois 
retrata um homem que conta sua própria história de forma irônica, rompendo a 
continuidade de seu discurso, destaca Bosi (2006b).
Como é possível notar, na literatura, muitas influências temáticas e formais 
são ressignificadas. O que faz da literatura um exercício contínuo de recriação de 
textos. E o que faz dos grandes clássicos, nas discussões consagradas por Ítalo 
Calvino, no célebre texto Por que ler os clássicos, que analisamos na Unidade 1, 
TÓPICO 3 | REALISMO E NATURALISMO
157
livros que provocam reflexões incessantes, impõem-se como inesquecíveis e se 
mimetizam no inconsciente coletivo e individual. No final da Unidade 2, você 
retomará esses diálogos textuais lendo um artigo que entrecruza as obras de 
Cervantes e de Machado de Assis. 
Machado de Assis absorveu as tendências literárias do Ocidente e observou 
intensamente a sociedade brasileira. Escreveu romances, peças de teatro, poemas, contos e 
crônicas, críticas literárias, além de ter traduzido obras estrangeiras e publicado importantes 
artigos jornalísticos.
Você pode conferir o amplo acervo machadiano no site do autor. Ao navegar pela página, 
aproveite para acessar as produções acadêmicas, os depoimentos de estudiosos e conhecer 
um pouco mais sobre a biografia de Machado de Assis.
Confira também o acervo com obras, imagens e estudos críticos sobre o autor disponível na 
Biblioteca Miguel de Cervantes, no portal dedicado ao escritor brasileiro.
IMPORTANT
E
 (a) (b)
FONTES: (a) <http://www.machadodeassis.org.br/>; (b) <http://www.cervantesvirtual.com/
portales/joaquim_maria_machado_de_assis/>.
Vale destacar algumas obras machadianas que foram adaptadas para a televisão e para o 
cinema, como o filme Memórias póstumas de Brás Cubas (2001) e a minissérie Capitu (2008), 
uma releitura do romance Dom Casmurro.
4 O NATURALISMO
A observação objetiva da realidade, no nível ideológico, será acentuada 
no Naturalismo com a demonstração de uma visão determinista da sociedade, 
cujo objetivo é revelar explicitamente os fenômenos coletivos, as condições sub-
humanas de vida e de trabalho, como fez o escritor francês Émile Zola ao abordar 
temas considerados tabus para a época. 
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
158
Criador do “romance experimental”, Zola produziu narrativas literárias 
com o objetivo de retratar a totalidade da sociedade francesa de seu tempo, 
adotando um estilo incisivo que se aproxima do método científico de análise das 
relações sociais. Suas obras abordam as mazelas da classe trabalhadora parisiense, 
em A Taberna (L´Assommoir - 1876); a prostituição, expressa no romance Nana 
(1880); a luta dos mineradores, em Germinal (1885); a miséria dos ferroviários, em 
A besta humana (1890), entre outras temáticas.
O Naturalismo foi um movimento literário que acentuou o método 
cientificista e procurou retratar o ser humano como produto das forças da 
natureza, aguçando a reação às instituições sociais. Por isso, muitos estudiosos 
afirmam que o Naturalismo é uma radicalização do Realismo. Nos romances 
naturalistas, a rudeza e a animalidade são vistas como parcelas constituintes das 
pessoas. Elas são retratadas como produtos biológicos que agem de acordo com 
seus instintos. Ou seja, os escritores pregavam um estudo direto e não idealizado 
para o indivíduo e para a sociedade.
O Naturalismo propriamente dito, causador de tantas libertações, 
limitações e equívocos, é o Naturalismo francês: é indispensável defini-
lo melhor, em relação ao Realismo precedente. Balzac observa os fatos 
sociais e julga-os conforme sua ideologia. Esta também lhe fornece um 
esquema em queenquadra suas observações: um universo social, fechado 
e estático, composto por classes mais ou menos rigidamente separadas. 
As pessoas só existem como membros dessas classes. Destacam-se, no 
seu ambiente, pelas paixões que impulsionam, paixões ou até manias; os 
personagens de Balzac viram tipos, personificações de ideias abstratas. 
Mas os indivíduos de Zola não são abstrações personificadas; são, ao 
contrário, casos atípicos, exemplificações de conceitos abstratos. Não 
são maníacos, obsediados por determinada paixão. Até pode acontecer 
que não tenham nenhum caráter definido. Pois o mundo de Zola já não 
é estático. Encontra-se em movimento, em evolução, conforme as leis da 
biologia, do darwinismo, da hereditariedade. A mera observação já não 
basta para dominá-los. Precisa-se, para tanto, de uma teoria cientificista 
(CARPEAUX, 2012e, p. 276-277).
Você terá uma dimensão da intensificação da crítica naturalista de 
Zola no fragmento exposto a seguir, do romance Germinal, um dos trabalhos 
mais famosos do autor. A narrativa destaca as péssimas condições de vida dos 
trabalhadores das minas de carvão na França do século XIX, abordando as relações 
e as condições precárias de trabalho, a luta de classes. O trecho em questão mostra 
como a Senhora Hennebeau, pertencente à classe abastada, percebe a situação 
dos mineradores.
[…]
A Sra. Hennebeau, sempre dando-se ares de mãe condescendente, sorvia o 
leite aos golinhos, quando um barulho estranho vindo de fora e que ia num 
crescendo a inquietou.
QUADRO 5 – EXCERTO DE GERMINAL, DE ÉMILE ZOLA
TÓPICO 3 | REALISMO E NATURALISMO
159
— Que é isso?
O estábulo, construído à beira da estrada, possuía uma porta larga, para carroça, 
porque servia ao mesmo tempo de palheiro. As moças já tinham espichado os 
pescoços e espantavam-se com o que viam à esquerda: uma vaga negra, uma 
multidão que desembocava ululante do caminho de Vandame.
— Diabo! — murmurou Négrel, que também tinha saído. — Será que os nossos 
gabolas decidiram brigar?
— Devem ser outra vez os mineiros — disse a camponesa. — Já passaram por 
aqui duas vezes. Parece que a coisa vai mal, eles estão donos da região.
[…]
A Sra. Hennebeau, muito pálida, cheia de ódio contra aquela gentalha que 
estragava um dos seus prazeres, mantinha-se atrás lançando olhares oblíquos 
e enojados, enquanto Lucie e Jeanne, apesar de trêmulas, espiavam por uma 
fresta, não querendo perder nada do espetáculo.
[…] 
As mulheres tinham aparecido, cerca de mil, cabelos ao vento, desgrenhados 
pela correria, os farrapos deixando à mostra a pele nua, nudez de fêmeas 
exaustas de parir mortos-de-fome. Algumas traziam os filhos nos braços, e 
levantavam-nos, agitando-os como uma bandeira de luto e vingança. Outras, 
mais jovens, com peitos estufados de guerreiras, brandiam paus, enquanto 
as velhas, monstruosas, berravam tão alto que as veias dos seus pescoços 
descarnados pareciam rebentar. Em seguida vieram os homens, dois mil 
furiosos, aprendizes, britadores, consertadores, verdadeira massa compacta 
que rolava como se fosse feita de um só bloco, apertada, confundida, a ponto 
de não se distinguirem as calças desbotadas ou os suéteres esfarrapados, 
esbatidos na mesma uniformidade terrosa. Os olhos faiscavam, viam-se apenas 
os buracos negros das bocas cantando a Marselhesa, cujas estrofes se perdiam 
num bramido confuso acompanhada pelo bater dos tamancos na terra dura. 
Acima das cabeças, entre a floresta de barras de ferro, passou um machado, bem 
ao alto. Esse único machado, que era como o estandarte do bando, desenhava 
no céu claro o perfil aguçado de um cutelo de guilhotina.
— Que caras horrendas! — balbuciou a Sra. Hennebeau. Négrel disse entre 
dentes:
Realmente, a cólera, a fome, os dois meses de sofrimentos e aquela correria 
desenfreada pelas minas tinham transformado em mandíbulas de animais ferozes 
as feições plácidas dos mineiros de Montsou. Naquele momento o sol desaparecia; 
os últimos raios, de um púrpuro sombrio, pareciam ensanguentar a planície. E a 
estrada também pareceu lavada em sangue; as mulheres e os homens continuavam 
marchando, cobertos de sangue, como carniceiros em plena matança.
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
160
[…]
Era a visão vermelha que arrastaria a todos, fatalmente, numa dessas noites 
sangrentas desse fim de século. Sim, uma noite, o povo em torrentes, desenfreado, 
correria assim pelos caminhos, gotejando o sangue burguês, exibindo cabeças, 
semeando o ouro dos cofres arrombados. As mulheres gritariam, os homens 
abririam suas queixadas de lobos, prontos para morderem. Sim, seriam os 
mesmos farrapos, o mesmo matraquear de tamancos grosseiros, a mesma 
turba assustadora, suja, de hálito fétido, varrendo o mundo caduco com a 
sua irresistível avalanche de bárbaros. Arderiam incêndios, nas cidades não 
ficaria pedra sobre pedra, regredir-se-ia à vida selvagem das florestas após o 
grande cio, o grande rega-bofe, em que os pobres, numa só noite, extenuariam 
as mulheres e esvaziariam as adegas dos ricos. Não sobraria nada, as fortunas 
e os títulos das situações adquiridas desapareceriam, até o dia em que talvez 
desabrochasse uma nova sociedade. Sim, eram essas coisas que estavam 
passando pela estrada, como uma força da natureza, e vinha delas o vento 
terrível que lhes açoitava os rostos.
FONTE: Zola (2006, p. 273-275)
DICAS
Outro filme interessante que estabelece um diálogo com a 
literatura é Germinal, uma releitura feita por Claude Berri, em 1993, baseada 
no romance de Émile Zola.
FONTE: <https://images.justwatch.com/poster/34990700/s276/germinal>. 
Acesso em: 20 mar. 2019.
TÓPICO 3 | REALISMO E NATURALISMO
161
LEITURA COMPLEMENTAR
Diálogo textual: el Quijote y la obra de Machado de Assis
 María Augusta da Costa Vieira
1 Machado de Assis, Cervantes y Carlos Fuentes
Carlos Fuentes fue el que se dio cuenta de la intensa relación de parentesco 
entre los dos escritores al constatar en la obra del brasileño una concepción 
novelística similar a la de Cervantes, que se manifiesta por medio de la recurrencia 
a muchos de los procedimientos narrativos utilizados en el Quijote (Fuentes 1998: 
8-16). Machado de Assis, según Fuentes, fue el único escritor iberoamericano 
del siglo XIX que recuperó las sendas cervantinas, inscribiéndose en lo que él 
designaría como la tradición de la Mancha.; los demás novelistas, según el escritor 
mexicano, estarían circunscritos a otra tradición, la de Waterloo, y, por lo tanto, 
no utilizaron en sus creaciones los artificios narrativos presentes en la obra del 
manco de Lepanto.
La tradición de la Mancha, tan característica como fundamental para la 
novela moderna, correspondería a la forma narrativa iniciada por Cervantes y 
seguida por Sterne y Diderot, en que predominan las técnicas de la metaficción, 
la ironía, la mezcla de los géneros, la poética de la digresión, entre otros 
procedimientos, en un discurso que tiene conciencia de su naturaleza ficcional. La 
tradición de Waterloo sería la contrapartida realista que encuentra en Stendhal, 
Balzac y Dostoievski su mayor representación y que, basándose en la experiencia, 
trata de imitar en la narrativa las marcas del discurso histórico.
La excepcionalidad de la obra de Machado de Assis en el context 
decimonónico iberoamericano, efectivamente, tiene mucho que ver con la forma 
narrativa cervantina como observa Fuentes; así como también con la de Laurence 
Sterne y Xavier de Maistre, según indica en su prólogo el propio narrador de 
Memórias póstumas de Brás Cubas, novela clave del escritor brasileño publicada 
en 1881. Sin embargo, si es posible observar las improntas de la obra cervantina 
en la prosa de Machado de Assis, el origen de esa nueva forma encuentra sus 
raíces en una vieja tradición de fines de la Antigüedad, presente en los textos de 
Luciano y de los filósofos cínicos.
En el caso de la obra de Machado de Assis y, en particular, de Memórias 
póstumas, como señaló José Guilherme Merquior (1990: 5-9), las técnicas de 
composición,la mezcla de estilos, así como el humor filosófico-mordaz y la 
irreverencia en relación a los principios de composición de un relato verosímil 
dialogan con la obra de Luciano de Samosata y, más específicamente, con el 
Diálogo de los Muertos. Algunos de los estudios críticos publicados en los últimos 
años señalan la filiación del novelista brasileño a la tradición iniciada por este 
autor del siglo II, de quien Machado conservaba algunas obras en su biblioteca.
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
162
Si bien no se puede decir lo mismo de Cervantes, se sabe que los textos 
del Luciano clásico junto a los de los cínicos fueron muy estimados por los 
humanistas peninsulares a lo largo del siglo XVI y, de entre los griegos y latinos 
que se traducen en España, Luciano es especialmente apreciado y traducido, 
incluso por Erasmo (Grigoriadu, 2005). La importancia que Cervantes atribuye 
a la parodia de las formas consagradas, la mezcla de géneros, la subversión de 
discursos y verdades establecidas, el punto de vista distanciado y la creación de 
un texto auto-reflexivo que describe su propia condición son procedimientos 
narrativos que se encuentran en los cínicos y, naturalmente, en Luciano. Riley, 
en uno de sus estudios sobre El licenciado Vidriera y El coloquio de los perros, 
pone en evidencia las relaciones de Cervantes con la tradición de los cínicos 
presente no sólo en las novelas mencionadas sino también en otras partes de la 
obra cervantina (Riley, 2001: 219-238).
Lo que parece ser más prudente en este caso, sin ignorar la importancia 
de Cervantes en la formación de la novela como género, sería considerar tanto al 
novelista brasileño como al autor del Quijote como pertenecientes a una misma 
tradición literaria que, entre otras cosas, entiende que la narrativa es un diálogo 
intenso con variadas formas discursivas, estructurado sobre la noción de parodia. 
En este caso, Cervantes no sería exactamente el padre de Machado, como le 
hubiera gustado a Carlos Fuentes, sino más bien su padrasto.
[…]
FONTE: VIEIRA, Maria Augusta da Costa. Diálogo textual: el Quijote y la obra de Machado de 
Assis. In: SCHMIDT-WELLE, Friedhelm; SIMSON, Ingrid. El Quijote en America. Amsterdam - 
New York: Rodopi B.V, 2010, p. 145-160
163
Neste tópico, você aprendeu que:
• A segunda metade do século XIX foi marcado pelas diferentes doutrinas 
difundidas na Europa, que acentuaram a análise objetiva da sociedade e 
impulsionaram os estudos científicos. Dentre elas, destacam-se a concepção do 
Socialismo científico, de Karl Marx, a Teoria da evolução das espécies de Charles 
Darwin, o Determinismo, de Hippolyte Taine, e o Positivismo, defendido por 
Auguste Comte.
• O Realismo rejeitou as idealizações neoclássicas e românticas, buscando retratar 
a realidade de forma objetiva, tal como expressam as narrativas dos autores 
Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Eça de Queirós, Machado de Assis, entre 
outros.
• Naturalismo foi uma vertente literária mais radical que procurou denunciar 
em suas obras os problemas sociais da época e as situações extremas vividas 
por suas personagens, características nitidamente observáveis nas narrativas 
de Émile Zola, precursor do movimento que surgiu na França.
• A intertextualidade é uma característica da linguagem que se estabelece quando 
os textos dialogam entre si, ou seja, quando há uma alusão explícita ou implícita 
de um texto literário em outro, como acontece nas obras de Cervantes e de 
Machado de Assis. Esse recurso utilizado pelos autores amplia o conhecimento 
do leitor sobre a riqueza e a complexidade do sistema literário.
RESUMO DO TÓPICO 3
164
AUTOATIVIDADE
1 A partir das reflexões apresentadas neste tópico sobre o contexto histórico e social 
oitocentista, elabore um texto dissertativo contemplando os seguintes aspectos:
a) os eventos e as ideias que influenciaram o modo como a literatura representa 
o mundo;
b) a visão objetiva da realidade e as relações entre os textos literários e seus 
contextos de produção.
2 Considerando as discussões de María Augusta da Costa Vieira no excerto 
do artigo Diálogo textual: el Quijote y la obra de Machado de Assis, expostas 
como sugestão de leitura complementar, analise as asserções a seguir e a 
relação proposta entre elas.
I. A inventividade literária de Machado de Assis estabelece conexões com a 
forma narrativa de Cervantes.
PORQUE
II. Os autores pertencem à mesma tradição literária que entende a narrativa 
como um diálogo intenso com várias formas de discurso, estruturado na 
noção de paródia.
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma 
justificativa correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa 
correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.
3 Para Antonio Maura (2018), os escritores Cervantes e Machado de Assis 
surgiram em momentos históricos e estéticos cruciais. Seus trabalhos 
contribuíram para uma nova abordagem tanto na estrutura narrativa 
quanto no tratamento do próprio autor. Leia abaixo os fragmentos dos 
prólogos dos romances Dom Quixote de La Mancha e Memórias póstumas de 
Brás Cubas e responda à questão seguinte.
Texto 1
Desocupado lector: sin juramento me podrás creer que quisiera que este 
libro, como hijo del entendimiento, fuera el más gallardo y más discreto que 
pudiera imaginarse. Pero no he podido yo contravenir al orden de naturaleza; 
que en ella cada cosa engendra su semejante. Y así, ¿qué podrá engendrar el 
estéril y mal cultivado ingenio mío sino la historia de un hijo seco, avellanado, 
165
antojadizo y lleno de pensamientos varios y nunca imaginados de otro alguno, 
bien como quien se engendró en una cárcel, donde toda incomodidad tiene su 
asiento y donde todo triste ruido hace su habitación? 
Texto 2
Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma 
livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens 
de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta 
da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. 
FONTE: MAURA, A. El autor y sus máscaras: Cervantes y Machado de Assis. Revista de 
Estudios Brasileños. v. 5, n. 9, 16 mar. 2018, p. 56.
Com base nas discussões apresentadas ao longo dos nossos estudos e nos 
fragmentos acima, podemos inferir que:
I. Nos romances de Cervantes e Machado de Assis os narradores apresentam 
traços melancólicos que refletem peculiaridades histórico-culturais. 
II. A prosa realista de Machado de Assis é caracterizada por um jogo 
intertextual e por sua linguagem irônica.
III. Em ambas as obras os narradores sinalizam aproximações, desafiam e 
estabelecem um diálogo com o leitor. 
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
4 (ENADE, 2008)
Texto 1
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas 
uma infinidade de portas e janelas alinhadas. [...] Sentia-se naquela fermentação 
sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham o pé na 
lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante sensação 
de respirar sobre a terra. Da porta da venda que dava para o cortiço iam e 
vinham como formigas, fazendo compras.
FONTE: Aluísio Azevedo. O cortiço. São Paulo: Ática, 1989, p. 28-9.
Texto 2
Aliás, o cortiço andava no ar, excitado pela festa, alvoroçado pelo jantar, que 
eles apressavam para se dirigirem a Montsou. Grupos de crianças corriam, 
166
homens em mangas de camisa arrastavam chinelos com o gingar dos dias 
de repouso. As janelas e as portas escancaradas por causa do tempo quente 
deixavam ver a correnteza das salas, transbordando em gesticulações e em 
gritoso formigueiro das famílias.
FONTE: Émile Zola. Germinal. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 136.
Texto 3
Aluísio Azevedo certamente se inspirou em L’Assommoir (A taberna), de 
Émile Zola, para escrever O cortiço (1890), e por muitos aspectos seu texto é 
um texto segundo, que tomou de empréstimo não apenas a ideia de descrever 
a vida do trabalhador pobre no quadro de um cortiço, mas um bom número de 
pormenores, mais ou menos importantes. Mas, ao mesmo tempo, Aluísio quis 
reproduzir e interpretar a realidade que o cercava e sob esse aspecto elaborou 
um texto primeiro. Texto primeiro na medida em que filtra o meio; texto segundo 
na medida em que vê o meio com lentes de empréstimo. Se pudermos marcar 
alguns aspectos dessa interação, talvez possamos esclarecer como, em um 
país subdesenvolvido, a elaboração de um mundo ficcional coerente sofre de 
maneira acentuada o impacto dos textos feitos nos países centrais e, ao mesmo 
tempo, a solicitação imperiosa da realidade natural e social imediata.
FONTE: Antonio Candido. De cortiço a cortiço. In: O discurso e a cidade. Rio de Janeiro: 
1004, p.106-7/128-9.
Assinale a opção em que a relação intertextual entre O Cortiço e Germinal é 
interpretada pelos parâmetros críticos apresentados no texto de Antonio 
Candido acerca da relação entre a obra do brasileiro Aluísio Azevedo e a do 
francês Émile Zola.
FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/prova/inep-2008-
enade-letras>. Acesso em: 21 mar. 2019.
a) ( ) O texto de Aluísio Azevedo é um texto primeiro em relação ao de Zola 
porque foi escrito anteriormente e influenciou a produção naturalista do 
escritor francês.
b) ( ) A relação de proximidade entre o texto de Azevedo e o de Zola 
evidencia que o diálogo entre os textos os desassocia da realidade social em 
que foram produzidos.
c) ( ) O texto de Aluísio Azevedo, por suas condições de produção, está 
submetido ao modelo naturalista europeu, ao mesmo tempo em que atende 
a demandas da realidade nacional.
d) ( ) O Cortiço é um texto segundo em relação ao texto de Zola porque é, 
sobretudo, a duplicação do modelo literário francês e da realidade social 
das classes operárias europeias.
e) ( ) A presença de elementos do naturalismo francês em O Cortiço 
é indicativo da troca cultural que ocorre no espaço do intertexto, 
independentemente das realidades locais de produção.
167
TÓPICO 4
AS ESTÉTICAS DO FIM DO 
SÉCULO XIX
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Vimos que o almejado desenvolvimento econômico e o surgimento de 
inovações tecnológicas resultaram num pensamento materialista e cientificista 
que não foi assimilado de igual maneira por todos os grupos sociais. Datam dessa 
época as manifestações literárias do Parnasianismo e do Simbolismo.
Neste tópico, as discussões apresentadas colocam em evidência a poética 
parnasiana, com seu culto à forma, à norma, em contraponto à poesia romântica 
que cultivava versos mais livres. Dentre as várias tendências que surgiram na 
literatura oitocentista, o Simbolismo, apresentado mais adiante, se encarregará de 
retomar os anseios românticos, expressando os devaneios dos poetas e rompendo 
com os padrões convencionais.
2 O PARNASIANISMO
O Parnasianismo, movimento contemporâneo do Realismo e do 
Naturalismo, foi uma tendência literária exclusivamente poética que não 
compartilha um desejo de intervenção sobre a realidade, como acontece na prosa 
literária dos movimentos anteriores. A estética parnasiana, em alusão ao monte 
Parnaso situado na Grécia, lugar sagrado dos poetas, surgiu e se concentrou mais 
na França, influenciada por Théophile Gautier (1811-1872), Théodore de Banville 
(1823-1891) e Leconte de Lisle (1818-1894) que, junto com vários escritores, se 
reuniam e publicavam antologias de poesias intituladas Le Parnasse Conteporaim 
(1866). O movimento também foi seguido por outros grandes poetas, apelidados 
de "poetas malditos", que acompanhavam as tendências poéticas, mas não se 
prendiam a elas. Entre eles, estão Charles Baudelaire (1821-1867), Paul Verlaine 
(1844-1896) e Stéphane Mallarmé (1842-1898).
A poesia parnasiana propõe um retorno ao modelo estético clássico (faz 
referências à mitologia e a personagens históricas). Há ainda um compromisso 
com ornamentação, a forma e o lirismo, com a expressão da beleza sem um teor 
utilitarista (ou seja, sem finalidades práticas), o que resultou no ideal "da arte 
pela arte", teorizado por Gautier, no prefácio de seu romance Mademoiselle de 
Maupin. Suas concepções, divulgadas pelos poetas franceses da época, defendiam 
a ideia de que a poesia deveria ser composta com um fim em si mesma. Então, 
compartilhando os anseios com Art Noveau (arte nova), característica da Belle 
Époque francesa, os poetas parnasianos valorizavam de modo extremo a forma 
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
168
da arte, baseados na crença de que sua função essencial era produzir o belo. O 
projeto literário do Parnasianismo visava, portanto, devolver a beleza formal 
para a poesia, eliminando também os excessos sentimentalistas dos românticos. 
A expressão francesa Belle Époque significa "bela época" e representa o período 
próspero e otimista europeu, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento das 
artes. Trata-se de vida ligada às agitações culturais e artísticas da vida cotidiana urbana.
NOTA
Vale ressaltar que a lírica parnasiana só se destacou na França e no Brasil, 
não sendo cultivada em outros países. No cenário brasileiro, Alberto de Oliveira 
(1859-1937), Raimundo Correia (1859-1911), Olavo Bilac (1865-1918), o poeta 
parnasiano mais conhecido, que cultivaram as tendências mais conservadoras 
vigentes, contemplando um vocabulário culto, empregando construções sintáticas 
diferentes das usuais. 
Observe, no poema Perfeição (Quadro 6), de Olavo Bilac, alguns aspectos 
da poética parnasiana:
Perfeição
Nunca entrarei jamais o teu recinto: 
Na sedução e no fulgor que exalas, 
Ficas vedada, num radiante cinto 
De riquezas, de gozos e de galas.
 
Amo-te, cobiçando-te... - E, faminto, 
Adivinho o esplendor das tuas salas, 
E todo o aroma dos teus parques sinto, 
E ouço a música e o sonho em que te embalas.
 
Eternamente ao meu olhar pompeias, 
E olho-te em vão, maravilhosa e bela, 
Adarvada de altíssimas ameias.
 
E à noite, à luz dos astros, a horas mortas, 
Rondo-te, e arquejo, e choro, ó cidadela! 
Como um bárbaro uivando às tuas portas!
QUADRO 6 – PERFEIÇÃO, DE OLAVO BILAC
FONTE: D'Onofrio (1990, p. 381)
TÓPICO 4 | AS ESTÉTICAS DO FIM DO 
169
O título do poema já evidencia a busca pela perfeição artística, a principal 
proposta da estética parnasiana. O exemplo desse soneto, composto de palavras 
eruditas ("adarvada", "ameias" etc.), que não fazem parte do uso corrente da 
norma culta, reforça a busca dos parnasianos pelos modelos formais clássicos, 
como os versos de Petrarca e Camões, lembra D'Onofrio (1990).
Contrapondo esse movimento, veremos adiante a aversão dos poetas 
simbolistas às soluções racionalistas e mecânicas e a preferência pelas emoções 
do sujeito, pela subjetividade.
3 O SIMBOLISMO 
Em fins do século XIX, os artistas simbolistas manifestaram o desejo de 
investigar o desconhecido, o poder dos símbolos, a experiência sensorial, a apreensão 
da realidade de modo subjetivo. Etimologicamente, "a palavra 'símbolo” vem do grego 
sumbalo, que significa "colocar junto", “associar uma coisa com a outra". Na literatura, 
"a poesia universal sempre foi essencialmente simbólica pelo uso de metáforas, 
imagens, analogias, que exprimem de modo figurativo ideias e sentimentos do 
poeta", salienta D’Onofrio (1990, p. 403). O símbolo, representando os vários meios de 
captação do elemento estético, foi a categoria fundante do Simbolismo, movimento 
inicialmente denominado decadentismo — em referência à impressão pessimista dos 
intelectuais franceses em relação à religião, aos costumes, à justiça.
O afastamento do cientificismo e do positivismo, que marcaram a segunda 
metade do séculoXIX, leva os simbolistas a buscarem o elemento místico, o estado 
da alma, o devaneio, o sonho, a existência de uma dimensão para além da realidade 
concreta. Para os poetas simbolistas, a exaltação do progresso, do materialismo e da 
crença absoluta na razão não dão conta de explicar todas as dimensões do mundo e do 
indivíduo. Por isso, eles criaram um foco de resistência, buscando compreender o mundo 
pelos sentidos, pela intuição, pois em poesia, a palavra não é somente o instrumento da 
compreensão racional, ela tem o poder de provocar sensações inusitadas. 
Diferentemente da perspectiva objetiva que vigorou na época, podemos 
dizer que o Simbolismo se situa, de certa maneira, muito próximo das orientações 
românticas. Os autores simbolistas utilizaram vários recursos para estimular o 
leitor a mergulhar nas sensações sugeridas. Por exemplo, a sinestesia, figura de 
linguagem que faz referência a diferentes domínios sensoriais (visão, tato, olfato, 
paladar e audição) foi muito explorada pelos poetas. Podemos encontrar nos 
textos simbolistas uma misturava de expressões sobre o cheiro, o gosto ou a cor 
de um sentimento. "Assim como o Romantismo, o Simbolismo foi uma revolta: 
contra o rigorismo métrico dos classicistas, respectivamente dos parnasianos; 
contra a tirania de uma cultura formal, obsoleta" (CARPEAUX, 2012e, p. 34). 
Vale lembrar que embora os simbolistas sejam fortemente subjetivos e tenham 
em comum um ideal de arte, priorizem o mistério sobre a ciência, não podemos 
reduzi-los a um movimento único, homogêneo, porque a estética literária do 
Simbolismo foi realizada de diversas maneiras por diferentes representantes. 
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
170
O grande precursor do Simbolismo foi o inovador Charles Baudelaire. A 
poética baudelaireana perpassou por quase toda a poesia francesa e se disseminou 
para outros países do mundo ocidental. A sua influência, segundo Massaud Moisés: 
[...] não foi apenas de ordem ético-literária: operou-se igualmente 
no campo da expressão, graças à teoria das ‘correspondências', 
ou seja, das sinestesias entendidas como um processo cósmico de 
aproximação entre as realidades físicas e metafísicas, entre os seres, 
as cores, os perfumes e o pensamento ou emoção. Larga e densa 
ressonância tiveram as ‘correspondências', mercê do mundo novo que 
descortinaram. Por meio delas e do satanismo, Baudelaire impregnou 
definitivamente a poesia posterior, a tal ponto que esta apenas se deixa 
compreender e julgar quando se considera o impacto perturbador de 
As flores do mal sobre a poesia convencional que era cultivada até o seu 
aparecimento (MOISÉS, 1973, p. 21 apud TORRES, 1998, p. 16-17).
Les fleurs du mal (As flores do mal), principal obra de Baudelaire, reúne 
poemas que questionam as convenções morais da sociedade francesa e abordam 
liricamente temas que vão do sonho ao pesadelo, do assunto mais sublime ao 
repugnante, representando a modernidade, a celeridade, a fugacidade da vida, o 
belo através de imagens insólitas. O poeta também expressa um estado pensativo 
de tristeza e melancolia, de tédio existencial, que fora associado ao termo francês 
spleen, significando um profundo sentimento.
Leia abaixo o soneto A uma transeunte, que registra uma cena numa rua 
em Paris, um encontro no Bulevar dos Capuchinhos.
A uma transeunte 
A rua ia gritando e eu ensurdecia.
Alta, magra, de luto, dor tão majestosa,
Passou uma mulher que, com mãos sumptuosas,
Erguia e agitava a orla do vestido;
Nobre e ágil, com pernas iguais a uma estátua.
Crispado como um excêntrico, eu bebia, então,
Nos seus olhos, céu plúmbeo onde nasce o tufão,
A doçura que encanta e o prazer que mata.
Um raio… e depois noite! – Efêmera beldade
Cujo olhar me fez renascer tão de súbito,
Só te verei de novo na eternidade?
Noutro lugar, bem longe! é tarde! talvez nunca!
Porque não sabes onde vou, nem eu onde ias,
Tu que eu teria amado, tu que bem sabias! 
QUADRO 7 – A UMA TRANSEUNTE, DE CHARLES BAUDELAIRE
FONTE: D'Onofrio (1990, p. 409) 
TÓPICO 4 | AS ESTÉTICAS DO FIM DO 
171
Baudelaire faz referência ao estilo de vida transeunte da cidade, esse 
espaço novo, transitório, que expressa o homem na multidão, que simboliza 
a modernidade. O poeta também apresenta suas concepções estéticas e a 
representação da vida instável e fugidia, no texto O pintor da vida moderna (1863). 
Suas reflexões, de certa forma, dialogam com a pintura de Claude Monet (1840-
1926), exposta abaixo, na qual o artista capta a vida na cidade, o vai-vem de 
pessoas no agitado bulevar parisiense.
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Boulevard_des_Capucines_(Monet)>. Acesso: 25 nov. 2018.
FIGURA 6 – O BULEVAR DOS CAPUCHINHOS (1873-1874), DE CLAUDE MONET
No Simbolismo, ainda se destacam autores como Stéphane Mallarmé, seu 
poema mais conhecido é Um lance de dados, uma produção inusitada repleta de 
imagens polifônicas. Os versos abaixo evidenciam a excentricidade poética de 
Mallarmé (2013, p. 103).
UNIDADE 3 | LITERATURA E MODERNIDADE
172
[...]
 UMA CONSTELAÇÃO
 fria de esquecimento e de desuso
 não tanto
 que ela não enumere
 sobre alguma superfície vacante e superior 
 o choque sucessivo
 de um contar total em formação
vigiando
 duvidando
 rolando
 brilhando e meditando
 antes de se deter
 em algum ponto derradeiro que o sagre
 Todo o Pensamento emite um Lance de Dados 
Na poesia de Mallarmé, há uma constelação de vozes desconcertantes 
sobre a página. Sua escrita é múltipla, plural, uma criação que evoca os 
estranhamentos, as relações descontínuas e híbridas da linguagem e do sujeito, 
que se intensificaram, sobretudo, a partir da inquietação intelectual dos românticos 
aos tempos de crises sociais da segunda metade do século XVIII. 
O simbolista Paul Verlaine (1844-1896) publicou, em 1884, um artigo 
intitulado Les poètes Mauditis (Os poetas malditos), referindo-se à nova geração de 
artistas inovadores e revolucionários, como Baudelaire. Verlaine também escreveu 
a obra Art poétique, apresentando reflexões fundamentais sobre o conceito de 
moderno de poesia que, aliás, é bastante amplo. Tal como salienta Souza (2011), 
adotamos a palavra moderno, apto a qualificar aquilo que é recente, no sentido 
atribuído à concepção de literatura que rompe com a noção clássica, que fora 
reformulada pelas estéticas medievais e neoclássicas (renascentistas, barrocas, 
arcádicas), ressurgindo no século XVIII, firmando-se no século XIX, e alcançando 
um status mais radical no século XX, com as experiências vanguardistas, que 
influenciaram a noção de modernismo.
O simbolismo francês, na América hispânica, foi assimilado pelo 
movimento modernista, difundido em vários países, com destaque para o 
escritor nicaraguense Rubén Darío e o cubano José Martí. No Brasil, a circulação 
dos textos simbolistas não teve tanta repercussão como aconteceu em outros 
países em que essa estética se manifestou. O poeta Cruz e Sousa, considerado o 
maior representante do movimento simbolista brasileiro, se destaca por explorar 
o subjetivo, o espiritual, por expressar uma profundidade filosófica e existencial. 
Aliás, existem muitas afinidades e cruzamentos entre sua obra e a de Baudelaire.
Veja, por exemplo, como o soneto O Assinalado, de Cruz e Sousa, apresenta 
reflexões sobre a condição do poeta na modernidade.
TÓPICO 4 | AS ESTÉTICAS DO FIM DO 
173
Tu és o louco da imortal loucura;
O louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema desventura.
Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma desventura extrema,
Faz que tu'alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.
Tu és o poeta,o grande assinalado;
Que povoas o mundo despovoado
De belezas eternas, pouco a pouco.
Na natureza prodigiosa e rica,
Toda a audácia dos nervos justifica,
Os teus espasmos imortais de louco.
QUADRO 8 – O ASSINALADO, DE CRUZ E SOUSA
FONTE: <http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/assinalado.htm>. Acesso em: 10 fev. 2019.
DICAS
O filme Eclipse de uma paixão (1995) é uma interessante referência audiovisual 
sobre o Simbolismo, porque mostra como era a vida dos poetas “malditos" franceses, 
destacando o romance proibido entre Verlaine e Arthur Rimbaud. 
Há ainda o filme Cruz e Sousa – Poeta do Desterro (1998), uma adaptação da obra e da vida 
do poeta simbolista brasileiro.
174
Neste tópico, você aprendeu que:
• As manifestações literárias do final do século XIX refletem um momento 
complexo de transição para o século XIX e apresentam concepções estéticas 
distintas.
• A linguagem do Parnasianismo propaga o ideal da “arte pela arte”, afastando 
qualquer aspecto utilitarista atribuído à literatura.
• O culto à forma e a objetividade temática são os traços mais característicos da 
poesia parnasiana, declaradamente anti-romântica, salvo as exceções.
• A poesia do Simbolismo procura desconstruir a linguagem convencional, 
mostrando uma visão subjetiva e espiritual do mundo, o estado da alma de 
forma sensível, os sonhos, os devaneios e as alucinações, através de elementos 
sinestésicos que aguçam os diversos sentidos do leitor.
• Os escritores Verlaine, Arthur Rimbaud, Stéphane Mallarmé e Baudelaire são 
considerados os precursores da transformação poética da modernidade.
RESUMO DO TÓPICO 4
175
AUTOATIVIDADE
1 Leia abaixo um trecho do soneto Correspondências, que faz parte da obra 
poética Les fleurs du mal, de Baudelaire, publicada em 1857.
Correspondências
A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam sair às vezes palavras confusas:
Por florestas de símbolos, lá o homem cruza
Observado por olhos ali familiares.
Tal longos ecos longe lá se confundem
Dentro de tenebrosa e profunda unidade
Imensa como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se transfundem.
Perfumes de frescor tal a carne de infantes,
Doces como o oboé, verdes igual ao prado,
– Mais outros, corrompidos, ricos, triunfantes,
Possuindo a expansão de algo inacabado,
Tal como o âmbar, almíscar, benjoim e incenso,
Que cantam o enlevar dos sentidos e o senso.
FONTE: D’ONOFRIO, S. Teoria do texto 1: prolegômenos e teoria da narrativa. 2. ed. São 
Paulo: Ática, 2002.
A partir das ideias expressas no poema acima, podemos inferir que:
I. Os primeiros versos sugerem que a natureza emite palavras misteriosas.
II. Há no poema uma correspondência entre diferentes sensações que faz 
referência à sinestesia literária. 
III. Nos dois tercetos, o eu lírico afirma que há na natureza vegetal dois tipos 
de perfumes, os mais frescos e os mais vistosos.
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
2 Leia o poema Bilhete a Baudelaire, em que o autor brasileiro Vinícius de 
Moraes (1913-1980) revisita a tradição literária da modernidade. Em 
seguida, analise as asserções.
Bilhete a Baudelaire
 
Poeta, um pouco à tua maneira
E para distrair o spleen
176
Que estou sentindo vir a mim
Em sua ronda costumeira
 
Folheando-te, reencontro a rara
Delícia de me deparar
Com tua sordidez preclara
Na velha foto de Carjat
 
Que não revia desde o tempo
Em que te lia e te relia
A ti, a Verlaine, a Rimbaud...
 
Como passou depressa o tempo
Como mudou a poesia
Como teu rosto não mudou!
Los Angeles, 1947
 
FONTE: <http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/bilhete-
baudelaire-0>. Acesso em: 10 dez 2018.
I. No poema, os traços da modernidade ficam evidentes na noção do eu lírico 
sobre a passagem do tempo.
II. O poema evoca poetas realistas franceses cujas produções literárias 
enfatizam o rigor formal e a expressão objetiva da realidade histórica do 
século XIX.
III. No poema, o termo spleen difundido pelo poeta francês Baudelaire 
representa um estado de melancolia, um sentimento de angústia que se 
aproximam das orientações românticas.
Está correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
3 Preencha corretamente as lacunas da assertiva exposta abaixo.
O movimento simbolista privilegia a ________ e se opõe ao pensamento______, 
voltando-se para o _________com temáticas religiosas e místicas através de 
uma linguagem capaz de aproximar campos sensoriais diferentes e transmitir 
a essência humana. 
a) ( ) sensação – irracional – lirismo.
b) ( ) razão – místico – objetivismo. 
c) ( ) emoção – materialista – subjetivismo.
d) ( ) musicalidade – sentimentalista – pragmatismo.
177
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