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Autor: Prof. Cleber Frigi Bissoli Colaboradores: Prof. Emerson Souza Cardoso Profa. Christiane Mazur Doi Proteção Radiológica Professor conteudista: Cleber Frigi Bissoli Graduado em Odontologia, especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia, mestre e doutor em Biopatologia Bucal na área de Radiologia Odontológica. É professor titular da UNIP e coordenador do curso Superior de Tecnologia em Radiologia da UNIP campus Dutra. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B623p Bissoli, Cleber Frigi. Proteção Radiológica / Cleber Frigi Bissoli. – São Paulo: Editora Sol, 2021. 176 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Radiação. 2. Efeitos. 3. Proteção. I. Título. CDU 615.849 U512.98 – 21 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Unip Interativa Profa. Dra. Cláudia Andreatini Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Souza Giovanna Oliveira Sumário Proteção Radiológica APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 FUNDAMENTOS BÁSICOS DE RADIOPROTEÇÃO ....................................................................................9 1.1 Conceitos de radiação corpuscular e eletromagnética ............................................................9 1.2 Conceitos de radiação natural e artificial .................................................................................. 11 1.3 Conceitos de radiação ionizante e não ionizante ................................................................... 14 1.4 Conceitos de fontes de radiação ionizantes seladas e não seladas ................................. 19 2 FONTES DE RADIAÇÃO .................................................................................................................................. 23 2.1 Fontes de radiação em saúde .......................................................................................................... 23 2.2 Fontes de radiação em indústria .................................................................................................... 28 2.3 Fontes de radiação em pesquisa .................................................................................................... 33 2.4 Fontes de radiação e o meio ambiente ....................................................................................... 34 Unidade II 3 EFEITOS BIOLÓGICOS DAS RADIAÇÕES IONIZANTES ........................................................................ 52 4 DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS EFEITOS .................................................................................... 60 4.1 Definição e características dos efeitos determinísticos ........................................................ 60 4.2 Definição e características dos efeitos estocásticos .............................................................. 72 4.3 Definição e características dos efeitos somáticos e genéticos .......................................... 74 Unidade III 5 FATORES DE PROTEÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA PARA O TECNÓLOGO EM RADIOLOGIA .................................................................................................................................................. 81 5.1 EPIs usados nos serviços de radiologia ........................................................................................ 90 5.2 EPCs usados nos serviços de radiologia ...................................................................................... 92 6 MONITORAMENTO RADIOLÓGICO: LEVANTAMENTO RADIOMÉTRICO E ÓRGÃOS FISCALIZADORES – CRTR, VIGILÂNCIA SANITÁRIA, MINISTÉRIO DO TRABALHO ...................... 99 6.1 Proteção radiológica e o SUS ........................................................................................................115 Unidade IV 7 LEGISLAÇÕES ...................................................................................................................................................120 7.1 Apresentação das legislações relacionadas à proteção radiológica, a importância da sua criação e o contexto em que foram criadas: SS 625, RDC n. 330 e NR 32 ...................................................................................................................................120 7.2 A importância da CNEN como órgão regulamentar de normas complementares ................123 8 RDC N. 330 E INSTRUÇÕES NORMATIVAS N. 52 A N. 59 ..............................................................140 8.1 Levantamento radiométrico: importância, como realizar, característica e periodicidade............................................................................................................................................145 7 APRESENTAÇÃO Nos dias de hoje, sabe-se que o profissional tecnólogo em radiologia não atua somente realizando exames de diagnóstico por imagem, utilizando-se da radiação X. Há anos surgem, no setor de exames complementares de imagenologia, novas técnicas como: ressonância magnética, ultrassonografia, medicina nuclear, entre outras. Portanto, devido à modernidade que o mundo atravessa, as atribuições profissionais da área de técnicas radiológicas se ampliaram de maneira considerável. Um dos setores que têm crescido de maneira exponencial é o de programa de garantia de qualidade e proteção radiológica relativas ao exercício da profissão. Cada vez mais os hospitais e as clínicas de diagnóstico por imagem se esforçam para manter seus serviços com alto nível de padronização e proteger seus pacientes, seus funcionários, sua equipe profissional e até mesmo aqueles que estão indiretamente envolvidos em sua área de atuação. Atualmente, visando à prevenção dos danos biológicos, o tecnólogo em radiologia precisa ter conhecimento no manuseio das fontes de radiações ionizantes e não ionizantes, além de saber identificá-las. Fica evidente que o profissional necessita conhecer os princípios e protocolos de radioproteção por completo. Ademais, é importante que ele possua conhecimentos específicos sobre o controle de radiações nas unidades de radiodiagnóstico e os equipamentos que são indispensáveis para a radioproteção. Desta maneira, para atingir tal objetivo, vamos proporcionar neste livro-texto o conhecimento ao futuro profissional acerca das legislações relacionadas às diferentes áreas de aplicação da radiologia. Também forneceremos condições para planejar, implementar, aplicar e avaliar programas de garantia da qualidade; atender à legislação vigente e às recomendações de proteção radiológica relativas ao exercício da profissão; aplicá-las aos serviços de imagem, avaliar suas execuções e recomendar alterações para o cumprimento de todas as exigências vigentes. Bom estudo! INTRODUÇÃO Logo após a descoberta da radiação X, pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen, em 8 de novembrode 1895, os efeitos biológicos das radiações ionizantes começaram a atingir diversos pesquisadores e profissionais da área. Porém, houve um período de relativa demora para que os indivíduos percebessem os efeitos deletérios que os raios X poderiam proporcionar e, assim, começassem a se prevenir. Surgia, portanto, a radioproteção, que é um setor de extrema importância não somente para a área de radiodiagnóstico, mas para a área de radiologia terapêutica (radioterapia). O conjunto de normas que possui a finalidade de proteger o ser humano e o meio ambiente dos possíveis efeitos adversos causados pela radiação ionizante chama-se radioproteção ou proteção radiológica. É imprescindível que o profissional dessa área conheça os tipos de tecidos e células, pois é basicamente sobre eles que a radiação ionizante age, provocando muitas vezes sua divisão em íons, 8 átomos ou grupos de átomos com sinais elétricos contrários, que podem ocasionar danos celulares locais, prejudicar o funcionamento de um órgão ou até mesmo causar a morte do indivíduo, como em casos malsucedidos de radioterapia por erros no fracionamento e dosagem das radiações. Portanto, o tecnólogo em radiologia deve ter o domínio sobre os tipos de radiações com os quais irá trabalhar no seu dia a dia (CHRISTOVAM; MACHADO, 2013). O presente livro-texto será dividido didaticamente em quatros unidades. Na unidade I, apresentaremos os conceitos básicos das radiações e abordaremos as diferenças entre radiação corpuscular e eletromagnética, radiação natural e artificial, radiação ionizante e não ionizante; também estudaremos as fontes de radiações ionizantes seladas e não seladas, as fontes de radiações em saúde, indústria, pesquisa, bem como sua relação com o meio ambiente. Na unidade II, exibiremos os efeitos biológicos das radiações ionizantes e, portanto, demonstraremos as definições e características dos efeitos determinísticos, estocásticos, somáticos e genéticos. Na unidade III, mostraremos os fatores de proteção e a importância da proteção do tecnólogo em radiologia, os equipamentos de proteção individual, coletivo, monitoramento radiológico e os órgãos fiscalizadores, como os conselhos regionais, as vigilâncias sanitárias e o ministério do trabalho. Analisaremos ainda a proteção radiológica e seu relacionamento com o sistema único de saúde (SUS). Na unidade IV, exporemos as legislações e os contextos em que elas foram criadas. Trataremos das Resoluções SS 625, RDC n. 330, Instruções Normativas 52 a 57 e da Norma Regulamentadora 32. Veremos também a importância da CNEN como órgão regulamentar de normas complementares e o levantamento radiométrico 64 da Anvisa. Estudaremos, além disso, no Anexo A, as grandezas e unidades de medida de radiação e, no Anexo B, as principais abordagens de um programa de garantia de qualidade em radiologia. É essencial salientar que todo este material será escrito em linguagem simples e direta, de maneira concisa, com exposições e interações entre o autor e o leitor. Adicionalmente, serão inseridas figuras, que auxiliarão no entendimento dos tópicos a serem desenvolvidos. Além disso, os itens chamados de “observação” e de “lembrete” serão excelentes oportunidades para que o aluno consiga esclarecer possíveis dúvidas. Por fim, os itens denominados “saiba mais” permitirão que os estudantes aumentem seus conhecimentos, fornecendo material adicional para aperfeiçoamento do conteúdo da área. 9 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Unidade I 1 FUNDAMENTOS BÁSICOS DE RADIOPROTEÇÃO 1.1 Conceitos de radiação corpuscular e eletromagnética A tendência natural das pessoas ao ouvirem falar sobre radiações é imediatamente associarem seus pensamentos a algo ruim ou maléfico. Primeiramente, é importante deixar bem clara a definição de radiação, que é a emissão ou transmissão de energia, podendo ocorrer por meio de partículas ou ondas entre um ponto e outro do espaço, seja através do vácuo ou de um meio material qualquer (OKUNO; YOSHIMURA, 2014). As radiações fazem parte do dia a dia, elas são comumente encontradas em aparelhos eletrônicos do nosso cotidiano, por exemplo: celulares, televisores, micro-ondas, ondas de rádio, entre outros. Basicamente, elas podem ser classificadas em dois grandes grupos, conforme o elemento condutor de energia relacionado: radiação eletromagnética e radiação corpuscular. Observação A radiação eletromagnética é aquela que se propaga através de um campo elétrico e magnético, na forma de onda, caracterizada por seu comprimento ou sua frequência, que representam as diferentes faixas do espectro eletromagnético. Ela pode ser chamada também de energia eletromagnética ou energia radiante. Uma onda eletromagnética é constituída de campo elétrico e campo magnético oscilante, perpendiculares entre si, que se propagam no vácuo com a mesma velocidade da luz (c = 3x108 m/s ou c = 300000 km/s). Então, o que diferencia uma radiação eletromagnética de outra? Por exemplo: micro-ondas versus raios gama? Ondas de rádio versus raios X? A resposta é muito simples: já que todas elas possuem a mesma velocidade, suas frequências é que são diferentes, consequentemente, seus comprimentos de onda também! Dessa maneira, temos denominações diferentes de acordo com a ordem crescente de frequência que originou, portanto, o espectro eletromagnético. A figura a seguir representa basicamente como é o ciclo ou a onda de uma radiação eletromagnética. 10 Unidade I λ λ Amplitude Comprimento de onda Comprimento de onda Vale da onda Crista da onda C E B D A Figura 1 – Onda eletromagnética Fonte: Castro Jr. (2010, p. 17). A fórmula básica para se determinar a velocidade (c) de uma onda é c = λ.f, ou seja, a velocidade é igual ao comprimento de onda (λ) vezes a frequência (f). Lembrete A velocidade é algo constante. Quanto maior o comprimento de onda, menor é a frequência e vice-versa. As propriedades da energia eletromagnética foram descritas, originalmente, pelo físico escocês James Clerk Maxwell e confirmadas experimentalmente pelo seu colega alemão Heinrich Hertz, na segunda metade do século XIX. A seguir é possível visualizar o espectro eletromagnético das radiações eletromagnéticas com algumas comparações básicas: 3x102 106 104 102 100 10-2 10-4 10-6 10-8 10-10 10-12 3x104 3x106 1,24x10-8 eV 1,24x10-4 eV 1,24 eV Infravermelho Raios X e gama Ultravioleta Forno de micro-ondas 2.450 MHz Frequência (Hz) Energia do fóton Comprimento de onda (m) Telefone celular 900 MHz Rádio AM 53 a 1.606 kHz Rádio, TV, FM 88 - 108 MHz Radiação não ionizante Radiação ionizante Energia elétrica 60 Hz 1,24 MeV 3x108 3x1010 3x1012 3x103x101414 3x1016 3x1018 3x1020 Figura 2 – Espectro eletromagnético Fonte: Okuno e Yoshimura (2014, p. 11). 11 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Já a radiação corpuscular é propagada por meio de partículas subatômicas, como elétrons, prótons e nêutrons, e caracterizada por sua carga, massa e velocidade. Por isso ela é também denominada radiação de partículas. Como exemplo de radiação corpuscular temos a radiação alfa (α), que também pode ser chamada de partícula alfa. Ela é derivada do elemento químico hélio e é produzida basicamente no decaimento de elementos como rádio, urânio, tório e plutônio. Tem alcance relativamente pequeno e baixa velocidade, assim pode ser blindada facilmente, por exemplo, por uma simples folha de papel. Outra radiação corpuscular existente é a radiação beta (β), que é mais penetrante do que as partículas alfa. A radiação beta se constitui por elétrons emitidos através do núcleo estável de um átomo e perde energia ao passar por um meio material ionizando os átomos localizados em sua trajetória. Além disso, tem alta velocidade e pode ser blindada com alumínio ou plástico. As partículas beta são capazes de penetrar cerca de um centímetro nos tecidos, ocasionando danos à pele, mas não aos órgãos internos, a não ser que sejam ingeridas ou aspiradas. Possuem alta velocidade, com aproximadamente270.000 km/s. Nêutrons são partículas elementares eletricamente neutras (daí o seu nome), porém elas são capazes de transferir energia indiretamente para outras partículas, produzindo ionização. A radiação de nêutrons propaga-se por grandes distâncias até atingir, penetrar e interagir fisicamente com o núcleo dos átomos e pode ser blindada com água, concreto, parafina e outros materiais ricos em hidrogênio. 1.2 Conceitos de radiação natural e artificial Todos os seres vivos, desde o seu nascimento, foram e ainda estão sendo expostos à radiação. A radiação originária de uma variedade de fontes naturais recebe simplesmente a denominação de radiação natural. Ela não está associada a nenhuma atividade humana, ou seja, existe independentemente de nossas atividades e pode ser encontrada como isótopos radioativos em nossos corpos, casas, ar, água e no solo. Todos nós também estamos expostos à radiação do espaço sideral (CONNOR, 2020). Todas essas fontes naturais de radiação basicamente são divididas em três grupos: • Radiação cósmica: refere-se a fontes de radiação na forma de raios cósmicos que vêm do sol ou do espaço sideral. No nível do solo, os múons (múon é uma partícula elementar semelhante ao elétron, mas com uma massa muito maior) com energias principalmente entre 1 e 20 GeV, contribuem com cerca de 75% da taxa de dose absorvida no ar livre. O restante vem de elétrons produzidos pelos múons ou presentes na cascata eletromagnética. A dose anual de raios cósmicos ao nível do mar é de cerca de 0,27 mSv (27 mrem). Como a radiação cósmica é defletida pelo campo magnético para os polos Norte e Sul, essas regiões recebem mais radiação que as regiões equatoriais (UNEP, 2016). Um fato interessante é que se você mora em altitudes mais elevadas ou é passageiro frequente de uma companhia aérea, essa exposição pode ser significativamente maior, pois a atmosfera é mais rarefeita, não havendo muita interação com os raios cósmicos (CONNOR, 2020). Passageiros e tripulantes de aviões podem ser expostos a doses ainda mais 12 Unidade I elevadas, já que a exposição à radiação de fontes cósmicas depende não somente da altitude, mas do tempo de duração do voo. Por exemplo, em determinadas altitudes, a dose efetiva média é de 0,03 mSv a 0,08 mSv para um voo de 10 horas. Em outras palavras, um voo de rota Nova York – Paris, ida e volta, resultaria na exposição de uma pessoa a cerca de 0,05 mSv. Essa dose é aproximadamente igual à dose efetiva que um paciente receberia em um exame de raios X de tórax (UNEP, 2016). • Radiação terrestre: refere-se a fontes de radiação que estão no solo, na água e na vegetação. Os principais isótopos preocupantes da radiação terrestre são o urânio e os produtos de decomposição do urânio, como tório, rádio e rádon. A taxa de dose média que se origina dos nuclídeos terrestres (exceto a exposição ao radônio) é de cerca de 0,057 µGy/h. Os valores máximos foram medidos na areia de monazita em Guarapari, Brasil (até 50 µGy/hora) e em Kerala, Índia (cerca de 2 µGy/hora), e também em rochas com alta concentração de rádio em Ramsar, Irã (de 1 a 10 µGy/h). A dose média anual de radiação para uma pessoa exposta ao radônio é de cerca de 2 mSv/ano e pode variar em várias ordens de magnitude de um lugar para outro. O rádon é tão importante que geralmente é tratado separadamente (CONNOR, 2020). O Comitê Científico das Nações Unidas sobre os Efeitos da Radiação Atômica (Unscear) calcula que cada pessoa ao redor do mundo receba anualmente, em média, uma dose efetiva de cerca de 0,48 mSv de exposição externa proveniente de fontes terrestres (UNEP, 2016). Já o radônio-222 é um radionuclídeo na forma de um gás que normalmente emana do solo. Ele é produzido pela série de decaimento do urânio-238, presente nas rochas e no solo da Terra. Quando inalado, alguns dos produtos de decaimento de vida curta – principalmente polônio-218 e polônio-214 – são retidos nos pulmões e irradiam as células do trato respiratório com partículas alfa. O radônio é, por isso, a causa primária de câncer no pulmão, tanto em fumantes quanto em não fumantes; no entanto, os fumantes são muito mais vulneráveis devido à forte interação entre o fumo e a exposição ao radônio. O Unscear estima que a dose efetiva anual média proveniente do radônio é de 1,3 mSv, representando cerca de metade do que a população recebe de todas as fontes naturais (UNEP, 2016). Também alimentos e bebidas podem conter radionuclídeos primitivos e de outros tipos, em especial os provenientes de fontes naturais. Como já vimos, os radionuclídeos podem ser transferidos das rochas e minerais presentes no solo e na água para as plantas, seguindo depois para os animais. Assim, as doses variam dependendo das concentrações de radionuclídeos nos alimentos e na água, e dos hábitos alimentares locais. Por exemplo, os peixes e os crustáceos possuem relativamente elevados níveis de chumbo-210 e de polônio-210; logo, as pessoas que comem grande quantidade de frutos do mar podem receber doses um pouco mais elevadas do que o restante da população. O Unscear estima que a dose efetiva média resultante de fontes naturais em alimentos e bebidas seja de 0,3 mSv devido, principalmente, ao potássio-40 e às séries de radionuclídeos do urânio-238 e do tório-232 (UNEP, 2016). 13 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA • Radiação interna: além das fontes cósmicas e terrestres, todas as pessoas têm potássio radioativo-40, carbono-14, chumbo-210 e outros isótopos dentro de seus corpos desde o nascimento. A concentração de potássio-40 é quase estável em qualquer indivíduo a um nível de cerca de 55 Bq/kg (3850 Bq no total), o que corresponde à dose efetiva anual de 0,2 mSv. A dose anual de carbono-14 é estimada em cerca de 12 μSv/ano (CONNOR, 2020). A figura a seguir se refere à distribuição das doses às quais a população está exposta para fontes naturais e artificiais de radiação. Radiodiagnóstico 38% Outros 1% Gama (solo e prédios) 15% Médica 14% Interna 13% Cósmica 13% Torônio 6% Figura 3 – Fração de doses na população para fontes naturais e artificiais Adaptada de: Azevedo (2012, p. 4). Já as fontes artificiais de radiação são aquelas criadas pela atuação humana, ou seja, produzidas pelo homem. Sem dúvida alguma as fontes artificiais mais utilizadas são as que incluem usos médicos e odontológicos em exames de diagnóstico por imagem, como raios X convencionais ou digitais, tomografias computadorizadas, tomografias por emissão de pósitrons, mamografias, densitometrias ósseas, fluoroscopias, entre outros. Além disso, há usos na área industrial, resíduos de testes nucleares e dispositivos de produção de radiações, como: televisores, celulares, micro-ondas, alguns detectores de fumaça por meio de radionuclídeos sintéticos, como americium-241, por exemplo, e muitas outras fontes. A figura a seguir se refere à distribuição de doses às quais a população está exposta apenas para fontes artificiais de radiação. 14 Unidade I Exposição ocupacional Aplicações médicas Ouros Indústria nuclear Radiodiagnóstico Figura 4 – Fração da dose na população para fontes artificiais Adaptada de: Azevedo (2012, p. 6). 1.3 Conceitos de radiação ionizante e não ionizante Outra forma que podemos utilizar para classificar as radiações existentes é a separação básica em dois grupos importantes: radiações ionizantes e não ionizantes. As radiações ionizantes, como seu próprio nome diz, referem-se à capacidade de causar ionização. Em outras palavras, esse grupo de radiação possui energia suficiente para remover um elétron (geralmente das últimas camadas, uma vez que possui menor energia de ligação) das moléculas ou dos átomos. Isso ocorre quando há a capacidade de interagir com átomos neutros e acaba, portanto, ionizando o elétron que estava presente no átomo atingido. + - - - + + Partícula ionizante Colisão Ionização Elétron livre Figura 5 Fonte: Christovam e Machado (2013, p. 140). 15 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA O usodesse tipo de radiação é muito comum em hospitais, clínicas médicas e odontológicas de diagnóstico por imagem e na indústria. Seu emprego na medicina foi revolucionário, pois ele ainda hoje proporciona diagnósticos precisos sem a necessidade invasiva de abertura do corpo do ser humano para visualizar seu interior. Entretanto, boa parte dessa radiação é absorvida pelo organismo humano, podendo ocasionar diversos males, por exemplo: mutações no código genético do DNA, dermatite localizada, levar à incapacidade da célula de se reproduzir (OLIVEIRA, 2018). O símbolo internacional das radiações ionizantes está representado na figura a seguir: Figura 6 Disponível em: https://bit.ly/36GbbGR. Acesso em: 15 jul. 2021. Já as radiações não ionizantes são aquelas que apresentam baixa energia e baixa frequência, ou seja, possuem energia insuficiente para ionizar átomos ou moléculas com energia inferior a cerca de 10 eV. Elas se propagam através de uma onda eletromagnética (constituída por um campo elétrico e um campo magnético), podendo ser provenientes de fontes naturais, por exemplo, os raios ultravioletas emitidos pelo sol, e não naturais, como os dispositivos emissores de radiofrequência, micro-ondas, equipamentos de laser, entre outros. O símbolo internacional das radiações não ionizantes está representado na figura a seguir: Figura 7 Disponível em: https://bit.ly/3kqblu1. Acesso em: 15 jul. 2021. A figura a seguir representa um esquema do espectro eletromagnético apresentando as regiões de radiações ionizantes e não ionizantes. Perceba que a radiação ultravioleta se encontra em uma faixa bem no limite entre esses dois tipos de radiações (100-400 nm): 16 Unidade I 1024 1022 1020 1018 1016 1014 1012 1010 108 106 104 102 100 Ondas de rádio longas Ondas de rádio FM AM UVRaios XRaios gama Infravermelho Micro-ondas v (Hz) 10-16 10-14 10-12 10-10 10-8 10-6 10-4 10-2 100 102 400 500 Espectro visível Radiação ionizante Radiação não ionizante 600 700 104 106 108 λ (m) Figura 8 Disponível em: https://bit.ly/36FvuUP. Acesso em: 15 jul. 2021. As radiações não ionizantes, apesar de possuírem baixa energia, necessitam de medidas de controle pois, em casos de exposições ininterruptas, podem ter a capacidade de quebrar moléculas e ligações químicas, ocasionando possíveis danos à saúde das pessoas. Um exemplo bem comum é a radiação ultravioleta (UV) presente na luz solar, que é composta de 5% de radiação ultravioleta (BALOGH et al., 2011). Observação A radiação UV é subdividida comumente em UVC (100-290 nm), UVB (290-320 nm) e UVA (320-400 nm). A radiação UVA, por sua vez, é classificada em UVA1 (340-400 nm) e UVA2 (320-340 nm). Raio X UVC UVB UVA 100 200 280 315 400 780 Elminação total dos micro-organismos Comprimento de onda (nm)Hg - baixa pressão lâmpada de 254 nm InfravermelhoUltravioleta Luz visível Figura 9 Disponível em: https://bit.ly/3DpI5ee. Acesso em: 25 ago. 2021. 17 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA A radiação UVC possui a capacidade de inibir a reprodução de micro-organismos como vírus, fungos, bactérias e protozoários, sendo muito utilizada para a desinfecção de embalagens nas indústrias alimentícias (LANZA, 2016). Segundo Balogh et al. (2011), o DNA é uma das principais moléculas que absorve a radiação UV e, portanto, pode sofrer mutações que, posteriormente, podem resultar em transformações malignas da célula. A radiação UV pode ativar componentes do sistema imune cutâneo, gerando resposta inflamatória por distintos mecanismos, tais como: ativação direta de queratinócitos e outras células que liberam mediadores inflamatórios e redistribuição e liberação de autoantígenos sequestrados de células danificadas pela radiação UV. Além disso, ela afeta os olhos e, a cada ano, aproximadamente três milhões de pessoas sofrem perda da visão devido aos danos relacionados a sua exposição, tais como fotoconjuntivites e cataratas (BALOGH et al., 2011). Porém existe o outro lado, ainda conforme os autores (BALOGH et al., 2011), a radiação UV apresenta efeitos benéficos para a saúde. Ela estimula a produção da vitamina D3 (colecalciferol), envolvida no metabolismo ósseo e no funcionamento do sistema imunológico, e é utilizada no tratamento de doenças de pele, como psoríase e vitiligo. A exposição regular do paciente à radiação UV caracteriza a fototerapia, que pode ser usada em conjunto com alguns medicamentos que aumentam a sensibilidade do paciente à radiação, promovendo melhora no quadro de determinadas doenças dermatológicas. Além disso, sabe-se que, no dia a dia, a necessidade da fotoproteção (protetores solares com filtros) é uma realidade, quer seja pela ação profilática e terapêutica contra o envelhecimento precoce, quer seja pela diminuição da incidência de câncer de pele. Observa se, ao longo dos anos, evolução no desenvolvimento de fotoprotetores, visando à obtenção de formulações seguras e eficazes, capazes de fornecer proteção UV ampla (BALOGH et al., 2011). Portanto, como vimos anteriormente, há dois subtipos das fontes de radiações não ionizantes: eletromagnéticas de frequência extremamente baixa, como ondas de rádio (oriundas da rede elétrica e dos equipamentos elétricos e eletrônicos) e radiofrequência/micro-ondas, como telefones celulares e sem fio, antenas de telefonia celular instaladas nos aparelhos móveis e nas torres, radares e transmissões de rádio e TV, luz elétrica, torres de transmissão e distribuição elétrica, fiação elétrica em construções, equipamentos que emitem radiação infravermelha, redes Wi-Fi. As possíveis formas de exposição a essas fontes são: no trabalho, os colaboradores podem ser expostos a campos eletromagnéticos de frequência extremamente baixa, se trabalharem próximos de sistemas elétricos que utilizam grandes potências como geradores ou cabos de força, variando conforme a potência do campo eletromagnético, da distância do funcionário em relação à fonte e do tempo de exposição. As maiores exposições ocorrem entre os soldadores e eletricistas – e no próprio ambiente, pois nós somos expostos à radiação não ionizante, independentemente de ocorrer por meio de fontes naturais ou produzidas pelo homem. 18 Unidade I Lembrete Existem dois subtipos das fontes de radiações não ionizantes: eletromagnéticas de frequência extremamente baixa e radiofrequência e/ou micro-ondas. Outra radiação não ionizante importante é o infravermelho (RI). Na história da humanidade, foi o cientista William Herschel, no ano de 1800, quem realizou a mensuração da temperatura em cada cor do arco-íris, compreendendo, assim, o espectro de cores. Foi ele quem descobriu o que hoje chamamos de infravermelho. O infravermelho é uma radiação do espectro eletromagnético com comprimentos de onda entre 0,75 μm a 100 μm, em meio ao limite da percepção visual do vermelho e às micro-ondas (BRIOSCHI et al., 2007). Ela pode transmitir energia na forma de calor, elevando a temperatura da pele. A pele humana exposta diretamente à RI pode ter sua temperatura elevada para mais de 40 °C devido à conversão da RI em calor. A exposição crônica ao calor é capaz de gerar alterações na pele humana e provocar doenças como o eritema ab igne, caracterizado por eritema reticulado, hiperpigmentação, descamação fina, atrofia epidérmica e telangiectasia, que é um problema estético causado por vasos muito finos existentes na superfície da pele (BALOGH et al., 2011). A radiação infravermelha está dividida em três categorias: radiação infravermelha curta (0,8-1,5 µm), média (1,5-5,6 µm) e longa (5,6-1000 µm). Os primeiros trabalhos com os diferentes tipos de RI relatavam diferenças entre as formas de ação biológicas do infravermelho curto e médio/longo (HARRIS; BERTOLUCCI, 1989). A imagem RI quantitativa é útil particularmente quando empregada na monitoração do curso da atividade inflamatória e da terapia anti-inflamatória local e sistêmica, em especial nas articulações do nosso corpo. Por isso é muito aplicada a imagem infravermelhaem reumatologia ou em medicina esportiva para verificar possíveis áreas lesionadas. Quando uma articulação está inflamada em fase aguda, o aumento de calor pode ser detectado pelo simples toque. Entretanto, discretas mudanças na temperatura da superfície articular representam redução ou exacerbação da inflamação. A termografia (utilização de infravermelho) é, portanto, capaz de detectar precocemente essas mudanças, conduzindo à introdução do tratamento; seja farmacológico, seja físico ou cirúrgico (CÔRTE; HERNANDEZ, 2016). A melhor compreensão dessa tecnologia está permitindo avaliar por outra perspectiva a efetividade de tratamentos reumatológicos por via local e sistêmica. 19 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Figura 10 – Simetria termográfica em joelhos saudáveis Adaptada de: Côrte e Hernandez (2016, p. 317). Figura 11 – Imagem termográfica de condropatia patelar grau III em joelho esquerdo Fonte: Côrte e Hernandez (2016, p. 317). 1.4 Conceitos de fontes de radiação ionizantes seladas e não seladas O físico francês Antoine Henri Becquerel, em 1896, começou a descrever certas propriedades de alguns átomos que até aquele momento eram desconhecidas. Ele analisou o urânio e percebeu que esse elemento emitia radiações. Isso ocorreu apenas um ano após a descoberta dos raios X por Wilhelm Conrad Röntgen, em 8 de novembro de 1895. Na mesma época, a pesquisadora Marie Sklodowska Curie avaliou outros elementos e também descreveu as mesmas propriedades de Becquerel, porém o elemento utilizado por ela foi o rádio, daí o surgimento do nome radioatividade. Ela ainda avaliou o elemento polônio, assim denominado pelo simples fato de Marie ser de origem polonesa. Em 1903, Pierre e Marie Curie dividiram o prêmio Nobel de física com Antoine Henri Becquerel devido aos seus estudos sobre radioatividade. 20 Unidade I A) B) C) Figura 12 – A) Antoine Henri Becquerel; B) Marie Curie; C) Pierre Curie Fonte: Mourão e Oliveira (2009, p. 13). Existem átomos que possuem excesso de energia em seus núcleos. Esta instabilidade no núcleo é o que chamamos de radioatividade, portanto esses átomos radioativos emitirão radiações por partículas ou ondas até se estabilizarem. Há na natureza diversos materiais radioativos, como: urânio-235, urânio-238, tório-232, rádio-226, potássio-40, entre outros. Existem ainda aqueles artificiais que são muitos utilizados em medicina, como: iodo-123, iodo-131, flúor-18, gálio-67, tecnécio-99m e tálio-201. Como isótopos são elementos químicos com massas distintas, elementos radioativos com diferentes massas são chamados de radioisótopos. Excesso de energia Núcleos Estáveis Com excesso de energia (radioativos) Emitida em forma de ondas eletromagnéticas radiação γ Emitida em forma de matéria (partículas) Radiação α Radiação β Figura 13 – Material radioativo Fonte: Castro Jr. (2010, p. 24). A fonte selada é um material radioativo solidamente incorporado em matéria sólida inativa ou, ainda, contido em cápsula inativa hermeticamente fechada, de tal forma que não se disperse em condições normais de uso ou quando submetida a ensaios específicos (impacto, percussão, flexão, térmico). Ela somente pode ser aberta por meio de sua destruição (XAVIER; MORO; HEILBRON, 2006). 21 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA As seguintes técnicas típicas utilizam-se de fontes seladas: • Técnicas radiográficas: radiografias beta e de nêutrons, e ainda gamagrafia industrial. • Técnicas de medição: medidores de densidade, espessura, umidade e nível. • Técnicas de irradiação: radioterapia (teleterapia e braquiterapia), esterilização de produtos clínicos e preservação de alimentos. • Técnicas analíticas: análises químicas de rotina, análise de traços de elementos, análise de minérios no campo, determinação de constituintes de ligas. E ainda outras técnicas, como: detectores de fumaça, eliminadores de estática, para-raios e baterias nucleares (marca-passos) (XAVIER; MORO; HEILBRON, 2006). Saiba mais Em 1987, a violação de uma fonte selada por pessoas leigas da população local da cidade de Goiânia causou um desastre em território nacional que culminou na morte e contaminação radioativa de várias pessoas. Tal incidente ficou conhecido como acidente do Césio 137 de Goiânia. A fim de entendê-lo em sua integralidade, acesse: GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS. Césio 137 Goiânia. [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3lnbNrS. Acesso em: 14 set. 2021. As figuras a seguir demonstram exemplos de fontes seladas: Figura 14 Fonte: Tiezzi (2016, p. 20). 22 Unidade I Figura 15 Disponível em: https://tinyurl.com/ydvfkc9m. Acesso em: 8 set. 2021. 2 discos de Ir-192. φ 3 mm x 0,25 mm cada Cápsula de aço inoxidável Fonte Mola Cabo de aço Engate Figura 16 – Características físicas de uma fonte de Ir-192 destinada a irradiadores de gamagrafia portáteis Fonte: Andreucci (2013, p. 26). Os principais radioisótopos empregados em fontes seladas, segundo Xavier, Moro e Heilbron (2006), são: • Fontes gama: Co-60; Cs-137; Ir-192; Ra-226. • Fontes beta: P-32; Kr-85; Sr-90; Tl-204. • Fontes de nêutrons: Po-210, Sb-214, Ac-227, Ra-226, Pu-239, Am-241 (todas em combinação com o Be) e Cf-252. • Fontes de ionização (geralmente envolvendo emissão de Bremsstrahlung ou partículas alfa): H-3 (com Ti); Ra-226; Am-241. 23 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Já uma fonte radioativa não selada é aquela em que não há qualquer tipo de proteção que impeça o seu contato com o meio ambiente. Sendo assim, os riscos de chances de contaminação por uma fonte não selada são bem maiores. Ela é normalmente utilizada como traçadora, para marcar compostos ou, ainda, para marcar uma parte de um sistema, podendo este variar de um processo industrial a uma função biológica (XAVIER; MORO; HEILBRON, 2006). Na área médica, fontes não seladas são empregadas para a avaliação do funcionamento de diversos órgãos, podendo ser usadas in vivo, ou seja, administrando um radiofármaco e subsequentemente examinando o paciente ou, ainda, in vitro, ou seja, retirando uma amostra do paciente e usando traçadores radioativos para análise subsequente e diagnóstico (radioimunoensaio). Ainda na área médica, radiofármacos são empregados para fins terapêuticos como, por exemplo, o tratamento de câncer. Desta forma, é possível tocar o material radioativo e administrá-lo aos seres humanos por via oral ou intravenosa. A maioria dos materiais radioativos se encontra na forma de óxidos ou sais. É difícil encontrar uma aplicação para as fontes não seladas que não a própria medicina nuclear. Portanto, esses materiais estão diluídos em uma solução, o que facilitará sua administração aos pacientes. É o caso, por exemplo, do 99mTc, radionuclídeo mais utilizado em medicina nuclear. Ele é empregado na forma de pertecnetato de sódio. Quando administrada intravenosamente, essa fonte não selada se espalha pelo organismo, emitindo radiação onde quer que se encontre, diferentemente então de uma fonte selada que terá sua emissão de radiação bem localizada. Portanto, o profissional deverá tomar muito cuidado ao manusear as fontes não seladas, pois caso entre em contato com elas, pode se contaminar. Por exemplo, se encostarmos o dedo em uma fonte não selada, ele ficará contaminado e passará a emitir radiação. Consequentemente, receberemos certa dose de radiação. O principal problema para os trabalhadores em medicina nuclear é evitar se contaminar durante a manipulação das fontes não seladas. Por isso, é necessário usar todos os equipamentos de proteção individual. Já as aplicações industriais típicas incluem medidas de vazão e eficiência de filtração de gases, medidas de velocidade de líquidos e gases em tubulações, determinação do tempo de residência de líquidos e sólidos particulados em equipamentos, detecção de vazamento em tubulações, avaliação de desgaste de equipamentos, entre outras. 2 FONTES DE RADIAÇÃO 2.1 Fontes de radiação em saúde A principal fonte de radiação artificial utilizada em saúde é sem dúvida nenhuma o raio X.A história das radiações se inicia no inverno de 1895, com a descoberta experimental dos raios X pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen, então com 50 anos, professor de física da Universidade de Würzburg na Alemanha e ganhador do primeiro prêmio Nobel de física em 1901. Já em 1896, um ano após a descoberta de Röntgen, havia relatos de realização de radiografias, com fins diagnósticos, em mais de 100 trabalhos sobre as aplicações médicas dos raios X (NAVARRO et al., 2008). 24 Unidade I O tubo de raios X é um conversor de energia, ele recebe energia elétrica e a converte em raios X e calor. Ele é constituído por ânodo e cátodo. O cátodo geralmente é um filamento de tungstênio, é aquecido por um circuito apropriado, podendo atingir altas temperaturas e assim produzir os elétrons que atingem o alvo (ânodo) em um ponto bem determinado, chamado de ponto focal (CARDOSO; BARROSO, 2013). Quando elétrons acelerados por um campo elétrico intenso colidem com um alvo metálico, eles reduzem sua energia cinética, mudam de direção e, alguns, emitem a diferença de energia sob a forma de ondas eletromagnéticas, os raios X. Os elétrons sofrem espalhamento e redução da velocidade devido à atração da carga do núcleo e à repulsão dos elétrons dos átomos do material-alvo. Por isso, esse tipo de radiação é também denominado radiação de freamento (Bremsstrahlung). Em um tubo de raios X, o feixe de elétrons é gerado por emissão termoiônica em um filamento aquecido. O campo elétrico é obtido aplicando-se uma alta voltagem entre os terminais do tubo de raios X, onde o alvo metálico, ânodo, é polarizado positivamente e o filamento, cátodo, negativamente. A emissão de raios X somente ocorre, obviamente, quando estiver ligada à alta tensão. Quanto maior a tensão aplicada ao tubo, maior será a energia dos raios X gerados e maior também o seu poder de penetração. Aumentando-se a corrente, eleva-se a intensidade do feixe. Vácuo Envoltório de vidro Haste de cobre Radiador Ânodo Raio X Janela Cátodo Alvo de tungstênio Filamento e nuvem de elétrons Figura 17 – Tubo de raios X Fonte: Freitas, Rosa e Souza (2004, p. 33). Os tubos de raios X, embora funcionem com o mesmo princípio físico, sofrem variações no formato, tipo de alvo do ânodo, faixa da tensão (kV) e corrente aplicadas e sistema de refrigeração. As máquinas utilizadas para radiologia oral apresentam a tensão na faixa de 60 kV a 80 kV; para mamografia, entre 30 kV e 40 kV; para radiodiagnóstico, de 100 kV a 150 kV e aquelas empregadas em radiografia industrial, de 150 kV a 500 kV. Os alvos são constituídos por tungstênio ou molibdênio. 25 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Outra fonte de radiação muito usada em saúde é aquela gerada por aceleradores de elétrons. Eles são utilizados nos hospitais, mas podem ser usados também nas indústrias e nos institutos de pesquisa. São muito versáteis, pois, a partir do feixe de elétrons, podem-se produzir feixes de radiação de freamento (radiação eletromagnética de alta energia e espectro contínuo), ou feixe de nêutrons, empregando reações nucleares, para certas faixas de energia. Os elétrons, gerados por emissão termoiônica nos filamentos aquecidos, são injetados em um tubo e carregados por uma onda portadora estacionária, por várias seções da máquina, até atingir a energia desejada. A onda portadora é gerada por válvulas tipo Klystron, de micro-ondas, e introduzida na máquina por meio de guias de onda. O feixe é colimado por bobinas. Filtro achatador Câmara de ionização dual Colimador superior Colimador inferior Colimador multifolhas (opcional) Eixo central do feixe Eixo de rotação da mesa Colimador primário Janela de saída Sistema de transporte do feixe Alvo Cabeçote Fonte de alimentação Janela de cerâmica Circulador ÂnodoGrade Filamento Canhão de elétrons Guia de ondaGuia de onda Carga Janela de cerâmica Bobina defletora Bobina defletora Seletor de energia Magneto quadripolar Feixe pulsado de elétrons Bobina defletora Bobina defletora Sistema de pressurização Fonte de micro-ondas (Klyston ou magnetron) Modulador de pulso Mesa de tratamento Sistema de refrigeração Unidade de controle Bomba de vácuo Bobina focalizadora Figura 18 – Acelerador linear de elétrons Fonte: Tauhata et al. (2013, p. 49). Observação Os elétrons são gerados por filamentos aquecidos e injetados no tubo acelerador. Esse tubo é dividido em várias seções, cada uma delas sujeita a uma diferença de potencial (ddp). 26 Unidade I Mesa de tratamento Feixe de elétrons ou fótons AlvoFonte de elétrons Figura 19 – Esquema simplificado de um acelerador de elétrons médico Fonte: Cardoso e Barroso (2005, p. 10). A) B) Figura 20 – A) acelerador linear de elétrons; B) paciente posicionado para tratamento com teleterapia Já a tomografia – derivada do termo grego tomo, que significa cortes – é um procedimento radiográfico por imagem com radiação ionizante produzida artificialmente, no qual são realizados cortes milimétricos do corpo, nos planos: axial; sagital; coronal. O exame não projeta em somente um plano, mas em todas as estruturas alcançadas pelos raios X convencionais. Porém, demonstra a relação com as diversas estruturas anatômicas envolvidas em volume e profundidade (GADELHA et al., 2007). 27 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA A tomografia computadorizada (TC) é um método de diagnóstico capaz de fornecer imagens de alta qualidade e ótima resolução espacial, podendo realizar reconstruções em diversos planos e também avaliar estruturas menos densas através da administração de meios de contraste. Essa técnica foi desenvolvida na década de 1970 por Godfrey Newbold Hounsfield e seus colaboradores com a realização do primeiro exame de crânio. Entretanto, com toda a evolução tecnológica, os exames que no início levavam aproximadamente 5 minutos para serem efetuados, nos dias atuais, levam segundos para varrer o volume do exame e gerar dezenas ou mesmo centenas de imagens (OLIVEIRA, 2018a). Saiba mais O desenvolvimento do aparelho de tomografia computadorizada ocorreu na Inglaterra, na década de 1970, e rendeu aos inventores Godfrey Newbold Hounsfield e Allan MacLeod Cormack o prêmio Nobel de Medicina em 1979. Acesse o artigo sobre a história do referido equipamento em: CARVALHO, A. C. P. História da tomografia computadorizada. Imagem, v. 29, n. 2, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3EhaSlu. Acesso em: 14 set. 2021. Figura 21 Disponível em: https://bit.ly/38SyY7u. Acesso em: 8 set. 2021. Outra categoria que também está exposta às radiações ionizantes na saúde é aquela que inclui os cirurgiões dentistas. É muito comum o uso de aparelhos de raios X em consultórios odontológicos, 28 Unidade I pois praticamente todas as especialidades da odontologia necessitam de imagens radiográficas para possíveis diagnósticos. Apesar das pequenas doses empregadas na área, ainda se faz necessário utilizar-se das diretrizes básicas de proteção radiológica para que o profissional e principalmente o paciente recebam doses baixas, que não ultrapassem os limites estipulados pela legislação. Sabe-se que os efeitos da radiação provenientes dos aparelhos de raios X odontológicos são muito pequenos: sendo o risco de indução de câncer fatal ocasionada por exames panorâmicos na ordem de 1 em 1.000.000 e em exames intrabucais de 1 em 10.000.000 (MELO; MELO, 2008). Apesar de as doses da radiação ionizante em odontologia serem baixas, devemos ficar atentos aos seus efeitos acumulativos. Isso poderia acarretar problemas em longo prazo, o que faz com o que os profissionais das técnicas radiológicas que atuam em clínicas de radiologia odontológicas tenham total responsabilidade e comprometimento com os pacientes, visando minimizar sempre os possíveis riscos associados à radiação (MELO; MELO, 2008). 2.2 Fontes de radiação em indústria As máquinas que possuem a capacidade de acelerar feixes de partículas carregadas deixando-as com alta velocidade e assim criandoenergias que possam produzir mais feixes de átomos, elétrons ou moléculas, por meio de colisões desses feixes em grandes quantidades ou de formas controladas, são conhecidas como aceleradores de partículas. Esses aceleradores podem ser classificados em lineares ou circulares. Os lineares possuem este nome porque aceleram o feixe seguindo uma trajetória retilínea de modo que sua energia seja proporcional ao seu comprimento. Já os circulares deixam seu feixe seguindo uma trajetória curvilínea e a cada volta ocorre a aceleração, são os chamados cíclotrons ou síncrotons (LUIZ; MONTEIRO; BATISTA, 2011). Na indústria, os cíclotrons ganharam grande importância nos últimos anos pela sua capacidade de produção de radionuclídeos de meia-vida curta, de uso crescente na medicina nuclear diagnóstica, principalmente nos dispositivos de tomografia por emissão de pósitrons (PET). A diminuição de custo e de instalação desses equipamentos pelo uso de materiais supercondutores e de geradores de campo magnético de grande intensidade permitiu sua rápida difusão para colocação em hospitais e centros médicos (TAUHATA et al., 2013). São dispositivos que aceleram partículas carregadas utilizando a diferença de potencial elétrico, auxiliada com campos magnéticos para defletir o feixe. Constituem-se de duas partes em forma de “D”, separadas por um intervalo. O feixe de partículas é injetado no centro da máquina e é acelerado eletricamente por uma voltagem alternada, quando atravessa o intervalo entre os “D”. À medida que a velocidade da partícula cresce, o raio do feixe aumenta, em uma trajetória em espiral, até que atinge a energia final e, então, um extrator, desloca o feixe na direção do alvo a ser bombardeado. A condição para o bom funcionamento dessas máquinas é o sincronismo entre a velocidade da partícula e os campos de aceleração e deflexão. Em todas as regiões, no interior da máquina, de percurso e aceleração do feixe, é preciso que haja alto vácuo. As energias obtidas chegam a 15 MeV para prótons, 25 MeV para dêuterons e 50 MeV para partículas alfa (TAUHATA et al., 2013). 29 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Figura 22 – Ciclotron Disponível em: https://bit.ly/3gAGXKX. Acesso em: 25 ago. 2021. Ainda na indústria, para verificarmos possíveis defeitos ou falhas na montagem ou produção de diversos setores, existe um processo de inspeção conhecido como gamagrafia industrial. Ele é utilizado nas indústrias automobilísticas, petrolíferas, siderúrgicas, naval, entre outras (SOUZA, 2015). Figura 23 – Exemplo de gamagrafia industrial Fonte: Andreucci (2013, p. 11). 30 Unidade I Na gamagrafia utiliza-se radiação ionizante de origem de fontes radioativas artificiais emissoras de raios gama, daí seu nome. Essa radiação irá atravessar os materiais que deverão ser analisados e sensibilizar os filmes radiográficos, formando a imagem latente. Posteriormente é feita a revelação desse filme, sendo possível verificar diferenças nas espessuras, impurezas ou falhas na composição dos materiais por meio de diferenças na densidade óptica obtida (ANDREUCCI, 2013). Fonte radioativa Fissura Filme reveladoFilme Figura 24 – Ensaio radiográfico Fonte: Cardoso (2013, p. 12). Foram desenvolvidos, portanto, equipamentos específicos para a gamagrafia industrial. Eles são conhecidos como irradiadores de gamagrafia, ou simplesmente irradiadores gama. Eles possuem basicamente três componentes: uma fonte radioativa, uma blindagem e um dispositivo necessário para expor a fonte quando de sua utilização. A blindagem costuma ser de urânio exaurido, ou simplesmente chumbo, com a finalidade de manter níveis radioativos aceitáveis em sua superfície durante todo o manuseio (SOUZA, 2015). Existem basicamente três classes de irradiadores: P, F e M, que seguem o padrão internacional ISO 3999-1 de 2004. Na tabela a seguir, é possível verificar os limites de taxa de dose por irradiador. Tabela 1 – Limite de taxa de dose por classe de irradiador Taxa de dose máxima em relação à superfície (mSv/h) Classe na superfície a 5 cm a 1 m P 2 0,5 0,02 M 2 1 0,05 F 2 1 0,1 Fonte: Souza (2015, p. 7). 31 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA • O irradiador classe P é portátil, com massa máxima de 25 kg, é o mais comum e em sua grande maioria utiliza o 192Ir. • Já o irradiador classe M é móvel, porém não dá para transportá-lo em grandes distâncias. • O irradiador classe F é fixo, portanto, sua atuação fica limitada a uma área restrita. Lembrete Há basicamente três classes de irradiadores: P, F e M. Para a utilização desses irradiadores, é necessário o uso de um engate que se acopla ao dispositivo para que possa expor o material radioativo. Esta fonte selada, portanto, fica dentro de um aço inoxidável conhecido como “porta fonte”, que é flexível, articulado e se conectará no engate mencionado anteriormente. Além disso, o porta fonte possui um mecanismo de travas para se manter em segurança. Quando o cabo de comando é acoplado manualmente na parte posterior do equipamento, ocorre o destravamento, então o cabo flexível pode ser acoplado à parte anterior do equipamento, conduzindo o porta fonte até a área que será inspecionada (SOUZA, 2015). A figura a seguir demonstra o esquema de um irradiador portátil: Cabo de comando Blindagem de urânio exaurido Tubo guia da fonte (flexível) Fonte radioativa Figura 25 – Componentes básicos de um irradiador portátil Fonte: Andreucci (2013, p. 27). Os irradiadores são classificados em basicamente três categorias: I, II e X. Na categoria I, ao abrir o comutador, a radiação é liberada sem que haja remoção da fonte para exposição. Já na categoria II, a fonte é levada para o exterior por um tubo guia até o ponto final para exposição, isso pode ocorrer elétrica ou mecanicamente. Já a categoria X é a dos irradiadores de gamagrafia submarinos (SOUZA, 2015). 32 Unidade I Figura 26 – Irradiador de gamagrafia classe P Fonte: Souza (2015, p. 8). Outra forma de aplicação da radioatividade capaz de trazer bons resultados na indústria alimentar ocorre no campo da agricultura. As radiações podem eliminar possíveis seres vivos (bactérias e fungos principalmente) que aceleram o apodrecimento dos alimentos. Assim, se irradiarmos tais itens, os produtos poderão durar muito mais tempo para o consumo. Outra maneira de aplicarmos a radiação na agricultura é irradiando os grãos. Dessa forma, a irradiação pode inibir ou atrasar o brotamento. O símbolo mostrado na figura a seguir, chamado “Radura”, é o internacional para indicar “alimento tratado por processo de irradiação” (FOGAÇA, [s.d.]). Figura 27 – Símbolo internacional da Radura Disponível em: https://bit.ly/3xQlNio. Acesso em: 15 jul. 2021. Pode-se ainda injetar radiotraçadores nas plantas. Eles recebem esse nome porque, ao serem transportados pela planta: emitem radiações que permitem ver a absorção de fertilizantes e como ela utiliza o nutriente; determinar em que parte da folha ou das raízes certo elemento químico é mais importante e assim avaliar a eficácia do controle de insetos; e detectar quais são os predadores de determinadas pragas. 33 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Dessa forma, eles podem ser usados no lugar de inseticidas. Outra forma possível de usá-los é esterilizar por radiação gama os machos das espécies que são consideradas pragas e depois soltá-los no meio ambiente para competirem com os machos normais. Isso diminuirá progressivamente a sua reprodução e o seu número. É a chamada técnica do macho estéril (FOGAÇA, [s.d.]). Não irradiado Irradiado 6 meses Figura 28 – Comparação de alimento irradiado com não irradiado Adaptada de: https://bit.ly/3higlib. Acesso em: 15 jul. 2021. A aplicação da radioatividade na agricultura não serve somente para aumentar a produção de alimentos, mas garante a nossa saúde e a do meio ambiente. Até os agrotóxicos podem ser marcados com radiotraçadores para serem realizados estudos a fim de detectar quanto deles ficam retidos no alimento e quanto contaminam o solo, as águase a atmosfera (FOGAÇA, [s.d.]). Contudo, para trazerem benefícios reais, todas essas técnicas devem ser feitas de forma bem controlada e definida, de modo a não deixar resíduos nem causar alterações nos alimentos e plantas. Em 2001, a Anvisa aprovou uma resolução, a RDC n. 21, que diz que qualquer alimento poderá ser tratado por radiação desde que a dose máxima absorvida seja inferior àquela que comprometeria as propriedades funcionais e/ou os atributos sensoriais do alimento. Além disso, o produto precisa ser acompanhado do símbolo Radura. 2.3 Fontes de radiação em pesquisa O uso de material radioativo em pesquisa se dá principalmente em universidades e centros especializados. As finalidades das pesquisas são as mais diversas: física nuclear, biologia, agricultura, saúde, meio ambiente, hidrologia e outras (TAUHATA et al., 2013). Em 2013, 578 instalações de pesquisa estavam cadastradas na CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). As fontes mais utilizadas são: 3H, 14C, 22Na, 55Fe, 55Ni, 125I, 226Ra, 35S, 233U, 234U e 32P. 34 Unidade I Os reatores de pesquisa, quando comparados aqueles que são destinados para gerar energia, são considerados reatores de potência baixa. Conforme Tauhata et al. (2013), em nosso país podemos encontrar quatro reatores de pesquisa. São eles: • No Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN): o reator IEA-R1. • No Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo: o reator IPEN-MB-01. • No Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear: o reator Triga, na cidade de Belo Horizonte. • No Instituto de Engenharia Nuclear (IEN): o reator Argonauta. O reator IEA-R1, além de ser usado para pesquisa, é usado para a produção de radioisótopos. Já o reator IPEN-MB-01 é utilizado para experimentos de materiais e combustíveis (TAUHATA et al., 2013). O quadro a seguir apresenta os radionuclídeos mais frequentemente utilizados em pesquisa, bem como as quantidades típicas empregadas: Quadro 1 – Principais radionuclídeos usados em pesquisa Radionuclídeo/Emissor Meia-vida Aplicações e quantidades típicas H-3 (β puro) 12,35 anos Biologia e hidrologia < 50 GBq C-14 (β puro) 5730 anos Biologia < 1 GBq P-32 (β puro) 14,3 dias Biologia e agricultura < 50 MBq S-35 (β puro) 87,2 dias Biologia < 5 GBq Fe-59 (βγ) 44,5 dias Biologia < 50 MBq Kr-85 (βγ) 10,72 anos Engenharia --- Br-82 (βγ) 35,3 horas Hidrologia --- Tc-99m (βγ) 6,02 horas Biologia < 500 MBq I-125 (βγ) 60,1 dias Biologia < 500 MBq I-131 (βγ) 8,02 dias Biologia < 50 MBq Adaptado de: Oliveira et al. (2006, p. 155). 2.4 Fontes de radiação e o meio ambiente Para entendermos um pouco sobre as fontes de radiação e sua interação com o meio ambiente, é necessário primeiramente termos algumas definições básicas, como rejeitos radioativos, monitoração ambiental, grupo crítico e Programa de Monitoração Radiológica Ambiental (PMRA). Antes, porém, é importante deixar bem claro que as ampolas de raios X não são consideradas rejeitos radioativos, pois somente emitem radiação ionizante quando são energizadas e não apresentam nenhum tipo de contaminação radioativa. 35 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Portanto, são considerados rejeitos radioativos quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de isenção especificados na norma CNEN-NE-6.02 – “Licenciamento de Instalações Radiativas” (1988), e para os quais a reutilização é imprópria ou não prevista, sendo todos os resíduos contaminados com radionuclídeos. O quadro a seguir demonstra a identificação de resíduos em serviços de saúde: Quadro 2 – Identificação de resíduos em serviços de saúde Simbologia Orientação O grupo A é identificado pelo símbolo de substância infectante, com rótulo de fundo branco, desenho e contornos pretos. O grupo B é identificado através do símbolo de risco associado e com discriminação de substâncias químicas. ATENÇÂO MATERIAL RADIOATIVO O grupo C é identificado através do símbolo de risco associado e com discriminação de substâncias radioativas e frases de risco. O grupo D é identificado pelo símbolo de material reciclável. Caso haja reciclagem, a identificação adotada deve usar códigos, cores e nomeações baseadas na Resolução Conama 275/2001. Resíduo perfurocortante O grupo E é identificado pelo símbolo de substâncias infectantes cortantes, com rótulos de fundo branco, desenho e contornos pretos, acrescido da inscrição de resíduo perfurocortante, indicando o risco que apresenta o resíduo. Adaptado de: Oliveira (2018b, p. 9). Sabe-se que as fontes seladas não podem ser descartadas, devendo a sua destinação final seguir orientações específicas da CNEN. Já os rejeitos compostos de materiais radioativos ou materiais contaminados com radionuclídeos com baixa atividade são, em geral, provenientes dos laboratórios de pesquisa em química e biologia, laboratórios de análises clínicas e serviços de Medicina Nuclear. Esses resíduos de materiais radioativos ou contaminados são normalmente sólidos ou líquidos (seringas, papel absorvente, frascos, líquidos derramados, urina, fezes, entre outros) e têm meia-vida curta. Trata-se de resíduos perigosos de classe C. 36 Unidade I A) B) C) Figura 29 – A) Rejeitos radioativos perfurocortantes; B) cestos para coleta de descartáveis nas salas de tratamento; C) caixa blindada para guardar rejeitos Disponível em: A) https://bit.ly/3BXOvj7; B) https://bit.ly/3nbqpNC; C) https://bit.ly/2VvNwak. Acesso em: 8 set. 2021. Os resíduos radioativos com atividade superior às recomendadas pela CNEN deverão ser acondicionados em depósitos de decaimento até que suas atividades se encontrem no limite permitido para sua eliminação. O uso de radioisótopos em medicina nuclear, seja para terapia, seja para diagnóstico, gera rejeitos radioativos. A quantidade e as características desses rejeitos variam em função da quantidade de pacientes atendidos, do tipo de procedimento realizado e do radioisótopo utilizado. Há resíduos oriundos de clínicas e unidades hospitalares que costumam ser armazenados nos próprios locais de uso. Segundo a CNEN (1988b), em geral esses produtos têm um rápido decaimento da atividade radioativa, o que permite descartá-los, após algum tempo, com os resíduos hospitalares convencionais. Os procedimentos recomendados para o descarte de resíduos radioativos são: • Não misturar rejeitos radioativos líquidos com sólidos. • Prever o uso de recipientes especiais, etiquetados e apropriados à natureza do produto radioativo em questão. • Coletar materiais como agulhas, ponteiras de pipetas e outros objetos afiados, contaminados por radiação, em recipientes específicos para perfurocortantes, com sinalização de radioatividade. • Identificar os contêineres com: isótopo presente, tipo de produto químico e concentração, volume do conteúdo, laboratório de origem, técnico responsável pelo descarte e data do descarte, além do símbolo internacional de radiação. • Não armazenar os rejeitos no laboratório ou na sala de tratamento, mas em um local previamente adaptado, aguardando o recolhimento, dentro de contêineres blindados. • Considerar como de dez meias-vidas o tempo mínimo necessário para obter um decréscimo adequado para a atividade dos radioisótopos empregados na área biomédica. 37 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA • Empregar o uso de vestimentas protetoras e luvas descartáveis no pessoal responsável pela coleta de resíduos radioativos. Elas deverão ser eliminadas após o uso, assim como o resíduo radioativo. • Usar papéis absorventes ou areia no caso de derramamento de líquidos radioativos, dependendo da quantidade derramada. Isso impedirá seu espalhamento. Eles deverão ser eliminados com outros resíduos radioativos. Já o transporte de materiais radioativos, seja por via aérea, marítima, ou terrestre, deve cumprir as exigências das normas da CNEN, destacadamente, as normas CNEN-NN-5.01, CNEN-NN-5.04 e CNEN-NN-5.05 e os demais regulamentos nacionais para a segurança dotransporte de produtos perigosos. • A norma CNEN 5.01 estabelece requisitos de segurança e proteção radiológica a serem atendidos desde a origem até o destino final das remessas, de forma a assegurar o adequado nível de controle da eventual exposição de pessoas, bens e meio ambiente aos efeitos nocivos das radiações ionizantes. • A norma CNEN 5.04 dispõe sobre o rastreamento de veículos de transporte de materiais radioativos. • A norma CNEN 5.05 estabelece os requisitos de projeto e de ensaios para materiais, embalagens e volumes contendo materiais radioativos. Os requisitos normativos se aplicam às condições rotineiras, normais e acidentais que possam ocorrer durante a operação de transporte. As embalagens contendo materiais radioativos são chamadas de embalados e devem ser rotuladas de acordo com o material que contêm e a radiação que emana desses embalados, na superfície externa e a um metro do embalado. Elas são de três tipos: Branco I, Amarelo II e Amarelo III e estão nessa ordem de acordo com os níveis de radiação medidos. Rótulo categoria I - branca Cores: - Fundo: branco - Trifólio e letras: preto - Barra de categoria: vermelho Rótulo categoria II - amarela Cores: - Fundo: branco - Trifólio e letras: preto - Barra de categoria: vermelho Rótulo categoria III - amarela Cores: - Fundo: branco - Trifólio e letras: preto - Barra de categoria: vermelho RADIOATIVO I CONTEÚDO........ ATIVIDADE.......... RADIOATIVO II CONTEÚDO........ ATIVIDADE.......... RADIOATIVO III CONTEÚDO........ ATIVIDADE.......... ÍNDICE DE TRANSPORTE ÍNDICE DE TRANSPORTE Figura 30 – Agência Internacional de Energia Atômica Fonte: Wagner e Faiman (2017, p. 11). 38 Unidade I A figura a seguir demonstra as embalagens com seus respectivos rótulos: Figura 31 Disponível em: https://bit.ly/3yjB4Yz. Acesso em: 25 ago. 2021. Os veículos de transporte devem receber placas de sinalização com o código da ONU “Radioativo 7”, conforme mostrado nas figuras a seguir. Devem ser monitorados os níveis da radiação na posição do motorista e nos lados externos do veículo. É preciso anotar os dados dessa monitoração em uma ficha própria, chamada de ficha de monitoração do veículo e da carga. Figura 32 Disponível em: https://bit.ly/3mhPZjp. Acesso em: 15 jul. 2021. 39 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Figura 33 – A expedição e o transporte de radiofármacos para hospitais e clínicas de medicina nuclear são monitorados pela equipe de proteção radiológica Disponível em: https://bit.ly/2W7f2L8. Acesso em: 15 jul. 2021. É necessário gerar uma ficha de emergência para acompanhar o transporte. Ela trará informações sobre a natureza do material embalado, o equipamento de proteção individual (EPI) que deve ser usado, os riscos existentes e as providências no caso de acidentes, incêndio, vazamento ou danificação do embalado. Figura 34 – Formulário padrão para ficha de emergência Fonte: Andreucci (2013, p. 63). 40 Unidade I Deve estar em poder do motorista um envelope de emergência com os seguintes documentos: • Declaração do expedidor de materiais radioativos. • Ficha de emergência. • Certificado de aprovação especial para embalado e transporte. • Ficha de monitoração do veículo e da carga. O transporte de entrega dos produtos radiativos para o consumidor (clínica) ou para a deposição em depósitos da CNEN devem cumprir esses requisitos. Portanto, é preciso deixar bem claras as respostas para possíveis dúvidas que o leitor possa vir a ter. Que tipo de material é considerado rejeito radioativo e que tipo de rejeito é armazenado em um depósito? Há dois tipos de rejeitos, segundo as normas nacionais e internacionais: rejeitos de alta atividade e de baixa e média atividade. Os rejeitos de alta atividade são aqueles gerados durante a fissão do urânio nos reatores nucleares. Eles, como o nome estabelece, são bastante ativos e permanecem radioativos por um longo tempo. Por isso são segregados, imobilizados e abrigados em repositórios a grande profundidade, cerca de 500 metros, em terrenos geologicamente selecionados para serem isolados definitivamente do meio ambiente. Os rejeitos de baixa e média atividade são o resultado de materiais contaminados durante a operação das unidades radioativas e nucleares, como luvas, botas, roupas e instrumentos usados durante a operação dessas unidades, bem como fontes usadas na medicina e indústria com uma meia-vida radioativa limitada a 30 anos. Ao contrário dos rejeitos de alta atividade, esses são armazenados em repositórios na subsuperfície, mantidos imobilizados, monitorados e contidos com barreiras de engenharia que assegurem seu isolamento por um longo período. Outra dúvida comum é: quem é o responsável pela segurança do transporte? O expedidor de um material radioativo é o incumbido. Suas responsabilidades incluem a preparação da expedição, elaborar e submeter à CNEN a documentação de porte obrigatório durante as operações de transporte e fornecer ao transportador: informações, documentos e instruções operacionais pertinentes. E quais são as responsabilidades do transportador? Atender aos requisitos específicos ao meio de transporte constantes no regulamento de transporte de produtos perigosos. Suas responsabilidades incluem seguir fielmente as instruções do expedidor quanto às medidas de radioproteção e de proteção física acerca do manuseio dos volumes transportados. Além disso, qual o princípio de segurança no transporte de materiais radioativos? A segurança no transporte de materiais radioativos baseia-se nos seguintes princípios: 41 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA • A segurança do transporte depende basicamente do projeto do volume e de procedimentos administrativos. • Os volumes contendo material radioativo devem ser tratados com os mesmos cuidados adotados para outros produtos perigosos. • O expedidor é o responsável pela segurança do transporte. A aplicação desses princípios se dá pela adoção da chamada “abordagem gradual” para a definição dos requisitos de segurança impostos ao transporte de materiais radioativos. Isto é, quanto maior a atividade do material a ser transportado, mais rígidos serão os requisitos de segurança. Já a definição de grupo crítico na norma CNEN-NN-3.01 refere-se ao grupo de indivíduos do público, razoavelmente homogêneo em relação a uma determinada fonte ou via de exposição, que seja típico dos indivíduos recebendo as maiores doses efetivas ou doses equivalentes devidas àquela fonte ou via de exposição, conforme o caso. Outro assunto bastante importante é a monitoração ambiental. Entende-se por monitoração ambiental o processo planejado e sistemático de realizar medições de campos de radiação, de radioatividade e de outros parâmetros no meio ambiente, incluindo a interpretação dos resultados dessas medições, com o objetivo de caracterizar, avaliar ou controlar a exposição do indivíduo do público, em especial do grupo crítico, resultante de uma prática. A monitoração ambiental é realizada por meio da condução de um Programa de Monitoração Radiológica Ambiental (PMRA). Os objetivos do PMRA são: • Medir o impacto radiológico da instalação e de suas práticas. • Determinar a dose no grupo crítico da população. • Acompanhar a distribuição espacial e temporal de um determinado radionuclídeo no ambiente. O PMRA é concebido para suplementar os programas de controle da fonte e da descarga de efluentes radioativos. O programa pode ser dirigido a mais de uma prática, a fim de avaliar o impacto resultante da implantação de várias práticas em um mesmo sítio (instalação). As exigências para as medições, método de medida e registro de resultados são: o PMRA se constitui de uma rede de medições de campo de radiação, de radioatividade e de outros parâmetros ambientais importantes, estabelecidos com base nas características próprias da prática e da região, nas quais devem estar especificados os seguintes itens: • O tipo e a frequência das medições. • Os métodos de medição ou amostragem e subsequentes análiseslaboratoriais. 42 Unidade I • As metodologias para avaliação e registro dos dados. • A documentação dos resultados (relatórios). Vale a pena lembrar que a posição regulatória 3.01/009:2011 estabelece os modelos para a elaboração de relatórios de PMRA. Mas então, para quais fases da vida operacional de uma instalação deve ser feito o PMRA? São elas: • Fase pré-operacional: a instalação é autorizada a operar para testes dos equipamentos, medida dos níveis de radiação e avaliação das ações previstas no plano de proteção radiológica. • Fase operacional: a instalação é autorizada a operar normalmente. • Fase de descomissionamento: a instalação está autorizada a executar todos os procedimentos para o encerramento de suas operações, destinação das fontes e rejeitos radioativos remanescentes, além da liberação do local para uso comum. • Fase pós-descomissionamento: avaliação da instalação e do meio ambiente após o encerramento das atividades e liberação da instalação. A seguir detalharemos cada uma das fases: Fase pré-operacional • Caracterizar os níveis de radioatividade e os campos de radiação existentes e suas flutuações sazonais e periódicas, abrangendo as áreas de impacto e as que servirão de controle na fase operacional. • Identificar e determinar valores de parâmetros específicos que possam ser relevantes para a estimativa da dose e para a avaliação do impacto ambiental. • Implantar e avaliar a adequação dos procedimentos, equipamentos e técnicas de: medição; coleta, identificação, preservação e transporte de amostras; e métodos analíticos e radiométricos usados nos laboratórios. • Determinar a necessidade de recursos humanos, financeiros e de infraestrutura necessários à condução do programa na fase operacional. • Capacitar o pessoal técnico para a condução adequada do programa na fase operacional. 43 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Fase operacional • Comprovar as condições previstas de isolamento da fonte e de controle da liberação de efluentes. • Prover meios para demonstração ao público de que a fonte e a liberação de efluentes se encontram sob controle. • Avaliar os incrementos detectados nos níveis de radioatividade ou concentrações de atividades de radionuclídeos, em relação à fase pré-operacional, às áreas de controle e aos níveis medidos nos anos anteriores. • Estimar o impacto devido aos incrementos detectados, e, se necessário, propor e implementar programa de monitoração complementar e outras ações corretivas que levem ao retorno das condições operacionais impostas. • Analisar as tendências em relação às medidas de níveis de radioatividade ou das concentrações de radionuclídeos em áreas sujeitas ao impacto radiológico da prática e fora delas (áreas de controle), que permitam distinguir a contribuição da prática avaliada daquela de outras fontes. • Demonstrar a conformidade com os níveis operacionais estabelecidos. • Realizar a supervisão da região de modo a identificar modificações em parâmetros que indiquem a necessidade de revisão do programa. • Manter registros continuados das medidas efetuadas que permitam os processos de acompanhamento e auditoria da prática. Fase de descomissionamento Os objetivos desta fase são similares aos da fase anterior. O PMRA pode ser uma intensificação daquele adotado no estágio operacional, ou ainda um programa diferente, dependendo das características da instalação e dos procedimentos de descomissionamento que vierem a ser adotados. Fase pós-descomissionamento • Avaliar o nível de radiação e contaminação remanescentes no meio ambiente. • Identificar possíveis áreas onde ações corretivas sejam justificadas. • Manter o controle de áreas que permaneçam de uso restrito. Portanto, o conteúdo básico de um PMRA, ou seja, o seu estabelecimento, tem que levar em conta o seguinte: 44 Unidade I • Objetivos das medições. • Características das descargas: identificação do termo fonte para cada via de liberação e das condições de dispersão do efluente no meio ambiente. • Aspectos do local: localização e descrição dos grupos de população, localização cartográfica dos recursos hídricos, naturais, histórico-culturais e produtivos. • Estimativa de dose: definição das vias críticas de exposição, dos radionuclídeos críticos, dos grupos críticos, do modelo de avaliação, e valores de parâmetros genéricos e específicos relativos ao local e às fontes. • Níveis operacionais: valores a serem utilizados no estabelecimento dos níveis mínimos que devem ser detectados para cada radionuclídeo e meio monitorados. • Resultados obtidos nos programas precedentes, quando aplicável. Assim, o PMRA deve conter, pelo menos, as seguintes informações: • Identificação cartográfica dos pontos que formam a rede de monitoração. • Especificação, em função das diferentes vias de exposição, dos meios e bioindicadores a serem monitorados. • Tipos e frequências das medições, amostragens e subsequentes análises laboratoriais. • Limites mínimos de detecção, com base nos níveis operacionais, para cada radionuclídeo em função do meio monitorado. • Métodos de medidas, amostragem e análise. • Especificação dos equipamentos e sistemas de medição e de detecção necessários, em função dos tipos de medidas e dos limites mínimos de detecção requeridos. • Metodologia para análise crítica e tratamento dos dados. • Critérios e metodologia para avaliação dos resultados. • Definição da equipe técnica necessária à implantação e à manutenção do PMRA e de um programa de qualificação e de treinamento adequados. • Ações a serem implementadas quando os níveis de referência forem atingidos. 45 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA • Programa de supervisão da região, de modo a identificar modificações significativas nas condições de dispersão dos efluentes, de ocupação do local, do uso das terras e dos recursos hídricos que indiquem a necessidade de reavaliação do PMRA. • Periodicidade para reavaliação da adequação do PMRA. Qual é a garantia da qualidade das atividades previstas no PMRA? O PMRA deve estar submetido a um programa de garantia da qualidade consistente com a norma CNEN NN 1.16. Em particular, para as atividades constantes do PMRA, devem ser estabelecidos e documentados procedimentos operacionais e de gestão que descrevam, no mínimo: • estruturas envolvidas e atribuições de responsabilidades; • qualificação, treinamento e reciclagem; • técnicas de amostragem, identificação, conservação e armazenagem de amostras; • metodologias para determinações analíticas, análises radiométricas e medidas de radiação; • organizações para controle da qualidade analítica; • métodos para cálculo, análise crítica dos dados e expressão de resultados; • processo para o tratamento estatístico dos dados e avaliação dos resultados; • procedimentos de registro e arquivo de resultados. O Programa de Garantia da Qualidade estabelecido pela CNEN está em consonância com a ISO 9000. Constam a seguir exemplos de ação de monitoração ambiental. A) B) Figura 35 – Coleta de solos e amostras ambientais diversas/coleta de águas superficiais 46 Unidade I Figura 36 – Tratamento químico adequado em laboratório para medida posterior e verificação dos limites para liberação ou armazenamento como rejeito 47 PROTEÇÃO RADIOLÓGICA Resumo Nesta unidade foram apresentadas as definições básicas de radiação e suas principais formas. Vimos os tipos de radiações e suas características, independentemente de serem elas naturais ou artificiais, ionizantes ou não ionizantes, corpusculares ou eletromagnéticas e ainda tratamos acerca das fontes seladas e não seladas. Mostramos o quão importante é para o futuro profissional das técnicas radiológicas saber diferenciar os tipos de radiações e, mais do que isso, entender sobre como se deve manipulá-las com segurança, afinal é preciso estudar todas as suas propriedades. Também analisamos outras fontes de radiação. A fonte de radiação em saúde, por exemplo, é aquela com que mais comumente os profissionais tecnólogos
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