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Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Ciências Exatas e da Terra Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos Métodos para Estimativas de Perdas Reais em Rede de Abastecimento de Água: Estudo de Caso - Residencial Domingos Sávio Brandão Acelmo de Jesus Brito Cuiabá 2012 Acelmo de Jesus Brito Métodos para Estimativas de Perdas Reais em Rede de Abastecimento de Água: Estudo de Caso - Residencial Domingos Sávio Brandão Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em Recursos Hídricos da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Recursos Hídricos. Orientador: Prof. Dr. Gilson Alberto Rosa Lima Cuiabá 2012 Métodos para Estimativas de Perdas Reais em Rede de Abastecimento de Água: Estudo de Caso - Residencial Domingos Sávio Brandão Acelmo de Jesus Brito Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Recursos Hídricos. Aprovada por: Prof. Dr. Gilson Alberto Rosa Lima Universidade Federal de Mato Grosso Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (Orientador) Prof. Dra. Eliana Beatriz Nunes Rondon Lima Universidade Federal de Mato Grosso Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (Examinador Interno) Prof. Dr. Alexandre Kepler Soares Universidade Federal de Goiás Departamento de Engenharia Civil (Examinador Externo) Cuiabá 2012 Para Acelino Brito e Dejanira Maria de Jesuspelos exemplos, ensinamentos, e apoio. AGRADECIMENTOS A Deus, por conduzir-me na caminhada da minha vida, estando ao meu lado em todos os momentos e direcionando-me até aqui com força e perseverança. Ao professor e amigo Dr. Gilson Alberto Rosa Lima, pela orientação, sugestões, conselho, opiniões e questionamentos, que foram de fundamental importância para o desenvolvimento desse trabalho. Ao professor Dr. Peter Zeilhofer, pelas sugestões e questionamentos, que foram de fundamental importância durante a qualificação. Ao professora Dra. Elina Beatriz Nunes Rondom Lima, pelas sugestões e questionamentos, que foram de fundamental importância durante a qualificação e redação final do texto. Ao professor Dr. Alexandre Kepler Soares, pelos questionamentos, críticas e sugestões para a elaboração do texto final. Ao estudante do curso de engenharia sanitária e ambiental Renato Beregula pela revisão dos cálculos. A Anna Patricia Silva Macedo pela compreensão, carinho e cumplicidade incondicional. A Siurlanda Brito, pelo incentivo e pelos encaminhamentos que fizeram a minha caminhada até aqui. Ao Eng. Msc. Cesar Augusto Medeiros Destro, pela ajuda prestada, na discussão de conceitos usualmente utilizados na engenharia, bem como pela orientação na utilização de algumas ferramentas computacionais. Ao Eng. Paulo Mario Costa Cardoso, pela ajuda prestada e nas discussões dos resultados. A todos os professores do Programa de Mestrado em Recursos Hídricos, especialmente: Dr. Ricardo Santos Silva Amorim. Jeferson Alberto de Lima pela companhia, pelas longas conversas, bem como pela amizade que surgiu ao longo deste tempo. A todos os alunos do mestrado em Recursos Hídricos, especialmente: Ildete, França, Milena Athie, Mônica Bidarra. A Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), na qualidade de agência financiadora do projeto "Estudo de Minimização de Perdas Físicas em Sistema de Distribuição de Água Utilizando o Modelo EPANET", convênio 1231/07, cuja infra-estrutura deu suporte ao desenvolvimento do presente trabalho. “A Evolução é a Lei da Vida, O Número é a Lei do Universo, a Unidade é a Lei de Deus”. Pitágoras RESUMO Brito, A. J. (2012), Métodos para Estimativas de Perdas Reais em Rede de Abastecimento de Água: Estudo de Caso - Residencial Domingos Sávio Brandão.116 p. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT. Os programas de controle e redução de perdas são hoje indispensáveis para gestão dos sistemas de abastecimento de água devido a crescente demanda por água potável. Nesse contexto, este trabalho mostra os resultados do estudo de perdas de água, em um setor do sistema de abastecimento Coophema localizado na cidade de Cuiabá, MT. Para quantificar o volume de água perdido foram utilizados os métodos de balanço hídrico e vazão mínima noturna. Os dados utilizados foram cedidos pela Companhia de Saneamento da Capital (SANECAP) e medidos em campo utilizando macromedidores eletromagnético de vazão e pressão e datallogers. Antes de serem utilizados para calcular a perda de água, os dados de consumo, vazão e pressão passaram por testes de normalidade para verificar a aderencia dos valores observados com a função de distribuição teórica. A perda de água calculada por ambos os métodos esta acima do índice registrado em 2009 no relatório do Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS) para o município de Cuiabá. Palavras-Chave: Perdas de Água, Balanço Hídrico, Vazões Mínimas Noturnas, Sistema Coophema, Cuiabá-MT, Brasil. ABSTRACT Brito, A. J. (2012) Methods for Estimates of Real Losses in Water Supplay System, Case Study: Residential Domingos Savio Brandão. 116 p. Dissertation submitted to the Water Resources Graduation Program for the Master of Science Degree at Federal University of Mato Grosso. Water loss control programs are now indispensable for the management of water supply systems due to increasing drinking water demand. In this sense, this work shows the results of water losses study in a small area of coophema supply system located at the of Cuibá city, Mato Grosso state, central Brazil. The methods of water balance and minimal night flow were used to quantify the water loss volume. All the data used were provided by the Companhia de Saneamento da Capital (SANECAP) and measured in the field using electromagnetic flow meters and pressure datallogers. Before being used to calculate the water loss, the normality test were applayed to consumption, flow and pressure data to verify the adherence of the observed values with the theoretical distribution function. The calculated water loss by both methods is higher than the rate recorded in 2009 in the annual report of the Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS) for the Cuiabá city. Keywords: Water Loss, Water Balance, Minimal Night Flow, Coophema Distribution System, Cuiabá-MT, Brazil. i SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ iii LISTA DE TABELAS................................................................................................................ vi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .............................................................................. viii INTRODUÇÃO............................................................................................................................1 1 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................................3 1.1 Perdas em Sistemas de Abastecimento de Água: Breve Histórico ..........................................41.2 Informações Geradas pelo SNIS ...........................................................................................8 Índices de Perdas de Acordo com o SNIS ....................................... Erro! Indicador não definido. 1.3 Estudos Brasileiros de Controle de Perdas de Água............................................................. 11 1.4 Métodos de Avaliação de Perdas de Água ........................................................................... 15 1.4.1 Balanço Hídrico (IWA)................................................................................................ 16 1.4.2 Balanço Hídrico Modificado ........................................................................................ 20 1.4.3 Vazões Mínimas Noturnas (VMN) ............................................................................... 23 1.4.4 Fator de Pesquisa (FP) ................................................................................................. 29 2 METODOLOGIA ................................................................................................................... 30 2.1 Etapas do Estudo ................................................................................................................ 31 2.1.1 Primeira etapa - escolha da área de estudo .................................................................... 32 2.2.1 Segunda etapa - revisão da literatura ............................................................................ 36 2.2.2 Terceira etapa - aquisição de dados secundários ........................................................... 36 2.2.3 Quarta etapa - aquisição de dados primários ................................................................. 37 2.2.6 Sétima etapa - estimativa das perdas de água ................................................................ 44 2.4 Softwares ........................................................................................................................... 45 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 46 3.1 Análise dos Dados Primários e Segundários........................................................................ 47 3.1.1 Análise dos Registros de Consumo Mensal .................................................................. 47 3.1.3 Vazão Instântanea de Abastecimento ........................................................................... 64 3.2 Vazão Mínima Noturna (VMN) .......................................................................................... 97 3.2 Vazão Mínima Noturna (VMN) .......................................................................................... 97 3.3 Método de Balanço Hídrico - IWA ..................................................................................... 99 3.5 Balanço Hídrico IWA-Modificado .................................................................................... 101 ii 4 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES ............................................................................... 104 5 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 107 6 BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS ................................................................................... 113 iii LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 - Representação conceitual do método de balanço hídrico proposto pela IWA 18 Figura 1.2 – Representação conceitual do método de balanço hídrico IWA-Modificado .. 22 Figura 1.3 - Delivery point - limite entre a distribuição e o consumo. .............................. 25 Figura 1.4 - Representação conceitual do método da vazão mínima noturna nível ........... 27 Figura 2.1 – Metodologia aplicada para estimar perdas de água na área de estudo ........... 32 Figura 2.2 – Localização da área de estudo residencial Domingos Sávio Brandão ........... 33 Figura 2.3 – Sistemas de abastecimento de água da cidade de Cuiabá.............................. 34 Figura 2.4 - Sistemas de abastecimento Coophema - Linha de distribuição São Gonçalo . 35 Figura 2.5 – Etapas da construção do residencial Domingos Sávio Brandão .................... 36 Figura 2.6 – Fotografia das casas do residencial Domingos Sávio Brandão ..................... 36 Figura 2.7 – (a) Sensor eletromagnético de vazão por inserção (b) conversor .................. 34 Figura 2.8 – Instalação do macromedidor de vazão e pressão .......................................... 38 Figura 2.9 – Instalação do data logger de pressão..............................................................39 Figura 2.10 – Teste de aderência - gráfico de probabilidade ............................................ 44 Figura 3.1 – Erros de leituras entre 2006 e 2010 .............................................................. 49 Figura 3.2 – Leituras de sem consumos .............................................................................. 50 Figura 3.3 – Classes de consumos micro-medidos ................................................................ 51 Figura 3.4 – Sub-classes de consumos micro-medidos .......................................................... 52 Figura 3.5 – Resumo da análise dos consumos micromedidos ......................................... 53 Figura 3.6 – Histogramas dos consumos mensais lidos .................................................... 54 Figura 3.7 – Teste de aderência do consumo micro-medido - distribuição normal ........... 55 Figura 3.8 – Consumo mensal do setor ............................................................................ 59 Figura 3.9 – Teste de aderencia do consumo mensal do setor em cada ano ...................... 60 Figura 3.10 – Histograma do consumo mensal do setor ................................................... 62 iv Figura 3.11 – Teste de aderencia do consumo mensal do setor ........................................ 62 Figura 3.12 – Consumo médio do setor de estudo............................................................ 64 Figura 3.13 – Vazão instântanea horária de abastecimento durante o ciclo de leitura de 31 dias............................................................................................................................... 66 Figura 3.14 – Histograma da vazão instântanea horária de abastecimento........................ 67 Figura 3.15 – Teste de aderencia da vazão instântanea horária de abastecimento ............. 67 Figura 3.16 – Vazão instântanea de abastecimento para os primeiros 19 dias do ciclo de leitura ........................................................................................................................... 69 Figura 3.17 – Vazão intântenea de abastecimento para os últimos 12 dias ciclo de leitura ..................................................................................................................................... 70 Figura 3.18 – Média da vazão instantânea horária para cada dia da semana ..................... 72 Figura 3.19 – Vazão média de abastecimento agrupada por samana ................................ 73 Figura 3.20 – Vazão média de abastecimento durante 24h horas ..................................... 74 Figura 3.21 – Vazão intântenea horária de abastecimento ................................................ 77 Figura 3.22 – Pressão horária instantânea na entrada do setor de abastecimento durante um ciclo de leitura de 31 dias ............................................................................................... 79 Figura 3.23 – Histograma da pressão horária instantânea................................................. 80 Figura 3.24 – Gráfico de probabilidades do teste de aderência ......................................... 81 Figura 3.25 – Pressão instantânea diaria, primeiros 19 dias do ciclo de leitura................ 82 Figura 3.26 – Pressão instantânea diária, durante os últimos 12 dias co ciclo de leitura ... 83 Figura 3.27 – Pressão média diária para um ciclo de leitura de 31 dias ............................ 85 Figura 3.28 – Pressão horária média agrupada por semana para um ciclo de leitura ......... 86 Figura 3.29 – Pressão horária media agrupada no intervalo de 24 horas........................... 87 Figura 3.30 – Sistema de informação geográfica ............................................................. 90 Figura 3.31 – Pressão interna no ponto P1 da área de estudo ............................................ 91 Figura 3.32 – Pressão interna no ponto P5 da área de estudo ............................................ 95 Figura 3.33 – Pressão média interna do setor ................................................................... 97 v Figura 3.34 – Curvas de vazão e pressão médias horária na entrada do sistema durante o ciclo de leitura na escala de 24 horas ................................................................................ 97 Figura 3.35 – Volume distribuído acumulado ................................................................ 100 Figura 3.36 – Balanço hídrico do setor de estudo - IWA................................................ 100 Figura 3.37 – Balanço Hídrico modificado do setor de estudo ....................................... 102 vi LISTA DE TABELAS Tabela 1.1 – Í dices de Perdas de Faturamento por Regiões Brasileiras ........................... 10 Tabela 1.2 – Índices de Perdas de Faturamento no Estado de Mato Grosso ...................... 11 Tabela 3.1 – Teste de aderência do consumo mensal (P-valor) distribuição normal ......... 56 Tabela 3.2 – Teste de aderência do consumo mensal (P-valor) distribuição normal sem os consumos nulos ............................................................................................................ 56 Tabela 3.3 – Estatística descritiva do consumo mensal lido ............................................ 57 Tabela 3.4 – P-valor do teste de aderência do consumo mensal - distribuição lognormal . 58 Tabela 3.5 – P-valor do teste de aderência do consumo mensal - distribuição Weibull ..... 58 Tabela 3.6 – P-valor do teste de aderência do consumo mensal do setor .......................... 60 Tabela 3.7 – Estatística descritiva dos consumos mensais no setor .................................. 61 Tabela 3.8 – P-valor do teste de aderência do consumo mensal ....................................... 63 Tabela 3.9 – Estatística descritiva do consumos anual no setor ........................................ 63 Tabela 3.10 – P-valor do teste de aderência da vazão na entrada do setor ........................ 68 Tabela 3.11 – Teste de aderência da vazão de abastecimento em intervalos de 24 horas .. 71 Tabela 3.12 – Teste de aderência da vazão média agrupada por dia da semana ................ 64 Tabela 3.13 – Teste de aderência da vazão média de abastecimento agrupada por semana74 Tabela 3.14 – Estatística descritiva da vazão média de abastecimento ............................. 75 Tabela 3.15 – Teste de aderência da vazão média de abastecimento escala de 24 horas ... 76 Tabela 3.16 – P-valor do teste de aderência da pressão na entrada do setor ...................... 81 Tabela 3.17 – Teste de aderência da pressão instantânea horária agrupada por dia .......... 84 Tabela 3.18 – Teste de aderência da pressão agrupado por dia da semana ........................ 85 Tabela 3.19 – Teste de aderência da pressão agrupado por semana .................................. 86 Tabela 3.20 – Estatística descritiva da pressão na entrada do setor................................... 88 Tabela 3.21 – Teste de aderência da pressão, agrupado por hora ...................................... 89 vii Tabela 3.22 – Estatística descritiva dos dados de pressão do ponto P1 ............................. 91 Tabela 3.23 – Teste de aderência da pressão horária no ponto P1 .................................... 93 Tabela 3.24 – Estatística descritiva da pressão interna média horária do ponto P5 ............ 94 Tabela 3.25 – Estatística descritiva dos dados de pressão do ponto P5 ............................ 96 viii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AWWA - American Water Works Association BABE - Burst and Background Estimates BNH - Banco Nacional de Habitação CASAL - Companhia de Saneamento de Alagoas COPASA - Companhia de Saneamento Básico de Minas Gerais FAVAD - Fixed and Variable Area Discharge Paths FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos FND - Fator Noite e Dia FP - Fator de Pesquisa GESSAN - Grupo de Estudo e Pesquisa em Gestão do Saneamento GCT - Guia de Capacitação e Treinamento IP - Indicador Percentual IPER - Índice de Perdas por Extensão da Rede IPR - Índice de Perdas por Ramal IWA - International Water Association MCT - Ministério de Ciência e Tecnologia ONU - Organização das Nações Unidas PAR - Programa de Arrendamento Residencial PDVN - Perda na Distribuição na Vazão Noturna PECOPE - Programa de Controle Operacional PMSS - Programa de Modernização do Setor de Saneamento PNDCA - Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água. ReCESA - Redep Nacional de Captação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental REDECOPE - Rede de Cooperação de Pesquisa em Eficiência Hidroenergética SANECAP - Empresa de Saneamento da Capital SANEMAT - Companhia de Saneamento do Estado de Mato Grosso. SNIS - Sistema Nacional de Informações de Saneamento SQL - Structured Query Language TI - Tecnologia da Informação ix VDPR - Volumes Diários de Perdas Reais VMN - Vazões Mínimas Noturnas VMPR - Volume Mensal de Perdas Reais VNA - Vazão Noturna de Abastecimento VNL - Vazão Noturna Líquida WLTF - Water Leakage Task Force 1 INTRODUÇÃO Apesar do Brasil possuir uma das maiores reservas de água doce do mundo a atual situação do país em termos de abastecimento de água é extremamente crítica. Grande parte dos centros urbanos brasileiros enfrentam graves problemas de abastecimento de água. Entre os fatores concorrentes para esta situação estão: o crescimento populacional desordenado, o desperdício, e a carência de planejamento operacional devido à falta de dados e informação sobre o comportamento hidráulico dos sistemas. Todos estes fatores provocam altos índices de perdas e tornam o processo de gestão mais complexo. Hoje, o aumento da demanda por água, somado ao alto índice de perdas obrigam as companhias de saneamento a se adequarem e/ou melhorarem os sistemas de distribuição de água para a satisfazer os clientes e as metas de universalização da oferta de água potável. A redução da perda de água conduz a um maior equilíbrio financeiro, além de evitar a necessidade de altos investimentos inerentes à execução de novas captações, tratamento e transporte da água. Neste contexto esta dissertação mostra o resultado do estudo de caso em um setor do sistema de abastecimento Coophema localizado na Cidade de Cuiabá, MT. A metodologia fundamentou-se numa abordagem quantitativa onde foram aplicados os métodos de balanço hídrico proposto pela International Water Asssociation (IWA), balanço hídrico modificado (Almandoz et al., 2006) e vazão mínima noturna para quantificar perdas de água durante o processo de distribuição. O estudo foi realizado no conjunto residencial Domingos Sávio Brandão, é um setor é totalmente hidrometrado, possuindo 211 residenciais. A dissertação está estruturada em quatro capítulos. O capítulo 1, aborda os fatores preponderantes que motivaram o estudo. Uma revisão dos principais estudos realizados no Brasil sobre perdas de água. Também são descritos os métodos, balançohídrico proposto 2 pela IWA, balanço hídrico modificado e proposto por (Almandoz et al., 2005) e vazão mínima noturna utilizados para estimar perdas de água no setor de estudo. O capítulo 2 aborda como os dados foram obtidos. Os testes metemáticos de aderencia de Shapiro-Wilk, Anderson-Darling e Kolmogorov-Smirnov utilizados para analisar os dados de consumo, vazão e pressão antes de serem utilizados para calcular a perdas de água no setor estudado. O capítulo 3, mostra e discute os resultados dos testes de aderencia dos valores observados de consumo, vazão e pressão, e os valores calculados para a perdadde água utilizando os métodos de balanço hídrico e vazão mínima noturna. O Capítulo 4, descreve as principais conclusões do estudo e recomendações para estudos futuros. 3 Capítulo 1 REVISÃO DE LITERATURA Na primeira parte deste capítulo é abordado os fatores preponderantes que motivaram os estudos sobre controle de perdas em sistemas de abastecimento de água, e a importância destes estudos no desenvolvimento de modelos matemáticos para quantificar perdas reais e aparentes, assim como os índices de perdas nacionais segundo o Sistema Nacional de Informação do Saneamento (SNIS). Na segunda parte são descritos os principais estudos sobre controle de perdas realizados no Brasil. Também são descritos os métodos, balanço hídrico proposto pela IWA, balanço hídrico modificado proposto por (Almandoz et al., 2005) e o método da vazão mínima noturnas os quais foram utilizados para estimar perdas de água na área de estudo. A revisão foi contextualizada a partir de artigos científicos, dissertações, teses, livros e relatórios sobre o tema abastecimento e controle de perda de água. 4 1.1 Perdas em Sistemas de Abastecimento de Água: Breve Histórico No final do século XX dois fatores preponderantes nortearam os rumos dos modelos de negócios em escala mundial. O Primeiro fator foi o desenvolvimento e a utilização da tecnologia da informação (TI) para aperfeiçoar os processos administrativos1, gerenciais2 e decisórios3. Com o advento da TI, foram desenvolvidos os sistemas de informações que provocaram alterações na estrutura e forma das transações de negócios das empresas em geral. A gestão (administração) passou a ser realizada com foco em processos, regras, atividades e responsabilidade em substituição aos níveis hierárquicos preconizados pela teoria clássica da administração (McLEOD, 1994). Com o uso dos sistemas de informação as empresas começaram a perceber a importância da informação e como esta agrega valor a produtos e serviços. O segundo fator foi a pressão exercida pela comunidade ambientalista a não tolerância à ineficiência do uso dos recursos hídricos, introduzindo gradativamente regulamentações ambientais em nível internacional. Além destes dois fatores a mídia televisiva e outros fóruns de comunicação contribuíram e ainda contribuem para fomentar forças competitivas com o foco na eficiência das empresas através do uso de tecnologia, mão de obra especializada e alinhamento com as regulamentações ambientais. Além destes dois fatores preponderantes, do ponto de vista da pesquisa diversos estudos contribuíram para o atual estágio do controle de perdas e gestão dos sistemas de abastecimento de água. Em 1973 foi realizado no Reino Unido o primeiro estudo importante sobre perdas em sistemas de abastecimento de água, onde em um árduo trabalho de campo um extenso questionário foi respondido por diversas companhias de saneamento cujo objetivo era analisar a eficiência operacional dos sistemas de abastecimento, o resultado deste estudo foi consubstanciado no Report 26 (RIDLEY, 1980). Durante a década de 80 ocorreu o processo de privatização das companhias de saneamento do Reino Unido. A partir de 1989 o órgão regulador (Office of Water Services) tornou obrigatório para todas as companhias de saneamento apresentação de dados 1 Conjunto de normas e funções elaboradas para disciplinar os elementos de produção. 2 Elaboração de atividades relacionadas para atingir um conjunto de objetivos pré-definidos, num certo prazo, com um certo custo e qualidade, através da mobilização de recursos técnicos e humanos. 3 Processo pelo qual são escolhidas algumas ou apenas uma entre muitas alternativas para as ações a serem realizadas. 5 numéricos, e relatórios com informações sobre a aplicação de princípios de ordem técnica e econômica na redução de perdas (LAMBERT e McKENZIE, 2002). A partir desta decisão, em 1990 à associação das empresas de distribuição de água do Reino Unido criaram o National Leakage Control Initiative (NLCI), com o objetivo de atualizar e revisar o Report 26. Cabe aqui observar que, nesta época ainda não havia um método padrão para análise dos dados. Em 1991, a International Water Association (IWA) iniciou um esforço em larga escala para avaliar a operação dos sistemas de abastecimento de água do Reino Unido e em outros países. O estudo, revelou índices percentuais de perdas de 8 à 24% nos países desenvolvidos e chegavam a 45% nos países em desenvolvimento (FARLEY, 2001). O relatório elaborado pelo Banco Mundial em 1993 (WORLD BANK, 1993), descreveu diversas propostas para utilização dos recursos hídricos. O mesmo enfatizou a gestão dos sistemas de abastecimentos urbanos e a necessidade de políticas e programas para a conservação e uso racional da água. Recomendando que as empresas de saneamento devam esforçar-se para melhorar seu desempenho, aumentar os lucros, e ainda ser responsável por um uso eficiente da água captada. Em 1994, a série de relatórios sob o título Managing Leakage introduziu o conceito conhecido como BABE (Burst and Background Estimates), considerado referência internacional (BESSEY et al., 1994). Outro estudo importante publicado em 1994 foi realizado por John May. O estudo de May estabeleceu a relação entre pressão e vazamentos por meio do conceito conhecido como Fixed and Variable Area Discharge Paths (FAVAD). O estudo explicou o aparente paradoxo hidráulico entre pressão e vazamento na rede de distribuição de água postulando que a seção transversal de certos tipos de aberturas de vazamentos pode variar com a pressão. Enquanto a velocidade do escoamento continuaria a variar de acordo com a raiz quadrada da pressão. Até então, era senso comum que o vazamento, como qualquer escoamento através de orifícios, era uma função da raiz quadrada da pressão. Esse conceito explica a aparente inconsistência observada nos resultados de estudos sobre controle de perdas utilizando dados de diversos países (LAMBERT, 2000a). 6 Em 1998, Lambert mostrou que é possível reduzir vazamentos inerentes e perdas nos ramais domiciliares ligados à rede, reduzindo a pressão no sistema (LAMBERT et al.,1998). Conejo et al. (1999), mostraram a importância de manter as pressões na rede em faixa adequada, da ordem de 10 à 30 m.c.a. (100 à 300 kPa). Ao longo da década de 90 materializaram-se esforços para desenvolver uma metodologia para auditoria e indicadores de desempenho relacionados ao controle de perdas de água. O resultado foi a elaboração de um modelo padrão (nomenclatura internacional) que pudesse ser aplicado para comparar o desempenho de perdas de água de sistemas de qualquer lugar do mundo (IWA, 2000, 2006). O modelo desenvolvido pela IWA foi considerado como as melhores práticas por que: a) o estudo foi pioneiro e fornece uma estrutura clara da necessidade de dados e informações sobre o comportamento hidráulico do sistema de distribuição; b) foi testado exaustivamente usando dados provenientes de sistemas de abastecimento de dezenas de países. Desde então vários países, incluindo África do Sul, Austrália, Alemanha, Malta, e Nova Zelândia adotaram o modelo proposto pela IWA para auditoriade água e indicadores de desempenho como a melhor prática para a gestão nacional de perdas de água (THORNTON, J. 2008). No ano 2000 foi publicado o Performance Indicators for Water Supply Services (ALEGRE et al., 2000) a partir do trabalho da força tarefa liderada pela IWA e que teve como objetivo definir um conjunto de indicadores para medir a eficiência de operação dos sistemas de abastecimento. Esse instrumento veio ao encontro dos princípios de controle de perdas, na medida em que envolve uma série de registros convergindo para informações gerenciais para a tomada de decisão. Outro estudo importante mostrou que é possível determinar pressões na rede, com certo grau de precisão utilizando modelos de simulação hidráulica, permitindo ao operador do sistema escolher estratégias para minimizar perdas através da calibração do modelo da rede, (INGEDULD et al., 2001). Karney (2004) mostrou que, em certos casos, os vazamentos podem ser benéficos para a atividade de operação, na medida em que os vazamentos representam pontos de alívio para os transientes hidráulicos que ocorrem continuamente no sistema. Em 2005 a articulação de desenvolvimento do Banco Mundial lançou uma iniciativa para promover o modelo proposto pela IWA como as melhores práticas para a 7 redução e controle de perdas. A iniciativa envolveu cursos de formação e manuais fornecidos aos serviços públicos de água dos países em desenvolvimento. Através deste ato o modelo de gestão de perda de água desenvolvido no Reino Unido provou ser (no contexto do Banco Mundial) uma tecnologia facilmente transferível e foi adotado na África do Sul, Malásia, Austrália, Nova Zelândia, Brasil e Canadá. Iniciativas realizadas na década de 90, na Malásia e no Brasil com investimentos em curso de mais de US$ 100 milhões em cada projeto foram concluídos. Os projetos incluem auditoria, gerenciamento de pressão, melhoria nas técnicas de monitoramento de detecção de vazamentos, reparo e melhoria na infra-estrutura e receita. Outro relatório elaborado pelo Banco Mundial (ONU, 2005), descreveu propostas relacionadas ao estudo e quantificação das perdas de faturamento. Estabelece que perdas de faturamento contem três componentes: perdas reais (ou físicas), perdas comerciais (ou aparente), e consumos autorizados e não faturados. No Brasil, o tema foi abordado seguindo a mesma linha de conduta do Reino Unido com o inicio das privatizações das companhias de saneamento incentivadas pelo Banco Mundial. Em 1980, foi criado o Programa de Controle Operacional (PECOPE), pelo antigo Banco Nacional de Habitação (BNH), com linhas de financiamento específicas para empresas de saneamento desenvolver programas de redução de perdas. Porém, poucas ações foram mantidas e finalizadas. Anos mais tarde, em 1993, deu-se início o Programa de Modernização do Setor de Saneamento (PMSS). O PMSS financiou investimentos em expansão e melhorias operacionais nos sistemas de abastecimento. O Programa investiu cerca de US$ 500 milhões (metade financiado pelo Banco Mundial) na primeira fase, encerrada no ano 2000. A segunda fase contou com mais de US$ 200 milhões para serem aplicados, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil (PMSS, 2003). Em 1997, outra ação governamental criou o Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA) para conservação e uso racional da água de abastecimento público na esfera federal (PNDCA, 1998). Neste cenário, a exemplo do Reino Unido em 1996, foi criado o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). O sistema contém informações de caráter institucional, administrativo, operacional, gerencial, econômico-financeiro e de qualidade sobre a prestação de serviços de água. Seguindo recomendação do Banco Mundial o Ministério de Ciência e Tecnologia através das organizações governamentais de fomento a pesquisa (FINEP, CNPq, FUNASA, ELETRONORTE e as fundações Estaduais de 8 Amparo à Pesquisa) tem disponibilizado recurso para o financiamento de projetos relacionados à gestão dos sistemas de abastecimento de água no Brasil. Um exemplo de projeto realizado em nível nacional foi a Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental (ReCESA) cujo propósito foi reunir, articular e integrar um conjunto de instituições e entidades com o objetivo de promover o desenvolvimento institucional do setor mediante soluções de capacitação, intercâmbio técnico e extensão tecnológica. 1.2 Informações Geradas pelo SNIS Com relação a perdas em sistemas de abastecimento de água, estudos técnicos têm considerado, de forma unânime, que os indicadores percentuais de perdas, ou seja, que utilizam apenas relações entre volumes, não são os mais apropriados para avaliar perdas. O principal questionamento com os percentuais é que esses conferem uma aparência de homogeneidade dos serviços embora trabalhem sob condições operacionais muito diferentes. Dentre as alternativas propostas a esses indicadores, alguns autores adotam fórmulas que associam volumes perdidos a algum parâmetro físico do sistema de distribuição, como extensão de rede e quantidade de ligações prediais. Outra forma de tratamento da questão, proposta por alguns autores, é a utilização de indicadores em percentual, complementados por indicadores físicos, adotados na análise de forma combinada. Foi enfatizado no inicio deste capítulo, que o conceito de sistema de informação foi um dos fatores preponderantes para o atual estágio da gestão de sistemas de abastecimento de água porque a informação é o fator que mais contribui para o planejamento eficaz de uma empresa. A tomada de decisões em uma empresa de saneamento exige o pleno conhecimento dos serviços prestados, na forma de dados, os quais precisam ser gerados e principalmente transformados em informação útil e de qualidade. O sistema contém dados de caráter operacional, gerencial e financeiro sobre a prestação de serviços e qualidade da água. Os dados operacionais, em teoria, permitem avaliar a qualidade e quantidade dos serviços prestados e da produção de água. Foram 9 criados indicadores para avaliar o grau de atendimento e cobertura dos serviços, identificando as demandas e ofertas para auxiliar a avaliação dos déficits dos serviços. Os dados gerenciais, financeiros e de balanço permitem avaliar o desempenho dos prestadores de serviços, sob os aspectos físicos, econômicos e financeiros, analisando e medindo a eficiência e a eficácia da gestão. Em principio uma análise dos dados disponíveis no SNIS deveria servir para orientar a aplicação de recursos e investimentos. Porém, quando os dados contidos no SNIS são analisados na tentativa de transformá-los em informação, o que se verifica é a quase total ausência de controle operacional em decorrência de uma prática muito comum, na esfera das organizações governamentais, ou seja, a “falta” ou “coletânea demasiada” de dados, que não são possíveis de serem transformados em informações. Essa opinião foi reforçada por Pereira e Paranhos (2002) ao afirmar que as organizações municipais executam as rotinas de acumulação de dados, porém não os transformam em informações e conhecimentos. Como consequencia da falta de análise, terminam perdendo sua capacidade de utilização. Do ponto de vista operacional, as perdas são concebidas como o volume de água disponibilizado e não contabilizado pela empresa prestadoras do serviço. Thornton (2008) classifica as perdas em perdas reais e perdas aparentes. Perda real também chamada de perda física, são as fugas de água da rede de abastecimento, inclui os vazamentos em canos, juntas e acessórios; vazamento de reservatórios e tanques, e as perdas de água causada pelo rompimento da tubulação; E perda aparente também chamada de perda de faturamento, são causadas por imprecisões associadas ao processo de medição do consumo,são erros de leituras (normalmente sub-medição4), consumo não autorizado (fraude) e tambem o consumo autorizado não faturado. As perdas reais correspondem ao volume de água que saiu da rede sem ser consumida; e as perdas aparentes representam o volume de água consumida e não registradas ou cobradas. Segundo o diagnóstico oficial dos serviços de água e esgoto do SNIS, em 2002, o índice de perda de faturamento nos sistemas brasleiros foi de 40,5% (SNIS, 2003) segundo o indicador I13, demonstrando uma situação preocupante. O indicador I13 é medido pela 4 Sub-medição - imprecisão na medição feita pelos hidrômetros residenciais. 10 relação entre os volumes faturados e disponibilizados para distribuição. Segundo (SILVA et al., 1998; ALEGRE, 2000) este indicador, não considera as perdas no tratamento e na captação. Na Tabela 1.1 é mostrado o índice médio de perdas de faturamento para as cinco regiões Brasileiras. Tabela 1.1 Índices de Perdas de Faturamento por Regiões Brasileiras Regiões 2009 2008 2007 2006 (%) (%) (%) (%) Norte 53,7 53,0 61 58,1 Nordeste 44,0 44,8 34,5 44,1 Sudeste 26,0 36,2 37,6 39,3 Sul 25,3 26,7 34,4 29,7 Centro-Oeste 33,8 33,7 40,1 36 Brasil 37,1 37,4 39,1 39,8 Fonte: SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento De acordo com o diagnostico realizado pelo SNIS em 2005, o Brasil perdia, em média, 44,81% da água distribuída em relação à água captada, apesar do índice médio de cobertura do serviço de água para as populações urbanas ser de 96,3%. Isso quer dizer que quase a metade da água que é tratada é desperdiçada antes de chegar ao consumidor. Os melhores sistemas brasileiros, neste quesito, têm perdas de 18%, valor ainda alto para os padrões europeus, onde há índices de perdas menores que 5%”. Todos os índices apontam para a necessidade de redução das perdas. Algumas companhias com índices da ordem de 25%, mas com a média nacional em torno de 50% segundo o SNIS. O Estado de Mato Grosso enfrenta os mesmos problemas que outros estados Brasileiros principalmente em regiões de grandes concentrações populacionais, como é o caso da cidade de Cuiabá. De acordo com a SNIS (2005) o estado de Mato Grosso possui o maior número de cidades com índices de perdas de água maiores que 50%. A Tabela 1.2 mostra os índices de perda de faturamento do estado de mato grosso de 2006 à 2009. 11 Tabela 1.2 - Índice de Perda de Faturamento no Estado de Mato Grosso Ano Índice (%) 2006 30 à 40 2007 30 à 40 2008 30 à 40 2009 40 à 50 O índice de perdas de faturamento é o indicador de perdas mais utilizado no Brasil embora sua denominação indique perdas do ponto de vista financeiro, na prática é muito utilizado para estimar perdas de água. Essa é uma forma equivocada, pois os volumes de água faturados são normalmente superiores aos volumes de água consumidos. Tal fato decorre dos critérios de faturamento, adotados de forma quase unânime no Brasil conforme descreve Miranda (2003) e comprovado neste estudo. Embora o governo tenha demandado esforços seguindo a conduta adotada no Reino Unido, após 15 anos ainda não conseguiu atingir o objetivo. Os modelos, balanço hídrico e indicadores de perdas, propostos pela IWA e SNIS enfocam apenas perdas de faturamento e as prestadoras de serviços continuam operando com valores altos de perdas reais e financeiras. Miranda (2002) realizou uma pesquisa do amplo rol de indicadores existentes no cenário nacional e internacional, e uma análise comparada entre eles, os quais serviram de base para uma proposta padrão, aplicável aos sistemas brasileiros. 1.3 Estudos Brasileiros de Controle de Perdas de Água Destaca-se o estudo de controle de perdas reais através do gerenciamento e redução de pressão em conjunto com o monitoramento da vazão mínima noturna, realizado por Gonçalves (1998). O resultado do estudo mostrou que dos métodos utilizados, o mais simples para redução de perdas foi o uso de válvulas redutoras de pressão com saída constante, incluindo-se nessa categoria também os reservatórios de quebra de pressão. A alternativa mais eficiente, entretanto mais onerosa, é a válvula redutora de pressão com vazão modulada, com a qual se pode variar a pressão de saída com a hora do dia, otimizando a performance do sistema quanto a perdas. 12 Apesar das válvulas redutores de pressão serem equipamentos frequentemente utilizados para o controle de pressão, Gonçalves e Ramos (2008), promovem a utilização de outras soluções com caractrísticas semelhantes. Para os autores o uso de turbinas ou de bombas que podem funcionar como turbinas, constitui um meio econômico como sistema redutor de perdas de água e gerador de energia. Através do excesso de energia disponível no sistema, as turbinas podem ser uma alternativa valiosa para produção de energia dentro de uma gerência sustentável de baixo custo. Werdine (2002) descreveu um estudo de caso realizado na Companhia de Saneamento Básico de Minas Gerais (COPASA) em um bairro com 315 residências na cidade de Itajubá, onde foi realizada uma avaliação da perda de água no sistema de abastecimento utilizando o índice percentual de perdas. O resultado apontou uma perda de 36%. A estimativa foi realizada para um período de 30 dias. Soares (2003) desenvolveu uma rotina computacional a qual foi implementada no simulador hidráulico EPANET, utilizando dados de rede hipotética com vistas à calibração em termos das rugosidades absolutas, demandas, diâmetros, cotas topográficas e parâmetros do modelo de vazamentos. Soares utilizou modelos inversos resolvidos com o suporte da tecnologia dos Algoritmos Genéticos e procedimento híbrido (Algoritmos Genéticos e Método Simplex). O algoritmo desenvolvido considera vazamentos e demandas dependentes da pressão e determina a demanda de água de maneira interativa. Barroso (2005), estudou as possibilidades de minimizar as perdas físicas em um setor do sistema de distribuição de água de Santa Maria – RS, utilizando o simulador hidráulico EPANTE. Foram simuladas redes no EPANET com diferentes pares de parâmetros da relação pressão versus vazamento, a fim de verificar a variação nas pressões e conseqüentemente nos vazamentos, devido às manobras nas válvulas redutoras de pressão. A aplicação do modelo se mostrou muito satisfatória, após a calibração, foi possível criar um termo de comparação e simular intervenções na rede como ajustes de válvulas redutoras de pressão entre outros. Itonaga (2005) apresentou a metodologia proposta pela National Leakage Control Initiative, do Reino Unido, para o controle de perdas de água como cenário para a aplicação de modelos de simulação de redes de água reais do Distrito Federal. 13 Moura (2006) aplicou e avaliou a utilização de software de modelagem hidráulica, em sistema de distribuição da Cidade de Cuiabá utilizando o EPANET 2.0 estudos de perdas na rede de abastecimento. O modelo EPANET mostrou-se adequado ao sistema de abastecimento Coophema, mas seus resultados poderiam ser melhores caso os parâmetros de entrada fossem mais precisos, isto é, mais próximos da realidade. A realização do estudo de caso permitiu uma análise crítica da qualidade dos dados operacionais, que conclui na necessidade de investimento para a melhoria dos dados antes de um estudo de controle de perdas no sistema e um estudo mais completo de modelagem do sistema completo onde existam intermitência operacionais. Borges (2007) avaliou a magnitude do erro de medição no parque de hidrômetros da cidade de Uberlândia em Minas Gerais quando o mesmo está submetido à variações de demanda, usando medidores mais sensíveis à medições de baixas vazões, chegando à uma perda aparente de 13,56% em média, ocorrente de sub-medições. Galvão (2007) investigou o efeito da redução de pressãoem redes de abastecimento, através de válvulas redutoras, na região metropolitana de São Paulo, na redução do consumo de água. Utilizando uma metodologia estatística, baseada em critérios de filtragem e testes paramétricos de hipóteses, os resultados indicaram que embora tenha ocorrido uma tendência de redução, tal fato não pude ser atribuido a implementação das válvulas. Silva (2008) verificou os fatores que provocam erros de medição de vazão e que estes erros tem fundamental importância para o controle de perdas nos sistemas de abastecimento de água. A imprecisão na medição feita pelos hidrômetros residenciais, notadamente, representa uma parcela significativa das perdas aparentes. Cohim et al. (2009), em pesquisa realizada no município de Simões Filho-BA, caracterizou o consumo de água em residência num condomínio de classes populares, como forma de promover uma gestão eficiente, baseada em uma distribuição próxima a demanda, chegando a conclusão que naquela região o consumo percapta estava entre 74,34 e 85,99 litros/hab/dia. Valores abaixo da média regional e nacional que foram respectivamente 120 e 148,5 litros /hab/dia, no mesmo ano segundo o SNIS. 14 Nakagawa (2009) apresentou outros trabalhos e campanhas que foram desenvolvidos no Brasil nos âmbitos estadual, municipal, nos setores públicos e privados, com vistas ao combate às perdas e desperdícios de água. Vinciguera (2009) correlacionou os valores de perdas de um sistema real e do mesmo setor com mínima pressão de abastecimento através da utilização de válvulas de controle de pressão e inversores de freqüência, cenários esses, simulados através do software EPANET, e utilizando o Balanço Hídrico antes de depois da metodologia, concluíram que a mesma são alternativas eficazes no combate às perdas em sistemas de abastecimento de água, pois são consideradas de baixo e investimento com resultados imediatos de redução de perdas físicas. Motta (2010) apresentou o impacto da redução de pressão na rede de distribuição sob as perdas reais de água através da análise das curvas de consumo em microzonas controladas por válvulas redutoras de pressão. Odan (2010) desenvolveu um estudo focado na problemática da previsão de demandas em Sistemas de Abastecimento de Água em tempo real, objetivando identificar o modelo que produza os melhores ajustes. Foram estudadas as Redes Neurais Artificiais Percepton de Múltiplas Camadas, a Rede Neural Dinâmica e duas Redes Neurais Artificiais híbridas. Utilizou-se dados de consumo horário de água das cidades de São Carlos e Araraquara, SP, e variáveis meteorológicas, tais como temperatura, umidade relativa do ar e ocorrência de chuva como dados de entrada. Os resultados apontaram que os melhores modelos de previsão foram os que utilizaram a Rede Neural Dinâmica, tanto pela facilidade no manuseio, quanto pelo erro médio absoluto de previsão, que se manteve na magnitude de 8% e 4% do consumo médio para Araraquara e São Carlos respectivamente. Santos (2010), calibrou uma rede de distribuição de água no município de Itajubá- MG, utilizando uma rotina computacional desenvolvida por Silva (2003), que utiliza o procedimento inverso, também conhecido como implícito para calibrar o sistema, avaliar a eficiência hidráulica e otimizar a operacionalização de rede, tendo como ferramenta de busca os algoritmos genéricos. Os resultados mostraram-se coerentes em termos de parâmetros ajustados e de valores de pressões e vazões medidos e simulados. 15 Embora os resultados obtidos nos estudos cidados anteriormente tenham aplicação prática imediata para as companhias de saneamento. O desafio ainda é quebrar as barreiras impostas pelas companhias de saneamento para implantar novas metodologias. Este fato deve-se principalmente a dois fatores: a) a falta de recursos para investimento em modernização e b) a resistência oferecida pelos gestores diante à mudança de paradigma, pois ainda hoje após estarmos a mais de 25 anos na era da informação praticamente a gestão nas companhias de saneamento é de caráter qualitativo, herança do antigo modelo de gestão onde prevalece a experiência do gestor e não a informação. 1.4 Métodos de Avaliação de Perdas de Água Conforme abordado na seção 1.1, importantes estudos foram realizados por pesquisadores do Reino Unido os quais levaram ao atual estágio da avaliação e controle de perdas em sistemas de abastecimento de água (LAMBERT, 1994, FARLEY, 2001, McKENZIE e LAMBERT, 2002, TRIPARTITE GROUP, 2002). A IWA deu importante contribuição desenvolvendo o método de balanço hídrico, o qual foi referendado pela American Water Works Association (AWWA). A literatura técnica fornece várias abordagens para o cálculo do balanço hídrico (AWWA 1999; IWA 2000, AWWA 2003). O método de balanço hídrico é um método de caráter gerencial por que quantifica diretamente a receita advinda do consumo medido (ou estimado no caso da ausencia de micromedição), ou seja, quantifica perdas aparentes e a partir desta quantifica perdas reais. Em 2005, Almandoz et al. (2005) sugeriram uma modificação na abordagem da IWA. A abordagem de Almandoz, segue o mesmo padrão da IWA porem, com características de natureza técnica, ou seja, determina se o destino final da água é conhecido. Nesta abordagem, todos os consumos não medidos são considerados como não controlados em uma tentativa de acomodar a realidade existente em alguns países cujo abastecimento possui setor micromedidos e setores sem micromedição. A seguir é mostrado o formalismo matemático dos métodos: balanço hídrico proposto pela IWA em sua forma original, método da vazão mínima noturna e balanço hídrico modificado (proposto por Almandoz et al. (2005)). 16 1.4.1 Balanço Hídrico (IWA) O método de balanço hídrico proposto pela IWA leva em conta dois componentes de perdas de água, os quais existem em todos os sistemas de abastecimento, as perdas reais e as perdas aparentes. A Figura 1.1 mostra a representação conceitual do método e suas componentes. Abaixo segue uma descrição sobre cada um das componentes do método de balanço hídrico. A - Volume distribuído no sistema/setor (Qd) - esta componente representa o volume de água que entra no sistema (setor) de abastecimento em um intervalo de tempo. Pode ser quantificado com a utilização de um macromedidor de vazão. B - Consumo autorizado (Qa) - esta componente representa o volume de água fornecido em um intervalo de tempo a consumidores cadastrados (autorizados) nos sistemas de informação das companhias de saneamento e outros que estejam implícita ou explicitamente autorizados a fazê-lo, para usos domésticos, comerciais, industriais, públicos ou consumo próprio. Pode ser medido através da micro-medição, estimado, não medido, faturado ou não. B.1 - Consumo autorizado faturado (Qaf) - esta componente representa o volume de água consumido em um intervalo de tempo, e corresponde à soma dos volumes de água consumidos e medido em cada residência. Pode ser obtido através da micro-medição e/ou estabelecidos pelas companhias de saneamento. B.1.1 - Consumo medido faturado (Qmf) - esta componente representa o volume medido em cada hidrômetro e faturado pelo valor medido. Pode ser obtido através da micromedição. B.1.2 - Consumo não medido faturado (Qef) - esta componente representa o volume consumido em um intervalo de tempo em locais onde não há hidrômetro instalado. Este volume é estimado por algum critério estabelecido pelas companhias de saneamento. B.2 - Consumo autorizado não faturado (Qanf) - esta componente representa o volume oriundo de usos legítimos da água, porém também não gera receita para as companhias de saneamento. Podem ser medidos e/ou estimados. Consumo autorizado B.1.1 B.1 B.1.2 D B.2.1 B B.2 B.2.2 Volume Perdido C.1.1 C.1 C.1.2 C.2.1 C.2.2 A C C.2 C.2.3 E Vazamento - RamaisVazamento - Rede Consumo autorizado faturado Consumo autorizado não faturado Perdas Aparentes Volume distribuido no sistema/setor Vazamento- Reservatório Consumo faturado Consumo não faturado Perdas Reais Consumo medido faturado Consumo medido não faturado Consumo medido não faturado Consumo estimado não faturado Consumo não autorizado Erro de medição dQ af anfQa Q Q p d aQ Q Q af mf efQ Q Q anf mnf nfeQ Q Q pa na eQ Q Q pr ra rd rtQ Q Q Q mf jQ Q ef kQ Q mnf m Q Q enf nQ Q e xQ Q rd yQ Q rt vQ Q nf d fQ Q Q f mf efQ Q Q na fQ Q ra zQ Q Figura 1.1 - Representação conceitual do método de balanço hídrico proposto pela IWA. Fonte: Adaptado de Thornton, J. Sturm, R. and Kunkel, G., Water Loss Control, 2008. 17 18 B.2.1 - Consumo medido não faturado (Qmnf) - esta componente representa o volume de água consumido em um intervalo de tempo porém, não gera receita. Consumo para uso administrativo, entidades isentas da tarifa, fornecimento de caminhões pipa entre outros. Pode ser obtido no setor comercial das empresas de saneamento. B.2.2 - Consumo estimado não faturado (Qenf) - esta componente representa o volume de água consumido em um intervalo de tempo não medido e não faturado. Exemplo, a água utilizada em combate a incêndios, lavagem de ruas, rega de espaços públicos e a água utilizada em algumas atividades operacionais. É obtido através de parâmetros e modelos matemáticos. C - Volume perdido (Qp) - esta componente representa o volume de água distribuída em um intervalo de tempo que não foi consumida de forma autorizada. Sua determinação se faz pela diferença entre a volume distribuído e o consumo autorizado. C.1 - Perdas aparentes (Qpa) - esta componente representa o volume de água produzida pela concessionária e consumida pelo cliente em um intervalo de tempo, mas que não é contabilizada. É determinado através da soma dos consumos não autorizados mais os erros de leituras. C.1.1 - Consumo não autorizado (Qna) - esta componente representa o volume consumido em um intervalo de tempo por meio de fraudes e ligações clandestinas. Sua determinação se faz pela diferença entre as perdas aparentes e os erros de medição. C.1.2 - Erro de medição (Qe) - esta componente representa os erros comemtidos no processo de leitura em um intervalo de tempo, a sub-medição de hidrômetros com baixa sensibilidade para pequenas vazões. Sua determinação é feita pela adição do volume registrados como erros de leitura, e os volumes de sub-medição estimados por modelos matemáticos. C.2 - Perdas reais (Qpr) - esta componente representa o volume que escoa através de vazamentos e extravasamentos no sistema em um intervalo de tempo. É determinada pela diferença entre o volume distribuído no setor e o consumo autorizado. C.2.1 - Vazamentos nos ramais - (Qra) esta componente representa o volume que escoa em um intervalo de tempo através de vazamentos e/ou rupturas ocorridas por defeito em 19 peças, má qualidade dos materiais utilizados, pressões hidráulicas de grandes magnitudes, entre outros. Os mesmos são determinados através de estimações, por modelos matemáticos. C.2.2 - Vazamentos na rede (Qrd) - esta componente representa o volume que escoa em um intervalo de tempo através de vazamentos ou rompimentos ocasionados por falhas construtivas, defeito em peças, má qualidade dos materiais utilizados, idade da rede, pressões hidráulicas de grandes magnitudes entre outros. Sua determinação se faz através de estimações, por modelos matemáticos. C.2.3 - Vazamentos nos reservatórios (Qrt) - esta componente representa o volume que escoam em um intervalo de tempo pelos danos das estruturas extravasamentos dos reservatórios e limpeza dos mesmos. É obtido através de parâmetros da empresa e modelos matemáticos. D - Consumo faturado (Qf) - esta componente corresponde o volume de água comercializada em um intervalo de tempo no setorde estudo. E - Consumo não faturado (Qnf) - esta componente representa a diferença entre o volume de água que entra no sistema e o consumo autorizado faturado em um intervalo de tempo. A IWA recomenda que todos os componentes devam ser cuidadosamente avaliados, medidos e monitorados de modo a serem capazes de gerar informação confiável. Recomenda ainda realizar o cálculo padronizado, isto é, as unidades de medida devem ser escolhidas e padronizadas para que as mesmas unidades sejam usadas para quantificar cada componente do balanço hídrico, assim como determinar o período de auditoria (ano, por exemplo, fiscal ou ano civil) e os limites do sistema. A primeira vez que se realiza o balanço hídrico padronizado é comum, que os volumes calculados tanto para perdas reais como aparentes tenham um nível de confiança relativamente baixo, isso ocorre geramente por que os componentes do balanço hídrico não foram medidos e/ou os dados utilizados não foram validados. Existe uma relação direta entre a precisão e confiabilidade do balanço hídrico com a precisão da medição do volume distribuído (macro-medição) na entrada no sistema/setor e volume consumido (micro- medição). Geralmente o volume consumido é calculado com dados disponibilizados pelas prestadoras de serviços de saneamento. 20 A validação da informação gerada é uma parte importante e integrante da realização de um balanço hídrico. Análise de sensibilidade e da utilização de limites de confiança de 95% são as melhores práticas para avaliar o impacto que componentes do balanço de água individuais têm na precisão global do volume calculado de água não faturada e perdas reais e aparentes. 1.4.2 Balanço Hídrico Modificado O balanço hídrico proposto por Almandoz et al. (2005), fundamenta-se na discriminação de duas componentes que as companhias de saneamento não conseguem controlar (medir): o volume de água perdido na rede e ramais (perdas reais) e o volume de água consumido, mas não medido (perdas aparentes). O método considera que todo o consumo de água não medido é desconhecido e, conseqüentemente representa uma perda. A método supõe que a perda real é uma função da pressão, e a perda aparentes uma função do padrão de consumo (UK Water Industry 1994; Warren 2002). A Figura 1.3 mostra a representação conceitual do método e suas componentes. Abaixo segue uma descrição sobre cada um dos componentes do balanço hídrico. A - Vazão que entra no sistema/setor(Qe) - esta componente representa o volume de água que entra no sistema ou setor de abastecimento (objeto do cálculo do balanço hídrico) em um intervalo de tempo. Pode ser obtido através de medidas de campo utilizando macro- medidores de vazão. B - Consumo autorizado medido (Qa) - esta componente representa o volume de água consumido em um intervalo de tempo o qual gera receita. Corresponde à soma dos volumes consumidos e medidos (constantes nas contas emitidas aos consumidores). Esta componenente é dividiva em quatro classes: doméstico, comercial, industrial e público. Os valores dos consumos mensais podem ser obtidos no setor comercial das companhias de saneamento as quais obtem estes dados através da micromedição. B.1 - Consumo residencial medido (Qr) - esta componente representa o volume de água consumido em um intervalo de tempo e devidamente medido em todas as unidades residenciais que fazem parte do setor de estudo. Vazão na entrada do sistema/setor Consumo residencial medido B.1 Consumo industrial medido B.2 Consumo público medido B.3 Consumo medido faturado consumo comercial medido B.4 B Consumo sem controle Consumo nao medido Erro de leitura C.1.1 Consumo faturado por estimação C.1.2 Perda aparente Uso operacional e fraudes C.1.3 C.1 Vazamentos Perda real Perda real A C C.2 C.2.1 Consumo autorizado eQ a r i p cQ Q Q Q Q sc e aQ Q Q nm el fe ofQ Q Q Q vz scnmQ Q Q r jrQ Q i jiQ Q p jpQ Q c jcQ Q of tQ Q pr wQ Q el xQ Q fe kQ Q Figura 1.2 - Representação conceitual do método de balanço hídrico IWA-Modificado Fonte: Adaptado de Almandoz et al., 2005. 21 22 B.2 - Consumo industrial medido (Qi) - esta componente representa o volume de água consumido em um intervalo de tempo e devidamente medido de todas as unidades industriais que fazem parte do setor de estudo. B.3 - Consumo público medido (Qp) - esta componente representa o volume de água consumido em um intervalo de tempo e devidamente medido dos órgãos públicos que fazem parte do setor de estudo. B.4 - Consumo comercial medido (Qc) - esta componente representa o volume de água consumido em um intervalo de tempo e devidamente medido pelas unidades comerciais (como lojas escritórios entre outros) que fazem parte do setor de estudo. C - Consumo sem o controle da companhia (Qsc) - esta componente representa os consumos em um intervalo de tempo, não medido, isto é sem o controle quantitativo. Pode ser determinado pela diferença entre o volume de entrada no sistema e o consumo autorizado faturado. Esta componente é sub-dividida em trêsa classes. C.1 - Consumo não medido (Qnm) - esta componente representa o volume de água disponibilizado na rede, em um intervalo de tempo e consumida por uruários não autorizados, ou em usos operacionais da própria companhia de saneamento. Nesta componente também são computados os consumos estimados por falta de medição e erros de leituras. C.1.1 - Erro de leitura (Qel) - esta componente representa os erros cometidos durante o processo da leitura mensal de consumo e a sub-medição de hidrômetros com baixa sensibilidade para pequenas vazões. Tais dados podem ser obtidos no setor comercial das companhias de saneamento. C.1.2 - Consumo faturado por estimação (Qfe) - esta componente representa o volume de água consumido e não medido, em um intervalo de tempo, porém é faturado por estimação. C.1.3 - Uso operacional e fraudes (Qof) - esta componente representa o volume de água consumido em usos operacionais da companhia de saneamento, ou consumido atraves por meio de fraudes e ligações clandestinas. Tais dados podem ser obtidos através de estimações feitas por modelos matemáticos. É difil quantificar esta componente com exatidão. 23 C.2 - Vazamentos (Qvz) - esta componente é também denominada de perda real. Corresponde ao volume de água que escoa por vazamentos em um intervalo de tempo. C.2.1 - Perdas reais (Qpr) - esta componente corresponde ao volume de água que escoa em um intervalo de tempo por meio de vazamentos, e/ou rupturas ocorridas por defeito em peças, pressões hidráulicas de grande magnitude e extravasamentos dos reservatórios. 1.4.3 Vazões Mínimas Noturnas (VMN) Um dos principais métodos para avaliar perdas de água em sistemas de abastecimento é através da análise da vazão mínima noturna. A vazão mínima noturna foi definida por Lambert, (1994) como sendo “a vazão medida na entrada de um dado setor do sistema de abastecimento e tem o seu valor mínimo em um período noturno específico”. Através da VMN, é possível monitorar o comportamento da distribuição em um setor do sistema, analisando o consumo mínimo noturno. Qualquer alteração na vazão mínima de um setor de abastecimento pode significar ocorrência de vazamentos (LAMBERT, 2000 e 2002). Segundo Lambert (1994), a vazão mínima noturna ocorre diariamente no horário entre 01h:00 e 05h:00 horas o resultado é proveniente de um estudo realizado por Lambert em 25 sistemas de abastecimento do Reino Unido. No intervalo deste horário é quando ocorrem as maiores perdas e existem maiores facilidades de determinar o que ocasiona estas perdas. O método da VMN pode ser utilizado para estimar perdas reais porque, no momento de sua ocorrência há pouco consumo e as vazões são estáveis (as caixas d’água domiciliares estão cheias), e uma parcela significativa do seu valor refere-se às vazões dos vazamentos. No Brasil o método de VMN tem sido utilizado para estimar pertas em redes de abastecimento (CHEUNG et al., 2010). Recentemente foi reconhecido pelos membros (Austria, Austrália, Brasil, Canada, Ciprus, Croácia, França, Iran e Estados Unidos) da Water Leakage Task Force (WLTF) que o método VMN precisa de uma terminologia para as componentes da vazão mínima noturna assim como um método para legitimar o que é de fato consumo noturno levando 24 em conta as especificidades de cada sistema. A terminologia atualmente adotada para os componentes da VMN foi desenvolvida, em cinco níveis de detalhamento, sendo o nível 1 o mais simples e o nível 5 mais detalhado. Cada um desses níveis pode ser aplicado em diferentes circunstâncias, dependendo de tipo de estimativa de vazamanento utilizada (FANTOZZI, 2010). Os níveis de detalhamento do métode de VMN impõe a necessidade de estabelecer um ponto para definir o limite onde termina a distribuição de água e começa o consumo. Esse ponto na terminologia da lingua inglesa é chamado de delivery point5. A partir deste ponto qualquer vazamento é parte integrante do consumo e de responsabilidade do consumidor. Neste estudo adotamos o hidrômetro como sendo o delivery point conforme mostra a Figura 1.2. Figura 1.3 – Delivery point - limite entre a distribuição e o consumo. Fonte: Adaptado de Fantozzi, 2010 A Figura 1.3 mostra uma representação conceitual do método da vazão mínima noturna levando em conta os cinco níveis de análise. Abaixo segue uma descrição sobre cada um das componentes da VMN. 5 Neste estudo foi mantido a terminologia da lingua inglesa. 25 Análise nível 1 - é a análise mais simples, possui apenas duas componentes, vazão noturna de abastecimento (VNA) e perda na distribuição da vazão noturna de abstecimento (PDVN) (veja a Figura 1.2 retangulos em azul). A perda na distribuição da vazão noturna de abastecimento é obtido subtraindo estimativas do consumo noturno a partir da VMN. Neste nível, a componente de consumo noturno deve também conter o volume de água utilizado pela empesa gestora do abastecimento. Se o objetivo da análise é verificar perdas na rede e ramal, então a análise de nível dois deve ser utilizada. Análise de nível 2 - na análise de nível 2, a componente vazão noturna de abastecimento (VNA) é sub dividida em duas outras componentes, uso noturno estimado e perda noturna do consumidor (veja a Figura 1.2 retangulos na côr azul). Análise de nivel 3 - na análise de nível 3, as três componentes, uso noturno estimado, perda noturna do consumidor e perda na distribuição da vazão noturna de abstecimento são subdivididas em duas outras componentes (veja a Figura 1.2 retangulos na côr laranja). Onde o consumo noturno excepcional é definido como a soma de todos os usos acima de 100 l/h e o consumo noturno regular a soma de todos os consumos abaixo de 100l/h. Vazamento residencial é a soma de todos oa vazamentos dentro da residencia. Vazamento externo é a soma de todos oa vazamentos fora da residencia, porém antes do delivery point. Vazamento visível ou detectavel são todos os vazamentos possiveis de serem detecta por métodos acústicos. Vazamanetos não detectavel são todos os vazamanetos não deetctados por métodos acústicos. Análise de nivel 4 - na análise de nível 4, (veja a Figura 1.2 retangulos na côr verde) a componente uso excepcional noturno é subdividida em três outras componentes uso proprio da companhia, uso execpcional não residencial, uso excepcional residencial. A componente de consumo noturno regular é subdividida em duas outras componentes, consumo residencial regular e consumo não residencial regular. A componente vazamentos detectáveis detectáveis é subdividida em duas outras componentes,vazamaneto detectáveis e reparados e vazamento detectáveis não reparados. Figura 1.4 – Representação conceitual do método da vazão mínima noturna nível 5 26 27 Análise de nivel 5 - na análise de nível 5 contem os mesmos componentes no nível 4 porém, leva em conta a influência da pressão nos componentes da VMN (veja a Figura 1.2 retangulos na côr cinza). Isso porque quando é realizado uma intervensão de conrole de vazamentos é util antes estimar os vazamentos inerentes da rede (o qual é sensivel a pressão porem não detectavel) para que os vazamentos detectaveis possam ser estimados antes de realizar a intervensão. De acordo como o Guia de Capacitação em Treinamento (GCT), editado pelo projeto ReCESA a VMN e uma composição da perda noturna, perda inerente e consumo noturno, sendo obtida pela seguinte equação onde, Pn é a perda noturna, Pi é a perda inerente e Cn o consumo noturno. mn n i nVMN Q P P C (1.1) Como as perdas inerentes e os consumos noturnos no horário de monitoramento da vazão mínima são parcelas mínimas que podem ser desconsideradas, sendo a perda noturna (perdas reais) caracterizada pela vazão mínima noturna. Para se chegar à vazão dos vazamentos é necessário quantificar todos os componentes do consumo noturno. Para os consumos residenciais costuma-se assumir hipóteses baseadas em medições específicas de consumo e extrapoladas para o conjunto de consumidores da área envolvida ou utilizar dados da literatura. As vazões de vazamentos assim determinadas representam os valores observados naquela hora do ensaio onde as pressões do sistema atingem o máximo. Como a vazão nos vazamentos é bastante influenciada pela pressão o valor observado na hora da mínima noturna é a vazão máxima diária dos vazamentos que, se simplesmente multiplicada por 24h, estaria supervalorizando os volumes diários perdidos. Para solucionar esse problema foi definido o Fator Noite-Dia, que é um numero (em horas por dia), que multiplicado pela vazão de vazamentos (extraída da Vazão Mínima Noturna), resulta no volume médio diário dos vazamentos, ou seja, na perda real média. O FND também pode ser entendido como um número que corrige o valor da perda real ocorrida no horário da mínima noturna, permitindo obter o valor médio diário da perda real. O FND com unidades de horas/dia é influenciado por um parâmetro N1 e pela variação das pressões médias horárias no setor de abastecimento. Depois de obter a perda 28 noturna, utiliza-se um fator multiplicador denominado Fator Noite e Dia (FND) com finalidade de transformar a perda noturna em volume de perda real diária (VDPR), utilizando a equação 1.2. mnVDPR FND Q (1.2) O FND é determinado à partir de um somatório de medição de pressão, ao longo de 24 horas, em um ponto médio representativo do setor, utilizando a equação (1.3). 12424 1 3 4 Nh i i às h PFND P (1.3) Onde 24hiP representa a média das pressões horárias, ao longo das 24 horas dentro do sistema ou setor, 3 4às hP representa a pressão medida na entrada do sistema ou setor na campanha de mínima noturna das 3h:00 às 4h:00 h. E 1N pode ser calculado, segundo a a equação (1.4) 1 1 1 0 0 N Q P Q P (1.4) Onde Q0 e P0 é a vazão na entrada do sistema e a pressão interna ao sistema associada ao tempo t0, e Q1 e P1 é a vazão na entrada do sistema e a pressão interna ao sistema associada ao tempo t1. A vazão é determinada através da macromedição na entrada do setor em estudo. Nesse caso, é necessária a medição em intervalos com períodos constantes e regulares. Estes intervalos de medição podem ser feitos de acordo com as características e capacidades do aparelho registrador. Medidas de campo realizadas em vários países indicam que para tubulações metálicas N1 = 0,5 e tubulações plásticas 1,5 N1 2,5 (FARLEY e TROW, 2003). 29 1.4.4 Fator de Pesquisa (FP) De forma similar a VMN, tem-se a definição do fator de pesquisa o qual é determinado a partir da relação entre vazão mínima noturna e a vazão média diária (Fraga e Silva, 1995). O valor do fator de pesquisa pode ser obtido pela equação (1.5), mn md QFP Q (1.5) onde, Qmn é vazão mínima noturna e Qmd a vazão média diária. O FP é um número entre zero e um e quanto mais próximo de um indica maior possibilidade de ocorrer vazamentos. Segundo Fávero e Dib (1981), em geral, se o fator de pesquisa for maior que 0,30, o setor em estudo contém vazamentos economicamente detectáveis. Tal como no caso da VMN, o uso do FP deve ser evitado para setores com intermitência no abastecimento. Devido à falta de água durante o dia (demanda reprimida), há um consumo elevado durante a noite, o que pode dar a falsa impressão de problemas de vazamentos quando se calcula o FP. A vantagem desse método das VMN esta na maior representatividade do valor numérico das perdas reais, retratando a realidade física e operacional do sistema ou setor de abastecimento. A desvantagem, o ensaio deve ser feito em uma área relativamente pequena, do setor de abastecimento, podendo induzir a equívocos se os valores medidos forem extrapolados para representar o setor como um todo. 30 Capítulo 2 METODOLOGIA Este capítulo descreve a área de estudo, os procedimentos utilizados para coletar e analisar os dados de vazão, pressão e consumo mensal, utilizados para estimar perdas. A metodologia empregada assume que o sistema é hidraulicamente isolado, ou seja, não há fugas de água (setor fechado). 31 2.1 Etapas do Estudo Neste estudo foram definidas sete etapas necessárias para quantificar perdas de água em redes de abastecimento conforme mostra a Figura 2.1. Figura 2.1 – Metodologia aplicada para estimar perdas de água na área de estudo. 32 2.1.1 Primeira etapa - escolha da área de estudo Nesta etapa buscou-se escolher uma local para a realização do estudo. O local escolhida foi o município de Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso, situado na região centro-oeste do Brasil (veja a Figura 2.2). O sistema de distribuição de água do municipio de Cuiabá contem oito sub-sistemas de abastecimento. Na área de estudo, foi escolhido um setor que: a) possuisse uma estação pitométrica; b) fosse totalmente hidrometrado; c) que os consumidores tivessem um padrão sócio econômico similar; d) que todas as residências pertencessem ao mesmo ciclo de leitura e e) do ponto de vista da distribuição tivesse uma única entrada, ou seja, um setor fechado. Para definir a área de estudo, primeiro foi realizado um estudo documental com levantamento de dados operacionais dos oito sistemas de abastecimento de água da cidade de Cuiabá, relativos ao período 2005 à 2007 (veja a Figura 2.3). Figura 2.2 – Localização da área de estudo residencial Domingos Sávio Brandão 33 Os oito sub-sistemas de abastecimento atendem um total de 139.169 ligações das quais 779 são provenientes da zona rural e 138.390 ligações na zona urbana6. O sistema de abastecimento de água da cidade de Cuiabá possui um total de 126.209 ligações ativas, 11.443 suprimidas ou inativas. Ligações suprimidas ou inativas são todas as ligações desligadas (cortadas, suspensa de corte e em processo judicial) do sistema de abastecimento de água, as quais não geram contas, embora estejam contidas cadastralmente. E 738 ligações isentas de pagamento. Figura 2.3 – Sistemas de abastecimento de água da cidade de Cuiabá. Após a análise, foi
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