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Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital Autor: Ricardo Torques Aula 06 17 de Agosto de 2021 07221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 1 162 Sumário Proteção a minorias e demais grupos vulneráveis.............................................................................................. 4 Proteção à mulher ............................................................................................................................................... 5 1 - Introdução ................................................................................................................................................. 5 1.1 - O Caso Maria da Penha ...................................................................................................................... 7 2 - Lei Maria da Penha ................................................................................................................................... 8 2.1 - Gênero; violência de gênero; violência contra as mulheres ............................................................... 9 2.2 - Formas de violência doméstica e familiar contra a mulher.............................................................. 10 2.3 - Assistência à mulher em situação de violência ................................................................................ 10 2.4 - Atendimento Policial ........................................................................................................................ 12 2.5 - Procedimentos .................................................................................................................................. 14 2.6 - Regras Finais da Lei ......................................................................................................................... 17 3 - Atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual ................................... 17 4 - Violência Obstétrica ................................................................................................................................ 19 5 - Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e de Violência .............. 20 6 - Redes e Políticas contra a Violência ....................................................................................................... 20 6.1 - Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência ............................................................................................................................... 20 6.2 - Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres .............................................. 21 Combate ao Racismo........................................................................................................................................ 21 1 – Introdução ............................................................................................................................................... 21 Estatuto da Igualdade Racial ............................................................................................................................ 24 1 - Introdução ............................................................................................................................................... 24 2 - Direitos Fundamentais ............................................................................................................................ 27 Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 2 162 2.1 - Direito à Saúde ................................................................................................................................. 27 2.2 - Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer ...................................................................... 28 2.3 - Direito à Liberdade de Consciência, de Crença e o Livre Exercício de Culto ................................. 30 3 - Acesso à terra e à moradia adequada ...................................................................................................... 31 3.1 - Acesso à Terra .................................................................................................................................. 31 3.2 - Moradia ............................................................................................................................................ 34 4 - Trabalho .................................................................................................................................................. 34 5 - Meios de Comunicação ........................................................................................................................... 35 6 - SINAPIR ................................................................................................................................................. 35 7 - Disposições finais ................................................................................................................................... 36 Crimes resultantes de raça ou de cor ................................................................................................................ 36 Proteção aos LGBTTTI .................................................................................................................................... 38 1 - Conceito .................................................................................................................................................. 39 2 - Proteção Internacional da Liberdade Sexual ........................................................................................... 39 3 - Liberdade Sexual no ordenamento jurídico nacional .............................................................................. 41 3.1 - Reconhecimento e qualificação da união homoafetiva como entidade familiar .............................. 42 4 - Transgênero e o Direito ao nome ............................................................................................................ 44 4.1 - Nome Social e uso de banheiro nas escolas ..................................................................................... 48 5 - Combate à discriminação de grupos LGBTTTI em privação de liberdade ............................................ 49 Proteção às pessoas portadoras de transtornos mentais e legislações específicas ........................................... 49 1 - Internação Voluntária , Involuntária e Compulsória (Lei n. 10.216/01) ................................................ 50 2 - Política Nacional para a população em situação de rua (Decreto Federal n. 7.053/09) ......................... 53 3 - Consultórios na Rua (Portarias do Ministério da Saúde n. 122 e n. 123 de 2012) ................................. 55 Legislação Destacada ....................................................................................................................................... 56 Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 3 162 Estatuto da Igualdade Racial ........................................................................................................................ 56 Resumo ............................................................................................................................................................. 57 Introdução ..................................................................................................................................................... 57 Lei Maria da Penha ......................................................................................................................................57 Atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual ......................................... 60 Combate ao Racismo .................................................................................................................................... 62 Estatuto da Igualdade Racial ........................................................................................................................ 62 Crimes resultantes de raça ou de cor ............................................................................................................ 65 Proteção aos LGBTTTI ................................................................................................................................ 67 Lista de Questões com Comentários ................................................................................................................ 69 FGV .............................................................................................................................................................. 69 Outras Bancas ............................................................................................................................................... 71 Lista de Questões sem Comentários .............................................................................................................. 135 FGV ............................................................................................................................................................ 135 Outras Bancas ............................................................................................................................................. 136 Gabarito .......................................................................................................................................................... 162 Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 4 162 GRUPOS VULNERÁVEIS (PARTE 01) PROTEÇÃO A MINORIAS E DEMAIS GRUPOS VULNERÁVEIS O estudo dos direitos humanos invariavelmente remete à defesa das pessoas que se encontram em posição desprivilegiada na comunidade. Essa é uma realidade comprovada pelo curso histórico. Dois exemplos bem ilustram esses fatos: os judeus na Alemanha nazista e o escravagismo Africano e indígena no Brasil Colonial. Tanto os judeus como os negros e índios ocupavam, nas respectivas comunidades posição desfavorável, o que propiciou a exploração e, consequentemente, a violação dos seus direitos mais básicos. Sobre o assunto leciona Sidney Guerra1: Pensar os direitos humanos na atualidade consiste em articular uma ótica intrincada e imbricada de valores, perpassada por contextos que atingem de forma variada certos segmentos e grupos sociais. O pluralismo é um dos aspectos que caracterizam o modelo de sociedade democrática brasileira. A diversidade faz parte do meio social em que vivemos e é um elemento essencial para o desenvolvimento da comunidade. Partindo desse raciocínio, pode-se observar a importância da proteção das minorias e dos grupos vulneráveis. A vulnerabilidade é algo natural á condição humana. Não há pessoa invulnerável, todos são, em grupo grau, vulneráveis. Todos estão sujeitos, em alguma medida, a violações dos seus direitos mais básicos. É necessário, contudo, aferir na prática, no dia a dia, grupos de pessoas que se encontram em situação de maior vulnerabilidade. Nesse contexto, trazemos à discussão a ideia de igualdade em sentido material. Vulnerabilidade e desigualdade são conceitos correlacionados. É necessário constatar faticamente pessoas que possuem menor capacidade de enfrentar violações aos seus direitos mais básicos. É o que ocorreu com os judeus e com os negros e índios, acima citados. Por consequência, é papel central da disciplina de Direitos Humanos identificar e proteger pessoas que estejam em condições desfavoráveis. Essa proteção está, a um só turno, tanto em normas internacionais como em normas internas. Desse modo, estudar a situação jurídica internacional de minorias e grupos vulneráveis nada mais é do que compreender as normas criadas para defesa daquelas pessoas cujos direitos são constantemente vilipendiados. 1 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar, 2ª edição, São Paulo: Editora Saraiva, 2014, p. 230. Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 5 162 Antes de iniciarmos, contudo, o estudo específico da proteção às mulheres, é importante diferenciarmos minorias de grupos vulneráveis. As minorias constituem o grupo de pessoas que ocupam posição não dominante na sociedade, embora sejam organizados e com sentimento de autodeterminação e solidariedade entre os integrantes dos grupos. Os grupos vulneráveis, por sua vez, constituem o conjunto de pessoas dotado formalmente de direitos, contudo, destituídos de poder. Desse modo, desorganizações, os grupos vulneráveis encontram uma série de dificuldades para exigir seus direitos. Em que pese a distinção acima, para fins do nosso concurso, não é necessário adentramos em maiores detalhes quanto à diferenciação. Ok? Vamos ao que realmente interessa? PROTEÇÃO À MULHER 1 - Introdução Ao longo da História, as mulheres foram constantemente submetidas a abusos, atrocidades e violências diversas. Em determinadas comunidades, inclusive, foram vistas como coisa, como mero instrumento de deleite masculino. Felizmente, a sociedade contemporânea tem empreendido esforços no sentido de superar tais mazelas, entretanto, certos ranços persistem, o que exige um tratamento diferenciado. Nesse contexto, veja o que nos ensina a doutrina de Flávia Piovesan2: Com o processo de especificação do sujeito, mostra-se insuficiente tratar o indivíduo de forma genérica, geral e abstrata. Torna-se necessária a especificação do sujeito de direito, que passa a ser visto em suas peculiaridades e particularidades. Nessa ótica, determinados sujeitos de direito, ou determinadas violações de direitos, exigem uma resposta específica, diferenciada. Nesse sentido, as mulheres devem ser vistas nas especificidades e 2 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos, 6ª edição, São Paulo: Editora Saraiva, 2012, 314. Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 6 162 peculiaridades de sua condição social. Importa o respeito à diferença e à diversidade o que lhe assegura um tratamento especial. Vamos, na sequência do nosso estudos, avaliar as normas que envolvem a proteção concedida à mulher, tanto na esfera internacional, como nacional. No âmbito internacional esse tratamento diferenciado é notado especialmente em razão de alguns diplomas relevantes. Destaca-se no âmbito internacional: (i) A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW, pela sigla internacional). Esse documento deu importante passo para o reconhecimento da valorização da dignidade da mulher. Nesse sentido, leciona a doutrina3: A Convenção enaltece o papel da mulher na sociedade e para o bem-estar de uma família, ressaltando que, para que haja desenvolvimento pleno de um país, bem-estar no mundo e paz, a participação da mulher deve ser plenamente reconhecida nas mesmas condições que os homens. Não obstante tratar-se do principal diploma específico do Sistema Global de Direitos Humanos, voltado à proteção dos direitos humanos da mulher, a CEDAW recebeu crítica contundente, na medida em que impõe o imperialismo cultural e a intolerância religiosa. De certo modo, a CEDAW traz o contexto de direitos pretendido à mulher no Ocidente, sem considerar peculiaridades culturais.Além disso, essa Convenção não disciplina a questão da violência contra a mulher, mas tão somente aspectos voltados à proteção contra discriminação. É justamente em face disso que a Recomendação nº 19 do Comitê da CEDAW ampliou o conceito de discriminação para abranger também as situações de violência. Paralelamente à Convenção, existe o Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, que viabilizou a possibilidade de vítimas, pessoalmente ou por intermédio de organizações, peticionar ao Comitê para denunciar violações os direitos das mulheres prescritos na CEDAW. 3 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar, p. 231. Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 7 162 (ii) No âmbito da OEA é importante conhecermos a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, denominada de Convenção de Belém do Pará. Esse documento é o primeiro a reconhecer a violência contra a mulher como um fenômeno comum na sociedade, assunto que exige atenção da comunidade internacional e dos Estados. Essa Convenção específica influenciou o surgimento da Lei nº 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha. (iii) Outros documentos específicos de relevo são Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. No âmbito nacional, embora constatada certa evolução, ainda persistem violações aos direitos das mulheres. Tal come leciona Flávia Piovesan4: A realidade brasileira revela um grave padrão de desrespeito aos mais elementares direitos humanos de que são titulares as mulheres, mais da metade da população nacional. Destacam-se, no quadro das graves violações aos direitos humanos nas mulheres: a) a violência contra a mulher; b) a discriminação contra as mulheres; e c) a violação aos direitos sexuais e reprodutivos. Estes são os principais vértices que compõem a agenda feminista brasileira no contexto da consolidação democrática. Internamente, sempre tivemos poucas de proteção da mulher. Na Constituição as regras são esparsas. Assegura-se a igualdade entre homens e mulheres (art. 5º, I), a proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante políticas públicas específicas (art. 7º, XX) e a redução em cinco anos para a aposentadoria por idade quando comparada aos homens (art. 40, III, “a” e “b”; e art. 201, §7º, I e II). Na esfera infraconstitucional não havia norma específica, apenas algumas regras difusas. Somente em 2006, essa realidade modificou-se. 1.1 - O Caso Maria da Penha Em 1998, Maria da Penha Maia Fernandes, juntamente com duas organizações não-governamentais (CEJIL- Brasil e CLADEM-Brasil) encaminharam à Comissão Interamericana petição contra o Estado brasileiro, reclamando a defesa dos seus direitos humanos, em face das violações domésticas sofridas. Relata-se que a Maria Penha sofreu diversas agressões e ameaça do seu ex-marido, sendo, inclusive, vítima de tentativa de homicídio com dois tiros nas costas enquanto dormia, o que a deixou paraplégica. O agressor tentou eximir-se da culpa e, duas semanas após, em nova tentativa de homicídio, seu ex-marido tentou eletrocutá-la durante o banho. Não mais aguentando a situação, superou as ameaças, o medo e separou-se. 4 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos, 6º Edição, São Paulo: Editora Saraiva, 2013, p. 333/334. Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 8 162 Houve o ingresso da ação penal, com a produção de diversas provas dando conta da autoria dos fatos pelo ex-marido, contudo, mesmo após 15 anos, o agressor ainda permanecia em liberdade, não havendo decisão definitiva. Em face disso, Maria da Penha, juntamente com a CEJIL-Brasil5 e com a CLADEM-Brasil6, ingressou contra o Brasil na Comissão Interamericana, denunciando o padrão sistemático de omissão e negligência em relação à violência doméstica e familiar contra as mulheres brasileiras. Após o trâmite do procedimento internacional, o Estado brasileiro foi condenado por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres, fazendo uma série de recomendações, entre as quais: • Finalizar a apuração da autoria dos delitos praticados contra a Sra. Maria da Penha; • Apurar a responsabilidade pelo atraso injustificado no trâmite processual interno; e • Adotar políticas públicas voltadas à prevenção, punição e erradicação da violência contra a mulher. Sobre a importância do caso Maria da Penha, ensina Flávia Piovesan7: À luz desse contexto, o caso Maria da Penha permitiu, de forma emblemática, romper com a indivisibilidade que acoberta este grave padrão de violência de que são vítimas tantas mulheres, sendo símbolo de uma necessária conspiração contra a impunidade. Em 2002, houve a prisão do réu, encerrando-se o longo ciclo de impunidade que envolveu o presente caso. Posteriormente, em razão desse caso paradigmático, foi votada e aprovada a Lei nº 11.340/2006, que ficou denominada de Lei Maria da Penha. Vamos, na sequência, estudar a referida lei, em detalhes. 2 - Lei Maria da Penha Trata-se de norma que criou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Essa norma busca fundamento no art. 226, §8º, da CF, e em diversos diplomas internacionais. A nossa Constituição assegura assistência estatal à família na pessoa de cada um dos que a integram, devendo- se criar mecanismos para coibir a violência no âmbito das relações familiares. A Lei, já no seu início, reitera os direitos e garantais fundamentais das mulheres, afirmando que deve ser assegurado uma vida digna, livre de qualquer violência. Para que isso seja assegurado, o Poder Público deve desenvolver uma série políticas públicas (ações afirmativas), a fim de assegurar os direitos as mulheres e 5 O Centro pela Justiça e o Direito Internacional é organização não-governamental, constituída em 1991 que tem por finalidade implementar as normas de direitos humanos nos países da América Latina e do Caribe. 6 Trata-se do Centro Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher. 7 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos, p. 337. Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 9 162 coibir toda e qualquer prática que possa implicar em negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão contra mulheres. Didaticamente, podemos afirmar que a norma tempo por finalidade: coibir e prevenir a violência doméstica familiar; criar os Juizados de Violência Doméstica e Familiar; e adotar medidas de assistência e proteção às vítimas de violência doméstica e familiar. Além disso, a Lei Maria da Penha deixa claro no que esse dever não é apenas do Estado, mas constitui obrigação da família e da sociedade. Assim... 2.1 - Gênero; violência de gênero; violência contra as mulheres Vamos iniciar o tópico com a compreensão do que é considerado “violência doméstica” pela Lei 11.340/2006. De acordo com o art. 5º, a violência doméstica e familiar se configura quando a mulher sofre qualquer ação ou omissão baseada no gênero que possa causar morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, praticada: no âmbito doméstico, no âmbito familiar ou em razão de alguma relação íntima de afeto. Note que o conceito é amplo, mas o “tom” diferenciador da violência doméstica ou familiar é a conduta comissiva ou omissiva baseada no gênero. Todas as condutas acima, se praticadas em função de qualqueroutro motivador, ainda que perpetrado contra mulheres, não recebe a guarida específica que aqui estudamos. As unidades domésticas são espaços de convívio permanente com ou sem vínculo familiar, inclusive unidades esporádicas. Família é a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados por laços naturais, afinidade ou vontade expressa. Relação íntima de afeto é aquela em que há convivência, independentemente da coabitação. De qualquer forma, a Lei deixa claro que as relações pessoais independem de orientação sexual. Para a prova... A RESPONSABILIDADE POR GARANTIR UMA VIDA DIGNA ÀS MULHERES, LIVRE DE QUALQUER FORMA DE VIOLÊNCIA É do Estado da família da sociedade Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 10 162 A violência doméstica constitui – como deixa claro o art. 6º da Lei 11.340/2006 – violação de direitos humanos, por se tratar de violência de gênero. 2.2 - Formas de violência doméstica e familiar contra a mulher O art. 7º da Lei Maria da Penha trata das formas de violência doméstica, explicitadas na legislação. São cinco as formas previstas: A violência física é entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal. Violência psicológica é aquela que causa dano emocional e diminuição da auto-estima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões da vítima. Violência sexual é qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada. Violência patrimonial é aquela que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos. Violência moral é a conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. 2.3 - Assistência à mulher em situação de violência A partir do art. 8º, vamos analisar regras voltadas para as vítimas de violência doméstica. Define a lei: medidas integradas de prevenção; e VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ação/omissão baseada no gênero que possa causar morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, praticada no âmbito doméstico, familiar ou em decorrência de relação de afeto. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER física psicológica sexual patrimonial moral Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 11 162 assistência à vítima. Além de medidas preventivas e de políticas assistenciais à vítima, a Lei define regras referentes ao atendimento pela autoridade policial. Vamos iniciar com as medidas protetivas. Medidas integradas às vítimas de violência doméstica e familiar No art. 8º e seguinte da Lei, temos regras que preveem a adoção de medidas integrada às vítimas de violência doméstica e familiar. De acordo com o caput o Poder Público deve desenvolver uma política pública voltada a coibir a violência doméstica e familiar. Essa política é conceituada como um conjunto de ações a serem adotadas por todos os entes que compreendem nossa federação e, também, por ações não governamentais. Em síntese essas medidas buscam: integração entre as esferas (Judiciário, MP e Defensoria com segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação); atendimento policial especializado; campanhas educativas e de prevenção da violência doméstica e familiar; e capacitação permanente da rede de atuação. Vamos apenas sintetizar as diretrizes das medidas: Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 12 162 Sigamos! Assistência à mulher vítima de violência doméstica As medidas integradas são estabelecidas para evitar a violação de direitos, ao passo que as medidas assistenciais, definidas no art. 9º, tem por finalidade reparar violações já perpetradas. De acordo com o caput do art. 9º da Lei, haverá um corpo integrado de serviços que serão disponibilizados à vítima. Esse corpo integrado envolve o SUAS (Sistema Único de Assistência Social), o SUS (Sistema Único de Saúde) e o Sistema Único de Segurança Pública. O acesso a esses serviços será determinado pelo juiz, por prazo por ele determinado assegurando-se: acesso prioritário à remoção, caso a vítima seja servidora pública; e manutenção do vínculo de trabalho por até seis meses, se necessário o afastamento. Analisadas as medidas protetivas e assistenciais, vejamos as regras relativas ao atendimento policial, que foram modificadas pela Lei 13.505/2017. 2.4 - Atendimento Policial A pretensão do legislador com a Lei 13.505/2017, que alterou a Lei Maria da Penha, foi estabelecer atendimento especializado à vítima de violência doméstica. Por se tratar de uma mazela recorrente, notadamente em áreas rurais, busca-se criar um atendimento especializado, ininterrupto e prestado por policiais e delegadas capacitadas. • integração entre os órgãos públicos que estão envolvidos direta e indiretamente com a proteção dos direitos das crianças e mulheres; • promoção de estudos, pesquisas e estatíticas com a finalidade de aferir a perspectiva de gênero a frequência da violência doméstica e familiar; • difusão do respeito, valores éticos e sociais para coibir papéis esteotipados que levem à violência doméstica; • implementação de atendimento policial especializado para as mulheres; • promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher; • a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria para erradicar a violência doméstica e familiar • capacitação das pessoas que tratabalham na área de segurança pública • promoção de programas educacionais que respeitem valores éticos e a dignidade na perspectiva de gênero e de raça ou etnia • conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher DIRETRIZES DAS MEDIDAS INTEGRADAS Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 13 162 São três as diretrizes relativas ao atendimento policial: salvaguarda da integridade física; não contato com investigados e suspeitos; e evitar a revitimização. Quanto à revitimização, cumpre acrescentar algumas observações. Primeiramente, devemos compreender o significado da palavra. A revitimização implica em tornar vítima novamente quem já é vítima de violação de direitos. No caso da violência doméstica, por se tratar crime sensível, intrinsicamente relacionado com a intimidade da pessoa, a necessidade de declinar os fatos para as autoridades policiais implica em reviver as violações, vitimizando-a novamente. Desse modo, algumas cautelas devem ser tomadas com a finalidade de evitar a revitimização: inquirição em recinto especialmente criado para esse fim; quando necessário, acompanhamento por profissionais especializados em violência doméstica e familiar; e registro eletrônico ou magnético do depoimento. A partir dessas orientações gerais, a Lei contém regras que se aplicam à autoridade policial no atendimento à mulher em situação de violência e no procedimento policial respectivo. No que diz respeito ao atendimento à mulher em situação de violência, prevê o art. 11 da Lei as seguintes ações: garantia de proteção policial; encaminhamento para atendimento médico; fornecimento de transporte, estendendo o benefício a dependentes da vítima de violência; garantir apoio policial para a vítima buscar pertences do local da ocorrência ou do domicílio; e informação quanto aos direitos. Em relação ao procedimento inquisitorial, a autoridade policial deverá adotar uma série de procedimentos. Embora se refiram a condutas condizentes com a condução do Processo Penal, vamos, listar de forma resumidas as ações a serem adotadas: ouvir a ofendida; lavrar boletim de ocorrência; Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 14 162 tomar a representação a termo; colher provas (inclusive, oitiva de testemunhas); remeter os autos ao juiz no prazo de 48 horas para adoção de medidas protetivas de urgência requeridas pela vítima; determinar exames periciais e corpo de delito; ouvir agressor (que deverá ser identificado e juntado aos autos a folha de antecedentes); e remeter o inquérito ao juiz e Ministério Público no prazo legal. Seguindo com o estudo da Lei, vamos analisar os dispositivos que reportam-se aos procedimentos judiciais. 2.5 - Procedimentos Em relação aos procedimentos, necessário estudar os arts. 13 a 28 da Lei Maria da Penha. Além de algumas disposições gerais, vamos analisar regras relativas à adoção de medidas protetivas de urgência, requeridas pela autoridade policial; regras atinentes à autuação do Ministério Público, bem como regras relativas à assistência judiciária. Regras gerais Quanto aos procedimentos judiciais que envolvam vítimas de violência doméstica ou familiar devem ser aplicadas as regras que estudaremos. Contudo, como as normas processuais são breve e objetivas, os códigos processuais são aplicados de forma subsidiária. De acordo com o art. 13 da Lei Maria da Penha, aplicam-se, subsidiariamente: o CPP; o NCPC; e regras processuais existentes no ECA ou no Estatuto do Idoso. Em relação á prática de atos processuais, como forma de facilitar o trâmite das ações, há previsão específica de que tais atos podem ser praticados no período noturno. Em relação à fixação do juízo competente para os procedimentos judiciais cíveis, o art. 15 estabelece regra que tem por objetivo facilitar o acesso à justiça pela vítima. Desse modo, ela poderá optar entre um dos seguintes foros: Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 15 162 O artigo 16 da Lei prevê que as ações penais relativas à violência doméstica são públicas e condicionadas à representação da ofendida. Oferecida a representação, a renúncia é admissível sob as seguintes condições: 1ª – manifestação de vontade perante autoridade judicial; 2ª – manifestação em audiência especialmente designada para a renúncia; 3ª – manifestação antes do recebimento da denúncia; e 4ª – prévia oitiva do membro do Ministério Público. Ainda, o art. 17 veda aplicação de sanções penais consistentes em prestação de cesta básica ou apenas pecuniárias ou substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa. Medidas Protetivas Na sequência nos deparamos com o art. 18, que arrola as medidas protetivas de urgência que podem ser aplicadas por ordem judicial. Essas medidas são adotadas judicialmente a pedido da vítima ou do Ministério Público. Cabe ao juiz decidi-las no prazo de 48 horas a contar do requerimento formulado. Além disso, são medidas provisórias, vale dizer, podem ser alteradas ou revogadas a qualquer tempo durante o curso do inquérito ou do processo penal. FOROS COMPETENTES PARA AÇÃO CÍVEL EM RAZÃO DA LEI MARIA DA PENHA foro do domicílio ou da residência; foro do lugar do fato em se baseou a demanda; ou foro do domicílio do agressor à escolha da vítima Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 16 162 Vistas essas regras gerais em relação às medidas, vamos citar os arts. 22 a 24, que trazem medidas protetivas que obrigam o agressor e à vítima de violência. medidas que obrigam o agressor: Essas medidas não excluem outras previstas na legislação em vigor. A execução das medidas pode ser realizada com auxílio de força policial. medidas protetivas de urgência à ofendida: Particularmente em relação à proteção de bens da ofendida, as seguintes medidas podem ser determinadas: • requerimento da vítima ou do membro do Ministério Público; • decisão judicial no prazo de 48 horas; • são provisórias; • possibilidade de prisão preventiva do agressor. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA: • suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente; • afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; • proibição de determinadas condutas, entre as quais: aproximação da ofendida, familiares e testemunhas, fixado limite mínimo de distância; contato com a ofendida, familiares e testemunhas; frequentação de determinados lugares; restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores; e prestação de alimentos provisionais ou provisórios. MEDIDAS QUE OBRIGAM O AGRESSOR: • encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; • determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor; • determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; • determinar a separação de corpos. MEDIDAS PROTETIVAS DA OFENDIDA: Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 17 162 O descumprimento das medidas acima constitui crime. Nesse sentido, a Lei 13.641/2018, que alterou a Lei Maria da Penha, estabelece que constitui crime descumprir decisão judicial que defere medida protetiva e, em razão dela, aplica-se pena de detenção de 3 meses a 2 anos. A medida pode ter sido determinada por juiz de competência civil ou criminal. Cabe fiança em caso de prisão em flagrante. Ministério Público e assistência judiciária Para encerrar, reunimos dois pontos específicos em um só. O MP, quando não for parte, atuará nos procedimentos judiciais envolvendo violência doméstica ou familiar na condição de fiscal da ordem jurídica. E, em razão disso, poderá requisitar força policial e serviços públicos, fiscalizar estabelecimentos públicos ou particulares de atendimento à mulher ou cadastrar casos de violência. Quanto à assistência judiciária, esse instrumento de acesso à Justiça será assegurado mediante contratação de advogado privado ou por intermédio da Defensoria Pública ou da assistência judiciária gratuita. Com isso, encerramos a análise dos dispositivos atinentes ao acesso à justiça. 2.6 - Regras Finais da Lei Para que possamos encerrar o estudo da Lei Maria da Penha, vamos declinar algumas regras que se aplicam ao atendimento multidisciplinar, além de regras transitórias e finais, sem maior relevância para fins do nosso estudo. 3 - Atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual A Lei n. 12.845/13 trata sobre o atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual. Assim, a lei determina atenção específica às pessoas que estiverem envolvidas em tais situações. Para tanto, os hospitais devem oferecer às vítimas atendimento emergencial, integral e multidisciplinar para o controle e tratamento de pessoas submetidas a violência sexual. Qual o conceito de violência sexual para fins da Lei 12.845/2013? • restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; • proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda elocação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; • suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; • prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. MEDIDAS PROTETIVAS PATRIMONIAIS: Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 18 162 De acordo com o art. 2º, a violência sexual constitui qualquer forma de atividade sexual não consentida. Portanto... Entre os serviços que devem ser providenciados de forma OBRIGATÓRIA e IMEDIATA, temos: diagnóstico e tratamento das lesões físicas no aparelho genital e nas demais áreas afetadas; amparo médico, psicológico e social imediatos; facilitação do registro da ocorrência e encaminhamento ao órgão de medicina legal e às delegacias especializadas com informações que possam ser úteis à identificação do agressor e à comprovação da violência sexual; profilaxia da gravidez; profilaxia das DST; coleta de material para realização do exame de HIV para posterior acompanhamento e terapia; fornecimento de informações às vítimas sobre os direitos legais e sobre todos os serviços sanitários disponíveis. Esse servidor será gratuito, APENAS AOS QUE DELA NECESSITAREM. Assim: Registre-se que compete ao médico preservar os materiais que possam ser utilizados para fins de investigação. VIOLÊNCIA SEXUAL qualquer forma de atividade sexual não consentida SERVIÇOS A QUEM FOR SUBMETIDO A VIOLÊNCIA SEXUAL imediato obrigatório gratuito, a quem dela necessitar Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 19 162 4 - Violência Obstétrica A violência obstétrica constitui a apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres pelos profissionais de saúde, por intermédio de tratamento desumanizado, por abuso de medicação e patologização dos processos naturais, de forma prejudicar a autonomia e capacidade de decisão sobre o corpo e sexualidade e que possa causar perda na qualidade de vida das mulheres. Em alguns países, tais como Argentina e Venezuela a violência obstétrica é tipificada penalmente. Em nosso ordenamento, temos parco arcabouço legislativo, o que dificulta a responsabilização. De toda forma, se considerarmos a legislação nacional e internacional em conjunto é possível coibir esse tipo de conduta. É direito da mulher (e também do nascituro) realizar pré-natal de qualidade, com a finalidade assegurar uma gestação saudável, com preservação do bem-estar. Essa forma específica de violência contra a mulher, abrange: • negativa, negligência ou dificultação do atendimento em postos de saúde que realizam o atendimento pré-natal; • tratamento discriminatório às gestantes por razões de cor, religião, crença, condições socioeconômica, estado civil, orientação sexual ou número de filhos; • ofensas à mulher e à família; • recomendar a realização da cesárea sem real necessidade médica (baseada em evidências científicas). No que diz respeito à proteção jurídica constante do nosso ordenamento, podemos destacar algumas normas. A Lei 11.108/2005 tem por finalidade assegurar o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Importante destacar que essa regra foi novamente trazida à tona com Lei 13.257/2016, denominada Lei da Primeira Infância, que alterou o ECA para incluir a mesma obrigação. De acordo com a Lei, primeira infância compreende o período entre primeiros 6 anos completos ou 72 meses de vida da criança. Essa nova lei trouxe diversas alterações. Temos alterações no ECA, na CLT, na Lei 11.770/2008 (Programa Empresa Cidadã) e até mesmo no CPP. Nota-se um esforço da legislação em desenvolver programas e políticas de atendimento adequadas à proteção da gestação. Destaca-se: A mãe terá direito de escolher, nos últimos 3 meses da gestação, do local onde será realizado o parto. É assegurado à gestante e à parturiente o direito a um acompanhante durante o período que estiver em estabelecimento hospitalar. Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 1 20 162 O Poder Público deverá atuar a fim de garantir os direitos das gestantes perante a rede pública de saúde, atuará também em posição interventiva nos contratos de emprego, preservará o direito das gestantes que estiverem em restrição de liberdade. Além de promover os direitos das gestantes e parturientes, o Estado deverá coibir práticas discriminatórias e violadoras dos direitos das gestantes. Para fins de prova você deve lembrar dessas normas e, ter em mente, a factibilidade da tutela dos direitos das mulheres que sofrem violência obstétrica, com base nos princípios que informam nosso ordenamento jurídico nacional e internacional. 5 - Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e de Violência A Lei 11.340/2006 disciplina que no atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida. Além disso, na parte final da Lei, mais especificamente no art. 35, II, estabelece que compete à União, DF, Estados e Municípios a prerrogativa de criar casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situação de violência doméstica e familiar. Em 2011 foi divulgado o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher que estabeleceu que deve ser prioridade o aumento do número de serviços de abrigamento, levando em conta eventuais consórcios entre os órgãos públicos. Infelizmente não dispomos no âmbito federal ou estadual nenhum programa efetivo voltado para o abrigamento de mulheres em situação de risco e de violência, pelo que, acredita-se possui legitimidade a Defensoria Pública para ingressar com ações coletivas, com o intuito de exigir do Estado a tutela judicial específica. 6 - Redes e Políticas contra a Violência 6.1 - Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência Essas duas redes, referidas expressamente em edital, envolvem políticas desenvolvidas pelas instituições e órgãos governamentais voltados à proteção de mulheres expostas a situações de violência. Ambas as redes possuem 4 objetivos: Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino d 21 162 Mas qual a diferença entre “rede de atendimento” e “rede de enfrentamento”? A rede de enfrentamento é conjunto de órgãos que atuam agentes governamentais e não-governamentais, formuladores, fiscalizadores e executores de políticas voltadas para as mulheres; serviços/programas voltados para a responsabilização dos agressores; universidades; órgãos federais, estaduais e municipais responsáveis pela garantia de direitos e serviços especializados e não-especializados de atendimento às mulheres em situação de violência. A rede atendimento, por sua vez, envolve o conjunto de ações e serviços que tem por objetivo ampliar a rede de atendimento às mulheres vítimas de violência. 6.2 - Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres Em sentido semelhante às redes acima estudadas, a Política Nacional de Enfrentamento à Violência tem por finalidade “estabelecer conceitos, princípios, diretrizes e ações de prevenção e combate à violência contra as mulheres, assim como de assistênciae garantia de direitos às mulheres em situação de violência, conforme normas e instrumentos internacionais de direitos humanos e legislação nacional”. COMBATE AO RACISMO 1 – Introdução A discussão em torna da discriminação racial envolve o estudo da igualdade, notadamente em sentido material. O princípio da igualdade pode ser analisado sob o aspecto formal e sob o aspecto material. Pelo aspecto da igualdade em sentido formal temos a igualdade perante a lei. Nesse caso, o conceito de igualdade é aproximado do conceito de legalidade, pois todas as normas previstas em nosso ordenamento OBJETIVO DA REDE empoderamento e construção da autonomia das mulheres defesa dos direitos humanos responsabilização dos agressores assistência qualificada às mulheres em situação de violência Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino e 22 162 jurídico atingem a todos, sem qualquer discriminação. Os direitos e os deveres estipulados se destinam a toda e qualquer etnia, seja branca ou negra. Essa concepção formal de igualdade destaca os direitos de liberdade negativa, que são os direitos de primeira dimensão que são reconhecidos em abstrato. Isso significa dizer são reconhecidos a todos sem levar em consideração quaisquer possíveis distinções entre as pessoas. Contudo, na prática, essa igualdade em sentido formal não é suficiente. Nem todas as pessoas são iguais entre si de forma que possamos tratá-las abstratamente como iguais. Dito de outra forma, se todos fôssemos do mesmo sexo, da mesma etnia e com as mesmas condições econômicas por exemplo, se justificaria tratamento igualitário em sentido abstrato, formal, genérico. Contudo, a evolução histórica da sociedade releva que não é bem assim, existem distinções fáticas que não proporcionam a igualdade fática tão somente a partir da igualdade perante a lei (igualdade em sentido formal). É nesse contexto que surge a discussão a respeito da igualdade em sentido material, também conhecida como isonomia. A partir da multiplicação dos direitos humanos, passou-se a cogitar o respeito às diferenças. Por exemplo, sabidamente uma pessoa com deficiência tem maiores dificuldades de se inserir no mercado de trabalho, o que justifica ações afirmativas no sentido de reservar ou incentivar a contratação de pessoas com deficiência. É por isso que no concurso público há reserva de vagas para as pessoas com deficiência. O intuito é corrigir a desigualdade fática, não obstante abstratamente pessoas com e sem deficiência sejam consideradas iguais perante a lei. É por intermédio de um tratamento diferenciado concedido às pessoas com deficiência, espécie de grupo vulnerável, que será possível atingir a igualdade em sentido material. O mesmo raciocínio se aplica às questões étnicas, que descambam para a discriminação racial. Assim: Compreendida a diferença entre os sentidos formal e material da igualdade, sigamos. IG U A LD A D E em sentido formal aproxima-se do conceito de legalidade igualdade abstrata e genérica igualdade perante a lei em sentido material sinônimo de legalidade igualdade na prática leva em consideração as distinções Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino f 23 162 O racismo se funda na convicção da superioridade de determinadas raças, tendo em vista motivações variadas, principalmente com relação às características físicas e outros traços do comportamento humano. Trata-se, em suma, de uma opinião pessoal sobre determinada raça humana que leva a uma posição depreciativa e, até mesmo, violenta em relação a uma coletividade. Isso é um fato e decorre da formação histórica da sociedade brasileira. Por mais que você, eventualmente, não haja dessa maneira, é uma realidade em nossa sociedade. Há uma suposição equivocada de que determinadas etnias são superiores a outras. Mesmo que hoje, formalmente sejam considerados como iguais, na prática não o são. Sustenta-se, assim, a necessidade de serem desenvolvidas regra específicas com a finalidade de proporcionar substancialmente a igualdade entre negros e brancos. O tema do combate ao racismo tem ganhado destaque tanto na seara internacional como nacional, em especial com a criminalização de tal conduta. São diversos os diplomas internacionais e nacionais que tratam do tema da discriminação racial e visam, geralmente com a concessão de direitos e opressão de práticas racistas, o combate ao racismo e conscientização da população. Internacionalmente, temos convenções internacionais gerais (como o Pacto Internacional os Direitos Civis e Políticos) e específicas que tutelam as pessoas vítimas de discriminação racial. A Convenção sobre a Eliminação da Discriminação Racial, instituída no âmbito da ONU, é o principal documento internacional específicos sobre o tema. Contudo, nosso enfoque aqui é a disciplina interna, ou seja, as normas jurídicas nacionais que tutelam esse grupo vulnerável. Primeiramente, devemos lembrar as normas constitucionais sobre o assunto: o inciso XLI do artigo 5º estabelece que qualquer discriminação atentatória a direitos e liberdades fundamentais será punida; já o inciso XLII prevê que o racismo é crime inafiançável e imprescritível, sujeito a pena de reclusão. A CF pune qualquer forma de discriminação e considera o racismo crime inafiançável, imprescritível e sujeito à pena de reclusão. Note que a CF adota um tratamento severo contra a discriminação racial. A partir daí, temos o desenvolvimento de uma série de leis infraconstitucionais que criminalizam o racismo. Além disso, temos normas de caráter promocional. DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA CF crime inafiançável imprescritível sujeito a pena de reclusão Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 4 24 162 É importante fixar que o tratamento da desigualdade racial é, por um lado, punitiva, tal como você notou acima, mas também promocional. No aspecto promocional, temos leis específicas que têm por objetivo criar políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade. Assim: A Lei 12.228/2010, denominado de Estatuto da Igualdade Racial, está na vertente promocional. É o que passamos a estudar de foram detalhada. ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL 1 - Introdução Atualmente, o Estatuto Nacional da Igualdade Racial (EIR) é disciplinado pela Lei 12.228/2010. Trata-se de um diploma que tutela direitos das pessoas negras. E possui os objetivos abaixo relacionados: Esses objetivos são extraídos do caput do art. 1º do Estatuto. Das finalidades acima, é importante chamar atenção à questão de defesa dos direitos étnicos. O EIR prevê que serão defendidos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos. Sabe qual a diferença entre eles? Os direitos individuais, como o próprio nome indica, representa o direito assegurado à pessoa isoladamente considerada, do qual é titular. Por exemplo, uma pessoa negra sofre discriminação racial no trabalho. Em razão desse fato que viola a esfera jurídica dessa pessoa, surge a possibilidade de ela buscar reparação jurídica. COMBATE À DISCRIMINAÇÃO RACIAL vertente punitiva tipificação de crime para o racismo vertente promocional prescrição e políticas públicas específicas OBJETIVOS DO EIR efetivação da igualdade de oportunidades aos negros defesa de direito étnicos combate à discriminação e intolerância racial Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino a 25 162 Apenas um detalhe, se essa violação por discriminação atingir uma, duas ou três pessoas,teremos uma hipótese em que acidentalmente o direito individual torna-se coletivo. Trata-se, portanto, de direito individual homogêneo. Há, entretanto, direitos que atingem grupos de pessoas ou coletividades. Os direitos difusos são aqueles que dizem respeito a todas as pessoas, independentemente de quem seja, em razão de uma circunstância de fato. Por exemplo, os negros. Todos que estiverem na mesma condição de fato (vale dizer, ser negro) receberá por intermédio do EIR tutela diferenciada com vistas assegurar a isonomia. Os direitos coletivos (em sentido estrito) refere-se a direitos que atingem um grupo de pessoas, mas em razão de uma relação jurídica existente entre elas. Lembra do exemplo da discriminação no ambiente de trabalho? Pois bem, se a discriminação for perpetrada contra apenas um dos funcionários negros da empresa, temos a violação de um direito individual. Por outro lado, se todos os empregados negros daquela empresa sofrem discriminação racial em razão das políticas definidas, temos um direito coletivo. O importante é que você saiba que a tutela dos direitos étnicos abrange: direitos individuais de um negro especificamente considerado; direitos difusos da comunidade negra; direitos coletivos (em sentido estrito) de determinado grupo de pessoas negras ligadas por uma relação jurídica entre si. Feito esse esclarecimento, sigamos! Ademais, em relação à parte introdutória é importante que conheçamos os conceitos adotados pelo EIR, assim esquematizados: CONCEITOS DISCRIMINAÇÃO RACIAL OU ÉTNICO- RACIAL Constitui toda forma de distinção baseada em fatores étnicos ou de descendência que impliquem na anulação ou restrição dos seus direitos humanos. DESIGUALDADE RACIAL Diferenciação injustificada no acesso e fruição de bens, serviços e oportunidade em razão de fatores étnicos ou de descendência. DESIGUALDADE DE GÊNERO E RAÇA Constatação do fosso entre as mulheres negras e demais segmentos da sociedade. Tanto as mulheres como os negros são considerados vulneráveis em razão das condições fáticas em que se encontram. No caso, mulheres negras encontram-se em situação de dupla vulnerabilidade. POPULAÇÃO NEGRA Conjunto de pessoas que se declaram negas ou pardas segundo o IBGE. Note que o que define a pessoa negra é autodeclaração como tal. Isso, evidentemente, não impede que sejam criados mecanismos com a finalidade de evitar abusos, como ocorre, por exemplo, diante de comissões especiais constituídas em concursos públicos para a reserva de vagas. Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 26 162 POLÍTICAS PÚBLICAS Ações, iniciativas e programas adotados pelo Poder Público voltado para a efetivação de direitos humanos, no âmbito de suas prerrogativas institucionais. De acordo com EIR a garantia da igualdade material entre as pessoas negras e as demais etnias é dever do Estado e da sociedade. Essa igualdade pressupõe a fruição de diversas prerrogativas, especialmente a participação em atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas. Além disso, devem ser respeitadas a dignidade e valores religiosos e culturais das pessoas negras. Notem: De acordo com o art. 3º, o EIR é considerado uma diretriz político-jurídica para a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial, para a valorização da igualdade étnica e para o fortalecimento da identidade nacional brasileira. Fique atento! Para a execução das diretrizes, tendo em vista os deveres e objetivos assegurados às pessoas negras, deve ser promovida uma série de ações, que vem disciplinadas no art. 4º, cujo conhecimento é imprescindível para a nossa prova. Essas ações são exemplificativas e prioritárias. Isso significa dizer que devem ser adotadas preferencialmente, entre outras que podem ser implementadas. São as seguintes as ações previstas: DEVER do Estado e da sociedade Igualdade de participação na comunidade. Respeito à dignidade. Respeito à religião e cultura próprios. EIR É DIRETRIZ POLÍTICO-JURÍDICA PARA inclusão de vítimas de desigualdade étnico- racial valorização da igualdade étnica fortalecimento da identificada nacional brasileira Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 27 162 Para a promoção dessas medidas o Estatuto criou o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR), cujas linhas gerais serão adiante analisadas. 2 - Direitos Fundamentais Neste tópico vamos analisar o tratamento diferenciado conferido a alguns dos direitos humanos das pessoas negras. 2.1 - Direito à Saúde A regra geral consta do art. 6º o EIR, que prevê a garantia pelo poder pública do direito à saúde da população negra mediante políticas públicas destinadas à redução do risco de doenças e outros agravos. O segmento da população negra vinculado a seguros de saúde privados deve ser tratados sem discriminação. Para tanto, o EIR institui, para a questão afeta à saúde das pessoas negras, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Essa Política, disciplinada no art. 7º do EIR, possui as seguintes diretrizes: Ampliação e fortalecimento da participação de movimentos sociais em defesa da saúde da população negra nas áreas de controle social do SUS. Produção de conhecimento científico e tecnológico em saúde da população negra. Informação, comunicação e educação para a redução das vulnerabilidades da população negra. O dispositivo seguinte estabelece os objetivos da referida Política, quais sejam: Promoção da saúde, com objetivo de reduzir desigualdades étnicas e combate à discriminação nas instituições e serviços do SUS. • inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social; • adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa; • modificação das estruturas institucionais do Estado para o adequado enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas ; • promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas em todas as suas manifestações individuais, institucionais e estruturais; • eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais que impedem a representação da diversidade étnica nas esferas pública e privada; • estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas; • implementação de programas de ação afirmativa destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas . AÇÕES PARA PROMOÇÃO DA IGUALDADE: Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 28 162 Melhorias na qualidade de informação do SUS no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos dados desagregados por cor, etnia e gênero. Fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da população negra. Inclusão do conteúdo da saúde dos negros nos processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da área de saúde. Adoção dos temas relacionados à saúde da população negra nos processos de formação política das lideranças de movimentos sociais para o exercício da participação e controle social no SUS. Em relação à comunidade quilombola, prevê ainda o dispositivo acima citado, o tratamento especialíssimo, relativamente à saúde, prevendo a melhorias de condições ambientais, saneamento básico, segurança alimentar e nutricional e atenção integral à saúde. 2.2 - Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer Em relação aos direitos de segunda dimensão, especificamente à educação, cultura e lazer, temos o dever deo Estado adotar políticas públicas a fim de viabilizar a prestação desses direitos, como forma de integração da população negra. Para efetivar esse direito, o Poder Público deve adotar uma série de medidas. Note que a responsabilidade de adotar essas providências é dos governos Federal, estaduais e municipais. Em relação às providências, lembre-se: Vejamos, na sequência, alguns aspectos pontuais relativos a cada um dos direitos mencionados. Educação Entre os assuntos a serem abordados nos currículos escolares é obrigatório, segundo EIR, o estudo da história geral da África e da história da população negra no Brasil, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. • Promoção de ações o acesso da população negra ao ensino e às atividades esportivas e de lazer. • Apoio às entidades que mantenham espaço para promoção social e cultural da população negra. • Desenvolvimento de campanhas educativas para integração da comunidade negra. • Implementação de políticas públicas para o fortalecimento da juventude negra brasileira. COMPETE AO PODER PÚBLICO ADOTAR UMA SÉRIE DE PROVIDÊNCIAS NO QUE DIZ RESPEITO À EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE E LAZER: Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 29 162 Pretende-se, com o ensino de tais assuntos, resgatar a contribuição decisiva da comunidade negra para o desenvolvimento social, econômico, político e cultural do País. Para tanto, é essencial a formação dos professores e a elaboração de material didático específico para a disseminação desses conhecimentos. Do mesmo modo, a pesquisa e desenvolvimento voltados para temas referentes às relações étnicas, aos quilombos e às questões pertinentes à população negra será incentivado pelos órgãos federais. O Poder Público pode ainda criar incentivos a pesquisas e programas de estudos voltados para temas referentes às relações étnicas, quilombos e outras questões pertinentes à população negra. Nesse contexto, segundo dispõe o art. 13, o Poder Executivo deverá: Resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar grupos, núcleos e centros de pesquisa, que desenvolvam temáticas de interesse da população negra. Incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de formação de professores, assuntos que incluam valores concernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade brasileira. Desenvolver programas de extensão universitária destinados a aproximar jovens negros de tecnologias avançadas. Estabelecer programas de cooperação técnica, nos estabelecimentos de ensino públicos, privados e comunitários, com as escolas de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino técnico, para a formação docente baseada em princípios de equidade, de tolerância e de respeito às diferenças étnicas. Além disso nos arts. 14 a 16, são estabelecidos mais deveres específicos aos poderes públicos. Em síntese: Cultura Em relação aos direitos culturais da população negra, destaca-se do EIR o reconhecimento das culturas específicas desse segmento social, com a preservação de seus usos, costumes, tradições e religião. Nesse sentido, o poder público deve reconhecer as sociedades negras, clubes e outras formas de manifestação coletiva da população negra, com trajetória histórica comprovada, como patrimônio histórico e cultural. O que se busca com o EIR é preservar e fomentar esses aspectos da formação histórica da nossa sociedade. • estimular e apoiar ações socioeducacionais realizadas por entidades do movimento negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão social, mediante cooperação técnica, intercâmbios, convênios e incentivos, entre outros mecanismos. • adotar programas de ação afirmativa. • acompanhar e avaliar os programas voltados à defesa dos direitos das pessoas negras. OUTRAS ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS CONFERIDAS AO PODER PÚBLICO Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 30 162 Há forte preocupação também com a manutenção das reminiscências históricas dos quilombolas, por isso os quilombos têm o direito à preservação de seus usos, costumes, tradições e manifestos religiosos sob a proteção do Estado. Particularmente, os documentos e sítios detentores de reminiscências dos antigos quilombos estão tombados por previsão constitucional expressa do artigo 216, § 5º. O samba e outras manifestações culturais de matriz africana têm suas personalidades e datas comemorativas celebradas pelo Estado. Ademais, está previsto o respeito à capoeira como bem de natureza imaterial e de formação da identidade cultural brasileira que será divulgado internacionalmente como tradição da cultura brasileira. Sigamos! Esporte e Lazer A população negra deve ter seu acesso a práticas desportivas fomentado pelo poder público. O esporte e o lazer são reconhecidos como direitos sociais. No que diz à capoeira, para além dos aspectos que nós vimos acima, também é um esporte de criação nacional. Em relação à capoeira, destaca-se: ➢ Será reconhecida como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território nacional. ➢ Faculta-se o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos. 2.3 - Direito à Liberdade de Consciência, de Crença e o Livre Exercício de Culto Como expressão dos direitos de liberdade, assegura-se ao negro o direito de expressar consciência e crenças própria, tanto em relação aos seus costumes e cultura como também em relação ao credo. Sobre a liberdade de consciência e de crença, o art. 24 do EIR estabelece quais seriam as manifestações protegidas, rol não taxativo. Em suma, a liberdade de consciência abrange: A prática de cultos, reuniões e a fundação e manutenção, por iniciativa privada, de lugares reservados para tais fins. A celebração de festividades e cerimônias. A fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições beneficentes ligadas às respectivas convicções religiosas. A produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às práticas. Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 31 162 A produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana; A coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de natureza privada para a manutenção das atividades. O acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das respectivas religiões. A comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer outros locais. Temos na CF a garantia de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva, abrangendo inclusive a assistência quanto aos praticantes de religiões de matrizes africanas, conforme estabelece o art. 25 da CF. Além de assegurar a liberdade de culto, ao Poder Público é conferida a atribuição de combater a intolerância religiosa, atendendo, em relação aos cultos professados pela população negra, os seguintes objetivos: coibir a utilização dos meios de comunicação social para a difusão de proposições, imagens ou abordagens que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas. inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às religiões de matrizes africanas. assegurar a participação proporcional de representantesdas religiões de matrizes africanas, ao lado da representação das demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e outras instâncias de deliberação vinculadas ao poder público. Finalizamos, assim, mais um grupo específico de direitos no âmbito do Estatuto. Note que essa parte relativa aos direitos fundamentais é um pouco cansativa de se estudar. Além disso, são temas um pouco menos frequentes em prova, contudo, podem ser cobrados no contexto da sua prova, o que requer um esforço extra. Certamente, caso um tema específico relacionado aos direitos fundamentais seja cobrado, você terá conseguido se destacar frente aos demais candidatos, o que representará os pontos necessários à aprovação. Portanto, com vigor, vamos tratar do aceso à terra e à moradia. 3 - Acesso à terra e à moradia adequada 3.1 - Acesso à Terra As comunidades remanescentes de quilombos têm a propriedade definitiva das terras tradicionalmente ocupadas, de acordo com o art. 31 do EIR. Veja que, ao contrário das terras indígenas, que são de propriedade da União, as terras quilombolas pertencem às próprias comunidades. Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 32 162 No que diz respeito ao acesso a propriedades produtivas pelas comunidades negras, prevê o EIR que o Estado deverá promover políticas públicas voltadas específicas. Desse modo, além de propiciar condições para o acesso à terra, compete ao Poder Público incentivar o desenvolvimento de atividades produtivas no campo, notadamente por intermédio do financiamento agrícola, com facilitação de crédito, fortalecimento da logística e infraestrutura. Está previsto, ainda, a educação e a orientação profissional dos trabalhadores negros para o melhor desenvolvimento de suas atividades. No que diz respeito ao acesso à terra pelos quilombolas, prevê o Estatuto regramento específico para preservar-lhes as propriedades de origem. Afinal, você sabe o que são essas comunidades quilombolas? Notamos, em relação aos quilombolas, um tratamento especialíssimo, na medida que em constituem grupos ainda mais vulneráveis dentro da temática estudada na presente aula. Os quilombolas são espécie de comunidades tradicionais. Essas comunidades constituem grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, com formas próprias de organização social ocupantes de territórios e recursos naturais para manutenção da comunidade. Citam-se como exemplo de comunidades tradicionais os quilombolas, os indígenas, as comunidades ciganas e de terreiro. Em relação aos quilombolas, vejamos o que nos ensina Daniel Sarmento8: As marcas deixadas por séculos de escravidão negra no país estão longe de cicatrizar. A escravidão e a posterior omissão do Estado e da sociedade brasileira em adotar medidas de inclusão social do negro são responsáveis por um quadro desalentador, de profunda desigualdade entre as etnias. A tarefa que hoje se impõe ao país, e que tem firme apoio na Constituição de 88, não se esgota na redução dos desníveis socioeconômicos existentes entre as raças. Ela é mais profunda, e inclui também o respeito e a valorização da cultura afro-brasileira e o reconhecimento, despido de preconceitos e estereótipos, da identidade dos negros. O aspecto principal de discussão no cenário jurídico atual é o acesso à terra, cuja diretriz normativa consta do Estatuto Nacional da Igualdade Racial, por nós analisado. Conforme destacam os especialistas, a terra para essas comunidades não é apenas um bem econômico. O espaço ocupado por tais comunidade é, para além de um bem material, fundamental para as relações sociais, econômicas, culturais, justificando a proteção especial conferida pelo Estatuto. 8 CANOTILHO, J. J. Gomes [et. al.]. Comentários à Constituição do Brasil, versão eletrônica. Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 33 162 Nesse contexto, prevê o art. 68 dos ADCT que aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos. Para a prova: Os quilombolas constituem grupos e comunidades que adotam a prática do sistema de uso comum da terra, entendida como espaço coletivo e indivisível a ser ocupado e explorado por meio de regras consensuais aos grupos familiares que as compõem. As relações são orientadas pela solidariedade e ajuda mútua entre os integrantes da comunidade. Há um conceito regulamentar, conferido pelo Decreto nº 4.887/2003, cujo conhecimento é importante: Art. 2o Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. Segundo a doutrina para o conceito de quilombo, quatro elementos devem ser analisados. Vamos explorar um pouco mais esses elementos: No que diz respeito ao primeiro elemento, deve ser verificado se a comunidade é marcada por uma trajetória histórica específica, relacionada à resistência e opressão contra os negros. Ademais, é fundamental que essa comunidade possua traços culturais próprios, como modos de criar, fazer e viver peculiares. CONCEITO DE GRUPOS QUILOMBOLAS Grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos num determinado lugar. ELEMENTOS PARA CARACTERIZAÇÃO DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA Passado histórico de resistência à opressão racial Cultura própria Relação especial com a terra (territorialidade) Autoatribuição Ricardo Torques Aula 06 PM-CE - Direitos Humanos - 2021 - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 196180207221943311 - Brena Stephanie Gomes Avelino 34 162 No que diz respeito à territorialidade, traço distintivo dessas comunidades, é a existência de uma relação próxima do quilombo com a terra, para além do aspecto meramente econômico do imóvel. Finalmente, no que atine à autoatribuição, refere-se à percepção dos integrantes da comunidade têm em relação à própria identidade étnica. Vale dizer, reconhecem-se como uma comunidade quilombola, nos termos que definimos acima. Definido quem são om quilombolas, cumpre compreender que o Estado confere proteção especial a esse grupo. Inicialmente destaca-se o dispositivo dos ADCT já citado, que reconhece a propriedade definitiva às comunidades quilombolas que estejam ocupadas, caracterizando-as como direito fundamental. Essa regra específica é endossada pela proteção especial conferida aos povos indígenas, constantes do art. 231 e 232 da CF, mencionados no tópico anterior. Paralelamente há o Decreto nº 4.887/2003, em atenção ao art. 68, dos ADCT, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. 3.2 - Moradia O tratamento jurídico da moradia é bastante semelhante ao tratamento conferido ao acesso à terra. Fixa-se ao Poder Público o dever de estabelecer políticas específicas para assegurar o direito fundamental à moradia, especialmente àqueles que vivem em situações degradantes, como favelas, cortiços, áreas urbanas subutilizadas etc. O direito à moradia, de acordo com o art. 35, inclui entre os deveres do Estado: 1. o provimento habitacional; 2. garantia da infraestrutura urbana ; 3. garantia de equipamentos comunitários associados à função habitacional; 4. assistência técnica e jurídica para a construção, a reforma ou a regularização fundiária da habitação em área urbana. Conforme art.