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Estudo de caso 1 - Células HeLa

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Estudo de caso #1: Consentimento, privacidade e
compensação
Em 1951, médicos do Hospital Johns Hopkins em Baltimore, Maryland, USA,
coletaram uma biópsia de Henrietta Lacks, uma mulher negra de 31 anos que
tinha uma forma bastante agressiva de câncer de colo de útero. Essa amostra
foi retirada sem permissão ou conhecimento da paciente. Na época, a
legislação americana não exigia consentimento do paciente. Essa amostra de
tecido deu origem a primeira linhagem celular humana capaz de crescer
indefinidamente em cultura, chamada HeLa (de Henrietta
Lacks). Henrietta morreu naquele mesmo ano, mas suas células estão vivas até
hoje. Hoje, mais de 60 anos depois, cientista de todo o mundo usam as células
HeLa para pesquisas diversas. As células HeLa levaram a alguns dos maiores
avanços biomédicos da história, tendo sido utilizadas no desenvolvimento da
vacina contra poliomielite e em pesquisas sobre câncer, viroses e doença de
Parkinson. As células HeLa ajudaram a desenvolver ferramentas de
mapeamento genético e clonagem, além de terem sido utilizadas para testar os
efeitos da radiação atômica e enviadas ao espaço para estudos dos efeitos da gravidade zero.
O Hospital Johns Hopkins doava as células de Henrietta para pesquisadores interessados em desenvolver
pesquisas com as células HeLa. Porém, em um dado momento, o número de pesquisadores utilizando as
células HeLa era tão grande, que o Hospital não tinha mais capacidade de suprir a demanda. Dessa forma,
surgiu uma indústria multimilionária baseada na distribuição de células HeLa. Diversas empresas lucraram com
a venda de células HeLa e nenhuma parte desses lucros jamais foi repassada aos descendentes de Henrietta.
Até 20 anos após a morte de Henrietta, sua família não sabia da existência das células HeLa e de seu uso na
pesquisa. Até que, em 1976, os parentes de Henrietta foram procurados pelo geneticista Victor McKusick para
coleta de sangue. McKusick buscava marcadores moleculares que pudessem identificar as células HeLa em
amostras de laboratório (as células HeLa costumam contaminar as culturas de outras linhagens celulares). Os
pesquisadores utilizaram termos como "HLA", "marcador genético" e "genótipo" para explicar o objetivo da
pesquisa à família de Henrietta. O marido de Henrietta estudou até a quarta série do ensino fundamental. Eles
foram informados ou confundidos? A família acreditava estar sendo submetida a um teste para verificar se
tinham o mesmo câncer que vitimou Henrietta.
Em janeiro de 1976, McKusick foi co-autor do artigo "Genetic characteristics of the HeLa Cell" (Science, 191:
392-4). O artigo identificava Henrietta e publicou os resultados das análises moleculares obtidas das amostras
de seus parentes, identificados como "marido", "filho 1" e "filho 2". Em 2013, o genoma das células HeLa foi
publicado sem o conhecimento da família. Mais tarde, Francis Collins, diretor do US National Institutes of
Health (NIH), e parentes de
Henrietta se reuniram e concordaram com o acesso restrito aos dados genéticos das células HeLa.
A família de Henrietta até hoje se sente enganada e traída pelo fato dos médicos do Hospital Johns Hopkins
nunca terem pedido o consentimento para a biópsia e posterior utilização do material em pesquisa, além de
não terem informado os parentessobre a existência das células HeLa. Eles também nunca entenderam porque
pesquisadores os procuraram para retirar amostras de sangue. A família de Henrietta ficou furiosa de ter a
identidade publicada junto a seus dados genéticos. Embora eles sintam grande orgulho da contribuição de
Herietta para a ciência, eles se ressentem pela falta de compensação financeira, visto que muitos ficaram
milionários com a venda de células HeLa, enquanto a família não tem condições nem de pagar assistência
médica.
A história da contribuição involuntária de Henrietta para a ciência e o legado que deixou para seus
descendentes é contada no livro best-seller de Rebecca Skloot, “A vida imortal de Henrietta Lacks” (Companhia
das Letras, 2011), que foi recentemente transformado em filme estrelado por Oprah Winfrey (A Vida Imortal de
Henrietta Lacks, HBO).
Questões:
1) Quais princípios éticos (autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça) foram negados no caso de
Henrietta e sua família. Discuta por quê.
Autonomia foi ferida - Porque a decisão foi involuntária da parte de Henrietta, apesar de a legislação vigente na
época não exigir consentimento.
Justiça foi ferida - A empresa lucrou milhões e não repassou centavos a família.
Não podemos dizer que a pesquisa causou maleficiência, pois não teve nenhum dano físico causado a Henrietta
com a pesquisa (não sentiu dor, por exemplo)
Também acreditamos que a beneficiência não foi ferida, porque as pesquisas com as células HeLa ajudaram
milhões de pessoas indiretamente.
2) Hoje, empresas com grandes biobancos que vendem amostras de tecidos e dados associados para pesquisa,
variam de pequenas empresas privadas a grandes corporações. Um exemplo é a Ardais, que paga ao Centro
Médico Beth Israel Deaconess (Boston), ao Centro Médico da Universidade de Duke e a muitos outros, uma
quantia não revelada de dinheiro para acesso exclusivo aos tecidos coletados de seus pacientes. Assim sendo,
o público em geral se pergunta: “Se uma corporação usou minha amostra de tecido - um pedaço do meu corpo
- para desenvolver um produto que agora gera lucros, por que não tenho direito a uma parte desses lucros?”
Você concorda? Você acha que os parentes de Henrietta deveriam receber uma parte dos lucros originados da
venda das células HeLa? Por quê?
Sim, achamos que os parentes deveriam receber, já que ela não está mais viva para receber pessoalmente.
Porque não achamos justo que as empresas lucrem tanto e não repassem uma quantia, que para eles seria
irrisória, aos provedores iniciais da pesquisa.
3) Henrietta e sua família tiveram suas identidades e as informações associadas aos materiais biológicos
reveladas. O que diz a legislação brasileira sobre o anonimato de amostras biológicas armazenadas em
biobanco e biorrepositórios? E o acesso às informações associadas ao material biológico? Ver Resolução 441
CNS maio/2011 e Portaria Nº 2201 de 14/09/2011.
No caso de biobanco, a legislação brasileira diz que as amostras devem dispor de um sistema seguro de
identificação, que permita o sigilo da pessoa e ao mesmo tempo nos permita recuperar as informações para
identificar a pessoa que forneceu a amostra, para pedir consentimento para pesquisas futuras.
Já no caso de biorrepositório, a legislação diz que as condições associadas ao armazenamento devem estar
explicitadas no projeto de pesquisa respectivo, devendo ser apreciado pelo CEP.
4) Você acredita que a família de Henrietta tinha condições de consentir em participar da pesquisa
desenvolvida por Victor McKusick? Explique por quê.
Não, porque ele usou termos extremamente técnicos para pessoas com baixa escolaridade, além de que ele
explicou somente da pesquisa com os marcadores, fazendo com que a família acreditasse que só estava
acontecendo aquilo, quando na verdade era muito mais.
5) Frequentemente, pesquisadores acumulam amostras biológicas em biobancos e biorrepositórios para
pesquisas futuras. Em 1951, quando as células de Henrietta foram coletadas, o objetivo da pesquisa era
encontrar um diagnóstico para o câncer de colo de útero. Naquela época, ninguém seria capaz de dizer a
Henrietta ou sua família que as células HeLa algum dia seriam utilizadas para o desenvolvimento da vacina
contra a poliomielite ou que seriam enviadas para o espaço para estudos dos efeitos da gravidade zero. O que
diz a legislação brasileira sobre o consentimento para o uso de amostras biológicas em pesquisas futuras?
A legislação diz o seguinte:
“Sempre que houver previsão de armazenamento de material biológico humano devem ser apresentados:
I - justificativa quanto à necessidade e oportunidade para utilização futura;
II - consentimento do sujeito da pesquisa, autorizando a coleta, o depósito, o armazenamentoe a utilização do
material biológico humano;
III - declaração de que toda nova pesquisa a ser realizada com o material armazenado será submetida para
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) institucional e, quando for o caso, da Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa (CONEP);”

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