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Hiperinflação no Brasil - História Econômica Brasileira

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Ciências Econômicas IBMEC-SP
Disciplina: História Econômica Brasileira
Semestre: 2021.1
Docente:
Discente: Andrea Ruggeri
As crises econômicas são recorrentes no Brasil. Foi assim nos anos 1920, 1930...1980. O que há de estrutural nessa realidade?
Ao realizar uma profunda análise da estrutura das crises cíclicas na economia brasileira no período mencionado pode-se dizer que a base dela está na questão do balanço de pagamentos (instrumento da contabilidade nacional referente à descrição das relações comerciais de um país com o resto do mundo, onde existem duas que resumem as transações econômicas do país: a conta corrente e a conta capital e financeira). 
Alguns registros históricos e concretos que fundamentam a posição, segundo Abreu (2014):
· 1922, vulnerabilidade do balanço de pagamentos no governo de Artur Bernardes.
· 1929, desequilíbrios no balanço de pagamentos devido à queda vertiginosa do preço do café promovida pela “grande depressão”.
· 1937 até 1941, dificuldades no balanço de pagamentos devido à queda dos mercados de exportação durante a segunda guerra.
· 1946 até 1949, no que se refere à balança comercial, nota-se que o Brasil apresentava um desempenho favorável com os países de moeda de baixa conversibilidade (moedas fracas) e desfavorável com os países de moeda forte (de elevada conversibilidade). No período pós-guerra, verifica-se ainda uma redução das exportações de matérias-primas e manufaturados brasileiros. Estas que representavam 20% da pauta de exportações em 1945, reduzem-se para 7,5% em 1946 e atingem a marca de 1% em 1952.
· 1951, a balança comercial apresentou um pequeno superávit. Já, em 1952, a balança comercial foi deficitária e, além disto, houve o esgotamento das reservas internacionais e o acúmulo de atrasados comerciais. Tal situação ocorreu, principalmente, devido a uma não alteração no quadro das importações (uma vez que havia uma defasagem na adoção da política de restrição e o seu efeito e somando-se a isso foi necessária a compra de trigo nos EUA por causa da seca na Argentina) e a uma redução das exportações em 20% se comparado com 1951. Esta queda deveu-se aos efeitos da sobrevalorização do cruzeiro e das pressões inflacionárias internas bem como à crise enfrentada pela indústria têxtil mundial que levou a uma paralisação das vendas de algodão, segundo produto mais importante da pauta de exportações brasileira na época.
· 1956, a diminuição das receitas de exportação e o aumento das importações – que determinavam o desajuste externo – contrastava com a necessidade de aumentar a entrada de bens de capital e matérias-primas para incentivar o crescimento industrial. A única solução viável para esse problema de balanço de pagamentos seria a entrada líquida de capitais autônomos, a fim de manter alta a taxa de investimento e não afetar o fluxo de importações. Para tanto o governo JK tomou como uma das medidas iniciais de seu governo a criação de um arcabouço institucional para estimular a entrada de capital, mesmo que isso se desse a custo de maiores pressões no BP. 
· 1963, descontrole das contas públicas, bem como rápida expansão da oferta monetária e deterioração do balanço de pagamentos.
· 1967 a 1970, a balança comercial apresentou resultados positivos. Entre 1971 e 1972 resultados negativos e voltou a se equilibrar em 1973.
· 1974, desequilíbrio no balanço de pagamentos.
· 1979, a prioridade da SEPLAN passou a ser o controle fiscal, através do corte de investimentos públicos, com vistas a ajustar o balanço de pagamentos e reduzir o endividamento externo.
· Da segunda metade de 1979 até 1980, o governo decide novamente ignorar a crise externa, que se agrava com o segundo choque do petróleo. A política adotada se baseia no controle dos juros, indexação salarial, desvalorização cambial. Ao mesmo tempo o governo não consegue convencer os seus credores a financiar essa política heterodoxa, o que faz com que as reservas se esgotem rapidamente, o que se soma à explosão do consumo na deterioração do balanço de pagamentos.
· 1980, desequilíbrios das contas externas motivado pelo forte aumento dos preços do petróleo e elevação da taxa de juros internacionais no final da década de 70. Escassez de financiamento externo para enfrentar os desequilíbrios externos.
· 1983, submetida ao FMI a primeira carta de intenções (7 em dois anos). Entre as metas: déficit em CC até o limite de U$6,9 bilhões, portanto, as exportações deveriam crescer em 12% e as importações cair em U$2,5 bilhões (saldo de U$6 bilhões). A inflação anual deveria atingir 78%, através da contração de gastos públicos. Desvalorização do câmbio real de forma gradual e redução drástica nos gastos das estatais para que as restrições afetassem menos o setor privado.
Como demonstrado, a história do país é marcada pelos desarranjos no balanço de pagamentos ao longo do período supracitado. De acordo com as construções teóricas do Wilson Cano ou mais precisamente da escola de Campinas ou da escola da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e o Caribe), estes desequilíbrios cíclicos presentes no balanço de pagamentos e, em especial, na conta corrente, guardam relação com as trocas comerciais internacionais desiguais entre um país de estrutura produtiva primária, agrário-exportador e de baixo valor agregado (intensivos em trabalho) com países de estrutura produtiva tecnologicamente superior, exportador de produtos sofisticados e de alto valor agregado (intensivos em capital). 
O Brasil historicamente conseguiu figurar seus bons momentos alinhados a alta dos preços das commodities no mercado internacional, algo típico de países com forte base de exportação agrícola, e nos momentos ruins o inverso. Esses momentos de alta dos preços das commodities possibilitam o acúmulo de reservas internacionais e fazem com que o país tenha maior grau de liberdade para ampliar suas importações, contudo, em momentos de queda dos preços destes produtos, o drama se instaura com a deterioração dos termos de troca e as dificuldades de adquirir dólares para repor o déficit pode surgir dado que o país não apresente reservas internacionais suficientes. Estes desequilíbrios cíclicos no balanço de pagamentos representam desarranjos e contaminam diversas variáveis macroeconômicas como: nível de preços da economia, taxa de juros, dívida pública nacional e internacional, nível de emprego e no crescimento econômico, como aponta as contribuições teóricas de Thirwall – ver Thirwall (2002).
A ausência de reservas obriga o país a se submeter às instituições financeiras internacionais, que costumam exigir, como contrapartida ao empréstimo, rigorosos ajustes fiscais, abertura comercial e financeira, além de privatizações. Este processo de austeridade promove o desmonte da capacidade de produção, do emprego, consumo, investimento, renda, etc. Assim, países que costumam apresentar desarranjos no balanço de pagamentos apresentam atrasos relativos e forte dependência tecnológica e financeira (THIRWALL, 2002; DWECK, OLIVEIRA & ROSSI, 2018).
Deste modo, de acordo com esta teoria cepalina, o problema com os desajustes do balanço de pagamento é característico de países periféricos com uma estrutura produtiva exportadora precária e de baixo valor agregado, isto é, que apresenta alta deterioração dos termos de troca. Os caminhos para a correção deste cenário passam por um processo de superar a dependência tecnológica e financeira a partir da implantação de um programa de industrialização, de sofisticação da estrutura produtiva, numa aliança entre um Estado forte determinado a atender os interesses da população e um setor privado competitivo disposto a cooperar com o projeto. Provendo assim, cada vez mais, ganhos nos termos de troca internacionais e assegurando competitividade e estabilidade nos preços, na taxa de juros, na dívida pública, na estrutura de salários e no crescimento e desenvolvimento econômico.
REFERÊNCIAS
ABREU, M. P. A ordem do Progresso – Dois séculos de política econômica no Brasil. GEN LTC, p.472, 2014.
CEPAL. COMISSÃO ECONÔMICAPARA AMÉRICA LATINA E O CARIBE. Disponível em: https://www.cepal.org/pt-br/publications. Acesso em: 17 de abril de 2021.
CANO, W. Da Década de 1920 à de 1930: Transição Rumo à Crise e à Industrialização no Brasil. UNICAMP, 2012.
_______. (Des)Industrialização e (Sub)Desenvolvimento. CADERNOS DO DESENVOLVIMENTO, v. 9, p. 139-174, 2014.
DWECK, E.; OLIVEIRA, A. L. M.; ROSSI, P. Austeridade e Retrocesso: Impactos sociais da política fiscal no Brasil. 1. ed. São Paulo: Brasil Debate e Fundação Friedrich Ebert Stiftung, 2018. 69p .
THIRWALL, A. The nature of economic growth. Aldershot: Edward Elgar, 2002.
SKIDMORE, T. Brazil Five Centuries of Change. 1999.

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