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Prática como Componente Curricular II Professor Mestre Paulino Peres AUTOR Professor Mestre Paulino Augusto Peres ●Graduado em História pela UNESPAR (Universidade Estadual do Paraná) Campus de Paranavaí/PR. ●Especialista em Didática e Tecnologia na Educação pela FATECIE (Faculdade de Ciências e Tecnologia do Norte do Paraná). ●Mestre em Ensino Profissionalizante de História pela UNESPAR - Campo Mourão/PR. ●Professor na Escola Fatecie Max (séries finais do Ensino Fundamental). ●Professor no Colégio Fatecie Premium (Ensino Médio). ●Professor de filosofia, sociologia e ética no Ensino Superior. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/0165285728983866 http://lattes.cnpq.br/0165285728983866 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Prezado (a) aluno (a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Neste material foram abordados diversos assuntos com muitos exemplos e comentários para facilitar os estudos do material de Prática como Componente Curricular. Proponho, junto a você, construir nosso conhecimento sobre diversos tópicos os quais serão essenciais para sua formação acadêmica. Como objetivos principais de estudo, iremos começar realizando algumas reflexões de pressupostos teóricos a respeito da formação do professor. Na sequência, vamos estudar os fundamentos que foram necessários para a construção de currículos voltados a formação do profissional da educação. Além disso, vamos compreender algumas bases teóricas essenciais que integraram a reforma na formação do professor. Portanto, vamos iniciar uma discussão sobre o papel da Prática como Componente Curricular nos processos iniciais de formação de professores, tendo como objetivo central analisar a proposta de formação dos licenciandos de um curso mediante exame das dis- ciplinas de Pesquisa e Processos Educativos, às quais consubstanciam a Prática como Componente Curricular. Nesta pesquisa qualitativa, o tratamento dos dados baseou-se na análise de conteúdo proposta por Bardin (2009), por André (2012, 2017) e por Gatti e Barreto (2009) acerca do papel da pesquisa na formação dos professores e pelas contribuições de García (1999, 2009) acerca do desenvolvimento profissional. Os resultados indicaram que a Prática como Componente Curricular, associada aos aprendizados das práticas formativas da docência, tendo a pesquisa como eixo de verticalização da formação de professores, é fundamental para o desenvolvimento profissional dos futuros professores, tornando-se elemento essencial para o desenvolvimento da habilidade investigativa e contribuindo para a sua formação profissional, artística, científica e política. Como projetar um curso de licenciatura, considerando a prática como um componente curricular? Qual o modelo a ser utilizado que não seja “aplicacionista”? Deve-se inserir uma disciplina intitulada prática de ensino, desde o início do curso? Ou se deve acrescentar uma dimensão prática para algumas disciplinas? Ou será que se deveriam criar disciplinas a serem ofertadas por um caráter eminentemente prático? Todas essas são perguntas que vão guiar a busca pelo conhecimento nessa disciplina. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigado e bom estudo!! SUMÁRIO TÓPICO I ......................................................................................................... 6 Prática como Componente Curricular: O Que isso Significa na Prática TÓPICO II ...................................................................................................... 20 Prática como Componente Curricular: Diretrizes e Pareceres TÓPICO III ..................................................................................................... 28 A Prática como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso de Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática TÓPICO IV .................................................................................................... 48 O Que Falam os Trabalhos Sobre Prática como Componente Curricular 5 Plano de Estudo: ● Prática como Componente Curricular: o que isso significa na Prática? ● Prática como Componente Curricular: Diretrizes e Pareceres; ● A Prática como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos educativos do Curso de Pedagogia: um Diferencial na Relação entre Pesquisa, Teoria e Prática; ● O que falam os trabalhos sobre Prática como Componente Curricular?. Objetivos da Aprendizagem: ● Realizar reflexões de pressupostos teóricos a respeito da formação de professores. ● Estudar o verdadeiro significado da Prática como Componente Curricular, bem como os fundamentos necessários para a construção de currículos voltados a formação do professor. ● Compreender as bases teóricas que fundamentaram a reforma na formação do profissional da educação. UNIDADE I Prática como Componente Curricular II Professor Mestre Paulino Peres 6TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? 1. PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR: O QUE ISSO SIGNIFICA NA PRÁTICA? Gisele Cristina Martins Real RESUMO: O texto apresenta reflexões a partir da relação entre teoria e prática, traduzida na experiência na construção de currículos voltados para a formação de professores. Busca-se responder ao problema: o que significa a prática como componente curricular apresentada nas diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação básica, explicitada sob a forma de norma jurídico-legal? Foram adotados: pesquisa documental e estudos bibliográficos, tendo como referencial teórico-metodológico o policy cycle. Pode-se observar que a regulação da educação superior, traduzida nos processos avaliativos para fins de autorização e de reconhecimento de cursos, contribuiu para a implementação da reforma na formação de professores, que, entre outros fatores, estabeleceu a prática como componente curricular obrigatório. Esse processo engendrou concepções distintas na construção dos currículos, gerando dúvidas aos gestores educacionais. A prática, conforme prevista no arcabouço normativo, indica sua diluição, ao longo do curso, entre as disciplinas de caráter propositivo, estabelecendo uma relação dialética entre teoria e prática. Conclui-se que a resposta buscada pelos gestores educacionais vai ser encontrada na interação entre instituições formadoras e instituições de educação básica, de forma a construir de fato uma marca para cada instituição, prescrita em cada projeto pedagógico. Palavras-chave: política educacional, formação de professores, currículo 7TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? INTRODUÇÃO Este trabalho pertence integralmente à professora doutora Gisele Cristina Martins Real, publicado na Revista Educação e Fronteiras e foi selecionado para atender a disciplina de Prática como Componente Curricular II, portanto todos os créditos pertencem a ela. O link do trabalho dela seguirá baixo. O objetivo deste trabalho consiste em apresentar algumas reflexões suscitadas a partir da relação entre a teoria, apresentada na literatura sobre formação de professores, e a prática, traduzida na experiência na construção de currículos voltados para essa formação. Busca-se responder ao seguinte problema de pesquisa: o que significa a prática como componente curricular apresentada nas diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação básica, explicitada sob a forma de norma jurídico-legal? Essa questão está presente no contexto das instituições de educação superior, explicitando a complexidade que está embutida na expressão “prática como componente curricular”,sobretudo considerando a construção histórica desses conceitos no contexto brasileiro. A priori, pode-se acreditar que essa expressão pode ser facilmente definida por meio de consulta ao dicionário, quando se pode extrair significado preciso de cada um dos termos envolvidos. Assim, para a palavra “prática” pode-se encontrar no dicionário Aurélio a seguinte explicação: “ato ou efeito de praticar. Um exercício. Rotina; hábito. Saber provido de experiência. Aplicação da teoria”. O mesmo entendimento pode ser aplicado ao termo “componente” que é significado da seguinte maneira: “que, ou quem, ou aquilo que entra na composição de algo”. Para o verbete “curricular” o mesmo dicionário Aurélio traz a seguinte inscrição: “as matérias constantes de um curso”. Em linhas gerais a expressão “prática como componente curricular” significaria, a partir do entendimento extraído do dicionário, que deve haver a aplicação da teoria nas matérias que compõem o programa de um curso. No entanto, a simplicidade constante nesse entendimento, induz alguns questionamentos, como: já não é assim mesmo que estão estruturados os cursos de licenciatura? Qual a inovação trazida pela legislação ao adotar uma carga horária mínima obrigatória de prática como componente curricular? A prática não era entendida como um componente curricular? 8TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? A partir desses questionamentos pode-se perceber que o significado da expressão “prática como componente curricular” carrega em si uma complexidade maior do que inicialmente pode-se apreender, sobretudo quando passa a ser reconceituada, o que ocorre com a reforma da formação de professores, implementada no Brasil a partir de 1995. Neste texto, serão apresentadas algumas reflexões julgadas pertinentes para esse debate, que estão divididas em três tópicos. No primeiro tópico, são resgatadas as bases teóricas que fundamentaram a reforma na formação de professores que se teve em curso a partir de 1995, que engendraram a preocupação da “prática” a se configurar como um componente curricular obrigatório aos cursos de licenciatura. Em um segundo tópico, são apresentados os instrumentos jurídico-normativos em que aparece a definição da “prática” como componente curricular. No terceiro tópico, busca-se sintetizar as questões que permeiam o trabalho dos gestores institucionais e dos professores no processo de construção curricular dos cursos de licenciatura, apresentando algumas considerações sobre essa questão que merecerem ainda maiores reflexões. É importante observar que se entende por currículo, nesta exposição, a concepção de currículo em ação, que intrinsecamente é constituído pela relação teoria e prática, conforme explicita Gimeno Sacristán: O currículo é uma práxis antes que um objeto estático emanado de um modelo coerente de pensar a educação ou as aprendizagens necessárias das crianças e dos jovens, que tampouco se esgota na parte explícita do projeto de socialização cultural nas escolas. É uma prática, expressão, da função socializadora e cultural que determinada instituição tem, que reagrupa em torno dele uma série de subsistemas ou práticas diversas, entre as quais se encontra a prática pedagógica desenvolvida em instituições escolares que comumente chamamos ensino. É uma prática que se expressa em comportamentos práticos diversos. O currículo, como projeto baseado num plano construído, ordenado, relaciona a conexão entre determinados princípios e uma realização dos mesmos, algo que se há de comprovar e que nessa expressão prática concretiza seu valor. É uma prática na qual se estabelece um diálogo, por assim dizer, entre agentes sociais, elementos técnicos, alunos que reagem frente a ele, professores que o modelam, etc. (SÀCRISTAN, 1998, p. 15- 16) A partir dessa conceituação, observa-se que a discussão da prática como um componente curricular vai se construir na prática desenvolvida pelos agentes sociais, presentes nas instituições educacionais, ao colocar o currículo pretendido em ação, constituindo-se, portanto, em uma construção histórica. Especificamente neste trabalho, a questão central da discussão incide na ressignificação do conceito da relação teoria e prática implícito na reforma da formação de professores implementada a partir de 1995. Portanto, para contribuir com a elucidação da questão, busca-se situar o tema resgatando as bases teóricas que fundamentaram essa reforma no Brasil. 9TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? A partir da década de 1980 vários estudos vão apontar para uma nova relação entre teoria e prática, focando um novo papel ao professor, que deveria estar mais próximo ao processo de aprendizagem de seus alunos. Um desses estudos refere-se aos trabalhos de Donald Schön, que caracteriza o papel do professor como prático-reflexivo. Nesse sentido, foi forte a influência de Donald Schön na educação, particularmente na formação de professores. O conceito de professor reflexivo construído por SCHÖN (1992), respalda- se na epistemologia da prática. Assim, para SCHÖN (1992) o professor que refletisse sua ação não se reduziria a um tradutor e aplicador de técnicas, mas estaria pesquisando e construindo seu conhecimento, constituindo-se em um pesquisador de sua prática. Neste caso, “o ensino é tomado como ponto de partida e de chegada de pesquisa” (PIMENTA, 2002, p. 22). A epistemologia da prática é caracterizada pela “reflexão na ação, reflexão sobre a ação e a reflexão sobre a reflexão na ação”, valoriza, dessa forma, a experiência e a prática docente. Essa valorização da prática docente vai influenciar o processo de reforma proposta, a partir de 1996, para a formação de professores, implicando necessidade de educar os professores para a reflexão de sua prática (SCHÖN, 2000). Além de Schön, há os estudos de Maurice Tardif (2000), que vão corroborar a necessidade de se ampliar o espaço de formação do professor para a prática. Segundo Tardif, a formação de professores está muito calcada na teoria, o que vem fragilizando a atuação dos professores na realidade da sala de aula. Em suas palavras: Os cursos de formação para o magistério são globalmente idealizados segundo um modelo aplicacionista do conhecimento: os alunos passam um certo número de anos a assistir a aulas baseadas em disciplinas e constituídas de conhecimentos proposicionais. Em seguida, ou durante essas aulas, eles vão estagiar para “aplicarem” esses conhecimentos. Enfim, quando a formação termina, eles começam a trabalhar sozinhos, aprendendo seu ofício na prática e constatando, na maioria das vezes, que esses conhecimentos proposicionais não se aplicam bem na ação cotidiana (TARDIF, 2000, p. 18). A partir da afirmação de Tardif, pode-se observar a crítica direcionada ao modelo dos cursos de formação de professores, identificado como “aplicacionista”, que, para esse autor, o modelo desvinculava a teoria da prática. A crítica incide, especialmente, na divisão dos cursos em dois momentos estanques: o conhecimento propositivo trabalhado nas disciplinas teóricas e o estágio, momento destinado à aplicação do conhecimento, entendido como a prática. Nesse sentido, o autor propõe a revisão desse modelo. Outra concepção teórica que influenciou a ressignificação da relação teoria e prática na política de formação de professores no período de 1995 a 2002 foram os estudos de Philippe Perrenoud. 10TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? Várias obras desse autor foram traduzidas para o português, entre essas podem ser mencionadas: “As dez novas competências para ensinar” e “Pedagogia diferenciada – das intenções à ação”. Nesses trabalhos, o autor vai focar a importância de se criar novas competências para o professor ensinar, encarregando-se fortemente do trabalho prático da sala de aula, sendo esteo ofício docente. Antônio Nóvoa também se constituiu em base teórica para a ressignificação do conceito de prática presente na reforma da formação de professores, especialmente quando tratou da simetria invertida. Esse conceito é adotado e explicitado no Parecer CNE-CP nº 9/2001, nos seguintes termos: O conceito de simetria invertida ajuda a descrever um aspecto da profissão e da prática de professor, que se refere ao fato de que a experiência como aluno, não apenas nos cursos de formação docente, mas ao longo de toda a sua trajetória escolar, é constitutiva do papel que exercerá futuramente como docente (CNE, 2001a, p. 30). Essas concepções de prática presentes nas discussões dos autores apresentados vão ser incorporadas à política educacional que trata da formação de professores, podendo ser visualizadas em documentos como os “Referenciais para Formação de Professores”, anteriormente mencionado, e em instrumentos normativos como o Parecer CNE-CP nº 9/2001 e as Resoluções CNE-CP nos 01 e 02/2002. Esses documentos explicitam as intenções da reforma pretendidas para a formação de professores, uma vez que se constituem em instrumento de formalização da política ao longo de uma série de ações, intenções e comportamentos, conforme descreve Palumbo (1989): Política é um processo, ou uma série histórica de intenções, ações e comportamentos de muitos participantes. Uma lei aprovada no Congresso pode ser observada, uma decisão tomada em tribunal pode ser lida, assim como também podem ser lidos regulamentos promulgados por departamentos governamentais e memorandos escritos por administradores de agências, a plataforma de um partido político pode ser lida e as declarações de um político podem ser ouvidas. Mas esses elementos sozinhos não constituem uma política. Uma política pública, assim como a política partidária, é complexa, invisível e elusiva (PALUMBO, 1989, p. 35). Nesse sentido, busca-se, a partir deste momento, apresentar o conjunto dos instrumentos jurídico-normativos que deram suporte à reforma, com vistas a explicitar a ressignificação do conceito da prática como um componente curricular, constante na política brasileira. 11TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? 1.1 A Prática Como Componente Curricular: Os Instrumentos Jurídico- Normativos Da Reforma O marco na definição da “prática” como componente curricular é constituído pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 9.394/1996 que dispõe: “Art. 65. A formação docente, exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas”. É importante ressaltar que até 1996 os cursos de licenciatura tinham como componente curricular o estágio, que era identificado com a seguinte inscrição: “Prática de Ensino sob a forma de Estágio Supervisionado”. Diante desse cenário, de mudanças normativas, as instituições de educação superior passaram a ter dúvidas na interpretação do que seria a prática de ensino. Essa dúvida passa a ser exteriorizada nos discursos dos gestores institucionais e coordenadores de curso que, nos aspectos práticos, mantiveram a estrutura do modelo “aplicacionista”. Esse fato justifica-se, particularmente, ao se considerar a memória, a cultura das instituições e as práticas docentes (AZEVEDO, 1996). Nesse sentido, a prática de ensino continua concebida como uma forma de estágio supervisionado, tendo como única inovação a ampliação da carga horária para as 300 horas previstas na lei. No entanto, os documentos que dão origem ao processo de reforma na formação de professores passam a conceituar “prática” como atividade distinta do estágio supervisionado, conforme se pode observar na transcrição do documento “Referenciais para Formação de Professores”, a seguir exposta: O conhecimento e a análise de situações pedagógicas, tão necessários ao desenvolvimento de competências não precisam ficar restritos apenas aos estágios, como é mais usual. Como já foi apontado, esse contato com a prática real de sala de aula não depende apenas da observação direta: a prática contextualizada pode “vir” até à escola de formação por meio das tecnologias de informação – computador e vídeo –, de narrativas orais e escritas de professores, de produções dos alunos, de situações simuladas e estudos de casos. Os recortes da tematização podem ser definidos segundo os objetivos de cada situação de formação pode-se optar por tematizar aspectos específicos da prática ou a prática contextualizada em sua totalidade (MEC, 1999, p. 109). Diante desse cenário, o processo de implementação da reforma da formação de professores passa a estabelecer conceitos distintos para a prática de ensino e para o estágio supervisionado. As intenções da reforma na formação de professores podem ser explicitadas, particularmente, no Parecer CNE/CP nº 9/2001. A análise desse parecer é fundamental para a compreensão dessa implementação, particularmente na medida em que explicita a base teórica que a alicerça, considerando os conceitos dos autores anteriormente mencionados. 12TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? Por esse parecer, os cursos de formação de professores tinham que se estruturar de forma diferenciada do modelo instalado, baseado na fórmula 3+1, usualmente empregada no Brasil, que se constituía por três anos de base comum (bacharelado) e mais um ano para a formação do licenciado, conforme explicita a transcrição do parecer a seguir exposta: O processo de elaboração das propostas de diretrizes curriculares para a graduação, conduzido pela SESu, consolidou a direção da formação para três categorias de carreiras: Bacharelado Acadêmico; Bacharelado Profissionalizante e Licenciatura. Dessa forma, a Licenciatura ganhou, como determina a nova legislação, terminalidade e integralidade própria em relação ao Bacharelado, constituindo-se em um projeto específico. Isso exige a definição de currículos próprios da Licenciatura que não se confundam com o Bacharelado ou com a antiga formação de professores que ficou caracterizada como modelo 3+1 (CNE, 2001a, p. 5-6). A partir dessa reestruturação própria e independente a ser aplicada aos cursos de licenciatura, seria possível estabelecer as bases de enfrentamento dos desafios presentes na formação de professores, entre os quais constava uma visão mais ampla da prática. O Parecer CNE-CP nº 09/2001 traz a seguinte orientação para essa questão: Nos cursos de formação de professores, a concepção dominante, conforme já mencionada, segmenta o curso em dois pólos isolados entre si: um caracteriza o trabalho na sala de aula e o outro, caracteriza as atividades de estágio. O primeiro pólo supervaloriza os conhecimentos teóricos, acadêmicos, desprezando as práticas como importante fonte de conteúdos da formação. Existe uma visão aplicacionista das teorias. O segundo pólo, supervaloriza o fazer pedagógico, desprezando a dimensão teórica dos conhecimentos como instrumento de seleção e análise contextual das práticas. Neste caso, há uma visão ativista da prática. Assim, são ministrados cursos de teorias prescritivas e analíticas, deixando para os estágios o momento de colocar esses conhecimentos em prática.Uma concepção de prática mais como componente curricular implica vê-la como uma dimensão do conhecimento que tanto está presente nos cursos de formação, nos momentos em que se trabalha na reflexão sobre a atividade profissional, como durante o estágio, nos momentos em que se exercita a atividade profissional (CNE, 2001a, p. 22). Pode-se perceber, pela análise dos documentos normativos apresentados, que a prática passa a se distinguir do estágio, ganhando espaço próprio como componente curricular, estabelecendo eixo de integração entre a dimensão teórica do curso e a atividade profissional a ser desenvolvida no estágio. A prática, inclusive, não necessita ser realizada na escola, maspode ser contextualizada no ambiente da instituição formadora, por meio das tecnologias da informação, como o computador e o vídeo. O Parecer CNE-CP nº 9/2001 ainda é mais explicito quando afirma: “A idéia a ser superada, enfim, é a de que o estágio é o espaço reservado à prática, enquanto, na sala de aula se dá conta da teoria” (CNE, 2001, p. 23). A norma, a partir desse momento, prevê a ruptura da prática e do estágio, nos moldes como vinham sendo ofertados, ou seja, como componente curricular único destinado ao tempo do estágio, identificado pelas instituições como “prática de ensino sob a forma de 13TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? estágio supervisionado”. Portanto, a prática sob a forma de estágio supervisionado deixa de existir, passando a se constituir em dois componentes curriculares distintos. Com isso, surgem questões operacionais que colocam em xeque a compatibilização entre o texto da LDB e as orientações do Parecer CNE-CP nº 09/2001, uma vez que a lei prevê 300 horas para a prática de ensino, ainda concebida na dimensão do estágio, denominado como “prática de ensino sob a forma de estágio supervisionado”, e o texto do parecer que previa dois componentes curriculares distintos a saber: prática e estágio. Nesse sentido, levantam-se as seguintes questões: qual a diferença entre prática de ensino e prática como componente curricular? Qual a diferença entre prática e estágio? Qual a carga horária do estágio, se a prática de ensino deve ter no mínimo 300 horas? Para responder a essas questões o Conselho Nacional de Educação divulga os Pareceres nos. 21 e 28/2001. Cumpre destacar que para esta análise será considerado o Parecer CNE-CP nº 28, de 2 de outubro de 2001, pois deu nova redação ao Parecer nº 21/2001, sendo, portanto, o documento que serviu de orientação normativa. Ressalta-se que o próprio Parecer nº 28/2001 menciona a necessidade de compatibilização entre os instrumentos normativos, identificados pela Assessoria Técnica da Secretaria de Educação Superior do MEC, conforme demonstra a transcrição a seguir exposta: Este Parecer, contudo, deve guardar coerência com o conjunto das disposi- ções que regem a formação de docentes. Cumpre citar a Resolução CNE/CP 1/99, o Parecer CNE/CP 4/97 e a Resolução CNE/CP 2/97, o Parecer CNE/ CEB 1/99 e a Resolução CNE/CEB 2/99 e, de modo especial, o Parecer CNE/ CP 9/2001, o respectivo projeto de Resolução, com as alterações dadas pelo Parecer CNE/CP 27/2001. A existência de antinomias entre estes diferen- tes diplomas normativos foi anotada pelo Parecer da Assessoria Técnica da Coordenação de Formação de Professores SESu/MEC, encaminhada a este Conselho, pelo Aviso Ministerial 569, de 28 de setembro de 2001, para efeito de harmonização entre eles (CNE, 2001b, p. 01). Nesse sentido, o Parecer nº 28/2001 vai definir prática e estágio como componentes curriculares distintos, e inclusive não empregando mais o termo “prática de ensino” de forma restrita, e sim utilizando a expressão “prática como componente curricular”, conforme conceituação a seguir expressa: A prática como componente curricular [...] deve ser planejada quando da elaboração do projeto pedagógico e seu acontecer deve se dar desde o início da duração do processo formativo e se estender ao longo de todo o seu processo. Em articulação intrínseca com o estágio supervisionado e com as atividades de trabalho acadêmico, ela concorre conjuntamente para a formação da identidade do professor como educador. Esta correlação teoria e prática é um movimento contínuo entre saber e fazer na busca de significados na gestão, administração e resolução de situações próprias do ambiente da educação escolar (CNE, 2001b, p. 11). 14TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? Sobre o estágio supervisionado, o Parecer nº 28/2001, ao reforçar a sua distinção da prática de ensino, traz a seguinte definição: Por outro lado, é preciso considerar um outro componente curricular obrigatório integrado à proposta pedagógica: estágio curricular supervisionado de ensino entendido como o tempo de aprendizagem que, através de um período de permanência, alguém se demora em algum lugar ou ofício para aprender a prática do mesmo e depois poder exercer uma profissão ou ofício. Assim o estágio curricular supervisionado supõe uma relação pedagógica entre alguém que já é um profissional reconhecido em um ambiente institucional de trabalho e um aluno estagiário. Por isso é que este momento se chama estágio curricular supervisionado (CNE, 2001b, p. 11). Conforme se pode inferir das citações extraídas do Parecer nº 28/2001, prática e estágio supervisionado são componentes curriculares distintos. Esse parecer sinaliza, de forma enfática, que a forma de abordagem desses componentes deve ser definida pelas instituições formadoras e explicitada nos projetos pedagógicos dos cursos. Esse processo deveria ainda contemplar ações de articulação com as instituições de educação básica na construção do currículo e das ações a serem desenvolvidas no âmbito da prática e do estágio. O trecho transcrito a seguir ilustra o aspecto mencionado: A prática, como componente curricular, que terá necessariamente a marca dos projetos pedagógicos das instituições formadoras, ao transcender a sala de aula para o conjunto do ambiente escolar e da própria educação escolar, pode envolver uma articulação com os órgãos normativos e com os órgãos executivos dos sistemas (CNE, 2001b, p. 11, grifos nossos). Em 2002 são publicadas pelo CNE, duas resoluções que tratam da formação de professores, que contribuem no processo de compreensão da prática como um componente curricular, inclusive definindo a carga horária mínima destinada à prática e ao estágio, que são as Resoluções nos 1 e 2, enfatizando as proposições constantes nos instrumentos normativos anteriormente mencionados. A Resolução nº 2/2002 define a carga horária mínima de 2.800 horas para os cursos de licenciatura, explicitando o foco na relação teoria e prática ao apresentar a distribuição dessa carga horária entre os seus componentes curriculares, conforme dispõe o seu art. 1º: Art. 1º A carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educa- ção Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos componentes comuns: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivencia- das ao longo do curso; II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; 15TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científicocultural; IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-cien- tífico-culturais. Parágrafo único. Os alunos que exerçam atividade docente regular na educa- ção básica poderão ter redução da carga horária do estágio curricular super- visionado até o máximo de 200 (duzentas) horas. Com isso estão definidas as bases normativas que vão definir a tônica da formação de professores no Brasil, cabendo às instituições de ensino superior proceder a sua implementação. 1.2 A Prática Como Componente Curricular: As Dúvidas Dos Gestores A partir das bases normativas, as dúvidas que permeiam o trabalho dos gestores institucionais e dos professores no processo de construção curricular dos cursos de licen- ciatura se intensificam, sobretudo porque a prática como componente curricular mais do que um componente curricular passava a caracterizar a própria instituição, uma vez que o Parecer 28/2001 previa que a prática deveria “trazer as marcas das instituições,prescrita nos projetos pedagógicos de seus cursos”. Ressalta-se que, para esse parecer, a prática de ensino e a prática como componen- te curricular são aspectos distintos na constituição dos cursos que formam professores, ao mesmo tempo em que deveriam estar articuladas. Neste sentido, é o que previa o Parecer n. 28/2001: “a prática como componente curricular é, pois, uma prática que produz algo no âmbito do ensino (CNE, 2002, p.10)”, sem, contudo, repetir a fórmula da prática de ensino sob a forma de estágio supervisionado. Essas orientações passam a exigir a reconfiguração dos cursos a serem auto- rizados, mas também dos cursos que estavam em curso, particularmente daqueles em processo de reconhecimento. Esses processos avaliativos, especificamente destinados à autorização, ao reconhecimento e à renovação de reconhecimento de cursos, constituíam a base do processo de implementação da reforma, uma vez que tratavam de procedimentos de regulação do sistema. Diante desse contexto, algumas dúvidas surgem no âmbito das instituições ao procurar promover a adequação de seus currículos às novas orientações. Essas dúvidas podem ser sintetizadas no seguinte problema: Como projetar um curso de licenciatura, considerando a prática como um componente curricular? A partir desse problema surgem novas questões de ordem prática como: Qual o modelo a ser utilizado que não seja “aplicacionista”? Deve-se inserir uma disciplina intitulada 16TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? prática de ensino, desde o início do curso? Ou se deve acrescentar uma dimensão prática para algumas disciplinas? Ou será que se deveriam criar disciplinas a serem ofertadas por um caráter eminentemente prático? Essas perguntas eclodiram junto aos membros do Conselho Nacional de Educação que procuraram contribuir no processo de interpretação das orientações normativas, como foi o caso da então conselheira Silke Weber, que explicita o seu impacto na dinâmica dos cursos: É, aliás, no tocante à formação de professores que devem ser localizadas as repercussões mais visíveis da atuação tanto da Câmara de Educação Superior como do próprio Conselho. Essas repercussões ocorrem igualmente na reestruturação do sistema formador de nível superior, [...], e nas orientações curriculares, nas dinâmicas formativas e nos conteúdos dos cursos (WEBER, 2002, p. 95). Especificamente, em relação à prática como componente curricular, Weber (2002) informa que: [...]. No que se refere à formação de professores, a necessária vinculação entre teoria e prática expressa, entre outros aspectos, por intermédio da definição da prática como componente curricular, é quase sempre interpretada como sendo equivalente à prática de ensino. Trata-se de uma interpretação reducionista por não incluir como prática outras atividades pedagógicas relevantes ao fazer escolar (WEBER, 2002, p. 96). Com isso pode-se perceber que as respostas requeridas pelos gestores institucionais dependem das interpretações que a prática institucional e a relação entre formuladores e implementadores da política de formação de professores forem construindo, sobretudo considerando a reconfiguração atual no quadro dos gestores e dos burocratas que compõem as instâncias superiores dos órgãos governamentais, inclusive no setor educacional. No entanto, a partir da análise da literatura apontada na primeira parte, bem como dos instrumentos normativos mencionados, é possível sinalizar que a criação de uma disciplina intitulada “prática de ensino” não parece atender aos princípios requeridos pela política nacional de formação de professores que está em curso. Nesse mesmo sentido, não deve ocorrer a criação de disciplinas de caráter prático. A dimensão prática parece que deve vir diluída ao longo do curso entre as disciplinas de caráter propositivo, estabelecendo uma relação dialética entre teoria e prática. A resposta buscada pelos gestores institucionais vai ser encontrada na interação entre instituições formadoras e instituições de educação básica, de forma a construir de fato uma marca para cada instituição, prescrita em cada projeto pedagógico. 17 REFERÊNCIAS AFONSO, A. J. A avaliação educacional: regulação e emancipação. São Paulo: Cortez, 2000. AZEVEDO, J. M. L. A educação como política pública. Campinas: Autores Associados, 1997. CNE. Resolução CNE-CP nº 2, de 19 de fevereiro de 2002. Institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior. Brasília: CNE, 2002. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/cne/arquivos/pdf/CP022002.pdf. Acesso em: 12 set. 2008. CNE. Parecer CNE-CP nº 09, de 08 de maio de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Na- cionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Brasília: CNE, 2001a. Disponível em: http://www.abmes. org.br/_Download/Associados/Legislacao/2001/Parecer/Par_CP_09_080501.htm. Acesso em: 14 set. 2008. CNE. Parecer CNE-CP nº 28, de 02 de outubro de 2001. Dá nova redação ao Parecer CNE/CP 21/2001, que estabelece a duração e a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de gradua- ção plena. Brasília: CNE, 2001b. Disponível em: http://www.abmes.org.br/_Download/ Associados/Legislacao/2001/Parecer/Par_CP_28_080501.htm. Acesso em: 14 set. 2008. CNE. Resolução CNE-CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002. Institui diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Brasília: CNE, 2002. Disponível em: http://www. cmconsultoria.com.br/legislacao/resolucoes/2002/res_2002_0001_CP_retificacao_forma- cao_professores.pdf. Acesso em: 12 set. 2008. 18 DUARTE, N. Conhecimento tácito e conhecimento escolar na formação do professor (por que Donald Schön não entendeu Luria). Educação e Sociedade, Campinas, v. 24, n. 83, p. 601 – 625, ago. 2003. FERREIRA, A. B. de H. Dicionário básico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lexicon, 2003. MEC. Referenciais para formação de professores. Brasília: Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Fundamental (MEC/SEF), 1999. PALUMBO, D. A abordagem de política pública para o desenvolvimento político na Améri- ca. In: MEC. Política de capacitação dos profissionais da educação. Belo Horizonte: MEC/ FNDE/Instituto de Recursos Humanos João Pinheiro, 1989. p. 35 – 61. PERRENOUD, P. As dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 2000. PERRENOUD, P. Pedagogia Diferenciada – das intenções à ação. 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Soc., Campinas, v. 23, n. 80, p. 91 – 96, set. 2002. 20TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? 20TÓPICO II Prática como Componente Curricular: Diretrizes e Pareceres 2. PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR: DIRETRIZES E PARECERES 2.1 Diretrizese Pareceres 2.1.1 Diretrizes Curriculares Nacionais RESOLUÇÃO CNE/CP n. 2, DE 19 DE FEVEREIRO DE 2002. Institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior. RESOLUÇÃO CNE/CP n. 2, DE 09 DE JUNHO DE 2015. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica. RESOLUÇÃO CNE/CP 2, DE 19 DE FEVEREIRO DE 2002 Institui duração e carga horária nas licenciaturas Art. 1º Os cursos de licenciatura terão, no mínimo, 2.800 (duas mil e oitocentas) horas de efetivo trabalho acadêmico, compreendendo: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivencia- das ao longo do curso; II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; 21TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? 21TÓPICO II Prática como Componente Curricular: Diretrizes e Pareceres III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico cultural; IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-cien- tífico-culturais. RESOLUÇÃO CNE/CP n. 2, DE 09 DE JUNHO DE 2015. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica. Art. 13 Os cursos terão, no mínimo, 3.200 (três mil e duzentas) horas de efetivo trabalho acadêmico, com duração mínima de 08 semestres ou 04 anos, com- preendendo: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, distribuí- das ao longo do processo formativo; II - 400 (quatrocentas) horas dedicadas ao estágio supervisionado, na área de formação e atuação na educação básica, contemplando também outras áreas específicas, se for o caso, conforme o projeto de curso da instituição; III - pelo menos 2.200 (duas mil e duzentas) horas dedicadas às atividades formativas estruturadas pelos núcleos definidos nos incisos I e II do artigo 12 desta Resolução, conforme o projeto de curso da instituição; IV - 200 (duzentas) horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas de interesse dos estudantes, conforme núcleo definido no inciso III do artigo 12 desta Resolução, por meio da iniciação científica, da iniciação à docência, da extensão e da monitoria, entre outras, consoante o projeto de curso da instituição. 2.2 A dimensão Prática da formação docente Discussões e propostas formativas que apontam a importância da prática ao longo de todo o processo de formação docente inicial não é algo recente. Em 1975, Valnir Chagas já chamava a atenção para esse aspecto ao discorrer sobre essa questão – o momento da prática nos cursos de licenciatura. De acordo com Chagas (O ensino de 1º e 2º graus: an- tes, agora e depois. São Paulo: Saraiva, 1975), seria incoerente se a prática fosse situada rigidamente antes ou depois das matérias consideradas teóricas, pois o mais adequado seria que a dimensão prática estivesse presente ao longo dos estudos do futuro professor. 40 anos depois a dimensão prática na formação docente mantém-se atual no cenário brasileiro, estando presente nas DCN para a formação docente inicial e continuada como elemento ainda necessário de ser implementado nos cursos de formação de professores do País (Parecer CNE-CP nº 2/2015). 2.3 Prática como componente curricular (PCC) Diluição ao longo do curso entre as disciplinas de caráter propositivo, estabelecen- do relação dialética entre teoria e prática. 22TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? 22TÓPICO II Prática como Componente Curricular: Diretrizes e Pareceres Nova relação entre teoria e prática, a partir da década de 1980: Contra, portanto, o modelo aplicacionista, a partir do qual se estuda para depois “aplicar” somente nos estágios no final do curso. ● Donald Schon: professor prático-reflexivo; ● Gimeno Sacristan: currículo em ação; ● Maurice Tardif: Ampliação do espaço de formação do professor para a prática; ● Perrenoud: novas competências para o professor; ● Antonio Nóvoa: simetria invertida (a experiência de aluno é constitutiva do papel que exercerá futuramente como docente). 2.4 Prática como componente curricular é diferente de estágio supervisionado A prática como componente curricular envolve conhecimento e análise de situações pedagógicas e não depende da observação direta nas escolas. Alguns exemplos: uso de tecnologias da informação; narrativas orais e escritos de professores; produções de alunos; situações simuladas; estudo de caso; produção de material didático. O currículo da licenciatura não pode, portanto, confundir-se com o do bacharelado. O estágio supervisionado, por sua vez, envolve tempo de permanência in loco no futuro espaço de exercício profissional sob a forma supervisionada por um professor qualificado na área. A ideia a ser superada, portanto, é a de que o estágio é o espaço reservado à prática, enquanto, na sala de aula se dá conta da teoria (Parecer CNE-CP nº 9/2001, p. 23). O Parecer CNE/CP nº 28/2001 distingue a prática como componente curricular do estágio supervisionado. A prática como componente curricular é, pois, uma prática que produz algo no âmbito do ensino. Sendo a prática um trabalho consciente (…) de apoio do processo formativo, a fim de dar conta dos múltiplos modos de ser da atividade acadêmico- científica. Assim, ela deve ser planejada quando da elaboração do projeto pedagógico e seu acontecer deve se dar desde o início da duração do processo formativo e se estender ao longo de todo o seu processo. Em articulação intrínseca com o estágio supervisionado e com as atividades de trabalho acadêmico, ela concorre conjuntamente para a formação da identidade do professor como educador. Esta correlação teoria e prática é um movimento contínuo entre saber e fazer na busca de significados na gestão, administração e resolução de situações próprias do ambiente da educação escolar. 23TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? 23TÓPICO II Prática como Componente Curricular: Diretrizes e Pareceres No Parecer CNE/CES nº 15/2005 as atividades caracterizadas como prática como componente curricular podem ser desenvolvidas como núcleo ou como parte de disciplinas ou de outras atividades formativas. Isto inclui as disciplinas de caráter prático relacionadas à formação pedagógica, mas não aquelas relacionadas aos fundamentos técnico-científicos correspondentes a uma determinada área do conhecimento. Por sua vez, o estágio supervisionado é um conjunto de atividades de formação, realizadas sob a supervisão de docentes da instituição formadora, e acompanhado por profissionais, em que o estudante experimenta situações de efetivo exercício profissional. O estágio supervisionado tem o objetivo de consolidar e articular as competências desenvolvidas ao longo do curso por meio das demais atividades formativas, de caráter teórico ou prático. Ribeiro ainda dá o exemplo da UFRN onde leciona. Afirmando a prática como componente curricular (PCC) está presente em grande parte dos cursos de licenciatura da UFRN via projeto pedagógico do curso, entretanto apenas três cursos vivenciam experiências consideradas como PCC: pedagogia, música e química. Para além disso, existem discussões e propostas de ação via Fórum das Licenciaturas presidido pela Coordenação Pedagógica das Licenciaturas do Centro de Educação (COODLICE/CE). 24TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? 24TÓPICO II Prática como Componente Curricular: Diretrizes e Pareceres QUADRO 1 -PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR NOS CURSOS DE LICENCIATURA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PCC NOS CURSOS DE LICENCIATURA DA UFRN LICENCIATURA CARGA HORÁRIA PREVISTA OBSERVAÇÃO CiênciasBiológicas Sem previsão Afirma-se apenas que a prática como com- ponente curricular deverá estar presente nas diversas disciplinas do curso Geografia (campus CERES) Sem previsão Há apenas uma breve sinalização para a prática como componente curricular. Mas, não há explicações sobre o formato e distribuição de qualquer carga horária Letras Sem previsão Filosofia 400h Realização de atividades em Laboratórios. Não há explicações sobre o formato e distribuição da carga horária. História 405h Letras (espanhol) 405h Letras (Português, Fran- cês e Inglês) 405h Artes visuais 400h Carga horária divi- dida, em sua maior parte, em 30h de prática curricular dentro de disciplinas especí- ficas do curso (obrigatórias e complementares) Ciências Sociais 165h Afirma-se que deverá estar presente em “disciplinas obrigatórias” (90h) e em “ativi- dade curricular em comunida- de obrigatória” (75h) Dança 405h Afirma-se que deverá ser trabalhada em “laboratório” 25TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? 25TÓPICO II Prática como Componente Curricular: Diretrizes e Pareceres Fonte: RIBEIRO, M. M. G. Prática como Componente Curricular. s/d. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/abril- -2016/37541-cne-seminario-formacao-professores-2016-apresentacao-06-marcia-gurgel-pdf/file. Acesso em: 27 set. 2022. Matemática 405h Afirma-se que a prática como compo- nente curricular deverá ser realizada ao longo do curso e em todas as disciplinas Teatro 400h Afirma-se que a prática como compo- nente curricular deverá ser realizada ao longo do curso Química 60h Carga horária trabalhada por meio da disciplina “Instrumen- tação para o ensino de Química” Pedagogia 120h Afirma-se que a prática como compo- nente curricular deverá ser realizada ao longo do curso. Mas, com ênfase em 04 (quatro) disciplinas denomina- das de “Práticas Peda- gógicas Integradas”, perfazendo 120 horas. Música 450h Carga horária trabalhada por meio de disciplinas com caráter pedagógico, articulador entre ensino superior e ensino básico e para além das ofertadas pelo Centro de Educação: 1. Metodologia do ensino de Música na Educação Infantil e Fun- damental (90 h) 2. Metodologia do ensi- no da voz e música (90 h) 3. Metodologia do ensino de Música para adolescentes e adultos (90 h) 4. Música e Educação Especial (60 h) 5. Didática musical (60 h) 6. Fundamentos da Arte na Educação (60 h) 26TÓPICO I Prática Como Componente Curricular: O Que Isso Significa na Prática? 26TÓPICO II Prática como Componente Curricular: Diretrizes e Pareceres Em síntese, o esforço de trabalho foi efetivado e muitos cursos de Licenciatura propõem em seus respectivos projetos pedagógicos, a prática como componente curricular, estabelecendo a escola como foco da formação e a prática pedagógica como objeto de re- flexão-ação-reflexão permanente. No entanto, a maior parte dos cursos ainda não efetivou a PCC no cotidiano da formação. O esforço de trabalho continua e sob a iniciativa da Coordenação Pedagógica das Licenciaturas do Centro de Educação (COORDLICE/CE), por meio dos Fóruns de Licencia- tura, tem se insistido na concretização deste intento. Assim é que, mais uma vez e de forma mais incisiva, a COORDLICE/CE realizará em maio de 2015 um Fórum das Licenciaturas no qual será discutida a ampliação da carga horária dos cursos para 3.200 (três mil e duzentas) horas e a, de fato, efetivação da prática como componente curricular. 27 REFERÊNCIAS CNE. Parecer CNE-CP nº 09, de 08 de maio de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Brasília: CNE, 2001. CNE. Parecer CNE-CP nº 28, de 02 de outubro de 2001. Dá nova redação ao Parecer CNE/CP 21/2001, que estabelece a duração e a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de gradua- ção plena. Brasília: CNE, 2001. CNE. Resolução CNE-CP nº 2, de 19 de fevereiro de 2002. Institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior. Brasília: CNE, 2002. CNE. Parecer CNE-CES nº 15, de 02 de fevereiro de 2005. Solicitação de esclarecimento sobre as Resoluções CNE/CP nºs 1/2002, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licen- ciatura, de graduação plena, e 2/2002, que institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior. Brasília, 2005. CNE. Parecer CNE-CP nº 02, de 09 de junho de 2015. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do Magistério da Edu- cação Básica. Brasília: Conselho Nacional de Educação, 09 de junho de 2015. 28TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática 3. A PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR NA DISCIPLINA, PESQUISA E PROCESSOS EDUCATIVOS DO CURSO DE PEDAGOGIA: UM DIFERENCIAL NA RELAÇÃO ENTRE PESQUISA, TEORIA E PRÁTICA RESUMO: Este artigo discute o papel da Prática como Componente Curricular nos processos iniciais de formação de professores, tendo como objetivo central analisar a proposta de formação dos licenciandos de um curso mediante exame das disciplinas de Pesquisa e Processos Educativos, as quais consubstanciam a Prática como Componente Curricular. Nesta pesquisa qualitativa, o tratamento dos dados baseou-se na análise de conteúdo proposta por Bardin (2009), por André (2012, 2017) e por Gatti e Barreto (2009) acerca do papel da pesquisa na formação dos professores e pelas contribuições de García (1999, 2009) acerca do desenvolvimento profissional. Os resultados indicaram que a Prática como Componente Curricular, associada aos aprendizados das práticas formativas da docência, tendo a pesquisa como eixo de verticalização da formação de professores, é fundamental para o desenvolvimento profissional dos futuros professores, tornando-se elemento essencial para o desenvolvimento da habilidade investigativa e contribuindo para a sua formação profissional, artística, científica e política. PALAVRAS-CHAVE: Formação inicial de professores. Prática de ensino. Pesquisa. 29TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática INTRODUÇÃO Este artigo tem como foco de estudo o Currículo do Curso de Pedagogia (CPe) ofertado no Instituto Federal Catarinense (IFC), campus Camboriú, que teve início em 2011, observando e discutindo o que dispõe o respectivo Projeto Pedagógico de Curso (PPC) em relação às disciplinas denominadas Pesquisa e Processos Educativos (PPE), que contêm em suas cargas horárias as Práticas como Componentes Curriculares (PCC). Destaca-se que os Pareceres do Conselho Nacional de Educação – Câmara Plena (CNE/CP) n. 28 e n. 9, de 2001, que fundamentaram as Resoluções CNE/CP n. 1 e 2, de 2002, discutem a PCC no contexto da formação de professores da Educação Básica. Nesses documentos, tanto a prática como o estágio são momentos para trabalhar a reflexão sobre a atividade profissional. A Resolução CNE/CP n. 2, de 2002, determina que a PCC e o estágio são momentos destinados ao trabalho de reflexão sobre a atividade profissional, entretanto a prática não deve limitar-se a um espaço isolado, tampouco ser reduzida ao estágio (BRASIL, 2002a, 2002b). A PCC propõe atividades pedagógicas que buscam estabelecer relação entre teoria, prática e pesquisa por meio de atividades de integralização do currículo e de proposições de seus conteúdos ao longo de todoo itinerário formativo do CPe, com vistas à formação de professores para os anos iniciais do Ensino Fundamental, Educação Infantil e gestão, tendo como base a docência. As discussões sobre a formação de professores nos cursos de licenciatura dos Institutos Federais (IFs) são de suma importância, visto que analisam o planejamento do PPC realizado pelos docentes dessa instituição de ensino e, consequentemente, os processos de ensino-aprendizagem e de formação pedagógica desenvolvidos com os discentes, elementos fundantes para a formação desses profissionais, que atuarão na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na gestão, em espaços escolares e não escolares. Contudo, não podemos deixar de elucidar que o processo de formação inicial de professores vigente na Educação Profissional Tecnológica (EPT), apesar dos nove anos de existência dos IFs, apresenta-se como um contexto novo, aumentando a responsabilidade 30TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática dessas instituições de ensino, as quais, ao oferecer os CPe, ou seja, a formação de professores para a Educação Básica, mediante seus cursos de licenciatura, tornam-se parceiras e incentivadoras da constituição da docência nos espaços coletivos e colaborativos. Destacamos que o CPe pesquisado possui o documento Normatização da Prática como Componente Curricular, que regulamenta e define normas e critérios para a PCC no âmbito das práticas pedagógicas do curso, e Regulamento da disciplina de Pesquisa e Processos Educativos e Trabalho de Curso, ambas fontes documentais do estudo que serão discutidas e analisadas no presente texto. Nessa direção, organizamos o texto em quatro seções, além da Introdução, a saber: I) a experiência formativa da PCC como espaço para o desenvolvimento profissional do futuro professor; II) o percurso metodológico da pesquisa; III) as disciplinas de pesquisa e processos educativos e sua inter-relação com a PCC; e IV) as Considerações Finais. Dessa maneira, a seguir apresentamos as análises desenvolvidas referentes às fontes documentais selecionadas para a pesquisa. 31TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática 3.1 Prática Como Componente Curricular Como Espaço Para Desenvolvimento Profissional: Experiência Formativa Compreende-se, após exame da legislação educacional (Parecer CNE/CP n. 9/2001; Resolução CNE/CP n. 2/2002; e Resolução CNE/CP n. 2/2015) e do documento do CPe Normatização da Prática como Componente Curricular (IFC CAMBORIÚ, 2017a), que a finalidade da PCC é construir conhecimentos relacionados aos campos de atuação profissional do pedagogo por meio das diversas atividades formativas que compõem o CPe, operacionalizada como parte das disciplinas ou como projetos integradores, aproximando teoria e prática à formação pedagógica dos acadêmicos. Para Oliveira e Brito (2017), a PCC faz parte do núcleo das disciplinas de conteúdos pedagógicos e específicos, como uma subdivisão das disciplinas obrigatórias para a licenciatura. Dessa forma, sua origem, os seus objetivos do projeto e suas proposições de prática de ensino têm importante contribuição na formação inicial docente, ressaltando que a carga horária é um espaço-tempo privilegiado para acontecer à articulação da teoria com a prática de maneira integrada e interdisciplinar. Nessa perspectiva, segundo as autoras, cabe “[...] ao professor formador dar a devida importância e deixar claro como está trabalhando e como os alunos podem vivenciar esse espaço” (OLIVEIRA e BRITO, 2017, p. 92). Destaca-se a obrigatoriedade de cumprir 400 horas de PCC, distribuídas ao longo de todo o processo formativo, conforme a Resolução CNE/CP n. 2/2015, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Nas novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), de 2015, a prática reflexiva baseada em uma das ações que integram a Política Nacional de Formação de Professores, que podem ser aprovadas em breve, como o Programa de Residência Pedagógica, “[...] precisa, sim, de teorias educacionais, ou se corre o risco de voltar algumas décadas, da qual talvez nunca se tenha saído totalmente, quando se acreditava que ensinar é dom e que se aprende a partir da vivência” (PEREIRA; MOHR, 2017, p. 207). Compreende-se, portanto, que as teorias da área das Ciências da Educação tornam-se importantes frente a esses limites para auxiliar os professores na compreensão da complexidade da docência e dos diversos aspectos que a envolvem, dentro e além da sala de aula. Além disso, “[...] enquanto as atividades de PCC vincularem-se apenas a ideias formuladas a partir da experiência docente dos professores, pode-se reforçar a ideia de que ensinar aprende-se fazendo” (PEREIRA; MOHR, 2017, p. 207). 32TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática Conforme o artigo 2º do referido Regulamento (IFC CAMBORIÚ, 2017a), o com- ponente curricular Pesquisa e Processos Educativos tem como objetivos a formação com pesquisa, bem como a inserção, desde o processo inicial de formação, nos campos de atuação profissional. Procura desenvolver a capacidade investigativa e produtiva do estu- dante e contribuir para a sua formação básica, profissional, artística, científica e política, o que, na nossa análise, traz contributos à formação inicial do professor e do pedagogo. De acordo com o proposto pelas DCNCLPe de 2006, a organização do currículo do CPe contempla um desenvolvimento curricular pensado para dar conta dessa proposta multidimensional. Conforme afirma Scheibe (2003), na organização dos tempos e con- teúdos, tendo em vista atender à exigência de 200 dias letivos anuais, com 4 horas de atividades diárias, em média, é desejável que a duração de um curso de licenciatura seja de 4 anos, com um mínimo de 3.200 horas, para que seja possível contemplar, de forma mais aprofundada, tanto a carga teórica necessária à formação como o desenvolvimento das Práticas como Componentes Curriculares, que aproximam o estudante da realidade social e profissional. Nesse sentido, compreende-se que: A PCC é uma prática que deve produzir algo no âmbito do ensino e pode ser entendida como uma ferramenta para a problematização e a teorização de questões pertinentes ao campo da educação e à área de ensino, oriundas do contato direto e/ou indireto com o espaço escolar e educacional e com o espaço das vivências e experiências acadêmicas ou profissionalizantes; e ainda como uma possibilidade para viabilizar a integração entre os diferen- tes aportes teóricos que compõem a investigação científica e os campos de conhecimento em educação e ensino (TORRES; SILVÉRIO e MAESTRELLI, 2017, p. 217). Consoante o documento Normatização da Prática como Componente Curricular (IFC CAMBORIÚ, 2017a), a PCC será desenvolvida por meio de: observação e levantamento, proposição de temas, organização/produção de material, desenvolvimento das atividades e registro. As 30 horas de carga horária da PCC, do 1º ao 4º semestre do CPe, serão organizadas em: 8 horas para observação (em instituições de ensino preferencialmente públicas); 10 horas para elaboração de projetos, materiais e/ou minicursos; 4 horas para desenvolvimento das atividades; e 8 horas para sistematização e registro. Nesse sentido, para Silvério (2017, p. 167): No que se refere à PCC e à superação do mecanismo de transposição di- dática, como forma de transmissão unidirecional deum conteúdo disciplinar descontextualizado, é preciso um esforço didático para tornar as experiências mais reflexivas, buscando associá-las com as pesquisas sobre ensino das di- versas especialidades das áreas de conhecimento relacionadas ao ensino, de tal forma que se a transposição didática for proposta como atividade, levará em conta os pré-requisitos apontados nessas investigações para o tratamento de determinado assunto ou conteúdo. 33TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática Em suma, o Parecer CNE/CP n. 9/2001 acrescenta que o planejamento dos cursos de formação de professores para a Educação Básica deve prever situações didáticas em diversas oportunidades diferentes, nas quais os futuros professores possam fazer uso do embasamento teórico, mobilizar outros conhecimentos e refletir sobre a prática. O documento prevê que essas situações didáticas se deem em três momentos distintos: no interior de áreas ou disciplinas, em tempo e espaço curricular específico e no estágio supervisionado. Os professores formadores são responsáveis não apenas pela disciplina de PPE, mas também por definir e constatar a(s) instituição(ões) pública(s) em que os(as) estudantes realizarão a PCC; por estabelecer como as atividades serão desenvolvidas (em equipes ou individualmente); por orientar os(as) discentes na elaboração das atividades; por acompanhar a aplicação das atividades propostas; por registrar as atividades desenvolvidas para composição de arquivo; e por entregar a documentação referente à PCC à coordenação do curso, com um registro completo da atividade realizada. Os licenciandos são responsáveis pelo desenvolvimento das atividades orientadas pelos professores e, ao final de semestre, por apresentar os registros da realização das atividades da PCC. 3.2 O Percurso Metodológico A presente pesquisa se caracteriza como pesquisa de abordagem qualitativa. Considera-se que a empiria é tida no momento de construção teórica, em que, mediante pesquisa bibliográfica e análise documental, é analisada a constituição do conhecimento epistemológico na disciplina de Pesquisa e Processos Educativos, por meio da PCC, como prática pedagógica formativa que contribui para o desenvolvimento profissional dos futuros professores. Para a geração dos dados, os pareceres, resoluções e normativas foram lidos e categorizados, buscando compreender nas análises evidenciadas a composição legal referente à PCC a partir de cada documento. Dessa forma, conforme Pereira e Mohr (2017, p. 27), “[...] um parecer objetiva contextualizar, analisar, detalhar e justificar propostas legais, as quais geralmente são apresentadas ao final do documento ainda como sugestão”. E “[...] as resoluções são instrumentos normativos jurídicos finalizados que instituem normas e procedimentos analisados e propostos nos pareceres” (PEREIRA e MOHR, 2017, p. 27). Concomitantemente à realização da pesquisa bibliográfica, teve início a pesquisa do- cumental do material selecionado previamente, a fim de alcançar os objetivos investigativos. 34TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática Segundo Severino (2007), a pesquisa documental assemelha-se à pesquisa bibliográfica e utiliza como fonte documentos no sentido amplo, a partir dos quais o pesquisador desenvolve sua investigação e análise. No que tange às técnicas e instrumentos que subsidiaram as análises do corpus documental escolhido, a presente pesquisa utilizou-se da técnica de análise de conteúdo para melhor compreensão dos dados coletados. Para Bardin (2009), a análise de conteúdo compreende um conjunto de técnicas destinadas à análise das comunicações. Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos ou, com maior rigor, de um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto. 3.3 Disciplinas De Pesquisa E Processos Educativos E Sua Inter-Relação Com A Prática Como Componente Curricular Nesta seção, procurou-se analisar o núcleo de disciplinas integradoras do PPC do curso de Pedagogia do IFC, campus Camboriú, a fim de compreender a constituição de seu desenvolvimento curricular, mediante o uso de uma das três categorias de análise do estudo de Gatti e Barretto (2009), intitulado Professores do Brasil: impasses e desafios, que engloba três grandes núcleos: 1) estudos básicos, 2) aprofundamento e diversificação de estudos e 3) estudos integradores. Destacamos que, no presente estudo, nossas análises sobre a disciplina de PPE dizem respeito ao núcleo de estudos integradores. Nesse sentido, o currículo do CPe do IFC, campus Camboriú, tem a base da sua organização em conformidade com o artigo 6º da Resolução das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia, licenciatura (DCNCLPe) (BRASIL, 2006), que propõe que a estrutura do CPe, respeitadas a diversidade nacional e a autono- mia pedagógica das instituições, seja dividida em: i) Núcleo de Estudos Básicos (NBAS); ii) Núcleo de Aprofundamento e Diversificação de Estudos (Nade); e iii) Núcleo de Estudos Integradores (NEI). As disciplinas que compõem o NEI referem-se às disciplinas de PPE, tal como expresso no Quadro 2: 35TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática QUADRO 2 – QUADRO DAS DISCIPLINAS QUE COMPÕEM O NEI. Disciplina/Ementa Carga horária semestral Créditos PCC Pesquisa e Processos Educativos I Ementa: tipos de conhecimento. Método científico. Produção e socialização do conhecimento. Caracterização do cam- po de pesquisa em educação. Trabalhos acadêmicos e normas para apresentação – Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Inserção na pesquisa educacional em campo de atuação profissional. 60h 1º semestre 4 30 Pesquisa e Processos Educativos II Ementa: epistemologia da pesquisa em educação. Trajetória e tendências da pesquisa em educação no Brasil. Aspectos qualitativos e quantitativos da pesquisa, in- cluindo o estado do conhecimento. Inserção no campo da pesquisa em educação. 90h 2º semestre 4 30 Pesquisa e Processos Educativos III Ementa: o sujeito pesquisador e os sujeitos da pesquisa em educação. Inserção na realidade educacional em espaços for- mais e não formais de educação. Procedi- mentos de pesquisa em educação. 60h 3º semestre 4 30 Pesquisa e Processos Educativos IV Ementa: fundamentos para o planejamento da pesquisa em educação. Inserção na realidade educacional em es- paços formais e não formais de educação. Sistematização da pesquisa em educação. 60h 4º semestre 4 30 36TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática Fonte: Adaptado pelas autoras da matriz curricular do curso de licenciatura em Pedagogia do IFC, campus Camboriú (2011, 2017). Pela análise dos documentos (Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia; Regulamento da disciplina de Pesquisa e Processos Educativos (PPE) e Trabalho de Curso (TC); e Normatização da Prática como Componente Curricular – PCC), constatou-se que as disciplinas de PPE (de I a VIII) têm como objetivo desenvolver nos estudantes a capacidade investigativa e produtiva, contribuir para a sua formação básica, profissional, artística, científica e política, bem como para a sua inserção nos campos de investigação. São disciplinas que contribuem para a formação dos licenciandos nos eixos de formação do curso: Educação Infantil, Anos Iniciais, Modalidades da Educação, Gestão e Espaços não Escolares.O Parecer CNE/CP n. 9/2001 determina que a proposição de situações didáticas por meio das PCCs deve ocorrer tanto nas disciplinas de conteúdos pedagógicos quanto nas disciplinas de conteúdo específico, em tempos e espaços específicos, que articulem as atividades práticas interdisciplinares, como a observação e a reflexão, com o registro Pesquisa e Processos Educativos V Ementa: fundamentos para o planejamento da pesquisa em educação. A ética na pesquisa educacional. Sistema- tização da pesquisa em educação. 60h 5º semestre 4 30 Pesquisa e Processos Educativos VI Ementa: sistematização da pesquisa em educação. Fundamentos e orientação prático-científica sobre organi- zação e interpretação da pesquisa. 60h 6º semestre 4 30 Pesquisa e Processos Educativos VII Ementa: fundamentos e orienta- ção prático-científica sobre organização e interpretação, coleta e análise de dados da pesquisa. Elaboração do Trabalho de Curso. 60h 7º semestre 4 30 Pesquisa e Processos Educativos VIII Ementa: finalização e defesa do Trabalho de Curso. 90h 8º semestre 6 30 37TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática de observações realizadas e a resolução de situações-problema existentes no cotidiano profissional do professor. As PCCs podem ser desenvolvidas no contexto escolar, mas não especificamente nele, pois a inserção na prática profissional pode ocorrer também por meio de filmes, vídeos, narrativas de professores, situações simuladas, estudos de caso, entre outras situações (BRASIL, 2002a). Vale destacar que, no PPC do CLPe do IFC, campus Camboriú, as 400 horas de PCC estão distribuídas em várias disciplinas, especificamente nas de Fundamentos Metodológicos e, no objeto do presente estudo, nas disciplinas de Pesquisa e Processos Educativos, que transversalizam o curso do 1º ao 8º semestre, com atividades de PCC desde o início do percurso formativo. Assim, as disciplinas da PPE (de I a VIII), somadas, alcançam 240 horas, mais de 50% da carga horária exigida para a inserção dos estudantes na realidade escolar da Educação Básica e em espaços não formais. Silvério (2017) considera que o licenciado, ao ser exposto a essa série de fatores que envolve a PCC, detendo, assim, um conhecimento mais abrangente sobre os aspectos que envolvem a prática docente, terá melhores condições de se aproximar da realidade da escola e da prática profissional, o que lhe proporcionará uma oportunidade de refletir acerca dos fundamentos de sua prática, a fim de desenvolver experiências mais significativas em seu estágio supervisionado. Ao analisar a prática formativa interdisciplinar desenvolvida nas disciplinas de Pesquisa e Processos Educativos, tendo-se em vista as propostas de inter-relação entre os conhecimentos teóricos e práticos e a assunção da pesquisa como princípio educativo que lhe são características, percebe-se uma preocupação com a inserção dos licenciandos na realidade social da Educação Básica e do campo educacional. Em consequência, segundo Silvério (2017), a PCC assume um papel de suma importância na formação de professores, pois, por meio dessa prática pedagógica, os(as) licenciandos(as) podem vivenciar os desafios e possibilidades de serem professores(as), percebendo “[...] como se faz necessária e urgente a aproximação/integração ao mundo da escola, local em que todas as práticas formativas ganham finalidade e cumprem seu verdadeiro papel moral e ético” (SILVÉRIO, 2017, p. 167-168). Com relação ao Núcleo de Estudos Integradores, as disciplinas de PPE, que verti- calizam o currículo do CPe, mostram que a formação dos estudantes tem como princípio o ensino com pesquisa, aspecto identificado após a análise de conteúdo das ementas e do documento Regulamento da disciplina de Pesquisa e Processos Educativos e Trabalho de Curso (TC) (IFC CAMBORIÚ, 2017c), que descreve e normatiza essa prática de ensino. 38TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática Nesse sentido, na afirmação de García (1999), muito se tem a reclamar de uma reforma das práticas de ensino por diferentes instâncias. Mas reformar as práticas de ensino por si só não é possível se não se atender a outras dimensões da formação inicial de professores e do sistema educativo, fazendo-se necessária uma revisão do currículo e dos programas de formação inicial, pois não há como se admitir a separação entre o conhecimento teórico e prático. É importante que as Instituições de Ensino Superior (IES) potencializem os conhecimentos pedagógicos em conjunto com os conhecimentos didáticos do conteúdo, para o desenvolvimento de um conhecimento didático do conteúdo de ensinar adquirido à medida que a prática e a teoria são aprendidas e aplicadas no contexto escolar. Conforme o artigo 2º do referido regulamento (IFC CAMBORIÚ, 2017c), as disci- plinas de PPE têm como objetivos proporcionar formação com pesquisa, bem como inserir os licenciandos nos campos de atuação profissional desde o processo inicial de formação. Desse modo, procura desenvolver a capacidade investigativa do estudante e contribuir para a sua formação básica, profissional, artística, científica e política, o que, na nossa análise, traz contributos valiosos à formação inicial dos licenciados em Pedagogia. Está-se de acordo com Silvério (2017, p. 167) no tocante à opinião de que é de- sejável e possível pensar que o contato dos discentes com as pesquisas sobre ensino e com temas relacionados à atuação profissional da docência “[...] pode oportunizar um envolvimento e uma prática de pesquisa posterior nesse campo da formação”. Analisando-se o regulamento (IFC CAMBORIÚ, 2017c), constata-se que a carga horária da PPE I (1º semestre) divide-se em 60 horas teóricas e 30 horas de PCC, havendo uma relação interdisciplinar entre ela e a disciplina Pedagogia e Profissão Docente (1º se- mestre) com a proposição integrada de inserção, que se dá por intermédio da Metodologia da História de Vida e das Narrativas. As 30 horas de PCC são empregadas na experiência de ouvir, por meio de entrevistas e/ou questionários de pesquisa, sujeitos/professores em exercício, tomando-se por critério o tempo de profissão, de maneira que seja possível contemplar a atuação de três profissionais em diferentes estágios da carreira: no início, no meio e no final. Para Pereira e Mohr (2017), a ideia da preparação para a prática docente não deve ocorrer somente ao final do curso, durante os estágios supervisionados, ela deve ser inse- rida ao longo de toda a formação, quando se está refletindo sobre a atividade profissional, ou seja, é de suma importância superar a ideia de que o estágio é reservado à prática, enquanto a sala de aula é reservada à teoria. Portanto, “[...] não se pode deixar somente para o futuro docente a tarefa de transpor o conhecimento sobre ensino e aprendizagem para a situação de ensino-aprendizagem, sem proporcionar possibilidades de reflexões coletivas em todo o processo de formação” (PEREIRA; MOHR, 2017, p. 28). 39TÓPICO III A Prática Como Componente Curricular na Disciplina, Pesquisa e Processos Educativos do Curso Pedagogia: Um Diferencial na Relação Entre Pesquisa, Teoria e Prática O movimento de articulação direta entre essas duas disciplinas “[...] tem intenção de aproximar os estudantes da realidade da profissão e ao mesmo tempo possibilita a aprendizagem dos processos de pesquisa, como dos objetivos, dos instrumentos de coleta de dados, enfim, das facilidades e dificuldades da prática da pesquisa” (IFC CAMBORIÚ, 2017c, p. 4). Esse entendimento é reafirmado por Imbernón (2011), quando ressalta que o pro- cesso de formação deve dotar os professores de conhecimentos, habilidades e atitudes para
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