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10 - As técnicas de redação

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10. As técnicas de redação 
 
1. Descrição: exposição de caracteres que diferenciam as pessoas e as coisas. Corresponde a uma se-
quência de aspectos, através dos quais oferecemos, pelas palavras, uma visão das pessoas, dos obje-
tos, da natureza, dos animais, dos ambientes etc. 
 
A descrição admite várias formas de desenvolvimento, de acordo com os objetivos de quem escreve: 
a. Pormenorização, isto é, uma simples exposição de detalhes. Ex.: “A casa tinha três quartos, 
duas salas, banheiro, copa, cozinha, quarto de empregada, porão, varanda e quintal”. (F.Sabino); 
b. Dinamização, isto é, uma sucessão de movimentos e cenas. Ex.: “A Praia Grande e a Rua da 
Estrela contrastavam, todavia, com o resto da cidade, porque era aquela hora justamente a de maior 
movimento comercial. Em todas as direções cruzavam-se homens esbofados e rubros cruzavam-se 
os negros no carreto e os caixeiros que estavam em serviço na rua; avultavam os paletós-sacos, de 
brim pardo, mosqueados nas espáduas e nos sovacos por grandes manchas de suor”. (A. Azevedo) 
c. Impressão, isto é, uma descrição psicológica em que o escritor deixa traços de sua emoção ou 
reflexão. Ex.: “A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um 
fartum acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns 
pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas 
secas.” (A. Azevedo) 
 
Para uma boa descrição, recomendaríamos que o aluno procurasse: 
a. Selecionar antecipadamente os aspectos que serão enfocados, dividindo-se em tópicos e sub-
tópicos, podendo assim dar maior atenção aos detalhes essenciais; 
b. Fazer com que sobressaiam as sensações (visuais, auditivas, táteis etc.); 
c. Conotar substantivos e verbos (metáforas caracterizadoras, comparações etc.); 
d. Intensificar os adjetivos; reduzir homens e coisas; 
e. Tirar efeitos das ideias em oposição (antítese, paradoxo etc.); 
f. Humanizar, isto é, dar vida a coisas inanimadas (prosopopeia e animizações); 
 
2. Narração: relato de fatos arrumados no tempo, incluindo a presença de personagens. Evidencie-se, de 
pronto, que não há um limite definitivo com a descrição, uma vez que os dois gêneros se interpene-
tram, sendo comum aparecerem trechos narrativos inseridos em textos descritivos e vice-versa. 
São elementos de uma narrativa: 
a. A estória 
b. Os personagens e as circunstâncias (o fato, o protagonista, o antagonista, o momento, o modo 
como o fato aconteceu, o lugar, as causas e as consequências); 
c. Os conflitos dramáticos (choque entre protagonistas e antagonistas) 
 
Para uma boa narração, recomendaríamos que o aluno procurasse: 
a. Descrever os personagens tanto física quanto psicologicamente, expondo, além do que acon-
teceu a eles, as suas reações frente aos fatos narrados; 
b. Organizar os episódios de maneira a manter certa lógica interna entre eles; 
c. Escolher, de início, se deverá dar maior importância ao enredo ou ao comportamento dos per-
sonagens; já que, quando a história é contada de modo vago ou difuso (reminiscências e ima-
gens do subconsciente), desaparece a importância da narração; 
d. Selecionar as circunstâncias, de forma a apenas empregar aquelas que possam trazer interesse 
ao leitor; 
e. Deixar claras algumas ideias e concepções próprias. 
 
3. Dissertação: desenvolvimento de um tema doutrinário, científico ou artístico. 
O cuidado maior numa dissertação deve ser com o nexo logico que deve presidir a ligação entre os 
aspectos do tema abordado. 
 
O plano de trabalho 
A primeira preocupação de quem escreve deve ser: traçar um plano de trabalho que possibilite or-
ganizar a abordagem de qualquer assunto. Sem quere impor regras rígidas de comportamento, po-
deríamos estabelecer um roteiro básico, constituído de três partes distintas: 
 
1. Introdução: que corresponde às considerações iniciais, normalmente constituídas: 
a. Na narração, da enunciação do fato principal, às vezes camuflado pelo aproveitamento das 
circunstâncias. Ex.: “De repente, Dona Carolina deixou cair o garfo e soltou um grunhido. 
Todos se precipitaram para ela, abandonando seus lugares à mesa: a filha, o genro, os netos:” 
(F.Sabino). “De repente, Dona Carolina deixou cair o garfo e soltou um grunhido. Todos se 
precipitaram para ela, abandonando seus lugares à mesa: a filha, o genro, os netos:” (R. 
Braga). 
b. Na descrição, das modificações verificadas nas coisas e objetos. Ex.: “Mas, onde estão os 
realejos, doutora? Eles apareciam inesperados, paravam numa perna só. O dono, italiano, de 
cabelos brancos, punha a mão na manivela.” (A. Moreira). “Como eu te amava ainda, casto 
paraíso das minhas saudades oh! Minha floresta. Não tinhas, como eu, envelhecimento, ado-
rante e sombrio templo de verdura! Encontrei-te moça e garrida como te deixara, como a 
mim tinha visto, dantes, muito dantes à flor da minha juventude.” (A. Azevedo). 
c. Na dissertação, de uma opinião inicial sobre o tema. Ex.: “não considero honesto rotular-se 
de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea 
tomada de contato com forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidia-
nos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação.” (C.D.Andrade). 
 
2. Desenvolvimento: que corresponde ao desdobramento da ideia central, normalmente constitu-
ído: 
d. Na narração, da evolução cronológica (prevê um “antes” e um “depois”) ou psicológica (de-
senvolve os fatos de acordo com a memória do narrador) dos acontecimentos. 
e. Na descrição, de outros ângulos do quadro ou do tipo pintados. Não há necessidade de se 
dar atenção a todos os detalhes, mas sim aos traços diferenciantes de outros objetos ou se-
res, sempre a partir dos aspectos que mais impressionaram os sentidos (visão, audição, ol-
fato, gosto e tato). 
f. Na dissertação, da decomposição do tema em suas partes afins, procurando fazer com que 
as ideias convirjam para o objetivo almejado, dentro de uma lógica interna obrigatória na 
ligação entre os pensamentos, estabelecendo, entre as ideias, as seguintes possíveis rela-
ções: 
 De dependência, isto é, a disposição hierarquizada dos pensamentos, um dando origem 
ao seguinte; 
 De interdependência, isto é, a sequência de pensamentos como aspectos diversos da 
mesma ideia. 
 
3. Síntese: parte não-obrigatória, que pode ser definida como um resumo do que foi tratado na 
Introdução e no Desenvolvimento, normalmente constituída: 
a. Na narração, da parte onde tudo se esclarece. Ajuda muito a valorização de um texto narra-
tivo um final surpreendente, ou uma interrupção brusca da narrativa, deixando a conclusão 
para o leitor. 
b. Na descrição, de um resumo das principais impressões causadas. 
c. Na dissertação, de: 
 Uma síntese dos aspectos mais importantes do tema abordado; 
 Uma abertura das perspectivas oriundas do estudo do tema. 
 
 
O Parágrafo: 
É a parte do discurso que deve mostrar sentido completo. Assim sendo, cada paragrafo da narração 
deve conter um fato, da descrição, um quadro, e da dissertação, uma ideia. 
As maneiras mais comuns do aparecimento do tópico frasal são: 
a. Declaração inicial, isto é, uma afirmativa ou negação inicial, seguida das justificativas. Ex.: 
“Não há perenidade, nem evolução, nem mutação; há fadiga de uso, novas modas conse-
quentes. Os chamados gêneros (literários) são formas originais descobertas pelo gênio.” (A. 
Peixoto); 
b. Definição, método didático por excelência. Ex.: “Chamam-se causativos os verbos transitivos 
que exprimem um processo em que o ser objeto é o agente.” (M. Câmara); 
c. Divisão, isto é, uma discriminação das ideias, método também didático. Ex.: “Enquanto Viri-
ato Correia construiu o conto pelo corte do teatro, Paulo Barreto – seu colaborador nos con-
tos de Erma uma Vez – construiu a novela curta pelo corte da crônica.” (J. Montello). 
Além do tópico frasal, processo mais comum, poderiam constituir outras formas de iníciode pará-
grafos: 
a. uma alusão histórica. Ex.: “Creio que foi Amiel quem explicou com mais precisão o mecanismo dos movimentos 
literários que a nossa necessidade de síntese e de compreensão subordina ao título de escola.” (A. Lins); 
b. uma interrogação. Ex.: “De que serve o homem de letras para realizar seu gênio inventivo? 
não é, por natureza, nem do movimento, como o dançarino, nem da linha, como o escultor 
ou o arquiteto, nem do som, como o músico, nem da cor, com o pintor. E sim – da palavra.” 
(A.Lins); 
c. uma enumeração de detalhes. Ex.: “Segue a boiada, vagarosamente, a cadência daquele 
canto triste e preguiçoso. Escanchado, desgraciosamente na sela, o vaqueiro, que a revê 
unida e acrescida de novas crias, rumina os lucros prováveis: o que toca ao patrão, e o que 
lhe toca a ele, pelo trato feito.” (E. Cunha). 
 
Ligações entre os pensamentos: 
1. Sobre a coordenação, isto é, o paralelismo de valores sintáticos idênticos: 
a. Os termos e orações ligados por este processo devem ser mantidos dentro de uma mesma es-
trutura gramatical. 
Assim, quando coordenamos dois termos simples da oração, duas orações de natureza diversas 
(reduzida e desenvolvida), ou dois termos da oração de estruturas diferentes (um simples e outro 
oracional), devemos fazê-lo, sempre que possível, obedecendo a um paralelismo gramatical. 
Ex.: Por estra com dor de cabeça e porque era domingo (construções melhores: por estar... e 
por ser..., ou porque estava... e porque era...). 
b. A coordenação tem hoje largo uso associada ao período curto e à oração absoluta, quando se 
trata de mostrar uma narrativa breve (fases de um episodio ou de estados de alma), ou uma des-
crição simples (componentes de um quadro), estando normalmente ausente nas dissertações. 
 
2. sobre a subordinação, isto é, a relação de dependência entre as funções sintáticas: 
a. As subordinações nos darão maiores possibilidades de ressaltarmos ideias, através do adequado 
manuseio das orações principais e subordinadas. 
Nas subordinações substantiva e adjetiva, a ideia mais importante nem sempre ficará clara-
mente definida, podendo estar na principal, ou no conjunto das duas. 
Entretanto, na subordinação adverbial, as orações subordinadas deverão mostrar ideias secun-
darias em relação às principais, além de, dando ao período maior efeito, antecedê-las. 
b. A repetição de conectivos subordinativos, pouco recomendável, é vicio comum nas redações de 
iniciantes. há várias maneiras de evitá-la, entre as quais: 
 A transformação de orações desenvolvidas em orações reduzidas; 
 As substantivas, em reduzidas de infinitivo. Ex.: É necessário que respondas prontamente (res-
ponderes prontamente). Aconselhei-o a que não tentasse (a não tentar); 
 As adjetivas, em reduzidas de infinitivo (com a preposição a) e de gerúndio. Ex.: estava combi-
nada a reunião que se realizaria na outra semana (a realizar-se). era um grito que ecoava no 
vale (ecoando); 
 As adverbiais, em reduzidas de infinitivo (normalmente preposicionadas), de gerúndio ou de 
particípio. Ex.: depois que cumpriu a obrigação, retirou-se (cumprindo, cumprida a, depois de 
cumprir). 
c. As intercalações subordinativas, quando exageradas, prejudicam o entendimento, já que separam 
o início do período de sua complementação. Ex.: Nós, quando estivemos naquela cidade, que nos 
recebeu tão bem e nos trouxe uma alegria incontida pelas recordações de nossa infância, já de 
longe esquecida nos corredores de nossa consciência e mencionada apenas como o único período 
onde podemos externar sinceridade total, estávamos sem a menor disposição de antigamente. 
(redação de aluno) 
 
3. Sobre a correlação, isto é, a relação de interdependência entre as orações, através da qual se satifaz 
uma expectativa em relação a um segundo pensamento, estabelecida pela enunciação de um pri-
meiro. 
A correlação deve ser empregada sempre que possível, admitindo as seguintes possiblidades de 
apresentação: 
a. Aditiva, pelos pares correlatos não só... mas também, (não) tanto... como (também), não só...se-
não que, não apenas (semente) ... mas também, tão...quanto, não apenas... senão também etc. 
b. alternativa, pelos pares correlatos quer...quer, umas vezes...outras vezes etc. 
c. comparativa, pelos pares correlatos tão(tanto)...com(quanto), tal...qual(como), mais (menos, 
melhor, pior, maior, menor)...que (do que). 
d. consecutiva, pelos pares correlatos tão (tal, tamanho, tanto)...que 
e. proporcional, pelos pares correlatos quanto mais (menos, melhor, pior)...mais (menos, tanto 
mais, tanto menos). 
A correlação implica, normalmente, a preservação de paralelismo gramatical na complementação 
dos pares correlatos. Ex.: Não somente fui porque estava com dor de cabeça, como também porque 
era domingo. (por estar...por ser) 
 
As qualidades do estilo 
As qualidades do estilo são essencialmente duas: correção e clareza. 
1. Correção: corresponde ao emprego correto da língua, entendendo-se como certa a construção nor-
mal num dado estágio linguístico ou numa determinada situação. 
São comumente apontados como vícios contrários à correção: 
a. Barbarismos, isto é, erro na pronúncia, na grafia, na forma gramatical, ou na significação de uma 
palavra. Ex.: rúbrica(rubrica), extrangeiro(estrangeiro), a telefonema (o telefonema), vultu-
oso(vultoso) na acepção considerável; 
b. Solecismo, isto é, o erro da sintaxe (de concordância, regência ou colocação) 
 
2. Clareza: corresponde à construção perfeitamente o inteligível. normalmente a obscuridade da 
construção leva à ambiguidade, isto é, à possibilidade de mais de um sentido numa construção 
sintática. Ex.: O caçador matou o pássaro na sua casa (do pássaro? do caçador?). depois que mudou 
para cidade, a livraria de meu pai levou-o a grande preocupação (quem mudou? meu pai? a livra-
ria?). estamos de posse do discurso inicial do diretor, cuja linguagem não podemos deixar de admi-
rar (do diretor? do discurso?) 
 
 
 
 
 
Em estreita dependência da clareza, poderíamos ainda induzir as seguintes qualidades secunda-
rias ao estilo: 
a. Concisão, isto é, a exposição das ideias em poucas palavras, sem ofender a clareza. Pode-se ferir 
a concisão pelo laconismo (redução excessiva nas construções) ou pela prolixidade (dizer a 
mesma coisa de formas diferentes). Assim sendo, o aluno, ao construir uma frase, deve verificar 
se não há um modo de dizer a mesma coisa com menos palavras. 
b. Harmonia, isto é, o ajustamento eufônico das palavras. Pode-se ferir a harmonia como: 
 As assonâncias, isto é, a repetição das mesmas vogais tônicas. Ex.: O casamento, se bem me 
lembro, foi em novembro e não em dezembro. 
 As colisões, isto é, a sucessão de consoantes sibilantes ou vibrantes, provocando som desagra-
dável. Ex.: em seguida, sucessivamente saíram e procuraram a sala mais próxima. 
 Os cacófatos, isto é, a sugestão de palavras descabidas ou inconvenientes. Ex.: ela tinha. Um 
mamão. A vez passada. 
 Os ecos, isto é, a repetição de terminações vocabulares iguais, principalmente em ADO, ADA, 
ÃO, ÃOS, ÕES, MENTE ou ENTE. Ex.: de repente, Antônio, que estava doente, se viu impotente. 
Os gritos do leão são a sua nova diversão. Os cuidados com cada um dos lados foram criados 
por ele. 
c. Propriedade, isto é, o emprego apropriado da linguagem. Fere a propriedade o desconheci-
mento do significado dos termos, provocando a impropriedade de expressão.

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