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FUNDAMENTOS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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Sumário
· Apresentação da disciplina
· Professor-autor
· Fontes de Consulta
· Módulo 1 – Guerra e Paz
· Unidade 1 - Conceito de guerra
· 1.1 Definição
· 1.2 Catalisador de mudanças
· 1.3 Pequenas potências e expansão
· 1.4 Causas da guerra
· 1.5 Arbitragem internacional
· 1.6 Interesses
· Unidade 2 - Direito internacional e guerra
· 2.1 Pacifismo e belicismo
· 2.2 Tradição filosófica ocidental
· 2.3 Não combatentes
· Unidade 3 - Tendências no caráter da guerra
· 3.1 Mudanças
· 3.2 Guerras hiperbólicas
· 3.3 Globalização da guerra moderna
· Unidade 4 - Novas guerras
· 4.1 Nova categoria
· 4.2 Ocorrência das novas guerras
· 4.3 Intervenção humanitária
· 4.4 Proteção
· Unidade 5 - Origens da paz
· 5.1 Paz perpétua de Kant
· 5.2 Perspectivas contemporâneas
· 5.3 Relação entre interdependência econômica e paz
· 5.4 Teoria da paz democrática
· Módulo 2 – Poder
· Unidade 1 - Conceito de poder
· 1.1 Definição de poder
· 1.2 Influência e coerção
· 1.3 Tipos de poder
· Unidade 2 - Capacidades e recursos de poder
· 2.1 Análise de poder
· 2.2 Balança de poder
· 2.3 Capacidades
· Unidade 3 - Interesses e objetivos
· 3.1 Definição weberiana
· 3.2 Soberania
· 3.3 Formuladores de política externa
· 3.4 Classificação dos objetivos
· 3.5 Interesse nacional
· Unidade 4 - Exercício e controle de poder
· 4.1 Poder político
· 4.2 Escopo e domínio
· 4.3 Meios de exercício do poder
· 4.4 Medição do poder
· 4.5 Conversão do poder
· 4.6 Estratégias de emprego do poder
· Unidade 5 - Estratificação segundo critérios de poder
· 5.1 Distribuição de poder entre os Estados
· 5.2 Grandes potências
· 5.3 Potências médias
· 5.4 Pequenas potências
· 5.5 Superpoderes e microestados
· 5.6 Distribuição de poder no sistema internacional
· Módulo 3 – Governança Internacional
· Unidade 1 - Conceito de guerra
· 1.1 História
· 1.2 Soberania
· Unidade 2 - Direito internacional e guerra
· 2.1 Cooperação econômica
· 2.2 Governança econômica global
· Unidade 3 - Poder, globalização e governança
· 3.1 Relações de poder
· 3.2 Internacionalização, revolução e liberalização
· 3.3 Efeitos da governança
· 3.4 Regionalismo e governança regional
· Unidade 4 - Globalização e instituições
· 4.1 Níveis de instituições internacionais
· 4.2 Mudanças na governança da economia internacional
· Unidade 5 - Atores não estatais
· 5.1 Tipos de atores
· 5.2 Corporações transnacionais
· 5.3 Grupos nacionalistas, organizações criminosas e organizações terroristas
· 5.4 Organizações não governamentais
· 5.5 Papel de atores transnacionais
· Unidade 6 - Governança, pobreza e desenvolvimento nas relações internacionais
· 6.1 Impacto de políticas econômicas desenvolvidas
· 6.2 Pobreza
· 6.3 Estratégias de desenvolvimento internacional
· 6.4 Organismos bilaterais de ajuda
· Módulo 4 – Ordem Internacional Contemporânea
· Unidade 1 - Nações e nacionalismo
· 1.1 Símbolos cívicos
· 1.2 Movimentos separatistas
· 1.3 Conflitos nacionalistas
· 1.4 Nacionalismo
· 1.5 Estados étnico-nacionais
· 1.6 Estratégias nacionalistas
· Unidade 2 - Direitos Humanos
· 2.1 Preocupação dos direitos
· 2.2 Regime internacional
· 2.3 Movimentos humanitários
· 2.4 Reconhecimento dos direitos humanos no nível regional
· 2.5 Desafios
· 2.6 Histórico dos direitos humanos
· 2.7 Nacionalismo e direitos humanos
· Unidade 3 - Atores não estatais e movimentos transnacionais
· 3.1 Impacto nas relações transnacionais
· 3.2 Oportunidades e perspectivas
· 3.3 Benefícios
· 3.4 Eficiência da atuação
· Unidade 4 - Terrorismo
· 4.1 Terrorismo
· 4.2 Fenômeno transnacional
· 4.3 Medidas contraterroristas
· Unidade 5 - Meio ambiente
· 5.1 Preocupação com a preservação do meio ambiente
· 5.2 Mudanças nas questões ambientais
· 5.3 Bases de cooperação
· 5.4 Desenvolvimento de leis e normas
· 5.5 Mudança climática pelo aquecimento global
· 5.6 Desenvolvimento sustentável
· Autoavaliação
· Pós-Teste
Apresentação da disciplina
A disciplina Fundamentos das Relações Internacionais está estruturada de forma a oferecer ao estudante uma visão abrangente dos principais temas contemporâneos referentes à política internacional, assim como desenvolver as principais ferramentas conceituais e analíticas para uma compreensão autônoma dos fenômenos que envolvem as relações internacionais.
O objetivo da disciplina é apresentar ao estudante conceitos e ferramentas essenciais que o ajudem a compreender os principais fenômenos internacionais contemporâneos.
Sob esse foco, a disciplina Fundamentos das Relações Internacionais foi estruturada em quatro módulos, nos quais foi inserido o seguinte conteúdo:
Módulo 1 – Guerra e paz
Neste módulo, abordaremos as principais causas da guerra e da paz, as questões morais e legais relacionadas ao uso da força no sistema internacional, a distinção entre o direito da guerra e o direito à guerra, a formação de coalizões e alianças, e a manutenção de um equilíbrio de poder, bem como a extensão e os limites do direito internacional.
Módulo 2 – Poder
Neste módulo, discutiremos o conceito de poder. Serão abordadas, em especial, questões como: o poder se manifesta na vida internacional? Como ele se constitui? Quais são as diferentes expressões de poder na política entre os Estados? Como podemos medir o poder e os seus principais efeitos na política internacional?
Módulo 3 – Governança internacional
Neste módulo, discutiremos uma das questões mais perenes no estudo das relações internacionais: por que os Estados cooperam? Ao analisarmos essa questão, veremos também como se desenvolvem os mecanismos de governança global, o papel das instituições e dos regimes internacionais, a questão da segurança internacional, os problemas de desenvolvimento, os processos de integração regional e a construção de uma economia global.
Módulo 4 – Ordem internacional contemporânea
Este módulo oferece ao estudante uma discussão substantiva acerca dos principais temas referentes à política internacional contemporânea, tais como nacionalismo, direitos humanos, meio ambiente, atores transnacionais, terrorismo, gênero e cultura.
Professores-autores
Paula E. Vedoveli
Formação acadêmica
· Mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e graduada em História (summa cum laude) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 
· Doutoranda em História pela Princeton University, onde também é lassen fellow no Program for Latin American Studies (Plas).
Experiência profissional
É historiadora. A sua pesquisa, que discute as relações entre a América Latina e o Terceiro Mundo durante a Guerra Fria, procura explicar a emergência e a queda da ideia de solidariedade terceiro-mundista, com atenção específica para as décadas de 1950 e 1960. Especificamente, explora como a América Latina influenciou as dinâmicas da Guerra Fria e o desenvolvimento do Sul Global. Para realizar o seu trabalho, conduziu pesquisa multi-arquivo no Reino Unido, nos Estados Unidos, na Argentina e no Brasil.
Eduardo Achilles Mello
Formação acadêmica
· Mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e estudante de MPhil em Development Studies, na London School of Economics. 
Experiência profissional
Pesquisa temas que envolvem a intercessão entre relações internacionais e politica comparada. O seu principal interesse de pesquisa envolve entender os mecanismos institucionais – políticos e econômicos – que levam à efetividade e à sustentabilidade de políticas agrícolas em países em desenvolvimento. O seu projeto de dissertação de MPhil é uma tentativa de desenvolver um indicador que aponte quais tipos de alocação de recursos de ajuda externa são mais efetivos para a promoção de instituições agrícolas mais eficientes no mundo em desenvolvimento.
Colaboradores
Gabrieli Gaio
Formação acadêmica
· Graduada em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
· Mestranda em Estudos Africanos pela Universidade Técnica de Lisboa (UTL), com ênfase em economia e desenvolvimento africano.
Pedro Arche
Formação acadêmica
· Graduado em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). 
· Mestrando em Economia Internacional e Estudos Europeus pela Universidade Técnica de Lisboa (UTL), com ênfase em comércio e desenvolvimento internacional.
Fontes para consulta
· ADELMAN, J. et al. Worlds together, worlds apart: a history of the world. v. 2.: From 1000 CE to the Present. 3. ed. Nova Iorque: W.W. Norton & Company, 2010. 
· FERGUSSON, N. Império: como os britânicos fizeram o mundo moderno. 3. ed. São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. 
· GILPIN, R. A Economia política das relações internacionais. Brasília: Editora UnB, 2002. 
· GRUBER, L. Ruling the world: power politics and the rise of supranational institutions. Princeton: Princeton University Press, 2000. 
· HURRELL, A. On global order: power, values, and the constitution of international society. Oxford: Oxford University Press, 2008. 
· KEOHANE, R. After hegemony: cooperation and discord in the world political economy. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1984. 
· NYE, J. Compreender os conflitos internacionais: uma introdução à teoria e à história. Lisboa: Gradiva, 2002. 
· WATSON, A. The evolution of international society: a comparative historical analysis. Abingdon: Routledge, 1992.
UNIDADE 1
Conceito de guerra
Se quisermos entender a guerra, devemo-nos perguntar por que os decisores políticos escolhem a força militar em vez de outros meios e recursos para atingir os objetivos desejados.
Definição
A guerra pode ser definida como um conflito de larga escala marcado pelo uso da violência entre grupos politicamente definidos – muitas vezes, com o emprego de forças militares – durante determinado período. Nem toda forma de violência, contudo, constitui um ato de guerra.
De acordo com a definição apresentada, podemos concluir que violência não é guerra, a não ser que seja empregada por uma unidade política contra outra unidade política.
A tradicional definição de Clausewitz torna a guerra um evento com um objetivo ainda mais específico.
Para Clausewitz, a guerra é um ato de força empregado para compelir outros atores – em princípio, seus oponentes – a realizar seus objetivos.
Comentário
Clique no ícone para acessar um comentário sobre guerras e a concepção racionalista da guerra como uma instituição.
Guerras e concepção racionalista da guerra como uma instituição
Guerras são formas de comportamento humano construídas socialmente e em larga escala. Dessa forma, devem ser compreendidas dentro do contexto mais amplo dos seus cenários culturais e políticos.
A guerra é a violência organizada de unidades políticas contra outras unidades políticas. No entanto, devemos distinguir a guerra em seu sentido flexível, que envolve a violência organizada realizada por qualquer unidade política – uma tribo, um império antigo, um principado feudal, uma facção civil moderna –, da guerra em seu sentido restrito, que se refere à guerra internacional ou interestatal, ou seja, à violência organizada travada por Estados soberanos. No sistema estatal moderno, somente a guerra em sentido restrito – ou seja, a guerra internacional – é legítima.
Nas guerras, os Estados soberanos buscam preservar para si mesmos o monopólio do uso legítimo da violência. Em qualquer real hostilidade que possa ser chamada de guerra, as normas ou regras, leais ou não, sempre desempenham uma função.
Sugestão de leitura
Clique no ícone para acessar sugestão de leitura sobre definição de guerra.
Para saber mais sobre definição de guerra, leia:
Para saber mais sobre definição de guerra, leia:
· CLAUSEWITZ, Carl von. Da guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Catalisador de mudanças
A intensidade da guerra, muitas vezes, pode agir como um catalisador de mudanças sociais, políticas e econômicas.
A guerra pode acelerar ou colocar em movimento forças de transformação, modificando a indústria, a sociedade e os governos. Tais mudanças são, ao mesmo tempo, fundamentais e permanentes.
Basta olharmos para a década de ouro que se seguiu à Segunda Guerra Mundial.
Apesar da grande destruição causada pelo conflito, dois Estados se beneficiaram enormemente dos esforços de guerra e tiraram vantagens das mudanças provocadas pelo conflito – em especial, com relação aos avanços tecnológicos e industriais.
Isso explica, em parte, a emergência dos Estados Unidos e da União Soviética como superpotências na década de 1950.
Severidade dos conflitos
A diminuição da frequência das guerras tem sido acompanhada do aumento da severidade nesses conflitos. Tal severidade é definida pelo número de mortes relacionadas ao conflito, tanto em termos absolutos quanto em relação à população.
A potencialização da severidade dos conflitos é, em grande medida, produto de avanços tecnológicos responsáveis pela criação de itens como:
Além disso, vale destacarmos alguns avanços recentes, como:
· a utilização de aviões não tripulados (os drones), com capacidade estratégica de longa distância e 
capacidade
Atributo ou propriedade de um ator que, em uma relação de poder, pode ser transformado em um recurso de poder.
Inicialmente, os analistas percebiam as capacidades como propriedades tangíveis e mensuráveis de um ator, tais como quantidade de tropas, reserva de armamentos convencionais e não convencionais, tamanho da população, extensão territorial e indicadores de sucesso econômico, tais como Produto Interno Bruto (PIB), PIB per capita e taxa de crescimento da economia. Esse entendimento de capacidades espelhava uma proeminência do componente militar nas relações de poder.
Por exemplo, a localização geográfica era entendida como uma potencial vantagem ou desvantagem. O fato de o Reino Unido se localizar em um arquipélago foi analisado como uma capacidade que tornou o país menos vulnerável às campanhas militares no continente europeu, durante o século XIX. A percepção de vantagem numérica das capacidades militares da União Soviética, em termos de armamentos nucleares e convencionais, foi a base das críticas ao Salt, nos Estados Unidos, na década de 1970, um acordo de limitação de armas assinado entre as duas superpotências.
Atualmente, elementos não tangíveis, tais como cultura política, natureza do regime político e ideologia, também são considerados capacidades.
· o desenvolvimento de armamento militar padrão, como rifles e lançadores de granadas.
desenvolvimento
De um modo geral, é comum encontrarmos duas correntes de pensamento que abordam o tema.
A corrente ortodoxa tende a entender o desenvolvimento, essencialmente, como crescimento econômico e industrial, medido por meio de indicadores como o produto interno bruto (PIB) ou o PIB per capita de um país. Para os pensadores ortodoxos, o progresso econômico significa a eliminação de uma economia de subsistência em prol da industrialização nacional.
Existe, no entanto, uma visão alternativa acerca do desenvolvimento que encontra as suas origens na década de 1970. Essa última visão defende a expansão do termo "desenvolvimento" para além do seu conteúdo econômico, incluindo também questões sociais, culturais e políticas.
Embora a visão tradicional, ou ortodoxa, sobre o desenvolvimento seja ainda muito importante, a crítica promovida pela visão alternativa vem produzindo uma relativa expansão desse conceito, adicionando-lhe um caráter sustentável, o que indica que o crescimento atual não pode ocorrer em detrimento das gerações futuras. Outro exemplo da expansão de tal conceito consiste no índice de desenvolvimento humano (IDH), um dos principais medidores de desenvolvimento no âmbito das Nações Unidas. De acordo com o IDH, o desenvolvimento é medido com base em três amplos critérios: saúde, acesso à educação e PIB per capita. Como podemos notar, tal índice sintetiza aspectos da visão ortodoxa (PIB per capita) e também da visão alternativa (educação e saúde) acerca do desenvolvimento.
Outro fato
que merece destaque é que essas tecnologias têm estado cada vez mais disponíveis para um número maior de pessoas.
Pequenas potências e expansão
Há uma importante transformação no caráter da guerra nas Relações Internacionais desde o século XX.
Os conflitos, antes dominados pelas grandes potências – Estados que tinham recursos para sustentar um conflito armado a longo prazo –, passaram a ter participação predominante de pequenas potências.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é um exemplo de conflito que, apesar de se concentrar, inicialmente, no espaço europeu, expandiu-se para outras regiões, em especial o Oriente Médio e a África, além de para outras localidades do Sul Global.
Conflitos intraestatais
Desde meados do século XX, a guerra passou de, majoritariamente, um conflito entre Estados para conflitos em Estados.
Atenção!
Conflitos causados por disputas étnicas, religiosas ou culturais, e disputas alimentadas por ideologias nacionalistas ou separatistas influenciaram grande parte dos conflitos intraestatais desde meados do século XX.
ideologias
Conjunto de premissas acerca de como a sociedade funciona ou deveria funcionar.
No campo político, a ideologia pode ser entendida como uma doutrina de pensamento sobre os sistemas políticos nos planos tanto doméstico quanto internacional. Uma ideologia política pode ser representada de maneira explícita (como o marxismo) ou de maneira mais sutil (como o nacionalismo).
Nas relações internacionais, ideologias podem ser fontes de conflito, de poder, de cooperação, etc.
Apesar da sua recorrência, contudo, as mortes causadas por guerras civis têm diminuído desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Esse fenômeno tem demandado uma nova forma de caracterizar a guerra, uma vez que concepções tradicionais assumem que um conflito se torna guerra quando atinge uma severidade mínima de mil mortes relacionadas ao conflito, o que, muitas vezes, não é o caso de conflitos intraestatais.
intervenção
Ação de terceiros, a convite ou de forma imposta, em dado conflito entre partes. Essa ação pode ser articulada por um único ator ou por vários. Nas relações internacionais, as intervenções podem ser verificadas sob três contextos, que são não excludentes entre si.
O primeiro deles corresponde a ações lideradas por um ou mais Estados que buscam satisfazer objetivos de política externa ao interferirem em dado contencioso.
O segundo contexto consiste em ações interventoras articuladas a fim de preservar valores e leis consolidados na comunidade internacional, como a defesa de direitos humanos.
As intervenções podem, ainda, buscar a alteração de dinâmicas e dos seus possíveis resultados, oriundos de conflitos que podem danificar a estrutura do sistema internacional. Nesse último caso, é comum que partes externas ao conflito busquem influenciar os seus rumos por meio do alinhamento com alguma das partes envolvidas.
Vale lembrarmos que intervenções, em seu sentido amplo, não podem ser entendidas meramente como ações militares, devendo incluir também ações mais sutis, como as propagandas e a dominação cultural.
genocídio
Resultado de atos que buscam reduzir ou extinguir determinado grupo étnico, nacional ou religioso. Tais atos podem constituir assassinatos, danos físicos ou psicológicos, deslocamento forçado, controle de natalidade, etc.
O sistema legal internacional não inclui como possíveis alvos de atos genocidas grupos a que os indivíduos podem juntar-se voluntariamente, mas apenas grupos a que pertencem desde o seu nascimento. Isso exclui, por exemplo, grupos políticos, o que vem gerando inúmeras críticas na comunidade internacional.
Causas da guerra
Quais são as causas da guerra? A resposta mais óbvia para essa pergunta é que os Estados, muitas vezes, têm interesses conflitantes sobre temas importantes. Dois ou mais Estados podem, por exemplo, cobiçar um mesmo território.
Segunda Guerra Mundial
O desejo de expansão da Alemanha nazista pela Europa foi uma das causas da Segunda Guerra Mundial.
Guerra do Golfo
Da mesma forma, a tentativa do Iraque de conquistar o Kuwait, em 1990, foi o estopim para a Guerra do Golfo (1990-1991).
Existe uma série de questões pelas quais os Estados lutam. Clique em cada uma delas, a seguir, para obter mais informações.
Território: Historicamente, a luta mais comum diz respeito ao território.
Um estudo recente mostrou que, nos últimos trezentos anos, mais da metade das guerras teve como objetivo central a aquisição de determinado território.
Um território pode ser importante por razões:
· econômicas – pode conter recursos naturais valiosos, por exemplo;
· estratégicas – pode ser o ponto-chave para o lançamento de um ataque contra determinado Estado;
· culturais;
· históricas;
· religiosas ou
· étnicas.
 convicções políticas: Os Estados podem lutar em função de determinadas políticas.
Na Guerra Fria (1947-1991), Estados Unidos e União Soviética, mais de uma vez, intervieram militarmente no chamado Terceiro Mundo. Essas potências acreditavam que o estabelecimento de um determinado regime político (capitalista ou socialista) nos países do Sul Global poderia ser nocivo aos seus interesses.
Da mesma forma, Estados desenvolvendo programas nucleares foram constantemente vistos como ameaça por seus vizinhos, como é o caso, atualmente, do Paquistão e da Índia, e da Coreia do Norte e a China.
política desenfreada de fortalecimento da segurança : Os Estados podem entrar em guerra por conta de uma política desenfreada de fortalecimento da sua segurança. Como o sistema internacional é anárquico, os Estados assumem que a sua segurança depende apenas das suas capacidades. Em outras palavras, os Estados não podem confiar em ninguém para prover segurança.
Por conta disso, os Estados tentarão estar sempre um passo à frente dos seus potenciais inimigos em termos de segurança e capacidade de defesa, mesmo que não haja possibilidade de um conflito iminente.
Como resultado desse fortalecimento das capacidades de defesa, alguns Estados podem-se sentir ameaçados, podendo começar a investir nas suas próprias capacidades.
Já outros Estados podem ler esse comportamento como uma preparação para iniciativas de expansão de poder que busquem, por exemplo, uma conquista territorial.
Como pudemos notar, o movimento por aumento de segurança gera, paradoxalmente, um aumento de insegurança entre os Estados. Esse é o sentido do dilema da segurança, entendido como uma provável causa de guerras.
poder : Os Estados podem lutar por poder. Dessa forma, podem:
· ver como ameaçador o poder crescente de um vizinho e ir à guerra para contê-lo. Por exemplo, podem lutar contra um Estado que parece despontar como um hegemon regional ou contra um Estado que, devido ao seu crescente poder, pode ameaçar a realização dos seus objetivos no plano internacional ou 
· querer, simplesmente, ganhar mais poder por meio da conquista e da dominação de outros Estados, algo cada vez menos comum.
1.5 Arbitragem internacional
A ideia de que Estados vão à guerra simplesmente por interesses conflitantes é, na melhor das hipóteses, incompleta. Afinal, esses Estados poderiam ter recorrido a outros métodos para resolver os seus conflitos.
No século XIX, era comum o uso da arbitragem internacional para a resolução de disputas territoriais. Esse era o princípio do Concerto Europeu, uma tentativa das potências europeias de evitarem um novo conflito da proporção das guerras napoleônicas.
No caso de um conflito iminente entre dois Estados, um representante de um terceiro era chamado para arbitrar o conflito, decidindo a favor de uma das partes.
Essa terceira parte envolvida era reconhecida como neutra por não ter alianças com nenhum dos Estados em questão e por não ter interesse imediato no que estava sendo debatido.
É importante entendermos, detalhadamente, como funciona a interação entre os Estados na ordem internacional.
Na maioria dos sistemas políticos modernos, as disputas entre indivíduos são resolvidas por instituições policiais e jurídicas que asseguram, em uma situação ideal, a manutenção da ordem política
e de um mínimo de controle da violência e do uso da força. O problema é que, no nível internacional, isso não ocorre da mesma forma. Em teorias de política internacional, dizemos que é justamente esse fato que torna o sistema internacional anárquico, pois não há autoridade acima dos Estados nacionais.
Instituições internacionais existem, e uma série delas está voltada para a criação de regras e normas acerca do uso da força, como o Conselho de Segurança da ONU. No entanto, essas instituições carecem dos mesmos mecanismos de constrangimento que as instituições domésticas possuem. Por essa razão, a barganha entre os Estados torna-se um componente muito mais importante no processo de solução de conflitos de interesse.
Comentário
Clique no ícone para acessar comentário sobre a barganha entre Estados nas instituições internacionais e definições-chave de regime de segurança.
barganha entre Estados nas instituições internacionais e definições-chave de regime de segurança
As instituições internacionais são importantes em questões de guerra e paz, pois ajudam os Estados a barganharem mais eficientemente, o que, muitas vezes, evita que conflitos ocorram de fato.
Um Estado pode, por exemplo, utilizar a sua presença em uma instituição para aumentar os potenciais prejuízos para um Estado caso o conflito ocorra. Pode, também, aplicar sanções econômicas ou ameaçar retirar o Estado adversário de determinada instituição. Um Estado pode, ainda, utilizar a sua participação em uma comunidade de segurança, como a Otan, por exemplo, para constranger o adversário a não iniciar um conflito armado. Nesse caso, o Estado que faz parte da Otan pode contar com o apoio dos demais Estados-membros dessa instituição, e só essa possibilidade em si pode constranger um potencial adversário.
A seguir, encontram-se algumas definições-chave de regime de segurança.
Segundo Karl Deutsch, uma comunidade de segurança é um grupo de pessoas que se tornou "integrado". Nas palavras do autor: "Por integração nós entendemos a realização, dentro do território, de um "sentimento de comunidade", e de instituições e práticas fortes o suficiente e difundidas o suficiente para assegurar [...] expectativas dependentes de "mudança pacífica" dentre sua população. Por "sentimento de comunidade" nós entendemos uma crença [...] de que problemas sociais comuns devem e podem ser resolvidos por processos de "mudança pacífica"."
Já Robert Jervis afirma que regimes de segurança ocorrem quando um grupo de Estados coopera para administrar as suas disputas e evitar guerras, procurando silenciar o dilema de segurança tanto pelas suas próprias ações quanto pelas suas suposições a respeito do comportamento dos demais.
Segundo Barry Buzan, um complexo de segurança envolve um grupo de Estados cujas preocupações primárias de segurança estão ligadas de modo tão forte que as suas seguranças nacionais não podem ser realisticamente consideradas de maneira independente.
Por fim, o Relatório Palme de 1992 apresenta a seguinte definição: “a aceitação de segurança comum como um princípio organizacional de esforços para reduzir o risco de guerras, limitar armas e mover-se em direção ao desarmamento significa, em princípio, que a cooperação vai substituir o confronto ao resolver conflitos de interesse. Isso não quer dizer que se deve esperar que diferenças entre nações devem desaparecer [...] o desafio é somente assegurar que esses conflitos não venham a ser expressos por meio de atos de guerra ou em preparações para guerras. Isso significa que nações devem entender que à manutenção da paz mundial deve ser dada uma prioridade mais alta do que assegurar suas próprias ideologias e posições políticas.
Preferência pela diplomacia
Como guerras são custosas, em geral, os Estados preferem resolver as disputas diplomaticamente, se for possível.
Atenção!
Quanto mais eficientes forem os mecanismos de ordem internacional, para facilitar a interação entre os Estados, menor será a incidência de conflito.
ordem internacional
Conjunto padronizado de dinâmicas e comportamentos por meio do qual os Estados se relacionam no sistema internacional.
Atualmente, os Estados interagem com base na Ordem Vestfaliana, acordada em 1648, segundo a qual as unidades soberanas são os Estados, não havendo nenhuma autoridade acima destes.
Constituem dispositivos de ordem nas relações internacionais a balança de poder, a diplomacia e o direito internacional. A estabilidade consiste em elemento-chave de qualquer ordem. Isso não significa, no entanto, que dada ordem necessita ser estática, podendo haver ajustes e mudanças, mas não rupturas.
1.6 Interesses
É importante entendermos como interesses conflitantes podem, ocasionalmente, levar a uma guerra. Mas, de onde vêm os interesses dos Estados?
A resposta mais comum é a seguinte:
Isso, muitas vezes, é verdade. Principalmente, em casos em que a própria sobrevivência do Estado pode estar em jogo, o que, frequentemente, acontece em grandes guerras. Essa visão, no entanto, nem sempre consegue explicar todas as situações.
Existe uma série de conceitos que serve ao analista de Relações Internacionais para identificar as origens dos interesses em determinado conflito. A seguir, listamos dois desses conceitos. Clique em cada um deles para obter mais informações.
política doméstica: O primeiro ponto para o qual devemos olhar é a política doméstica dos Estados.
Há diferentes interesses e ideias dentro de cada Estado, por exemplo, entre as suas elites políticas, os seus grupos de interesse e os seus demais atores.
Sabemos que há muito na política interna dos Estados que pode afetar as decisões de ir ou não à guerra. Por exemplo, embora guerras sejam custosas, seus custos – e potenciais benefícios – não são distribuídos entre toda a população igualmente. Isso significa que alguns setores podem ter interesse direto na guerra porque:
· têm mais a ganhar e menos a perder com os resultados do conflito ou 
· estão em jogo determinadas ideias e princípios que lhes são caros.
Sugestão de leitura
Clique no ícone para acessar sugestão de leitura sobre percepção.
Para saber mais sobre percepção, leia: JERVIS, R. Perception and misperception in international politics. Princeton: Princeton University Press, 1976.
Sugestão de leitura
Clique no ícone para acessar o texto Hoje na história: começa a crise dos mísseis em Cuba.
Para saber mais sobre misperception, leia o texto Hoje na história: começa a crise dos mísseis em Cuba.
ALMAN, Max. Hoje na história: começa a crise dos mísseis em Cuba. História UPF, São Paulo, 14 out. 2010. Disponível em: http://historiaupf.blogspot.com.br/2010/10/hoje-na-historia-comeca-crise-dos.html. Acesso em: 5 abr. 2013.
percepções: A percepção – ou o conjunto de percepções – de um líder ou de um grupo político sobre os interesses e objetivos de outros Estados pode levar à guerra.
Dessa forma, interpretar as ações de um líder erroneamente pode ser muito perigoso quando:
· não há meios seguros de comunicação entre os Estados e 
· já há um clima de desconfiança entre determinados Estados, devido às suas relações em outras áreas.
A misperception (interpretação equivocada de uma ação) pode ser fatal.
Esse poderia ter sido o caso da Crise dos Mísseis entre Estados Unidos e União Soviética em 1962.
percepção
Designa o processo por meio do qual os indivíduos apreendem o cenário em que estão inseridos.
É importante notarmos que tal processo não é objetivo, mas sim marcado por diversas seleções de caráter subjetivo. Isso significa que, ao apreendermos os eventos ou as pessoas em nosso entorno, alguns aspectos serão ressaltados, e outros, menosprezados ou ignorados. Tal seleção varia, ainda, de indivíduo para indivíduo, segundo uma variada gama de características pessoais, como personalidade, contexto e histórico familiar.
No estudo das relações internacionais, considerar as percepções como determinantes para o desfecho de dada situação implica uma análise calcada no primeiro nível, ou seja, focada no comportamento do indivíduo. As percepções individuais costumam ser utilizadas
como ferramentas de análise por estudiosos que buscam compreender processos de tomada de decisão em determinado contexto. Nesse sentido, enfatizam-se as percepções de líderes políticos ou personagens influentes, e os efeitos produzidos por estes no desfecho de dada situação.
Vale lembrarmos que as percepções individuais constituem a base de ação dos tomadores de decisão, moldando as possíveis respostas aos estímulos do cenário que os cerca.
misperception
Erro de apreensão ou compreensão, originando uma percepção incorreta acerca de determinada situação.
O conceito possui caráter marcadamente subjetivo, uma vez que pressupõe uma maneira correta e outra incorreta de se apreender a percepção individual. Como a percepção é, em si, um procedimento que varia de indivíduo para indivíduo, os mesmos aspectos de uma mesma realidade podem ser apreendidos de diferentes formas, por diferentes pessoas.
Além disso, a avaliação acerca de dada percepção só pode ser feita após a ocorrência do fato. Em outras palavras, só é possível avaliar se houve uma percepção errônea após o desfecho de dada situação.
Apesar das disputas domésticas sobre ir ou não à guerra, a menos que a guerra seja altamente impopular domesticamente – como foi a Guerra do Vietnã a partir dos anos 1960 –, um Estado em guerra, geralmente, é um Estado internamente pacífico. Isso acontece porque conduzir uma guerra requer um alto grau de coordenação e cooperação doméstica.
Vejamos um dos paradoxos da guerra:
UNIDADE 2
Direito internacional e guerra
A guerra é uma das atividades mais destrutivas das nossas sociedades. À medida que os séculos passaram, novas tecnologias e instituições tornaram os conflitos armados cada vez mais violentos.
Pacifismo e belicismo
Além de terem de explicar por que a guerra ocorre, muitos analistas de Relações Internacionais buscam entender as questões morais por trás do uso da força na ordem internacional. Vejamos:
pacifismo :Corrente que acredita que não há motivos ou razões suficientes para que sociedades entrem em guerra, e que a força não deve ser empregada para atingir nenhuma forma de objetivo.
belicismo: Corrente que afirma que a guerra não só é parte integral da experiência humana como também é um evento desejável, pois provoca a renovação das sociedades.
Teoria da Guerra Justa
Uma das tradições mais importantes de pensamento no belicismo diz respeito à Teoria da Guerra Justa, uma teoria que ficaria no meio do caminho, entre o pacifismo e o belicismo.
A Teoria da Guerra Justa (ou conjunto de teorias) tem um importante componente normativo: busca prescrever como o Estado ou os agentes que atuam em seu nome devem agir em situações de conflito armado para tentar limitar as consequências destrutivas da guerra.
guerra justa: Tentativa de estabelecer uma série de condições morais e legais segundo as quais uma guerra poderia ser classificada como justa (legítima) ou injusta (ilegítima).
A guerra justa apoia-se em dois pilares: o jus ad bellum e o jus in bello. O jus ad bellum refere-se ao direito de começar ou não uma guerra. Uma vez iniciada a guerra, o jus in bello refere-se às condutas corretas e incorretas das partes durante o conflito.
Ao estudarmos o conceito de guerra justa na disciplina de Relações Internacionais, o teórico Hugo Grotius é uma das mais importantes referências. Para Grotius, uma guerra pode ser considerada justa caso a sua origem se deva a uma ou mais das seguintes causas: legítima defesa, proteção de direitos, busca de compensações mediante prejuízos ou punição de atores que estejam agindo de maneira ilegal.
Vale mencionarnos, entretanto, que a classificação de uma guerra de acordo com essas condições é, ao menos em parte, uma tarefa subjetiva, variando de acordo com o ponto de vista das diferentes partes envolvidas no conflito.
Em grande parte, esse conjunto de teorias se baseia:
A Teoria da Guerra Justa se apoia em dois grandes pilares:
· jus ad bellum (direito de ir à guerra) – refere-se ao direito de começar ou não uma guerra e
· jus in bello (direito na guerra) – refere-se às condutas corretas e incorretas das partes durante o conflito.
Tradição filosófica ocidental
Referências a como devem ser travadas as guerras e a quais guerras são moralmente aceitáveis são encontradas em toda a tradição filosófica ocidental, como em Platão, Agostinho e Cícero, segundo o qual a guerra deveria ser combatida de forma justa.
Alguns desses pensadores, como os gregos e os romanos, apoiavam-se em preceitos religiosos e morais pré-cristãos. Outros, como Agostinho e Tomás de Aquino, foram também profundamente influenciados pelas suas interpretações da moral religiosa cristã.
Muitos dos princípios defendidos por esses pensadores clássicos não são mais considerados válidos na guerra moderna, como o direito à escravização de povos derrotados, que era defendido por Aristóteles.
Outros princípios, como o direito dos prisioneiros de guerra receberem um tratamento digno, defendido por muitos pensadores na antiguidade, estão sendo ou foram revistos junto ao movimento pela defesa dos direitos humanos no século XX.
Fontes do Direito da guerra
Assim como ocorre com outros princípios do Direito Internacional, o Direito da guerra tem como fontes:
· princípios gerais;
· leis consuetudinárias;
· tratados formais;
· precedentes estabelecidos em casos julgados em cortes e 
· escritos de juristas.
As Convenções de Haia (1899 e 1907) e suas regulações, bem como as Convenções de Genebra e seus Protocolos, representam a codificação do moderno Direito sobre a guerra.
Clique nos conceitos a seguir para melhor entendê-los.
· jus ad bellum: O direito de ir à guerra (jus ad bellum) depende de haver uma causa justa, como quando um Estado é invadido por outro, constituindo um ato de agressão.
A decisão de ir à guerra, contudo, só pode ser tomada por uma autoridade legítima dentro do Estado, ou seja, uma guerra não pode ser declarada por qualquer um. Pode haver discordâncias sobre quem seria uma autoridade legítima. No entanto, geralmente, essa autoridade se caracteriza pelos corpos políticos ou pelos representantes determinados constitucionalmente para tal.
Além disso, a resposta deve ser proporcional à agressão. Deve também haver alguma chance de sucesso, senão o esforço de ir à guerra seria apenas uma forma de dar fim a vidas.
A guerra deve ser, ainda, o último recurso disponível. Em outras palavras, os Estados devem recorrer a outras formas de resolução do conflito antes de ir à guerra.
· jus in bello:O direito na guerra (jus in bello) busca definir um conjunto de princípios morais cujo objetivo é restringir a destruição causada pela guerra ao que for militarmente necessário. No entanto, esse é um princípio facilmente sujeito à manipulação, pois é difícil definir o que é "militarmente necessário".
De acordo com o jus in bello, o emprego militar necessário é somente aquele destinado a destruir a capacidade militar do inimigo, ou seja, bases militares, sistemas de transporte, etc. Dessa forma, o emprego militar necessário tem como alvos apenas as forças militares e as partes da infraestrutura da sociedade que contribuam diretamente para o esforço de guerra.
Não combatentes
Durante a guerra, precisamos distinguir entre combatentes e não combatentes.
Não combatentes não devem ser tomados como alvos de guerra, assim como prisioneiros de guerra. Estes, embora combatentes, devem ser considerados uma categoria à parte, pois não têm condição de defender-se enquanto prisioneiros.
Atenção!
Os defensores da Teoria da Guerra Justa acreditam que matar não combatentes pode ser moralmente aceitável apenas quando isso resultar de uma ação destinada a enfraquecer as capacidades militares do inimigo.
Exemplo
Clique no ícone para acessar um exemplo de situação aceitável de morte de não combatentes.
situação aceitável de morte de não combatentes
Alguns juristas internacionais, ao analisarem as ações realizadas na Segunda Guerra Mundial, argumentam que poderia ser aceitável matar operários ao bombardear uma fábrica à noite, quando se espera que
haja menos pessoas dentro dela. Por outro lado, segundo tais juristas, seria inaceitável bombardear um vilarejo de operários, pois estes não poderiam mais trabalhar na fábrica.
Uso de armas
O uso de armas pode ser moral ou não, especialmente com relação às armas convencionais. Esse é o caso de mísseis, bombas convencionais e armamentos, como rifles, minas e granadas.
Muitos defendem que há alguns tipos de armas cuja utilização não pode ser moral devido ao seu caráter de destruição ilimitada. O uso de tais armas desfaz, muitas vezes, a distinção entre combatentes e não combatentes e, por isso, não há emprego que justifique moralmente a sua utilização. São exemplos desses tipos de arma:
armas químicas e biológicas
bombas nucleares
Ao longo da década de 1920, a Liga das Nações tentou estabelecer um sistema formal que:
· regulasse o uso da força nas relações internacionais e 
· substituísse as coalizões de defesa coletiva formadas aleatoriamente e baseadas em critérios de força, poder e hierarquia por um sistema de segurança coletiva, fundado no Direito Internacional.
No entanto, os diversos conflitos e as intervenções que ocorreram na década de 1930 provaram o fracasso dessa iniciativa.
Para evitar um novo fracasso, a Carta das Nações Unidas tenta ser mais específica quanto aos critérios utilizados para definir quando e por que o uso da força pode ser empregado.
Comentário
Clique no ícone para acessar comentário sobre problemas com a segurança coletiva e principais tratados legais constitutivos do sistema estatal legítimo.
problemas com a segurança coletiva e principais tratados legais constitutivos do sistema estatal legítimo
John Mearsheimer argumentou que a segurança coletiva é, inescapavelmente, uma falha. O autor sugere nove grandes motivos para tal falha:
1. Estados, normalmente, têm dificuldade, senão incapacidade, de definir agressor e vítima em conflitos internacionais.
2. A segurança coletiva presume que toda agressão é errada, enquanto pode haver circunstâncias nas quais a conquista é essencial contra um vizinho ameaçador. 
3. Alguns Estados são especialmente amigáveis por motivos históricos ou ideológicos. Dessa forma, é pouco provável que participem de uma coalizão contra os seus parceiros.
4. Inimizades históricas entre Estados podem complicar o efetivo trabalho do sistema de segurança coletiva. 
5. Estados soberanos tendem a evitar pagar o preço de negociar com agressão, pois há grande dificuldade de distribuir os custos igualmente. 
6. As dificuldades aumentam ao se garantir uma rápida resposta a agressões por causa da falta de vontade de se comprometer com um planejamento de contingência pré-crise.
7. Estados, normalmente, relutam em participar de uma coalizão, pois é provável que a ação coletiva transforme um conflito local em um conflito internacional. 
8. Democracias relutam em aderir a um compromisso automático que as leve a participar de uma ação coletiva por causa da soberania estatal. 
9. A segurança coletiva implica uma contradição na forma como a força militar é vista – ela é vista como detestável e, no entanto, Estados devem desejar usá-la contra um agressor. 
Vejamos os principais tratados legais constitutivos do sistema estatal legítimo: 
· Tratados de Vestfália (1648) – os tratados de Osnabruck e Munster, que juntos formam a Paz de Vestfália, encerraram a Guerra dos Trinta Anos e foram cruciais para delimitar os direitos políticos e a autoridade dos monarcas europeus. Entre outros aspectos, esses tratados garantiram aos príncipes alemães os direitos de manter forças armadas permanentes, construir fortificações e cobrar taxas. 
· Tratados de Utrecht (1713) – os tratados de Utrecht, que encerraram as guerras da Sucessão Espanhola, consolidaram o caminho para a soberania territorial na Europa. No entanto, tais tratados pouco abordam os temas do aspecto territorial do Direito soberano e do domínio geográfico, sobre o qual tais direitos poderiam se estender. Ao estabelecer que os limites territoriais fixos, e não os laços familiares, deveriam definir o alcance da autoridade soberana, os tratados de Utrecht foram cruciais no estabelecimento da relação atual entre a autoridade soberana e os limites territoriais. 
· Tratado de Paris (1814) – encerrou as guerras napoleônicas e abriu caminho para o Congresso de Viena (1814-1815). Esse, por sua vez, definiu a natureza do sistema pós-guerras napoleônicas e abriu caminho para o Concerto Europeu. O Concerto é comumente responsabilizado pela limitação do poder do soberano durante o estado de guerra na segunda metade do século XIX, mas é também considerado uma instituição utilizada para fortalecer a autoridade monárquica e combater movimentos liberais e nacionalistas na Europa. 
· Tratado de Paz de Versalhes (1919) – encerrou, formalmente, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Tal tratado estabeleceu a Liga das Nações, especificou os direitos e as obrigações dos poderes vitoriosos e derrotados – incluindo o notório regime de repartições da Alemanha – e criou o sistema mandatório sob o qual nações avançadas receberam a tutela legal dos povos colonizados. 
· Carta das Nações Unidas (1945) – regime legal que criou as Nações Unidas como a única organização supranacional do sistema internacional. A Carta define a estrutura das Nações Unidas, os poderes das agências constitutivas, e os direitos e as obrigações dos Estados soberanos para a Carta. A Carta das Nações Unidas é o principal documento legal que limita o uso da força às instâncias de autodefesa e que busca o estabelecimento da paz coletiva, apoiado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. 
· Declaração da Garantia de Independência aos Países e Povos Colonizados (1960) – apesar de não ser um documento legal, a Resolução 1514 (XV) da Assembleia Geral sinalizou a deslegitimização normativa do colonialismo europeu e foi crucial no estabelecimento do direito da autodeterminação, que, por sua vez, facilitou a descolonização dos impérios europeus.
Sugestão de leitura
Clique no ícone para acessar sugestão de leitura sobre regulação da força.
regulação da força: Para saber mais sobre regulação da força, leia:
· MEARSHEIMER, J. A tragédia da política das grandes potências. Lisboa: Gradiva, 2007.
Neste livro, o autor busca analisar as estratégias utilizadas por grandes potências para defender os seus interesses no sistema internacional e as suas consequências. A argumentação apresentada, conhecida como realismo ofensivo, defende que a anarquia do sistema internacional gera situações de dominação por parte dos países mais poderosos frente aos demais.
Força essencial
Vista por uma perspectiva pragmática, o uso da força permanece como um elemento essencial das relações internacionais.
No entanto, em um sistema anárquico, não existe um governo central ou uma autoridade geral capaz de fazer valer o conteúdo do Direito Internacional para todos os Estados. Nesse caso, as entidades soberanas nem sempre observam o que o Direito Internacional tem a dizer sobre o uso da força, especialmente, os seus critérios e as suas restrições.
Por vezes, os próprios Estados escolhem ignorar ou violar os princípios do Direito Internacional para atingir os seus objetivos. Em outras ocasiões, as violações são justificadas a partir de variadas interpretações do Direito Internacional, de forma a fundamentar o que os Estados já fizeram ou planejam fazer.
De uma forma geral, é importante lembrarmos que uma guerra não é totalmente determinada pela decisão de um grupo ou de um Estado de lutar.
UNIDADE 3
Tendências no caráter da guerra
Devido à globalização, apesar de serem mais localizadas, as guerras contemporâneas envolvem uma ampla gama de redes internacionais de atores.
Mudanças
A seguir, estão listados alguns fenômenos que afetaram o caráter da guerra nas últimas décadas. Clique em cada um deles para obter mais informações.
avanço tecnológico 
avanço tecnológico
Um dos fenômenos que têm alterado o caráter da guerra é o incrível avanço tecnológico no setor militar.
Alguns proponentes da chamada Revolução
em Assuntos Militares (RAM) afirmam que recentes e futuros avanços tecnológicos significam que as operações militares serão conduzidas com tal grau de velocidade, precisão e destruição seletiva que o caráter da guerra será transformado em definitivo.
Apesar de ser verdade que as mudanças tecnológicas têm transformado o caráter da guerra, não podemos reduzir a guerra a tecnologias e táticas. Em outras palavras, não podemos simplificar um fenômeno que também é composto de fatores não tecnológicos.
Comentário:Clique no ícone para acessar comentário sobre conflitos assimétricos.
Conflitos assimétricos
A distribuição desigual de capacidades tecnológicas tem produzido os chamados conflitos assimétricos, em que há uma grande disparidade de capacidades militares entre os oponentes. Nesse caso, as estratégias mais empregadas envolvem fazer das bases políticas domésticas do inimigo e das suas capacidades militares os alvos principais.
No entanto, os proponentes da RAM ignoram como os oponentes de um Estado tecnologicamente avançado podem utilizar respostas assimétricas ou não convencionais – luta de guerrilhas, insurgências ou o terrorismo, por exemplo – para compensar a distribuição desigual de tecnologias.
O desenvolvimento da Guerra no Iraque após 2003 é um exemplo. Se os políticos e militares americanos acreditavam que a superioridade tecnológica dos Estados Unidos seria responsável por uma vitória não custosa e rápida, a duração do conflito e as táticas não convencionais empregadas por grupos iraquianos provaram o contrário.
banalização 
Uma mudança importante apontada por estudiosos e analistas é o perigo da banalização da guerra na sociedade contemporânea. Apesar da diminuição da recorrência de guerras desde meados do século XX, a transmissão e a veiculação de imagens relacionadas a conflitos armados podem ter, atualmente, um efeito inverso ao que tiveram durante a década de 1970.
Ao final da Segunda Guerra Mundial, as consequências brutais em termos de mortes e destruição foram tão intensas que conseguiram provocar uma aversão à guerra por parte das gerações seguintes. Esse fato foi intensificado pelas primeiras transmissões de conflitos realizadas pela televisão, que divulgou imagens quase simultâneas da Guerra no Vietnã.
Esse mesmo fenômeno pode, no entanto, estar causando uma banalização da violência atualmente.
Podemo-nos questionar, portanto:
· É possível afirmar que a constante transmissão de imagens de guerras e conflitos armados tem contribuído para banalizar o fenômeno da guerra?
· As pessoas estão se acostumando com a presença da guerra e acreditando que ela é um fenômeno integral, ou mesmo inexorável, da vida internacional?
privatização 
Em algumas partes do mundo, o Estado não é mais o principal agente condutor da guerra porque:
· transferiu, conscientemente, funções militares para autoridades privadas ou corporações e 
· teve suas funções militares tomadas por outros atores políticos.
Esses fenômenos refletem uma tendência mais geral: a de privatização dos bens públicos.
Existe uma indústria militar que vem se desenvolvendo com base na premissa de que oferece serviços relacionados à guerra para os Estados – especialmente, nas áreas de segurança e logística – mais que no combate direto, produzindo uma terceirização da guerra. Esses serviços estão mais relacionados com as áreas de segurança e logística, e menos com o combate direto.
Centenas de empresas militares privatizadas (EMP) têm operado em mais de cinquenta países desde o fim da Guerra Fria.
Por meio do fornecimento de treinamento e equipamento, as EMPs têm influenciado o resultado de várias guerras recentes, incluindo as guerras em Angola, na Croácia, na Etiópia e em Serra Leoa, além de terem tido um papel predominante na invasão do Iraque em 2003.
guerras virtuais 
As chamadas "guerras virtuais" prometiam guerras livres de mortes nos anos 1990.
Nas últimas décadas, as democracias têm demonstrado uma forte recusa em tolerar conflitos com alto número de mortes ou conflitos prolongados, fatores que podem desfazer o apoio público doméstico em prol dos esforços de guerra.
Nas democracias, a relação entre a elite política e a sociedade geral é mais complexa, já que os políticos querem ser reeleitos pelas suas constituintes. Isso significa que uma decisão política vista como errada ou fortemente impopular pode ameaçar a continuidade de um político ou mesmo de um partido no poder.
Esse foi o caso das guerras no Iraque e no Afeganistão para com a administração de Bush nos Estados Unidos.
Comentário: Clique no ícone para acessar comentário sobre guerras virtuais.
guerras virtuais
A ideia de uma guerra virtual é a promessa de uma vitória militar isenta de grandes mortes. Essa promessa, a princípio, seria cumprida pelos avanços tecnológicos, como a dominação do ciberespaço, da tecnologia aérea, de meios de comunicação e de inteligência.
Esse era o objetivo da intervenção da Otan na Iugoslávia, em 1999: fazer uma intervenção limpa, com o mínimo de mortes possível. No entanto, para os civis vítimas do conflito étnico em Kosovo, essa promessa não chegou a ser realizada.
A guerra não é um fenômeno virtual, realizada no ciberespaço ou nas telas. Ela é, essencialmente, uma atividade física caracterizada pelo uso da violência.
Guerras hiperbólicas
Uma característica da guerra moderna está no que Raymond Aron chamou de guerra hiperbólica, em que as crescentes escala e intensidade da guerra são alimentadas pelas pressões dos avanços tecnológicos e industriais.
O advento da Revolução Industrial e das democracias populares produziu a nacionalização da guerra, em que os esforços de guerra passam a envolver a totalidade da sociedade.
Esse é o advento da guerra total, em que, cada vez menos, distingue-se entre os esforços militares e os esforços civis, produzindo eventos como:
A barbaridade das guerras não é um fenômeno exclusivamente contemporâneo. Muitas guerras não são mais orientadas pelos princípios do Direito Internacional, e sim por princípios locais, de costume ou de religião. Além disso, muitas vezes, o que pode ser visto como violência sem sentido tem sido, de fato, utilizado para ganhar vantagem militar, mais do que pelo simples motivo de infligir sofrimento à população ou auferir ganhos econômicos.
Globalização da guerra moderna
A guerra moderna também tem sido afetada pelo processo de globalização.
Devido à globalização, apesar de serem mais localizadas, as guerras contemporâneas envolvem uma ampla gama de redes internacionais de atores. Navegue pelas setas para conhecê-los.
1. As organizações não governamentais, como a Oxfam, a Human Rights Watch, a Cruz Vermelha Internacional e a Médecinssans Frontières.
2. A mídia, com o seu exército informal de repórteres, que, cada vez mais, passam de observadores a partes integrais do conflito. 
3. As forças militares estrangeiras.
4. Os representantes de instituições internacionais, como a Unicef, o Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas, a Organização para Unidade Africana e a Organização para Segurança e Cooperação na Europa.
5.Os diplomatas.
UNIDADE 4
Novas guerras
Uma das características das novas guerras é que esses eventos têm sido cada vez mais marcados e orientados por questões culturais e de identidade.
Nova categoria
Mary Kaldor sugeriu que uma nova categoria de guerras teria emergido a partir de meados dos anos 1980: as chamadas novas guerras.
Na década de 1990, 95% dos conflitos armados ocorreram dentro dos Estados, e não entre Estados. O fenômeno por trás dessas novas guerras seria a globalização, que envolve tanto integração quanto fragmentação, homogeneização e diversificação.
Mary Kaldor: Professora de Governança Global na London School of Economics and Political Science, é autora de livros como Human security: reflections on globalization and intervention (2007). Já lecionou na Universidade de Sussex.
Suas pesquisas são focadas em temas como Sociedade Civil Global, Segurança Europeia, Novas Guerras e Segurança Humana.
Esses conflitos são
tipicamente baseados na desintegração do Estado e nas subsequentes lutas pelo controle por grupos oponentes. Tais grupos estão, ao mesmo tempo, tentando impor a sua própria definição de identidade nacional, do Estado e da sua população.
Assim como as guerras modernas teriam contribuído para a emergência da figura do Estado a partir do século XVI, as novas guerras estariam levando à desintegração, ao colapso e à falência dos Estados. Além disso, muito da pressão que esses Estados sofrem vem do processo de globalização no sistema internacional.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre as chamadas novas guerras.
Novas guerras
Segundo Rotfeld, atualmente, o ambiente de segurança internacional é bem mais complexo do que tinha sido durante a era de bipolaridade da Guerra Fria. A radicalmente reduzida ameaça de uma guerra mundial tem sido substituída pela realidade de conflitos entre Estados que ameaçam a segurança estável nos níveis doméstico e regional. Um sério desafio para o sistema internacional é o crescente número de Estados fracos, ou até falidos, e a sua falta de habilidade em controlar desenvolvimentos nos seus próprios territórios.
Fonte: ROTFELD, Adam Daniel. Novas guerras. In: SIPRI Yearbook 1998. Oxford: Oxford University, 1998.
Estados falidos:
A falência de um Estado ocorre quando lhe falta a capacidade de satisfazer as necessidades básicas dos seus cidadãos, como a necessidade de segurança. Trata-se de um termo utilizado, geralmente, para caracterizar Estados que se encontram em um contexto de crise política ou econômica aguda, o que compromete o funcionamento das suas instituições públicas.
Em um Estado falido, é comum encontrarmos a proliferação de organizações políticas não estatais que almejam controlar o poder público, na medida em que o Estado vai perdendo controle sobre o seu território e as suas instituições. A partir do momento em que um Estado é caracterizado como falido, abre-se o precedente para intervenções externas que busquem corrigir a situação.
Comentário:Clique no ícone para acessar um comentário sobre incapacidade de geração de riqueza por causa das novas guerras.
incapacidade de geração de riqueza por causa das novas guerras
Nos lugares onde ocorrem as novas guerras, a economia é incapaz de gerar riqueza para a sociedade, de forma que a capacidade do Estado de coletar impostos e de se organizar a partir dessa arrecadação cai profundamente, comprometendo a integridade das estruturas desse mesmo Estado.
Características
Uma das características das novas guerras é que esses eventos têm sido cada vez mais marcados e orientados por questões culturais e de identidade.
Uma das explicações dadas para essa mudança é a de que ela é uma reação ao processo de globalização, que, cada vez mais, tem destruído as noções tradicionais de classe e ideologia, ao mesmo tempo em que coloca grande importância na capacidade agregadora de sentimentos identitários e culturais.
Outra consequência da globalização é a própria ameaça de sobrevivência de algumas culturas e das suas identidades.
Muitos argumentam que esse é um dos motivos por trás do aumento do terrorismo global islâmico nas últimas décadas, uma resposta à crescente ameaça de dominação das suas culturas e sociedades por valores e estruturas ocidentais ou por noções secularistas.
A seguir estão listadas algumas características das novas guerras. Clique em cada uma delas para obter mais informações.
gênero e idade : A relação entre identidade e guerra também está mudando em termos de gênero e das idades dos combatentes.
Uma das principais consequências disso é que a tradicional distinção entre combatentes militares e civis fica cada vez menos clara ou desaparece totalmente.
Há também uma tendência ao aumento da participação de mulheres nos conflitos armados. As mulheres passaram de auxiliares nos campos de combate – como o movimento de enfermeiras voluntárias na Primeira Guerra Mundial – para combatentes uniformizadas e mulheres-bomba suicidas.
Crianças também têm tomado parte nas guerras, não mais apenas como vítimas – como os milhares de órfãos produzidos pela Segunda Guerra Mundial – mas também como combatentes armados.
grupos paramilitares : O crescimento de grupos paramilitares é uma das características mais notáveis das novas guerras.
Grupos paramilitares, nesses conflitos, podem incluir polícia armada, guardas de fronteira, forças de segurança interna e exércitos privados. Geralmente, tais grupos são mais fortemente armados que as forças policiais, mas menos equipados do que os exércitos regulares.
Grupos paramilitares podem ser rapidamente reunidos, treinados e equipados, o que faz deles um recurso atraente para emprego nas novas guerras.
sistema vestfaliano : Assim como a guerra contribuiu para a emergência do Estado, o caráter da guerra como um conflito armado entre Estados, lutado por corpos organizados e armados de homens, está intimamente relacionado com a emergência do sistema de Estados vestfaliano.
Antes, as guerras eram reguladas por atos formais, incluindo declarações de guerra, leis de neutralidade e tratados de paz. No entanto, à medida que o sistema de Estado se adapta e responde às novas formas de interação produzidas pela globalização, também esse tipo de guerra moderna se adapta às novas circunstâncias.
As características subestatais das guerras contemporâneas são proeminentes na medida em que elas são lutadas de forma que o monopólio do uso da força pelo Estado passa a ser, cada vez mais, questionado e desafiado tanto de dentro quanto de fora.
Esse é o perfil dos conflitos na República Democrática do Congo, na Bósnia e no Sudão.
desenvolvimento econômico : A relação complexa entre grupos não tradicionais e a guerra não está reservada a grupos paramilitares, terroristas e organizações criminosas.
A predominância de intervenções humanitárias nas últimas décadas e a crença de que o desenvolvimento econômico age como uma forma de evitar o conflito armado fez com que alguns órgãos estivessem, cada vez mais, interconectados nos conflitos armados, em áreas como o Oriente Médio, os Balcãs e a África.
São órgãos como:
· agências da ONU;
· instituições internacionais;
· organizações que trabalham com ajuda externa e desenvolvimento;
· forças armadas e 
· empresas privadas de segurança.
As causas do conflito doméstico estão cada vez mais relacionadas ao subdesenvolvimento, de forma que questões relacionadas à pobreza, ao desenvolvimento, à estabilidade e à paz têm sido, cada vez mais, vistas como intimamente conectadas com padrões de insegurança.
relação entre novas guerras e suporte econômico : A relação entre as novas guerras e o suporte econômico-financeiro para a sua realização é distinta daquela das guerras modernas.
As economias que sustentam as novas guerras são descentralizadas e altamente dependentes de investimentos externos.
Em uma situação de desemprego alto, a população é uma fonte constante de recrutamento. No entanto, nas novas guerras, a participação da população é, em geral, baixa.
Dessa forma, as unidades de combate são financiadas por meio de:
· mercado negro;
· pilhagem;
· lucro resultante de atividades criminais – sequestro de pessoas, tráfico de drogas e de pessoas, lavagem de dinheiro;
· desvio de recursos provenientes de ajuda externa e 
· financiamento externo.
Nesse contexto, as unidades de combate não são financiadas por meio da arrecadação de impostos, como é o caso das guerras modernas conduzidas pelo Estado.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre características das novas guerras.
características das novas guerras
Sobre a participação de crianças na guerra, podemos afirmar que:
· crianças lutam em cerca de 3/4 dos conflitos contemporâneos e podem chegar a representar 10% do total de combatentes atualmente;
· crianças-soldados estão presentes em todos os continentes hoje em dia, mas têm sido uma característica predominante na África;
· na guerra civil na Serra Leoa (1991-2002), aproximadamente 70% dos combatentes tinham menos de 18 anos.
As guerras
contemporâneas, em geral, são lutadas por:
· milícias;
· guerrilhas;
· grupos paramilitares;
· exércitos particulares de senhores locais;
· empresas de segurança privada;
· organizações criminosas e
· grupos tribais.
Em relação às causas do conflito doméstico e aos padrões de insegurança, podemos dizer que o conceito de segurança passou a incluir noções de segurança humana, segurança alimentar, desenvolvimento e direitos humanos. Por outro lado, isso também tem significado uma grande vontade política por parte dos Estados desenvolvidos de verem as guerras como uma questão de subdesenvolvimento e instabilidade política, entendendo a presença desse tipo de insegurança social e política como uma justificativa para as guerras de intervenção.
No que tange à relação entre novas guerras e suporte econômico, embora muitas características das chamadas novas guerras estejam, de fato, presentes em muitos conflitos armados ao longo da história – e, especialmente, durante a Guerra Fria –, podemos argumentar que esses conflitos têm sido alimentados por algumas mudanças produzidas pelo processo de globalização, que, em alguns casos, enfraqueceu Estados, criou economias paralelas e privatizou a segurança.
As condições para essas novas guerras também são criadas pela incapacidade de determinados governos exercerem algumas das funções tradicionalmente associadas ao Estado-Nação.
Exemplo
Clique no ícone para acessar exemplos de intervenção humanitária.
intervenções humanitárias
São exemplos de intervenções humanitárias:
· ocupação do Haiti pelos Estados Unidos (1915);
· operação das Nações Unidas no Congo (1964);
· intervenção dos Estados Unidos na República Dominicana (1965);
· intervenção do Vietnã em Camboja (1978);
· guerra Uganda-Tanzânia (1979);
· Iraque (1991), Operação Proporcionar Conforto;
· Força Tarefa Unificada na Somália (1992);
· Operação Uphold Democracy no Haiti (1994);
· Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda (1994);
· Administração de Transição das Nações Unidas para o Timor-Leste (1999);
· bombardeamento da Iugoslávia pela Otan (1999) e
· intervenção militar na Líbia (2011).
A Operação Proporcionar Conforto, no Iraque, e o bombardeamento da Iugoslávia pela Otan ocorreram mesmo sem ter havido autorização da ONU.
Intervenção humanitária
A questão da intervenção humanitária coloca um desafio para uma sociedade baseada nos princípios de:
· não intervenção;
· soberania e 
· uso limitado da força.
Esse desafio se dá por conta de os princípios humanitários estabelecidos pela sociedade internacional após o fim da Segunda Guerra Mundial, frequentemente, entrarem em conflito com os princípios de soberania e não intervenção.
Tais princípios humanitários têm relação com:
· a proteção aos civis;
· as leis contra o genocídio e 
· o estabelecimento dos direitos humanos básicos.
Sobre os conflitos gerados pelos princípios humanitários, podemo-nos questionar: 
1: Como a sociedade internacional deve agir perante Estados que abusam, ativamente, dos seus cidadãos ou falham em protegê-los?
2 : Que responsabilidade outros Estados e instituições internacionais têm de defender e promover os direitos humanos em Estados que, claramente, violam tais direitos massivamente?
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre responsabilidade nas Relações Internacionais.
responsabilidade nas Relações Internacionais
Na esfera das Relações Internacionais, um país responsável passou a ser visto como aquele mais preocupado com a separação entre as esferas doméstica e internacional, além de mais empenhado em promover a segurança dos indivíduos dentro do seu território, fomentando formas legítimas de representação e governança democrática.
Enquanto a concepção anterior de sociedade internacional se baseava em uma compreensão de soberania que enfatizava a liberdade de ação independente e os princípios de não intervenção e não interferência, no pós-Guerra Fria, os atores não estatais e novos regimes focaram o gerenciamento de um sistema global mais interdependente. A preocupação passou a ser, portanto, com a promoção de uma convergência em direção a valores comuns, com foco na soberania dos indivíduos, e não dos países.
Histórico de ilegitimidade da intervenção humanitária
A intervenção humanitária armada não foi uma forma legítima de intervenção durante a Guerra Fria. Isso porque os Estados valorizavam mais manter o princípio da soberania intocado – um Estado é soberano sobre seu território – do que defender os direitos humanos, os quais também só ascenderam como um regime respeitado de Relações Internacionais a partir do final da década de 1970.
Esse padrão começou a mudar durante a década de 1990, com a expansão das novas guerras. Navegue pelas setas para compreender melhor como ocorreu a autorização para as intervenções humanitárias.
1: A sociedade internacional, no pós-Guerra Fria, passou a clamar por normas que defendessem os direitos humanos e que protegessem os civis ameaçados de genocídio e assassinatos em massa.
A norma que começava a emergir, contudo, ainda era fraca – em nenhum momento, o Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizou uma intervenção armada contra um Estado soberano em pleno funcionamento, embora já tenham ocorrido intervenções sem a autorização do Conselho.
2: Ao mesmo tempo, alguns Estados (especialmente, no Sul Global) demonstraram preocupações com o fato de que intervenções humanitárias poderiam ser um "presente de grego", ou seja, uma oportunidade para que países fortes interviessem na política doméstica dos mais fracos.
3: Enquanto isso, atores não estatais e Estados liberais tentavam criar um consenso em torno do conceito de "responsabilidade de proteger."
4: Ao final da década de 1990, as intervenções passaram a ser autorizadas ou não pelo Conselho de Segurança da ONU.
Para tanto, o Conselho recorre ao capítulo VII da Carta das Nações Unidas, que permite o emprego de força militar somente em casos em que há ameaça à paz e à segurança internacional.
5: Desde o início da década de 1990, o Conselho inclui na lista de fontes de ameaça o sofrimento humano, a falência do Estado, a retirada de governos democráticos, os movimentos de refugiados e de limpeza étnica.
Refugiado Indivíduo que busca abrigo fora do seu Estado-nação mediante perseguições sistemáticas de caráter racial, religioso, cultural, étnico, político, etc. 
Nesse sentido, o refugiado configura um indivíduo que não pode ser protegido pelo seu Estado de origem e, por isso, necessita de assistência externa.
6: Ao longo do tempo, as intervenções têm sido mais bem-sucedidas em parar matanças imediatas do que em construir um cenário pacífico de longa duração.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre documentos selecionados sobre o desenvolvimento do sistema das Nações Unidas nas últimas décadas.
documentos selecionados sobre o desenvolvimento do sistema das Nações Unidas nas últimas décadas
Documentos relacionados ao desenvolvimento de organizações econômicas e sociais:
A/32/197, Dez. 1977 – foi a primeira grande resolução da Assembleia Geral pela reforma das organizações econômicas e sociais.
A/48/162, Dez. 1993 – consistiu em um passo fundamental em direção à reforma de organizações sociais e econômicas, especialmente a Ecosoc.
Documentos relacionados ao desenvolvimento da atuação das Nações Unidas na manutenção da paz e segurança internacional:
CS Res. 678, Nov. 1990 – sancionou o uso de força contra Saddam Hussein.
CS Res. 816, abr. 1993 – impôs uma zona de proibição de movimentação aérea na Bósnia. Permitiu também que a Otan interceptasse aviões bósnios na região.
CS Res. 1.160, 1.199 e 1.203 – continham argumentos relevantes para as ações em Kosovo.
CS Res. 1.244 – apresentou o acordo pelo fim do bombardeio e o desenvolvimento de ações humanitárias pelas Nações Unidas.
CS Res. 688, abr. 1991 – sancionou a intervenção no final da Guerra do Golfo para proteger os curdos no norte do Iraque.
CS Res. 733, jan. 1992 – sancionou o envolvimento das Nações Unidas na Somália.
A/46/182, abr.
1992 – é o maior documento sobre o desenvolvimento de máquinas para assistência humanitária.
CS Res. 794, dez. 1992 – sancionou a intervenção americana na Somália sob o Capitulo VII da Carta das Nações Unidas. A partir de então, o governo da Somália deixou de existir aos olhos dos países-membros do Conselho de Segurança.
CS Res. 1.441, nov. 2002 – ameaçava o Iraque com sérias consequências caso Saddam Hussein se recusasse a revelar as suas armas de destruição em massa para a equipe de inspetores das Nações Unidas.
Argumentos favoráveis e contrários
Há argumentos tanto favoráveis quanto contrários às intervenções humanitárias. Clique em cada um deles a seguir para obter mais informações.
· argumentos favoráveis às intervenções: Os que defendem as intervenções humanitárias afirmam que, na Carta das Nações Unidas, a proteção dos direitos humanos é tão importante quanto a manutenção da paz e a promoção da segurança.
Segundo essa visão, o direito à intervenção por motivos humanitários estaria presente no Direito Internacional, estabelecido tanto na Carta das Nações Unidas quanto no direito consuetudinário internacional.
Outros proponentes afirmam que as intervenções estariam baseadas em princípios morais, especialmente no princípio de que todos os seres humanos têm direito a um nível mínimo de proteção pelo simples fato de fazerem parte de uma humanidade comum.
· argumentos contrários às intervenções: O primeiro argumento contrário às intervenções consiste no fato de que não há base no Direito Internacional para tais atos. A Carta das Nações Unidas não dispõe sobre a categoria do uso da força.
Outra leitura propõe que os Estados nunca intervêm primariamente porque estão preocupados com a segurança de cidadãos estrangeiros em causas humanitárias, mas sim porque têm outros interesses na intervenção. Só isso explicaria a disposição em alocar recursos e enviar os seus próprios soldados para combater em outro Estado por uma causa que, a princípio, não é sua.
Esse ponto levanta uma terceira crítica, que nos leva aos seguintes questionamentos:
 Até que ponto os Estados estão autorizados a arriscar a vida dos seus próprios soldados em causas nas quais a segurança da sua sociedade não está em jogo?
 Como explicar o emprego do exército para lutar por estrangeiros?
Essas são perguntas que líderes de países democráticos, normalmente, precisam enfrentar nas suas constituintes domésticas quando engajados em esforços humanitários.
Há uma série diferente de questões referentes à seletividade de respostas e aos abusos cometidos durante as intervenções humanitárias.
Na falta de um mecanismo imparcial para decidir quando é permitido realizar intervenções humanitárias, os Estados podem utilizar uma operação de intervenção humanitária como um pretexto para perseguir objetivos de interesse nacional.
A seletividade das respostas também ameaça o estabelecimento de um princípio de intervenção como norma ou mesmo como direito internacional. Não há um padrão para orientar os casos em que uma intervenção militar seria permitida.
Uma crítica final afirma que, na grande maioria das vezes, as intervenções não funcionam. Segundo alguns críticos, tais intervenções serviriam para impor um padrão de direitos humanos – fundamentalmente, ocidental e cristão – sobre outras sociedades, negligenciando o direito à diversidade cultural.
Para esses autores, a imposição externa de valores e padrões de comportamento tenderá sempre a falhar por não emergir de desenvolvimentos domésticos.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre direito à intervenção humanitária, noções de segurança e seletividade das respostas, e abusos nas intervenções humanitárias.
Direito à intervenção humanitária, noções de segurança e seletividade das respostas, e abusos nas intervenções humanitárias
O direito à intervenção humanitária sustenta-se com base nos exemplos históricos de intervenção da França, da Inglaterra e da Rússia na Grécia, em 1827, e na intervenção americana em Cuba, em 1898.
Segundo Walter Lippmann:
A nação é segura até o ponto em que ela não corre o risco de ter que sacrificar valores fundamentais se ela deseja evitar a guerra, e pode, se desafiada, mantê-los na vitória de tal guerra.
Nas palavras de Arnold Wolfers:
Segurança, em qualquer sentido objetivo, mede a ausência de ameaças a valores adquiridos e, em um sentido subjetivo, a ausência de medo de que tais valores sejam ameaçados.
Barry Buzan defende o seguinte:
No caso da segurança, a discussão é sobre a busca da liberdade de ameaças. Quando essa discussão ocorre no contexto do sistema internacional, segurança é sobre a habilidade de Estados e sociedades de manterem sua identidade independente e sua integridade funcional.
Segundo Nicholas Wheeler e Ken Booth:
Segurança estável só pode ser alcançada por pessoas e grupos se eles não privam outros dela, isso pode ser alcançado se a segurança é concebida como um processo de emancipação.
Um caso clássico de abuso durante invasões humanitárias foi a invasão da Tchecoslováquia por Hitler em 1939, sob o pretexto de proteger a vida e a liberdade da população alemã. Como podemos notar, um dos maiores perigos de se criar um direito para autorizar intervenções humanitárias é o de facilitar a justificativa de intervenção de países poderosos nos assuntos domésticos de países mais fracos.
A seletividade das respostas também ameaça o estabelecimento de um princípio de intervenção como norma ou mesmo como direito internacional. Não há um padrão para orientar os casos em que uma intervenção militar seria permitida. Isso gera questionamentos como:
· Em que estágio um conflito doméstico se torna um caso em potencial para intervenção?
· Que Estados devem intervir?
· Os Estados com interesse direto em dada resolução de conflito, seja por natureza econômica, territorial ou outra qualquer, devem participar do movimento de intervenção ou não?
A seletividade das respostas para esses tipos de questinamento faz com que a política de intervenção pareça inconsistente e seletiva. Por que, por exemplo, a Otan interveio em Kosovo em 1999, mas não se manifestou com relação à crise em Darfur?
Estudo de caso
Clique no ícone para acessar um estudo de caso sobre a Iugoslávia.
Iugoslávia
A Iugoslávia foi um país criado no ano de 1919, sob os termos do Tratado de Versalhes, e extinto na década de 1990. Localizada nos Bálcãs, a Iugoslávia possuía diversos idiomas e era composta de diferentes grupos étnicos, como os servos, croatas, eslovenos, mulçumanos e macedônios. Ao longo da história, tal território foi palco de diversas áreas de influência, como as do Império Romano, do Império Bizantino, do Império Austríaco e da Rússia. Tratava-se, ainda, de uma área de encontro entre as diferentes civilizações mundiais, como a europeia, a centro-asiática e a mediterrânea, além de um ponto de contato com o Oriente Médio.
A região da Iugoslávia era entendida pela diplomacia europeia como fonte de instabilidade e tensões durante todo o século XIX. Em 1914, o assassinato de Franz Ferdinand, arquiduque da Áustria, por agentes sérvios foi considerado um dos motivos para a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Com o fim da guerra, foi reconhecida a demanda dos sérvios, croatas e eslovenos pela criação de um Estado, que seria consolidado sob os termos do Tratado de Versalhes.
A criação da Iugoslávia, em 1919, não criou, entretanto, uma noção de pertencimento nacional comum entre os diferentes povos que habitavam tal território. A tensão entre tais povos, particularmente entre os croatas e os sérvios, aumentou sensivelmente no período do entre guerras. Durante a Segunda Guerra Mundial, a ocupação da Iugoslávia pela Alemanha nazista exacerbou tal tensão, uma vez que os croatas apoiavam a presença alemã, e os sérvios eram seus fortes opositores.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o marechal Josip Broz Tito emergiu como o principal líder da Iugoslávia, e seus esforços se concentraram na tentativa de criar um sentimento de nacionalismo que solapasse as diferenças étnicas. Para tanto,
lançou mão do comunismo. Fundou-se então a República Popular Federal da Iugoslávia, em 1946, que, posteriormente, em 1963, foi chamada de República Socialista Federativa da Iugoslávia. Após o término da Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia assumiu, portanto, um formato socialista federativo, sendo composta das seguintes repúblicas: República Socialista da Bósnia-Herzegovina, República Socialista da Croácia, República Socialista da Macedônia, República Socialista de Montenegro e pela República Socialista da Sérvia, que se subdividia, por sua vez, na Província Socialista Autônoma do Kosovo e na Província Socialista Autônoma de Vojvodina. Vale mencionarmos, entretanto, que Tito optou por não se aliar à União Soviética, constituindo, desse modo, um ícone do movimento dos não alinhados durante a Guerra Fria.
Após a morte de Tito, em 1980, a frágil estabilidade da região começou a se deteriorar. O colapso do comunismo, a partir do fim da década de 1980 e início da década de 1990, agravou a situação da então república socialista. Em 1991, os parlamentos croata e esloveno aprovaram suas respectivas resoluções de independência da Iugoslávia. No decorrer da década de 1990, a Iugoslávia foi tomada por violentos conflitos étnicos e separatistas, tendo como epicentros a Bósnia e a região autônoma do Kosovo, e sendo protagonizados pelos croatas, pelos sérvios e pelos mulçumanos. No contexto de tais conflitos, mais de 100.000 pessoas foram assassinadas, cerca de três milhões tornaram-se refugiadas e inúmeras foram vítimas de crimes que visavam à limpeza ou exterminação étnica, levando ao que chamamos de genocídio.
Em 1992, a ONU elaborou a primeira operação de paz na região. A inciativa da organização, entretanto, não obteve sucesso e as tensões na região continuaram agravando-se. Entre 1994 e 1995, a Otan também elaborou uma operação de paz, mas não conseguiu eliminar os conflitos separatistas. A questão do Kosovo mostrou-se ainda mais problemática e, no fim da década de 1990, movimentos irredentistas tornaram-se muito fortes. Em 2008, o Kosovo declarou-se independente, mas inúmeros países e organizações ainda o reconhecem como um protetorado da ONU e da OTan.
A Iugoslávia assistiu à sua desintegração progressiva durante a década de 1990 e, atualmente, é composta dos seguintes Estados: Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, República Federal da Iugoslávia e Eslovênia. O conflito dos Bálcãs é entendido como referência dos dilemas e conflitos enfrentados por Estados multiétnicos, ou seja, Estados que abrigam diferentes etnias com demandas nacionalistas particulares.
Fonte: IUGOSLÁVIA. FGV Online, 2013.
Sugestão de leitura
Clique no ícone para acessar os textos Darfur: à espera de um salvador e Guerra em Darfur terminou, diz chefe militar da ONU no Sudão.
Darfur: à espera de um salvador e Guerra em Darfur terminou, diz chefe militar da ONU no Sudão
Para acessar o texto Darfur. À espera de um salvador, clique em: Darfur. À espera de um salvador
Fonte: SCHELP, Diogo. Darfur: à espera de um salvador. Revista Veja, 24 dez. 2008. Ed. 2092. Disponível em: veja.abril.com.br. Acesso em: 18 mar. 2013.
Para acessar o texto Guerra em Darfur terminou, diz chefe militar da ONU no Sudão, clqiue em: Guerra em Darfur terminou
Fonte: GUERRA em Darfur terminou, diz chefe militar da ONU no Sudão. BBC Brasil, 27 ago. 2009. Disponível em: www.bbc.co.uk. Acesso em: 18 mar. 2013
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre comunicado sobre direitos humanos.
comunicado sobre direitos humanos
Segue uma consideração do Secretário-Geral da ONU, Javier Perez de Cuéllar, sobre os direitos humanos em 1991:
Hoje, percebe-se cada vez mais que o principio da não interferência na jurisdição doméstica essencial dos Estados não pode mais ser percebido como uma barreira protetora, atrás da qual os direitos humanos podem ser maciça ou sistematicamente violados impunemente.
Estudo de caso: Clique no ícone para acessar o estudo de caso Genocídio em Ruanda.
Genocídio em Ruanda
Ruanda, um pequeno país localizado na região centro-oriental da África, é habitado, principalmente, por dois grupos étnicos: Hutus, compostos de cerca de 85% da população do país, e Tutsis, que consistem em, aproximadamente, 15% dos ruandeses. Apesar de o segundo grupo ser considerado de origem etíope, poucas são as diferenças entre Hutus e Tutsis, que inclusive falam o mesmo idioma. Em 1916, o país passou a ser colonizado por belgas, que acirraram a divisão étnica ao produzirem documentos de identificação para toda a população de acordo com a origem étnica de cada um.
Os colonizadores belgas consideravam os Tutsis superiores aos demais e, portanto, forneciam-lhes maior poder político e melhores oportunidades de educação e trabalho. Em 1962, no entanto, Ruanda se tornou independente, e a maioria Hutu tomou o poder, adotando políticas opressivas frente aos Tutsis.
No início da década de 1990, as rivalidades étnicas estavam bem acirradas. O governo do então presidente do país, Hutu Habyarimana, financiava fortes campanhas de propaganda política contrária aos Tutsis, culpando-os pelos principais problemas políticos, sociais e econômicos do país.
Em 6 de abril de 1994, o avião que levava Habyarimana foi derrubado, causando a morte do presidente e, consequentemente, uma guerra civil no país – apesar de, até hoje, os responsáveis pelo ataque serem desconhecidos. Extremistas Hutus iniciaram uma campanha de total eliminação da população Tutsi, caçando, estuprando e matando famílias inteiras de Tutsis e Hutus contrários ao extermínio durante 14 semanas. Coordenadas por comunicação via rádio, milícias Hutus possuíam listas de todos os Tutsis do país. Estima-se que, durante poucas semanas de genocídio, 200 mil pessoas participaram do extermínio de 800 mil homens, mulheres e crianças, aproximadamente 75% da população Tutsi. A guerra civil e o genocídio só acabaram quando o maior grupo rebelde Tutsi, a Frente Patriótica Ruandesa, conseguiu derrotar o regime Hutu e tomou o poder.
O Genocídio de Ruanda é considerado um dos principais fracassos da política internacional quanto à sua responsabilidade de proteger. A Organização das Nações Unidas (ONU) e líderes políticos dos Estados Unidos, da França e da Bélgica haviam tomado conhecimento das preparações para o massacre – principalmente, da elaboração das listas de Hutus –, mas nada fizeram para prevenir os ataques por recusarem a importância do caso.
Fonte: GENOCÍDIO em Ruanda. FGV Online, 2013.
Sugestão de leitura: Clique no ícone para acessar os textos Intervenções do Brasil e Los cascos azules en Haití.
Intervenções do Brasil e Los cascos azules en Haití
Intervenções do Brasil
O Brasil dedicou boa parte do século vinte a fazer da não-intervenção o pilar básico de seu comportamento no mundo. Seguindo tendências globais, abandonou as doutrinas intervencionistas que antes usara para lidar com os vizinhos do Prata. No processo, adotou inúmeras regras para proteger o princípio soberania nacional. A adaptação foi tão exitosa que o país desenvolveu uma visão de mundo profundamente não intervencionista.
Entretanto, os incentivos externos começaram a mudar a partir dos anos noventa, quando uma nova onda intervencionista começou a varrer todo o mundo. Com medo de ficar isolado e de olho nas transformações sociais internas, a política externa aceitou missões em que a comunidade internacional suspendeu parcial ou totalmente a soberania do país em questão, como no Timor Leste ou no Haiti.
Mais recentemente, diante da Primavera Árabe, o Brasil concordou em parte com os argumentos favoráveis a uma intervenção armada na Líbia. Agora concorda em parte com a crescente crítica global ao regime ditatorial na Síria.
A aceitação desse novo ambiente normativo global tem sido parcial. Mas muitos em Brasília já aceitam como legítima a suspensão dos direitos soberanos de governos que não querem ou não podem cuidar de seus próprios cidadãos. Essa leitura era simplesmente impensável há poucos anos.
O tempo dirá se a inflexão veio para ficar ou não.
Mas independentemente do que aconteça, a postura brasileira a respeito do intervencionismo está em estado de fluxo. E devido ao lugar que o país ocupa nas relações internacionais, sua orientação interessa a todos.
Por um lado, americanos e europeus demandam apoio brasileiro para criticar governos genocidas e autorizar na ONU o uso da força contra eles. Por outro, russos e chineses esperam que o Brasil não abra uma brecha que poderia fortalecer os impulsos neocoloniais do mundo anglo-saxão.
Trata-se de um impasse diplomático, sem dúvida. Mas é uma falsa escolha: a postura do Brasil emergente diante do novo intervencionismo não penderá nem para um lado nem para o outro.
A concepção brasileira de intervenção está longe da que prevalece em Washington, Londres ou Paris. Brasília não define sua participação no tema em termos militares e trabalhará para bloquear intervenções unilaterais, mesmo que ocorram em nome de causas nobres. Buscará controlar e limitar o escopo da intervenção por entender que qualquer licença para intervir é normalmente abusada pelos mais fortes às custas dos mais fracos.
A atitude brasileira tampouco se parece às da China, Rússia, África do Sul ou Turquia. Nossa ênfase está em temas como provisão de ajuda humanitária, assistência para o desenvolvimento e prevenção de conflitos, três áreas nas quais Brasília tem (ou pode vir a ter) vantagens comparativas. Mas a escolha não é meramente pragmática. Essa é a orientação mais fiel aos interesses e valores que estão por trás de nosso atual processo de ascensão.
Se o país apostar seriamente nesse caminho, então poderá moldar ativamente da conversa global sobre o futuro da intervenção. E assim terá também alguma chance de lidar com seus interlocutores mais fortes de igual para igual.
Fonte: SPEKTOR, Matias. Intervenções do Brasil. Folha de S. Paulo, 19 mar. 2012. Disponível em: www.folha.uol.com.br. Acesso em: 18 mar. 2013.
Para acessar o texto Los cascos azules en Haití, clique em: Cascos Azules Haiti
Fonte: NORO, Lauro
Ataque de 11 de setembro
O ataque de 11 de setembro e a subsequente guerra ao terror tiveram consequências diversas no regime de intervenções humanitárias.
Os defensores de uma visão otimista afirmam que esses eventos injetariam autointeresse nas atividades humanitárias, de forma a diminuir as fontes de ameaça terroristas.
Por outro lado, alguns céticos afirmam que, após tais eventos, a intervenção humanitária poderia ser utilizada, cada vez mais, para servir aos interesses dos países que a empregam, e não daqueles que sofrem as violações dos seus direitos.
A intervenção no Iraque e a não intervenção em Darfur são casos que acabam dando razão aos céticos, pois sublinham os abusos cometidos e a seletividade na escolha dos casos a se intervir em função de interesses próprios de alguns países.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre a Comissão das Nações Unidas para Peacebuilding.
Comissão das Nações Unidas para Peacebuilding
A Comissão das Nações Unidas para Peacebuilding foi estabelecida em dezembro de 2005 como uma subsidiária da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança. Tal comissão foi, inicialmente, proposta pelo Painel de Alto Nível sobre Ameaças, Desafios e Mudanças do Secretariado Geral, em dezembro de 2004, e, novamente, pelo Relatório sobre Maior Liberdade do Secretariado Geral em março de 2005. Alguns mecanismos da ONU foram interpretados como insuficientes ao buscarem responder às necessidades particulares de países emergindo de conflitos. Muitos países, como a Libéria, o Haiti e a Somália, haviam assinado acordos de paz na década de 1990 e recebido missões de peacekeeping da ONU, mas passaram a viver conflitos violentos.
A Comissão das Nações Unidas para Peacebuilding visa fornecer ajuda a países na volátil fase pós-conflito para prevenir a recorrência de conflitos. Para tanto, propõe estratégias e prioridades integradas para a recuperação pós-conflito, a fim de aperfeiçoar a cooperação entre os atores envolvidos nas atividades desse período. O estabelecimento da Comissão é um indicativo de um crescente desejo da ONU de coordenar a programação de segurança e desenvolvimento.
O comitê organizacional da Comissão para Peacebuilding é formado por 31 estados-membros, e a sua primeira sessão ocorreu em junho de 2006. O Fundo de Apoio ao Peacebuilding, que conta com US$ 250 milhões, é designado para apoiar as atividades da Comissão. Há também reuniões focadas em casos específicos, que buscam analisar estratégias e prioridades pós-conflitos para determinados países. Os dois primeiros países considerados, particularmente, pela Comissão para foram Serra Leoa e Burundi.
Proteção
O conceito de responsabilidade de proteger apareceu, inicialmente, em um relatório da Comissão Internacional sobre Intervenção e Soberania do Estado em 2001, como parte de um esforço para resolver a tensão entre a proteção da soberania do Estado e apromoção dos direitos humanos.
De acordo com tal conceito, os Estados têm a responsabilidade principal de proteger os seus próprios cidadãos. Entretanto, se tais Estados não estiverem dispostos ou forem incapazes de realizar tal tarefa, essa responsabilidade é transferida para a sociedade internacional. Em outras palavras, o princípio de não intervenção dá lugar à responsabilidade internacional de proteger.
A iniciativa da Comissão foi alimentada pela resposta demorada do Conselho de Segurança da ONU com relação à atuação em Kosovo, em 1999, e pelo fato de a comunidade internacional ter ignorado o genocídio em Ruanda, no começo da década de 1990.
A Comissão defende que o debate não deve ser dirigido para a questão de os Estados terem o direito de intervir ou não, mas sim para a responsabilidade de proteger pessoas em perigo.
Para o órgão, a responsabilidade não está apenas em agir em crises humanitárias, mas também em evitá-las ao promover a reconstrução de Estados falidos ou tirânicos.
Comentário: sobre o que justifica uma intervenção sob os preceitos da responsabilidade de proteger.
O que justifica uma intervenção sob os preceitos da responsabilidade de proteger
1 Teoria da Causa Justa
A intervenção militar com propósitos de proteção humana é uma medida excepcional e extraordinária. Para ser permitida, é necessária a ocorrência ou a iminência de um cenário de ameaças sérias e irreparáveis a seres humanos de um dos seguintes tipos: 
· perda de vidas em larga escala, real ou pretendida, com intenções genocidas ou não, causada por ação governamental deliberada, negligência ou incapacidade de ação governamental, ou uma situação de um Estado falido, ou
· limpeza étnica em larga escala, real ou pretendida, incluindo assassinatos, expulsão, terrorismo ou estupro. 
2 Princípios de precaução
2.1 Intenção certa – o propósito primário de uma intervenção, independentemente dos motivos dos países intervenientes, deve ser eliminar ou reduzir o sofrimento humano. A intenção certa é melhor garantida com operações multilaterais, claramente apoiadas pela opinião regional e pelas vítimas em questão.
2.2 Último recurso – a intervenção militar só pode ser justificada quando todas as opções não militares para a prevenção ou resolução pacífica da crise já tiverem sido exploradas, com bases razoáveis para acreditar que medidas menores não seriam bem-sucedidas.
2.3 Meios proporcionais – a escala, duração e intensidade da intervenção militar planejada devem ser as mínimas necessárias para garantir o alcance do objetivo da proteção humana.
2.4 Situação razoável – deve haver uma possibilidade razoável de sucesso na eliminação do sofrimento humano que justifique a intervenção, sendo que as consequências da ação não devem ser piores do que as da inação.
3 Autoridade certa
3.1 Não há uma agência melhor ou mais apropriada do que o Conselho de Segurança das Nações Unidas para autorizar uma intervenção militar com propósitos de proteção humana. A tarefa não é encontrar alternativas ao Conselho de Segurança como uma fonte de autoridade, mas fazer com que o Conselho de Segurança trabalhe melhor do que tem feito.
3.2 A autorização do Conselho de Segurança deve, em todos os casos, ser concedida anteriormente a qualquer ação de intervenção militar. Os solicitantes de uma intervenção devem requisitar tal autorização formalmente, esperar o Conselho levantar a questão por conta própria ou esperar o Secretário Geral requisitar autoridade de intervenção onde há alegações de perda de vidas humanas ou limpeza étnica de larga escala. Diante desse contexto, o Secretário Geral deve procurar adequar a verificação de fatos ou condições com base no apoio a uma intervenção militar.
3.3 Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança devem concordar em não aplicar o seu direito ao veto em assuntos com os quais seus interesses nacionais vitais não estejam envolvidos, não obstruindo assim a publicação de resoluções autorizando a intervenção militar para a proteção humana para as quais há apoio da maioria.
3.4 Se o Conselho de Segurança rejeita uma proposta ou falha em negociar tal proposta em um período razoável, opções alternativas são:
3.4.1 Consideração do assunto pela Assembleia Geral em uma Sessão Especial Emergencial, sob o procedimento de união pela paz.
3.4.2 Ação na área jurídica, por meio de organizações regionais ou sub-regionais, de acordo com o capítulo VIII da Carta das Nações Unidas, sujeita a uma subsequente autorização do Conselho de Segurança.
3.5 O Conselho de Segurança deve levar em consideração, em todas as suas deliberações, que, se falhar em sua responsabilidade de proteger, em situações de choque de consciência, clamando por ação, os governos não devem adotar outras medidas – o que pode ameaçar a credibilidade das Nações Unidas.
4 Princípios Operacionais
4.1 Objetivos claros, mandatos claros e não ambíguos todo o tempo, além de recursos proporcionais.
4.2 Atuação militar comum entre as partes envolvidas, unidade e comando, comunicações e cadeias de comando claras e não equívocas.
4.3 Aceitação das limitações, incrementação e gradualidade na implementação da força, sendo o objetivo a proteção da população, e não a derrota do governo.
4.4 Regras de compromisso precisas, que estejam de acordo com o conceito operacional, reflitam o princípio da proporcionalidade e envolvam a total aderência ao direito humanitário internacional.
4.5 Aceitação de que a proteção pela força não pode se tornar o principal objetivo.
4.6 Máxima coordenação possível com agências humanitárias.
Adoção da responsabilidade de proteger
O princípio da responsabilidade de proteger foi também adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em uma reunião global, em 2005.
Há importantes diferenças entre o documento aprovado e o texto da Comissão Internacional sobre Intervenção e Soberania do Estado de 2001, devido, especialmente, às críticas formuladas por países como Estados Unidos, China e Rússia aos critérios estipulados em 2001.
Fundamentalmente, duas mudanças se destacam:
· os critérios para governar o uso da força em situações de intervenção foram retirados do documento e 
· a autorização para a intervenção passou a ser localizada expressamente no Conselho de Segurança, sendo que o veto de um ou mais membros dos cincos países permanentes – Estados Unidos, Inglaterra, França, China e Rússia – poderia indeferir a proposta.
Essas mudanças representam a cristalização da norma de intervenção humanitária que se desenvolveu ao longo dos anos 1990.
UNIDADE 5
Origens da paz
Nenhum Estado em guerra com outro deve permitir hostilidades que possam tornar impossível a construção de confiança recíproca na paz futura, como o emprego de assassinos e envenenadores, a quebra da capitulação e a instigação à traição no Estado com que se guerreia.
Paz perpétua de Kant
Kant argumentou que a melhor forma de promover a paz nas relações internacionais é encorajar o crescimento de repúblicas cujos arranjos constitucionais favoreçam o estabelecimento de mecanismos de equilíbrio entre os diversos grupos da sociedade.
Para o filósofo, o estado de paz entre os homens que vivem lado a lado não é um estado natural anterior ao estado de guerra.
Dessa forma, o estado de paz tem de ser instituído por meio do direito público, sendo assegurado por estruturas jurídicas institucionais. Nas palavras de Kant, “a razão condena absolutamente a guerra como procedimento de direito e torna, ao contrário, o estado de paz um dever imediato, que, porém, não pode ser instituído ou assegurado sem um contrato dos povos entre si.”
Sugestão de leitura: Clique no ícone para acessar sugestão de leitura sobre paz perpétua da Kant.
paz perpétua da Kant
Para saber mais sobre paz perpétua de Kant, leia:
· KANT, I. A paz perpétua: um projeto filosófico. In: GUINSBURG, J. (org.) A paz perpétua: um projeto para hoje. São Paulo: Perspectiva, 2004.
Nesta obra, o autor busca analisar a guerra e a paz sob a perspectiva da natureza humana. A argumentação apresentada, de grande influência para a criação da Liga das Nações, defende que a paz perpétua é possível e deve ser buscada por meio de governos republicanos e do Direito Internacional. Nesse sentido, ambições imperialistas e conflitos armados devem acabar.
Impeditivos
Para Kant, há seis impeditivos para o estabelecimento da paz nas Relações Internacionais. Clique nos números para conhecê-los.
1. Tratados de paz não estabelecem a paz porque não lidam com as causas da guerra diretamente.
2. Nenhum Estado soberano deve poder ser adquirido por outro Estado por herança, troca, compra ou doação.
3. Exércitos permanentes devem desaparecer por completo com o tempo.
4. Não deve ser feita nenhuma dívida pública para sustentar conflitos exteriores do Estado – esse impeditivo condena a dívida feita com o objetivo de iniciar ou manter uma guerra e cujo pagamento seja efetuado com recursos públicos.
5. Nenhum Estado deve intrometer-se com emprego de força na constituição e no governo de outro – esse impeditivo diz respeito à manutenção e à observância da norma de não intervenção.
6. Nenhum Estado em guerra com outro deve permitir hostilidades que possam tornar impossível a construção de confiança recíproca na paz futura, como o emprego de assassinos e envenenadores, a quebra da capitulação e a instigação à traição no Estado com que se guerreia.
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defesa do desaparecimento dos exércitos permanentes
Para Kant, a manutenção de exércitos permanentes exige grandes investimentos, o que torna a paz ainda mais onerosa do que uma guerra curta. Dessa forma, a corrida entre os países para manter suas tropas e superar as dos demais estimula mais a realização de guerras do que a manutenção da paz.
Promoção do estado de paz
Para promover a paz entre os Estados, Kant estabelece três artigos:
· a constituição civil, em cada Estado, deve ser republicana;
· o direito das gentes deve ser fundado sobre um federalismo de Estados livres;
· o direito cosmopolita deve ser limitado às condições da hospitalidade universal.
Clique em cada um deles a seguir para melhor compreendê-los.
constituição republicana
Para Kant, a constituição de um Estado deve-se fundar nos princípios de liberdade dos cidadãos enquanto membros da sociedade, da sua dependência a uma legislação comum e da sua igualdade.
Quando a legislação comum é uma constituição republicana, os cidadãos refletem sobre as consequências pessoais que podem advir das suas decisões e, por isso, são mais cautelosos.
Isso significa que, na hipótese do início de um conflito armado, os cidadãos avaliarão bem antes de concordarem com a sua eclosão.
federalismo
Para garantir um estado de paz, Kant sugere a formação de uma liga de povos. Essa liga resultaria de um contrato mútuo entre Estados livres, aliados por objetivos e compromissos comuns.
Formada a liga de povos, haveria condições de se criar a liga de paz, que, gradualmente, congregaria todos os Estados, tornando possível o desejo dos povos – individualmente e amparado pelas suas constituições republicanas – de atingir um estado de paz perpétua, duradoura,
assentada no compromisso de direitos e deveres mútuos.
Somente uma liga de nações poderia assegurar a instituição do estado de paz – ou a paz perpétua, como Kant a denomina.
Os termos dessa paz podem, no entanto, variar de um país para outro.
hospitalidade universal
Kant argumenta que todos temos o direito de posse comunitária da superfície da Terra, mas que, em função das suas dimensões limitadas, somos obrigados a conviver uns com os outros.
Sendo coletivamente proprietários do planeta, compete a cada um e a todos – desde que ajam pacificamente – exercer o direito de visita, que se faz acompanhar do direito de hospitalidade, entendido como o direito de ser recebido sem hostilidade.
O direito de posse comunitária, o direito de visita e o direito de hospitalidade promoveriam a comunicação e o relacionamento pacífico entre pessoas e contribuiriam para transformar em realidade o ideal de uma constituição cosmopolita dos povos.
Perspectivas contemporâneas
Liberais, por muito tempo, questionaram a perspectiva realista da política internacional – que afirma que as relações entre os Estados, por diferentes razões, sempre tendem ao conflito iminente –, argumentando que:
· sob determinadas condições domésticas e internacionais, e com estratégias apropriadas por parte dos Estados, o caráter violento da política destes poderia ser contornado e
· níveis de violência armada poderiam ser consideravelmente reduzidos.
Muitos observadores concordam que o caráter anárquico do sistema internacional cria as principais condições para que a guerra aconteça – incerteza, competição, busca pelo acúmulo de poder, etc.
Coerentes com essa lógica, alguns estudiosos defendem que a única forma de fomentar a paz seria eliminar a natureza anárquica do sistema com alguma forma de governo mundial que tivesse poder e recursos – incluindo forças armadas e força policial – para evitar que Estados entrem em guerra.
No entanto, essa é uma alternativa pouco viável, dada a força das normas de soberania e não intervenção na sociedade internacional contemporânea.
governo mundial
Centralização de poder em uma autoridade supranacional, isto é, acima de todos os Estados.
Tal autoridade contaria com prerrogativas legislativas e executivas a fim de exercer tal poder. O governo mundial deveria adquirir, ainda, o monopólio legítimo do uso da força. Tal conjuntura implica a abdicação, por parte dos Estados, da sua condição soberana em prol da formação desse governo.
Alguns estudiosos vislumbram a possibilidade de um governo mundial como uma solução para o problema da anarquia internacional. Críticos de tal projeto afirmam, entretanto, que o estabelecimento de um governo mundial poderia levar a uma tirania mundial de proporções inéditas nas relações internacionais.
Relação entre interdependência econômica e paz
A ideia de que o comércio e as outras formas de interdependência econômica promovem a paz foi tema central da teoria econômica liberal do século XIX.
Norman Angell foi um dos seus principais propositores ao afirmar, em 1912, que os custos econômicos de uma guerra entre as grandes potências seriam tão devastadores que a guerra seria impensável.
No entanto, a Primeira Guerra Mundial logo provou que Angell não estava totalmente certo.
interdependência
Nas relações internacionais, interdependência significa que os atores do sistema internacional estão conectados ou interligados entre si, isto é, o que acontece com um desses atores produz reflexos nos demais. Robert Keohane e Joseph Nye, na obra Power and interdependence, publicada em 1977, constituem a principal referência acerca da interdependência nas relações internacionais.
Segundo os autores, a interdependência implica a vulnerabilidade dos Estados no sistema internacional, uma vez que os esses Estados estariam sujeitos a prejuízos oriundos de terceiros. Além disso, Keohane e Nye ressaltam que interdependência não significa uma dependência mútua simétrica, pois alguns Estados podem ser mais vulneráveis ou dependentes do que outros. A interdependência é, portanto, assimétrica. De acordo com os autores, a interdependência é, ainda, complexa, ou seja, caracterizada por uma pluralidade de atores estatais e não estatais, como corporações transnacionais e organizações internacionais.
Norman Angell
Importante acadêmico, jornalista e político. Autor de livros como A grande ilusão, Angell foi membro do Parlamento Inglês, representando o Partido Trabalhista, e membro do Royal Institute of International Affairs.
Além disso, foi nomeado cavaleiro real em 1931 e recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1933.
Vale mencionarmos que os estudos acerca da interdependência tendem a focar questões de caráter econômico, como comércio e industrialização, já que tais áreas são, em grande medida, responsáveis pelo estreitamento das conexões entre os Estados.
As correntes teóricas das relações internacionais divergem quanto ao caráter benéfico ou maléfico da interdependência. Para os liberais, um maior grau de interdependência amplia as possibilidades de cooperação entre os Estados. Já para os realistas, a interdependência potencializa os conflitos internacionais, uma vez que torna os Estados mais vulneráveis.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre comércio e paz.
comércio e paz
A crença de Kant no potencial harmônico entre Estados e povos, e a ideia de que a atividade econômica irrestrita aumentaria a possibilidade de harmonia internacional são apresentadas em conjunto nos trabalhos de liberais do século XIX que questionavam a concentração de poder nas mãos dos Estados – em oposição a muitos liberais modernos – e defendiam a expansão dos direitos e das garantias individuais.
Richard Cobden (1804-1865) foi o principal expoente dessa perspectiva e defendeu três ideias ambiciosas no que se refere ao impacto do livre comércio para a paz. Primeiramente, o autor argumentou que a maioria das guerras era disputada por Estados para que estes alcançassem as suas metas mercantilistas. Nesse sentido, o livre comércio mostraria aos líderes meios mais efetivos – e pacíficos – de se alcançar a riqueza nacional. Em segundo lugar, mesmo no caso de guerras que não emergissem de rivalidades comerciais, o impacto negativo sobre os interesses domésticos, por conta da interrupção do livre comércio, levaria a hostilidades. Por fim, Cobden defendeu que, com a expansão do livre comércio, o contato e a comunicação entre os povos iria se expandir. Isso, por sua vez, encorajaria a amizade e a compreensão internacionais.
Essa relação entre o comércio internacional e a paz internacional tem sido uma proposição recorrente e é encontrada em alguns trabalhos atuais, que alegam que a interdependência e o comércio internacional podem ter efeitos pacifistas no comportamento dos Estados.
Ressurgimento da proposição
A proposição de que a interdependência econômica poderia evitar novas guerras ressurgiu após o fim da Segunda Guerra Mundial como uma das bases da ideologia liberal americana.
Essa foi a base, por exemplo, do programa de assistência econômica e financeira à Europa em 1947 (conhecido como Plano Marshall) e também da institucionalização de um sistema financeiro e econômico integrado ao longo da década de 1970.
Vejamos como se desenvolve essa premissa:
Dessa maneira, evita-se que elites políticas usem problemas externos como "bodes expiatórios" para aumentar o seu apoio doméstico ou mesmo diminui a necessidade de protecionismo externo, o que, sabemos, pode levar a hostilidades prolongadas.
No entanto, a realidade pode colocar em cheque esses argumentos, ao menos em alguma medida.
Isso acontece porque os benefícios econômicos e industriais advindos do esforço de guerra – avanços tecnológicos e aumento da produção, por exemplo – podem superar os prejuízos advindos da cessação parcial do comércio, especialmente se o Estado não é o cenário da guerra, como foi o caso dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Dessa maneira, evita-se que elites políticas usem problemas externos como "bodes expiatórios" para aumentar
o seu apoio doméstico ou mesmo diminui a necessidade de protecionismo externo, o que, sabemos, pode levar a hostilidades prolongadas.
No entanto, a realidade pode colocar em cheque esses argumentos, ao menos em alguma medida.
Isso acontece porque os benefícios econômicos e industriais advindos do esforço de guerra – avanços tecnológicos e aumento da produção, por exemplo – podem superar os prejuízos advindos da cessação parcial do comércio, especialmente se o Estado não é o cenário da guerra, como foi o caso dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
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diferentes argumentos acerca da relação entre comércio e paz
O esforço de guerra pode não cessar por completo o comércio. É verdade que, no início do conflito, o comércio pode ser afetado, mas há ampla evidência que sugere que o comércio continua mesmo depois do início da guerra.
Outro argumento que pode desafiar a lógica de que a maior interdependência leva à paz é o de que, geralmente, há mais comércio entre aliados do que entre adversários, e isso pode ser grande parte do motivo de o comércio ser associado à ausência de guerra, porque é mais improvável que aliados entrem em guerra um contra o outro.
Alguns analistas ainda afirmam que, na verdade, o comércio pode levar à guerra. Além da óbvia explicação de que as disputas por rotas comerciais, por produtos e por vantagens comerciais podem levar dois Estados em disputa à guerra, estudiosos afirmam que o problema da relação entre ganhos absolutos e ganhos relativos no comércio pode ser, também, fonte de conflito militar. Nesse sentido, os líderes políticos seriam influenciados pela análise relativa dos ganhos advindos do comércio. Isso seria explicado pelo fato de haver receio de que a vantagem comercial possa ser convertida por um Estado em influência política e poder militar.
Uma relação assimétrica entre parceiros comerciais também pode oferecer fundamentos para questionar a relação entre comércio e paz. Se um lado está em uma relação de dependência comercial ou acredita ter vantagem sobre o outro em outras esferas – por exemplo, sensibilidades diferentes aos custos econômicos e políticos da cessação do comércio ou um cálculo diferente de riscos –, é mais provável que estratégias de coerção, mais que de cooperação, sejam empregadas com o parceiro comercial. Nesse caso, o Estado menos dependente da relação comercial pode recorrer à coerção econômica para explorar as vulnerabilidades do adversário e influenciar o seu comportamento com relação a questões não só de segurança, mas também econômicas.
Teoria da paz democrática
Liberais, há muito tempo, argumentam que as democracias são mais pacíficas que outros regimes, como sugeriu Woodrow Wilson durante a Primeira Guerra Mundial.
No entanto, esse argumento só se fortaleceu a partir dos anos 1980, quando começaram a surgir evidências de que democracias raramente entram em guerra umas com as outras.
Woodrow Wilson: 28º presidente dos Estados Unidos, Ph.D. em História e Ciência Política pela Universidade de Johns Hopkins.
Woodrow Wilson recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1919, foi presidente da Universidade de Princeton e é considerado um dos fundadores da corrente teórica liberal de Relações Internacionais, sendo o principal influenciador da criação da Liga das Nações e da Organização das Nações Unidas (ONU).
Pesquisadores demonstraram que essa regularidade empírica não poderia ser explicada:
· por uma separação geográfica dos Estados;
· pelo comércio intensivo entre díades democráticas;
· pelo papel do poder americano em evitar conflitos entre democracias desde o final da Segunda Guerra Mundial ou 
· por outros fatores econômicos e geopolíticos correlacionados com a democracia.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre a teoria da paz democrática, os regimes políticos e econômicos, e as causas da paz.
teoria da paz democrática, regimes políticos e econômicos e as causas da paz
A abordagem liberal sobre a segurança internacional recebeu bastante apoio no período pós-Guerra Fria. Tal abordagem é centrada no argumento de que Estados democráticos tendem a não entrar em conflito com outros Estados democráticos. A democracia é, portanto, vista como uma importante fonte de paz. Como o Institucionalismo Liberal, essa é uma abordagem que tem recebido bastante apoio em círculos acadêmicos e políticos ocidentais. No seu discurso ao State of the Union, em 1994, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton ressaltou a ausência de guerras entre democracias como uma justificativa para as políticas do país de promoção do processo de democratização. O apoio a essa visão foi visto na política ocidental de promoção democrática nas Europas Central e Oriental após a Guerra Fria, abrindo espaço para países dessas regiões aderirem à União Europeia.
A Teoria da Paz Democrática tem sido profundamente associada a textos de Michael Doyle (1995) e Bruce Russett (1995). Da mesma maneira que realistas contemporâneos têm sido influenciados pelos trabalhos de Hobbes, Rousseau e Maquiavel, Doyle aponta a importância dos pensamentos contidos no texto de Immanuel Kant de 1795, A paz perpétua. Doyle defende que a democracia representa um comprometimento ideológico com os direitos humanos, e a interdependência transnacional fornece uma explicação para tendências de propensão à paz em Estados democráticos (1995, p. 180-184). Igualmente, a ausência desses atributos, segundo o autor, fornece um motivo para as tendências de propensão à guerra em Estados não democráticos. Sem esses valores e limites domésticos, a lógica do poder substitui a lógica liberal de acomodação.
Há diversas interpretações sobre a relação existente entre regimes político-econômicos e a paz. Muitas delas, inclusive, são completamente antagônicas.
O líder revolucionário russo Vladimir Ilyich Lenin, por exemplo, expressou uma influente visão sobre que tipos de governo e sociedade que, mais provavelmente, encorajariam a paz mundial. Lenin defendia que Estados socialistas, representando os interesses das classes trabalhistas tradicionalmente forçadas a lutar e a morrer em guerras, deveriam ser inclinados a evitar a guerra. Ao liderar a revolução que derrubou o regime Tsarista na Rússia, Lenin defendeu que Estados e sociedades capitalistas tendem a se tornar imperialistas ao competirem uns contra os outros por mercados ao redor do mundo. Lenin via a Primeira Guerra Mundial como uma guerra entre poderes imperialistas, e o novo regime socialista de trabalhadores que ele planejara não participaria disso. A paz foi estabelecida logo depois que Lenin e o Partido Comunista subiram ao poder, levando a Rússia sair da guerra.
Por outro lado, o economista Joseph Schumpeter defendeu que o capitalismo levaria mais facilmente à paz. Schumpeter argumentava que, com exceção do aumento de lucros para vendedores de armas, guerras são fortemente prejudiciais a economias capitalistas por destruírem a própria capacidade produtiva: infraestrutura, fábricas e mão de obra. Como os capitalistas são os possuidores dessa capacidade produtiva, seu real interesse é proteger e expandir o capital ao invés de destruí-lo. Em outras palavras, o economista defendeu que a paz é mais facilmente alcançável por meio da expansão de valores capitalistas que por meio de valores violentos, como o heroísmo e a glória.
Participação das democracias
Muitos analistas perceberam que, ao contrário do que Kant afirmava, as democracias não são, significativamente, mais pacíficas que outros tipos de Estados em geral, mas sim que as democracias, raramente, entram em conflito com outras democracias.
As democracias têm a mesma probabilidade de ir à guerra que outros tipos de regime político. Em guerras entre democracias e regimes autoritários, geralmente, as democracias iniciam o ataque e usam operações secretas nos conflitos.
Ao mesmo tempo, as explicações da paz democrática devem ser consistentes com as evidências de que as democracias:
· quase nunca acabam em lados opostos em guerras multilaterais;
· ganham um número desproporcional das guerras que lutam;
· sofrem menos baixas nas guerras que iniciam e 
· engajam-se em mais processos de resolução pacífica de conflitos.
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ausência de conflitos entre as democracias e a obsolescência da guerra
Pesquisadores ainda não conseguiram estabelecer um argumento que explique por que as democracias, raramente, entram em conflito umas com as outras. Em outras palavras, não se sabe quais são as características do regime democrático que contribuem para essa ausência de conflitos entre os seus pares. Alguns apontam para a necessidade de transparência dos processos políticos no âmbito doméstico – líderes democráticos precisam, muitas vezes, do apoio de outras instituições domésticas para participar de um conflito armado, além de terem de contar com o apoio da população em geral para manter o esforço de guerra. Caso os líderes acreditem que esse apoio não será possível, é muito provável que não iniciem o conflito armado, por anteciparem a impossibilidade de implementar ameaças e de sustentar o esforço de guerra pelo tempo necessário.
No entanto, apesar de explicar quais são as considerações que governos democráticos devem ter em mente antes de entrar em um conflito armado, essa hipótese ainda não explica por que democracias entram em guerra umas contra as outras raramente.
Uma característica marcante em algumas partes do mundo contemporâneo é a ausência de guerras. A região do Atlântico Norte, por exemplo, tem sido descrita como uma comunidade de segurança, um grupo de Estados para os quais a guerra desapareceu como um meio de resolução de disputas – embora tais Estados ainda possam usar a guerra contra oponentes externos à sua comunidade de segurança. Uma característica comum desses Estados é que todos eles são democracias. A suposição desse argumento de paz democrática é a de que, nas regiões onde habitam grupos de democracias, a guerra seria extinta e a de que, com a expansão de regimes democráticos pelo mundo, a guerra seria extinta. Entretanto, há o perigo de que algumas guerras aconteçam devido a tentativas de governos democráticos expandirem a zona democrática de paz para regimes não democráticos. Além disso, para alguns observadores, até regimes não democráticos são avessos a guerras nos casos em que eles e os seus rivais possuem armas nucleares.
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UNIDADE 1
Conceito de poder
O exercício de poder pode produzir resultados não antecipados ou resultados não intencionais. Da mesma forma, o poder não é só a capacidade de obter a mudança de comportamento de um ator, mas também a capacidade de fazê-lo com objetivos determinados
Robert Dahl
Professor Emérito de Ciência Política da Universidade de Yale. Membro da Academia Nacional de Ciências, da Sociedade Americana de Psicologia e da Academia de Ciências e Artes. Entre suas obras, destacam-se Sobre a Democracia, Análise Política Moderna e Poliarquia: participação e oposição.
poder
O estudo da política internacional implica, necessariamente, o estudo do poder. Embora o estudo do poder, na política internacional, esteja invariavelmente ligado às análises realistas clássicas, a ideia de que a política internacional é tingida por relações de poder é comum a todas as tradições de pensamento presentes na teoria das relações internacionais. Neoliberais, marxistas, construtivistas, globalistas, pós-modernos, feministas, entre outros, todos entendem que a dimensão do poder e as relações que ele permeia são fundamentais para compreendermos os fenômenos da política internacional. Dessa forma, cada tradição teórica favorece uma forma de entender o poder, mas nenhuma delas disputa a centralidade do poder na vida internacional.
A maioria das definições de política envolve alguma definição de poder. Por sua vez, grande parte, senão todas, as interações entre os atores no cenário internacional são, por natureza, políticas. Dessa forma, não é difícil entender a centralidade do conceito de poder nas análises dos fenômenos internacionais. Como afirmou Hans Morgenthau, a política internacional, como toda forma de política, é uma disputa pelo poder. Em outras palavras, quaisquer que sejam os objetivos finais da política internacional, poder é sempre o seu objetivo imediato.
A partir dessa definição, toda política pode ser entendida como uma política de poder (power politics), porque toda relação política envolve alguma forma de relação de poder. Isso não significa que a política possa ser reduzida ao poder, mas que esse é seu componente fundamental. Entender os principais fenômenos da política internacional passa, portanto, por entender o que é o poder, quais seriam as suas dimensões, como o poder se manifesta na vida internacional e como é exercido e controlado pelos atores no cenário internacional.
A centralidade do conceito de poder nas relações internacionais, contudo, não equivale a afirmar haver consenso entre os estudiosos da política internacional sobre a natureza e o papel do poder. Esse debate não se restringe aos analistas da política internacional; há muitas décadas, filósofos e cientistas sociais tentam definir o conceito, medi-lo e aplicá-lo às mais diversas formas de relações sociais.
Uma relação de poder opera em um domínio e em relação a determinada área ou com um escopo particular. Isso significa dizer que, em uma relação de poder, além de nos perguntarmos quem exerce o poder, precisamo-nos perguntar:
· sobre quem o poder está sendo exercido e 
· em que área o poder está sendo exercido.
Essas questões ajudam a delimitar as circunstâncias do exercício de poder.
domínio
O domínio de um ator é a quantidade de outros atores sobre os quais ele exerce poder ou influência na política internacional, em dado momento.
escopo
O escopo de um ator é a quantidade de temas sobre os quais ele consegue exercer poder ou influência na política internacional, em dado momento. Escopo e domínio são conceitos fundamentais para entender o exercício de poder como uma relação de poder.
Concepções tradicionais de poder
No estudo da política internacional, são duas as concepções tradicionais de poder:
· poder como relação e 
· poder como uma propriedade dos atores (em geral, dos Estados).
Por vezes, essas definições são utilizadas de forma paralela – o poder dos Estados, por exemplo, é definido com base nas suas capacidades e na sua relação com os demais Estados do sistema internacional.
Capacidades, por si só, não se transformam em recursos de poder, e alguns recursos podem ser utilizados de forma eficiente em uma relação de poder, mas não em outras. Os recursos em si também não produzem, necessariamente, uma mudança de comportamento, quanto mais um comportamento desejado.
Isso dependerá do contexto da relação de poder e da forma pela qual o poder é exercido.
Influência e coerção
Muitos analistas tratam as relações de poder de forma intercambiável com relações de influência ou de coerção. Outros estudiosos afirmam haver diferenciação entre aquelas e as relações de influência.
Geralmente, essa distinção se faz necessária quando entendemos que uma relação de poder é reservada a situações de oposição social na qual exercer poder é superar certa resistência do objeto sobre o qual o sujeito exerce esse poder, por vezes, por coerção ou por meio da aplicação de incentivos negativos.
Nessa situação, exercer influência seria, necessariamente, um movimento distinto, por produzir o comportamento desejado sem que haja necessidade de coerção, por meio de incentivos positivos. Nessa linha de raciocínio, a influência seria uma forma não coercitiva de poder.
influência
Há pelo menos duas formas de se entender a influência em relação ao poder.
A primeira é estabelecida em contraposição ao exercício do poder por meio da coerção. Nesse caso, o ator que exerce poder sobre outro procura atingir os seus objetivos sem o estabelecimento de incentivos negativos,
por exemplo, ameaças ou sanções. O ator consegue modificar o comportamento do seu alvo por meio de incentivos positivos, tais como a promessa de recompensas, a natureza atraente dos seus valores políticos ou da sua economia.
No segundo caso, a influência é entendida como um subproduto de uma tentativa não bem-sucedida de exercício de poder. Podemos entender esse segundo caso, por exemplo, quando o ator que exerce poder não consegue fazer com que o ator sobre o qual o poder é exercido mude o seu comportamento da forma desejada, mas, ainda sim, consegue que, de alguma forma, ele mude o seu comportamento. Desse modo, diz-se que o ator é apenas influente, mas não poderoso.
coerção
O conceito de coerção pode ser entendido em função tanto daquele que a exerce quanto daquele que a sofre.
Do ponto de vista de quem a exerce, a coerção, geralmente, refere-se aos movimentos e ações que um ator desenvolve para fazer com que outro ator se comporte de determinada maneira; em muitos casos, impondo a sua vontade sobre a vontade do outro e adquirindo vantagens sobre ele.
Já do ponto de vista de quem a sofre, a coerção tem um significado negativo, relacionado a medidas coercitivas tais como ameaças ou punições. Em relação ao agente que sofre a coerção, esta, normalmente, implica uma escolha que diminui a sua liberdade e a sua responsabilidade.
Por vezes, também se assume que a influência produz o efeito desejado sem que o objeto do exercício de poder se dê conta de que está participando de uma relação desigual e modificando o seu comportamento em benefício do sujeito que exerce o poder.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de aplicação de incentivos negativos.
aplicação de incentivos negativos
São exemplos de incentivos negativos as sanções econômicas e as ameaças militares.
Problema da credibilidade
Entender o exercício do poder como uma relação em que a coerção desempenha um papel principal implica trazer o problema da credibilidade.
É verdade que a coerção, por vezes, pode não produzir o comportamento desejado por parte do ator que exerce poder sobre outro. Nesse sentido, incentivos negativos podem ter consequências não previstas, também chamadas pela literatura de consequências não intencionais.
Também é verdade que, para tentar garantir que o exercício de poder tenha o efeito desejado sobre o objeto a que se aplica, é necessário que o ator que exerce poder tenha credibilidade perante o objeto da sua ação. Vejamos o esquema a seguir: 
Esse foi o caso, por exemplo, do bloqueio econômico de Cuba pelos Estados Unidos e da expulsão do país da Organização dos Estados Americanos (OEA), após Fidel Castro declarar a adoção do regime marxista-leninista em 1961.
Certamente, as duas sanções não produziram o efeito desejado pelos Estados Unidos – qual seja, o alinhamento de Cuba ao bloco ocidental e o abandono do regime comunista. Mesmo assim, o governo norte-americano seguiu com a aplicação das sanções, sendo que algumas permanecem até os dias de hoje.
No contexto de competição bipolar em que o mundo se encontrava durante a Guerra Fria, ficou claro que a capacidade de realizar ameaças críveis era fundamental para a sobrevivência de cada um dos dois blocos. Nesse sentido, a percepção de como as relações de poder foram conduzidas no passado também influenciará como os atores responderão no presente tanto com relação à apresentação de ameaças ou de recompensas no exercício do poder.
Exemplo
Clique no ícone para acessar um exemplo de ameaças.
ameaças
Podem ser consideradas ameaças: uma invasão militar, sanções políticas, a exclusão de instituições internacionais, etc.
Tipos de poder:
 Michael Barnett
Bacharel pela University of Illinois e Ph.D. pela University of Minnesota, Barnett é professor de Assuntos Internacionais e Ciência Política na George Washington University.
Os seus livros mais recentes são Empire of humanity: a history of humanitarianism e Humanitarianism contested: where angels fear to tread.
Raymond Duvall
Ph.D. pela Northwestern University, Duvall é professor e diretor Associado do Centro Interdisciplinar de Estudos de Mudanças Globais da University of Minnesota, além de professor-assistente do Departamento de Ciência Política da Yale University.
Michael Barnett e Raymond Duvall desenvolveram uma análise extensiva do conceito de poder nas relações internacionais. A taxonomia que os autores desenvolveram a partir dessa análise tinha como objetivo responder à seguinte questão fundamental:
De que maneira os atores são capazes de determinar os seus destinos e como essa habilidade é limitada ou potencializada pelas relações sociais de que eles participam com outros atores?
Para Barnett e Duvall, analisar o poder nas relações internacionais deve levar em consideração duas questões:
1: A capacidade de um ator agir diretamente para modificar o comportamento de outro.
2: A produção de agendas e estruturas que delimitam as relações sociais de interação entre os atores sobre os quais o poder é exercido.
Nesse sentido, além de nos perguntarmos sobre quem o poder é exercido, devemo-nos questionar para que ele é exercido.
Atenção!
Responder a essa segunda questão é tentar entender como as relações sociais definem quem os atores são e que tipo de capacidades e práticas eles podem utilizar em determinada relação de poder.
A abordagem dessas duas dimensões – poder sobre quem e poder para quê – ocorre por meio da análise de três tipos de poder. Clique em cada um deles a seguir para obter mais informações.
poder compulsório: É a capacidade de um ator – ou grupo de atores – exercer controle direto sobre outro. Esse tipo de poder está presente sempre que as ações de A controlam as ações ou circunstâncias de B, mesmo que de forma não intencional.
Nesse caso, entende-se que a relação de poder existe mesmo que o ator que exerce o poder não tenha consciência de como as suas ações influenciam o comportamento de outros atores.
O tipo de relação entendido como poder compulsório sublinha os recursos que A emprega para produzir uma mudança no comportamento de B.
Esses recursos não são limitados a capacidades materiais, mas compreendem também recursos simbólicos e normativos, como o apelo às normas e à autoridade constituída.
poder institucional: Ocorre quando atores exercem controle sobre outros por meio de relações sociais difusas de interação.
Nesse sentido, enquanto o poder compulsório estabelece o controle direto de um ator sobre outro, o poder institucional determina o controle por meios indiretos.
O poder institucional ocorre, portanto, quando instituições formais ou informais medeiam a relação entre A e B. Nesse caso, A trabalha por meio de regras, normas, práticas e procedimentos que definem essas instituições para guiar, constranger ou potencializar as ações de B.
Esse entendimento ressalta a possibilidade de o poder ser exercido na formação e no desenvolvimento de instituições, enquanto estas podem refletir relações de poder, constranger ou fornecer a base para o seu exercício.
poder estrutural: É a constituição das capacidades dos sujeitos em uma relação estrutural direta uns com os outros.
Enquanto o poder institucional sublinha os diferentes constrangimentos que os arranjos institucionais produzem sobre os atores, o poder estrutural foca os processos que constituem a formação das capacidades e dos interesses dos atores.
O poder estrutural analisa como as estruturas constituem privilégios sociais desiguais em relações de poder.
Esse tipo de poder é conferido, por exemplo, pela distribuição desigual de recursos e capacidades aos atores na estrutura do capitalismo global.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de poder estrutural.
poder estrutural
O exemplo clássico é a relação entre mestre e escravo, ou entre professor e aluno. O mestre não pode existir sem escravos, assim como não há professor sem alunos. Nessa perspectiva, a relação entre os atores é determinada pelas posições que eles ocupam um em relação ao outro. Essas posições, por sua vez, podem implicar relações de dependência ou interdependência,
ou seja, são alocadas capacidades e vantagens diferenciais para cada posição.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre poder institucional.
poder institucional
As instituições podem influenciar a forma como determinado assunto é entendido, por vezes, implicando quem melhor se beneficiaria dessa forma de entendê-lo.
Alguns estudiosos das instituições internacionais também têm demonstrado como regras, normas e procedimentos de tomada de decisão podem afetar os resultados de uma dada relação de poder, de forma a favorecer alguns grupos em detrimento de outros.
Podemos dizer que, no poder institucional, o foco não está nos recursos empregados por A na relação de poder – como ocorre no caso do poder compulsório –, mas sim nos arranjos institucionais que favorecem a posição de A em relação a B.
UNIDADE 2
Capacidades e recursos de poder
A análise do poder como capacidades ou elementos do poder nacional não só aparece, com frequência, nos estudos realistas e neorrealistas das relações internacionais, como se encontra firmemente enraizada nos estudos da balança de poder, não importando qual versão consideremos.
Análise de poder
As duas principais abordagens de análise do poder nas relações internacionais têm tratado o poder ou como capacidades e recursos (ou elementos do poder nacional), ou como uma relação.
Por essa razão, grande parte das discussões sobre poder começa por fazer uma distinção básica entre o poder como:
· uma capacidade ou propriedade da unidade a ser analisada – na política internacional, isso, geralmente, se refere aos Estados, mas pode incluir também atores não estatais – ou 
· uma relação entre unidades.
Ambas as abordagens de análise do poder estão presentes na literatura contemporânea sobre relações internacionais, mas, por vezes, são associadas a tradições teóricas distintas.
Poder como relação
A abordagem do poder como relação foi desenvolvida, durante a segunda metade do século XX, por estudiosos de uma variedade de disciplinas das Ciências Sociais e da Filosofia.
Poder como capacidades e recursos
A análise do poder como capacidades e recursos está mais intimamente ligada à tradição realista nas relações internacionais.
Histórico
No século XVIII, o poder de Estados individuais era concebido como suscetível a ser medido por certos fatores bem definidos. Clique nas imagens para conhecer esses fatores.
Nos séculos seguintes, esse entendimento da composição do poder dos Estados passou a compreender os elementos do poder nacional.
Podemos destacar, nesse período, as seguintes obras:
Politics among nations (1948), deHans Morgenthau: Hans Morgenthau
Cientista político, filósofo e historiador especialista em Política Internacional. Autor de livros como Política entre nações, Morgenthau lecionou nas universidades de Chicago e Nova Iorque, entre outras.
Seu trabalho exerceu grande influência no campo de Teoria de Relações Internacionais, principalmente na corrente Realista.
The twenty years crisis (1919-1939, publicado em 1939), deE. H. Carr: Edward Carr
Professor de Política Internacional, jornalista e diplomata britânico. Autor de livros como Vinte anos de crise, 1919-1939 (1939) e What is history? (1961), Carr é considerado um dos principais defensores da corrente teórica realista das Relações Internacionais.
Após 20 anos de experiência, Carr desistiu da carreira diplomática para lecionar na Universidade de Aberystwyth, País de Gales, e para atuar como editor-assistente da revista The Times.
Balança de poder
A análise do poder como capacidades ou elementos do poder nacional não só aparece, com frequência, nos estudos realistas e neorrealistas das relações internacionais, como se encontra firmemente enraizada nos estudos da balança de poder, não importando qual versão consideremos.
Todas as versões da Teoria da Balança de Poder compartilham da premissa de que é possível identificar e combinar os vários elementos do poder nacional para calcular a distribuição de poder entre as grandes potências.
A ideia de balança de poder pode ser entendida de duas formas:
· como política implementada pelo Estado no cenário internacional ou 
· como propriedade do sistema internacional.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre as ideias de balança de poder.
ideias de balança de poder
A primeira interpretação de balança de poder compreende as estratégias desenvolvidas pelos Estados para evitar que alguma das grandes potências adquira predominância no sistema internacional e torne-se, desse modo, hegemônica.
A segunda interpretação entende que os padrões de interação dos Estados no sistema tenderão a gerar um equilíbrio na distribuição de poder, evitando o aparecimento de um poder hegemônico.
A ideia de balança de poder como propriedade do sistema internacional foi desenvolvida, de forma mais sistemática, por Kenneth Waltz em Theory of international politics, livro publicado em 1979.
No seu trabalho, Waltz propõe uma teoria estrutural da política internacional. Segundo o autor, uma das características definidoras dessa estrutura é a distribuição de capacidades entre os Estados.
Para Waltz, os Estados podem ser classificados de acordo com a quantidade e a extensão das capacidades que possuem. As capacidades, por sua vez, determinam a posição de poder do Estado no sistema internacional.
Essas capacidades, segundo o autor, seriam, necessariamente, as seguintes:
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre necessidade de uma grande potência.
necessidade de uma grande potência
Para ser considerado grande potência, o Estado precisa se destacar em todas as capacidades, embora seja difícil determinar a priori qual deve ser a configuração dessas capacidades para que ele se destaque – muitos estudiosos desse entendimento da balança de poder afirmam, inclusive, que essa medida é necessariamente relacional, sendo comparativa com as capacidades dos demais Estados.
Por conta disso, Waltz reconhece que os Estados gastam muito tempo estimando as capacidades dos outros, especialmente as suas habilidades de prejudicar os outros.
Capacidades
Capacidades ou recursos de poder são partes fundamentais de uma relação de poder, embora a presença dessas capacidades, por si só, não determine a natureza de tal relação.
Uma vez que a habilidade de fazer um ator mudar o seu comportamento é associada à posse de certos recursos, muitos políticos e diplomatas definem o poder como o agrupamento de algumas capacidades.
Muitos estudiosos também entendem que, para obter o comportamento desejado do ator sobre o qual o sujeito (também um ator) está exercendo poder, é necessário, antes de tudo, que o agente tenha determinadas capacidades ou recursos que mobilizem o objeto da sua ação na direção desejada.
Sem as capacidades para exercer poder, o sujeito não consegue obter o comportamento desejado. Por outro lado, as capacidades, por si só, não se transformam em poder.
Por exemplo, recursos militares não são, necessariamente, poder militar, a não ser que o seu uso ou a sua ameaça de uso por parte de um Estado atue para produzir a mudança de comportamento desejada sobre outro ator.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre o exercício de poder.
exercício de poder
O exercício de poder ocorre quando um ator ou grupo de atores atua para modificar o comportamento de outro ator ou grupo de atores no sentido de produzir a sua vontade.
Discussões de poder
Apesar de haver controvérsias sobre que fatores constituem capacidades passíveis de serem transformadas em recursos de poder, alguns indicadores figuram, com certa frequência, em análises sobre o poder como capacidades ou propriedades das unidades. Navegue pelas setas para conhecer esses indicadores.
1: O Produto Interno Bruto (PIB) e o PIB per capita, o tamanho da população, a extensão territorial e a localização geográfica, e o tamanho das forças armadas;
2: Fatores ligados à condução da política doméstica, como qualidade do serviço diplomático, estabilidade política, natureza do regime político, qualidade do governo
e apoio público.
Discussões sobre poder que o considerem como capacidades têm de levar dois elementos em consideração. Clique em cada um deles a seguir para conhecê-los. 
· 1º elemento
Primeiramente, as capacidades de um Estado precisam ser avaliadas de forma relacional, isto é, em comparação com as capacidades de outros Estados.
Além disso, como vimos, as capacidades não funcionam, necessariamente, como recursos de poder em todas as situações. Na verdade, o que pode constituir um elemento de poder em uma situação pode constituir uma fraqueza em outra.
· 2º elemento
O segundo elemento a ser considerado é o conjunto de premissas que está envolvido na definição de quem (e como) está tentando mudar o comportamento de quem, a fim de atingir o quê com isso.
Sem ter ciência dessas premissas, é difícil avaliar as capacidades de um Estado.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre premissas nas discussões de poder.
premissas nas discussões de poder
Nas discussões de poder, existem premissas a serem consideradas. Analogicamente, seria como dizer que um jogador tem uma boa mão de cartas, mas não sabe que jogo está sendo jogado.
Alguns autores denominaram essas premissas de quadro de contingências políticas.
Dessa forma, elencar as capacidades pode ser um movimento para atentar para o poder em potencial dos Estados.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de poder e fraqueza.
poder e fraqueza
Possuir um regime democrático pode ser uma vantagem se a política implementada no cenário internacional necessita de forte consenso interno, mas também pode ser uma fraqueza em negociações políticas nas quais a velocidade da capacidade de tomar uma decisão constitui uma vantagem fundamental.
Limites
Mesmo os Estados mais poderosos têm limites com relação às capacidades que podem atingir.
Em muitos casos, o efeito das capacidades também está ligado à percepção dos atores de que os Estados vão, de fato, empregá-las no exercício de poder.
Nesse caso, a capacidade militar de possuir armamentos nucleares, por exemplo, pode não ser vista como um recurso de poder se os demais Estados não acreditam que a potência nuclear estaria disposta a empregá-la em um conflito militar.
Em definições de poder, além de existirem como propriedades dos Estados, as capacidades também podem figurar como relações.
Nesse caso, as capacidades – ou recursos de poder, atentando para a qualidade potencial de esses recursos se transformarem em instrumentos de poder – são situadas nos contextos de domínio e escopo do ator que está exercendo poder.
armamento nuclear
Dispositivo militar de alto poder destrutivo. A sua grande capacidade de destruição deriva de reações nucleares, como fusão ou fissão. As armas nucleares podem ser atômicas ou de hidrogênio, ambas com semelhantes alcance e força. Tal força deriva da grande quantidade de energia liberada pelas fusões ou fissões nucleares.
Até os dias atuais, somente dois dispositivos nucleares foram empregados em conflitos. As duas bombas, de procedência estadunidense, foram explodidas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945.
As armas nucleares são, atualmente, muito versáteis, sendo desenhadas para qualquer tipo de conflito, de pequena ou grande escala.
É importante notarmos o caráter estratégico que as armas nucleares adquiriram na política externa de grandes potências, sobretudo durante o contexto da Guerra Fria. Devido ao seu alto poder destrutivo, essas armas, apesar de serem raramente empregadas, desempenham um papel de dissuasão diplomática, sob a égide da ameaça de serem utilizadas. Nesse sentido, as armas nucleares desfrutam de maior valor estratégico em termos políticos e de menor valor estratégico em termos militares.
Atenção!
É mais fácil estimarmos os recursos de que um arquiteto ou um engenheiro civil vai precisar para finalizar o seu projeto se soubermos se ele planeja construir uma casa ou um edifício de vinte andares.
Cinco eixos
As capacidades mais indicadas na literatura estão agrupadas em cinco eixos. Clique nas abas para conhecê-los.
capacidades militares : O lugar privilegiado das capacidades militares no estudo da política internacional é demonstrado e reforçado por numerosas referências à centralidade da força nas relações entre os Estados.
O estudo do poder na política internacional se transforma, facilmente, no estudo da capacidade de os Estados conduzirem e ganharem um conflito armado, ao mesmo tempo em que a força, muitas vezes, é compreendida como a forma definitiva de poder.
Mesmo Robert Keohane e Joseph Nye, que criticaram a ênfase tradicional na força militar, representam a força como um meio de poder que termina por dominar os demais meios.
As capacidades militares incluem as forças convencionais e nucleares que um Estado pode empregar no evento de um conflito armado. A posição de poder de um Estado, no que tange às suas capacidades militares, pode ser avaliada por meio do tipo e do tamanho das forças que tal Estado emprega em um conflito, onde pode empregá-las e por quanto tempo.
capacidades geográficas : O tamanho da população de um Estado, a extensão e a localização do seu território são fatores avaliados quando nos referimos às capacidades geográficas.
O tamanho da população e a localização geográfica estão intimamente ligados às capacidades de defesa de um Estado frente à ameaça de um conflito armado.
O tamanho da população pode importar no sentido de representar recursos humanos que podem ser empregados nos esforços militares, tanto diretamente nas forças armadas quanto na indústria de esforços militares. A localização geográfica, por sua vez, pode representar vantagens ou desvantagens.
A localização do Reino Unido e do Japão em arquipélagos, por exemplo, proporcionou a esses dois Estados resistência às invasões continentais – no caso do Reino Unido, durante as guerras napoleônicas, no início do século XIX.
A Polônia e a Rússia, por sua vez, sofreram diversas invasões terrestres por conta da sua localização (invasão da Rússia por Napoleão e, mais de um século depois, por Hitler).
A localização geográfica em termos da disponibilidade de recursos materiais é outro fator a ser considerado. Apesar do seu potencial econômico e da localização geográfica inicialmente privilegiada, o Japão depende da importação de recursos minerais e de petróleo de várias regiões.
capacidades econômicas : O Produto Interno Bruto (PIB) de um Estado e o seu PIB per capita são as principais medidas utilizadas para avaliar as capacidades econômicas, mas não são as únicas.
O PIB é a medida de toda a riqueza, em termos de bens e de serviços, produzida por um Estado no período de um ano. As taxas de crescimento econômico e a produtividade econômica de um Estado também são indicadores das suas capacidades econômicas.
Também influenciam as capacidades econômicas de um Estado e a sua capacidade de ação no cenário internacional:
· a condição da infraestrutura econômica;
· o nível de desenvolvimento industrial;
· o grau de investimento em inovação tecnológica;
· a qualidade de investimento do capital;
· o valor da moeda no sistema financeiro internacional e 
· a estrutura financeira doméstica.
capacidades políticas : Vários elementos podem ser listados como formadores da capacidade política dos Estados. Alguns, contudo, aparecem de forma recorrente, tais como:
· natureza do sistema político – pode afetar a composição das suas capacidades políticas, embora os estudiosos da política internacional não concordem exatamente sobre como essa influência ocorre;
· cultura política – refere-se ao conjunto de valores, normas e orientações da cultura de uma sociedade que podem influenciar o processo político doméstico. Há, por exemplo, Estados em que, historicamente, a participação popular em assuntos de política externa é mais comum, enquanto há sociedades em que temas internacionais costumam ter menos apelo em discussões cotidianas e em que o processo de tomada de decisões costuma ser mais insulado do resto da sociedade;
· recursos humanos – categoria utilizada para se referir, normalmente,
à qualidade dos recursos burocráticos e diplomáticos, o que pode contribuir para as capacidades políticas de um Estado e para o seu exercício de influência na política internacional e
· reputação – pode ser um elemento fundamental na percepção dos formuladores de políticas externas. A reputação de um Estado de cumprir os seus acordos comerciais, respeitar os seus compromissos de segurança em relação a outros países ou mesmo cumprir ameaças ou promessas feitas, seja em termos de incentivos negativos ou positivos, pode influenciar, decisivamente, a maneira como os demais atores reagem às suas ações no cenário internacional.
capacidades sociais e culturais : A definição de poder com base somente nas capacidades militares e na conquista de novos mercados tem perdido espaço e passado a conviver com fatores como crescimento econômico, coesão social, tecnologia e educação na determinação de recursos de poder de um Estado.
A coesão social de um Estado pode ter influências sobre a sua posição de poder.
Outro fator a ser considerado é a capacidade de um Estado de exercer influência sobre outros países dada a atração exercida por:
· suas ideias;
· seu sistema social;
· seu modelo de desenvolvimento econômico;
· seus valores culturais;
· laços comuns em termos de linguagem, história, religião ou identidade étnica e racial.
Índices de desenvolvimento social, níveis educacionais da população e a estrutura de valores de uma sociedade também podem influenciar a posição de um Estado no cenário internacional.
A tecnologia é mais um fator com potencial para afetar a formação, o desenvolvimento e a eficiência das demais capacidades. Atualmente, a capacidade de responder, prontamente, a fluxos de informação pode tornar-se um recurso de poder crítico para os Estados, seja na área de inteligência, na área econômica ou na formação de recursos humanos.
A emergência de uma economia baseada também na posse e na distribuição de informação torna o desenvolvimento e investimento em tecnologia da informação uma capacidade essencial para uma atuação internacional eficiente.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre capacidades militares, produtividade econômica de um Estado, natureza do regime político, cultura política de um Estado e índices de desenvolvimento.
Cinco eixos
As capacidades mais indicadas na literatura estão agrupadas em cinco eixos. Clique nas abas para conhecê-los.
capacidades militares 
capacidades geográficas 
capacidades econômicas 
capacidades políticas 
capacidades sociais e culturais 
A definição de poder com base somente nas capacidades militares e na conquista de novos mercados tem perdido espaço e passado a conviver com fatores como crescimento econômico, coesão social, tecnologia e educação na determinação de recursos de poder de um Estado.
A coesão social de um Estado pode ter influências sobre a sua posição de poder.
Outro fator a ser considerado é a capacidade de um Estado de exercer influência sobre outros países dada a atração exercida por:
· suas ideias;
· seu sistema social;
· seu modelo de desenvolvimento econômico;
· seus valores culturais;
· laços comuns em termos de linguagem, história, religião ou identidade étnica e racial.
Índices de desenvolvimento social, níveis educacionais da população e a estrutura de valores de uma sociedade também podem influenciar a posição de um Estado no cenário internacional.
A tecnologia é mais um fator com potencial para afetar a formação, o desenvolvimento e a eficiência das demais capacidades. Atualmente, a capacidade de responder, prontamente, a fluxos de informação pode tornar-se um recurso de poder crítico para os Estados, seja na área de inteligência, na área econômica ou na formação de recursos humanos.
A emergência de uma economia baseada também na posse e na distribuição de informação torna o desenvolvimento e investimento em tecnologia da informação uma capacidade essencial para uma atuação internacional eficiente.
Comentário
Clique no ícone para acessar um comentário sobre capacidades militares, produtividade econômica de um Estado, natureza do regime político, cultura política de um Estado e índices de desenvolvimento.
Exemplo
Clique no ícone para acessar um exemplo de coesão social de um Estado.
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capacidades militares, produtividade econômica de um Estado, natureza do regime político, cultura política de um Estado e índices de desenvolvimento
A presença de bases militares norte-americanas em vários locais do planeta, por exemplo, certamente oferece uma vantagem na participação dos Estados Unidos em um conflito armado que ocorra em qualquer ponto do globo. O desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais (MBIs) também afetou a capacidade de os Estados atingirem partes distantes do seu território. É claro que as capacidades militares de um Estado dependem também das suas capacidades econômicas, como o fornecimento de recursos, tais como pessoal e equipamento militar, o investimento no desenvolvimento de tecnologia militar, etc.
A produtividade de um Estado resulta do uso eficiente dos seus recursos naturais e humanos, quer eles façam parte do seu território – como é o caso de Estados ricos em recursos naturais, como os Estados Unidos e o Brasil –, quer sejam importados – como é o caso do Japão e, em parte, da China.
Realistas clássicos, como George Kennan, Hans Morgenthau e E. H. Carr, acreditam que Estados democráticos têm uma desvantagem no processo de tomada e implementação de decisões, especialmente em matéria de política externa. Para esses autores, a natureza dividida de uma sociedade democrática faz com que os líderes políticos não consigam tomar e implementar decisões de forma a responder, rapidamente, aos desafios colocados no cenário internacional. Ademais, o fato de que as decisões de política externa podem estar sujeitas à aprovação popular pode provocar sérios constrangimentos à condução da política externa, uma vez que a sociedade não seria, necessariamente, especialista em assuntos de política internacional. Morgenthau, por exemplo, afirma que
“[...] uma política externa que seja apoiada pela opinião pública de modo apaixonado e arrebatador não pode, somente por essa circunstância, ser considerada como uma política externa boa. Talvez seja o contrário, uma vez que a harmonia entre a referida política externa e a opinião pública possivelmente terá sido alcançada ao preço do abandono dos princípios de uma boa política em favor de preferências pouco judiciosas da opinião pública."
Nesse caso, é importante notarmos que a crítica à natureza dividida do regime democrático não significa, diretamente, um endosso aos regimes autoritários.
Outros estudiosos, pelo contrário, acreditam que os regimes democráticos fortalecem a condução da política externa de um Estado por fortalecer a credibilidade e legitimidade das decisões tomadas no âmbito doméstico. Uma vez que as decisões políticas estão sujeitas à aprovação de vários setores da sociedade, inclusive da opinião pública, a decisão final, ao espelhar as demandas de vários grupos domésticos, pode alcançar maior apoio nacional e legitimidade no âmbito internacional.
Nesse caso, a construção de um amplo consenso por meio da discussão pública de questões de política externa pode compensar a perda de velocidade e eficiência relativa no processo de tomada de decisões.
Mesmo dentro dos regimes democráticos pode haver diferenças na forma como a política externa é conduzida, de acordo com a forma de organização política interna desses regimes. Governos parlamentares tendem a ser mais decisivos e compreensivos, além de desenharem políticas externas mais eficientes do que governos presidencialistas, uma vez que, no primeiro caso, o representante político do Executivo responsável pela condução da política externa também é membro da maioria parlamentar do Estado, o que pode não ocorrer no caso de regimes com maior separação entre os poderes Executivo e Legislativo. No entanto, não está exatamente claro como essas diferenças afetam o processo de negociação de um Estado
no cenário internacional.
No caso de países como o Brasil e os Estados Unidos, com regimes presidencialistas, qualquer acordo estabelecido no âmbito internacional está sujeito à aprovação dos parlamentos domésticos, o que significa que a decisão tomada pelo Executivo pode não ser final; pelo contrário, uma vez ratificada pelos respectivos parlamentos, essa decisão pode desfrutar de maior apoio doméstico e aumentar o compromisso com a sua implementação por parte do Estado no cenário internacional. Morgenthau analisa as características da cultura política de um Estado sob a nomenclatura de índole nacional e fornece o seguinte exemplo de como ela pode afetar a posição de um Estado na política internacional:
“Os governos de nações militaristas dispõem de condições para planejar, preparar e travar uma guerra quando lhes parecer mais oportuno. [...] Já os governos de nações pacifistas [...] encontram-se, a esse respeito, em uma situação muito mais difícil e contam com muito menor liberdade de ação. Por estarem assim limitados pelo antimilitarismo de seus povos, eles têm de adotar um curso de ação mais cauteloso em matéria de política internacional” (1948, p. 260).
Um dos motivos da Revolução Cultural (1966-1976) teria sido, exatamente, a destruição de valores tradicionais confucionistas. Acreditava-se, na época, que tais valores estariam impedindo o desenvolvimento industrial da sociedade chinesa.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de coesão social de um Estado.
coesão social de um Estado
Estados com crises de autoridade e tumultuados por disputas religiosas, ideológicas e raciais, por exemplo, têm dificuldade para agir de forma eficiente no cenário internacional.
De forma semelhante, é possível inferir que Estados culturalmente e socialmente homogêneos ou que conseguiram estabelecer compromissos e ligações substantivas entre as nações que os compõem – como é o caso, por exemplo, do Canadá e da Bélgica – têm maior facilidade para agir internacionalmente.
UNIDADE 3
Interesses e objetivos
Geralmente, os interesses dos Estados são diversos e apresentam-se para os líderes em ordem de prioridade distinta. No entanto, análises tradicionais da política internacional entendiam que o mínimo objetivo comum de qualquer Estado seria a sobrevivência nacional ou, colocado de outra forma, a defesa da sua soberania.
Definição weberiana
Max Weber definiu poder como:
A probabilidade de um ator dentro de uma relação social estar em posição de realizar sua vontade apesar de resistência, apesar da base sobre a qual essa probabilidade se baseia.
A definição de Weber recupera um elemento importante da discussão: a definição de poder como um exercício relacional entre atores ou grupos de atores.
No entanto, a explicação de Weber também faz com que as intenções do ator que exerce o poder sejam uma parte importante da sua definição.
Componentes essenciais
A definição weberiana de poder sublinha dois componentes essenciais da relação de poder. Clique nas imagens para conhecê-los.
Em um sistema anárquico, assume-se que os Estados sejam atores racionais que agem de forma a atingir os objetivos estabelecidos de acordo com os seus interesses.
Nesse cenário, o potencial de um ator para atingir os seus objetivos por meio do exercício de poder não será apenas definido pelas capacidades desse ator que exerce o poder, mas também pelas capacidades relativas – além dos constrangimentos institucionais e normativos – dos atores sobre o qual o poder é exercido.
Soberania
Geralmente, os interesses dos Estados são diversos e apresentam-se para os líderes em ordem de prioridade distinta. No entanto, análises tradicionais da política internacional entendiam que o mínimo objetivo comum de qualquer Estado seria a sobrevivência nacional ou, colocado de outra forma, a defesa da sua soberania.
Esse objetivo era uma meta necessária dos Estados, por exemplo, durante os séculos XVIII e XIX, quando a sobrevivência territorial ou a autoridade de um Estado sobre parte do seu território poderia ser ameaçada a qualquer momento por outros Estados que desejassem expandir o seu território ou que não reconheciam a jurisdição de algum governo sobre o seu território.
É possível perceber que, com exceções específicas, a preservação da soberania dos Estados na ordem internacional do século XXI não é mais um imperativo dos Estados.
Objetivos como guias no processo de decisão
Interesses precisam ser traduzidos em objetivos para figurarem no processo político. Ao traduzir interesses em objetivos, os formuladores de política externa utilizam esses objetivos como guia no processo de decisão.
Os objetivos não são estipulados apenas em função dos interesses de um Estado, mas também em função das ameaças e das oportunidades apresentadas aos formuladores políticos pelo sistema internacional.
Atenção!
Os interesses e objetivos de um Estado não são estáticos. Eles se desenvolvem ao longo do tempo, acompanhando as contingências do sistema internacional. 
Os objetivos dos Estados Unidos com relação ao continente europeu, por exemplo, modificaram-se, de forma acentuada, do final do século XIX até o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Vejamos: 
final do século XIX: O principal objetivo do Estado norte-americano com relação ao continente europeu era não tomar parte nas disputas entre os Estados europeus.
final da Segunda Guerra Mundial: O objetivo dos Estados Unidos era assegurar a reconstrução da Europa ocidental, de forma a impedir o avanço do comunismo.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre objetivos dos Estados Unidos com relação à Europa ao longo do tempo.
objetivos dos Estados Unidos com relação à Europa ao longo do tempo
Enquanto o primeiro objetivo se traduziu em uma política isolacionista e na afirmação da Doutrina Monroe (1823) e do Corolário Roosevelt (1903), o segundo se traduziu no Plano Marshall (1947) e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (1949).
Podemos também dizer, de forma inversa, que esses objetivos refletiram, no primeiro momento, um interesse na promoção do desenvolvimento doméstico às expensas da participação no cenário internacional e, no segundo, um interesse na contenção do comunismo e da influência soviética no território europeu.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de ameaças e oportunidades apresentadas pelo sistema internacional.
ameaças e oportunidades apresentadas pelo sistema internacional
É possível que o objetivo de reunificação das duas alemanhas, no final da década de 1980, só tenha se apresentado como uma oportunidade para os formuladores políticos da República Federal da Alemanha e da República Democrática Alemã devido às reformas domésticas na União Soviética, levadas a cabo por Mikhail Gorbachev.
Da mesma forma, a ameaça de eclosão de uma guerra nuclear fez com que a contenção da proliferação de armas nucleares se tornasse um objetivo de política externa das duas superpotências ao longo das décadas de 1960 e 1970.
alianças
Uma aliança é um acordo formal estabelecido entre dois ou mais Estados que buscam cooperar entre si. Normalmente, alianças são formadas para fins militares ou são resultantes de questões de segurança internacional.
Cabe mencionarmos que alianças podem alterar o equilíbrio de poder internacional, já que agrupam diferentes Estados com um objetivo comum em detrimento de outros Estados, que são excluídos.
Influência de atores não estatais
atores não estatais
Qualquer ator que não seja um Estado, como organizações internacionais, empresas transnacionais, movimentos sociais transnacionais, etc.
O processo de definição dos objetivos a serem perseguidos por meio da política externa não é isento de controvérsias.
Pode haver controvérsias dentro de setores do governo e mesmo dentro de burocracias governamentais acerca de que objetivos devem ser definidos em função dos interesses do Estado.
Grupos de fora do governo também podem participar do processo de definição dos objetivos, influenciando-o. A seguir, apresentamos alguns desses grupos. Clique nas imagens
para conhecê-los.
Além de participarem do processo de definição e de implementação dos objetivos dos Estados, os atores não estatais também têm interesses e objetivos próprios, e, por vezes, procuram implementá-los no cenário internacional apesar dos objetivos dos Estados.
As ONGs comprometidas com a promoção e a defesa dos direitos humanos, por exemplo, podem deparar-se com a resistência de Estados que tenham como objetivo manter a sua política doméstica longe de possíveis críticas no cenário internacional.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de influências no processo de definição dos objetivos na política externa.
influências no processo de definição dos objetivos na política externa
A relação conflituosa entre grupos de interesse ligados à indústria de armamentos e o governo dos Estados Unidos durante o período da deténte é um exemplo de influência no processo de definição dos objetivos na política externa.
Enquanto o governo norte-americano procurava estabelecer um compromisso de redução da corrida armamentista com a União Soviética, esses grupos de interesse desaprovavam a decisão por significar um corte nos investimentos e gastos com aparato militar.
Conflito de objetivos
A priorização dos objetivos também pode estar sujeita a disputas e controvérsias. Nesse processo, é possível, ainda, que a realização de alguns objetivos entre em conflito com a realização de outros.
Os objetivos não precisam ser, necessariamente, todos compatíveis entre si. Muitas vezes, os estadistas precisam tomar decisões com base em objetivos conflitantes.
Também não é incomum que objetivos de política externa conflitem com objetivos domésticos.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um comentário sobre conflito de objetivos.
conflito de objetivos
O objetivo de promover a exportação de um produto nacional pode conflitar, por exemplo, com o objetivo de garantir o acesso desse produto à população doméstica. Estratégias potencialmente associadas com a realização desse objetivo, como a desvalorização da moeda nacional no cenário nacional para que os seus produtos se tornem mais competitivos podem, por exemplo, afetar indústrias domésticas que dependem da importação de matéria-prima.
O equilíbrio de objetivos de política externa e de objetivos domésticos, em última instância, ficará a cargo dos tomadores de decisão, que são influenciados não só pelas disputas burocráticas, mas também pela pressão de grupos fora do governo.
Interesse nacional
Não há como discutirmos interesses e objetivos sem tratarmos do conceito de interesse nacional.
Até meados do século XX, nas análises da política internacional, havia uma tendência generalizada de equacionar interesses e objetivos com a ideia de interesse nacional.
O desenvolvimento do conceito no léxico político acompanhou o desenvolvimento da figura do Estado-Nação, substituindo o emprego da ideia de raison d‘etat.
Esse é um dos motivos pelo qual o conceito refletia a centralidade da figura do Estado-Nação como ator, quase exclusivo, da política internacional. Afinal, quem além do Estado poderia ter interesses nacionais?
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre interesse nacional.
interesse nacional
Atores não estatais teriam interesses e objetivos limitados ao cenário doméstico, sendo o âmbito internacional reservado para a interação dos Estados.
Muitas vezes, o interesse nacional foi compreendido como algo determinado de forma objetiva e imutável, apesar dos diversos estadistas que, em momentos diferentes, o enunciavam. Nesse último sentido, a ideia de interesse nacional passou a ser utilizada como um recurso do discurso político para justificar preferências políticas, e não um conceito analítico capaz de explicar a formação de interesses e a definição de objetivos. Por conta disso, cada vez menos, o termo é empregado como ferramenta analítica representante dos objetivos que guiam a condução da política externa, sendo progressivamente reservado ao uso de estadistas e formuladores políticos.
UNIDADE 4
Exercício e controle de poder
O poder político pode ser exercitado por meio de ordens e ameaças, pela autoridade ou carisma de um homem ou de um órgão bem como pela combinação de quaisquer desses meios.
Poder político
Morgenthau afirma que o poder político consiste em uma relação entre os que o exercitam e aqueles sobre os quais ele é exercido.
O poder político faculta aos primeiros o controle sobre certas ações dos últimos, mediante o impacto que os primeiros exercem sobre as mentes desses últimos. 
Esse impacto pode derivar de três fontes:
· expectativa de benefícios;
· receio de desvantagens e 
· respeito por indivíduos ou instituições.
O poder político pode ser exercitado por meio de ordens e ameaças, pela autoridade ou carisma de um homem ou de um órgão bem como pela combinação de quaisquer desses meios.
O exercício e o controle do poder apresentam algumas diferenças importantes com relação à maneira como foram empregados, por exemplo, durante a primeira metade do século XX.
Alguns movimentos fizeram com que se tornasse mais difícil empregar recursos tradicionais de poder ou converter recursos de uma área a outra para atingir objetivos na política internacional. São exemplos desses movimentos:
Escopo e domínio
É importante compreendermos o escopo e o domínio em uma relação de poder. Clique em cada um deles a seguir para obter mais informações.
escopo: A natureza do escopo em uma relação de poder pode, em grande medida, determinar a capacidade de um ator empregar os seus recursos.
Por exemplo, sanções econômicas podem não ser tão eficazes em Estados menos dependentes da importação de alimentos ou de recursos naturais.
sanções
Penalidades impostas por dado governo, organização ou grupo almejando punir determinado sujeito que não está agindo (ou pretende não fazê-lo) em concordância com normas, leis e regras estabelecidas pela comunidade internacional.
Existem diversas formas de sanções de cunho econômico, político ou até cultural. As sanções econômicas podem consistir na interrupção de ajuda externa ou em embargos econômicos. As sanções políticas podem manifestar-se sob forma de isolamento político ou corte de relações diplomáticas. Sanções culturais consistem em exclusão de eventos esportivos ou interrupção em programas de intercâmbio educacionais. O objetivo da sanção é fazer com que seu alvo recupere a conduta correta segundo os padrões internacionais.
Uma crítica comum às sanções punitivas consiste no fato que, em geral, a camada mais pobre da população de um Estado-alvo é aquela que mais sofre com tais medidas e não exerce grande influência sobre as decisões de seu governo.
· domínio: O domínio de uma relação de poder, por outro lado, deve não só incluir os Estados mas também levar em consideração os interesses e os objetivos de atores não estatais ou de pequenas potências que, dependendo do escopo considerado, têm maior ou menor influência sobre o ator que exerce o poder.
Da mesma forma como mudam os instrumentos de poder, o escopo e o domínio de uma relação de poder também mudam as estratégias do seu emprego.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre mudanças nas formas de emprego de poder.
mudanças nas formas de emprego de poder
Hoje em dia, meios de coerção convivem e, por vezes, são substituídos por mecanismos de influência e estratégias baseadas na intimidação militar. Na balança de poder, são empregados paralelamente a dinâmicas de cooperação e negociação, a ponto de suscitarem o desenvolvimento de novos conceitos, como poder bruto (hard power), poder brando (soft power) e poder inteligente (smart power).
Dimensões do poder
O exercício do poder ocorre em função de algumas dimensões.
Como vimos, ao estipularmos o domínio e o escopo de uma relação de poder, procuramos responder à seguinte pergunta: O poder é exercido sobre quem e em que situação? No entanto, há outras dimensões alternativas do exercício de poder a serem consideradas. Clique nos itens a seguir para visualizá-las.
domínio: Ao nos referirmos ao domínio
de uma relação de poder, procuramos analisar o número e o tipo de atores que estão sujeitos à influência do ator (ou grupo de atores) que está exercendo o poder.
Nessa dimensão do poder, observamos a extensão da capacidade de A de mudar o comportamento de B, sendo B exatamente o ator que procuramos conhecer.
B pode ser um Estado ou um grupo de Estados, uma instituição, uma organização não governamental ou qualquer um dos demais atores não estatais.
Dessa forma, por exemplo, um Estado pode exercer poder eficazmente em uma região do mundo, mas não ter influência em outra.
região
Dado território contíguo que pode ou não ultrapassar fronteiras estatais.
Em relações internacionais, no entanto, a continuidade territorial é condição necessária, mas não suficiente, para formar uma região. É preciso também analisar semelhanças econômicas, políticas, culturais, etc.
escopo: O escopo de uma relação de poder refere-se ao aspecto do comportamento de B afetado por A no exercício de poder.
Atentar para o escopo de uma relação de poder é tão importante quanto analisar o seu domínio. É possível que A consiga afetar o comportamento de B em algumas áreas e, em outras, não.
peso e custo: Alguns autores apontam para as dimensões de peso e custo de uma relação de poder.
O peso se referiria à probabilidade de A afetar o comportamento de B no exercício de poder, seja na direção desejada ou não. Já o custo se referiria ao dispêndio de recursos, tanto por parte de A quanto por parte de B, na relação de poder.
É custoso ou relativamente fácil para A mudar o comportamento de B? De maneira inversa, é custoso ou não para B mudar o comportamento conforme as demandas de A?
Alguns estudiosos afirmam ainda que, se A conseguir mudar o comportamento de B em uma área em que seria mais custoso para B atender às demandas de A, isso seria evidência do maior poder de A em relação a B do que se fosse fácil para B fazer o mesmo movimento.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de escopo de uma relação de poder.
escopo de uma relação de poder
Por exemplo, B pode ser mais suscetível ao exercício de poder por parte de A na arena econômica do que no campo militar. Nesse caso, a dependência de B com relação a um mercado para os seus produtos ou ao fornecimento de matérias-primas de fora pode torná-lo suscetível, apesar da sua localização geográfica privilegiada, por exemplo.
Meios de exercício do poder
Há muitas maneiras de exercer influência e poder. Existem diversos modos pelos quais podemos produzir incentivos (negativos e positivos) para alterar o comportamento de outro ator da forma desejada.
Há também muitas formas de categorizarmos os meios a partir do quais exercemos o poder.
Um dos vários modelos encontrados na literatura sobre o assunto divide tais meios em quatro categorias, seguindo de perto a divisão de capacidades. Clique em cada uma delas a seguir para obter mais informações.
meios militares : O exercício do poder por meios militares é o que tem recebido mais atenção na literatura de Relações Internacionais até então. Os meios militares podem incluir a ameaça de uso ou o emprego de:
· armas nucleares;
· armas convencionais e tropas, e 
· sanções de caráter militar – suspensão ou exclusão de um Estado de um mecanismo de segurança coletiva, por exemplo.
Por outro lado, a promessa de inserção de um Estado em uma aliança diante de conflitos ou em um mecanismo de segurança coletiva (como a Otan, por exemplo) são meios militares de exercício do poder que funcionam com base na promessa de recompensas.
meios diplomáticos : O exercício do poder por meios diplomáticos tem longa história nas relações internacionais.
Muito antes do desenvolvimento da figura do Estado-nação, unidades semi ou completamente soberanas, como principados e Cidades-estado, além de grandes reinos, já empregavam o uso de oficiais na interação com outras unidades semelhantes.
Postos diplomáticos já existiam na Europa desde, pelo menos, o século XV.
A representação diplomática é um meio de exercer o poder ainda mais antigo. Já havia representações diplomáticas no mundo greco-romano.
meios econômicos : Meios econômicos também podem ser empregados no exercício do poder. No entanto, o aumento da interdependência econômica e financeira entre os Estados, nas últimas décadas, tem dificultado a previsão das possíveis consequências do emprego desses meios.
Sanções econômicas não são incomuns. Napoleão utilizou o bloqueio econômico continental europeu contra a Inglaterra em 1806, a fim de fazê-la capitular diante dos seus planos de expansão.
As suspensões – do comércio bilateral, do fornecimento de bens de consumo ou de matérias-primas, do acesso a crédito – e a exclusão de um órgão regulador do sistema comercial ou financeiro são formas recorrentes de sanções econômicas. Entretanto, os meios econômicos de exercício de poder não consistem apenas em sanções.
Muitas vezes, a promessa de recompensas figura de forma ainda mais proeminente. As promessas de concessão de crédito, acesso preferencial a mercados e ajuda financeira, por exemplo, podem todas constituir meios econômicos de exercício do poder.
meios simbólicos : Os meios simbólicos são, por natureza, intangíveis. Dessa forma, o exercício do poder por meios simbólicos pode ser mais difícil de ser observado.
Um exemplo de uso de meio simbólico seria apelar para as normas que regulamentam a interação dos Estados no sistema internacional. Condenar a violação dos direitos humanos em determinado Estado, perante a comunidade internacional, poderia ser, portanto, uma forma de exercer poder.
Muitas vezes, essa forma de exercer poder vem associada a outras mais tangíveis, como sanções econômicas e negociações diplomáticas.
Exemplo
Clique no ícone para acessar um exemplo de meios simbólicos de exercício de poder.
meios simbólicos de exercício de poder
Um exemplo de meio simbólico de exercício de poder pôde ser visto na campanha do presidente americano Jimmy Carter, na década de 1970. O candidato demonstrou-se a favor da defesa dos direitos humanos na União Soviética, posicionando-se a respeito da disputa de poder entre as duas superpotências.
Medição do poder
Para analisar a distribuição de capacidades, é necessário encontrar alguma forma de medir essas capacidades. Contudo, essa tarefa tem trazido importantes desafios para os analistas de poder.
Isso não significa afirmar que o poder é algo difícil de medir. Apesar das dificuldades implícitas ao desafio, o poder de A sobre B pode ser medido em termos, por exemplo, de domínio X e escopo Y.
Podemos medir a capacidade de poder de A das seguintes maneiras:
· a probabilidade de que B mude o comportamento em resposta a A;
· a extensão de resistência de B para mudar o seu comportamento ou, dito de outra forma, a velocidade da resposta de B;
· a quantidade de temas em Y sobre o qual A produz uma mudança de comportamento em B;
· a quantidade de atores em X sujeitos ao exercício de poder de A;
· os custos do exercício de poder para A;
· os custos para B mudar ou não o seu comportamento em resposta a A;
· o número de opções disponíveis para B responder a A e 
· a magnitude dos incentivos negativos (sanções) ou positivos (recompensas) fornecidos por A a B.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre abordagem da análise de poder e medição do poder.
abordagem da análise de poder e medição do poder
Em uma abordagem particular da análise de poder, certo destaque é dado às capacidades que um Estado possui em comparação com outros. Essa abordagem está especialmente presente em estudos realistas da política internacional, principalmente naqueles que reservam um espaço particular para a balança de poder como um mecanismo que influencia o comportamento dos Estados no cenário internacional.
Nessas abordagens, a distribuição das capacidades entre os Estados é um dos fatores utilizados para qualificar o sistema e para hierarquizar as potências em termos de poder.
O dinheiro pode ser utilizado para medir poder de compra, por exemplo. Mas como poderíamos medir o peso de cada
capacidade, de forma a encontramos como resultado final a capacidade de poder de um ator?
Como podemos notar, estimar a capacidade de poder de um ator é bastante difícil, o que sublinha o fato de que, muitas vezes, essa estimativa depende, em grande medida, da percepção comparativa por parte dos próprios atores. Ademais, comparar dimensões distintas de poder impõe ainda mais desafios a esse processo.
Conversão do poder
A ideia de conversão de poder está associada ao conceito de fungibilidade.
Fungibilidade refere-se à facilidade com que os recursos de poder de uma área podem ser empregados como recursos de poder em outras áreas.
Podemos afirmar que as mudanças das últimas décadas no sistema internacional fizeram com que o poder perdesse algo da sua capacidade de ser fungível.
O poder nunca foi tão fungível como o dinheiro, mas a especialização das esferas que produzem recursos de poder em potencial fez com que seja mais difícil converter poder hoje em dia.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre conversão de poder.
conversão de poder
Em poucas oportunidades, podemos ver um tipo de aplicação semelhante de capacidades militares para produzir lucro econômico. Isso acontece porque a conversão de capacidades econômicas em capacidades militares pode ser muito custosa para as grandes potências do mundo contemporâneo.
Essa situação pode ser observada, por exemplo, na aplicação de recursos econômicos para produzir capacidade militar nuclear. É muito custoso, atualmente, tornar-se um proliferador nuclear.
O Irã tem sofrido grande resistência de grandes potências no cenário internacional devido ao seu anunciado objetivo de atingir a autonomia nuclear em termos militares.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de item fungível e conversão de poder.
item fungível e conversão de poder
O dinheiro é um item fungível, pois pode ser facilmente convertido de uma moeda para outra.
No século XVIII, caso um monarca quisesse ampliar a sua capacidade territorial por meio da conquista de outros territórios, ele poderia aplicar o tesouro real na contratação de mercenários e na compra de armas.
A conquista de novos territórios e de novas rotas de comércio, por exemplo, poderia enriquecer o tesouro real. Nesse exemplo, capacidades econômicas (o tesouro real) puderam ser empregadas para a expansão de capacidades militares (a contratação de mercenários e compra de armas), que, por sua vez, fortaleceram as capacidades geográficas do Estado, auxiliando na expansão do território.
Estratégias de emprego do poder
As transformações pelas quais o sistema internacional passou fizeram com que o poder se tornasse menos fungível, menos transferível, menos tangível e, por vezes, menos coercitivo.
Estadistas e formuladores de políticas passaram a dar então mais atenção aos mecanismos de exercício de poder distintos dos tradicionais em função:
· do aumento da interdependência entre os Estados;
· da expansão dos efeitos da globalização ao redor do mundo e 
· das estruturas de poder herdadas do fim da Guerra Fria.
formuladores de políticas
Formuladores de políticas públicas são os responsáveis pela decisão acerca das melhores estratégias ou programas de ação (ou a falta deles) para atingir objetivos determinados. São, portanto, aqueles indivíduos com posições-chave dentro de instituições.
No caso de políticas públicas, os formuladores são, em sua maioria, membros do governo.
O processo de levar adiante as decisões políticas definidas é chamado de implementação.
Diversificação das estratégias
Alguns analistas da política internacional, como Joseph Nye, têm apontado para uma necessidade de diversificação das estratégias de emprego de poder desde o final da Guerra Fria.
Nye afirma que, em certas situações, os Estados podem atingir os resultados desejados na política internacional sem, necessariamente, terem de empregar estratégias coercitivas de poder. O emprego da influência ou da persuasão pode ser mais eficiente nos casos em que o resultado desejado pode ser atingido:
· porque outros Estados querem segui-lo ou 
· porque eles concordaram em tomar parte de determinada situação que produza os efeitos desejados pelo Estado que emprega poder.
Para defender esse ponto, Nye emprega uma analogia.
Para Nye, pais de adolescentes saberiam, por experiência, que, se conseguissem educar os seus filhos desde a infância transmitindo-lhes os seus valores e as suas preferências, o poder sobre eles, durante a adolescência, seria mais eficiente do que se dependessem apenas do controle ativo e da coerção.
Dessa forma, muitas vezes, os pais conseguiriam modificar o comportamento dos filhos da forma desejada sem que tivessem de aplicar sanções.
De forma semelhante, atualmente, estaria mais claro para estadistas e analistas que adotar ideias atraentes, além de ter a habilidade de instituir a agenda política e de determinar os termos do debate de modo que deem forma às preferências de outros atores pode fazer com que o exercício do poder se baseie menos nos recursos tradicionais e nas estratégias de coerção (o que Nye chama de "poder bruto") e mais nas estratégias de influência e persuasão (o que o autor chama de "poder brando").
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre diversificação das estratégias de emprego do poder.
diversificação das estratégias de emprego do poder
Ao engajar-se no debate sobre a suposta queda de poderio norte-americano, Nye afirma que a percepção de declínio do poder e da presença dos Estados Unidos ocorre pelo fato de a maioria dos analistas focar apenas os exercícios de poder que tenham como base meios de coerção sustentados pelo emprego de recursos tradicionais de poder (militares, econômicos e geográficos). Desse modo, tais analisas deixam de atentar para a mudança ocorrida no sistema internacional, que abre espaço para um emprego menos tradicional do poder, baseado na influência e na persuasão mais que na coerção, e que diversifica os recursos para o seu emprego.
Poder brando
poder brando
Termo criado pelo cientista político Joseph Nye, no início dos anos 1990, para denominar os recursos ideológicos, morais ou culturais que permitem que a influência seja exercida sem recursos como a coerção ou a sanção, característicos do poder bruto.
Para Nye, poder brando é a habilidade que um país tem de estruturar uma situação de forma que outros países desenvolvam preferências e definam os seus interesses de modo consistente com seus próprios interesses. Podemos dizer que:
poder brando: Dito de forma mais direta, o poder brando é a habilidade de fazer com que os outros queiram o que queremos.
poder bruto: A habilidade do poder brando seria essencialmente distinta do poder bruto, no qual o ator ordenaria que outros fizessem o que ele quer.
Nye afirma que a habilidade de afetar o que outros Estados querem no cenário internacional estaria, muitas vezes, ligada aos recursos de poder intangíveis (cultura, ideologia, regras e instituições dos regimes internacionais).
A forma de condução da política externa de um Estado também pode tornar-se um recurso de poder quando gera legitimidade e autoridade moral no cenário internacional.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre recursos de poder intangíveis.
recursos de poder intangíveis
A cultura poderia produzir ideias e padrões de comportamento atraentes para outras sociedades. A ideologia de um Estado ou os seus valores políticos poderiam instigar o alinhamento político no cenário internacional e mesmo a escolha de parceiros comerciais – isso ficou muito claro durante a competição bipolar da Guerra Fria, quando a atração de países para os dois blocos se dava, por vezes, pelo conjunto de modelo de desenvolvimento, modelo de construção de Estado e ideologia política oferecido por cada um dos dois superpoderes.
A forma de condução da política externa de um Estado também pode tornar-se um recurso de poder quando ela gera legitimidade e autoridade moral no cenário internacional.
Uma das últimas tentativas do Brasil nesse sentido foi o lançamento
do conceito de responsabilidade ao proteger. Tal conceito implica a observação dos valores em intervenções militares sustentadas pela ideia de responsabilidade de proteger, de forma a incentivar a produção de legitimidade dessas ações perante a comunidade internacional.
Recursos
Há dois pontos referentes aos recursos empregados no exercício de poder entendido como poder brando.
1 - Primeiramente, a eficácia do emprego desses recursos vai depender, em grande parte, das sociedades a que se destinam.
2 - Além disso, por vezes, recursos tradicionalmente entendidos como recursos coercitivos podem ser utilizados como recursos em estratégias de poder brando.
A promessa de participar da segurança coletiva ou os benefícios provenientes da participação em determinado acordo comercial, por exemplo, podem ser utilizados para persuadir e para modificar as preferências dos atores sobre os quais o poder está sendo exercido sem recorrer, necessariamente, à coerção.
Isso não significa, contudo, que quaisquer objetivos possam ser atingidos por meio do poder brando.
segurança coletiva
Conceito que surgiu durante o século XX, primeiramente na Liga das Nações (1919) e, posteriormente, com o estabelecimento da Organização das Nações Unidas (1945).
A segurança coletiva é um princípio que estabelece mecanismos de defesa conjunta, ou seja, propõe que os Estados que compartilhem tal ideia respondam, de maneira coletiva, a qualquer agressor que venha a ameaçar a integridade de um deles. Nesse sentido, tem-se que a segurança de um Estado deve ser importante também para os demais.
A criação de tal princípio constituiu um evento muito relevante na história das relações internacionais, uma vez que se trata de uma iniciativa que busca mitigar o dilema de segurança e o estado de autoajuda que, segundo os realistas, caracterizam a anarquia internacional.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre poder brando.
poder brando, poder bruto e poder inteligente
Podemos dizer que o poder brando não é um tipo de poder, mas uma maneira de exercê-lo. Ele também não é, necessariamente, a forma mais benéfica de exercer o poder, uma vez que o objetivo final segue sendo o mesmo – fazer com que outros atores modifiquem o seu comportamento da maneira desejada.
Vejamos, por exemplo, a definição posterior de Nye do que seria poder inteligente (smart power). Para o autor, um Estado não pode confiar somente no exercício do poder brando ou do poder bruto. Nesse sentido, o poder inteligente seria uma combinação eficiente entre poder brando e poder bruto.
Para Nye, a Europa tem conseguido obter os resultados que deseja por meio da atração do seu modelo de integração política e econômica, enquanto os Estados Unidos, na maioria das vezes, têm confiado na sua proeminência militar para resolver problemas – como na invasão do Iraque e do Afeganistão, por exemplo.
Contudo, o exemplo de utilização de poder brando mais bem-sucedido teria sido o poder exercido pelo bloco ocidental durante a Guerra Fria: o ocidente teria utilizado o poder bruto para combater a expansão do bloco soviético – inclusive, por meio do desenvolvimento de armas nucleares – e também o poder brando para promover o modo de civilização capitalista e liberal no resto do mundo e diminuir a fé no comunismo dentro e fora da Cortina de Ferro. Para Nye, isso constituiria o poder inteligente.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de falta de receptividade das sociedades.
falta de receptividade das sociedades
As sociedades islâmicas podem mostrar-se menos permeáveis e mais resistentes à influência de valores e instituições ocidentais. As ideias de liberdade, escolha individual, separação do estado e religião são estranhas e opostas, muitas vezes, aos valores fundamentais dessas sociedades. Por vezes, portanto, alguns recursos não se tornam recursos de poder nessas sociedades não receptivas.
Vejamos o caso do Irã. É provável que o poder brando não tenha nenhum apelo com relação ao desenvolvimento do programa nuclear iraniano.
Sugestão de leitura: Clique no ícone para acessar o texto A arte do poder inteligente dos EUA.
A arte do poder inteligente dos EUA
Leia o texto de Hillary Clinton, sobre as relações de poder dos Estados Unidos: 
CLINTON, Hillary. A arte do poder inteligente. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 29 jul. 2012. Disponível em: www.estadao.com.br. Acesso em: 19 mar. 2013.
UNIDADE 5
Estratificação segundo critérios de poder 
O poder político pode ser exercitado por meio de ordens e ameaças, pela autoridade ou carisma de um homem ou de um órgão bem como pela combinação de quaisquer desses meios.
Distribuição de poder entre os Estados
Uma das principais definições de poder o entendia como uma propriedade dos Estados, como uma capacidade que tais Estados possuíam em áreas como economia, geografia e recursos militares.
Dessa forma, entender a distribuição do poder entre os Estados era uma das chaves para entender as dinâmicas da política internacional.
A maior parte dos analistas que trabalham nessa tradição, como Hans Morgenthau e Kenneth Waltz, parece argumentar que a capacidade de ganhar uma guerra ou um conflito seria o padrão de julgamento para determinar a extensão das capacidades – ou os elementos do poder nacional de um Estado.
Kenneth Waltz 
Professor de Estudos da Guerra e da Paz na Universidade Columbia, Ph.D. pela mesma instituição e autor de livros como Theory of international politics (1979) e Man, the state and the war (1959), Waltz é considerado protagonista na corrente teórica neorrealista de Relações Internacionais.
Já foi presidente da Associação Americana de Ciência Política e já lecionou em diversas universidades, como Swarthmore, Brandeis, Columbia e Califórnia. As suas pesquisas e produções são focadas nas áreas de Teoria de Relações Internacionais e Segurança Internacional.
Essa premissa deriva, por exemplo, de afirmações como:
Morgenthau: Nações ativas na política internacional estão continuamente se preparando para, envolvidas em ou recuperando-se da violência organizada na forma de guerra.
Waltz: A presença cotidiana da força e a constante dependência dela marca os assuntos das nações.
Com base no entendimento tanto de poder como a posse de capacidades quanto da política internacional como uma arena onde o conflito é iminente, os Estados podem ser classificados de acordo com a distribuição de capacidades em grandes potências, potências médias ou intermediárias, e pequenas potências.
Essa é uma forma de hierarquizar os Estados de acordo com a distribuição de poder no sistema internacional.
Grandes potências
Os Estados com maior poder militar e econômico eram designados como grandes potências, sendo também os atores com maior proeminência na política internacional.
Dos elementos que constituem uma grande potência, as capacidades militares têm fundamental destaque. Simonds e Emeny afirmam, inclusive, que os Estados que possuíam as capacidades militares para conduzir a sua política externa de forma eficiente eram considerados grandes potências.
Frank Simonds
Foi um tenente-coronel aposentado do Corpo de Fuzileiros Navais americano. Bombardeiro e piloto de caça na II Guerra Mundial e na Guerra da Coreia.
Formou-se na University of Illinois e é autor da coleção History of the World War.
Brooks Emeny
Especialista em política externa americana durante a Segunda Guerra Mundial, foi professor em Yale University e presidente da Associação de Política Externa.
Graduado em direito pela Princeton University, teve passagens pela Faculdade de Economia na Sorbonne, em Paris. Autor de Great Powers in World Politics.
A consideração de o que faz de um Estado uma grande potência é a sua capacidade de manter a sua segurança de forma independente também confere destaque às capacidades militares.
No entanto, fatores econômicos também importam, embora haja certas dúvidas a respeito de tais fatores serem somente uma condição necessária ou também uma condição suficiente para elevar o Estado à condição de grande potência.
Esse é um argumento tanto para colocar
quanto para retirar, por exemplo, o Japão desse clube seleto.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre o histórico das "grandes potências".
histórico das "grandes potências"
O termo "grandes potências" foi utilizado, pela primeira vez, em um instrumento diplomático, em 1817, na assinatura do Tratado de Chaumont, mas ganhou destaque já a partir do Congresso de Viena (1815), quando cinco Estados europeus (Áustria, Grã-Bretanha, França, Prússia e Rússia) se autodenominaram grandes potências e administradoras do Concerto Europeu.
Nessa situação, as grandes potências se reservavam o direito de conduzir a política internacional no continente, de acordo com os seus interesses e objetivos, geralmente à custa dos interesses das potências menores, como os da Polônia.
Ao final do século XIX, duas potências não europeias passaram a fazer parte do clube das grandes: os Estados Unidos, após a vitória sobre a Espanha em 1898, e o Japão, após a vitória sobre a Rússia em 1904-5. No século XX, essa tendência de conferir status privilegiado a algumas potências em reuniões, conferências e instrumentos diplomáticos permaneceu, sendo a Liga das Nações e o Conselho de Segurança das Nações Unidas – do qual fazem parte Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China – exemplos dessa permanência.
Sugestão de leitura: Clique no ícone para acessar sugestão de leitura sobre grandes potências.
grandes potências
Para saber mais sobre grandes potências, leia:
· SIMONDS, Frank H; EMENY, Brooks. The great powers in world politics. Nova Iorque: American Book Company, 1939.
Alguns analistas também argumentam que, para ser considerado uma grande potência, não basta um Estado ter capacidades para tal. Tal Estado deve ainda comportar-se como uma grande potência. Isso significa que as grandes potências devem ter interesses globais e vontade política de implementá-los no cenário internacional.
Isso nos leva a algumas questões. Clique nas imagens para acessá-las.
Os Estados Unidos poderiam ser considerados uma grande potência antes do final da Segunda Guerra Mundial, quando ainda exibiam características isolacionistas e recusavam-se a assumir um papel mais proeminente no cenário internacional? 
O Reino Unido e a França ainda podem ser considerados grandes potências, apesar de não possuírem proeminência militar e, por vezes, econômica? 
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de grandes potências na história das relações internacionais.
Potências médias
As potências médias ou intermediárias são as que podem desafiar as grandes potências em algumas áreas específicas, mas não em todas ou nas mais importantes.
Martin Wight segue a tradição de privilegiar o lado militar e define as potências médias como:
[...] um poder com determinada força militar, recursos e posições estratégicas. Durante o período de paz, as Grandes Potências cultivam seu apoio e, durante tempos de guerra, enquanto não tem nenhuma esperança de ganhar a guerra contra uma Grande Potência, pode esperar infligir custos em uma Grande Potência fora de proporção com o que a Grande Potência pode esperar ganhar ao atacá-lo.
Geralmente, as potências médias não possuem capacidades militares ou econômicas suficientes para fazer frente às grandes potências, mas se destacam em uma área ou outra. São exemplos:
· a Alemanha, o Japão e o Canadá, com a sua performance econômica, e 
· a Índia e o Paquistão, com os seus novos poderes nucleares (esses países possuem destacada capacidade militar, mas não são plenamente desenvolvidos).
As potências médias, geralmente, têm grandes populações, são relativamente desenvolvidas e relativamente ricas, embora não atinjam, necessariamente, os índices econômicos das grandes. Esse é o caso, por exemplo, de Itália, Austrália e Espanha.
Além disso, geralmente, são poderes regionais, como o Brasil, a África do Sul e a Índia.
Definimos as potências médias como os Estados cujos níveis de poder permitem-lhes desempenhar papéis limitados e seletivos em outros Estados e regiões. Em outras palavras, Estados com escopo e domínio do exercício de poder relativamente limitados.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre o termo "potências médias".
termo "potências médias": Muitas vezes, o termo "potências médias" é utilizado de forma intercambiável com o termo "pequenas potências". Isso acontece porque, para alguns estudiosos, os Estados que não são grandes potências seriam, necessariamente, pequenas potências, não havendo nenhuma classificação viável entre eles.
Pequenas potências
As pequenas potências são, normalmente, caracterizadas como os Estados que não têm capacidade de se manter, por sua própria segurança, no sistema internacional.
Nesse sentido, tais regiões dependem de assistência externa para cumprir as suas necessidades de segurança.
Alguns padrões de comportamento parecem ser típicos de pequenas potências, como:
· envolvimento limitado em assuntos proeminentes no cenário internacional;
· engajamento com organizações não governamentais;
· apoio ao Direito Internacional e 
· limite no emprego da força e do alcance, em termos funcionais e geográficos, das suas atividades de política externa.
Há muita dificuldade em definir essa categoria, mesmo porque alguns Estados parecem fazer parte tanto da faixa de pequenas potências quanto da faixa de potências médias, dependendo dos critérios de análise que sejam privilegiados.
Essa dificuldade fez com que alguns estudiosos tentassem esmiuçar a definição do conceito.
Grupos de pequenas potências
Alguns autores identificaram três grupos de Estados que podem ser classificados como pequenas potências:
· o primeiro grupo compreende os Estados que desejam ter um papel mais proeminente no âmbito regional;
· o segundo compreende os que tentam influenciar o âmbito regional e
· o terceiro compreende os mais próximos das potências médias em termos de política externa, recursos materiais e nível de desenvolvimento, mas que possuem população e PIB menores, e que tendem a reservar uma parcela menor do orçamento para gastos com forças armadas e defesa.
Essa definição ainda nos deixa, no entanto, alguns problemas. A partir dela, podemo-nos questionar, por exemplo: 
Superpoderes e microestados
Duas categorias, por vezes, aparecem nas análises de distribuição de poder entre os Estados. Clique em cada uma delas para obter mais informações.
superpoderes: O termo "superpoderes" foi desenvolvido ao final da Segunda Guerra Mundial para designar as grandes potências que tinham também grande mobilidade de poder.
Inicialmente, três Estados foram incluídos nessa categoria – Estados Unidos, União Soviética e Reino Unido –, mas os anos imediatamente posteriores ao final do conflito demonstraram que o Reino Unido não poderia mais participar desse grupo.
O fim da União Soviética, em 1991, fez com que essa categoria passasse a ser aplicada somente aos Estados Unidos desde então.
microestados: Os microestados são definidos pelas Nações Unidas como países soberanos que possuem menos de um milhão de habitantes. Geralmente, esses países também possuem uma área geográfica reduzida.
Devido a essas características, não é incomum que tenham dificuldade de prover a sua segurança e a defesa contra intervenções externas.
Esse é o caso do Vaticano, de Mônaco, das Maldivas, de Malta, de Barbados, de São Tomé e Príncipe, do Tongo, etc.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre superpoderes.
superpoderes
Considerações de capacidades militares (e, posteriormente, nucleares) e econômicas foram fundamentais para incluir os Estados Unidos e a União Soviética nessa categoria, além da vontade, exibida pelos dois Estados, de difundir os seus modelos de desenvolvimento e de Estado, e as suas ideologias para outras regiões do mundo que não aquelas onde se localizavam.
Distribuição de poder no sistema internacional
Além de analisar a distribuição de poder entre os Estados, muitos estudos avaliam a distribuição de poder no sistema internacional, classificando a estrutura desse sistema em três categorias,
de acordo com o número de polos identificáveis: multipolar, bipolar e unipolar. Clique nos sistemas para conhecer cada cada um deles.
sistema multipolar: Um sistema multipolar é aquele que apresenta três ou mais polos de poder.
Os polos de poder são atores identificados como predominantes no sistema internacional, seja por conta de uma vantagem comparativa na concentração de capacidades militares e econômicas – embora haja divergência sobre qual fator tenha predominância na determinação de um ator como um polo –, seja porque demonstram um engajamento global na definição e implementação dos seus interesses e objetivos.
Embora os polos sejam, normalmente, identificados como Estados, eles não precisam ser, necessariamente, alianças e coalizões, podendo também se apresentar como polos do sistema.
O termo multipolaridade também pode ser, por vezes, utilizado por líderes políticos para implicar o retorno a uma balança de poder entre Estados com recursos de poder relativamente iguais e semelhantes àqueles que prevaleceram durante parte do século XIX.
sistema bipolar: Um sistema bipolar é aquele que possui dois polos de poder.
O exemplo clássico de um sistema bipolar é o período da Guerra Fria, quando a emergência de dois superpoderes – Estados Unidos e União Soviética – definiu as dinâmicas de interação entre os demais Estados.
Em um sistema bipolar, espera-se que esferas de influência se desenvolvam ao redor dos dois polos, tal como ocorreu nas primeiras décadas após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Outro exemplo de bipolaridade ocorreu durante o século XVII, entre a Espanha e a Inglaterra.
sistema unipolar: Um sistema unipolar apresenta apenas um polo de poder.
O exemplo mais recente de sistema unipolar se apresentou com o fim da União Soviética em 1991, deixando os Estados Unidos como único polo do sistema internacional.
Embora os exemplos históricos de atores unipolares, geralmente, citem impérios, definições mais recentes afirmam que um ator unipolar não é, necessariamente, um império – por esse ocorrer em um sistema de Estados – nem um hegemon – uma vez que, diferentemente dos hegemons, ele não consegue controlar a política externa de outros Estados.
hegemon
Líder capaz de exercer a hegemonia em dado sistema.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de sistema multipolar.
sistema multipolar
Exemplos de sistema multipolar incluem a Europa após o Congresso de Viena (1815), a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre a complexa distribuição de poder no sistema internacional e a discordância quanto à maior estabilidade dos sistemas multipolar e bipolar.
complexa distribuição de poder no sistema internacional e discordância quanto à maior estabilidade dos sistemas multipolar e bipolar
Se olharmos para as capacidades econômicas, podemos afirmar que o sistema é multipolar, com atores como a União Europeia, o Japão, a China e os Estados Unidos como principais polos.
Por outro lado, se atentarmos para distribuição de poder em termos de capacidades nucleares, teremos certa dificuldade de estabelecer se o sistema é bipolar (entre Estados Unidos e Rússia) ou multipolar (entre aqueles e os demais Estados com armas nucleares, como China, Índia, Coreia do Norte, Paquistão, Reino Unido e França).
Os analistas discordam acerca de qual dos dois sistemas seria mais estável, o multipolar ou o bipolar.
Realistas clássicos, como Morgenthau e Carr, acreditam que a distribuição multipolar de poder no sistema é mais estável, pois propicia um equilíbrio de poder entre os Estados, sendo o exemplo tradicional de funcionamento da balança de poder.
Já autores como Kenneth Waltz e Henry Kissinger, por exemplo, argumentam o contrário. Para ambos, o sistema multipolar é, necessariamente, instável pela natureza difusa do poder entre vários polos. O sistema mais estável, nesse caso, seria o bipolar, pois um Estado polar não teria de dividir as suas atenções e esperar ataques de vários polos, mas de um só, fazendo com que as suas estimativas sejam mais precisas.
MÓDULO 3 – GOVERNANÇA INTERNACIONAL
Apresentação do módulo
UNIDADE 1
Histórico da organização econômica
A compreensão de como as práticas e os conceitos se transformam ao longo do tempo é fundamental para entendermos como a política internacional se estrutura.
História
A própria organização da vida política em unidades territoriais soberanas que chamamos de Estados é relativamente recente quando levamos em conta a história política desde a Antiguidade. Clique nos números da linha do tempo a seguir para entender a história da organização política ao longo do tempo.
1 : Por muito tempo, outras formas de organização política tradicionais, em muitos momentos, coexistiram com os Estados nacionais, que são tão familiares aos estudantes da política moderna.
2 : Ao longo do tempo, cidades-Estado, impérios e outras diversas formas foram sendo abandonadas.
3 : Ao longo dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX, essas cidades-Estado foram, definitivamente, substituídas pelos Estados em praticamente todos os cantos do globo.
Quando levamos em conta toda a história política humana, o fato de o Estado ser uma forma de organização política tão recente também nos pode fazer lembrar de que algumas outras construções políticas que costumam acompanhar o Estado são muito mais novas do que parecem.
Ideias como a de soberania – conforme conhecemos – e a de territorialidade são também algumas das inovações políticas que vêm se adaptando ao mundo moderno nos últimos séculos.
Soberania
Na contemporaneidade, parece inequívoco para os observadores que os Estados são soberanos para regular uma série de questões nos seus territórios.
Tomamos como óbvio também que esse direito é, pelo menos em teoria, algo que advém do povo (ou dos povos) daquele território. Daí as noções de que o povo é soberano e de que o Estado está ligado a uma ou mais nacionalidades que habitam dado território.
Entretanto, essa lógica nem sempre existiu.
Por muito tempo, a lógica da soberania dos Estados esteve atrelada a um soberano (um rei ou um príncipe), que herdou o direito de legislar sobre um território e um povo em virtude do seu nascimento ou que conquistou esse direito em batalha contra outro soberano.
Nesse contexto, um território poderia ser herdado por um príncipe estrangeiro, como foi o caso do trono de Portugal, herdado pelo rei espanhol quando o rei D. Sebastião I morreu em batalha sem deixar herdeiros em 1578.
O conceito de soberania continua se transformando. Novas ideias que impõem limites e obrigações aos governantes, por exemplo, são muito mais comuns e aceitas do que eram há algumas décadas. Esse é o caso, por exemplo, do conceito de responsabilidade de proteger.
UNIDADE 1 – HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO GLOBAL
 Estrutura da política internacional
A compreensão de como as práticas e os conceitos se transformam ao longo do tempo é fundamental para entendermos como a política internacional se estrutura. Em muitos casos, esse processo de transformação de práticas está na raiz dos conflitos políticos contemporâneos.
Um exemplo claro disso é a ideia de intervenções humanitárias. Muitos acreditam que, em situações de genocídio ou guerra civil, quando milhares ou até milhões de pessoas estão morrendo, é legítimo – e talvez necessário – que potências internacionais intervenham para protegê-las.
Atenção!
Esse tipo de debate sobre a ordem global é uma das chaves para entendermos a política internacional contemporânea.
Muitas das questões mais importantes das relações internacionais contemporâneas passam pela seguinte pergunta:
Quais são as regras, as normas e as instituições que nos dão o contexto em que a política internacional acontece?
Uma das maneiras mais tradicionais utilizadas para examinar essa questão consiste em olhar para o que especialistas em Relações Internacionais convencionaram chamar de regimes internacionais.
Em geral, definimos regimes como conjuntos implícitos e explícitos de regras, normas e procedimentos de tomada
de decisão em torno dos quais as expectativas dos atores convergem em determinada área das relações internacionais.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre regimes. 
Regimes: A definição de regime é complexa e precisa ser apresentada em detalhes. Krasner o fez utilizando como exemplo o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (do inglês, GATT). O GATT foi, inicialmente, um acordo escrito em 1947 e refletiu a crença dos seus signatários de que era necessário estabelecer uma organização que poderia ser responsável pela regulação do comércio internacional. De fato, Krasner provou ser impossível estabelecer tal organização naquele momento, e o GATT funcionou como um substituto. Foram então designados um secretariado e um diretor geral, ambos responsáveis por organizar a preparação de uma série de conferências com os signatários do GATT. Em tais conferências, os signatários assinaram acordos com a intenção de fortalecer o comércio internacional. Em 1994, depois das negociações da Rodada Uruguai, foi acordado que era o momento de ir além do GATT e estabelecer a Organização Mundial do Comércio, conforme originalmente intencionado. As considerações de Krasner foram feitas antes desse desenvolvimento ocorrer, mas isso não afeta a utilidade do GATT como um exemplo do que significa um regime.
Os quatro elementos definidores de um regime são:
1. Princípios são representados por corpos coerentes de declarações teóricas sobre como o mundo funciona. O GATT operava com base nos princípios liberais que defendiam que o bem-estar mundial seria maximizado com o livre comércio.
2. Normas especificam padrões gerais de comportamento e identificam os direitos e obrigações dos Estados. No caso do GATT, a norma básica é a de que tarifas e barreiras não tarifárias ao comércio devem ser reduzidas e eventualmente eliminadas. Juntos, princípios e normas definem o caráter essencial de um regime, e a transformação dos mesmos acarreta a transformação da natureza do regime.
3. Regras operam em um nível menor de generalidade do que princípios e normas, e são, normalmente, desenhadas para reconciliar conflitos que possam existir entre princípios e normas. Países em desenvolvimento, por exemplo, desejavam regras que os diferenciassem dos países envolvidos no GATT.
4. Procedimentos de tomada de decisão identificam prescrições específicas de comportamento. O sistema de votos, por exemplo, regula as mudanças enquanto o regime é consolidado e estendido. As regras e os procedimentos que regiam o GATT passaram por modificações substanciais durante a sua história. Na verdade, o propósito das sucessivas conferências era modificar as regras e os procedimentos de tomada de decisão.
(Krasner, 1985, p. 4-5)
Regras do jogo da interação
Olhar para regimes internacionais significa reconhecer que a política internacional contemporânea, mesmo cheia de conflitos e violência, possui mecanismos que permitem aos Estados estabelecer um conjunto de "regras do jogo" da interação.
Evidentemente, essas regras são quebradas o tempo todo. Navegue pelas setas para conhecer algumas violações de regras.
1. Alguns Estados violam acordos comerciais que assinaram e impõem barreiras tarifárias que violam acordos multilaterais.
2. Outros violam as regras fundamentais de segurança coletiva que formam a base do funcionamento do Conselho de Segurança da ONU e intervêm em outros Estados sem autorização do Conselho pelas mais diversas razões. 
Comentário: 
Clique no ícone para acessar um comentário sobre regras do jogo da interação.
regras do jogo da interação
O conjunto de regras, normas e instituições produz um efeito importante de governança no sistema internacional.
Estados podem usar esses mecanismos para criar arranjos de cooperação que gerem ganhos para todos os envolvidos. Podem, também, criar mecanismos para controlar ou reduzir a proliferação de armas e reduzir a insegurança na ordem internacional.
Na maior parte das vezes, essas regras e instituições funcionam, e – como o sistema de Estados que as cerca – estão em constante evolução, como bem demonstrou Robert Keohane em seu livro After hegemony: cooperation and discord in the world political economy, de 1989.
UNIDADE 2 – HISTÓRICO DA GOVERNANÇA ECONÔMICA
UNIDADE 2
Histórico da organização econômica
Examinar as interações políticas e econômicas é cada vez mais importante em um mundo onde a globalização gera efeitos cada vez maiores nos Estados, nas perspectivas de cooperação e na distribuição internacional da riqueza e dos recursos
Cooperação econômica
A cooperação econômica recente entre os Estados tem suas raízes no final da Segunda Guerra Mundial.
Em 1944, um ano antes do fim da guerra, os líderes das principais potências aliadas se reuniram em Bretton Woods, uma pequena região no norte dos Estados Unidos, para discutir uma série de problemas que já imaginavam que seriam fundamentais para as relações internacionais quando a Alemanha nazista fosse derrotada. Clique nos números para conhecer esses problemas.
1: O primeiro problema consistia em assegurar que o fraco desempenho econômico da maioria dos países nos anos 1930 não se repetiria, e que haveria um conjunto de regras e instituições que funcionaria para assegurar um nível mais ou menos alto de prosperidade no pós-Guerra.
2: O segundo problema consistia em assegurar que haveria recursos para reconstruir a Europa, devastada pela guerra.
3: O terceiro consistia em assegurar um comércio mais ou menos livre entre as economias capitalistas.
Com os objetivos das negociações de Bretton Woods em mente, três organizações foram criadas. Clique em cada uma delas a seguir para obter mais informações.
FMI: O FMI ficaria encarregado de criar regras que mantivessem estáveis o regime de taxas e o câmbio, além de criar meios de assistência emergencial a países com dificuldades de honrar os seus compromissos financeiros.
Banco Mundial: O Banco Mundial cuidaria de canalizar investimentos privados para a reconstrução da Europa e, posteriormente, de outros países.
GATT: O Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, na sigla em inglês) foi criado um pouco depois para promover a liberalização do comércio. Anos depois, o GATT foi reformado e transformou-se na OMC.
No centro da criação das instituições após Bretton Woods, estava o interesse americano em conter o avanço da União Soviética na Europa.
Washington acreditava que promover altos níveis de cooperação e investimento naquela região era crucial para os seus objetivos geopolíticos de longo prazo.
O sistema nem sempre funcionou como planejado. O aumento dos gastos do governo americano, durante o período da Guerra do Vietnã e das reformas sociais dos anos 1960 e 1970, forçaram Washington a fazer drásticas reformas.
Tais reformas impactaram, consideravelmente, as perspectivas de crescimento econômico de países em desenvolvimento e da Europa.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre as negociações em Bretton Woods. 
negociações em Bretton Woods
O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial foram criados em 1946, após negociações de guerra em Bretton Woods, com sedes, uma em frente à outra, em Washington.
O FMI foi criado para promover a cooperação monetária internacional e resolver os entraves econômicos criados pelas guerras, embora muitas das suas funções tenham sido extintas com a falência do sistema de Bretton Woods em 1971. Atualmente, o FMI possui 185 membros, que contribuem com cotas de recursos para a organização — proporcionais ao tamanho das suas economias. Tais cotas também definem o percentual de direitos a voto e a quantidade de recursos automaticamente acessíveis para cada um. Desde a década de 1980, o FMI se tornou uma instituição que oferece assistência técnica e financeira para economias em desenvolvimento ou em transição. Os termos segundo os quais os países recebem assistência incluem a obrigação governamental de se comprometer com condições específicas ou reformas políticas, conhecidas como condicionalidades.
O que conhecemos, atualmente, como Banco Mundial foi
criado como Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), uma agência desenvolvida para promover a reconstrução da Europa pós-guerra e o desenvolvimento no resto do mundo. Desde então, a organização se tornou a maior fonte de assistência ao desenvolvimento do mundo, fornecendo, aproximadamente, US$ 16 bilhões em empréstimos anuais a países-membros determinados por meio do Bird, da Associação Internacional de Desenvolvimento (do inglês, IDA), da Corporação de Finanças Internacionais (do inglês, IFC) e da Agência Multilateral de Garantias (do inglês, MIGA). Como o FMI, o Banco Mundial requer dos membros a que fornece empréstimos o comprometimento com reformas econômicas específicas. Mais recentemente, isso inclui que governos receptores de empréstimos demonstrem o seu comprometimento com a redução da pobreza nas suas economias. Com exceção da IDA — cujos fundos dependem de doações —, os recursos do Banco Mundial são provenientes das emissões de títulos nos mercados de capitais. Esses títulos são baseados em garantias fornecidas pelos governos que pertencem à instituição.
Governança econômica global
O fim da Guerra Fria, nos anos 1990, trouxe ainda mais desafios, reformas e, posteriormente, promessas para a governança econômica global. Clique em cada um deles a seguir para obter mais informações.
desafios: Nos anos 1990, o FMI e o Banco Mundial envolveram-se diretamente nos complexos processos de reforma em países do antigo bloco socialista e na promoção de políticas de liberalização econômica ao redor do mundo.
Essas mesmas instituições tornaram-se, cada vez mais, influentes e poderosas no desenho de políticas para o mundo em desenvolvimento durante o longo período de estagnação econômica que muitos desses países enfrentaram nos anos 1980 e 1990.
reformas: Ainda nos anos 1990, tanto o FMI quanto o Banco Mundial passaram a adotar formas mais sofisticadas de pressão sobre os países que recebiam ajuda, de modo que fizessem reformas econômicas.
Essa pressão, normalmente, surgia em forma de condicionalidades ligadas a empréstimos e ajuda externa. Desse modo, países mais dispostos a reformar as suas instituições econômicas e financeiras receberiam maior apoio dessas instituições para passar por momentos de crise.
Ao mesmo tempo, a OMC partiria de ambições maiores, como a de reformar o sistema de comércio internacional ao passar a regular temas como propriedade intelectual, investimentos e normas fitossanitárias no mercado agrícola.
promessas: No início dos anos 2000, muitos dos países considerados em desenvolvimento despontavam como verdadeiras promessas na economia internacional.
Estados como China, Brasil, Turquia, México e Índia passaram a exigir um maior poder na definição das regras de governança econômica global.
Esse choque entre os que haviam definido as regras do jogo no final da Segunda Guerra Mundial e os novos grandes atores do sistema econômico internacional marca a economia política internacional contemporaneamente.
economia política internacional
Consiste em um importante campo de pesquisa das Relações Internacionais. Os seus teóricos pretendem compreender as dinâmicas internacionais por meio da interação entre Estado e mercado, isto é, público e privado, ou política e economia, respectivamente.
A EPI defende que política e economia estão interligadas e são interdependentes entre si, não sendo possível uma análise do sistema internacional que conte apenas com um desses elementos.
O seu campo de pesquisa é vasto e diverso, contando com abordagens distintas acerca das potencialidades e vulnerabilidades das relações entre Estado e mercado. No entanto, é consenso entre os economistas políticos que tal interação é determinante para as dinâmicas internacionais.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre o sistema de Bretton Woods e a sua falência.
Sistema de Bretton Woods e sua falência
O que foi o sistema de Bretton Woods?
Durante a Conferência de Bretton Woods, em 1994, foi acordado que as taxas de câmbio nominais de todos os países seriam fixadas em valores determinados. Essas taxas se tornaram fixas em relação ao dólar, e o governo norte-americano se comprometeu a converter todos os dólares em ouro, considerando US$ 35 por onça de ouro. Em outras palavras, taxas de câmbio foram fixadas a um padrão dólar-ouro. No sistema de Bretton Woods, qualquer país que desejasse modificar a sua taxa de câmbio nominal teria de pedir permissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O resultado foi a estabilidade das taxas de câmbio.
Como ocorreu a falência desse sistema?
Em agosto de 1971, o governo norte-americano suspendeu a convertibilidade do dólar em ouro. Isso removeu o ouro do padrão dólar-ouro e abriu caminho para as principais taxas de câmbio flutuarem, ao invés de continuarem fixas. Os Estados Unidos também anunciaram, em agosto de 1971, que estavam adicionando uma sobretaxa de 10% às suas tarifas de importação para melhorar a balança comercial, cortando a grande quantidade de importações que estavam "inundando" o país e, para tentar combater a fuga de dólares do resto do mundo. Dessa forma, suspendeu o ideal de Bretton Woods de manter o comércio internacional aberto em tempos de dificuldade econômica.
Foi esse um sinal de declínio da hegemonia norte-americana?
Depois da falência do sistema de Bretton Woods, por mais de uma década, grandes acadêmicos debateram se essa mudança havia refletido uma perda ou um exercício de poder dos Estados Unidos. Para alguns, a falência desse sistema fora um exercício da liderança norte-americana: a hegemonia dos Estados Unidos havia eliminado o sistema de Bretton Woods a fim de aumentar a sua própria liberdade econômica e ação política (GOWA, 1983). Outros defendiam que os Estados Unidos haviam perdido a sua capacidade de manter o sistema, mas explicavam que o regime poderia, entretanto, sobreviver sem essa hegemonia (KEOHANE, 1984). No centro do debate, havia uma discordância sobre a cooperação na economia política internacional depender de um Estado ser, simultaneamente, capaz e desejoso de estabelecer e garantir as regras do jogo, com poderes de revogá-las e ajustá-las. Esse debate sobre a natureza da cooperação continua atualmente, com explicações concorrentes sobre instituições internacionais.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre o Sistema de comércio no pós-guerra.
Sistema de comércio no pós-guerra
O Acordo Geral de Comércio e Tarifas (do inglês, GATT) foi um acordo interino assinado em 1947 na expectativa de que poderia ser sucedido por uma organização internacional de comércio, o que não ocorreu até 1994. Dessa forma, durante quatro décadas, o GATT continuou a existir como um acordo entre partes contratantes, constituído de um pequeno secretariado baseado em Genebra, Suíça, e com um minúsculo orçamento. Em essência, o GATT era um fórum para negociações comerciais, com diversas rodadas de discussão que culminaram na bem-sucedida Rodada Kennedy (1962-1967), na qual ocorreram grandes avanços relativos à redução de barreiras ao comércio entre países industrializados.
Entretanto, quando o protecionismo comercial ganhou forças na década de 1970, o GATT se mostrou incapaz de impedir que membros poderosos, como os Estados Unidos e a União Europeia, adotassem medidas de restrição comercial — por exemplo, o Arranjo Multifibra de 1974, que restringiu o comércio de produtos têxteis — e abusassem das inúmeras exceções e salvaguardas contidas no acordo. O GATT também funcionava como um fórum de solução de controvérsias. No entanto, não foi muito eficiente nesse sentido, por ser constrangido pela necessidade de consensos em todas as decisões de soluções de controvérsias. O GATT foi substituído pela Organização Mundial do Comércio (OMC), como resultado de acordos assinados na última rodada de negociações comerciais do GATT, a Rodada Uruguai (1986-1994).
Estabelecidas em 1º de janeiro de 1995, as funções da OMC incluem: administrar os seus acordos, funcionar como um fórum de negociações comerciais, solucionar
controvérsias, monitorar políticas comerciais nacionais, fornecer assistência técnica e treinamento a países em desenvolvimento e cooperar com outras organizações internacionais – principalmente, o FMI e o Banco Mundial. A organização está localizada em Genebra, Suíça, e o seu secretariado conta com mais de 600 funcionários.
Globalização e regimes na economia política internacional
Em nenhuma área da vida internacional, os Estados foram tão bem-sucedidos em criar arranjos de cooperação multilateral quanto na economia política internacional. Como o próprio nome já diz, essa é a área da governança global em que questões de política e economia internacional se encontram e interagem.
Examinar essas interações é cada vez mais importante em um mundo onde a globalização gera efeitos cada vez maiores nos Estados, nas perspectivas de cooperação e na distribuição internacional da riqueza e dos recursos. Navegue pelas setas para acompanhar esse processo.
1. O fim da Guerra Fria foi um momento particularmente importante.
A integração dos antigos países do bloco socialista ao sistema econômico que existia no ocidente foi um dos principais desafios das relações internacionais nas últimas décadas.
2. Da mesma forma, conflitos étnicos em áreas importantes do mundo em desenvolvimento (Ruanda, Iugoslávia, Indonésia e Somália) forçaram os analistas internacionais a refletirem mais seriamente sobre a relação entre pobreza, estagnação econômica, mobilidade social e conflitos.
3. Grandes instituições da governança econômica global tornaram-se mais importantes do que nunca nas últimas décadas.
Estudos sobre governança e eficiência econômica feitos em instituições como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo, são cada vez mais importantes no desenho de reformas políticas para os países em desenvolvimento.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre Cronologia dos eventos-chave em comércio e finanças globais.
Cronologia dos eventos-chave em comércio e finança globais, e grandes agências públicas de governança global para comércio e finanças
1929: estabelecimento dos primeiros acordos financeiros internacionais, em Luxemburgo.
1944: a Conferência de Bretton Woods é responsável pela produção primária das constituições do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
1954: estabelecimento da primeira zona de processamento de exportações, na Irlanda.
1955: abertura do primeiro McDonald’s, que operaria em 119 países 50 anos depois.
1957: emissão do primeiro empréstimo em euros.
1959: entra em total operação o padrão de ouro-dólar.
1963: emissão da primeira obrigação financeira em euros.
1965: início do programa de maquiladoras no México.
1971: estabelecimento da primeira bolsa de valores inteiramente eletrônica, a Nasdaq.
1972: lançamento de mercados de derivativos financeiros, começando com o câmbio futuro.
1973: inundação de eurodólares nos mercados europeus, provenientes da quadruplicação dos preços de petróleo.
1974: formação do Comitê da Basileia da Supervisão de Serviços Bancários, seguindo o colapso de dois bancos altamente envolvidos em negociações cambiais.
1974: relaxamento dos controles cambiais por parte do governo norte-americano – outros governos fazem o mesmo nos anos seguintes.
1976: encontro do FMI na Jamaica, formalizando o regime de câmbios flexíveis.
1977: inauguração global do sistema Swift de transferências bancárias eletrônicas.
1982: início da Crise da Dívida no Terceiro Mundo, com a ameaça mexicana de calote.
1983: formação da Organização Internacional de Comissões de Securitização.
1985: primeira relação eletrônica entre bolsas de valores.
1987: reflexo mundial da crise de Wall Street, que ocorre em horas.
1994: conclusão da Rodada Uruguai do GATT.
1995: inauguração da Organização Mundial do Comércio.
1997-2002: crises na Ásia, na Rússia, no Brasil e na Argentina aumentam as preocupações com as finanças globais desreguladas.
2003: negociações da Rodada de Doha da OMC são travadas, e aumenta o número de acordos comerciais bilaterais. 
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre Grandes agências públicas de governança global.
Grandes agências públicas de governança global
O Banco de Resoluções Internacionais (do inglês, BIS) foi estabelecido em 1930, com sede na Basileia. A instituição, composta apenas de bancos centrais, possuía 55 membros em 2007, embora muitas outras instituições financeiras públicas também utilizem as suas facilidades. Os seus objetivos são promover a cooperação entre bancos centrais e fornecer diversos serviços para operadores financeiros internacionais. Por exemplo, o Comitê da Basileia de Supervisão Bancária, formado pelo BIS em 1974, concentra esforços na regulação multilateral de serviços bancários globais.
O G8, grupo das oito maiores potências econômicas, foi estabelecido em 1975, inicialmente, como G5 (França, Alemanha, Japão, Reino Unido e Estados Unidos). Em seguida, foi expandido para G7, passando a incluir Canadá e Itália. Por fim, em 1998, quando a Rússia se tornou membro, passou a ser conhecido pelo nome atual. O grupo promove a colaboração semiformal referente a problemas econômicos globais. Líderes governamentais se encontram em reuniões anuais, enquanto ministros de finanças e semelhantes elaboram consultas periódicas.
O Acordo Geral de Tarifas e Comércio (do inglês, GATT) foi estabelecido em 1947. Com sede em Genebra, a instituição já havia atingido 122 membros quando foi absorvida pela OMC em 1995. O GATT coordenou oito rodadas de negociações multilaterais para reduzir restrições governamentais ao comércio internacional de bens.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi estabelecido em 1945. Com sede em Washington, em 2007, possuía 185 Estados-membros. O FMI monitora pagamentos internacionais de curto prazo e posições cambiais. Quando um país desenvolve desequilíbrios crônicos nas suas contas externas, o FMI apoia reformas políticas, também chamadas de programas de ajuste estrutural. Desde 1978, o FMI tem promovido grandes avanços no desempenho econômico de Estados-membros individuais e da economia global como um todo. O FMI também fornece extensiva assistência técnica. Nos anos recentes, o fundo tem perseguido diversas iniciativas para promover a eficiência e a estabilidade em mercados financeiros globais.
A Organização Internacional de Comissões de Securitização (do inglês, Iosco) foi estabelecida em 1983 e sua sede fica em Montreal – seu secretariado, atualmente, é localizado em Madri. Em 2007, a instituição possuía 192 reguladores securitizadores oficiais, e associações e agências comerciais como membros, embora os últimos não possuam poder de voto. A Iosco busca promover altos padrões de regulação de estoques e mercados de valores para estabelecer a efetividade de transações internacionais securitizadas e para fortalecer a colaboração entre mercados securitizadores na detecção e na punição de ofensas.
A Organização da Cooperação e do Desenvolvimento Econômicos (OCDE) foi fundada em 1962 e sua sede fica em Paris. Em 2007, a instituição possuía 30 Estados-membros com economias industriais avançadas e consideráveis relações com outros 70 governos. A OCDE fornece um fórum de consultas intergovernamentais multilaterais sobre todas as questões políticas, com exceção das questões militares. As suas medidas são especialmente dirigidas a questões ambientais, relacionadas a taxas e de cooperação internacional. O secretariado da OCDE produz, regularmente, revisões do desempenho macroeconômico de cada membro, incluindo sugestões de reformas políticas.
A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (do inglês, UNCTAD) foi estabelecida em 1964, com sede em Genebra. Em 2007, possuía 192 Estados-membros. A instituição monitora os efeitos do comércio e de investimentos internacionais para o desenvolvimento econômico, especialmente em países em desenvolvimento. A UNCTAD realizou um importante fórum, na década de 1970, para discutir sobre uma nova
ordem econômica internacional.
O Banco Mundial é constituído de cinco agências. A primeira delas foi estabelecida em 1945, com sede em Washington. A instituição promove o desenvolvimento em países de média ou baixa renda, por meio de empréstimos, programas de ajuste estrutural e diversos serviços de consultoria.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada em 1995 e sua sede fica em Genebra. Em 2007, possuía 150 Estados-membros. A OMC é uma instituição permanente, criada para substituir o GATT, que era apenas provisório. A sua agenda é mais abrangente do que a do último, cobrindo serviços, propriedade intelectual e questões de investimento, além do comércio internacional de bens. A OMC possui ainda maior poder de controle com respeito a suas obrigações, por meio do seu Mecanismo de Solução de Controvérsias. A Agência de Revisão de Políticas Comerciais da organização monitora medidas comerciais de todos os membros.
UNIDADE 3 – PODER, GLOBALIZAÇÃO E GOVERNANÇA
UNIDADE 3
Tendências no caráter da guerra
Existem muitos debates nas Relações Internacionais sobre o real efeito da globalização na governança global.
Relações de poder
Uma coisa que podemos aprender rapidamente olhando para a evolução dos regimes que permeiam a economia internacional – e outras áreas da vida internacional – é que, quando se trata de construir sistemas de cooperação entre diferentes Estados, relações de poder são fundamentais.
Isso quer dizer que, embora a construção de regimes possa ser um catalisador para a cooperação, nem sempre todos vão-se beneficiar dela igualmente, e alguns ganharão mais do que outros, dependendo da forma que assume determinado arranjo de governança (GRUBER, 2000).
Um exemplo da importância das relações de poder encontra-se na discussão internacional sobre regras de patentes.
Claramente, alguns Estados se beneficiarão mais diretamente de regras de patentes mais rígidas – aqueles que produzem mais pesquisas que levam ao registro de patentes lucrativas.
Outros podem-se sentir prejudicados por esse tipo de arranjo, já que possuem pouca capacidade de inovação tecnológica e dependem de tecnologias desenvolvidas em outros países.
Esse tipo de embate marca, fundamentalmente, o debate político nas relações internacionais contemporâneas.
Quanto mais institucionalizada é a ordem global, e quanto mais as regras, as normas e as instituições se fortalecem, maior é a percepção de que o que está em jogo são as perspectivas de desenvolvimento e segurança de cada Estado no longo prazo.
É por essa razão que os países se engajam, cada vez mais, em negociar os termos da sua participação na governança global, mesmo que, muitas vezes, não sejam diretamente beneficiados por ela.
Vale a máxima de que é melhor estar "dentro do jogo", participando da definição das regras, do que fora, sem nenhum poder de influenciar o modo como ele será jogado.
Internacionalização, revolução e liberalização
Nas últimas décadas, a aceleração da globalização transformou, fundamentalmente, a natureza e a importância dos arranjos de governança global. Quando pensamos nesse impacto, lembramo-nos de três principais fatores em particular, listados a seguir. Clique em cada um deles para obter mais informações.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre novos padrões de produção e consumo globais.
novos padrões de produção e consumo globais
Podemos incluir também o esforço de alguns Estados menos desenvolvidos em adotar reformas políticas e econômicas que possibilitaram a sua integração nos mercados globais.
Efeitos da governança
Existem muitos debates nas Relações Internacionais sobre o real efeito da globalização na governança global.
Alguns autores argumentam que não há tanta novidade assim no fenômeno da globalização.
Outros argumentam que o fenômeno é realmente novo e que está diminuindo, dramaticamente, a importância dos Estados, de modo a fortalecer os atores transnacionais e os agentes da governança global.
Um terceiro grupo afirma ainda que a globalização, embora possa ter criado um grande surto de crescimento econômico global, exacerba desigualdades e injustiças tanto no mundo em desenvolvimento quanto entre as populações mais pobres no centro do sistema capitalista.
Globalistas
Globalistas são os autores que defendem a posição de que a ordem internacional tem vivido um momento fundamentalmente novo.
Para os globalistas, o surgimento de uma economia global está mudando fundamentalmente a maneira como a governança global acontece. Para os que defendem essa posição, os Estados têm perdido, gradativamente, o seu poder de regular as interações econômicas, e isso tem profundas consequências políticas. Em grande medida, essa mudança é uma consequência do aumento brutal da quantidade e da velocidade dos fluxos internacionais de comércio, investimento e capital no mundo de hoje.
Os investidores, que antes estavam fundamentalmente atrelados a um país ou a uma região, passaram a ter um poder de barganha maior, na medida em que podem, facilmente, levar os seus negócios e investimentos para os lugares onde terão mais benefícios políticos e econômicos.
Para os que defendem essa tese, a economia moderna traz, em sua própria natureza, os incentivos para que os Estados liberalizem os seus mercados, sob o risco de, simplesmente, perder competitividade em um mundo globalizado. Desse modo, os governos teriam de reduzir impostos e gastos com políticas sociais como a saúde e a educação, por exemplo.
Céticos
Como o próprio nome sugere, céticos são os autores que, de uma forma ou de outra, acreditam que o poder dos Estados não está em declínio. Muitos argumentam que existem evidências de que alguns dos Estados que mais ganharam com a globalização, como os tigres asiáticos, fizeram exatamente o contrário da receita que os globalistas preveem ser a única opção em um mundo de globalização radical.
Autores como Robert Wade e Dani Rodrik utilizaram esse argumento ao examinarem as causas do crescimento econômico dos países da Ásia. Para ambos, esse processo foi, justamente, calcado em uma forte conexão entre o investimento estatal e o fortalecimento do setor privado para construir competitividade.
Robert Wade
Professor de Economia Política e Desenvolvimento na London School of Economics (LSE). Autor de artigos como Is globalization reducing poverty and inequality? (2004) e Winners and losers (2001), Wade já lecionou em universidades como as de Sussex, Princeton e Brown.
As suas pesquisas e produções são focadas em áreas como Desenvolvimento, Globalização e Economia Política Internacional.
Dani Rodrik
Ph.D. em Economia, mestre em Administração Pública pela Princeton University e Bacharel em Humanidades pelo Harvard College.
Atua como professor na Harvard University. Entre as suas publicações, destacam-se One economics, Many recipes e The new global Economy and developing countries: making openness work.
Muitos dos autores céticos reconhecem que há mudanças fundamentais na governança internacional contemporânea.
Com muito menos controle do que antes, fluxos financeiros internacionais vão de um país a outro quase instantaneamente, criando novos desafios importantes para os Estados. O principal desafio para quem defende essa posição consiste em como administrar políticas econômicas e sociais que permitam o crescimento e a distribuição de riqueza em um ambiente de globalização.
O argumento utilizado é o de que, embora os globalistas possam ter certa razão em apontar para uma tendência global de liberalização e diminuição do investimento social do Estado, há muito ainda que as autoridades políticas podem fazer para regular as forças da globalização e manter algum controle sobre as suas políticas sociais.
Autores como Joseph Stiglitz e Paul Krugman argumentam que isso é, fundamentalmente, necessário, já que, embora a globalização possa gerar mais riqueza, ela também gera mais desigualdade.
Regionalismo e governança regional
Nas últimas décadas, a formação de blocos políticos ou econômicos regionais tornou-se uma realidade comum na ordem internacional.
Em geral, processos de integração regional têm o potencial de aumentar a interdependência entre os Estados. Muitos acreditam também que tais processos podem:
ajudar a fortalecer interesses comuns;
fortalecer uma identidade coletiva entre os cidadãos dos seus Estados-membros;
promover uma oportunidade para lidar com a globalização;
construir arranjos de governança regional, ajudando os Estados na resolução de problemas de conflito e segurança.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de organizações regionais pelo mundo, até 2006.
organizações regionais pelo mundo, até 2006
Delegação de poderes
Determinados arranjos regionais buscam, explicitamente, remover (quase) todos os obstáculos para a cooperação entre os Estados-membro, criando um espaço regional com regras e normas comuns.
Muitas vezes, os membros desses blocos procuram falar com uma só voz sobre muitos assuntos de política externa.
O exemplo clássico é o da União Europeia. Em arranjos como esse, os Estados concordam em ceder uma medida de soberania ao delegar poderes a uma entidade supranacional.
Alguns blocos tendem a ter uma versão mais fraca do sistema de delegação de poderes para uma entidade supranacional. Mas por que os Estados decidem fazer isso? Clique em cada uma das justificativas para entender.
justificativa 1: Parte da razão está no fato de que, dessa maneira, pode ser mais fácil administrar a interdependência causada pela globalização.
Muitos acreditam que esses arranjos podem aumentar a competitividade econômica dos Estados em um ambiente global extremamente competitivo e prepará-los para competir com os mais fortes.
Nessa perspectiva, a liberalização regional pode ser uma etapa de um processo maior em uma sociedade que se prepara para a liberalização global.
justificativa 2: Outra parte da resposta diz respeito às negociações multilaterais.
Separadamente, Estados médios e pequenos têm dificuldades de se fazer ouvir em negociações acerca do futuro da governança global, onde os grandes, em geral, dão as cartas.
Ao se unirem em acordos de integração, muitos acreditam que estarão em melhores condições para participar desses processos.
E você? Acredita que os acordos de integração são a solução?
UNIDADE 4
Globalização e instituições
Uma questão clássica do estudo da governança global consiste em como construir instituições internacionais que nos possam ajudar a lidar melhor com a globalização.
Níveis de instituições internacionais
Existem três níveis de instituições internacionais. Clique em cada uma delas a seguir para conhecê-las.
instituições constitucionais : As instituições constitucionais consistem em regras e normas primárias da sociedade internacional sem as quais a sociedade entre Estados soberanos não poderia existir.
A mais comumente reconhecida dentre essas normas é a norma da soberania, que sustenta o seguinte:
· em um Estado, poder e autoridade são centralizados e hierárquicos, e 
· não há poder e autoridade além do Estado.
A norma da soberania é apoiada por diversas normas auxiliares, como o direito da autodeterminação e a norma da não intervenção.
instituições fundamentais : Instituições fundamentais são baseadas nas instituições constitucionais.
Essas instituições representam as normas e práticas básicas adotadas por Estados soberanos para facilitar a coexistência e a cooperação sob a condição da anarquia internacional.
Elas são as práticas rudimentares adotadas por Estados a fim de colaborarem e coordenarem os seus comportamentos. Instituições fundamentais têm variado de um sistema histórico estatal para outro.
No entanto, no sistema internacional moderno, as práticas institucionais fundamentais do Direito Internacional contratual e do multilateralismo têm sido as mais importantes.
anarquia
Ausência de autoridade política. Em âmbito internacional, a anarquia caracteriza a ausência de uma autoridade política internacional capaz de ordenar as relações entre os Estados. É importante ressaltarmos que a característica anárquica do sistema internacional deriva, em grande medida, do caráter estado cêntrico desse mesmo sistema, segundo o qual os Estados representam as unidades básicas e soberanas das relações internacionais, afastando, desse modo, a possibilidade de uma autoridade supranacional, isto é, acima dos Estados.
As diferentes correntes teóricas do campo acadêmico das Relações Internacionais oferecem variadas abordagens com relação à questão da anarquia internacional. Os teóricos liberais afirmam que a condição anárquica das relações internacionais pode ser relativizada por meio, por exemplo, de instituições internacionais, que poderiam criar regras capazes de regulamentar o comportamento dos Estados.
Já a corrente realista das Relações Internacionais sustenta que o caráter anárquico do sistema internacional é imutável, não havendo a possibilidade de criação de normas que venham a constranger a soberania estatal.
A Escola Inglesa apresenta ainda uma terceira via com relação à anarquia internacional. Para os seus teóricos, a ausência de uma autoridade política acima dos Estados não elimina a existência de uma ordem nas relações interestatais, possibilitada por uma sociedade internacional baseada em valores e interesses comuns, e que é mantida a despeito da anarquia internacional.
multilateralismo
Sistema em que três ou mais Estados adotam políticas de forma coordenada, baseados em alguns princípios comuns, com vistas a atingir dado objetivo.
instituições temáticas específicas ou regimes : Instituições temáticas específicas ou regimes são as mais visíveis e palpáveis das instituições internacionais.
Essas instituições consistem em uma gama de regras, normas e procedimentos de tomada de decisão que os Estados formulam para definir quem constitui um ator legítimo e o que constitui uma ação legítima em um dado domínio da vida internacional.
É importante ressaltarmos que instituições temáticas específicas – ou regimes – são acordos concretos sobre áreas temáticas específicas de práticas institucionais fundamentais, como o Direito Internacional e o multilateralismo.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de instituições temáticas específicas.
instituições temáticas específicas
São exemplos de instituições temáticas específicas:
· o Tratado de Não-Proliferação Nuclear;
· a Convenção Base sobre a Mudança Climática Global;
· a Convenção de Ottawa sobre Minas Terrestres;
· a Convenção Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.
Mudanças na governança da economia internacional
A globalização mudou não só a maneira como os fluxos internacionais se articulam mas também o modo como a economia internacional é governada.
Nos últimos anos, muitos Estados passaram a defender, nos debates internacionais, a ideia de que a melhor resposta à globalização é o fortalecimento de regimes internacionais que permitam melhor interação e cooperação entre os Estados na área econômica.
Ao mesmo tempo, muitos ressaltam que os Estados precisam adaptar as suas políticas públicas a uma nova realidade para evitar crises constantes.
Uma questão clássica do estudo da governança global consiste em como construir instituições internacionais que nos possam ajudar a lidar melhor com a globalização.
Essa é uma discussão importante, já que muitos dos problemas que a ordem internacional enfrenta são, fundamentalmente, diferentes dos que existiam no final da Segunda Guerra Mundial.
Há diferentes posicionamentos de autores com relação à mudança na governança da economia internacional. Clique em cada um deles para conhecê-los.
otimismo: Os otimistas, em geral, argumentam que os Estados têm o potencial de reformar as instituições internacionais para compensar os novos problemas gerados pela globalização.
No fundo, esses autores acreditam que novas instituições podem ser criadas e que os Estados têm todo o interesse em manter um sistema de governança que os ajude a vencer os desafios:
· externos, das crises internacionais, e 
· internos, do crescimento e da redistribuição das riquezas, ao mesmo tempo em que aproveitam os benefícios
de um grande mercado global integrado.
pessimismo: Os autores pessimistas argumentam que, no fundo, as instituições internacionais servem aos interesses dos atores mais poderosos na ordem global.
Esses autores ressaltam que os Estados podem ter interesses fundamentalmente diferentes uns dos outros sobre como resolver os problemas gerados pela globalização e, portanto, vão preferir modelos de governança global totalmente diferentes.
O poder, ou a não cooperação, é o dado principal para entendermos o futuro da governança global nessa chave de leitura.
concordância: Na prática, todos os autores concordam que a governança global passa por um momento de mudanças profundas.
Os Estados mais poderosos estão buscando construir instituições que lhes permitam evitar crises econômicas, ao mesmo tempo em que aproveitam as oportunidades de crescimento da economia global.
Os Estados mais fracos tentam lidar com uma margem de manobra cada vez menor para definir as suas políticas públicas.
Uma das formas mais recentes que os Estados encontraram para responder a esses desafios é a construção de arranjos de integração regional.
UNIDADE 5
Atores não estatais
Todos os atores desempenham um papel importante na política internacional.
 
Tipos de atores
Uma das marcas da ordem global contemporânea é o aumento da importância dos atores não estatais. Esse é um termo que engloba, na verdade, vários tipos de atores, como:
· companhias transnacionais;
· organizações não governamentais internacionais (ONGIs) e 
· organizações não governamentais (ONGs).
Todos esses atores desempenham um papel importante na política internacional. Alguns desses grupos não são considerados legítimos. Muitas vezes, vemos, por exemplo, grupos guerrilheiros desafiando a autoridade de um Estado central e, potencialmente, a estabilidade política de determinada região.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre atores não estatais e tipos de atores não estatais.
atores não estatais e tipos de atores não estatais
Grupos criminosos ou organizações terroristas transnacionais também podem desempenhar um papel importante, como ficou claro depois do ataque de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Outros grupos são legítimos e participam, cotidianamente, de debates internacionais juntamente com os Estados. As ONGs são o principal exemplo.
Corporações multinacionais (CMNs) são empresas cujas cadeias de produção e consumo, bem como os gastos e lucros, são tão fortemente espalhados por tantos países que o seu funcionamento e a sua lucratividade independem do controle de governos, mesmo os de seus países-sede. Em outras palavras, as CMNs operam em tantos mercados que a sua sobrevivência se tornou independente de uma ou poucas economias. Atualmente, existe um enorme número de CMNs ao redor do mundo, como as norte-americanas Coca-Cola e McDonald's, a sul-coreana Samsung, a Alemã Volkswagen e as brasileiras Odebrecht e Marcopolo.
CMNs contribuem para o desenvolvimento econômico ou, pelo contrário, colocam em risco esse desenvolvimento? O impacto das corporações multinacionais varia, enormemente, de acordo com as estruturas sociais, políticas e culturais dos países em que elas se estabelecem. Além disso, alguns estudos que afirmam que as CMNs têm grande influência em países menos desenvolvidos sobredeterminam a sua significância em economias locais. A produção de empresas pelo mundo como um porcentual do PIB mundial cresceu de 4,5% em 1970 para 7,5% em 1995, enquanto a produção de afiliadas estrangeiras de CMNs dobrou para ¼ do PIB mundial no mesmo período. Esses números já desafiam algumas afirmações exageradas sobre a globalização da produção.
A importância de CMNs e das suas filiais é ainda menor no mundo em desenvolvimento, pelo menos no que diz respeito à sua produção como porcentagem do PIB (6,3% em 1995). Embora o mundo em desenvolvimento e o Leste Europeu tenham participado do boom dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) desde o fim da Guerra Fria, a maior parte desses investimentos ainda é alocado nos países desenvolvidos. Dessa forma, podemos afirmar que as iniciativas de CMNs estão largamente concentradas dentro do mundo desenvolvido, tanto inter quanto intrarregional.
Organizações não governamentais internacionais (ONGIs) são organizações transnacionais sem fins lucrativos. A partir dessa definição, as corporações multinacionais, apesar de transnacionais, não podem ser entendidas como ONGIs, uma vez que têm fins lucrativos. Embora algum tipo de representação governamental possa estar presente dentro dessa definição, a maioria dos membros das ONGIs não deve ter nenhuma relação oficial com o aparato governamental, muito menos ser agente dos seus interesses.
A maioria das ONGIs não são, propriamente, atores políticos, mas grupos com interesses específicos que atuam politicamente quando há oportunidade. ONGIs também podem ter maior ou menor liberdade política para atuar de acordo com o seu perfil. Nesse sentido, há uma diferença substantiva entre o Greenpeace a o Conselho Mundial de Igrejas. Há também uma diferença entre as ONGIs de grau de conflito ou de cooperação com governos e órgãos oficiais. Isso, muitas vezes, pode depender não só do perfil da ONGI mas também da natureza da sua área de atuação.
A distribuição de ONGIs por regiões do mundo é altamente desigual, sendo que os países desenvolvidos são os mais bem representados. Entre os países do Sul Global, a América Latina é a região com o maior número de participantes, enquanto a Europa Oriental e a Ásia têm o menor número. Da mesma forma, os escritórios gerais das ONGIs se localizam, em sua maioria, nos países desenvolvidos. Parece que podemos retirar uma conclusão dessas evidências: para haver participação efetiva nas ONGIs, é necessário que a sociedade tenha um nível mínimo de desenvolvimento econômico e político. Na medida em que há denso desenvolvimento político, podem-se formar nas sociedades grupos de interesse, que, por sua vez, vão buscar estabelecer links e representar-se em outras sociedades, ignorando os limites territoriais do Estado (daí o seu caráter transnacional de atividade política). Ao mesmo tempo, o desenvolvimento cria condições para que investimentos, formação de recursos humanos e mobilização de capital possam ser realizados a favor das ONGIs e das suas áreas de atuação.
Algumas ONGIs são, mais diretamente, dependentes do sistema de Estados do que muitas gostariam de admitir. Particularmente nas áreas de desenvolvimento internacional e ajuda humanitária, por vezes, o investimento para a realização de atividades das ONGIs se origina de fontes públicas. De acordo com o Banco Mundial, o investimento público para ONGIs que atuam na área de desenvolvimento cresceu de 1,5% da sua renda total, no início da década de 1970, para 30%, em meados dos anos 1990. Há ainda estimativas de que 80 a 90% do orçamento de ONGs do Sul Global provenham de financiamentos públicos, de governos ou de instituições internacionais.
Juntamente com o desenvolvimento de organizações internacionais interestatais, tem havido um grande aumento no número e influência das organizações não governamentais internacionais. Também elas vêm criando normas e julgando a responsabilidade de um governo. As ONGIs podem influenciar as percepções internacionais de um país por meio das informações que possuem e da sua capacidade de trabalho transnacional em rede. Essa capacidade pode ser considerável: estima-se que, entre 1950 e 1993, o número de grupos trabalhando primariamente com direitos humanos aumentou em cinco vezes, tendo dobrado entre 1983 e 1993. Um dos mais proeminentes entre eles, a Anistia Internacional, tem agora equipe e orçamento maiores do que as entidades da ONU (tais como a Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos, fundada em 1946 e substituída, em 2006, pelo Conselho de Direitos Humanos, e a Comissão Contra a Tortura, de 1984) para questões de direitos humanos. As ONGs têm dado contribuições cruciais a essas entidades da ONU e têm trabalhado junto aos governos e à
mídia global. Essas entidades da ONU são altamente dependentes das informações fornecidas pelas ONGIs de direitos humanos, especialmente quando se busca passar do mero estabelecimento de padrões para o monitoramento da aquiescência dos governos a tais padrões. A pressão pela conformação a alguma noção de bem comum agora vem, portanto, de muitos pontos diferentes do sistema, reduzindo o espaço de manobra de um país transgressor das normas dominantes da atual ordem global.
Como estratégia para ganhar mais poder de negociação e influência, um processo que tem marcado as Relações Internacionais nas últimas décadas é a formação de redes de ativistas. Esse aspecto ocorre quando ativistas – representados principalmente por ONGIs – reúnem-se para negociar posicionamentos e estratégias acerca de interesses comuns, relacionados a um ou poucos temas como meio ambiente, desenvolvimento socioeconômico e papel da mulher na sociedade contemporânea. Exemplos de grandes redes de ativistas são as formadas no Fórum Social Mundial (um fórum de debates sobre a economia do século XXI para grupos sociais, ONGIs e outras organizações da sociedade civil) e a Cúpula dos Povos (um evento que ocorreu no Rio de Janeiro, em 2012, para grupos de ativistas debaterem um futuro sustentável).
Exemplo: Clique no ícone para acessar um quadro com atores transnacionais e temas de política internacional.
Corporações transnacionais
Todas as empresas que importam ou exportam estão, de alguma forma, engajadas em uma atividade internacional. No entanto, para efeitos analíticos, consideramos corporações transnacionais aquelas que têm subsidiárias em mais de um país.
Nos séculos XVI e XVII, as primeiras companhias europeias nas áreas de comércio, navegação e agricultura expandiram-se para fora do continente. Esse fenômeno ocorre, atualmente, em praticamente todas as áreas da economia, e mesmo países em desenvolvimento possuem as suas próprias empresas transnacionais.
As consequências do processo de internacionalização das empresas são enormes. No limite, alguns economistas consideram que não podemos mais falar em um país que tenha uma economia totalmente separada do resto do mundo – com exceção, talvez, da Coreia do Norte.
Os governos têm grande dificuldade em regular as transações entre essas companhias. Isso acontece porque, com grande poder de barganha, tais companhias podem mudar a sua produção de um país para outro rapidamente, buscando melhores oportunidades de negócio em um ambiente mais competitivo.
Ameaças e efeitos
Embora as organizações criminosas e terroristas representem uma ameaça real à vida de pessoas ao redor do mundo e à estabilidade de governos fracos, elas estão longe de representar uma ameaça real aos Estados.
Mesmo assim, desde os ataques terroristas nos Estados Unidos, em 2001, o combate a esses grupos tornou-se uma questão política central nas relações internacionais.
Os ataques aos Estados Unidos foram um exemplo claro de um novo terrorismo, que se transnacionalizou e construiu uma rede global de células, ao mesmo tempo, independentes e interligadas. Da mesma forma, complexas atividades criminosas são, muitas vezes, perpetradas por organizações que cruzam fronteiras com a mesma facilidade de ONGs e empresas transnacionais.
Por sua própria natureza, esses grupos são de difícil análise para o estudioso das Relações Internacionais. Entretanto, os seus efeitos complexos na segurança pública e na política externa dos Estados são reais e presentes.
Organizações não governamentais
Em todos os países democráticos, existem grupos organizados que fazem lobby por causas específicas. Da mesma forma, a diplomacia moderna dos países democráticos opera, constantemente, sob influência de grupos domésticos que, por um motivo ou por outro, têm algum interesse em negociações internacionais em curso.
A legitimidade dessas organizações é, em geral, consentida na maioria das democracias modernas, e algumas organizações internacionais têm por hábito incluí-las nas suas deliberações, em busca de maior legitimidade.
O Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc), por exemplo, recebe um grande número de ONGs como observadoras regulares nas suas deliberações.
Algumas organizações internacionais são inteiramente dedicadas a facilitar a comunicação entre atores públicos e privados, harmonizar padrões internacionais e facilitar a adoção de padrões tecnológicos. Clique nos exemplos para conhecer algumas dessas organizações.
International Budget Partnership: A International Budget Partnership é uma ONG cujo objetivo é criar padrões para a apresentação de orçamentos públicos pelos Estados.
Organização Internacional de Padronização: A Organização Internacional de Padronização (ISO, na sigla em inglês) é mundialmente conhecida por ajudar atores privados a criar padrões de qualidade para diversos tipos de produtos que sejam aceitos internacionalmente.
Comitê da Cruz Vermelha: O Comitê da Cruz Vermelha tem a importante tarefa de criar regras e normas que definam o tratamento digno de feridos e prisioneiros em combate.
Atenção!
Um dos efeitos da globalização que facilita a ação desses grupos é o fato de ter-se tornado muito mais fácil e barato operar em múltiplas localidades, ao mesmo tempo, sem dispor de enormes equipes e infraestrutura complexa.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre a facilidade da operação dos grupos em múltiplas localidades.
facilidade da operação dos grupos em múltiplas localidades
Anteriormente, para ter algum impacto sobre um debate público, uma ONG precisava de amplo financiamento, uma sede e grandes financiadores. Atualmente, grupos de pessoas espalhados pelo mundo, com acesso a e-mails e ferramentas para produzir um website, podem começar a atuar em defesa de uma causa rapidamente. Isso potencializa a capacidade de redes de ONGs e ativistas transnacionais de promover impacto político através das fronteiras.
Papel de atores transnacionais
Pelo menos parcialmente, entender as relações internacionais somente em função da política entre os Estados nos dá apenas um quadro incompleto. Na verdade, a política internacional está longe de ser tão simples.
Mesmo em temas de segurança internacional – tradicionalmente considerados um tema reservado à diplomacia tradicional –, atores transnacionais desempenham um papel importante.
Desde o começo da era nuclear, por exemplo, os cientistas tiveram papel fundamental no desenho de acordos internacionais de controle de armas.
UNIDADE 6
Governança, pobreza e desenvolvimento nas relações internacionais
Ao longo das últimas décadas, muitos estudos buscaram mostrar quais são as melhores formas de se alocarem esses recursos para combater a pobreza.
Impacto de políticas econômicas desenvolvidas
Os temas da pobreza e do desenvolvimento são questões muito importantes para o estudo da governança global.
Historiadores econômicos sabem, desde muito tempo, que as políticas econômicas e as práticas comerciais de um país mais desenvolvido, normalmente, têm impacto profundo no desenvolvimento de economias menores e mais dependentes de mercados externos.
O impacto no desenvolvimento de economias menores é, explicitamente, um tema central na organização das instituições internacionais desde, pelo menos, o fim da Segunda Guerra Mundial.
Nesse período, políticos – tanto nos Estados Unidos quanto na Europa Ocidental – estavam dispostos a evitar o que percebiam serem erros das suas políticas econômicas no período entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais.
Muitos acreditavam que a competição econômica acirrada entre os Estados e a crescente pobreza na Europa, causada por anos de baixo crescimento econômico, tinham sido fatores fundamentais para o surgimento do fascismo e, por consequência, da Segunda Guerra.
Uma das principais preocupações desse período, portanto, era assegurar que o mundo pós-Guerra seria de grande crescimento econômico e de combate à pobreza.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre alguns indicadores de desigualdade mundial.
alguns indicadores
de desigualdade mundial
Mais de 1 bilhão e 200 mil pessoas vivem com menos de um dólar por dia. Em 1990, o americano comum era 38 vezes mais rico que o tanzaniano comum. Em 2005, essa diferença passou a ser de 61 vezes.
Mais de 1 bilhão e 100 mil pessoas vivem sem acesso a água limpa. O lucro comum, em mais de 50 países em desenvolvimento, está mais baixo agora do que era em 1990. Em 21 países, uma grande parte da população passa fome. Em 14 países, a maior parte das crianças morre antes de completar cinco anos e, em 34 países, a expectativa de vida diminuiu nas últimas décadas.
As tarifas sobre produtos manufaturados produzidos em países em desenvolvimento são quatro vezes maiores que as tarifas exercidas sobre produtos provenientes de outros países integrantes da OCDE.
Um sexto dos adultos é analfabeto no mundo – dois terços desses analfabetos são mulheres. Nos países desenvolvidos, os subsídios para produtores agrícolas são seis vezes maiores que a ajuda internacional oferecida a outros países.
Mais de 10 milhões de crianças morrem, todos os anos, por doenças que poderiam ser facilmente prevenidas. Uma criança nascida no Zâmbia hoje tem menos chances de passar dos trinta anos do que uma criança nascida em 1840, só que na Inglaterra.
 Pobreza
Apesar de ter havido muito progresso nas últimas décadas, em muitos países, os cidadãos considerados pobres por padrões internacionais ainda são a maioria.
A gravidade e a urgência do problema da pobreza e do desenvolvimento foram reconhecidas pela Organização das Nações Unidas em 2000, quando foram lançados os Objetivos do Milênio.
OBJETIVOS DO MILÊNIO
DEFINIÇÃO
Trata-se de uma série de áreas prioritárias definidas pelas Nações Unidas por meio das quais o progresso de políticas de combate à pobreza pode ser medido e quantificado em escala global, e com as quais a maioria dos países resolveu comprometer-se, definindo objetivos em papel para serem alcançados até o ano de 2015.
OBJETIVOS
Os objetivos incluem metas para áreas como saúde, educação e meio ambiente.
O primeiro objetivo, por exemplo, é reduzir pela metade a proporção de pessoas que vivem com menos de um dólar americano por dia no mundo.
Debate
O principal debate na área de governança do desenvolvimento está em torno de como construir as instituições necessárias para atingir os Objetivos do Milênio.
Uma das maneiras clássicas pelas quais os Estados buscam influir nesses processos é pela concessão de fundos para ajuda ao desenvolvimento.
Esse tipo de ação é, normalmente, feito com a transferência de fundos de um país rico para outro mais pobre, com o objetivo de financiar alguma atividade relacionada ao desenvolvimento político e econômico.
Ao longo das últimas décadas, muitos estudos buscaram mostrar quais são as melhores formas de se alocarem esses recursos para combater a pobreza.
Necessidade de contribuição
Muitos acreditam que é necessário contribuir para que os países pobres desenvolvam instituições políticas mais eficientes e inclusivas, além de financiar atividades que levem ao crescimento econômico.
Essa crença está baseada na seguinte teoria de Daron Acemoglu e James Robinson:
Para o crescimento econômico ser sustentável e bem distribuído dentro de um país, as suas instituições políticas devem ser representativas e democráticas.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre o crescimento do PIB em países em desenvolvimento.
Sugestão de leitura: Clique no ícone para acessar sugestão de leitura sobre necessidade de contribuição.
Para saber mais sobre necessidade de contribuição, leia:
· ACEMOGLU, Daron; ROBINSON, James. Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. São Paulo: Campus, 2012.
Condicionalidades
Muitos Estados ricos decidem incluir condicionalidades ao oferecerem ajuda para o desenvolvimento de países mais pobres. Em outras palavras, condicionam a transferência de recursos financeiros a algum tipo de cumprimento de meta política ou econômica por parte dos países que recebem a ajuda.
Os defensores dessa prática afirmam que ela é a melhor maneira de assegurar que os poucos recursos dos quais esses países dispõem para financiar o seu desenvolvimento vão para aqueles mais comprometidos com objetivos de longo prazo, e com reformas políticas e econômicas que gerem riqueza e eficiência.
Já os críticos a essa abordagem duvidam tanto da capacidade quanto da legitimidade dos Estados desenvolvidos de determinar quais são as melhores políticas de alocação de recursos para o desenvolvimento.
Esses críticos argumentam o seguinte:
Estratégias de desenvolvimento internacional
Atualmente, existe um grande conjunto de acordos e instituições para regular e promover estratégias de desenvolvimento internacional e de combate à pobreza.
O sistema das Nações Unidas conta com algumas das principais instituições envolvidas nesse processo. Elas incluem o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), a Organização para Comida e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA). Essa última é a maior organização humanitária do mundo em termos orçamentários.
Soma-se a esse sistema o próprio Banco Mundial e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma organização de pesquisa e formulação de estratégias de políticas públicas criada pelos países desenvolvidos.
Organismos bilaterais de ajuda
Um grande número de países dispõe de organismos bilaterais de ajuda para o desenvolvimento.
O dilema principal é a coordenação entre todos esses atores para a criação de regras relativamente homogêneas.
Muitas vezes, países específicos preferem alocar os seus recursos nas suas organizações nacionais, ao invés de doá-los a organismos multilaterais.
Esses países afirmam que esses organismos têm consideráveis problemas de administração e duvidam das suas capacidades de definir "regras do jogo" realmente positivas.
Exemplo: Clique no ícone para acessar as tabelas com o PIB per capita em determinados países em desenvolvimento e dos países mais populosos em 2003, com projeções para 2050.
PIB per capita em determinados países em desenvolvimento e dos países mais populosos em 2003 com projeções para 2050
*com exceção da África do Sul
Organizações multilaterais 
Organizações multilaterais acusam países como os Estados Unidos – o maior doador do mundo de ajuda ao desenvolvimento – de buscar desviar recursos para transformar programas de combate à pobreza em uma extensão de sua política externa.
Eles apontam a ligação estreita entre os países que mais recebem recursos e as prioridades da política externa de Washington.
O número significativo de organizações trabalhando nesse setor, somado aos enormes desafios de coordenação que isso representa, torna essa uma das principais fronteiras do debate contemporâneo sobre governança global.
Módulo 4 – Ordem Internacional Contemporânea
Apresentação do módulo
UNIDADE 1
Nações e nacionalismos
O nacionalismo pode ser definido como uma ideia de origem europeia segundo a qual o mundo é dividido em nações que fornecem o foco principal de identidade e lealdade política.
movimentos separatistas e contestadores
São exemplos de movimentos separatistas e contestadores o movimento pela separação do território basco na Espanha e da Irlanda do Norte – cuja luta armada é representada, respectivamente, pelo ETA (1959-presente) e pelo IRA – e os movimentos pela criação de um Estado para determinada nação, que reclama direitos sobre um território, como no caso da Palestina.
Conflitos nacionalistas
A compreensão de que o nacionalismo, na política internacional, está associado ao conflito não ocorre somente devido à longa história contemporânea de libertação nacional da Palestina e do seu conflito com Israel, por exemplo.
Essa compreensão existe pelo fato de o fim da Guerra Fria ter testemunhado focos de conflito nacionalistas que não se restringiam a países do Terceiro Mundo.
Exemplo: Clique no ícone para acessar exemplos de conflitos nacionalistas.
Formação da estrutura de estados
O
desenvolvimento de uma ordem vestfaliana de Estados soberanos a partir do século XVII foi, progressivamente, consolidando um sistema de Estados que, como afirma Weber, tem poder e autoridade sobre um território delimitado e sobre a sociedade que ocupa esse território.
Ao contrário do que muitas vezes se supõe, a formação da estrutura dos Estados na Europa não ocorreu de modo concomitante ao desenvolvimento da ideia de nação.
Essa formação ocorreu de forma tardia, produzindo o fenômeno do Estado-nação.
ordem vestfaliana
Ordem internacional estabelecida em 1648, a partir de uma série de tratados internacionais assinados após a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), com o objetivo de pôr um fim ao estado de guerra endêmico no qual se encontravam as potências europeias.
A ordem de vestfália marca o fim da autoridade supranacional da Igreja e o início da ordem internacional como a conhecemos hoje, composta de Estados soberanos. Desse modo, Vestfália consolidou uma série de princípios que, ainda hoje, guiam as relações internacionais, como soberania, não intervenção e respeito a assuntos domésticos, liberdade e tolerância religiosas. A partir de Vestfália, os Estados passaram a ser protagonistas dos seus interesses nas dinâmicas internacionais, ou seja, não havia mais autoridade alguma acima dos Estados.
Max Weber
Influente sociólogo, advogado, economista e historiador. Doutor em Direito e autor de livros como The theory of social and economic organization (1947), Weber lecionou na Universidade de Freiburg e é conhecido como um dos fundadores da Sociologia moderna.
Nacionalismo
Geralmente, é consensual demarcar a década de 1750 como o período a partir do qual o nacionalismo se torna um componente relevante da política internacional.
Nessa época, também podemos identificar o primeiro conflito entre Estados que emprega o nacionalismo e que tem dimensões globais: a guerra entre Inglaterra e França em meados do século XVIII, entre 1750 e 1815.
A emergência do componente nacional do Estado e da ideia de nacionalismo a partir do século XVIII "nacionalizou" esse sistema de Estados e esse modelo de organização territorial.
Isso ocorreu quando a figura moderna do Estado-nação passou, por sua vez, a ser exportada para além da Europa, a partir do século XIX, em dinâmicas de dominação externa.
Vamos entender melhor a ideia de nacionalismo? Clique nos títulos.
Estado-Nação: Historicamente, o nacionalismo forneceu a base para a difusão global de Estados-nações.
Durante o final do século XIX e ao longo do século XX, o Estado-nação foi identificado como:
· o símbolo da modernidade e 
· a estrutura de organização político-social indispensável para a modernização e a aquisição dos benefícios do progresso.
Dessa forma, muitos líderes do movimento anticolonial justificavam a sua luta pela autodeterminação.
Pela expansão, por meio da dominação e do modelo de sucesso, o Estado-nação tornou-se a unidade fundamental da ordem internacional.
definição de nacionalismo: O nacionalismo pode ser definido como uma ideia de origem europeia segundo a qual o mundo é dividido em nações que fornecem o foco principal de identidade e lealdade política. Tais nações, por sua vez, dependem, para a sua existência e afirmação, da possibilidade de autodeterminação nacional. Nesse sentido, o nacionalismo pode ser entendido como uma ideologia ou um sentimento segundo o qual toda nação deveria possuir o seu próprio Estado ou, ao menos, alguma forma de autodeterminação territorial.
A nação pode coincidir com o Estado. Isso, todavia, nem sempre ocorre e deve, portanto, ser tratado como uma contingência histórica, e não como parte da definição conceitual de nacionalismo. Existem:
· nações sem Estados – é o que ocorre na Palestina, além dos casos dos ciganos e, por muito tempo, dos judeus;
· nações que pertencem a mais de um Estado – por exemplo, a nação Tutsi, que vive em Ruanda, no Congo e em Burundi – e 
· Estados multinacionais – por exemplo, o Canadá, a Índia, a Rússia e a África do Sul.
conceito de nação: É praticamente impossível falar de nacionalismo sem trazer à tona um conceito a ele associado, o de nação. Nação é um conceito que pode ser definido de diversas formas e que, muitas vezes, é tratado, equivocadamente, como sinônimo de Estado.
Isso ocorre porque, até meados do século XX, era comum utilizar os dois termos para se referir à mesma coisa no âmbito internacional – Estados soberanos capazes de participar de um conflito armado e de implementar a sua própria política externa. Esse uso histórico dos dois termos como equivalentes fica claro no preâmbulo da Carta das Nações Unidas (1945):
Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade; a reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas; a estabelecer as condições necessárias à manutenção da justiça e do respeito das obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional; a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de um conceito mais amplo de liberdade [...]
Max Weber define o Estado como uma organização territorial que exerce controle legítimo sobre um território definido, de forma que não seja ameaçada, internamente, por competição de poder, nem, externamente, por intervenção. Já a nação é definida por Weber como uma comunidade de sentimento que se manifestaria, adequadamente, em um Estado próprio e, portanto, tende a produzir um Estado próprio.
Podemos atualizar a definição de Weber para que ela inclua também comunidades autodefinidas que buscam autonomia dentro da estrutura de um Estado.
formação do nacionalismo: Além da distinção entre Estado e nação, e da íntima relação entre nação e nacionalismo, há algumas questões que dividem estudiosos do tema acerca da formação do nacionalismo. Vejamos:
· O nacionalismo depende da prévia existência de nações?
· Nações são um fenômeno exclusivamente moderno, isto é, datam do século XVIII, ou podem remeter a épocas mais remotas? O Egito antigo, por exemplo, era uma nação? Os celtas podem ser considerados uma nação?
· Que fatores devemos privilegiar para explicar o comportamento nacionalista?
· Qual é o peso desempenhado por fatores domésticos – tais como linguagem e religião compartilhadas – e por fatores externos – como ameaças externas ou apoio de Estados mais poderosos, o que ocorreu na criação do Sudão do Sul em 2011 – na formação de uma nação e do sentimento ou ideologia nacionalistas?
entendimento do nacionalismo: O nacionalismo pode ser entendido de três maneiras:
· como ideologia;
· como sentimento, quando informa o senso de identidade das pessoas, e 
· como forma de política, quando é incorporado por um movimento a fim de atingir metas específicas.
Em termos de categorias conceituais, há dois tipos de ideologias nacionalistas: o nacionalismo cívico e o nacionalismo étnico. Vejamos as suas características no quadro a seguir:
	nacionalismo cívico
	nacionalismo étnico
	O nacionalismo cívico ocorre quando o pertencimento a um Estado e o compartilhamento dos seus valores cívicos determinam a manifestação da sua nacionalidade.
Um bom exemplo é o dos Estados Unidos. Apesar de receberem milhares de imigrantes de várias partes do mundo desde o século XIX, os norte-americanos conseguiram estimular a formação de uma nação homogênea por meio da educação em massa e dos incentivos para que os novos cidadãos compartilhassem dos símbolos e das manifestações cívicas.
Há numerosas comunidades de irlandeses, italianos e chineses, por exemplo, que não deixam de se autodenominar, primeiramente, como norte-americanos.
	O nacionalismo étnico ocorre quando o pertencimento a um grupo específico, que compartilha raízes históricas comuns e outras características – religião, idioma –, é o principal elemento a definir a sua nacionalidade.
Nesse
caso, a nação, muitas vezes, pode ter precedido o Estado – como no caso do Estado de Israel.
É também comum ter havido Estados multinacionais, ou seja, compostos de diversas nações, como o Império Austro-Húngaro.
Comentário: 
Clique no ícone para acessar uma tabela com o número de países que compõem as Nações Unidas.
Vejamos, na tabela a seguir, o número de países que compõem as Nações Unidas:
	ano
	número de países que compõem as Nações Unidas
	1945
	51
	1973
	135
	1988
	159
	1997
	185
	2011
	193
Comentário: Clique no ícone para acessar comentários sobre nacionalismo e Estado-nação, e sobre nação segundo Benedict Anderson e Eric Hobsbawm.
nacionalismo e Estado-nação, e nação segundo Benedict Anderson e Eric Hobsbawm
Com o Estado-nação, o nacionalismo passou a prover a base de legitimidade da autoridade dos Estados ao associar a ideia de soberania sobre um território demarcado com o princípio de que o mundo era dividido em nações distintas.
O nacionalismo também forneceu a fonte de autoridade que, anteriormente, era sustentada pela religião ou por um sistema de privilégios, além da solidariedade entre grupos, antes restritiva ao nível da família ou das comunidades.
Uma das vantagens do nacionalismo e um dos motivos pelos quais, por tanto tempo, ele foi mais fonte de estabilidade do que de conflito é o fato de que ele é altamente plástico – o nacionalismo pode assumir formas distintas e servir-se de diferentes valores, histórias e modos de vida para justificar o pressuposto de que nações existem e têm direito a ter os seus próprios Estados.
Vejamos o conceito de nação segundo Benedict Anderson e Eric Hobsbawm:
[A nação] [...] é uma comunidade política imaginada – inerentemente tanto limitada quanto soberana. [...] Ela é imaginada porque os membros até da menor nação nunca conhecerão a maioria de seus compatriotas, mas na mente de cada um vive a imagem de sua comunidade. [...] A nação é imaginada como limitada porque até a maior, reunindo talvez um bilhão de habitantes, possui fronteiras finitas – mesmo que sejam elásticas –, além das quais vivem outras nações. [...] Ela é imaginada como soberana porque o conceito nasceu em uma época na qual o Iluminismo e a Revolução estavam destruindo a ordem divina, hierárquica e dinástica.
(ANDERSON, 1991, p. 5-6)
Nem definições objetivas nem definições subjetivas são, pois, satisfatórias, ambas são incongruentes. Em todo caso, agnosticismo é a melhor postura inicial de um estudante dessa área e, portanto, esse livro não assume nenhuma definição a priori do que constitui uma nação. Como uma suposição de trabalho inicial, qualquer suficientemente grande grupo de pessoas cujos membros enxergam a si próprios como membros de uma "nação" será tratado como tal. Entretanto, não se pode estabelecer se tal grupo assim se define simplesmente consultando escritores e políticos de organizações do grupo que lutam pelo status de "nação" do mesmo. A aparência de um grupo de políticos para uma "ideia nacional" não é insignificante, mas a palavra "nação" é atualmente utilizada de forma tão abrangente e imprecisa que o uso do vocabulário nacionalista pode hoje significar bem pouco.
(HOBSBAWM, 1990)
Estados étnico-nacionais
Embora a maioria dos Estados no sistema internacional seja, de fato, multinacional ou multiétnica, existem também exemplos numerosos de Estados étnico-nacionais, isto é, em que existe uma grande coincidência entre a composição da nação e a predominância de determinado grupo étnico.
É difícil estabelecer uma relação entre a composição étnica de um Estado e o grau de estabilidade ou de conflito que nele pode existir devido à sua característica homogênea ou multinacional.
Estados multinacionais
Estados multinacionais podem exibir instabilidade quando grupos domésticos buscam secessão ou autonomia dentro de um território, como é o caso da Chechênia, na Rússia.
Estados multiétnicos
Por outro lado, o Canadá, um Estado multiétnico, pode ser considerado um dos Estados mais estáveis do sistema internacional.
Também não é necessariamente verdade que Estados étnico-nacionais são propensos a maior estabilidade. Um dos poucos Estados etnicamente homogêneos da África, a Somália, tem longo histórico de instabilidade política. É, portanto, perigoso moralizar as distinções e estabelecer um paralelo entre diversidade ou homogeneidade nacional e instabilidade ou estabilidade de um Estado, sem levar em conta as contingências históricas de cada experiência nacional.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de Estados etnicamente homogêneos.
Vejamos, no quadro a seguir, alguns exemplos de Estados-nações etnicamente homogêneos:
	exemplos de Estados-nações etnicamente homogêneos
	Albânia
	Albaneses – 98% da população
	Armênia
	Armênios – 98% da população
	Bangladesh
	Bengalis – 98% da população
	Egito
	Egípcios – 99% da população
	Hungria
	Húngaros – 95% da população
	Líbano
	Libaneses – 95% da população
	Lesoto
	Basutos – 99.7% da população
	Maldivas
	Dhivahis – 98% da população
	Mongólia
	Mongóis – 95% da população
	Suazilândia
	Suázis – 98.6% da população
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre nacionalismo como forma de política
Como uma forma de política, o nacionalismo pode resultar em fortalecimento ou enfraquecimento da estrutura de um Estado. O nacionalismo pode fortalecer um Estado ao reforçar as suas características internas, dando suporte a valores e a símbolos cívicos, por exemplo, ou as suas presença e atividade externa, ao reclamar jurisdição e soberania sobre um território ou implementar estratégias para expandir o seu poder internacionalmente.
Estratégias nacionalistas
Uma vez que o nacionalismo requer que as unidades nacional e territorial coincidam, pressões serão exercidas sobre estruturas de Estados em que esse não seja o caso.
Por essa razão, o nacionalismo também pode procurar enfraquecer um Estado existente, ao buscar criar um novo Estado por meio de uma estratégia separatista ou pela união de pequenos Estados ou nações. Nesse caso, atores que fazem uso do nacionalismo como política podem tanto almejar a formação do seu próprio Estado territorial quanto ter como objetivo a aquisição de autonomia dentro de um Estado federativo.
Esse é o caso do Partido Nacional Escocês, que atua dentro do sistema político britânico lutando pela ampla autonomia da Escócia dentro do Reino Unido.
Estudo de caso: Clique no ícone para acessar o estudo de caso Índia e Paquistão, e o caso Iugoslávia.
caso Índia e Paquistão e caso Iugoslávia
Caso Índia e Paquistão:
Em agosto de 1947, o subcontinente indiano se tornou independente do Império Britânico. A região, no entanto, era composta por uma grande concentração de muçulmanos a noroeste e de hindus nas demais áreas, o que levou os então líderes políticos a decidirem separar-se em dois países: Índia, dominada por Hindus, e a República Islâmica do Paquistão.
O problema, entretanto, surgiu nos estados da Cachemira e de Jammu, situados na fronteira entre os dois novos países e liderados por um Hindu, mas habitados majoritariamente por muçulmanos. Por causa desse cenário, a soberania sobre essa região já causou duas grandes guerras entre Índia e Paquistão e, até hoje, ainda não foi completamente resolvida.
A primeira guerra entre Índia e Paquistão teve início ainda em outubro de 1947, quando um grupo de paquistaneses invadiu a região da Cachemira, cuja soberania era ainda incerta. Revoltado com a violência dos paquistaneses, o líder político desse estado pediu ajuda armamentista da Índia e, em troca, comprometeu-se com a acessão da Cachemira à Índia. Autoridades paquistanesas e indianas concordaram que a anexação seria confirmada por um referendo assim que as hostilidades terminassem.
Os conflitos só terminaram em janeiro de 1949, quando a ONU apoiou um cessar fogo e um referendo estabelecendo a acessão da Cachemira à Índia. Uma linha de cessar fogo foi acordada e uma força de peacekeeping da ONU foi estabelecida no local, mas o referendo não foi criado.
Em 1954, a Assembleia Constituinte
do estado de Cachemira e Jammu ratificou a acessão da região à Índia. Três anos depois, o mesmo organismo aprovou uma constituição própria, mas baseada na constituição indiana. Por outro lado, o governo paquistanês considerava controlar um terço da região de Cachemira e Jammu.
Onze anos depois, em agosto de 1965, teve início a segunda guerra entre Índia e Paquistão. Um conflito entre oficiais de fronteira levou o governo do Paquistão a lançar uma ofensiva atravessando a linha de cessar fogo, o que gerou uma retaliação da Índia, que também ultrapassou a fronteira. No final de setembro, no entanto, depois de mais pressão da ONU, os dois países concordaram em cessar fogo mais uma vez.
Em 1971, houve outro importante conflito na relação entre Índia e Paquistão. O Paquistão entrou em guerra civil quando grande parte da população do Paquistão do Leste – uma pequena região no leste da Índia administrada pelo governo paquistanês – começou a lutar por autonomia e, mais tarde, independência. Devido à violenta opressão do exército paquistanês, cerca de dez milhões de habitantes do Paquistão do Leste fugiram para a Índia. Em dezembro do mesmo ano, entretanto, o exército indiano invadiu o território do Paquistão do Leste para tentar defender a população local do exército paquistanês, que foi derrotado. Em poucos dias, o Paquistão do Leste se tornou independente, transformando-se no atual Bangladesh – o governo paquistanês, no entanto, só reconheceu esse país em 1974.
Apenas 50 anos depois da independência do subcontinente indiano, tiveram início alguns movimentos de paz. Em 1997, os chanceleres da Índia e do Paquistão se reuniram em Déli para discutir as tensões entre os dois países. Entretanto, nenhum acordo significativo foi assinado.
Também na década de 1990, teve início uma grande corrida armamentista entre os dois países. Em 1998, ambos os governos fizeram testes nucleares próximos à região fronteiriça, o que gerou grandes tensões na região e muitas críticas da comunidade internacional. Os Estados Unidos, o Japão e alguns líderes europeus ordenaram sanções aos dois países, enquanto que a ONU condenou severamente as operações nucleares.
Até hoje, a soberania sobre o território da Cachemira e de Jammu não foi resolvida. Atualmente, uma fronteira semioficial – conhecida como Linha de Controle (do inglês, LOC) – divide a região, estabelecendo a administração do Paquistão sobre um terço do território e a da Índia, sobre o restante. O governo indiano defende a formalização dessa divisão, tornando a LOC em uma fronteira internacional, mas o Paquistão argumenta que a LOC é apenas uma linha de cessar fogo e não uma fronteira internacional.
Fonte
ÍNDIA e Paquistão. FGV Online, 2013.
Caso Iugoslávia:
A Iugoslávia consistiu em um país criado no ano de 1919, sob os termos do Tratado de Versalhes, e extinto na década de 1990. Localizada nos Bálcãs, a Iugoslávia possuía diversos idiomas e era composta por diferentes grupos étnicos, como, por exemplo, os servos, os croatas, os eslovenos, mulçumanos e os macedônios. Ao longo da história, tal território foi palco de diversas áreas de influência, como, por exemplo, do Império Romano, do Império Bizantino, do Império Austríaco, da Rússia, entre outros. Trata-se, ainda, de uma área de encontro entre as diferentes civilizações mundiais, como a europeia, a centro-asiática, a mediterrânea e, também, um ponto de contato com o Oriente Médio.
A região da Iugoslávia era entendida pela diplomacia europeia como fonte de instabilidade e tensões durante todo o século XIX. Em 1918, o assassinato de Franz Ferdinand, arquiduque da Áustria, por agentes sérvios na Bósnia consistiu em um dos motivos para a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, foi reconhecida a demanda dos sérvios, croatas e eslovenos pela criação de um Estado, que seria consolidado sob os termos do Tratado de Versalhes.
A criação da Iugoslávia, em 1919, não criou, entretanto, uma noção de pertencimento nacional comum entre os diferentes povos que habitavam tal território. A tensão entre tais povos, particularmente entre os croatas e os sérvios, aumentou sensivelmente no período do entreguerras. A ocupação da Iugoslávia pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial exacerbou tal tensão, uma vez que os croatas apoiavam a presença alemã e os sérvios eram seus fortes opositores.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o marechal Josip Broz Tito emergiu como o principal líder da Iugoslávia. Seus esforços concentraram-se na tentativa de criar um sentimento de nacionalismo que solapasse as diferenças étnicas e, para tanto, lançou mão do comunismo. Fundou-se, assim a República Popular Federal da Iugoslávia, em 1946, que posteriormente, em 1963, atenderia sob o nome de República Socialista Federativa da Iugoslávia. Após o término da Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia assumiu, assim, um formato socialista federativo, sendo composta pelas seguintes repúblicas: República Socialista da Bósnia-Herzegovina, República Socialista da Croácia, República Socialista da Macedônia, República Socialista de Montenegro e pela República Socialista da Sérvia, que se subdividia, por sua vez, na Província Socialista Autônoma do Kosovo e na Província Socialista Autônoma de Vojvodina. Vale mencionar, entretanto, que Tito optou por não se aliar à União Soviética, constituindo, desse modo, um ícone do movimento dos não alinhados durante a Guerra Fria.
Após a morte de Tito, em 1980, a frágil estabilidade da região começou a se deteriorar. O colapso do comunismo, a partir do fim da década de 1980 e início da década de 1990, agravou a situação da então república socialista. Em 1991, os parlamentos croata e esloveno aprovaram suas respectivas resoluções de independência da Iugoslávia. No decorrer da década de 1990, a Iugoslávia foi tomada por violentos conflitos étnicos e separatistas, tendo como epicentros a Bósnia e a região autônoma do Kosovo, e sendo protagonizados pelos croatas, pelos sérvios e pelos mulçumanos. No contexto de tais conflitos, mais de 100.000 pessoas foram assassinadas, cerca de três milhões tornaram-se refugiadas e inúmeras foram vítimas de crimes que visavam à limpeza ou exterminação étnica, levando ao que chamamos de genocídio.
Em 1992, a ONU elaborou a primeira operação de paz na região. A inciativa da organização, entretanto, não obteve sucesso e as tensões na região continuaram agravando-se. Entre 1994 e 1995, a OTAN também elaborou uma operação de paz, mas não conseguiu eliminar os conflitos separatistas. A questão do Kosovo mostrou ainda mais problemática e, no fim da década de 1990, movimentos irredentistas tornaram-se muito fortes. Em 2008, o Kosovo declarou-se independente, mas inúmeros países e organizações ainda o reconhecem como um protetorado da ONU e da OTAN.
A Iugoslávia assistiu sua desintegração progressiva durante a década de 1990 e, hoje, é sucedida pelos seguintes Estados: Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, República Federal da Iugoslávia e Eslovênia. O conflito dos Bálcãs é entendido como referência dos dilemas e conflitos enfrentados por Estados multiétnicos, ou seja, Estados que abrigam diferentes etnias com demandas nacionalistas particulares.
Fonte
IUGOSLÁVIA. FGV Online, 2013.
IDEOLOGIA NACIONALISTA
Embora esteja intimamente associado ao Estado-nação na política internacional, o nacionalismo não equivale a ele. Desse modo, quando a integridade do Estado-nação está ameaçada – seja por uma crise política ou econômica interna, seja por ameaças externas –, o nacionalismo tende a emergir na política de forma mais forte e, muitas vezes, com conteúdo extremista ou xenófobo.
Um claro exemplo é o Movimento Nacionalista dos Indignados, na Espanha, que emergiu entre os jovens desempregados durante a crise econômica no país.
A ideologia do nacionalismo tornou-se, ao longo da Guerra Fria, a principal forma de justificar a existência dos Estados. Essa ideologia combina o princípio democrático de que a nação equivale ao povo com o clamor à soberania e à autodeterminação nacional.
Além disso, proporciona um senso de identidade particular e distinto de outros grupos, sendo suficientemente flexível para acomodar diversos arranjos políticos e sociais.
O nacionalismo é uma ideia que consegue adaptar-se, facilmente, às mudanças na ordem política global, acompanhando as formas como os Estados interagem. Com o argumento de que o mundo é dividido em nações distintas e territorialmente localizadas, o nacionalismo espelha:
Comentário: Clique no ícone para acessar comentário sobre os principais temas da ideologia nacionalista.
Os temas principais da ideologia nacionalista são:
· a humanidade é, naturalmente, dividida em nações;
· cada nação possui as suas características peculiares;
· a fonte de todo poder político é a nação, a coletividade como um todo;
· para liberdade e autorrealização, o homem deve identificar-se com uma nação;
· nações só podem ser supridas nos seus próprios Estados;
· a lealdade ao Estado-nação é superior a outras lealdades e
· a condição primária da liberdade e da harmonia globais é o fortalecimento do Estado-nação.
Fonte:SMITH, Anthony. Theories of nationalism. 2. ed. Londres: Duckworth, 1983, p. 21.
CONSEQUÊNCIAS DO FIM DA GUERRA FRIA
Após o final da Guerra Fria, houve uma rápida emergência do étnico-nacionalismo e da formação de novos Estados, especialmente no antigo bloco soviético. Navegue pelas setas para conhecer as principais consequências do fim do conflito bipolar para as manifestações do nacionalismo na política internacional:
1. Formação de novos Estados na antiga União Soviética
2. Emergência de étnico-nacionalismo na Rússia e na Iugoslávia.
3. Combinação de conflito intraestados baseado no nacionalismo étnico.
4. Falta de apoio internacional à soberania do Estado e à intervenção.
A falta de apoio internacional à soberania do Estado e à intervenção pode levar a um círculo de violência étnico-nacionalista, como ocorreu em Ruanda.
Os Estados que faziam parte da antiga União Soviética, ao contrário do movimento anterior de descolonização, foram criados com base em identidades étnicas, o que não eliminou disputas internas com minorias.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre fatores contrários e favoráveis ao nacionalismo.
Fatores contrários ao nacionalismo:
· prosperidade compartilhada;
· integração econômica;
· migração;
· viagem e turismo;
· emprego no estrangeiro;
· ameaças globais;
· comunicações globais e
· fim da crença na soberania econômica.
Fatores favoráveis nacionalismo:
· perda de controle para investidores estrangeiros;
· hostilidade para imigração;
· medo de desemprego;
· ressentimento em instituições supranacionais;
· desgosto por culturas estrangeiras;
· medo de terrorismo e subversão;
· hostilidade à mídia global e
· atrações por secessão.
REAÇÕES DA COMUNIDADE INTERNACIONAL
A comunidade internacional reagiu contra a difusão do étnico-nacionalismo e contra a proliferação de Estados, enquanto promovia novas formas de intervenção nos assuntos domésticos de Estados mais fracos.
Essas intervenções têm sido justificadas a partir de argumentos universalistas, como a promoção de regimes democráticos e a proteção dos direitos humanos. Casos mais recentes incluem a intervenção americana na Somália (1992), no Iraque (2003) e no Afeganistão (2001), e a intervenção da Otan na Líbia (2012).
Desde então, o nacionalismo tem-se adaptado para focar menos a demanda clássica de um Estado, uma nação étnica.
A globalização da política internacional pode, ao contrário, estimular novas formas de nacionalismo que não estejam sediadas na figura do Estado-nação.
O nacionalismo tem-se manifestado também a partir de conexões subestatais e transnacionais. Essa é uma situação nova e distinta de padrões históricos observados até o fim da Guerra Fria. Vamos entender como os princípios de proteção dos direitos das minorias e da soberania influenciaram as intervenções em Estados mais fracos. Clique em um dos princípios de proteção a seguir: 
· proteção dos direitos das minorias: Durante a primeira metade do século XX, a justificativa para intervenções baseava-se na proteção dos direitos das minorias, como no conflito entre a Sérvia e o Império Austro-Húngaro, durante a Guerra Fria.
· proteção da soberania: Durante a Guerra Fria, o princípio da soberania bloqueou, em parte, as intervenções, com exceção daquelas em países do Terceiro Mundo, realizadas em prol da defesa dos valores ocidentais ou a favor da revolução comunista, mas, principalmente, a favor da autodeterminação das colônias.
QUESTÃO DAS MINORIAS
Além da emergência do nacionalismo étnico e de novas formas de intervenção nos Estados mais fracos, a comunidade internacional ainda tem de lidar com as questões das minorias e dos refugiados, além de com a existência de Estados altamente instáveis.
Estados altamente instáveis são incapazes de prover segurança e bens aos seus cidadãos e de zelar pela defesa dos seus direitos humanos – é o caso dos Estados falidos.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre visões dos movimentos comunista e feminista acerca do nacionalismo.
Visões dos movimentos comunista e feminista acerca do nacionalismo
comunismo
Os trabalhadores não possuem país. Não podemos tirar deles o que eles não possuem. [...] Diferenças nacionais e antagonismos entre pessoas estão cada vez mais enfraquecidos dados o desenvolvimento da burguesia, a liberdade de comércio, o mercado global, a uniformidade no modelo de produção e nas condições de vida correspondentes.
Fonte: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto of the Communist Party. In: MARX, Karl. The revolutions of 1848. Londres: Penguin Books e Next Left Review, 1973. p. 84-85.
feminismo
Portanto você insiste em lutar para gratificar um instinto sexual que eu não posso partilhar, para procurar benefícios que eu não partilhei e provavelmente não partilharei; mas não para gratificar meus instintos, ou para proteger a mim ou a meu país. O estrangeiro dirá de fato, como uma mulher eu não possuo nação. Como mulher eu não desejo nação. Como mulher meu país é o mundo todo.
Fonte: WOOLF, Virginia. A room of one’s own. Three guineas. Oxford: Oxford University Press, 1992, p. 313.
Dois critérios utilizados para determinar a estabilidade de um Estado-nação são o reconhecimento do seu status como uma entidade soberana pela comunidade internacional e a ausência de movimentos nacionalistas que objetivem enfraquecer a estrutura existente do Estado.
A questão das minorias tem recebido pouca atenção da comunidade internacional desde a consolidação do sistema de Estados. As Nações Unidas, por exemplo, não abordaram o tema dos direitos das minorias que, após a Segunda Guerra Mundial, era percebido como fonte de ameaça à soberania do Estado e à ordem política, por encorajar o étnico-nacionalismo.
UNIDADE 2
Direitos humanos
Todos os seres humanos deveriam ter os seus direitos garantidos pelo Estado.
 
Preocupação dos direitos
A noção de que seres humanos têm direitos porque são seres humanos, e não porque são cidadãos de um Estado, é relativamente nova na política internacional.
Tradicionalmente, o Direito Internacional esteve preocupado com os direitos dos Estados, em particular, direitos associados com a ordem pós-vestfaliana, como soberania e não intervenção.
Segundo essa visão, o Direito Internacional regia a relação entre os Estados, enquanto o Direito Municipal regia a relação entre indivíduos. Nesse caso, os direitos humanos, na sua limitada apreciação, eram subordinados aos direitos dos Estados.
Nessa concepção, minorias – indivíduos que não pertenciam a nenhum Estado e cidadãos estrangeiros –, muitas vezes, não tinham direitos reconhecidos e ficavam à margem dos direitos assegurados ao cidadão de um Estado.
Todos os seres humanos deveriam ter os seus direitos garantidos pelo Estado.
Regime internacional
Como vimos, a inovação do século XVII na política internacional foi a criação de um sistema de Estados baseado nas noções de soberania e de não intervenção. Paralelamente, a grande transformação do século XX foi
o desenvolvimento de um protótipo de sociedade mundial. Clique nas imagens para visualizar esses protótipos.
Os indivíduos têm o mesmo lugar que os Estados. 
Os próprios Estados reconhecem que as questões conectadas com os direitos fundamentais dos seres humanos são uma parte legítima dos seus objetivos de política externa tanto quanto as preocupações tradicionais com paz, segurança e prosperidade econômica. 
Esse protótipo expressa-se em um regime internacional de direitos humanos, composto de uma rede complexa de Direito Internacional, e de uma prática a favor da proteção e promoção dos direitos humanos na sociedade internacional.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre regimes internacionais.
regimes internacionais
Stephen Krasner, na sua obra International regimes (1983), formulou uma definição para o termo que é amplamente utilizada nas relações internacionais. Segundo o autor, regimes internacionais são conjuntos de princípios, normas, regras e procedimentos decisórios implícitos ou explícitos, em torno dos quais convergem as expectativas dos atores em uma dada área das relações internacionais (KRASNER, 1983).
Nesse sentido, regimes são caracterizados por regras e princípios compartilhados em torno de dada área temática das relações internacionais, a partir dos quais os Estados decidem se a cooperação constitui a melhor opção. Nesse sentido, o conceito de regimes está relacionado com as abordagens da interdependência e do liberalismo, uma vez que estas preveem a possibilidade de que os Estados optem pela cooperação a despeito do caráter anárquico das relações internacionais.
Movimentos humanitários
Durante o século XIX, algumas questões associadas à promoção de determinados grupos começaram a ser discutidas como resultado de movimentos humanitários e por conta da promoção de padrões internacionais na condução de conflitos no sistema internacional. Vejamos alguns exemplos de movimentos humanitários. Clique em cada um deles a seguir: 
exemplo 1: Como parte desse movimento, por exemplo, o tráfico de escravos foi oficialmente abolido pela Convenção de Bruxelas, em 1890, enquanto a escravidão foi declarada proibida pela Convenção da Escravidão, em 1926. 
exemplo 2 : As Convenções de Haia, em 1907, e as Convenções de Genebra, em 1927, introduziram considerações humanitárias em conflitos armados. 
exemplo 3: O Escritório Internacional do Trabalho, em 1901, e seu sucessor, a Organização Internacional do Trabalho, trabalharam para estabelecer padrões internacionais no ambiente de trabalho, promovendo instrumentos tais como a Convenção sobre Trabalho Forçado ou Compulsório, em 1930. 
Embora os movimentos humanitários possam ser entendidos como avanços pontuais na promoção de certos direitos, eles ainda eram produzidos em um contexto de predomínio das normas de soberania e não intervenção, as quais colocavam sérios obstáculos para a proteção desses direitos.
Nesse sentido, certamente, abolir o tráfico de escravos não significava abolir a escravidão, uma vez que essa última se refere à forma como os Estados tratam a sua própria população ou uma parcela dela.
Processo de desenvolvimento da noção de direitos humanos
O processo de desenvolvimento da noção de direitos humanos como direitos dos indivíduos, apesar da sua identidade possível como cidadão de um Estado foi reconhecido por meio:
· do estabelecimento da Comissão sobre Direitos Humanos das Nações Unidas, em 1946, e 
· da oficialização com a aprovação, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.
Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela primeira vez, a comunidade internacional tentou definir um código compreensivo para os governos domésticos dos seus membros.
Embora não tenha havido uma oposição formal, a África do Sul, a Arábia Saudita, a União Soviética e mais cinco Estados do bloco se abstiveram.
Isso é facilmente compreensível, uma vez que esses Estados tinham políticas domésticas em relação aos seus cidadãos que não condiziam com os princípios estabelecidos na declaração, muitas vezes, de aberta violação dos direitos humanos.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre a abstinência da África do Sul, da Arábia Saudita e da União Soviética com relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos.
abstinência da África do Sul, da Arábia Saudita e da União Soviética com relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos
No momento da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a África do Sul estava formalizando, por meio de leis, os princípios que guiaram a institucionalização do regime do apartheid.
A Arábia Saudita se absteve por motivos religiosos, uma vez que o artigo 18 afirmava a liberdade religiosa, contradizendo as leis domésticas do país e os princípios do Islã.
A União Soviética, além de criticar a ausência de destaque aos direitos sociais e econômicos, via o documento como um instrumento da Guerra Fria, desenhado para estigmatizar regimes socialistas.
Documentos adicionais
A Comissão das Nações Unidas trabalhou, posteriormente, em dois documentos adicionais com o objetivo de dar mais substância aos princípios gerais estabelecidos na Declaração Universal de Direitos Humanos. Clique em cada um deles para conhecê-los.
Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: Detalhava os direitos sociais, culturais e econômicos. Foi aprovado em 1966, mas teve efeito apenas dez anos depois.
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos: Referia-se aos direitos políticos e civis. Ainda hoje, enfrenta resistências de países para ser implementado.
Embora esses princípios tenham sido formalizados, a questão da sua implementação e o respeito pelos Estados ainda não é clara. Os Estados, em última instância, podem ignorá-los e, muitas vezes, de fato, ignoram-nos.
Entretanto, como princípios reconhecidos pela sociedade internacional, esses princípios têm informado e guiado a opinião pública. Especialmente, quando mecanismos formais e incentivos para o respeito aos direitos humanos não existem ou são fracos demais, o poder da opinião pública pode agir como uma importante sanção no conflito entre indivíduos e Estados.
DIREITOS HUMANOS EM TRÊS GERAÇÕES
Primeira geração: Direitos políticos, tais como direito de expressão e de reunião e "o direito de tomar parte na direção dos negócios, públicos do seu país, quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos" (DUDH, Artigo 21.1).
Segunda geração: Direitos econômicos e sociais. "Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país" (DUDH, Artigo 22).
Terceira geração: Direitos coletivos e dos povos. "Os povos têm a livre disposição das suas riquezas e dos seus recursos naturais. Este direito exerce-se no interesse exclusivo das populações. Em nenhum caso um povo pode ser privado deste direito" (CARTA Africana de Direitos Humanos, artigo 21.1).
Desafios
Há sérios desafios à observação de cartas, tratados e instrumentos legais internacionais que compõem o regime internacional de direitos humanos. Um desses desafios é fazer da proteção e da promoção dos direitos humanos um objetivo de valor próprio na política externa dos Estados.
Em vista disso, podemo-nos questionar:
Como o compromisso com os direitos humanos deve afetar a condução da política externa dos países?
É viável ameaçar relações estabelecidas com países acusados de violar direitos humanos como forma de exercer pressão para a observação dessas normas?
Além disso, será que a ajuda externa para países pobres ou em crise deve estar condicionada à promoção de direitos humanos, assim como os empréstimos e a ajuda financeira?
Clique nas abas para entender melhor os desafios do regime internacional de direitos humanos.
obstáculos na implementação : O pretenso universalismo dos
direitos humanos levanta obstáculos à sua implementação.
Críticos dos valores associados à compreensão de direitos humanos formalizada em instrumentos legais afirmam que esses direitos privilegiam uma tradição ocidental da política (notadamente, europeia) e de entendimento de quais seriam esses direitos.
Surge, dessa forma, um corolário a essas críticas: onde devemos colocar a ênfase quando tratamos da questão dos direitos humanos?
No ocidente, os direitos de os indivíduos serem livres de interferências de outros têm prioridade.
No oriente, a aquisição de direitos econômicos e sociais tomou precedência sobre o movimento por direitos civis e políticos.
problemas conceituais : Os pactos internacionais afirmam que os direitos que abarcam as áreas econômica e coletiva são fundamentais para a plena promoção dos direitos humanos. No entanto, esses são um tipo de obrigação diferente, por exemplo, da obrigação de proteger os indivíduos da tortura. No caso da tortura, o direito de não ser torturado está diretamente relacionado ao dever de não torturar.
O que dizer do direito fundamental de todas as pessoas estarem ao abrigo da fome? Quem é responsável por levar as pessoas à fome? Nesse caso, não basta, simplesmente, deixar de fazer algo. É necessário implementar algum tipo de política para a realização desse direito.
A mesma ambiguidade está presente na questão dos direitos coletivos. Os direitos do coletivo e da comunidade, presentes na Carta Africana, não estariam em contradição com os direitos dos indivíduos, sendo peça central de noções tradicionais – isto é, liberais – dos direitos humanos?
Nesse sentido, seria mesmo função do governo promover direitos individuais, e não o bem-estar coletivo por meio da provisão de bens comuns?
outros desafios : Há outros desafios à implementação da agenda de direitos humanos pela sociedade internacional.
Algumas autoras feministas apontam que a Declaração Universal dos Direitos Humanos cristaliza uma visão patriarcal da família como a unidade básica da sociedade.
Tais autoras argumentam que mesmo a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres não questionaria o lugar submisso das mulheres na sociedade, almejando apenas a extensão dos direitos liberais para elas.
Outros críticos da Declaração de 1948 apontam que a descrição dos direitos humanos, na carta, está associada a modelos sociais e políticos específicos, em especial aos valores liberais e ocidentais.
Dessa forma, o documento acaba descartando tanto formas não desejadas de diferenças quanto formas potencialmente benéficas e positivas de diferenças.
A principal crítica consiste no fato de o regime internacional de direitos humanos contemporâneo basear-se, fortemente, nas experiências de uma parcela da sociedade, almejando tornar essas experiências um padrão universalmente aceito e imitado.
Não precisamos aceitar essas críticas nem descartá-las totalmente. Uma forma de encarar o regime internacional de direitos humanos é tentar entender que tipos de práticas podem ser entendidas como prejudiciais para uma larga parcela da humanidade e quais derivam de experiências históricas distintas.
questões práticas : Há questões práticas com relação ao regime de direitos humanos:
· Que tipo de assistência as vítimas de violações de direitos humanos podem esperar da comunidade internacional, especialmente aquelas que residem em uma sociedade com instrumentos legais ineficientes?
· Que consequências vindas da comunidade internacional os seus governos podem esperar enfrentar, uma vez que não estejam cumprindo com suas obrigações?
A experiência histórica tem demonstrado que é improvável indivíduos cujos direitos são violados por governos receberem algum tipo de ajuda real da comunidade internacional que vá além de condenações verbais ou de declarações feitas pelo Secretário Geral das Nações Unidas.
Nesse caso, ocorrem exceções apenas se os delatores forem fracos, não tiverem importância estratégica para a manutenção da ordem internacional ou forem parceiros estratégicos das grandes potências, ou ainda se não forem comercial ou financeiramente importantes.
Mesmo assim, pode ser improvável que algum tipo de ação efetiva seja tomada, em função da pressão da norma da não intervenção.
Um fator que pode mudar essa balança é o peso da opinião pública.
Comentário: Clique no ícone para acessar comentários sobre princípios da compreensão liberal dos direitos humanos e críticas ao regime internacional de direitos humanos.
princípios da compreensão liberal dos direitos humanos e críticas ao regime internacional de direitos humanos
Alguns importantes teóricos liberais afirmaram que os seres humanos possuem direito à vida, à liberdade, à propriedade, ao exercício da liberdade de expressão, etc. Esses direitos seriam inalienáveis e incondicionais, sendo que a única razão aceitável para se constranger o direito de um indivíduo seria para proteger o direito de outro.
A principal função do governo é a de proteger esses direitos. Dessa forma, as instituições são julgadas de acordo com a sua capacidade de desempenhar essa função e devem, por obrigação política, fazer jus a ela. A vida política é baseada, portanto, nesse contrato, que pode ser implícito ou explícito, entre governo e sociedade.
Existem críticas ao regime internacional de direitos humanos. Por exemplo, seria possível afirmar que a Convenção contra o Genocídio, em 1948, condena um tipo de ação que é claramente prejudicial? E o que dizer da prática cultural de mutilação das genitálias femininas? Diversidade cultural e religiosa ou aleijamento feminino?
É possível que a resposta esteja no grau de escolha dos envolvidos, mas, certamente, não é um problema de simples resolução.
Histórico dos direitos humanos
O termo "direitos humanos" passou a ser utilizado pela opinião pública e pela sociedade civil organizada a partir da década de 1960, quando as diversas manifestações da Guerra Fria passaram a permear os discursos dos líderes civis, sociais e comunitários, além dos estadistas.
Um grande fenômeno que contribuiu para a difusão e politização de problemas como a proteção dos direitos civis e humanos – inicialmente, em nível doméstico – foi o medo das consequências da proliferação nuclear, em especial após a Crise dos Mísseis em Cuba, em outubro de 1962.
proliferação nuclear
Fenômeno ocorrido, principalmente, durante a Guerra Fria, quando armas nucleares ampliavam a sua presença no cenário internacional e fugiam ao controle das duas potências mundiais: Estados Unidos e União Soviética.
A proliferação nuclear pode ocorrer em duas instâncias. A primeira delas é a horizontal, que, como explicado, é caracterizada pela aquisição de armas nucleares por países que não sejam as potências mundiais. Já a segunda instância consiste na proliferação vertical, caracterizada pelo aumento do arsenal nuclear das próprias potências.
A comunidade internacional, por meio do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), buscou solucionar a questão da proliferação horizontal. Já no campo da proliferação vertical, os esforços internacionais para o controle de tais armamentos não têm demonstrado resultados expressivos.
Associação com movimentos pelos direitos humanos
Durante as décadas de 1950 e 1960, nos Estados Unidos – período em que o discurso acerca dos direitos humanos começou a ser consolidado na sociedade civil organizada –, o termo direitos humanos começou a ser associado aos movimentos pelos direitos civis.
O objetivo dessa associação, frequentemente, era implicar o acesso aos direitos econômicos para uma parcela mais ampla da sociedade ou para sugerir que os direitos civis para os afroamericanos eram parte de uma luta maior.
Essa luta incluía outros grupos, como os que lutavam pelos direitos das mulheres ou pelos direitos dos nativo-americanos – muitas vezes, baseando as suas demandas na Carta das Nações Unidas. Um exemplo é o documento submetido à ONU em 1951, intitulado Nós culpamos o genocídio: o crime do governo contra a população negra.
Nesse sentido,
havia muitas comissões locais que se autodenominavam comissões pelos direitos humanos.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre distinção do uso dos termos "direitos humanos" e "direitos civis".
distinção do uso dos termos direitos humanos e direitos civis
Malcom X, um dos líderes do movimento pelos direitos civis dos afroamericanos noS EUA, foi um dos primeiros a utilizar o termo "direitos humanos" como distinto de direitos civis:
“Nós queremos que eles nos ajudem a colocar os nossos problemas perante as Nações Unidas e acusar a América com a violação dos nossos direitos humanos, da mesma forma que a África do Sul é acusada com a violação dos direitos humanos do nosso povo naquela área.”
Defesa dos direitos humanos em nível internacional
A partir do final da década de 1960 e início da década de 1970, a discussão dos direitos humanos pela sociedade civil e pela opinião pública superou o âmbito doméstico dos movimentos pelos direitos civis e passou, cada vez mais, a focar a promoção e a defesa de direitos humanos no nível internacional.
Diversos fatores começaram a pressionar a colocação do problema dos direitos humanos na pauta de política externa das duas superpotências bem como de países sob suas esferas de influência. Clique nas imagens para conhecer alguns desses fatores.
A participação dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã e a transmissão televisiva do conflito a milhões de lares pelo mundo.
A divulgação de imagens da União Soviética na Tchecoslováquia para combater a Primavera de Praga, em 1968.
As notícias de violações de direitos cometidos dentro do bloco soviético e de tortura, repressão e aniquilação de opositores e presos políticos em governos ditatoriais da América Latina.
Resultados diretos da pressão da opinião pública e da sociedade civil organizada foram:
· os Acordos de Helsinki, em 1975, e
· a inclusão do tema na política externa do governo Carter para a América Latina.
Resultado do engajamento da sociedade civil
Como resultado direto do maior engajamento da sociedade civil e da adoção da problemática pela opinião pública, houve um crescimento importante, nas décadas de 1960 e 1970, de organizações não governamentais fundadas para lidar, direta ou indiretamente, com o problema dos direitos humanos, fato possibilitado também pelo desenvolvimento de redes transnacionais.
Clique nos títulos para conhecer algumas organizações que consideram os direitos humanos.
· Instituições e organizações não governamentais dedicadas aos direitos humanos: a Federação Internacional de Direitos Humanos, a mais antiga ONG de direitos humanos, fundada em 1922;
· a Anistia Internacional, fundada em 1961, e 
· a Human Rights First e o Human Rights Watch, ambos fundados em 1978.
· Organizações que costumam sublinhar aspectos particulares dos direitos humanos: 
· o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (1863);
· os Minority Rights Groups, fundado na década de 1960;
· o Médecins sans Frontières (1971) e
· o Avocats Sans Frontières (1992).
· Organizações interestatais que levam em conta questões de direitos humanos.
· o Fundo Monetário Internacional;
· o Banco Mundial e
· o Commonwealth.
Programas de ajuda externa promovidos pela Commonwealth e pelo Banco Mundial – assim como programas de ajuste econômico estruturais promovidos pelo FMI – têm incluído condições aos países recebedores de ajuda, tais como:
· política de controle de natalidade;
· transparência orçamentária e 
· programas de austeridade financeira ou fiscal.
O problema é que, muitas vezes, essas condições podem ser entendidas como uma violação a um direito primordial, estabelecido no primeiro artigo do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
“Todos os povos têm o direito à autodeterminação. Em virtude deste direito, eles determinam livremente o seu estatuto político e asseguram livremente o seu desenvolvimento econômico, social e cultural.”
(Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais)
Comentário: Clique no ícone para acessar um quadro de organizações e instituições internacionais de direitos humanos.
Década de 1990
Durante a década de 1990, passou a fazer parte do "jogo" a noção de que os países deveriam aceitar certas regras na maneira como organizavam as suas sociedades internamente.
Com o advento da mudança política dentro do antigo bloco soviético, a Hungria, por exemplo, decidiu sinalizar esse aspecto de sua nova identidade quando, em 1988, o país tornou-se o primeiro Estado do leste europeu a ratificar o Protocolo Opcional do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.
Esse protocolo concede o direito de apelação ao Comitê de Direitos Humanos por parte dos indivíduos que afirmam ser vítimas de violação de direitos humanos por parte do seu próprio governo.
Muitos outros países deram passos semelhantes, a exemplo do Brasil e da Indonésia, que criaram comissões nacionais de direitos humanos, a fim de sinalizarem uma mudança no comportamento político doméstico.
Nacionalismo e direitos humanos
Como observou Jack Donnelly com relação aos direitos humanos, os países serão membros plenos da sociedade internacional na medida em que observarem os novos critérios e padrões de direitos humanos internacionais.
Jack Donnelly
Professor de Estudos Internacionais na Universidade de Denver, Estados Unidos, Ph.D. em Ciência Política pela Universidade da Califórnia e autor de livros como International human rights (1993).
Donnelly já lecionou em universidades como a da Carolina do Norte e a de Singapura. As suas pesquisas e produções são focadas na área de Direitos Humanos.
Nas palavras de Donnelly:
[...] os direitos humanos representam uma expressão progressiva, no fim do século XX, da importante ideia de que a legitimidade internacional e a total participação como membro da sociedade internacional devem se embasar nos padrões de um comportamento justo, humano e civilizado. [...] A despeito da crescente divisão entre direito nacional e internacional, tal como observada nas concepções dominantes de soberania, a sociedade de Estados passou a aceitar que o modo como qualquer Estado trata os seus cidadãos é preocupação legítima de todos os outros Estados, dos cidadãos estrangeiros e da sociedade internacional.
O mundo, depois de 11 de setembro de 2011, tem testemunhado sérios desafios à realização da projeção de Jack Donnelly.
Um deles tem sido a associação da promoção dos direitos humanos com a promoção da democracia. Essa associação, muitas vezes, contradiz o desenvolvimento doméstico de vários Estados, especialmente países onde crenças religiosas não ocidentais desempenham um grande papel na organização político-social.
Outro problema é a violação dos direitos humanos e, muitas vezes, dos direitos civis em nome de uma guerra global contra o terrorismo. É a necessidade de promoção de segurança sobre a promoção dos direitos humanos.
DESENVOLVIMENTISMO
A retórica do desenvolvimentismo também tem desafiado noções de indivisibilidade e universalidade dos direitos humanos, bem como dificultado a promoção de normas em relação à proteção do meio ambiente.
Os argumentos desenvolvimentistas sugerem que:
· a ordem interna, bem como a internacional, é mais bem mantida quando existem países economicamente fortes e avançados, e 
· a proteção dos direitos civis e políticos precisa abrir espaço, quando necessário, para a meta mais ampla do desenvolvimento econômico.
Segundo essa visão, países como a China e a Índia buscariam atingir padrões internacionais tão rapidamente quanto possível depois de superados os seus níveis de desenvolvimento econômico. Nesse caso, a necessidade de promoção da prosperidade econômica pode superar a promoção e a defesa dos direitos humanos.
UNIDADE 3
Atores não estatais e movimentos transnacionais
Atores transnacionais são os que realizam atividades e produzem ações por meio ou além das fronteiras dos Estados, com a participação de, pelo menos, um ator não estatal.
Impacto nas relações transnacionais
Com o final da Guerra Fria e com a aceleração dos processos
de globalização, é cada vez mais compreensivo o impacto das relações transnacionais e dos atores não estatais na política internacional.
Pode ser exagerado afirmar que o crescimento dos atores não estatais e das formas de política transnacional tenha desafiado o Estado como unidade fundamental do sistema internacional. No entanto, certamente, é correto afirmar que processos que levaram à maior interdependência entre os atores da política mundial bem como os avanços em tecnologia – especialmente, de comunicação e transporte – potencializaram o impacto das atividades transnacionais, principalmente daquelas levadas a cabo por atores não estatais.
atividades transnacionais
Atuação de alguns atores, geralmente movimentos sociais ou organizações não governamentais (ONGs), que possuem redes de atuação em mais de um país ou que são ligados a organizações internacionais.
Tais atores constituem grupos de pressão internacional que atuam transnacionalmente, ou seja, além das fronteiras dos seus Estados de origem.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de atores não estatais.
atores não estatais
São atores não estatais as corporações multinacionais, as organizações não governamentais internacionais, as redes de ativistas, os movimentos sociais, entre outros.
Atores transnacionais
Atores transnacionais são os que, segundo Robert Keohane e Joseph Nye, realizam atividades e produzem ações por meio ou além das fronteiras dos Estados, com a participação de, pelo menos, um ator não estatal.
A partir dessa definição, fenômenos tão distintos como migração humana, turismo, comércio internacional e projetos da mídia internacional podem ser entendidos como atividades de cunho transnacional.
É importante notar que essa definição pressupõe um sistema de Estados nacionais.
Organizações transnacionais
Entre o grupo de atores transnacionais, há uma categoria que se distingue das demais e que tem produzido importante impacto na maneira como as relações internacionais são conduzidas: as organizações transnacionais – em especial, aquelas com alcance internacional.
As organizações transnacionais podem ser redes informais de troca de informações e de materiais ou organizações com estruturas altamente complexas. Além disso, podem:
ter uma atuação global, como a Ford, a Igreja Católica e a Anistia Internacional;
estar restritas a determinada região, como a Asian Watch e o Escritório Europeu do Meio Ambiente;
dedicar-se a um tema específico, como o Greenpeace e a promoção de normas para a proteção do meio ambiente
estar envolvidas em diversos temas, como as organizações de cunho religioso.
corporações transnacionais de países em desenvolvimento
A imagem clássica de uma corporação transnacional (do inglês, TNC) é a de uma grande empresa norte-americana que expandiu produção e vendas para o exterior, dominando o mercado global e explorando a mão de obra barata de países em desenvolvimento. Em contraste a essa visão, no século XXI, TNCs de países em desenvolvimento têm-se tornado cada vez mais importantes.
Mais de um quarto de todas as TNCs possuem, atualmente, sedes em países em desenvolvimento.
As 100 maiores TNCs de países em desenvolvimento são provenientes de 14 países: China, Hong Kong, Taiwan, Índia, Malásia, Cingapura, Coreia do Sul, Filipinas, Tailândia, Brasil, México, Venezuela, África do Sul e Egito. Entretanto, o total de ativos estrangeiros de todas essas empresas, em 2004, era menor do que o de uma empresa norte-americana, a General Eletric, a maior TNC do mundo.
A maioria das TNCs dos países em desenvolvimento é pequena, mas algumas estão se tornando grandes atores em certas indústrias, como as de carros, eletrônicos, aço e transporte marítimo de containers. A TNC chinesa Lenovo, agora, é dona da marca IBM PC, enquanto a TNC indiana Tata, da Corus, é a maior manufatureira de aço da Europa.
TNCs de países em desenvolvimento costumam investir em países vizinhos, mas estão investindo, cada vez mais, em mercados desenvolvidos também. Essas TNCs possuem mais de 500 afiliados nos Estados Unidos e um número semelhante no Reino Unido.
Nos Estados Unidos, a oposição do Congresso a TNCs de países em desenvolvimento tem sido forte o suficiente para bloquear a compra pela China da petrolífera norte-americana Unocal e para distanciar a Dubai Ports World de seis portos dos Estados Unidos.
Dois exemplos ilustram esse sistema de bem-sucedidas TNCs de países em desenvolvimento: a empresa brasileira Marcopolo fabrica ônibus em diversos países sul-americanos e vende em mais de 80 países. A jordaniana Hikma Pharmaceuticals produz em dois outros países árabes e em Portugal, gerando grandes vendas no oeste asiático e no norte da África, além de ter realizado uma recente expansão para a Europa e os Estados Unidos.
Fonte: World Investment Report 2006 (UNCTAD, 2006)
Diferenças entre as organizações transnacionais
Podemos diferenciar as organizações transnacionais com base nos seus interesses e objetivos.
	
	tipo 1
	tipo 2
	organizações transacionais
	corporações multinacionais e determinados grupos de interesse transnacionais
	redes informais de intercâmbio de conhecimento, organizações não governamentais internacionais e redes de ativistas, tais como a Anistia Internacional, a WWF e a World Relief
	interesses e objetivos
	interesses instrumentais e promoção do bem-estar e da prosperidade da própria organização e dos seus membros
	promoção de algo que é percebido pela sociedade civil e pela opinião pública como objetivo comum, tal como a promoção de normas pela proteção dos direitos humanos
	
	
	
Oportunidades e perspectivas
A existência de atividades transnacionais não é uma novidade da época contemporânea. Contudo, a emergência de um sistema internacional em que os Estados nacionais e as instituições internacionais interestatais sejam os atores principais não só constrangeu as formas anteriores de atividade transnacional como também abriu novas oportunidades e perspectivas.
Instituições internacionais podem constranger as organizações transnacionais e abrir diferentes vias de atuação para elas ao produzirem regras que regulam o seu comportamento. Esse é o caso do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (AGTC), da Organização Mundial do Comércio e da Organização Mundial da Saúde, por exemplo.
O arcabouço legal fornecido pelos Estados e pelas instituições internacionais tem, portanto, efeitos sobre a constituição dos atores transnacionais e das suas atividades.
O mesmo ocorre com o conjunto de leis domésticas que, de país a país, afeta a formação da estrutura organizacional de diferentes ou de uma mesma organização transnacional que possua sede em Estados diferentes. Isso também pode ser dito acerca dos recursos de Estados, instituições e organizações internacionais – como as Nações Unidas e a União Europeia –, que, cada vez mais, têm sido direcionados para fomentar a atividade de organizações transnacionais.
A relação entre organizações transnacionais, Estados e instituições internacionais é mais complexa do que, simplesmente, a de oposição ou de soma zero, na qual o ganho de espaço por um ator ou grupo de atores é, necessariamente, igual à perda por parte de outros.
Organizações transnacionais – na figura de ONGs, grupos de ativistas, etc. –, muitas vezes, realizam tarefas que Estados e instituições internacionais não podem ou não querem desempenhar.
Finalmente, a cooperação com organizações e atores transnacionais pode aumentar a legitimidade das instituições internacionais, como no caso do Banco Mundial e do FMI – em alguns casos, eles inclusive encorajam ou financiam a criação de organizações transnacionais, como o próprio Banco Mundial e a Comissão Europeia –, e das políticas dos Estados.
Exemplo
tarefas desempenhadas por atores transnacionais
Nas áreas de ajuda externa e humanitária, os Estados e as instituições internacionais, muitas vezes, subcontratam as ONGs porque elas se mostram menos burocráticas, mais flexíveis e com maior capacidade de entrar em contato com os mais necessitados. Nas áreas de direitos humanos
e meio ambiente, por outro lado, atores transnacionais provêm informação e capacidade de monitoramento que Estados e organizações internacionais não teriam, em função do respeito às normas de soberania e não intervenção.
Eficiência de atuação
Margaret Keck e Kathryn Sikkink afirmam que redes de ativistas e ONGIs atuam de forma mais eficiente quando são redes mais densas, com muitos atores envolvidos e fortes conexões entre os grupos, além de possuírem um fluxo de informações confiável.
Além disso, a forma como essa rede se organiza e o tipo de recursos materiais e ideacionais dos quais ela dispõe também afetam o potencial do seu impacto ou a efetividade das suas políticas.
Um fator externo à composição das organizações transnacionais, que também afeta a efetividade das suas atividades, é a vulnerabilidade dos seus alvos, isto é, a vulnerabilidade de Estados e instituições internacionais às demandas e às atividades dessas organizações nas suas áreas de atuação, no que diz respeito a pressões materiais, ideológicas ou normativas.
Países que recebem ajuda externa ou empréstimos de instituições, por exemplo, podem estar vulneráveis se a barganha envolver a suspensão desses benefícios.
UNIDADE 4
Terrorismo
A compreensão de como as práticas e os conceitos se transformam ao longo do tempo é fundamental para entendermos como a política internacional se estrutura. 
 
Definição e características
Apesar do destaque do tema e do número de estudos que têm sido gerados nos últimos anos, é difícil definir terrorismo de forma que não haja margem para questionamentos. Uma definição comum afirma que o terrorismo consiste no uso ou na ameaça de uso da violência, de forma sistemática, para atingir fins políticos.
Além da violência, a produção de medo, a busca por publicidade para os seus atos e o descompromisso com valores humanitários podem ser listados como características adicionais do terrorismo. Alguns métodos comuns de ações terroristas incluem sequestros, tomada de reféns, uso de bombas, disparos aleatórios e assassinatos.
As ações terroristas, muitas vezes, são praticadas de forma não restrita a combatentes, envolvendo também civis. Além disso, a tecnologia adiciona ao terrorismo novos aspectos, como o uso de armas químicas e biológicas, e, até mesmo, armas nucleares.
Algumas definições distinguem entre terrorismo de Estado e terrorismo de facções. Clique em cada um deles a seguir para conhecer as suas diferenças.
terrorismo de Estados: O primeiro seria o mais letal, pois teria ao seu dispor todos os recursos do aparato do Estado, incluindo agências de coerção.
O termo terrorismo nasce dessa primeira definição, descrevendo os atos do Estado francês contra a sua população durante a Revolução Francesa.
terrorismo de facções: A segunda forma seria levada a cabo por atores não estatais, com ou sem apoio de governos e instituições.
Ambas as formas podem ter uma dimensão doméstica ou almejar atuação internacional e dependem de financiamento, arsenal de armas e local de reunião.
Atenção!
Terrorismo não é uma forma de guerrilha, nem uma ideologia política ou um movimento político. É uma estratégia ou um método de ação política comum a grupos de crenças políticas, religiosas e ideológicas distintas.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de terrorismo contemporâneo.
terrorismo contemporâneo
Os ataques terroristas financiados pela Líbia, no início dos anos 1980, aos Estados Unidos, ao Reino Unido e à França são um exemplo contemporâneo desse tipo de terrorismo.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre tipos de grupos terroristas.
tipos de grupos terroristas
Audrey Kurth Cronin enumerou diferentes tipos de grupos terroristas e a sua importância histórica da seguinte maneira:
Existem quatro tipos de organizações terroristas atualmente operando ao redor do mundo, categorizadas principalmente por sua fonte de motivação: terroristas de esquerda, terroristas de direita, terroristas étnico-nacionalistas ou separatistas e terroristas religiosos. Todos os quatro tipos tiveram períodos de predominância na era moderna, com os de esquerda fortalecidos com o movimento comunista, os de direita inspirados no fascismo e os separatistas acompanharam a onda de descolonização especialmente nos anos pós-II Guerra Mundial. Atualmente, o terrorismo religioso tem recebido destaque [...]. Obviamente, essas categorias não são perfeitas já que diversos grupos possuem um misto de motivações e ideologias. Alguns grupos étnico-separatistas, por exemplo, possuem características ou agendas religiosas – mas normalmente apenas uma motivação ou ideologia predomina.
(CRONIN, 2003, p. 39)
Legitimidade
O que diferencia terrorismo de um ato criminal comum é a questão da legitimidade.
Quem é simpático às causas de grupos terroristas afirma ser legítimo recorrer ao uso da violência, pois essa seria a única forma de atingir os seus objetivos políticos.
Alguns estudiosos apontam que ações terroristas podem ser legítimas apenas se estiverem de acordo com os princípios da tradição da guerra justa. Na maioria das vezes, contudo, essa legitimidade é questionada, sobretudo pelos alvos de ações terroristas. Daí, portanto, o caráter negativo do termo se impor sobre outras dimensões.
Por essa razão, ações terroristas podem ser consideradas as formas mais fracas para atingir objetivos políticos, pois, raramente, conseguem atingir uma ampla legitimidade. Nesse sentido, para que provoquem a mudança desejada, terroristas dependem de que as suas ações sejam um catalisador para mudança ou enfraqueçam a moral do seu inimigo.
Exemplo: Clique no ícone para acessar um exemplo de ações terroristas como catalisadoras para mudanças.
ações terroristas como catalisadoras para mudanças
As ações terroristas em Madrid, ocorridas em 2004, por exemplo, conseguiram influenciar o resultado das eleições naquele ano, independentemente de esse ser ou não o seu objetivo político.
Estudo de caso: Clique no ícone para acessar o estudo de caso Madri 2004.
Madri 2004
Na manhã de 11 de março de 2004, 10 bombas explodiram em quatro trens quase simultaneamente em Madri, matando 191 pessoas e ferindo mais de 1800. No mesmo dia, a polícia local encontrou um carro com detonadores e fitas cassetes com versos do Corão estacionada em uma estação pela qual os quatro trens haviam passado.
Um vídeo encontrado dois dias depois em Madri mostrava um homem encapuzado afirmando em árabe que a Al-Qaeda havia sido a autora dos ataques devido à presença de tropas militares espanholas no Iraque e no Afeganistão. No entanto, estudos posteriores feitos por tribunais espanhóis concluíram que os ataques foram de autoria de células terroristas islamistas, mas ainda é incerto se há ou não ligação entre as mesmas e a Al-Qaeda. Embora inicialmente o grupo terrorista basco ETA tenha sido responsabilizado, foi concluído que o mesmo não teve nenhum envolvimento no caso.
Em fevereiro de 2007, após meses de investigação, teve início o julgamento de 29 suspeitos de terem envolvimento com o caso: 15 marroquinos, nove espanhóis, dois sírios, um egípcio, um argelino e um libanês. O julgamento durou cinco meses e contou com cerca de 300 testemunhas e 70 especialistas. No final, 21 réus foram considerados culpados por uma série de crimes que incluía desde falsificação até homicídio. Os dois principais acusados foram condenados, cada um, a mais de 40 mil anos de prisão – embora a lei espanhola estabeleça um limite de 40 anos.
O episódio levou os governos da Espanha, da Áustria, da Bélgica, da França, da Alemanha, de Luxemburgo e da Holanda a assinarem, em 27 de maio de 2004 – cerca de dois meses depois – a Convenção de Prum. Esta estabeleceu o intercâmbio de informações de DNA, impressões digitais e registro de veículos relacionados a suspeitos de terrorismo entre todos os países signatários.
Fonte
MADRI 2004. FGV Online, 2013.
Fenômeno transnacional
O terrorismo passou de um fenômeno local para um fenômeno transnacional ao final da década de 1960. Os avanços tecnológicos foram essenciais nesse processo.
Alguns fatores produziram o efeito de uma rede transnacional de grupos e ações terroristas, como:
· a facilidade de mobilidade em aviões;
· a rapidez na comunicação e 
· a possibilidade de coordenação de ações em vários locais do globo.
A Revolução Iraniana de 1979 foi um marco no terrorismo transnacional. Embora Israel continuasse a ser o principal foco de ataque, devido à simpatia com a causa palestina, grupos terroristas apoiados pela Revolução começaram a atacar cidadãos dos Estados Unidos.
A década do terrorismo (1980-1990) incluiu incidentes como o sequestro de aviões, ato comum desde o final da década de 1960, e o bombardeamento de civis.
Esse mesmo período também testemunhou uma importante mudança – os ataques ficaram mais letais, passaram a ser realizados em menor número e a ser levados a cabo, muitas vezes, por suicidas.
Ao final dessa década, o terrorismo transnacional começou a perder força, pois muitos entenderam como contraprodutivos os ataques fora da arena doméstica, ao mesmo tempo em que o terrorismo islâmico passou a projetar-se globalmente.
As explicações que tentam dar conta de por que o terrorismo islâmico traduziu-se em um fenômeno global podem ser reunidas em três grupos, de ordem cultural, econômica e religiosa. Clique em cada um dos motivos para visualizá-los.
motivos culturais : Culturalmente, a explicação resume-se à tentativa de manutenção de uma identidade cultural cada vez mais oprimida pela expansão dos valores e das práticas ocidentais pelo globo.
A manutenção dos valores islâmicos contra a opressão da cultura ocidental é entendida como um dos pilares do terrorismo islâmico, sendo também um dos fatores que congrega diversos grupos sob uma causa comum.
motivos econômicos : Motivos econômicos também podem estar por trás de ações terroristas.
Explicações com fundo econômico variam da luta contra o imperialismo econômico ocidental, cristalizado em instituições como Wall Street, Banco Mundial e FMI, até a tentativa de mudar um sistema desfavorável à ascensão social de determinados grupos – especialmente, os provenientes do Sul Global, sem acesso às mesmas oportunidades econômicas e sociais que os países desenvolvidos.
Contudo, a conexão entre terrorismo e pobreza também pode ser duvidosa. Regiões mais pobres não são locais de grande atividade ou de financiamento de grupos terroristas, enquanto grande parte dos líderes terroristas é proveniente de famílias de classe média ou classe média alta.
motivos religiosos : A religião talvez seja o fator mais importante na determinação do terrorismo islâmico global. Certamente, é o mais claramente identificável.
Nas últimas duas décadas, suicidas provocaram ataques terroristas com base em promessas de vida eterna, ações legitimadas frente a olhos islâmicos com apoio na jihad.
Jihad é entendida como a luta interna pela purificação espiritual, embora também tenha sido entendida como uma das bases do princípio da guerra justa.
O uso da jihad se justifica pela luta contra a corrupção do mundo islâmico pelos valores ocidentais, contra os infiéis (aqueles que não professam fé no islamismo) ou contra os apóstatas (muçulmanos que não compartilham a mesma interpretação do Alcorão).
Nesse sentido, terroristas com base religiosa podem ser mais difíceis de serem combatidos que terroristas seculares, uma vez que as suas recompensas, muitas vezes, estão localizadas no pós-morte.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre o desenvolvimento da renovação do islamismo a partir do final da década de 1970 e a guerra justa na tradição islâmica.
desenvolvimento da renovação do islamismo a partir do final da década de 1970 e guerra justa na tradição islâmica
A Revolução Iraniana (1978-1979) falou da corrupção do Ocidente e dos Estados Unidos como o "Grande Satã". Em novembro de 1979, estudantes iranianos tomaram a embaixada norte-americana em Teerã e fizes dos funcionários reféns. A Revolução se expandiu pelo Oriente Médio, culminando na Guerra Irã-Iraque.
O embargo da Grande Mesquita em Meca, no primeiro dia do Hijra de 1400, pelo carismático "primitivista islâmico" Juhayman al-Utaiba. Conflite, que ocorreu em novembro e dezembro de 1979, gerou centenas de mortes.
O assassinado do presidente Anwar Sadat durante uma parada pública, em 6 de outubro de 1981, por militantes islâmicos do exército egípcio.
O fortalecimento da militância Shia no Líbano, após a invasão israelense em 1982. Amal e Hezbolah iniciariam uma jihad contra Israel e o Ocidente, notavelmente, com o bombardeio de instalações da marinha norte-americana em Beirute (1983), realizaram o sequestro de um avião (1985) e o sequestro de ocidentais em Beirute.
O conflito sobre o livro de Salman Rushdie, The satanic verses. O livro foi visto como blasfêmia pelos muçulmanos, gerando sentimento anti-Estados Unidos no Paquistão. Em fevereiro de 1989, o iraniano Ayatollah Khomeini estabeleceu uma fatwa condenando Rushdie à morte. Foi estabelecido um prêmio de US$ 7 milhões pela morte de Rushdie.
Depois que a República Russa da Chechênia se tornou independente, forças islâmicas iniciaram um conflito com a Rússia. Após alcançar um breve período de independência em meados da década de 1990, tropas russas retornaram a lutar para restaurar a lei de Moscou em 1999 e 2000.
A duradoura disputa entre Índia e Paquistão pela Cachemira ganhou força na década de 1990 por ações de militantes islâmicos. Em 1999, a invasão da Cachemira indiana por militantes islâmicos levou a um grande conflito e chegou a indicar uma ameaça de guerra entre Índia e Paquistão.
A violência de militantes islâmicos na Arábia Saudita, no Egito e no norte da África foi uma causa contínua de instabilidade. O dissidente saudita Osama Bin Laden simbolizou a ameaça islâmica. Bin Laden organizou bombardeios terroristas de interesse dos Estados Unidos, a fim de compelir as forças ocidentais a deixarem a península árabe. Teve início um pequeno conflito entre os Estados Unidos e os militantes de Bin Laden.
Da Nigéria às Filipinas, o esforço de muçulmanos para a adoção das leis e dos princípios islâmicos levou a um conflito com cristãos e Estados seculares.
A ética da guerra é central para o Islã. O próprio profeta Mohammed liderou tropas em conflitos em nome do Islã. Tanto o Corão quanto as lições de Mohammed (hadith) esclarecem que, em momentos específicos e limitados, promover guerras é dever de muçulmanos. Por esse motivo, é comum dizer-se que, apesar de o propósito último do Islã ser trazer a paz por meio da submissão universal a Alá, não há uma tradição pacifista no Islã. Em alguns momentos, autoridades muçulmanas alegavam que tinham o dever de espalhar o domínio do Islã por meio da guerra, como ocorreu nos séculos posteriores ao falecimento de Mohammed, com o estabelecimento do califado.
Outros defendem que o Corão aprova a guerra apenas para a autodefesa. Grupos fundamentalistas como a Al-Qaeda utilizam essas ideias para justificar as suas campanhas contra os Estados Unidos e os seus aliados, tanto nos Estados Unidos, quanto no Iraque e no Afeganistão. Entretanto, grande parte das autoridades islâmicas rejeita as interpretações de defesa da Al-Qaeda e a sua estratégia de atacar alvos civis exteriores ao território ocupado e ameaçado de Dar al Islam.
A maioria dos especialistas argumenta que há equivalentes islâmicos para as cláusulas da causa justa, da autoridade justa e da intenção justa, e para algumas cláusulas do jus in bello, incluindo a imunidade de civis.
Estudo de caso: Clique no ícone para acessar o estudo de caso Bombas em embaixadas americanas em 1998.
Bombas em embaixadas americanas em 1998
Em 7 de agosto de 1998, uma série de explosões simultâneas atingiram as embaixadas norte-americanas nas cidades de Dar es Salaam e Nairóbi, localizadas, respectivamente, na Tanzânia e no Quênia.
As explosões ocorreram em caminhões estacionados em frente às embaixadas e foram responsáveis pelo falecimento de, aproximadamente, 112 pessoas em Nairóbi e 11 em Dar es Salaam, além de terem ferido cerca de 4.000 pessoas. Entre os falecidos,
apenas 12 eram de nacionalidade norte-americana, incluindo dois agentes da Central de Inteligência Americana (CIA) e um militar.
Um grupo autointitulado Exército de Libertação de Locais Sagrados alegou ter sido o responsável pelos ataques. Investigadores dos Estados Unidos afirmam que esse grupo era composto de membros da Jihad Islâmica Egípcia e da al-Qaeda, que, à época, já era liderada por Osama bin Laden. Esse caso levou bin Laden a ganhar destaque na mídia pela primeira vez, passando a integrar a lista dos dez principais procurados pelo Gabinete de Investigação Federal norte-americano — do inglês, FBI.
Em resposta aos atentados, o governo norte-americano ordenou uma série de ataques no Sudão e no Afeganistão, na tentativa de eliminar o grupo responsável. Essa resposta foi, entretanto, duramente criticada por analistas e ativistas internacionais, principalmente pela destruição de uma fábrica farmacêutica responsável pela produção de grande parte dos medicamentos do Sudão.
Os atentados ocorreram no dia do oitavo aniversário da chegada das tropas norte-americanas na Arábia Saudita. Acredita-se que, além dessa motivação, os ataques foram uma resposta à cooperação oferecida, dois meses antes, pelos Estados Unidos para ajudar na extradição de quatro integrantes da Jihad Islâmica Egípcia encontrados na Albânia.
Fonte:
BOMBAS em embaixadas americanas em 1998. FGV Online, 2013.
Medidas contraterroristas
Estados afetados pelo terrorismo transnacional têm desenvolvido, desde fins da década de 1960, medidas contraterroristas em nível nacional.
O aumento da segurança nos aeroportos – com a instituição, por exemplo, do controle de passaporte e de imigração –, a criação de forças especiais contraterroristas e a elaboração de leis específicas para combater o terrorismo nacional são alguns exemplos dessas medidas, que, ao longo das décadas, conseguiram obter algum sucesso.
Já ações internacionais com caráter normativo, baseadas nos princípios do Direito Internacional e da ação coletiva, foram menos bem-sucedidas. Muitas vezes, ações como essas são limitadas ao nível regional – a Otan, por exemplo, coordenou algumas ações antiterroristas entre os países membros.
Discordância quanto às medidas
Os líderes de Estados também discordam sobre qual seria a melhor forma de lidar com o terrorismo global, especialmente, o terrorismo islâmico.
Alguns Estados (como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália) sugerem que não há como negociar com esses grupos e que os Estados devem cooperar – não só com informação, mas também com recursos e forças militares – na guerra contra o terror.
O resultado seria a formação de uma rede global de cooperação entre os Estados contra o terrorismo, capaz de detectar, perseguir e destruir células terroristas, enquanto esforços não militares tentam lidar com as causas do terrorismo.
Alguns estadistas não concordam, parcial ou inteiramente, com a proposta da guerra ao terror, uma vez que preveem represálias ainda maiores de grupos terroristas ou o retorno do terrorismo de Estado generalizado contra os seus cidadãos.
A partir dessa visão, o terrorismo deveria ser visto como crime, passível de ser combatido por forças policiais, além de pela criação e difusão de leis. Nesse caso, o terrorismo seria combatido dentro das fronteiras nacionais e por meio de esforços de cooperação internacionais centrados tanto no Direito Internacional quanto nas agências policiais internacionais e domésticas.
Apesar da discordância acerca da melhor estratégia, combater o terrorismo impõe sérios desafios relativos a identificar e localizar células terroristas, um procedimento que depende não só de tecnologia disponível, mas também de recursos e tempo.
UNIDADE 5
Meio ambiente
A compreensão de como as práticas e os conceitos se transformam ao longo do tempo é fundamental para entendermos como a política internacional se estrutura. 
 
Preocupação com a preservação do meio ambiente
Nas últimas décadas, a discussão sobre os efeitos do crescimento econômico, do crescimento populacional, da expansão dos centros urbanos e do desenvolvimento tecnológico tem sido pautada por uma preocupação com a preservação do meio ambiente.
Alguns temas são vistos, cada vez mais, como necessários de ser tratados não só no nível doméstico mas também no nível internacional. São eles:
· poluição do ar e dos rios;
· recursos naturais;
· aquecimento global;
· ocupação desordenada e drenagem;
· emissão de gás carbônico e aumento do efeito estufa, e 
· destruição de biomas silvestres com desmatamento.
Na medida em que problemas ligados ao meio ambiente ultrapassam as fronteiras domésticas, eles se tornam fenômenos e temas da política internacional.
Na análise da questão do meio ambiente na política internacional, algumas perguntas começam a surgir, tais como:
Que tipo de forças políticas, sociais e econômicas causa a variedade de problemas ambientais, de alcance internacional, que nós enfrentamos hoje?
Por que alguns desses problemas se tornam questões internacionais e outros não?
Por que algumas políticas desenhadas para lidar com esses problemas os mitigam e, algumas vezes, até os eliminam, enquanto outras falham completamente?
Essas perguntas refletem a realidade do sistema internacional. Apesar da magnitude de alguns problemas relacionados ao meio ambiente, uma resposta eficiente para traçar as causas e estabelecer políticas para lidar com os problemas ainda depende de um sistema fragmentado, composto de mais de 190 Estados soberanos.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre governança na política global do meio ambiente.
governança na política global do meio ambiente
A governança na política global do meio ambiente – no sentido de que a regulação e o controle têm de ser exercidos na falta de um governo central no cenário internacional –, consequentemente, depende das relações entre os Estados, das ações das instituições internacionais e do estado do direito internacional, além de ter atraído a atenção de atores não estatais e organizações transnacionais.
Enquanto as preocupações com o meio ambiente não eram exclusivas do mundo globalizado, elas, tradicionalmente, restringiam-se à preocupação com a poluição e com o uso dos recursos naturais. Clique nos títulos.
poluição: A poluição não respeita fronteiras nacionais e, muitas vezes, requer a ação conjunta dos Estados para ser combatida.
O mundo, após a Segunda Guerra Mundial, deu origem a tratados internacionais que tentaram regular, por exemplo, o descarte de lixo e a exploração de petróleo.
No entanto, tais iniciativas, muitas vezes, eram relegadas a segundo plano pelas grandes potências, tendo sido assumidas por algumas agências especializadas das Nações Unidas, como a Organização para Alimentação e Agricultura, embora não recebessem a mesma atenção na Assembleia Geral das Nações Unidas.
uso dos recursos naturais: A regulação do uso dos recursos naturais e da vida silvestre é um assunto muito debatido.
A segunda metade do século XX testemunhou várias tentativas de regulação do uso do mar para além do mar territorial, ou seja, para além da porção do mar considerada parte do território nacional em questão. Entre essas tentativas, encontram-se:
· a Convenção Internacional para a Regulação das Baleias (1946) e 
· a Comissão Internacional sobre as Baleias, uma mudança importante de perspectiva da regulação da indústria de caça às baleias para preservação.
Uma dificuldade clara, nesse caso, e que reflete os desafios que o regime internacional de meio ambiente enfrenta, é que, ainda hoje, muitos países ignoram as regulações internacionais de proteção às baleias.
Um dos mais desafiadores é o Japão, que protege os seus baleeiros ao redor do mundo.
Mudanças nas questões ambientais
A situação de ignorância nas questões ambientais muda, ligeiramente, no final da década de 1960, quando há uma movimentação na Assembleia Geral para que o assunto tenha maior proeminência.
Data dessa época a proposta do que viria a ser a Conferência de 1972 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Conferência da Terra), promovida pelas Nações Unidas, cristalizando o seu papel de liderança no movimento pelo meio ambiente desde a sua criação, com a inauguração do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Clique nos títulos para entender melhor as mudanças nas questões ambientais ao longo do tempo.
crítica dos países em desenvolvimento: Para os países do Sul Global, parecia quase impossível separar as questões ligadas ao meio ambiente de demandas por desenvolvimento, ajuda externa e mudança nos termos de troca internacionais.
Os países em desenvolvimento afirmavam que não podiam comprometer-se com regulações desenhadas para proteger o meio ambiente, uma vez que essas iriam prejudicar a sua rota de desenvolvimento econômico. A sua principal crítica era direcionada aos países desenvolvidos.
Segundo a crítica, os países desenvolvidos podiam e deviam comprometer-se com a proteção do meio ambiente, já que, para chegar ao status de desenvolvidos, tinham drenado e servido-se dos recursos naturais de forma indiscriminada, pelo menos, desde a Revolução Industrial.
Pedir que os países em desenvolvimento ameaçassem as suas políticas de desenvolvimento econômico em prol do meio ambiente seria pedir que permanecessem na periferia do sistema internacional indefinidamente. Esse era o contexto político por trás da formulação do conceito de desenvolvimento sustentável em 1987, quando o meio ambiente voltou à agenda internacional, depois de ser relegado ao último plano durante as crises econômicas da década de 1970.
regularidade das reuniões: O final da Guerra Fria e a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992 (Rio 92), tornaram os temas internacionais ligados ao meio ambiente mais salientes tanto intelectual quanto politicamente.
A conferência ainda é considerada um marco na governança global do meio ambiente, tendo testemunhado a conclusão de importantes documentos, tais como a Agenda 21 e as convenções internacionais sobre mudança climática e preservação da biodiversidade.
A conferência confirmou a regularidade de reuniões internacionais dedicadas ao tema:
· em 2002, dez anos após a Rio 92, foi realizada a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, indicando assim uma mudança na concepção da relação entre desenvolvimento e preservação do meio ambiente e 
· em 2012, foi realizada a Rio+20, novamente na cidade do Rio de Janeiro, uma Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.
avanços científicos e tecnológicos: Os avanços científicos e tecnológicos, ao longo das décadas de 1980 e 1990, contribuíram para mudar o discurso sobre o impacto das ações humanas sobre o meio ambiente.
Por mais que ainda não haja consenso total sobre a extensão desse impacto, há evidências de que, por exemplo:
· a expansão da agropecuária possui relação com o aquecimento global e 
· a emissão de gás carbônico na atmosfera está ligada à diminuição da camada de ozônio.
As mudanças climáticas também têm sido relacionadas à intervenção humana em biomas e biossistemas.
Essa conscientização científica tem contribuído para conferir legitimidade aos clamores a que se deve prestar atenção, cooperar e mobilizar recursos para a preservação do meio ambiente, bem como contribuir para angariar apoio da sociedade civil global para esses temas.
acidentes ambientais: A conscientização dos impactos das ações humanas sobre o meio ambiente tem sido aguçada desde finais da década de 1960, com a transmissão e publicização de importantes acidentes ambientais, como:
· envenenamento por mercúrio, em 1959, em Minamata, no Japão;
· derramamento de óleo na Baía de São Francisco após a colisão de dois petroleiros em 1971.
Um dos acidentes mais recentes envolveu um grande derramamento de petróleo no Golfo do México, em 2010, causado pela British Petroleum.
O fato de, por muito tempo, esses assuntos terem sido ignorados por líderes e seus governos, abriu espaço para que uma série de ONGs surgisse – como o Greenpeace, a WWF e a Friends of Earth – assim como grupos de pressão, como a US Sierra Club e a Sociedade Real Britânica para a Proteção dos Pássaros.
Esses eventos e o aumento da consciência global sobre o tema, bem como o surgimento de grupos dedicados ao combate pela preservação do meio ambiente, levaram a demandas pelo estabelecimento de um sistema de governança do meio ambiente.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre desenvolvimento sustentável e desastres ambientais.
desenvolvimento sustentável e desastres ambientais
A ideia de desenvolvimento sustentável tenta criar um conceito de desenvolvimento econômico e social que não depende de formas brutas de modernização econômica, dependente da utilização intensiva e não renovável dos recursos naturais.
O conceito foi cristalizado e popularizado no relatório de 1987 da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento da ONU (a Comissão Bruntland), que elaborou linhas estabelecidas de pensamento que haviam se desenvolvido, substancialmente, nos 20 anos anteriores.
O desenvolvimento sustentável, segundo a Comissão Bruntland, é o desenvolvimento que supre as necessidades do presente sem comprometer a habilidade de futuras gerações de suprirem as suas próprias necessidades. O destaque dado às necessidades reflete uma preocupação com a erradicação da pobreza e com as necessidades humanas básicas.
O conceito de desenvolvimento sustentável focou suas atenções na procura por estratégias para a promoção do desenvolvimento econômico e social, evitando a degradação do meio ambiente, a superexploração e a poluição, deixando de lado debates menos produtivos sobre a prioridade do desenvolvimento ou do meio ambiente. A ênfase no desenvolvimento poderia ser amplamente endossada e era particularmente bem recebida por representantes de países em desenvolvimento, agências de desenvolvimento e grupos focados no combate à pobreza e à desigualdade social. A relação com a sustentabilidade satisfez diversos interesses relacionados ao meio ambiente. Tal relação era dirigida aos grupos que defendiam que os atuais padrões de crescimento econômico e populacional deveriam ser modificados, pois a humanidade estava atingindo os limites dos recursos naturais finitos da Terra. O conceito poderia também ser bem recebido pelos que duvidavam dessa argumentação, mas estavam preocupados com questões como a poluição, a mudança climática, e as ameaças à humanidade e à biodiversidade.
Desastres ambientais ocorrem quando atividades humanas causam, diretamente, algum prejuízo ao meio ambiente. Essas atividades incluem, por exemplo, acidentes nucleares, emissão de gases poluentes, agricultura mal planejada e queimadas. As suas principais consequências constituem o aquecimento global, a extinção de espécies animais ou vegetais, e a elevação dos níveis dos oceanos. Devido à sua dependência frente ao meio ambiente, o ser humano também é prejudicado em, praticamente, todos os casos de desastre ambiental, principalmente nos âmbitos da economia, da fome e da saúde.
Um dos casos mais famosos de desastre ambiental foi o acidente de Chernobyl, uma instalação nuclear localizada na Ucrânia que explodiu em 26 de abril de 1986, liberando uma enorme quantidade de radioatividade na atmosfera. Tal radioatividade atingiu grande parte da extinta União Soviética e da Europa. Esse caso é, ainda hoje, considerado o pior acidente nuclear da história.
Um desastre ambiental mais recente foi o vazamento de petróleo no Golfo do México de 20 de abril de 2010. Na ocasião, um grande acidente causou o derrame de petróleo no oceano Atlântico durante três meses, considerado o pior caso do tipo da história da indústria petrolífera.
Em 2010, a revista norte-americana Time publicou uma lista dos dez piores desastres ambientais da história segundo especialistas.
Comentário: Clique no ícone para acessar um quadro com a cronologia de desenvolvimento de ações ligadas ao tema do meio ambiente na política internacional.
cronologia de desenvolvimento de ações ligadas ao tema do meio ambiente
na política internacional
Vejamos, no quadro a seguir, a cronologia de desenvolvimento de ações ligadas ao tema do meio ambiente na política internacional:
	cronologia de desenvolvimento de ações ligadas ao tema do meio ambiente na política internacional
	1946
	Convenção Internacional para a Regulação da Baleação
	1987
	Relatório Brundtland; Protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a camada de ozônio
	1955
	Clean Air Act – ato promovido pelo parlamento inglês para combater nevoeiros causados pela poluição
	1988
	Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
	1958
	Convenção Internacional para Prevenção de Poluição do Mar por Petróleo
	1989
	Convenção de Basiléia sobre o controle de movimento transfronteiriços de lixos perigosos e a sua eliminação
	1959
	Tratado da Antártida
	1991
	Protocolo de Proteção Ambiental do Tratado da Antártica
	1962
	Rachel Carson publica Primavera silenciosa
	1992
	Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro; publicação da Declaração do Rio e da Agenda 21; Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas e Diversidade Biológica foi assinada; estabelecimento da Comissão para o Desenvolvimento Sustentável
	1967
	desastre ambiental do superpetroleiro Torrey Canyon
	1995
	Organização Mundial do Comércio é fundada
	1969
	fundação do Greenpeace
	1997
	Protocolo de Kyoto
	1971
	no encontro de Founex na Suíça, especialistas do hemisfério sul formularam um link entre desenvolvimento e meio ambiente
	1998
	Convênio de Estocolmo sobre contaminantes orgânicos persistentes; Convenção sobre Acesso à Informação, Participação do Público no Processo de Tomada de Decisão e Acesso à Justiça em Matéria de Meio Ambiente
	1972
	Conferência de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas ou Conferência de Estocolmo
	2000
	Protocolo de Cartagena sobre biossegurança; Objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabelecidos
	1973
	Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios (Marpol); Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção
	2001
	presidente George Bush revoga a assinatura dos EUA do Protocolo de Kyoto
	1979
	Convenção sobre a contaminação atmosférica transfronteiriça a longa distância
	2002
	Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável; Plano de Implementação de Joanesburgo
	1980
	Convenção para a conservação dos recursos vivos marinhos antárticos
	2005
	entra em vigor o protocolo de Kyoto e é introduzido o primeiro sistema internacional de comércio de emissão pela União Europeia
	1982
	Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (entra em vigor em 1994)
	2006
	discussões internacionais sobre o novo regime de mudança climática depois de 2012
	1984
	tragédia química de Bophal
	2007
	quarto relatório do Painel de Mudanças Climáticas
	1985
	Convenção de Viena para a proteção da camada de ozônio; o buraco de ozônio antártico foi confirmado
	2008
	começa o primeiro período de compromisso do protocolo de Kyoto
	1986
	desastre nuclear em Chernobyl
	
	
Bases de cooperação
O sistema de governança do meio ambiente almeja estabelecer bases para a cooperação entre Estados fundamentalmente, e entre estes e os demais atores não estatais, na busca pela preservação do meio ambiente.
O combate à poluição e a preservação dos recursos naturais foram os primeiros temas que receberam regulação internacional como resultado da cooperação entre os Estados. Vejamos exemplos de temas no âmbito dos quais alguns acordos foram alcançados:
A regulação do despejo de resíduos químicos e biológicos.
As demandas por forma de combate à emissão de poluentes.
A proibição do comércio de animais silvestres e ameaçados de extinção.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre comércio e desenvolvimento.
comércio e desenvolvimento
A questão da relação entre comércio e degradação ambiental é mais ampla do que disputas sobre a relação entre a Organização Mundial do Comércio (OMC) e acordos ambientais multilaterais (do inglês, MEAs) particulares. A globalização é, em parte, modelada por esforços do GATT e da OMC para a abertura de mercados protegidos e a expansão do comércio internacional.
Muitos ativistas ambientais argumentam que o comércio, por si só, prejudica o meio ambiente, por destruir modelos agrícolas locais e sustentáveis e promover um transporte de bens de grande-escala, o que é prejudicial ao meio ambiente. A reformulação de padrões de produção e consumo tem, realmente, sido um dos principais aspectos da globalização. Economistas liberais e defensores da OMC afirmam que, se as externalidades, como a poluição, podem ser consideradas no cálculo do preço dos bens, então o comércio pode ser benéfico ao meio ambiente, por meio da alocação mais eficiente de recursos. Nesse sentido, o uso de restrições comerciais como uma medida para promover um bom comportamento ambiental seria inaceitável. Na realidade, as regras da OMC permitem apenas restrições bem limitadas ao comércio em termos ambientais e, certamente, definem a base de métodos de processamento e produção.
Diversos casos de disputas comerciais têm confirmado, substancialmente, que controles de importação não podem ser utilizados para promover uma produção mais ética e sustentável. Podemos citar, por exemplo, o famoso caso do GATT de 1991 sobre atuns e golfinhos, no qual representantes do México e da Comunidade Europeia reclamaram das medidas norte-americanas que bloqueavam a importação do atum capturado por métodos responsáveis pela morte de golfinhos.
Governos de países em desenvolvimento continuam resistentes a restrições comerciais sustentáveis como uma forma de proteção a mercados desenvolvidos.
Desenvolvimento de leis e normas
O desenvolvimento de leis internacionais e de normas de comportamentos aceitáveis com relação ao meio ambiente tem crescido rapidamente, nos últimos trinta anos. Em especial, vem acompanhando as conferências das Nações Unidas – especificamente, as Conferências da Terra. Clique nos números para visualizar algumas mudanças promovidas por leis e normas.
1 : A Conferência de 1972 estabeleceu, por exemplo, a relação do princípio da soberania sobre recursos naturais com a responsabilidade sobre a poluição externa, cristalizada no documento Princípio 21.
2 : Da mesma forma, a Conferência Rio 92 produziu a Agenda 21, que continua sendo um documento-chave no processo de criação de normas de melhores práticas.
3 : Posteriormente, o conceito de desenvolvimento sustentável surgiu, conjugando a necessidade de preservação do meio ambiente com as demandas de países do Sul por condições reais – como transferência de tecnologia e ajuda externa – para consolidar o seu desenvolvimento econômico.
Regulação sobre comuns
Permanece ainda a questão da regulação sobre os comuns, entendidos como recursos e áreas que não estão sob a jurisdição de nenhum Estado, como o mar territorial, os oceanos, a Antártica, o espaço e a atmosfera, por exemplo.
Se esses são espaços que não estão sob a jurisdição de nenhum Estado, quem deve ser responsável por eles?
Esse é o grande dilema por trás da tragédia dos comuns. Os recursos comuns têm sido explorados constantemente, sem proteção ou supervisão de algum poder.
O que dizer da caça e da extinção de algumas espécies de baleias e tubarões? Ou do acúmulo de lixo espacial de antigos satélites e foguetes?
Ou ainda da preservação da vida animal na Antártica, como de pinguins e ursos polares? Ou da poluição da atmosfera?
Onde há recursos que, a princípio, não são de propriedade de ninguém, como podemos controlar a sua exploração?
Um exemplo de iniciativa bem-sucedida é o Protocolo de Montreal, de 1987, criado para coordenar ações de combate à degradação da camada de ozônio.
Comentário: Clique no ícone para acessar um comentário sobre regulação dos comuns.
regulação dos comuns
É na área dos comuns que a cooperação internacional se faz mais que necessária. Poucos acordos e tratados internacionais foram eficazes nesse quesito.
Exemplos
de fracassos incluem convenções sobre pesca e caça às baleias, ainda hoje, sob disputa.
Afinal, como regular uma área onde os atores não têm, praticamente, nenhum incentivo para obedecer às regras, visto que são poucos os instrumentos para punir aqueles que não respeitam as leis?
Estudo de caso: Clique no ícone para acessar o estudo de caso Protocolo de Montreal.
Protocolo de Montreal
Em 1º de janeiro de 1989, entrou em vigor o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Depredam a Camada de Ozônio – mais conhecido como Protocolo de Montreal –, cujo principal objetivo é a redução da produção e/ou emissão de substâncias vistas como prejudiciais à Camada de Ozônio. Esse documento foi elaborado como resultado da Conferência de Viena, realizada em 1985, e a fim de estabelecer objetivos legalmente vinculantes para os princípios acordados na Convenção de Viena pela Proteção da Camada de Ozônio, que havia entrado em vigor em 1988.
A Conferência de Viena ocorreu em reposta ao trabalho de três cientistas britânicos que, em 1985, haviam publicado o resultado de pesquisas que comprovavam grandes quedas na concentração de ozônio acima da Antártica. Os cientistas argumentavam que tal falha era resultado do aumento da emissão de substâncias conhecidas como CFCs.
O protocolo também estabeleceu a criação do Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal, que tem como objetivo ajudar países em desenvolvimento a controlarem e reduzirem a produção das substâncias vistas como prejudiciais à Camada de Ozônio. Dentre as 198 partes, 147 são consideradas aptas para receber o apoio do Fundo.
O Protocolo de Montreal é vigente até hoje, embora já tenha passado por sete revisões: 1990 (Londres), 1991 (Nairóbi), 1992 (Copenhague), 1993 (Bangkok), 1995 (Viena), 1997 (Montreal), e 1999 (Pequim). O documento já foi ratificado por 197 países e pela União Europeia, sendo, portanto, o acordo mais ratificado da história das Nações Unidas – junto com a Convenção de Viena pela Proteção da Camada de Ozônio, que foi apoiada pelos mesmos atores.
Desde 1989, estudos demonstraram que as concentrações atmosféricas das mais destacadas substâncias consideradas degradantes à Camada de Ozônio sofreram diminuições ou, pelo menos, foram estabilizadas. Por causa disso, o Protocolo de Montreal é considerado o acordo ambiental internacional de maior sucesso.
Fonte
PROTOCOLO de Montreal. FGV Online, 2013.
Mudança climática pelo aquecimento global
O problema da mudança climática induzida pelo aquecimento global, subproduto da intensificação do efeito estufa, é o problema:
· mais urgente que a sociedade internacional enfrenta na área de meio ambiente e 
· que arregimenta menos consenso, apresentando maior dificuldade de coordenação entre Estados, e entre estes e atores não estatais.
A dificuldade de estabelecer um regime sobre as mudanças climáticas fica clara a partir do fracasso total ou parcial de dois instrumentos que tentaram regular a emissão de gases causadores do efeito estufa:
· o Protocolo de Kyoto (1997) e 
· o documento final da Convenção sobre Mudança Climática das Nações Unidas (1992).
Nesse caso, o desafio também é maior, se comparado à questão da camada de ozônio.
Atenção!
Combater o aquecimento global requer intervir tanto nos setores da produção agrícola e industrial quanto na área de transporte, pilares fundamentais da vida moderna.
Estudo de caso
Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática
Entre os dias 7 e 18 de dezembro de 2009, foi realizada em Copenhague, na Dinamarca, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, também conhecida como COP15. O objetivo do evento era reunir Chefes de Estado e de Governo a fim de negociarem acordos multilaterais sobre comprometimentos mútuos em prol da sustentabilidade.
O evento gerou diversas manifestações de grupos ativistas a favor de acordos significativos sobre o tema em questão, tendo a principal ocorrido no dia 12 de dezembro, quando quase 100 mil manifestantes se reuniram para protestar contra as mudanças climáticas geradas pelo Homem.
No último dia da Conferência, Estados Unidos, China, África do Sul, Índia e Brasil se reuniram e redigiram um texto prévio para o Acordo de Copenhague. Este, que era previsto para se tornar o sucessor do Protocolo de Kyoto – cujo prazo terminaria em 2012 –, defendia a importância das mudanças climáticas para o Sistema Internacional e a adoção de políticas que impedissem aumentos de temperatura maiores do que 2°C. Apesar disso, não houve um consenso acerca do acordo uma vez que muitos governos e organizações não-governamentais levantaram várias críticas sobre o mesmo. Mesmo assim, até 2012 o acordo conseguiu reunir 114 partes acordantes e 27 governos já comunicaram às Nações Unidas seu interesse no documento.
Por causa do pouco progresso atingido – principalmente pelo fato de o Acordo de Copenhague, além de não ter atingido um consenso, não possuir um caráter vinculante – a COP15 foi muito criticada. Ativistas, jornalistas e acadêmicos declararam grande desapontamento com seus resultados, tendo a responsabilidade do fracasso sido apontada tanto para os países desenvolvidos quanto para os em desenvolvimento.
Fonte
CONFERÊNCIA das Nações Unidas sobre Mudança Climática. FGV Online, 2013.
Dilema
Quem, potencialmente, sofrerá mais com os efeitos do aquecimento global?
Alguns especialistas sugerem que serão os países do Sul Global, com menos infraestrutura e com populações concentradas ao nível do mar.
Outros Estados, como a Rússia, imaginam conseguir vantagens do aquecimento, com o temperamento de algumas de suas regiões.
Outras questões também contribuem para o dilema fundamental do regime internacional sobre o aquecimento global:
Se o aquecimento global afeta populações de maneira diferenciada, como produzir um regime que requer que os países tenham o mesmo nível de comprometimento?
Quais seriam os incentivos para que países do Norte invistam em sustentabilidade, reduzam as suas emissões de gás carbônico e desacelerem o ritmo de produção e consumo?
Desenvolvimento sustentável
Se forças estruturais fazem com que a degradação ambiental seja provável, elas, ainda assim, deixam espaço para que a ação humana faça com que essa degradação não seja inevitável.
As políticas não podem mudar a capacidade de recursos do meio ambiente, mas podem tentar influenciar as demandas para que estejam de acordo com essas capacidades.
Nesse sentido, as regulações intergovernamentais ou a sociedade civil transnacional podem criar constrangimentos e incentivos para induzir o consumo consciente e o desenvolvimento sustentável.
Além disso, tanto o avanço tecnológico quanto a reflexão prática e acadêmica podem remediar problemas que nascem do impacto da ação humana sobre o meio ambiente e ajudar a identificar novas formas de equacionar produção e consumo com sustentabilidade.
Ao longo do tempo, grupos e indivíduos também podem transformar, de forma consciente, os valores da sociedade global, de forma refletir as preocupações com a conservação do meio ambiente.
Autoavaliação
Agora, realize uma autoavaliação com questões objetivas a respeito do conteúdo desta disciplina.
O gabarito das questões pode ser visualizado em qualquer momento, e você pode pular questões ou voltar quando quiser.
Questão 1 de 10:
Teóricos de várias vertentes, realistas, marxistas e institucionalistas, tentaram entender como o regime político entra nas equações de poder dos Estados modernos.
Segundo os realistas, podemos afirmar que o papel da democracia no poder dos Estados se baseia:
	
	no fato de conseguirem melhores decisões de política externa.
	
	na falta de capacidade das democracias em virtude de sua preferência por situações de paz e aversão à guerra.
	
	na tendência de serem mais pacíficas do que as ditaduras, já que, para o povo, o custo da guerra é sempre maior.
	
	na desvantagem das democracias em relação à ordem internacional, já que os líderes desses países estão sujeitos à influência da opinião pública.
Questão 2 de 10:
Desde, pelo menos, o século
XVIII, o Estado nacional e as ideias de nações nacionalistas têm sido centrais para a teoria e a prática das relações internacionais. Entretanto, várias formas de organizações precederam o Estado-nação como o centro da ordem Europeia e de diversas outras ordens regionais na Ásia, no Oriente Médio, nas Américas e na África.
Dentre as opções abaixo, aquela que NÃO corresponde a uma dessas formas de organização, que hoje são bastante incomuns, é:
	
	Impérios.
	
	Estados tribais.
	
	Estados globais.
	
	Cidades-Estado.
Questão 3 de 10:
Outro tema importante de discussão tem sido a inclusão de direitos econômicos e sociais no conjunto de direitos humanos. De fato, a primeira geração de direitos humanos tratava, principalmente, de direitos civis e políticos.
O principal desafio para a implementação de direitos sociais e econômicos como direitos humanos está ligado ao seguinte fato:
	
	direitos sociais implicam custos, ao contrário de direitos civis e políticos.
	
	direitos econômicos dependem de intervenções humanitárias para sua implementação.
	
	países de renda média não podem implementar direitos econômicos sem ajuda internacional ao desenvolvimento.
	
	ao contrário de direitos civis e políticos, direitos econômicos e sociais implicam políticas públicas específicas e a responsabilização pelo não cumprimento desses direitos é difusa.
Questão 4 de 10:
Debates sobre se os efeitos da globalização têm sido, majoritariamente, positivos ou negativos, para a maioria das pessoas, estão entre os temas mais importantes no estudo da economia política internacional hoje. Os principais defensores da tese de que a globalização tem sido positiva são chamados de globalistas, os seus críticos são, muitas vezes, chamados de céticos.
Podemos afirmar que o principal argumento dos globalistas a favor da globalização consiste no fato de que:
	
	a globalização torna o sistema internacional mais pacífico.
	
	a globalização tende a aumentar a competitividade de países desenvolvidos.
	
	os Estados, que se adaptarem melhor a essa nova realidade – a globalização –, vão ganhar mais.
	
	a globalização permite que Estados lidem com problemas de popularidade interna a partir da liberalização comercial. 
Questão 5 de 10:
A teoria da paz democrática é, provavelmente, a ideia mais politicamente influente das relações internacionais nos primeiros anos do século XXI. 
Sobre essa ideia, podemos afirmar que:
	
	as Democracias não são mais pacíficas, são mais eficientes em ganhar guerras. 
	
	as democracias são sempre mais pacíficas, de acordo com a formulação moderna de Kant.
	
	as democracias fazem de tudo para que os conflitos sejam menos sangrentos, mesmo quando elas entram em guerra.
	
	as democracias não entram em guerra uma contra as outras, embora também façam guerras.
Questão 6 de 10:
Teóricos de várias vertentes, realistas, marxistas e institucionalistas, tentaram entender como o regime político entra nas equações de poder dos Estados modernos.
Segundo os realistas, podemos afirmar que o papel da democracia no poder dos Estados se baseia:
	
	no fato de conseguirem melhores decisões de política externa.
	
	na falta de capacidade das democracias em virtude de sua preferência por situações de paz e aversão à guerra.
	
	na tendência de serem mais pacíficas do que as ditaduras, já que, para o povo, o custo da guerra é sempre maior.
	
	na desvantagem das democracias em relação à ordem internacional, já que os líderes desses países estão sujeitos à influência da opinião pública.
Questão 7 de 10:
Junto com o inglês Thomas Hobbes (1588-1679), Immanuel Kant (1724-1804) foi um dos principais filósofos modernos a teorizar sobre a natureza da guerra e da paz. Suas teorias foram inspiração para movimentos diversos, desde as correntes mais radicais do pacifismo até as ideias neoconservadoras sobre a promoção da paz no Oriente Médio pela disseminação da democracia.
Segundo Kant, o principal fator que faz com que as repúblicas sejam menos propensas a fazer guerras é:
	
	o poder de decisão dos cidadãos. 
	
	a inspiração na República Romana, que era mais pacífica do que o Império Romano.
	
	o não envolvimento das repúblicas de seu tempo na sangrenta Guerra da Sucessão Austríaca - 1740-1748.
	
	a força do Poder Legislativo – Congresso ou Parlamento – que faz com os Estados não possuam meios para entrar em guerra. 
Questão 8 de 10:
O debate sobre a natureza da cooperação entre Estados soberanos é profundamente influenciado pela distinção entre influência e coerção.
A situação onde há apenas influência e não coerção é:
	
	a Coréia do Norte assina um tratado com os Estados Unidos para receber ajuda humanitária em troca de acabar com seu programa nuclear.
	
	a União Europeia se recusa a aprovar um pacote de ajuda financeira que a Grécia precisa para honrar sua dívida até que o país cumpra uma série de exigências do Banco Central Europeu.
	
	o Brasil financia projetos de infraestrutura na África como parte de sua política de cooperação internacional para o desenvolvimento. Os financiamentos são condicionados à contratação de empresas brasileiras.
	
	a embaixada canadense em Washington organiza jantares regulares para os membros do Congresso americano. Por meio de suas redes de contato, os diplomatas canadenses fazem lobby para que o Congresso aprove novas regulações sobre o comércio de alimentos.
Questão 9 de 10:
Tomando como ponto de partida a definição anterior, poderíamos classificar como ações terroristas um conjunto muito grande de atos, inclusive perpetrados pelo Estado – o chamado terrorismo de Estado.
O principal fator que usamos para entender a separação entre atos terroristas e outros tipos de uso político da violência – como a guerra – é:
	
	a questão da legitimidade.
	
	a força dos atores envolvidos.
	
	a importância do elemento religioso.
	
	o envolvimento de atores transnacionais.
Questão 10 de 10:
A construção de um regime internacional de proteção aos direitos humanos foi uma das respostas políticas à enorme onda de violência que marcou o colonialismo no século XIX e as guerras nacionalistas da primeira metade do século XX. Uma das marcas desse regime é que ele representou a primeira tentativa de se estabelecer direitos individuais em escala internacional, independentemente de cidadania.
A principal fraqueza desse regime em implementar esses direitos está associada ao seguinte fato:
	
	os Estados dificilmente assinam acordos multilaterais de direitos humanos. 
	
	os Estados dificilmente incorporam cláusulas de direitos humanos em suas legislações internas.
	
	há dificuldades de se fiscalizar se um Estado cumpre ou não seus compromissos no regime internacional de direitos humanos.
	
	os métodos de sanções aos violadores de direitos humanos, bem como a determinação do que consiste uma violação, são determinados no âmbito da política internacional, não por parte de um judiciário independente.
Pós-teste
Agora está na hora de você realizar o pós-teste. Você poderá medir o quanto aprendeu com este curso.
O pós-teste é constituído de 10 questões objetivas. Caso você obtenha nota igual ou superior a 7,0, imprima, em seguida, seu certificado de realização do curso. Se você não obtiver nota 7,0, você poderá realizar novamente o pós-teste.
Lembre-se, no entanto, de que, para imprimir seu certificado, é necessário que você tenha preenchido, corretamente, o cadastro ao acessar o curso.
Questão 1 de 10:
A teoria da guerra justa busca prescrever como o Estado (ou os agentes que atuam em seu nome) deve agir em situações de conflito armado para tentar limitar as consequências destrutivas desse confronto.
Considerando o direito de ir à guerra (jus ad bellum), um país pode declarar guerra a um grupo de combatentes na guerra civil de outro país caso:
	
	haja possibilidade de desastre humanitário.
	
	haja pedido específico de ajuda por parte de um lado na guerra civil.
	
	vise a equilibrar uma intervenção anterior realizada por outro Estado.
	
	exista uma vida comum separada e distinta no lado

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