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RESUMO DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

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26 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino 
4. BREVE RESUMO DAS CONSTITUIÇÕES DO BRASIL 
4.1 . A Constituição do I mpério ( 1 824) 
A Constituição do I mpério do Brasi l foi elaborada por um Conselho de 
Estado, criado com essa finalidade, depois da dissolução, por D. Pedro 1, da 
assembleia constituinte que, antes, havia sido convocada. O texto constitu­
cional foi outorgado por D. Pedro 1, em 25 de março de 1 824. 
O conteúdo da Constituição de 1 824 foi fortemente influenciado pelo 
Liberalismo clássico dos séc. XVII I e XIX, de cunho marcadamente indivi­
dualista, em voga na época de sua elaboração. 
A orientação l iberal manifestava-se claramente na enumeração expressa 
de direitos individuais (chamados direitos de primeira geração ou dimensão, 
tendo como núcleo o direito de l iberdade em sua acepção mais ampla, visan­
do a resguardar, da atuação do Estado, a esfera individual) e na adoção da 
separação de poderes. Quanto ao último aspecto, entretanto, impende anotar 
que, além dos três poderes propugnados por Montesquieu - Legislativo, 
Executivo e Judiciário -, foi acrescentado um poder denominado Moderador, 
concentrado nas mãos do Imperador. 
Quanto à existência desse quarto poder, propugnado por Benjamin 
Constant, observa Celso Bastos que, embora a Constituição, na época, se 
pretendesse democrática, o Poder Moderador, "se uti lizado por um monarca 
com inc linações autoritárias, levaria a um poder quase absoluto". Essa ca­
racterística de nossa Constituição imperial consubstancia um conflito com a 
noção de soberania popular, com a ideia de titu laridade do poder pelo povo, 
tão cara ao Liberalismo inspirador dos primeiros Estados constitucionais . 
Outra característica peculiar de nossa Carta de 1824, uniformemente apon­
tada pelos publicistas pátrios, é sua classificação, quanto aos procedimentos de 
modificação de seu texto, como Constituição scmirrígida . Com efeito, o seu 
art. 1 78 só exigia um processo especial para modificação da parte do seu texto 
que o constituinte entendeu conter disposições substancialmente constitucionais. 
A modificação de todas as outras disposições, só formalmente constitucionais, 
podia se dar mediante processo legislativo simples, igual ao de elaboração das 
demais leis. 
A Constituição de 1 824 deu ao Brasil a forma de Estado un i tário, 
dividido em províncias, com forte central ização político-administrativa. Em 
razão dessa característica, evitou a fragmentação de nosso território. A forma 
de Governo era a monarquia hereditária constitucional. As eleições eram 
indiretas e censitárias. O Poder Legislativo submetia-se ao regime represen­
tativo, eletivo e temporário, na Câmara dos Deputados, mas, no Senado, os 
integrantes eram membros vitalícios, nomeados pelo Imperador. 
Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 27 
Foi o texto constitucional de maior longevidade em nossa h istória. Não 
obstante isso, foi uma Constituição que se poderia classificar de nominativa, 
porque não conseguiu fazer com que as práticas constitucionais adotadas na 
realidade correspondessem às previstas em seu texto. 
4.2. A primeira Constituição Republicana ( 1 89 1 ) 
Em 1 5 de novembro de 1 889, com a edição do Decreto 1 , de 1 5 . l 1 . 1 889, 
foi declarada a República . Nos tennos desse decreto, as províncias, agora 
como estados integrantes de uma federação, formaram os Estados Unidos 
do Brasi l . Foi instaurado um governo provisório, que, em 3 de dezembro, 
nomeou uma comissão para e laborar um projeto de Constituição, o qual, em 
22.06. 1 890, foi publicado como "Constituição aprovada pelo Executivo". Em 
1 5 de setembro de 1 890 foi e lei ta a Assembleia-Geral Constituinte, que se 
instalou em 1 5 de novembro, e, em 24 de fevereiro de 1 89 1 , p romulgou 
a Constituição da Repúbl ica dos Estados Unidos do Brasil (democrática), 
com poucas modificações em relação ao projeto que fora aprovado pelo 
Executivo (cujo principal mentor, diga-se, foi o grande Rui Barbosa). 
A Constituição de 1 89 1 institu i , de modo definitivo, a forma federativa 
de Estado e a forma republ i cana de governo (o Decreto 1 / 1 8 89 o fizera em 
caráter meramente provisório). A autonomia dos estados é assegurada, sendo 
a e les conferida a denominada "competência remanescente", conforme ins­
piração do modelo norte-americano de federação. Foi estabelecida, também, 
a autonomia municipal . O regime é o representativo, com eleições d i retas e 
mandatos por prazo certo nos Poderes Executivo e Legis lativo. O sistema 
de governo adotado foi o presidencial ista, de inspiração norte-americana 
(de cuj as i nstituições Rui Barbosa era um profundo estudioso). 
É abol ido o Poder Moderador, voltando-se à fórmula tradicional de se­
paração entre os poderes, propugnada por Montesquieu. 
A dec laração de direitos individuais foi fortalecida, com acréscimo de 
importantes garantias, como o habeas corpus. 
A Constituição adotou a forma rígida, considerando constitucionais to­
das as suas disposições, as quais somente poderiam ser alteradas mediante 
procedimento especial , mais laborioso do que o exigido para a criação e 
modificação do direito ord inário. 
Pode-se dizer que foi uma Constituição nominativa, pois suas disposições 
não encontraram eco na realidade social, vale dizer, seus comandos não foram 
efetivamente cumpridos. Nas palavras do Prof. José Afonso da Silva, "o coro­
nelismo fora o poder real e efetivo, a despeito das normas constitucionais". 
Em 1 926, a Constituição sofreu uma profunda reforma, de cunho marca­
damente centralizador e autoritário, que acabou por precipitar a sua derrocada, 
ocorrida com a Revolução de 1 930. 
28 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino 
4.3. A Constitu ição de 1 934 
A Constituição de 1 934, democrática, decorrente do rompimento da 
ordem jurídica ocasionado pela Revolução de 1 930, a qual pôs fim à era 
dos coronéis, à denominada Primeira República, costuma ser apontada pela 
doutrina como a primeira a preocupar-se em enumerar direitos fundamentais 
sociais, ditos direitos de segunda geração ou dimensão. Esses direitos, quase 
todos traduzidos em normas constitucionais programáticas, tiveram como 
inspiração a Constituição de Weimar, da Alemanha de 1 9 1 9. Com isso, a 
Constituição de 1 934 é apontada como marco na transição de um regime de 
democracia l iberal, de cunho individual ista, para a chamada democracia social, 
preocupada em assegurar, não apenas uma igualdade formal, mas também a 
igualdade material entre os indivíduos (condições de existência compatíveis 
com a dignidade da pessoa humana). 
É nela, também, que se observa o início do processo, contínuo desde 
então, de ampliação do rol de matérias tratadas no texto constitucional, fe­
nômeno descrito corno constitucionalização dos diversos ramos do Direito, 
inclusive daqueles antes discipl inados somente no âmbito das normas infra­
constitucionais, como o Direito Civi l e o Direito Admin istrativo. Por essa 
razão, a Constituição de 1 934 apresentava mais do que o dobro de artigos 
que a de 1 89 1 . 
A estrutura fundamental do Estado não sofreu mudanças em comparação 
com a Constituição de 1 89 1 . Manteve-se a república, a federação, a divisão de 
poderes, o presidencial ismo e o regime representativo (José Afonso da Silva). 
Como teve curtíssima sobrevida, pouco relevantes foram seus reflexos 
práticos, uma vez que não houve tempo para que a implementação de suas 
normas influenciasse a realidade social, se é que isso viria a acontecer, caso 
tempo houvesse. 
4.4. A Constituição do Estado Novo ( 1 937) 
Em 1 O de novembro de 1 93 7, Getúlio Vargas, no poder, dissolve a Câ­
mara e o Senado, revoga a Constituição de 1 934 e outorga a Carta de 1 937 , 
dando início ao período ditatorial conhecido como "Estado Novo". 
Como se vê, foi uma Carta outorgada, fruto de um golpe de Estado. 
Era Carta de inspiração fascista, de caráter marcadamente autoritário ecom 
forte concentração de poderes nas mãos do Presidente da Repúbl ica. 
A Constituição de 1 937, frequentemente chamada "Constituição Polaca" 
(alusão à Constituição polonesa de 1 935 , que a teria inspirado), embora 
contivesse um rol de pretensos direitos fundamentais, não contemplava o 
princípio da legalidade, nem o da irretroatividade das leis. Não previa o 
Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 29 
mandado de segurança. Possibi l i tava a pena de morte para crimes políticos 
e previa a censura prévia da imprensa e demais formas de comunicação e 
entretenimento, dentre outras disposições restritivas inte iramente incompatí­
veis com um verdadeiro Estado Democrático de Direito. 
Nas palavras de Celso R ibe i ro Bastos, "trata-se, portanto, de docu­
mento destinado exclus ivamente a inst i tucional izar um reg ime autori­
tár io . Não havia a d iv i são de poderes, embora exist i ssem o Executivo, 
o Legislat ivo e o Jud ic iário, visto que estes ú l t imos sofriam n ít idos 
amesqu inhamentos". 
Reforçando o sobred ito, José A fonso da S i lva remata: 
A Carta de 1 93 7 não teve, porém, apl icação regular. Mui tos 
. de seus d isposi ti vos permaneceram letra morta. Houve ditadu­
ra pura e s imples, com todo o Poder Executivo e Legislativo 
concentrado nas mãos do Presidente da República, que legislava 
por via de decretos- leis que ele próprio depois apl icava, como 
órgão do Executivo. 
É interessante registrar que a Constituição de 1 93 7 previa a necessidade 
de ser submetida a um plebiscito, mas este nunca se real izou. Segundo o Prof. 
Celso Ribeiro Bastos, por esse motivo, "em termos jurídicos, a Constitu ição 
jamais ganhou vigência". 
4.5. A Constitu ição de 1 946 
Com o término da Segunda Guerra Mundial, e o fim do Estado Novo, 
ocorre a redemocratização do Brasi l . Depois de grande turbulência no quadro 
pol ítico interno ocorre a queda de Getúl io Vargas e, finalmente, a instalação 
de uma Assembleia Consti tuinte, em 2 de fevereiro de 1 946. 
Em 1 8 de setembro de 1 946 foi promulgada a Constituição da Repú­
bl ica dos Estados Unidos do Brasi l (democrática), elaborada com base nas 
Consti tuições de 1 89 1 e de 1 934. Segundo o Prof. José Afonso da S i lva, 
embora essa "volta ao passado" tenha sido um erro, e a Const i tuição de 
1 946 não tenha conseguido realizar-se plenamente, ela cumpriu sua tarefa 
de redemocratização e proporcionou condições para o desenvolvimento do 
País, durante as duas décadas de sua v igência. 
A Constituição de 1 946 adota a federação como forma de Estado - com 
autonomia política para os estados e, acentuadamente, para os municípios -, 
estabelece a repúbl ica como forma de governo, o sistema presidencial ista, e o 
regime democrático representativo, com eleições d i retas. Assegura a div isão 
e i ndependência dos poderes. 
30 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino 
O rol de direitos fundamentais retoma o que existia na Constituição de 
1 934, com alguns importantes acréscimos, como o do princípio da inafas­
tabi lidade de jurisdição, e supressões relevantes, como a exclusão da pena 
de morte, do banimento e do confisco. Os direitos dos trabalhadores, mui­
tos surgidos durante o Estado Novo, são constitucionalizados, com alguns 
acréscimos, como o do direito de greve. Trata também, pela primeira vez, 
dos partidos políticos, instituindo o princípio da l iberdade de criação e or­
ganização partidárias. 
Em 1 96 1 , uma emenda constitucional estabelece o parlamentarismo como 
sistema de governo, visando a reduzir os poderes do Presidente da Repúbl ica, 
João Goulart. O parlamentarismo acabou sendo rejeitado por um plebiscito, 
com o que se retomou ao presidencial ismo, em 1 963, fato que precipitou o 
golpe mi l itar de 1 964, inaugurando mais um período de ditadura em nossa 
história constitucional . 
4.6. A Constituição de 1 967 
Depois da vitória do golpe mi l itar de 1 964, outorgou-se, em 24 de 
janeiro de 1 967, uma nova Constituição, fortemente inspirada na Carta de 
1 93 7 (antidemocrática). 
O texto da Constituição de 1 967 mostra grande preocupação com a "segu­
rança nacional", ostentando tendência de central ização político-administrativa 
na União e de ampliação dos poderes do Presidente da Repúbl ica. 
Apresentava rol de direitos fundamentais, com redução dos direitos indi­
viduais, mas com maior definição dos direitos dos trabalhadores. Limitou o 
direito de propriedade, possibi l itando a desapropriação para refom1a agrária 
com indenização em títulos públ icos. 
A Constituição de 1 967 (ou torgada) teve curtíssima duração, porque, 
em 1 969, foi editada a EC 1 , de 1 7. 1 0. 1 969, com entrada em vigor em 
30. 1 0. 1 969. 
4.7. A Constitu ição de 1 969 (Emenda 1 à Constitu ição de 1 967) 
A EC 1 / 1 969, embora formal mente seja uma emenda à Constih1ição 
de 1 967, é considerada por muitos constitucional istas verdadeiramente uma 
nova Constituição outo rgada . Nas palavras do Prof. José Afonso da Si lva, 
"a emenda só serviu como mecanismo de outorga" (apesar de ter sido um 
texto e laborado e imposto pelos ministros mil itares, que então estavam no 
poder, pretendeu-se, na época, estar promulgando uma emenda à Constituição, 
e não outorgando uma nova Constituição). 
Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 31 
A Constituição de 1 969 denominou a si mesma "Constituição da Re­
pública Federativa do Brasi l" (a de 1 967 era, simplesmente, "Constituição 
do Brasil"). 
Em l inhas gerais, embora a Constituição de 1 969 tivesse pretendido man­
ter formalmente nossa estrutura jurídica como a de um Estado Democrático 
de Direito, os poderes especiais atribuídos ao Presidente da República e as 
hipóteses de suspensão de direitos individuais tornavam letra morta essa 
expressão. 
A EC 1 / 1 969 aperfeiçoou, porém, algumas instituições, como o processo 
de elaboração da lei orçamentária, a fiscalização financeira e orçamentária dos 
municípios, modificou o sistema tributário, previu a criação do contencioso 
administrativo tributário, vedou a reeleição para o Poder Executivo etc. 
A Constituição de 1 969 sofreu diversas emendas, até que, com a EC 26, 
de 27 . 1 1 . 1 985, foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte, de cuj os 
trabalhos resultou a Constituição de 1 988, hoje vigente.6 
4.8. A Constituição d e 1 988 
Com o fim dos governos mi l i tares e a redemocratização do País,7 mostrou­
-se evidente a necessidade de dotar o País de uma nova Constituição. José 
Sarney, o primeiro presidente da fase iniciada com o ocaso do ciclo mi l i tar, 
denominada "Nova República", encaminhou ao Congresso Nacional a proposta 
de emenda à Constituição que resultou na EC 26, de 27 de novembro de 
1 985 . Essa emenda, conforme acima apontado, convocava uma Assembleia 
Nacional Constituinte, composta, na verdade, pelos próprios deputados fede­
rais e senadores de então. A instalação da Assembleia Nacional Constituinte 
ocorreu em 1 .0 de fevereiro de 1 987 e os seus trabalhos foram concluídos 
em 5 de outubro de 1 988, com a promulgação da Constituição atual. 
Embora boa parte cio trabalho de nosso constituinte originário de 1 988 
tenha sido desfigurada pela enorme quantidade d e emendas que a Consti-
' O Prof. José Afonso da Silva ensina que a EC 26/1 985 não é tecnicamente uma emenda, 
mas sim um ato polltico, uma vez que não tem a finalidade de manter a Constituição 
emendada, e sim de destru i-la, possibilitando sua substituição por uma nova. 
7 Talvez não se possa falar, no primeiro momento, em uma efetiva redemocratização, porque 
a eleição do primeiro Presidente da República civil deu-se por sufrágio indireto, a despei­
to da enorme pressão popular consubstanciada no movimento conhecido como "diretas 
já". Nas eleições indiretas de 1 985, que marcam o fim do perlodo de ditadura militar, foi 
vencedor Tancredo Neves, que, no entanto, veio a morrer antes da posse. razão pela 
qual foi empossado o seu vice, José Sarney, em cujo governo realmentese consolidou a 
redemocratização. As primeiras eleições diretas para Presidente da República, depois do 
golpe militar de 1 964, somente ocorreram em 1 989, tendo como vencedor Fernando Collor 
de Mello, que sucedeu José Sarney na Presidência da República. 
32 DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO • Vicente Paulo & Marcelo Alexandrino 
tuição atual sofreu - merecendo especial ênfase a significativa mudança de 
orientação no que respeita à ordem econômica -, pode-se, em uma grande 
síntese, afirmar que a Constituição de 1 988 pretendeu dar ao Brasi l a feição 
de uma social-democracia, de criar um verdadeiro Estado Democrático-Social 
de Direito, com a previsão de uma imensa quantidade de obrigações para 
o Estado, traduzidas em prestações positivas, passíveis, em tese, de serem 
exigidas pela população em geral, muitas como verdadeiros direitos subjeti­
vos. Essa a razão da Carta de 1 988 ter recebido o epíteto de "Constituição 
Cidadã". 
Consoante acentua o Prof. José Afonso da Si lva (referindo-se ao texto 
originário da Constituição de 1 988) : 
É um texto moderno, com inovações de relevante importância 
para o constitucionalismo brasileiro e até mundial. Bem exa­
minada, a Constituição Federal, de 1 988, constitui, hoje, um 
documento de grande importância para o constitucionalismo 
em geral. 
Ao lado da ampliação dos d ireitos fundamentais - sobretudo das garantias 
e remédios constitucionais (enfática vedação à censura prévia, surgimento do 
habeas data, do mandado de injunção, do mandado de segurança coletivo, 
ampliação do objeto da ação popular etc.) , bem como dos direitos sociais 
e direitos de terceira geração ou dimensão (como o direito a um meio am­
biente equ i l ibrado) - é mister mencionar o fortalecimento das instituições 
democráticas, dentre elas o Ministério Público. 
Tomou-se mais abrangente, também, o controle de constitucionalidade, 
aumentando a importância do controle abstrato, com o surgimento de novas 
ações, como a ação direta de inconstitucionalidade por omissão e a arguição 
de descumprimento de preceito fundamental, e significativo alargamento da 
legitimação ativa, que se tornou muito mais democrática com a quebra do 
monopól io do Procurador-Geral da República, antes existente. 
O Sistema Tributário Nacional foi em larga medida redesenhado, for­
talecendo-se as receitas dos municípios e aperfeiçoando-se as garantias dos 
contribuintes. 
Houve preocupação em trazer para o texto constitucional detalhadas 
normas acerca da organização e funcionamento da Administração Pública 
e dos agentes públicos, observando-se um cuidado especial com a proteção 
j urídica da moralidade administrativa e da probidade. 
A seguridade social foi significativamente estendida quanto a suas ati­
v idade e serviços, e quanto aos seus benefic iários, sendo essa, sem dúvida, 
Cap. 1 • DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO 33 
uma das maiores fontes do grande aumento da necessidade de obtenção de 
recursos pelo Estado. 
Foram estabelecidas normas abrangentes de proteção à i n füncia, aos 
deficientes, aos índios, ao meio ambiente etc. 
Enfim, redesenhou-se amplamente o Estado, em sua estrutura e em 
sua atuação como Estado-poder - com a extinção dos Territórios Federais, 
a maior autonomia dos municípios, o rígido regramento da Administração 
Públ ica, o fortalecimento do Poder Judiciário e do Legislativo, inclusive em 
sua atividade de fiscalização do Executivo -, e avigorcu-se sobremaneira o 
Estado-comunidade, mediante o alargamento dos direitos fundamentais de 
todas as d imensões e o robustecimento dos mecanismos de controle, populares 
e institucionais, do Poder Público. 
5. CLASSIFICA�ÃO E ESTRUTURA D� CONSTITUIÇÃO ,FEDERAL 
DE 1988 · . . . 
' . 
A atual Constituição da Repúbl ica Federativa do Bras i l , promulgada em 
5 de outubro de 1 988, é classificada como escrita cod:ficada, democrática, 
dogmática eclética, rígida, formal, analítica, dirigente, normativa, principio­
lógica, social e expansiva. 
De conteúdo extenso, prolixo e demasiadamente d�talhado, compõe-se 
de mais de trezentos artigos: duzentos e cinquenta integrantes do corpo 
permanente da Constituição e os demais inseridos no Ato das D isposições 
Constitucionais Transitórias (ADCT). 
A Carta vigente é composta de um preâmbulo, uma parte dogmática, 
integrada por nove títulos, e um rol de dispositivos de cunho transitório, 
reunidos no A to das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). 
Apresentamos, a seguir, considerações sumárias acerca das normas que 
compõem cada uma dessas três divisões da Constituição Federal de 1 988 , 
com destaque para o exame da relevância j urídica do preâmbulo, bem como 
das pecul iaridades das normas do ADCT. 
5.1 . Preâmbulo 
A Constituição Federal de 1 988 apresenta o seguinte preâmbulo: 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia 
Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, des-

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