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01. Em sua obra (A essência da constituição. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2001), Ferdinand Lassale afirma: “Os problemas constitucionais não são problema de direito, mas do poder; a verdadeira constituição de um país somente tem por base os fatores reais e efetivos de poder que naquele país vigem e as constituições escritas não tem valor nem são duráveis a não ser que exprimam fielmente os fatores do poder que imperam na realidade social: eis aí os critérios fundamentais que devemos sempre lembrar. Nesta Conferência eu quis demonstrar, de um modo especial, o valor que representa o exército como fator decisivo e importantíssimo do poder organizado;(...)” “Em 1848, ficou demonstrado que o poder da nação é muito superior ao do exército e, por isso, depois de uma cruenta e longa luta, as tropas foram obrigadas a ceder. Mas não devemos esquecer que entre o poder da nação e o poder do exército existe uma diferença muito grande e por isso se explica que o poder do exército, embora em realidade inferior ao da nação, com o tempo seja mais eficaz que o poder do país, embora maior. É que o poder desta é um poder desorganizado e o daquele é uma força organizada e disciplinada que se encontra a todo momento em condições de enfrentar qualquer ataque, vencendo sempre, a não ser nos casos isolados em que o sentimento nacional se aglutina e, num esforço supremo, vence o poder organizado do exército. Mas isso somente acontece em momentos históricos de grande emoção.” Baseado nos trechos acima, responda: a) Em sala, fizemos um resumo da história fictícia contada por Ferdinand Lassale. Contextualize a história mencionada em sala com os trechos acima. A história apresentada por Lassalle menciona os efeitos do poder popular sobre as normas constitucionais, em especial aquelas relacionadas à estrutura do Estado. Segundo o autor, uma vez destruído o único exemplar das normas que regem o Estado, este certamente não seria mais o mesmo. Na verdade, o que aconteceria é a influência da sociedade para que um novo conjunto de normas fosse criado. Nesse caso, a essência da Constituição seria a soma de fatores reais do poder. A Constituição escrita não valeria muito. A história, segundo o autor, se relaciona com as revoluções ocorridas na Europa durante os anos de 1848, à medida em que a revolta popular gerou comoções políticas. Segundo o autor, a sociedade, se organizada que nem as forças do Estado (exército) teriam a capacidade de tomar o poder e governar segundo seus próprios preceitos, ou estabelecer normativas. b) Você concorda? Sim. A força popular tem grande relevância no debate político, inclusive no que tange à organização estatal. Entretanto, não existe uma organização social capaz de, por si mesma, exercer o poder político, apesar de existirem normativas constitucionais no direito brasileiro que permitem a participação popular nas questões políticas. 02. Em fevereiro de 1999, Hugo Chávez assume a Presidência da Venezuela, após ter sido escolhido em eleições diretas. Em seu juramento de posse, extraído da Revista ISTO É, afirmou: "Juro perante Deus, juro perante a pátria, juro diante do meu povo e sobre essa Constituição moribunda que farei cumprir as transformações democráticas necessárias para que a República tenha uma nova Carta Magna, adequada aos novos tempos. A Constituição, e com ela o malfadado sistema político que gerou há 40 anos, tem que morrer. Vai morrer, senhores, aceitem esse fato." Responda, citando os fenômenos constitucionais provenientes da ruptura da ordem-jurídica e ocasionados pela promulgação de um novo ordenamento constitucional: a) Como afirmou em seu juramento, Hugo Chávez convocou uma Assembleia Constituinte para elaboração de uma nova Constituição para seu país. Com a promulgação da nova Carta Magna o que ocorre com a Constituição anterior, a moribunda citada no juramento, se a nova Constituição silenciar-se a respeito? Em regra, assim que promulgada uma nova Constituição, a Constituição anterior fica revogada inteiramente, em respeito ao princípio da unidade constitucional. É possível, entretanto, que o legislador transcreva alguns trechos da velha na nova, perpetuando o conteúdo dos trechos transcritos; mas o restante da norma fica inteiramente revogada. Isso ocorre porque há uma ruptura com o sistema jurídico anterior, chamada de revogação de sistema. Além disso, é preciso se ater ao fato de que, como norma fundamental do Estado e fundamento de validade de todo o ordenamento jurídico, não é possível que existam duas Constituições concomitantemente, razão pela qual a velha é revogada. b) E o ordenamento infraconstitucional? A análise a respeito do ordenamento infraconstitucional frente à promulgação de uma nova Constituição deve ser feita sob a ótica da recepção das normas. Isso porque, em tese, a nova Constituição recepciona as normas infraconstitucionais que com ela são compatíveis e descarta aquelas que não são compatíveis. Assim, o ato de recepção é aquele por meio do qual o ordenamento jurídico acolhe e torna suas normas de outro ordenamento, onde tais normas permanecem materialmente iguais, mas não são mais as mesas com respeito à forma. Por meio da recepção das normas, toda a legislação ordinária, federal, estadual e municipal que não seja incompatível com a nova Constituição conserva sua eficácia, constituindo o chamado princípio da continuidade da ordem jurídica. Isso ocorre em razão do vácuo legislativo que se tornaria na hipótese de ocorrer uma ruptura completa com o ordenamento jurídico infraconstitucional. Entretanto, a filtragem com relação às normas recepcionadas e não recepcionadas pode ser demorada, visto que nem sempre é identificável a norma não recepcionada. c) O que ocorrerá se o novo poder constituinte desejar manter, no ordenamento jurídico, disposição da Constituição anterior (na própria Constituição nova ou como norma infraconstitucional)? Ocorre a chamada desconstitucionalização, por meio da qual a norma deixa de ter ordem constitucional e passa a ser infraconstitucional. Entretanto, é necessário que essa opção do legislador esteja expressamente prevista pela Constituição em vigor, sob pena de revogação. É possível, ainda, transcrever o dispositivo da norma na nova Constituição. 03. Analise, abaixo, o Decreto do Governo do Estado de São Paulo, bem como trecho do voto do Ministro do STF, Moreira Alves, na Representação n.º 980, em que se apreciava a constitucionalidade do referido Decreto Estadual: “Decreto 7.864, de 30 de abril de 1976: Determina providências ao não cumprimento de textos arguidos de inconstitucionalidade. (...) Art. 1.º Quando dispositivos vetados por infringência do artigo 22 e seu parágrafo único, da Constituição do Estado (Emenda n.º 2), venham a ser promulgados em consequência da rejeição do veto, a Assessoria Técnico-Legislativa comunicará o fato por ofício: (...) II – Às Secretarias de Estado, a que interessarem os dispositivos, inclusive às autarquias que lhes estejam vinculadas, a fim de que se abstenham da prática de atos que importem na sua execução;” “Não tenho dúvida em filiar-me à corrente que sustenta que pode o Chefe do Poder Executivo deixar de cumprir – assumindo os riscos daí decorrentes – lei que se lhe afigure inconstitucional. A opção entre cumprir a Constituição ou desrespeitá-la para dar cumprimento à lei inconstitucional é concedida ao particular para a defesa do seu interesse privado. Não o será ao Chefe de um dos Poderes do Estado para a defesa, não do seu interesse particular, mas da supremacia da Constituição que estrutura o próprio Estado? Acolho, pois, a fundamentação – que, em largos traços, expus – dos que têm entendimento igual. (...) De qualquer sorte, é certo que ao Poder Judiciário continua reservado dizer a última palavra sobre a existência, ou não, da inconstitucionalidade (...).” (STF – Representação n.º 980 – Rel. Ministro Moreira Alves – data do julgamento em 21.11.1979). Responda os itens abaixo acerca do controle de constitucionalidade repressivo exercido pelo Poder Executivo.a) Perceba que o Decreto e a decisão do STF foram editados/proferidas antes da Constituição de 1988. Haveria razão para crer que, após a Constituição de 1988, o entendimento sobre a temática seria outro? Por que? Sim. Anteriormente à Constituição de 1988, a legitimidade para propor ADIn era o Procurador Geral da República, não o Chefe do Executivo. Dessa forma, não haveria como o Chefe do Executivo ajuizar uma ação especialmente para que fosse declarada inconstitucional determinada norma, razão pela qual se justificaria a não aplicação da norma que acreditasse ser inconstitucional. Com a CF/88, entretanto, o Chefe do Executivo passou a ser legitimado para a propositura de ADIn’s. Assim, não se justificaria sua recusa em aplicar determinada norma, ante à possibilidade de fazer o controle concentrado de constitucionalidade, por meio da propositura de ação específica para esse fim. b) Como tem-se posicionado a doutrina e a jurisprudência atuais sobre o tema? Atualmente, a jurisprudência com relação a isso ainda é confusa, tendo em vista que existem decisões que não estabelece critérios com relação à legitimidade para fazer esse tipo de controle. Existem, inclusive, decisões que afirmam que os membros do Poder Executivo podem fazer o controle repressivo. c) Sabedor de sua prerrogativa (criada pela jurisprudência do STF), no sentido de rejeitar a aplicação de normas inconstitucionais, não poderia o Chefe do Poder Executivo “burlar” o poder que o Congresso Nacional possui para “derrubar” o veto? Em outras palavras, de que adiantaria a Constituição conceder a “última palavra”, quanto à criação da norma jurídica (mediante a “derrubada” do veto), ao Congresso Nacional, se o STF permite que o Chefe do Poder Executivo deixe de aplicar a norma pelo fundamento da inconstitucionalidade? É claro que, ante a essa situação, há a formação de uma insegurança jurídica e de estremecimento do princípio da separação dos poderes. Em razão dessa situação anômala, a atitude correta seria, após a rejeição da norma, o ajuizamento de ação competente para a realização de controle concentrado de constitucionalidade. É preciso ressaltar que a rejeição da norma atingiria apenas o aspecto da eficácia e não o aspecto da validade. Ou seja, mesmo que o Chefe do Poder Executivo deixe de aplicar a norma sob o fundamento da inconstitucionalidade, esta decisão apenas se aplicaria ao caso analisado, não suscitando a invalidade da norma jurídica. Isso, entretanto, pode desencadear uma série de problemas nos casos concretos, inclusive novas ações que buscam a análise da constitucionalidade da norma rejeitada. Por isso, existem mecanismos constitucionais de responsabilização civil daqueles que aplicam a norma sob o fundamento da inconstitucionalidade na forma de abuso do poder. 04. É sabido que por meio da recepção a novel Constituição acolhe, ou não, norma do ordenamento jurídico infraconstitucional que a precede. Sabe-se, entretanto, que tal análise possui maior relevo no tocante a (in)compatibilidade material, pois no plano formal as normas anteriores ganham nova “roupagem”. Daí porque Jorge Miranda, constitucionalista português, prefere o termo novação ao uso da expressão recepção. Ou seja, caso determinada norma seja acolhida pela Constituição posterior, ela terá mantida a mesma característica material, modificando, eventualmente, apenas sua característica formal. Quanto ao tema, responda: a) Você concorda com a expressão “ela terá mantida a mesma característica material”? A norma recepcionada, mesmo que compatível com a Constituição nova, deverá ser analisada de acordo com essa nova Constituição. Isso implica em dizer que, segundo Barroso (2001, p. 73), embora o texto da norma recepcionada permaneça o mesmo, poderá ela merecer leitura e interpretação diversas, quando o novo ordenamento esteja pautado por princípios e fins distintos do anterior. Dessa forma, é possível que, materialmente, a norma seja modificada. b) Sabemos que nem sempre a norma recepcionada, sob o ponto de vista formal, precisará de uma nova “roupagem”. É que, na maioria das vezes, a “roupagem” anterior se coaduna com as regras da nova Constituição. Sendo assim, nesses casos [em que não há necessidade de nova “roupagem”], poderíamos afirmar que houve novação? Ou a norma, sob o ponto de vista formal, permaneceu a mesma? E sob o ponto de vista material? Em outras palavras, novação diz respeito às características formais, materiais ou ambas? A novação diz respeito às características materiais da norma. Isso porque se trata do sentido dado à norma infraconstitucional a partir de sua análise sob a ótica da ordem constitucional em vigor. Ou seja, a norma recepcionada obterá diferentes aspectos materiais quando interpretada sob a luz da nova Constituição. O aspecto formal, entretanto, não aplica à norma nova interpretação, mas tão somente a adequada aos moldes legislativos estabelecidos pela nova Constituição. c) Seria possível imaginar alguma hipótese em que, mesmo sob o ponto de vista formal, estaria vedada a recepção (ou seja, uma situação em que a incompatibilidade formal por si fosse suficiente para vedar a recepção)? (obs.: essa questão exige uma reflexão um pouco mais aprofundada; não se preocupem em acertar. O importante é, ao menos, refletir sobre ela.) Na minha opinião, não. Isso porque, ao que parece, o fenômeno da recepção analisa unicamente o aspecto material da norma, visto que é este aspecto que influencia nos efeitos produzidos por ela. Uma norma formalmente incompatível com a Constituição pode ter seu aspecto formal modificado, mesmo que tenha sido construído sob a vigência de um regime/situação sócio-político incompatível com a nova Constituição. Sim. Norma que anteriormente era Estadual e passa a ser de competência Federal, como os Códigos Penais. 05. Leia a frase pronunciada pelo Min. Gilmar Mendes, publicada no jornal A Tribuna, do dia 19.06.2013: “Se a torcida a torcida do Flamengo e do Corinthians têm dúvida sobre a constitucionalidade de um projeto de lei, por que não leva para a CCJ, que é o fórum adequado? Na verdade, se queria fazer uma aprovação célere, sem exame por parte das comissões técnicas, sem debate, ao contrário do que está se afirmando, concluiu o ministro.” Obs.: o tema acima é relativo ao Mandado de Segurança 32033 (STF). Veja, também, a entrevista concedida pela Presidente Dilma Rousseff ao jornal O Globo, no dia 13.12.2012. “MOSCOU — A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira em Moscou que, ao vetar artigos do projeto que muda as regras de divisão dos royalties do petróleo, esgotou tudo o que poderia fazer nesta questão. Sem as emendas, os estados produtores, como o Rio, sairão prejudicados. Mas Dilma disse que agora, tudo o que pode fazer, é esperar a decisão do Congresso. Na quarta-feira, a maioria dos deputados e senadores votou pelo regime de urgência na apreciação do veto da presidente Dilma Rousseff ao texto que redistribuía os recursos e causava perdas para os estados produtores. A apreciação definitiva sobre a questão poderá ocorrer já na próxima semana. — Eu estou aqui, o Congresso está lá. Já fiz todos os pleitos, o maior deles, foi vetar. Não tenho mais o que fazer! Não tem nenhum gesto meu mais forte do que o veto. O resto seria impossível — disse Dilma.” (Jornal O Globo, dia 13.12.2012). As razões do veto foram as seguintes: “As novas regras de distribuição dos royalties previstas no art. 3o do projeto, ao não ressalvar sua aplicação aos contratos já em vigor, violam frontalmente o disposto no inciso XXXVI do art. 5o e no § 1o do art. 20 da Constituição. Os royalties fixados na legislação em vigor constituem uma compensação financeira dada aos Estados e Municípios produtores e confrontantes em razão da exploração do petróleo em seu território. Devido a sua natureza indenizatória, os royalties incorporam-se às receitas originárias destes mesmos entes, inclusive para efeitos de disponibilidade futura. Trata-se, portanto, de uma receita certa, que, em vários casos, foi objetode securitização ou operações de antecipação de recebíveis. A alteração desta realidade jurídica afronta o disposto no inciso XXXVI do art. 5o e o princípio do equilíbrio orçamentário previsto no art. 167, ambos da Constituição Federal.” Perceba, assim, que a razão do veto se deu em função da inconstitucionalidade do art. 3o da norma. Pergunta-se: a) Pelas informações acima, a Presidente da República exerceu o controle prévio de constitucionalidade. De acordo com a “tabela” que desenhamos em sala, quem mais exerce essa forma de controle (e de que forma)? O controle de constitucionalidade preventivo pode ser realizado pelo Poder Legislativo, por meio das CCJ’s, e pelo Poder Judiciário, por meio dos mandados de segurança que versem sobre defeitos no processo legislativo pelo qual passou a norma impugnada, ou nos casos em que há a impugnação de PEC que fere os direitos fundamentais (art. 60, §4º, da CF). b) Diz-se que o Presidente da República também pode exercer um controle repressivo de constitucionalidade. Como que se dá essa forma de controle? O Presidente da República pode exercer um controle repressivo por meio da abstenção da aplicação de uma norma por entende-la inconstitucional. c) Baseado no âmago da decisão do Min. Gilmar Mendes a que se refere a reportagem de A Tribuna (Mandado de Segurança 32.033), qual é seu fundamento base para entender que é possível o controle prévio material (de conteúdo) de constitucionalidade? Qual foi o entendimento do STF nessa questão (ou seja, o Min. Gilmar Mendes foi seguido pelos demais ministros)? Qual o entendimento atual do STF? Ao dizer que existia a possibilidade de as torcidas direcionarem seu pleito logo durante a tramitação do projeto de lei, o Ministro deixou claro a existência de um controle preventivo. Isso porque, ao analisar a constitucionalidade de uma lei antes mesmo de esta passar a produzir efeitos, o Poder Legislativo começa a exercer um controle preventivo por excelência. Nesse caso, entendeu-se que não é possível fazer o controle jurisdicional de constitucionalidade material de projetos de lei; ou seja, o Poder Judiciário, em regra, não pode influenciar o Poder Legislativo e a construção de novas normas, sob pena de violação à separação de poderes. O entendimento atual do STF, na verdade, indica que apenas o sentido forma da norma a ser formada pode ser analisado, sob o aspecto da Constitucionalidade, pelo Poder Judiciário. Por isso, uma das hipóteses de intervenção deste Poder no Poder Legislativo é quando identificados problemas na tramitação do projeto de lei pelas casas legislativas. Nestes casos, o parlamentar teria legitimidade para impetrar mandado de segurança. 06. Em 16.03.2019, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, editou o Decreto n. 9.731/19, pelo qual dispensou o visto de visita para os nacionais da Comunidade da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos da América e do Japão. Por sua vez, noticiou a mídia a seguinte notícia: “BRASÍLIA — O governo está preocupado com a possibilidade de sofrer nova derrota no Congresso na votação das propostas para suspender o decreto do presidente Jair Bolsonaro que concede a turistas da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos e do Japão dispensa de visto para entrar no Brasil. O alerta identificado pela articulação política foi que os posicionamentos públicos contra a medida do presidente ultrapassaram a fronteira da oposição. Parlamentares de partidos simpáticos ao governo e independentes ocuparam as tribunas da Câmara e do Senado, durante a semana, para atacar a decisão anunciada por Bolsonaro, durante a visita aos Estados Unidos. A oposição apresentou, nas duas Casas, projetos que sustam os efeitos do decreto. Para líderes governistas, porém, está claro que a proposta está ganhando o apoio para além de parlamentares da oposição.” (O Globo, em 21.03.19). Pergunta-se: a) Como, tecnicamente (ou seja, qual o respaldo jurídico), o Congresso poderia suspender esse Decreto? Em razão do princípio da separação dos poderes, é cediço que a função típica do Poder Executivo não é propriamente legislar. Na verdade, esta função é incumbida, constitucionalmente ao Poder Legislativo. Entretanto, é possível que o Poder Executivo exerça atos legislativos, atipicamente, como por meio dos Decretos Presidenciais. Ocorre que, justamente em razão do princípio da separação dos poderes, a própria Constituição define que, caso os atos normativos do Poder Executivo exorbitem do poder de regulamentar ou dos limites de delegação legislativa, é da competência do Congresso sustar os Decretos firmados (art. 49, V, CF). b) Qual a relação dessa temática com o controle de constitucionalidade? Ao sustar os efeitos do Decreto Presidencial com fundamento no art. 49, V, da CF, o Congresso estará realizando um controle repressivo de constitucionalidade. c) Na sua opinião, esse intento seria possível (não me refiro ao mérito do debate, mas, sim, a possibilidade dessa suspensão)? Sim. A possibilidade de suspensão de Decreto editado pelo presidente da República se trata de uma forma de controlar o poder normativo do Poder Executivo, em respeito à separação dos poderes. 07. Analise o texto abaixo de Thomas Grey (Stanford University): “Until World War II, the United States was the only legal system to have active judicial review, and it was also the legal system within which a functionalist or pragmatist rather than a formalist approach to law generally was best established in legal education, commentary, and judicial discourse. What is the connection between these two phenomena?” (Grey, Thomas C., Judicial Review and Legal Pragmatism) De acordo com o discutido em sala (influência cultural no direito e, especificamente, no controle de constitucionalidade), comente o texto acima e a importância de contextualizar o controle de constitucionalidade norte-americano e austríaco (para se compreender o instituto de forma global). A análise dos controles de constitucionalidade consagrados nos EUA e na Áustria tem grande importância em razão da influência jurídica que ambos os Estados possuem nos ordenamentos jurídicos ao redor do mundo. Com relação ao controle de constitucionalidade em si, os sistemas adotados pelos países consagraram os controles incidentais (EUA) e controles abstratos (Áustria) de constitucionalidade das normas. Nos EUA, por exemplo, uma característica latente no ordenamento jurídico é justamente o pragmatismo, o qual fez com que houvesse a consolidação da primazia da resolução do caso concreto. Neste caso, não existem formas diretas de se realizar o controle de constitucionalidade de uma norma, mas tão somente há o controle realizado incidentalmente quando aplicada a norma a um caso concreto, o que é fortalecido pelo sistema de precedentes adotado. Trata-se, portanto, de um controle incidental de constitucionalidade, o qual, em tese, apenas produz efeitos para aquele caso concreto em específico. Já na Áustria, há uma grande preocupação com a teoria e com os preceitos constitucionais, o que faz com que a inconstitucionalidade de uma norma passe a ser analisada de forma direta, por meio de ações criadas especialmente para esse fim. Não há, portanto, tanta preocupação com o caso concreto em si, mas tão somente com a constitucionalidade da norma. 08. Lenio Luiz Streck (in Jurisdição Constitucional e Hermenêutica: uma nova crítica do Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. p. 393-394), discorrendo sobre a arguição do incidente de inconstitucionalidade, dispõe: “Agregue-se que a questão da ausência do (necessário) controle de constitucionalidade por parte dos tribunais não aflige somente o Direito brasileiro. Com efeito, questão semelhante se apresentou em Portugal, que resultou no acórdão nº 200/98, quando o Supremo Tribunal de Justiça deixou de exercer o controle difuso de constitucionalidade. Comentando o citado acórdão, Jorge Miranda (in O Tribunal Constitucional em 1998. Spara da Revista “O Direito”, ano 130, 1998, III-IV, p. 377-378.) assim referiu: ´Eis um caso estranho,dificilmente explicável, de aparente desconhecimento pelos juízes do mais alto tribunal judicial das regras básicas do sistema português de garantia da constitucionalidade um sistema misto em que os tribunais em geral e o Tribunal Constitucional em especial desempenham papéis bem marcados. Em primeiro lugar, ao não aplicar a lei da anistia, mas sem assumir um juízo sobre a sua constitucionalidade – por ficar a aguardar a decisão do TC em processo diferente, o de fiscalização abstrata – o STJ desconsiderou o seu próprio poder [dever] (e dos demais tribunais) de conhecer e decidir todas as questões de inconstitucionalidade surgidas nos feitos submetidos a julgamento (art. 204º da Constituição, sucessor do art. 63 da Constituição de 1911 e do art. 123º da Constituição de 1933). Por outro lado, dir-se-ia ter ignorado a natureza dos processos de fiscalização sucessiva – por definição processos objetivos, sem partes, Ora, assim, as pessoas envolvidas no caso concreto, beneficiária das anistias, ficavam impedidas de intervir e, por conseguinte, tinham os seus direitos de defesa atingidos. (...)´” Por outro lado, analise a seguinte afirmação: “Nem irá um tribunal, como regra geral, apreciar uma questão constitucional, considerando, assim, determinado dispositivo legal como inválido, a não ser que a decisão a respeito da inconstitucionalidade seja determinante para a resolução da causa”. (Cooley, Treatise on the constitutional limitations which rest upon the legislative powers of the states of the American union. p. 196) (citado por José Levi Mello do Amaral Júnior in Incidente de arguição de inconstitucionalidade, p. 58) (tradução livre). Examine os textos acima, levando-se em conta o tema “A imprescindibilidade do exame da inconstitucionalidade”, analisado em sala, sem deixar de comentar os postulados de Louis Brandeis. A obrigatoriedade a respeito da análise da Cosntitucionalidade da norma quando esta é impugnada é diversa a depender do sistema adotado. No sistema adotado pelos americanos, em razão da primazia da resolução do caso em concreto, apenas será necessário fazer a análise da cosntitucionaldiade da norma caso seja imprescindivel para a resolução do caso concreto. Já no sistema adotado pelos austríacos, essa análise é importante independentemente de seus efeitos no caso concreto. A partir da leitura dos trechos, é possível observar isso de forma clara. Streck aponta uma caracterísitca do ordenamento jurídico brasileiro clássica do sistema austríaco, qual seja a análise obrigatória da cosntitucionalidade da norma. No segundo trecho, entretanto, há a explicação a respeito do sistema adotado pelos americanos, mais pragmáticos, de resguardar a análise da cosntitucionaldiade da norma apenas quando essencial para a resolução do caso concreto. 09. Analise os trechos abaixo que dizem respeito à decisão de John Marshall, no caso Marbury v. Madison. Faça suas observações sobre os pontos principais dos trechos abaixo, segundo o contexto histórico-político da época: “(…) em 1802, nos jornais e no Congresso foi a Corte violentamente atacada, sugerindo James Monroe o impeachment contra os seus juízes, se ousassem aplicar os princípios da Common Law à Constituição. A mesma providência foi pleiteada, dias antes da decisão, por um jornal oficioso do governo, o Independent Chronicle, de Boston, segundo o qual a concessão da medida significaria Guerra entre departamentos constituídos. Se concedida, a medida certamente não seria cumprida”. (RODRIGUES, Lêda Boechat. A Corte Suprema e o direito constitucional americano. Rio de Janeiro: Forense, 1958. p. 35.) “(...) Aqueles, portanto, que controvertem o princípio de que a Constituição deve ser considerada na Corte, como um Direito supremo, são levados à necessidade de provar o fato de que os tribunais devem fechar seus olhos sobre a Constituição e ver apenas a lei. Essa doutrina subvertia o próprio fundamento de todas as constituições escritas. Ela declararia que uma lei que, segundo os princípios e a teoria de nosso Governo for inteiramente nula, seria ainda, na prática, perfeitamente obrigatória. Declararia que se o Legislativo fizer o que é expressamente proibido, tal ato, todavia, apesar da proibição, será em verdade válido. Estaria dando ao Legislativo uma onipontência prática e real, com o mesmo alento com que professa a restrição de seus poderes dentro de limites escritos. É prescrever limites e declarar que aqueles limites podem ser ultrapassados por prazer.” (Trecho traduzido do voto de Marshall citado in MORAES, Alexandre de. Jurisdição constitucional e tribunais constitucionais. São Paulo: Atlas, 2003,. p. 98.) “In the order in which the court has viewed this subject, the following questions have been considered and decided: 1st. Has the applicant a right to the commission he demands? 2dly. If he has a right, and that right has been violated, do the laws of his country afford him a remedy? 3dly. If they do afford him a remedy, is it a mandamus issuing from this court?” [U.S. Supreme Court, MARBURY v. MADISON, 5 U.S. 137 (1803) - 5 U.S. 137 (Cranch) February Term, 1803]
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