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3 - Prerrogativas do Advogado

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Filipe Cordeiro Kinsky 
 PRERROGATIVAS DOS ADVOGADOS 
 
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1) Introdução 
Art. 6º Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e membros do 
Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos. 
Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os serventuários da justiça devem 
dispensar ao advogado, no exercício da profissão, tratamento compatível com a dignidade da 
advocacia e condições adequadas a seu desempenho. 
2) Das Prerrogativas 
O Estatuto da OAB traz, no seu art. 7º, um rol exemplificativo de direitos do advogado. 
a) Quanto a Liberdade de Exercício da advocacia no território nacional 
I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional; 
*Contudo, no caso de manejar mais do que 5 ações em um Estado da federação que não 
aquele ao qual está vinculado à seccional, terá que realizar uma inscrição suplementar.
b) Quanto a inviolabilidade relativa de domicílio – estendida aos escritórios 
II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de 
trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que 
relativas ao exercício da advocacia. 
§ 6o Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, 
a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade de que trata o 
inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada, expedindo mandado de busca e 
apreensão, específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença de representante da OAB, 
sendo, em qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos 
pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de 
trabalho que contenham informações sobre clientes 
§ 7o A ressalva constante do § 6o deste artigo não se estende a clientes do advogado 
averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partícipes ou coautores 
pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra da inviolabilidade. 
*A inviolabilidade de domicílio– que se estende aos escritórios – é relativa, não pode ser 
utilizada para acobertar a prática de ilícitos. 
São requisitos para a quebra da inviolabilidade: (i) Indício de autoria e materialidade de crime 
– cometido pelo advogado, e não pelo cliente. (ii) Determinação judicial motivada; (iii) 
Mandado de busca e apreensão não-genérico – ou seja, específico e pormenorizado; (iv) 
Presença de membro da OAB na averiguação; 
c) Quanto ao acesso ao cliente preso 
III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, 
quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou 
militares, ainda que considerados incomunicáveis; 
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*Constituindo-se em direito líquido e certo, é possível impetração de Mandado de Segurança 
no caso de lhe ser negado acesso aos autos do inquérito ou o contato com o cliente preso. 
*Essa prerrogativa também se aplica se o cliente for militar, preso em estabelecimento militar. 
*Ainda, essa prerrogativa se aplica tão somente com a apresentação da identificação como 
advogado, não sendo necessária procuração.
d) Quanto a Prisão em Flagrante por crime cometido no exercício da advocacia 
IV - ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao 
exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais 
casos, a comunicação expressa à seccional da OAB; 
*Se o crime for afiançável, o advogado não estará sujeito a prisão em flagrante. No caso de 
crime inafiançável, ele poderá ser preso em flagrante, desde que tenham sido lavrados os 
autos na presença de um representante da OAB – O STF tem entendimento no sentido da 
nulidade da prisão em flagrante tão somente se a OAB não for devidamente avisada.
e) Quanto a Prisão Domiciliar (sala de Estado Maior) 
V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado 
Maior, com instalações e comodidades condignas, e, na sua falta, em prisão domiciliar; 
*O termo “Sala de Estado Maior” se refere a instalações dentro da marinha, exército ou 
aeronáutica. Não havendo, deve o advogado aguardar o transito em julgado em prisão 
domiciliar.
f) Quanto ao direito de acesso do Advogado ao Magistrado 
VIII - dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de trabalho, 
independentemente de horário previamente marcado ou outra condição, observando-se a 
ordem de chegada; 
Os Advogados têm direito de acesso direto aos Magistrados tanto nas salas de audiência 
quanto nos gabinetes de trabalho. Além do mais, que fique claro, a lei se utiliza do termo 
“magistrado” o que é interpretado de forma ampla, enquadrando-se ai todos os juízes, 
desembargadores e ministros. 
Ainda, vale ressaltar que do termo “acesso direto” infere-se que o contato entre o advogado e 
o magistrado deve ser direto, sem intermediação de assessores, secretárias, estagiários, etc. 
Por fim, importante notar que o acesso do advogado ao magistrado independe de prévio 
agendamento, sendo que a única coisa que deve ser respeitada é a ordem de chegada.
g) Quanto ao direito de examinar autos judiciais ou administrativos 
XIII - examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da Administração 
Pública em geral, autos de processos findos ou em andamento, mesmo sem procuração, 
quando não estejam sujeitos a sigilo, assegurada a obtenção de cópias, podendo tomar 
apontamentos; 
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Os Advogados, mesmo sem procuração, têm como prerrogativa o poder de examinar 
quaisquer autos – inclusive podendo obter cópias e fazer apontamentos –, não se limitando 
essa prerrogativa ao Poder Judiciário, mas estendendo-se, inclusive, aos autos que se 
encontram em órgãos dos Poderes Legislativo e Executivo. 
A única exceção quanto ao acesso aos autos diz respeito aqueles processos emantados por 
sigilo, casos em que o acesso só será garantido com procuração. 
Esse direito se estende, inclusive, aos autos de inquéritos policiais, por força expressa de lei: 
XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e 
de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar 
peças e tomar apontamentos; 
A despeito do sigilo ser uma característica dos inquéritos policiais, há direito ao acesso, mesmo 
sem procuração. Só não será possível o acesso aos autos sem procuração nos casos de crimes 
que albergados por segredo de justiça. Exemplo: Estupro. 
Súmula Vinculante nº 14 do STF É direito do defensor, no interesse do representado, ter 
acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório 
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do 
direito de defesa. 
Vale dizer que, quando há negativa de acesso aos autos, o advogado pode (i) utilizar-se da 
Reclamação ao STF, já que tal negativa consubstanciara-se em uma contradita à súmula 
vinculante nº 14; (ii) Pode-se, ainda, utilizar-se de Mandado de Segurança, já que restaria 
lesado direito DO ADVOGADO de ter acesso aos autos (já que a Lei da OAB prevê o acesso do 
advogado aos procedimentos administrativos); (iii) Pode-se, por fim, vislumbrar a utilização do 
Habeas Corpus Preventivo, impetrado em nome do investigado, desde que haja a 
possibilidade de risco a liberdade de locomoção – o crime investigado deve, portanto, prever 
pena privativa de liberdade –.
h) Quanto ao Desagravo Público 
XVII - ser publicamente desagravado, quando ofendido no exercício da profissão ou em razão 
dela; 
Quando o advogado, por ser advogado ou pelo exercício de suas funções sofrer algum tipo de 
ofensa ou tiver alguma de suas prerrogativasvioladas, a OAB fará um desagravo público, ou 
seja, uma espécie de “carta aberta” na qual repudiara o ocorrido, desagravando o advogado. 
Art. 7º § 5º No caso de ofensa a inscrito na OAB, no exercício da profissão ou de cargo ou 
função de órgão da OAB, o conselho competente deve promover o desagravo público do 
ofendido, sem prejuízo da responsabilidade criminal em que incorrer o infrator. 
Ainda, vale dizer, o Desagravo é um direito do Advogado, mas não depende de sua anuência, 
ou seja, a OAB poderá desagravá-lo publicamente mesmo contra a sua vontade.
i) Quanto ao Direito-Dever do Advogado de se recusar a depor como testemunha 
Em alguns casos é não só direito como dever do advogado se recusar a depor como 
testemunha. Os casos são bastante presumíveis: 
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(i) Nos casos em que advogou ou deva advogar; 
(ii) Nos casos relacionados com clientes ou ex-clientes; 
(iii) Nos casos em que ele incorra em sigilo profissional. 
Mesmo que lhe seja pedido pelo constituinte – quem requer a prova testemunhal –, ele não 
poderá testemunhar. Trocando em miúdos, mesmo nos casos em que o próprio cliente lhe 
peça para testemunhar, ele não poderá fazê-lo, já que o sigilo profissional é não só um direito 
do advogado, como um dever.
j) Direito de Retirada 
XX - retirar-se do recinto onde se encontre aguardando pregão para ato judicial, após trinta 
minutos do horário designado e ao qual ainda não tenha comparecido a autoridade que deva 
presidir a ele, mediante comunicação protocolizada em juízo. 
Se o juiz ainda não tiver comparecido ao local da audiência após 30 minutos após o horário 
agendado para o pregão ou ato judicial, o advogado poderá se retirar do forúm, desde que 
protocole em juízo sua retirada. 
Importante notar que se faz imprescindível a ausência do juiz. Se o juiz estiver presente, 
executando outros atos, não há direito de retirada, só restando ao advogado aguardar.

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