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Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos APRESENTAÇÃO Diante das preocupações com o rápido crescimento industrial, as transformações nas relações de trabalho e o empobrecimento das comunidades rurais, surgiu, nos Estados Unidos, a chamada sociologia da vida rural, que tinha por objetivo a concentração de esforços no sentido de buscar ações estratégicas com o intuito de apoiar as comunidades rurais necessitadas, através da oferta de conhecimentos acerca das produções e da melhoria da qualidade de vida do produtor rural, utilizando métodos de organização e educação. Nos dias atuais, a extensão rural apresenta fundamental importância no desenvolvimento das atividades rurais. Mesmo atuando de diferentes formas no setor agropecuário, tanto a extensão rural como a assistência técnica são essenciais no progresso agrário, mas é preciso compreender seus fundamentos a fim de que sejam adotadas as estratégias adequadas para o objetivo que se deseja alcançar. Nesta Unidade de Aprendizagem, você entenderá a diferença entre extensão rural e assistência técnica e conhecerá mais sobre o papel da extensão rural e sua função no setor agropecuário brasileiro. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Determinar quais são os conceitos fundamentais para o extensionista. • Distinguir a extensão rural da assistência técnica.• Reconhecer a importância e a função da extensão rural no contexto agropecuário brasileiro. • DESAFIO O estado do Rio Grande do Norte é o maior produtor de camarão branco marinho do Brasil. A região apresenta clima e condições essenciais para o cultivo da espécie Litopenaeus vannamei. No entanto, com a chegada do vírus da mancha branca, doença que acomete esses animais e causa drásticas mortalidades em pouco tempo, muitos cultivos foram acometidos, e a população dos viveiros de camarões foi dizimada, gerando um enorme prejuízo aos produtores. Percebendo o que estava ocorrendo com Jonas e algumas outras propriedades, a EMATER do Rio Grande do Norte encaminhou um técnico de campo para verificar a situação do produtor e da região. O técnico de campo com experiência em cultivo de camarões marinhos é escolhido para avaliar o caso. Chegando na fazenda de Jonas, o técnico da EMATER observa que o modelo de cultivo utilizado e as práticas realizadas na fazenda comprometem o sucesso do sistema produtivo. Considerando as novas tecnologias desenvolvidas para o cultivo de camarões marinhos, estas apresentam bons ganhos produtivos, diminuem a oferta de ração e disponibilizam um ambiente mais biosseguro aos animais. Sendo você o técnico de campo, como se utilizaria da extensão rural para transferir o conhecimento? Reflita sobre como abordaria o assunto com os produtores e incentivaria o investimento e os esforços nessa nova técnica de cultivo, descreva como faria na prática esse trabalho. INFOGRÁFICO Assim como novas tecnologias foram surgindo e aprimorando o processo produtivo ao longo dos anos, as metodologias utilizadas para a extensão rural também foram sendo modificadas. Com a evolução nos processos produtivos e as alterações na sociedade como um todo, também é preciso voltar os olhos às metodologias extensionistas, a fim de garantir sua efetividade para a sociedade. A avaliação constante de metodologias extensionistas faz-se necessária, visto que é partir dessa avaliação que se pode verificar a eficiência do método escolhido para determinado grupo de produtores rurais. E, com as mudanças nos tipos de metodologias adotadas, também é preciso alterar as formas de analisar se os métodos adotados estão sendo bem-sucedidos. No Infográfico a seguir, você verá alguns exemplos de indicadores de sucesso na aplicação de metodologias de extensão rural em diferentes níveis de abordagem. CONTEÚDO DO LIVRO A extensão rural é uma atividade que vem, nas últimas décadas, sofrendo mudanças profundas em suas diretrizes e objetivos. Diferentes entidades da sociedade têm unido forças para levar o serviço ao patamar agroecológico, mas ainda há muitos entraves a serem vencidos. No capítulo Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos, da obra Assistência Técnica e Extensão Rural, você entenderá como os profissionais dos serviços de extensão rural são um elo entre os produtores rurais e os demais agentes da cadeia produtiva. Ademais, entenderá como as capacitações de extensionistas rurais mudaram de processos tecnicistas para processos dialógicos. Também compreenderá a diferença entre assistência técnica e extensão rural e quais os profissionais que atuam em cada atividade. Você sabia que o serviço de extensão rural é uma importante ferramenta de desenvolvimento? Siga em frente e descubra a seguir. Boa leitura. ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL Eliziane Silva Vieira Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Determinar quais são os conceitos fundamentais para o extensionista. Distinguir a extensão rural da assistência técnica. Reconhecer a importância e a função da extensão rural no contexto agropecuário brasileiro. Introdução Neste capítulo, você compreenderá a importância do serviço de extensão rural e o papel do extensionista na difusão de tecnologias e inovações para o produtor rural. Conhecerá quais são as metodologias e abordagens comumente aplicadas e a relação com o profissional, além de entender como a formação do extensionista interfere na prestação de serviços de extensão rural através do perfil assumido pelos extensionistas. O capítulo tratará, também, da capacitação incipiente em diferentes áreas (técnica, humana e social) e da limitação no atendimento ao público rural. A diferença entre os serviços de extensão rural e assistência técnica será abordada, expondo-se quem são os prestadores de cada modalidade de serviço, a influência de cada um sobre a difusão de conhecimento e tecnologias e qual seu público-alvo. A atuação dos serviços de extensão rural no Brasil, o perfil conservador das metodologias ainda utilizadas e os esforços para que os serviços de extensão rural sejam praticados com base em diretrizes agroecológicas também serão foco deste capítulo. Atividade do extensionista rural O ambiente rural é formado por distintos agentes infl uenciadores que tornam esse meio complexo. Além do próprio ambiente natural, as unidades agrícolas são compostas por seus agricultores, vendedores de insumos agrícolas, veteri- nários, organizações ambientais, pesquisadores, técnicos extensionistas, etc. Dentre todos os profi ssionais que colaboram com o funcionamento de uma unidade agrícola, o técnico extensionista é o profi ssional que atua realizando a interação entre o produtor rural e demais profi ssionais. O extensionista rural desempenha um papel educacional, que tem como objetivo a melhoria dos métodos e técnicas utilizadas nas unidades agrícolas visando à sustentabilidade econômica, produtiva e ambiental. Esse objetivo é alcançado através do entendimento da realidade do produtor rural por parte do extensionista, para que este saiba cuidadosamente transformar a realidade do sistema produtivo tornando-o mais eficiente. A transformação deve ser realizada através da educação do produtor para que não se crie uma relação de dependência pelo trabalho do extensionista. Considerado um agente transformador, o extensionista rural deve atuar divulgando oportunidades, conhecimento e tecnologias que viabilizem uma produção sustentável através do diálogo compreensível. A habilidade de comu- nicação requerida pelo extensionista é a base para o processo de transformação do conhecimento dos produtores rurais, na tentativa de substituir saberes próprios, ou mesmo ultrapassados, por novos ou alternativos. A atividade educacional promovidapelo extensionista rural requer um processo de transformação constante, de atualizações e reflexões quanto ao saber. O profissional deve ter, além da capacitação técnica, um conhecimento aprofundado nas relações humanas e na percepção das realidades locais para ser capaz de desenvolver métodos que atendam aos objetivos a serem alcançados em cada sistema produtivo. Diferentes métodos são utilizados pelo serviço de extensão rural para atender as demandas do campo. São usadas metodologias individuais, grupais e de massa, e o uso de meios de comunicação, conforme o Quadro 1. Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos2 Fonte: Adaptado de Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (2009); Petarly (2013). Individual Grupal Massa Meio de comunicação Visita técnica Unidade de demonstração Concurso Rádio, TV Contato direto Demonstração de resultados Exposição Multimeios (e-mail, website) Unidade de observação Demonstração prática, de método ou de campo Campanha Jornal Reuniões Semana especial Videoconferência Cursos Publicações educativas Excursão Dia de campo Dia especial Quadro 1. Exemplos de metodologia aplicada pelos serviços de extensão rural As metodologias individuais visam a atender às demandas de menor abrangência, mas com grande eficiência no aprendizado e no aumento real da sustentabilidade de sistemas produtivos. Permite a troca de ideias entre extensionistas e produtores, possibilitando a identificação da situação da unidade agrícola e da própria comunidade rural. Já as metodologias grupais e de massa possibilitam atingir um número considerável de produtores de uma única vez, e, quando a orientação é bem aceita, as mudanças de prática se tornam possíveis. O uso de meios de comunicação representa uma ferramenta significativa na atuação do extensionista rural. Isso se deve ao fato de que variados meios conseguem atingir um número significativo de produtores. Embora o contato não ocorra de forma direta, a rapidez da disseminação das mensagens e o baixo custo contribui para a comunicação de forma constante. Além dos meios de comunicação, as publicações educativas contribuem para popularizar diferentes temas, mensagens e processos técnicos (ASSOCIAÇÃO RIOGRANDENSE 3Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos DE EMPREENDIMENTOS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL, 2009). Além das metodologias aplicadas no serviço de extensão rural, os tipos de abordagem também influenciam o processo educativo. De acordo com Petarly (2013), as abordagens são divididas em diretiva, reativa e interativa. Abordagem diretiva: o extensionista atua de forma passiva com os pesquisadores e de forma ativa com os agricultores, que recebem a informação do extensionista sem participar dos processos de resolução das demandas da unidade agrícola, cabendo ao mesmo apenas aceitar ou não as soluções apresentadas. O foco dessa abordagem é o processo produtivo. Abordagem reativa: o extensionista assume o papel de elaborar junto aos pesquisadores formas de solucionar os problemas da unidade agrícola. O agricultor participa do processo de identificação dos problemas, no entanto, ainda é dependente do extensionista. O foco dessa abordagem também é o processo produtivo, Abordagem interativa: a relação entre extensionista e agricultor ocorre de forma horizontal. Nessa interação ambos atuam de forma ativa, identificando o problema e desenvolvendo soluções. A relação de de- pendência entre agricultor e extensionista é reduzida. O foco dessa abordagem é o processo socioeconômico de produção. Formação do extensionista rural O extensionista rural é um recurso humano que utiliza recursos e processos técnicos para fomentar o desenvolvimento agrícola. Para tal, é necessário que o profi ssional esteja sempre preparado e atualizado para atingir os objetivos propostos. Ele deve ser capaz de comunicar-se com o produtor rural, ser especializado em todos os temas que englobam a produção rural, ser fl exível e trabalhar em equipe. A ação do extensionista rural no Brasil ainda é limitada devido à carência em capacitações que formem o profissional para desempenhar diferentes funções (educador, facilitador, motivador e fiscalizador). Essa falta de qualificação dificulta a relação entre o extensionista e o produtor rural. Além disso, a vivência prática do dia a dia de uma propriedade rural é parte fundamental da formação, para que o extensionista entenda os problemas e dificuldades vivenciadas. Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos4 Assim como o meio rural vem se desenvolvendo e se atualizando, o exten- sionista rural também deve estar em sintonia com a evolução do conhecimento técnico e humano. Essas duas áreas de conhecimento são essenciais ao serviço de extensão rural e devem trabalhar em consonância. Na formação de profissionais da área de extensão rural é possível notar que ainda há um padrão predominantemente tecnicista com hiperespecializa- ção disciplinar, que acaba reduzindo a interação dos saberes. As disciplinas deixaram de se comunicar entre si para ficarem focadas apenas no seu campo de domínio. Mesmo com o desenvolvimento de métodos didáticos de inte- gração entre disciplinas para resolver os problemas da hiperespecialização, o aperfeiçoamento dos profissionais ainda apresentam limitações na integração das áreas técnica, humana e social. Multidisciplinaridade: uso de diferentes disciplinas sem qualquer in- teração mútua para a resolução de um estudo. Interdisciplinaridade: associação de conteúdos de diferentes disciplinas com enriquecimento mútuo. Transdisciplinaridade: construção de um sistema de conhecimento plural sem fronteira entre as disciplinas (BICALHO; OLIVEIRA, 2011). Muitas disciplinas ainda permanecem desconexas do contexto rural, isso ocorre pela resistência do meio acadêmico em integrar a aplicação de inovações tecnológicas com a realidade observada no campo. Outro problema na formação de extensionistas rurais é que as disciplinas de extensão rural regularmente são oferecidas ao final dos cursos de graduação, dificultando a correlação da extensão rural com as demais disciplinas (CALLOU et al., 2008). Paulo Freire foi o precursor na crítica ao modelo educativo aplicado nos serviços de extensão rural do Brasil, bem como na proposta de um método de relação dialética entre extensionista e produtor para a construção de conhe- cimentos apropriados a cada realidade. A partir desse momento, iniciativas foram tomadas para que a extensão rural fosse reestruturada e o serviço tivesse como foco a agricultura familiar e o desenvolvimento sustentável do campo, um enfoque agroecológico (CAPORAL; RAMOS, 2006). É possível perceber algumas mudanças nas diretrizes de ação do extensio- nista através da implementação da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER) no ano de 2003, pelo Ministério de Desenvolvi- mento Agrário. O profissional que antes deveria atuar de forma linear, com objetivos definidos, agora deve atuar de forma multidirecional, buscando formas de mediar as diferentes realidades das comunidades rurais. 5Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos Para que a implementação desse novo modelo de extensão rural chegue ao produtor rural é necessário que haja uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão a fim de que o serviço alcance os objetivos esperados. Extensão rural e assistência técnica Os conceitos de extensão rural e assistência técnica, embora muito simila- res, são conceitos diferentes. Basicamente o que os diferencia é o caráter educacional da extensão rural, enquanto a assistência técnica possuiu um caráter prático, de auxílio, recomendação e até mesmo prestação de serviço. O extensionista tem a missão de transmitir o conhecimento, sem que o produtor se torne dependente do auxílio constante do profi ssional,ou seja, não deve haver uma relação de dependência. Já o assistente técnico deve acompanhar o progresso do sistema produtivo. Os serviços de extensão rural atuam através de seu mediador, o extensionista rural, na busca de oportunidades e inovações passíveis de serem implementadas e no diagnóstico e resolução de problemas em cada unidade agrícola. Essa atuação possuiu uma função educativa, de levar o conhecimento científico para o público rural e gerar novas habilidades de atuação. O assessoramento técnico é feito basicamente por organizações públicas e atende prioritariamente o pequeno produtor rural. Já os serviços de assistência técnica ocorrem quando os produtores estão ap- tos a identificar e elaborar soluções, sendo necessário apenas um extensionista para resoluções de problemas pontuais, sem haver a necessidade de capacitar o produtor. Empresas privadas, como indústrias de insumos e equipamentos agropecuários, e empresas integradoras¹ prestam serviços que podem ser caracterizados como assistência técnica, devido às atividades oferecidas em vendas e pós-vendas e no público atingido, produtores patronais e empresariais. Serviço de assistência técnica rural A assistência técnica rural tornou-se uma atividade com potencial comercial a partir do momentos que as agências públicas começaram a apresentar limitações na sua atuação. Com os problemas ocorridos na década de 1990, devido à falta de investimos nos serviços de extensão rural por parte do estado, as atividades foram descentralizadas e as unidades agrícolas passaram a ser atendidas em parte por entidades privadas. Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos6 Essas entidades privadas, que prestam assessoria técnica mediante re- muneração, tendem a atuar de forma seletiva, atendendo um público dife- renciado, restringindo, assim, o domínio de informações agrícolas gerais e especializadas e de determinadas inovações tecnológicas, e desconsiderando benefícios sociais. Os profissionais das entidades privadas (vendedores, representantes, con- sultores) que atendem ao produtor rural são chamados comumente de técnicos. Isso ocorre porque as entidades privadas querem passar a ideia de que o profissional atua com atribuições de um extensionista. Esses profissionais são continuamente capacitados e atualizados em treinamentos fornecidos pelas entidades privadas. Considerando isso, com a criação da PNATER, novas orientações estratégi- cas e metodológicas foram criadas para que as entidades privadas atendessem ao público rural, desde que seguindo a sua missão e seus objetivos. No entanto o que se observa é uma baixa liberdade do agricultor quando atendidos por entidades privadas. Indústrias de insumos privilegiam seus produtos e empresas integradoras limitam a escolha das inovações tecnológicas a serem aplicadas (BRAGA; FUTEMMA, 2015). Extensão rural no Brasil Não é possível dimensionar a atuação dos serviços de extensão rural no Brasil devido à escassez de dados e informações históricas. Mesmo sabendo da sua importância, os estudos desenvolvidos na área analisam o processo de modernização da agricultura deixando vago a atuação do extensionista rural (PEIXOTO, 2009). Embora nos últimos anos os serviços de extensão rural tenham sido apri- morados de forma a contribuir para um melhor desenvolvimento da agricultura brasileira, é possível perceber que o foco da extensão rural, que no passado era produtivista, ainda se mantém ativo. Essa metodologia de atuação priorizou produtores capitalizados em detrimento dos pequenos produtores que, por não conseguirem acompanhar o poder produtivo dos grandes produtores, acabaram migrando para centros urbanos. Baseado em uma metodologia de difundir inovações tecnológicas, os extensionistas proporcionaram uma modernização considerada conservadora na agricultura brasileira. No Brasil esse padrão de serviço de extensão rural foi dominante durante algumas décadas e proporcionou resultados negativos 7Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos – além do êxodo rural, problemas ambientais e sociais também foram gerados (CAPORAL; RAMOS, 2006). Com a implantação da PNATER, as novas diretrizes focaram em atender o público rural e proporcionar uma melhor qualidade de vida para o agricultor com o desenvolvimento de uma agricultura agroecológica. No entanto é ob- servado que ainda se mantém o uso de metodologias obsoletas, ineficientes e inadequadas para alcançar os objetivos agroecológicos da nova extensão rural. A chamada “nova” extensão rural tem como objetivo promover o uso de práticas socioeconômicas e ambientais com vertentes sustentáveis, visando a qualificar os serviços de extensão rural. Mas para a implementação das novas diretrizes e objetivos é necessário o engajamento de profissionais e entidades. É necessária a cooperação de todos os atores, de forma participativa. O que se observa, contudo, é um discurso de mudança de ações, sem a materialização na prática. Mesmo com novas formas de atuação, não há um avanço significativo no serviço de extensão rural pois ele ainda é operado por instituições antigas, que pregam o uso de práticas de perfil conservador e capitalista. Embora ainda haja resistência aos novos métodos de ação dos serviços de extensão rural, muitos avanços saíram do papel. A descentralização dos serviços, o foco na agroecologia, o aumento de recursos e a criação de uma lei própria são exemplos de mudanças que deram certo. A extensão rural deve atuar de forma a melhorar as condições de vida e de trabalho do produtor rural, porém isso é um processo que demanda um fortalecimento ininterrupto na reconstrução das políticas públicas de forma contínua e progressiva. Para entender melhor o conteúdo abordado neste capítulo, leia o artigo Novo modelo de extensão rural para transferência de tecnologias inovadoras, de Pedro Antônio Arraes Pereira e Maria José Del Peloso. Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos8 ASSOCIAÇÃO RIOGRANDENSE DE EMPREENDIMENTOS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL. Métodos e meios de comunicação em extensão rural: glossário. Porto Alegre: EMATER-RS; ASCAR, 2009. Disponível em: emater.tche.br/site/arquivos_pdf/ teses/METODOSDEEXTENSAOGLOSSARIO.pdf. Acesso em: 16 out. 2019. BICALHO, L. M.; OLIVEIRA, M. Aspectos conceituais de multidisciplinaridade e da in- terdisciplinaridade e a pesquisa em Ciência da Informação. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Florianópolis, v. 16, n. 32, p. 1–26, 2011. DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1518-2924.2011v16n32p1. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2011v16n32p1/19336. Acesso em: 16 out. 2019. BRAGA, A. C. R.; FUTEMMA, C. Pluralidade de assistência técnica e extensão rural: pública, privada e de organizações da sociedade civil. Ruris: Revista do Centro de Estudos Rurais — Unicamp, Campinas, v. 9, n. 2, p. 239–268, set. 2015. Disponível em: https://www. ifch.unicamp.br/ojs/index.php/ruris/article/view/2300/1690. Acesso em: 16 out. 2019. CALLOU, A. B. F. et al. O estado da arte do ensino da extensão rural no Brasil. Revista Extensão Rural, Santa Maria, ano 15, n. 16, p. 84–115, jul./dez. 2008. Disponível em: http:// w3.ufsm.br/extensaorural/art4ed16.pdf. Acesso em: 16 out. 2019. CAPORAL, F. R.; RAMOS, L. de F. Da extensão rural convencional à extensão rural para o desenvolvimento sustentável: enfrentar desafios para romper a inércia. In: MONTEIRO, D. M. C.; MONTEIRO, M. de A. (org.). Desafios na Amazônia: uma nova assistência técnica e extensão rural. Belém, PA: UFPA: NAEA, 2006. p. 29-50. Disponível em: http://agroecolo- gia.pbworks.com/f/Artigo-Caporal-Ladjane-Vers%C3%A3oFinal-ParaCircular-27-09-06. pdf. Acesso em: 16 out. 2019. PEIXOTO, M. A extensão privada e a privatização da extensão: uma análise da indústria de defensivos agrícolas. 2009. Tese (Doutorado em Ciências) — Universidade Federal Rural doRio de Janeiro, Seropédica, 2009. Disponível em: https://www2.senado.leg. br/bdsf/bitstream/handle/id/161904/TESEMarcusPeixoto.pdf?sequence=7. Acesso em: 16 out. 2019. PETARLY, R. R. Assistência técnica e extensão rural para quê? O caso da cooperativa agrope- cuária de patrocínio. 2014. 100 f. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) — Faculdade Federal de Viçosa, Viçosa, 2013. Disponível em: http://www.novoscursos.ufv.br/posgrad/ ufv/posextensaorural/www/wp-content/uploads/2014/04/Renata-Rauta-Petarly.pdf. Acesso em: 18 out. 2019. 9Fundamentos da extensão rural: conceitos, princípios e objetivos DICA DO PROFESSOR O setor agropecuário brasileiro tem papel primordial na geração de emprego e renda para a população e é responsável por uma grande parcela de renda do país. Nesse sentido, a extensão rural e a assistência técnica apresentam fundamental papel para o desenvolvimento agropecuário no país. Empresas voltadas à extensão rural e assistência técnica no Brasil são indispensáveis e continuam sendo importantes para o setor. Mas você reconhece a atuação ou mesmo tem conhecimento acerca do seu papel fundamental para a sociedade? Nesta Dica do Professor, você perceberá a relevância da atuação de uma empresa de extensão rural e assistência técnica para a evolução do setor agropecuário no Brasil. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A extensão rural e a assistência técnica têm papel fundamental no desenvolvimento da atividade agropecuária no Brasil. Acerca dos objetivos, conceitos e fundamentos da extensão rural, assinale a alternativa correta. A) O profissional assistente técnico na área rural precisa apresentar formação na área educacional, além do conhecimento técnico, haja vista que em sua função de repassar conhecimento ao público rural precisará realizá-lo de forma adequada. B) A extensão rural tem como foco o desenvolvimento da produção, aumentando a produtividade, a melhoria da qualidade de vida dos produtores rurais e a valorização do meio ambiente. C) Com o intuito de melhorar a qualidade de vida do trabalhador rural, a extensão rural e a assistência técnica desempenham papel fundamental e não é possível diferenciar uma ação da outra. D) O papel fundamental do assistente técnico em uma propriedade rural é divulgar oportunidades, conhecimentos e tecnologias para que os produtores rurais possam se apropriar desses conhecimentos em sua propriedade. E) O fluxo fundamental para transferência de conhecimentos para os produtores rurais deve primeiramente iniciar pelo repasse do conhecimento do extensionista rural ao assistente técnico rural, e o mesmo ao produtor rural. 2) A extensão rural se utiliza de diferentes métodos para atingir seus objetivos. Os métodos devem ser selecionados de acordo com as características dos grupos e da informação a ser repassada. Sobre esse assunto, assinale a alternativa correta. A) As utilizações de jornais e de videoconferências são consideradas um método grupal e devem ser adotadas para a visualização de novas tecnologias no campo. B) O método exposição é utilizado de forma individual, pois atinge diretamente cada pessoa que se interessa pelo assunto exposto e busca informações. C) As demonstrações de resultados em fazendas que aplicam diferentes técnicas de produção são consideradas um método grupal. D) As excursões e as reuniões são consideradas um método em massa, já que atingem um grande grupo de produtores rurais na transferência de conhecimento. E) Assim como as campanhas, as publicações educativas são consideradas como meios de comunicação por serem transferidas para um grupo de pessoas. 3) Na transferência de conhecimento, além da escolha da metodologia que deve estar de acordo com o número de produtores, é preciso também definir o tipo de abordagem que será adotado, buscando a melhor forma de transferir os conhecimentos. Com base nisso, assinale a alternativa correta. A) Um agricultor informa ao técnico que sua plantação de alfaces está com uma praga, o extensionista captura uma amostra das folhas e leva para laboratório, e então, posteriormente, informa ao agricultor sobre a classificação da praga e a forma como deve tratá-la, aplicando químicas para evitar. Isso pode ser considerado uma abordagem diretiva. B) Um produtor de tilápia precisou construir um pequeno viveiro para realizar a quarentena de peixes doentes. Para o desenvolvimento desse viveiro, contou com o apoio de um extensionista, mas ele mesmo também buscou informações em livros. Isso pode ser considerado uma abordagem diretiva por parte do extensionista. C) Um extensionista repassou a informação de que o produtor identificou, em uma produção de leite, que há a formação de uma camada de gordura excessiva e junto de um pesquisador da área leiteira estão verificando o que poderia ser feito para solucionar o problema. O extensionista repassará a informação ao produtor sobre a solução. Esse tipo de abordagem é a interativa. D) Em uma propriedade de caprinos, o produtor verificou que os animais estão muito magros, mas continuam se alimentando. Desconfiado de alguma doença, o produtor acionou um extensionista, e o mesmo identificou que a ração não estava adequada nutricionalmente para os animais, indicando que adquirisse alimento de outro fornecedor. Esse tipo de abordagem é a interativa. E) A fazenda de camarões Águas Claras apresentou uma alta mortalidade de animais no período da manhã. Indignado com o problema, Carlos, o proprietário, acionou o extensionista da região, que investigou alguns parâmetros de qualidade de água e percebeu que estavam adequados. Para solucionar o problema, o extensionista encaminhou uma amostra para um pesquisador conhecido, que ficou de lhe dar um diagnóstico. Esse tipo de abordagem é a reativa. A extensão rural, ao longo dos anos, foi sofrendo diversas modificações no Brasil. As metodologias utilizadas, as abordagens e até mesmo os objetivos foram sendo transformados. 4) Sobre a extensão rural em nosso país, assinale a alternativa correta. A) Mesmo com os avanços, ainda hoje é difícil dimensionar a atuação dos serviços de extensão rural no Brasil, principalmente em função da escassez de informações e dados históricos. B) Ao longo da história, tendo em vista o foco da extensão rural nos trabalhadores, a atuação dos extensionistas ao longo do tempo priorizou os pequenos produtores em vez de produtores capitalizados. C) Com grandes movimentos desenvolvidos, os extensionistas foram considerados revolucionários na agricultura brasileira, proporcionando resultados negativos como o êxodo rural. D) As diretrizes estabelecidas na PNATER, com o foco no desenvolvimento de uma agricultura agroecológica, eliminaram as metodologias obsoletas e ineficientes utilizadas até então para a transferência de conhecimento ao produtor rural. E) Atualmente, já é comum observar as práticas relacionadas às diretrizes da PNATER. No Brasil, já se observa tanto no discurso como na prática a aplicação de metodologias com foco no modelo da “nova” extensão rural. 5) Atualmente, há um consenso de que são necessárias alterações no que diz respeito à extensão rural no Brasil, e muito ainda precisa ser realizado para que esse passo seja alcançado. Uma nova política de assistência técnica e extensão rural (ATER) vem sendo discutida, a fim de buscar estratégias de desenvolvimento rural sustentável. A respeito do assunto tratado, assinale a alternativa correta. A) Um dos objetivos da uma nova política de ATER é diminuir a produção agrícola e manter a produção de alimentos, alcançando esses patamares sem causar danos negativos ao meio ambiente. B) O Governo Federal buscará concentrar seus esforços para minimizar os problemas sociais, especialmente o combate à pobreza, buscando programas de fortalecimento da agricultura familiar. C) Tendo em vista a economia do país, ao mesmo tempo quehá pressão pelo aumento da produtividade, com maior eficiência e redução de custos, a tendência é que o Governo apoie a implantação de empresas privadas para a extensão rural. D) Apesar de ser considerada essencial no desenvolvimento sustentável da agricultura no Brasil, a extensão rural pública será utilizada de forma secundária, principalmente por ainda depender de agentes. E) De forma geral, o novo serviço de extensão rural deve levar em consideração principalmente os grandes produtores, tendo em vista que sua produção afeta consideravelmente a economia do país. NA PRÁTICA A assistência técnica e a extensão rural desempenham fundamental papel no desenvolvimento das atividades agropecuárias no Brasil. Na maioria dos estados brasileiros, existem empresas focadas na extensão rural e na assistência técnica, buscando desenvolver a região no que diz respeito às atividades rurais. No entanto, é comum confundir-se o papel de cada agente transformador e como se pode realizar essas atividades de transferência de conhecimento e aplicação na prática de novas técnicas e metodologias por parte dos produtores. Confira, Na Prática, a diferença entre o papel de extensionista rural e de assistente técnico. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A extensão rural no Brasil Neste vídeo, você terá um breve relato a respeito dos serviços de assistência técnica e extensão rural no Brasil, através do relato do engenheiro-agrônomo Glauco Olinger. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Extensão rural agroecológica: experiências e limites Este é um artigo que traz uma abordagem teórica sobre uma proposta de extensão rural agroecológica e analisa projetos de acompanhamento técnico e extensão rural. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A necessidade das intervenções: extensão rural como serviço ou como direito? Neste documento, faz-se uma reflexão a respeito da extensão rural como serviço ou direito, através de uma abordagem por meio das dimensões epistemológica, histórica e político-jurídica. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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