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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO DE JOINVILLE ENGENHARIA CIVIL DE INFRAESTRUTURA DISCIPLINA DE TÚNEIS E OBRAS DE TERRA PROFESSOR JULIAN ASDRUBAL BURITICA GARCIA PROJETO 02: BARRAGEM DE TERRA HOMOGÊNEA ROGER WILSON VALE ROGERIO YURI KÖRBER GORGES JOINVILLE 2022 1. INTRODUÇÃO Construídas de forma natural ou artificial sobre córregos, rios ou canais, as barragens têm a função de reter e/ou controlar o fluxo de água ou rejeitos (GAMELEIRA; AMARAL, 2018), e podem ser classificadas, quanto ao método executivo, em barragens de gravidade, em arco e contrafortes para barragens em concreto, e para barragens de terra, classifica-se em homogêneas ou heterogêneas. Dentre os métodos, a barragem de terra homogênea representa o modelo mais utilizado no Brasil, visto que, a região apresenta condições favoráveis, como vales muito abertos e disponibilidade de material terroso (MASSAD, 2010), somado a relativa simplicidade de execução quando comparada a barragens de concreto, e por admitir fundação sobre solos moles. Todavia, essas barragens possuem como principal problema o efeito piping ou erosão regressiva tubular, definido pela formação de canais à estrutura devido ao movimento de solo pelo fluxo ascendente (da jusante para a montante) da água, assim, esses canais podem evoluir para cavidades maiores levando a barragem ao colapso (MASSAD, 2010). Ademais, na falta de drenagem adequada, o aumento do nível freático pode comprometer a estabilidade do talude ao diminuir as tensões efetivas. Portanto, a fim de demonstrar a viabilidade e dimensionamento de uma barragem de terra homogênea, será feita as análises de percolação e estabilidade de taludes fazendo-se uso do software SEEP/W e SLOPE/W, respectivamente, para executar a simulação da estrutura e fluxo de água. 2. DIMENSIONAMENTO 2.1 ANÁLISE DA GEOMETRIA E DADOS INICIAIS Para a execução das análises computacionais, é necessário que se faça a determinação da geometria da barragem a ser estudada. Para tal, foram fornecidos dados referentes à inclinação dos taludes de montante e jusante, altura total da barragem, nível do lençol freático a montante e jusante, espessura do filtro de areia, assim como a espessura da camada de solo argiloso que serve como fundação para a barragem. Tais dados estão apresentados no Quadro 01 abaixo. Quadro 01: Dados da geometria da barragem Fonte: Os autores (2022) Com isto, e utilizando o software Geostudio, foi possível elaborar a geometria do talude, assim como se observa na Figura 01 abaixo. Geometria da barragem Inclinação do talude (1:h) Montante 1:2,5 Jusante 1:2 Nível da água (m) Montante 48 Jusante 0 Largura da crista (m) 15 Altura da barragem (m) 50 Espessura do filtro de areia (m) 0,5 Espessura da camada de argila da fundação (m) 40 Figura 01: Geometria da barragem no software Geostudio. Fonte: Os autores (2022) Com a geometria bem definida, é possível determinar as regiões e aplicar os materiais, de acordo com as propriedades que serão demonstradas na próxima seção. A barragem é composta de um material argiloso, assim como a fundação. Já para o material do filtro, será utilizada uma areia, com alta permeabilidade, para favorecer o fluxo da água no interior da barragem, como será observado a seguir. 2.2 ANÁLISE DA PERCOLAÇÃO UTILIZANDO SEEP.W Para as análises referentes à percolação, sendo elas o cálculo da vazão, gradientes críticos, linhas equipotenciais, linhas de fluxo e poropressão, são necessários dados que dizem respeito aos materiais que compõe a barragem, o filtro e a fundação. No Quadro 02 a seguir, são apresentados os dados pertinentes a estas análises, que é a condição inicial do material a ser considerada, neste caso saturada, e a condutividade hidráulica, que diz respeito ao coeficiente de permeabilidade (k), medido em m/s. Quadro 02: Propriedades dos materiais da barragem e fundação. Material Coeficiente de permeabilidade (k) (m/s) Argila (Barragem) 1e-7 Argila (Fundação) 1e-7 Areia (Filtro) 1e-4 Fonte: Os autores (2022). Os coeficientes de permeabilidade das argilas adotados são baseados em literatura pertinente e na composição do material estudado da região de construção da barragem conforme quadros abaixo Quadro 03: Intervalo de coeficiente de permeabilidade (k) do solo. Solo k (m/s) Argilas < 10-9 Siltes 10-6 a 10-7 Areias argilosas 10-7 Areias finas 10-5 Areias médias 10-4 Areias grossas 10-3 Fonte: Nierwinski (2021). Quadro 04: Composição do material argiloso. Material Composição do material Argila Silte Areia Argila (Barragem) 52% 17,5% 30% Fonte: Os autores (2022). Após o software realizar os cálculos, pode-se observar, através dos vetores, o caminho de percolação da água, assim como as linhas de fluxo da água, representado pelas linhas verdes. Já a linha azul, representada na Figura 02 abaixo, é a linha onde a poropressão é 0, sendo conhecida como linha neutra ou linha freática. Como observado na Figura 02 abaixo, o sentido de percolação da água preferencial se dá justamente no filtro de areia, posicionado aproximadamente no centro da barragem, como era esperado, já que o coeficiente de permeabilidade da areia é maior que o das argilas, criando um caminho preferencial de percolação da água. Figura 02: Linhas de fluxo e sentido de percolação da água. Fonte: Os autores (2022) Também foi realizada a análise dos gradientes hidráulicos em XY, que seria a representação da velocidade com que há a perda de carga devido ao elevado fluxo de água, o que pode ocasionar erosão e piping. Conforme observa-se na Figura 03 abaixo, as regiões que possuem o gradiente hidráulico crítico são próximas ao nível da água máximo à montante, que apresentam valores altos, com o valor crítico de 3,5. Neste ponto, pode haver erosão do material devido a elevada perda de carga e consequente diminuição da tensão efetiva do solo. Figura 03: Gradiente hidráulico crítico Fonte: Os autores (2022) Para evitar com que haja um gradiente hidráulico muito alto (3,5) nesta região, pode ser utilizado um material de transição, como um silte, que possua um coeficiente de permeabilidade mais elevado, permitindo uma perda de carga mais gradual, fazendo assim com que o gradiente hidráulico seja diminuído. Com relação à poropressão, como pode ser observado na Figura 04 abaixo, a tendência é que esta vá diminuindo ao longo do caminho percorrido pela água, tendendo a 0 conforme se aproxima da linha neutra, que, neste caso, fica próxima ao filtro de areia. Figura 04: Poropressão na barragem Fonte: Os autores (2022) Para avaliação da perda de carga, a Figura 05 abaixo apresenta as linhas equipotenciais, que indicam o local geométrico das regiões que apresentam a mesma carga total. Através desta, é possível observar como se comporta a perda de carga da água à medida que esta percola ao longo da barragem, chegando a cargas próximas a 0 perto da região a jusante desta. Figura 05: Linhas equipotenciais Fonte: Os autores (2022) Foi realizado uma estimativa da vazão de saída da água da barragem, tendo como ponto de referência para a medição a região de saída do filtro de areia. O valor de vazão neste ponto foi de 4,72e-4 m³/s. Este valor apresentado é medido para cada metro da barragem, portanto, se a barragem, por exemplo, tiver uma largura de 100m, a vazão na saída do filtro será de, aproximadamente, 4,72e-2 m³/s. A figura 06 abaixo apresenta o gráfico gerado pelo software SEEP.W, com a vazão calculada. Figura 06: Vazão calculada na saída do filtro de areia. Fonte: Os autores (2022) 2.3 ANÁLISE DA ESTABILIDADE DOS TALUDESUTILIZANDO SLOPE/W A estabilidade do talude é crucial para que a barragem possa cumprir sua função, portanto, para analisar a segurança e estabilidade da estrutura optou-se por utilizar o método de Bishop através do software SLOPE/W do Geostudio. Dessa forma, a superfície de ruptura foi analisada por grade e raios de ruptura com o objetivo de determinar o fator de segurança (FS) crítico e sua superfície correspondente, ademais, as características de cada material estão descritas a seguir. Quadro 05 – Características dos materiais. Fonte: Os autores (2022) 2.3.1 Estabilidade de final de construção à jusante. Para a estabilidade do talude de jusante com inclinação de 1:2,5 determina-se que o fator de segurança (FS) é 1,797 e sua superfície crítica é descrita na figura abaixo junto as superfícies analisadas, onde o vermelho representa a situação mais crítica e o azul aquelas com o maior FS. Figura 08 – Superfícies de ruptura para jusante. Fonte: Os autores (2022) Figura 09 – Superfície crítica de ruptura para jusante. Fonte: Os autores (2022) 2.3.2 Estabilidade de final de construção à montante Para a estabilidade do talude de montante com inclinação de 1:2, a partir do método de Bishop no software SLOPE/W, calcula-se que o fator de segurança é 1,514, logo, também é adequado à segurança da estrutura. Figura 10 – Superfície crítica de ruptura para montante. Fonte: Os autores (2022) 2.3.3 Estabilidade de operação à jusante Com o objetivo de avaliar a estabilidade do talude durante a operação, ou seja, com o nível da água de 48 metros à montante da barragem, faz-se o uso do SLOPE/W combinado a análise de percolação (SEEP/W), assim, é determinado o fator de segurança para a superfície mais favorável à ruptura de 1,726. Figura 11 – Superfície crítica de ruptura para montante. Fonte: Os autores (2022) 2.4 CÁLCULO DOS RECALQUES Para o cálculo dos recalques, foi utilizado o módulo SIGMA/W, que faz uma estimativa dos recalques esperados, apresentando uma malha que representa a deformação esperada do maciço. Na Figura 12 abaixo, observa-se esta malha, em vermelho, e o valor dos recalques, em metros, esperados para a região de 1/3 da altura da barragem e do meio da camada de argila da fundação. Figura 12: Análise dos recalques. Fonte: Os autores (2022) Porém, deve-se atentar ao fato de que o recalque apresentado na Figura 12 acima, não reflete exatamente a realidade, pois considera que a barragem foi construída de uma só vez, quando na realidade são compactadas diversas pequenas camadas até atingir a altura desejada. Os recalques apresentados acima estão dentro do esperado, ainda mais considerando a questão apresentada acima. 2.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS No que diz respeito as análises de percolação, para a análise das linhas de fluxo e fluxo de percolação da água no interior da barragem, apresentam resultados dentro do esperado, tendo o maior fluxo concentrado próximo da região do filtro de areia, por conta da sua maior permeabilidade. Quanto aos gradientes hidráulicos, apresentaram valores maiores que o adequado, principalmente na região próxima ao nível da água a montante. Uma possível solução, conforme apresentado na seção anterior, seria a utilização de um material de transição, com maior coeficiente de permeabilidade. Porém, essa solução implicaria na necessidade de uma reavaliação das análises de estabilidade de taludes a montante, devido a alteração do material. Das demais análises, a saber, linhas equipotenciais, poropressão e vazão, apresentaram resultados coerentes, com as linhas equipotenciais e poropressão diminuindo ao longo da passagem da água no interior da barragem. Já a vazão foi medida somente na região da saída do filtro de areia, a jusante da barragem. Quanto a estabilidade do talude, em ambas as etapas, seja de fim de construção ou para durante a operação da barragem, os fatores de seguranças determinados foram superiores a 1,5, portanto, segundo a NBR 11682 (2009), são satisfatórios para a condição de alto nível de segurança contra danos a vidas humanas, danos materiais e ambientais. Quadro 06 - Fatores de segurança mínimos Fonte: NBR 11682 (2009) Quanto a análise dos recalques, é esperado que ocorram recalques na ordem de 1 a 2 metros em grandes barragens como esta, que tem 50 metros de altura, e conforme as camadas vão sendo construídas, adiciona-se mais material, a fim de atingir a cota definida em projeto. Neste caso, em 1/3 da camada de argila da barragem, ocorreu um recalque de 3 metros, porém, deve-se ao fato da consideração do software, comentada anteriormente. Já na região da fundação, os recalques de 1m estão dentro do esperado, dada a magnitude da barragem. 3. CONCLUSÃO Dadas as análises resultantes do software Geostudio e as ponderações feitas ao final do capítulo passado, é possível concluir que a construção desta barragem é viável e segura, apenas tendo que ser feita uma análise mais cuidadosa no que diz respeito ao gradiente hidráulico, que apresentou valores elevados na região a montante da barragem. As análises de estabilidade dos taludes não apresentarem nenhum resultado alarmante, estando dentro dos limites estabelecidos pela Normas Brasileiras. Já no que diz respeito aos recalques, apresentaram valores coerentes à uma fundação em solo mole, resguardando a incongruência na análise do maciço da barragem, comentada no capítulo anterior. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11682. Estabilidade de taludes. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. GAMELEIRA, E. L.; AMARAL, F. N. DA S. Análise do fluxo de água no maciço de uma barragem de terra com filtro. Trabalho de Conclusão de Curso Faculdade de Engenharia Civil, Centro Universitário Cesmac, Maceió, 2018. MASSAD, F. Obras de terra: curso básico de Geotecnia. 2 ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. NIERWINSKI, H. P. EMB5844-09607: Mecânica dos Solos I. 2021. Disponível em: https://moodle.ufsc.br/mod/assign/view.php?id=39219. Acesso em: 25 jun 2022.