Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Módulo 1/Unidade 1 - Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde.pdf 1 Módulo I d n o tr P o a d c u i ç e ã n o te à e S Q eg ua ur li a d n a ç d a e Copyright © 2018.Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Organização Pan-Americana da Saúde – Opas. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa SIA Trecho 5, Área Especial 57 CEP: 71205-050, Brasília/DF – Brasil http://www.anvisa.gov.br/ Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS Setor de Embaixadas Norte, Lote 19 Cep: 70800-400, Brasília/DF – Brasil www.opas.org.br Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa Coordenação técnica Ana Clara Ribeiro Bello dos Santos Benefran Junio da Silva Bezerra Cleide Felicia de Mesquita Ribeiro Heiko Thereza Santana Helen Norat Siqueira Luana Teixeira Morelo Paulo Affonso B. de Almeida Galeão Universidade de Brasília - UNB Gerente de Projeto Cássio Murilo Alves Costa Pesquisadores Maria Auristela Menezes Costa Sanuel de Souza Teixeira Junior Designer Instrucional Cássio Murilo Alves Costa Arthur Colaço Pires de Andrade Ilustrador Weslei Marques dos Santos Projeto Gráfico e Diagramação Carla Clen Jhonanthan Fagundes Administrador Moodle Cássio Murilo Alves Costa Samuel de Souza Teixeira Junior Gerente de Produção de Educação a Distância Jitone Leônidas Soares http://www.anvisa.gov.br/ http://www.opas.org.br/ Conteudistas Ana Maria Müller de Magalhães - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS RS Ariane Ferreira Machado Avelar - Universidade Federal de São Paulo UNIFESP - SP Carla Denise Viana - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS - RS Denise Miyuki Kusahara - Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP - SP Edmundo Machado Ferraz Universidade Federal de Pernambuco - PE Fabiana Cristina de Sousa – Anvisa - DF Giovana Abrahão de Araújo Moriya - Hospital Israelita Albert Einstein - SP Gisela Maria Schebella Souto de Moura - Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS – RS Heiko Thereza Santana - Anvisa - DF Helaine Carneiro Capucho - Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares - EBSERH - DF Julia Yaeko Kawagoe - Hospital Israelita Albert Einstein - SP Kazuko Uchikawa Graziano - Universidade de São Paulo - USP - SP Luana Teixeira Morelo - Anvisa - DF Luna Ribeiro de Queiroz Pini - Anvisa - DF Magda Machado de Miranda Costa - Anvisa - DF Mara Rúbia Santos Gonçalves – Anvisa- DF Maria Jesus C.S Harada - Universidade Federal de São Paulo UNIFESP - SP Patrícia Fernanda Toledo Barbosa - Anvisa - DF Paulo Affonso Bezerra de Almeida Galeão Anvisa - DF Rafael Queiroz de Souza Doutorando em Ciências Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) USP - SP Rogério da Silva Lima - Organização Pan-Americana da Saúde OPAS/OMS Suzie Marie Gomes – Anvisa – DF Equipe de revisores técnicos da Anvisa Diana Carmem Almeida Nunes de Oliveira Gabriel Augusto Bussi Heiko Thereza Santana Helen Norat Siqueira Luana Teixeira Morelo Magda Machado de Miranda Costa Maria Angela da Paz Maria Dolores Santos da Purificação Nogueira Paulo Affonso Bezerra de Almeida Galeão Suzie Marie Gomes Equipe de revisores técnicos externos Cláudia Tartaglia Reis - Secretaria Municipal de Saúde de Cataguases - MG Rhanna Emanuela F. Lima de Carvalho - Universidade Estadual do Ceará - UECE - CE Zenewton André da Silva Gama - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - RN Wildo Navegantes de Araújo - Universidade de Brasília - UnB Colaboração Carlos Dias Lopes - Anvisa Danila Augusta Accioly Varella Barca - Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS/OMS Graziela Trevizan da Ros - Hospital do Coração Hcor - SP Humberto Luiz Couto Amaral de Moura - Anvisa Júlio César Sales - Anvisa Maria Inês Pinheiro Costa - Secretaria de Estado da Saúde de Goiás - GO Rogério da Silva Lima - Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS/OMS Zilah Cândida Pereira das Neves - Coordenação Municipal de Controle de Infecção em Serviços de Saúde COMCISS - Goiânia - GO Projeto desenvolvido no âmbito do Termo de Cooperação (TC nº 64) entre a Anvisa e a OPAS. 5 Unidade 1 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais 7 Sumário 1. Apresentação 9 2. Objetivos do Módulo 10 a. Geral 10 b. Específicos 10 3. Introdução 11 4. Qualidade nos serviços de saúde 13 4.1. Evolução histórica do conceito de qualidade 17 4.2. Gestão da Qualidade Total 19 4.2.1 Orientação ao usuário dos serviços de saúde 20 4.3. Estratégias para a melhoria da qualidade 21 4.4. Avaliação da qualidade em serviços de saúde 22 5. Segurança do paciente nos serviços de saúde 27 5.1. Integração da Segurança do Paciente aos mecanismos de Garantia da Qualidade 33 5.2. A interface entre a qualificação do cuidado em saúde, a promoção da segurança do paciente e o papel da vigilância sanitária de serviços de saúde 34 6. Considerações finais 37 7. Referências bibliográficas 38 9 QUALIDADE E SEGURANÇA DO PACIENTE EM SERVIÇOS DE SAÚDE: NOÇÕES GERAIS Paulo Affonso Bezerra de Almeida Galeão Heiko Thereza Santana Magda Machado de Miranda Costa Revisores: Dr. Zenewton Gama – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Diana Carmem Almeida Nunes de Oliveira – ANVISA Maria Angela da Paz – ANVISA Apresentação Este módulo trata do tema Qualidade e Segurança do Paciente em serviços de saúde e está direcionado aos profissionais que atuam nas Vigilâncias Sanitárias dos Serviços de Saúde. Esperamos que seu conteúdo possa contribuir para melhor compreensão da relação da qualidade com a segurança nos serviços de saúde. 1. 10 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade objetivos do Módulo Este módulo busca introduzir noções relacionadas à qualidade e segurança do paciente em serviços de saúde aos gestores, profissionais que atuam nos Serviços de Saúde e na Vigilância Sanitária do país. Ao final deste módulo, você será capaz de: a. Geral 1. Compreender a importância da qualidade e da segurança do paciente em serviços de saúde do país. b. Específicos 1. Identificar as principais dimensões da qualidade; 2. Definir segurança do paciente, identificando seus principais componentes; 3. Descrever o papel da Vigilância Sanitária de serviços de saúde no campo da qualidade e da segurança do paciente. 4. Conhecer as principais ações relacionadas ao tema, à segurança do paciente e qualidade que devem ser implementadas nos serviços de saúde. 2. 11 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 Introdução A busca pela qualidade nos serviços de saúde decorre da necessidade de redução dos riscos advindos do avanço das tecnologias aplicadas neste contexto, assim como da ampliação do acesso da sociedade aos diversos níveis de complexidade do sistema em questão nas últimas décadas. Essa redução deve alcançar níveis aceitáveis, ou seja, compatíveis com os objetivos do cuidado profissional: promoção, proteção e recuperação da saúde. A própria criação das Agências Reguladoras no Brasil, em especial a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), se confunde com o processo de amadurecimento da sociedade no que diz respeito à exigência de qualificação dos serviços essenciais à vida, o que vem a contemplar os direitos de 2ª dimensão. 3. INTRODUÇÃO 12 Saiba mais em: Fischer T, Heber F, Teixeira A. Desafio da qualidade e os impactos das transformações em organizações baianas. In: Revista de Administração de Empresas [internet]. 1995 Disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/rae/v35n1/a08v35n1.pdf. Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade Assim, os serviços de saúde devem primar pela qualidade e segurança do cuidado, gerando uma cultura de inconformidade com a ocorrência de eventos adversos (EAs) durante a prestação assistencial, os quais podem indicar a presença de falhas nos processos de trabalho em saúde. Esses eventos decorrem de circunstâncias que causaram danos desnecessários aos usuários dos serviços. Na prática, um serviço de saúde, quando capaz de controlar os resultados de suas tecnologias em virtudede seus objetivos, é dotado de um padrão de segurança. Logo, a sociedade espera ser atendida minimamente de forma segura, ou seja, usufruir dos benefícios das tecnologias sabendo que os riscos decorrentes dessa utilização estão sendo prevenidos e monitorados dentro do sistema de saúde. a mais Saib http://www.scielo.br/pdf/rae/v35n1/a08v35n1.pdf 13 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 Qualidade nos Serviços de Saúde A qualidade nos serviços de saúde é definida como “a obtenção do maior benefício para o paciente, ao menor custo e com o menor risco possível”1. Na mesma linha, a Organização Mundial de Saúde (OMS) a define como “o grau em que os serviços de saúde prestados a pessoas e populações aumentam a probabilidade de se obter os resultados favoráveis e são coerentes com o conhecimento científico corrente”2. A ideia de mensurar a qualidade dos serviços em saúde começou a ser desenvolvida na década de 1960 por Avedis Donabedian, na Universidade de Michigan, nos EUA. Sua abordagem envolveu três principais elementos: estrutura, processo e resultado. 1 Organización Pan-Americana de Salud – OPS. Curso Virtual de Evaluación y Mejora de la Calidad de la Atención y la Seguridad del Paciente. Amarilla, AC, coordenadora. Williams, G, Interlandi C, Mazzola MAG, cols. Conceptos Generales de Calidad. Programas de Calidad. [Folleto del Curso Regional de Evaluación y Mejora de la Calidad de Atención. Centro Colaborador de la OPS/OMS]. Argentina: Ministério de Salud de la Nación. 2011. 2 World Health Organization, World Alliance for Patient Safety (2007, June). Report on the Web-Based Modified Delphi Survey of the International Classification for Patient Safety. Geneva, Switzerland. 4. 14 Esses elementos também são conhecidos como a tríade Donabediana. Saiba mais em: Donabedian A. The seven pillars of quality. Arch Pathol Lab Med. 1990 Nov;114(11):1115-8. Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade A Estrutura corresponde às características relativamente estáveis e necessárias ao processo assistencial, abrangendo a área física, recursos humanos (número, tipo, distribuição e qualificação), recursos materiais e financeiros, sistemas de informação e instrumentos normativos técnico- administrativos, apoio político e condições organizacionais. Processo corresponde à prestação da assistência segundo padrões técnico-científicos, estabelecidos e aceitos na comunidade científica sobre determinado assunto e a utilização dos recursos nos seus aspectos quanti- qualitativos. Inclui o reconhecimento de problemas, métodos diagnósticos, diagnóstico e os cuidados prestados. Por sua vez, o Resultado corresponde às consequências das atividades realizadas nos serviços de saúde, ou pelo profissional, em termos de mudanças verificadas no estado de saúde dos pacientes, considerando também as mudanças relacionadas a conhecimentos e comportamentos, bem como a satisfação do usuário e do trabalhador ligada ao recebimento e prestação dos cuidados, respectivamente3. 3 Donabedian A. Basic approaches to assessment: structure, process and outcome. In: Donabedian A. Explorations in Quality Assessment and Monitoring. Michigan (USA): Health Administration Press; 1980. p. 77-125. Resultado Processo Estrutura 15 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 Os 7 Pilares da Qualidade A eficácia consiste na habilidade da ciência e da arte da assistência em oferecer melhorias na saúde e no bem-estar4 e representa o alicerce para a construção de uma organização focada na qualidade. Ser eficaz é comprovar a relação adequada entre os resultados obtidos e os objetivos pretendidos5. A eficiência é a relação entre o benefício oferecido pelo sistema de saúde ou pela assistência à saúde e seu custo econômico. Um aspecto importante é o econômico, pois a limitação dos recursos (financeiros, humanos e tecnológicos) associada a uma crescente demanda social, exige dos gestores e profissionais de saúde planos cada vez mais “eficientes”, reduzindo o custo operacional dos procedimentos, sem comprometer a segurança do paciente6. Por sua vez, a efetividade é a relação entre o benefício real oferecido pelo sistema de saúde ou pela assistência e o potencial esperado. Os resultados, mesmo que adequados, devem também ser “efetivos”, ou seja, produzirem os efeitos esperados dentro de um sistema operacional7. O componente “otimização” consiste em produzir os melhores e máximos efeitos no grupo alvo das intervenções em saúde, o que decorre de ótimos ajustes dos processos e das tecnologias disponíveis. 4 Ribeiro MJF. Qualidade nos Serviços de Saúde. In: Zucchi P, Ferraz MB, Autor:, Guia de economia e gestão em saúde. Séries guias de Medicina ambulatorial e hospitalar. Paulo FS et al., editors. São Paulo: Manole; 2010. p. 434. 5 Silva LMV. Avaliação da qualidade de programas e ações de vigilância sanitária. In: Costa EA., org. Vigilância Sanitária: temas para debate [online]. Salvador: EDUFBA. 2009. 237 p. 6 Ibid. 7 Ibid. 16 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade Esse é um caminho quase indissociável para outros dois conceitos: a “aceitabilidade” dos usuários, quando estes percebem que o sistema capta informações de diversos fluxos para melhoria no atendimento de suas necessidades, e a “legitimidade” como o mais alto padrão de envolvimento social, quando os cidadãos se sentem parte integrante do processo de qualificação do sistema. Entretanto, a conquista inicial da “acessibilidade” não deve ser esquecida, pois é condição para o alcance dos demais pilares da qualidade!8 Em 2001, o Institute of Medicine (IOM), dos EUA, definiu os seguintes componentes fundamentais para a qualidade em saúde: 1) Segurança: evitar danos ao paciente; 2) Acesso a tempo: evitar demoras para todos; 3) Efetividade: prestar serviços baseados no conhecimento científico a todos os que podem beneficiar-se destes e evitar prestar serviços àqueles que provavelmente não se beneficiarão; 4) Equidade: não discriminar pacientes; 5) Eficiência: prevenir o desperdício de equipamentos, suprimentos, ideias e energias; e 6) Centrada no paciente: responder às necessidades dos pacientes. Ademais, a qualidade na saúde pode ser definida, atualmente, numa triangulação de: 1) Efetividade (eficácia + eficiência); 2) Experiência dos pacientes (satisfação); e 3) Segurança (ausência de complicações)10. 8 Ibid. 17 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 4.1. Evolução histórica do conceito de qualidade Historicamente, a evolução da qualidade pode ser resumida em quatro grandes etapas sucessivas e complementares: 9 9 Organización Pan-Americana de Salud – OPS. op. cit., 2011. 18 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade Figura 1. A evolução do conceito de Qualidade Evolução do Conceito de Qualidade Fonte: OPS; 201110. A etapa de inspeção enfatiza a detecção de inconformidades ou falhas. A atitude é reativa com o propósito de evitar a repetição dos problemas que levaram às falhas. Nessa etapa, ainda não se verifica uma inter-relação entre os diferentes departamentos de uma organização. Na etapa seguinte, ou seja, a de Controle de Qualidade, é introduzido o controle estatístico do processo, o qual estabelece limites restritos de variabilidade em um processo produtivo, de acordo com as especificações estabelecidas. Apesar de a atitude ser reativa, a detecção de erros é feita durante todo o processo produtivo, procurando eliminar as causas que geraram a falha. Também não se verifica uma inter-relação entre os diferentes departamentos de uma organização. A Garantia da Qualidade envolve um conjunto de atividades voltadas para avaliar a qualidade do produto e a qualidade do processo. Esse enfoque requer a interação entre distintos departamentos da organização para a resolução dos problemas encontrados e a eliminação de suas causas3. Na etapa da Gestão da Qualidade Total, a ênfase está centrada nas pessoas, propiciando a participação, formação e desenvolvimento dos 10 Ibid. G e s t ã o da Q u a l i d a d e T o t a l Garantia da Qualidade Controle da Qualidade Inspeção 19 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 profissionais. A característica principal dessa etapa é a aplicação da melhoria contínua em busca da excelência organizacional. Há o envolvimento da aplicação dos princípios da gestão da qualidade em todos os departamentos da organização. 4.2. Gestão da Qualidade Total Os princípios básicos que sustentam o enfoque da gestão da qualidade total (GQT) são: 1. Orientação de resultados: busca-se a satisfação do usuário e de todas as partes interessadas mediante o aumento da eficácia e da eficiência dos processos da organização; 2. Orientação ao usuário: a organização deve compreender e satisfazer as necessidades dos usuários e esforçar-se para superar suas expectativas; 3. Liderança, estilo de gestão e coerência com os objetivos: o comportamento dos líderes promove a clareza e unidade dos objetivos em todos os níveis da organização e ainda gera o estabelecimento de um ambiente de trabalho que estimula a participação e o compromisso com a melhoria contínua e o alcance dos objetivos da organização; 4. Abordagem por processos: todas as atividades desenvolvidas devem ser consideradas como integrantes de processos inter-relacionados, sendo gerenciados de maneira sistemática; 5. Desenvolvimento e envolvimento das pessoas: os valores devem ser compartilhados em uma cultura de confiança e de tomada de responsabilidade por todo o pessoal para o alcance dos objetivos; 6. Aprendizagem, inovação e melhoria contínua: os conhecimentos devem ser compartilhados dentro de uma cultura geral de aprendizagem, inovação e melhoria contínua; 7. Desenvolvimento de alianças: devem ser estabelecidas relações que promovam benefícios e que propiciem o desenvolvimento tanto dos usuários quanto dos fornecedores; e 8. Responsabilidade social: a melhor maneira de alcançar os objetivos em longo prazo tanto da organização quanto do pessoal é adotar um enfoque ético que supere as expectativas e normas da sociedade. 20 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade A Figura 2 mostra o ciclo de melhoria, envolvendo a responsabilidade e comprometimento da direção, a adequada disponibilização de recursos, os quais preenchem, em última análise, os requisitos dos clientes, definidos pela satisfação do cliente. Figura 2: Melhoria contínua do sistema de gestão da qualidade Fonte: Ribeiro MJF; 2010117. p. 434. 4.2.1 Orientação ao usuário dos serviços de saúde Quanto à orientação ao usuário dos serviços de saúde, para o alcance de uma assistência à saúde centrada no paciente, cinco princípios gerais devem estar envolvidos12: 1. Respeito: as necessidades e as preferências dos pacientes e de seus cuidadores devem ser respeitadas, assim como a autonomia e independência destes; 2. Poder de decisão: o paciente tem o direito de tomar decisões referentes tanto ao cuidado de sua saude quanto aquelas que afetem sua vida; 3. Envolvimento dos pacientes na política de saúde: os pacientes e as organizações de pacientes merecem compartilhar a responsabilidade da tomada de decisões sobre política de saúde, assegurando que paciente seja um elemento central destas políticas; 11 Ribeiro MJF. op. cit., 2010. p. 434. 12 Organización Pan-Americana de Salud – OPS. op. cit., 2011. 21 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 4. Acesso e apoio: o paciente deve ter acesso a todos os serviços de saúde necessários, incluindo tratamentos, cuidados preventivos e atividades de promoção à saúde apropriada, segura e de qualidade; e 5. Informação: a disponibilização de informação precisa, relevante e ampla é essencial para que o paciente e seus cuidadores possam tomar decisões fundamentadas sobre seu tratamento e sobre sua convivência com a doença. 4.3. Estratégias para a melhoria da qualidade A maioria das organizações usa uma variação do ciclo “planejar-fazer- estudar-agir” (plan-do-study-act – PDSA), reconhecendo que as atividades de melhoria da qualidade devem ser cuidadosamente planejadas e implementadas (planejar-fazer), que o seu impacto deve ser medido (estudar) e que os resultados dessas atividades precisam ser alimentados de volta para o sistema em um contínuo processo interativo de melhoria (agir)13. Figura 3. O ciclo PDSA Fonte: Google Imagens 13 Ibid. 22 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade 4.4. Avaliação da qualidade em serviços de saúde A prestação de cuidados de qualidade se caracteriza pelos seguintes atributos:14 • um alto grau de competência profissional e organizacional; • uso eficiente dos recursos; • redução a um nível mínimo de riscos de responsabilidade civil profissional e hospitalar; • satisfação dos pacientes e de seus responsáveis; • expectativa de retorno à comunidade; • acessibilidade e equidade aos serviços de saúde; • legitimidade à necessidade e opinião pública; • padrões, indicadores e critérios que incentivam o desenvolvimento; e • aprimoramento da qualidade do cuidado ao paciente no que tange ao desempenho e evolução dos resultados organizacionais. Iniciativas relacionadas à qualidade envolvem o licenciamento, a certificação e a acreditação. O licenciamento refere-se à autorização para o funcionamento, mediante verificação dos padrões mínimos de segurança dos pacientes e proteção à saúde das pessoas, pela Vigilância Sanitária. A certificação estabelece que uma organização cumpra com os requisitos normativos estabelecidos pelas normas eleitas como marco normativo. Assim são certificadas as instituições segundo os requisitos das normas International Organization for Standardization (ISO) 14.000, ISO 9001, OSHAS 18.001, entre outras. Por sua vez, a acreditação significa “um sistema de avaliação periódica, voluntária e reservada, para o reconhecimento da existência de padrões previamente definidos na estrutura, processo e resultado, com vistas a estimular o desenvolvimento de uma cultura de melhoria contínua da qualidade da assistência à saúde e da proteção da saúde da população”15. 14 Feldman LB, Cunha ICKO. Identificação dos critérios de avaliação de resultados do serviço de enfermagem nos programas de acreditação hospitalar. Rev. Latino-Am. Enfermagem 2006; 14(4): 540-545 [cited 2014 Oct 13]; Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692006000400011&lng=en. 15 Schiesari LMC. Cenário da acreditação hospitalar no Brasil: evolução histórica e referências externas [dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 1999. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692006000400011&lng=en 23 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 O estabelecimento de padrões a serem seguidos, desenvolvidos inclusive com a participação dos usuários, vem sendo aprimorado, ficando a cargo de organizações constituídas para esse fim específico, como é o caso da Joint Commission (JC), dos EUA16. Na América Latina, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) vem promovendo a discussão sobre o tema de acreditação hospitalar desde o começo dos anos 9017. No Brasil, as iniciativas de melhoria da qualidade têm sido desenvolvidas, tais como o programa de acreditação hospitalar, a certificação pela ISO, o sistema integrado de gestão em organizações hospitalares, a realização de auditorias de prontuário, de contas, de riscos, entre outros18. 16 Malik AM. Qualidade na Gestão Local de Serviços e Ações de Saúde, volume 3. Malik AM, Schiesari LMC. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; 1998. Série Saúde & Cidadania. 17 Ibid. 18 Feldman LB, Cunha ICKO. op. cit., 2006. 24 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade Foi definido um roteiro de padrões de conformidade, constituído por 132 padrões, organizados em 22 critérios que, por vez, se organizavam em 3 blocos: I-Gestão Organizacional, II-Apoio Técnico e Logístico, e III-Gestão da Atenção à Saúde. Para avaliação dos critérios, foram definidos padrões sentinelas, que sinalizavam risco ou qualidade, classificados em Imprescindíveis (I), Necessários (N) e Recomendáveis (R). A partir do desempenho calculado para cada hospital, foram definidos cinco grupos distintos de desempenho, obtidos a partir dos quintis (partes da amostra ordenada) correspondentes respectivos aos percentis 20, 40, 60, 80 e 100. Dessa forma, tivemos os seguintes grupos de desempenho: • Grupo 1: notas que variam de 74,6 a 100; • Grupo 2: notas que variam de 62,0 a 74,6; • Grupo 3: notas que variam de 49,0 a 62,0; • Grupo 4: notas que variam de 34,8 a 49,0; • Grupo 5: notas que variam de 0 a 34,8. 25 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 Figura 4: Distribuição dos Hospitais nos Grupos de Desempenho por Região Fonte: SiPNASS – Outubro/2006 Figura 5: Distribuição dos Hospitais nos Grupos de Desempenho por Complexidade Fonte: SiPNASS – Outubro/2006 A aplicação dos instrumentos foi feita entre novembro de 2004 e outubro de 2006, sendo que 5.626 serviços de saúde, entre hospitais e ambulatórios, foram avaliados. A partir da análise das respostas ao Roteiro de Padrões de Conformidade dos 3815 hospitais considerados nesta avaliação, pode-se filtrar e obter as listas dos dez padrões sentinelas menos e mais cumpridos por hospitais gerais. 26 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade Entre os padrões menos cumpridos e classificados como imprescindíveis, vale a pena ressaltar dois relacionados ao critério de Gerenciamento de Risco: Programa de Controle de Infecção Hospitalar com ações deliberadas e sistemáticas (46,4% de cumprimento) e Monitoramento dos processos de limpeza, desinfecção e esterilização pela CME (55,5% de cumprimento) 14. Outra iniciativa governamental foi o Projeto de Avaliação de Desempenho de Sistemas de Saúde (PROADESS), o qual objetivou propor uma metodologia de avaliação de desempenho, sendo desenvolvido por um grupo de pesquisadores de sete instituições acadêmicas brasileiras. Uma iniciativa recente do Ministério da Saúde (MS), criada em 2011, para melhoria do desempenho da Atenção Básica é o “Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica” (PMAQ – AB). Esse programa propõe um incentivo financeiro variável aos municípios com valor associado aos resultados alcançados pelas equipes e pelos municípios. As metas de melhoria de desempenho são pactuadas e os compromissos acordados envolvem o alcance de melhores resultados para indicadores de saúde e padrões de qualidade selecionados. Os indicadores estão relacionados aos grupos prioritários, como gestantes, pacientes hipertensos e diabéticos. Já os padrões de qualidade incluem aspectos da infraestrutura, organização do trabalho, capacidade para atendimento de casos agudos, satisfação dos usuários, entre outros19,20. 19 Travassos C, Caldas B. op cit.,, 2013. 20 Proadess/MS. (s.d.). Programa de Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde. Acesso em 06 out 2014. Disponível em: http://www.proadess.icict.fiocruz.br/index.php?pag=princ. http://www.proadess.icict.fiocruz.br/index.php?pag=princ 27 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 segurança do Paciente nos Serviços de Saúde O tema “Segurança do Paciente” vem sendo desenvolvido sistematicamente pela Anvisa desde sua criação, cooperando com a missão da vigilância sanitária de proteger a saúde da população e intervir nos riscos advindos do uso de produtos e dos serviços a ela sujeitos, por meio de práticas de vigilância, controle, regulação e monitoramento sobre os serviços de saúde e o uso das tecnologias disponíveis para o cuidado21. 21 Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Implantação do Núcleo de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde. Brasília: ANVISA. No prelo 2014. 5. 28 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade A partir de 2004, a Anvisa incorporou ao seu escopo de atuação as ações previstas na Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, da OMS, da qual o Brasil faz parte22. A questão dos erros e dos EAs tem sido estudada há mais de um século. Os EAs são considerados como incidentes que resultam em danos à saúde23. Cabe destacar que o campo da segurança do paciente também envolve as falhas da atenção que não causaram dano, mas que poderiam ter causado (near misses)24. 22 Ibid. 23 Brasil. Agência Nacional de Vigilancia Sanitária – Anvisa. Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa – RDC n°. 36, de 25 de julho de 2013. Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, 26 jul 2013. 24 Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Implantação do Núcleo de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde. Brasília: ANVISA. No prelo 2014. 29 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 No país, o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) foi instituído por meio da Portaria GM/MS nº. 529 de 1° de abril de 201328. Ainda, para facilitar a implantação, a implementação e a sustentação das ações de segurança do Paciente nos servicos de saúde, a Anvisa publicou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 36 de 25 de julho de 201320. Para a instituição de sistemas de melhoria contínua da qualidade nos serviços de saúde, torna-se fundamental o estabelecimento das seguintes condições e ferramentas29: 25 Wachter RM. Compreendendo a segurança do paciente. Porto Alegre: Artmed; 2010. 320p. 26 Leape L. Errors in Medicine. Clin Chim Acta 2009;404(1):2-5. 27 World Health Organization (WHO). Patient safety – a global priority. Bull World Health Organ 2004;82(12): 891-970. 28 Portaria nº. 529, de 1º de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União, 2 abr 2013. 29 Fragata J. op. cit., 2011. 30 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade 1. Definição e coleta de indicadores de segurança; 2. Implementação de um sistema de notificação de EAs; 3. Iniciativas de proximidade, campanhas, ensino e auditorias em torno da segurança; 4. Transparência e envolvimento de pacientes, familiares e de toda a sociedade; e 5. Desenvolvimento de uma cultura de segurança. O acompanhamento dos indicadores previstos nos protocolos nacionais de segurança do paciente e de outros instrumentos criados pelos setores do serviço de saúde para monitoramento das ações desenvolvidas pelo NSP permitirá a avaliação do alcance de metas de qualidade e segurança do paciente e a comparação de desempenhos (benchmarking), identificando oportunidades de melhoria e de boas práticas30. O Quadro 1 mostra a lista dos indicadores de segurança – 21 eventos graves never events que podem ser notificados pelos serviços de saúde ao Sistema Nacional de Notificações para a Vigilância Sanitária (Notivisa 2.0)31. Quadro 1 – Lista dos 21 never events notificados ao Notivisa 1. Óbito ou lesão grave de paciente associados a choque elétrico durante a assistência dentro do serviço de saúde 2. Procedimento cirúrgico realizado em local errado 3. Procedimento cirúrgico realizado no lado errado do corpo 4. Procedimento cirúrgico realizado no paciente errado 5. Realização de cirurgia errada em um paciente 6. Retenção não intencional de corpo estranho em um paciente após a cirurgia 7. Óbito intra-operatório ou imediatamente pós-operatório / pós-procedimento em paciente ASA Classe 1 8. Óbito ou lesão grave de paciente resultante de perda irrecuperável de amostra biológica insubstituível 30 Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Implantação do Núcleo de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde. Brasília: ANVISA. No prelo 2014. 31 Ibidem. 31 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 9. Gás errado na administração de O2 ou gases medicinais 10. Contaminação na administração de O2 ou gases medicinais 11. Alta ou liberação de paciente de qualquer idade que seja incapaz de tomar decisões, para outra pessoa não autorizada 12. Óbito ou lesão grave de paciente associado à fuga do paciente 13. Suicídio de paciente, tentativa de suicídio ou dano auto infligido que resulte em lesão séria durante a assistência dentro do serviço de saúde 14. Óbito ou lesão grave de paciente associado ao uso de contenção física ou grades da cama durante a assistência dentro do serviço de saúde 15. Inseminação artificial com o esperma do doador errado ou com o óvulo errado 16. Óbito ou lesão grave materna associado ao trabalho de parto ou parto em gestação de baixo risco 17. Óbito ou lesão grave de paciente resultante de falha no seguimento ou na comunicação de resultados de exame de radiologia 18. Óbito ou lesão grave de paciente ou colaborador associado à introdução de objeto metálico em área de Ressonância Magnética 19. Óbito ou lesão grave de paciente associados à queimadura decorrente de qualquer fonte durante a assistência dentro do serviço de saúde 20. Úlcera (lesão) por pressão estágio III (perda total de espessura - tecido adiposo subcutâneo pode ser visível, sem exposição dos ossos, tendões ou músculos) 21. Úlcera (lesão) por pressão estágio IV (perda total de espessura dos tecidos com exposição dos ossos, tendões ou músculos) Fonte: Anvisa; 2014. As características ideais para um sistema de notificação de incidentes envolvem o anonimato, a não culpabilização e a notificação compulsória dos never events. Este sistema é útil não somente para o estudo de casos particulares, como também para desenvolver a cultura de notificação de incidentes32. 32 Fragata J. op. cit., 2011. 32 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade As iniciativas de proximidade visam introduzir normas de segurança do paciente e promover a cultura de segurança em serviços de saúde. As seguintes Metas Internacionais de Segurança do Paciente devem ser adotadas pelos serviços de saúde para melhorar segurança do paciente em serviços de saúde33: Meta 1: Identificar os pacientes corretamente; Meta 2: Melhorar a efetividade da comunicação entre profissionais da assistência; Meta 3: Melhorar a segurança de medicações de alta vigilância (high- alert medications); Meta 4: Assegurar cirurgias com local de intervenção correto, procedimento correto e paciente correto; Meta 5: Reduzir o risco de infecções relacionadas à assistência à saúde; Meta 6: Reduzir o risco de lesões ao paciente, decorrentes de quedas. As questões de segurança do paciente devem ser tratadas com total transparência durante a revelação de eventos, na revelação de campanhas de segurança do paciente que as organizações desenvolvem e no envolvimento dos cidadãos34. Um formulário específico para notificação de EAs pelo cidadão foi recentemente disponibilizado no Notivisa, pela Anvisa, sendo a notificação, voluntária, e os dados sobre os notificadores, confidenciais35. Por sua vez, a cultura de segurança (percepções, valores, atitudes e práticas vivenciadas em equipe) permite o desenvolvimento de boas práticas de segurança. Deve levar à aprendizagem, ao redesenho do sistema, mas também deve ser também uma cultura justa, que despenalize os erros honestos e puna 33 Joint Commission on the Accreditation of Healthcare Organizations, op. cit., 2005; e Fragata J. op. cit., 2011. 34 Fragata J. op. cit., 2011. 35 Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Implantação do Núcleo de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde. Brasília: ANVISA. No prelo 2014. 33 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 os erros negligentes, num ambiente de total revelação e transparência. 5.1. Integração da Segurança do Paciente aos mecanismos de Garantia da Qualidade A Gestão da Qualidade Total está no topo da evolução do conceito de qualidade, enquanto a Garantia da Qualidade está no nível imediatamente inferior, conforme esquematizado na Figura 1. Nisso, as Boas Práticas de Funcionamento (BPF) para os Serviços de Saúde, constantes na RDC nº. 63, de 28 de novembro de 2011, representam a totalidade das ações sistemáticas necessárias para garantir que os serviços prestados estejam dentro dos padrões de qualidade exigidos para os fins a que se propõem. Outro aspecto importante da norma em questão está na importância da Proteção da Saúde do Trabalhador como elemento importante da política de qualidade das instituições. Inclusive, ressalta a obrigatoriedade da instituição de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) em serviços com mais de 20 trabalhadores. Essa, por sua vez, dispõe de ferramentas que podem auxiliar o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) a analisar as causas dos principais EAs ocorridos aos pacientes, por exemplo, por meio do Mapa de Risco36. Consequentemente, ao olhar pelo prisma do conceito de Gerenciamento de Tecnologias, exposto pela RDC nº. 63/2011, as bases científicas e normativas devem embasar o planejamento e a implementação de procedimentos que abranjam cada etapa do gerenciamento, desde a entrada de tecnologias até seu descarte, visando não somente à Segurança do paciente, mas também à proteção dos trabalhadores e a preservação da saúde pública e do meio ambiente. 36 Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa . Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa – RDC n°. 63, de 25 de novembro de 2011. Dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento para os Serviços de Saúde. Diário Oficial da União, 28 nov 2011; Brasil. Agência Nacional de Vigilancia Sanitária – Anvisa. Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa – RDC n°. 36, de 25 de julho de 2013. Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, 26 jul 2013; Ministério do Trabalho e Emprego. NR-5: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Brasília, 2011. 34 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade 5.2. A interface entre a qualificação do cuidado em saúde, a promoção da segurança do paciente e o papel da vigilância sanitária de serviços de saúde Como visto anteriormente, a qualidade dos serviços prestados no âmbito da saúde está intimamente relacionada a vários fatores, e o mais primordial deles é a Segurança, que depende da implementação de uma cultura institucional. Representa, ainda, o ponto de partida para o gerenciamento dos riscos e a mensuração dos resultados alcançados. Felizmente, os dois esforços em questão, Qualidade e Segurança, tm semelhanças suficientes (a necessidade de melhores sistemas de informação, padronização e simplificação, a utilização de equipes multidisciplinares e ciclos de melhoria) para que iniciativas de melhoria da qualidade, muitas vezes, resultem em maior segurança. Outros pilares da segurança do paciente tais como a criação de uma cultura de segurança, podem ser em grande parte esforços para melhoria da qualidade, exigindo um foco específico37. A operacionalização dessa cultura se dá por meio de algumas diretrizes, tais como: 38 1. priorização da segurança acima das metas de outra natureza e o correto direcionamento dos recursos, estruturas e responsabilidades para manutenção da segurança; 2. promoção do aprendizado organizacional a partir da ocorrência de incidentes, tendo como ponto de partida o encorajamento e a recompensa pela identificação, notificação e resolução dos problemas de segurança; e 3. a responsabilização global dos trabalhadores, inclusive gestores e profissionais de saúde, pela segurança individual, da equipe, do paciente e dos familiares e dos acompanhantes. 37 Wachter RM. Compreendendo a segurança do paciente. Porto Alegre: Artmed; 2010. 320p. 38 Portaria nº. 529, de 1º de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União, 2 abr 2013. 35 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 A partir desse olhar, as Vigilâncias Sanitárias estarão mais competentes não somente para exigir o cumprimento de normas sanitárias, mas também para orientar os profissionais da assistência e gestores naquilo que lhes é peculiar: a integração das complexidades que incidem sobre uma sociedade que aceita e busca intervenções em saúde, exigindo cada vez mais o conhecimento da relação benefício/risco advinda da utilização de tecnologias. Entretanto, existem assuntos que, embora estejam aparentemente restritos ao cuidado em saúde, requerem uma articulação da política de saúde com outras, envolvendo diversas esferas governamentais e até organismos internacionais. Diante desse cenário, o SNVS (Sistema Nacional de Vigilância Sanitária), coordenado pela Anvisa, deve-se atentar para o papel da regulação em organizar o fluxo de informações relacionadas ao tema Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde, por meio da produção, sistematização e difusão de conhecimentos. 36 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade Mas para que isso ocorra de maneira legítima, fortalecendo os pilares da qualidade, é necessário que se cumpra o último dos objetivos específicos do PNSP: o fomento para inclusão do tema em questão desde o ensino técnico até a pós-graduação na área da saúde39. Com isso, doravante, as ações de Vigilância Sanitária, tanto no plano estratégico quanto no tático e operacional dos diferentes entes federativos deverão atentar para as demandas sociais, culturais, educacionais, econômicas e ambientais, sempre prezando pelos princípios da Seguridade Social, berço do Sistema Único de Saúde (SUS) na Constituição Federal de 1988. 39 Portaria nº. 529, de 1º de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União, 2 abr 2013. 37 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 considerações finais A complexidade do trabalho em saúde aumenta os riscos, demandando a aplicação de um conjunto de medidas de prevenção dos riscos relacionados à assistência e um atendimento de alta qualidade em favor da segurança do paciente nos serviços de saúde. Assim, cada vez mais podem ser verificados os esforços para melhorar a segurança, a qualidade e a satisfação do paciente em todo o mundo. Sabe- se que a segurança do paciente é um subconjunto da questão mais ampla da qualidade da assistência em serviços de saúde. Para esse alcance, é imprescindível a organização do sistema de saúde com investimentos significativos em pesquisa, melhor capacitação de profissionais de saúde, construção de sistema de informação, entre outros. Nesse ambiente, os incentivos estão mudando da promoção do melhor cuidado para a promoção do melhor atendimento com menor custo. E todas essas atividades de melhoria da qualidade e segurança do paciente são relevantes para o trabalho cada vez mais importante de remoção de desperdícios e custos desnecessários do sistema de saúde. Um importante desafio para as autoridades nacionais de saúde envolve a mensuração do desempenho e a mudança necessária de práticas e sistemas principalmente em relação às questões da segurança do paciente em serviços de saúde. 6. 38 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade Referências bibliográficas 1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Implantação do Núcleo de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde. Brasília: ANVISA. No prelo 2014. 2. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Plano Integrado para o fortalecimento do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária nos processos de gestão da segurança do paciente em serviços de saúde - Monitoramento e Investigação de Eventos Adversos e Avaliação de Práticas de Segurança do Paciente. Brasília; 2015. 3. Brasil. Agência Nacional de Vigilancia Sanitária – Anvisa. Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa – RDC n°. 36, de 25 de julho de 2013. Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, 26 jul 2013. 4. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa . Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa – RDC n°. 63, de 25 de novembro de 2011. Dispõe sobre os Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento para os Serviços de Saúde. Diário Oficial da União, 28 nov 2011. 5. Brasil. Ministério da Saúde. Programa nacional de avaliação de serviços de saúde – PNASS. Resultado do processo avaliativo 2004-2006. Brasília: 2007 6. Donabedian A. Basic approaches to assessment: structure, process and outcome. In: Donabedian A. Explorations in Quality Assessment and Monitoring. Michigan (USA): Health Administration Press; 1980. p. 77-125. 7. Donabedian A. The seven pillars of quality. Arch Pathol Lab Med. 1990 Nov;114(11):1115-8. 8. Feldman LB, Cunha ICKO. Identificação dos critérios de avaliação de resultados do serviço de enfermagem nos programas de acreditação hospitalar. Rev. Latino-Am. Enfermagem 2006; 14(4): 540-545 [cited 2014 Oct 13]; Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 11692006000400011&lng=en. 9. Fischer T, Heber F, Teixeira A. Desafio da qualidade e os impactos das transformações em organizações baianas. Revista de Administração de Empresas [internet]. 1995 [acesso em 2014 out 10] Disponível em: 7. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 39 Qualidade e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Noções Gerais - Unidade 1 http://www. scielo.br/pdf/rae/v35n1/a08v35n1.pdf 10. Fragata J. Segurança dos doentes – uma abordagem prática. Lidel: 2011; 312 p. 11. Gama ZAS, Saturno PJ. A segurança do paciente inserida na gestão da qualidade dos serviços de saúde. In: Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Assistência Segura: uma reflexão teórica aplicada à prática. Série Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde. Brasília: ANVISA; 2013. 12. Joint Commission on the Accreditation of Healthcare Organizations. 2005 JCAHO national patient safety goals: Practical strategies and helpful solutions for meeting these goals. Joint Commission Perspectives on Patient Safety. Disponível em: http://teacherweb.com/NY/StBarnabas/Law-PublicPolicy/JCINT-2005.pdf 13. Junior NNS. Segunda dimensão dos direitos fundamentais. Âmbito Jurídico [internet]. 2010 [acesso em 2014 out 10]. Disponível em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7433 14. Leape L. Errors in Medicine. Clin Chim Acta 2009;404(1):2-5. 15. Malik AM. Qualidade na Gestão Local de Serviços e Ações de Saúde, volume 16. Malik AM, Schiesari LMC. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; 1998. Série Saúde & Cidadania. 17. Ministério do Trabalho e Emprego. NR-5: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Brasília, 2011. 18. Organización Pan-Americana de Salud – OPS. Curso Virtual de Evaluación y Mejora de la Calidad de la Atención y la Seguridad del Paciente. Amarilla, AC, coordenadora. Williams, G, Interlandi C, Mazzola MAG, cols. Conceptos Generales de Calidad. Programas de Calidad. [Folleto del Curso Regional de Evaluación y Mejora de la Calidad de Atención. Centro Colaborador de la OPS/ OMS]. Argentina: Ministério de Salud de la Nación. 2011. 19. Portaria nº. 529, de 1º de abril de 2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União, 2 abr 2013. 20. Proadess/MS. (s.d.). Programa de Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde. Acesso em 06 out 2014. Disponível em: http://www.proadess.icict.fiocruz. br/index.php?pag=princ http://www./ http://teacherweb.com/NY/StBarnabas/Law-PublicPolicy/JCINT-2005.pdf http://www.proadess.icict.fiocruz/ 40 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade 21. Ribeiro MJF. Qualidade nos Serviços de Saúde. In: Zucchi P, Ferraz MB, Autor:, Guia de economia e gestão em saúde. Séries guias de Medicina ambulatorial e hospitalar. Paulo FS et al., editors. São Paulo: Manole; 2010. p. 434. 22. Silva LMV. Avaliação da qualidade de programas e ações de vigilância sanitária. In: Costa EA., org. Vigilância Sanitária: temas para debate [online]. Salvador: EDUFBA. 2009. 237 p. 23. Schiesari LMC. Cenário da acreditação hospitalar no Brasil: evolução histórica e referências externas [dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 1999. 24. Travassos C, Caldas B. A qualidade do cuidado e a segurança do paciente: histórico e conceitos. In: In: Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Assistência Segura: uma reflexão teórica aplicada à prática. Série Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde. Brasília: ANVISA; 2013. 25. Wachter RM. Compreendendo a segurança do paciente. Porto Alegre: Artmed; 2010. 320p. 26. World Health Organization (WHO). Patient safety – a global priority. Bull World Health Organ 2004;82(12): 891-970. 27. World Health Organization, World Alliance for Patient Safety (2007, June). Report on the Web-Based Modified Delphi Survey of the International Classification for Patient Safety. Geneva, Switzerland. 41 41 42 Capa Módulo 1 - Unidade 1.pdf Miolo Módulo 1 -Unidade 1.pdf Módulo 1/Unidade 2 - Cultura de Segurança em Serviço de Saúde.pdf 1 Módulo I d n o tr P o a d c u i ç e ã n o te à e S Q eg ua ur li a d n a ç d a e Copyright © 2018.Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. Organização Pan-Americana da Saúde – Opas. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa SIA Trecho 5, Área Especial 57 CEP: 71205-050, Brasília/DF – Brasil http://www.anvisa.gov.br/ Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS Setor de Embaixadas Norte, Lote 19 Cep: 70800-400, Brasília/DF – Brasil www.opas.org.br Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa Coordenação técnica Ana Clara Ribeiro Bello dos Santos Benefran Junio da Silva Bezerra Cleide Felicia de Mesquita Ribeiro Heiko Thereza Santana Helen Norat Siqueira Luana Teixeira Morelo Paulo Affonso B. de Almeida Galeão Universidade de Brasília - UNB Gerente de Projeto Cássio Murilo Alves Costa Pesquisadores Maria Auristela Menezes Costa Sanuel de Souza Teixeira Junior Designer Instrucional Cássio Murilo Alves Costa Arthur Colaço Pires de Andrade Ilustrador Weslei Marques dos Santos Projeto Gráfico e Diagramação Carla Clen Jhonanthan Fagundes Administrador Moodle Cássio Murilo Alves Costa Samuel de Souza Teixeira Junior Gerente de Produção de Educação a Distância Jitone Leônidas Soares http://www.anvisa.gov.br/ http://www.opas.org.br/ Conteudistas Ana Maria Müller de Magalhães - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS RS Ariane Ferreira Machado Avelar - Universidade Federal de São Paulo UNIFESP - SP Carla Denise Viana - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS - RS Denise Miyuki Kusahara - Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP - SP Edmundo Machado Ferraz Universidade Federal de Pernambuco - PE Fabiana Cristina de Sousa – Anvisa - DF Giovana Abrahão de Araújo Moriya - Hospital Israelita Albert Einstein - SP Gisela Maria Schebella Souto de Moura - Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS – RS Heiko Thereza Santana - Anvisa - DF Helaine Carneiro Capucho - Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares - EBSERH - DF Julia Yaeko Kawagoe - Hospital Israelita Albert Einstein - SP Kazuko Uchikawa Graziano - Universidade de São Paulo - USP - SP Luana Teixeira Morelo - Anvisa - DF Luna Ribeiro de Queiroz Pini - Anvisa - DF Magda Machado de Miranda Costa - Anvisa - DF Mara Rúbia Santos Gonçalves – Anvisa- DF Maria Jesus C.S Harada - Universidade Federal de São Paulo UNIFESP - SP Patrícia Fernanda Toledo Barbosa - Anvisa - DF Paulo Affonso Bezerra de Almeida Galeão Anvisa - DF Rafael Queiroz de Souza Doutorando em Ciências Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) USP - SP Rogério da Silva Lima - Organização Pan-Americana da Saúde OPAS/OMS Suzie Marie Gomes – Anvisa – DF Equipe de revisores técnicos da Anvisa Diana Carmem Almeida Nunes de Oliveira Gabriel Augusto Bussi Heiko Thereza Santana Helen Norat Siqueira Luana Teixeira Morelo Magda Machado de Miranda Costa Maria Angela da Paz Maria Dolores Santos da Purificação Nogueira Paulo Affonso Bezerra de Almeida Galeão Suzie Marie Gomes Equipe de revisores técnicos externos Cláudia Tartaglia Reis - Secretaria Municipal de Saúde de Cataguases - MG Rhanna Emanuela F. Lima de Carvalho - Universidade Estadual do Ceará - UECE - CE Zenewton André da Silva Gama - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - RN Wildo Navegantes de Araújo - Universidade de Brasília - UnB Colaboração Carlos Dias Lopes - Anvisa Danila Augusta Accioly Varella Barca - Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS/OMS Graziela Trevizan da Ros - Hospital do Coração Hcor - SP Humberto Luiz Couto Amaral de Moura - Anvisa Júlio César Sales - Anvisa Maria Inês Pinheiro Costa - Secretaria de Estado da Saúde de Goiás - GO Rogério da Silva Lima - Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS/OMS Zilah Cândida Pereira das Neves - Coordenação Municipal de Controle de Infecção em Serviços de Saúde COMCISS - Goiânia - GO Projeto desenvolvido no âmbito do Termo de Cooperação (TC nº 64) entre a Anvisa e a OPAS. 41 Unidade 2 Cultura de Segurança em Serviços de Saúde Sumário 1. Apresentação 45 2. Objetivos do Módulo 46 a. Geral 46 b. Específicos 46 3. Introdução 47 4. Definindo cultura de segurança 49 5. Promovendo uma cultura de segurança 52 6. Melhorando e sustentando uma cultura de segurança 53 7. Modificando a cultura de segurança 54 8. Mensurando a cultura de segurança 57 8.1 Métodos quantitativos 59 8.2 Métodos qualitativos 60 8.3 Questionários como instrumentos de avaliação da cultura de segurança 61 8.3.1 Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSOPSC) 61 8.3.2 Safety Attitudes Questionnaire (SAQ) 65 9. Interfaces regulatórias sobre cultura de segurança 68 10. Participação do cidadão para a cultura de segurança 74 11. Noções básicas no campo da vigilância sanitária 76 11.1. A vigilância sanitária de serviços de saúde e a segurança do paciente 77 11.2. A vigilância sanitária de serviços de saúde e a cultura de segurança 78 12. Considerações finais 82 13. Referências bibliográficas 84 45 CULTURA DE SEGURANÇA EM SERVIÇOS DE SAÚDE Heiko Thereza Santana Luana Teixeira Morelo Revisores: Cláudia Tartaglia Reis - Secretaria Municipal de Saúde de Cataguases - MG Rhanna Emanuela F. Lima de Carvalho - Universidade Estadual do Ceará - UECE - CE Apresentação Sabe-se que para conhecer e reconhecer os erros e falhas que podem ocorrer durante a prestação do cuidado, propondo medidas para evitar danos aos pacientes, é imprescindível a promoção e a sustentação de uma cultura de segurança nos serviços de saúde. Este módulo, portanto, trata do tema Cultura de Segurança em serviços de saúde e está direcionado aos profissionais que atuam nas Vigilâncias Sanitárias dos Serviços de Saúde. Espera-se que seu conteúdo possa contribuir para a compreensão, promoção e sustentação da cultura de segurança. 1. 46 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade objetivos do Módulo Capacitar profissionais que atuam na Vigilância Sanitária do país na temática da cultura de segurança visando à promoção da segurança sanitária e da melhoria da qualidade em serviços de saúde do país. Ao final deste módulo, você será capaz de: a. Geral 1. Compreender a importância da cultura de segurança como medida primordial para a melhoria da prática assistencial, promovendo a segurança do paciente e da qualidade em serviços de saúde do país. b. Específicos 1. Definir cultura de segurança, identificando seus principais componentes; 2. Identificar os componentes principais para a promoção da cultura de segurança; 3. Compreender as bases da mensuração da cultura de segurança; 4. Avaliar as ações e estratégias adotadas pelo serviço de saúde para a promoção e sustentação da cultura de segurança; 5. Compreender a participação dos usuários dos serviços de saúde na promoção da cultura de segurança; 6. Perceber as interfaces regulatórias da cultura de segurança em serviços de saúde; 7. Identificar o papel da Vigilância Sanitária no campo da segurança do paciente. 2. 47 Cultura de Segurança em Serviço de Saúde - Unidade 2 Introdução Os cuidados prestados nos serviços de saúde estão se tornando cada vez mais complexos, elevando o potencial para a ocorrência de erros e falhas, prejudicando a segurança do paciente nestes serviços. A preocupação mundial com a segurança do paciente tem se intensificado a partir de 2002, advinda de discussões realizadas durante a 55ª Assembleia Mundial de Saúde, especialmente a respeito do alto custo provocado pelos eventos adversos (EAs) que impactam negativamente na qualidade da atenção à saúde2. Em 2004, a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, definindo diretrizes e estratégias para incentivar e divulgar práticas promotoras de segurança do paciente3. INTRODUÇÃO 3. 48 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade Segundo o National Quality Forum (NQF), a melhoria da cultura da segurança do paciente tem sido identificada como uma das principais recomendações para promover a segurança nos serviços de saúde5. Tanto a OMS quanto o NQF consideram a cultura de segurança como um indicador básico que favorece a implantação de boas práticas em serviços de saúde, além da utilização efetiva de outras estratégias, tais como a notificação de incidentes e a aprendizagem com os problemas de segurança4,5. Logo, implementar a cultura de segurança nas instituições de saúde pode ter associação direta com a diminuição dos EAs e da mortalidade, implicando melhorias na qualidade da assistência à saúde6,7. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem atuado fortemente na área da segurança do paciente. Com a instituição da política de segurança do paciente no país, recentemente instituída pelo Ministério da Saúde (MS)1, outras medidas direcionadas à instituição e à sustentação da cultura de segurança do paciente nos serviços de saúde ainda são necessárias. 49 Cultura de Segurança em Serviço de Saúde - Unidade 2 Definindo Cultura de Segurança A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 36 de 25 de julho de 2013 define a cultura de segurança como “conjunto de valores, atitudes, competências e comportamentos que determinam o comprometimento com a gestão da saúde e da segurança, substituindo a culpa e a punição pela oportunidade de aprender com as falhas e melhorar a atenção à saúde”8. A cultura de segurança engloba um dos aspectos da cultura organizacional envolvendo o padrão comum de atitudes em relação à segurança. Deve ser considerada em três níveis: O nível superficial envolve a camada externa, podendo ser observado o comportamento das pessoas que trabalham na organização. Suas ações podem proteger ou prejudicar a segurança do paciente. 4. 50 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade O segundo nível (camada intermediária) inclui as atitudes conscientes e comunicáveis dos colegas em relação ao valor da segurança na organização. Estas podem ser congruentes ou discordantes com as práticas e regimentos oficiais das organizações. O nível mais profundo (núcleo) envolve as atitudes em geral e se refere à convicção básica que refletem os valores e o “espírito da casa”, representando os objetivos dos interessados ou a prática organizacional11. 51 Cultura de Segurança em Serviço de Saúde - Unidade 2 De acordo com o inciso V do art. 4o da Portaria no. 529, de 1 de abril de 2013, a cultura de segurança se configura a partir de cinco características operacionalizadas pela gestão de segurança da organização1: a. na qual todos os trabalhadores, incluindo os profissionais envolvidos no cuidado e os gestores, assumem responsabilidade por sua própria segurança, pela segurança de seus colegas, pacientes e familiares; b. que prioriza a segurança acima de metas financeiras e operacionais; c. que encoraja e recompensa a identificação, a notificação e a resolução dos problemas relacionados à segurança; d. que, a partir da ocorrência de incidentes, promove o aprendizado organizacional; e e. que proporciona recursos, estrutura e responsabilização para a manutenção efetiva da segurança. 52 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade Promovendo uma Cultura de Segurança Um aspecto importante para o estabelecimento das estratégias e ações de segurança do paciente é o estabelecimento e manutenção da cultura de segurança na instituição8. O inciso VI do Art. 5º da Portaria n°. 529/2013 trata da promoção da cultura de segurança com ênfase no aprendizado e aprimoramento organizacional, engajamento dos profissionais e dos pacientes na prevenção de incidentes, com destaque em sistemas seguros, evitando-se os processos de responsabilização individual como uma das estratégias de implementação do PNSP1. De acordo com Leape, a cultura de segurança deve estar alicerçada nos pilares14: 1. Cultura justa: as pessoas não são punidas por seus erros e falhas, mas as violações não são toleradas; 2. Cultura de relato e notificação: as pessoas devem relatar erros sem receio de culpa ou punição; 3. Cultura de aprendizagem contínua: os erros devem ser conhecidos, investigados, as soluções encontradas e implementadas, sendo posteriormente controladas nos seus efeitos. 5. 53 Cultura de Segurança em Serviço de Saúde - Unidade 2 Melhorando e sustentando uma Cultura de Segurança A melhoria e manutenção da cultura de segurança nos serviços de saúde podem ser alcançadas por meio de14,15,16: 1. Desenvolvimento de sistemas de liderança: os líderes devem estar envolvidos no processo de criar e transformar a cultura de segurança. As estruturas de liderança devem ser estabelecidas com a intenção de sensibilizar, responsabilizar, habilitar e agir em favor da segurança de cada um dos pacientes atendidos. 2. Realização periódica de avaliação da cultura de segurança: devem ser utilizados questionários validados que abrangem as várias dimensões que compõem o construto da cultura de segurança. Os resultados devem ser informados aos profissionais e gestores para a implementação local de medidas de melhoria necessárias. 3. Promoção de trabalho em equipe: com enfoque proativo, sistemático e organizacional de trabalho, contribuindo para a construção de habilidades profissionais e melhoria dos desempenhos das equipes para a redução de danos preveníveis. 4. Identificação e mitigação de riscos e perigos: identificação e redução dos riscos e perigos relacionados com a segurança do paciente, por meio de enfoque contínuo de redução dos danos preveníveis. Ainda, o serviço de saúde deve contar com um bom sistema de vigilância e monitoramento que revele os prováveis problemas de segurança do paciente, reforçando a importância do acompanhamento de bons indicadores. 6. 54 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade Modificando a Cultura de Segurança Quando se procura modificar a cultura local, tornando os ambientes da instituição mais seguros, podem surgir diversas reações, constituindo barreiras, tais como as formas de resistências individuais e organizacionais. A cultura de segurança apresenta um modelo de 5 níveis de evolução de maturidade17,18: 1. Patológica: os incidentes são vistos como inevitáveis e as medidas de segurança como perturbadoras do trabalho. O comprometimento com iniciativas de segurança é escasso e as medidas são tomadas por imposição de normas legislativas e reguladoras; 2. Reativa: a política de segurança limita-se a reagir a eventos, tentando identificar um culpado próximo. As ações corretivas são tomadas após a ocorrência de incidentes; 3. Calculista: a segurança é gerenciada administrativamente, por meio da coleta de dados. As melhorias são impostas pelos gerentes e a maioria do pessoal não se envolve; 4. Proativa: os funcionários da organização passam a tomar iniciativas para melhoria da segurança. as medidas de segurança fazem parte da rotina diária e ocorre a melhoria dos processos; 7. 55 Cultura de Segurança em Serviço de Saúde - Unidade 2 5. Geradora ou participativa: é a forma mais aperfeiçoada de cultura de segurança. Ocorre a participação ativa dos funcionários e a busca de melhorias contínuas. A segurança está incorporada nas operações diárias e favorece um ambiente livre de culpas. Quadro 1 – Os 5 níveis de evolução de maturidade e aspectos correspondentes da cultura de segurança. PATOLÓGICA REATIVA CALCULISTA PROATIVA GERADORA Suposições Indivíduos são Tentam se livrar A gestão tem A gestão A meta é não sobre as considerados de membros da mais atitude de considera todo culpar indivíduos; causas do como os equipe que são exclusão do que o sistema (todos membros incidente culpados; mais propensos de inclusão, com os processos). da equipe incidentes a errar, causas perspectiva mais mostram maior fazem parte relacionadas relacionada ao compreensão no da rotina de ao sistema são individual do que que diz respeito trabalho. consideradas, ao sistema. à interação dos mas não resultam sistemas com os em ações. indivíduos. Relatório Não tem Os relatórios Os relatórios são Os relatórios Informações sobre riscos relatórios. são simples e escritos de acordo focam nas dos relatórios e ações focam na questão com uma forma origens, não só são usadas inseguras de quem ou o determinada, com nos eventos; ativamente em que causou o o intuito de se notificações todos os níveis na acidente. receber o maior imediatas são rotina diária. número possível encorajadas. de relatórios. Como os Apenas As investigações As causas são Informações Exames e incidentes são incidentes se concentram esperadas pelo e "lições análises focam relatados e graves são exclusivamente pessoal da equipe, aprendidas" são na ampla analisados? avaliados. nas causas na maior parte das compartilhadas compreensão diretas; o foco vezes. com toda a de como os é colocado na organização; incidentes identificação do existem poucas ocorrem. culpado. suposições sobre como fatores subjacentes podem afetar os processos. O que A prioridade A gestão reage Os membros Exames focam A gestão mostra acontece é minimizar com raiva a cada da equipe nas razões interesse em depois de um o dano e novo relatório reportam sobre profundamente todas as pessoas incidente? reiniciar a sobre incidentes; seus próprios subjacentes; os envolvidas e produção. os relatórios incidentes, resultados são no exame do podem não ser a gestão se reportados à processo. entregues aos importa com as gestão. superiores. consequências no relatório anual de negócios. Técnicas de Não existe Depois de um Tecnologias A análise da A segurança segurança no técnicas; incidente, uma disponíveis no segurança no no trabalho trabalho "Cuide de estratégia de mercado são trabalho é aceita é checada si mesmo gestão de risco introduzidas pela equipe regularmente que nada vai é introduzida, mesmo sem como sendo em um processo acontecer". e depois disso, incidentes de interesse definido; os não é usada terem ocorrido, pessoal. membros da sistematicamente no entanto, equipe não têm . são poucas as receio de indicar consequências perigos. visíveis. 56 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade PATOLÓGICA REATIVA CALCULISTA PROATIVA GERADORA Capacitação A capacitação A capacitação é Há muita A gestão Tópicos como para aumentar é considerada relacionada ao capacitação para reconhece as "atitude" são a competência um mal indivíduo; "se situações gerais e competências e consideradas tão necessário; tivermos sucesso alguma parte dela as habilidades importantes como presença em mudar sua é transferida para da equipe "conhecimento" apenas nas atitude, tudo vai o local de trabalho adquiridas no ou "habilidades capacitações ficar bem". com sucesso. trabalho. práticas"; a obrigatórias. necessidade de capacitação é avaliada e métodos de aprendizado são sugeridos pelos membros das equipes. Recompensas Não é Existe apenas Elogios são Existe Trabalho com pela boa esperada, nem a punição por ditos por recompensa por comportamento performance dada; falhas comportamentos comportamento boa performance consciente com no campo da são punidas. que comprometam consciente no campo de a segurança segurança a segurança. relacionado com a segurança. é motivação segurança. suficiente. Fonte: Parker D, Lawrie M, Hudson P; 200617. 57 Cultura de Segurança em Serviço de Saúde - Unidade 2 Mensurando a Cultura de Segurança A mensuração da cultura de segurança do paciente pode ser realizada por meio de um instrumento empregado no planejamento de ações que visam aumentar a qualidade dos serviços prestados, podendo ser a primeira etapa para o estabelecimento de uma cultura de segurança em uma unidade de saúde19,20. Trata-se de uma avaliação que permite diagnosticar a cultura de segurança da organização e conscientizar os funcionários acerca do tema21. Ainda, essa ferramenta possibilita a realização de análises das intervenções realizadas na organização e o acompanhamento de mudanças ao longo do tempo22. A avaliação da cultura de segurança identifica prospectivamente as questões relevantes à segurança do paciente nas rotinas e condições de trabalho para o monitoramento de mudanças e resultados relacionados ao tema22. Existem três diferentes abordagens metodológicas empregadas na avaliação da cultura em saúde, a saber20: 1. Abordagem epidemiológica: é a predominante atualmente. Avalia a cultura quantitativamente por meio de questionários de autopreenchimento e está relacionada à mensuração do clima de segurança ou dos componentes mensuráveis da cultura; 8. 58 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade 2. Abordagem sociológica: a cultura é avaliada qualitativamente por meio de reuniões; e 3. Abordagem socioantropológica: utiliza observações e entrevistas. Dessas abordagens derivam dois grandes métodos de mensuração: os quantitativos e os qualitativos. 59 Cultura de Segurança em Serviço de Saúde - Unidade 2 8.1 Métodos quantitativos A avaliação quantitativa da cultura de segurança dos serviços de saúde por meio de questionários de autopreenchimento é atualmente a metodologia mais empregada20. Ela permite o acesso às informações relatadas pelos profissionais a respeito de suas percepções e comportamentos relacionados à segurança, possibilitando a identificação das áreas mais problemáticas21,22. Há autores que distinguiram 23 dimensões da cultura de segurança em saúde20,24. Estas englobam a percepção geral da segurança, com respeito as suas próprias práticas e as do coletivo e também as estratégias gerenciais com relação à segurança em um contexto de não punição do erro. A quantidade e o tipo das dimensões exploradas variam de um estudo a outro (2 a 23), assim como seus itens (de 9 a 172)20. Apesar de ser o método mais utilizado, alguns autores expõem as falhas da avaliação da cultura e do clima de segurança por meio de questionários de autopreenchimento20. A maior parte dos questionários existentes medem as atitudes do ponto de vista da segurança, com pouca ou nenhuma atenção dada a como as organizações lidam com os riscos através de normas, regras e princípios ou como a organização reflete sobre as práticas de segurança20,25. Para esses autores, os estudos por meio de questionários foram reduzidos à mensuração de atitudes e práticas individuais em um determinado contexto, o que seria mais próximo do conceito de clima de segurança19. 60 Módulo 1 - Introdução à Segurança do Paciente e Qualidade As principais críticas relacionadas à utilização de questionários para avaliar o clima de segurança em saúde envolvem20,24: 1. falta de informação sobre a elaboração e a confiabilidade das ferramentas empregadas em determinados contextos; 2. grande variação do número de dimensões exploradas e seus itens, tornando os estudos comparativos inapropriados; e 3. problemas nos cálculos de pontuações de cultura ou clima de segurança pela incerteza de que um fenômeno de grupo possa ser representado por dados individuais agregados. Outra questão abordada por alguns autores diz respeito à coleta e análise dos dados. Considerando a existência de subculturas dentro das organizações, especulam-se quais grupos devem ser abordados na avaliação do clima e cultura de segurança, tais como unidades de serviço, equipes de trabalho ou categoria profissional. Pronovost e Sexton (2005)26 sugerem que a análise deve ser realizada na unidade de trabalho, enquanto Gaba (2000)27 afirma que é importante explorar todos os níveis de análise, pois as informações trazidas de diferentes grupos são complementares20. 8.2 Métodos qualitativos A avaliação qualitativa da cultura de segurança é geralmente baseada na realização de entrevistas, observações, auditorias e análise documental. Este método ainda é raro, pois demanda tempo e maiores investimentos. Há vários estudos qualitativos realizados na área de risco industrial, mas infelizmente eles ainda são escassos no campo da segurança do paciente20. Métodos qualitativos seriam muito úteis no domínio da saúde, permitindo obter informações da entidade estudada para construção de ferramentas quantitativas melhor adaptadas e também para validar e completar os resultados dos estudos quantitativos20,28. 61 Cultura de Segurança em Serviço de Saúde - Unidade 2 8.3 Questionários como instrumentos de avaliação da cultura de segurança Os questionários existentes para mensurar características da cultura de segurança em organizações de saúde diferem quanto ao número de itens e de dimensões que mensuram e em relação à variação nas suas propriedades psicométricas - validade e confiabilidade22. As ferramentas
Compartilhar