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Nicolau Maquiavel O Cidadão Sem Fortuna, O Intelectual de Virtù Resumo

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Pedro Fortunato Oliveira
Centro Federal de Ensino Tecnológico de Minas Gerais - CEFET-MG
Rdc 2A
Nicolau Maquiavel: 
O Cidadão Sem Fortuna, O Intelectual de Virtù
Filosofia
Belo Horizonte
2022
	Os termos “maquiavelismo” e “maquiavélico” fazem parte tanto do discurso erudito quanto da fala do dia-a-dia. Eles se metamorfoseiam de acordo com os acontecimentos, já que podem ser apropriados por todos.
	Personificando a imoralidade, o jogo sujo e sem escrúpulos, o "maquiavelismo" tornou-se mais forte do que Maquiavel.
As desventuras de um florentino
Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, um município da Itália, em 3 de maio de 1469. Passou a infância e a adolescência em um cenário de conflitos e invasões constantes por parte de estrangeiros em seu país, em que nenhum dos governantes conseguia sequer passar de dois meses se mantendo no poder.
	Sua família não era nem aristocrática, nem rica. Porém ele recebia uma aprimorada educação clássica de seu pai, e, com apenas 12 anos, já dominava a retórica greco-romana. Aos 29 anos, começou a exercer seu primeiro cargo de destaque na vida pública, passou a ocupar a Segunda Chancelaria, destacando-se sua diligência em instituir uma milícia nacional.
	Porém, quando os Médicis, uma família italiana muito poderosa, retornaram para Florença, as tarefas e os planos de Maquiavel sofreram uma interrupção. Isso aconteceu em 1512, e nesse mesmo ano, ele foi demitido e proibido de abandonar o território florentino, além de vedar seu acesso a qualquer prédio público. Um ano depois foi condenado à prisão por ser acusado de tomar parte na fracassada conspiração contra o governo dos Médicis.
	Ao sair da prisão, ele não conseguiu seus direitos de volta, e, para não ficar parado, voltou a estudar os clássicos na propriedade que herdara de seu pai.
	Deste retiro forçado nasceram as obras do analista político. O Príncipe (1512/1513), Os Discursos Sobre a Primeira Década de Tito Lívio (1513/1519), A Arte da Guerra (1519/1520) e História de Florença (1520/1525).
	Depois da redação de O príncipe, a vida de Maquiavel é marcada por uma contínua alternância de esperanças e decepções. Com a queda dos Médicis em 1527, ele imaginou assim que estava livre, porém, vê-se identificado pelos jovens republicanos como alguém que possuía ligações com os tiranos depostos, já que havia escrito um livro contando a história da cidade. Ali viu-se vencido. Desgostoso, adoece e morre em junho.
A verdade efetiva das coisas
	A preocupação de todas as obras de Maquiavel é o Estado. Não o melhor Estado, um imaginado, que nunca existiu. Mas sim o Estado real, capaz de impor ordem, que existe. Fazendo isso, ele rejeita a tradição idealista de Platão, Aristóteles e Santo Tomás de Aquino e segue a trilha inaugurada pelos historiadores antigos. Seu ponto de partida e de chegada é a realidade concreta, a verità effetuale (verdade efetiva das coisas). O que ele queria com suas análises políticas era descobrir como reinar a ordem para instaurar um Estado estável, sem caos.
	Vendo e examinando a realidade tal como ela é e não como se gostaria que ela fosse, Maquiavel cria uma nova articulação sobre o pensar e fazer política, que põe fim à ideia de uma ordem natural e eterna. Assim provoca uma ruptura com o saber repetido pelos séculos.
	Ele diz que a ordem, produto necessário da política, não é natural e que deve ser construída pelos homens para se evitar o caos e a barbárie, e, uma vez alcançada, ela não será definitiva, pois sempre existe a ameaça de que seja desfeita.
	Para conhecer Nicolau é preciso suportar a ideia da incerteza, da contingência e de que nada é estável. E mais ainda: o mundo da política não leva ao céu, mas sua ausência é o pior dos infernos.
Natureza humana e história
	Guiado pela busca da verità effetuale, Maquiavel estuda a história e reavalia sua experiência como funcionário do Estado. E esse estudo o levou a concluir que pode-se observar a presença de traços humanos em toda parte e em todos os tempos. Afirma que os atributos negativos (ingratidão, covardia, etc.) são o que compõe a natureza humana e mostra que o conflito e a anarquia são desdobramentos necessários. O estudo do passado se mostra ser uma fonte de ensinamentos, um desfile de fatos dos quais se deve extrair as causas e os meios utilizados para enfrentar o caos resultante da expressão da natureza humana.
	A história é cíclica, a ordem sucede à desordem, e a desordem clama por uma nova ordem. Não há meios absolutos para "domesticar" a natureza humana. O poder político aparece como a única possibilidade de enfrentar o conflito, ainda que qualquer forma de “domesticação” seja precária e transitória.
Anarquia X Principado República
	Maquiavel acrescenta um importante fator social de instabilidade: a presença inevitável, em todas as sociedades, de duas forças opostas. Uma das forças provém de o povo não desejar ser dominado pelos grandes, e a outra de os grandes quererem dominar o povo. O problema político é então encontrar mecanismos que imponham a estabilidade das relações, que sustentem uma determinada correlação de forças.
	Maquiavel sugere que há basicamente duas respostas à anarquia decorrente da natureza humana e do confronto entre os grupos sociais: o Principado e a República. A escolha entre uma e outra depende da situação. Quando a nação encontra-se ameaçada de deterioração, é necessário um governo forte, que possa inibir a vitalidade das forças desagregadoras, como o Principado, só o poder de um príncipe pode resolver esse problema. E quando a sociedade encontra formas de equilíbrio, ela está pronta para a República, também chamada de liberdade pelo pensador.
	Face à Itália de sua época, Maquiavel não tinha dúvidas. Era preciso, enfim, um príncipe.
Virtù X fortuna
	A crença na predestinação dominava há longo tempo. Este era um dogma que Maquiavel teria que enfrentar. Afinal, a política era uma prática do homem sujeito da história, e essa prática exigia virtù, o domínio sobre a fortuna.
	Para pensar sobre a virtù e a fortuna, mais uma vez Maquiavel recorre aos ensinamentos dos historiadores clássicos. Para os antigos, a Fortuna não era uma força maligna. Sua imagem era a de uma deusa boa, que possuía tudo o que os homens desejavam: a honra, a riqueza, a glória e o poder. Esta visão foi inteiramente derrotada com o triunfo do cristianismo. A boa deusa, disposta a ser seduzida, foi substituída por um "poder cego".
	Maquiavel inicia o penúltimo capítulo de O Príncipe referindo-se à crença no destino (Fortuna) como força da providência divina, sendo o homem impossibilitado de alterar o seu curso. Assim, ele monta um cenário no qual a liberdade do homem é capaz de amortecer o suposto poder incontrastável da Fortuna.
	Desta forma, o poder não é mais relacionado à força bruta, mas sim à sabedoria do uso e à forma virtuosa de usar a força. O governante não é, pois, simplesmente o mais forte, mas sobretudo o que demonstra possuir virtù.
	A força explica o fundamento do poder, porém é a posse de virtù a chave por excelência do sucesso do príncipe. É necessária mais nos domínios recém-adquiridos do que naqueles há longo tempo acostumados ao governo de um príncipe e sua família, no entanto, nem mesmo o principado hereditário é seguro. Não há garantias de que o domínio permaneça, caso o herdeiro não possua virtú, um poder rival poderá impor-se.
	Os meios para vencer as dificuldades e manter o Estado, para Maquiavel, nunca deixarão de ser julgados honrosos.
	O mito, uma constante em sua obra, é desmistificado. Maquiavel recupera no mito as questões que aí jaziam adormecidas e pacificadas. No entanto, desmistificar sempre tem um alto risco. O cidadão florentino pagou o risco com sua vida, e mesmo com sua morte, não teve o descanso do esquecimento. Com isso, foi transformado em mito, e novamente vitimizado.
	O pensamento político moderno e crítico precisa resgatá-lo em sua verità effettuale para decifrar o enigma proposto em sua obra. É isso o que se deve a Nicolau Maquiavel, o cidadão sem fortuna,o intelectual de virtù.

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