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Dor de cabeça, um sintoma muito comum, pode ser causada por uma anormalidade grave subjacente, mas geralmente é devida a transtornos denominados cefaleias primárias, tais como enxaqueca, cefaleia do tipo tensional, cefaleia em salvas e hemicrania paroxística. Principal queixa dos pacientes no ambulatório de neurologia e uma das queixas mais frequentes em PA e PS. Devemos: ➢Diferenciar cefaléia primária x cefaléia secundária. ➢Reconhecer os principais tipos de cefaléia. ➢Reconhecer os sinais de alerta em uma cefaléia de início recente ou com mudança de caráter. A dor em geral ocorre quando nociceptores periféricos são estimulados em resposta a lesão tecidual, distensão visceral ou outros fatores. Nessas situações, a percepção da dor é uma resposta fisiológica normal mediada pelo sistema nervoso saudável. A dor também pode ocorrer quando as vias de produção da dor do sistema nervoso periférico ou central (SNC) são lesionadas ou excessivamente ativadas. A cefaleia pode originar-se de um ou ambos os mecanismos. Relativamente poucas estruturas cranianas geram dor; elas incluem o couro cabeludo, a artéria meníngea média, os seios durais, a foice do cérebro e os segmentos proximais das grandes artérias da pia-máter. O epêndima ventricular, o plexo coroide, as veias da pia-máter e grande parte do parênquima cerebral não geram dor. As principais estruturas envolvidas na cefaleia primária parecem ser as seguintes: ➢ Os grandes vasos intracranianos e a dura-máter e os terminais periféricos do nervo trigêmeo que inervam tais estruturas; ➢ A parte caudal do núcleo trigeminal, que se estende até os cornos dorsais da medula cervical superior e recebe impulsos da primeira e da segunda raízes nervosas cervicais (complexo trigeminocervical); ➢ Regiões rostrais de processamento da dor, como o tálamo ventroposteromedial e o córtex; ➢ Os sistemas moduladores da dor no cérebro que modulam o impulso dos nociceptores trigeminais em todos os níveis de vias de processamento da dor e influenciam as funções vegetativas, como as estruturas do hipotálamo e tronco cerebral. A inervação dos grandes vasos intracranianos e dura-máter pelo nervo trigêmeo denomina-se sistema trigeminovascular. Os sintomas cranianos autônomos, como lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, edema periorbital, plenitude da aura e ptose são proeminentes nas cefalalgias autonômicas do trigêmeo, como a cefaleia em salvas e a hemicrania paroxística, podendo ser também observados na enxaqueca, mesmo em crianças. Tais sintomas autônomos refletem ativação das vias cranianas parassimpáticas, e exames de imagem funcionais indicam que as alterações vasculares na enxaqueca e na cefaleia em salvas, quando presentes, são igualmente provocadas por tais sistemas cranianos autônomos. Além disso, eles frequentemente podem ser confundidos com sinais ou sintomas de inflamação do seio craniano, o que é assim superdiagnosticado e tratado de maneira inadequada. A enxaqueca e outros tipos de cefaleia primária não são “cefaleias vasculares”; esses distúrbios não manifestam alterações vasculares de maneira confiável, e os desfechos do tratamento não podem ser previstos por efeitos vasculares. A enxaqueca é um distúrbio cerebral e é mais bem compreendida e tratada como tal. ➢ Aguda de Lancinante: indicativo de HAS ou aneurisma; ➢ Vaga e Constante: indicativo de massa intracraniana; ➢ Aperto e Apreensão: indicativo de cefaleia tensional; ➢ Pulsátil e Latejante: indicativo de enxaqueca. ➢ Occipital (faixa) → tensional, meningite, distúrbio da articulação, nervo ou ligamento da coluna cervical superior ➢1ª divisão trigêmeo → nevralgia pós-herpética ➢2ª e 3ª divisão trigêmeo → nevralgia do trigêmeo ➢Faringe e meato auditivo externo → nevralgia do glossofaríngeo ➢Sinais vitais (temperatura, pulso, FC, FR) ➢Palpação couro cabeludo ➢Palpação dos seios da face ➢Contraturas musculares ➢Fundo de olho ➢Sinais meníngeos ➢Exame neurológico básico: pares cranianos, motricidade e sensibilidade Designa-se cefaleia primária a condição na qual a cefaleia está associada a eventuais outros sinais e sintomas que constituem o próprio transtorno. O diagnóstico de cefaleia primária é, essencialmente, clínico e depende da exclusão de causas secundárias. Normalmente, a cefaleia primária caracteriza-se por tendência para a cronicidade, diante da recorrência dos episódios álgicos. As principais entidades que compõem o grupo das cefaleias primárias são: A enxqueca é um transtorno de alta prevalência e impacto na qualidade de vida dos seus portadores. Essa queixa comum caracteriza-se por ser potencialmente incapacitante, sendo a principal responsável por absenteísmo e queda na produtividade, do ponto de vista laboral, o que tem repercussão socioeconômica importante, a nível mundial. Apesar de tamanha importância, essa é uma entidade clínica que, ainda hoje, é subdiagnosticada e, por conseguinte, subtratada. A enxaqueca consiste em uma síndrome clínica marcada pela cefaleia de padrão específico, como sintoma principal, acompanhada de sintomas neurológicos focais transitórios (principalmente, visuais e sensitivos) precedentes ou simultâneos ao quadro álgico, os quais configuram a aura. Alguns pacientes podem apresentar um quadro premonitório que antecede o episódio cefalálgico em dias a horas, marcado por hipo ou hiperatividade, depressão, fadiga, desejo por alimentos específicos etc. Em alguns casos, os pacientes não experimental aura. É necessária a existência de, pelo menos, 5 episódios de cefaleia atendendo os seguintes critérios: - Duração de 4 a 72 horas (não tratada ou com falha terapêutica); - Presença de, pelo menos, 2 das 4 características a seguir: dor unilateral; dor pulsátil; dor moderada ou grave; piora com atividade física habitual (por exemplo, caminhada, subir escadas); - Coexistência de, pelo menos, 2 dos seguintes sintomas: náuseas e/ou vômitos; fotofobia e fonofobia; - Sem outra causa que justifique o quadro. → Tratamento de crise fraca: deve-se orientar os pacientes a permanecerem, durante a crise, em repouso em ambiente calmo, silencioso e escuro. Alguns pacientes respondem ao uso de compressas geladas e manobras de compressão das têmporas, embora não haja evidências sólidas na literatura que corroborem a eficácia dessas medidas. Nos casos refratários às medidas não farmacológicas, pode-se lançar mão de drogas não específicas: analgésicos simples, como dipirona e paracetamol, anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), como ibuprofeno, diclofenaco de potássio e naproxeno sódico. Quando houver náuseas/vômitos associadas, pode-se administrar antieméticos, como domperidona e metoclopramida. Vale ressaltar que a metoclopramida é contraindicada a pacientes com histórico de manifestações extrapiramidais, distonia ou episódio prévio de sedação intensa. → Tratamento de crise moderada: além dos analgésicos simples e dos AINEs, é possível empregar drogas específicas para o tratamento da migrânea – triptanos e agentes ergóticos, como o tartarato de ergotamina e mesilato de di-hidroergotamina – no tratamento de crises de enxaqueca de moderada intensidade. É importante salientar que a aplicabilidade dos ergóticos é limitada, uma vez que seu efeito terapêutico só é efetivo quando instituido precocemente na crise. Por outro lado, os triptanos são úteis no controle álgico em qualquer momento da crise. Nos casos de recorrência dos episódios cefalálgicos, recomenda-se associar triptano com AINE (ácido tolfenâmico e naproxeno sódico). O uso de antieméticos e gastrocinéticos é indicado na vigência de náuseas e vômitos. → Tratamento de crise intensa: crises fortes de enxaqueca podem ser tratadas com triptanos, indometacina e clorpromazina. Pode-se considerar o uso de dexametasona ou haloperidol. Nos casosde recorrência da cefaleia, a associação entre tiptanos e AINEs também é recomendada. É a cefaleia primária mais prevalente em todo mundo (30% a 78% ao longo da vida na população geral), com alta repercussão socioeconômica. Seu pico de acometimento se dá na quarta década de vida. A dor pode estar localizada em região frontal, occipital e até mesmo ser holocraniana. Normalmente, a cefaleia tensional episódica é atribuída a estresse físico, muscular (por exemplo, prática de atividade física exacerbada, cansaço, mal posicionamento cervical durante sono ou atividade laboral) ou emocional. A palpação da musculatura pericraniana pode revelar eventual hipertonia e hiperestesia. É necessária a existência de, pelo menos, 10 episódios de cefaleia atendendo os seguintes critérios: • Duração de 30 minutos a 7 dias; • Presença de, pelo menos, 2 das 4 características a seguir: dor bilateral; dor em aperto ou pressão (não pulsátil); dor de leve a moderada intensidade; dor não potencializada por atividade física habitual; • Não associada a náuseas/vômitos; • Presença de apenas um dos seguintes sintomas: fotofobia ou fonofobia; • Sem outra causa que justifique o quadro. O manejo da cefaleia tensional na unidade de emergência conta com orientações em relação a medidas comportamentais profiláticas, como adoção de ritmo de sono regular, controle de estresse, redução ou suspensão do consumo de bebidas alcóolicas. Segundo o Protocolo Nacional para Diagnóstico e Manejo das Cefaleias nas Unidades de Urgência do Brasil, de 2018, a terapia farmacológica se baseia na Cefaleias 13 prescrição de analgésicos simples (dipirona 500 a 1.000 mg de 6 em 6 horas; paracetamol 750 a 1.000 mg de 6 em 6 horas); AINEs (ibuprofeno 400 a 800 mg de 6 em 6 horas; naproxeno sódico 500 mg – dose inicial – e 250 mg de 6 em 6 horas). No mercado, atualmente, estão disponíveis formulações com cafeína associada, o que aumenta a eficácia no controle álgico. Na ausência de resposta a um fármaco dentro de 1 a 2 horas, pode-se administrar outra medicação. Segundo a 3ª Classificação Internacional das Cefaleias, as cefaleias trigêmino- -autonômicas (CTA’s) são, normalmente, descritas como dores excruciantes caracterizadas por serem lateralizadas e associadas a sinais e sintomas parassimpáticos ipslaterais à cefaleia. As CTA’s se dividem em 2 tipos principais: → Cefaleia em salvas: é necessária a existência de, pelo menos, 5 crises de cefaleia atendendo os seguintes critérios: Em se tratando de uma crise aguda de cefaleia em salvas, uma alternativa terapêutica é a oferta de oxigênio a 100%, em máscara de recirculação, com fluxo de 10-12 L/min por 20 minutos. O uso de triptano subcutâneo também tem efeito analgésico importante na cefaleia em salvas. O uso de analgésicos comuns e opioides não é efeito no controle álgico. É importante orientar o paciente no sentido de evitar fatores gatilho, como consumo de bebida alcoólica, até o término do período de atividade do transtorno. → Cefaleia hemicraniana paroxística: é necessária a existência de, pelo menos, 20 crises de cefaleia atendendo os seguintes critérios: O tratamento da hemicânia paroxística no adulto é realizado com administração de indometacina na dose inicial de 150 mg/dia. A dose pode ser aumentada até 225 mg/dia, conforme a necessidade. As doses de manutenção, após cessação da crise, são, habitualmente, menores. Por outro lado, o termo cefaleia secundária denomina a cefaleia, na condição de sintoma, de uma doença sistêmica ou neurológica potencialmente grave subjacente. A cefaleia secundária comumente tem etiologia estrutural, demandando realização de propedêutica complementar. Habitualmente, a cefaleia secundária surge de forma súbita e está acompanhada de determinados sinais de gravidade, também chamados sinais de alarme, conforme sintetiza o mnemônico SNOOP. Apesar da grande utilidade do uso do mnemônico SNOOP para sistematizar a abordagem inicial, no sentido de pesquisar cefaleia secundária, as alterações do exame neurológico são determinantes na definição de alteração estrutural neurológica como etiologia da cefaleia. A hemorragia subaracnóide (HSA) trata-se da causa mais prevalente de cefaleia intensa incapacitente e persistente (25% dos casos de cefaleia de início explosivo correspondem à cefaleia secundária à HSA). Por outro lado, até 50% dos casos de HSA pode cursar com sangramento sentinela, levando a um quadro álgico de menor intensidade, o que implica em diagnóstico tardio e, consequente, morbimortalidade importante. A taxa de mortalidade estimada da HSA é de 40% a 50%, enquanto 50% dos casos sobreviventes apresenta incapacidade. Secundário à ruptura de aneurismas ou MAV (má formação arteriovenosa). O quadro clínico característico da hemorragia subaracnóide consiste na dor de início súbito, frequentemente, descrita como “pior dor da vida” ou dor “em trovoada” (alcança seu pico de intensidade em segundos, após seu início) associada à rigidez de nuca e outros sinais de meningismo, na ausência de febre. A dor é, normalmente, de localização occipital e padrão em “facada/pontada”. Pode estar acompanhada de sinais neurológicos focais, dependendo da extensão e localização do foco hemorrágico. O diagnóstico da HSA é realizado com base na história clínica e confirmado com a realização de tomografia computadorizada sem contraste, cuja sensibilidade nas primeiras 12 horas, após o início do sangramento, é de 98%. Resultado inconclusivo de TC indica realização de punção lombar para análise do líquor: a xantocromia liquorica é um parâmetro presente em todos os casos de HSA. A ressonância magnética não está indicada na investigação inicial, embora possa ser útil diante de resultado normal de TC associada a LCR alterado. Meningite é uma doença que resulta de um processo inflamatório das meninges, que são as membranas que recobrem o encéfalo e a medula espinhal. As etiologias são diversas, podendo ser causada por bactérias, vírus, fungos e, mais raramente, parasitas (protozoários e helmintos), sendo que, algumas etiologias podem cursar com quadros graves, com alta letalidade, mesmo com o tratamento adequado, ou ainda apresentar evolução para quadros hemorrágicos, que se confundem com infecções como febre maculosa, dengue,dentre outras. A doença meningocócica (DM), causada pela bactéria Neisseria meningitidis (meningococo) e os vírus são os principais responsáveis por surtos e epidemias. A meningite meningocócica possui alta morbidade e letalidade. Entretanto a meningite viral é mais frequente que a bacteriana, sendo caracterizada geralmente por quadros benignos e autolimitados. Quadro clínico típico: cefaléia intensa e aguda, sinais meníngeos e febre. Possivelmente confundida com enxaqueca devido à presença de sintomas cardinais de cefaléia latejante, fotofobia, fonofobia, náusea e vômitos. • Harrison e cols. Medicina Interna – Ed. Mc Graw Hill,16a. Edição, 2005. • Cecil, Goldman e Ausiello e cols. Tratado de Medicina Interna, Ed. Elsevier, 22a. Edição, 2005. • Sanar Flix
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