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7 Cocos gram-negativos e outros grupos de bactérias (Bacteriologia II)

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NEAD – Núcleo de Educação a Distância 
ROTAS DE APRENDIZAGEM 
Bacteriologia II | Cocos gram-negativos e outros grupos de bactérias | Aula 07 
Onde Chegar 
• Identificar e caracterizar os principais gêneros de cocos gram-negativos e outros grupos 
de bactérias. 
 
O que Aprender 
• Neisseria; 
• Moraxella; 
• Treponema, Leptospira e Borrelia; 
• Mycoplasma, Ureaplasma, Chlamydia e Rickettsia. 
 
 
AULA 
07 
Cocos gram-negativos e outros grupos 
de bactérias 
Bacteriologia II 
 
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Desenvolvimento 
Este Guia de Aprendizagem tem o objetivo de apresentar as principais características, 
patologias e diagnósticos relacionados às bactérias gram-negativas em formatos de 
cocos e outros grupos de bactérias. 
 
Cocos gram-negativos 
• Neisseria: são aeróbias, geralmente cocos (0,6 a 1,0 μm de diâmetro) e dispostas em 
pares (diplococos), com os lados adjacentes achatados (lembrando grãos de café). Todas 
as espécies são oxidase-positivas e a maioria produz catalase, propriedades que, 
combinadas com a coloração de Gram e a morfologia, permitem a rápida identificação 
presuntiva de um isolado clínico. Ácidos são produzidos por oxidação de carboidratos 
(não por fermentação): N. gonorrhoeae oxida glicose e N. meningitidis oxida glicose e 
maltose. Outros carboidratos não são oxidados, sendo o perfil de utilização de 
carboidratos útil para diferenciar esses patógenos das outras espécies de Neisseria. Esse 
gênero é formado por 28 espécies, sendo 10 delas encontradas em humanos, e duas, N. 
gonorrhoeae e N. meningitidis, estritamente patogênicas em humanos. As demais 
espécies são comuns na superfície de mucosas da orofaringe e nasofaringe e 
ocasionalmente colonizam as mucosas anogenitais. As doenças causadas por N. 
gonorrhoeae e N. meningitidis são bem conhecidas, enquanto outras têm virulência 
limitada e geralmente causam apenas infecções oportunistas. Apesar da 
antibioticoterapia eficaz, a gonorreia é uma das doenças sexualmente transmitidas mais 
comuns nos Estados Unidos. A presença de N. gonorrhoeae em um material clínico 
sempre é considerada significativa. Por outro lado, N. meningitidis pode colonizar a 
nasofaringe de pessoas saudáveis sem causar doença ou pode causar meningite 
comunitária, com evolução rápida que pode levar à sepse fatal ou broncopneumonia. A 
rápida transição entre saúde e doença fatal pode causar medo e pânico em uma 
comunidade, diferentemente da reação a quase qualquer outro patógeno. 
• Moraxella: dentre as espécies conhecidas do gênero, M. catarrhalis é o patógeno mais 
importante, sendo um diplococo gram-negativo estritamente aeróbico, oxidase-positivo. 
Esse organismo é uma causa comum de bronquite e broncopneumonia (em pacientes 
idosos com doença pulmonar crônica), sinusite e otite. Estas últimas duas infecções 
ocorrem mais comumente em pessoas anteriormente saudáveis. A maioria dos isolados 
produz β-lactamases e é resistente à penicilina; no entanto, essas bactérias são 
 
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uniformemente suscetíveis à maioria dos outros antibióticos, incluindo cefalosporinas, 
eritromicina, tetraciclina, sulfametoxazol-trimetoprima, e a combinação de penicilinas 
com um inibidor de β-lactamase (p. ex., ácido clavulânico). Duas outras espécies de 
Moraxella colonizam humanos e são recuperadas com alguma frequência: M. osloensis 
e M. nonliquefaciens. Ambas as espécies são encontradas na superfície da pele e nas 
membranas mucosas da boca e do trato geniturinário, sendo raras causas de infecções 
oportunistas. 
 
Comparação entre os cocos gram-negativos e outras espécies 
 
FONTE: Anvisa (Manual de Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção em Serviços de Saúde) 
 
Outros grupos de bactérias: Espiraladas 
Um grupo específico merece destaque, sendo as bactérias da ordem Spirochaetales, que 
foram agrupadas conforme suas propriedades morfológicas comuns. As espiroquetas são 
bactérias gram-negativas helicoidais e finas (0,1-0,5 × 5-20μm), e, por serem delgadas, 
não são facilmente observadas pelas colorações de Gram ou Giemsa, e sim com uso de 
microscopia de campo escuro, por exemplo. A ordem Spirochaetales é subdividida em 
quatro famílias e 14 gêneros, sendo três gêneros responsáveis por doenças humanas 
(Treponema e Borrelia na família Spirochaetaceae e Leptospira na família 
Leptospiraceae): 
• Treponema: as duas espécies treponêmicas que causam doença humana são 
Treponema pallidum (com três subespécies) e Treponema carateum. Todas são 
morfologicamente idênticas, produzem a mesma resposta sorológica, e são suscetíveis à 
 
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penicilina. Os organismos são distinguidos por suas características epidemiológicas, 
apresentação clínica, e variedade de hospedeiros em animais experimentais. T. pallidum 
subespécie pallidum é o agente etiológico da doença venérea sífilis; T. pallidum 
subespécie endemicum causa sífilis endêmica (bejel); T. pallidum subespécie pertenue 
causa bouba; e T. carateum causa pinta. Bejel, bouba e pinta são doenças não venéreas. 
• Leptospira: são espiroquetas espiralados e delgados (0,1 × 6 a 20 μm), com um gancho 
em uma ou ambas as extremidades afiladas. A motilidade ocorre por dois flagelos 
periplasmáticos que se estendem por toda a superfície bacteriana e são ancorados nos 
extremos opostos. Leptospiras são aeróbios estritos com temperatura ótima de 
crescimento entre 28 e 30 °C, e crescimento em meios suplementados com vitaminas 
(ex.: B2, B12), ácidos graxos de cadeia longa e sais de amônio. O significado prático disso 
é que esses organismos podem ser cultivados em um meio específico, a partir de 
amostras clínicas coletadas de pacientes infectados. A microscopia não é útil para o 
diagnóstico, porque geralmente existem raros organismos presentes nos fluidos ou 
tecidos. Com isso, usa-se cultura de sangue ou LCR nos primeiros 7 a 10 dias da doença 
e de urina após a primeira semana A sorologia usando aglutinação microscópica é 
relativamente sensível e específica, mas não amplamente disponível; teste ELISA é 
menos preciso, mas pode ser utilizado para triagem de pacientes. 
• Borrelia: coram-se fracamente pelos corantes de Gram, não sendo considerados nem 
gram-positivos nem gram-negativos, mesmo tendo a membrana externa semelhante à 
das bactérias gram-negativas. Tendem a ser maiores que outros espiroquetas (0,2 a 0,5 
× 8 a 30μm), corando-se bem por corantes de anilina (colorações de Giemsa ou Wright) 
e podem ser facilmente observados por microscopia óptica em esfregaços de sangue 
periférico de pacientes com febre recorrente, mas não daqueles com doença de Lyme, 
sendo essas as principais doenças humanas causadas por Borrelia. A doença de Lyme é 
transmitida por carrapatos e tem manifestações variadas, incluindo alterações 
dermatológicas, reumatológicas, neurológicas e cardíacas. Inicialmente, acreditava-se 
que todos os casos da doença de Lyme (ou borreliose de Lyme) eram causados por um 
único organismo, B. burgdorferi. No entanto, estudos posteriores mostraram que um 
complexo de pelo menos 10 espécies de Borrelia é responsável pela doença de Lyme em 
animais e seres humanos. Borrelia recurrentis é o agente etiológico da febre epidêmica 
ou febre recorrente do piolho, disseminado pessoa a pessoa pelo piolho do corpo 
humano, podendo também ser causada por B. hermsii. A febre recorrente endêmica é 
ocasionada por cerca de 15 espécies de Borrelia e é propagada por carrapatos moles do 
gênero Ornithodoros. Com relação ao diagnóstico, a microscopia é o teste de escolha5 
 
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para o diagnóstico da febre recorrente e a sorologia é o teste de escolha para a doença 
de Lyme, sendo que PCR para a doença de Lyme é usada em laboratórios de referência. 
 
Outros grupos de bactérias: Parasitas intracelulares obrigatórias 
• Mycoplasma e Ureaplasma: são as menores bactérias de vida livre, sendo únicos entre 
as bactérias, porque não têm parede celular e sua membrana plasmática contém 
esteróis, tornando os micoplasmas resistentes a penicilinas, cefalosporinas, vancomicina 
e outros antibióticos que interferem na síntese da parede celular. Mycoplasma (125 
espécies) têm aspecto pleomórfico, variando de formas cocoides com 0,2-0,3μm a 
bacilos de 0,1-0,2μm de largura e 1-2μm de comprimento. Muitos podem atravessar 
filtros de 0,45 μm (assim como Chlamydia) usados para retirar bactérias de soluções, 
razão pela qual os micoplasmas foram originalmente considerados vírus. São anaeróbios 
facultativos (exceto M. pneumoniae, sua principal espécie, que é aeróbio estrito) e 
requerem esteróis exógenos que são fornecidos por soro animal adicionado ao meio de 
cultura. Os micoplasmas crescem lentamente, com tempo de geração de 1 a 16 horas, e 
a maioria forma colônias pequenas que são difíceis de detectar sem incubação 
prolongada. Mycoplasma pneumoniae causa doenças do trato respiratório, como 
traqueobronquite e pneumonia. Outros patógenos comumente isolados incluem M. 
genitalium, M. hominis e Ureaplasma urealyticum. 
• Chlamydia: são pequenos bacilos, por vezes considerados gram-negativos, porém sem 
peptideoglicano na parede celular, entretanto, o genoma clamidial contém os genes 
necessários à sua síntese. Apresentam um ciclo de desenvolvimento único, criando 
formas infecciosas metabolicamente inativas (corpúsculos elementares [CE]) e formas 
não infecciosas metabolicamente ativas (corpúsculos reticulados [CR]). As clamídias que 
infectam os seres humanos são divididas em três espécies principais com base na 
composição antigênica, na presença de inclusões intracelulares: C. trachomatis (tracoma, 
ISTs pneumonia infantil), C. pneumoniae (pneumonia, bronquite, faringite, sinusite) e C. 
psittaci (psitacose, pneumonia). As clamídias exibem propriedades tintoriais distintas 
(semelhantes às das riquétsias). Os CEs coram-se de púrpura pelo método de Giemsa - 
diferente da cor azul do citoplasma da célula hospedeira. Os CRs maiores e não 
infecciosos coram-se de azul pelo método de Giemsa. A reação de Gram das clamídias é 
negativa ou variável, não sendo útil para a identificação desses agentes. As partículas das 
clamídias e suas inclusões coram-se intensamente por imunofluorescência, com 
anticorpos específicos do grupo, da espécie ou da sorovariante. 
 
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• Rickettsia: são cocobacilos pleomórficos que ocorrem em forma de bastonetes curtos 
(0,3 x 1-2μm) ou cocos (0,3μm de diâmetro). Não se coram adequadamente pelo método 
de Gram, porém são facilmente visualizadas quando coradas pelos métodos de Giemsa, 
Gimenez, laranja acridina ou outros corantes. Além disso, imuno-histoquímica e 
imunofluorescência realizadas em laboratórios de referência são os métodos mais úteis 
no diagnóstico das infecções por riquétsias. Crescem facilmente no saco vitelino de ovos 
embrionados e muitas cepas também crescem em cultura de células, em que o tempo 
de geração é de 8 a 10 horas a 34ºC. A cultura de células e o crescimento em saco vitelino 
de ovos embrionados têm substituído a inoculação em animais (exceto para as espécies 
de Orientia). Por motivos de biossegurança, o isolamento das riquétsias só deve ser 
efetuado em laboratórios de referência. As riquétsias possuem estruturas de parede 
celular gram-negativas que incluem peptideoglicanos contendo ácidos murâmico e 
diaminopimélico. As espécies de Rickettsia são subdivididas em dois grupos: grupo da 
febre maculosa (R. rickettsii) e grupo do tifo (R. typhi, R. akari), sendo transmitidos aos 
seres humanos por artrópodes, como carrapatos, ácaros, pulgas e piolhos. 
 
Vá mais Longe 
Capítulo Norteador: Capítulos 27, 55, 58, 59, 62. TRABULSI, Luiz Rachid; ALTERTHUM, 
Flávio (ed.). Microbiologia. 6. ed. São Paulo: Atheneu, 2015. 919 p. Biblioteca Virtual. 
 
Agora é sua Vez! 
Interação 
• PITT, Rachel. et al. Antimicrobial resistance in Mycoplasma genitalium sampled from 
the British general population. Sex. Transm. Infect. v. 96, p. 464–468, 2020. Disponível 
em: https://sti.bmj.com/content/sextrans/96/6/464.full.pdf Acesso em: 25 nov. 2021. 
• Texto: “A DST pouco conhecida, resistente a antibióticos e que está se alastrando no 
mundo.” Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/saude-e-bem-
estar/mycoplasma-genitalium-dst-risco-superbacteria/ Acesso em: 25 nov. 2021. 
Discutimos na aula 5 sobre os antimicrobianos e sua importância. No entanto, como 
comentamos, diversas bactérias estão adquirindo resistência a eles, sendo que o 
Mycoplasma, que já é naturalmente resistente aos antibióticos que atuam na parede 
https://sti.bmj.com/content/sextrans/96/6/464.full.pdf
https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/saude-e-bem-estar/mycoplasma-genitalium-dst-risco-superbacteria/
https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/saude-e-bem-estar/mycoplasma-genitalium-dst-risco-superbacteria/
 
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celular, está cada vez mais resistente a diversos outros antibióticos. Dessa forma, com 
base nos materiais acima, e em demais fontes, faça uma reflexão no Fórum da Disciplina 
descrevendo o que têm gerado essa resistência e quais os impactos e consequências do 
aumento da resistência de Mycoplasma (e também outros gêneros) aos antibióticos para 
a saúde de modo geral. 
 
Questão para Simulado 
1 – Uma mulher de 25 anos de idade apresenta artrite séptica do joelho. No líquido do 
aspirado cresceu uma bactéria diplococo gram-negativo em ágar chocolate após 
incubação por 48 horas. O isolado era oxidase-positivo e oxidou a glicose, mas não a 
maltose, lactose e a sacarose. Você suspeita de infecção por? 
a) Neisseria meningitidis 
b) Neisseria lactamica 
c) Neisseria catarrhalis 
d) Neisseria gonorrhoeae 
e) Todas as espécies de Neisseria. 
Resposta: Letra D 
 
Comentário: As espécies de Neisseria podem ser diferenciadas de acordo com o seu 
metabolismo por meio do tipo de carboidrato que será oxidado, produzindo ácido, 
proporcionando um meio para que se possa distingui-los. As características descritas 
dizem respeito à Neisseria gonorrhoeae, que utiliza apenas glicose nesses processos de 
oxidação. 
"Organize-se: 4 horas semanais – mínimo sugerido para autoestudo" 
REFERÊNCIAS 
KUMAR, Surinder. Textbook of microbiology. New Delhi: Jaypee Brothers Medical 
Publishers, 2012. 804 p. Biblioteca Virtual. (Capítulos 27, 48, 49, 51, 52). 
MADIGAN, Michael T.; MARTINKO, Jhon M.; PARKER, Jack. Microbiologia de Brock. 10. 
ed. São Paulo: Prentice Hall, 2008. 960 p. Biblioteca Virtual. (Capítulo 12). 
SASTRY, Apurba S.; BHAT, Sandhya. Essentials of Medical Microbiology. 2nd ed. New 
Delhi: Jaypee Brothers Medical Publishers, 2019. 714 p. Biblioteca Virtual. (Capítulos 23, 
37, 38, 39 e 40).

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