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Após lesão tecidual de qualquer natureza, o organismo desencadeia a cicatrização, considerando um processo extremamente complexo, composto de uma série de estádios, interdependentes e simultâneos, envolvendo fenômenos químicos, físicos e biológicos. Podem ser encontrados nas feridas, tecidos desvitalizados, sangue extravasado, microorganismos ou corpos estranhos, como terra, fragmento de madeira, vidro e outros, dependendo do tipo de acidente e do agente causal. Conforme a intensidade do trauma, a ferida pode ser considerada superficial, afetando apenas as estruturas de superfície, ou grave, envolvendo vasos sanguíneos mais calibrosos, músculos, nervos, fáscias, tendões, ligamentos ou ossos. Independentemente da etiologia da ferida, a cicatrização segue um curso previsível e contínuo, sendo dividida didaticamente em três fases (fase inflamatória, fase proliferativa e fase de maturação).O cuidado com feridas traumáticas é determinado pela forma como são tratadas. Cada tipo de fechamento da ferida tem um efeito sobre a cicatrização. Pode ocorrer cicatrização por primeira, segunda ou terceira intenção. Os objetivos do curativo são a proteção da ferida, prevenção de infecção em caso de fechamento por segunda intenção ou uso de dreno e facilitação do processo de cicatrização A escolha do curativo irá depender do tipo de procedimento, tamanho da ferida, presença de drenagem ou sinais de infecção do sítio cirúrgico (ISC). Nas feridas limpas, não drenadas, recomenda-se o uso de curativos nas primeiras 24 horas após a cirurgia. Se a incisão estiver seca, recomenda-se limpeza com água e sabão e secagem com gaze estéril. Não é recomendado uso de PVP-I nestas feridas. Não há evidências de prejuízo à cicatrização e de aumento de ISC em feridas descobertas. Se houver saída de secreção serosa ou sanguinolenta, a limpeza deve ser feita com SF0,9% estéril, repetindo-se quantas vezes for necessário, até interrupção da drenagem. Cobertura da incisão é recomendável para evitar que a secreção suje a roupa de cama e do paciente. COBERTURAS DE FERIDASCOBERTURAS DE FERIDAS Feridas LimpasFeridas Limpas Esta cobertura pode ser feita com uma única compressa de gaze estéril, com o mínimo de fita adesiva ou curativo adesivo sintético. Em caso de indicação de cobertura em feridas limpas, a literatura aponta vantagem para o uso de gaze seca e esparadrapo, quando comparada com materiais sintéticos. As coberturas devem ser limitadas somente ao local da incisão. Coberturas semi- oclusivas (filmes plásticos) são parcialmente permeáveis e impedem o contato com substâncias contaminadas, podendo ser utilizadas neste tipo de feridas, especialmente quando é utilizada sutura intradérmica. Seu fator limitante é o aumento de custos. Feridas InfectadasFeridas Infectadas O processo de cicatrização só será iniciado quando o agente agressor for eliminado e o exsudato e os tecidos desvitalizados retirados. Fundamental nesta situação é a limpeza meticulosa. O excesso de exsudato deve ser removido, juntamente com exotoxinas e debris, pois a presença desses componentes pode retardar o crescimento celular e prolongar a fase inflamatória, o que prejudica a formação do tecido de granulação. A limpeza pode ser realizada com SF0,9% estéril com auxílio de gaze ou seringa, até o final do processo infeccioso, e os curativos deverão ser trocados sempre que saturados. Existem alguns fatores que interferem no processo de cicatrização. Fatores sistêmicosFatores sistêmicos Oxigenação e perfusão tecidual deficientes; Distúrbios nutricionais; Presença de infecção; Distúrbios do sistema hematopoiético; Distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos; Distúrbios neurológicos; Tabagismo; Distúrbios de coagulação; Distúrbios vasculares; Imunossupressão; Falência renal; Uso de corticosteróides; Radioterapia e quimioterapia; Idades extremas e doenças crônicas. Fatores LocaisFatores Locais Presença de infecção; Presença de corpos estranhos, tecidos necróticos e crostas; Ressecamento; Edema; Pressão, fricção e cisalhamento; Localização da ferida. O uso da SF0,9% limpa e umedece a ferida, favorecendo a formação do tecido de granulação, amolecendo os tecidos desvitalizados e favorecendo o debridamento autolítico. As soluções anti-sépticas, em sua maioria, não são indicadas para feridas abertas, por apresentar aumento das reações inflamatórias e dificultar o processo de cicatrização. CARACTERÍSTICAS DE UM CURATIVO IDEAL:CARACTERÍSTICAS DE UM CURATIVO IDEAL: Manter a umidade no leito da ferida; Manter a temperatura em torno de 37o C no leito da ferida; Absorver o excesso de exsudato, mantendo uma umidade ideal; Prevenir a infecção, devendo ser impermeável a bactérias; Permitir sua remoção sem causar traumas no tecido neoformado; Não deixar resíduos no leito da ferida; Limitar a movimentação dos tecidos em torno da ferida; Proteger contra traumas mecânicos. Curativos que utilizam coberturas auto-aderentes (à base de hidrocolóides, filme transparente) dispensam o uso de instrumental (pacote de curativo). RECOMENDA-SE luvas de procedimento, uma vez que o leito da ferida não vai ser tocado. Após a limpeza da lesão com SF0,9% em jato, secar a pele em volta da ferida e aplicar a cobertura que deverá cobrir 2 cm de pele íntegra em torno da lesão. Curativos primários (alginato de cálcio, carvão ativado) ficam em contato direto com a lesão e exigem uma cobertura. Deve-se usar OBRIGATORIAMENTE luvas estéreis no momento da manipulação da placa e da adaptação dela no leito da ferida. PROCEDIMENTOPROCEDIMENTO Lavar as mãos com a técnica correta e fazer antissepsia com álcool glicerinado antes e após o procedimento; As pinças usadas durante o curativo devem estar com as pontas para baixo, prevenindo a contaminação; Usar gaze uma só vez; Lavar a ferida com SF 0,9% em jato, usando um frasco de SF0,9% de 250 ml furado com uma agulha 25/8, a fim de promover pressão suficiente para remover o exsudato da ferida e eventuais corpos estranhos; Secar a pele ao redor da ferida sem tocar no leito desta; Adequar o curativo ao tamanho da ferida; Remover ao máximo as secreções, corpo estranho e tecido necrótico; Fechar os curativos primários cobertos com gaze ou compressa, fazendo uma proteção da pele do paciente com adesivo microporoso e vedar com esparadrapo comum, para manter o meio úmido; Observar e anotar o aspecto da lesão e o curativo realizado, na papeleta e no instrumento de evolução de feridas. Tipos de CoberturaTipos de Cobertura ALGINATO - Indicado em lesões infectadas ou não, com média ou alta excudação, com sangramento ou em presença de necrose e fibrina. Usado como curativo primário, por ser aplicado sobre o leito da ferida, necessitando de um curativo secundário para ocluir ou fixá-lo. A frequência de troca deve ser avaliada de acordo com a quantidade de exsudato presente na ferida, podendo permanecer até 4 dias. HIDROCOLÓIDE - Indicado em feridas não infectadas, com médio e baixo volumes de exsudação. Pode ser usado em presença de tecido necrótico e fibrina. A troca do curativo deve ser realizada sempre que ocorrer vazamento do gel. Poderá permanecer por até 7 dias. O gel formado com o exsudato da ferida tem cor amarelada e odor desagradável que desaparece após a limpeza da ferida. PAPAÍNA (1%, 5% OU 10%) - Indicada para feridas necróticas e na presença de fibrina, sendo contra-indicada em casos de lesão isquêmica. Não deve ser usada ou misturada com substâncias derivadas ou compostas de ferro ou iodo, pois é facilmente oxidada. COLAGENASE A 10% SEM CLORANFENICOL - Indicada em lesões isquêmicas e feridas necróticas. CARVÃO ATIVADO COM PRATA - Indicado para lesões infectadas, com média e alta exsudação, com ou sem odor. Curativo primário, exigindo sempre a cobertura com um secundário. Deve ser trocado sempre que estiver saturado, podendo permanecer por até 7 dias. CURATIVOS DE FILMES TRANSPARENTES - Indicado para locais de inserção de cateteres periféricos, cateteres centrais tunelizados ou não, cateteres de pressão intracraniana, cateteres umbilicaise para proteção de áreas de proeminências ósseas em pacientes de alto risco para desenvolvimento de úlcera de pressão. Em cateteres, deve ser trocado a cada 72 horas; nas áreas de pressão, pode permanecer por 7 dias. ESPUMA DE POLIURETANO - É indicada para feridas com perda tecidual profunda, parcial ou total, sendo que nas cavitárias é utilizada na forma de enchimento. Em feridas com perda tecidual superficial ou onde há predomínio de tecido necrótico, está contraindicado. A frequência de troca dessa cobertura depende do volume de exsudato drenado, podendo permanecer no leito da ferida por até 5 dias. Na apresentação de envoltório, faz-se necessária a utilização de cobertura secundária, como gaze dupla estéril ou filme poliuretano. ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS - Indicados para pele integra, leito de ferida sem tecido desvitalizado, que precisam aumentar a granulação e estimular a epitelização. A ferida deve ser irrigada com a solução e coberta com um curativo oclusivo. As trocas devem ser diárias. POR AMANDA DANTAS
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