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Psicolinguística e línguas de sinais

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16/06/2022 16:16 Psicolinguística e línguas de sinais
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02759/index.html# 1/24
Psicolinguística e línguas de sinais
Prof.ª Etiene Abreu, Prof. Tiago Batista
Descrição
Definição, campo de atuação e temas de interesse da Psicolinguística e sua relação com os estudos em e sobre a língua brasileira de sinais.
Propósito
Compreender as contribuições do campo da Psicolinguística para os estudos sobre as línguas de sinais a fim de ampliar o conhecimento e a
competência linguística.
Objetivos
Módulo 1
De�nição e campo de atuação da Psicolinguística
Identificar o campo da Psicolinguística e suas temáticas de interesse.
Módulo 2
Psicolinguística e línguas de sinais
Identificar as relações entre a Psicolinguística e as línguas de sinais.
Neste conteúdo, conversaremos sobre os conceitos e temas em Psicolinguística, buscando entender quais são os aspectos centrais desse
campo de estudos. Além disso, veremos como esse campo se relaciona com pesquisas em línguas de sinais.
Vamos perceber que a Psicolinguística, situada de forma próxima aos campos da Psicologia e da Linguística, se interessa pelo processo
cognitivo envolvido na aquisição, na aprendizagem e no uso de uma língua. Ou seja, seu interesse é na relação entre cognição e linguagem.
Verificaremos também que, nesse campo de estudo, há interesse em compreender como os conhecimentos linguísticos são adquiridos,
Introdução
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1 - De�nição e campo de atuação da Psicolinguística
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o campo da Psicolinguística e suas temáticas de interesse.
Psicolinguística: revisão histórica
A Psicolinguística como disciplina começa a se tornar mais bem delineada em meados do século XX, quando pesquisadores — destacadamente
Noam Chomsky e George Armitage Miller — defendem a importância de se estudar o funcionamento da linguagem, isto é, não só os saberes
linguísticos, mas como a linguagem é processada cognitivamente a partir do contato que temos com ela.
Para esses autores, aprender uma língua está ligado a diferentes aprendizagens, diferentes formas de se relacionar
com os outros e com a informação, com a organização de ideias, com o pensamento. No contexto das pesquisas
desses autores, então, pensa-se em estudar a psicologia cognitiva e sua relação com a linguagem.
O termo aparece pela primeira vez na obra Uma psicologia objetiva da gramática, do psicólogo Jacob Robert Kantor, em 1936, entretanto, não era
utilizado como disciplina e não se popularizou de imediato.
Uma década depois, Nicholas Henry Pronko, aluno de Kantor, utiliza o termo no livro intitulado Linguagem e psicolinguística: uma revisão, propondo
que a Psicolinguística deveria ser uma ciência interdisciplinar combinando Linguística e Psicologia.
Após essas discussões iniciais, que tratavam da relação mente-linguagem como estudos de Psicologia da Linguagem, as investigações
continuaram agregando outros conhecimentos relevantes para o tema. Entre eles destacam-se:
percebendo quais outros conhecimentos e recursos são necessários ou interferem nessa aprendizagem.
Desse modo, veremos que a Psicolinguística reconhece as diferentes modalidades em que a língua se manifesta e é usada na comunicação,
investigando como lidamos cognitivamente ao ouvir, falar, ler e escrever em uma língua, além do processo de aprendizado dessa língua.
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O estruturalismo proposto pelo linguista suíço Ferdinand de Saussure.
O comportamentalismo abordado pelo psicólogo behaviorista Burrhus Frederic Skinner.
O marco para a definição da Psicolinguística como campo específico de estudos data de 1951, com a defesa da área realizada no Seminário
“Psicologia e Linguística”, na Universidade de Cornell.
Atenção!
Mesmo antes da citação ao termo e da defesa da consolidação do campo, as investigações sobre como aprendemos uma língua aparecia em
diversos campos de estudo.
Se considerarmos as investigações do uso da língua, já se pensava em como somos capazes de organizar as informações em uma língua
específica, se nascemos ou não com essas habilidades, e como essas competências linguísticas se desenvolvem. Mas questões cada vez mais
pontuais foram surgindo, fazendo com que houvesse a necessidade de se deter nesse foco em específico.
Psicolinguística: conceitos, linhas e temas
Mas, afinal, se já havia pesquisas e conhecimentos sobre a aquisição da linguagem em outros campos, qual proposição singular se tornou o mote
da Psicolinguística?
A Psicolinguística se distancia das descrições de particularidades e se aproxima do entendimento da relação entre os seguintes fenômenos:
Fenômenos linguísticos
Os conhecimentos linguísticos, o uso da linguagem, a comunicação.
Fenômenos cognitivos
O reconhecimento e a compreensão da linguagem, o processamento de palavras e frases, a produção do sujeito considerando seus conhecimentos,
a situação ambiental e assim por diante.
Uma das análises iniciais proposta na área estava relacionada à compreensão de como uma informação era organizada para ser transmitida e de
como era recebida por alguém.
Talvez você se lembre dos seus estudos sobre comunicação e expressão que traziam, além do contexto, o esquema:
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Essa forma de compreender a comunicação estava no centro das pesquisas em Psicolinguística, nas quais se buscava compreender como o
emissor processava a informação a ser enviada, a codificava — isto é, a organizava —, escolhia o canal ou a forma de transmiti-la, e como quem
recebia a mensagem processava a informação, decodificando-a.
As propostas de estudo que utilizavam essa perspectiva eram consideradas comportamentalistas, pois estavam focadas na mecânica
comportamental da comunicação. Com o passar do tempo, surgem outras formas de se pensar os estudos em Psicolinguística, principalmente a
partir dos estudos de Noam Chomsky.
Chomsky (1980) apresenta a ideia de que todos os falantes de uma língua teriam a capacidade inata de aprendê-la, internalizando um conhecimento
estrutural da língua e utilizando tal conhecimento para emitir e receber as informações.
Noam Chomsky, em1977.
Dessa forma, as questões de maior interesse estão no aspecto ou dimensão cognitiva:
Como ocorre essa internalização?
Há de fato uma gramática universal, uma aptidão inata para o aprendizado da linguagem verbal?
Como os sujeitos utilizam tais conhecimentos em situações comunicativas?
Essa abordagem é chamada de mentalista, por deslocar a atenção da questão comportamental mecânica para uma perspectiva cognitiva.
Apesar das mudanças de foco, precisamos ter em mente que a Psicolinguística pensa a linguagem do ponto de vista de seu processamento. Com
isso, podemos dizer que:
A psicolinguística deve ser percebida como um campo multidisciplinar, uma vez que é necessário considerar
linguagem e cérebro, fundamentos biológicos de influência no desenvolvimento da linguagem, questões
sociais, fatores econômicos, sistemas de processamento na mente, sistemas linguísticos (fonética, sintaxe,
semântica etc.), entre outros. Da mesma forma, é fundamental considerar os subsistemas psíquicos, os quais
envolvem percepção, memória, conhecimento de mundo, entre outros, todos em uma relação com as unidades,
como o texto e o discurso, e com aprendizagem de outros sistemas linguísticos, como a leitura e a escrita.
(BIZELLO et al., 2020, p. 18-19)
Algumas questões ou temas são especialmente interessantes para a Psicolinguística. Entre esses temas podemos mencionar:
A aquisição da linguagem
Como se processa a aprendizagem da nossa primeira língua e de línguas adicionais; eventuais distúrbios na aprendizagem; quais fatores são inatos,
comoo processo se dá ao longo do tempo e como podem ser afetados pelas experiências individuais.
O t d li
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O processamento da linguagem
O processamento de palavras, frases, textos e sinais linguísticos; como esse processamento interfere na nossa performance, isto é, na forma como
produzimos informações.
As diferenças entre as modalidades linguísticas
Como se processa a fala, a escuta, a escrita e a leitura; a aquisição da leitura e seus distúrbios; as diferenças de processamento entre crianças e
adultos.
A relação entre linguagem e cognição
Memória; processamento do discurso; modelos mentais; questões neuropsicológicas relacionadas ao processamento da linguagem.
Para tratar desses temas, a Psicolinguística se aproxima de diversos campos de investigação. Vamos destacar três desses campos de pesquisa: a
Linguística, a Psicologia e a Ciência da Computação.
Linguística e Psicolinguística
Para Fiorin (2013), a Linguística é uma área que trata de cinco questões teóricas distintas, mas inter-relacionadas: a língua, a competência, a
variação, a mudança e o uso.
A Linguística, portanto, busca entender a língua em todos os seus aspectos:
Descreve a língua em sua estrutura.
Estuda como o seu uso se estabelece, como a linguagem é usada na comunicação.
Identi�ca os conhecimentos especí�cos da linguagem verbal que permitem tal interação.
Se eu estou com fome, que é uma sensação, penso na palavra (ou palavras) que associo ao que estou sentindo. Ao externar isso, posso recorrer a
uma série de outras palavras [fome/faminto/comer...], mas isso não seria suficiente. Se estou com fome e desejo fazer uma solicitação, preciso
saber como organizar as palavras para que fique claro o que preciso. Então, em uma série de palavras que conheço [fome; comida; ter; querer; poder;
agora; gostar; precisar], seleciono as que pretendo usar e as organizo de forma que meu interlocutor entenda o que desejo: “Tenho fome, gostaria de
comer agora”.
Além disso, a mensagem só funcionará se meu interlocutor conhecer as palavras que escolhi e compreender como eu as
organizei.
Para que a comunicação aconteça, podemos dizer que existe uma série de conhecimentos linguísticos e processos que se relacionam e operam as
informações. Os interlocutores precisam ter um conhecimento da língua utilizada, da situação comunicativa que partilham, de possíveis
interferências na compreensão das informações e de como superá-las. Em outras palavras, a comunicação se efetiva não só a partir do
conhecimento de palavras em comum, mas da compreensão dos sentidos, dos usos e do ambiente em que são utilizadas.
Os estudos gerativistas, propostos por Chomsky, tratam de investigar como desenvolvemos nosso conhecimento linguístico, pensando quais
conhecimentos são possíveis de serem adquiridos e como são processados por um falante nativo da língua: “as línguas deixam de ser interpretadas
como um comportamento socialmente condicionado e passam a ser analisadas como uma faculdade mental natural” (KENEDY, 2008, p. 129).
Além de descrever os saberes linguísticos e pensar em como são adquiridos, é importante entender como são utilizados — sabendo que sua
utilização poderá diferir muito de um falante para outro.
Entender que o uso da língua é uma tarefa cognitiva faz com que possamos compreender a aproximação entre a Linguística
e a Psicolinguística.
Resumindo
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A Psicolinguística, como ciência, investiga como se processa a comunicação, as estruturas que permitem a compreensão das informações, a
codificação e a decodificação das mensagens, a percepção dos sinais utilizados, dos gestos, do contexto em que a comunicação acontece. Ou seja,
nesse campo, utiliza os conhecimentos da Linguística para investigar a dinâmica envolvida nos processos comunicativos.
Psicologia e Psicolinguística
Sabemos que a Psicologia se dedica a estudar cientificamente o comportamento e os processos mentais dos sujeitos. A possibilidade de se pensar
tais estudos aliados aos estudos da linguagem surgem quando Wilhelm Wundt — considerado o pai da Psicologia — passa a defender que era
possível compreender, a partir de investigações da linguagem, algumas questões na Psicologia. Propôs, então, que se entendesse como o contexto
e o comportamento poderiam influenciar a performance linguística dos indivíduos.
Buscando elementos de análise que eram comuns à Linguística e à Psicologia — linguagem, contexto, comportamento, competência, performance
—, buscava-se postular sobre as relações entre a organização do pensamento e o processamento da linguagem. Para entender o desenvolvimento
cognitivo, poderia se propor a observação do desenvolvimento da linguagem, acreditando-se que eram processos intimamente relacionados.
Se trouxermos nossas observações para outros autores, poderemos encontrar nos textos do psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky o estabelecimento
de uma relação intrínseca entre pensamento e linguagem. Segundo o autor:
O pensamento e a linguagem [...] são a chave para a compreensão da natureza da consciência humana. As
palavras desempenham um papel central não só no desenvolvimento do pensamento, mas também na
evolução histórica da consciência como um todo. Uma palavra é um microcosmo da consciência humana.
(VYGOTSKY, 2008, p. 190)
Apesar da importância da língua para a comunicação, a ideia é de que comunicar não é a única função da língua. A linguagem verbal está
intimamente ligada ao pensamento e há interesse em compreender tal relação.
De acordo com Chomsky (1980, p. 9), na perspectiva gerativista, a razão principal para estudar a linguagem está no fato de se ver a linguagem como
um “espelho do espírito”, tendo como uma das implicações que o uso da linguagem revela os modelos do pensamento e o “senso comum”
elaborados pela mente humana.
Percebemos que a compreensão dos processos cognitivos, do comportamento e do desenvolvimento humano
dentro do campo da Psicologia pode estar intimamente relacionado com o entendimento do papel da linguagem
em tais processos.
É essencial, entretanto, não confundir Psicolinguística com Psicologia da Linguagem, pois podemos fazer a seguinte distinção entre elas:
Psicologia da Linguagem
Caracteriza-se pela investigação da gênese da linguagem, seu comportamento e desenvolvimento.
Psicolinguística
Investiga a produção das mensagens, sua recepção e a relação entre pensamento e linguagem por meio de sua estrutura e processamento
cognitivo.
Ciência da Computação e Psicolinguística
Como a Ciência da Computação se relaciona com essa área de conhecimento? Bem, até aqui as ciências discutidas eram facilmente associadas à
Psicolinguística.
Os estudos realizados no campo da Ciência da Computação e da Psicolinguística tratam de como uma informação é organizada, transmitida,
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recebida e compreendida. É uma outra perspectiva de se pensar a comunicação e a interação: pensa a interação de indivíduos diretamente com
mensagens.
Atenção!
Obviamente, as informações, ainda que sejam escritas como cartazes ou livros, foram pensadas por alguém. Mas nossas interações com tais
materiais não demandam nosso contato direto com o interlocutor. Precisaremos, então, compreender o enunciado ainda que não saibamos quem o
produziu. Essa forma de se pensar a comunicação está relacionada aos estudos da Ciência da Computação.
Quando pensamos em uma mensagem que recebemos, sabemos que para entendê-la recorremos a alguns conhecimentos específicos:
identificamos as palavras usadas; a forma como estão organizadas na frase ou no texto; verificamos a forma como está sendo usada, os sentidos
que admite; levamos em conta o contexto em que está sendo usada — nosso relacionamentocom o interlocutor, o meio onde a conversa se
estabelece, se foi falada ou escrita. A Ciência da Computação investiga justamente a relevância do contexto e a forma como a mensagem é
transmitida.
Exemplo
Tomemos como base a palavra “você”. Encontramos essa palavra em textos escritos de diversas naturezas. Sabemos seu significado e
compreendemos a forma como é utilizada. Quando estamos numa conversa mais descontraída por mensagens de textos, poderemos usar “vc” e
nosso interlocutor encontrará o mesmo sentido do uso “você”, mas contextualizando a forma diferente utilizada (meio digital, proximidade com o
interlocutor, informalidade da mensagem).
Poderemos ainda dizer que, ao assistirmos a um filme, ouvimos “cê” e, da mesma forma, associaremos ao sentido de “você” ou “vc”, estabelecendo
outras conexões entre o meio utilizado, o caráter formal ou informal e assim por diante. Podemos pensar no sentido inverso, não de receptor da
mensagem, mas de emissor. Estamos cientes de que, em um texto formal acadêmico, não é recomendado o uso de “vc” e nem é comum enviarmos
um áudio no qual se ouve “vecê [vc]”. Considerar contexto, meios e organização é uma atividade comum na comunicação cotidiana.
Podemos dizer que a Linguística colabora para a compreensão dos conhecimentos necessários para a comunicação; a Psicologia contribui por
ajudar a perceber o comportamento e o processamento desse conhecimento e sua influência na comunicação; já a Ciência da Computação
complementa as discussões por pensar na organização da informação, como será pensada, produzida, codificada, armazenada e disseminada.
Esse tripé fornece subsídios para se pensar os processos cognitivos envolvidos na comunicação.
Psicolinguística na prática
Até aqui, já traçamos as bases da Psicolinguística, os campos que se relacionam com a área e os temas de estudo dentro dessa área. Pensaremos
agora em situações práticas de estudos psicolinguísticos.
Todos nós já tivemos oportunidade de observar uma criança iniciando sua comunicação verbal. Ela gradativamente vai aumentando a
complexidade de sua fala, até conseguir chegar ao ponto de externar ideias de forma complexa.
Tomemos como primeira proposta a investigação da aquisição da linguagem 
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Quando a criança começa a aprender a linguagem verbal? Como desenvolve suas competências em produzir informações verbalmente? O
conhecimento e o desenvolvimento de competências parecem estar intimamente ligados, isto é, quanto mais conhecimento vai sendo
adquirido, mais o desenvolvimento de competências se torna possível.
Psicolinguística e teorias da aquisição da linguagem
Existem pelo menos cinco teorias que buscam explicar a aquisição e o desenvolvimento da linguagem:
Para esta corrente, a língua é um comportamento verbal, que pode ser aprendido e treinado em contato com outros. Seu principal expoente
foi Skinner, que defendeu que a aprendizagem está relacionada a estímulos ambientais e não a conhecimentos ou habilidades inatas.
Propõe-se a existência de uma predisposição genética para a aprendizagem linguística, ou seja, cada um de nós temos uma habilidade inata
para aprender a linguagem verbal. Essa habilidade propicia o aprendizado de uma língua tão logo temos contato com uma. Reconhece-se,
portanto, o papel do ambiente na aquisição da língua, defendendo que há a necessidade de interação para que se desenvolvam os
conhecimentos linguísticos, mas também postula a existência de condições inatas para tal desenvolvimento. O principal teórico nessa linha
é Noam Chomsky.
O principal representante desta teoria é o psicólogo e biólogo suíço Jean Piaget. Para ele, a criança constrói a linguagem a partir de sua
interação e compreensão do meio em que vive, faz experimentações no e com o espaço que interage, aprimorando suas estruturas
cognitivas, permitindo aprendizagens cada vez mais complexas. Uma dessas aprendizagens é a da linguagem verbal. Nessa corrente,
defende-se uma habilidade inata para aprendizagens — entre elas a aprendizagem linguística — que são desenvolvidas na interação com o
meio.
Segundo esta linha teórica, a interação com uma pessoa que seja falante competente da língua é condição para aprendizagem da linguagem
verbal. A criança, ao interagir com um adulto, aprende as palavras e seus significados, bem como as formas de utilizá-las. Ou seja, há uma
interação específica necessária para o aprendizado linguístico: o contato com outros falantes da língua.
Behaviorismo 
Gerativismo 
Epistemologia genética 
Interacionismo estruturalista 
Conexionismo 
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Nesta perspectiva, a aprendizagem da língua ocorre por processamento cognitivo, análogo às conexões entre redes neuronais. As vivências,
os estímulos e as experiências reforçam saberes, por fortalecer ou enfraquecer conexões. Não há conhecimento inato, a aprendizagem se dá
pela experiência.
A Psicolinguística se aproveita das teorias desenvolvidas sobre aquisição da linguagem para investigar alguns processos que a criança desenvolve:
Diferenciar a linguagem verbal de outras formas de comunicação.
Identificar propriedades de língua.
Apropriar-se e utilizar-se de palavras e frases.
Identificar o contexto em que palavras e frases devem ser usadas.
Então, ao observar uma criança utilizando a linguagem verbal, conseguimos estabelecer os caminhos que percorre para chegar àquela competência
linguística.
Estabelecer tais conhecimentos contribui com pelo menos dois tipos de ações:
Ações educativas
Pensar em estratégias de ensino.
Ações comportamentais
Pensar em como colaborar com as crianças do nosso círculo para que se desenvolvam linguisticamente.
Esses conhecimentos são importantes ainda quando falamos de situações atípicas de aquisição de linguagem (crianças que não aprendem no
período esperado), com suas implicações e formas de mitigar efeitos negativos de um atraso linguístico.
Psicolinguística e modalidades da língua
Outro tema de interesse na Psicolinguística é a compreensão das diferentes modalidades linguísticas — oral, gestual e escrita — e das
especificidades da forma de processamento de cada modalidade.
Um dos campos que recebe bastante atenção é o processamento da escrita, passando pela questão da alfabetização.
Falamos acima sobre a aquisição da linguagem verbal e pudemos perceber que existem condições específicas para que se concretize. Mas, uma
vez concretizada, precisamos de aprendizagens diferentes para utilizar a forma escrita da língua que aprendemos. Podemos pensar que alfabetizar
seja de interesse exclusivo de educadores, sendo um estudo da Pedagogia. Porém, cada vez mais se discute a alfabetização a partir de outras
perspectivas e ciências: Linguística Geral, Sociolinguística, Neurociência, Psicologia, entre outras.
A alfabetização pode ser definida como apropriação dos códigos utilizados no registro escrito de uma língua. Quando falamos sobre alfabetização,
falamos sobre conhecer o sistema alfabético de uma língua, o sistema de representação de uma língua na forma escrita.
Comentário
Um sujeito alfabetizado conhece os códigos e as formas de utilizá-lo e decodificá-lo. Porém, não se trata apenas da memorização de um código:
conhecer o alfabeto não torna alguém alfabetizado. Mesmo que se conheça o alfabeto e, até mesmo, consiga decodificar suas junções num registro
escrito, alguns autores defendem que é necessária uma compreensão da informação transmitida por meio daquele código para que, de fato, a
pessoa esteja alfabetizada.
Bem, uma pessoa que esteja no processo de alfabetização costuma já deter conhecimentos linguísticos. Sabe fazer relatos oralmente, sabe
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compreender o que ouvede outras pessoas. Esses conhecimentos irão se relacionar com os conhecimentos do sistema alfabético, mas serão
processados de forma distinta.
Aprendemos por meio de vivências, experiências e interação, isso vale também para a alfabetização. Uma parte de nosso cérebro processa as
informações linguísticas, outra processa memórias e ainda outra articula as informações visuais. As experimentações, as informações obtidas
visualmente e os sentidos atribuídos na interação com o meio e com os outros fazem parte da intrincada aprendizagem de se alfabetizar.
A Psicolinguística busca entender quais processos estão envolvidos na apreensão, na utilização e na compreensão dos códigos.
Podemos falar da influência de quatro diferentes abordagens na Psicolinguística sobre o tema:
Linguística estruturalista
Gramática gerativa
Foco cognitivista
Foco interdisciplinar
Atualmente, a abordagem interdisciplinar tem prevalecido. Nessa perspectiva, a alfabetização é percebida por diversas áreas de investigação,
entendendo que não basta apenas acumular conhecimentos linguísticos para completar o processo. Além do aspecto linguístico conceitual, isto é,
conhecer a língua, as letras, as representações dos sons da língua, há que se ter contato com os conhecimentos socialmente convencionados, que
são as regras de uso, as convenções sociais de uso e os significados atribuídos às palavras e expressões.
Destacam-se os estudos desenvolvidos pelas psicólogas e pedagogas argentinas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky,
descritos como psicogênese da leitura e escrita, que evidenciaram a complexidade envolvida no processo de
alfabetização.
Suas pesquisas indicaram que as crianças passam por três etapas durante a alfabetização:
Pré-silábica
Sabe-se que há uma forma de registro, mas não há foco em correlacionar sons e letras.
Silábica
O aprendiz sabe que há relação entre escrita e sons das palavras.
Alfabética
O aprendiz consegue extrapolar a relação letra/som, aprendendo que há convenções para a escrita que devem ser respeitadas.
A psicogênese descreve essas etapas, mas não é uma prescrição de métodos ou estratégias de alfabetização. Os conhecimentos fornecidos pela
Psicolinguística sobre alfabetização fomentam estudos em diversos campos e levantam algumas questões:
Como favorecer a alfabetização?
Como aprimorar a leitura e a escrita?
Faz diferença se escrevemos/lemos em dispositivos eletrônicos ou em outros suportes?
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E as redes sociais, como nossa capacidade de leitura interfere na forma que absorvemos informações nas redes?
Diante de tudo isso, é possível notar como nosso uso cotidiano da língua pode ser observado e explicado pela Psicolinguística.
A Psicolinguística
Veja agora mais informações sobre a Psicolinguística, seus temas, áreas de interesse e importância nos estudos linguísticos. Vamos lá!
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Psicolinguística: conceitos, linhas e temas
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Psicologia e Psicolinguística
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Psicolinguística e modalidades da língua


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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Psicolinguística é um campo específico dentro dos estudos da linguagem. Podemos deduzir que seus interesses estão relacionados a pelo menos
duas áreas específicas, Psicologia e Linguística, mas não se resume a elas. Conhecendo um pouco mais sobre o tema, podemos afirmar que
A a Psicolinguística se dedica a entender exclusivamente os comportamentos sociais e linguísticos envolvidos na comunicação.
B a Psicolinguística investiga os processos cognitivos que permitem o processamento e a produção da linguagem.
C a Psicolinguística está relacionada com a prescrição de métodos de ensino de língua e estratégias de alfabetização.
D
a Psicolinguística é um campo da Neurociência que estuda os processos neurológicos envolvidos na comunicação, descrevendo
as redes neurais ativadas durante a fala.
E a Psicolinguística é um campo científico que estuda os efeitos da linguagem verbal na dinâmica social.
Parabéns! A alternativa B está correta.
A Psicolinguística trata principalmente dos processos cognitivos envolvidos no uso da linguagem:
na aquisição, no processamento das palavras e frases, nas diferentes formas de processar as
diferentes modalidades e na relação da linguagem com a cognição. Não trata exclusivamente de
comportamentos, nem prescreve metodologias de ensino. E, apesar de focar nos processos
cognitivos, não foca em aspectos neurológicos.
Questão 2
A aquisição da linguagem envolve diversos processos. A Psicolinguística investiga esses processos, colaborando para a compreensão de como
aprendemos e desenvolvemo-nos o suficiente para utilizar a linguagem verbal de forma eficiente. Investigar a aquisição da linguagem pela
Psicolinguística envolve
A estudar quais conexões neurais são ativadas ao aprendermos uma língua e as implicações de ter uma lesão cerebral nessa área.
B
investigar os processos cognitivos percorridos pela criança ao aprender uma língua: desde seus primeiros contatos com a
linguagem verbal até sua capacidade de utilizar tais conhecimentos com fluência.
C descrever os conhecimentos gramaticais de uma língua necessários para um uso fluente e de acordo com a norma culta.
D estudar como o uso da língua pode impactar as relações sociais que se estabelecem entre o aprendiz e os adultos que o ensinam.
E entender os processos históricos que influenciaram o aprendizado de uma língua em específico por uma criança.
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2 - Psicolinguística e línguas de sinais
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as relações entre a Psicolinguística e as línguas de sinais.
Psicolinguística, língua e fala
A Psicolinguística investiga a mente humana e a sua relação com a linguagem. Sob essa ótica, podemos compreender o fenômeno da linguagem,
além de intrínseco ao ser humano, como parte da expressão de seu pensamento, como um meio pelo qual o pensamento se organiza, sendo assim
um caminho para poder compreender a mente humana. Além dos conceitos da linguagem, precisamos compreender também como ela ocorre por
meio da fala.
A linguagem é, em nossa área de investigação, o elemento constitutivo dos seres humanos, ou seja, uma dotação
natural que “se desenvolve espontaneamente na criança, sem qualquer esforço consciente ou ensino formal”, em
seu cérebro, sem a necessidade de aparato ou complexidade, podendo ser considerada como um “instinto”
(PINKER, 2002, p. 9).
A capacidade de produzir linguagem é, portanto, uma faculdade humana independente de sua condição sensorial. Para que a linguagem se
manifeste, utilizamos a língua e a fala.
A língua pode ser pensada como um sistema de simbolização de signos que nos torna capazes de organizar o nosso pensamento. Porém, para
manifestá-lo, precisamos que ele seja exposto, isso não é possível, segundo Vygotsky, senão pelo uso das palavras e da construção de sentidos que
fazemos delas. Essa exposição ocorre mediante outro fenômeno exclusivamente humano, a fala.
A fala é um processo físico, tangível, de combinação de elementos acústicos (nas línguas orais) ou visuais (nas línguas de sinais) que expressam
e te de os p ocessos stó cos que ue c a a o ap e d ado de u a gua e espec co po u a c a ça.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Embora os conhecimentos da Neurolinguística forneçam subsídios para a Psicolinguística, não é
foco da Psicolinguística se deter em fatores neurológicos. Descrições de gramática são
específicas do campo da Linguística.Questões sociais e históricas também não recebem
destaque na área da Psicolinguística, estando mais relacionadas com a Sociolinguística.

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parte dos nossos desejos, anseios e intenções comunicativas por meio de palavras. As palavras, por sua vez, tentam traduzir o que se passa em
nosso pensamento.
Entende-se que a fala é, portanto, um substrato material da linguagem, de nossa produção e processamento mental. É por meio dela que
conseguimos nos manifestar em relação ao mundo que nos cerca; por meio dela expressamos nossos sentimentos, descrevemos sensações,
narramos compreensões, equívocos e produzimos elementos capazes de serem monitorados, manipulados, dimensionados e, consequentemente,
investigados.
Há, ainda, no senso comum, a noção de que as línguas de sinais são linguagens, mas do ponto de vista da Psicolinguística essa nomenclatura não
se sustenta, pois a linguagem é uma dimensão de formação comunicativa intangível, que pertence ao cérebro humano.
A manifestação sinalizada que as pessoas surdas fazem de sua língua é também chamada de fala, isto é, os surdos falam; portanto, usar a língua
de sinais é falar, embora essa fala não seja oral. Isso implica dizer que a língua de sinais é uma língua. A sua diferença de modalidade, mesmo que
envolva algumas questões estruturais e, também, a relação com o processamento cerebral, não a desqualifica como língua natural.
Essa manifestação linguística é de grande interesse da Psicolinguística, pois por intermédio dela é possível identificar uma série de elementos que
compõem a mente humana.
Tanto o pensamento como a língua são intangíveis, acessá-los, portanto, é intáctil, sendo impossível analisar significados e estruturas construídas
internamente pelos indivíduos.
A fala assume, então, um protagonismo nessa possibilidade de investigação, sendo ela a manifestação concreta capaz de subsidiar e produzir
elementos passíveis de investigação.
No caso das línguas de sinais, os parâmetros das línguas, as escolhas lexicais, o uso dos classificadores, a sintaxe espacial e outros aspectos são
exemplos de elementos que aparecem na sinalização (fala). Entretanto, como objeto de análise, essas unidades podem revelar modos como as
pessoas que utilizam essa língua estruturam e organizam o seu pensamento.
Comentário
A língua, então, pode ser concebida como um instrumento do pensamento humano que se manifesta por meio da fala. Assim, podemos entender
que uma fala em língua de sinais também pode ser pensada como objeto de estudos e interesse da Psicolinguística.
Língua de sinais e o cérebro humano
A questão das línguas de sinais esteve, por anos, em discussão, pois acreditava-se que essas línguas eram processadas pelo hemisfério cerebral
direito, em virtude de sua natureza visual.
O processamento da linguagem já foi objeto de investigação por neurologistas como Paul Broca (1861) e Wernicke (1874). Nesses estudos,
compreendeu-se que o cérebro humano apresenta fisiologia diferenciada e o processamento das informações acontece de maneira setorizada.
Esses estudos foram capazes de identificar a área de processamento da linguagem oral e estímulos não linguísticos no cérebro, a saber, os
hemisférios esquerdo e direito.
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Pesquisas realizadas indicaram que as informações acústicas gramaticais eram processadas pelo hemisfério esquerdo e quando este sofre algum
dano, os sujeitos apresentam problemas na produção de uma fala estruturada e na organização sintática da língua.
Isso nos trouxe um conhecimento importante, já mencionado aqui: as línguas orais são processadas no hemisfério esquerdo do cérebro humano.
Esses estudos também apontam que estímulos sensoriais (visuais ou auditivos), informações imagéticas, estímulos sonoros e outras formas de
comunicação não verbal acionam outro hemisfério cerebral em seu processamento, o direito. Daí inferimos que os humanos processam a
linguagem em dois campos do cérebro:
Hemisfério esquerdo
Atua na organização e estruturação das estruturas e informações gramaticais.
Hemisfério direito
Responsável por identificar e conectar os significados de estímulos não gramaticais, principalmente as informações visuais.
Mas o que dizer das línguas de sinais, que são línguas que se caracterizam pelo aspecto visual?
Por essa diferença de modalidade, elas foram compreendidas como um sistema de processamento do lado direito do cérebro, já que não possuem
elementos sonoros e a sua recepção está relacionada prioritariamente ao canal visual.
Isso resultou na crença de que essas línguas não utilizavam o hemisfério esquerdo para processamento, ou seja, pensou-se que as línguas de sinais
eram realizadas ou estavam comportadas no hemisfério direito do cérebro humano. Esse mito, porém, foi desfeito em estudos realizados com a
língua americana de sinais (ASL), cujo objetivo era identificar quais as áreas cerebrais dos surdos afetadas no uso e na produção das informações
da fala em língua de sinais.
Processamento da língua de sinais nos hemisférios direito e esquerdo
Buscando compreender os níveis específicos e a capacidade visuoespacial das línguas de sinais, pesquisadores como Bellugi, Poizer e Klima (1989)
propuseram uma série de experimentos com sujeitos surdos que possuíam lesões cerebrais em hemisférios distintos, a fim de compreender onde e
como acontecia o processamento dessas línguas no cérebro. Foram selecionados sujeitos com lesões no hemisfério esquerdo e outros sujeitos
com lesões no direito, assim foi possível perceber as implicações desses danos na produção e na compreensão dos sinais.
Os dados obtidos nesses estudos são de grande interesse, pois nos ajudam a compreender que os informantes surdos com danos
significativos no hemisfério direito não apresentaram dificuldades ou problemas na estrutura de fala da língua de sinais, pois eles
produziram discursos gramaticalmente coerentes e poucos desvios de sinalização.
Esses sujeitos, no entanto, apresentaram algumas dificuldades de relacionar informações visuais não gramaticais, ou seja, apesar da
preservação da estrutura gramatical da língua, aspectos visuais de identificação espacial não gramaticais ficaram comprometidos.
Isso indica que as informações gramaticais não são processadas nesse hemisfério cerebral, que assim como dos ouvintes, ele atua
na identificação e compreensão dos aspectos não gramaticais.
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Outros testes apontaram que sujeitos surdos com lesões graves do lado esquerdo apresentavam dificuldades em estruturar sentenças em língua de
sinais, utilizando termos desconexos, apresentando desvios gramaticais de concordância e flexões inadequadas para a língua de sinais em sua fala.
Entretanto, esses sujeitos eram capazes de compreender e reproduzir situações visuais que não estavam relacionadas com aspectos gramaticais.
Podemos, então, deduzir que esses danos foram responsáveis pela perda de organização e de processamento das informações gramaticais.
Desse modo, inferimos que danos causados no hemisfério direito não impactam a estrutura da língua. Em síntese, as línguas de sinais são
gramaticalmente processadas no hemisfério esquerdo.
A sustentação de habilidades espaciais encontradas em pacientes com lesões do lado direito do cérebro também indica que esse lado é o
responsável pelo processamento das informações não gramaticais das pessoas surdas. Assim, é possível rechaçar o mito de que as línguas de
sinais, por serem visuais, estejam do lado direito do cérebro.
Outro aspecto importante que foi possível identificar tanto nas línguas de sinais quanto nas línguas orais diz respeito à relação direta com a
bilateralidade de processamento.
Háuma tendência a criar uma expectativa de que, por serem visuais, as línguas de sinais estariam em vantagem em
relação às línguas orais, pois estariam utilizando os dois hemisférios cerebrais simultaneamente.
Em algumas situações, o cérebro humano é capaz de produzir e criar mecanismos de processamento das informações quando parte deste se
encontra comprometido. Em relação às línguas de sinais, esse processamento acontece de maneira similar ao que ocorre com as línguas orais.
Independentemente de sua modalidade, as diferenças de processamento tendem a ser investigadas e aprofundadas a fim de que essa questão seja
plenamente respondida. Porém, tanto o modelo de processamento quanto os aspectos da bilateralidade são ainda comuns nas duas modalidades
de línguas.
Comentário
Qualquer aspecto distintivo deve ser visto sob o ponto de vista dos parâmetros específicos da linguagem, sendo delegados aos aspectos
particulares das línguas. Da ótica dos universais da linguagem, os princípios que regem as línguas humanas, as línguas de sinais, mesmo em sua
constituição imagética, apresentam os mesmos pressupostos encontrados nas línguas orais.
A aquisição da língua de sinais
As línguas de sinais são, como todas as línguas naturais, adquiridas de maneira natural por participantes dessas comunidades de falantes.
Queremos dizer com isso que uma pessoa exposta a essa língua é capaz de aprendê-la ou adquiri-la por meio da interação.
Uma das noções determinantes para entendermos as línguas de sinais como língua natural está justamente em sua capacidade de transmissão
entre as gerações de falantes. Assim, crianças e adultos podem aprender essa língua por meio do contato com pessoas que a usem.
Alguns aspectos importantes devem ser considerados, pois eles têm relação com a condição sensorial da pessoa que entra em contato com essa
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língua e a condição em que a língua é transmitida.
No caso das crianças, tanto surdas como ouvintes, se o primeiro contato com essa língua for em casa, por serem filhas de pessoas surdas, essa
circulará como primeira língua e a criança terá o seu desenvolvimento com base nas características visuais dessa língua.
No caso das crianças ouvintes, ela também será considerada como primeira língua, porém, devido à situação sensorial, a criança poderá adquirir a
língua oral do país mediante contato com familiares e pessoas ouvintes de sua região, podendo ser bilíngue natural desde muito cedo. Teremos
neste caso um bilinguismo bimodal, isto é, a criança falará duas línguas, uma na modalidade oral-auditiva e outra visuoespacial.
As crianças, surdas ou ouvintes, filhas de pais surdos são chamadas de CODAs (children of deafs adults). Essas crianças apresentam como traço de
identidade terem a língua de sinais como primeira língua. Estudos apontam que o processo de aquisição apresenta etapas, assim como ocorre com
as crianças ouvintes em sua relação com a língua oral.
Mas será que a modalidade de língua modi�ca de alguma forma as etapas da aquisição?
Vejamos agora como alguns estudos identificaram os períodos pelos quais as crianças passam na aquisição da língua de sinais como primeira
língua.
Estágios do desenvolvimento da linguagem
Em relação à língua de sinais, as crianças surdas apresentam alguns estágios de desenvolvimento: o período pré-linguístico, o estágio de uma
palavra, o estágio das primeiras combinações e o estágio das múltiplas palavras.
Acontece nos primeiros meses de vida da criança. Nessa fase, as crianças choram, emitem sons, fazem apontamentos e produzem
balbucios que não apresentam significados definidos, embora possam ser reconhecidos como parte de uma comunicação, sobretudo pelas
pessoas que acompanham os bebês.
O balbucio acontece tanto de maneira gestual quanto oralmente, porém eles não se caracterizam como palavras ou sinais e não representam
uma comunicação estruturada. Esses balbucios e apontamentos deixam de acontecer, tanto nas crianças surdas como ouvintes.
Estudos apontam que durante os primeiros dias e meses de vida, o bebê apresenta uma grande sensibilidade e percepção para identificar
aspectos fonológicos de uma língua, inclusive passando a distinguir os fonemas comuns de sua língua materna em relação aos de uma
língua estrangeira.
Ao longo dos primeiros anos, o balbucio das crianças se modifica. Elas, então, começam a reproduzir apenas sons e entonações comuns ao
formato daqueles que elas têm contato em sua língua.
Ocorre geralmente entre os 12 meses e segue até o 24º mês de vida da criança (entre 1 e 2 anos). Nessa etapa, as crianças conseguem
sinalizar alguns sinais específicos, embora apresentem algumas dificuldades na flexão e na execução desses sinais. A criança reconhece os
sinais e os reproduz com algumas alterações nos parâmetros, seja na produção da configuração de mão, no movimento, no ponto de
articulação.
Entretanto, em geral é possível identificar os significados desses sinais, que estão associados aos nomes (identificação de objetos, uso de
Estágio pré-linguístico 
Estágio de um sinal 
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substantivos). Estudos também mostram que, nessa fase, os apontamentos utilizados na fase pré-linguística passam a ter referências
gramaticais, inclusive identificando pronomes, lugares e pessoas.
Esta etapa se inicia por volta dos 2 anos de idade da criança e se caracteriza pela inserção de frases e utilização da sintaxe da língua. No
caso da Libras, as crianças já utilizam estruturas como sujeito-verbo, verbo-sujeito e até sujeito-verbo-objeto.
Nessa fase, ainda há algumas dificuldades com o uso de alguns verbos e a identificação de sua concordância, podendo a criança fazer
referência ao interlocutor quando na verdade está produzindo sentenças em primeira pessoa, isto é, referenciando a si mesma, mas
apontando para outra pessoa.
Isso ocorre porque o uso de determinados verbos simples em Libras necessita de um pleno domínio do sistema pronominal, que ainda não
está totalmente estruturado nessa fase.
Esse período acontece a partir dos 2 anos e meio e 3 anos. Nessa fase, a criança já tem um bom vocabulário da língua e já consegue
diferenciar uso de verbos e substantivos derivados, como nos casos de sentar e cadeira ou carro e dirigir.
Um aspecto importante desse período está relacionado à identificação e ao uso do espaço, pois a criança já percebe e sinaliza elementos
(pessoas e objetos) não presentes, identificando no espaço essas referências. Assim como ocorre com as crianças ouvintes no uso das
flexibilizações, as crianças surdas também tendem a flexibilizar verbos que não admitem flexibilização. Nas crianças ouvintes, isso se
manifesta na fala por meio de usos como “fazi” no lugar de “fiz” ou “gosti”, em vez de “gostei”.
Essa utilização é uma tentativa de flexibilização marcada pelo padrão de conjugação de alguns verbos. Na língua de sinais, isso ocorre com
a tentativa de empregar flexão em verbos simples, cuja característica é a inexistência de concordância, tendo a sua realização caracterizada
pela identificação lexical do sujeito e do objeto do verbo.
Outros aspectos da aquisição da linguagem como a flexão e o uso de verbos com concordância, a produção de sentenças interrogativas, o uso da
topicalização e as estruturas relativas ou subordinadas acontecem durante os primeiros 5 anos de vida. Isto é, a criança em desenvolvimento
adequado, em contato com a língua desde os primeiros dias de vida, é capaz de adquirir as estruturas da língua de sinais até os 5 anos, assim como
crianças ouvintes com as línguas orais.
Atenção!
Para a Psicolinguística, essa fase é de especial interesse, pois ela consegue criar teorias sobre como a linguagem é processada nessas diferentes
etapas do desenvolvimento das crianças.
Modalidade e aquisição tardia
Dois aspectosdevem ser levados em conta quando abordamos o processamento das línguas de sinais por crianças surdas: a modalidade e a
aquisição tardia.
No que diz respeito à modalidade, em estudos sobre a aquisição por crianças surdas da língua americana de sinais (ASL), percebeu-se que a
utilização de apontamentos e expressões faciais que poderiam ser indicados como parte da língua de sinais deixa de acontecer e/ou é modificado e
gramaticalizado.
O uso dos apontamentos, inicialmente, serve apenas para a identificação de referentes imediatos, porém na
maioria das vezes não possuem significado, por isso não podem ser considerados como indicativo de um domínio
do sistema pronominal da língua. Isso acontece, da mesma forma, com as crianças ouvintes, que após
Estágio das primeiras combinações 
Estágio das múltiplas combinações 
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determinada idade passam a produzir apenas sons de sua própria língua.
Assim, o impacto da modalidade não representa uma aquisição mais acelerada por parte das crianças surdas em contato com a língua desde os
primeiros dias de vida. Porém, a ausência desse contato com a língua de sinais causa impactos na utilização, seja no processamento ou na
produção dessa língua.
Outro aspecto importante a ser considerado está relacionado à aquisição tardia da língua. No caso das crianças surdas nascidas em famílias de
ouvintes, isso é recorrente e, portanto, cabe à Psicolinguística pensar se esse período de “atraso” gera algum impacto na aquisição da língua de
sinais por essas crianças surdas.
A partir de estudos na área da Aquisição da Linguagem, entende-se que há um período crítico de aquisição, isto é, uma idade de maturação em que
o cérebro humano está mais propício à aquisição de uma língua. Partimos do pressuposto chomskyano de que a linguagem é inata. Nesse sentido,
há de se considerar o período que se inicia aos 2 anos e segue até o final da puberdade como o tempo em que o cérebro humano está mais
propenso a registrar, organizar e produzir estruturas linguísticas. Crianças ouvintes em contato com línguas possuem maior facilidade de
aprendizado até esse período.
Cabe ressaltar que estamos falando de línguas naturais, logo todas as pessoas são capazes de aprendê-las a qualquer tempo e idade, mas não é
possível ignorar que há um período que pode ser considerado ideal ou crítico e que, estando fora dele, as pessoas tenham mais dificuldades e o seu
aprendizado fique comprometido por esse contato tardio.
Exemplo
Podemos pensar no uso que estrangeiros fazem da língua portuguesa, a dificuldade de domínio dos fonemas, a dificuldade em compreender
estruturas sintáticas não canônicas (não comuns como a ordem direta — sujeito-verbo-objeto) e principalmente no processamento semântico das
informações, incluindo dificuldade com as entonações e conotações da língua.
No caso das crianças surdas, conforme estudo comparativo relacionado à aquisição da ASL por crianças norte-americanas, comprovaram-se
algumas diferenças na produção desses dois grupos, com atraso no contato e outras que tiveram contato no período considerado adequado.
As crianças que vivenciaram a aquisição tardia apresentaram algumas dificuldades com os aspectos morfológicos. Esse nível de linguagem está
associado à composição de sinais, à aglutinação, à marcação de número e flexão verbal, e estão atrelados a esse período crítico. Assim, quando a
criança surda apresenta algum atraso na aquisição da linguagem, esse período impacta diretamente a maneira como essa criança utilizará a língua.
Estudos sobre o período crítico ainda estão em curso e contribuem para entendermos a importância do acesso à língua, tanto a primeira (L1) por
crianças surdas, quanto à segunda (L2) por crianças ouvintes. Essas pesquisas apontam também que, caso o contato com essa segunda língua
seja ainda antes do final desse período crítico, eles poderão desenvolver maior competência de uso da língua aprendida, do que se tiverem esse
contato após essa etapa da vida.
A estrutura e o processamento das línguas de sinais
As línguas humanas acontecem na interação entre os sujeitos e atendem a uma série de aspectos estruturais que as identificam e diferenciam com
maior ou menor grau de semelhança, de aproximação.
A Linguística busca compreender o funcionamento dessas línguas e a Psicolinguística procura estabelecer as
relações não evidentes que elas trazem acerca da constituição do pensamento e do funcionamento do cérebro
humano.
Do ponto de vista estrutural, passemos a considerar agora alguns aspectos das línguas de sinais a fim de compreendermos um pouco mais de seu
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processamento.
Desde uma perspectiva estrutural, as línguas de sinais também se organizam em níveis linguísticos, fonéticos e fonológicos, que particularmente
não estarão ancorados em unidades sonoras, mas em parâmetros visuais de unidade mínimas (configuração de mão, ponto de articulação,
movimento, orientação e expressões não manuais). Esses elementos são simultâneos na construção das sentenças, formando item lexical e
indicando aspectos de organização das frases.
O processo de formação de palavras ou sinais acontece por meio do acréscimo de unidades e pela combinação dos parâmetros, como a inserção
de expressão não facial para marcar uma negação ou a de um numeral (demarcado pela escolha anterior de uma configuração de mão), indicando
uma especificação de quantidade na utilização pronominal. Os verbos também carregam características específicas de flexão a fim de compor as
sentenças em Libras. Podemos destacar os verbos direcionais que já trazem na orientação a marca de agente e paciente da ação verbal.
Estruturalmente, a Libras se organiza no espaço de sinalização e suas marcações espaciais são essenciais para a estrutura sintática.
Destacamos dois aspectos essenciais:
A referenciação, por meio do uso do espaço, do direcionamento e das expressões faciais na
identi�cação.
A diferenciação dos tipos de sentenças.
Tanto nas línguas orais quanto nas línguas sinalizadas, o processamento das sentenças ocorre a partir da manifestação estrutural de uma língua.
Isso implica dizer que, ao vermos ou ouvirmos uma frase, buscaremos unidades de sentidos e tentaremos unificá-las na construção de um sentido
maior e mais abrangente. Assim, quando uma unidade não se enquadra na proposição das demais unidades, temos uma necessidade de revisão ou
de rejeição à informação até que ela se ajuste.
Vejamos na prática como isso pode ocorrer com um exemplo nas duas línguas:
Sentença em português
Exemplo
Vou lavar o carro novo que comprei amanhã.
Na utilização da sentença em português, a escolha da flexão verbal de "comprar" já implica ou determina mentalmente que o advérbio que o sucede
deveria indicar ou demarcar um tempo passado. Quando me deparo com a indicação de futuro, há uma rejeição, impondo a necessidade de revisão
ou da unidade de significado, que indica o tempo verbal, ou do advérbio de tempo.
Repare que a sentença é gramaticalmente correta do ponto de vista estrutural, pois está encadeada
hierarquicamente contendo os elementos essenciais e complementares para uma oração, o verbo e seu
complemento, e há ainda uma identificação do sujeito e delimitação temporal.
Porém, do ponto de vista semântico, ela causa estranhamento, pois as estruturas apontam para um tempo que não pode ser encaixado na ação
verbal precedente, definida como passada.
Esse fenômeno acontece pelo que chamamos de parser, termo latino que designa os procedimentos mentais utilizados para o processamento da
estrutura sintática de uma frase. Pode ser pensado como uma introspecção consciente que fazemos ao entrarmos em contato com uma frase e a
junção de suas unidades. O processamento das frases, segundo Maia e Finger (2005), ocorre a partir dessadecomposição mental dos elementos
sintáticos.
Vamos pensar, então, na mesma sentença em Libras. Elas apresentam comportamentos diferentes nas duas línguas.
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Sentença em Libras
Exemplo
Lavar est@ (apontamento para o veículo ou sua indicação no espaço de sinalização) carro novo eu comprar (direcionando para o objeto ou sua
colocação no espaço de sinalização) amanhã.
Como é possível perceber, o verbo não indica a marca temporal, mas ela será exigida pelo uso do advérbio e enfatizada pela expressão facial. Ou
seja, do ponto de vista estrutural, sintático, essa sentença também será gramatical, porém na estrutura sintática da Libras o verbo comprar é
direcional, ou seja, precisará estar direcionado para o objeto, que nesse caso seria o carro.
Na realização da sentença em Libras, a escolha verbal exigirá que a direcionalidade utilize o referente já marcado, não sendo gramatical uma direção
aleatória. Em caso dessa ocorrência, por meio do parser, a nossa relação mental buscaria outro elemento que se encontra na direção do verbo para
que ele funcionasse como complemento, nesse caso a posição ficaria gramaticalmente equivocada, como vazia.
Esse recurso interno de acomodação das informações dentro de um padrão linguístico configura o objeto de estudos do campo de processamento
de frases. Nesse campo...
busca-se o entendimento das computações mentais responsáveis pela compreensão linguística nos distintos
lapsos temporais do processamento da linguagem. Isso inclui a percepção morfofonológica do sinal acústico
(ou visual, no caso da leitura e das línguas de sinais), o reconhecimento de uma palavra, a decodificação da
estrutura sintática de uma frase e a interpretação comunicativa final no discurso.
(KENEDY, 2015, p. 9)
Nas línguas de sinais, outro aspecto que deve ser levado em conta é a utilização da expressão facial, pois elas exercem uma função diferencial no
tipo de sentença apresentada, podendo variar de interrogativa, exclamativa, afirmativa ou negativa, dependendo da intenção do emissor.
No caso da sentença avaliada, a expressão facial utilizada pressupõe uma afirmação, porém, em caso de troca, ela criará um valor diferente para a
sentença. Se por algum equívoco houver suspensão de sobrancelhas, ou movimentos indicativos de negação, a sentença também perderá a
característica de afirmação, sendo entendida outra informação. Esses aspectos são diferenciais e podem ser mais investigados na construção dos
significados, na construção de sentidos e no uso pragmático da língua.
Conclusão
O processamento da língua pode ser estudado em diversos aspectos, incluindo o compartimento cerebral em que isso ocorre, as unidades de
sentido, estrutura e identificação das unidades de processamento, as relações de significados e sentidos construídos por comunidades de falantes
e o seu uso sistemático em determinado grupo.
Re�exão
Em todos esses níveis, para a Psicolinguística é necessário refletir sobre os aspectos do pensamento humano que estão subjacentes nas
declarações e como elas podem contribuir para entendermos as relações cognitivas que o cérebro humano faz das línguas naturais.
A Psicolinguística e as línguas de sinais
Está na hora de aprender mais sobre as relações entre a Psicolinguística e as línguas de sinais, principalmente sobre as temáticas da aquisição de
linguagem, da estrutura e do processamento das línguas de sinais. Vamos lá!

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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Língua de sinais e o cérebro humano
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
A aquisição da língua de sinais
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
A estrutura e o processamento das línguas de sinais
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1
Para compreender alguns aspectos do pensamento humano, a Psicolinguística estuda as relações entre pensamento e linguagem que são
apresentadas na fala. Em relação a essa proposta de investigação, assinale a alternativa correta.
A A fala é um substrato intangível, por isso deve ser investigada no estudo do pensamento.
B A fala é um produto tangível capaz de produzir elementos que podem ser analisados.
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Considerações �nais
Aprendemos que a Psicolinguística surge como uma interface entre a Linguística e a Psicologia, contribuindo para enriquecer as discussões sobre a
relação entre pensamento e linguagem. Tendo como objeto de estudo a comunicação humana, vimos que a Psicolinguística também investiga as
estruturas psicológicas que permitem compreender as unidades de significação, isto é, as palavras, as orações e as expressões existentes em
nossa vida. Essa ciência, que tem como seu principal expoente o linguista norte-americano Noam Chomsky, vem contribuindo para a nossa
compreensão de alguns fenômenos linguísticos e das relações sintáticas das línguas.
Conhecemos, também, os estudos sobre o desenvolvimento do pensamento, a aquisição da linguagem e o processamento das línguas humanas.
C A fala é anterior ao pensamento, por isso deve ser investigada, como produto humano.
D A fala é uma linguagem que surge antes da língua e sua utilização é inata nos seres humanos.
E A fala, a linguagem e a língua dos seres humanos são tangíveis e passíveis de investigação.
Parabéns! A alternativa B está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20fala%20%C3%A9%20um%20produto%20da%20linguagem%20humana%20e%2C%20ao%20ser%20produzid
se%20um%20elemento%20tang%C3%ADvel%20capaz%20de%20ser%20estudado%2C%20analisado%2C%20o%20que%20n%C3
Questão 2
Em relação à aquisição das línguas de sinais, as crianças filhas de pais surdos adquirem essa língua como primeira língua e, no caso dos ouvintes, o
contato deles com a comunidade em que vivem faz com que eles se tornem
A crianças sem fala oral.
B crianças que só sabem usar os sinais.
C bilíngues bimodais.
D bilíngues monomodais.
E monolíngues.
Parabéns! A alternativa C está correta.
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16/06/2022 16:16 Psicolinguística e línguas de sinais
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Vimos aspectos relacionados ao uso das línguas de sinais, a seu processamento e às características sintáticas das línguas de sinais. Foi possível
perceber que a diferença de modalidade, embora tenha impacto na organização sintática, não interfere nos universais da linguagem humana.
Assim, aos profissionais que atuam com a língua, sejam professores ou tradutores/intérpretes, esses conhecimentos assumem um papel fundante
no exercício de seu trabalho. Esses estudos poderão indicar as melhores formas de pensar o ensino e a tradução, pois entendemos como a língua é
processada e como pode ser formulado o seu ensino.
Referências
BELLUGI, U.; POIZER, H.; KLIMA, E. Language, modality and the brain. Trends in neurosciences reviews (TINS), v. 12, n. 10, p. 380-388, 1989.
BIZELLO, A. et al. Psicolinguística. Porto Alegre: SAGAH, 2020.
CHOMSKY, N. Reflexões sobre a linguagem. São Paulo: Cultrix, 1980.
FIORIN, J. L. (Org.). Linguística? Que é isso? São Paulo: Contexto, 2013.
KENEDY, E. Modelos interativos no processamento de frases: a teoria da dependência local. Revista Prolíngua, v. 10, n. 1, jan./fev. 2015.
KENEDY, E. Gerativismo. In: MARTELOTTA, M. E. (Org).Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2008.
MAIA, M.; FINGER, I. (Org.). Processamento da linguagem. Pelotas, RS: EDUCAT, 2005.
PINKER, S. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
VYGOTSKY, L. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
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Para dar continuidade aos seus estudos, confira as nossa indicações!
Leia os seguintes textos:
Aquisição de línguas de sinais e teoria linguística: contribuições de pesquisas brasileiras e norte-americanas, de João Paulo da Silva Nascimento
e Roberto de Freitas Jr., publicado na Revista da ABRALIN, v. 19, n. 2, p. 1-6, 27 jun. 2020.
Aquisição da linguagem, de Ronice Müller de Quadros, capítulo de seu livro Educação de surdos: aquisição da linguagem, publicado em Porto
Alegre, pela Artmed, 1997.
Modelos psicolinguísticos de produção da linguagem verbal oral, de Leonor Scliar-Cabral, publicado na revista Gragoatá, v. 23, n. 46, p. 427–447,
2018.
Assista aos seguintes vídeos:
Aquisição da Linguagem: Oralidade e Escrita - A formação da Psicolinguística, disponibilizado pela Univesp em seu canal no YouTube.
Noam Chomsky, com versões em português e em Libras, disponibilizado pela ABRALIN em seu canal no YouTube.
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