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1 MÓDULO III: SAÚDE MENTAL ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 OBJETIVOS 1. Compreender os espectros da esquizofrenia. 2. Analisar a esquizofrenia, considerando sinais e sintomas, fatores de riscos, critérios para diagnósticos e diagnósticos diferenciais. 3. Definir tratamento, prognóstico e o curso da doença. REFERÊNCIAS SADOCK, Benjamin J.; SADOCK, Virgínia A.; RUIZ, Pedro. Compêndio de Psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. (APA), American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2015 DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 3. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019. EPIDEMIOLOGIA A prevalência da esquizofrenia ao longo da vida parece ser de 0,3 a 0,7%. A proporção entre os sexos difere em amostras e populações: por exemplo, ênfase em sintomas negativos e duração maior do transtorno demonstram taxas mais elevadas de incidência nos indivíduos do sexo masculino, ao passo que definições que possibilitam a inclusão de mais sintomas de humor e apresentações breves (associadas a melhor prognóstico) demonstram riscos equivalentes para ambos os sexos. O início é mais precoce entre homens. As idades de pico do início são entre 10 e 25 anos para os homens e entre 25 e 35 anos para as mulheres O início da esquizofrenia antes dos 10 anos ou após os 60 anos é extremamente raro. Há prevalência aumentada (em relação à população em geral) de tabagismo e uso de substâncias. ETIOLOGIA FATORES GENÉTICOS: a probabilidade de uma pessoa ter esquizofrenia está correlacionada com a proximidade da relação com um parente afetado (p. ex., parente de primeiro ou segundo graus). No caso de gêmeos monozigóticos que têm carga genética idênticas, há uma taxa de concordância para esquizofrenia de aproximadamente 50%. Alguns dados indicam que a idade do pai tem uma correlação com o desenvolvimento de esquizofrenia. Em estudos desse transtorno com pacientes sem história da doença na linhagem materna ou paterna, foi verificado que aqueles nascidos de pais com mais de 60 anos de idade eram vulneráveis a desenvolver o transtorno. Presumivelmente, a espermatogênese em homens mais velhos está sujeita a maior dano epigenético do que em homens jovens. Novas análises desses sítios de cromossoma levaram à identificação de genes candidatos específicos, e os melhores candidatos atuais são o receptor nicotínico alfa-7, DISC 1, GRM 3, COMT, NRG 1, RGS 4 e G 72. Recentemente, verificou-se que mutações dos genes distrobrevina (DTNBP1) e neurregulina 1 estão associadas com sintomas negativos da esquizofrenia. FATORES BIOQUÍMICOS HIPÓTESE DA DOPAMINA: postula que o transtorno resulta do excesso de atividade dopaminérgica. A teoria evoluiu a partir de duas observações. 1ª: a eficácia e a potência da maioria dos antipsicóticos (i.e., antagonistas do receptor da dopamina [ARDs]) estão correlacionadas a sua capacidade de agir como antagonistas do receptor de dopamina tipo 2 (D2). 2º: os agentes que aumentam a atividade dopaminérgica (anfetamina) são psicotomiméticos. Esquizofrenia Problema 03 2 MÓDULO III: SAÚDE MENTAL ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 A liberação excessiva de dopamina em pacientes com esquizofrenia foi associada à gravidade de sintomas psicóticos positivos. SEROTONINA: postulam o excesso de serotonina como uma das causas de sintomas tanto positivos como negativos na esquizofrenia. A atividade antagonista de serotonina consistente da clozapina e de outros antipsicóticos de segunda geração, junto com a eficácia da clozapina para dimimuir sintomas positivos em pacientes crônicos, contribuiu para a validade dessa proposição NOREPINEFRINA: uma degeneração neuronal seletiva no sistema neural de recompensa da norepinefrina pode estar relacionado ao comprometimento da capacidade para gratificação emocional e a diminuição da capacidade de experimentar prazer (anedonia) Entretanto, os dados bioquímicos e far- macológicos que apoiam essa proposição são inconclusivos. GABA: alguns pacientes têm uma perda de neurônios GABAérgicos no hipocampo. O GABA tem um efeito regulador sobre a atividade da dopamina, e a perda de neurônios GABAérgicos inibidores poderia levar à hiperatividade dos neurônios dopaminérgicos. NEUROPATOLOGIA VENTRÍCULOS CEREBRAIS: TC de pacientes com esquizofrenia têm mostrado consistentemente alargamento dos ventrículos laterais e do terceiro ventrículo e alguma redução no volume cortical. SIMETRIA REDUZIDA. Há uma simetria reduzida em várias áreas do cérebro na esquizofrenia, incluindo os lobos temporal, frontal e occipital. Alguns pesquisadores acreditam que essa simetria redu- zida se origine durante a vida fetal e seja indicativa de uma inter-rupção na lateralização cerebral durante o neurodesenvolvimento. SISTEMA LÍMBICO: Estudos de amostras cerebrais na necropsia de pacientes com o transtorno mostraram diminuição no tamanho da região, incluindo a amígdala, o hipocampo e o giro para- hipocampal. CÓRTEX PRÉ-FRONTAL. muito tem sido observado que vários sintomas de esquizofrenia imitam aqueles encontrados em pessoas com lobotomias pré-frontais ou síndromes do lobo frontal. TÁLAMO. Alguns estudos do tálamo mostram evidência de diminuição de volume ou perda neuronal, em subnúcleos específicos. GÂNGLIOS DA BASE E CEREBELO: visto que estão envolvidos no controle dos movimentos, doenças nessas áreas estão implicadas na exibição de movimentos bizarros em alguns pacientes, mesmo na ausência de transtornos do movimento induzidos por medicamentos (p. ex., discinesia tardia). Além disso, os transtornos do movimento que envolvem os gânglios da base (p. ex., doença de Huntington, doença de Parkinson) são os mais comumente associados com psicose. AMBIENTAIS. A estação do ano no nascimento é associada à incidência da esquizofrenia, incluindo fim do inverno/início da primavera em alguns locais e verão para a forma da doença com déficits. A incidência de esquizofrenia e transtornos relacionados é mais alta em crianças que crescem em ambiente urbano e em alguns grupos étnicos minoritários. SUBTIPOS Cinco subtipos de esquizofrenia foram descritos com base na apresentação clínica: paranoide, desorganizado, catatônico, indiferenciado e residual. O DSM-5 não usa mais esses subtipos, mas eles são listados na 10ª revisão da Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-10) e ainda são utilizados pela maioria dos médicos nos Estados Unidos e em outros países para descrever a fenomenologia da esquizofrenia. TIPO PARANOIDE Caracteriza--se pela preocupação com um ou mais delírios ou alucinações auditivas frequentes. Classicamente, esse tipo é marcado sobretudo pela presença de delírios de perseguição ou grandeza. Esses pacientes costumam ter seu primeiro episódio da doença em idade mais avançada do 3 MÓDULO III: SAÚDE MENTAL ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 que aqueles com os tipos catatônico ou de- sorganizado. Além disso, demonstram menos regressão de suas faculdades mentais, de respostas emocionais e de comportamento do que em outros tipos do transtorno. Indivíduos com esquizofrenia paranoide tendem a ser tensos, desconfiados, cautelosos, reservados e, às vezes, hostis ou agressivos, mas também ocasionalmente capazes de se comportar de forma adequada em algumas situações sociais. Sua inteligência nas áreas que não são invadidas pela psicose tende a permanecer intacta. TIPO DESORGANIZADO É caracterizado por regressão acentuada para um comportamento primitivo, desinibido e desordenado e pela ausência de sintomasque satisfaçam os critérios para o tipo catatônico. O início desse subtipo costuma ser precoce, ocorrendo antes dos 25 anos de idade. Os pacientes desorganizados em geral são ativos, mas de uma forma não construtiva, sem objetivo. Seu transtorno do pensamento é pronunciado, e o contato com a realidade é pobre. Sua aparência pessoal é desleixada, e o comportamento social e as respostas emocionais são inadequados, com frequência explodindo em risos sem nenhuma razão aparente. Sorrisos e caretas incongruentes também são comuns nesses pacientes, cujo comportamento pode ser mais bem descrito como tolo ou insensato. TIPO CATATÔNICO Sua característica clássica é um distúrbio acentuado da função motora, que pode envolver estupor, negativismo, rigidez, excitação ou posturas bizarras. Por vezes, o paciente exibe alternância rápida entre extremos de excitação e estupor. As características associadas incluem estereotipias, maneirismos e flexibilidade cérea. O mutismo é particularmente comum. Durante a excitação catatônica, os pacientes necessitam de supervisão constante para impedir que machuquem a si mesmos ou outras pessoas. Pode ser necessário atendimento médico devido a desnutrição, exaustão, hiperpirexia ou autolesões. TIPO INDIFERENCIADO Com frequência, pacientes que claramente têm esquizofrenia não podem ser enquadrados em um subtipo com tanta facilidade. Eles são classificados com esquizofrenia do tipo indiferenciado. TIPO RESIDUAL Caracteriza-se por evidências contínuas do transtorno na ausência de um conjunto completo de sintomas ativos ou de sintomas suficientes para satisfazer o diagnóstico de outro tipo de esquizofrenia. Embotamento emocional, retraimento social, comportamento excêntrico, pensamento ilógico e frouxidão leve das associações são comuns nesse tipo. Quando ocorrem, delírios ou alucinações não são proeminentes nem acompanhados de reações afetivas significativas. QUADRO CLÍNICO A esquizofrenia é caracterizada por conjuntos de sintomas e comportamentos, que podem se combinar de formas muito variadas e heterogêneas, nas diversas fases da doença, nas quais preponderariam distintas dimensões sintomatológicas. Os principais grupos de sintomas da esquizofrenia são: 1 . SINTOMAS NEGATIVOS Caracterizam-se pela perda de certas funções psíquicas (vontade, pensamento, linguagem, etc.) e pelo empobrecimento global da vida afetiva, cognitiva e social do indivíduo. Em decorrência dos sintomas negativos, observa- se uma considerável negligência quanto a si 4 MÓDULO III: SAÚDE MENTAL ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 mesmo, que se revela pelo descuido e desinteresse para consigo mesmo, com higiene pobre, roupas malcuidadas, descuido da aparência e/ou dos cuidados com a saúde, cabelos sujos, dentes apodrecidos, entre outros aspectos. Os principais sintomas ditos negativos nas síndromes esquizofrênicas são: •DISTANCIAMENTO E APLAINAMENTO AFETIVO OU AFETO EMBOTADO: perda da capacidade de se sintonizar afetivamente com as pessoas, de ter e/ou demonstrar ressonância afetiva no contato interpessoal. •RETRAÇÃO SOCIAL OU ASSOCIALIDADE: o indivíduo vai se isolando progressivamente do convívio social, havendo restrição dos interesses devido às alterações nas esferas afetivas (apatia) e volitivas (abulia e redução do impulso para agir socialmente). •ALOGIA OU EMPOBRECIMENTO DA LINGUAGEM E DO PENSAMENTO: diminuição da fluência verbal e pelo discurso empobrecido. •DIMINUIÇÃO DA VONTADE (AVOLIÇÃO): diminuição da iniciativa e dificuldade ou incapacidade de realizar ações, tarefas, trabalhos minimamente organizados que exijam iniciativa, motivação, organização e persistência. •ANEDONIA: diminuição da capacidade de experimentar e sentir prazer. Obs: A anedonia da esquizofrenia é distinta da existente na depressão, visto que, na esquizofrenia não há evidente desconforto subjetivo com a experiência de anedonia. 2 . SINTOMAS POSITIVOS Os sintomas ditos positivos são manifestações novas, salientes, do processo esquizofrênico (não houve perda de processos existentes anteriormente como nos sintomas negativos) Os principais sintomas positivos da esquizofrenia são: • ALUCINAÇÕES: o tipo de alucinação mais frequente é a auditiva (“vozes” que o paciente ouve, geralmente com conteúdo de acusação, ameaça ou pejorativos), mas também pode haver alucinações/ilusões visuais, táteis, gustativas (gosto de veneno nos alimentos) e/ou olfativas (sentir cheiro de podre). •IDEIAS DELIRANTES (DELÍRIO): frequentemente de conteúdo persecutório, autorreferentes ou de influência, mas pode haver delírios com outros conteúdos ou de outra natureza. Os delírios e as alucinações com conteúdo implausíveis, bizarros (eventos ou fatos praticamente impossíveis de ocorrer), assim como não congruentes com o humor basal do paciente, são indicadores robustos de esquizofrenia. •DISTORÇÃO DA REALIDADE OU DIFICULDADES COM O TESTE DE REALIDADE: presença de ideias muito deturpadas, marcadamente bizarras, sobre a realidade, sobre os fatos do mundo, sobre a história do paciente, embora não sejam necessariamente delírios, podem estar presentes. 3.SINTOMAS DE DESORGANIZAÇÃO Essa síndrome tem certa correspondência ou semelhança com o subtipo classicamente denominado esquizofrenia hebefrênica. Assim, nas formas desorganizadas da doença, observam-se: • PENSAMENTO PROGRESSIVAMENTE DESORGANIZADO: leve afrouxamento das associações, passando por descarrilamento do pensamento até a total desagregação e produção de um pensamento totalmente incompreensível, totalmente incoerente. •TANGENCIALIDADE E CIRCUNSTANCIALIDADE: incapacidade de manter o fluxo do discurso e as associações do pensamento dirigidas para um objetivo e introdução excessiva de palavras e ideias no discurso que não têm nenhuma relação com o tema exposto. A presença de neologismos eventualmente é incluída aqui, mas pode também ser classificada junto aos sintomas positivos. •COMPORTAMENTOS DESORGANIZADOS E INCOMPREENSÍVEIS: particularmente comportamentos sociais e sexuais bizarros e inadequados, observados em vestimenta, adornos, aparência e expressão geral bizarra. •AFETO INADEQUADO: marcadamente ambivalente, incongruente e em descompasso 5 MÓDULO III: SAÚDE MENTAL ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 franco entre as esferas afetivas, ideativas e volitivas pode ser incluído como parte da síndrome de desorganização. 4 .SINTOMAS PSICOMOTORES/CATATONIA LENTIFICAÇÃO E EMPOBRECIMENTO PSICOMOTOR: restrição do repertório da esfera gestual e motora. ESTEREOTIPIAS DE MOVIMENTOS: atos, gestos, repetidos de forma mecânica, sem finalidades, maneirismos (gestos complexos, repetidos, que parecem ter um objetivo e significado para o indivíduo) e posturas bizarras. Alguns pacientes fazem caretas (que não se sabe por que), vestem roupas e usam adornos bizarros. CATATONIA: é a manifestação psicomotora mais marcante na esquizofrenia. Embora o nível de consciência esteja preservado, o paciente pode revelar sintomas de estupor (o paciente fica no leito, parado, sem fazer nada, sem responder a solicitações, sem se alimentar e às vezes sem sair para urinar ou defecar). Também pertencem à catatonia a flexibilidade cerácea, ou catalepsia (o paciente fica na posição que o colocam, mesmo em posições dos membros contra a gravidade), a ecolalia (repetir mecanicamente palavras do interlocutor) e/ou a ecopraxia (repetir mecanicamente atos dos outros). 5.SINTOMAS/PREJUÍZOS COGNITIVOS As alterações cognitivas são fortes preditores de pior evolução na vida social e do trabalho. Alterações cognitivas na esquizofrenia incluem os seguintes domínios da cognição: atenção, memória episódica, memória de trabalho, velocidadede processamento e funções executivas frontais (inclusive fluência verbal). Também em relação à cognição social, observam-se dificuldades na percepção e no gerenciamento de emoções (perceber e compreender as emoções a partir de pistas faciais, tom de voz, gestos) e déficit na percepção social (compreender o contexto social, decodificar e identificar dicas sociais de acordo com o ambiente). 6. SINTOMAS DE HUMOR Há redução da experiência e da expressão emocional em muitos pacientes Em contraste com tal redução, os indivíduos apresentam com frequência aumento da reatividade emocional Essa combinação de redução da expressão emocional com maior reatividade emocional tem sido denominada de “paradoxo emocional da esquizofrenia”. DIAGNÓSTICO CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DO DSM-5 PARA ESQUIZOFRENIA A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3): 1.Delírios. 2. Alucinações 3. Discurso desorganizado. 4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico. 5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia). B. Por período significativo de tempo desde o aparecimento da perturbação, o nível de funcionamento em uma ou mais áreas importantes do funcionamento, como trabalho, relações interpessoais ou autocuidado, está acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início (ou, quando o início se dá na infância ou na adolescência, incapacidade de atingir o nível esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou profissional). C. Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. Esse período de seis meses deve incluir no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que precisam satisfazer ao Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos prodrômicos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados no Critério A presentes em uma forma atenuada (p. ex., crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns). D. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas são descartados porque 1) não ocorreram episódios depressivos maiores ou maníacos concomitantemente com os sintomas da fase ativa, ou 6 MÓDULO III: SAÚDE MENTAL ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 2) se episódios de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve em relação aos períodos ativo e residual da doença. E. A perturbação não pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. F. Se há história de transtorno do espectro autista ou de um transtorno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios ou alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão também presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Especificar se: Os especificadores de curso a seguir devem somente ser usados após um ano de duração do transtorno e se não estiverem em contradição com os critérios de curso diagnóstico. Primeiro episódio, atualmente em episódio agudo: A primeira manifestação do transtorno atende aos sintomas diagnósticos definidos e ao critério de tempo. Um episódio agudo é um período de tempo em que são satisfeitos os critérios de sintomas. Primeiro episódio, atualmente em remissão parcial: Remissão parcial é um período de tempo durante o qual é mantida uma melhora após um episódio anterior e em que os critérios definidores do transtorno são atendidos apenas em parte. Primeiro episódio, atualmente em remissão completa: Remissão completa é um período de tempo após um episódio anterior durante o qual não estão presentes sintomas específicos do transtorno. Episódios múltiplos, atualmente em episódio agudo: Múltiplos episódios podem ser determinados após um mínimo de dois episódios (i.e., após um primeiro episódio, uma remissão e pelo menos uma recaída). Episódios múltiplos, atualmente em remissão parcial Episódios múltiplos, atualmente em remissão completa Contínuo: Os sintomas que atendem aos critérios de sintomas diagnósticos do transtorno permanecem durante a maior parte do curso da doença, com períodos de sintomas em nível subclínico muito breves em relação ao curso geral. Não especificado Especificar se: Com catatonia (consultar os critérios para catatonia associada a outro transtorno mental, para definição) Nota para codificação: Usar o código adicional 293.89 (F06.1) de catatonia associada a esquizofrenia para indicar a presença de catatonia comórbida. Especificar a gravidade atual: A gravidade é classificada por uma avaliação quantitativa dos sintomas primários de psicose, o que inclui delírios, alucinações, desorganização do discurso, comportamento psicomotor anormal e sintomas negativos. Cada um desses sintomas pode ser classificado quanto à gravidade atual (mais grave nos últimos sete dias) em uma escala com 5 pontos, variando de 0 (não presente) a 4 (presente e grave). (Ver Gravidade das Dimensões de Sintomas de Psicose Avaliada pelo Clínico no capítulo “Instrumentos de Avaliação”.) Nota: O diagnóstico de esquizofrenia pode ser feito sem a utilização desse especificador de gravidade. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL OUTROS TRANSTORNOS PSICÓTICOS TRANSTORNO ESQUIZOFRENIFORME: difere da esquizofrenia porque seus sintomas têm duração de pelo menos um mês, mas menos de seis. TRANSTORNO PSICÓTICO BREVE: é o diagnóstico apropriado quando os sintomas duram pelo menos um dia, mas menos de um mês, e o paciente não retorna ao estado pré-mórbido de funciona-mento nesse período. TRANSTORNO ESQUIZOAFETIVO: deve-se pensar quando uma síndrome maníaca ou depressiva se desenvolve ao mesmo tempo que os sintomas principais da esquizofrenia. TRANSTORNO DELIRANTE: Delírios não bizarros presentes por pelo menos um mês sem outros sintomas de esquizofrenia ou transtorno do humor TRANSTORNOS DO HUMOR EPISÓDIO DEPRESSIVO MAIOR: delírios e alucinações, associado a um transtorno do humor unipolar ou bipolar. Os delírios vistos na depressão psicótica são normalmente congruentes com o humor e envolvem temas como culpa, autodepreciação, punição merecida e doenças incuráveis TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE Os transtornos da personalidade, diferentemente da esquizofrenia, têm sintomas leves e história de 7 MÓDULO III: SAÚDE MENTAL ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 ocorrência durante toda a vida; eles também não têm uma data de início precisa. TRATAMENTO HOSPITALIZAÇÃO É indicada para: -Fins de diagnóstico -Estabilização da medicação -Segurança do paciente (ideação suicida ou homicida) -Incapacidade de cuidar das necessidades básicas, como alimentação, vestuário e abrigo. Obs: Centros de atendimento diários e visitas domiciliares de terapeutas às vezes ajudam os pacientes a permanecer fora do hospital por longos períodos, melhorando a qualidade de suas vidas diárias FARMACOTERAPIA • Antipsicóticos de primeira geração, ou antagonistas do receptor de dopamina (ARD) • Antipsicóticos de segunda geração ou antagonistas de serotonina e dopamina (ASDs). TRATAMENTO DA PSICOSE AGUDA Os sintomas psicóticos agudos requerem atenção imediata e consiste em aliviar os sintomas psicóticos mais graves. Essa fase em geral dura de 4 a 8 semanas. Os antipsicóticos e os benzodiazepínicos podem acalmar os pacientes com bastante rapidez. • ANTIPSICÓTICOS: Muitas vezes uma única injeção IM, resultaráem efeito calmante sem sedação excessiva. -Haloperidol, flufenazina: podem causar distonias ou acatisia assustadoras em alguns pacientes. -Ziprasidona e olanzapina IM: não causam efeitos colaterais extrapiramidais substanciais • BENZODIAZEPÍNICOS: lorazepam tem a vantagem de uma absorção confiável quando administrado por VO ou IM. Obs: Paciente em tratamento com medicamentos que tenham efeitos colaterais extrapiramidais como um antipsicótico de 1ª geração: antiparkinsoniano anticolinérgico, um benzodiazepínico ou propranolol pode ser útil para fazer essa diferenciação. TRATAMENTO DURANTE AS FASES DE ESTABILIZAÇÃO E MANUTENÇÃO Os objetivos durante essa fase são prevenir recaída psicótica e ajudar os pacientes a melhorar seu nível de funcionamento. Nessa fase, os pacientes em geral estão em um estado relativo de remissão, apenas com sintomas psicóticos mínimos. Embora as diretrizes publicadas não façam recomendações definitivas, no geral, é recomendado que pacientes com episódios múltiplos recebam tratamento de manutenção por pelo menos 5 anos, e muitos especialistas recomendam a farmacoterapia por tempo indeterminado. Pacientes estáveis que são mantidos com um antipsicótico têm uma taxa de recaída muito mais baixa do que aqueles que têm seus medicamentos descontinuados. ** Antipsicóticos de segunda geração são mais recomentados para o tratamento de manutenção por terem um risco bastante reduzido de discinesia tardia. ESTRATÉGIAS PARA PACIENTES RESISTENTES AO TRATAMENTO Antes de considerar um paciente resistente a determinada droga, é importante uma tentativa de 4 a 6 semanas em uma dose adequada de um antipsicótico com monitoração da concentração plasmática. CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA MUITO BAIXA: -Má adesão do paciente ao tratamento ou apenas adesão parcial. 8 MÓDULO III: SAÚDE MENTAL ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 -Paciente possui um metabolismo rápido do antipsicótico ou a droga não esteja sendo absorvida de modo apropriado = aumentar a dose pode ser útil CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA ALTA: -Efeitos colaterais estarem interferindo na resposta terapêutica = mudar para outro medicamento. A clozapina é eficaz para pacientes que respondem mal aos ARDs. OUTRAS TERAPIAS BIOLÓGICAS A eletroconvulsoterapia (ECT) tem sido estudada na esquizofrenia tanto aguda quanto crônica. Estudos com pacientes de início recente indicam que a ECT é tão eficaz quanto medicamentos antipsicóticos e mais eficaz do que psicoterapia. TERAPIAS PSICOSSOCIAIS O objetivo é capacitar indivíduos com doença grave a desenvolver habilidades sociais e vocacionais para uma vida independente. TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS Além dos sintomas psicóticos outros sintomas, incluindo pouco contato visual, retardo incomum das reações, expressões faciais estranhas, falta de espontaneidade em situações sociais e percepção incorreta ou falta de percepção das emoções das outras pessoas são comuns. O treinamento de habilidades comportamentais trata esses comportamentos com o uso de vídeos de outras pessoas e do paciente, dramatizações na terapia e “lições de casa” para as habilidades específicas que estão sendo praticadas. TERAPIA DE FAMÍLIA A abordagem deve focalizar a situação imediata e incluir identificação e evitação de situações potencialmente problemáticas. Os terapeutas devem ajudá-los a compreender e a aprender sobre a esquizofrenia e estimular a discussão sobre o episódio psicótico e os fatos que levaram a ele. TERAPIA DE GRUPO A terapia de grupo é eficaz para reduzir o isolamento social, aumentar o sentido de coesão e melhorar o teste de realidade. PSICOTERAPIA INDIVIDUAL É fundamental desenvolver uma relação em que o paciente sinta ser segura. Os terapeutas devem respeitar a distância e a privacidade do paciente e demonstrar simplicidade, paciência, franqueza e sensibilidade às convenções sociais em vez de optar pela preferência por informalidade prematura e pelo uso condescendente de primeiros nomes. O paciente tende a perceber uma ternura exagerada ou expressões de amizade como tentativas de suborno, manipulação ou exploração; PROGNÓSTICO A esquizofrenia é uma doença crônica, com surtos recorrentes; não há, de modo geral, remissão completa depois dos surtos. A evolução da vida social e econômica implica, geralmente, menores taxas de emprego e de independência econômica, e também há maior probabilidade de o indivíduo acometido ficar em situação de rua ou ser preso. A pior evolução se associa a sexo masculino, surgimento mais precoce da doença, períodos mais prolongados sem tratamento, gravidade do acometimento cognitivo (sobretudo da cognição social) e dos sintomas negativos. Pessoas com esquizofrenia vivem em média 15 a 25 anos a menos do que a população em geral, em decorrência de terem mais doenças e condições físicas. Cerca de 5 a 6% dos indivíduos com esquizofrenia morrem por suicídio; em torno de 20% tentam suicídio em uma ou mais ocasiões, e muitos mais têm ideação suicida importante. Um comportamento suicida ocorre por vezes em resposta ao comando das alucinações para prejudicar a si mesmo ou a outros.
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