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Julia Paris Malaco – UCT18 SP3 – problemas mentais e de comportamento As síndromes psicóticas caracterizam-se por experiências como alucinações e delírios, desorganização marcante do pensamento e/ou do comportamento ou comportamento catatônico. Experiência intensa de estar sendo perseguido ou ameaçado (por pessoas ou forças estranhas), assim como alterações evidentes na vida pessoal, familiar e social, são frequentes nos quadros psicóticos. São condições, de modo geral, de acentuada gravidade. Os transtornos psicóticos são especificados pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10): Esquizofrenia: Trata-se de uma perturbação que dura, pelo menos, 6 meses e inclui, no mínimo, 1 mês de sintomas da fase ativa (isto é, dois ou mais sinais, como delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico e sintomas negativos). O transtorno costuma começar antes dos 25 anos, persiste durante toda a vida e afeta pessoas de todas as classes sociais Transtorno esquizofreniforme: Caracteriza-se por quadro sintomático equivalente ao da esquizofrenia, exceto por sua duração (isto é, a perturbação dura de 1 a 6 meses) e ausência da exigência de declínio no funcionamento. Transtorno esquizoafetivo: Trata-se de uma perturbação em que episódio de humor e sintomas da fase ativa da esquizofrenia ocorrem juntos e foram precedidos ou seguidos por, pelo menos, 2 semanas de delírios ou alucinações sem sintomas proeminentes de humor. Transtorno delirante: Caracteriza-se por, pelo menos, 1 mês de delírios não bizarros sem outros sintomas da fase ativa da esquizofrenia. Transtorno psicótico breve: Trata-se de uma perturbação psicótica com duração maior que 1 dia e remissão em 1 mês. Transtorno psicótico compartilhado: Trata-se de uma perturbação que se desenvolve em indivíduo influenciado por outra pessoa com delírio estabelecido de conteúdo similar. Transtorno psicótico devido a uma condição médica geral: Os sintomas psicóticos são considerados consequência fisiológica direta de uma condição médica geral. Transtorno psicótico induzido por substância: Nesse caso, os sintomas psicóticos são considerados consequência fisiológica direta de droga de abuso, medicamento ou exposição à toxina. Transtorno psicótico sem outra especificação: Está incluído na classificação de quadros psicóticos que não satisfazem os critérios para quaisquer dos transtornos psicóticos específicos definidos nesta seção, ou de sintomatologia psicótica acerca da qual existem informações inadequadas ou contraditórias. Esquizofrenia Os transtornos esquizofrênicos caracterizam-se, em geral, por distorções fundamentais de características do pensamento e da percepção e por afetos inapropriados ou embotados. Usualmente, mantêm-se claras a consciência e a capacidade intelectual. A esquizofrenia é uma doença caracterizada por desorganização de diversos processos mentais. Culturalmente, o esquizofrênico representa o estereótipo do “louco”, um indivíduo que produz grande estranheza social em razão do seu desprezo para com a realidade reconhecida. O DSM-5 aponta que existe forte contribuição dos fatores genéticos na determinação do risco para esquizofrenia, embora a maioria dos indivíduos com diagnóstico do transtorno não tenha história familiar de psicose. Essa tendência é atribuída a um espectro de alelos de risco, que são associados a outros transtornos mentais, incluindo transtorno bipolar, depressão e transtorno do espectro autista. Os parentes biológicos em primeiro grau de indivíduos com esquizofrenia estão em risco 10 vezes maior para a doença do que a população geral. Personalidades pré mórbidas: Esquizoide: São atitudes fora do normal que estamos acostumados, que o paciente tem desde sempre – distanciamento, afastamento do convívio social. Esquizotipia: paciente acredita em crenças bizarras Principais grupos de sintomas da esquizofrenia: Sintomas negativos Sintomas positivos Sintomas de desorganização Julia Paris Malaco – UCT18 Sintomas psicomotores/catatonia Sintomas/prejuízos cognitivos Sintomas de humor Avaliação psicopatológica: Aparência: desleixado Comportamento inadequado Afeto (sentimento em relação a uma informação): empobrecimento do afeto, estado de embotamento, não expressa nenhum tipo de afeto, passa a fazer uma discordância do afeto. Sensopercepção: alucinação auditiva, senestésica (corporal) Não tem alucinação visual: porque a esquizofrenia acontece no lobo temporal, o qual não está relacionado com a visão. Caso o paciente esteja tendo alucinação pensar em algo/causa orgânica Pensamento: alteração do conteúdo do pensamento, delírio, não consegue ter um raciocínio completo, se perde nos pensamentos Linguagem: neologia (criam termos que não existem e dao sentidos a ele), jargonofasia (sopa de palavras, fala coisas sem nexo algum) Psicomotricidade: agitação ou inibição psicomotora Vontade: perde a vontade, hipobulia, abolia Inteligência: preservada Consciência do eu: perde a noção dos limites corporais, sempre está sendo invadido pelo meio (vozes e etc) Sintomas positivos: Alucinações (mais comuns auditivas e visuais e, menos comuns, táteis e olfativas) Delírios (persecutórios, de grandeza, de ciúmes, somáticos, místicos, fantásticos); Perturbações da forma e do curso do pensamento (incoerência, prolixidade, desagregação); Comportamento desorganizado, bizarro; Agitação psicomotora; Negligência dos cuidados pessoais. Sintoma negativos: Pobreza do conteúdo do pensamento e da fala; Embotamento ou rigidez afetiva; Prejuízo do pragmatismo; Incapacidade de sentir emoções e sentir prazer; Isolamento social; Diminuição de iniciativa e da vontade. Alguns sintomas, embora não sejam específicos da esquizofrenia, são de grande valor para o diagnóstico, como os seguintes: Audição dos próprios pensamentos (sob a forma de vozes); Alucinações auditivas que comentam o comportamento do paciente; Alucinações somáticas; Sensação de ter os próprios pensamentos controlados; Irradiação desses pensamentos; Sensação de ter as ações controladas e influenciadas por algo exterior. Sintomas de desorganização: Pensamento progressivamente desorganizado, totalmente incoerente. Presença de neologismos Comportamentos desorganizados e incompreensíveis, particularmente comportamentos sociais e sexuais bizarros e inadequados, observados em vestimenta, adornos, aparência e expressão geral bizarra. Sintomas psicomotores e catatonia: Alterações psicomotoras são verificadas na forma de estereotipias de movimentos (atos, gestos, atitudes mais complexos que os tiques, repetidos de forma mecânica, sem finalidades), maneirismos (gestos complexos, repetidos, que parecem ter um objetivo e significado para o indivíduo, mas que são percebidos pelo observador como algo excessivo, excêntrico e muito bizarro) e posturas bizarras. A síndrome catatônica ou catatonia é a manifestação psicomotora mais marcante na esquizofrenia. Na catatonia, embora os pacientes apresentem o nível de consciência preservado, podem revelar sintomas de estupor (diminuição marcante até ausência de atividade psicomotora, com retenção da consciência, mutismo e negativismo; o paciente fica no leito, parado, sem fazer nada, sem responder a solicitações, sem se alimentar e às vezes sem sair para urinar ou defecar). Também pertencem à catatonia a flexibilidade cerácea, ou catalepsia (o paciente fica na posição que o colocam,mesmo em posições dos membros contra a gravidade), a ecolalia (repetir mecanicamente palavras do interlocutor) e/ou a ecopraxia (repetir mecanicamente atos dos outros). Sintomas/prejuízos cognitivos: atenção, memória episódica, memória de trabalho, velocidade de processamento e Julia Paris Malaco – UCT18 funções executivas frontais (inclusive fluência verbal). Aqui se verifica déficit em teoria da mente (sistema de inferências ligado à compreensão de intenções, disposições e crenças dos outros e de si mesmo). observam-se dificuldades na percepção e no gerenciamento de emoções (perceber e compreender as emoções a partir de pistas faciais, tom de voz, gestos) e déficit na percepção social (compreender o contexto social, decodificar e identificar dicas sociais de acordo com o ambiente). Achados neurológicos: Sinais neurológicos focais e não fo-cais (também conhecidos como sinais fortes e fracos, respectiva-mente) têm sido relatados como mais comuns em pacientes com es-quizofrenia do que em outros pacientes psiquiátricos. Os sinais não focais incluem disdiadococinesia, estereognosia, reflexos primitivos e destreza diminuída. Hierarquização de sintomas, de acordo com sua importância, para o diagnóstico da esquizofrenia – os de primeira ordem não são obrigatórios para o diagnóstico de esquizofrenia. Sintomas de 1ª ordem: percepção delirante, alucinações auditivas (vozes que fazem comentários e/ou que dialogam entre si), sonorização do pensamento, roubo do pensamento, vivências de influência sobre o pensamento, difusão do pensamento, eco do pensamento; Sintomas de 2ª ordem: intuição delirante, perplexidade, humor depressivo ou exaltado, vivência de empobrecimento afetivo. Sentimentos experimentados pelos próprios pacientes: Perplexidade: no começo da doença, relatam sentimento de estranheza sobre a experiência, alguma confusão sobre de onde vêm os sintomas (normalmente, alucinações) e se perguntam por que sua experiência diária tem mudado tanto. Isolamento: o esquizofrênico experimenta sensação intensa de ser diferente dos demais e de estar separado de outras pessoas. O isolamento social e a evitação de contatos tornam-se evidentes. Ansiedade e medo: na maior parte, a experiência cotidiana é invadida por sensação geral de mal-estar e ansiedade. Evidenciam-se os períodos de terror intenso, causados por um mundo dentro do qual tudo parece perigoso e incontrolável, normalmente atribuído às origens externas e mágicas. Subtipos de esquizofrenia: Forma paranoide Forma catatônica Forma hebefrênica Subtipo dito “simples” Forma indiferenciada Forma residual Paranoide A esquizofrenia paranoide caracteriza-se, sobretudo, por ideias delirantes relativamente estáveis, com frequência, de perseguição, na maioria das vezes acompanhadas de alucinações, em especial, auditivas, e de perturbações das percepções. Classicamente, esse tipo é marcado sobretudo pela presença de delírios de perseguição ou grandeza. Esses pacientes costumam ter seu primeiro episódio da doença em idade mais avançada do que aqueles com os tipos catatônico ou desorganizado. Sua inteligência nas áreas que não são invadidas pela psicose tende a permanecer intacta. Hebefrenica A esquizofrenia hebefrênica caracteriza-se pela perturbação dos afetos. As ideias delirantes e as alucinações são fugazes e fragmentárias, o comportamento é irresponsável e imprevisível; e há, com frequência, maneirismos. O afeto é superficial e inapropriado, o pensamento é desorganizado, o discurso, incoerente, e há tendência ao isolamento social. Em geral, o prognóstico é desfavorável, devido ao rápido desenvolvimento de sintomas negativos, em particular, embotamento do afeto e perda da volição. A hebefrenia deveria, normalmente, ser só diagnosticada em adolescentes e adultos jovens. Ocorre desorganização do pensamento, inadequação do afeto, comportamento infantil, sintomas negativos são proeminentes. Catatônica Marcada por alterações motoras, hipertonia, flexibilidade cerácea e alterações da vontade, como negativismo, mutismo e impulsividade. A esquizofrenia catatônica é dominada por distúrbios psicomotores proeminentes que podem alternar entre extremos, como hipercinesia e estupor, ou entre a obediência automática e o negativismo. Atitudes e posturas que os pacientes foram compelidos a tomar podem ser mantidas por longos períodos. As características associadas incluem estereotipias, maneirismos e flexibilidade cérea. O mutismo é particularmente comum. Durante a excitação catatônica, os pacien-es necessitam Julia Paris Malaco – UCT18 de supervisão constante para impedir que machuquem a si mesmos ou outras pessoas. Esquizofrenia indiferenciada Afecções psicóticas que preenchem os critérios diagnósticos gerais para a esquizofrenia, mas que não correspondem a nenhum dos subtipos incluídos em outros diagnósticos, ou que exibem padrões de mais de um deles; sem clara predominância de um conjunto particular de características diagnósticas. É chamada, também, esquizofrenia atípica. Esquizofrenia residual Estádio crônico da evolução de doença esquizofrênica, com progressão nítida de um estádio precoce para um tardio, o qual se caracteriza por sintomas negativos persistentes, embora não forçosamente irreversíveis, como lentidão psicomotora, hipoatividade, embotamento afetivo, passividade e falta de iniciativa, pobreza da quantidade e do conteúdo do discurso, pouca comunicação não verbal (expressão facial, contato ocular, modulação da voz e gestos), falta de cuidados pessoais e desempenho social medíocre. Fisiopatologia No que diz respeito à sua fisiopatologia, várias teorias foram lançadas no intuito de explicar as bases da doença. A teoria neuroquímica, por exemplo, defende que a esquizofrenia seja causada por um aumento da dopamina em uma das vias dopaminérgicas do cérebro (a via mesolímbica), causando, em suma, uma hiperatividade desse sistema. A hipótese glutaminérgica, embora ainda não elucidada, defende que há uma reduzida expressão do receptor NMDA (n-metil, d-ácido aspártico). A hipótese dopaminérgica para a psicose determina, portanto, que a hiperatividade dos neurônios dopaminérgicos na via mesolímbica pode mediar os sintomas positivos da psicose. O objetivo terapêutico tem como base a hipótese do antagonista do receptor dopaminérgico na ação dos antipsicóticos, de modo que, com a via mesolímbica bloqueada, os sintomas positivos serão combatidos. Os gânglios da base e o cerebelo estão reciprocamente conectados aos lobos frontais, e as anormalidades na função do lobo frontal observadas em alguns estu-dos de imagem cerebral podem se dever a doença em qualquer uma dessas áreas além dos próprios lobos frontais. Também existe a hi-pótese de que uma lesão no início do desenvolvimento dos tratos de dopamina para o córtex pré-frontal resulte no distúrbio da função do sistema pré-frontal e límbico e leve aos sintomas positivos e nega-tivos e aos comprometimentos cognitivos observados em pacientes com esquizofrenia. Hipótese da dopamina: A formulação mais simples da hipótese da dopamina na esquizofrenia postula que o transtorno resulta do excesso de atividade dopaminérgica. A teoria evoluiu a partir de duas observações. Primeiro, a eficácia e a potência da maioria dos antipsicóticos (i.e., antagonistas do receptor da dopamina [ARDs]) estão correlacionadas a sua capacidade de agir como antagonistas do receptor de dopamina tipo 2 (D2). A liberação excessiva de dopamina em pacientes com esquizofrenia foi associada à gravidade de sintomas psicóticos positivos. Serotonina: As hipóteses atuais postulam o excesso de serotoninacomo uma das causas de sintomas tanto positivos como negativos na esquizofrenia. A atividade antagonista de serotonina consistente da clozapina e de outros antipsicóticos de segunda geração, junto com a eficácia da clozapina para dimimuir sintomas positivos em pacientes crônicos, contribuiu para a validade dessa proposição. Norepinefrina: A anedonia – o comprometimento da capacidade para gratificação emocional e a diminuição da capacidade de experimentar prazer – há muito tem sido observada como um aspecto proeminente da esquizofrenia. Uma degeneração neuronal seletiva no sistema neural de recompensa da norepinefrina poderia explicar esse aspecto da sintomatologia do transtorno. Entretanto, os dados bioquímicos e farmacológicos que apoiam essa proposição são inconclusivos. GABA: foi implicado na fisiopatologia da esquizofrenia com base nos achados de que alguns pacientes têm uma perda de neurônios GABAérgicos no hipocampo. O GABA tem um efeito regulador sobre a atividade da dopamina, e a perda de neurônios GABAérgicos inibidores poderia levar à hiperatividade dos neurônios dopaminérgicos. De particular interesse no contexto das hipóteses do circuito neural ligando o córtex pré-frontal e o sistema límbico são os estu-dos que demonstram uma relação entre anormalidades morfológicas hipocampais e distúrbios no metabolismo ou na função do córtex pré-frontal (ou em ambos). Julia Paris Malaco – UCT18 Dados de estudos de imagem funcional e estrutural em humanos sugerem que, enquanto a disfunção do cir-cuito talamocortical dos gânglios da base cingulados está na base da produção de sintomas psicóticos positivos, a disfunção do circuito pré-frontal dorsolateral é subjacente à produção de sintomas primá-rios, persistentes, negativos ou de déficit. Existe uma base neural para as funções cognitivas comprometidas em pacientes com esqui-zofrenia. A observação da relação entre desempenho da memória de trabalho, integridade neuronal pré-frontal danificada, córtices parie-tal pré-frontal, cingulado e inferior alterados e fluxo sanguíneo hipo-campal prejudicado fornece forte apoio à ruptura do circuito neural normal da memória de trabalho em pacientes com esquizofrenia. O envolvimento desse circuito, pelo menos para as alucinações auditi-vas, foi documentado em uma série de estudos de imagem funcional que comparam pacientes com e sem alucinação. As vias dopaminérgicas do encéfalo e os efeitos que sofrem sob ação de bloqueadores dos receptores dopaminérgicos são: Via nigro-estriada: a utilização de bloqueadores de receptores dopaminérgicos para evitar a psicose, pode alcançar esta via e gerar efeitos indesejados extrapiramidais, como o parkinsonismo farmacológico. As reações extrapiramidais ocorrem quando há deficiência de dopamina e excesso de acetilcolina na via dopaminérgica nigrostriada: normalmente, a dopamina suprime a atividade da acetilcolina. Uma vez bloqueada, não haverá inibição da liberação de ACh, gerando os efeitos extrapiramidais. Via mesolímbica: a ação de bloqueadores dos receptores dopaminérgicos deve ocorrer nesta via, quando se quer reduzir os efeitos dos sintomas positivos da psicose. Via mesocortical: o uso de bloqueadores de receptores dopaminérgicos, ao afetar esta via, cria o aparecimento de sintomas negativos da psicose como efeitos adversos. Via túbero-infundibular: bloquear a dopamina desta via significa inibir a inibição da secreção da prolactina, o que faz com que haja a liberação deste hormônio (desenvolve na mulher as glândulas mamárias e, no homem, ginecomastia). Critérios diagnósticos DSM-5: A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3): Delírios. Alucinações. Discurso desorganizado. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia). B. Por período significativo de tempo desde o aparecimento da perturbação, o nível de funcionamento em uma ou mais áreas impor- tantes do funcionamento, como trabalho, relações interpessoais ou autocuidado, está acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início (ou, quando o início se dá na infância ou na adolescência, incapacidade de atingir o nível esperado de funciona-mento interpessoal, acadêmico ou profissional). C. Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. Esse período de seis meses deve incluir no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que precisam satisfazer ao Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos prodrômicos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados no Critério A presentes em uma forma atenuada (p. ex., crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns). D. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas são descartados porque 1) não ocor-reram episódios depressivos maiores ou maníacos concomitantemente com os sintomas da fase ativa, ou 2) se episódios de humor ocorre-ram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve em relação aos períodos ativo e residual da doença. E. A perturbação não pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. F. Se há história de transtorno do espectro autista ou de um transtorno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios ou alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão também presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Julia Paris Malaco – UCT18 Tratamento: Hospitalização: A hospitalização é indicada para fins de diagnóstico; estabilização da medicação; segurança do paciente devido a ideação suicida ou homicida; e comportamento flagrantemente desorganizado ou ina-dequado, incluindo a incapacidade de cuidar das necessidades bási-cas, como alimentação, vestuário e abrigo. Estabelecer uma associa-ção efetiva entre o paciente e os sistemas de apoio da comunidade também é um dos objetivos da hospitalização. Farmacoterapia: todos os medicamentos têm em comum a capacidade de antagonizar os receptores de dopamina pós--sinápticos no cérebro. Os antipsicóticos podem ser classificados em dois grupos principais: os convencionais, mais antigos, que também são chamados de antipsicóticos de primeira geração, ou antago-nistas do receptor de dopamina, e os mais recentes, que têm sido chamados de antipsicóticos de segunda geração, ou antagonistas de serotonina e dopamina (ASDs). Tratamento da psicose aguda: Os sintomas psicóticos agudos requerem atenção imediata. O tratamento durante a fase aguda concentra-se em aliviar os sintomas psi-cóticos mais graves. Essa fase em geral dura de 4 a 8 semanas. A esquizofrenia aguda normalmente está associada com agitação grave, que pode resultar de sintomas como delírios assustadores, alucinações ou desconfiança ou de outras causas (incluindo abuso de estimulan-tes). Neurolépticos típicos (afinidade por receptores D2): Diminuem sintomas positivos e previnem recaídas (80% recaem no 1o ano sem medicação, apenas 20% usando antipsicóticos). Efeitos adversos: acatisia, parkinsonismo, hiperprolactinemia,discinesia tardia. baixa potência: Clorpromazina (300- 800mg/dia); Levomepromazina (100- 300mg/dia) alta potência: Haloperidol (5-15mg/dia); Flufenazina Haloperidol (5-15mg/dia) Neurolépticos atípicos (afinidade por receptores 5HT2a, H1, D4): São mais efetivos nos sintomas negativos em comparação aos típicos, mas também são efetivos nos sintomas positivos. A Clozapina está relacionada com agranulocitose Risperidona (2-8mg/dia); Olanzapina (5-20mg/dia); Quetiapina (300-400mg/dia); Clozapina (200-500mg/dia). Como tratar: Preferência à monoterapia antipsicótica Iniciar um primeiro tratamento com antipsicótico de segunda geração (mais toleráveis), se não disponível, antipsicótico de primeira geração, pelo período de 4-6 semanas Se resposta ao primeiro tratamento, considerado responsivo e permanecer o antipsicótico como manutenção, após otimização da dose Se não resposta, tentativa de segundo tratamento antipsicótico por mais 4-6 semanas Se não resposta adequada ao tratamento, após duas tentativas, considerar Julia Paris Malaco – UCT18 refratário, utilizando o terceiro antipsicótico como Clozapina, até 800mg/dia, em monoterapia Se não resposta adequada à clozapina, considerar respondedor parcial ou superrefratários, e podem ser realizadas estratégias de potencialização da clozapina É recomendado aguardar 4-6 semanas para avaliara resposta de um tratamento antipsicótico Efeitos adversos: Primeira geração: sedação, hipotensão, SEP (desenvolvimento de parkinsonismo - rigidez, tremores e sinal da roda denteada, ou acatisia e discinesia tardia); SEP tratada por redução das doses ou administração de Diperideno. Segunda geração: síndrome metabólica (aumento de TG, CT, Gly, Ganho de peso, Resistência à insulina e aumento do risco de diabetes Intervenção psicossocial, Psicoterapia individual, Treino de habilidades sociais, Intervenções familiares, Emprego protegido, Treino comunitário assertivo, Terapia ocupacional Transtorno esquizoafetivo Transtorno esquizoafetivo se caracteriza pela presença de proeminentes sintomas requeridos para o diagnóstico de esquizofrenia em conjunto (no mesmo episódio, simultaneamente, ou com distância de poucos dias entre eles) com sintomas típicos de um episódio de depressão maior, de mania ou de episódio misto (para a CID-11, concomitância com duração de pelo menos um mês). O tipo depressivo do transtorno esquizoafetivo pode ser mais comum em pessoas mais velhas do que nas mais jovens, e o tipo bipolar pode ser mais comum em adultos jo-vens do que em mais velhos. A idade de início para mulheres é mais tardia do que para os homens, como na esquizofrenia. Os homens com transtorno esquizoafetivo tendem a exibir comportamento antis-social e a ter um afeto marcadamente plano ou inadequado. Para o DSM-5, o transtorno esquizoafetivo se caracteriza pela concomitância de sintomas evidentes de esquizofrenia (critérios A) associados a sintomas suficientes para o diagnóstico de episódio depressivo maior ou episódio maníaco. Entretanto, para diferenciar o transtorno esquizoafetivo dos quadros de depressão ou mania psicótica, o DSM-5 exige que haja pelo menos duas semanas de delírios ou alucinações na ausência de episódio depressivo maior ou mania. Além disso, para o DSM-5, os episódios de depressão maior ou mania estão presentes na maior parte da duração total do transtorno. A duração de cada episódio é essencial por duas razões. Pri-meiro, para satisfazer o Critério B (sintomas psicóticos na ausência de transtorno do humor [depressivo ou maníaco]), é importante saber quando o episódio afetivo termina e a psicose continua. Segundo, para satisfazer o Critério C, a duração de todos os episódios de humor deve ser combinada e comparada com a duração total da doença. Se o componente de humor estiver presente para a maioria (> 50%) da doença total, então esse critério estará satisfeito. Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Um período ininterrupto de doença durante o qual há um episódio depressivo maior ou maníaco concomitante com o Critério A da esquizofrenia. Nota: O episódio depressivo maior deve incluir o Critério A1: humor deprimido. B. Delírios ou alucinações por duas semanas ou mais na ausência de episódio depressivo maior ou maníaco durante a duração da doença ao longo da vida C. Os sintomas que satisfazem os critérios para um episódio de humor estão presentes na maior parte da duração total das fases ativa e residual da doença. D. A perturbação não pode ser atribuída aos efeitos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição mé-dica. Tratamento: Os estabilizadores do humor são o pilar do tratamento para os trans-tornos bipolares, e é razoável supor que sejam importantes no trata- mento de pacientes com transtorno esquizoafetivo. Em episódios maníacos, indivíduos com transtorno esquizoafeti-vo devem ser tratados de maneira agressiva com dosagens de um estabilizador do humor na variação média a alta de concentração sanguínea terapêutica. Por definição, muitos pacientes com transtorno esquizoafeti-vo têm episódios depressivos maiores. O tratamento com antidepres-sivos espelha o tratamento da depressão bipolar. Julia Paris Malaco – UCT18 Tratamento psicossocial é muito importante também. Transtorno delirante Se caracteriza pelo surgimento e pelo desenvolvimento de um delírio ou sistema delirante (vários delírios de alguma forma interligados tematicamente) com considerável preservação da personalidade, da afetividade, da cognição e do resto do psiquismo do indivíduo acometido. Não deve haver pensamento e/ou comportamento francamente desorganizado ou sintomas negativos marcantes. A característica essencial do transtorno delirante é a presença de um ou mais delírios não bizarros que persistem por, pelo menos, 1 mês. Exceto pelo impacto direto dos delírios, o funcionamento psicossocial não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é de modo evidente estranho ou bizarro. Delírios são crenças fixas, falsas, que não estão de acordo com a cultura. O diagnóstico de trans-torno delirante é feito quando uma pessoa exibe delírios não bizarros de pelo menos um mês de duração que não podem ser atribuídos a outros transtornos psiquiátricos. Não bizarro significa que o delírio deve ser sobre situações que podem ocorrer na vida real, tal como ser seguido, infectado, amado a distância, e assim por diante; ou seja, eles geralmente têm a ver com fenômenos que, mesmo não sendo reais, são possíveis. Quando presente no transtorno delirante, um fraco funcionamento psicossocial decorre diretamente das próprias crenças delirantes. Por exemplo, um indivíduo convencido de que será assassinado por criminosos pode abandonar seu emprego e recusar-se a sair de casa. Esse comportamento é uma tentativa compreensível de evitar ser identificado e morto por seus supostos assassinos. Em comparação, o fraco funcionamento na esquizofrenia pode ser atribuído aos sintomas tanto positivos quanto negativos (particularmente, avolição). O transtorno delirante ocorre geralmente em sujeitos com mais de 40 ou 50 anos de idade e costuma ter curso crônico e estável. A duração do delírio deve ser de no mínimo um mês (DSM-5) ou três meses (CID-11), mas em geral é mais longa, podendo perdurar anos Tipos: Erotomaníaco: delírios de que outra pessoa, geralmente de situação mais elevada, está apaixonada pelo indivíduo. Esses pacientes também tendem a ser solitários, retraídos, dependentes e sexualmente inibidos, bem como a ter níveis baixos de funcionamento social ou ocupacional. Os seguintes critérios operacionais foramsugeridos para o diagnóstico de erotomania: (1) uma convicção delirante de comunicação amorosa, (2) o objeto de po-sição muito superior, (3) o objeto sendo o primeiro a se apaixonar, (4) o objeto sendo o primeiro a tomar iniciativas, (5) início súbito (em um período de sete dias), (6) o objeto permanece inalterado, (7) o paciente racionaliza o comportamento paradoxal do objeto, (8) curso crônico e (9) ausência de alucinações Grandioso: delírios de grande valor, poder, conhecimento, identidade ou de relação especial com uma divindade ou pessoa famosa; Ciumento: delírios de que o parceiro sexual é infiel. O delírio em geral afeta os homens, muitas vezes aqueles sem nenhuma história psiquiátrica. Pode aparecer subitamente e serve para explicar uma variedade de eventos presentes e passados envolvendo o comporta-mento do cônjuge. Essa condição é difícil de tratar e pode diminuir apenas com separação, divórcio ou morte do cônjuge. Persecutório: delírios de que o indivíduo (ou alguém próximo a ele) está sendo, de algum modo, maldosamente tratado. Os pacientes com esse subti-po estão convencidos de que estão sendo perseguidos ou prejudicados. As crenças persecutórias muitas vezes estão associadas com rabugice, irritabilidade e raiva, e o indivíduo que se deixa levar pela raiva pode às vezes ser agressivo ou mesmo homicida. Somático: delírios de que tem algum defeito físico ou condição médica geral. No transtorno delirante, o delírio é fixo, indis-cutível e apresentado de forma intensa, pois o paciente está total-mente convencido de sua natureza física. No entanto, pessoas com hipocondria muitas vezes admitem que seu medo da doença é, em grande parte, infundado. O conteúdo do delírio somático pode variar muito de caso para caso. Existem três tipos principais: (1) delírios de infestação (incluindo parasitose); (2) delírios de dismorfofobia, como deformidade, feiura e tamanho exagerado de Julia Paris Malaco – UCT18 partes do corpo (essa categoria parece mais próxima do transtorno dismórfico cor-poral); e (3) delírios de odores corporais desagradáveis ou halitose. Misto: delírios característicos de mais de um dos tipos anteriores, sem predomínio de nenhum deles; Não especificado: Essa categoria é reservada para casos em que o delírio predominante não se encaixa nas categorias anteriores Critérios diagnósticos (DSM-5): A. A presença de um delírio (ou mais) com duração de um mês ou mais. B. O Critério A para esquizofrenia jamais foi atendido. Nota: Alucinações, quando presentes, não são proeminentes e têm relação com o tema do delírio (p. ex., a sensação de estar infes-tado de insetos associada a delírios de infestação). C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de seus desdobramentos, o funcionamento não está acentuadamente prejudicado, e o com- portamento não é claramente bizarro ou esquisito. D. Se episódios maníacos ou depressivos ocorreram, eles foram breves em comparação com a duração dos períodos delirantes. E. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica, não sendo mais bem explica-da por outro transtorno mental, como transtorno dismórfico corporal ou transtorno obsessivo-compulsivo. Tratamento: Em uma emergência, indivíduos gravemente agitados devem rece-ber um antipsicótico por via intramuscular Transtorno psicótico breve O transtorno psicótico breve é definido como uma condição psicótica que envolve o início súbito de sintomas psicóticos que duram um dia ou mais, mas menos de um mês. A remissão é completa, e o indivíduo retorna ao nível de funcionamento pré-mórbido. É uma síndrome psicótica aguda e transitória. A característica essencial do transtorno psicótico breve é uma perturbação que envolve o início súbito de, pelo menos, um dos seguintes sintomas psicóticos positivos: Delírios; Alucinações; Discurso desorganizado (descarrilamento ou incoerência frequentes); Comportamento amplamente desorganizado ou catatônico. Um episódio de perturbação dura, no mínimo, 1 dia e, no máximo, 1 mês, e o doente tem pleno retorno ao nível pré-mórbido de funcionamento. (A duração do episódio não deve ultrapassar três meses (CID-11) ou um mês (DSM-5), mas, de modo geral, dura de poucos dias a um mês) A perturbação não é mais bem explicada pela definição de transtorno do humor com aspectos psicóticos ou transtorno esquizoafetivo ou esquizofrenia, nem é atribuída aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (alucinógeno) ou condição médica geral (hematoma subdural). No transtorno psicótico breve, predominam, de característica, sintomas floridos, como ideias delirantes ou deliroides (em geral paranoides), alucinações visuais e/ou auditivas, muitas vezes com intensa perplexidade, certa confusão mental e turbulência emocional, e pode haver ansiedade acentuada e medos difusos. Sintomas catatônicos também podem estar presentes. Os sintomas tipicamente mudam muito, tanto em sua natureza como em sua intensidade, às vezes, de um dia para outro, ou no mesmo dia. Classificação quanto ao desencadeante do transtorno psicótico leve: Pós-evento: estressor se os sintomas ocorrem logo após e aparentemente em resposta a eventos que, em particular ou em conjunto, seriam estressantes demais para qualquer pessoa em circunstâncias similares em seu contexto cultural; Pós-ausência: evento estressor se os sintomas psicóticos não ocorrem logo após ou aparentemente não consistem em respostas a eventos que, em particular ou em conjunto, seriam estressantes demais para qualquer pessoa em circunstâncias similares; Pós-parto: se o início ocorre em 4 semanas após o parto. Diagnostico diferencial: O transtorno psicótico agudo pode confundir-se com transtorno de estresse pós traumático ou com quadros graves e prolongados de transtorno dissociativo (frequentemente denominado na tradição psicopatológica de histeria). Transtornos ou traços de personalidade do grupo B (sobretudo transtornos da personalidade borderline e histriônica) e transtorno da personalidade Julia Paris Malaco – UCT18 esquizotípica, além de traços de personalidade do tipo “psicoticismo”, podem preceder ou predispor as pessoas a apresentar transtorno psicótico agudo/breve. Tratamento: As duas principais classes de medicamentos a serem consideradas no tratamento de transtorno psicótico breve são os antipsicóticos e os benzodiazepínicos. Transtorno esquizofreniforme Uma condição com um início súbito e curso benigno associados com sintomas de humor e obnubilação da consciência. Os sintomas da doença são semelhantes aos da esquizofrenia; contudo, com o transtorno esquizofreniforme, os sintomas duram pelo menos um mês, mas menos de seis meses. Em contraste, para um paciente satisfazer os critérios diagnósticos para esquizofrenia, os sintomas devem estar presentes por pelo menos seis meses. Indivíduos com transtorno esquizofreniforme retornam a seu nível basal de funcionamento após a resolução do transtorno. Este é um transtorno psicótico agudo com um início rápido e com ausência de uma fase prodrômica longa. Embora muitos indivíduos com o transtorno possam vivenciar comprometi-mento funcional na época de um episódio, é improvável que relatem um declínio progressivo no funcionamento social e ocupacional. O perfil de sintoma inicial é o mesmo da esquizofrenia, uma vez que dois ou mais sintomas psicóticos (alucinações, delírios, discurso e comportamento desorganizados ou sintomas negativos) devem estar presentes. Sintomas schneiderianos de primeira linha são observa- dos com frequência. Além disso, uma maior probabilidade de turbi-lhão e confusão emocional é encontrada, cujapresença pode indicar um prognóstico positivo. Mesmo que sintomas negativos possam es-tar presentes, eles são um tanto raros no transtorno esquizofrenifor-me e são considerados aspectos prognósticos ruins. Por definição, pacientes com transtorno esquizofrenifor-me retornam a seu estado basal em seis meses. Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3): Delírios. Alucinações. Discurso desorganizado (p. ex., descarrilamento ou incoerência frequentes). Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia). B. Um episódio do transtorno que dura pelo menos um mês, mas menos do que seis meses. Quando deve ser feito um diagnóstico sem aguardar a recuperação, ele deve ser qualificado como “provisório”. C. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas foram descartados porque 1) nenhum episódio depressivo maior ou maníaco ocorreu concomitantemente com os sintomas da fase ativa ou 2) se os episódios de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, estiveram presentes pela menor parte da duração total dos períodos ativo e resi-dual da doença. D. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condi- ção médica. Transtorno catatônico A catatonia é uma nova categoria diagnóstica no DSM-5, introdu-zida porque pode ocorrer ao longo de um amplo espectro de trans-tornos mentais, mais frequentemente nos transtornos psicótico e do humor graves. Também pode ser causada por uma condição clínica subjacente ou induzida por uma substância. A catatonia é uma síndrome clínica caracterizada por anormali-dades comportamentais impressionantes que podem incluir imo-bilidade ou excitação motora, negativismo profundo ou ecolalia (imitação da fala) ou ecopraxia (imitação de movimentos). Um diagnóstico de transtorno catatônico devido a uma condição mé-dica geral pode ser feito se houver evidência de que o problema se deve aos efeitos fisiológicos de uma condição médica geral. O diagnóstico não é feito se a catatonia for mais bem explicada por um transtorno mental primário, como esquizofrenia ou depressão psicótica, ou se os sintomas catatônicos ocorrem exclusivamente no curso de delirium. Julia Paris Malaco – UCT18 Antipisicoticos Como se sabe, a superatividade das vias neuronais de dopamina (e a diminuição dos níveis de acetilcolina) em nível do sistema límbico cerebral é importante na patogenia da esquizofrenia. O receptor mais importante dessas vias é o receptor dopaminérgico D2. Os antipsicóticos funcionam como antagonistas do receptor D2, diminuindo a sua ativação pela dopamina endógena. Os efeitos de controle sobre os sintomas da esquizofrenia surgem quando 80% dos receptores D2 estão bloqueados pelo antagonista. Atualmente, certos neurolépticos têm a capacidade de atuar nos receptores serotoninérgicos, acetilcolinérgico, histamínico e noradrenérgico. Bloqueiam receptores na via da dopamina no cérebro que controla os músculos voluntários e determinados mecanismos de resposta emocional (via nigroestriada) Mecanismo de ação: Antagonista dos receptores D2 da dopamina, podendo bloquear outros receptores como D1 e D3 da dopamina, a1 e a2 adrenérgicos, 5-HT2, H1 e receptores colinérgicos Neurolépticos “típicos” (clássicos ou de primeira geração): Os antipsicóticos de primeira geração são medicamentos que bloqueiam preferencialmente os receptores D2 da dopamina nos sistemas dopaminérgicos mesolímbico e mesocortical (objetivos do tratamento), nigroestriatal e túbero-infundibular (relacionados com os efeitos colaterais). São eficazes para tratar alucinações, delírios, desagregação do pensamento e agitação psicomotora, e produzem efeitos colaterais importantes (vide abaixo). São medicamentos eficazes para o tratamento de episódios psicóticos agudos ou crônicos. São predominantemente eficazes para os sintomas positivos e não têm ação importante nos negativos. Os principais são: Fenotiazinas: Clorpromazina (Amplictil®), Flufenazina, Levomepromazina (Neozine®) Butirofenonas: Haloperidol (Haldol®), Droperidol (Droperdal®) Tioxantinas: Clopentixol, Tiotixeno Efeitos colaterais: Prolactina aumentada (pois bloqueiam os receptores dopaminérgicos da via túbero- infundibular), Efeitos anticolinérgicos (porque bloqueiam os receptores muscarínicos, que inclusive reduz os efeitos extrapiramidais), Sedação (porque bloqueiam receptores histaminérgicos), Ganho de peso, Sintomas extrapiramidais (bloqueio dos receptores dopaminérgicos da via nigro- estriada), Reações de hipersensibilidade (favorece e produção mastocitária de histamina), Hipotensão (bloqueiam os receptores α- adrenérgicos). Neurolépticos “atípicos” (recentes ou de segunda geração): Os antipsicóticos atípicos são os neurolépticos de segunda geração, que atuam em outros sítios da dopamina e que produzem menos efeitos parkinsonianos. São medicações mais bem toleradas, mais eficazes para sintomas negativos, porém, de alto custo. São medicamentos que constituem a primeira opção para o tratamento do primeiro episódio psicótico, quando há intolerância aos neurolépticos típicos ou predominância dos sintomas negativos. Os mais indicados são a Risperidona e a Olanzapina. Os principais representantes são: Clozapina (Leponex®): seu uso está mais correlacionado à agranulocitose, e quando os leucócitos caem abaixo de 3.000, a medicação deve ser interrompida. Olanzapina (Zyprexa®) Risperidona: bloqueia os receptores 5-HT2 da serotonina e D2 da dopamina. Efeitos colaterais: insônia, agitação, ansiedade, efeitos extrapiramidais, pseudoparkinsonismo, discinesia, etc. Sulpirida, Remoxiprida e Pimozida: manifestam menores efeitos piramidais Sertindol (associado a arritmias) e Quetiapina (associado a taquicardia). Escolha do antipsicótico (neuroléptico): Problema: alto risco de distonia (homem abaixo dos 30 anos, mulher abaixo de 25 anos). Escolha: Risperidona. Problema: Riscos geriátricos (muito anticolinérgico, ortostatismo, sedação), comprometimento cognitivo ou delirium. Escolha: Alta potência (exemplo: Haloperidol) ou Risperidona. Evitar Clozapina ou Olanzapina. Problema: sintomas negativos predominantes ou severos. Escolha: Risperidona ou Clozapina. Julia Paris Malaco – UCT18 Problema: Resistente ao tratamento. Escolha: depois de potencializar o tratamento, optar por Risperidona ou Clozapina. Problema: risco de convulsões. Escolha: alta potência (ex: Haloperidol). Evitar Clozapina. Problema: obesidade. Escolha: Alta potência. Evitar neurolépticos de baixa potência. Aconselhar o paciente a perder peso. Evitar Clozapina, Risperidona e Quetiapina. Problema: Arritmia cardíaca. Escolha: Alta potência; evitar Sertindol e Quetiapina. Problema: agitação extrema. Escolha: Alta potência (Haloperidol). Problema: aderência mínima ao medicamento. Escolha: Decanoato de Haloperidol ou Flufenazina (depósito, alta potência). Mecanismo de toxicidade: Cardiovascular: bloqueio de receptores alfa- adrenérgicos periféricos, Vasodilatação, depressão reflexa do centro vasomotor e depressão miocárdica Gastrintestinal e geniturinário: bloqueio de receptores colinérgicos muscarínicos Endócrino: bloqueio do receptor dopaminérgico Hiperprolactinemia SNC: efeito inibitório sobre neurorreceptores. Atividade dopaminérgica > colinérgica:distonias. Atividade colinérgica > dopaminérgica: reação extrapiramidal e parkinsonismo Efeitos adversos: Bloqueio dos neurorreceptores, podendo ser idiossincrásicos ou dose-dependentes Síndromes extrapiramidais: o Reação distônicas agudas: espasmos intermitentes ou contraturas musculares involuntárias de músculos da face, lábios, língua, faringe, pescoço e tronco o Acatisia: inquietação e desconforto motor o Parkinsonismo (Acinesia): rigidez muscular, bradicinesia, tremor; síndrome de Rabbit (tremor de lábios) o Discinesia tardia: movimentos coreoatetoides Síndrome neuroléptica maligna: evento raro, potencialmente fatal, com uso terapêutico de medicamentos, caracterizado por Tétrade de Febre (≥38ºC), Rigidez muscular, Mudança no estado mental (delírio), Instabilidade do sistema nervoso autônomo (taquicardia, hipertensão, hipotensão postural, sudorese, sialorreia ou xerostomia, taquipneia, disritmias) Luta antimanicomial O Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. Dentro desta luta está o combate à ideia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos tratamentos, ideia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença mental. O Movimento da Luta antimanicomial faz lembrar que como todo cidadão estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direto a receber cuidado e tratamento sem que para isto tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos. O Movimento da Reforma Psiquiátrica se iniciou no final da década de 70, em pleno processo de redemocratização do país, e em 1987 teve dois marcos importantes para a escolha do dia que simboliza essa luta, com o Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, em Bauru/SP, e a I Conferência Nacional de Saúde Mental, em Brasília. Com o lema “por uma sociedade sem manicômios”, diferentes categorias profissionais, associações de usuários e familiares, instituições acadêmicas, representações políticas e outros segmentos da sociedade questionam o modelo clássico de assistência centrado em internações em hospitais psiquiátricos, denunciam as graves violações aos direitos das pessoas com transtornos mentais e propõe a reorganização do modelo de atenção em saúde mental no Brasil a partir de serviços abertos, comunitários e territorializados, buscando a garantia da cidadania de usuários e familiares, historicamente discriminados e excluídos da sociedade. Assim como o processo do Movimento da Reforma Sanitária, que resultou na garantia constitucional da saúde como direito de todos e dever do estado através da criação do Sistema Único de Saúde, o Movimento da Reforma Psiquiátrica resultou na aprovação da Lei 10.216/2001, nomeada “Lei Paulo Delgado”, que trata da proteção dos direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo de assistência. Este marco legal estabelece a responsabilidade do Estado no desenvolvimento da política de saúde mental no Brasil, através do fechamento de hospitais psiquiátricos, abertura de novos serviços comunitários e participação social no acompanhamento de sua implementação. Julia Paris Malaco – UCT18 Biopaiscossocial As residências terapêuticas constituem-se como alternativas de moradia para um grande contingente de pessoas que estão internadas há anos em hospitais psiquiátricos por não contarem com suporte adequado na comunidade. Além disso, essas residências podem servir de apoio a usuários de outros serviços de saúde mental, que não contem com suporte familiar e social suficientes para garantir espaço adequado de moradia. O Serviço Residencial Terapêutico (SRT) – ou residência terapêutica ou simplesmente "moradia" – são casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais graves, institucionalizadas ou não. O número de usuários pode variar desde 1 indivíduo até um pequeno grupo de no máximo 8 pessoas, que deverão contar sempre com suporte profissional sensível às demandas e necessidades de cada um. O suporte de caráter interdisciplinar (seja o CAPS de referência, seja uma equipe da atenção básica, sejam outros profissionais) deverá considerar a singularidade de cada um dos moradores, e não apenas projetos e ações baseadas no coletivo de moradores. O acompanhamento a um morador deve prosseguir, mesmo que ele mude de endereço ou eventualmente seja hospitalizado. O processo de reabilitação psicossocial deve buscar de modo especial a inserção do usuário na rede de serviços, organizações e relações sociais da comunidade. Ou seja, a inserção em um SRT é o início de longo processo de reabilitação que deverá buscar a progressiva inclusão social do morador Suporte requerido: o acompanhamento terapêutico (AT) é muito utilizado no processo de reapropriação do espaço urbano e aquisição de autonomia para diversas tarefas. À medida que o usuário ganha autonomia, em vez de dispensar o suporte, passa a requerer modos mais refinados e complexos de acompanhamento. A atenção clínica geral pode ser feita por meio do Programa de Saúde da Família, assim como outros serviços e suportes na comunidade podem e devem ser utilizados pelos moradores. Em seus 12 artigos, a Lei 10.216/01 estabelece que o tratamento dos portadores de transtornos mentais visará como finalidade permanente a reinserção social do paciente em seu meio. A norma estabelece que é obrigação do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais. A internação, em qualquer de suas modalidades, só será iniciada quando os recursos extra- hospitalares se mostrarem insuficientes. O tratamento em regime de internação, de acordo com a lei, será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer e outros. A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: voluntária (aquela que se dá com o consentimento do usuário); involuntária (aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro); e compulsória (aquela determinada pela Justiça). Entre os direitos da pessoa portadora de transtorno mental estão o acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde; ser tratada com humanidade, respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; ter garantia de sigilo nas informações prestadas; e ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária. A pessoa portadora de transtorno mental tem direito ainda a ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; e ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. Exames de imagem Os exames por tomografia computadorizada (TC) de pacientes com esquizofrenia têm mostrado consistentemente alargamento dos ventrículos laterais e do terceiro ventrículo e algumaredução no volume cortical. Volumes reduzidos da substância cinzenta cortical foram demonstrados durante os primeiros estágios da doença. Vários pesquisadores tentaram determinar se as Julia Paris Malaco – UCT18 anormalidades detectadas por TC são progressivas ou estáticas. Alguns estudos concluíram que as lesões observadas na TC estão presentes no início da doença e não progridem. Outros estudos, entretanto, concluíram que o processo patológico visualizado em exames por TC continua a progredir durante a doença. Portanto, ainda não se sabe se um processo patológico ativo continua a se desenvolver em pacientes. Há uma simetria reduzida em várias áreas do cérebro na esquizofrenia, incluindo os lobos temporal, frontal e occipital. Alguns pesquisadores acreditam que essa simetria reduzida se origine durante a vida fetal e seja indicativa de uma interrupção na lateralização cerebral durante o neurodesenvolvimento.
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